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PREFÁCIO
Fausto e o irmão Mario escreveram a lápis uma carta ao pai Tarquínio Cobra Olyntho,
diretamente das trincheiras de Guaxupé, durante a inglória revolta paulista de 1932.
Mario foi o único dos quatro irmãos poupado pela tuberculose.
O sobrinho Tarquínio Barboza de Oliveira, quatro anos mais moço, preservou a obra de
Fausto e Waldemar. Esse Pobre Jardim surge após oitenta anos.
1
Apresentação
Apresentá-lo a quem?
Fausto Prado Olyntho nasceu e viveu em São José do Rio Pardo. Também na capital,
em São Paulo. Desapareceu, consumido pela tuberculose, na idade em que a
tuberculose costumava ceifar os jovens de talento: nos seus vinte e cinco anos1.
Seus maiores amigos foram Mário e Gláucia, irmãos que lhe deram assistência,
admiração e carinho nas horas mais difíceis da doença e da despedida. Mário,
desenhista, amante de esportes que o salvaram, cedo foi absorvido pelo trabalho em
São José e depois em São Paulo. Ambos estudaram com o mestre francês Louis
Duchêne, magnifico professor que os vendavais do destino levaram pana as margens
do Rio Pardo. Juntos, na Revolução Paulista de 1932, lutaram na Coluna Romão
Gomes.
Sendo os irmãos mais jovens de minha mãe, eles e Yvette, a caçula, na verdade foram
mais tios para mim - irmãos quase da mesma idade, com quem eu sonhava ser
companheiro nas férias escolares, sobretudo de Gláucia e Fausto, aproximados, nós,
pelas afinidades literárias. E, bem antes, pelo reino fantástico dos brinquedos no
quintal da casa de meu avô materno - ídolo de toda gente por sua dedicação, digna e
superior a todos os semelhantes, aos quais serviu como farmacêutico de todos e
médico dos pobres.
Nosso modelo mais direto, entretanto, terá sido Tio Coquinho, isto é, meu padrinho
Waldemar Cobra Olyntho, o mais velho de nossa geração, que a morte levou também
aos vinte e sete anos, creio2. Ledor insaciável, formara excelente biblioteca.
Inteligência privilegiada, desenhava bem e anotava inúmeros cadernos com notas de
leitura e composições próprias. De seus poemas, restam muito poucos. De sua figura,
como a de todos os meus tios, guardo a lembrança da simpatia e beleza viril. Mas,
sobretudo o talento.
Fausto, desde cedo, teve menos saúde que os mais velhos, Compensava-se da
fragilidade física, treinando este sobrinho-irmão em fugas para nadar no Rio Pardo, em
aulas de box que testávamos em lutas com a molecada da rua, alternando peraltagem
com discussões sobre arte e poetas. Amou intensa e perdidamente a Lourença,
1
Fausto nasceu em 05/12/1911 e morreu em 05/06/1937. Tinha 4 anos a mais do que Tarquínio
Neto, com quem conviveu na infância e juventude. Ver apêndices ao final (NE)
2
Waldemar nasceu em 08/07/1901 e faleceu em 06/02/1932, viveu portanto até seus 30 anos. (NE)
2
mocinha toscana tirada de una tela de Leonardo da Vinci. Tinha a premonição da
morte prematura e a paixão da luz, do sol, das magnificas tardes de São José,
Sem eles, meus tios maternos, eu não teria tido adolescência. Nem aprendido a
sonhar, nos meses distantes de colégio interno.
3
Tarquínio José Barboza de Oliveira foi o primeiro sobrinho homem de Waldemar e Fausto. Filho
da irmão mais velha Antonieta e de José Barboza de Oliveira, Zuza, nasceu em 18/09/1915 em São José
do Rio Pardo e faleceu em 26/12/1980 em sua adorada Ouro Preto, MG. Advogado, administrador de
empresas e historiador, deixou uma dezena de obras históricas escritas. (NE)
3
Saudade
A Fausto de Tarquínio
Fui fazer uma grande viagem pela terra.
Longe... outro mar...
Sem pensar, quase sem querer, fatalidade,
e era toda minha bagagem
uma saudade imensa de Você.
4
Em 1937 Tarquínio Neto tinha 22 anos e estava estudando direito em São Paulo. Foi surpreendido
com a morte prematura do tio e companheiro literário em São José dos Campos, de tuberculose, como era
de rigor a um poeta. (NE)
4
Poemas de Fausto Prado Olyntho
5
Pobre Jardim
Merecia compensação:
6
Certa Vez
Certa vez
te encontrei no jardim,
te olhei muito
dizendo
te querer bem.
Reflitas um tanto,
(Não respondas sem refletir):
-- Se tu pensas...
Eu também. Eu juro
que te quero mesmo bem.
-- Se tu pensas...
Pois eu não. Eu juro que foi brinquedo.
Certa vez...
7
A minha terra…
A minha terra
tem muita coisa bonita...
8
Escândalo
No jardinzinho humilde
De flores plebeias e anêmicas,
Uma rosa enorme
- como uma mulher de vida fácil –
Dá um escândalo vermelho.
9
Tristeza de não Possuir
10
Dona Primavera
11
Aquarela
5
Brasílio Gandaia era um pseudônimo usado por Fausto. Outros pseudônimos: Oscar Fausto,
Quincas Borba e Paulo Riopardo.
12
Vida que Passa
A meus amigos
13
O Templo de Minha Predileção
- Quando já meninote
aí fiz a comunhão inicial
e arrastei orgulhosamente a minha batina vermelha
de coroinha do Padre Arnold,
ajudando todo o ritual com a maior devoção.
Igreja de São José do meu Rio Pardo!
Onde assisti tantas cerimonias alegres...
e quantas cerimônias tristes.
Aonde voltarei sempre que puder,
para rezar e pedir a Deus, fervorosamente,
a felicidade e a grandeza de minha terra!
14
Noturno nº I
Brasílio Gandaia
em Julho de 1929
15
Fascinação
Ela olhou-me... Depois passou. Foi andando... Era um tango que se fez mulher.
e eu fiquei, na tarde triste, naquele trecho de rua deserta a cismar...
Aqueles olhos, onde vira aqueles olhos?
Olhos cor dos ambientes mortuários, olhos de luto entre o crepe das olheiras,
num rosto cor de vicio.
A boca—uma ara ofertando-se a um holocausto de amor.
O corpo, todo em surdina, langoroso, coleante...
Onde vira essa mulher?
Talvez num pesadelo, talvez num delírio, através esmeralda de um cálice de
absinto. Dela devia evolar-se um perfume causticante e emoliente, mole como
um unguento e alvo como o luar...
16
Evocação
17
Você
18
Recordação
Lembras-te?
Uma sombra mole caía das árvores,
havia música de águas
e um cheiro bom de folhas amassadas
quando eu colhi teu beijo,
como um fruto...
19
Presságio
Quando eu morrer,
quero, meu bem amado,
que sobre minha sepultura
mandes plantar uma roseira.
20
Para teu Álbum
21
Outono
ao Leandro
Outono...
Silêncio...
A paisagem convalesce...
Uma folha
-- a última --,
como uma lágrima,
se desprende de um galho
e cai....
Oscar Fausto
Gazeta do Rio Pardo
22
Poeminha Evocativo
A Lourença Bertero
O pó-de-arroz da garoa
a Paulicéia empoa.
Fantasiada de artista
modernista,
Dona Saudade pinta na tela viva
de minha evocativa.
São Paulo
Paulo Riopardo
A Gazeta do Rio Pardo
23
Ilusões
São Paulo
Paulo Riopardo
24
Por Causa de um Tango Triste
Quincas Borba
25
Moeda de Ouro
Nem sei...
Quincas Borba
26
Chuva de Pedra (1)
Oscar Fausto
27
Diagnóstico
Ao Dr. Waldemar B. Pessoa
Oscar Fausto
28
A Visita
29
Felicidade
à Gazeta
30
Manhã
31
Perfil de um Gato
Oscar Fausto
32
Luar
Eu vi, na madrugada
pálida,
brancuras alvas ao luar.
A lua (Salomé fria e solitária)
dançava na amplidão dos céus
a dança dos sete véus...
Seus meneios e flutuações
projetavam na face da terra
iluminada
sombras enormes de assustar!
Eu vi, na madrugada
pálida,
brancuras alvas ao luar...
Oscar Fausto
33
Quadro
Tarde.
Uma aragem suave
sopra e baloiça levemente
a folhagem das mangueiras.
Andorinhas chilreantes
riscam rápidas como setas
o azul anil do céu
- onde certa nuvem transviada
muito branca e solitária
move-se lentamente...
No quintal do vizinho
crianças brincam
em alegre algazarra
de gritos e risos.
34
Noite de São João
35
São Pedro
São Pedro:
Porteiro do céu
- desse céu tão desejado,
para o qual, não sei, se estou destinado...
Quando meu dia chegar,
São Pedro! banque o camarada!
finge que ressona...
e deixe-me entrar
de carona...
36
Balada da Saudade
A chuva lá-fora
chora
pingos d’água...
Estou triste,
triste,
com saudades de alguém...
Oscar Fausto
37
Veneração
À Honório de Sylos
A GAZETA
São Paulo - Oscar Fausto
38
Santo Antônio
Santo Antônio!
Fabricante de noivos
sob encomenda,
sob medida,
fabricai um pra mim
que de um me sinto carecida...
Oscar Fausto
39
Confidência
Oscar Fausto
40
Entre Você e Deus
Oscar Fausto
41
Presente de Rajá
Presente à altura!
Em miniatura:
esplêndido presente de rajá’!
Oscar Fausto
42
Garimpeiro de Sol
À José Honório de Syllos
O dia,
qual ambicioso garimpeiro,
acorda cedinho,
mune-se de peneiras de nuvens
e se põe a batear ouro
no riacho muito azul do céu.
De repente,
um sorriso ilumina-lhe a face.
É de satisfação.
Porque as peneiras
estão rendendo, rendendo,
e já começam a fulgurar
repletas de pepitas de sol!
Oscar Fausto
43
Inconsciência
44
Infantilidade
45
Baile à Fantasia
a Eduardo Ribeiro
Carnaval!
O Relâmpago (um pierrô indiscreto)
diz certa piada
a que o Trovão (barrigudo polichinelo)
solta retumbante gargalhada!...
Vai estourar a fclia.
Depois de animada batalha de confeti
e de lança-perfume,
em que toma parte saliente
Dona Chuva (fantasiada de colombina)
Surge de repente o Sol (romântico arlequim)
e atira a serpentina do arco-íris
- que faz meio círculo na sala azul do céu,
bizarramente estilizada,
e vai cair dependurada
no lindo forro decorado de nuvens.
Nisto, passa um jazz: bando de papagaios
cantando um samba lá do morro...
46
Aquecendo Meu Amor
Oscar Fausto
47
Chuva de Pedra (2)
48
Poemeto de um Dia de Chuva
Chove.
Uma chuvinha lenta,
fina,
e fria como uma lousa...
49
Psicologia
a Manuel Vieira
Amor ?
Sonho que viveu
no coração,
que morre como nasceu:
- ilusão...
50
Tragédia
Oscar Fausto
51
Tarde Molhada
Daí um pouquinho,
quando ela sossegou,
as enxurradas cantaram,
nas pedras das sarjetas,
a tristonha balada
da tarde toda molhada...
52
Diurno
53
Bando de Periquitos
À Gláucia
Dia Luminoso.
O céu é um espelho de cristal azul.
0 Sol - um reflexo de ouro.
A terra - u’a mulher vaidosa
que mira e se remira nesse espelho...
Daí a pouquinho
um bando de periquitos passa...
e faz um risoo verde
no cristal do espelho!
- Esperança.
Fausto
54
Amável Coincidência
Oscar Fausto
55
Arrufos
Oscar Fausto
56
Noturno nº 2
Noite de luar.
Late o cão do vizinho,
bobinho!
Está na certa querendo dar
uma impossível dentada em dona Lua.
Assobiando um tango dolente
alguém,
alguém zé-ninguém,
passa na rua.
57
Civilisação
a Valêncio Bulcão.
Noite.
E a onça pintada
ficou encantada
com aqueles olhos luzentes
- os faróis -
de um daqueles bichos desconhecidos
que possuíam voz tão estranha
- o automóvel.
58
Pingue-Pongue
59
Primavera
60
Outono
Silêncio...
A paisagem convalesce.
Uma folha
(a última),
como uma lágrima,
se desprende de um galho
e cai....
Oscar Fausto
Gazeta do Rio Pardo
61
Futuro Passado
Os brinquedos de crianças...
A meiga menina de tranças...
(Danças e contradanças)
O par de alianças!
Tempestades e bonanças...
Oscar Fausto
62
Teia de Aranha
Oscar Fausto
63
Poema das Bandeiras
(presente-passado-futuro)
a Guilherme de Almeida
Bandeiras.
São Paulo, dilatador de fronteiras,
que nada teme.
Onde avultou Fernão Dias Pais Leme!
Bandeira tricolor!
- preto - branco - vermelho
escantilhado com a silhueta do Brasil,
Com justo orgulho
São Paulo - Terra de abnegação e de civismo,
onde avulta a Epopeia de 9 de Julho!
Bandeira tricolor!
preto - branco – vermelho,
onde há de avultar
(porque São Paulo se vinga),
escantilhada a silhueta sul americana,
a República de São Paulo de Plratininga!
Oscar Fausto
64
Cemitério das Saudades
6
Ardell Wray (1907-1983) – roteirista americana de filmes de terror nos anos 20-30. (NE, fonte
Wikipedia)
7
Juca Pato é um personagem do caricaturista Benedito Carneiro Bastos Barreto (1896-1947) muito
conhecido em São Paulo nos anos 30-40. (NE)
8
Bonzo – sacerdote budista.
65
Retorno
Fausto
66
Crônicas de Fausto Prado Olyntho
67
Uma carta intima...
Meu caro C.
Penso que estava adormecido. A sua carta teve o efeito de um jato d’água no meu
rosto. Estou agora acordado, sem privação de sentidos...
Do que lhe escrevi não deixei cópia (infelizmente não tenho hábitos comerciais... e,
confesso, já nem lembro do que ficou no papel num momento de lírica expansão...)
Recordo-me da sua carta como de certos sonhos que ficam na cabeça confusamente.
Mas tenho a impressão, entretanto, de que no mínimo, se não fui ridículo, fui
lamentavelmente piegas...
Sou de fato sentimental e, isto, há vinte e quatro anos...
Embora com este defeito, sou também “cavalheiro dos prazeres efêmeros”... O meu
coração é uma grande casa de apartamentos com muitas inquilinas...
Poucas vezes (e por poucos minutos) os apartamentos têm tido uma única inquilina.
E uma destas vezes foi agora... Mas o caso já não existe. Sou contra as exclusividades,
os monopólios, os privilégios. E depois, nas viagens para o amor, ando sempre de
bitola estreita, que é o ’’flirt”...
o-O-o
Olho em torno: estou mesmo acordado...
Releio sua carta. Você não tem razão de pensar que encontrei, nas suas palavras,
segundas intenções.
Estranho (e com motivo) haver Você transmitido a ”única novidade” à míngua de outra
cousa. Enfim, são modos de ver...
De tudo resta... uma saudade longínqua...
Você andou muito bem não contando aquelas (podemos dizer) minhas fraquezas,
evitando assim que caísse sobre a ironia orgulhosa e me fulminasse o desdém vaidoso
e convencido de Gioconda9. Que um dia, num sonho, pensei que fosse minha criatura
predestinada.
O livro da vida: viremos esta página...
Abraços do assinado
H.
9
La Gioconda ou Mona Lisa é um famoso quadro de Leonardo da Vinci. (NE)
68
Do meu Diário
69
Boemia
Brasílio Gandaia.
São José, 13/12/1929
70
O Último Don Juan
Conheci-o no remoto ano de 1922, o do centenário, quando, ainda muito jovem, ele
iniciava, nos arraiais daquele bairro, a sua odisseia de cavalheiro dos prazeres
efêmeros.
De porte era franzino, uma compleição delicada de donzela, mas os olhos, uns belos
olhos grandes e oblíquos de guerreiro tártaro e um buço leve e áspero, emprestavam-
lhe ao todo a insolência de um espadachim.
Os dias gastava-os todos a dormir sobre os divãs amplos e acolhedores, entre
almofadões búlgaros, ou, com a lentidão de um sacerdote que celebra um rito solene,
preparava a sua toilette com os requintes mais apurados que os de uma cortesã.
Depois, à noite, quer fosse inverno ou verão, com passos coleantes, taciturnamente,
esgueirava-se na treva.
À luz mortiça dos combustores de gás, se lhe ensejava ocasião, urdia finos madrigais,
frases de uma taciturna alada, como feitas de sonho, leves qual uma renda de Bruges.
Em certas noites, quando a lua alta, branca, tudo enlividecia como o pó de arroz do
luar, ele, o meu amigo D. Juan, acordava nas ruas desertas a sua voz harmoniosa
adulçorando o silêncio e pondo em sobressalto os corações adolescentes.
Recolhia-se, às vezes, exausto, o corpo contundido, a face e os membros lacerados,
após tremendas brigas, onde exercitava toda a potência de seus músculos destros,
realizando proezas dignas de um Scaramuccia10.
Mais de cem corações teve, palpitantes, a seus pés, rendidos pela sua graça, pela sua
elegância brummelesca.
Colhido o amor, displicentemente, abandonava-o como uma flor murchecida, da qual
houvessem haurido todo o aroma.
Pobre amigo, ontem, acompanhei-o à sepultura. Lá ficou no jardim, ao lado do repuxo,
à sombra de uma roseira que, por coincidência, nesse dia vermelhejava toda em rosas.
O meu pobre amigo, o último D. Juan, foi talvez o único gato que em toda a sua
complicada vida de conquistador, nunca fez chorar uma gata.
Brasílio Gandaia
São José, 08/01/1930
GRP 1050
10
Scaramuccia ou Scaramouche - palhaço espadachim da Commedia Dell’Arte. (NE)
71
Noturno que eu vivi
Enquanto lúgubre o vento ulula lá fora na rua erma, para evocar amores d’outrora,
Dona Insônia senta-se á minha cabeceira.
Faz-me acender a lâmpada e um cigarro.
Põe depois nos meus os seus olhos dolentes, e, baixinho, começa a confidência.
Na parede, em ciranda, passam silhuetas de sombra de minhas antigas namoradas.
De uma recordo-me o nome romântico e sonoro, de outra a luminosa cabeleira loura,
um sorriso meigo, uma frase bonita, um suspiro longo...
De algumas... De algumas não me recordo nada...
Todas me olham: e em seus olhos nostálgicos vejo quão bela foi a minha mocidade...
Brasilio Gandaia.
São José, 26/05/1930
GRP 1071
72
Como Ali-Babá
Brasílio Gandaia
São José, 03/01/1930
GRP # 1049
11
Lagoa de Vapabuçú ficava no caminho das esmeraldas de Fernão Dias Pais Leme. (NE)
12
Porto bíblico famoso por suas riquezas. (NE)
73
Filme
O cinema repleto.
A plateia regorgita e espera, fazendo toda sorte de comentários, que as luzes se
apaguem.
Namorados juntinhos, xifópagos.
Outros, longe.
Outros, tímidos, acrobatizando olhares.
Ansiedade enorme. Também, tanto reclame! Cartazes, cartazes e cartazes lambuzando
tudo. Programas, muitos programas.
E na rua, num caminhão: bum, bum, bum... num bumbo velho.
Escandaloso, um menino estentora pela trompa amolgada de uma antiga grafonola,
promovida a megafone.
A campainha estrila. Escuridão!
O orifício da cabine se ilumina. Flecha na sala um fio de luz e esparrama-se na tela.
As epígrafes. Os atores.
Ela - cabelos alucinados, olhos crepusculares e a boca... Uma taça de veneno.
Ele - uma alma de criança num corpo de atleta.
Com o clássico bigode, a destilar sarcasmos e atitudes felinas: o Cínico.
Depois; a pantomima vulgar, ianque, muito ianque.
Atenção! Atenção!
A orquestra assurdina um tango...
Ele, o galã, a envolve, dá uma chamada, semicerra os olhos e, num furor de
antropófago, devora-a num beijo.
O beijo.
Ainda o beijo.
Cinco minutos.
o-O-o
- Tire a mão daí, seu atrevido!
Brasílio Gandaia
São José, O7/1929
Gazeta do Rio Pardo (#1O24)
74
Relógio
13
Georges F. Roskopf (1813-1889) foi um famoso produtor de relógios de bolso na Suiça.
75
Loucura Sentimental
(Para COLMEIA)
Meu canalha,
Quando acordares, não me verás mais junto de ti. Agora mesmo, exausto,
adormeceste. Como dormes serenamente. No teu rosto, onde, entreaberta, a tua boca
sugere uma flor sanguínea, há vestígios de um sorriso remoto.
Talvez sonhes, talvez revejas em sonho a tua última aventura de pirata elegante — um
novo triunfo a assinalar nos teus armoriais de cavaleiro dos prazeres efêmeros.
Tu, meu estroina, meu volúvel rebuscador de inédito, já sofres a nostalgia dessas
carnações morenas que eu detesto, desses olhos negros que eu abomino, já não
dissimulas o tédio ante a minha beleza frágil de «fausse-maigre», ante esta minha
cabeça alucinada, a qual dizias uma pira de fulvas labaredas.
Conquistar uma mulher, a mais afetuosa, tatear-lhe a carne e haurir-lhe o capitoso
perfume, para, em seguida, a esquecer saciado, corresponde, na tua lógica impassível
de mundano — fumar um abdula e, depois pousar no cinzeiro a ponta inútil.
Meu amor foi para ti um gozo doido e fugaz — uma fumaça, uma espiral de fumo que
deleitou teu paladar...
E agora o que resta?
Um carvão apagado e cinzento... Por isso, deixo-te. Fujo para não mais suportar teus
carinhos artificiais, a camuflagem dos teus delírios, a farsa grotesca do teu amor.
Terás saudades? Terás remorsos? Não sei. Mas se um dia, por extravagância visitares a
estela sem inscrição sob a qual repousarei, uma multidão de reminiscências te
occorrerá ao cérebro. Uma «chispada» de auto, numa noite cálida, sob a carícia do
luar; o cabaré, em certa madrugada, o champanhe a espumejar na taça e um tango
milonga, num bandoneon em surdina, melancolizando...
Depois aquele vestido, criação Lanvin, cor de folha morta — lembra-te? — e, sobre
tudo, o meu perfume predileto, desvario de um mago da «rue de la Paix», que
76
aspiravas desesperadamente numa volúpia de intoxicado, como se fosse o subtil
veneno branco...
Nos dias vazios, às tardes, quando, filtrada pelos stores cor de tabaco, a luz tiver a
perplexa suavidade de um amanhecer idílico, sozinho, em tete-à-tete com o silêncio,
sentirás por certo o pungir vago de um desejo, de alguma cousa, de alguém que não
verás jamais...
Disse um poeta — não se evapora o que fica de alguém, porque na alma é que fica...
Deixo-te e deixo de mim na tua vida a imagem...
Adeus meu cínico, meu algoz, meu amor...
Mimi
Finalizei a leitura. O taxi estacara na Esplanada. A cidade acordava em luz nos colares
das luas eléctricas. Antes de partir perguntei ao chofer quem antes de mim, ocupara o
carro.
— Um rapaz todo de luto, alto e pálido. Sobraçava um buquê de cravos vermelhos.
Levei-o ao Cemitério da Consolação.
77
Almoço de Poetas
(Teatrinho. Interiorano à moda de Júlio Dantas)
CENÁRIO
Salão pequeno. Meia dúzia de mesas quadradas com toalhas brancas. A um canto
almoça em silêncio respeitável família. Do outro lado um médico, entre garfadas,
discute futebol com o rapazola. Dois estrangeiros discutem tintas e máquinas. Acolá
um rapaz, de olhos compridos e bigodes a Adolphe Menjou, conversa com um moreno
de testa ampla, roupas claras, e pronúncia acentuada de nordestino. Apressado corre
o garçom estabanado, moreno de rosto redondo, poucos dentes e pouca prosa,
entrega uma garrafinha a uma senhorita elegante e sisuda. Há outras senhoritas pela
sala. Mas este caso é de rapazes, os três sentados juntos, morenos: o que parece mais
moço, de bigodinho bem cuidado, olhar doce e voz pausada, Basílio Gandaia, poeta
vindo de terras longínquas; outro sorridente tem sardas no rosto, João Pinheiro; o
terceiro, de vasta cabeleira revolta, gesticulação abundante, voz forte e
desembaraçada, Paulo Tatuí. João Pinheiro, crítico, é inteligente e conquistador. Tatuí
sem predicados.
B. - Feliz coincidência,
reunidos nós três em torno à mesa
repetiremos com certeza,
sem presumir imprudência,
a Ceia dos Cardiais...
T. - ...uma cerveja.
78
B. - O vinho é sonho... Como
Disse a Colombina.
J. (para Tatuí):
Não interrompa o Gandaia.
(Sonhando):
É tão bom falar de rabo de saia...
(Zangado):
Até Você tem também uma estória,
Aposto! ...
T. (pensando):
Talvez, mas não ousaria contar...
E desta conversa eu não gosto!
79
E para trazer mais calor,
Começo falando sobre o amor...
T. (murmurando):
Desta vez vou pro beleléu.
Só aguento por amor ao pitéu...
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Ela - a olhar a fita. Eu, pro lado...
Nada! Nem ao menos namorado
Fui. Mas vem o baile. A dança.
Quem enlaça não se cansa...
E cochichei-lhe ao ouvido
O meu verso mais querido.
Era assim: "O elefante que te dei.
Juro! não o roubei..."
(Como terminava? Não me lembro nada!...)
Mas com o verso, ficou enamorada.
Depois, nunca mais nela pensei,
Nem ela se lembrou de mim,
Pois eu - como todo mundo - sei
Que o amor tem sempre um fim...
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- o mais feliz de minha juventude!
Porém, levado ao paroxismo,
Não resisti a um galicismo
Imperdoável em normalista
- que inda agora me contrista
E violenta a cerebral entranha.
Acabamos na Central. Sorte estranha...
E nunca mais a vi.
Cochila o Tatui. João Pinheiro
e Basílio o sacodem e indagam
em coro:
- Em que pensa, Tatuí?
Tumulto. Restabelecido
o silêncio, volta Tatuí.
82
Chegada
83
Descendo a Ladeira
Descendo a ladeira, uma porção de gente alegre, de roupa nova de ver Deus. Depois, a
avenida pitoresca fazendo uma curva graciosa. A gente ia andando, descia uma escada,
fazia uma visitazinha àquele mimo de brasilidade, precioso como uma joia, hoje
resguardado num abrigo, mas ainda a evocar a gênese d’Os Sertões.
Um momento contemplava o rio correntoso, de águas borbulhantes. Mas adiante
atravessava uma pontezinha simples. Em seguida entrava na ponte-pensil. Era uma
sensação de ponta a ponta. Dados os últimos balouços agradáveis, a gente pisava na
ilha de São Pedro, todinha vestida de árvores. Dava uma volta, ia-se sentar nas pedras,
ouvir as águas...
Que encanto! Regressava depois satisfeito, revendo tudo aquilo, tão bonito...
Chegando em casa, refastelava-se na cadeira de balanço, orgulhoso... Desfrutara o dia
de ouvir missa gostosamente. Agora já não é assim. Todo aquele nosso patrimônio de
belezas vai caindo no esquecimento.
Porquê ? Havia lá um pavilhão para festas e o fogo queimou. A ponte-pensil, dos
balouços agradáveis, o rio roubou. Vai caindo no esquecimento, é verdade, mas não do
povo que tem saudades, muitas saudades...
Fausto
GRP # 1042
84
Sem título
Não pude disfarçar o fervor e a satisfação íntima quando, outro dia, em companhia de
alguns amigos, tive o prazer de contemplar, ali na vitrine da Casa Braghetta, o quadro
dos jovens rio-pardenses que concluem o curso do primeiro Grupo Escolar.
Aqueles rapazinhos e aquelas moçoilas, bem postos, de olhos alegres, fizeram-me
pensar com otimismo no Brasil futuro, num tempo em que, por obra do professor
primário, os brasileiros que colonizam nossas fazendas e que habitam nos sertões
distantes já não serão simples criaturas embrutecidas e escravizadas pela ignorância.
Nessa idade pragmática, que eu antevejo não muito distante, os retóricos, os
revolucionários, os idealistas utópicos, estarão recolhidos aos museus, animais raros,
espécies de uma fauna extinta como o megatherium e o mastodonte.
Teremos uma instrução profissional mais difundida e, quiçá, os membros de certa
classe muito numerosa entre nós não carecerão mais de comissões de técnicos para
ensiná-los princípios rudimentares de uma profissão que, apesar de se criarem nela,
até hoje não a sabem exercer com eficiência.
Justo é, pois, que rendamos homenagem ao nosso professorado, mormente aos
professores rurais que, para levar o alfabeto aos humildes caboclinhos, abdicam todo o
conforto dos centros civilizados e arrostam, entre mil dificuldades, a hostilidade de
pais estúpidos e, não raras vezes, de patrões egoístas.
Cabe perfeitamente repetirmos aqui uma frase de Bilac no «Professor Primário»:
«Na sua cadeira de educador, o mestre recebe a visita de um Deus: é a Pátria que se
instala no seu espirito.»
85
Manhã Azulíssima
Fausto
GRP #1044
86
A Cronicazinha que trouxe uma grande Verdade
Estou aqui procurando rabiscar para «Gazeta», em cujas colunas sou sempre bem
acolhido, uma cronicazinha que sabia interessante. Mas não me aparece ideia alguma,
que mereça este epíteto, e muito menos razão, para ir sem mais nem menos macular a
brancura do papel.
Já rebusquei o cérebro, onde, somente, achei pensamentos vagos, o que vale por dizer
que nada achei. Hoje, está-me faltando aquilo a que chamam — veia.
A caneta e a pena associadas em mútuo bom humor, obedecem docilmente a mão,
que por sua vez, presta obediência à cabeça, que não me quer obedecer
nenhumamente. O tinteiro ali adiante, espera, oferecendo com uma espontaneidade
admirável, a tinta azul que nele contém. E’ inútil tentar. Não sai nada mesmo...
Esperem um pouquinho ! Está bailando uma ideia qualquer... parece que vai chegar.
Está-se esboçando. Concretizando... Pronto ! Agora já sei o que é. Um pensamento
bom me passou pela cabeça. Um conselho útil. Nasceu bem lá no fundo. Talvez, na
alma. E tão verdadeiro, (já refleti,) que vou difundi-lo. Não sou egoísta, e, não ficarei
com ele só para mim, não.
Vou contar. Foi assim, primeiro surgiu uma vozinha, remota perguntando:
Você quer saber de um remédio infalível para ser-se feliz?
Naturalmente que quero, sim?
Não pense nunca na felicidade.
E foi-se embora.
Oscar Fausto
87
Fisionomia da Cidade
88
E que os Santos digam — Amém!
Oscar Fausto
89
Cinema
Oscar Fausto
90
Poesias de Waldemar Prado Olyntho14
14
Waldemar (1901-1932) era 10 anos mais velho do que Fausto. Morreu de tuberculose em São
José dos Campos aos 31 anos de idade. Como poeta, prezava a forma e a rima. Muito mais conservador
do que o ebuliente Fausto. (NE)
91
Soneto Banal
92
Num Álbum
à Gláucia
93
Bonecas Vivas
Walther Barion15
15
Walther Barion é um pseudônimo de Waldemar Prado Olyntho. (NE)
94
Modo de Dizer
À Srta. Feliceta Angerame
1930
Waldemar Prado Olyntho
95
Do Meu Quarto
Do meu quarto,
onde convalesço
estendo o olhar vadio pela janela...
Lá fora, luz
um céu sem mácula
e -- ó suave emoção! –
sobre o muro, numa roseira folhuda,
uma rosa pálida.
Essa flor,
talvez doente,
talvez, como eu, convalescente,
sugere-me por um momento
a presença de u’a mulher multo melga
que entrasse no meu quarto
sorrindo...
96
Finados
97
I
98
IV
Waldemar Olyntho
99
APÊNDICES
100
CRONOLOGIA DE TARQUÍNIO COBRA OLYNTHO
Notas de Tarquínio José Barboza de Oliveira
101
18/09/1918 – Segundo casamento de Noêmia com Manuel Carlos de Siqueira,
advogado de Mocóca.
1920 - colaborou na fundação da Escola Normal de Casa Branca.
1920 – 1923 - eleito juiz de paz.
março/1922 – Mário começa a trabalhar no Banco Francês-Italiano local. Os filhos
Valdemar e Norival deixam a casa paterna para trabalhar
respectivamente nas firmas "William Simonsen" e "Brasil Warrant"
28/06/1922 - casamento da filha Maria com Antônio Ribeiro Nogueira (Nhô Ribeiro).
06/05/1922 - falecimento de Da. Emiliana Meyer Cobra no Rio de Janeiro, mãe de
Tarquínio.
1924 – 1927 - reeleito juiz de paz.
05/07/1924 - O engº José Barboza de Oliveira (Zuza) era chefe da 9ª Residência
ferroviária com sede em Santo Anastácio. Após a tomada de Santo
Anastácio, pelas tropas legalistas, o engº Barboza de Oliveira, que se
manteve em seu posto no cumprimento do dever, é preso e transferido
para São Paulo com toda a família.
05/07/1925 - Norival, solteiro, adoeceu e morreu de tuberculose em São José do Rio
Pardo.
08/12/1927 - casamento de Adolfina com Jorge Augusto de Andrade Junqueira.
01/03/1928 - Fundação do 2º Grupo Escolar hoje chamado "Tarquínio Cobra Olyntho".
março/1930 - Mário começa a trabalhar no Banespa, em São Paulo. Ditadura Vargas.
24/08/1931 - falecimento da esposa, Josefina Prado Cobra, em São José do Rio Pardo.
06/02/1932 - falecimento do filho solteiro Waldemar Prado Olyntho de tuberculose
em São José dos Campos.
09/07/1932 – Mário e Fausto se alistam no Batalhão Romão Gomes para lutar contra a
ditadura Vargas por São Paulo.
11/05/1933 - falecimento de Tarquínio Cobra Olyntho às 11 h.
março/1937 - Mário transferido para a contabilidade da 4ª agência Banespa, em Avaré.
abril de 1937 – casamento de Gláucia Prado Olyntho com Olavo Cabral Ramos
05/06/1937 - falecimento do poeta boêmio Fausto Prado Olyntho, solteiro, em São
José do Rio Pardo, de tuberculose.
03/03/1938 – nascimento de Olavo, filho mais velho de Gláucia e Olavo.
1940 – Mário Prado Olyntho se casa com Inah César de Castro em Avaré.
24/10/1941 - falecimento de José Barboza de Oliveira (Zuza) marido de Antonieta em
São Paulo.
1947 – falecimento de Inah, primeira esposa de Mário Prado Olyntho, deixando-lhe
dois filhos: Luiz Antônio de Castro Olyntho e Marco Antônio.
21/03/1950 - Mário Prado Olyntho é transferido para São Paulo, subchefe da
Inspetoria do Banespa.
23/12/1961 - falecimento de Adolfina Prado Olyntho.
29/09/1971 - falecimento de Antonieta Prado Olyntho no Rio de Janeiro.
26/12/1980 – falecimento de Tarquínio José Barboza de Oliveira (Tarquininho) em
Ouro Preto, de câncer.
03/08/2002 – falecimento de Gláucia Prado Olyntho Ramos, no Rio de Janeiro.
102
Obituário de Tarquínio Cobra Olyntho
Resenha 25/05/1933
Atingindo a idade de 64 anos, chegou para o distinto cidadão Tarquínio Cobra Olyntho,
às 11 horas, do dia 11 a noite que não tem aurora na terra. Conquanto esperado, o
desenlace fatal causou geral consternação a sua família, a seus inúmeros amigos e à
população, que o veneravam como um benemérito.
Durante 40 anos decorreu a sua existência a nesta cidade, onde exerceu a atividade de
farmacêutico e clínico da pobreza, devotando-se como sacerdócio a obras de caridade,
fazendo o bem indiferentemente a todos, com um sentimento de fraternidade, que
muito o enobrecia e o fazia distinto na sociedade.
O seu amor pela humanidade e uma dedicação em aliviar as dores alheias granjearam-
lhe grande estima e veneração, colocando-o como figura marcante entre os
filantropos, e dando-lhe notável destaque em nosso mundo político.
Apesar de nos divergirmos, mesmo afastados de sua direção e de seu pensamento
político, jamais, porem deixámos de tributar-lhe justiça, reconhecendo a sua
inteligência, seus préstimos, sua caridade e elegância moral no seio de sua estimada
família.
Notas Biográficas
Nasceu o pranteado cidadão em Pouso Alegre, a 13 de Novembro de 1869 16. Filho
legítimo do ilustre magistrado, ulteriormente ministro do Supremo Tribunal Federal,
Dr. Adolfo Augusto Olyntho e Exma. Sra. D. Emiliana Adelina Meyer Cobra Olyntho, já
falecidos, a principio formou a intenção de conquistar o titulo científico de médico,
matriculando-se na Academia de Medicina do Rio de Janeiro, frequentando os dois
primeiros anos do curso de Farmácia.
Patriota cheio de civismo que encheu seu coração e seu espírito tomou parte na
revolução da armada, incorporando-se no batalhão Acadêmico, que tantos louros
conquistou.
Da Academia de Medicina transferiu-se para a Escola de Farmácia onde se diplomou,
distinguiu-se nos estudos de Botânica e foi um dos quatro únicos baixareis em Ciências
Naturais que tiveram tal titulo.
Logo depois, em 1893 abriu o seu estabelecimento farmacêutico nesta cidade,
casando-se com d. Josefina Prado, virtuosa esposa e mãe de família, falecida há perto
de dois anos.
Aliando a sua ação de homem probo e trabalhador aos nobres atos de caridade, foi o
médico da pobreza que lastima o seu desaparecimento e lhe consagra saudades.
Arrebatado para o turbilhão da política, competiu-lhe posições de destaque e prestigio
popular. Em 1900, um acordo político entre os dois partidos que disputavam as
posições municipais, foi eleito vereador, servindo em diversas comissões da Câmara.
Surgindo partido municipal em 1914, ocupou de novamente uma cadeira na Câmara
Municipal ocupado durante mais de um ano o lugar de Secretário e exercendo o cargo
de Inspetor Escolar.
16
Na verdade, Tarquínio nasceu aos 07/11/1870
103
Eleito 1° Juiz de Paz para o triênio de 1920 a 1923, foi reeleito para o triénio de 1924-
1927, cumprindo-lhe o ministério de Juiz do Casamento Civil, em que se manteve em
perfeita linha ética.
As diversas funções públicas, que exerceu, e o seu devotamento à caridade, atraíram
lhe muitas amizades e dedicações. Não abandonou os estudos científicos e reuniu os
seus estudos de Botânica, dando publicidade das observações clínicas feitas sobre as
plantas terapêuticas da Flora indígena, em pequenos artigos, em uma das folhas desta
cidade, sendo para desejar a continuação de publicidade.
Dirigindo-lhe das colunas da nossa modesta folha o adeus de saudade, apresentando
aos seus filhos e mais pessoas de sua família sentidas condolências.
104
Ele Abominaria essa filosofia que pôs o lucro no lugar do
homem
Coube a mim, Professora da Casa, falar sobre Tarquínio Cobra Olyntho, nesse dia a ele
dedicado.
A tarefa, a princípio, se me apresentou um tanto difícil. Na posição de esposa de um de
seus netos, tive receio de ser mais subjetiva do que o momento poderia permitir.
Entretanto, a vida de nosso patrono fala por si. Sua biografia relata fatos incontes-
táveis, realizações cujas consequências sentimos até hoje à nossa volta. Então percebi
que, por mais que o coração quisesse interferir, exagerando na expressão dos
sentimentos, um homem não se torna menos ou mais herói porque seus descendentes
assim o desejam. As realizações de um homem são fatos objetivos. Os fatos revestidos
de subjetividade são anulados pelo tempo. E a obra de Tarquínio Cobra Olyntho não
foi anulada pelo tempo: ele semeou o Bem e o Bem frutifica sempre.
É, sobretudo, aos jovens que esta fala se dirige. Eles indagam: quem foi esse homem
que dá nome a nossa escola. Quem é esse homem que vive no coração da cidade e na
saudade do povo?
Para responder, é preciso retroceder no tempo, virar as densas páginas da história de
Tarquínio Cobra Olyntho e voltar até 1869, quando ele nasceu em Pouso Alegre, MG.
Por motivos de saúde, instalou-se em São José do Rio Pardo; aqui constituiu numerosa
família. De seus muitos filhos, vivem Mário Prado Olyntho, residente em São Paulo e
Gláucia Olyntho Ramos, no Rio. Dos outros filhos, falecidos, alguns deles repousando
em nossa cidade, quero fazer especial menção a Adolphina Prado Olyntho, a doce avó
de nossos filhos e saudosa genitora de Dona Heloísa Olyntho Junqueira Dias,
Professora neste estabelecimento.
É sabido que Tarquínio Cobra Olyntho teve por toda sua vida uma farmácia que existe
até hoje, nesta rua que acaba justamente no prédio de nossa escola. Ele foi, portanto
farmacêutico. O que tem um farmacêutico a ver com Educação a ponto de dar nome a
uma instituição escolar? Qual a relação?
Consta nos anais da cidade que Tarquínio Cobra Olyntho foi político atuante, ocupando
por duas legislaturas a cadeira de vereador cargo que considerou com a máxima
dignidade e com a mesma responsabilidade com que aviava as receitas em seu la-
boratório. E um político, o que tem a ver com Educação? — poderão perguntar alguns
de nossos alunos.
O fato é que o nome de Tarquínio Cobra Olyntho está indelevelmente ligado à obra da
Educação em nossa cidade.
105
Efetivamente, ele dá nome a uma escola não porque, em certa época, tenha ocupado
o cargo de Inspetor Escolar. Não porque, ao lado de outros políticos da região, tenha
contribuído para a instalação da Escola Normal em Casa Branca, escola esta, até hoje,
monumento da vizinha cidade, motivo de justo orgulho para os casa-branquenses. Dá
nome a uma escola não porque, ao lado de Elisário Dias e de outros rio-pardenses
incansáveis, tenha trabalhado para a instalação da Santa Casa, local. Tarquínio Cobra
Olyntho dá nome a uma escola não porque, estudioso inveterado, teria publicado
trabalhos sobre Botânica, fruto de suas pesquisas como ex-aluno de Medicina e
afeiçoado à farmacologia. Dá nome a uma escola, não porque, republicano lúcido, se
tenha alinhado com aqueles que desejaram a Democracia como o regime político que
melhor se coaduna com o homem, em todos os tempos e em todos os lugares.
Tarquínio Cobra Olyntho dá nome a uma escola pelo somatório de todas as ações de
sua frutuosa vida. Porque foi um lutador. Vamos encontrá-lo em todos os movimentos
reivindicatórios que se fizeram em nossa, região. Era um liberal. Tinha a visão de um
verdadeiro humanista. O HOMEM era seu objetivo, sua meta, seu farol. Nunca ele
perdeu de vista este fim — o bem do ser humano. Este princípio o norteou por toda a
sua vida. No desempenho de suas atribuições como farmacêutico, vamos encontrá-lo
socorrendo a pobreza de São José do Rio Pardo, a ponto de comprometer a própria
situação econômica. Ficou na memória do povo pelo seu espírito caridoso, tendo
morrido pobre, apesar de uma vida inteira de trabalho. Podemos imaginar a estatura
deste homem e sua perplexidade diante do poderoso traste dos laboratórios
internacionais, insensíveis à população doente, indiferentes face ao HOMEM, visando
ao lucro, tão somente ao lucro. Ele, na sua ótica humanitária, na, firmeza de seu
caráter, na determinação de seus atos, abominaria essa filosofia que pôs o lucro no
lugar do HOMEM.
É por isso Senhores, que a vida de Tarquínio Cobra Olyntho é oferecida a nossos
alunos, corno modelo de conduta. Pesa sua atuação como profissional. Pesa sua
atuação como político. Pesa, sobretudo, sua existência como humanista, na inteira
acepção do termo, o que mostra que Tarquínio Cobra Olyntho ultrapassou seu tempo,
projetando-se neste final de século e milênio, quando se fala tanto de direitos
humanos e nunca o HOMEM foi tão aviltado.
07/11/1984
Maria José Pereira Martins de Andrade
106
Descendentes de Tarquínio Cobra Olyntho
04/08/2017 Page 1
1. Tarquínio Cobra Olyntho (b.11/07/1870;d.11/05/1933)
sp: Josefina Amélia Xavier do Prado (b.17/01/1875;m.18/05/1893;d.24/08/1931)
2. Antonieta Prado Olyntho (Nieta) (b.19/03/1894;d.29/09/1971ou72)
sp: eng. José Barboza de Oliveira (Zuza) (b.30/09/1886;m.30/09/1913;d.24/10/1941)
3. Eugênia Maria Barbosa de Oliveira (Geny) (b.05/08/1914;d.24/06/2002)
sp: Jacyntho Coelho Branco (b.05/04/1915;m.03/05/1944;d.27/09/1975)
3. Bel. Tarquínio José Barboza de Oliveira (b.18/09/1915;d.26/12/1980)
sp: Margarida Maria Barbosa de Oliveira (b.23/09/1915;m.15/07/1941;d.28/07/2003)
3. Lucy Maria Barbosa de Oliveira (b.17/11/1917;d.Abt 03/05/1980)
sp: Bel. Mário Arantes de Moraes (b.09/12/1916;m.30/12/1939;d.18/11/1975)
3. Roberto José Barboza de Oliveira (b.19/09/1919;d.08/09/2013)
sp: Maria Lúcia Martins (m.12/07/1947;d.22/07/2010)
3. Maria José Barbosa de Oliveira (<) (b.22/12/1921;d.03/07/2010)
3. Otávio José Barbosa de Oliveira (b.24/10/1923;d.15/03/1981)
sp: Maria de Lourdes Fuim (b.10/04/1927;m.abt//1945)
sp: Maria do Socorro .... (m.//1952)
sp: Neide
3. Helena Maria Barbosa de Oliveira (b.06/10/1925;d.14/04/2011)
sp: Álvaro Portinho de Sá Freire (b.02/03/1909;m.15/10/1948;d.08/09/1998)
2. Maria Prado Olyntho (b.09/04/1896)
sp: Antônio Ribeiro Nogueira (Nhô Ribeiro) (m.28/06/1922;d.//1961)
3. Antonio Ribeiro Nogueira
3. Pedro Ribeiro Nogueira
3. Maria Rosa Ribeiro Nogueira
sp: José Osório de Oliveira Azevedo
2. Noêmia Prado Olyntho (b.30/04/1897)
sp: Pedro Paulo Autran Dourado (m.07/12/1915;d.30/01/1916)
3. Pedro Paulo Autran Dourado Filho (b.//1916;d.//1916)
sp: Manuel Carlos de Siqueira (m.18/09/1918)
3. José Carlos Siqueira (b.22/03/1922)
sp: Neil
3. Maria de Lourdes Siqueira (b.02/12/1923)
sp: Juiz de Direito Silvio da Costa Lima
3. Zélia Maria Siqueira (b.02/11/1924)
sp: Carlos
3. Luiz Carlos Siqueira (b.14/12/1927)
sp: Neusa Horta Siqueira
3. Maria Tereza Siqueira
sp: Vicente Verrone
2. Adolfina Prado Olyntho (b.16/04/1899;d.23/12/1961)
sp: Jorge Augusto de Andrade Junqueira (m.12/08/1927;d.//1961)
3. Norival Augusto Junqueira (b.25/11/1928)
3. Mário Roberto Junqueira (b.//1929)
3. Maria Josephina Olyntho Junqueira Dias (b.//1931)
sp: Vicente Dias
3. José Geraldo Olyntho Junqueira (b.05/09/1932)
3. Heloisa Olyntho Junqueira Dias
2. Waldemar Cobra Olyntho (<) (b.08/07/1901;d.06/02/1932)
107
Descendentes de Tarquínio Cobra Olyntho
04/08/2017 Page 2
2. Norival Cobra Olyntho (<) (b.08/10/1903;d.05/07/1925)
2. Áurea Prado Olyntho (<) (b.27/08/1904;d.25/03/1907)
2. Mario Prado Olyntho (b.02/07/1908;d.14/05/1997)
sp: Inah César de Castro (m.c 1940;d.29/11/1946)
3. Luiz Antonio de Castro Olyntho (b.14/10/1941)
sp: Maria Aparecida Sampaio Góes Olyntho (b.14/06/1948)
3. Marco Antonio Castro Olyntho
sp: Maria José Vieira Olyntho
sp: Gilda Martins
3. Celso Martins Olyntho
sp: Stella Nessenian Olyntho
2. Fausto Prado Olyntho (<) (b.05/12/1911;d.05/06/1937)
2. Gláucia Prado Olyntho (b.18/05/1913;d.03/08/2002)
sp: Olavo Cabral Ramos (m./04/1937)
3. eng. Olavo Cabral Ramos Filho (b.03/03/1938)
sp: Margarida (d.10/07/2015)
3. Roberto Luís Olinto Ramos (b.23/11/1952)
sp: Silvana Selmi Dei Gontijo
sp: Cláudia Zonenstein
sp: Amélia Aben-Athar (c.sefaradita)
2. Yvette Prado Olyntho (b.07/03/1916;d.17/06/1954)
sp: Arquibaldo Redher (m.17/06/1939)
3. Paulo Eduardo Olyntho Redher
sp: UNKNOWN
3. Luiz Sérgio Olyntho Redher
3. Jaime Olyntho Redher
3. Tarquínio Olyntho Redher
3. Maria Luiza Olyntho Redher
108
Tarquínio Cobra Olyntho e Josephina Xavier de Toledo do Prado
Tarquínio Cobra Olyntho Josephina Xavier de Toledo do Prado
1870-1933 1875-1931
Casou-se em 1893
109
Antonieta Maria Noêmia Adolfina Waldemar Norival Áurea Mário Fausto Gláucia Yvette
1894-1972 1896-xxxx 1897-xxxx 1899-1961 1901-1932 1903-1925 1904-1907 1908-1997 1911-1937 1913-2002 1916-1955
110
2. Carta de Fausto e Mário ao pai da trincheira, em Guaxupé
111
112
Sumário
Apresentação .................................................................................................................... 1
Saudade ............................................................................................................................ 4
Poemas de Fausto Prado Olyntho .................................................................................... 5
Pobre Jardim ..................................................................................................................... 6
Certa Vez........................................................................................................................... 7
A minha terra… ................................................................................................................. 8
Escândalo .......................................................................................................................... 9
Tristeza de não Possuir ................................................................................................... 10
Dona Primavera .............................................................................................................. 11
Aquarela.......................................................................................................................... 12
Vida que Passa ................................................................................................................ 13
O Templo de Minha Predileção ...................................................................................... 14
Noturno nº I .................................................................................................................... 15
Fascinação ...................................................................................................................... 16
Evocação ......................................................................................................................... 17
Você ................................................................................................................................ 18
Recordação ..................................................................................................................... 19
Presságio ......................................................................................................................... 20
Para teu Álbum ............................................................................................................... 21
Outono ............................................................................................................................ 22
Poeminha Evocativo ....................................................................................................... 23
Ilusões ............................................................................................................................. 24
Por Causa de um Tango Triste ........................................................................................ 25
Moeda de Ouro .............................................................................................................. 26
Chuva de Pedra (1) ......................................................................................................... 27
Diagnóstico ..................................................................................................................... 28
A Visita ............................................................................................................................ 29
Felicidade ........................................................................................................................ 30
113
Manhã ............................................................................................................................. 31
Perfil de um Gato ............................................................................................................ 32
Luar ................................................................................................................................. 33
Quadro ............................................................................................................................ 34
Noite de São João ........................................................................................................... 35
São Pedro ........................................................................................................................ 36
Balada da Saudade ......................................................................................................... 37
Veneração ....................................................................................................................... 38
Santo Antônio ................................................................................................................. 39
Confidência ..................................................................................................................... 40
Entre Você e Deus .......................................................................................................... 41
Presente de Rajá ............................................................................................................. 42
Garimpeiro de Sol ........................................................................................................... 43
Inconsciência .................................................................................................................. 44
Infantilidade.................................................................................................................... 45
Baile à Fantasia ............................................................................................................... 46
Aquecendo Meu Amor ................................................................................................... 47
Chuva de Pedra (2) ......................................................................................................... 48
Poemeto de um Dia de Chuva ........................................................................................ 49
Psicologia ........................................................................................................................ 50
Tragédia .......................................................................................................................... 51
Tarde Molhada ............................................................................................................... 52
Diurno ............................................................................................................................. 53
Bando de Periquitos ....................................................................................................... 54
Amável Coincidência....................................................................................................... 55
Arrufos ............................................................................................................................ 56
Noturno nº 2 ................................................................................................................... 57
Civilisação ....................................................................................................................... 58
Pingue-Pongue................................................................................................................ 59
Primavera........................................................................................................................ 60
Outono ............................................................................................................................ 61
Futuro Passado ............................................................................................................... 62
114
Teia de Aranha ................................................................................................................ 63
Poema das Bandeiras ..................................................................................................... 64
Cemitério das Saudades ................................................................................................. 65
Retorno ........................................................................................................................... 66
Crônicas de Fausto Prado Olyntho ................................................................................. 67
Uma carta intima... ......................................................................................................... 68
Do meu Diário ................................................................................................................. 69
Boemia ............................................................................................................................ 70
O Último Don Juan .......................................................................................................... 71
Noturno que eu vivi ........................................................................................................ 72
Como Ali-Babá ................................................................................................................ 73
Filme ............................................................................................................................... 74
Relógio ............................................................................................................................ 75
Loucura Sentimental....................................................................................................... 76
Almoço de Poetas ........................................................................................................... 78
Chegada .......................................................................................................................... 83
Descendo a Ladeira......................................................................................................... 84
Sem título........................................................................................................................ 85
Manhã Azulíssima ........................................................................................................... 86
A Cronicazinha que trouxe uma grande Verdade .......................................................... 87
Fisionomia da Cidade...................................................................................................... 88
Cinema ............................................................................................................................ 90
Poesias de Waldemar Prado Olyntho ............................................................................. 91
Soneto Banal ................................................................................................................... 92
Num Álbum ..................................................................................................................... 93
Bonecas Vivas ................................................................................................................. 94
Modo de Dizer ................................................................................................................ 95
Do Meu Quarto ............................................................................................................... 96
Finados............................................................................................................................ 97
I ....................................................................................................................................... 98
IV ..................................................................................................................................... 99
APÊNDICES .................................................................................................................... 100
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CRONOLOGIA DE TARQUÍNIO COBRA OLYNTHO Notas de Tarquínio José Barboza de
Oliveira .......................................................................................................................... 101
Obituário de Tarquínio Cobra Olyntho Resenha 25/05/1933 ...................................... 103
Ele Abominaria essa filosofia que pôs o lucro no lugar do homem ............................. 105
Correspondência de Fausto .......................................................................................... 110
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