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2 - Soluções de equações diferenciais ordinárias

2.1 Introdução

Nesta aula vamos aprender a utilizar importantes métodos numéricos para obter a
solução de Equações Diferenciais Ordinárias (EDO), especialmente as que são aplicadas
em problemas físicas, tais como o:

a) Decaimento radioativo;
b) Sistema massa-mola;
c) Difusão térmica;
d) Circuitos elétricos.

2.2 Decaimento radioativo

A taxa de decaimento dos núcleos radioativos de uma amostra é proporcional ao


número de núcleos total de núcleos (N) dessa amostra, de modo que:

N
 N
t

Adicionando uma constante de proporcionalidade λ na relação acima, temos:

N
= - N
t

Note que o sinal de (-) foi adicionado, pois a taxa de decaimento ∆N/∆t < 0. Assim, para
∆t muito pequeno, podemos escrever:

dN dN
N
dN
t
 N  N
dt
= - N 
N
= -  dt  N N = -   dt
0
 ln 
 N0
  - t 
 N 0
 e- t
0

Assim, temos a seguinte solução:

N  N 0 e- t

onde

N0 é o número de núcleos no instante t=0;

λ é a constante de decaimento (depende do material);


Exercício 1: Com base na solução da equação para o decaimento radioativo, calcule o
tempo necessário para que N=N0/2.

Resolução:

Como

N0
N  N 0 e- t N
e 2 ,

Temos

N0 1 1
 N 0 e - t   e- t  ln    ln  e- t   ln  1  ln  2   -  t  ln  2    t
2 2 2
Logo,

ln  2 
t 12 
 (tempo de meia-vida)

t1/2 é o tempo de meia vida (o tempo em que a metade da amostra leva para decair);

Exercício 1: Também com base na solução da equação para o decaimento radioativo,


calcule o tempo médio de vida dos isótopos.

Resolução:

Uma vez que a taxa de decaimento e a solução da equação de decaimento são dadas por:

dN
= - N N  N 0 e- t
dt e

Podemos combinar ambas, obtendo:

dN dN dN
= -  dt  = -  dt  = -  e- t dt
N N 0 e- t N0
dN
Note que o termo N0 pode ser interpretado como a probabil idade “dP” de uma
quantidade “dN” de isótopos decair, dado o número total igual a N0. Assim, temos a
seguinte equação de probabilidade:

dP= -  e - t dt (probabilidade)

- t
Onde o termo -  e corresponde à função densidade de probabilidade (ρ(t)). Dos
fundamentos da estatística sabemos que tal função deve atender à seguinte igualdade.

 dP= 1
Ou seja,


C  -  e- t dt =1
0 , onde C é uma constante de normalização.

Integrando:

  
 e- t 
C  -  e dt =1  -  C  e dt =1  -  C[e
- t - t - t 
] =1  -  C   =1  C  (1) =1
 -  `0
0
0 0

Ou seja,

- t
C= -1 e  (t )   e

Logo, para calcular o tempo médio de vida dos isótopos basta fazer:

 
    t e dt      t e- t dt
- t

0 0

Integrando por partes,

1
 
 (tempo de vida média)

Note que, relacionando o tempo de meia-vida com o tempo de vida média verificamos
que:
t 12

ln  2 

Agora vamos aplicar o método das diferenças finitas na equação do decaimento


radioativo:

a) Diferença adiantada: (para aplicarmos no ponto inicial)

N i+1  N i
= -  N i  N i+1 = N i (1- t )
t

b) Diferença atrasada: (para aplicarmos no ponto final)

N i  Ni-1 Ni-1
= -  N i  - Ni-1 = - N i -  N i t  - Ni-1 = - Ni (1+ t )  Ni =
t (1+ t )

c) Diferença centrada: (para aplicarmos nos pontos intermediários)

N i+1  Ni-1
= -  N i  N i+1 = N i-1 - 2tN i
2t

d) Diferença adiantada modificada: (caso você queira mais precisão nos cálculos,
aplique-a nos pontos intermediários)

N i+1  Ni N  Ni
= -  N i+ 12  i+1 = N i+ 12
t -  t

N i+1  N i
= N i+ 12
2

Logo,

N i+1  Ni Ni+1  Ni N i+1 N i N N N N N N


=  +   i+1  i  i+1 + i+1   i  i
2 - t 2 2 t t 2 t t 2
continuando

 2   t 
 
1 1   1 1  t  2   2   t  2t 
N i+1  +   Ni     Ni+1    Ni    Ni+1  Ni 
 2 t   t 2   2t   2t   t  2 
 
 2t 

N i+1  Ni
2   t
 N i+1  N i

1  t
2 
2  t 
1   t
2 

Exemplo 1:

(a) Considerando N0 = 1000 e λ = 3.46 × 10−2s−1 determine numericamente os valores de


N(t) segundo as aproximações de 1 a 4 usando 21 amostras no tempo compreendido ao
intervalo [0, 5 × 10−2] segundos.

(b) Faça um gráfico de tempo contra as soluções numéricas N1(t), N2(t), ...

(c) Calcule a solução analítica nos tempos discretizados e compute os erros de cada
aproximação na forma erro = 100 x (Sol anl− Solnum)/ Solanl. Ao final produza um gráfico
do tempo contra cada um dos erros.

clc; % limpar o workpace


clear; % limpar o prompt
N0=1000; % numero inicial de isotopos
L=3.46*10^-2; % constante de decaimento
N=21; numero de medidas
a=0; % instante inicial (s)
b=1/L; % instante final (s). note que escolhemos o tempo de vida media como o tempo de calculo
dt=(b-a)/(N-1); % incremento de tempo
t=a:dt:b; % definindo o tempo como uma matriz
N=length(t); % atribuindo um valor de indice para cada instante da matriz t
N_an=N0*exp(-L*t); % soluçao analitica
% agora vamos definir o numero inicial de isotopos para inserir nos laços das equaçoes abaixo
N_ad(1)=N0;
N_at(1)=N0;
N_ce(1)=N0;
N_ce(2)=N_ce(1)*(1-L*dt); % aqui e importante!! Na solução numerica da derivada centrada precisamos
de N para os instantes 1 e 2, porem não é possível obter através dela N(2), por isso, apenas para esse
ponto da centrada eu utilizei da derivada adiantada.
N_cm(1)=N0;
for i=1:N-1
N_ad(i+1)=N_ad(i)*(1-L*dt); % adiantada
end
for i=2:N
N_at(i)=N_at(i-1)/(1+L*dt); % atrasada
end
for i=2:N-1
N_ce(i+1)=N_ce(i-1)-2*L*dt*N_ce(i); % centrada
end
for i=1:N-1
N_cm(i+1)=N_cm(i)*(1-L*dt/2)/(1+L*dt/2); % centrada modificada
end
plot(t,N_an,'k.',t,N_ad,'go',t,N_at,'r--',t,N_ce,'b',t,N_cm,'m*')
legend('Analitica','Adiantada','Atrasada','Centrada','Centrada Modificada');
Grid;
XLABEL('Tempo (s)')
YLABEL('Numero de Isotopos')
pause;
% calculando um errinho basico
Erro_ad=100*(N_an-N_ad)./N_an;
Erro_at=100*(N_an-N_at)./N_an;
Erro_ce=100*(N_an-N_ce)./N_an;
Erro_cm=100*(N_an-N_cm)./N_an;
plot(t,Erro_ad,'go',t,Erro_at,'r--',t,Erro_ce,'b',t,Erro_cm,'m*')
legend('Adiantada','Atrasada','Centrada','Centrada Modificada');
Grid;
XLABEL('Tempo (s)')
YLABEL('Erro Percentual (%)')
(b)

Figura 1 – a) Soluções analíticas e numéricas para o decaimento radioativo. b) Erro relativo de cada
método.

Exemplo 2 - O Carbono 14 é um radio isótopo muito usado em datações arqueológicas


pois sua meia-vida é de aproximadamente 5730 anos (180.701.280.000s), a maior
dentre seus outros isótopos. Use a teoria apresentada na seção 6.1 juntamente com o
método Forward Modificado para traçar um gráfico de N(t) considerando uma a
quantidade inicial de isótopos radioativos igual a 1mol. Compare seus resultados
numéricos com a solução analítica.
L=0.0001209680 anos-1 ou L = 3.835873*10-12 s-1

clc;
clear;
N0=6*10^23;
L=0.0001209680;
N=50;
a=0;
b=1/L;
dt=(b-a)/(N-1);
t=a:dt:b;
N=length(t);
N_an=N0*exp(-L*t);
N_ad(1)=N0;
N_at(1)=N0;
N_ce(1)=N0;
N_ce(2)=N_ce(1)*(1-L*dt);
N_cm(1)=N0;
for i=1:N-1
N_ad(i+1)=N_ad(i)*(1-L*dt);
end
for i=2:N
N_at(i)=N_at(i-1)/(1+L*dt);
end
for i=2:N-1
N_ce(i+1)=N_ce(i-1)-2*L*dt*N_ce(i);
end
for i=1:N-1
N_cm(i+1)=N_cm(i)*(1-L*dt/2)/(1+L*dt/2);
end
plot(t,N_an,'k.',t,N_ad,'go',t,N_at,'r--',t,N_ce,'b',t,N_cm,'m*')
legend('Analitica','Adiantada','Atrasada','Centrada','Centrada Modificada');
Grid;
XLABEL('Tempo (anos)')
YLABEL('Numero de Isotopos')
pause;
Erro_ad=100*(N_an-N_ad)./N_an;
Erro_at=100*(N_an-N_at)./N_an;
Erro_ce=100*(N_an-N_ce)./N_an;
Erro_cm=100*(N_an-N_cm)./N_an;
plot(t,Erro_ad,'go',t,Erro_at,'r--',t,Erro_ce,'b',t,Erro_cm,'m*')
legend('Adiantada','Atrasada','Centrada','Centrada Modificada');
Grid;
XLABEL('Tempo (anos)')
YLABEL('Erro Percentual (%)')
Figura 2 – a) Soluções analíticas e numéricas para o decaimento radioativo do C14. b) Erro relativo de
cada método.

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