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Tema:

Anorexia e Bulimia Nervos

Discente:

Aida Cuinica

Eni Matomo

Esperança Mahalambe

Olga António Macou

Maputo, Setembro de 2019


Tema:

Anorexia e Bulimia Nervosa

Curso de Nutrição e Segurança alimentar

Discente:

Aida Cuinica

Eni Matomo

Esperança Mahalambe Trabalho a ser entregue na disciplina de


Patologia Geral, para efeitos de avaliação.
Olga António Macou
Docente: Dr. Gabriel.

Maputo, Setembro de 2019


Índice

1- Introdução...............................................................................................................................1

1.1- Objectivos do trabalho.........................................................................................................1

1.2- Metodologia de pesquisa.....................................................................................................1

2- Referencial teórico..................................................................................................................2

2.1- Definição de conceitos-chave..............................................................................................2

2.2- Transtornos alimentares.......................................................................................................3

2.3- Surgimento da Anorexia nervosa........................................................................................3

2.3.1- Surgimento da Bulimia nervosa.......................................................................................4

2.4- Abordagem geral da anorexia e bulimia nervosa................................................................4

2.4.1- Anorexia nervosa..............................................................................................................5

2.4.2- Bulimia nervosa................................................................................................................6

2.5- Bulimia nervosa: Aspectos psicológicos e tratamento em psicoterapia..............................7

2.6- Anorexia nervosa: Aspectos psicológicos e tratamento em psicoterapia............................9

3- Conclusão.............................................................................................................................12

4- Referências bibliográficas....................................................................................................13
1- Introdução

Segundo BARBOZA et al., (2011) e BORGES et al., (2006) afirmam que actualmente, a
sociedade impõe um estereótipo de beleza que exige pessoas cada vez mais magras e com
corpos bem definidos. Em busca desse ideal, muitos indivíduos desenvolvem transtornos
alimentares. A anorexia nervosa e a bulimia nervosa destacam-se entre os principais
distúrbios alimentares. Os transtornos alimentares são caracterizados por distúrbios
psiquiátricos que levam a graves danos psicológicos e sociais. Normalmente afectam, em sua
maioria, adolescentes e adultos jovens do género feminino (CORDÁS, 2004).

Entretanto, neste trabalho pretende abordar os temas relacionados com a Anorexia e Bulimia
nervosa onde serão apresentados diversas contribuições de vários autores sobre o tema. Neste
sentido, o tema é de fundamental importância na formação dos estudantes do curso de
nutrição, pois é frequente esse profissional se deparar na sua prática com essas
psicopatologias. Além disso, estudar anorexia e bulimia nervosa possibilita diagnósticos mais
acertados, tratamento adequado, ajuda necessária e informações importantes aos pacientes e
seus familiares sobre os procedimentos a serem feitos sobre o tratamento de tais transtornos.

1.1- Objectivos do trabalho

Objectivo geral

 Compreender os aspectos relacionados com a anorexia e bulimia nervosa.

Objectivos específicos

 Definir anorexia e bulimia nervosa;


 Descrever as características da Anorexia e Bulimia nervosa;
 Descrever os procedimentos usados no tratamento psicoterapêutico da Anorexia e
Bulimia nervosa.

1.2- Metodologia de pesquisa

Quanto aos meios, esta pesquisa pode-se classificar como sendo uma pesquisa de natureza
bibliográfica uma vez que toda ela se baseou em material publicado através de artigos, pese
embora alguns não foram citados nesta pesquisa, mas servirão de suporte. Portanto, trata-se de
uma revisão de literatura científica onde foram utilizados artigos indexados nas bases de
vários autores.
1
2- Referencial teórico

2.1- Definição de conceitos-chave

a) Anorexia nervosa

De acordo com CORDÁS (2004) a anorexia nervosa (AN) é caracterizada pela perda de peso
intensa e premeditada à custa de dietas rigorosas. O autor citado acima acrescenta ainda que
na anorexia nervosa há uma busca desenfreada pela magreza, uma distorção grosseira da
imagem corporal e alterações do ciclo menstrual.

Para FONSECA et al., (2012, p.162) a anorexia nervosa é um distúrbio da saúde mental e faz
parte do grupo de transtornos alimentares que também engloba a bulimia nervosa e suas
variantes.

No entender do grupo de estudo, anorexia nervosa é caracterizada pelo desejo de perder peso,
ou emagrecimento corporal. Por outras palavras, podemos dizer que estamos diante de uma
anorexia nervosa quando existe uma tendência em a pessoa não se alimentar normalmente
com a tendência de emagrecer. De referir que este é um fenómeno acontece naquelas pessoas
que pretendem ser modelos ou “super modas”, porque ninguém vai querer ver uma modelo
gorda ou obesa.

b) Bulimia nervosa

Segundo CORDÁS (2004) bulimia nervosa (BN), em contrapartida, caracteriza-se pela


ingestão de grandes quantidades de alimentos, acompanhada de vontade incontrolável de
comer, seguida de sentimento de culpa e acções compensatórias inadequadas, como o uso de
laxantes, diuréticos e o vómito auto-induzido.

Para OLIVEIRA-CARDOSO, COIMBRA e SANTOS (2018) a Bulimia Nervosa caracteriza-


se por compulsão alimentar periódica e adopção de métodos compensatórios inadequados
para evitar ganho de peso, como vómitos auto-induzidos, uso de laxantes, diuréticos e
enemas.

De acordo com as contribuições dos autores acima, o grupo entende que a Bulimia nervosa é
quando a pessoa alimenta-se bastante, entretanto, induz vómitos para que o alimento seja
expulso do organismo através, isto é, estamos diante de uma Bulimia nervosa quando há

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ingestão compulsiva de grande quantidade de alimentos, com sensação de pouco ou nenhum
prazer, seguida por sentimento de culpa.

2.2- Transtornos alimentares

Levando em consideração as ideias SANTOS et al., (2015) afirmam que os transtornos


alimentares são caracterizados como quadros psiquiátricos que levam a graves danos
psicológicos e sociais. Para CORDÁS (2004) os transtornos alimentares são caracterizados
por distúrbios psiquiátricos que levam a graves danos psicológicos e sociais. Afectam, em sua
maioria, adolescentes e adultos jovens do género feminino.

Assim, para SANTOS et al., (2015, dentre os principais transtornos destacam-se a anorexia
nervosa e a bulimia nervosa, que têm como característica comum a preocupação excessiva
com o corpo e o medo intenso de engordar.

O mundo aprecia a feminilidade e agrega o sucesso à magreza, o que tem levado as pessoas a
praticarem dietas rigorosas e descontroladas para chegarem ao peso ideal. Segundo
MORGAN e AZEVEDO (1998) foi constatado, através de estudos científicos, que pessoas
que fazem dietas apresentam um risco até 18 vezes maior para o desenvolvimento de
transtornos alimentares em comparação com aquelas que não o fazem. Os transtornos
alimentares, descritos como alterações do hábito alimentar, levam a graves prejuízos
biopsicossociais e elevado índice de letalidade e morbidade.

2.3- Surgimento da Anorexia nervosa

Dos principais transtornos do comportamento alimentar, a anorexia nervosa (AN) foi a


primeira a ser descrita já no século XIX e, igualmente, a pioneira a ser adequadamente
classificada e ter critérios operacionais reconhecidos já na década de 1970. Assim, segundo
CORDÁS (2004) o primeiro caso de anorexia foi descrito em 1694 pelo médico Richard
Morton que é tido como autor do primeiro relato médico de anorexia nervosa, descrevendo o
tratamento de uma jovem mulher com recusa em alimentar-se e ausência de ciclos menstruais,
que rejeitou qualquer ajuda oferecida e morreu de inanição.

O autor mostra-se profundamente intrigado pela indiferença que a paciente demonstrava em


relação ao seu estado crítico e pela preservação de suas faculdades mentais básicas.

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Na segunda metade do século XIX, a anorexia nervosa emerge como uma entidade autónoma
e delineada a partir dos relatos do francês Charles Laségue (1873) que descreve a anorexie
histérique (p.155).

No ano seguinte, William Gull descreve três meninas com quadro anoréxico restritivo com o
nome de “apepsia histérica”. A discussão sobre a primazia do relato inicial do quadro é mais
uma das longas novelas médicas existentes sobre paternidade de ideias (Van der Ham et al.,
1989 citado por CORDÁS, 2004).

Em 1903, Janet relata o caso de Nadia, uma moça de 22 anos de idade, que manifestava
vergonha e repulsa ao seu corpo com constante desejo de emagrecer, quadro que denominou
de anorexie mental. O autor relacionou a busca intensa da magreza à necessidade de protelar a
maturidade sexual e sugeriu dois subtipos psicopatológicos, obsessivo e histérico.

2.3.1- Surgimento da Bulimia nervosa

O termo boulimos já era usado séculos antes de Cristo. Hipócrates o empregava para designar
uma fome doentia, diferente da fome fisiológica.

Em 1743, James descreve a true boulimus para os episódios de grande ingestão de alimentos e
preocupação intensa com os mesmos, seguidos de desmaios e uma variante chamada caninus
appetities, com vómitos após estes episódios (Habermas, 1989 citado por CORDÁS, 2004).

Crisp (1967) citado por CORDÁS 2004) descreve episódios bulímicos e vómitos auto-
induzidos em algumas de suas pacientes com anorexia nervosa.

Assim, a descrição de bulimia nervosa, tal como conhece-se hoje, nasce com Gerald Russell
(1979) em Londres, a partir da descrição de pacientes com peso normal, pavor de engordar,
que tinham episódios bulímicos e vómitos auto-induzidos. Como algumas dessas pacientes
haviam apresentado anorexia nervosa no passado, considerou, em um primeiro momento, que
a bulimia seria uma sequela desta.

2.4- Abordagem geral da anorexia e bulimia nervosa

A anorexia nervosa e a bulimia nervosa estão intimamente relacionadas por apresentarem


como sintomas comuns a preocupação excessiva com o corpo e o medo de engordar
(BORGES et al., 2006).

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De acordo com DSM IV (2002, p.583) estima-se que a anorexia nervosa acometa 1% das
mulheres entre 12 e 25 anos, sendo mais comum em indivíduos da classe económica alta. Em
contrapartida, a bulimia nervosa é mais comum do que a anorexia nervosa, com prevalência
de 1% a 2% e idade média próxima de 20 anos. Esse distúrbio, no entanto, acomete mulheres
de todas as classes socioeconómicas.

2.4.1- Anorexia nervosa

Em relação a anorexia nervosa, muitos autores como (BORGES et al., 2006; TRAEBERT &
MOREIRA, 2001; APPOLINÁRIO & CLAUDINO, 2000) são unânimes em afirmar que a
AN frequentemente inicia-se na infância ou adolescência e é demarcada por grande perda de
peso, advinda de severa restrição alimentar. Já segundo o DSM-IV (Manual diagnóstico e
estatístico de transtornos mentais, 2002) e o CID 10 (Classificação Internacional das
Doenças), quatro critérios devem estar presentes para que seja dado um diagnóstico definitivo
de anorexia nervosa:

a) Redução do peso corporal, em pelo menos 15% abaixo do esperado;


b) Perda de peso por eliminação de alimentos ricos em carboidratos e utilização de
métodos purgativos;
c) Distorção da imagem corporal quando, mesmo com peso inferior, o indivíduo se vê
gordo e alterações endócrinas generalizadas, manifestadas em mulheres por ausência
de pelo menos três ciclos menstruais consecutivos e, em homens, pela perda de
interesse e potência sexual.

Na perspectiva de CORDÁS e CLAUDINO (2002) afirmam que a anorexia nervosa pode


apresentar dois tipos clínicos, conhecidos como restritiva ou purgativa. Na anorexia do tipo
restritiva, o indivíduo segue apenas dieta restritiva, não faz uso de métodos compensatórios e
pratica exercícios físicos em excesso. Já no tipo purgativa, o indivíduo come de forma
compulsiva, pratica purgações com uso de medicamentos e vómito auto-induzido. As
alterações bucais são mais frequentes na anorexia do tipo purgativa e seu prognóstico é pior,
quando comparada à restritiva-.

De acordo com ARANHA, EDUARDO e CORDAS (2008) estudos mostram que 53% dos
anoréxicos fazem jejum restritivo e 47% têm compulsão alimentar seguida de purgação.
Como consequência das práticas purgativas e desnutrição, o indivíduo pode apresentar, além

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das alterações bucais, várias complicações médicas, como anemia, osteoporose, alterações
endócrinas, arritmia cardíaca, dentre outras.

Em suma, de acordo com as várias contribuições dos autores referenciados, o grupo de


pesquisa compreendeu que na anorexia nervosa há recusa em manter o peso dentro dos limites
considerados normais para altura e idade, ou seja, há uma tendência de a pessoa querer
emagrecer; há medo de ganhar peso; há distúrbio grave da imagem corporal, medida
predominantemente da auto-avaliação, com negação da gravidade da doença; verifica-se
também a ausência de ciclos menstruais.

2.4.2- Bulimia nervosa

No que tange a Bulimia, TRAEBERT e MOREIRA (2001) relatam que este transtorno
alimentar apresenta como característica principal a ingestão compulsiva de grande quantidade
de alimentos, com sensação de pouco ou nenhum prazer, seguida por sentimento de culpa.
Com o objectivo de evitar tanto o ganho de peso quanto esse sentimento de culpa, o indivíduo
com bulimia utiliza-se de prática compensatória que envolve vómito auto-induzido, uso de
laxantes e diuréticos.

Na bulimia ocorrem os chamados episódios bulímicos, quando o paciente come


compulsivamente várias vezes ao dia e em curtos intervalos de tempo. O forte sentimento de
culpa faz com que ele force uma regurgitação (CORDÁS, 2004). Alguns pacientes chegam a
consumir alta quantidade de caloria, que varia entre 1000 e 5000, em pequeno espaço de
tempo.

No entanto, os alimentos preferidos são os de fácil acesso e com altas concentrações de


carboidrato (BUSSE & SILVA, 2004). Para APPOLINARIO (2000), em 90% dos casos é
registado o vómito auto-induzido, comprovando ser este o principal método utilizado pelos
bulímicos para livrarem-se das calorias e culpa. Em casos mais graves, podem ocorrer dez ou
mais episódios de vómito auto-induzido em um intervalo de 24 horas.

O diagnóstico da bulimia nervosa, é estabelecido segundo os critérios do DSM - IV e CID 10-


quando o indivíduo apresenta as seguintes situações:

a) Episódios recorrentes de compulsão alimentar em curto espaço de tempo e sentimento


de culpa ocorrendo pelo menos duas vezes na semana durante o período de três meses;
b) Preocupação persistente em comer;
6
c) Utilização de métodos purgativos para prevenir o ganho de peso;
d) Preocupação excessiva em engordar e
e) Realização de exercícios físicos e jejuns de forma descontrolada.

Segundo NETO (2003), os episódios bulímicos despertam sentimentos de tristeza, vergonha,


condenação. Estes, na grande maioria das vezes, levam o indivíduo ao isolamento social,
podendo desencadear quadros depressivos (MYERS, 1999). Em função dos quadros
psiquiátricos, pacientes bulímicos apresentam prognóstico pior quando comparados aos
pacientes anoréxicos.

Em suma, de acordo com foi exposto através das citações dos vários autores, compreendeu-se
que na Bulimia nervosa há episódios de ingestão excessiva de alimentos com sensação de
perda de controlo; verifica-se uma ingestão excessiva compensada por vómitos auto-
induzidos; há abuso de purgantes; tem-se verificado períodos alternados de falta de
alimentação (inanição); uso de drogas como diuréticos; acima de tudo, verifica-se uma alta
insatisfação com a forma do corpo e com o peso, etc.

2.5- Bulimia nervosa: Aspectos psicológicos e tratamento em psicoterapia

Para abordarmos os aspectos psicológicos e tratamento em psicoterapia da Bulimia nervosa,


trazemos as contribuições dos autores ABREU e FILHO (2004). Estes dois autores
desenvolveram seu artigo intitulado “Anorexia nervosa e bulimia nervosa: abordagem
cognitivo-construtivista de psicoterapia”.

Assim, de acordo com ABREU e FILHO (2004, p.179) afirmam que pacientes com bulimia
nervosa (BN) apresentam uma série de pensamentos e emoções desadaptativas a respeito de
seus hábitos alimentares e seu peso corporal. De maneira geral, pode-se afirmar que as
pacientes com BN apresentam uma auto-estima flutuante, fazendo-as acreditar que uma das
maneiras de resolver os problemas de insegurança pessoal é através de um corpo bem
delineado e, para alcançar seu objectivo, acabam por desenvolver dietas impossíveis de serem
seguidas.

Em outras palavras, esse tipo de pessoas, procuram “sanar” um problema emocional através
da adopção de estratégias imperativas de emagrecimento e, neste sentido, desenvolvem
atitudes radicais baseadas na ideia de que estar magra é um dos caminhos mais curtos para se

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obter a felicidade. Crêem, erroneamente, que ter o controlo de suas medidas lhes
proporcionará uma condição de segurança emocional.

Não conseguindo perceberem-se saciadas, ingerem alimentos até sentirem-se empanturradas.


Esta sensação de desconforto leva essas pacientes a algum tipo de purgação. Após estes
períodos de “purgação”, a retomada da condição de restrição calórica é iniciada (ABREU &
FILHO, 2004, p.181).

As premissas psicológicas envolvidas nestas práticas de comportamento baseiam-se na ideia


de que “ser magra é o mesmo que ser atraente, ter sucesso ou ser feliz”. Ocorre que esta busca
não se dá apenas pela causa corporal. É comum encontrar pacientes com BN exibindo atitudes
caóticas, não somente em relação a seus hábitos alimentares, mas também um estilo de vida
desorganizado.

As famílias das pacientes com BN são descritas nas pesquisas como perturbadas, mal
organizadas, com dificuldade de expressão de afecto e cuidado (LASK, 2000 citado por
ABREU & FILHO, 2004).

No trabalho, as mesmas queixas são encontradas, muitas pacientes não sentem ter encontrado
ainda “a actividade de suas vidas”, engajando-se em rotinas que muitas vezes as privam do
interesse e do prazer.

Com tudo o que foi descrito, não é de espantar que tais pacientes busquem algo que nem elas
próprias sabem especificar. Como se pode ver através da literatura, em pessoas com a Bulimia
nervosa existe uma busca pela perfeição (auto-exigência). A auto-exigência é, assim, uma das
características dessas pacientes, pois, na medida em que a instabilidade ambiental torna-se
uma companheira sempre presente, a falta de um parâmetro fixo ou de um valor mais
solidificado torna o esmero pessoal (embora sazonal) um elemento primordial na definição
dessa identidade incompleta (filha, mulher, profissional etc.).

De um modo específico, os aspectos psicológicos relacionados com a Bulimia nervosa


segundo a perspectiva de ABREU e FILHO (2004, p.180) são:

a) Baixa auto-estima;
b) Pensamento do tipo “tudo ou nada” (ou seja, funciona através dos valores opostos);
c) Ansiedade alta;
d) Perfeccionismo;
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e) Incapacidade de encontrar formas de prazer e satisfação;
f) Busca de problemas nas coisas;
g) Exigência alta; e
h) Incapacidade de “ser feliz”.

Quanto aos tratamentos segundo ABREU e FILHO (idem, p.180) em cada encontro, um eixo
temático é abordado, fazendo com que as pacientes consigam progressivamente reapropriar-se
do controlo e do manuseio da sua vida emocional e, consequentemente, reorganizar seus
hábitos alimentares.

Desse modo, um plano de trabalho é estabelecido, e as pacientes convidadas a participar são


avaliadas semanalmente. A sequência dos eixos temáticos do programa de psicoterapia é o
seguinte:

Semana 1 Apresentando o programa e aplicação de inventários


Semana 2 Compreendendo a fome
Semana 3 e 4 Minha fome e suas consequências: as crenças envolvidas
Semana 5 e 6 A desordem alimentar e(m) minha vida
Semana 7 A imagem corporal idealizada
Semana 8 e 9 A percepção subjectiva da imagem corporal
Semana 10 O processo de mudança: quem e como quero ser?
Semana 11 Entendendo as emoções “ruins”
Semana 12 e 13 Transformando as emoções
Semana 14 e 15 Reconstruindo o paradigma pessoal
Semana 16 e 17 Reconstruindo o paradigma pessoal, desenvolvimento da auto-avaliação e
aplicação de inventários.
Semana 18 Finalização do processo: devolutivas
Fonte: adaptado de ABREU e FILHO (2004)

Após a execução de todos os procedimentos, as pacientes podem: a) receber alta; b) seguir


para um programa de manutenção de 18 semanas envolvendo outros temas; ou, finalmente, no
caso de um baixo nível de aderência, c) reiniciar o programa.

2.6- Anorexia nervosa: Aspectos psicológicos e tratamento em psicoterapia

A anorexia nervosa (AN) é um tipo de transtorno alimentar que, se comparado à bulimia


nervosa, apresenta dimensões que requerem seriedade maior no tratamento.

De acordo com a literatura consultada em ABREU e FILHO (2004) refere-se que desde as
publicações mais antigas em revistas especializadas até os dias de hoje, os artigos existentes,
que são poucos e que por ventura contenham sua descrição, prognóstico de melhora ou
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mesmo os índices de recuperação, apresentam, na grande maioria, resultados desalentadores.
Para os autores acima, as razões para a escassez de pesquisas dos resultados de tratamentos
incluem:

a) Baixa incidência do transtorno;


b) Dificuldade de recrutar pacientes que se percebam como tendo um problema
significativo;
c) Severidade do transtorno; e
d) Alto índice de desistência da terapia ambulatória.

Assim, a pesquisa disponível a respeito da AN ainda apresenta dados muito contraditórios,


embora a maioria dos estudos de resultado em longo-prazo apontem para um sucesso bem
mais limitado. Somente para citar um exemplo segundo os autores, em um olhar mais amplo
em mais de 100 estudos, somente cerca de 50% das pacientes se “recuperam totalmente” (e
isto quer dizer o restabelecimento do peso, a normalização dos comportamentos alimentares e
o retorno da menstruação regular).

De um modo geral, o tratamento, é realizado por uma equipa multidisciplinar, com a meta de
melhorar a saúde mental e física, empregando para tal tratamentos especializados, que
conduzirão a recuperação do peso, das funções metabólicas e endócrinas, que são
fundamentais para a cura (ABREU & CORDÁS, 2009).

Nesse sentido segundo WILSON (1993), refere que o que se procura alcançar com as
pacientes com AN é:

a) O restabelecimento dos padrões normais de alimentação (pois 50% das anoréxicas


apresentam compulsão alimentar, portanto, esta é uma das principais metas de
intervenção do tratamento);
b) Promover uma auto-regulação do peso corporal;
c) Reduzir (eliminando) atitudes purgativas ou mesmos restritivas para, finalmente,
d) Criar a motivação para a mudança.

De acordo com ABREU e FILHO (2004) afirmam que no processo de tratamento, uma série
de perguntas e uma das perguntas mais usuais no trabalho com as pacientes anoréxicas é: por
que é tão difícil criar motivação para a mudança?

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Diante disto, entendemos aqui que nestas condições não é de se estranhar que as pacientes
comecem o tratamento com pouca ou quase nenhuma intenção de “progredir”, pois elas já vão
ao tratamento com um pessimismo alto e sem motivação alguma para melhorar.

De acordo com os autores supracitados (p.181) referem que por mais polémico que possa
parecer, duas razões fundamentais são apontadas para justificar a desmotivação das pacientes:

a) As pacientes “sabem” de sua necessidade de ajuda, mas têm medo do que a mudança
corporal possa trazer e;
b) As restrições alimentares a que são submetidas criam, com o passar do tempo, quadros
de subnutrição que começam, progressivamente, a gerar inevitáveis deficits
cognitivos, privando-as de uma capacidade normal de entendimento de seus
problemas.

Entretanto, como descrição das características psicológicas mais frequentes, são citados:

a) Baixa auto-estima;
b) Sentimento de desesperança;
c) Desenvolvimento insatisfatório da identidade;
d) Tendência a buscar aprovação externa;
e) Extrema sensibilidade a críticas; e, finalmente,
f) Conflitos relativos aos temas autonomia versus dependência (idem, p.181).

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3- Conclusão

Chegados a esse ponto, vale tecer as principais conclusões acerca do tema “Anorexia e
Bulimia nervosa”. Desta maneira, compreendeu-se que a Anorexia e Bulimia nervosa são
transtornos alimentares que são caracterizados como quadros psiquiátricos que levam a graves
danos psicológicos e sociais. A anorexia nervosa e a bulimia nervosa, têm como característica
comum a preocupação excessiva com o corpo e o medo intenso de engordar. Anorexia e
Bulimia nervosa são assim, perturbações alimentares que são uma realidade no mundo em que
vivemos, mas a literatura consultada indicou que poucas pessoas recorrem aos serviços de
saúde em busca de ajuda, facto que se deve a negação do problema.

Assim, de forma sintética, pode-se concluir a partir deste levantamento em artigos científicos
que fala-se de Anorexia Nervosa quando há uma tendência de a pessoa querer emagrecer se
alimentando de forma inadequada, isto é, a tendência de comer pouco (ou nada) para ter um
corpo elegante; enquanto na Bulimia nervosa há episódios de ingestão excessiva de alimentos
com sensação de perda de controlo, ou seja, há uma ingestão excessiva de alimentos que
depois é compensada por vómitos auto-induzidos. Também foi observada a importância e a
necessidade de tratamento psicológico além do farmacológico nas diferentes referências
bibliográficas pesquisadas. Portanto, faz-se necessário enfatizar a importância de uma equipa
multidisciplinar actuando no tratamento de pacientes destes distúrbios alimentares em
questão.

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4- Referências bibliográficas

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