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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS


CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

Disciplina de Teoria Antropológica I


Prof. Dr. Débora K. Leitão

O conceito de cultura para Edward B. Tylor e Franz Boas

O conceito de cultura é extremamente importante para entendermos as


sociedades, amplamente e particularmente. A partir das experiências que se acumulam
na história é possível demonstrar que o surgimento do termo “cultura” se deu através de
pesquisadores que se dedicaram a investigação entre diferentes modos de vida, sistemas
religiosos, crenças, alimentação, etc. Este artigo propõe revisitar os dois maiores
expoentes que difundiram o termo “cultura” na Antropologia, Edward B. Tylor (1832-
1917) e Franz Boas (1858 – 1942) e suas perspectivas divergentes. Para tanto, uma
apresentação dos dois autores se faz necessários no início, e posteriormente, faremos um
debate pontual sobre a questão de cultura e suas características centrais no pensamento
dos autores acima.
Tylor nunca cursou uma universidade e na adolescência já viajava em busca de
histórias e aventuras que mais tarde resultaram em estudos sobre a cultura. Tendo como
prioridade os assuntos de ordem pré-colombiana, lança em 1861 “Anahuac: ou, México,
antigo e moderno”. Tylor pertenceu ao grupo dos evolucionistas culturais ao lado de
Morgan, Frazer e Spencer, e buscava evidenciar a relevância de entender os costumes
de outras culturas. Ainda que nunca tivesse cursado uma universidade, Tylor recebeu
em 1875 o Doutorado Honorário da Universidade de Oxford e foi o primeiro professor
britânico de antropologia em 1895. Sua obra mais difundida foi publicada em 1881,
“Antropologia – introdução ao estudo do homem de da civilização”.
Influenciado pelas obras de Charles Darwin e Charles Lyell, Tylor admitiu que a
cultura poderia ser classificada em três etapas da evolução: selvageria (baseada na pesca
e colheita), barbárie (baseada na domesticação de animais e na agricultura) e civilização
(culturas baseadas nos escritos e na vida urbana). Acreditava que a humanidade evoluía
de forma progressiva, ideia que contradizia a teoria de degeneração que imperava na
época. Considerava a religião como um conceito de supervivência, ou seja, restos de
comportamentos primitivos que perduram em uma sociedade mais avançada.
Estudou vários aspectos da cultura em diversas sociedades do globo. E definiu a
cultura como “aquele todo complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a
moral, o direito, os costumes, e qualquer outro hábito e capacidade adquirida do
homem” (TYLOR, 1871, p.31). A universalidade de seus interesses etnológicos o
distingue de outros pesquisadores da época. Teve uma capacidade para documentar uma
enorme quantidade de informações e condensar estes em livros. Em 1871 lança “Cultura
Primitiva”, uma investigação extensa sobre o desenvolvimento da mitologia, da
filosofia, religião, língua, arte e costumes.
Para Castro (2005), Tylor é considerado o pai da antropologia cultural ao definir
“cultura”. Ao utilizar cultura e civilização como sinônimos “Tylor distingue-se do uso
moderno do termo cultura (em seu sentido relativista, pluralista e não hierárquico), que
só seria popularizado com a obra de Franz Boas. Cultura, para Tylor, era palavra usada
sempre no singular, e essencialmente hierarquizada em estágios” (CASTRO, 2005, p.
08).
Vejamos que no dicionário Michaelis1 que a palavra cultura significa na
sociologia um sistema de ideias, conhecimentos, técnicas e artefatos e padrões de
comportamento que caracterizam uma sociedade; se dá através do estado ou estágio de
desenvolvimento cultural de um povo ou período, caracterizado pelo conjunto de obras,
instalações e objetos criados pelo homem desse povo ou período, é um conteúdo social.
Já civilização seria o estado de adiantamento e cultural social, ato de civilizar, ou ainda,
acumulação e aumento de habilidades manuais e de conhecimentos intelectuais e a
aplicação deles. Portanto, hoje, concebemos cultura e civilização como processos
distintos e não como sinônimos como entendia Tylor, sendo que para este último:
... a uniformidade que tão amplamente permeia a civilização pode ser
atribuída, em grande medida, à ação uniforme de causas uniformes; de
outro, seus vários graus podem ser vistos como estágios de
desenvolvimento ou evolução, cada um resultando da história prévia e
pronto para desempenhar seu próprio papel na modelagem da história
do futuro (TYLOR, 1871, p. 31).
1
Michaelis – Dicionário de português online. Disponível em
< http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-
portugues&palavra=cultura> Acesso 12/04/2015.
Para Boas, adiante das questões teóricas e metodológicas, o conceito de cultura é
plural, sempre referido a múltiplas culturas, a uma questão de diversidade cultural. Para
ele, esta busca deve ser sempre explicada cada uma (cultura) em seus termos. Assim, o
método histórico busca elaborar a história de uma região com uma cultura particular, ou
seja, uma aceitação da reelaboração das diferentes culturas. De acordo com Boas cada
cultura deve ser explicada em seus termos e também comparada do relativismo, por
isso, cada cultura deve ser estudada e analisada em si, no entanto, nos referimos sempre,
neste sentido a uma visão particularista, pois cada cultura é única.

Referências Bibliográficas

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