Capítulo 6
CIMENTO PORTLAND
6.1 Introdução
Este capítulo aborda um breve histórico do cimento Portland em âmbito mundial e
nacional, sem procurar enfatizar esse aspecto histórico já que outras publicações
conhecidas, principalmente da literatura internacional, já discorrem mais detalhadamente
sobre o tema.
Na sequência é abordada a questão da fabricação do cimento Portland, optando-se
transcrição de parte do Capítulo 10, “O Cimento Portland” (KIHARA & CENTURIONE, 2005),
do Livro “Concreto: Ensino, Pesquisa e Realizações”, com as complementações e
adaptações necessárias na visão do autor
Em seguida são abordados os constituintes do Cimento Portland, o clínquer e suas
fases mineralógicas, o sulfato de cálcio e as adições. Como o tema hidratação é tratado no
Capítulo 11, procurou-se enfatizar quais as particularidades do processo produtivo impõem
características aos constituintes do clínquer, com repercussões nas propriedades da pasta
de cimento e, consequentemente, no concreto.
Os tipos de cimento Portland e sua normalização são tratados na seção 6.4, em que
são feitas comparações entre as especificações normativas brasileiras, europeias e norte-
americanas. Em seguida, é feita uma abordagem sobre os ensaios de controle de qualidade
do cimento Portland, seu significado e suas implicações no desempenho.
Considerações sobre a indústria do cimento e o meio ambiente bem como inovações
em cimento Portland e novos ligantes são os temas escolhidos para concluir este capítulo.
1
Para mais informações, consultar o Capítulo 1.
1
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em 1912, uma fábrica que funcionou até 1924, com precariedade e produção de apenas
8.000 toneladas por ano, sendo então paralisada, voltando a funcionar em 1935, após
modernização.
Todas essas etapas não passaram de meras tentativas que culminaram, em 1924,
com a implantação, pela Companhia Brasileira de Cimento Portland, de uma fábrica em
Perus, Estado de São Paulo, cuja construção pode ser considerada como o marco da
implantação da indústria brasileira de cimento. As primeiras toneladas foram produzidas e
colocadas no mercado em 1926. Até então, o consumo de cimento no país dependia
exclusivamente do produto importado. A produção nacional foi gradativamente elevada com
a implantação de novas fábricas e a participação de produtos importados oscilou durante as
décadas seguintes. Na década de 70, a produção cresceu intensamente, com uma elevação
do patamar de 9,8 milhões de toneladas por ano para 27,2 milhões de toneladas no início
dos anos 80, período em que a recessão da economia nacional provocou queda no consumo
(CARVALHO, 2010).
Ao longo dos anos de 1990, houve uma retomada no crescimento do consumo, que
provocou grande aumento de produção. A produtividade desenvolvida na época da
estagnação foi extremamente eficaz para a obtenção dos resultados nessa fase. O ano de
1999 foi excepcional, alcançando 40,2 milhões de toneladas de cimento devido,
especialmente, ao advento do Plano Real. A partir de 2000, a produção sofreu queda
resultante das sucessivas crises mundiais e consequente instabilidade econômica. Em 2004
o consumo se estabilizou, indicando o início de uma retomada e voltou ao patamar de 40
milhões de toneladas no ano de 2006, com o aquecimento da construção civil. No ano
seguinte, o mercado atingiu o número de 45 milhões de toneladas de cimento consumidas no
País. Em 2008, o consumo de cimento no Brasil bateu recorde, superando a marca de 51
milhões de toneladas. Em 2009, esse número se manteve praticamente estável em relação
ao ano anterior (CARVALHO, 2010) e em 2010 alcançou-se novo recorde, com produção de
mais de 59 milhões de toneladas (SNIC, 2011).
6.2.1 Generalidades
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a farinha, apresente a composição química preestabelecida, a finura adequada para uma boa
combinação de seus constituintes e uma homogeneidade apropriada.
É importante salientar que o controle das matérias-primas durante o processo
industrial se dá fundamentalmente com base em módulos químicos empiricamente criados
ao longo de décadas da evolução da indústria cimenteira, de modo a manter, o mais
constante possível, o quimismo da farinha e a homogeneidade do clínquer. Dentre eles, os
mais usuais são o Fator de Saturação de Cal (FSC), o Módulo de Sílica (MS) e o Módulo de
Alumina (MA) (CENTURIONE, 1993), calculados pelas equações a seguir:
CaO x 100
FSC =
2,8SiO2 + 1,2Al 2 O3 + 0,65Fe 2 O3
(Equação 1)
SiO2
MS = (Equação 2)
Al 2 O3 + Fe 2 O3
Al 2 O3
MA = (Equação 3)
Fe2 O
3
5
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P
R
Refratário
Colagem
Carcaça
Leito de clínquer
6
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CO 2
Relação de massa
CaCO 3
Farinha
C a l liv r e
Clínquer
A lita
B e lita
α q u a rtz o β q u a rtz o
C r is to b a lita
M in e r a is d e a r g ila
C 12A 7 C 3A
L íq u id o
F e 2O H 2O
3 C 2(A ,F ) C 4A F
2
Termo emprestado da Termodinâmica para designar uma situação em que as fases mineralógicas resultantes
ou decorrentes de aquecimento possuem uma estabilidade precária, podendo facilmente ser alteradas para um
nível de energia mais baixo.
3
BATTAGIN, A. F., BATTAGIN, I. L. S. O cimento Portland no Brasil. In: ISAIA, G. C. (Ed.). Materiais de
Construção Civil e Princípio de Ciência e Engenharia de Materiais. v. 1, São Paulo: Instituto Brasileiro do
Concreto, 2010. p. 761-790.
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Ensacado ou a granel, o cimento ocupa muito espaço, considerando seu baixo valor.
Por ser perecível, requer uma estocagem em condições especiais, seja nas fábricas, nos
depósitos ou nas lojas, e por prazos limitados a poucos dias. É sensível à logística, que é de
fluxo contínuo e inclui todo o processo de produção, distribuição e consumo. Em caso de
aumento de demanda, toda a cadeia relacionada precisa ser imediatamente ampliada para
maior produção, mais insumos, mais caminhões etc. Por ser um produto de baixa relação
preço/peso, o cimento é bastante onerado pelo frete, na distribuição, sofrendo diretamente o
impacto com os aumentos de combustíveis e outros derivados de petróleo. Por todos esses
motivos, o peso da logística do cimento é maior do que em diversos outros segmentos de
bens de consumo.
Outras características são determinantes para o escoamento da produção de cimento
no Brasil: o modal de transporte mais utilizado pela indústria é o rodoviário, atingindo em
2009 a expressiva parcela de 94% do total de cimento transportado. Em 2009, para retirar o
cimento das fábricas, circularam diariamente, em média, em todo o Brasil, mais de oito mil
caminhões carregados do produto. O raio de distribuição do cimento atinge, em média, 300 a
500 quilômetros nas regiões Sudeste e Sul, podendo chegar a mais de 1000 quilômetros no
Norte e Nordeste. Nestas regiões, existe a necessidade do uso do modal hidroviário que
representa cerca de apenas 1% do total transportado. O sistema ferroviário adquiriu mais
qualidade com a privatização, mas ainda hoje são necessários cinco dias para levar uma
carga que seria transportada em um dia por uma rodovia. Além disso, há a disputa pelos
meios de transporte com outros produtos como o aço, os minérios e os produtos agrícolas.
6.3.1.1 Alita
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et al., 1990). Um cristal de alita tem idealmente a forma prismática hexagonal. Quando o
cristal desenvolve todas as faces de um hexágono, é denominado idiomórfico (Figura 5).
6.3.1.2 Belita
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Figura 7 – Zonas regulares de belita (B) e presença de poros (P) (ABCP, 2005).
Figura 8 – Zonas regulares de belita (B), ligadas a grãos silicosos grossos na farinha crua (ABCP, 2005).
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Figura 9 – Cristais de belita arrredondados (B), resultantes de condições adequadas de resfriamento que lhes
conferem alta reatividade; entre os cristais de belita aparece a fase intersticial (F) (ABCP, 2005).
A fase intersticial, material que preenche os espaços entre os cristais de alita e belita,
compreende o material que se funde durante o processo de clinquerização. Essa fase é
formada por aluminatos e ferroaluminatos cálcicos, em solução sólida. O C3A (aluminato
tricálcico) é responsável pela pega do cimento, já que é o componente mais reativo do
clínquer. O C4AF (ferroaluminato tetracálcico) tem importante papel na resistência química do
cimento, em especial ao ataque de sulfatos às estruturas de concreto. A fase intersticial
ocorre em proporções que variam de 15% a 20% do clínquer (KIHARA et al., 1990). O estudo
da microestrutura da fase intersticial pode nos revelar aspectos do segundo resfriamento. De
fato, em relação ao segundo resfriamento, que se processa no resfriador industrial, sua
avaliação se baseia no grau de cristalização da fase intersticial. Assim, fases intersticiais
vítrea, semicristalizada e cristalizada caracterizam, respectivamente, um segundo
resfriamento rápido, normal e lento. Quando o segundo resfriamento é lento e, portanto, a
fase é cristalizada, é possível identificar a presença de álcalis no aluminato cálcico através
do alongamento desses cristais, que influi decisivamente na sua reatividade. A fase
intersticial cristalizada, com nítida separação entre o C3A e o C4AF, por ser mais reativa,
requer maior teor de sulfato de cálcio para retardar a pega, em igualdade de condições. O
segundo resfriamento rápido se caracteriza também por proporcionar alitas e belitas mais
reativas. A Figura 10 ilustra diferentes feições da fase intersticial (ABCP, 2005).
12
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Figura 10 – No quadrante superior, fase intersticial cristalizada em C3A (D) e C4AF (E). Essa fase é muito
reativa, com repercussão direta na resistência do cimento a sulfatos e no calor de hidratação. A feição da direita
mostra incorporação de álcalis, com C3A alcalino com influência na reação álcali-agregado, pois sua presença
indica também a presença de sulfatos alcalinos solúveis. No quadrante inferior fase vítrea (F) e semicristalizada
(F), da esquerda para a direita, respectivamente, resultando em pega mais lenta e menor calor de hidratação
em igualdade de condições (ABCP, 2005).
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insuficiente da mistura crua. A presença de cal livre pode levar a expansão da pasta de
cimento no processo de hidratação, mas não existe uma limitação normativa do teor máximo
de CaO livre no clínquer ou no cimento, o que se limita efetivamente é a variação volumétrica
da pasta de cimento pelo método das agulhas de Le Chatelier, seja a frio ou a quente, de
acordo com a ABNT NBR 11582:1991. A Figura 11 ilustra os cristais de cal livre, observados
por microscopia óptica de luz refletida.
Figura 11 – Cristais de cal livre (c) em zonas, revelando cristais reliquiares de grão grossos de calcário na
farinha crua (ABCP, 2005).
6.3.1.5 Periclásio
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Figura 12 – Cristais de periclásio dispersos ou associados em zonas de cal livre ligadas a grão de calcário
dolomítico (ABCP, 2005).
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Pozolanas são materiais silicosos ou sílico-aluminosos, que por si sós não possuem
poder aglomerante, mas que, em presença de água e quando finamente divididos, reagem
com o hidróxido de cálcio, na temperatura ambiente, dando origem a compostos com
propriedades aglomerantes.
De acordo com a ABNT NBR 5736:1991, especificação brasileira de cimento
Portland pozolânico, as pozolanas são classificadas em naturais e artificiais, sendo as
primeiras definidas como materiais de origem vulcânica, geralmente de natureza ácida ou de
origem sedimentar. As pozolanas artificiais correspondem aos materiais provenientes de
tratamento térmico ou subprodutos industriais com atividade pozolânica e podem ser
subdivididas em:
• argilas calcinadas – materiais provenientes da calcinação de determinadas argilas
que, quando tratadas à temperatura entre 500°C e 900°C, adquirem a propriedade de
reagir com o hidróxido de cálcio;
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Como fíler calcário deve ser entendido o material proveniente da rocha calcária
finamente moída, o qual adicionado ao cimento Portland produz concretos mais trabalháveis,
porque os grãos ou partículas desses materiais, ao se alojarem entre os grãos dos demais
componentes do concreto, desempenham o papel de lubrificante.
É bastante conhecida, na literatura técnica, a controvérsia sobre a influência nefasta
ou positiva da adição calcária, quer na resistência mecânica, quer mais amplamente na
durabilidade do concreto. Atualmente a comunidade técnica e os consumidores já aceitam
com maior naturalidade os cimentos filerizados, pois a experiência vem comprovando o bom
desempenho desses materiais tanto no Brasil como em âmbito mundial, tendo a União
Europeia adotado, no ano 2000, a EN 197-1 Especificação de Cimentos Correntes, que
contempla o uso de filer em até 35%. No Brasil, o uso do filer calcário é especificado na
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ABNT NBR 11578:1991 – Cimento Portland Composto com fíler (CP II-F) em teores de 6 a
10% e nos demais cimentos compostos (com pozolana, CP II-Z e com escória, CP II-E) em
teores de 0 a 10%. Nos cimentos Portland pozolânicos (ABNT NBR 5736:1991) e de alto-
forno (ABNT NBR 5735:1991), os teores máximos são limitados em 5%, sendo exigência que
o teor de carbonato do fíler seja superior a 85% de CaCO3. Na Argentina a norma IRAM
50000, versão 2010, prevê cimentos com até 25% de fíler calcário, ao passo que somente
em 2005 as normas americanas da American Society for Testing and Materials (ASTM)
incluíram até 5% de filer nos cimentos da especificação ASTM C 150, em contraste com
alguns países europeus que vinham admitindo altos teores desde a década de 60.
A adição de filer calcário causa um efeito químico e físico durante a hidratação do
cimento. O efeito químico é limitado pela formação de carboaluminatos, com influência na
pega (grosso modo, pode-se substituir até metade do teor de gesso ótimo no cimento),
(BENSTED, 1980) e, na resistência pela incorporação de CaCO3 e na estrutura do C-S-H, o
principal composto da hidratação das pastas de cimento, responsável pelo desenvolvimento
da resistência mecânica. O efeito físico da adição calcária se deve unicamente ao
preenchimento dos poros (efeito fíler), por ser geralmente um material extremamente fino.
Por apresentar moabilidade mais fácil que o clínquer, durante a moagem conjunta nos
moinhos industriais, ele se concentra nas frações mais finas do cimento. Essas partículas
mais finas preenchem os poros e ao mesmo tempo promovem uma aceleração da hidratação
ao se comportarem como locais de nucleação na formação dos novos compostos de
hidratação.
Com suas normas de cimento baseadas no modelo europeu, que conta atualmente
com vinte e sete tipos de cimento normalizados pelo CEN (EN 197-1:2000), o Brasil dispõe
de oito tipos básicos normalizados de cimento Portland, os quais com seus subtipos e
classes de resistência chegam a mais de duas dezenas disponíveis para as mais variadas
aplicações. O cimento Portland comum (CP I), embora praticamente ausente do mercado,
principalmente por questões ambientais e de racionalização de energia, continua como
referência, por suas características e propriedades, a todos os tipos básicos de cimento
Portland disponíveis no mercado brasileiro, pois foi o tipo de cimento pioneiramente
produzido a partir de 1926 e constituiu o tipo predominante até o final da década de 1980.
São os seguintes os tipos de cimento normalizados:
• Cimento Portland Comum (CP I):
• CP I – Cimento Portland Comum;
• CP I-S – Cimento Portland Comum com Adição;
• Cimento Portland Composto (CP II):
• CP II-E – Cimento Portland Composto com Escória;
• CP II-Z – Cimento Portland Composto com Pozolana;
• CP II-F – Cimento Portland Composto com Fíler;
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Expansibi-
Tempos de Resistência à compressão
Finura lidade
pega (h) (MPa)
(mm)
cimento
Tipo de
Classe
específica
A quente
Resíduo
#75 µ m
91 dias
(m /kg)
28dias
3 dias
7 dias
Início
A frio
1 dia
Área
Fim
2
25 ≥ 240 ≥8 ≥ 15 ≥ 25
CPI ≤ 12,0 1) 1)
32 ≥ 260 ≥1 ≤ 10 ≤5 ≤5 -- ≥ 10 ≥ 20 ≥ 32 --
CPI-S ≤ 10,0
40 ≥ 280 ≥ 15 ≥ 25 ≥ 40
CPII-E 25 ≥ 240 ≥8 ≥ 15 ≥ 25
≤ 12,0 1) 1)
CPII-Z 32 ≥ 260 ≥1 ≤ 10 ≤5 ≤5 -- ≥ 10 ≥ 20 ≥ 32 --
CPII-F 40 ≤ 10,0
≥ 280 ≥ 15 ≥ 25 ≥ 40
(1)
25 ≥8 ≥ 15 ≥ 25 ≥ 32
(2) 1) 1) (1)
CPIII 32 ≤ 8,0 -- ≥1 ≤ 12 ≤5 ≤5 -- ≥ 10 ≥ 20 ≥ 32 ≥ 40
(1)
40 ≥ 12 ≥ 23 ≥ 40 ≥ 48
(1)
(2) 25 1) 1) ≥8 ≥ 15 ≥ 25 ≥ 32
CPIV ≤ 8,0 -- ≥1 ≤ 12 ≤5 ≤5 -- (1)
32 ≥ 10 ≥ 20 ≥ 32 ≥ 40
1) 1)
CPV-ARI ≤ 6,0 ≥ 300 ≥1 ≤10 ≤5 ≤5 ≥ 14 ≥ 24 ≥ 34 -- --
(1)
Ensaio facultativo
(2)
Outras características podem ser exigidas, como calor de hidratação, inibição da expansão devido à reação
álcali-agregado, resistência a meios agressivos, tempos máximos de início de pega.
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seguir tratam de características especiais que os cimentos devam cumprir, além dos
requisitos constantes da norma do produto, de forma a atenderem: 1) a necessidade de
resistência aos sulfatos (ABNT NBR 5737:1992); 2) a necessidade de baixo calor de
hidratação (ABNT NBR 13116:1994); 3) a necessidade de um cimento branco (ABNT NBR
12989:1993).
De acordo com a norma ABNT NBR 5737:1992, os cinco tipos básicos de cimento
podem ser resistentes aos sulfatos, desde que se enquadrem em pelo menos uma das
seguintes condições: 1) teor de aluminato tricálcico (C3A) do clínquer e teor de adições
carbonáticas de no máximo 8% e 5% em massa, respectivamente; 2) cimentos do tipo alto-
forno que contiverem entre 60% e 70% de escória granulada de alto-forno, em massa; 3)
cimentos do tipo pozolânico que contiverem entre 25% e 40% de material pozolânico, em
massa; e 4) cimentos que tiverem antecedentes de resultados de ensaios de longa duração
ou de obras que comprovem resistência aos sulfatos.
Os cimentos resistentes a sulfatos são designados pelo tipo de cimento do qual se
deriva, acrescido do sufixo RS. Oferecem resistência aos meios agressivos sulfatados, como
redes de esgotos de águas servidas ou industriais, água do mar, e a alguns tipos de solos.
Podem ser usados em: concreto dosado em central, concreto de alto desempenho, obras de
recuperação estrutural e industriais, concreto projetados, armado e protendido, elementos
pré-moldados de concreto, pisos industriais, pavimentos, argamassa armada, argamassas e
concretos submetidos ao ataque de meios agressivos, como estações de tratamento de água
e esgotos, obras em regiões litorâneas, subterrâneas e marítimas.
O Cimento Portland de Baixo Calor de Hidratação (BC) é designado por siglas e
classes de seu tipo, acrescidas de BC. Por exemplo: CP III-32 (BC) é o Cimento Portland de
Alto-Forno com baixo calor de hidratação, determinado pela sua composição. Esse tipo de
cimento tem a propriedade de retardar o desprendimento de calor em peças de grande
massa de concreto, evitando o aparecimento de fissuras de origem térmica, devido ao calor
desenvolvido durante a hidratação do cimento.
De forma geral, todos os tipos de cimento Portland são adequados a todos os tipos
de estrutura e aplicações. Existem, entretanto, alguns tipos de cimento que são mais
vantajosos ou recomendáveis para determinadas aplicações. Dentro desse princípio, pode-
se afirmar que os cimentos CP I e CP II se destinam a aplicações gerais, ao passo que o CP
III, CP IV e ARI comportam-se melhor em algumas situações específicas.
O CP V ARI, com valores médios aproximados de resistência à compressão acima
de 25 MPa a um dia de idade e de 50 MPa aos 28 dias, que superam em muito os valores
normativos de 14 MPa, 24 MPa e 34 MPa para um, três e sete dias, respectivamente, é
recomendado no preparo de concreto e argamassa para produção de artefatos de cimento
como blocos para alvenaria, blocos para pavimentação, tubos, lajes, meio-fio, mourões,
postes, elementos arquitetônicos pré-moldados e pré-fabricados. Pode ser utilizado no
preparo de concreto e argamassa em obras desde as pequenas construções até as
edificações de maior porte e em todas as aplicações que necessitem de resistência inicial
elevada e desforma rápida. O desenvolvimento dessa propriedade é conseguido pela
utilização de uma dosagem diferente de calcário e argila na produção do clínquer (que
resulta em elevação dos conteúdos de alita e C3A), e pela moagem mais fina do cimento.
Assim, ao reagir com a água, o CP V ARI adquire elevadas resistências, com maior
velocidade. No entanto, apesar de garantir um crescimento acelerado de resistência já nos
primeiros dias, há um decréscimo na velocidade desse crescimento, tendendo a valores
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finais assintóticos próximos aos obtidos para os demais tipos de cimento a idades
avançadas. Os concretos preparados com cimento de alta resistência inicial exigem mais
água para a obtenção da mesma consistência obtida com outros tipos de cimento, o que
demanda cautela do ponto de vista de buscar indiscriminadamente resistências mais altas às
primeiras idades, sem a prática da boa engenharia, sob pena de resultar em manifestações
patológicas como, por exemplo, fissuras decorrentes da maior retração por secagem em
condições ambientais inapropriadas.
De uma maneira geral, os cimentos com adições (pozolânicos e de alto-forno)
apresentam, para as aplicações rotineiras e convencionais, desempenho comparável ao dos
cimentos Portland compostos. Para certos tipos de obras, apresentam algumas vantagens.
De fato, as principais vantagens dos cimentos Portland de alto-forno e pozolânicos estão
ligadas às maiores: estabilidade, durabilidade e impermeabilidade, que conferem ao
concreto, ao menor calor de hidratação, à maior resistência ao ataque por sulfatos, à maior
resistência à compressão em idades mais avançadas, à maior resistência à tração e à flexão
e a uma melhor ou igual durabilidade. Portanto, é especialmente recomendável o emprego
de cimentos CP III e CP IV em: obras de concreto-massa como barragens e peças de
grandes dimensões, fundações de máquinas, pilares, obras em contato com ambientes
agressivos por sulfatos, terrenos salinos, tubos e canaletas para condução de líquidos
agressivos, esgotos ou efluentes industriais; concretos com agregados reativos, pois esses
cimentos concorrem para minimizar os efeitos expansivos da reação álcali-agregado; pilares
de pontes ou obras submersas em contato com águas correntes puras; obras em zonas
costeiras ou em água do mar; pavimentação de estradas e pistas de aeroportos, etc.
Por outro lado, sua menor resistência inicial, quando comparados com os cimentos
Portland compostos, pode ser incrementada pelo uso de aditivos aceleradores do
endurecimento ou por compensações na dosagem do concreto. O uso dos cimentos CP III e
CP IV deve ser cauteloso em pré-moldados com cura normal, nos casos em que se exija
desforma rápida, o que pode ser resolvido pela cura a vapor. Também devem ser evitadas as
concretagens em ambientes muito secos ou em temperaturas baixas. Como contém sulfetos,
provenientes da escória, o cimento Portland de alto-forno não é recomendado em caldas de
injeção para bainhas de protensão, embora, no concreto protendido ou armado, não haja
restrições de uso, assim como também deve ser evitado seu uso em argamassa de
assentamento de pisos e azulejos, fato que pode provocar manchas no revestimento.
O Cimento Portland Branco se diferencia por coloração e está classificado em dois
subtipos: estrutural e não estrutural. O estrutural é aplicado em concretos brancos para fins
arquitetônicos, com classes de resistência 25, 32 e 40, similares as dos demais tipos de
cimento. Já o não estrutural não tem indicações de classe e é aplicado, por exemplo, em
rejuntamento de azulejos e em aplicações não estruturais. A cor branca é obtida a partir de
matérias-primas com baixos teores de óxido de ferro e manganês, em condições especiais
durante a fabricação, tais como resfriamento e moagem do produto e, principalmente,
utilizando o caulim no lugar da argila. O índice de brancura deve ser maior que 78%.
Adequado aos projetos arquitetônicos mais ousados, o cimento branco oferece a
possibilidade de escolha de cores, uma vez que pode ser associado a pigmentos coloridos4.
4
Os temas concreto branco e concreto arquitetônico e decorativo são apresentados nos Capítulos 46 e 45,
respectivamente.
25
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Tipo de Cimento
Influência Alta Resistente
Comum e Branco
Alto-Forno Pozolânico Resistência aos
Composto Estrutural
Inicial Sulfatos
Menor nos Menor nos
primeiros primeiros Muito maior
Resistência à
Padrão dias e maior dias e maior nos primeiros Padrão Padrão
compressão
no final da no final da dias
cura cura
Calor gerado na
reação do cimento Padrão Menor Menor Maior Padrão Maior
com a água
Impermeabilidade Padrão Maior Maior Padrão Padrão Padrão
Resistência aos
agentes
Padrão Maior Maior Menor Maior Menor
agressivos (água
do mar e esgotos)
Durabilidade Padrão Maior Maior Padrão Maior Padrão
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Constituintes minoritários
Constituintes principais
Tipos
forno (S)
Clínquer
( K)
calcária
Silicios
Natural
calcina
natural
da (Q)
a (V)
(W)
(P)
L LL
95-
CEM I Cimento Portland CEM I - - - - - - - - - 0-5
100
CEM
80-94 6-20 - - - - - - - - 0-5
Cimento Portland II/A-S
com escória CEM 21-
65-79 - - - - - - - - 0-5
II/B-S 35
Cimento Portland CEM 6-
90-94 - - - - - - - - 0-5
de sílica ativa II/A-D 10
CEM
80-94 - - 6-20 - - - - - . 0-5
II/A-P
CEM 21-
65-79 - - - - - - - - 0-5
Cimento Portland II/B-P 35
com pozolana CEM
80-94 - - - 6-20 - - - - - 0-5
II/A-Q
CEM 21-
65-79 - - - - - - - - 0-5
II/B-Q 35
CEM
80-94 - - - - 6-20 - - - - 0-5
II/A-V
CEM 21-
65-79 - - - - - - - - 0-5
Cimento Portland II/B-V 35
de cinza volante CEM
CEM II 80-94 - - - - - 6-20 - - - 0-5
II/A-W
CEM 21-
65-79 - - - - - - - - 0-5
II/B-W 35
CEM
80-94 - - - - - - 6-20 - - 0-5
Cimento Portland II/A-T
de xisto cozido CEM 21-
65-79 - - - - - - - - 0-5
II/B-T 35
CEM
80-94 - - - - - - - 6-20 - 0-5
II/A-L
CEM 21-
65-79 - - - - - - - - 0-5
Cimento Portland II/B-L 35
de calcário CEM
80-94 - - - - 6-20 0-5
II/A-LL
CEM 21-
65-79 - - - - - - - - 0-5
II/B-LL 35
CEM <------------------------------------------- 6-20 --------------------------------
80-94 0-5
Cimento Portland II/A-M ------->
c
composto CEM < - ---------------------------------------- 21-35 --------------------------------
65-79 0-5
II/B-M ----- >
CEM 36-
35-64 - - - - - - - - 0-5
Cimento de alto- III/A 65
CEM III
forno CEM 66-
20-34 - - - - - - - - 0-5
III/B 80
28
Instituto Brasileiro do Concreto – Livro CONCRETO: CIÊNCIA E TECNOLOGIA
CEM 81-
5-19 - - - - - - - - 0-5
III/C 95
CEM < --------------- 11-35 ----------------
65-89 - - - - 0-5
CEM Cimento pozolânico IV/A >
c
IV CEM < --------------- 36-55 ---------------
45-64 - - - - 0-5
IV/B >
CEM 18- < --------- 18-30 ------
40-64 - - - - - 0-5
c V/A 30 -- >
CEM V Cimento composto
CEM 31- < --------- 31-50 ------
20-38 - - - - - 0-5
V/B 50 -- >
a Os valores do quadro referem-se à soma dos constituintes principais e dos adicionais minoritários.
b A incorporação de sílica ativa é limitada a 10 %.
c Nos cimentos Portland compostos CEM II/A-M e CEM II/B-M, nos cimentos pozolânicos CEM IV/A e CEM IV/B e nos
cimentos compostos CEM V/A e CEM V/B, os constituintes principais, além do clínquer, devem ser declarados na
designação do cimento.
29
Instituto Brasileiro do Concreto – Livro CONCRETO: CIÊNCIA E TECNOLOGIA
30
Instituto Brasileiro do Concreto – Livro CONCRETO: CIÊNCIA E TECNOLOGIA
A moagem é uma das últimas etapas da fabricação do cimento que impõe ao produto
final valores característicos de finura, com forte influência na sua distribuição granulométrica.
Essas propriedades, por sua vez, têm importância vital para o comportamento reológico e
desempenho mecânico do cimento nas pastas argamassas e concretos. No tocante ao
controle adequado da finura e à distribuição granulométrica do cimento, várias técnicas são
utilizadas, com destaque para as apresentadas a seguir.
6.5.1.2 Peneiramento
31
Instituto Brasileiro do Concreto – Livro CONCRETO: CIÊNCIA E TECNOLOGIA
32
Instituto Brasileiro do Concreto – Livro CONCRETO: CIÊNCIA E TECNOLOGIA
resistência à compressão (valores extremos de 345 m2/kg e 407 m2/kg de área específica e
variação entre os valores extremos da ordem de 5 MPa para a resistência à compressão em
qualquer das idades apresentadas).
Existe uma percepção no mercado de que a evolução da resistência mecânica à
compressão dos diferentes tipos de cimento teria mudado o padrão de comportamento, nos
últimos anos principalmente no que diz respeito ao ganho de resistência de 28 para 91 dias.
Com base na compilação de resultados de ensaios obtidos junto à Associação Brasileira de
Cimento Portland, são mostrados os Quadros 10 e 11, elaborados a partir das análises de
580 amostras representativas de cimentos fabricados por todas as unidades brasileiras das
diferentes regiões do País.
33
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34
Instituto Brasileiro do Concreto – Livro CONCRETO: CIÊNCIA E TECNOLOGIA
35
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Figura 16 – Distribuição média mundial das emissões de CO2 na produção de cimento (BATELLE, 2002).
36
Instituto Brasileiro do Concreto – Livro CONCRETO: CIÊNCIA E TECNOLOGIA
A ecoeficiência
ncia energética é conseguida graças a um parque industrial moderno que
opera com 99% dos fornos pelo sistema via seca que garante a diminuição do uso de
combustíveis em até 50%. Além disso, os altos níveis de eficiência energética são
conseguidos com pré-aquecedores
aquecedores e pré
pré-calcinadores
calcinadores que reaproveitam os gases quentes
da saída do forno para pré-aquecer
aquecer a matéria
matéria-prima
ma previamente à entrada do forno,
diminuindo o consumo de combustíveis
combustíveis. Multi-queimadores
queimadores desenvolvidos para queima
simultânea de combustíveis alternativos e convencionais (coque de petróleo, óleo
combustível e carvão mineral e vegetal), sistemas de filtr filtro
o de alto desempenho,
monitoramento on line de gases para controle ambiental e do processo,processo fazem com que
sejam praticados índices específicos de consumo térmico médio de 2730 MJ/t de cimento
(653 kcal/kg ou 825 kcal/kg de cl
clínquer ) Adicionalmente, graças aos moinhos e separadores
de alta eficiência, o consumo elétrico de 10
107 kWh/t de cimento,, atingiram metas de consumo
que são reconhecidas como parâmetros de referência em âmbito mundial segundo a Agência
Internacional de Energia (2009), enfatizando-se que se torna muito difícil para o Brasil atingir
novo patamar dado os avanços já conseguidos.
As Figuras 17 e 18 apresentam a comparação dos índices de eficiência pelos vários
países segundo dados referentes a 2003, compilados pelo SNIC (2009)(2009).
(kWh/t cimento)
Consumo específico de energia elétrica
170
150 146
130 125
112
107 108
110 100
90
70
Brasil Espanha EUA França Itália Japão
37
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600
400
200
0
Brasil Colômbia Espanha EUA França
Figura 18 – Consumo
nsumo comparativo de energia térmica na produção de cimento (SNIC
SNIC, 2009).
38
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casca de arroz, bagaço de cana, grãos contaminados, etc.), crescendo para cerca de 18%,
com base em avaliação feita, já que se desconhece a existência de estatística atualizada.
Segundo o WBCSD – CSI, no estudo Getting the Numbers Right (WBCSD, 2009),
por outro lado, o Brasil é o líder no uso de biomassa como substituto de combustível fóssil,
com 12% do total de energia térmica gerada. Adicionando-se o uso de 9% de resíduos co-
processados (atualmente 10% como mostrado), o Brasil atinge mais de um quinto de
combustíveis alternativos, substituindo combustíveis fósseis.
A Figura 19, retirada do relatório do Balanço Energético Nacional (Ministério de
Minas e Energia, Brasil, 2010), confirma esses números.
Em suma, o uso de energias renováveis está cada vez mais presente na produção
do cimento. Isso é possível pelo coprocessamento de resíduos e/ou pelo uso de biomassa,
que emitem, muitas vezes, menor quantidade de CO2 que os combustíveis tradicionais
utilizados. Através do coprocessamento, a indústria aproveita resíduos como substitutos de
combustível ou matéria-prima. Esse processo, além de dar uma destinação ambientalmente
adequada a rejeitos de outras atividades industriais, permite, ainda que parcialmente, reduzir
o uso de combustíveis tradicionais não-renováveis, como o coque de petróleo, o óleo
combustível e o carvão.
O último vetor na busca da mitigação das emissões dos gases de efeito estufa liga-
se ao uso de cimento com adições de escórias, materiais pozolânicos e fíler calcário.
Utilizados desde o início da década de 50 do século passado, os cimentos com adições
levam à diminuição na utilização de clínquer e à consequente menor liberação de CO2
proveniente do consumo de combustíveis no forno e da descarbonatação do calcário,
reduzindo as emissões totais de CO2 por tonelada de cimento produzido.
O uso de adições na produção de cimento permitiu, em 2008, a redução de
aproximadamente 14 Mt de CO2. Trabalho recentemente publicado (IEA, 2009) mostra que a
indústria brasileira de cimento, devido ao grau de excelência já atingido e das melhores
práticas empregadas, apresenta menor índice de recursos disponíveis (uso de combustíveis
39
Instituto Brasileiro do Concreto – Livro CONCRETO: CIÊNCIA E TECNOLOGIA
alternativos e cimentos com adição já praticados) para a redução de suas emissões. De fato
a Figura 20 mostra que a evolução na produção de cimento no período 1990-2008 dobrou ao
passo que as adições tiveram seu consumo triplicado, em oposição ao clínquer que
aumentou em cerca de 70% (SNIC, 2009ª)
Todas essas ações resultaram que o Brasil apresenta um dos menores índices de
emissão específica de CO2, ou seja, abaixo de 600 kg/tonelada de cimento, constituindo
referência mundial do setor, como mostra a Figura 22.
40
Instituto Brasileiro do Concreto – Livro CONCRETO: CIÊNCIA E TECNOLOGIA
Figura 22 – Comparação das taxas de emissão específica de CO2 por tonelada de cimento no período 1990 a
2008 (WBCSD-CSI, 2009).
O Segundo Inventário Nacional dos Gases de Efeito Estufa, com dados referentes ao
período de 1990 -2005 e tornados públicos pelo Ministério da Ciência e Tecnologia em 2010
(MCT, 2011), mostra que há concentração de emissão no uso do solo e queimadas,
agropecuária e uso de energia (Figura 23). As emissões devido aos setores industriais são
pequenas em termos porcentuais, cabendo ao Setor de Cimento Brasileiro o valor de 1,1%
em relação às emissões totais e contrapondo-se a valores médios mundiais de 5%.
41
Instituto Brasileiro do Concreto – Livro CONCRETO: CIÊNCIA E TECNOLOGIA
6.7.1 Novacem
A origem do Novacem remonta aos estudos iniciais de um estudante de pós-
graduação, o grego Nikolaos Vlasopoulos, no Imperial College, na Inglaterra, desde 2005.
Esse estudo motivou a criação de uma empresa privada com a própria denominação de
Novacem, a qual vem propagando que o produto absorve mais CO2 do que emite
(NOVACEM, 2009). Embora seja segredo industrial, o processo produtivo consiste
basicamente na obtenção de MgO a partir da calcinação a cerca de 700oC de silicatos de
magnésio, os quais misturados com certos aditivos, um deles, carbonato de magnésio
hidratado, leva ao novo produto. Ao reagir com água obtém-se um material que endurece e
tem as mesmas propriedades do cimento Portland.
A reação que leva a obtenção do ligante é a seguinte:
MgSiO3(7000C) MgO + 4MgCO3.Mg(OH)2.4H2O + aditivos Novacem (Equação 8)
Segundo o fabricante, o dióxido de carbono, gerado pela queima do silicato de
magnésio, é menor que o teor absorvido pela carbonatação do concreto contendo Novacem.
Em comparação com o cimento Portland, que gera para a fabricação de uma tonelada de
cimento ao redor de 0,8 a 1,1 toneladas de CO2 na fabricação e absorve de 0,2 a 0,5
toneladas de CO2 durante a vida da estrutura de concreto pela carbonatação, o produto
Novacem geraria de 0,2 a 0,4 toneladas de CO2 e absorveria de 0,9 a 1,1 toneladas de CO2,
respectivamente, com saldo negativo de CO2, ou seja, absorção de 0,6 toneladas de CO2 por
tonelada de produto fabricado.
Segundo o fabricante, poderá ser competitivo com o cimento Portland para produção
acima de 500.000 toneladas/ano. A fabricação em escala comercial está prevista para
2014/2015, tendo em 2010 sido anunciada uma parceria com a Lafarge, importante produtor
mundial de cimento. Embora essa tecnologia tenha ganhado o prêmio do Massachussets
42
Instituto Brasileiro do Concreto – Livro CONCRETO: CIÊNCIA E TECNOLOGIA
Institute of Technology –MIT- de 2010 como umas das 10 melhores invenções em todos os
campos da atividade humana, o MIT TOP 10 Emerging Tecnology (NOVACEM, 2010), existe
uma percepção de que o novo produto não apresenta potencial de substituir o cimento
Portland, mas pode ser um concorrente para aplicações onde haja forte apelo ecológico.
6.7.2 Ceramicrete
A ceramicrete é um ligante desenvolvido e patenteado com base em pesquisas
conduzidas na Universidade de Chicago (JEONG e WAGH, 2002) Apresenta comportamento
intermediário entre a cerâmica e o cimento Portland, correspondendo a cimento não Portland
à base de fosfato.
O processo produtivo consiste na obtenção de MgO a partir da calcinação à alta
temperatura de silicatos ou calcários e mistura com fosfato de potássio, obtendo-se um pó.
Ao reagir com água, obtém-se um material que endurece e forma fosfato hidratado de
potássio e magnésio. O pó pode ser misturado com escória e cinzas volantes. A pasta
formada pode ser moldada e endurece em poucos minutos ou horas dependendo da adição
de retardadores e adquire resistências, em média, três vezes maiores que o cimento,
segundo o fabricante.
A reação básica de obtenção do ceramicrete pode ser simplificada em:
43
Instituto Brasileiro do Concreto – Livro CONCRETO: CIÊNCIA E TECNOLOGIA
patenteados encontram-se em vários locais, como, por exemplo, o Cem Pozz, produzido pela
Texas Industries nos Estados Unidos (KLEMENS, 2004). Além do melhor desempenho,
segundo os desenvolvedores do processo, os custos de fabricação são competitivos, fator
que tem impedido o sucesso da maior parte das inovações tecnológicas na área de cimento
e concreto para aplicação em grande escala.
Existe uma vasta literatura internacional sobre o tema que mostra que o leque de
produtos já estudados apresenta composição variada, por exemplo, clínquer e 50% de
escória; clínquer e 50% de quartzo, clínquer e até 70% de cinzas volantes, ou ainda, cinza
volante em teor de 95% que é usada conjuntamente no concreto com cimento tradicional em
teor de 50%.Todos eles apresentam melhor comportamento mecânico e de durabilidade,
quando comparados com os cimentos tradicionais, em igualdade de condições. A ativação
energética aumenta a reatividade das partículas pela deformação do retículo cristalino e pelo
aumento da área específica, comprovada por adsorção de nitrogênio (método BET), que
passaria despercebida pelo método tradicional de Blaine utilizado na indústria de cimento.
O EMC pode ser usado em qualquer campo da tecnologia do concreto, em uso
conjunto ou substituição do cimento Portland.
A indústria de cimento é cautelosa na aplicação de inovações tecnológicas.
Entretanto as pressões ambientais cada vez maiores, com compromissos em âmbito setorial
e mundial, constituem estímulo à adoção dessa tecnologia.
A tendência é a utilização de menor consumo de clínquer no concreto para redução
das emissões específicas de gases de efeito estufa, que com essa diretriz parece ser
tecnicamente possível.
Em suma, falta o convencimento da indústria cimenteira em fazer os investimentos
necessários para a fabricação desses produtos, lembrando que a tecnologia de moagem
autógena5, procedimento da década de 1990, bastante similar, não teve sucesso na área de
cimento, embora haja no Brasil mais de 30 moinhos instalados na área de minérios, indústria
química, flotação mineral etc.
5
Moagem autógena é, em linhas gerais, a cominuição de material num moinho rotativo utilizando o próprio
material de alimentação como meio de moagem, diferenciando-se da moagem tradicional na indústria do
cimento que é feita com auxílio de bolas de aço.
44
Instituto Brasileiro do Concreto – Livro CONCRETO: CIÊNCIA E TECNOLOGIA
6.8 Conclusões
45
Instituto Brasileiro do Concreto – Livro CONCRETO: CIÊNCIA E TECNOLOGIA
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Instituto Brasileiro do Concreto – Livro CONCRETO: CIÊNCIA E TECNOLOGIA
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