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MATERIAL DE APOIO

Disciplina: Direito Civil


Professor: Nelson Rosenvald
Aulas: 11 e 12 | Data: 19/08/2015

ANOTAÇÃO DE AULA

SUMÁRIO

DIREITO DAS OBRIGAÇÕES


4. Modalidades de obrigações
4.2 Obrigações solidárias
4.2.5 Solidariedade passiva
4.2.5.1 Solidariedade passiva legal
4.2.5.2 Questões de chamamento ao processo
4.2.5.3 Indivisibilidade x solidariedade

4.2.5 Solidariedade passiva


É sempre estabelecida no interesse do credor.

Imagine um credor e três devedores solidários de uma dívida no valor de 90. Esse credor pode cobrar de quem no
momento do vencimento? De qualquer um. De tal maneira que há um litisconsórcio passivo facultativo, porque é
o credor que escolhe de quem quer cobrar.

Se a dívida é de 90, querendo o credor cobrar o devedor1, ele pode cobrar a totalidade. Mas e se o credor quiser
cobrar 30 do devedor1? Sim.

CC, art. 275. O credor tem direito a exigir e receber de um ou de


alguns dos devedores, parcial ou totalmente, a dívida comum; se o
pagamento tiver sido parcial, todos os demais devedores continuam
obrigados solidariamente pelo resto.

Aduz o Enunciado 348, CJF – o pagamento parcial não implica, por si só, renúncia à solidariedade, a qual deve
derivar dos termos expressos da quitação ou, inequivocamente, das circunstâncias do recebimento da prestação
pelo credor.

Imagine um credor e três devedores solidários de uma dívida de 90. O credor ao efetuar a cobrança do devedor1
verifica que está insolvente. Diante da insolvência do devedor1, o credor pode exigir 90 do devedor2? Sim. O fato
do credor escolher o devedor e a cobrança restar infrutífera nada impede cobrar dos demais devedores.

CC, art. 275, parágrafo único. Não importará renúncia da


solidariedade a propositura de ação pelo credor contra um ou alguns
dos devedores.

Veja o Informativo 497, STJ, de 18 de maio de 2012:

DPVAT. INDENIZAÇÃO. COMPLEMENTAÇÃO. SOLIDARIEDADE.


O beneficiário do DPVAT pode acionar qualquer seguradora integrante do grupo para receber a complementação
da indenização securitária, ainda que o pagamento administrativo feito a menor tenha sido efetuado por
seguradora diversa. A jurisprudência do STJ sustenta que as seguradoras integrantes do consórcio do seguro
DPVAT são solidariamente responsáveis pelo pagamento das indenizações securitárias, podendo o beneficiário

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reclamar de qualquer uma delas o que lhe é devido. Aplica-se, no caso, a regra do art. 275, caput e parágrafo
único, do CC, segundo a qual o pagamento parcial não exime os demais obrigados solidários quanto ao restante
da obrigação, tampouco o recebimento de parte da dívida induz a renúncia da solidariedade pelo credor. REsp
1.108.715-PR, Rel. Min. Luiz Felipe Salomão, julgado em 15/5/2012.

Imagine um credor e três devedores solidários de uma dívida no valor de 90. O credor concede remissão ao
devedor1, que a aceita. Quanto o credor pode cobrar dos devedores 2 e 3? Pode cobrar 60 (90-30=60).

CC, art. 277. O pagamento parcial feito por um dos devedores e a


remissão por ele obtida não aproveitam aos outros devedores, senão
até à concorrência da quantia paga ou relevada.

Há outro dispositivo mais inteligível:

CC, art. 388. A remissão concedida a um dos co-devedores extingue a


dívida na parte a ele correspondente; de modo que, ainda
reservando o credor a solidariedade contra os outros, já lhes não
pode cobrar o débito sem dedução da parte remitida.

Remissão x Renúncia à solidariedade


Imagine um credor e três devedores solidários da dívida de 90. O credor renuncia a solidariedade ao devedor1.

Quando há renúncia da solidariedade pelo credor, significa que ele está exonerando o devedor1 da posição de
devedor? NÃO, pois continua devedor da quantia de 30. Entretanto, tal devedor beneficiado pela renúncia não
será mais considerado solidário, mas sim fracionário.

Se houve renúncia à solidariedade, quanto o credor pode cobrar dos devedores 2 e 3? O CC não disciplina.

CC, art. 282. O credor pode renunciar à solidariedade em favor de


um, de alguns ou de todos os devedores.

Parágrafo único. Se o credor exonerar da solidariedade um ou mais


devedores, subsistirá a dos demais.

O dispositivo apenas afirma que os outros devedores continuam solidários, sem estabelecer os valores da dívida.
Contudo, podemos concluir que continuam solidários e, portanto, cada devedor responderá por 60.

Veja o Enunciado 349, CJF - com a renúncia à solidariedade quanto a apenas um dos devedores solidários, o
credor só poderá cobrar do beneficiado a sua quota na dívida, permanecendo a solidariedade quanto aos demais
devedores, abatida do débito a parte correspondente aos beneficiados pela renúncia.

Imagine um credor e três devedores solidários pela quantia de 90. O credor renúncia à solidariedade ao devedor1
(pode exige deste 30). Pode exigir dos outros a quantia de 60. Suponha que o credor ingresse com uma demanda
contra o devedor2 e este alegue insolvência.

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O devedor1 entra nesse rateio? SIM, porque ele continua sendo devedor (participa do rateio da cota do
insolvente no valor de 15).

CC, art. 284. No caso de rateio entre os co-devedores, contribuirão


também os exonerados da solidariedade pelo credor, pela parte que
na obrigação incumbia ao insolvente.
Por outro lado, na remissão do débito, não haverá mais débito (schuld) ao devedor remido.

Assim, imagine que o credor faça remissão do débito quanto ao devedor1. Ocorre que, um dos demais devedores
é insolvente. Nesse caso, pode chamar o devedor remido para participar do rateio? NÃO.

Preconiza o Enunciado 350, CJF – a renúncia à solidariedade diferencia-se da remissão, em que o devedor fica
inteiramente liberado do vínculo obrigacional (remissão), inclusive no que tange ao rateio da quota do eventual
co-devedor insolvente, nos termos do art. 284.

4.2.5.1 Solidariedade passiva legal


Visa proteger vítimas de danos extracontratuais. Ex.: matéria jornalística (são solidariamente responsáveis autor
da matéria e proprietário do veículo de comunicação).

CC, art. 942, parágrafo único. São solidariamente responsáveis com


os autores os co-autores e as pessoas designadas no art. 932.

Imagine que o empregado de “x” cause danos a “y”. A vítima pode pleitear indenização contra ambos
(empregado e empregador), pois há uma solidariedade passiva. A responsabilidade do empregado é subjetiva. Ao
passo que a responsabilidade do empregador é objetiva.

CC, art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:

III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e


prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão
dele;

Imagine que “x” compre uma geladeira da Brastemp e ela venha a explodir. Contra quem a vítima pode insurgir?
A vítima pode insurgir contra a Brastemp e contra o fabricante das peças, podendo cobrar de cada um a
integralidade, porque há solidariedade passiva em razão do fato do produto.

CDC, art. 7º, parágrafo único. Tendo mais de um autor a ofensa,


todos responderão solidariamente pela reparação dos danos
previstos nas normas de consumo.

Imagine que a Brastemp seja condenada. Quanto ela pode regredir contra o fornecedor da peça? Em regra, a
quantia é para ser rateada. Contudo, no CDC, a SOLIDARIEDADE É IMPERFEITA, ou seja, o direito de regresso
oscila conforme o grau de participação de cada um na causação do evento danoso.

CDC, art. 13, parágrafo único. Aquele que efetivar o pagamento ao


prejudicado poderá exercer o direito de regresso contra os demais

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responsáveis, segundo sua participação na causação do evento
danoso.

Veja o informativo 544 do STJ de 27 de agosto de 2014:

DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RESPONSABILIDADE DE DEVEDOR SOLIDÁRIO E IMPOSSIBILIDADE DE SE


EXCUTIR BENS DE TERCEIRO ESTRANHO À AÇÃO DE CONHECIMENTO.
Os bens de terceiro que, além de não estar incluído no rol do art. 592 do CPC, não tenha figurado no polo passivo
de ação de cobrança não podem ser atingidos por medida cautelar incidental de arresto, tampouco por futura
execução, sob a alegação de existência de solidariedade passiva na relação de direito material. De fato, conforme
o art. 275, caput e parágrafo único, do CC, é faculdade do credor escolher a qual ou a quais devedores direcionará
a cobrança do débito comum, sendo certo que a propositura da ação de conhecimento contra um deles não
implica a renúncia à solidariedade dos remanescentes, que permanecem obrigados ao pagamento da dívida.
Ressalte-se que essa norma é de direito material, restringindo-se sua aplicação ao momento de formação do
processo cognitivo, quando, então, o credor pode incluir no polo passivo da demanda todos, alguns ou um
específico devedor. Sob essa perspectiva, a sentença somente terá eficácia em relação aos demandados, não
alcançando aqueles que não participaram da relação jurídica processual, nos termos do art. 472 do CPC e
conforme a jurisprudência do STJ (REsp 1.169.968-RS, Terceira Turma, DJe 17/3/2014; e AgRg no AREsp 275.477-
CE, Primeira Turma, DJe 8/4/2014). Ademais, extrai-se o mesmo entendimento da norma prevista no art. 568 do
CPC que, enumerando os possíveis sujeitos passivos na execução, refere-se expressamente ao “devedor
reconhecido como tal no título executivo”; não havendo, nesse dispositivo, previsão alguma quanto ao devedor
solidário que não figure no título judicial. Além disso, a responsabilidade solidária precisa ser declarada em
processo de conhecimento, sob pena de tornar-se impossível a execução do devedor solidário, ressalvados os
casos previstos no art. 592 do mesmo diploma processual, que prevê a possibilidade de excussão de bem de
terceiro estranho à relação processual. Ante o exposto, não é possível, em virtude de alegação quanto à eventual
existência de solidariedade passiva na relação de direito material, atingir bens de terceiro estranho ao processo de
cognição e que não esteja incluído no rol do art. 592 do CPC. Aliás, em alguma medida, esse entendimento está
contido na Súmula 268 do STJ (segundo a qual o “fiador que não integrou a relação processual na ação de despejo
não responde pela execução do julgado”), a qual, mutatis mutandis, deve ser também aplicada ao devedor que
não tenha sido incluído no polo passivo de ação de cobrança. REsp 1.423.083-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
julgado em 6/5/2014.

Imagine que há um credor e três devedores solidários por um contrato de 90 mil. O credor exige do devedor1,
apenas. O que este devedor pode fazer processualmente? Ele pode se utilizar do CHAMAMENTO AO PROCESSO –
modalidade forçada de intervenção de terceiros (relação jurídica prévia entre autor, réu e o chamado –
litisconsórcio facultativo passivo ulterior). Instaura-se uma ação condenatória secundária (autor, chamante e
chamado).

NCPC, art. 130. É admissível o chamamento ao processo, requerido


pelo réu:

III - dos demais devedores solidários, quando o credor exigir de um


ou de alguns o pagamento da dívida comum.

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Ao fazer o chamamento, a sentença que o juiz irá proferir será FORMALMENTE UNA, mas MATERIALMENTE
DÚPLICE. Isso porque, haverá apenas uma sentença, que em seu bojo trará duas condenações (julga procedente a
pretensão do credor e julga procedente a pretensão do devedor1 contra os demais devedores).

NCPC, art. 132. A sentença de procedência valerá como título


executivo em favor do réu que satisfizer a dívida, a fim de que possa
exigi-la, por inteiro, do devedor principal, ou, de cada um dos
codevedores, a sua quota, na proporção que lhes tocar.

4.2.5.2 Questões de chamamento ao processo


a) imagine um credor e três devedores pela dívida de 90. O credor renúncia à solidariedade ao devedor1 (só paga
30). O credor ingressa contra devedor2, cobrando os 60. O devedor2 chama ao processo os devedores1 e 3. Cabe
chamamento ao processo contra o devedor1 beneficiado pela renúncia à solidariedade? NÃO, porque
chamamento ao processo é contra devedores solidários (o devedor 1 é fracionário).

Leciona o Enunciado 351, CJF - a renúncia à solidariedade em favor de determinado devedor afasta a hipótese de
seu chamamento ao processo.

b) é correto o ônus do chamamento ao processo contra os devedores solidários? NÃO. A solidariedade passiva
nasce para satisfazer o interesse do credor. Se a solidariedade tem essa função e o credor somente escolheu um
devedor, e este devedor chama ao processo os demais devedores, isso aniquila o princípio da instrumentalidade,
pois desvirtua a essência da responsabilidade passiva (o devedor não pode impor ao credor que litigue com todos
os devedores).

RE 607381 AgR / SC - SANTA CATARINA


AG.REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO
Relator(a): Min. LUIZ FUX
Julgamento: 31/05/2011
Órgão Julgador: Primeira Turma

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL. DIREITO À SAÚDE
(ART. 196, CF). FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS. SOLIDARIEDADE PASSIVA ENTRE OS ENTES FEDERATIVOS.
CHAMAMENTO AO PROCESSO. DESLOCAMENTO DO FEITO PARA JUSTIÇA FEDERAL. MEDIDA PROTELATÓRIA.
IMPOSSIBILIDADE. 1. O artigo 196 da CF impõe o dever estatal de implementação das políticas públicas, no sentido de
conferir efetividade ao acesso da população à redução dos riscos de doenças e às medidas necessárias para proteção e
recuperação dos cidadãos. 2. O Estado deve criar meios para prover serviços médico-hospitalares e fornecimento de
medicamentos, além da implementação de políticas públicas preventivas, mercê de os entes federativos garantirem recursos
em seus orçamentos para implementação das mesmas. (arts. 23, II, e 198, § 1º, da CF). 3. O recebimento de medicamentos
pelo Estado é direito fundamental, podendo o requerente pleiteá-los de qualquer um dos entes federativos, desde que
demonstrada sua necessidade e a impossibilidade de custeá-los com recursos próprios. Isto por que, uma vez satisfeitos tais
requisitos, o ente federativo deve se pautar no espírito de solidariedade para conferir efetividade ao direito garantido pela
Constituição, e não criar entraves jurídicos para postergar a devida prestação jurisdicional. 4. In casu, o chamamento ao
processo da União pelo Estado de Santa Catarina revela-se medida meramente protelatória que não traz nenhuma utilidade
ao processo, além de atrasar a resolução do feito, revelando-se meio inconstitucional para evitar o acesso aos remédios
necessários para o restabelecimento da saúde da recorrida. 5. Agravo regimental no recurso extraordinário desprovido.

Voltemos ao exemplo do CDC.

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Sabemos que Brastemp e fornecedor de peça são solidários passivos. Imagine que a vítima escolhe a Brastemp. A
Brastemp pode chamar ao processo o fornecedor? NÃO, porque no CDC há regra específica.

CDC, art. 88. Na hipótese do art. 13, parágrafo único deste código, a
ação de regresso poderá ser ajuizada em processo autônomo,
facultada a possibilidade de prosseguir-se nos mesmos autos, vedada
a denunciação da lide chamamento ao processo.

Obs.: o chamamento ao processo é prejudicial para vítima, pois a lide seria procrastinada com a intervenção de
terceiros.

Obs.: a doutrina critica o art. 88, porque não é denunciação da lide, mas sim chamamento ao processo.

Passemos a analisar outras questões.

CC, art. 285. Se a dívida solidária interessar exclusivamente a um dos


devedores, responderá este por toda ela para com aquele que pagar.

Esse dispositivo prevê o instituto da fiança.

Imagine um locador e um locatário com fiador. O débito é do locatário. O fiador tem responsabilidade. Em
princípio, a dívida do fiador é subsidiária, pois ele não é o devedor (o fiador tem benefício de ordem).

CC, art. 828. Não aproveita este benefício ao fiador:

I - se ele o renunciou expressamente;

II - se se obrigou como principal pagador, ou devedor solidário;

NCPC, art. 794. O fiador, quando executado, tem o direito de exigir


que primeiro sejam executados os bens do devedor situados na
mesma comarca, livres e desembargados, indicando-os
pormenorizadamente à penhora.

§ 3º O disposto no caput não se aplica se o fiador houver renunciado


ao benefício de ordem.

Se o fiador opta pela renúncia ao benefício de ordem, ele se torna devedor solidário.

Assim, se o locatário não quita as obrigações, legitima-se o locador cobrar diretamente o fiador. De tal forma que,
havendo o pagamento integral da dívida pelo fiador, este pode regredir na totalidade contra o locatário, uma vez
que o fiador não é devedor, mas responsável por débito alheio.

Atenção: estabelece o Enunciado 364, CJF - no contrato de fiança é nula a cláusula de renúncia antecipada ao
benefício de ordem quando inserida em contrato de adesão.

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4.2.5.3 Indivisibilidade x solidariedade

Distinções Indivisibilidade Solidariedade


Extinção da indivisibilidade + Permanece a solidariedade (art.
Perda do objeto
perdas e danos (art. 263) 271)
Morte das partes Permanece (art. 276, CC) Extinção

a) a indivisibilidade é OBJETIVA, porque tem a haver com o objeto (divisível ou indivisível). Por outro lado, a
solidariedade é SUBJETIVA, de maneira que essa imposição se dirige ao devedor ou ao credor.

Imagine um credor e três devedores sendo o objeto um touro, que vale 90 mil. No momento em que a obrigação
vence, ocorre a perda do objeto. Havendo a perda, essa prestação se converte em perdas e danos. Quanto se
pode exigir de cada um dos devedores? 30 mil (fracionária).

CPC, art. 263. Perde a qualidade de indivisível a obrigação que se


resolver em perdas e danos.

§1º Se, para efeito do disposto neste artigo, houver culpa de todos os
devedores, responderão todos por partes iguais.

§2º Se for de um só a culpa, ficarão exonerados os outros,


respondendo só esse pelas perdas e danos.

Mas e se a culpa pela perda do objeto foi de APENAS UM dos três devedores? A prestação é dividida entre os três
(30 mil), mas as perdas e danos serão de responsabilidade única daquele que agiu com culpa.

Aduz o Enunciado 540, CJF - havendo perecimento do objeto da prestação indivisível por culpa de apenas um dos
devedores, todos respondem, de maneira divisível, pelo equivalente e só o culpado, pelas perdas e danos.

b) mas e se nesse contrato o credor do touro coloca uma cláusula de solidariedade passiva. Havendo a morte do
animal quanto pode exigir de cada devedor? 90 mil, pois a solidariedade tem origem subjetiva, independente do
objeto ser um bem divisível ou bem indivisível.

CC, art. 271. Convertendo-se a prestação em perdas e danos,


subsiste, para todos os efeitos, a solidariedade.

Imagine um credor e três devedores solidários de uma dívida de 90 mil. O devedor1 morre, deixando três
sobrinhos. Pode o credor cobrar os 90 de um dos sobrinhos? NÃO. Do sobrinho1 só pode cobrar 10 (cada
sobrinho responde por 10 intra vires [até o limite da herança]) – a solidariedade, por ser subjetiva, NÃO se
transmite aos seus herdeiros (o vínculo é personalíssimo). Porém, do devedor 2 e 3 pode-se cobrar 90.

Mas e se a dívida for um touro? O credor, mesmo havendo a morte do devedor1, pode cobrar o objeto indivisível
do sobrinho, porque a indivisibilidade se liga ao objeto.

CC, art. 276. Se um dos devedores solidários falecer deixando


herdeiros, nenhum destes será obrigado a pagar senão a quota que

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corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for
indivisível; mas todos reunidos serão considerados como um devedor
solidário em relação aos demais devedores.

Pergunta-se: há alguma possibilidade de cobrar os sobrinhos pela totalidade da dívida solidária? Assim que o
devedor1 morreu, o credor deve ajuizar ação contra o ESPÓLIO (bem indivisível).

Próxima aula: modalidades de obrigações (alternativas, facultativas e cumulativas).

QUESTÃO
Ano: 2015 / Banca: CONSULPLAN / Órgão: TJ-MG / Prova: Titular de Serviços de Notas e de Registro

Sobre solidariedade ativa, é correto afirmar:


a) Se um dos credores solidários falecer deixando herdeiros, cada um destes terá direito a exigir e receber a quota
do crédito que corresponder ao seu quinhão hereditário, mesmo se a obrigação for indivisível.

b) Convertendo-se a prestação em perdas e danos, subsiste, para todos os efeitos, a solidariedade.

c) O julgamento contrário a um dos credores solidários atinge os demais.

d) O julgamento favorável a um dos credores solidários em nenhum caso aproveita aos demais.

Resposta: alternativa “b”.

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