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Jogadores Rhinos – 1
LOGAN

Duda Costa
3

Todos os direitos reservados.


Nenhuma parte dessa obra pode ser reproduzida ou
transmitida por qualquer forma, meio eletrônico ou mecânico
sem a permissão da autora.

A violação dos direitos autorais é crime.


Obra de ficção.

Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais


é mera coincidência.
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Sinopse
Logan Ken é um dos garotos que compõe o popular e famoso
time de futebol da Woodland High School. Sempre tranquilo e
meticuloso, Logan não é ligado à popularidade ou rivalidade.
Em campo, ele se torna 100% intenso, mas no dia-a-dia é um
cara sossegado que evita problemas. Mas sua paz vai ficar
alterada depois de uma festa de pré-início das aulas. Após
conhecer Brianna, tudo muda. E Logan vai precisar escolher se
vai ou não deixar seu lado mais intenso aparecer.
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Capítulos
1 ............................................................................................................ 6
2 .......................................................................................................... 22
3 .......................................................................................................... 35

4 .......................................................................................................... 49
5 .......................................................................................................... 70
6 .......................................................................................................... 82

7 .......................................................................................................... 98
8 ........................................................................................................ 114
9 ........................................................................................................ 134
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Tadeo esticou o braço na frente do meu rosto e apertou a


buzina outra vez.

- Cara, não faz isso! – empurrei-o e ele riu.


- É, palhaço! – Aaron bateu na cabeça dele. – Os irmãos
dele devem estar dormindo.
- Quem sabe assim ele aprende a aparecer na hora.
- Ei babacas! – L.J. surgiu da porta de tinta gasta da sua
casa e corria para meu conversível. Ele pulou no assento
livre de trás. – Os gêmeos estão dormindo, falei para não
buzinar.
- Foi o Fuentes. – Aaron contou enquanto eu guiava o
carro para longe dali.
- Você é um boca aberta, hermano. – Tadeo Fuentes bateu
nele.
- Eu nunca ia pensar que foi o Logan. – L.J socou Tadeo
que deu risada e devolveu.
- Foi mal! Para de mal humor. Temos uma festa para ir.
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Tadeo ergueu as mãos, animado e Aaron, depois de


conectar o celular no rádio do carro, aumentou o volume.
Colocando um hip-hop bem alto.

- Vamos ser multados. – abaixei um pouco.


- Ah dá um tempo! – Tadeo se inclinou e subiu mais ainda
o volume.

Era inútil discutir com ele. Ainda mais quando ele estava
empolgado com algo. Minha mãe dizia que era impossível
para ele se conter, que todo latino tinha o sangue
efervescente. Talvez fosse verdade, porque meu sangue
asiático curtia mais meditação silenciosa do que essa folia
toda.

- Onde é mesmo a festa? – Aaron berrou acima da voz do


T-Pain.
- Segue a avenida principal e qualquer comando meu. –
Tadeo explicou.
- E o Toby? – L.J perguntou.
- Trabalhando. – respondemos em uníssono.
- Justo ele que era o que mais precisava de diversão. –
Tadeo lamentou.
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- Você poderia trocar de papel com ele, pelo menos uma


vez. Nos daria um pouco de paz. – Aaron provocou.
- Se não fosse por mim, você seria um B.V até hoje, Aaron.

Nós gritamos e começamos a provocar Aaron ainda mais


enquanto eu seguia as ruas através do nosso bairro na
Filadélfia, indo na direção do endereço dado por L.J.

Era nosso penúltimo fim de semana de férias. O 2° ano iria


começar logo, e queríamos um encerramento digno. Ok.
Estávamos incompletos sem Toby, nosso Quarterback,
mas era o que L.J. conseguiu para a gente. Uma festa
universitária em um bairro distante de Woodland. ‘Com
gatas maduras’ como ele mesmo disse. Eu gostava de estar
com os caras sempre. Mas eles tendiam a perder o controle
quando não estávamos em temporada, e pior ainda,
quando Toby não estava presente. Especialmente L.J e
Fuentes. Eu estava como motorista da vez e esperava que
nada ficasse agitado demais. Minha mãe não pegava no
meu pé para voltar cedo, mas eu sabia que ela ficava
preocupada quando eu não ia para algum lugar conhecido
como o Babs, a lanchonete onde a gente sempre estava.
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L.J era sem dúvida o mais popular de nós 5. Levava a


gente para festas insanas e até com gente famosa, muito
disso era devido ao irmão dele ser um renomado jogador
da NFL. Isso abria portas. Então eu não fiquei
impressionado quando chegamos a uma mansão branca
gigantesca que tocava Boom! Shake the room num volume
que daria inveja ao sistema de som de qualquer cantor.

Aaron subiu a escadaria de marfim indo atrás de onde


alguns caras estariam jogando videogame, era como se ele
farejasse o cheiro do Xbox. L.J seguiu na direção da pista
de dança, não para se movimentar, mas atrás de garotas,
claro. Fuentes e eu fomos trocar ideias com uns jogadores
da UPenn, eles usavam casacos da universidade e eram do
time de lacrosse. Fuentes era mais desinibido do que eu,
então acabei ficando mais calado e ouvindo o que eles
tinham para contar sobre a vida na faculdade. Eu ainda
não pensava muito no futuro, só sabia que queria jogar
futebol pelo resto dos meus dias, independente de qual
universidade fosse. Talvez eu fosse para a Universidade
de Ohio, onde meu pai estudou, e seguir a tradição da
família. Minha mãe, Sami, falava sobre eu me formar lá.
Era um bom lugar, perto de casa, o campus era grande e o
time deles era renomado.
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Um tumulto de risadas despontou entre os caras, Tadeo


tinha falado algo e eles morriam de rir, forcei um riso
fingindo ter ouvido e encarei o chão. Estava deslocado, era
melhor dar uma volta e deixar o Fuentes brilhar entre eles.

- Licença, eu vou rodar por aí. – gesticulei.


- Não precisa ser tão formal, Japa. – um deles socou meu
braço de leve.
- A gente se vê. – meu amigo gesticulou um sinal de
continência larga com o braço que tinha a pulseira do
Eagles que nós 5 usávamos.
- Não fique loco. – apontei para ele, falando para pegar
leve na bebida.
- Não me conhece?
- É justamente por isso. – dei risada e sai, antes pegando
uma latinha de Coca na mesa da cozinha.

A festa continuava com gente chegando, dançando,


gritando, bebendo, comendo, se agarrando e na piscina a
diversão também rolava. Eu tinha sido criado para ser
SEMPRE educado, então quando terminei minha bebida e
não encontrei lixo por perto fiquei incomodado. Ter copos
vermelhos, papéis, garrafas e latas espalhado pelo jardim
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não me deixavam a vontade em contribuir com a poluição.


Por conta da minha cultura, tirava os sapatos para entrar
em casa, em hipótese alguma ia jogar lixo no chão de
outra pessoa.

Andei para mais fundo do jardim, passei por um


playground onde alguns adolescentes riam demais e
outros se beijavam mais ou fundo. Dei a volta saindo para
perto de outra área onde alguns conversavam numa casa
da piscina e finalmente achei um lixo.

- Não, Bri! Nós não vamos embora! – estava abaixado, com


a mão perto do lixo quando escutei a ordem saída de uma
bonita voz.
- Já estou cansada desse lugar.
- Nós chegamos tem 20 minutos.
- Longos 20 minutos.

Levantei e fiquei alguns passos distantes da discussão


feminina quase acalorada.

- Você precisa se divertir. – a quase-loira de olhos claros,


que não consegui identificar as cores, saltitou puxando o
braço da com-certeza-loira, de costas para mim. – Você
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ainda não bebeu, não dançou, não paquerou ninguém e


nem deu risada. – a morena gargalhou. – Esse sorriso está
me dando medo. Vou buscar uma cerveja para você. Me
espera aqui. – virou, e depois olhou de volta berrando. –
Desliga esse celular, não atenda!

A garota loira fez um som alto de resmungo ao tirar o


celular do bolso do shorts rosa. Ela xingou ao ver algo no
aparelho e colocou-o na bolsa preta pequena atravessada
no corpo.

- Tá olhando o que?
- Desculpa. – me assustei. – Eu não quis te...
- Droga! – a unha pink dela destacava na mão branca
conforme ela abria a bolsa e retirava o celular que tocava
alto em alguma ligação, a loira desligou o aparelho,
enfiou-o na bolsa. – Desculpa. – jogou o cabelo longo para
trás e ... era cheiro de jujuba? – Não é nada com você, eu
só...
- Não queria estar nessa festa.

Precisei piscar e focar melhor minha visão. Caramba. Que


linda.
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- É. – soltou os ombros, parecendo cansada.


- Por que você veio, então? – coloquei as mãos nos bolsos
do meu jeans.
- Já tentou falar não para a Frances?
- Eu não a conheço.
- Sorte a sua. – ela franziu o nariz arrebitado num quase
sorriso, e eu retribuí. – Talvez depois que eu siga o
cronograma que ela listou como diversão eu me anime.
Começando por beber.
- Sorte a sua.
- Você não bebe?

Nenhum de nós deveria beber, na realidade. Pelo o que eu


imaginava, ela não tinha mais do que 17, e eu ainda estava
na casa dos 16. Pela lei, mais 5 anos sem álcool. Não que
eu fosse um grande fã, mas eu bebia escondido como
qualquer adolescente da minha idade.

- Motorista da vez hoje.


- Sinto muito. – fez aquilo com o nariz de novo. –
Aguentar a Ke$ha cantando sem álcool não vai ser fácil. –
tocava Timber bem alto.
- Para uma festa universitária eu esperava uma playlist
mais madura. E com certeza mais cestos de lixos.
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- Cestos?
- Tive que andar um milhão de metros para achar esse
cesto. – apontei o local onde dispensei minha lata de Coca.
- Ah... – ela olhou o chão em volta, repleto de lixo. – Por
que você simplesmente não ...? – abriu as mãos
gesticulando o chão.
- Pareço um cara sujo para você?
- Não. – riu. – Você é até que é cheiro... – ela ficou
vermelha no mesmo segundo. – Oh! Eu falei isso?
- Falou. – dei risada. – Mas posso fingir que não ouvi.
- Obrigada.
- Porque além de limpo e cheiroso eu sou cavalheiro.
- E modesto. – ela riu.
- Bri. – a outra garota voltou entregando um copo para
‘Bri?’. – Oi. – sorriu para mim. – Eu sou Frances, você está
tentando paquerar minha prima?
- Frances!
- Talvez esteja. – sorri e a loira enrubesceu de novo. – Sou
Logan.
- Oi Logan. Você beija bem? Brianna precisa de um bom
beijo. – aquilo me fez gargalhar.
- Sai daqui! – Brianna empurrou a prima que estava
notavelmente alterada. – Sai! Logan e eu vamos dar uma
volta. Tchau Frances.
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- 2 itens riscadooooos. – Frances saiu dançando e sumiu de


nossas vistas.
- Desculpa por isso. – Brianna virou o conteúdo do copo,
segurou um arroto e jogou o item vermelho no lixo. –
Vamos andar?
- Ah...
- É isso ou ser mais constrangida pela Frances. – os olhos
dela ficaram um pouco avermelhados pelo álcool. – Mas
vamos a lugares públicos! – esticou o dedo.
- Tem um playground ali.

Que tipo de cérebro eu tinha?

Uma gata me diz ‘Vamos dar uma volta’ e eu falo ‘Tem


um playground ali’?!

L.J me daria um soco se me visse. Eu não queria assustá-la


com um ‘O que acha de um beijo?’.

- Playground?
- Ah. – engoli em seco e gesticulei, mordendo o lábio. –
Não eu ... – ri nervoso.
- Eu amo balanços. – Brianna sorriu de um jeito muito
encantador.
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Nós caminhamos até o pequeno playground e Brianna foi


em direção dos balanços. Ela passou a mão sobre as
correntes e sorriu com alguma lembrança própria.

- Posso empurrar você.


- O que?!
- Não! Não. Não te empurrar. Balançar você.

Ela gargalhou do meu nervosismo. Eu não era o maior


galanteador. Estava tentando agradá-la porque era nítido
meu interesse e soava como um assassino do parquinho.

Péssima comparação Logan. Péssima.

- Me balance, Logan. – sentou-se no banco e fechou os


olhos.

Levei um segundo para parar de observa-la e fazer o que


tinha dito.

Brianna tinha cabelos loiros na altura da cintura, presos no


alto da cabeça por um arco. A blusa branca combinava
com os tênis. Ela tinha traços lindos e pelo o que pude
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notar, músculos definidos. Um atleta sempre repara nisso.


Bom ... um cara sempre repara nas garotas, a verdade era
essa.

- Não é triste que quando você é criança a empolgação de


se balançar é muito grande, mas depois que você cresce
fica sem graça? – o cabelo loiro dela ia e voltava, deixando
aquele perfume doce indo e vindo em minha direção.
- Está reclamando dizendo que está sem graça?
- Não. – ouvi-a rir. – Só estou sendo boba e reflexiva. Deve
ser a cerveja.
- Estou brincando. Pode ser boba e reflexiva se quiser.
Concordo com você. – o impulso perdeu força e ela
começou a bater os tênis no chão, parando o balanço. Fui
para frente dela e me escorei no ferro, cruzando os braços.
– Quando a gente é menor qualquer coisa parece gigante e
empolgante.
- Então viramos adolescente e quase nada tem graça.
- Acho que é mais positivo pensar que outras coisas
passam a ser interessantes. – dei um passo e fiquei
encarando-a. Brianna se levantou e ficou com a cabeça
erguida perto de mim. Minha pulsação mudou e minhas
mãos coçaram para tocar nela.
- Tipo o que? – sorriu, flertando comigo.
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Acariciei a bochecha dela, macia como eu imaginei que


seria. Passei a mão em seu cabelo. Brianna apoiou as mãos
no meu peito, se esticou e ...

- Dançar.
- Quê?
- Disse que quero dançar. Você dança comigo?
- O que você acha?

Soltei meus ombros rindo e encostei a cabeça na dela.

- O que estamos esperando?

No caminho para a parte da casa onde estava a pista de


dança mais agitada, Brianna tomou mais duas cervejas e
estava rindo a toa. Não que eu me importasse, mas parecia
que ela não costumava fazer muito isso.

As luzes estavam quase nulas. Só viam-se neons


vermelhos e azuis. A pista estava lotada, as pessoas se
apertando, rindo e bebendo. Eu não curtia muito, mas
uma coisa eu tinha aprendido com L.J : ‘Se a menina
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queria dançar, você virava um bailarino no mesmo


segundo’. Era uma forma de estar perto dela e diverti-la.

Brianna virou-se para mim sorrindo e balançou os braços


enquanto acabava Deja Vu da Beyoncé. Depois o toque da
música seguinte fez nós dois fazermos uma careta.

- Acho que quando essa música foi lançada a gente nem


era nascido. – falei perto do ouvido dela e comecei a
dançar.
- Agora tudo é vintage! – berrou e colocou os braços ao
redor do meu pescoço enquanto Nelly e Kelly Rowland
cantavam Dilemma.

As pessoas nos esbarravam, cantavam e dançavam de


todo jeito possível. Mas eu não me ative a isso. Brianna era
a garota mais bonita em que eu já havia posto os olhos, e
estava comigo. Ela sorriu, eu sorri. Ela fez menção de
girar, eu a girei. Ela me encarou, eu me aproximei mais.

- No matter what I do. All I think about is you. – Brianna


cantarolou sorrindo e eu investi até que ela permitisse que
juntássemos nossos lábios. Foi a melhor decisão.
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Nós sorrimos, buscamos por ar e a beijei novamente,


porque eu não me satisfaria só com uma prova dela.
Brianna era incrível. Ela se virou e eu a abracei,
continuamos dançando enquanto inspirei seu cabelo com
perfume doce. Então ela parou de se mexer e senti sua
postura corporal travar. Ela se arrepiou e segurou a
respiração. Agarrou meus braços ao redor de sua cintura.

- Tudo bem?
- Preciso ir. – as mãos dela afastaram as minhas.
- O que?

Fiquei confuso conforme o toque dela se perdia das


minhas mãos. Não, não volta aqui.

Outra música animou as pessoas fazendo os berros


tirarem minha atenção. Brianna estava caminhando para
longe de mim.

- Ei! Ei, Brianna, espera. – o volume alto me fazia querer


berrar que abaixassem aquela coisa, para eu poder
conversar direito com ela.
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- Tenho que ir. – a escutei e ela cruzou os braços,


impedindo-me de segurá-la, a não ser que eu a puxasse
pelo pescoço, o que eu não faria.
- Brianna.

Virou-se para mim, agarrou minha camisa listrada com


força me dando um beijo roubado intenso, empurrou de
volta e com olhos arregalados falou:

- Prazer te conhecer Logan.

Não consegui processar uma resposta enquanto ela saiu


correndo e eu a perdi de vista.

Fiquei 2 horas a procurando pela festa.

E me dei conta de um detalhe: não peguei nem o número


dela.
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9 dias depois

- Você disse que ia fazer Espanhol II, Tadeo. – Toby olhava


nossos novos horários para poder saber quais os melhores
dias para os treinos.
- Eu não preciso fazer isso, sou fluente.
- Mas precisa ter no seu currículo, cabeção. – falei e
cutuquei Tadeo que comia pizza em nosso almoço do
primeiro dia.
- É só olharem meu documento e lerem ‘Fuentes’, meu
sobrenome é latino. Isso já diz tudo.
- Gomez também é latino, mas a Selena não fala espanhol
fluente. – Toby franziu o rosto e murmurou baixo
enquanto olhava o meu horário.
- Que Selena? – Aaaron parou de tomar seu café puro e
amargo.
- A da Disney? – L.J virou o boné para trás e ficou
encarando Toby com a boca aberta, como todos nós.
- Tecnicamente ela não é mais da Disney. – Toby ainda
não tinha notado que estávamos o olhando como se uma
orelha tivesse brotado no meio da testa dele.
23

- Por que você sabe dessas porcarias? – Tadeo falou de


boca cheia.
- Ah. – finalmente ele ergueu os olhos e ficou
desconcertado. – Eu tenho uma irmã de 15 anos! Acabo
aprendendo coisas desnecessárias, falou?! – Toby
exclamou e nós rimos.
- 16. – completei.

Se Harlow o ouvisse dizendo que ela tinha 15, o esfolaria


vivo. Toby era meses mais velho que ela apenas.

- Hum. Pequena Harlow já fez 16? – Aaron sorriu


provocando nosso amigo. Todos nós sabíamos da
proteção louca dele com Harlow e sempre usávamos isso
contra Toby.
- Fica longe da minha irmã.
- Ou ele vai convocar o fandom da Selena Gomez para
atacar você, Aaron. – L.J zoou e nós gargalhamos.
- Vocês são idiotas. – Toby resmungou, mas riu entrando
na brincadeira. – Eu já consultei o horário dos outros
jogadores, acho que podemos deixar os treinos para
segunda, quarta e quinta.
- Esse ano a maioria dos jogos vai ser na sexta, de novo? –
Aaron questionou.
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- Sim. – respondi, eu tinha visto a lista mais cedo com o


técnico Sanderson.
- Quando é o primeiro?
- Daqui 2 semanas, dia 16. Contra os Gladiators.
- Uou. Já começa assim? – L.J se esticou roubando uma das
minhas batatas.

Os Gladiators eram do time da nossa escola mais rival do


estado. Venceram o campeonato no ano passado, e viriam
com a arrogância de sempre para o campo.

- Então essa e a outra semana vamos treinar todos os dias.


- E o carrasco volta. – Fuentes lamentou.
- Só por esse comentário vai dar mais 4 voltas no campo. –
Toby ameaçou.
- Pega leve, mano. – Aaron interferiu sem notar que eles
estavam brincando.
- Achei que você tinha que trabalhar. – falei para Toby.
- Eu tenho. Vou depois.
- Cara, que vida. – L.J falou para Toby. – Desse jeito você
vai ganhar o prêmio de adolescente exemplar do ano.
- Só quero ganhar a bolsa para a faculdade, isso já me
satisfaz.
- Que prêmio é esse?
25

- É zuera Aaron! – Tadeo bateu na cabeça dele. – Mano, às


vezes você é lerdo demais.
- Só fiz uma pergunta! E não bata na minha cabeça.
- Enxaqueca de novo? – Toby questionou e Aaron
assentiu.
- Deixa o cara, Fuentes. – interferi.
- Eu não sou lento, você que tem que melhorar sua
velocidade no campo.
- Droga, eu sei. – Tadeo anuiu e nós começamos a falar
dos erros em nosso desempenho na temporada anterior.
Erros que não iríamos repetir.

Dias depois, estávamos comendo no Babs, antes de Toby


ter que ir para a loja onde trabalhava quando o sino da
lanchonete tilintou. Eu estava de costas e ouvi L.J falar,
sorrindo:

- Opa. Alerta de gatinhas.

Nós 4 viramos para olhar e então era o cabelo dela. Virei


meu corpo dolorido pelo treino com mais velocidade.

- É a ... – a garota jogou o cabelo para trás, estava mais


curto e o corpo dela era diferente. Não era Brianna.
26

- É quem? Você conhece? – Aaron perguntou.


- Não. – voltei a ficar de costas. – Achei que era uma
conhecida, mas não.
- Conhecida, hein?
- Mano, você tem muito hormônio. Deveria se tratar. –
falei para L.J.
- Qual é?! Eu sou jovem e cheio de amor. Não posso privar
as garotas de mim, isso seria trágico para elas.
- Você é um babaca. – Toby xingou, mas estava rindo.
- E você é um frustrado celibatário.
- Não sou celibatário. Só não tenho tempo para namorar.
Vou deixar isso para a faculdade. O futebol é minha
garota.
- Um bando de caras suados se agarrando atrás de uma
bola. – Fuentes continuava olhando as meninas. – Bela
garota.
- Você também não namora, Fuentes. – Aaron, estava mais
interessado no jogo do celular do que nas meninas.
- Mas isso vai mudar agora! – o moreno se levantou e L.J
foi atrás dele. Ambos caminhando com gingado e
visivelmente usando o casaco do time para impressionar
as meninas. Funcionou, elas estavam sorrindo e mexendo
nos cabelos.
27

- Não vai com eles? – Toby encerrou seu hambúrguer e me


perguntou.
- Nah. – balancei a cabeça e comecei a mexer no meu
celular.

Entrando no Instagram e buscando o nome Brianna pela


milésima vez nessas duas semanas. Não consegui acha-la.
Se ao menos eu soubesse o sobrenome dela. Procurei até
por Frances, mas também não deu resultado. Bom, deu,
mas não era a prima da garota que eu havia beijado.

Brianna não estudava na Woodland.

Não morava no meu bairro.

E, pelo visto, estava bem escondida nas redes sociais. Se é


que tinha.

Era como se ela fosse um sonho que eu tive na noite da


festa. Mas era real, o que eu senti quando a beijei não
podia ser fantasia.

- Deu minha hora. Digam tchau aos Don Juans por mim. –
Toby deixou uma nota em cima da mesa, deu soquinhos
28

em punhos conosco e saiu até seu velho Camry


estacionado ao lado do meu carro.
- NÃO! – Aaron berrou.
- O que foi?
- Meu avatar foi assassinado. – bloqueou a tela do celular e
tomou do milk-shake.
- Você me assustou idiota.
- Eu sei. – sorriu. – Você tem que jogar esse novo game
online comigo, olha aqui. – pegou o celular de volta e
deixou sua nerdice falar.

Aaron era de uma espécie rara. Atleta e geek.

Nos treinos, nós trocávamos as posições. Porque era


padrão. Mas em campo, cada um se agarrava ao seu
talento e dávamos nosso máximo. E eu amava jogar como
o Fullback dos Rhinos. Ser como o pilar para Toby e Tadeo
fazerem seu trabalho me fazia sentir como um dos
encaixes principais de uma gigantesca máquina.

Estávamos vencendo dos Gladiators por 27 a 19 no final


do 2° tempo. Isso me fazia sorrir atrás do capacete. A cada
ponto nosso, o Cornerback 23 deles ficava mais
29

perturbado. Era engraçado ver os caras perderem a linha


em campo, isso nunca acontecia comigo. Eu sabia dividir
as coisas.

Numa jogada ensaiada, Aaaron jogou a bola em minha


direção, corri para o lado direito do campo adversário
com a bola, pronto para mais um touchdown quando vi
de relance cabelos loiros brilhantes. Durou um segundo
para me virar instintivamente para o lado e ver Brianna
agitando pompons vermelhos acima da cabeça. Em
seguida, fui derrubado com violência.

- Você tá legal? – um dos jogadores do time adversário me


ajudou a levantar enquanto os caras do meu time se
aproximavam.
- Sim, sim. – assenti e levantei, não foi um touchdown, ao
menos alcancei a primeira descida.
- Vamos lá. Vamos lá! – Toby bateu nas minhas costas se
posicionando para outro lance inicial antes do fim do
intervalo.

Olhei de novo para a área lateral das líderes de torcida e lá


estava Brianna. Animando a torcida adversária.
30

O intervalo foi apitado 3 minutos depois e nós tivemos


que descer para o vestiário. A equipe defensiva iria entrar
agora, e nós, da linha ofensiva tínhamos que
obrigatoriamente ficar no banco assistindo. Não escutei
uma palavra do que Sanderson ou Toby falaram no
vestiário. Só conseguia pensar que a garota que eu beijei
semanas atrás e não conseguia esquecer era da escola
adversária. E em como ela estava bonita sorrindo e
dançando.

No ponto em que nós ficamos no campo, não dava para


ver a torcida adversária. Então foi só no final do jogo (que
perdemos por uma diferença estúpida de 4 pontos) que eu
consegui me erguer do assento e finalmente avistá-la de
novo.

Ela estava conversando animada com outras garotas e eu


notei Frances de costas mais ao fundo.

- Ei.

Brianna virou, deixando de falar com a garota negra


também líder de torcida que saiu com outro cara.
31

- Logan?! – os olhos dela pareciam dois faróis verdes


gigantescos, ela encarou meu peito. – Você é...
- Um Rhino, sim. – sorri. – E você é uma Gladiator. Quem
diria, não? Meio Romeu e Julieta, talvez?

Ela não disse nada. Ficou me olhando e quase sorriu.

Sermos de times adversários era tão ruim assim?

- Te procurei pela festa inteira naquela noite.


- Eu te falei que ia embora. – franziu o rosto.
- Sim, mas...

Brianna sumiu da minha vista porque uma cabeça


castanha entrou em nosso meio. Um cara quase da minha
altura praticamente a agarrou, dando um beijo em Brianna
que o corpo dela até foi para trás. Eu me assustei e dei um
passo para livrá-la do ataque quando vi as mãos dela
segurarem afetivamente o cara que usava a camisa 23 do
Gladiators. O beijo acabou e eu fiquei parado ali, sem
saber o que fazer. Como um completo idiota encarando o
beijo alheio.
32

- Scott. – Brianna estava vermelha e olhando para o chão


enquanto o 23 colocava possessivamente o braço ao redor
do ombro dela.
- Estou comemorando a vitória, gatinha. – apertou-a mais
perto. Aquilo fez meu estômago tremer. Os olhos dele
eram muito pretos. – Está procurando alguma coisa aqui,
Ken?
- Eu... – olhei para Brianna abraçada ao cara e fiquei
desapontado. Ela tinha namorado?
- Ela já tem dono.

Dono?

Brianna franziu um pouco rosto, mas logo desfez a careta.

- Só vim falar com as animadoras de torcida do outro time.


- Oi! – Frances apareceu entre nós.
- Não vai ganhar nada com a minha garota. Mas acho que
você já sabe disso. Está acostumado a perder não é? – Scott
deu uma risada.
- Scott. – Brianna o repreendeu.
- Calma. Só um pouco de espírito esportivo entre
adversários, não é? – socou meu braço e eu forcei um
sorriso. – Veio tentar a sorte com uma das nossas
33

meninas? Pega o número de uma delas. Qualquer uma,


menos o da Brianna.
- Eu já entendi isso. – enfatizei.
- Pega o meu! – Frances sugeriu e deu um passo perto
demais de mim.
- Acho que se o Logan quiser seu número, ele mesmo
pede, Frances.

O que?
Ela estava com ciúmes de mim agora?

- Logan? Você já o conhece? – Scott a encarou e notei que a


mão livre de Brianna agarrou a própria saia em
nervosismo.
- Ele veio se apresentar.
- É. – confirmei enquanto ainda observava o gesto
estranho dela.
- Seu celular, Logan. – Frances esfregou a unha no meu
braço e entreguei o aparelho a ela.

Brianna desviou o olhar e sorriu para Scott, que voltou a


beijá-la. Dessa vez eu que desviei minha visão.

- Me chama, Japa. – Frances piscou e saiu andando.


34

- Vamos sair daqui. – o braço de Scott a puxou de um jeito


não muito gentil, eles saíram andando na outra direção,
não sem antes, Brianna olhar para trás diretamente na
minha direção.

Meus olhos verdes. Com outro cara.


35

Nós estávamos no Babs resmungando e relembrando o


que erramos para chegarmos à derrota naquela noite. Na
realidade, os garotos falavam, eu só conseguia sentir uma
coceira interna estranha ao recordar a boca de Scott
grudando na de Brianna.

Ela tinha namorado.

‘Ela já tem dono.’

Ela era o que? Um cão?

Babaca arrogante.

Maldita mentirosa.

- Logan! – L.J me cutucou.


- O que?
- Perguntei se você não acha que o Stuart ainda não está
pronto para sair dos reservas. – Aaron falou.
- Ele perguntou 3x. O que você tem?
36

- Só estou irritado por termos começado a temporada


perdendo. E sim, acho que ele ainda é um frango que mija
quando vê o adversário vindo na direção dele. –
abocanhei meu hambúrguer e tomei do refrigerante.
- Logan disse ‘mija’. – Aaron começou a rir.
- Quantos anos você tem Aaron? 10?
- Ele nunca xinga, Fuentes. Só achei engraçado.

Eu nunca xingava mesmo. Meu incômodo era maior do


que eu pensava. Nós íamos continuar falando alguma
coisa, mas Harlow parada na frente da mesa encerrou
qualquer assunto.

A irmã de Toby era parecida com ele: olhos num tom


misto de verde-escuro e marrom, cabelo castanho-
dourado e a pele branca. Toby ficava com cara de menino,
mas Harlow ficava estonteante. A garota ficava bonita
usando um velho moletom de banda largo.

- Oi. – acenou cumprimentando, retribuímos. – Sinto


muito pelo resultado.
- Achei que você ia ao jogo. – Toby ofereceu os nachos
para ela, que aceitou.
37

- Flinn e eu íamos, mas ele teve febre. – Flinn era o irmão


mais novo deles de 8 anos.
- Por que não me avisou?
- Porque eu cuidei dele. Sabe que posso dar conta. Cuido
do filho dos outros, não vou cuidar do meu irmão?
- Quem está com ele agora?
- O papai chegou, ele já estava bem quando eu saí. Enfim.
– colocou as mãos nos bolsos do jeans. – Só vim dar um
‘Oi’. Até.
- Falou. – Fuentes acenou com dois dedos, como
costumava fazer.
- Vai onde? – Toby chamou-a de volta.
- Cinema.
- Com quem? – perguntei e ela me encarou com ‘Sério?’.

Harlow e eu éramos quase como primos. Eu estava


próximo à família deles desde que usávamos fraldas.

- Minha nova amiga. Não que seja da conta de algum de


vocês.
- Gosto dessa palavra: Nova amiga. – L.J sorriu e abriu os
braços no banco.
-São duas palavras.
38

- Dá um tempo, Aaron. – L.J deu um tapa na cabeça do


loiro que ria.

Harlow bateu as palmas na mesa, chamando nossa


atenção e esticou um dedo para L.J:

- Mantenha suas mãos e olhos longes da Lexie.


- Ou o que? – meu amigo se inclinou perto dela e Toby o
empurrou de volta no lugar.
- Lexie? – perguntei. – É a menina asiática nova?

Eu fazia parte do clube oriental da escola. Era uma chatice.


Mas minha avó achava importante valorizar nossa cultura
original, mesmo que eu tivesse nascido em solo
americano. Então, para agradar eu me reunia uma vez por
semana no intervalo com a galera do oriente. Na primeira
semana, demos boas-vindas à Alexandra Kato, vinda do
Arizona há pouco tempo. Ela tinha descendência
japonesa, assim como eu.

- Eu curto olhos rasgadinhos. – L.J provocou ainda mais


Harlow.
- Que tal eu rasgar os seus com essa faca?
- Chega. – Toby comentou.
39

- Calma Pequena Harlow. – Tadeo falou entre risadas.


- Seus amigos são tão babacas, Toby.
- Ei! – ergui minhas mãos em protesto.
- Menos o Logan. – ela sorriu e pegou meu refrigerante
para beber.
- Por que você gosta do Logan? – Toby perguntou meio
enciumado, ele não gostava que a Harlow me tratasse de
modo fraternal, ficava com inveja. Eu usava isso.
- Dou chocolates para ela. Você só dá bronca. – contei e
Harlow riu, devolvendo minha bebida.
- Chocolate ameniza TPM? – Tadeo questionou e a garota
fechou a cara novamente.
- Cállate, Fuentes! – Harlow esbravejou e saiu andando.
- Harlow, espera.

Toby foi atrás dela. Eu sabia que ele iria bancar o


responsável protetor e perguntar se ela tinha dinheiro
suficiente para gastar no cinema, além de fazer perguntas
como ‘Que horas volta?’ ‘O que você vai assistir?’. Coisas
que só um pai perguntaria. Ou mãe. Mas a deles, os
tinham abandonado há alguns anos.

- Por que ela é sempre tão irritada? – L.J perguntou


enquanto olhava o cardápio do Babs.
40

Não sei porque ele olhava, sempre pedia a mesma


sobremesa. Banana Split. O que eu achava idiota. Uma
banana com sorvete. Qual a graça disso?

- Porque o Toby a ensina a ficar longe de caras como nós. –


Fuentes respondeu.
- Como vocês dois. – Aaron apontou para o negro e o
latino. – Não me incluam nessa categoria.
- Somos atletas, estamos todos nessa categoria. – L.J
retrucou.
- Não estamos não. – devolvi.
- Por falar em garotas... – L.J mudou de assunto.
- Quem falou de garotas?
- Estamos sempre falando de garotas. Não tira meu foco,
Aaron. Quem era a loira com que você estava falando no
fim do jogo, Ken?

Senti um frio me assustar de repente.

- Ninguém.
- Ela me parecia alguém. – Fuentes sorriu.
- Alguém de outro time. – Aaron completou e entrou com
eles naquele complô estranho.
41

- Bonita.
- Só fui trocar ideia. – balancei a cabeça e mexi no meu
topete preto, uma parte estava caindo na testa. – Ela tem
namorado.

Poderia contar para eles que Brianna era uma garota com
quem eu tinha ficado na festa? Sim. L.J estava sempre se
gabando das garotas com quem saía, e Fuentes tinha
encontros quase todos os finais de semana. Mas eu não era
como eles. Não via necessidade em contar detalhes dos
meus lances. E Brianna era ... diferente. Falar de uma
garota que você beijou e pagou um cinema, ok. Mas
quando a garota mexe com a sua cabeça, nem a história
com os caras você quer dividir. E pensando bem, contar
que Brianna me usou como 2° opção e traiu o namorado
comigo não me parecia ser a história mais gabável do
mundo.

- Que chato. – Aaron resumiu o que eu sentia em duas


palavras.
- Ah, a garota da minha aula de Física tem uma amiga
loira. Olha aqui no Instagram.
42

Deixei L.J me convencer a seguir a menina. Para encerrar


perguntas. A única loira que me interessava estava
estudando em outro lugar. Ganhando beijos de outro cara.

Levei 5 dias. 5 longos dias para mandar um “E aí?” para


Frances. Enviei a mensagem antes de começar o treino,
ficaria algumas horas ocupado e assim não teria que
responder na hora. Eu queria saber se Brianna estava
realmente namorando Scott quando ficou comigo. Com a
cabeça menos quente, pensei que talvez eles ainda não
estivessem juntos. Mesmo que a troca de afeto entre eles
passasse a ideia de um casal de longa data.

FRANCES: “Quem é?”

Estava para entrar no chuveiro quando vi a mensagem.

“Logan”

Digitei e fui tomar meu banho.

FRANCES: “Vc pegou meu número com a Frances?!”


43

“O q?”

Os caras estavam rindo de algo que aconteceu com


Fuentes na aula de Química, e marcando de ir ao Babs,
mas eu recusei porque tinha um trabalho de História para
fazer e segui para meu carro. Que mensagem estranha era
essa? Frances estava bêbada?

FRANCES: “É a Brianna.”

Meu rádio já estava ligado. Eu não conseguia pensar


direito. Minha mão suou.

Frances deu o número de Brianna?

“Ela me passou esse número”

BRIANNA: “Tanto faz. Apaga pfv. Eu tenho namorado”

Como é?! Que garota folgada! Eu nem sabia que era ela!

Me irritei e tomei outra decisão.


44

- Eu mando você apagar meu número e você me liga? – a


voz de Brianna soou incomodada do outro lado.
- Primeiro que você não manda em mim, Brianna. E
segundo, você não vai me tratar como se eu fosse o errado
aqui. Você que tem namorado e ficou comigo na outra
noite.
- Eu não estava namorando o Scott.
- Ah tá. – ironizei. – E isso aconteceu quando? 20 minutos
depois? Você usava o mesmo batom que ficou em mim
quando foi beijar ele?
- Não! – ouvi-a suspirar irritada. – E mesmo se fosse, você
não tem nada a ver com isso.

Se fosse isso, ela tinha um pouco de razão em dizer que eu


não tinha nada a ver. Uma garota pode fazer o que quiser
se não tiver compromisso. Acontece que eu achava que ela
tinha. E era isso que estava me irritando. O fato de
Brianna ter um namorado quando me beijou. Não tinha
nada a ver com eu pensar nela mais do que o normal e
querer sentir o cabelo dela entre meus dedos outra vez.

- Eu não tenho nada a ver com isso?


- Pelo o que eu me lembro, nós não fizemos juras de amor
eterno naquela noite, Logan.
45

- Você é a infiel, fica comigo quando já tem namorado e eu


que saio como o errado.
- Eu não sou infiel!
- Não é o que me parece. Você está com medo do Scott
descobrir que ficou comigo. Por isso mentiu que me
conhecia no dia do jogo.
- Eu não estava com ele na época da festa. Não estava. Nós
tínhamos dado um tempo, foi isso.
- Se não estavam juntos não existe problema em ele saber
que nós ficamos. – instiguei e por um segundo me senti
provocativo como Fuentes.
- Logan, por favor. – Brianna baixou a voz e toda minha
audácia e provocação sumiu. Só a voz dela já mexia
comigo. – Sinto muito que eu fingi que não te conhecia.
Mas foi melhor desse jeito.

Ouch. Ela sabia ferir um cara.

- Tanto faz. – tamborilei meus dedos no volante e passei a


mão no cabelo.
- Eu não quero problemas com o Scott.
- Eu sou um problema para o seu namoro, agora?
- Com a sua cara você seria um problema para qualquer
namoro. – aquilo me fez sorrir.
46

- Está dizendo que me acha atraente?


- Tchau Logan. – ouvi um pequeno riso na voz dela. –
Apaga meu número, por favor. – ela desligou.

Mas eu não apaguei. Usei o número dela para buscar seu


Instagram. Encontrei.

Meu celular apitou e fez a mesa de vidro tremer.

- Sem celular na mesa, Logan.


- Desculpa mãe.

Coloquei o aparelho no bolso e voltei a jantar.

- Quando é seu próximo jogo?


- Na próxima sexta, dia 30. – comi mais um tempurá,
amava quando a bāchan fazia comida típica.
- Acho que nesse vou poder ir.
- Vai ser na escola mesmo? – minha avó perguntou.
- Não, dessa vez vai ser na escola do time adversário.
- Me passe o endereço. – minha mãe ordenou.
47

Eu passaria. Mas sabia que ela não ia. Como dona da


clínica de fisioterapia ela sempre tinha muito que fazer.
Depois que meu pai morreu, quando eu tinha 7 anos, ela
teve que se virar e acabou se tornando uma médica
renomada. O que acabou tirando um pouco da nossa
convivência. Mas eu não era um garoto magoado por isso.
Ela me criou de um modo decente e fazia de tudo para eu
me dedicar ao futebol. Bancava os custos que não eram
baratos e não exigia que eu trabalhasse enquanto
estudava, exceto no verão, que eu fazia serviços na clínica.

- Vou deixar na geladeira. – tomei mais água.


- Quando for a final eu vou.

Sorri para minha avó e fiz uma mesura para ela em


agradecimento. Nossa família era pequena e de poucas
palavras, isso que ela disse era uma grande demonstração
de afeto. Para a maioria não faria a menor diferença, mas
funcionávamos assim. Encerrei o jantar e coloquei a louça
na máquina, depois de ativar os processos peguei meu
celular no bolso.

TOBY: “Cara, ñ vou poder buscar a Harlow na casa onde


ela está de babá. É em outro bairro. Quebra essa p mim?”
48

“Sem problemas. Me passa o endereço.”

Peguei as chaves e avisei minha mãe que logo estaria de


volta.
49

A casa onde Harlow estava trabalhando ficava um pouco


longe do nosso bairro. Quase chegando onde tinha sido a
festa do mês passado. As casas eram maiores e as ruas
mais silenciosas. O GPS apontou para uma casa estilo
mansão, em tom de marrom no final da rua. Quando fui
parando o carro, para avisá-la que estava aqui, avistei
Harlow saindo do jardim da casa. Com um cara a
abraçando. Ela não sabia que eu a buscaria, Toby me
avisou que tinha marcado de pegá-la 21h, ainda era 20h40.
Pelo visto me adiantar acabou sendo uma grande
surpresa. O garoto a encostou na parede da casa e a
beijou. Se Toby estivesse aqui, teria quebrado os dentes
dele. Mas Harlow era crescida e fazia o que bem entendia.

Aumentei o volume na rádio esportiva e quando ergui


meus olhos outra vez, o beijo não estava mais tão calmo.
Aquilo sim me incomodou. Era quase um espetáculo e eu
notei Harlow tentando afastar a mão do cara.

- Harlow! – no segundo seguinte eu gritava fora do carro.


– Entra, por favor.
50

- Logan?! – ofegante, ela empurrou o garoto e deu um


passo para longe dele. – O que você está fazendo aqui?
- Seu irmão me pediu para te buscar. Ele ficou enrolado na
loja.
- Não precis...
- Entra, Harlow.
- Só vou pegar minha mochila.

Quando ela entrou na casa e o garoto andou para mais


perto da luz foi que um choque me tomou.

Era Scott.

O namorado de Brianna.

Ele cruzou os braços, balançou a cabeça me


cumprimentando e ficou me encarando.

Harlow se despediu de Scott com um aceno e


praticamente correu para dentro do carro. Olhei para o
imbecil mais uma vez, dei a volta e entrei no Mustang.

- Pensei que você tinha vindo trabalhar. – dei partida no


carro e saímos.
51

- Eu vim.
- Que tipo de trabalho é esse?
- EI! Sou babá da menina que mora aí. Os pais dela saíram
e o irmão dela não sabia que hora ia voltar então eles me
chamaram.
- O Scott?
- Você o conhece?
- Ele joga no Gladiators.
- Ah.
- Você não sabia?
- Sabia que ele estuda em outra escola.
- Há quanto tempo isso está rolando?
- Logan. – murmurou.
- Seu irmão sabe disso?
- Não e você não vai contar.
- Esse Scott não presta. Acho que você deveria ficar longe
dele.
- Ele gosta de mim.
- Não Harlow, não gosta.
- Como você pode saber?!
- Um cara que gosta de uma garota não faz ela de outra.
- Do que você está falando?
- Ele tem namorada.
- Não tem não.
52

- Sim ele tem, ela se chama Brianna e é líder de torcida da


escola dele.

Harlow escancarou os olhos brilhantes. Claramente


decepcionada.

- Sinto muito.
- Tudo bem. – deu de ombros.
- Você gosta dele?

Ela me ignorou, encarando a rua.

- Ele só quer se aproveitar de você, Harly. – usei o apelido


dela. – Você merece mais.
- Eu sei. – suspirou. – Por que os caras fazem isso, Logan?!
- Não sei. – balancei a cabeça. – Mas nem todos fazem.

Harlow fez um ruído que dava a entender que ela


duvidava do que eu dizia. Precisava animá-la de alguma
forma.

- Alguns caras levam suas amigas para comer frango frito.


- Levam? – sorriu.
- Sim! – sorri e guiei-nos até o KFC que ela tanto amava.
53

Não consegui dormir direito naquela noite. Ficou ainda


pior depois que entrei no perfil do Instagram da Briana e
vi que Scott havia mandado um buquê de rosas vermelhas
para ela no mesmo dia. Provavelmente ao mesmo tempo
em que trocava saliva com a irmã mais nova de um dos
meus melhores amigos. Flores de culpa. Babaca.

Eu deveria ou não contar para Brianna sobre o que vi?

Ela nem era minha amiga. Provavelmente ela não iria


acreditar. Mas ninguém merecia ser enganado. Ainda
mais num relacionamento.

Por que os caras fazem isso, Logan?!

A pergunta de Harlow repercutia na minha cabeça. Eu


nunca havia tido um relacionamento longo. Sai por um
tempo com algumas garotas, mas não um namoro. De
qualquer maneira, eu pensava que se você não curte mais
estar com a pessoa, dê um ponto final. Não precisa trair ou
enganar. Só ser honesto. Essa era uma coisa que eu
admirava em L.J. Ele saía com muitas meninas, mas
54

sempre deixava claro que não queria namorar. Óbvio que


algumas vinham com mais esperança do que outras, mas
ele não prometia flores e jantares românticos a ninguém.
Porque iludir uma pessoa não era coisa de caras decentes
não deveria ser, pelo menos. Scott era um trouxa. Brianna
era uma iludida. E eu estava ciente disso. O que deveria
fazer?

- Ken! – ouvi alguém berrar atrás de mim enquanto eu


caminhava rápido em direção à saída da escola na terça-
feira. – Ken! – era Aaron.
- Oi. – parei, consternado.
- Aonde vai com tanta pressa?
- Tenho que resolver uma parada.
- O que?
- Tchau Aaron.
- Espera! Você pode me ajudar com álgebra?
- Achei que você fosse inteligente.
- Eu sou, idiota. – fez uma careta. – Mas preciso de uma
força, tenho um teste e se eu for mal estou fora do jogo.
- Esteja na minha casa 8h. – dei as costas.
- Sua avó vai fazer temakis?
- Falou Aaron! – acenei um ‘tchau’ já de costas.
55

20 minutos depois eu estava encostado no meu carro, de


braços cruzados, observando os alunos da escola dos
Gladiators saírem do prédio. Levei dias para decidir o que
fazer e mesmo que eu estivesse nervoso por estar aqui,
não ia voltar atrás.

Brianna usava um vestido preto que parecia um macacão,


e uma blusa branca por debaixo. O cabelo como no dia da
festa, o mesmo sorriso ao falar com Frances ao lado dela.
Quando me viu o sorriso sumiu e o franzir do nariz
apareceu. Elas cochicharam algo e caminharam em minha
direção. Frances cutucando Brianna sem parar.

- Oi. – inclinei a cabeça.


- Oi!
- O que está fazendo aqui, Logan?
- Mudou de escola? – Frances começou a prender o cabelo.
– Os Gladiators com certeza te aceitam no time.
- Não. – dei uma risada porque a ideia de não jogar como
um Rhino era absurda.
- Não temos nada para conversar, Logan. – Brianna
suspirou e fechou a cara para mim.
56

- Que bom. – retruquei. – Porque eu vim falar com a


Frances.
- O que? – elas falaram juntas.
- Quer comer alguma coisa? – encarei a morena que estava
com os olhos meio acinzentados escancarados.
- Aah... – abriu e fechou a boca como um peixe. O rabo-de-
cavalo castanho indo para lá e para cá conforme ela olhava
para mim e depois Brianna.
- Um hambúrguer? – sugeri.
- Ela é vegetariana. – Brianna falou com certo rancor.
- Hambúrguer de soja.
- Não sei.
- Não vai demorar. – dei um passo na direção de Frances
que recuou, fechei nosso contato de Brianna e pisquei para
a prima dela. – Vamos?
- Tudo bem. – fez uma cara desconfiada.
- Frances você tem aquele lance com seu pai.
- Ele espera. – Frances me encarou.
- Tchau Brianna. – joguei meu ombro ao redor do de
Frances e abri a porta do carro para ela.

A prima de Brianna jogou a mochila no banco de trás, e se


acomodou. Dei a volta e nós saímos. Com Brianna
olhando como se pudesse nos matar.
57

- O que foi isso?! – Frances exclamou com as mãos


erguidas.
- Precisamos conversar.
- Ok. Mas você vai me alimentar. Eu estou morrendo de
fome. – aumentou o volume de Chunky no rádio.

Depois de 4 donuts, cada um de um sabor, e um


cappuccino (Frances era praticamente uma formiga por
doces), decidi revelar logo para ela porque a tinha
chamado para conversar.

- Scott está traindo a Brianna.


- Ai meu Deus. De novo? – revirou os olhos.
- Como assim ‘de novo’? – franzi meu rosto.

Frances suspirou e apoiou as mãos com unhas azuis sobre


o tampo da mesa da doceria.

- Scott e Brianna se conhecem desde recém-nascidos. Os


pais deles fizeram faculdade juntos, eram de uma
fraternidade. Então eles dois cresceram sempre juntos.
Morando no mesmo bairro, frequentando a mesma escola,
todos os feriados e por aí vai. Mas eles só começaram a
58

namorar no começo do ano. Foi tudo muito bom no


começo, mas no fim do verão a Brianna descobriu que ele
estava saindo com outra garota, Leslie, lá da nossa escola.
Era essa garota que você viu com ele? – esticou o celular
onde uma garota negra muito bonita de cabelos cacheados
apareceu.
- Hm. Não.
- Outra menina?! – bufou, indignada. – Enfim. Ela
terminou com ele, e a partir disso foi descobrindo que
havia várias outras ficantes dele por aí. A Bri pôs um
ponto final e sofreu horrores, eu a levei naquela festa onde
você nos conheceu, para animá-la. Mas o Scott nunca
deixou a Brianna superar, ele ficava ligando, chorando,
falando com os pais dela que a queria de volta, mandando
presentes. Eu o odeio. Ele é possessivo e machista. Mas a
Brianna o desculpou. Deu uma nova chance.
Aparentemente não adiantou de nada.
- Não. Porque eu vi muito bem ele com outra menina, que
nem fazia ideia que ele namorava.
- Você conhece a menina?
- Sim. É uma amiga minha. Eu disse para ela ficar longe
do Scott. – bebi meu frappuccino de mocha. – Ele é um
verme.
- Sim, ele é.
59

- Ela merece coisa melhor.


- Como você. – Frances sorriu e naquele momento eu
soube que tinha ganhado uma nova amiga.
- Ela não está nem aí para mim.
- Ah qual é?! Não a viu louca de ciúmes hoje?
- Não sei não. Ela me escorraçou quando mandei
mensagem para “você”. – fiz aspas e Frances riu.
- Ela quis me matar por aquilo. Acho que ela gosta de
você.
- Então por que está namorando o babaca do Scott?
- Porque ele a afoga e não deixa Brianna enxergar novas
coisas. – Frances olhou para a janela, a noite quase
chegando naquela tarde de terça. – Aquilo não é namoro,
é uma prisão. – me encarou. – Uma cadeia emocional.
- O que vamos fazer?
- Vou contar para ela.
- E se ainda assim ela quiser ficar com ele?
- A escolha é dela. – deu de ombros. – Se eu pressionar a
Bri a tomar alguma decisão, não foi ser diferente do Scott.
- Entendi. – senti um alívio por contar a verdade para
Frances, e uma ansiedade me pesar por imaginar Brianna
presa por tanto tempo num namoro ruim desse.
- Você seria um bom cara para ela. – ela disse e eu apenas
sorri.
60

Queria que Brianna pensasse assim.

2 dias depois, sorri sozinho para a tela do celular.

FRANCES: “Ela deu um pé nele”

14 de outubro seria um dia memorável na história dos


Rhinos. Não era qualquer equipe que virava um jogo
daquela forma. De 3 a 48 no primeiro tempo, para uma
sequência insana de pontos que nos fez vencer de 89 a 48.
A arquibancada da nossa escola estava eletrizada, mesmo
depois do banho e da festa na casa de um dos nossos
LineBackers, estávamos agitados e animados demais.

Eu estava rindo de alguma piada feita por Fuentes numa


roda de gente, quando senti meu celular vibrar. A
primeira mensagem era um endereço.

FRANCES: “Uuuh soube que os Rhinos detonaram hoje!


Não estou dando parabéns, de forma alguma. Pq sou
uma Gladiator de corpo e alma. Também não estou
convidado meu grande amigo, o Fullback 38 para uma
61

festa na minha casa”

A outra mensagem era uma foto de Brianna no canto da


festa, usando uma saia azul e olhando para o nada.

FRANCES: “Alguém precisa de companhia. Sei q vcs


tem bom histórico com festas."

- Tenho que ir. – falei mais para mim mesmo.


- Onde? – Aaron me seguiu, segurando um copo
vermelho.
- Ah ... Quer ir numa festa do lado inimigo comigo?
- Lado inimigo?
- Você vem ou não?
- Vou. – sorriu e me seguiu.
- Vamos deixar os casacos no carro.
- Isso parece uma missão secreta.

Entramos no mustang.

- Não vai chamar os caras?


- Não. O Toby arrancaria minha cabeça.
- Eu gosto de irritar o Toby.
- Eu também. Mas não hoje.
62

A festa de Frances estava bem mais agitada e cheia. O som


de Don´t you worry child estava fazendo as janelas imensas
de vidro tremer. Assim que pisamos na cozinha, um cara
qualquer empurrou copos na minha mão e na de Aaron.

- Eles são hospitaleiros. – meu amigo riu e caminhou pelo


corredor. – Ei olha essa foto. – apontou um quadro na
parede. – É o senador?
- Eu prefiro chamar de papai. – a voz de Frances surgiu
atrás da gente.
- Você é filha do senador? – perguntei.
- Estamos numa festa na casa do senador?
- Ele está viajando. – sorriu. – Que bom que vocês vieram.
Que péssimo pela vitória. – brincou.
- Obrigado. – Aaron agradeceu. – Sua casa é legal.
- Vou te mostrar o resto, vem comigo. – virou e depois me
encarou. – Ela está no terraço. – piscou.
- Valeu.

Subi as escadas, me livrando das pessoas amontoadas ali e


encontrei a saída para um terraço. Observando a mesma
saia azul de costas para mim. O vento gelado da noite
fazendo o cabelo loiro e longo dela voar para trás,
63

enquanto ela cruzava os braços dentro de uma blusa


regata de bolinhas. Dei passos lentos e quando estava
pronto para dizer um cumprimento baixo, Brianna pulou
assustada para o lado.

- Meu Deus. Você me assustou! – colocou a mão no


coração e os olhos dela se umedeceram.
- Desculpa. – ergui as mãos. – Me desculpa, eu estava ... eu
só ... Desculpa, Brianna.
- Tudo bem. – gesticulou e depois franziu o nariz. – O que
está fazendo aqui?
- Frances me chamou.
- Ah. Frances.

Não gostei do tom debochado que ela usou. Brianna


voltou a olha a festa rolando no jardim.

- Como vocês estão? – ela me perguntou.


- Está falando do time?
- Estou falando de você e da minha prima.
- O que?
- Quer saber? Esquece. Eu não tenho nada com isso. Finge
que eu não perguntei.
64

- Espera, espera. – gesticulei. – Você acha que estou a fim


dela?
- Logan, eu não me importo ok? Você pode ficar a fim de
quem quiser.
- Eu sei. E eu estou a fim de você. – confessei. – Sempre
estive.
- Ah, por favor! – revirou os olhos. – Eu não caio mais
nessa, tá legal? Vocês atletas são todos iguais. Bando de
idiotas. Você ficou comigo e agora quer a minha prima. Vá
em frente! – abriu os braços. – Não tenho nada com isso.
Tivemos um lance, foi só isso. Se ela não se importa, eu
também não.
- Eu não quero ficar com a Frances!

Do que ela estava falando?

- Você mandou mensagem para ela, foi buscá-la para um


encontro e agora está aqui, na casa dela. Não precisa
mentir para mim. Estou cansada das pessoas mentindo
para mim, Logan. Não tenho nada a ver com vocês.
- Ah ... Brianna...
- Nós nem somos amigos. – deu uma risada amarga que
não combinava com ela.
65

- Falando desse jeito parece mesmo isso, mas não é. Eu


juro. Precisava falar com ela sobre...
- Brianna? – uma voz muito irritante nos interrompeu.
- Scott. – notei ela dar um passo para trás e bater o corpo
no parapeito.
- O que está fazendo aqui com esse cara? – ele deu mais
dois passos com velocidade e eu dei um para o lado, quase
que no meio dos dois.
- Eu não estou fazendo nada. – ela sussurrou.
- Sai da minha frente, Ken.
- Me tire da sua frente.
- Meu assunto não é com você.
- Logan. – Brianna colocou a mão no meu braço de um
jeito leve, os olhos de Scott se direcionaram para lá.
- Por que está colocando as mãos nele, Brianna? Você está
ficando com esse cara?! – gritou.
- Fala baixo. – ergui meu queixo e senti meu sangue
começar a esquentar, isso acontecia raras vezes.
- Eu não estou ficando com ele, Scott! Meu Deus! – a voz
dela saiu quase como um choro, e aquilo me incomodou
de uma forma estranha.
- Vamos conversar.
- Nós não temos....
66

- Eu disse que vamos conversar. – Scott deu outro passo e


esticou a mão para segurá-la, mas eu empurrei seu braço
com força. – Que droga está fazendo cara?! – avançou para
cima de mim, que recuei.
- Não vai tocar nela.
- Está tudo bem Logan. Scott! Vamos! – Brianna se afastou
da gente, com a cabeça baixa e desceu as escadas.

Notei que minhas mãos estavam fechadas em punhos e


que minha respiração estava irregular. Observei também
que tinha pessoas olhando. Ignorando-os desci as escadas
atrás deles. Eu estava perto da entrada da cozinha,
sentado em um dos pufs vendo Brianna e Scott
conversarem perto da pia. Era visível que ele estava
irritado e ela ficava sempre erguendo as mãos, tentando
acalmá-lo.

O som era muito alto, então não dava para escutar a


conversa. Mas eu li os lábios dele algumas vezes dizendo:
‘Você não pode ficar falando com esse cara’ ‘Por que você faz isso
comigo?’ ‘Eu cometi um erro. Sinto muito!’.

- Ei, cara, tem comida lá na casa da pisc... Logan?


67

‘Está ficando louca, Brianna?’ ‘Você sabe que eu ainda amo


você’ ‘Você torna as coisas difíceis’.

- Hum? – continuava com os olhos vidrados e


intensamente incomodado pela forma como Scott
gesticulava perto dela e Brianna não fazia nada. Ela estava
com medo, alisando a saia.

‘Isso é culpa dessa saia que você está usando. Precisa ser desse
tamanho?’

- O que você tem?

Scott perdeu a calma e começou a andar de uma forma


que a encurralou na parede. Falando alto e apontando o
dedo na cara dela, enquanto segurava o braço de Brianna
forte demais. Ela dizia ‘tudo bem, tudo bem’ em meio a
lágrimas.

- Já chega. – levantei e em um segundo separei-os. – Se


afasta! Se afasta dela! – empurrei Scott para a parede.
- Tira a mão de mim! – ele avançou.
- FICA LONGE DELA!
68

- Logan! Calma! – Aaron estava atrás de mim tentando me


puxar.
- Logan, solta ele. – Brianna estava chorando.

Um monte de gente juntou ao nosso redor, enquanto eu


continuava segurando Scott contra a parede. Sedento de
ver meu punho contra seu rosto.

- O que está aconte... O que você está fazendo na minha


casa?! – Frances gritou com Scott.
- Eu precisava fa...
- SAI! SAI DAQUI! DÁ O FORA MINHA CASA!
- Você ouviu. – arrastei e joguei-o o jardim pela porta que
dava para a cozinha.

Scott caiu e levantou. Ficou me encarando, arrumou a


jaqueta e foi embora.

- Brianna. – virei.
- O que foi que você fez?! – ela bateu no meu peito, ainda
chorando. – Eu tinha a situação sobre controle.
- OLHA O SEU BRAÇO! – gritei meio perdido e já
arrependido. – Olha o que ele fez com você.
69

Brianna parou e encarou a marca vermelha de dedos que


estava ao redor da parte do bíceps dela. Ela ficou
envergonhada e saiu correndo, com Frances atrás dela.

- Vocês já podem parar de olhar. – Aaron encarou nossa


pequena plateia que se dispersou. – Ei. Você tá legal?

Não. Eu não estava. Aquela marca na pele dela tinha


ligado um lado em mim que eu desconhecia.
70

Já estava deitado há horas e não conseguia dormir. Os


acontecimentos da noite ficavam rodando como um filme
de terror na minha mente. O ponto alto era Scott
apertando braço de Brianna, deixando marcas. Eu queria
saber se ela estava bem, então ignorando a hora avançada
e a possível raiva dela contra mim, enviei:

“Como está seu braço?”

Levou 2 minutos para ela responder. Pelo visto, não era só


a mim que a insônia tinha pegado.

BRIANNA: “Está bem”

“Sinto muito pelo o que aconteceu”

BRIANNA: “Eu também”

Respirei fundo, sentindo uma chuva arrependimento pelo


estresse que causei a ela. Mas nem uma gota de remorso
por quase socar Scott.
71

“Desculpa ter gritado com vc. Fui idiota. Isso ñ deveria


ter acontecido. Ñ vai se repetir”

BRIANNA: “Tudo bem.”

“Ñ, Brianna. Ñ está td bem. Qdo um cara gritar com vc,


vc deve se irritar e dizer que ele nunca mais vai fazer
isso, ou vc vai arrancar as cordas vocais dele.”

BRIANNA: “Se vc gritar cmg de novo, arranco suas


cordas vocais”

“Essa é minha garota”

Sorri e fiquei tentado em ligar para ela.

“Não fui para a festa ver a Frances. Acredite em mim”

BRIANNA: “Eu sei. Boa noite, Logan”

Ao menos isso estava esclarecido.

“Boa noite”
72

Brianna e eu trocamos mensagens durante o fim de


semana inteiro. Eu estava esperançoso que isso evoluísse e
pensando numa forma de talvez chamá-la para sair. Mas
as palavras de Aaron depois que saímos da festa tinham
sentido. Ele disse que não tinha lá muita experiência, mas
entendia de ciência e que quando um bicho está
machucado ele não quer saber de outro perto dele. Como
um gato que foi atacado por um cachorro. Todo cachorro
que chegasse perto dele, faria o gato surtar. Eu deveria ser
paciente.

- Ken, me espera depois do treino. – Toby falou enquanto


saía da sala de musculação na segunda-feira.
- Ok.

Finalizei meu treino de peito e antes de ir para o banho,


fui até meu Quarterbak no fundo do vestiário.

- Vamos ali, na sala do Sanderson. – andamos e ele fechou


a porta, sentando na mesa e eu na cadeira.
- O que foi cara?
73

- Você se meteu numa briga com um Gladiator na sexta?


- Não. Não tive o prazer de bater nele.
- Quem era o cara?
- Um trouxa.
- Logan.
- Um trouxa que estava quase machucando uma menina.
Isso é motivo suficiente para você?
- Quero um nome.
- Scott Mitchel.
- O Cornerback?!
- Quem te falou sobre isso?
- As notícias correm. – apoiou os braços ao lado do corpo.
– Você saiu da nossa festa para ir à outra? De outra escola?
- Era de uma amiga.
- Que amiga?
- Frances.
- Que porcaria de nome é esse?
- Toby.
- Tanto faz. Não é bom você ficar indo na área do
adversário. Temos rixa com eles. De longa data.
- Eu não ligo.
- Eu ligo.
- Tenho amigas naquela escola, tá legal? Essa rivalidade
besta não vai interferir nisso. – esbravejei um pouco.
74

- Amigas? – Toby semicerrou os olhos e cruzou os braços.


– Qual o nome dela?
- Frances, já disse.
- É sua namorada?
- Não, mano!
- Quem é então? Achei que éramos amigos.
- Você está me perguntando como amigo ou capitão?

Toby suspirou e mexeu no cabelo.

- Só toma cuidado. – esticou o dedo. – Temos jogo contra


eles em 3 semanas. Não quero problemas.
- Eu nunca quero, você sabe. Está tudo bem.
- Beleza. Agora vai tomar um banho. Você está fedendo.
- Idiota. – dei risada e sai.

Dois dias depois, eu estava usando jeans escuro, camisa


branca social e um paletó cinza enquanto saia da escola,
após o treino. Quando minha mãe me ligou.

- Oi querido. Onde você está?


- Saindo do treino, mãe. Como estão as coisas aí?
- Tudo lindo. Colocaram uma cerejeira de verdade.
75

- Legal. – tirei a mochila no ombro. – Nos vemos daqui a


pouco. – desliguei o celular e joguei a bolsa no banco
traseiro.

Todo ano, a comunidade oriental do nosso bairro


realizava um evento com algumas tradições em um
espaço cultural. Nossa família sempre ia e minha mãe
ajudava financeiramente. Esse ano teria até uma
representação de gueixas.

- Logan? – saí do carro e fiquei surpreso com o que vi –


Brianna? O que está fazendo aqui?

Ela usava jeans e um casaco vermelho vibrante que a


deixava mais bonita ainda. O cabelo preso com o arco da
mesma maneira.

- Ah. – colocou as mãos nos bolsos. – Vim te agradecer de


uma forma decente, pelo o que aconteceu na sexta.
- Hum. – senti meu coração saltar e sorri para ela. – De
nada? – ela riu e baixou a cabeça. – Você veio com
alguém?
- Frances me deu carona depois do nosso treino de dança.
- Entendi.
76

Brianna olhou ao redor, franziu o rosto para minha roupa,


mexendo o nariz daquela forma fofa.

- Você está ocupado eu não vou atrapalhar então vou...


- Gosta de sushi?
- O que?
- Sushi. Sashimi. Essas coisas.
- Culinária oriental?
- Isso.
- Gosto. – riu. – Por quê?
- Quer ir a um lugar comigo?

Brianna balançou o corpo e ergueu seus grandes olhos


verdes para mim.

- Acho que quero.

Nós chegamos ao salão de festas onde o evento estava


sendo realizado, poucos minutos antes de a apresentação
das meninas começar. Levei Brianna até onde minha mãe
e avó estavam sentadas, fiz as apresentações e sorri
quando minha avó sussurrou ‘Utsukushī’.
77

Um som de música oriental, com címbalos iniciou e as


luzes diminuíram.

- O que ela disse? – Brianna sussurrou.


- Que você é bonita.
- Sério? – virou para minha avó. – Arigatô.

Minha avó sorriu, assim como minha mãe. As meninas


representando gueixas começaram a aparecer. Lexie, a
garota nova estava entre elas.

- Eu diria que você é kanpekina. – olhei para ela. – Perfeita.

Brianna corou e baixou a cabeça, depois focou os olhos na


apresentação. Eu expliquei para ela que gueixas não eram
cortesãs, e que comparar elas a meretrizes no Japão era
praticamente ofensa, elas eram artistas e viviam disso.
Depois de parabenizarmos Lexie – pelo visto ela e Brianna
seriam amigas – levei-a a área gastronômica. Onde ela se
divertiu rindo e provando um monte de coisas diferentes.
Era legal ter uma pessoa do lado. Parecia um encontro não
marcado.
78

- Estava todo mundo bem vestido e eu assim. – gesticulou


para os próprios trajes, enquanto eu a levava para casa
depois que ela me explicou o endereço.
- Você está bem assim.
- Nah. – fez uma careta. – Na próxima eu vou usar até um
kimono.
- Próxima? – inclinei a cabeça.
- Não fique se achando, Ken. – socou meu ombro
levemente.
- Sai comigo? Um encontro.
- Logan.
- Você praticamente já saiu! – argumentei e estacionei o
carro na entrada do jardim bem-cuidado dela. – Não foi
divertido?
- Foi.
- E eu nem beijei você ainda.
- Achei que você fosse tímido.
- Eu sou. Mas não com você. – mexi no cabelo dela,
Brianna suspirou e engoliu seco.
- Terminei o namoro tem poucas semanas.
- Mas há vários dias, muitas horas atrás. – ela riu e eu dei
de ombros. – Sou bom em matemática.
- Ok. Me busca no sábado. – ela deu um beijo na bochecha
e saiu do carro.
79

- Que horas?
- Raiz quadrada de 324?
- 18.
- Você é mesmo bom. – sorriu e entrou na casa.

Eu parecia um bobo parando, apenas olhando-a.

No sábado quando busquei Brianna para sairmos, dei de


cara com uma mini-versão dela na porta. Só não diria que
ela e Josie eram gêmeas, porque a outra criança. Mas eram
exatamente iguais. Levei Brianna para o cinema e depois
jantamos num restaurante legal.

Quando voltávamos para a casa dela, ela já segurava a


minha mão e sorria sem parar. Eu me sentia o melhor cara
do mundo. Era assim que ela deveria sempre ser tratada.
Dessa forma que eu gostava de vê-la. Sorrindo. Tranquila.

- Você é engraçado.
- Você que é riso frouxo.
- Você bateu palmas quando o Will Smith apareceu na
tela!
- É o Um maluco no pedaço. Esse cara é sensacional.
80

- Eu sei, mas ninguém mais fez isso. E você continuou lá,


aplaudindo.
- Não me arrependo disso. Bateria palmas de novo.

Ela gargalhou e encostou a cabeça no assento. Pensativa


conforme seu sorriso ia desformando.

- O que foi? – acariciei a bochecha dela.


- Eu não me divertia assim há tanto tempo. Obrigada.

Encarei seus olhos e sorri, sentindo-me orgulhoso.

- É sempre assim comigo. Posso ser tão sensacional quanto


o Will Smith.

Brianna baixou a cabeça rindo novamente, aproximando-


se de mim. Aproveitei a deixa e colei meus lábios nos dela
sem pensar demais. Graças aos céus ela retribuiu.

- Logan.
- Não. – sussurrei, ainda de olhos fechados. – Não diz
nada.
81

Eu não queria encerrar aquela noite com ela falando que


não queria nada comigo, que estava assustada demais ou
qualquer coisa do tipo. Não naquele momento.

- Gosto de você.

Abri meus olhos, observando a expressão dela. Sentindo


meu coração bater rápido demais.

- Era isso que eu ia dizer. – ela encolheu os ombros.

Segurei seu rosto e beijei sua testa, inspirando seu doce


perfume e tendo certeza que eu era o adolescente mais
sortudo do mundo.

- Eu também, Bri. Gosto de você desde a primeira vez que


te vi. – beijei-a de volta, com a sensação de vitória que
nunca tinha sentido em minha vida. – Acho que vou te
chamar de namorada agora.
- Pode apostar que vai. – sorriu.

Nenhum campeonato se comparava a uma Brianna.


82

- ... aqui?
- Hã?

Era dia de almoçar com o clube oriental no intervalo. Mas


eu não estava sendo exatamente sociável. Ficar trocando
mensagens com Brianna parecia muito mais interessante
do que comentar sobre a prova de mandarim de um dos
caras da roda. Então Lexie falou comigo, mas não ouvi
direito.

- Eu disse que sua namorada não estuda aqui, né?


- Ah. – guardei o celular no bolso sem saber se afirmava
ou não que Brianna e eu namorávamos. Ainda não
tínhamos definido sobre deixar isso público.
- Ela parece ser legal. Naquele dia do evento conversamos
bastante.
- Ela é uma ótima garota. Gostou bastante da sua
apresentação de gueixa, ficou falando sobre isso. Foi bem
legal.
83

- Ah obrigada. – Lexie corou e seus olhos, rasgados,


ficaram ainda menores. – Pensei que a veria por aqui. Mas
você sempre está sozinho, ou com seus colegas de time.
- A Bri é de uma escola de outro bairro. Na verdade, uma
escola rival.
- Que coisa horrível. – fez uma careta assustada.
- Não é assim tão longe. – expliquei.
- Ah não. – Lexie balançou as mãos, batendo-as em sua
garrafinha de água. – Não. Ah Deus, eu sempre digo as
coisas mais confusas. – murmurou. – Disse que é horrível
porque eu tinha esperança de vê-la, queria que ela fosse
daqui. – colocou uma mecha do cabelo preto atrás da
orelha. – Não tenho muita facilidade de fazer amigas e ela
foi acessível.
- Achei que você fosse amiga da Harlow.
- Eu sou. Mas uma garota precisa de mais do que só uma
amiga.
- Verdade. – pensei nos caras do time.

Então tive uma ideia. Minha mãe e minha avó estariam


fora no fim de semana, bachan tinha uma consulta com
um médico em outra cidade. Eu já tinha avisado os caras
para irem em casa, jogaríamos algo ou sei lá, mas dava
para convidar mais algumas pessoas. E seria uma boa
84

oportunidade de apresentar Brianna para eles, se ela


concordasse.

- Um pessoal vai à minha casa, no sábado. A Brianna vai


também. – afirmei mesmo sem ter certeza, enquanto me
levantava vendo o horário de fim do almoço. – Você
deveria ir.
- Ah ... ok. – Lexie sorriu.
- Vai com a Harlow. – acenei para ela, mas voltei antes de
partir. – Será que o lance da Brianna pode ficar só entre
nós? A Harly não sabe ainda.

Lexie inclinou a cabeça para trás, me analisando como se


eu tivesse uma doença. Oh droga, ela deveria estar
achando que eu tinha algo com Harlow.

- Não! Não. Sou amigo da Harlow, tipo melhor amigo. Só


não quero que ela saiba por outra pessoa que eu estou
namorando. Não tem lance nenhum entre nós.
- Eu não disse nada. – deu de ombros.
- Mas você pensou.
- Ficou tão evidente assim?
- Você não esconde as coisas muito bem. Sua cara disse.
85

- E depois dizem que nós asiáticos temos todos a mesma


cara. – aquilo me fez rir, Lexie era uma garota divertida. –
Não direi nada para a Harlow. Pode ficar tranquilo.
- Ei cara. – Aaron apareceu de Lexie, com a mochila no
ombro. – Está indo para a aula de geografia?
- Só preciso passar no meu armário. Aaron essa é ...
- Oi Lexie. – meu amigo se adiantou.
- Oi. – ela colocou novamente o cabelo atrás da orelha e
em seguida cruzou os braços.
- Você está bem?
- Sim e você? – ela inclinou a cabeça e encarou-o.
- Eu o que?
- Se você está bem. – Lexie segurou uma risada fresca.

Aaron continuou parado, com cara de idiota ... hum ...


estava rolando algo aqui?

- Sim. Até que sim.

Silêncio estranho. Estranho, não. Silêncio do flerte.

- A gente tem que ir. – interferi batendo no ombro dele. –


Te vejo na festa, Lexie.
- Tá ok.
86

Aaron acenou um tchau para ela e deu as costas,


caminhando junto comigo. Olhei para ele, que fitava o
chão com o rosto corado.

- Ela é bonita.
- Quem?
- Lexie.
- Eu sei.
- Vai chamar ela para sair?
- Você acha que ela aceitaria?
- Cara, você estava ali há um minuto atrás? – chegamos ao
meu armário onde eu pegava meu caderno da aula que
tínhamos juntos. – Ela está a fim de você.
- Ela disse algo?
- Sim. Na noite do pijama que tivemos. Depois que
assamos brownies e colocamos pepino nos olhos. – dei um
empurrão nele. – Claro que não! Ela mal chegou na escola.
Mas deu para ver o clima. Vocês pareciam dois colegiais.
- Todos nós somos colegiais, Logan. – começamos a
caminhar pelo corredor, acenando para conhecidos.
- Quis dizer em um nível sexto ano.
- Às vezes você é tão mala quanto o Fuentes. – entramos
na sala.
87

- Gracias! – sorri.

No fim das aulas, caminhava com um sorriso besta no


rosto. Brianna tinha me mandado uma selfie segurando
cadernos com a legenda: ‘Aguardo sua ajuda com meus
deveres de álgebra’. Saí o mais rápido que pude para o
estacionamento, agradecendo por não ser dia de treino.

- LOGAN! – escutei ao longe e quis ignorar, eu tinha uma


garota para beijar, quer dizer, ajuda com a lição. – Logan!

Olhei acima do carro vendo L.J. caminhando na minha


direção.

- Cara, você sumiu.


- Preciso ir.
- Para onde?
- Precisa de alguma coisa?
- Que grosseria, mano.
- Foi mal é só que ... – cocei minha testa.
- Vai ao Bab´s?
- Hoje não vai rolar.
- Por que?
- Tenho um trabalho.
88

- Que trabalho?
- Estudos sociais. – abri a porta do carro.
- Isso é para daqui 3 semanas.
- Vou me adiantar. Falou.

Fechei a porta e me afastei, sem um pingo de culpa. Logo


meus amigos saberiam de Brianna, mas dava certa emoção
ela ser algo secreto.

- Então você está aqui. De novo.

Pequenos olhos verdes me encaravam. Enquanto Brianna


pegava algo para a gente comer durante os estudos, a irmã
mais nova dela estava me estudando enquanto mexia no
controle da TV.

- Estou.

A cara séria dela estava me dando um pouco de medo. E


me fazia sentir ridículo por isso. Ela mal deveria ter 10
anos.

- Você é o novo namorado dela?


89

- Eu ah ... O que você está assistindo?


- Está tentando mudar de assunto? Eu vi vocês se beijando
no seu carro no outro dia.
- Você é bem esperta.
- Sou a melhor da minha turma de matemática.
- Olha só, eu também. – dei um sorriso, tentando não
transparecer nervosismo.
- Você é inteligente?
- Gosto de pensar que sim.
- Você grita?
- O que?
- Você grita com as pessoas?
- Hum. Não. Por que?
- Ele gritava com ela. Eu não gosto disso. – Josie encarou a
TV novamente, colocando no Youtube.
- Ele quem?
- Scott imbecil.

Aquilo me fez mal. Voltei à memória no dia festa de


Frances. Scott pressionando Brianna contra a parede,
apontando um dedo no rosto dela e apertando seu braço.

- Eu o empurrei um dia desses.


- Sério?
90

Apesar do tema de conversa estranho, gostei de ver Josie


sorrindo para mim. Talvez não fosse algo politicamente
correto contar que quase bati num cara para uma garota
de 10 anos. Mas me senti fazendo a coisa certa.

- Ele mereceu. – dei de ombros.


- Você usou golpes de caratê nele?
- Caratê?
- Sim.

Ah. Certo. Minha descendência.

- Não. – dei risada. – Não sei caratê.


- Que pena, eu gostaria de aprender.
- A gente pode tentar aprender juntos um dia desses.

O mesmo sorriso meigo de Brianna, estampava a


expressão de Josie. O que me encheu de orgulho. Logan
era ótimo com as garotas Swintons.

- Brianna, Logan vai aprender caratê comigo.


- Isso é verdade? – ela saiu da cozinha segurando
salgadinhos e refrigerantes enquanto ria.
91

Dei de ombros, meio que dizendo sim.

- Legal. – Brianna sorriu de um jeito doce. – Mas vai ser


outro dia Jos. Hoje Logan e eu temos lição. Vem, vamos
subir.

Peguei minha mochila e subi as escadas, seguindo


Brianna. Fiquei um tempo analisando os detalhes do
quarto dela, ficando um tanto impressionado.

- Eu nunca imaginaria isso. – apontei para um pôster de


filme na parede. – O silêncio dos inocentes.
- Clássico de suspense. – Brianna sentou na cama, abrindo
o salgadinho e me oferecendo.
- Eu sei, mas ...
- Achou que eu curtia musicais, não é?
- Bom ... – sentei no chão, apoiando as costas na cama e me
servindo do aperitivo.
- Eu curto também. – a mão dela acariciou meu cabelo, e
beijei sua palma.
- Onde estão seus pais?
92

- Trabalhando. Eles estão envolvidos na campanha no


meu tio e só chegam tarde. – falou enquanto pegava o
livro.
- Entendi. Então ... – levantei e me inclinei, beijando-a.
Brianna retribuiu e depois riu, empurrando-me.
- Então vamos estudar.

Voltei minha cabeça para trás no intuito de resmungar,


mas outra coisa me chamou atenção. Havia um roxo
imenso na coxa de Brianna.

- O que foi isso? – encostei o dedo levemente e ela puxou o


short, cobrindo o machucado.
- Treino da equipe. A gente vive caindo.

Não fui capaz de dizer nada. Porque eu sabia que ela


estava mentindo. Eu conhecia contusões de treinos, e não
tinham marcas de dedos. Uma sirene soou na minha
cabeça, mas eu não queria acreditar naquela possibilidade.
E ainda mais, não queria imaginar que ela esconderia algo
de mim. Por outro lado, talvez ela não se sentisse
confortável em me contar coisas tão pessoais, ainda
estávamos nos conhecendo. Parecendo entender o que se
93

passava na minha mente, Brianna estendeu os braços no


meu pescoço e me beijou. Distraindo-me.

- Agora já chega. – se afastou. – Você achou que a gente ia


só namorar? Não, não. Eu realmente tenho dúvidas em
álgebra e você vai me ajudar.
- Vou ser recompensado depois?
- Vou pensar.

Depois de um bom tempo, Brianna colocou música


enquanto finalizávamos os deveres.

- One Direction? – resmunguei e dei um gole na Pepsi.


- Eles têm ótimos arranjos.

Bufei, zombando dela.

- É verdade! As músicas deles são perfeitas para nossas


coreografias. Escute Kiss You. – ela colocou a música que
falava e realmente parecia apropriada para uma dança de
líderes de torcida, e fiquei me perguntando se ela fazia
isso bem, dançar. Imaginava que sim.
- Você sempre quis ser líder de torcida?
94

- Sim. – sorriu. – Eu gosto da animação, é divertido. – deu


de ombros e ficou me encarando.
- O que?
- Você não fala disso com desprezo. Como se fosse idiota.
- Não acho idiota. É um tipo de esporte.
- As pessoas pensam que animadoras de torcidas são
todas como As Apimentadas. Sempre nos retratam como
as garotas más nos filmes, e a gente só está dançando e
fazendo acrobacias.
- As pessoas esperam um padrão para tudo.
- Sim. A garota loira má, capitã das líderes de torcida que
humilha as nerds.
- O asiático bom em matemática.
- Você é bom em matemática.
- Mas não tem nada a ver com minha descendência. –
demos risada. – Não existe esse padrão. Prova disso é a
Frances ser da sua equipe, ela não combina muito com
isso, e ainda assim é líder de torcida.
- Não porque ela quer. – Brianna riu. – Frances perdeu um
jogo de pôquer para mim e foi obrigada a fazer um teste
para a equipe. Nós apostamos isso.
- Líderes de torcida que apostam no pôquer. Isso sim é
fora do padrão americano.
95

- Nós somos um casal de “adversários”. – fez aspas. –


Estamos mesmo fora do padrão americano.
- Por falar nisso de casal. Casais vão a festas juntos, certo?
– sentei perto dela, passando os braços ao seu redor
depois de um beijo.
- Sim.
- Minha mãe e minha avó vão estar fora no fim de semana,
então chamei os caras para irem a minha casa, umas
amigas também, inclusive a Lexie, lembra-se dela?
- A gueixa?
- Isso.
- Queria que você fosse.

O corpo dela mudou de posição, afastando-se do meu


abraço.

- Não sei, Logan.


- Por que não? Vai ser divertido. Meus amigos vão gostar
de te conhecer. Você pode levar a Frances.
- Não quero bagunçar as coisas entre nossos times.
- Isso é sério? – inclinei-me. – O futebol é importante,
claro, mas nós estamos acima disso.
- É que tem a rivalidade e tudo mais. – começou a prender
o cabelo, respirando fundo.
96

- Tudo mais o que?

Ela demorou para responder.

- É recente. Meu término com o Scott é recente, meu


namoro com você é recente. Não quero as pessoas tirando
conclusões precipitadas.

Eu não dava a mínima para o que as pessoas diriam. Eu


gostava dela, ela de mim, e pronto. O que mais tinha a se
avaliar? Por outro lado, era evidente que o namoro de
Brianna tinha deixado marcas, ao que tudo indicava, até
físicas. Então eu não queria deixa-la desconfortável com
nada. Uma vez, Harlow me disse que as garotas
detestavam ser exibidas como prêmios, e lembrando a
forma como Scott se referia à ela como se fosse
propriedade ou beijando daquele jeito estranho, imaginei
que Brianna não iria querer nada que desse a entender que
eu a estava usando dessa forma.

Scott e eu não tínhamos nada em comum.

- Tudo bem. – balancei a cabeça. – A gente marca outra


coisa. – levantei da cama conferindo a hora. – Preciso ir.
97

- Logan, não. Não vá porque está bravo.


- Ei. – segurei seu queixo, beijando sua testa. – Não estou
bravo. Juro para você.
- Ok. – Brianna colou os lábios nos meus e deu um sorriso
nervoso. – Gosto muito de você, mais do que pensa.
- Você é perfeita.

Não iria encrencar com ela por algo tão pequeno.


98

- Você disse que ia chamar só uns amigos.

Fechei a porta do quarto da minha mãe com a chave.


Onde eu tinha deixado as nossas coisas de valor.

- É só um pessoal, mano. – L.J. me respondeu abrindo os


braços.
- Quase a escola toda está aqui. – retruquei andando pelo
corredor.
- Você é popular, Logan.
- Eu não popular, seu idiota. Você é. – apontei o dedo no
peito dele. – Você que chamou essa gente toda.
- Foram só umas pessoas. – riu. – Que chamaram outras e
... enfim. Você é atleta. Festa na casa do Fullback? A
notícia espalha.

As paredes tremiam com o som alto. Tinham improvisado


uma pista de dança no quintal dos fundos. A sala estava
lotada de gente jogando videogame. E o resto se espalhava
por aí. Tive que me espremer entre pessoas para poder
chegar a cozinha. O chão já estava todo emporcalhado.
99

Minha ideia de ter um domingo sossegado na manhã


seguinte seria substituído por uma faxina pesada, antes de
a minha mãe chegar. L.J. iria me ajudar, ele ia ficar com o
banheiro.

- Logan. Relaxa. Se diverte. Até o Toby está se divertindo.


Bebe uma cerveja. Beija alguma garota. Você parece estar
precisando. – colocou o braço ao meu redor. – Está cheio
de gatas aqui.

Até podia estar. Mas eu não estava observando. Só


pensava em uma garota, que não ia estar aqui.

A porta da sala rangeu e vi dois caras do time trazendo


um barril vermelho grande. Estava cheio e pesado, tanto
que escorregou da mão de um deles e caiu no chão. Não
quebrando por pouco. Quando ele ergueu o barril
novamente observei o desastre: tinham quebrado um vaso
de planta da minha avó que ficava na entrada. Os caras
continuaram andando, espalhando barro por todo lado.

- Não, cara.
100

Fiz uma careta e corri até a entrada, pegando um pano e


tentando amenizar o estrago.

- Vou contratar seus serviços de faxina.

Ergui meus olhos vendo Harlow e Lexie, bem arrumadas,


paradas diante de mim.

- Oi. – limpei as mãos no pano e levantei,


cumprimentando-as. – Foi um pequeno acidente.
- Achei que seria só o time. – Harlow olhou dentro da casa
no instante em que um som de algo quebrando soou.
- L.J.
- Ah. – ela ergueu as sobrancelhas. – Isso explica.
- Acho que não vou tirar meus sapatos. – Lexie comentou.
- Não. – respondi. – Você não querer fazer isso. – observei-
a melhor. – Você está bem?
- Sim. Eu só estou exausta. Vim da aula de dança.
- E mesmo esfolada ela fez questão de estar aqui. – Harlow
sorriu para Lexie que ficou vermelha. – Por que você não
entra? Te encontro depois.
- Tudo bem. – Lexie sorriu e passou por nós.
- Ela não para de falar no Aaron. – Harlow fofocou, rindo.
101

- Acho que ele está a fim também. – afastei-me da entrada


enquanto outras pessoas da escola que eu não tinha
chamado passavam por nós. – Mas não o vi lá dentro. O
que não quer dizer nada, porque têm umas 200 pessoas
nessa casa. – suspirei.
- Eles combinam. O Aaron é um cara doce, Lexie também.
- E você?
- Eu?
- Tem combinado com alguém por aí?
- Não. – ela riu e cruzou os braços por cima do top azul. –
Eu tenho um dedo podre. Melhor ficar longe de caras por
um tempo. Mas e você?
- Eu não tenho dedo podre.
- O que isso quer dizer?
- Tem uma garota ...
- Aaah! – Harlow tentava esconder seu lado garotinha,
mas às vezes ele aflorava. Como agora, em gritinhos. –
Quem é? Eu conheço.
- Hum. Não, ainda. – sorri de volta. – Ela é de outra escola.
É algo recente. Mas eu queria te contar.
- Os meninos sabem?
- Só o Aaron, mas não sabe que estamos juntos.
- Espera. – ergueu as mãos. – Você está me contando que
está namorando, primeiro para mim, ao invés dos seus
102

colegas de time? – assenti. – Por que? Vocês amam se


gabar disso.
- Você sabe que eu não sou assim, Harly.
- Você é um cara, Logan. Caras falam de suas conquistas
com seus amigos. Não sou tão ingênua a ponto de não
saber disso.
- Ela não é uma conquista. Brianna é diferente.

Pensei no som da risada dela, os gostos improváveis,


como eu gostava da forma que ela pensava. O carinho que
ela tinha com Josie e não ia ser hipócrita em não pensar
que a aparência dela também era um bônus. Brianna era ...

- Ai meu Deus você está apaixonado!


- Eu ... – gaguejei. – Quer dizer eu ...
- Está sim. Está tão apaixonado que nem consegue falar
isso. Os caras sempre hesitam quando é verdade. –
gargalhou e me puxou para um abraço. – Ah Logan, que
legal! Fico feliz por você.
- Fica? – meio que a soltei, percebendo que estava
espelhando o sorriso da minha melhor amiga.
- Faz ideia de como é raro pessoas na nossa idade terem
esse sentimento? Assumirem isso? Sim, estou realmente
103

contente. Quer conhece-la logo. – Harlow segurou meu


queixo. – Meu homenzinho cresceu.
- Cala essa boca, sou mais velho que você.

Gargalhei segurando as mãos dela como fazia desde


criança, mas não foi uma boa ideia.

Naquele instante, olhos verdes estavam nos encarando.


Não de uma forma boa. Assim como sou ágil em campo
para identificar lances, observei como a cena deveria
parecer pela perspectiva de Brianna: uma festa em minha
casa, que eu sabia que ela não iria poder vir, onde eu
estava abraçando outra garota de uma forma bem pessoal.

Oh-oh.

O cabelo loiro e comprido dela girou, assim como seu


corpo com jeans justo e uma blusa rosa por cima,
conforme ela puxava Frances de volta para o carro.

- Não! – exclamei e afastei-me de Harlow. – Brianna,


espera. Ei!
- Bri! – Frances que não deveria estar com frio, porque
estava vestindo um vestido fino apesar da temperatura
104

baixa da noite de novembro, puxou o braço da prima de


volta. Forçando-a ficar de frente para mim.
- Frances não.
- Brianna. – entrei no meio delas, notando a pouca
maquiagem no rosto dela, vendo sua beleza natural. – Oi.
– senti meu coração pular. – Você veio.
- Você já tem companhia eu vou...
- Não. Aquela é a Harlow. Minha amiga.
- Amiga. – bufou. – Não sou idiota, Logan. Frances,
vamos.
- Não. É verdade. Ela é irmã do meu amigo. Não tenho
nada com ela. – segurei seus braços.
- Sim. – Harlow apareceu entre nós. – Ele estava me
contando que está apaixonado por você.
- O que?

Meus olhos, normalmente pequenos, saltaram e senti meu


coração acelerar ainda mais.

- Diga a ela Logan.

Harlow e Frances de repente viraram amigas e


expectadoras da minha vergonha.
105

- Ah. – engoli em seco e olhei minha garota, que cruzou os


braços e ergueu o queixo com atitude, me fazendo querer
plantar um beijo nela. Sorri. – É, é isso aí. Estava contando
para Harlow que estou apaixonado por você, porque você
é diferente, linda, inteligente e que eu quero que todo
mundo saiba que eu sou seu.
- Logan.

No segundo seguinte os braços ela me rodeavam à


medida que eu dava o beijo mais intenso da minha vida.

- Escolho ser sua também, por isso estou aqui.


- Uhuu!

Frances e Harlow batiam palmas.

- Por mais românticos assim no mundo, obrigada! –


Frances berrou.
- Sim! Ei, quem é você? – Harlow apontou um dedo para a
prima de Brianna.
- Sua nova amiga. Vamos tomar uma cerveja que eu te
conto quem eu sou. – elas saíram juntas, rindo.
106

Se o Toby imaginasse a irmãzinha dele bebendo, iria ter


um ataque cardíaco. Frances + Harlow não me parecia
uma boa mistura. Por outro lado, Logan + Brianna, soava
perfeito.

- Você resolveu vir, então.


- Sim. – as mãos dela acariciavam meu cabelo recém-
cortado, como que aprovando o resultado. – Não queria
que você pensasse que eu queria manter isso escondido.
Ou que estava com vergonha de nós.
- Eu não pensei isso.
- Que ótimo. Porque não estou. Eu só preciso me
acostumar com esse tipo de namoro.
- Que tipo?
- Do tipo bom. – sorriu.
- Bom?
- Excelente.
- Caramba, assim eu vou ficar me achando.
- Só por hoje, gatinho. – beijei-a novamente.

Nós entramos em casa, Brianna segurava minha mão


conforme caminhei até onde os caras estavam jogando. 3
dos meus melhores amigos, os que ainda não conheciam
minha namorada, estavam observando um outro atleta,
107

do time de basquete, arrasar com um colega no jogo de


missão.

- Logan você tem que sentar aqui e ... Oi. – L.J. mudou
totalmente o que falava quando viu a garota do meu lado.
- Nem sonha. – bati no peito dele. – Essa é Brianna.
- Oi. – acenou, tímida.
- E aí? Sou o Fuentes.
- Eu sou L.J. – apontou o nosso Q.B que segurava uma
cerveja na mão, sem expressão no rosto. – Toby.
- L.J? – ela perguntou.
- Luke James, mas prefiro L.J.
- Você está com o Logan? – Fuentes deu um passo na
direção dela.
- Seja discreto, cara. – L.J. deu um tapa no braço dele.
- Para quê? Se não tiver, posso pegar ... seu número. –
Fuentes piscou e Brianna riu.
- Eu estou com Logan sim. – ela apoiou a mão no meu
peito, inclinando-se beijou meu queixo. – Sou namorada
dele.

L.J. e Fuentes começaram a fazer ‘sons de cara’ – não há


outra forma de definir isso e dizer coisas para me
108

humilhar na frente dela, de uma forma amigável. O único


que não teve reação foi Toby, o que em si, foi uma reação.

- Posso falar com você? – ele perguntou para mim.


- Claro, vamos...
- A sós. Na cozinha.

Minha postura endureceu, assim como minha expressão.

- Vai lá. – Brianna diminuiu o sorriso, mas se esforçou em


me deixar tranquilo.
- A gente cuida dela. – Fuentes gesticulou. – Já bebeu
tequila?
- O que acha do jogo da garrafa?
- Caras!
- Eu me cuido sozinha. – ela riu. – Vou procurar as
meninas.
- Ok.

Dei um beijo nela e fui atrás de Toby, sentindo que a


conversa não ia ser tão tranquila quanto à postura da
minha namorada.

- O que fo...
109

- Cara, você sabe quem é essa garota?! – abriu os braços.


- Sim. Brianna Swinton.
- Foi por ela que você brigou na outra noite?
- Não cheguei a brigar.
- Ela é dos Gladiators.
- Eu sei disso.
- Namorada de um deles.
- Não é mais.

Toby deu passo para trás e arregalou os olhos.

- Você roubou a namorada do Scott?


- Eu não roubei ninguém de ninguém, Toby. Eles não
estavam mais juntos.
- E aí você resolveu provocar o adversário. Está louco?
- Eu resolvi sair com uma garota gata e inteligente. Foi
isso. Não vem tirar minha paciência. – respirei fundo.
- Ela...
- Ela o que? – dei um passo e ficamos frente a frente, Toby
um pouco mais abaixo.
- Logan, você tem certeza disso? Pode dar uma droga
muito grande em campo. O Scott não joga limpo. Se ele
souber que você está com a menina dele, isso vai dar ruim.
Ele não presta.
110

Se ao menos Toby imaginasse o lance de Harlow e Scott ...


mas prometi à ela que não diria nada.

- Sei que ele não joga limpo. – mentalizei a marca na perna


de Brianna. – Sei muito bem disso. Mas meu namoro com
ela não tem nada a ver com ele. Não tem nada a ver com
ninguém.
- Nossas escolas são rivais, cara.
- É uma rixa imbecil, mano! O que todo mundo quer é se
formar e entrar na faculdade. Não é como se eles fossem a
Al-Qaeda, relaxa Toby.
- Você confia nela?

Eu sabia que Toby não estava fazendo por mal. Apenas


‘cuidando dos seus’ como nosso líder, mas aquilo já estava
me enchendo. Minha vida não era uma tragédia
shakespeariana com Montéquios e Capuletos, era só o
ensino médio, pelo amor de Deus.

- Como é?!
111

Pensei que a pergunta indignada tinha saído de mim. Mas


uma morena com olhos cinza-brilhantes possessos entrou
no meio da conversa.

- Ele está saindo com ela. Está apaixonado, claro que


confia, seu babaca. Você está falando da minha prima que
é a pessoa mais doce e honesta da face da terra. Então eu
sugiro que você dobre sua língua, não! Eu sugiro que você
dobre seu cérebro antes de formar um pensamento
duvidoso se quer da Brianna.
- Quem é você? – Toby só virou a cabeça para o lado,
encarando Frances como se ela fosse dos New York
Giants, time que a gente detestava.
- Sou a garota que está mandando você deixar o Logan e a
Brianna em paz.
- Mandando?
- Chega vocês. – interferi. – Meu namoro com a Brianna
não tem nada a ver com as escolas ou com vocês. Vocês
fazem parte apenas por serem nossos amigos, de resto, é
tudo entre mim e ela.
- Não interferindo no futebol.
- Ah meu Deus. Vocês quarterbacks são tão babacas.
112

Frances revirou os olhos e saiu da cozinha deixando-nos


num silêncio estranho.

- Ei.
- O que?
- Você está mesmo apaixonado?

Dei um sorriso. Foi incontrolável.

- Acho que sim, mano.


- Que droga, hein? – Toby falou rindo, e saiu balançando a
cabeça.

Mas não era uma droga. Era um sentimento novo e


empolgante. Ter Brianna ao meu lado durante a festa,
como minha garota, parecia um encaixe correto na minha
vida. Tocava Sweater Weather e nós estávamos dançando
no fundo quando ela pediu para que eu fosse jogar com os
caras. Fuentes já tinha me chamado duas vezes, mas eu
insistia em ficar com ela. Por fim, Brianna disse que não
queria ser chamada de Yoko Ono e me obrigou a ir.

Outras pessoas estavam na sala. Era meu jogo favorito, de


luta. Disputava contra Rick, um dos membros do jornal da
113

escola, amigo nosso que escrevia a coluna de esportes. A


verdade era que eu não estava jogando, estava detonando.
E ter Brianna sentada comigo, me vendo vencer dava um
gosto ainda melhor para a vitória. Isso me fez pensar em
como seria o jogo da próxima sexta. Será que ela torceria –
internamente – por mim?

- E toma esse!

Gritei, assim como os caras e algumas garotas, ao dar meu


golpe final. Então uma coisa anormal aconteceu. Enquanto
ergui meu braço para comemorar, fazendo um high-five
com Fuentes, em pé ao lado de Brianna que estava em
nosso meio ela se encolheu. Não se encolher do tipo dar
licença para nosso cumprimento. Não. Minha namorada
abaixou-se, colocando as mãos na direção da cabeça –
mãos trêmulas, dando um guincho baixinho que só eu
ouvi. Durou um segundo, e ela se recompôs. Levantando
ao dizer que ia buscar água. Fuentes me encarou,
deixando claro que tinha visto a reação dela.

Meu estômago ferveu e a bile veio à minha garganta. Eu


sabia porque ela reagiu assim. Scott batia nela.
114

- Vai! Vai! Vai!


- Branco 67! Branco 67!
- Retorno!
- 5 jardas! 5 jardas!
- Qual foi a parte de quarta descida que você não
entendeu, Fuentes?!

Os gritos do treinador Sanderson estavam nos


enlouquecendo. Ele e Toby pegavam mais pesado que o
normal, e o fim do treino que era para parecer um alívio,
virava tortura porque tínhamos que voltar para a sala de
musculação e treinar feito cavalos.

A escola toda estava no clima de competição. Todo


mundo contava com nosso desempenho na sexta para
aliviar-se do estresse das outras matérias. Além do jogo
estávamos na semana de prova, assim o nível de estresse
estava no mais alto grau.

Em um dos lances do treino, eu fazia o papel de impedir a


corrida de Aaron, um dos nossos Wide-receiver. Ele
115

apanhou a bola no ar, virou-se para correr, mas o


interceptei com uma jogada brusca. O que era comum.

O que não foi comum foi o urro que meu amigo.

Nós caímos, arrastando-nos pela grama. Aaron


abandonou a bola e cobriu a cabeça, gritando sem parar.
Xingando e batendo as pernas.

- Foster! – o treinador gritou com ele.


- Aaron! – engatinhei até ele puxando seu corpo. – Aaron,
cara!
- DROGA! Droga! – as mãos dele, com luvas estavam
escorregando enquanto ele tentava desesperadamente
tirar o capacete.

Meu coração parecia uma bomba relógio enquanto eu


ajudava-o, esperando ver o pior em seu rosto ou qualquer
outra coisa.

- Foster! – Toby e outros caras do time surgiram.


- DROGA! AAAAAAH! – Aaron estava com uma
expressão de choro, olhos fechados e posição fetal, ainda
mexendo o corpo. Segurando a cabeça com força.
116

- Aaron o que eu fiz? Cara, fala comigo! O que foi? –


estava com medo de tocar nele.
- Aaron. – Toby me empurrou para o lado, segurando as
mãos de Aaron, falando calmo com ele. – Ei cara, sou eu.
O que foi? Onde está doendo. Me diz.
- Minha cabeça. – Aaron chorou. – Droga, Toby, minha
cabeça.

Eu, Toby, L.J., Fuentes e o treinador, acompanhamos


Aaron até a enfermaria. No trajeto ele se acalmou, mas
ainda não falava muito. Por fim, o médico do time
também veio ajudar e esclareceu o que tinha acontecido.

Aaron estava com enxaqueca e decidiu treinar mesmo


assim. Com o forte impacto foi como se a cabeça dele
tivesse chegado ao limite. Os olhos dele estavam
avermelhados, assim como o resto do rosto. Fiquei me
sentindo mal, afinal, foi meu empurrão que desencadeou
tudo isso. Mas Toby me disse para não levar minha mente
nessa direção. A contragosto de Aaron, o treinador e o
médico proibiram Aaron de jogar na sexta.

Quando o médico e Sanderson saíram, ficamos só nós.


117

- Toby, faz alguma coisa cara. – ainda de olhos fechado,


com a luz do quarto apagada, Aaaron implorava a Toby. –
Eu tenho que jogar na sexta.
- E deixar você virar o novo meme de mind blown no
meio do campo? Sem chance.
- Ele tem razão, cara. – L.J. estava de braços cruzados ao
lado dele. – Você precisa ver esse cabeção.
- Você sempre reclama de dores de cabeça.
- Nós temos dores em todos os lugares. Futebol é jogo de
impacto. – retrucou.
- A culpa é minha.
- Não, Logan, não é cara. – Fuentes bateu no meu ombro.
- É sim. Aaron é menor e mais leve que eu. Fui muito
violento.
- Não me rebaixa desse jeito, japa. – Aaron resmungou. –
Não é culpa sua. Relaxa.
- A culpa não é sua se a barbie aqui é cabeça fraca.

Aaron nos xingou, mas acabamos todos rindo.

- Convidei a Lexie para ver o jogo na sexta.


- Aaaah. – falamos em uníssono.
- Então que bom que você não vai jogar e fazer vergonha
na frente da garota. – Toby comentou.
118

- Vergonha vai ser dizer que não vou jogar.


- Cara, não sei como vocês andam há tanto tempo comigo
e não sabem nada de mulheres. – L.J. se mostrou
indignado.
- Eu sei. – protestei. – Tenho uma namorada. – eles
fizeram som de nojo, me provocando.
- Aaron, você tem o golpe perfeito.
- Explica.
- Só se vocês reconhecerem meu poder com as garotas.
- Mano, seu ego não explode não? – Fuentes perguntou
rindo.
- Não enche L.J! – Toby deu um empurrão nele. – Fala
logo. Temos que subir.
- Toda menina adora um cara doente, otário.
- Doente e otário? – Aaron fez uma careta e os caras
reviraram os olhos. Fiz um sinal para eles terem paciência,
ele era meio lerdo mesmo, ainda mais com a cabeça
sacudida.
- As meninas gostam de cuidar da gente. Conta o que
aconteceu, chama ela para ir pelo menos assistir o jogo
com você. Lá da arquibancada. Se mostra tristinho porque
não pôde jogar. Ela vai até te dar um beijo de consolação.
- Não quero um beijo de consolação.
- Beijo é beijo, trouxa. – interferi.
119

- Odeio reconhecer, mas o L.J. tem razão.


- Sempre tenho, Q.B.

Nesse momento a enfermeira apareceu, mandando-nos


sair e avisando Aaron que a tia dele estava vindo busca-lo.
Nos despedimos dele e caminhávamos de volta para o
treino, quer dizer, a morte na academia agora.

Toby e L.J estavam mais a frente, quando Fuentes recuou


o passo, dando um toque me chamando.

- O que foi?
- Hum. Cara, posso fazer uma pergunta meio estranha?
- Faça.
- Não me leve a mal, mas ... hum ... – Fuentes coçou o
cabelo cacheado desgrenhado. – Você trata bem sua chica?
- Brianna?
- É.
- Sim. Por quê?
- Logan, você é um dos meus melhores amigos. Sempre te
vi sendo educado e tal. Você é o mais educado de nós, na
verdade. Então ... cara ...
- Fala!
120

- Sua namorada recuou quando você ergueu a mão,


Logan. Você viu, eu vi. Me diga, por el amor de Díos, que
você não machuca sua garota. Eu não quero que isso...
- NÃO! Claro que não.

Esfreguei meu rosto, com as emoções confusas,


entendendo meu amigo e me sentindo um pouco ofendido
por ele pensar assim. Mas o que mais ele pensaria?

- Aquilo não é normal, cara. Vai por mim. Eu sei.


- Como assim você sabe?
- Basta dizer que sei. Se não é você que faz isso então ...
- O ex dela. – confessei. – Acho que ele machucava a
Brianna, além de emocionalmente. – dizer aquilo fazia
meu pulmão fechar de raiva.
- Acha?
- Ela não falou disso comigo, mas eu desconfio. – tinha
certeza agora, mas era difícil falar em voz alta, tornaria
realmente realidade.
- Espera, o ex dela não é o Cornerback dos Gladiators?
- Ele mesmo.
- Oh. – Fuentes deu um sorriso amarelo. – Então você vai
jogar contra o cara que batia na sua garota?
121

- Vou. – respirei fundo. – Mas vou separar as coisas.


Deixei claro para o Toby que ela ser da escola rival não vai
interferir no futebol. Além disso, a Brianna está comigo
agora. Ninguém vai encostar um dedo nela. Não sem
quebrar a mão.
- Se você diz.
- Vocês vêm pegar peso ou não, seus fracotes?! – Toby
berrou da entrada da academia.

Na quinta, assim que o sinal do almoço soou, saí


literalmente correndo para o estacionamento. Cheguei em
tempo recorde na escola de Brianna, sorrindo ao encontra-
la parada na frente, usando a roupa de líder de torcida, me
esperando para almoçarmos juntos. Seria nosso único
tempo livre antes de jogo. Levei-a ao Babs, onde tínhamos
exatos 27 minutos juntos antes de voltarmos para os
outros períodos.

- Se você estudasse na minha escola, não precisaríamos ter


feito isso tudo. – ela bebeu o milk-shake de morango.
- Se você estudasse na minha escola, não precisaríamos ter
feito isso tudo.
122

Enfiei meu canudo no copo dela, e começamos uma


disputa para ver quem bebia mais. Claro que venci,
Brianna gargalhava.

- Seu esfomeado!

Beijei-a, achando ela linda.

- Compro outro para você.


- Não precisa. – ela encostou a cabeça no meu ombro. –
Mas é sério, se você fosse um Gladiator nos veríamos
todos os dias.
- Se você fosse uma líder de torcida dos Rhinos também.
- Não posso deixar a Frances.
- Nem eu posso deixar meus caras.
- Eu sei. Só estava pensando. – deu de ombros. – Gosto de
passar tempo com você.
- É o que namorar significa, gatinha.
- Você está todo engraçadinho hoje, não é?! – beliscou
minha barriga, bem onde ela sabia que eu tinha cócegas.
- Ai! – ri. – É só animação de pré-vitória.
- Pré-vitória?! – arregalou os olhos rindo. – Ora, ora que
rapaz mais convencido e autoconfiante. – beliscou
novamente.
123

- Para. – pulei no banco, segurando ela no canto, distribuí


beijos por seu rosto macio. – Bri, você vai torcer por mim
amanhã?

Brianna respirou fundo, encarou o teto e sorriu para mim,


daquela forma estonteante.

- Vou liderar a torcida dos Gladiators com todas as


minhas forças. – beijou minha bochecha. – Mas meu
coração vai torcer por cada movimento seu. – mexi no
cabelo dela. – Eu disse movimento, não os pontos.
- Você é má.
- Eu sou capitã das líderes de torcida da escola rival,
gatinho. Estou fazendo meu papel. – brincou.

Torcendo ou não por mim, isso não importava. Ao fim do


jogo, nós iríamos embora juntos. Porque estávamos acima
dessa rivalidade.

O ar de competição dominava qualquer respiração.

O som de música eletrônica dominava todo o campus e


torcida da escola dos Gladiators. As arquibancadas
124

estavam abarrotadas. Foi com muito esforço que consegui


avistar Aaron e Lexie sentados no lado esquerdo. Os times
já estavam cada um de um lado do campo, reunidos em
suas equipes, repassando informações.

Levantei a cabeça para as líderes de torcida de vermelho


do outro lado, tentando avistar minha garota, mas não
conseguia encontra-la.

- KEN! Foco nos passes deixe as meninas para depois! – o


treinador puxou meu rosto.
- Sim, senhor.

Notei L.J. dando uma risadinha, mas logo focamos no que


tínhamos que fazer.

A noite era nossa.

- No 3. – Toby exclamou. – 1.2.3.


- RHINOS! – berramos.

As líderes de torcida da nossa escola faziam uma


apresentação onde garotas cantavam uma música que
falava da Michelle Obama. Dei risada e continuei
125

esticando o pescoço, sem ver Brianna no outro lado. Nem


Frances.

Logo a voz do locutor chamou nossa atenção e entramos


em campo pulando e correndo. O time adversário fez o
mesmo e nos posicionamos.

Ataque x Defesa.

Scott estava na defesa. Mas não em minha direção, do


outro lado do campo.

Fechei meus olhos tentando voltar a focar e manter minha


paciência sempre tão presente.

Meu objetivo era jogar em equipe. Não trazer questões


pessoais para dentro do campo.

O apito soou e a partida iniciou.

Toby liderou nossos primeiros passes e conseguimos


avançar bem. A energia tomava conta de todos nós em
campo. Trocamos sinais e avançamos 3 jardas em poucos
126

minutos de jogo. A defesa dos Gladiators estava firme.


Não ia ser um jogo fácil. Mas nenhum de nós queria isso.

Gesticulei para Toby e L.J. O apito ecoou outra vez. Eu dei


um grito e a bola chegou em minhas mãos, numa jogada
ensaiada, corri, dei a volta e lancei para L.J, que desviou
de um dos adversários e lançou para outro jogador nosso.
Continuei correndo, desviando de um dos gordões e
esticando as mãos para um possível touchdown quando
fui derrubado. Enquanto o Safety me ajudava a levantar,
escutei gritos estranhos. Outra jogada ainda estava
acontecendo quando vi Toby correr e derrubar um
Gladiator, que por um triz não caiu sobre Frances.

Espera. Frances?

Tirei o capacete. As coisas estavam confusas e os


jogadores começaram a tumultuar.

- Para o jogo! Para o jogo!


- Frances?! – berrei e corri na direção dela.
127

Ela estava usando jeans – nenhuma peça de líder de


torcida – e correndo no meio do campo com uma
expressão violenta.

- Garota em campo!
- Frances!

No instante seguinte ela xingou algo e pulou em cima de


um Gladiator. Literalmente foi para cima dele.

Era Scott.

Ele se desvencilhou dela, fazendo Frances tropeçar e cair


de joelhos, enquanto tirava o capacete e gritava algo.
Tentei correr mais, e consegui escutar o som de um
punho.

Frances acertou, com toda sua força, um soco no meio do


rosto de Scott. Ela gritou de dor pela mão, e Toby passou
os braços pela cintura dela, enquanto se debatia ainda
tentando agarrar Scott.

- Frances! – cheguei perto, ofegante e assustado.


128

Todos os outros jogadores estavam ao redor.

- Vou matar você sua ... – Scott vociferou e deu um passo


na direção dela após cuspir sangue no gramado.
- EI! – num movimento rápido, Toby colocou Frances no
meu peito e se pôs entre ela e Scott.

Os jogadores começaram a discutir, assim como juízes e


outros membros dos times.

- Frances, o que foi? O que foi? – segurei seus ombros,


notando os olhos vermelhos de choro, uma expressão
atormentada combinada com tremores e falta de ar. –
Deus, Frances o que aconteceu? Se acalma. Você não pode
entrar aqui e ...
- Ele bateu nela! – gritou e se livrou do meu abraço. – Ele
bateu nela, Logan! – um soluço alto escapou dela.

Tudo ficou vermelho, meu coração palpitava como nunca


antes e um sentimento novo cresceu no meu peito. Sede
do sangue de Scott. De repente enxerguei tudo em câmera
lenta. Enquanto eu me virava para ver a discussão atrás de
mim, Fuentes arregalou os olhos dizendo ‘Não’, L.J. deu
um passo, abrindo caminho, Toby, que pareceu ver o que
129

aconteceria a seguir, reagiu correndo até Frances, tirando-


a do caminho, porque no milésimo seguinte, meus dedos
fechados encontraram o rosto de Scott. E eu não ia parar
até deformá-lo.

A briga se generalizou. Socos e empurrões para todos os


lados.

Gladiators x Rhinos.

- Logan, para! Para! – finalmente L.J. conseguiu me tirar


de cima de Scott que havia revidado e batido em mim
também.

Levantei, sentindo minhas costelas doerem e antes que


conseguisse assimilar algo da cena, ouvi um berro:

- Ken! Expulso!
- O que?
- Não! – Toby reagiu. – Não! Sr Juíz, tem que entender ...
- Expulsão! 38 dos Rhinos, fora do campo!
- Vestiário. AGORA! – treinador Sanderson puxou meu
colarinho com força, empurrando-me de volta. – Banho
frio, Ken!
130

Exatos 8 minutos entre banho e troca, eu estava saindo


pela outra saída do vestiário, por dentro da escola, indo
em direção ao estacionamento. No meio do caminho,
tentava ligar para Brianna ou Frances, mas continuava
sem contato. Os sons das pessoas no jogo pairavam sobre
minha mente, mas eu não conseguia pensar direito. Só
sabia que precisava ver minha namorada, logo.

- Logan!

Com a mão na maçaneta do carro, escutei alguém me


chamar.

Aaron, Lexie e Harlow corriam na minha direção.


Parando, um pouco ofegantes.

- Cara, o que foi que aconteceu?


- Você está bem?
- Preciso ver a Brianna.
- Logan, você foi expulso! – Harlow exclamou – Bateu no
Scott. O que foi ...
- Agora não, Harly. Falo com vocês depois.
131

Deixei-os falando e acelerei o máximo que pude.

A casa de Brianna ficava perto, então cheguei em poucos


minutos e já batia freneticamente na porta. Um homem
grisalho, mas com porte robusto abriu a porta. Com olhos
verdes avaliadores ele me encarou, esticando a cabeça.

- Sr Swinton, eu sou ...


- Logan. – completou, usando uma voz firme. – Brianna
me falou sobre você. Entra, espera na sala, por favor, vou
avisá-la.

O pai dela subiu as escadas enquanto caminhei até a sala.


Vendo Josie assistindo na TV, de costas para mim.

- Você deve ser Logan. – a voz de uma mulher adulta me


fez virar. – Eu sou Ava, mãe de Brianna.

Não sei porque imaginei que a mãe dela seria loira, mas
creio que os cabelos de Brianna tinha relação com a
aparência do pai, pois a Sra Swinton era morena, ela era
uma versão da Frances mais velha.
132

- Olá Sra Swinton. – cumprimentei-a, segurando sua mão.


– É um prazer conhece-la.
- Você está bem? – inclinou a cabeça para frente, focando
os olhos na minha boca.

Coloquei o dedo no lábio e senti úmido. Sangue. Franzi


meu rosto e uma luz de recordação me atingiu. O punho
de Scott contra meus lábios.

- Ah...
- Oi Logan. – Josie se materializou em nosso meio.

Usando pijamas de ovelhinhas, ela tinha os olhos um


pouco avermelhados e uma expressão confusa.

- Oi Josie. – abaixei-me diante dela. – Você está legal?

Ela cruzou os pezinhos com meias, colocou uma mão em


meu ombro e um dedinho no meu ferimento.

- Acho que você devia ter ensinado caratê para ela.

Minha garganta formou um nó e de repente eu fiquei com


muito medo de como Brianna estaria.
133

- Rapaz? – a voz do Sr Swinton veio da escada, conforme


ele descia. – Ela está te aguardando no quarto.

Imaginei que o que eu encontraria não era nada bom.


Afinal, essa não era uma frase que você ouviria do pai da
sua garota na primeira vez que o via. Dei um beijo na testa
de Josie e com o coração martelando, subi.
134

A porta estava aberta, Brianna estava sentada na cama


com as pernas cruzadas, o cabelo caía como uma cascata,
cobrindo seu rosto. Nas mãos ela tinha um livro qualquer,
que fechou assim que bati levemente na madeira.

- Oi.

Foi a primeira vez, desde a morte do meu pai, que senti


real vontade de chorar. O bolo em minha garganta ficou
ainda maior, e soltei um ofego incontrolável conforme
minha mão fechou-se num punho.

O olho direito estava totalmente roxo, o esquerdo possuía


aquela marca vermelha na parte branca do globo ocular, a
bochecha estava vermelha, uma macha roxa em seu
maxilar, e os pulsos marcados. Ela não tinha apenas
apanhado, Brianna levou uma surra. E eu senti que daria
outra em Scott.

- Vou mata-lo.
- Vem cá. – a voz saiu fina e ela bateu a mão no colchão.
135

Caminhei em passos lentos, fazendo o que ela tinha


mandado. Brianna segurou minhas mãos que tremiam,
seus olhos inundaram e eu a abracei, deixando-a chorar e
tentando acalmar a violência animal que estava em mim.

- Estou aqui. – sussurrei em seu cabelo que cheirava à


doce. – Estou aqui e você está segura, gatinha.

Ela secou os olhos com delicadeza, engoliu em seco e


segurou meu queixo.

- Você brigou.
- Não vamos falar de mim. – beijei sua testa, e seus lábios,
com bastante delicadeza. – Brianna. – encostei minha testa
à dela e fechei os olhos. – Bri ... ele ... – bile surgiu no
fundo da minha garganta. – Ele te feriu de algum outro
jeito? De alguma forma que eu não posso ver?

Se Scott tivesse...

- Não. – foi enfática, erguendo o rosto. – Não. Eu estou


bem.
136

Senti alívio, mas não por muito tempo. O rosto dela ainda
estava marcado, a violência podia não ter sido daquela
forma, mas ainda assim existiu. Deixando efeitos.

Ela segurou minhas mãos, brincando com meus dedos e


respirou fundo. Tomando coragem para me contar.

- Scott soube que estávamos juntos. Não que eu estivesse


tentando esconder, mas também não quis jogar nada na
cara dele. Ele nos viu indo almoçar juntos ontem, me
confrontou quando eu voltei para a aula, mas o deixei
falando. Daí, de noite, quando sabia que meus pais
estariam fora, ele veio aqui. Foi lá embaixo. Ele não estava
bêbado, nem sob efeito de nada. Veio apenas para me
perguntar de forma suja se eu estava com você. E eu sou
tão idiota que ainda me justifiquei para ele. – deu uma
risada triste.

Ela não era uma idiota. Era inteligente, decente, linda e


agora, uma vítima. Mas não por culpa dela. De forma
alguma uma mulher agredida era a idiota da história. Mas
não a interrompi com minhas opiniões. Deixei-a
desabafar.
137

- Quando Scott me acusou de trair ele com você, mandei-o


embora. Disse que não e que era um absurdo ele vir
cobrar isso de mim, quando ele me fez de boba tantas
vezes. Então eu ... – a voz dela embargou. – eu disse que
ele não deveria me procurar nunca mais, que não queria
nem a amizade dele porque ... porque ... estou apaixonada
por você. Foi aí que ... que ele me deu o primeiro tapa.

Primeiro.

- Foi tão forte que o outro lado do meu rosto bateu na


parede. Ele se assustou com a própria reação e deu um
passo, chorando, me pedindo desculpas, mas o empurrei,
gritando que ficasse longe. Ele se irritou, puxou meu
cabelo e foi tudo uma confusão. – lágrimas quentes dela,
molhavam nossas mãos unidas. – Socos, gritos, tentei
revidar, mas ele é muito forte. Ele me empurrou na
escada, foi quando bati aqui. – ergueu a blusa, mostrando
as costelas azuladas pelo baque, passei os dedos
levemente, sem conseguir respirar. – Segurou meus pulsos
e então ouvi Josie gritar. Ela estava aqui em cima,
desenhando. Eu tive tanto medo dele tentar machuca-la eu
... Deus, ele podia me matar, mas não encostaria um dedo
nela. Scott se assustou e foi embora. Correndo, como o
138

covarde que é. – segurei seu rosto com minhas duas mãos,


secando a umidade. – Meus pais chegaram 5 minutos
depois, enquanto eu ainda estava com sangue, tentando
acalmar o choro de Josie. Nunca a vi tão assustada. Ela só
tem 10 anos. – Brianna fez um silêncio, mas senti que diria
ainda mais. – Não quis ir à delegacia na hora, não estava
com cabeça. Só queria deitar e chorar. Não fui para a
escola, disse que estava com cólicas e minha mãe ficou
aqui comigo. Depois da aula, Frances apareceu aqui e foi
outra sessão de choro. Ela ficou tão revoltada que precisou
tomar um calmante. Ela ficou comigo até eu conseguir
pegar no sono e acordei agora, quando você chegou. Me
desculpa por não avis...
- Não. – coloquei o indicador no lábio dela. – Não quero
você se desculpando por nada. Você não tem que se
desculpar de nada. Eu sinto muito. – beijei sua bochecha. –
Meu Deus, eu sinto muito.
- Também não é culpa sua, Logan.
- Eu deveria ... eu ... deveria ter ... sei lá ... cuidado de você.
Prestado atenção. Percebi que Scott era abusivo desde o
dia da festa da Frances, mas você nunca falou disso
comigo e eu não quis ser invasivo. E agora você estava
comigo e eu nunca te machucaria. Mas deveria ter
pensado que ele ...
139

- Não tinha como você saber. Droga, não tinha como eu


saber.
- Eu deveria ter protegido você.
- Não Logan. – segurou minha nuca. – As garotas não
precisam que um cara nos proteja. Caras como o Scott que
precisam não nos bater.

Ela tinha razão.

- Ele fazia coisas pequenas, como gritos, puxões nos


braços, uma vez no meu cabelo. Coisas que já são demais.
Mas não achei que ... – gesticulou na direção do rosto.
- Você continua linda.
- Logan.
- Sim. Continua sim. Porque você lutou, Bri. E porque,
graças a Deus, você está viva. Você pensou na Josie. –
beijei-a. – Esses machucados vão sair, mas você ainda vai
estar aqui, ainda mais forte.

Brianna voltou a chorar, se abraçando a mim. Não


conseguia imaginar como o emocional dela devia estar,
mas sabia que o que estivesse ao meu alcance para ajuda-
la a ficar melhor, eu faria.
140

- O que aconteceu com você? – perguntou depois de me


beijar.
- Bri. – puxei meu ar, encarando seus olhos, ignorando
seus hematomas para não focar no meu furor. – Frances
invadiu o campo durante o jogo. Socou Scott, virou uma
bagunça e quando ela me disse o que tinha acontecido eu
bati nele. Fui expulso do jogo.
- Oh meu Deus.
- Está tudo bem, gatinha. – a abracei. – Eu bati pouco nele.
- Logan, sinto muito. Sei como o jogo era importante para
você.
- Já disse que não quero você se desculpando. E sim, o
jogo era importante, mas você é mais Brianna. Eu amo
você. – confessei, sem um pingo de medo. – Eu te amo, e
isso nunca mais vai te acontecer. Isso. – tracei os
machucados dela com beijos. – Nunca devia ter
acontecido. Nunca mais vai acontecer.
- Eu também amo você. – me beijou, chorou e depois
sorriu. – Obrigada.

Ficamos uns segundos abraçados, até Brianna murmurar


em meu peito:

- Preciso fazer algo. Scott tem que pagar.


141

Nós estávamos chegando à delegacia.

Brianna com o pai dela, no carro deles, e eu seguindo no


meu. Quando estacionei e desci tive uma surpresa.

Lexie e Aaaron estavam sendo conduzidos por uma


policial a gentilmente entrar no prédio. Próximo à escada,
um policial imenso estava quase que grudado à Frances e
Toby, usando uma camiseta branca velha e as calças do
uniforme, estava ao lado dela.

- O que está acontecendo? – Brianna veio perto de mim.


- Não sei. – cruzei nossas mãos.
- Esperem aqui.

O pai dela ordenou e foi até onde Frances estava, ela


encarou o tio com olhos de alívio. Eles conversaram um
pouco e logo Toby veio até nós.

A noite estava fria e escura, quando meu Q.B deu outro


passo, enxerguei o susto nos olhos dele ao notar os
machucados de Brianna.
142

- Eu sinto muito, Brianna. – Toby a abraçou e ela apenas


balançou a cabeça, agradecendo.
- Cara, o que está havendo? – perguntei. – A Lexie e o
Aaron entraram lá. Era para vocês estarem no jogo ainda.
- Por que Frances está aqui?
- O carro do Scott pegou fogo.
- O que?! – questionei.
- Alguém se machucou?
- Não, foi só o carro. – Toby cruzou os braços e virou de
costas para a delegacia, fazendo-nos girar. – Suspeitam da
Frances. Ela sumiu logo depois de ter batido nele no
campo.
- Ai meu Deus. – Brianna tremeu, e passei meu braço na
cintura dela.
- Aaron, Lexie e a Harlow procuravam por ela quando
encontraram o carro em chamas. Minha irmã foi avisar no
jogo que acabou parando, enquanto os outros dois iam
atrás de extintores. Eu sabia que ia dar alguma droga
quando ouvi as sirenes, então mandei L.J. levar a Harly
embora. O Fuentes correu para ajudar no fogo e fui
procurar a Frances. A encontrei vindo da biblioteca sendo
segurada por um policial, o que era ridículo, ela não
estava tentando fugir nem nada, mas o Scott acusou de ser
143

ela, dizendo que ia fazer o boletim de ocorrência. Lá fora,


a polícia fazia perguntas e trouxe Aaron e Lexie como
testemunhas. Eu peguei o carro e vim junto. O policial
estava tentando ligar para o pai dela, como é menor e está
sendo suspeita, precisa de autorização, e então vocês
chegaram.

CARAMBA!

- Meu tio está trabalhando na California.


- E a mãe dela? – Toby perguntou.
- Morreu quando Frances era bebê. – Brianna virou-se
avistando a prima. – Meu pai vai responder como
responsável dela. Toby, ela fez isso? Ela pôs fogo no carro
dele?

Um carro preto blindado chamou nossa atenção, ao


estacionar ao lado do meu. Senti o corpo dela retesar, se
grudar mais a mim e logo entendi o porque. Scott e um
cara de terno saíam do carro como se estivessem num
seriado. Como se fossem donos do lugar. Meu ódio
atingiu um nível nunca sentido antes, mas o tremor de
Brianna falou mais alto.
144

Eu estava aqui por ela, e ficaria ao lado dela. O tempo


todo.

Quando Scott nos viu, os olhos dele endureceram de algo


mais do que medo, era pânico. Como o inútil que era, ele
chamou o homem e começou conversar.

- Quem é aquele?
- O pai dele.
- Ele estava no jogo. – Toby informou.
- Claro que estava. – Brianna murmurou. – O pai dele é o
advogado da escola.

O pai do Scott olhou rapidamente na direção dela, e fez


um rosto assustado. Depois ficou de costas, mas pela cara
de Scott, ele estava levando uma bronca.

Não era uma bronca que um bastardo agressor de


mulheres merecia. Era cadeia. Simples assim.

Meus olhos estranharam quando vi o Sr Swinton


caminhar com muita dureza na direção deles dois. A mão
dele estava em formação de soco e tive que intervir. Foi
145

poucos segundos entre deixar Brianna com Toby e entrar


na frente do pai dela.

- Senhor, por favor, estamos na frente da delegacia. –


segurei seus ombros.
- Vou matar aquele moleque.
- Eu sei. Eu sei. O senhor tem toda razão em se sentir
assim. Mas precisa pôr a cabeça no lugar.

O homem parecia um vulcão que já tinha estourado. Eu


não ia conseguir contê-lo por muito tempo.

- Jeremy. – o pai de Scott chamou atrás de mim.


- Vou estourar o crânio do seu filho, Mason. Olha para o
rosto dela!
- Scott cometeu um erro.

O QUE?

- Você está brincando comigo?! – Sr Swinton deu mais um


passo.
- Pai. – Brianna apareceu ao lado, quase chorando, Toby
voltou para o lado de Frances. – Pai, a polícia está ali, por
favor, não seja preso.
146

- Brianna.
- Pai, por favor.
- Ok. – ele ergue as mãos para mim, então o soltei e
formamos uma roda.
- Eu sinto muito Brianna. – Mason inclinou as mãos na
direção dela, mas o pai de Brianna o olhou como se fosse
guardar os membros dele no bolso. – Scott está ...
- Não me importo com o verme do seu filho. – ela cuspiu.
- Você pretende prestar queixa?
- O que você tem a ver ... – Sr Swinton começou, mas foi
interrompido.
- Se você denunciar o Scott, ele vai acusar a Frances.

Choque nos tomou.

- Espera ... o que?


- Acuse meu filho e sua prima vai pagar. É óbvio que foi
ela. Todo mundo a viu atacar ele no meio do campo.
- Meu Deus, Mason, você é pior do que ele.
- Estou tentando proteger meu garoto.
- Seu garoto não precisa de proteção, ele precisa dos meus
punhos esfolando a cara dele. – interferi avistando Scott,
de cabeça baixa, perto do carro.
- Filha você não...
147

- Se Scott falar comigo de novo, eu acabo com ele.


- Brianna, não. – falei, segurando o braço dela.
- Ele não vai mais te incomodar.
- Ok. Feito. – ela suspirou, soltou-se de perto de mim e foi
até Scott.

Segui-a sem parar. Ainda não aceitando aquela decisão.


Ela se sacrificou por Frances. Aquilo estava errado. Era
honrado da parte dela, mas ainda assim honrado.

- Bri eu ...
- Cala a sua boca, Scott. – Brianna tremia, mas estava de
cabeça erguida. – Essa é a última vez que vou falar com
você. Nunca mais se aproxima de mim. Nunca mais.
- Se olhar para ela de novo, coloco fogo em você. – o pai
de Brianna estava atrás de nós, ele colocou a mão no
ombro dela. – Vem sweetheart, vamos pegar sua prima e ir
para casa.

Brianna me abraçou – na frente de Scott – e saiu. Frances


tinha um semblante confuso enquanto o pai de Scott
falava com o policial ao lado dela.
148

- Vou falar isso só uma vez: respire ao lado dela mais uma
vez, e você não vai respirar nunca mais.

Scott não disse nada, ficou apenas me encarando, com seu


rosto marcado de hematomas.

- Nós vamos quebrar você. Fora do campo. – a voz de


Toby soou atrás de mim.
- O que está havendo? – o pai de Scott apareceu.
- Nada, pai. – o covarde baixou os olhos e entrou no carro,
saindo.

O carro do Sr Swinton também passou e pude ver que


Frances e Brianna discutiam lá dentro, antes de sumirem
da minha vista. Esfreguei meu rosto, estressado e
angustiado como nunca, por tudo o que aconteceu. Não
era esse o desfecho que esperava.

- Vamos esperar o Aaron e a Lexie?

Fiz que sim com a cabeça e sentei na escada da delegacia,


deixando a cabeça baixa entre as pernas.

- Sinto muito, cara.


149

Não consegui falar nada. Parte de mim desejava pegar


meu carro, correr a toda velocidade e bater de frente com
o do Scott e seu pai. Imaginá-lo morto fazia bem para
mim. Mas eu sabia que violência não era a solução. A
única coisa que podia ser feita agora, era cuidar de
Brianna. Fisica e emocionalmente. Não sendo semelhante
à Scott em nada.

- Ela vai ficar bem.


- Vai. – murmurei. – Ela é forte.

Toby respondeu uma mensagem de texto e sentou do meu


lado.

- Ganhamos? – perguntei.
- O jogo estava a 16 a 7. Então diria que sim.
- Certo. – assenti. – Eu disse para você que manteria esse
drama fora do campo e ...
- Que isso, Logan. Não. Você fez o que devia. Scott
merecia mais.
- Parece que Frances cuidou disso. Foi ela mesmo?
150

- Não sei, mas apostaria que sim. Você viu aquele soco?
Ela quase quebrou a própria mão batendo nele e ainda
assim foi para cima. Nunca vi isso na minha vida.
- Duvido que ela esteja arrependida.
- No lugar dela, eu não estaria. – Toby olhou para frente,
imitando minha posição. – O que você vai fazer?
- Eu vou ser bom para ela, cara. É tudo o que vou fazer.
Amar a Brianna.
151

Epílogo

BRIANNA

Encarei o espelho do banheiro: meu rosto estava bem


melhor. A única marca que ainda aparecia era a do olho
direito, mas os hematomas no maxilar tinham sumido.
Afinal, mais de 20 dias tinham se passado. Porém, se eu
fechasse os olhos, conseguia reviver cada segundo
daquela noite.

Era difícil dormir sem acabar tendo pesadelos, ou evitar os


tremores que vinham do nada. Mas de acordo com a
psicóloga, eu estava me saindo bem. Realizando tarefas
diárias e conversando abertamente sobre o ocorrido
sempre que queria.

Minha família me ajudava, especialmente Frances. Eu


sabia que boa parte dessa ajuda da parte dela vinha com
culpa atrelada. Culpa essa que ela não deveria sentir, mas
lidar com sentimentos nunca foi o forte da minha prima.
Quando fui para a delegacia, imaginava retornar com uma
conclusão totalmente diferente. Scott sendo acusado, eu
152

indo ao hospital para comprovar as agressões, e


futuramente, depois de um tribunal, conseguir uma
ordem de restrição contra ele. Mas já era hora de saber que
nada na minha vida era como eu imaginava. E ao receber
a proposta do pai dele, ainda que tenha sido sórdida, a
coisa certa a fazer era proteger Frances.

A acusação dela com relação ao carro de Scott causaria


efeitos em tudo. Frances teria de responder judicialmente,
talvez até sendo presa. A carreira política do meu tio, pai
dela, ficaria afetada, assim como a dos meus pais que são
advogados dele. E Frances já tinha recebido punição
suficiente ao ser expulsa da escola, não pelo fogo, mas por
bater em um aluno. O que era irônico, considerando o que
Scott fez comigo. De qualquer forma, a solução tinha sido
essa, e eu não me arrependia de ter feito o que estava ao
meu alcance para protegê-la. Tudo o que Frances fez foi
para me defender, eu a amava por isso.

No fim das contas, tanto eu quanto ela estávamos livres de


Scott, quem eu nunca mais vi. Por conta da expulsão,
Frances teve de entrar na Woodland. E a ideia de voltar
para a mesma escola que meu agressor, deixava-me em
pânico, assim, eu também fui para a Woodland. O que não
153

era nada ruim. Minha prima estava comigo, já tinha


amigos lá e bom, Logan. Não precisava dizer mais nada.

Saí do banheiro e voltei para o quintal de casa, ficando


feliz ao ver todos:

Meu pai e meu tio conversando ao lado da churrasqueira.

Minha mãe e Frances ao lado, olhando o mesmo que eu:

Logan ensinando Josie um golpe de caratê que ele tinha


visto no Youtube. Ela dava risada enquanto ele a erguia
dizendo que era assim que as pessoas voavam quando
eram atingidas por golpes.

Cada ação dócil e pacífica de Logan, fazia meu coração


recuperar a fé mais um pouco. Eu o amava, não tinha um
pingo de dúvida. E sabia que eu era importante para ele
da mesma forma. Na sexta, quando jantamos com a
família dele, consegui ver mais do cara decente que ele
era, o que me emocionava.

Ter Logan ao meu lado nessa fase foi crucial para o auxílio
em minha recuperação. Ele era maravilhoso e amá-lo não
154

exigia nenhum esforço. Logan me fazia apaixonar por ele


sem ter drama, angústia nem nada do tipo. A gente se
desentendia, como qualquer casal. Mas era leve, e acima
de tudo, amar Logan Ken era seguro.

FIM

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