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MATERIAL DE APOIO

Disciplina: Direito Civil


Professor: Nelson Rosenvald
Aulas: 09 e 10 | Data: 18/08/2015

ANOTAÇÃO DE AULA

SUMÁRIO

DIREITO DAS OBRIGAÇÕES


4. Modalidades de obrigações
4.1 Obrigações indivisíveis
4.1.1. Indivisibilidade com pluralidade de devedores
4.1.2 Indivisibilidade com pluralidade de credores
4.2 Obrigações solidárias
4.2.1 Pluralidade subjetiva e unidade objetiva
4.2.2 Relações externas
4.2.3 Lei ou acordo de vontades
4.2.4 Solidariedade ativa

4. Modalidades de obrigações
Partimos da ideia de que as obrigações se dividem em:
(i) simples: é aquela que tem um credor, um devedor e uma prestação;

(ii) plurais: se dividem em:

a) objetivas: são aquelas onde há mais de uma prestação. Estas obrigações podem ser alternativas, facultativas ou
cumulativas.

b) subjetivas: são aquelas que têm mais de um credor ou mais de um devedor. Estas obrigações podem ser
divisíveis, indivisíveis, fracionárias e solidárias.

Estudaremos as obrigações PLURAIS SUBJETIVAS, começando pelas obrigações indivisíveis.

4.1 Obrigações indivisíveis


A indivisibilidade é CONCEITO JURÍDICO (e não material), porque na natureza, pelo aspecto físico, qualquer bem é
passível de fracionamento e divisão.

Nesse sentido, obrigação indivisível é aquela que ao ser fracionada perde suas características individuais (é aquela
que só pode ser cumprida por inteiro). Ex.: venda de um apartamento.

A obrigação indivisível pode ser:


a) natural: a indivisibilidade pode ser natural, do próprio objeto. Ex.: entrega de um apartamento.

b) legal: imposta pela lei. Ex.: a sucessão (art. 1791, CC).

CC, art. 1.791. A herança defere-se como um todo unitário, ainda que
vários sejam os herdeiros.

c) convencional: pode surgir de um acordo de vontades. Ex.: venda de uma fazenda com cláusula de
indivisibilidade (art. 1320, CC).

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CC, art. 1.320. A todo tempo será lícito ao condômino exigir a divisão
da coisa comum, respondendo o quinhão de cada um pela sua parte
nas despesas da divisão.

Veja o informativo 563 do STJ de 14 de junho de 2015:

DIREITO CIVIL. RESPONSABILIDADE DOS HERDEIROS PELO PAGAMENTO DE DÍVIDA DIVISÍVEL DO AUTOR DA
HERANÇA.
Em execução de dívida divisível do autor da herança ajuizada após a partilha, cada herdeiro beneficiado pela
sucessão responde na proporção da parte que lhes coube na herança. De fato, os herdeiros e legatários do autor
da herança não respondem pelas dívidas do de cujus acima das forças dos bens que receberam. Dessarte, com a
abertura da sucessão, há a formação de um condomínio necessário, que somente é dissolvido com a partilha,
estabelecendo o quinhão hereditário de cada beneficiário no tocante ao acervo transmitido. Nesse contexto, a
herança é constituída pelo acervo patrimonial e dívidas (obrigações) deixadas por seu autor, sendo que aos
credores do autor da herança é facultada, antes da partilha dos bens transmitidos, a habilitação de seus créditos
no juízo do inventário ou o ajuizamento de ação em face do espólio. Ultimada a partilha, o acervo outrora indiviso,
constituído pelos bens e direitos que pertenciam ao de cujus, transmitidos com o seu falecimento, estará
discriminado e especificado, de modo que só caberá ação em face dos beneficiários, que, em todo caso,
responderão até o limite de seus quinhões. Com efeito, é nítido do exame do art. 1.997, caput, do CC, c/c o art.
597 do CPC (correspondente ao art. 796 do novo CPC) que, feita a partilha, cada herdeiro responde pelas dívidas
(divisíveis) do falecido dentro das forças da herança e na proporção da parte que lhe coube, e não
necessariamente no limite de seu quinhão hereditário. Portanto, após a partilha, não há cogitar em solidariedade
entre os herdeiros de dívidas divisíveis, motivo pelo qual caberá ao credor executar os herdeiros pro rata,
observando a proporção da parte que lhes coube (quinhão) no tocante ao acervo partilhado. Precedente citado:
REsp 1.290.042-SP, Sexta Turma, DJe 29/2/2012. REsp 1.367.942-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
21/5/2015, DJe 11/6/2015.

d) razão determinante do negócio jurídico: a parte final do art. 258, CC é nova forma de indivisibilidade (razão
determinante do negócio jurídico). Ex.: “x” contrata uma banda para dar um show, mas somente dois integrantes
comparecem. A obrigação neste caso foi descumprida, pois o motivo determinante para contratação foi que
viessem todos os integrantes.

CC, art. 258. A obrigação é indivisível quando a prestação tem por


objeto uma coisa ou um fato não suscetíveis de divisão, por sua
natureza, por motivo de ordem econômica, ou dada a razão
determinante do negócio jurídico.

Atenção: a regra (no silêncio das partes) é a indivisibilidade jurídica nas obrigações simples.

CC, art. 314. Ainda que a obrigação tenha por objeto prestação
divisível, não pode o credor ser obrigado a receber, nem o devedor a
pagar, por partes, se assim não se ajustou.

Porém, caso a dívida seja de natureza consumerista, não se aplica a regra do CC, já que há regra específica no
Código de Defesa do Consumidor.

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CDC, art. 52, §2º É assegurado ao consumidor a liquidação
antecipada do débito, total ou parcialmente, mediante redução
proporcional dos juros e demais acréscimos.

Com efeito, quando a execução é extrajudicial, pode o devedor, ao invés de embargar, pagar 30% à vista e
parcelar o restante em até 6 parcelas – trata-se de uma exceção à regra geral da indivisibilidade.

NCPC, art. 916. No prazo para embargos, reconhecendo o crédito do


exequente e comprovando o depósito de trinta por cento do valor
em execução, acrescido de custas e de honorários de advogado, o
executado poderá requerer que lhe seja permitido pagar o restante
em até 6 (seis) parcelas mensais, acrescidas de correção monetária e
de juros de um por cento ao mês.

Dando sequência ao estudo das obrigações plurais indivisíveis. Vejamos o seguinte exemplo.

Imagine que três devedores devem pagar 90 a três credores. Na regra geral, cada devedor paga 30 a cada credor,
pois o fracionamento das obrigações plurais é a regra.

A regra geral é que as obrigações são fracionárias ou conjuntas, ou seja, cada devedor paga a sua parte e cada
credor por exigir a sua parte. Esta regra se desfaz se a obrigação for indivisível ou se for solidária.

CC, art. 257. Havendo mais de um devedor ou mais de um credor em


obrigação divisível, esta presume-se dividida em tantas obrigações,
iguais e distintas, quantos os credores ou devedores.

4.1.1. Indivisibilidade com pluralidade de devedores


Dois devedores são condôminos de uma dívida indivisível (no valor de 300,00). O credor pode exigir os 300
somente de um devedor? Sim.

CC, art. 259. Se, havendo dois ou mais devedores, a prestação não for
divisível, cada um será obrigado pela dívida toda.

Caso um dos condôminos quite a integralidade da dívida ocorrerá o fenômeno da SUB-ROGAÇÃO, pois aquele que
pagou se sub-roga no lugar do credor, tendo direito de regresso contra os demais condôminos. Assim, ele poderá
cobrar 150 do outro condômino.

CC, art. 259, parágrafo único. O devedor, que paga a dívida, sub-roga-
se no direito do credor em relação aos outros coobrigados.

4.1.2 Indivisibilidade com pluralidade de credores


Imagine que 3 credores compram um carro tendo como devedora a concessionária. A obrigação é indivisível e
qualquer deles pode exigir o carro. Qual a reação da concessionária se um deles venha a exigir o objeto? Só há a
entrega do carro se os três comparecerem.

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O que esse único credor pode fazer? Como ele convence o devedor a pagar somente para ele?

Ele traz a chamada caução de ratificação (documento que comprova a autorização dos demais credores).

CC, art. 260. Se a pluralidade for dos credores, poderá cada um


destes exigir a dívida inteira; mas o devedor ou devedores se
desobrigarão, pagando:

I - a todos conjuntamente;

II - a um, dando este caução de ratificação dos outros credores.

Como fazem os demais credores que não ficaram com o carro, uma vez que a obrigação é indivisível?

CC, art. 261. Se um só dos credores receber a prestação por inteiro, a


cada um dos outros assistirá o direito de exigir dele em dinheiro a
parte que lhe caiba no total.

Imagine três credores de uma dívida e um devedor. O NCPC legitima um dos credores (legitimação extraordinária)
a ingressar individualmente em nome dos demais na cobrança da dívida:

NCPC, art. 328. Na obrigação indivisível com pluralidade de credores,


aquele que não participou do processo receberá sua parte, deduzidas
as despesas na proporção de seu crédito.

Imagine três credores e um devedor, cuja obrigação é entregar um cão (obrigação indivisível) que vale 300 reais.
Um dos credores sozinho pode perdoar (remir) a dívida do devedor? Sim. Os demais credores que não realizaram
a remissão terão direito ao bem, desde que eles abatam o preço correspondente à remissão (pagam 100 reais ao
devedor).

CC, art. 262. Se um dos credores remitir a dívida, a obrigação não


ficará extinta para com os outros; mas estes só a poderão exigir,
descontada a quota do credor remitente.

4.2 Obrigações solidárias


As obrigações solidárias são aquelas que só podem ser cumpridas por inteiro (cada credor age como se fosse
único e a mesma lógica se aplica aos devedores).

Imagine três devedores e três credores, sendo a dívida de 90. Não havendo manifestação de qualquer dos
devedores, cada um fica obrigado a pagar 30 (a regra geral é fracionária: há uma pluralidade de vínculos
jurídicos).

Porém, na solidariedade, cada um desses devedores só se exime da obrigação quando há o pagamento integral,
bem como cada credor é legitimado a exigir a totalidade da dívida.

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CC, art. 264. Há solidariedade, quando na mesma obrigação concorre
mais de um credor, ou mais de um devedor, cada um com direito, ou
obrigado, à dívida toda.

Obs.: o termo solidariedade vem do latim in solidum, por inteiro, pois cada credor é por inteiro e cada devedor o
é por inteiro dotado de direito ou obrigado, respectivamente, à dívida toda.

Há três postulados da solidariedade:

4.2.1 Pluralidade subjetiva e unidade objetiva


Subjetiva diz respeito à existência de mais de um credor ou mais de um devedor. Além da pluralidade subjetiva,
temos uma unidade objetiva. Na solidariedade só há uma prestação que une os credores aos devedores, pois
quando qualquer credor recebe a dívida, extingue a obrigação, e quando qualquer dos devedores paga, extingue
a obrigação. Assim, só existe uma prestação que vincula os credores aos devedores.

Alguns doutrinadores, de forma minoritária, entendem que não há unicidade de objeto (mas pluralidade de
vínculos) nas obrigações solidárias, baseando-se nesse fundamento:

CC, art. 266. A obrigação solidária pode ser pura e simples para um
dos co-credores ou co-devedores, e condicional, ou a prazo, ou
pagável em lugar diferente, para o outro.

Atenção: perceba que estas várias possibilidades de lugar e tempo do pagamento são elementos acidentais do
negócio jurídico. Portanto, a prestação continua sendo uma, mas podendo ter diversas eficácias ou consequências
jurídicas.

Aduz o Enunciado 347, CJF: a solidariedade admite outras disposições de conteúdo particular além do rol previsto
no art. 266 do Código Civil.

4.2.2 Relações externas


A solidariedade só existe nas relações dos credores contra os devedores (relação externa). Nas relações internas
(entre devedores), quando o devedor for regredir contra o outro, não se aplica a solidariedade, mas a regra do
fracionamento.

CC, art. 283. O devedor que satisfez a dívida por inteiro tem direito a
exigir de cada um dos co-devedores a sua quota, dividindo-se
igualmente por todos a do insolvente, se o houver, presumindo-se
iguais, no débito, as partes de todos os co-devedores.

4.2.3 Lei ou acordo de vontades


A solidariedade não se presume: a solidariedade advém da lei ou em razão do acordo de vontades (convenção).

CC, art. 265. A solidariedade não se presume; resulta da lei ou da


vontade das partes.

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Imagine um casal detentor de conta corrente conjunta. Pelo contrato do banco, qualquer dos dois pode
movimentar a conta corrente, de maneira isolada. Caso a mulher dê cheque sem fundo, pode o credor executar o
casal? Não.

O credor não pode avançar na parte do outro cônjuge que não assinou o cheque, ou seja, não pode penhorar o
integral da conta corrente, mas só a parte de quem assinou o título. A solidariedade só existe entre o banco e os
clientes, não atingindo terceiros.

Veja o Informativo 539 do STJ de 15 de maio de 2014:

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. ALCANCE DE PENHORA DE VALORES DEPOSITADOS EM CONTA BANCÁRIA CONJUNTA
SOLIDÁRIA.
A penhora de valores depositados em conta bancária conjunta solidária somente poderá atingir a parte do
numerário depositado que pertença ao correntista que seja sujeito passivo do processo executivo, presumindo-se,
ante a inexistência de prova em contrário, que os valores constantes da conta pertencem em partes iguais aos
correntistas. De fato, há duas espécies de contrato de conta bancária: a) a conta individual ou unipessoal; e b) a
conta conjunta ou coletiva. A conta individual ou unipessoal é aquela que possui titular único, que a movimenta
por si ou por meio de procurador. A conta bancária conjunta ou coletiva, por sua vez, pode ser: b.1) indivisível –
quando movimentada por intermédio de todos os seus titulares simultaneamente, sendo exigida a assinatura de
todos, ressalvada a outorga de mandato a um ou a alguns para fazê-lo –; ou b.2) solidária – quando os
correntistas podem movimentar a totalidade dos fundos disponíveis isoladamente. Nesta última espécie (a conta
conjunta solidária), apenas prevalece o princípio da solidariedade ativa e passiva em relação ao banco – em
virtude do contrato de abertura de conta-corrente –, de modo que o ato praticado por um dos titulares não afeta
os demais nas relações jurídicas e obrigacionais com terceiros, devendo-se, portanto, afastar a solidariedade
passiva dos correntistas de conta conjunta solidária em suas relações com terceiros (REsp 13.680-SP, Quarta
Turma, DJ 16/11/1992). Isso porque a solidariedade não se presume, devendo resultar da vontade da lei ou da
manifestação de vontade inequívoca das partes (art. 265 do CC). Nessa linha de entendimento, conquanto a
penhora de saldo bancário de conta conjunta seja admitida pelo ordenamento jurídico, é certo que a constrição
não pode se dar em proporção maior que o numerário pertencente ao devedor da obrigação, devendo ser
preservado o saldo dos demais cotitulares. Além disso, na hipótese em que se pretenda penhorar valores
depositados em conta conjunta solidária, dever-se-á permitir aos seus titulares a comprovação dos valores que
integram o patrimônio de cada um, sendo certo que, na ausência de provas nesse sentido, presumir-se-á a divisão
do saldo em partes iguais (AgRg no AgRg na Pet 7.456-MG, Terceira Turma, DJe 26/11/2009). REsp 1.184.584-MG,
Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 22/4/2014.

A solidariedade também pode surgir da boa-fé objetiva decorrente das relações de consumo. Veja o informativo
562 do STJ de 28 de maio de 2015:

DIREITO DO CONSUMIDOR. RESPONSABILIDADE DO FABRICANTE QUE GARANTE NA PUBLICIDADE A QUALIDADE


DOS PRODUTOS OFERTADOS.
Responde solidariamente por vício de qualidade do automóvel adquirido o fabricante de veículos automotores que
participa de propaganda publicitária garantindo com sua marca a excelência dos produtos ofertados por
revendedor de veículos usados. O princípio da vinculação da oferta reflete a imposição da transparência e da boa-
fé nos métodos comerciais, na publicidade e nos contratos, de forma que esta exsurge como princípio máximo
orientador, nos termos do art. 30 do CDC. Realmente, é inequívoco o caráter vinculativo da oferta, integrando o
contrato, de modo que o fornecedor de produtos ou serviços se responsabiliza também pelas expectativas que a

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publicidade venha a despertar no consumidor, mormente quando veicula informação de produto ou serviço com a
chancela de determinada marca. Trata-se de materialização do princípio da boa-fé objetiva, exigindo do
anunciante os deveres anexos de lealdade, confiança, cooperação, proteção e informação, sob pena de
responsabilidade. O próprio art. 30 do CDC enfatiza expressamente que a informação transmitida "obriga o
fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar", atraindo a responsabilidade solidária daqueles que participem,
notadamente quando expõe diretamente a sua marca no informativo publicitário. A propósito, a jurisprudência do
STJ reconhece a responsabilidade solidária de todos os fornecedores que venham a se beneficiar da cadeia de
fornecimento, seja pela utilização da marca, seja por fazer parte da publicidade. Trata-se, cabe ressaltar, de caso
de responsabilização objetiva. Nesse contexto, dentro do seu poder de livremente avalizar e oferecer diversos tipos
de produtos e serviços, ao agregar o seu "carimbo" de excelência aos veículos usados anunciados, a fabricante
acaba por atrair a solidariedade pela oferta do produto/serviço e o ônus de fornecer a qualidade legitimamente
esperada pelo consumidor. Na verdade, a utilização de marca de renome - utilização essa consentida, até por
força legal (art. 3º, III, da Lei 6.729/1979) - gera no consumidor legítima expectativa de que o negócio é garantido
pela montadora, razão pela qual deve esta responder por eventuais desvios próprios dos negócios jurídicos
celebrados nessa seara. REsp 1.365.609-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 28/4/2015, DJe 25/5/2015.

Com efeito, a solidariedade também pode nascer da lei.

Imagine que determinada pessoa precise de um remédio e ingresse com ação contra a União, somente. Porém, a
União alega que o autor devia ter entrado contra o Estado e o Município, pois a repartição é corrente.

O STF entende que o dever fundamental de prestação de saúde é solidário e que o autor da ação pode escolher
qualquer um dos três entes sem precisar litigar contra os demais.

CF, art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido


mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco
de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às
ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.

AI 808059 AgR / RS - RIO GRANDE DO SUL


Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI
Julgamento: 02/12/2010
Órgão Julgador: Primeira Turma

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONSTITUCIONAL. FORNECIMENTO DE MEDICAMENTO.


LEGITIMIDADE PASSIVA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. OBRIGAÇÃO SOLÍDARIA ENTRE OS ENTES DA FEDERAÇÃO EM
MATÉRIA DE SAÚDE. AGRAVO IMPROVIDO. I – O Supremo Tribunal Federal, em sua composição plena, no julgamento da
Suspensão de Segurança 3.355-AgR/RN, fixou entendimento no sentido de que a obrigação dos entes da federação no que
tange ao dever fundamental de prestação de saúde é solidária. II – Ao contrário do alegado pelo impugnante, a matéria da
solidariedade não será discutida no RE 566.471-RG/RN, Rel. Min. Marco Aurélio. III - Agravo regimental improvido.

Se João quer 1.000 reais do avô paterno de pensão, ele pode pedir somente do avô paterno, mesmo sabendo que
existem outros avôs? Não, porque a obrigação dos avôs não é solidária, mas fracionária (a solidariedade não se
presume).

CC, art. 1.698. Se o parente, que deve alimentos em primeiro lugar,


não estiver em condições de suportar totalmente o encargo, serão

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chamados a concorrer os de grau imediato; sendo várias as pessoas
obrigadas a prestar alimentos, todas devem concorrer na proporção
dos respectivos recursos, e, intentada ação contra uma delas,
poderão as demais ser chamadas a integrar a lide.

No caso do idoso, o art. 12 do Estatuto do Idoso diz que a obrigação alimentar é solidária, podendo o idoso optar
entre os prestadores.

Lei 10.741/2003, art. 12 - A obrigação alimentar é solidária, podendo


o idoso optar entre os prestadores.

4.2.4 Solidariedade ativa


Há mais de um credor e apenas um devedor, e por lei ou por contrato esses credores são solidários. Qualquer um
dos credores pode exigir do devedor o cumprimento da prestação por inteiro.

CC, art. 267. Cada um dos credores solidários tem direito a exigir do
devedor o cumprimento da prestação por inteiro.

Podemos exemplificar a solidariedade ativa advinda da lei: lei do inquilinato, art. 2º. Se há dois locadores,
qualquer deles pode cobrar a totalidade do locatário.

Lei 8.245/91, art. 2º. Havendo mais de um locador ou mais de um


locatário, entende - se que são solidários se o contrário não se
estipulou.

Obs.: quaisquer dos dois locadores podem ajuizar ação de despejo ou ação revisional, pois são solidários.

Se três credores, um devedor (que deve 90) e a dívida vence hoje, pode o devedor pagar a qualquer um dos
credores. Mas se o credor 1 fizer a cobrança do devedor, este devedor continua podendo pagar para os demais
credores? Não, pois ocorreu a PREVENÇÃO JUDICIAL, ou seja, o devedor somente pode pagar a quem o
interpelou.

CC, art. 268. Enquanto alguns dos credores solidários não


demandarem o devedor comum, a qualquer daqueles poderá este
pagar.

Se tem três credores, um devedor e uma dívida de 90. Pode o credor 1 se dirigir à residência do devedor e exigir
50? Ou pode o devedor pagar somente 50? É eficaz o pagamento parcial na solidariedade? Sim.

CC, art. 269. O pagamento feito a um dos credores solidários


extingue a dívida até o montante do que foi pago.

É possível a remissão por parte de apenas um credor na solidariedade ativa? Sim. Os demais credores, neste caso,
podem se dirigir ao credor que realizou a remissão e exigir sua fração ideal.

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CC, art. 272. O credor que tiver remitido a dívida ou recebido o
pagamento responderá aos outros pela parte que lhes caiba.

A clássica fraude contra credores se compõe de dois dados: (i) ato gratuito (ex.: remissão) e (ii) condição de
insolvência. Caso isso aconteça, devem os demais credores ajuizar AÇÃO PAULIANA (ação revocatória) para obter
a anulação da remissão, em razão da fraude contra credores.

CC, art. 158. Os negócios de transmissão gratuita de bens ou


remissão de dívida, se os praticar o devedor já insolvente, ou por eles
reduzido à insolvência, ainda quando o ignore, poderão ser anulados
pelos credores quirografários, como lesivos dos seus direitos.

Imagine três credores e um devedor de 90. Determinado credor ingressa com demanda de cobrança, resultando
na improcedência. A coisa julgada nessa demanda atinge os demais credores que não participaram da demanda?

CC, art. 274. O julgamento contrário a um dos credores solidários não


atinge os demais; o julgamento favorável aproveita-lhes, a menos
que se funde em exceção pessoal ao credor que o obteve.

O CC adotou a tese da coisa julgada SECUNDUM EVENTUM LITIS UTILIBUS – caso a demanda seja julgada
procedente, a coisa julgada beneficia os demais credores solidários. Portanto, os demais credores poderão entrar
diretamente na fase de cumprimento de sentença.

CDC, art. 103, II - Nas ações coletivas de que trata este código, a
sentença fará coisa julgada: II - ultra partes, mas limitadamente ao
grupo, categoria ou classe, salvo improcedência por insuficiência de
provas, nos termos do inciso anterior, quando se tratar da hipótese
prevista no inciso II do parágrafo único do artigo 81.

Por fim, o NCPC estabelece a coisa julgada secundum eventum litis utilibus como regra.

NCPC, art. 506. A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais
é dada, não prejudicando terceiros.

Solidariedade passiva – próxima aula.

QUESTÃO
Ano: 2015 / Banca: FUNCAB / Órgão: FUNASG / Prova: Advogado
Sendo a obrigação indivisível e solidária:
a) não perde tais qualidades se resolvida emperdas e danos.

b) a sua conversão em perdas e danos afasta apenas o caráter indivisível da obrigação.

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c) todos os devedores são responsáveis pela totalidade da dívida, mas a sub-rogação se verifica apenas
comrelação a solidariedade.

d) a solidariedade pode ser presumida.

e) o credor não pode cobrar a dívida de apenas um dos devedores.

Resposta: alternativa “b”.

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