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Silva, Roseane Amorim da; Menezes, Jaileila de Araújo; Souza, Leyllyanne Bezerra de; Silva, Jéssica do

Nascimento; Moura, Renata Paula dos Santos; Gaia, Stellamary Brandão Rodrigues. Vamos conversar?
Histórias de jovens sobre o uso de bebidas alcoólicas nas comunidades quilombolas

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Vamos conversar? Histórias de jovens sobre o uso de bebidas alcoólicas


nas comunidades quilombolas

Let’s talk? Stories of young people about the use of alcoholic beverages
in quilombola communities

Vamos a hablar? Historias de los jóvenes sobre el uso de alcohol en las


comunidades quilombolas

Roseane Amorim da Silva1

Jaileila de Araújo Menezes2

Leyllyanne Bezerra de Souza3

Jéssica do Nascimento Silva4

Renata Paula dos Santos Moura5

Stellamary Brandão Rodrigues Gaia6

Resumo

Este artigo faz parte da devolutiva dos resultados de uma pesquisa realizada em 2013, em duas
comunidades quilombolas, localizadas em Garanhuns/PE. A pesquisa é qualitativa e buscou
investigar os significados do uso de álcool entre os(as) jovens, considerando a perspectiva da
interseccionalidade. A devolutiva foi constituída por duas etapas: na primeira entramos em
contato com os(as) jovens participantes da pesquisa e combinamos a devolutiva. Em seguida,
realizamos uma oficina e discutimos os resultados da pesquisa abordando de modo interseccional
as questões de gênero, classe social e raça/etnia em relação ao consumo de álcool por jovens das
comunidades. os(as) participantes foram bem receptivos aos resultados da pesquisa, apresentados
em formato de pequenas histórias, e destacaram: as diversas formas de violência contra as
mulheres nas comunidades; o uso de bebidas alcoólicas relacionado à ausência de equipamentos

1
Graduada e mestre em Psicologia, doutoranda do programa de pós- graduação em Psicologia da UFPE. -
roseane_amorim6@hotmail.com
2
Graduada e mestre em Psicologia. Doutora em Psicologia pela UFRJ.- leilaufrj@hotmail.com
3
Graduada e mestre em Psicologia pela UFPE. - leyllyanne@hotmail.com
4
Estudante do curso de graduação em Pedagogia da UFPE. - jessicanascimento1971@hotmail.com
5
Graduada em Pedagogia e mestre em Educação pela UFPE. - repaulasmoura@hotmail.com
6
Graduada em Pedagogia pela UFPE. - stellamarybrandao@hotmail.com

Pesquisas e Práticas Psicossociais 12 (2), São João del Rei, maio-agosto de 2017. e1176
Silva, Roseane Amorim da; Menezes, Jaileila de Araújo; Souza, Leyllyanne Bezerra de; Silva, Jéssica do
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de lazer; e o preconceito sofrido por serem negros(as) e/ou quilombolas, o que ganha relevo
quando circulam nos espaços urbanos da cidade, em geral, e no contexto escolar, em especial.
Essas questões chamam atenção para que pesquisas e intervenções sejam realizadas nas
comunidades, no intuito de contribuir para o enfrentamento das diversas desigualdades sociais
que historicamente têm marcado a vida da população quilombola.

Palavras-chave: Jovens. Comunidades Quilombolas. Álcool. Interseccionalidade.

Abstract

This article is part of the return of the results of a survey conducted in 2013, in two quilombola
communities, located in Garanhuns/PE. The research is qualitative and sought to investigate the
meanings of alcohol use among the young considering the intersectionality perspective. The
devolution was constituted by two stages: in the first, we contacted the young participants of the
research and we combined the devolution. Next, we held a workshop and discussed the results of
the survey. We addressed issues of gender, social class and race/ethnicity in relation to alcohol
consumption by youth in the communities. Participants were very receptive to the results of the
research, presented in small story format, and highlighted: the various forms of violence against
women in the communities; The use of alcoholic beverages related to the absence of leisure
equipment; And the prejudice suffered by being black and/or quilombolas, which gains
importance when they circulate in the urban spaces of the city in general and in the school context
in particular. These issues call attention to the fact that research and interventions are carried out
in the communities, in order to contribute to the confrontation of the various social inequalities
that historically have marked the life of the quilombola population.

Keywords: Young people. Quilombolas communities. Alcohol. Intersectionality.

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Introdução identidades territoriais”. Todavia, ainda


é presente no imaginário popular o
Início de conversa… quilombo como algo pertencente ao
passado, e quando tomam conhecimento
Aquela pesquisa deu em quê, hein? da existência de comunidades
(Jovem quilombola). quilombolas, algumas pessoas têm uma
imagem estereotipada sobre os(as)
Este artigo faz parte da devolutiva dos moradores/as, por desconhecerem como
resultados de uma pesquisa realizada em são as comunidades, o modo de vida e as
2013, para construção da dissertação de pessoas que fazem parte desse contexto.
mestrado intitulada “Os significados do As comunidades quilombolas
uso de álcool entre os(as) jovens Castainho e Estivas, territórios de nossa
quilombolas do município de pesquisa, caracterizam-se como
Garanhuns/PE: uma perspectiva comunidades rurais. A maioria dos(as)
interseccional”7 As comunidades jovens trabalha na agricultura e têm
quilombolas são territórios constituídos como fonte de renda o plantio de feijão,
por grupos étnico-raciais, segundo mandioca, frutas e hortaliças que são
critérios de autoatribuição, com comercializadas nas feiras de Garanhuns
trajetória histórica própria, dotados de e em municípios circunvizinhos.
relações territoriais específicas, com Algumas e alguns jovens trabalham e/ou
presunção de ancestralidade negra estudam na cidade, outros(as) estudam
relacionada com a resistência à opressão nas escolas das comunidades. Há duas
histórica sofrida (CNAS, 2007). Assim, escolas, uma em cada comunidade, mas
não é a comprovação de um passado só ofertam o ensino fundamental I e II e
associado à escravidão que define uma os(as) estudantes que desejam continuar
comunidade como quilombola, é a sua trajetória de escolarização precisam
própria identidade daquele grupo que se se deslocar para a área urbana. Alguns e
afirma como tal. algumas abandonaram os estudos por
os(as) quilombolas e os(as) diversos motivos, sobretudo pela
indígenas fazem parte das populações necessidade de trabalhar para ajudar na
consideradas tradicionais. Sobre estas, renda familiar.
Cruz (2007, p. 94) ressalta que “as A pesquisa realizada em
populações tradicionais têm se Castainho e Estivas, para a construção
organizado, ganhando visibilidade e da dissertação, foi de caráter qualitativo
protagonismo, afirmando-se como e inspiração feminista. Por pesquisa
sujeitos políticos na luta pelo exercício feminista, Neves e Nogueira (2005)
ou mesmo pela invenção de direitos a ressaltam que, nesse tipo de estudo,
partir de suas territorialidades e os(as) pesquisadores/as precisam estar
em um processo de reflexividade, que
7
A dissertação foi construída pela primeira significa uma autorreflexão acerca de
autora deste artigo, Roseane Amorim da Silva. A como suas identidades interferem na
segunda autora,foi a orientadora, profª. Jaileila construção dos dados e como também
de Araújo Menezes. As demais participaram da
são afetados(as) pelas relações
devolutiva da pesquisa.

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estabelecidas a partir da pesquisa. seja um campo de visibilidade,


O estudo nas comunidades foi discursividade e escuta das
realizado em duas etapas: a primeira desigualdades e injustiças sociais que
consistiu em observação participante nos obstaculizam determinadas vivências
diversos espaços existentes, e na juvenis.
segunda foram realizadas entrevistas
semiestruturadas com os(as) jovens. Sobre a interseccionalidade
Seguindo esse percurso, percebemos que
o uso de álcool para os(as) jovens Para realizarmos nossas
quilombolas têm diferentes significados, reflexões sobre algumas das vivências
presentes nas diversas atividades dos(as) jovens relacionadas ao uso de
realizadas nas comunidades, no trabalho, bebidas alcoólicas, fizemos uso da
em comemorações do plantio e da perspectiva da interseccionalidade que,
colheita, nas práticas de lazer e segundo Piscitelli (2008, p. 269), pode
sociabilidade. ser entendida como “uma forma de
Referenciadas por uma pensar como construções de diferença e
perspectiva crítico contextualizada de distribuições de poder incidem no
estudos da juventude, buscamos abordar posicionamento desigual dos sujeitos no
as experiências dos/das jovens com o âmbito global”. Essa produtiva
álcool a partir de suas situações de vida, valorização da diferença e do poder
pois, conforme Abramo (2005, p. 44), implica uma secundarização relativa da
estas “revelam o modo como tal categoria gênero que, no pensamento
condição8 é vivida a partir dos diversos feminista, assumiu lugar central nas
recortes referidos às diferenças sociais – últimas décadas, obscurecendo ou
classe, gênero, etnia”, e também local de subordinando outras formas de
moradia, especificidades regionais, as diferenciação que produzem
relações campo-cidade, todo o contexto desigualdades e opressão. Assim, as
no qual as juventudes se constituem e se categorias de articulação e/ou
manifestam. Nossa pesquisa e seus interseccionalidade buscam
desdobramentos (a devolutiva) estão
referenciados na perspectiva oferecer ferramentas analíticas para
interseccional e no seu compromisso apreender a articulação de múltiplas
diferenças e desigualdades. É importante
ético-político de formatar o processo de destacar que já não se trata da diferença
produção de conhecimento para que ele sexual, nem da relação entre gênero e raça
ou gênero e sexualidade, mas da
8
A condição juvenil indica o “modo como uma diferença, em sentido amplo para dar
sociedade constitui e atribui significado a esse cabida às interações entre possíveis
momento do ciclo de vida, que alcança uma diferenças presentes em contextos
abrangência social maior, referida a uma específicos. (Piscitelli, 2008, p. 269)
dimensão histórica geracional”. (Abramo, 2005,
p.44). Trabalhar nessa perspectiva sem A interseccionalidade visa
considerar as especificidades das situações compreender a complexidade das
juvenis significa não diferenciar as condições de identidades e das desigualdades sociais
vida e com isso restringir as possibilidades de
entendimento das diversas trajetórias e projetos por intermédio de um enfoque integrado.
existenciais nesse momento do ciclo vital. Ela refuta o enclausuramento e a

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hierarquização dos grandes eixos da dessas várias avenidas, sofrendo os


diferenciação social, que são as danos causados por impactos vindos de
categorias de sexo/gênero, classe, raça, outras direções. Portanto, o conceito de
etnicidade, idade, deficiência e interseccionalidade utilizado por
orientação sexual. O enfoque Crenshaw destaca as desvantagens,
interseccional vai além do simples vulnerabilidades, opressões e
reconhecimento da multiplicidade dos desempoderamento sofridos
sistemas de opressão que opera a partir dinamicamente pelas mulheres que se
dessas categorias e postula sua interação encontram em dois ou mais pontos de
na produção e na reprodução das encontro dos eixos de poder.
desigualdades sociais (Hirata, 2014). Piscitelli (2008, p. 268), ao falar
O conceito de sobre interseccionalidade, ressalta que
interseccionalidade teve sua origem no “os marcadores de identidade, como
movimento feminista negro norte- gênero, classe ou etnicidade não
americanas. Autoras como Crenshaw aparecem apenas como formas de
(2002), Brah (2006) e outras fazem uso categorização exclusivamente limitantes,
dele para abordar os marcadores gênero, estes oferecem, simultaneamente,
raça/etnia e classe, de modo articulado, recursos que possibilitam a ação”. Nessa
pois, segundo elas, esses marcadores linha de abordagem, pensada a partir de
estão entrelaçados na constituição das uma perspectiva construcionista,
desigualdades sociais. Ou seja, não agem podemos encontrar Brah, ela ressalta que
de forma independente uns dos outros. “estruturas de classe, racismo, gênero e
Um dos desafios de pensar as sexualidade não podem ser tratadas
desigualdades sociais a partir dessa como variáveis independentes porque a
perspectiva é justamente pensar nessa opressão de cada uma está inscrita
articulação e na construção de um dentro da outra – é constituída pela outra
marcador produzindo efeito sobre o e é constitutiva dela” (2006, p. 351). Por
outro. isso, tais fatores estão sendo
A partir da metáfora de considerados neste estudo.
encontro de avenidas, Crenshaw (2002) Para exemplificar como os
explica o que está chamando de marcadores de opressão operam, Brah e
interseccionalidade. Os eixos de poder, Phoenix (2004) apresentam a fala de
raça, etnia, classe e gênero, se cruzam. Sojourner Truth, mulher afro-americana
“As mulheres racializadas que foi escravizada e ficou conhecida
frequentemente estão posicionadas em por sua fala proferida em 1851 na
um espaço onde o racismo ou a Convenção dos Direitos das Mulheres,
xenofobia, a classe e o gênero se em Akron, Ohio.
encontram. Por consequência, estão
sujeitas a serem atingidas pelo intenso Aquele homem lá diz que uma mulher
fluxo de tráfego em todas estas vias” precisa ser ajudada ao entrar em
carruagens, e levantada sobre as valas, e
(Crenshaw, 2002, p. 177). O indivíduo ficar nos melhores lugares onde quer que
sujeito à interseccionalidade, nas vá. Ninguém me ajuda em lugar nenhum!
descrições da autora, torna-se E eu não sou uma mulher? Olhem para
equivalente a um “pedestre” no encontro mim! Olhem para o meu braço. Eu arei,

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eu plantei e eu recolhi tudo para os Observamos também que as


celeiros. E nenhum homem pode me percepções sobre o uso de álcool diferem
auxiliar. E eu não sou uma mulher? Eu
poderia trabalhar tanto e comer tanto
quando os consumidores são homens, há
quanto qualquer homem [...] e suportar o uma naturalização das práticas de
chicote tão bem quanto! E eu não sou consumo e, quando são mulheres,
uma mulher? Eu dei à luz a crianças e vi a geralmente, elas são difamadas,
maior parte delas ser vendida como principalmente se o uso é feito nos bares.
escravas. E quando eu chorei com o
sofrimento de uma mãe, ninguém além de
Muitas são as significações do uso de
Jesus me ouviu. E eu não sou uma álcool entre os(as) jovens: diversão,
mulher? (Brah & Phoenix, 2004, p. 77) lazer, meio de esquecer os problemas e
lidar com as dificuldades cotidianas. O
Com essa fala, podemos uso de álcool também foi positivado
observar que dizer que alguém é mulher como algo que favoreceu um circuito de
não dá conta de pensar sobre as sociabilidade para mulheres casadas que
opressões e desigualdades vivenciadas, a podem, em algumas situações,
mulher do relato é pobre e negra, de acompanhar os maridos nos bares. Para
modo que os marcadores gênero, classe os homens, foi mencionado como uma
e raça produzem efeitos sobre ela, substância que se ingere para dar
fazendo com que tenha vivências como a coragem de trabalhar em lugares que
apresentada, e que se diferenciam de podem ocasionar riscos à vida, entre
outras mulheres e dos homens. Vale outros. O uso de álcool tem forte
ressaltar que a questão não é a diferença, conotação cultural nas comunidades,
mas as desigualdades que ela gera. visto que sempre esteve presente,
Pensamos que seja importante mediando as atividades realizadas
considerar as interseccionalidades a pelos(as) quilombolas, o que não deixa
partir de questões estruturais da de ser preocupante quando observamos
sociedade, pois estas têm um peso as consequências negativas vivenciadas
grande na constituição dos sujeitos, e por esses sujeitos e a falta de recursos
também como algo que não é estático, que ajudariam a evitar o consumo
que nas interações dos diversos abusivo.
marcadores que produzem desigualdades Os resultados da pesquisa
são responsáveis pelas mudanças nos produziram em nós algumas
modos como os sujeitos se constituem. inquietações: o que fazer com os
Refletindo sobre os usos do resultados na relação com os(as)
álcool pelos(as) quilombolas, a partir da participantes (a quem lhes é de direito)?
interseccionalidade, observamos que os Quais os efeitos que esses resultados
efeitos produzidos pelos marcadores podem gerar, em termos de
sociais (gênero, classe, raça/etnia) (des)estabilização de práticas sociais
incidem sobre o consumo que é corriqueiras nas comunidades? Como
perpassado pela vivência de situações de contribuir para o enfrentamento das
preconceito, falta de oportunidades no desigualdades sociais que marcam a vida
âmbito do trabalho e da educação, falta dos(as) quilombolas? Iniciamos este
de equipamentos de lazer nas artigo com a fala de uma jovem da
comunidades, entre outros. comunidade que encontramos após a

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finalização da pesquisa. Ela questionava: três mulheres com mais de 30 anos,


“aquela pesquisa deu em quê, hein?” moradoras da comunidade Castainho,
Essa se tornou a questão-guia de que souberam que a devolutiva
produção e realização da devolutiva. aconteceria e estiveram presentes no dia
Entendendo a produção do combinado. Na pesquisa do mestrado
conhecimento científico como participaram 10 homens e 10 mulheres
necessariamente situada (Haraway, jovens, mas nem todos(as) estiveram
2009), distante, portanto, de uma presentes. Na devolutiva estavam 16
ideologia de neutralidade, jovens e as três mulheres, sendo que esta
compreendemos a devolutiva como um aconteceu em 2014, um ano após a
espaço/tempo destinado a compartilhar realização da pesquisa e cinco meses
as interpretações que tecemos sobre as depois que a mestranda havia defendido
realidades dos(as) nossos(as) a dissertação.
interlocutores(as). Trata-se de um A devolutiva foi constituída por
movimento de retorno ao campo, quando duas etapas:
nos propomos a dialogar e problematizar Primeira etapa – entramos em
nossas histórias sobre e com os outros. contato com os(as) jovens participantes
Nesse sentido, o movimento da da pesquisa e os(as) convidamos para
devolutiva de “Retornar para lá”, uma roda de conversa. Neste momento,
consiste em um compromisso ético- entregamos aos(às) jovens um envelope
político de pôr em circulação “o que continha o título “Vamos conversar?
conhecimento produzido pela academia Histórias de jovens sobre a vida nas
para além de seus muros e dos/das comunidades”. Neste constava o convite
leitores/as deste meio” (Menezes et al., para a roda de conversa e uma folha na
2013, p. 4). Além disso, consiste em qual os(as) jovens deveriam colocar, do
uma oportunidade de continuarmos nos modo que se sentissem mais à vontade,
interrogando, junto com o outro (quando como é a vida de um(uma) jovem na
ele nos questiona e nos aponta o dedo), comunidade? Esse material deveria ser
sobre quem somos e que narrativas levado no dia do encontro. O objetivo
desejamos coproduzir. Dessa maneira, era construir um painel que visibilizasse
“o fazer da Devolutiva é ‘pulsante’ para a vida na comunidade a partir da óptica
ambas as partes e tem potência para dos(as) próprios(as) jovens.
tensionar discursos e práticas Retornar às comunidades e
hegemônicas em ambos os contextos” entrar em contato novamente com os(as)
(Menezes et al., 2013, p. 7) – academia e quilombolas foi um momento muito rico.
comunidade. Descrevemos a seguir os OS(as) jovens mostraram interesse em
caminhos que seguimos. participar da devolutiva, questionaram-
nos sobre os resultados, sobre como
Método seria no dia do nosso encontro. Alguns
falaram sobre acontecimentos nas
Participaram da devolutiva não comunidades, a exemplo da notícia da
só os(as) jovens que fizeram parte da gravidez de uma jovem que havia
pesquisa (homens e mulheres com participado da pesquisa e do aumento do
idades entre 18 e 24 anos), mas, também, consumo de bebidas alcoólicas pelos(as)

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jovens. Sobre o primeiro acontecimento, bebem nos bares; o uso de álcool como
havia a preocupação das jovens justificativa para situações de violência
narradoras com a fama da amiga contra as mulheres; a presença de
grávida, pois na condição de mãe pessoas da cidade nas comunidades para
solteira, poderia ficar “mal falada” e fazerem uso de álcool, entre outras. Para
vista como mulher “sem valor” na refletirmos sobre os discursos dos(as)
comunidade. jovens construídos em nosso encontro,
No dia do encontro, só duas faremos uso da interseccionalidade de
jovens levaram a folha com a descrição gênero, raça/etnia e classe social,
do que é ser uma jovem nas conforme mencionado anteriormente.
comunidades. Não construímos o painel,
mas esse fato não atrapalhou o que Resultados e discussões
havíamos planejado, pois os(as) jovens
presentes estavam motivados(as) a O que conversamos?
participar.
Segunda etapa – nessa etapa, Uma das histórias que
aconteceu a roda de conversa conforme apresentamos no início para que o grupo
o seguinte roteiro: iniciamos com uma construísse o desfecho foi a seguinte:
dinâmica de integração, momento em História 1 – o companheiro de Gina
que pudemos nos aproximar dos(as) costuma bater nela e eles brigam muito.
participantes e também proporcionou Quando perguntamos a Gina porque ele
que eles(as) interagissem entre si. Em faz isso, ela disse que
seguida, apresentamos algumas histórias
para discutir com eles(as). Contamos o ele faz isso porque ingere diversas
início de cada história e os(as) jovens, bebidas alcoólicas, e essas bebidas juntas
causam diversos tipos de transtornos. Um
divididos em subgrupos, construíram os deles é a mudança de comportamento.
desfechos. As histórias foram pensadas Uma sugestão para que esse indivíduo
de acordo com os resultados da pesquisa. pare com as agressões com sua
Acreditamos que essa forma seria mais companheira é que definitivamente pare
produtiva para discutir com os(as) de beber ou, pelo menos, refaça seus
hábitos bebendo com consciência, ou
jovens do que apresentar os resultados seja, bebendo socialmente. (Desfecho da
da pesquisa formalmente, pois história construída pelo grupo)
concordamos com Afonso (2006) que
podemos problematizar informações de Percebemos, pelo desfecho da
modo participativo, com técnicas que história, o quanto o uso de álcool, prática
convoquem o sujeito à ação, ao discurso, naturalizada nas comunidades, é usado
a se posicionar sobre determinadas para explicar as situações de violência
situações de modo a (re)construir contra as mulheres. É importante
leituras sobre suas condições de também ressaltarmos que o grupo que
existência. construiu a história era formado por
As temáticas discutidas nas mulheres e um homem, o que nos faz
histórias tiveram como foco: o uso de perceber que a justificativa da violência
álcool com a finalidade de diversão; o devido ao uso do álcool é feita também
preconceito em relação às mulheres que pelas mulheres que sofrem as situações,

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seja diretamente, seja por meio das percebendo sua interconexão,


ocorrências presenciadas nas percebendo como elas se intersectam. A
comunidades. “racialização” é pensada como o efeito
A violência de gênero contra as de um modo cruel e complexo de
mulheres é um fenômeno mundial que operação das desigualdades, por meio do
pode acontecer em todas as classes qual se excluem grupos corporalmente
sociais, culturas, raça/etnia, religião, marcados (Piscitelli, 1996), situação que
entre outros marcadores de torna mais difícil para as mulheres
diferenciação, mas não se pode lutarem por seus direitos e realizarem a
universalizar a categoria mulher como denúncia em casos de violência.
um sujeito coletivo e homogêneo, pois Vejamos o relato de uma das jovens que
existem diferenças nas relações de poder falou sobre a questão da denúncia.
que incidem sobre elas. E a noção de
interseccionalidade visibiliza o quanto os As mulheres deveriam sair de casa,
marcadores gênero, classe e raça/etnia denunciar a violência que elas sofrem,
porque muitas mulheres que os maridos
constroem desigualdades e opressões bebem, eu conheço algumas que
que dificultam que as mulheres denunciam o marido, mas quando é no
quilombolas saiam das situações de outro dia que o marido tá bom, elas têm
violência vivenciadas. pena, aí vão tirar a queixa. Eu acredito
A ausência de recorte racial na que ela deveria ou sair do relacionamento
ou denunciar ele. (Relato de uma jovem
análise do tema da violência, assim que estava no grupo)
como em relação a outros agravos, tem
dificultado a identificação das Pelo relato, podemos perceber
desigualdades a que estão expostas as que situações de violência contra as
mulheres negras. Autores(as), mulheres nas comunidades são
principalmente os(as) de grupos de conhecidas, mas não há uma intervenção
feministas negras, começaram a perceber em relação a essas situações.
que há um agravamento da violência Percebemos também que a polícia não
quando a mulher é negra, ocasionadas age como deveria, pois, de acordo com a
pelo racismo. Quando pensamos na Lei Maria da Penha, a vítima não
constituição da sociedade brasileira, poderia retirar a queixa (Brasil, 2010).
marcadores como gênero, classe e Vimos também que o arrependimento da
raça/etnia delineiam hierarquias mulher em relação à denúncia é visto
produzidas historicamente que vão como instrumento culpabilizador das
apontar os lugares vistos como naturais situações vivenciadas. Um homem
às mulheres pobres e negras e como tais jovem que estava no grupo falou sobre
representações simbólicas informam essa questão: “mas essas aí merece
como elas se situam na sociedade, como apanhar mesmo, porque se ela tira a
são vistas e percebidas (Correia, 2013). queixa, tem que apanhar mesmo, morrer
É importante lembrar que a no pau”.
questão não se resolve adicionando as Muitos fatores estão presentes
diversas formas de opressão na nas dificuldades das mulheres em
configuração da condição social das denunciar e levar adiante a denúncia
mulheres e das relações de gênero, mas (Rabello & Caldas, 2007; Silveira, Nardi

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& Spindler, 2014). No entanto, no Refletimos sobre esses


momento em que as situações de discursos a partir também do lugar de
violência ocorrem, muitas vezes, as quem os estava proferindo. Percebemos
mulheres são culpabilizadas e, com isso, que as diferenças de escolaridade e
mais uma vez são violentadas. Não é classe entre as participantes contribuem
fácil para as mulheres saírem do ciclo de para a forma como cada uma enxerga a
violência, pois seu próprio processo de problemática. A segunda jovem, que
socialização foi constituído em uma acredita na possibilidade das mulheres
sociedade sexista que tem marcado saírem das situações de violência, é
diversas gerações, como podemos estudante universitária, trabalha e tem
observar a seguir: uma situação econômica diferenciada na
própria comunidade, pois poucas jovens
minha mãe sempre diz “ruim com ele, concluíram o ensino médio. A entrada na
pior sem ele”, porque tem que pensar nos universidade ainda é exceção para a
moleques. Porque bom com ele dentro de
casa, porque ele dá as coisas e pior sem expectativa da continuidade na trajetória
ele, porque se botar ele pra fora, quem é educacional. Com isso, percebemos o
que vai sustentar os moleques? Quem vai quanto o marcador de classe
dá de comer aos moleques? (Relato de interseccionado com o de gênero e
uma jovem que estava no grupo) raça/etnia produzem efeitos sobre as
mulheres, desenhando percursos
Segundo White (2002), distintos – alguns com caráter
mulheres que sofrem violência tendem a conformador e restritivo das
colocar as suas necessidades em segundo possibilidades de ser e existir (reiteração
plano, e essa é uma das características das situações de opressão) e outros mais
fortes e presentes nas mulheres negras potentes para a experiência política de
em virtude de sua condição histórica de justiça social.
opressão e desigualdades sociais. A Pensando nessa relação entre
autora indica ainda que algumas mulher negra e trabalho, é importante
mulheres, quando investem em uma lembrarmos o fato para o qual Carneiro
relação, esperam ser protegidas e (2003) chama atenção: as posições
apoiadas por seus parceiros, não ocupacionais das mulheres negras são as
medindo esforços para manter a relação. mais baixas no mercado de trabalho
Essas mulheres se culpabilizam pela formal. E mais uma vez as mulheres têm
agressão que sofreram e protegem o seu seu reconhecimento social prejudicado
agressor. pela relação de dominação de uma
No grupo, encontramos também cultura sexista, na qual também a cor
uma mulher jovem que discordou do branca é sinônimo de superioridade. A
relato da participante acima: “mas ela luta contra a violação de direitos deve
pode tomar uma decisão e arrumar um levar em consideração a complexidade
emprego, colocar os filhos na creche e ir das vulnerabilidades a que as mulheres
trabalhar para sustentar os meninos. estão expostas, pois as desigualdades de
Filho não segura casamento, nem gênero, raça e classe entrecruzam-se e se
relacionamento não, isso se ela tiver uma potencializam (Crenshaw, 2002).
decisão ativa”. Levantamos também alguns

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Silva, Roseane Amorim da; Menezes, Jaileila de Araújo; Souza, Leyllyanne Bezerra de; Silva, Jéssica do
Nascimento; Moura, Renata Paula dos Santos; Gaia, Stellamary Brandão Rodrigues. Vamos conversar?
Histórias de jovens sobre o uso de bebidas alcoólicas nas comunidades quilombolas

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questionamentos no grupo buscando comunidades quilombolas. Na ausência


despertar a reflexão dos(as) de atividades de lazer, o bar é o lugar em
participantes, a exemplo: as mulheres que jovens e adultos podem se encontrar,
que fazem uso de álcool nas conversar, se divertir, dançar, paquerar,
comunidades também são agressivas? conhecer pessoas de outros lugares que
Vocês conhecem os lugares onde as frequentam esses espaços. Nas
mulheres que sofrem violência podem comunidades, existem muitos bares, e
buscar ajuda? A comunidade apoiaria a estes fazem parte da renda de alguns
mulher que denuncia o companheiro? moradores(as), fortalecida também
Entre outras, essas foram questões devido à presença de pessoas de outras
comentadas pelos(as) participantes. localidades. Esses frequentadores são
Outra história discutida no comumente da zona urbana e fazem uso
grupo teve como questão as atividades de bebida nas comunidades. Costumam
de lazer dos(as) jovens quilombolas. chegar de carro e colocam som alto,
História 2 – começou o fim de semana, situação que incomoda muitos
Yerodim, um jovem de 20 anos, solteiro, moradores, que não costumam intervir
não estuda, quer fazer alguma coisa para temendo prejudicar o comércio de quem
se divertir, pois trabalhou a semana precisa dessa renda para sobreviver.
inteira. No sábado ele se arruma e sai de No desfecho dessa história,
casa percebemos também o quanto a questão
de classe, nesse contexto, tem relação
e vai beber cachaça. A única coisa que com o uso do álcool, pois as pessoas
tem aqui, principalmente em Estivas, é com mais poder aquisitivo vivenciam
bar, em cada esquina tem um bar. Você
pergunta um ponto de referência ninguém práticas de lazer na área urbana da
sabe, agora pergunte onde é o bar de cidade. Como já dissemos, mesmo com
fulana, é na esquina tal; onde é o bar de recurso financeiro, os(as) poucos(as)
sicrano é na esquina tal. O ponto de quilombolas que frequentam a cidade
referência aqui entre Castainho e Estivas para fins de lazer e diversão relatam
é bar. Só tem duas igrejas muito pouco
frequentadas, porque agora tá indo bem experiências de discriminação.
pouquinha na evangélica, na católica Observamos também que não são
muito menos. No bar começa de hoje da todos(as) os(as) jovens que
sexta-feira, é da sexta, domingo fenotipicamente são negros. Para
começando para segunda. É assim de estes(as), o preconceito é vivenciado
gente, vem gente até de Garanhuns com
paredão, com som, com tudo, é a diversão devido ao território que habitam e a etnia
do povo. Aí o que se pode fazer? Quem que possuem, o que faz com que alguns
tem carro ou moto vai pra Garanhuns, vai e algumas saíam das comunidades, mas
tomar um sorvete, vai pro parque, mas frequentem as regiões periféricas da
aqui na comunidade não tem. (Desfecho cidade, onde também encontram os bares
da história criada pelo grupo)
para se divertirem.
A cor do negro, na perspectiva
O desfecho da história criado
daqueles(as) que alimentam um
pelos(as) jovens revela a falta de
pensamento discriminatório, demonstra
equipamentos de lazer, de políticas
inferioridade e é tomada como um
públicas para os(as) jovens dessas
marcador de diferença (Silva & Soares,

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2011). O racismo e seus reflexos na (2012, p. 53) ressaltam que


distribuição dos recursos são elementos
estruturantes da desigualdade social no os jovens também enfrentam desafios
Brasil. O peso de seus efeitos é para o engajamento na vida pública,
porque há diferentes visões nas relações
reafirmado por meio da evidenciação intergeracionais; ora há incentivo,
estatística de sua magnitude. A abertura, ora há restrição ou, ainda, uma
persistência da diferenciação racial no expectativa referenciada no modelo
acesso a serviços públicos, na aquisição adulto de participação. Muitas vezes, os
de capacidades e na posição social conflitos geracionais colaboram para
desvalorizar seu envolvimento em
desvela as consequências da atuação diferentes espaços.
sistemática de mecanismos de produção
e reprodução das desigualdades em Essas são questões sobre as
vários campos da vida social (Ipea, quais temos refletido quando pensamos
2010). Quando conversamos com os(as) sobre a não participação dos(as) jovens
quilombolas, pudemos perceber que quilombolas em alguns espaços e
eles(as), nos dias de hoje, ainda sofrem o decisões. Segundo Menezes e Costa
estigma e a discriminação devido à (2012, p. 52), “quanto mais tempo levem
identidade étnica e às marcas da a se inserir nesse campo, [...] menor
ancestralidade racial que possuem. chance de rever e/ou intervir para a
Quando indagados sobre o que transformação das relações autoritárias,
gostariam que fosse feito na comunidade paternalistas, personalistas que marcam
para garantir o lazer, vários participantes a cultura brasileira”, ou seja, a
responderam: “eu queria um cinema bem possibilidade de lutar contra as situações
grande; um salão de dança; um ponto de de opressão, em alguma medida, fica
cultura, para fazer grupos com os jovens, comprometida.
de percussão e outros instrumentos; um Outra história apresentada foi a
parque aquático”. seguinte: História 3 – Halima é uma
Mas percebemos também a jovem de 18 anos, solteira, tem filhos e
desmotivação dos(as) jovens pela busca muitas amigas e amigos na comunidade.
de melhorias, a dificuldade de se No domingo à tarde, ela vai encontrar
organizarem politicamente para os(as) amigos(as) no bar de Nena... “Ela
reivindicarem os direitos da juventude deixou os filhos em casa e foi para o bar
quilombola. Essa desmobilização não é beber, aí a polícia chegou e levou os
sem uma causa. Na pesquisa realizada filhos e ela só voltou a ver os filhos
para a dissertação, percebemos que quando eles estavam de maior”
os(as) jovens nas comunidades não são (Desfecho da história criado pelo grupo).
considerados(as) pessoas que estejam O uso de álcool é uma prática
preparados(as) para opinar, para comum também entre as mulheres nas
participar das decisões de caráter comunidades quilombolas. No grupo,
político sobre aspectos da vida nas algumas participantes relataram que já
comunidades. houve casos, nas comunidades, de o
Ao abordar os desafios e Conselho Tutelar levar as crianças,
possibilidades para a participação juvenil porque os pais são alcoolistas.
na cultura política, Menezes e Costa Indagamos os(as) participantes se isso

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acontece com todas as mulheres que o uso de álcool nas comunidades


bebem, se é possível beber e continuar quilombolas é intergeracional, pois é
com as responsabilidades com os filhos, comum crianças e jovens iniciarem suas
o trabalho? E uma das jovens respondeu: práticas de consumo com os familiares.
“aqui tem muitas mães de família que A experiência intergeracional ganha
bebem e criam quatro, cinco filhos significado como forma de aglutinar os
sozinhas, trabalhando, e no que botar indivíduos em torno de redes de
pela frente elas trabalham e criam, e pertencimento e de reciprocidade (Alves,
final de semana todas elas se divertem, 2009).
bebem, mas elas tomam conta dos Na pesquisa para a dissertação,
filhos”. vimos que o uso do álcool tem
Foi bem interessante esse significados diversos nas comunidades,
discurso porque, nas comunidades dado que chama atenção para a
quilombolas, as mulheres que fazem uso importância de políticas públicas para
de álcool, que frequentam os bares, são os(as) quilombolas que trabalham com a
“mal vistas”, não são consideradas prevenção e promoção de saúde dessa
mulheres “direitas”, de “respeito”, que população. A partir dos discursos dos(as)
“sirvam” para casar. Então, pudemos jovens, indagamos, no sentido de
levantar questões para refletir sobre isso proporcionar reflexões, o que poderia ser
e sobre o uso do álcool que, dependendo feito na comunidade para prevenir o uso
do modo como é realizado, não ocasiona abusivo de álcool. Uma jovem
problemas na vida das pessoas. Mas as respondeu:
questões de gênero articuladas com
classe e raça/etnia estão presentes no Já veio um monte de coisa, mas teria que
desfecho da história criada pelo grupo, ser uma coisa bem trabalhada, pra chamar
atenção de criança, jovem, adulto, pra que
pois disseram que “a mulher foi beber e chamem atenção e eles botem na cabeça,
a polícia levou os filhos”, ou seja, esse fixem bem mesmo, porque já teve várias
não é um comportamento adequado para oficinas, já teve programas pra jovens e,
uma mãe, então ela “tem que ser quando chega na metade, não tem
punida”. incentivo, porque você sabe, jovem tem
que ser uma coisa bem atrativa para que
Quando indagamos quem são as ele chegue e faça porque gosta, porque se
pessoas da comunidade que frequentam não volta tudinho, volta pra cachaça, pras
os bares, tivemos como resposta: drogas, que a gente sabe que existem
casos aqui e é aberto; pra eles tá natural,
Homens, mulheres, adultos, criança, aí não tem nem o que você dizer que
idoso, adolescente, tudo, até criança bebe, venha pra comunidade, tá faltando tudo,
o dono do bar não vende pra criança, mas dinheiro, quem governe, atração. (Relato
a criança tá acompanhada por alguém, aí de uma jovem que estava no grupo)
bebe também; até os cachorros bebem
[risos]. Tem uma senhora que ela tava Um aspecto importante que a
doente de cama e ela saía para beber participante levantou é a realização de
escondido. (Relato de uma jovem que
estava no grupo)
algo que seja atrativo e de interesse para
os(as) jovens. De fato, isso tem que ser
O que podemos perceber é que pensado quando se planejam programas
e ações para a juventude; e para que isso

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aconteça é preciso ouvi-los(as), conhecer existem duas igrejas, uma católica, que
seus interesses. Percebemos que isso não fica localizada na entrada da
se faz presente nas comunidades quando comunidade Castainho, e uma
implantam algum programa, pois evangélica, localizada em outra parte da
procedem do modo como acham melhor comunidade. Na igreja evangélica, existe
e talvez venha daí a evasão, o um grupo de jovens e aqueles(as) que
desinteresse dos jovens para participar. participam dela não bebem, pois esse é
A mesma jovem que falou sobre a um dos requisitos para estar no grupo.
importância de algo atrativo para os(as) Sobre as práticas religiosas,
jovens relatou também: Faria, David e Rocha (2011) ressaltam
que estas podem ser uma mediação das
Aqui tem grupos de dança, de percussão, relações sociais. A maior ou menor
mas tem que ter um incentivo para as relevância da dimensão religiosa na
pessoas que não bebem permaneçam nos
grupos, porque em relação aos grupos formação e vida cotidiana das pessoas
culturais, quando uma mocinha arruma pode ter relação significativa com a
um namorado, já sai do grupo, aí ele já reconfiguração de relações sociais,
proíbe antes de casar, porque não pode a familiares, perpassadas por pressupostos
menina tá lá em cima do palco e tem ético-políticos e culturais que podem
gente embaixo olhando. Tem os meninos
da percussão que, quando muda a interferir também no consumo de álcool,
religião, deixa de tocar, como, por entre outras práticas. Ou seja, a religião
exemplo, um que agora é evangélico. Ele pode ser um fator de proteção para o uso
adorava tocar e a gente sabe que é por de álcool, embora, como podemos
conta da igreja, aí tem que ser coisas observar no presente estudo, vários
atrativas, porque você vai deixar de fazer
uma coisa que você gosta por uma outra fatores perpassam o uso.
coisa. As relações de classe social,
gênero e raça/etnia, ao configurarem
A partir do discurso da jovem, contextos de interação específicos,
podemos perceber o quanto nas repercutem nos processos de
comunidades impera uma cultura sexista subjetivação de cada pessoa, delineando
que estabelece comportamentos e possibilidades e limitações. Assim, as
lugares que são destinados aos homens e implicações dos marcadores sociais
às mulheres de modos diferenciados, (gênero, classe, raça/etnia), vigentes
reproduzindo desigualdades que se sobre as relações e as formas de viver
fazem presentes há anos nas mais das pessoas nos diferentes grupos
diversas sociedades. A jovem não pode sociais, podem contribuir para a
dançar porque o namorado não deixa, ou existência de alguns comportamentos, a
seja, a mesma lógica das que frequentam exemplo do uso de álcool, que tem
os bares: uma mulher “direita”, para diversos significados (Silva & Menezes,
casar, tem de ficar no espaço doméstico, 2016).
pois esse é o seu “lugar”.
Outra questão que é possível Considerações finais
observar no relato é a referência à
religião e a implicação desta em alguns Foi possível refletir sobre várias
comportamentos. Nas comunidades, questões com os(as) participantes.

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Os(as) jovens e as três mulheres adultas possam ser realizadas e que sejam
foram bem receptivos(as) aos resultados comprometidas, acima de tudo, com o
da pesquisa, apresentados em formato de enfrentamento às injustiças sociais que
pequenas histórias e, mais uma vez, marcam, historicamente, a vida dos
algumas questões estiveram presentes quilombolas em nosso país.
nos discursos deles(as). A devolutiva foi
um momento rico, pois foi possível Referências
dialogar com os(as) jovens, ouvi-los,
conhecer suas inquietações e interesses. Abramo, Helena Wendel. (2005).
Foi um momento também para Condição juvenil no Brasil
pensarmos sobre o modo como contemporâneo. In H. Abramo, &
realizamos pesquisas, nosso lugar como Pedro P. M. Branco (Org.).
pesquisadores(as), na produção do Retratos da juventude brasileira
conhecimento, e sobre a importância de (pp. 37-71). São Paulo: Editora
dar um retorno aos(às) participantes. Fundação Perseu Abramo.
O que temos para conversar Afonso, M. L. M.(2006). Oficinas em
com os(as) jovens não foi esgotado nesse dinâmica de grupo: um método de
encontro, ainda há muito a ser discutido intervenção psicossocial. Belo
e construído, mas precisávamos começar Horizonte: Edições do campo
a fazer algo com os resultados que social.
obtivemos, algo extramuros da Alves, A. M. (2009). Fronteiras da
universidade. Precisávamos, de alguma relação. Gênero, geração e a
forma, dar um retorno para aqueles(as) construção de relações afetivas e
jovens sobre a importância que eles(as) sexuais. Sexualidad, Salud y
tiveram na produção daqueles resultados Sociedad. Revista
e os(as) instigar a refletir sobre esses Latinoamericana. 3, 10-32.
resultados com a perspectiva de Brah, A. (2006). Diferença, diversidade,
elaborarem, conjuntamente, suas diferenciação. Cadernos Pagu,
vivências de opressão e vislumbrar (26), 329-376.
possibilidades de mudança. Brah, A.,& Phoenix, A. (2004). Ain’t I a
Esse momento de comunicação Woman? Revisiting
e divulgação da pesquisa nas Intersecctionality. Journal of
comunidades quilombolas também nos International Women’s Studies
fez pensar sobre outros espaços em que 5(3), 75-86.
pesquisas como esta podem circular, a Brasil. (2010). [Lei Maria da Penha
exemplo da secretaria da juventude, (2006)]. Lei Maria da Penha: Lei
secretaria de esporte e lazer do nº 11.340, de 7 de agosto de 2006,
município, no intuito de visibilizar essa que dispõe sobre mecanismos para
população e contribuir para a criação de coibir a violência doméstica e
políticas públicas que efetivamente familiar contra a mulher. Brasília:
atendam às necessidades dos(as) Câmara dos Deputados, Edições
quilombolas. Leva-nos também a pensar Câmara, 2010.
a importância da divulgação no âmbito Carneiro, A. S. (2003). Mulheres em
da academia para que novas pesquisas movimento. Estudos avançados,

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