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ANOTAÇÃO DE AULA
SUMÁRIO
4. Modalidades de obrigações
Partimos da ideia de que as obrigações se dividem em:
(i) simples: é aquela que tem um credor, um devedor e uma prestação;
a) objetivas: são aquelas onde há mais de uma prestação. Estas obrigações podem ser alternativas, facultativas ou
cumulativas.
b) subjetivas: são aquelas que têm mais de um credor ou mais de um devedor. Estas obrigações podem ser
divisíveis, indivisíveis, fracionárias e solidárias.
Nesse sentido, obrigação indivisível é aquela que ao ser fracionada perde suas características individuais (é aquela
que só pode ser cumprida por inteiro). Ex.: venda de um apartamento.
CC, art. 1.791. A herança defere-se como um todo unitário, ainda que
vários sejam os herdeiros.
c) convencional: pode surgir de um acordo de vontades. Ex.: venda de uma fazenda com cláusula de
indivisibilidade (art. 1320, CC).
DIREITO CIVIL. RESPONSABILIDADE DOS HERDEIROS PELO PAGAMENTO DE DÍVIDA DIVISÍVEL DO AUTOR DA
HERANÇA.
Em execução de dívida divisível do autor da herança ajuizada após a partilha, cada herdeiro beneficiado pela
sucessão responde na proporção da parte que lhes coube na herança. De fato, os herdeiros e legatários do autor
da herança não respondem pelas dívidas do de cujus acima das forças dos bens que receberam. Dessarte, com a
abertura da sucessão, há a formação de um condomínio necessário, que somente é dissolvido com a partilha,
estabelecendo o quinhão hereditário de cada beneficiário no tocante ao acervo transmitido. Nesse contexto, a
herança é constituída pelo acervo patrimonial e dívidas (obrigações) deixadas por seu autor, sendo que aos
credores do autor da herança é facultada, antes da partilha dos bens transmitidos, a habilitação de seus créditos
no juízo do inventário ou o ajuizamento de ação em face do espólio. Ultimada a partilha, o acervo outrora indiviso,
constituído pelos bens e direitos que pertenciam ao de cujus, transmitidos com o seu falecimento, estará
discriminado e especificado, de modo que só caberá ação em face dos beneficiários, que, em todo caso,
responderão até o limite de seus quinhões. Com efeito, é nítido do exame do art. 1.997, caput, do CC, c/c o art.
597 do CPC (correspondente ao art. 796 do novo CPC) que, feita a partilha, cada herdeiro responde pelas dívidas
(divisíveis) do falecido dentro das forças da herança e na proporção da parte que lhe coube, e não
necessariamente no limite de seu quinhão hereditário. Portanto, após a partilha, não há cogitar em solidariedade
entre os herdeiros de dívidas divisíveis, motivo pelo qual caberá ao credor executar os herdeiros pro rata,
observando a proporção da parte que lhes coube (quinhão) no tocante ao acervo partilhado. Precedente citado:
REsp 1.290.042-SP, Sexta Turma, DJe 29/2/2012. REsp 1.367.942-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
21/5/2015, DJe 11/6/2015.
d) razão determinante do negócio jurídico: a parte final do art. 258, CC é nova forma de indivisibilidade (razão
determinante do negócio jurídico). Ex.: “x” contrata uma banda para dar um show, mas somente dois integrantes
comparecem. A obrigação neste caso foi descumprida, pois o motivo determinante para contratação foi que
viessem todos os integrantes.
Atenção: a regra (no silêncio das partes) é a indivisibilidade jurídica nas obrigações simples.
CC, art. 314. Ainda que a obrigação tenha por objeto prestação
divisível, não pode o credor ser obrigado a receber, nem o devedor a
pagar, por partes, se assim não se ajustou.
Porém, caso a dívida seja de natureza consumerista, não se aplica a regra do CC, já que há regra específica no
Código de Defesa do Consumidor.
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CDC, art. 52, §2º É assegurado ao consumidor a liquidação
antecipada do débito, total ou parcialmente, mediante redução
proporcional dos juros e demais acréscimos.
Com efeito, quando a execução é extrajudicial, pode o devedor, ao invés de embargar, pagar 30% à vista e
parcelar o restante em até 6 parcelas – trata-se de uma exceção à regra geral da indivisibilidade.
Dando sequência ao estudo das obrigações plurais indivisíveis. Vejamos o seguinte exemplo.
Imagine que três devedores devem pagar 90 a três credores. Na regra geral, cada devedor paga 30 a cada credor,
pois o fracionamento das obrigações plurais é a regra.
A regra geral é que as obrigações são fracionárias ou conjuntas, ou seja, cada devedor paga a sua parte e cada
credor por exigir a sua parte. Esta regra se desfaz se a obrigação for indivisível ou se for solidária.
CC, art. 259. Se, havendo dois ou mais devedores, a prestação não for
divisível, cada um será obrigado pela dívida toda.
Caso um dos condôminos quite a integralidade da dívida ocorrerá o fenômeno da SUB-ROGAÇÃO, pois aquele que
pagou se sub-roga no lugar do credor, tendo direito de regresso contra os demais condôminos. Assim, ele poderá
cobrar 150 do outro condômino.
CC, art. 259, parágrafo único. O devedor, que paga a dívida, sub-roga-
se no direito do credor em relação aos outros coobrigados.
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O que esse único credor pode fazer? Como ele convence o devedor a pagar somente para ele?
Ele traz a chamada caução de ratificação (documento que comprova a autorização dos demais credores).
I - a todos conjuntamente;
Como fazem os demais credores que não ficaram com o carro, uma vez que a obrigação é indivisível?
Imagine três credores de uma dívida e um devedor. O NCPC legitima um dos credores (legitimação extraordinária)
a ingressar individualmente em nome dos demais na cobrança da dívida:
Imagine três credores e um devedor, cuja obrigação é entregar um cão (obrigação indivisível) que vale 300 reais.
Um dos credores sozinho pode perdoar (remir) a dívida do devedor? Sim. Os demais credores que não realizaram
a remissão terão direito ao bem, desde que eles abatam o preço correspondente à remissão (pagam 100 reais ao
devedor).
Imagine três devedores e três credores, sendo a dívida de 90. Não havendo manifestação de qualquer dos
devedores, cada um fica obrigado a pagar 30 (a regra geral é fracionária: há uma pluralidade de vínculos
jurídicos).
Porém, na solidariedade, cada um desses devedores só se exime da obrigação quando há o pagamento integral,
bem como cada credor é legitimado a exigir a totalidade da dívida.
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CC, art. 264. Há solidariedade, quando na mesma obrigação concorre
mais de um credor, ou mais de um devedor, cada um com direito, ou
obrigado, à dívida toda.
Obs.: o termo solidariedade vem do latim in solidum, por inteiro, pois cada credor é por inteiro e cada devedor o
é por inteiro dotado de direito ou obrigado, respectivamente, à dívida toda.
Alguns doutrinadores, de forma minoritária, entendem que não há unicidade de objeto (mas pluralidade de
vínculos) nas obrigações solidárias, baseando-se nesse fundamento:
CC, art. 266. A obrigação solidária pode ser pura e simples para um
dos co-credores ou co-devedores, e condicional, ou a prazo, ou
pagável em lugar diferente, para o outro.
Atenção: perceba que estas várias possibilidades de lugar e tempo do pagamento são elementos acidentais do
negócio jurídico. Portanto, a prestação continua sendo uma, mas podendo ter diversas eficácias ou consequências
jurídicas.
Aduz o Enunciado 347, CJF: a solidariedade admite outras disposições de conteúdo particular além do rol previsto
no art. 266 do Código Civil.
CC, art. 283. O devedor que satisfez a dívida por inteiro tem direito a
exigir de cada um dos co-devedores a sua quota, dividindo-se
igualmente por todos a do insolvente, se o houver, presumindo-se
iguais, no débito, as partes de todos os co-devedores.
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Imagine um casal detentor de conta corrente conjunta. Pelo contrato do banco, qualquer dos dois pode
movimentar a conta corrente, de maneira isolada. Caso a mulher dê cheque sem fundo, pode o credor executar o
casal? Não.
O credor não pode avançar na parte do outro cônjuge que não assinou o cheque, ou seja, não pode penhorar o
integral da conta corrente, mas só a parte de quem assinou o título. A solidariedade só existe entre o banco e os
clientes, não atingindo terceiros.
DIREITO PROCESSUAL CIVIL. ALCANCE DE PENHORA DE VALORES DEPOSITADOS EM CONTA BANCÁRIA CONJUNTA
SOLIDÁRIA.
A penhora de valores depositados em conta bancária conjunta solidária somente poderá atingir a parte do
numerário depositado que pertença ao correntista que seja sujeito passivo do processo executivo, presumindo-se,
ante a inexistência de prova em contrário, que os valores constantes da conta pertencem em partes iguais aos
correntistas. De fato, há duas espécies de contrato de conta bancária: a) a conta individual ou unipessoal; e b) a
conta conjunta ou coletiva. A conta individual ou unipessoal é aquela que possui titular único, que a movimenta
por si ou por meio de procurador. A conta bancária conjunta ou coletiva, por sua vez, pode ser: b.1) indivisível –
quando movimentada por intermédio de todos os seus titulares simultaneamente, sendo exigida a assinatura de
todos, ressalvada a outorga de mandato a um ou a alguns para fazê-lo –; ou b.2) solidária – quando os
correntistas podem movimentar a totalidade dos fundos disponíveis isoladamente. Nesta última espécie (a conta
conjunta solidária), apenas prevalece o princípio da solidariedade ativa e passiva em relação ao banco – em
virtude do contrato de abertura de conta-corrente –, de modo que o ato praticado por um dos titulares não afeta
os demais nas relações jurídicas e obrigacionais com terceiros, devendo-se, portanto, afastar a solidariedade
passiva dos correntistas de conta conjunta solidária em suas relações com terceiros (REsp 13.680-SP, Quarta
Turma, DJ 16/11/1992). Isso porque a solidariedade não se presume, devendo resultar da vontade da lei ou da
manifestação de vontade inequívoca das partes (art. 265 do CC). Nessa linha de entendimento, conquanto a
penhora de saldo bancário de conta conjunta seja admitida pelo ordenamento jurídico, é certo que a constrição
não pode se dar em proporção maior que o numerário pertencente ao devedor da obrigação, devendo ser
preservado o saldo dos demais cotitulares. Além disso, na hipótese em que se pretenda penhorar valores
depositados em conta conjunta solidária, dever-se-á permitir aos seus titulares a comprovação dos valores que
integram o patrimônio de cada um, sendo certo que, na ausência de provas nesse sentido, presumir-se-á a divisão
do saldo em partes iguais (AgRg no AgRg na Pet 7.456-MG, Terceira Turma, DJe 26/11/2009). REsp 1.184.584-MG,
Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 22/4/2014.
A solidariedade também pode surgir da boa-fé objetiva decorrente das relações de consumo. Veja o informativo
562 do STJ de 28 de maio de 2015:
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publicidade venha a despertar no consumidor, mormente quando veicula informação de produto ou serviço com a
chancela de determinada marca. Trata-se de materialização do princípio da boa-fé objetiva, exigindo do
anunciante os deveres anexos de lealdade, confiança, cooperação, proteção e informação, sob pena de
responsabilidade. O próprio art. 30 do CDC enfatiza expressamente que a informação transmitida "obriga o
fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar", atraindo a responsabilidade solidária daqueles que participem,
notadamente quando expõe diretamente a sua marca no informativo publicitário. A propósito, a jurisprudência do
STJ reconhece a responsabilidade solidária de todos os fornecedores que venham a se beneficiar da cadeia de
fornecimento, seja pela utilização da marca, seja por fazer parte da publicidade. Trata-se, cabe ressaltar, de caso
de responsabilização objetiva. Nesse contexto, dentro do seu poder de livremente avalizar e oferecer diversos tipos
de produtos e serviços, ao agregar o seu "carimbo" de excelência aos veículos usados anunciados, a fabricante
acaba por atrair a solidariedade pela oferta do produto/serviço e o ônus de fornecer a qualidade legitimamente
esperada pelo consumidor. Na verdade, a utilização de marca de renome - utilização essa consentida, até por
força legal (art. 3º, III, da Lei 6.729/1979) - gera no consumidor legítima expectativa de que o negócio é garantido
pela montadora, razão pela qual deve esta responder por eventuais desvios próprios dos negócios jurídicos
celebrados nessa seara. REsp 1.365.609-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 28/4/2015, DJe 25/5/2015.
Imagine que determinada pessoa precise de um remédio e ingresse com ação contra a União, somente. Porém, a
União alega que o autor devia ter entrado contra o Estado e o Município, pois a repartição é corrente.
O STF entende que o dever fundamental de prestação de saúde é solidário e que o autor da ação pode escolher
qualquer um dos três entes sem precisar litigar contra os demais.
Se João quer 1.000 reais do avô paterno de pensão, ele pode pedir somente do avô paterno, mesmo sabendo que
existem outros avôs? Não, porque a obrigação dos avôs não é solidária, mas fracionária (a solidariedade não se
presume).
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chamados a concorrer os de grau imediato; sendo várias as pessoas
obrigadas a prestar alimentos, todas devem concorrer na proporção
dos respectivos recursos, e, intentada ação contra uma delas,
poderão as demais ser chamadas a integrar a lide.
No caso do idoso, o art. 12 do Estatuto do Idoso diz que a obrigação alimentar é solidária, podendo o idoso optar
entre os prestadores.
CC, art. 267. Cada um dos credores solidários tem direito a exigir do
devedor o cumprimento da prestação por inteiro.
Podemos exemplificar a solidariedade ativa advinda da lei: lei do inquilinato, art. 2º. Se há dois locadores,
qualquer deles pode cobrar a totalidade do locatário.
Obs.: quaisquer dos dois locadores podem ajuizar ação de despejo ou ação revisional, pois são solidários.
Se três credores, um devedor (que deve 90) e a dívida vence hoje, pode o devedor pagar a qualquer um dos
credores. Mas se o credor 1 fizer a cobrança do devedor, este devedor continua podendo pagar para os demais
credores? Não, pois ocorreu a PREVENÇÃO JUDICIAL, ou seja, o devedor somente pode pagar a quem o
interpelou.
Se tem três credores, um devedor e uma dívida de 90. Pode o credor 1 se dirigir à residência do devedor e exigir
50? Ou pode o devedor pagar somente 50? É eficaz o pagamento parcial na solidariedade? Sim.
É possível a remissão por parte de apenas um credor na solidariedade ativa? Sim. Os demais credores, neste caso,
podem se dirigir ao credor que realizou a remissão e exigir sua fração ideal.
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CC, art. 272. O credor que tiver remitido a dívida ou recebido o
pagamento responderá aos outros pela parte que lhes caiba.
A clássica fraude contra credores se compõe de dois dados: (i) ato gratuito (ex.: remissão) e (ii) condição de
insolvência. Caso isso aconteça, devem os demais credores ajuizar AÇÃO PAULIANA (ação revocatória) para obter
a anulação da remissão, em razão da fraude contra credores.
Imagine três credores e um devedor de 90. Determinado credor ingressa com demanda de cobrança, resultando
na improcedência. A coisa julgada nessa demanda atinge os demais credores que não participaram da demanda?
O CC adotou a tese da coisa julgada SECUNDUM EVENTUM LITIS UTILIBUS – caso a demanda seja julgada
procedente, a coisa julgada beneficia os demais credores solidários. Portanto, os demais credores poderão entrar
diretamente na fase de cumprimento de sentença.
CDC, art. 103, II - Nas ações coletivas de que trata este código, a
sentença fará coisa julgada: II - ultra partes, mas limitadamente ao
grupo, categoria ou classe, salvo improcedência por insuficiência de
provas, nos termos do inciso anterior, quando se tratar da hipótese
prevista no inciso II do parágrafo único do artigo 81.
Por fim, o NCPC estabelece a coisa julgada secundum eventum litis utilibus como regra.
NCPC, art. 506. A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais
é dada, não prejudicando terceiros.
QUESTÃO
Ano: 2015 / Banca: FUNCAB / Órgão: FUNASG / Prova: Advogado
Sendo a obrigação indivisível e solidária:
a) não perde tais qualidades se resolvida emperdas e danos.
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c) todos os devedores são responsáveis pela totalidade da dívida, mas a sub-rogação se verifica apenas
comrelação a solidariedade.
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