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MODELAGEM DE UMA BOLA QUICANDO

O estudo matemático de movimentos cotidianos

Bruna D. Silva, Gabrielli D. Mendes, Giulia Ottoni, Laís L. de Souza

Resumo

O presente artigo baseia-se na modelagem do comportamento de duas bolas de massa e


composição diferentes quando são soltas de uma altura pré-determinada e colidem com outro
corpo, nesse caso, o chão. Dependendo de alguns fatores, como o material dos dois corpos
que se chocam e pressão interna da bola é provável que a mesma seja impulsionada e quique
até que perca completamente a energia adquirida. Para observar esse movimento das duas
bolas escolhidas e os resultados do modelo proposto foi realizado um experimento.
Analisaremos os resultados do experimento, explicando de maneira matemática o
comportamento de cada bola.

Palavras chave: Bola quicando. Modelagem. Parábola.

Introdução

É interessante observar como os objetos reagem quando entram em colisão com outro objeto
ou superfície e como diversos fatores podem modificar seu comportamento durante o
movimento.
Uma bola, por exemplo, depende completamente das condições em que se encontra para que
qualquer tipo de ação ocorra com a mesma. Quando é arremessada ou chutada comporta-se
de maneira diferente de quando é apenas abandonada de determinada altura, pois na primeira
situação há o emprego de uma velocidade inicial causada pela pessoa que está em contato
com a bola, já na segunda a velocidade inicial é nula, mas será adquirida conforme a
aceleração da gravidade da Terra. Ou seja, para que haja movimento, a bola precisa de algum

estímulo, como ser impulsionada, solta de uma altura, por menor que seja ou posicionada em
uma superfície não plana.
Entretanto, após iniciar sua trajetória, vários aspectos irão influenciar no comportamento
desenvolvido pela bola. A gravidade fará com que o objeto seja sempre puxado ao solo. O
atrito entre a bola e a superfície causará a perda de energia cinética que está relacionada ao
movimento. A resistência do ar também faz com que a bola perca velocidade.
Além desses fenômenos naturais existem alguns fatores que podem ser modificados, por
vezes estrategicamente. O formato esférico da bola é totalmente propício à sua facilidade de
movimentação, porém o material com que é confeccionada modificará minuciosamente seu
comportamento. O material da superfície de atrito também tem esse papel, bem como a
pressão interna da bola.
No caso do experimento realizado através da modelagem que será proposta nesse artigo,
foram utilizadas duas bolinhas, uma utilizada em jogos de ping pong, a qual é fabricada de
plástico e a outra de borracha maciça. Ambas conseguem desenvolver movimento por serem
leves e também porque seus materiais de composição permitem uma deformação. Ou seja,
nesse experimento as bolinhas possuíam material mais maleável que a superfície em que
estavam colidindo, por isso sofrem uma deformação e retornam ao seu formato original
quando quicam. Porém, isso é tão rápido que não percebemos.
Quando as bolinhas são soltas de uma determinada altura ocorre um choque do tipo
parcialmente elástico, isto é, após a colisão há uma perda de energia cinética e as bolinhas
seguem em direção contrária a que estavam inicialmente.
Nessa colisão há um acúmulo de energia potencial elástica que se transformará em energia
cinética novamente fazendo com que a bolinha continue em movimento quicando.

Objetivos

● Propor um modelo matemático que possa simular o comportamento desenvolvido por


dois tipos de bolinhas ao serem abandonadas de uma determinada altura;
● Executar o experimento baseado na modelagem;
● Calcular dados como o coeficiente de restituição, a altura que a bolinha alcança ao
quicar e tempo total que ela demora para parar completamente seu movimento;

● Comparar os resultados do modelo e do experimento.

Metodologia

Primeiramente foi realizado o experimento onde abandonou-se duas bolinhas, de massas e


materiais de composição diferentes, sendo uma de plástico e uma de borracha maciça, da
altura de um metro, a fim de analisar o tempo entre as quicadas das bolinhas e a altura que
cada uma alcançava a cada vez que se afastava do solo. Com o auxílio do recurso “Audacity”,
editor de áudio, a medição deste tempo entre as quicadas foi possível, pois a cada encontro
com o chão as bolinhas emitiram som, que foi capturado pelo editor e representado
graficamente como na imagem abaixo:

Imagem 1- Ondas sonoras captadas pelo editor de áudio

Apenas com os dados de tempo em que as bolinhas quicaram foi possível calcular os
coeficientes de restituição e as alturas atingidas após cada colisão com o solo, partindo do
princípio que o movimento realizado pelas bolinhas foi retilíneo uniformemente variado
(MRUV), devido a ação da aceleração da gravidade. Dessa forma pudemos utilizar a equação
horária do espaço (S=So+Vot+at²/2) apenas atribuindo a altura e o tempo como incógnitas,

pois o objetivo era calcular a altura em função do tempo. Assim, considerando o trajeto de
descida, renomeamos:
S= 0, devido a altura final ser o solo;
So= H, sendo a altura que objetivamos encontrar;
Vo= 0, pois a bolinha foi abandonada, sem possuir velocidade inicial;
a= -g, pelo fato de a aceleração da gravidade ser verticalmente orientada para baixo e ter seu
sentido (descida) contrário ao lado positivo do eixo h por nós atribuído.
#$
Realizando as substituições chegamos a fórmula 𝑡 = .
%

Entretanto, ainda não podíamos apenas substituir os valores de tempo obtidos e calcular a
altura pois analisando graficamente (tempo x altura) o movimento descrito pela bola
encontra-se uma série de parábolas decrescentes, cujas raízes são os tempos de quicadas das
bolinhas (pois é o momento em que a altura é zerada e o gráfico intercepta o eixo t) e a altura
máxima da parábola em questão é o H do vértice da mesma. Resgatando conceitos básicos
do estudo da parábola, sabe-se que, no caso do gráfico tempo x altura, a altura do vértice se
dá no tempo igual a média das raízes da parábola. Então, para podermos substituir t em 𝑡 =
#$
, é necessário realizar a média entre os tempos de quicada n e n+1, por exemplo.
%

Adotando g=9,8m/s² e realizando os cálculos, chegamos as alturas desejadas.


Após isso, partimos para o cálculo do coeficiente de restituição (Cr) das bolinhas, tendo o
conhecimento prévio de que ele se dá pela razão entre a velocidade de afastamento e a
velocidade de aproximação da bolinha com o solo. Voltando ao conceito de que o movimento
descrito pela bola é do tipo MRUV, já citado anteriormente, utilizamos outra fórmula
conhecida para que pudéssemos colocar a velocidade em função da altura e somente então
calcular o Cr, devido a termos somente dados de altura e não de velocidades. A fórmula
#$
utilizada foi V=Vo+at, onde renomeamos: Vo=0, a=g e 𝑡 = e chegamos que V= 2𝑔𝐻.
%

A partir desse momento, colocando as velocidades em função da altura na fórmula do Cr,


$)*+
obtemos Cr= , sendo Hn+1 a altura que a bolinha atingiu após a quicada n.
$)

Resultados e comentários

Faremos a análise dos resultados de cada bolinha de forma individual.


De acordo com os métodos utilizados para a definição dos tempos de quicada, obtivemos
para a bolinha de plástico (ping-pong):
T1=0,337s
T2=0,964s
T3=1,428s
T4=1,718s
Tempo de parada: 3,806s
Sendo Tn o tempo em que a bolinha quicou pela nª vez.
Dessa forma, realizando os cálculos explicados na parte metodologia, as alturas obtidas
foram de:
H1= 1m, altura da qual a bolinha foi abandonada
H2= 0,48m, altura atingida após a primeira quicada
H3= 0,26m, altura atingida após a segunda quicada

Conforme o gráfico:

Imagem 2- Gráfico do comportamento da bolinha de ping-pong


$# $,
Com as quais foi possível observar o surgimento de um padrão, onde na teoria, = ,
$+ $#

porém, por estarmos tratando de dados experimentais, chegamos a valores para o coeficiente
de restituição iguais a 0,69 e 0,74, respectivamente.

Já para a bolinha de borracha maciça, os tempos obtidos foram:


T1= 0,244s
T2= 1,068s
T3= 1,881s
T4= 2,485s
Tempo de parada: 10,170s
Consequentemente, encontramos:
H1= 1m
H2= 0,83m
H3= 0,67m
Calculando o coeficiente de restituição, chegamos a valores entre 0,91 e 0,90.

Conforme o gráfico:

Imagem 3- Gráfico do comportamento da bolinha maciça


Conclusão

Observando os resultados numéricos e o experimento realizado no trabalho, podemos


concluir que bolas de diferentes composições e tamanhos possuem o mesmo comportamento
quando abandonadas em queda livre de uma mesma altura: perdem certa quantidade de
energia a cada vez que entram em contato com o solo, diminuindo assim a altura alcançada
após cada colisão, até que param de quicar totalmente.
Contudo, as bolas diferem nas quantidades de energias perdidas, o que interfere na altura
alcançada depois de cada colisão com o solo e podemos analisar mais facilmente tal fato se
observarmos os coeficientes de restituição das bolinhas.
Enquanto a bolinha de plástico tem um coeficiente de restituição entre 0,69 e 0,74, a de
borracha possui um igual a 0,90, o que está relacionado diretamente com as alturas
alcançadas e com os tempos de parada de cada bolinha. Voltando a fórmula do cálculo do
coeficiente de restituição (razão entre velocidade de afastamento e velocidade de
aproximação da bolinha com o solo) podemos notar que caso o resultado obtido fosse 1, a
colisão seria totalmente elástica, a bolinha perderia uma energia mínima no contato com o
solo que não seria capaz de interferir na sua velocidade de volta. Caso tivéssemos obtido
como resultado o 0, a colisão seria totalmente inelástica e a bolinha não teria velocidade de
afastamento, ficaria no chão. Concernente a isso, como obtivemos resultados entre 0 e 1, as
colisões foram do tipo parcialmente elásticas.
O plástico é um material que dissipa maior energia do que a borracha em situações como essa
e por isso possui o coeficiente de restituição de sua bolinha menor do que o da bolinha de
borracha. Quanto mais próximo de 1 o valor desse coeficiente está, maior a capacidade do
corpo de manter o movimento original.

Referências

Só física. Conservação de Energia Mecânica. Disponível


em:<http://www.sofisica.com.br/conteudos/Mecanica/Dinamica/energia3.php>. Acesso em:
04 jul de 2017.

RIBEIRO, Thyago. Colisões. Disponível


em:<http://www.infoescola.com/mecanica/colisoes/>. Acesso em: 03 jul 2017.

Audacity. Disponível em:<http://www.audacityteam.org/>. Acesso em: 03 jul 2017.

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