Você está na página 1de 6

PAPEL DO CIRURGIÃO DENTISTA NO TRATAMENTO DO

RONCO PRIMÁRIO E APNEIA OBSTRUTIVA DO SONO


SURGEON’S ROLE IN DENTIST HUSKY PRIMARY TREATMENT AND
SLEEP APNEA OBSTRUCTIVE

Stefan Fiuza de Carvalho DEKON¹


Marcelo Coelho GOIATO²
Tahiana Pigozzi Codo AMARAL³
Tamires Miranda ALVES4
Nathália Valência QUINTINO4
Leonardo Pereira VIANA5

RESUMO
A Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS) vem despertando muito interesse por
ser uma condição não estabelecida totalmente na medicina.Trata-se de microdespertares
que geram a fragmentação do sono, e consequentemente, prejudica a coordenação motora,
deficiências hormonais, capacidade de raciocínio, entre outros. Os sinais e sintomas
comuns são o ronco, sonolência excessiva diurna, perda de memória, irritabilidade, falta
de atenção. Para diagnóstico, a Polissonografia (PSG) é o exame padrão ouro e um
treinamento aos cirurgiões dentistas é necessário para que saibam interpretá-lo e realizar
o tratamento cabível a classe odontológica.

UNITERMOS: Ronco, Síndrome da Apneia do Sono, Sono.


INTRODUÇÃO Existe uma grande parcela da população que
Dormir bem é essencial para manter-se apresenta o que se denomina de Síndrome da apnéia
saudável, melhorar a qualidade de vida e até aumentar obstrutiva do sono (SAOS). Trata-se de uma obstrução
a longevidade. Durante o período de sono, nosso das vias aéreas quando há uma aproximação dos
organismo realiza f unções importantes com tecidos da garganta, dificultando a passagem do ar e
consequências diretas à saúde, como o fortalecimento impedindo a respiração por alguns segundos, com
do sistema imunológico, secreção e liberação de várias repetições. Como se trata de uma síndrome,
hormônios (hormônio do crescimento, insulina e apresenta outras características associadas, como
outros), consolidação da memória, relaxamento e hipersonolência diurna, irritabilidade, desvio de atenção,
descanso da musculatura4. Uma noite comprometida perda de memória, dentre outros. Alguns apresentam
pode prejudicar a coordenação motora e a capacidade fatores de risco para essa enfermidade, como
de raciocínio do indivíduo, além de outros danos. alterações no desenvolvimento crânio-facial, obesidade,
O ronco é considerado um problema social, deficiência hormonal e até mesmo fatores genéticos.
sendo um fator de desagregação familiar, muitas vezes A polissonografia é um exame indispensável
levando a pessoa que ronca a dormir em quarto para que o paciente possa ser diagnosticado com a
separado, bem como torna a pessoa que ronca motivo SAO S, dev endo ser real izada por médi cos
de piadas entre companheiros de trabalho8. É causado especialistas. No entanto, dependendo do grau de
pela vibração dos tecidos da garganta em função da severidade da doença, a mesma poderá ser tratada
turbulência do ar à medida que as vias aéreas se em ambiente hospitalar ou até mesmo em consultório
estreitam. A obesidade, a respiração bucal e o uso de odontológico, caso seja considerada leve a moderada.
cigarro e álcool agravam de modo significativo o ronco6. Para isso, um conhecimento e treinamento geral do
A interrupção abrupta do ronco durante alguns assunto são fundamentais para que o cirurgião-
segundos pode indicar a ocorrência de um episódio dentista atue no seu campo de trabalho.
de apnéia, seguindo-se um novo ronco de maior
intensidade, forçando a abertura da via aérea e REVISÃO DE LITERATURA
reiniciando a respiração. Esse fenômeno normalmente Apnéia obstrutiva do sono (SAOS) é uma
é acompanhado por movimentos do membros ou parada respiratória provocada pelo colabamento das
espasmo muscular12. paredes da faringe. A repetição dos episódios de
1 - Prof. Ass. Dr. da Disciplina de Prótese Parcial Fixa da Faculdade de Odontologia de Araçatuba –UNESP
2 - Prof. Tit. Da Disciplina de Prótese Total da Faculdade de Odontologia de Araçatuba - UNESP;
3 - Graduanda do 5º ano Integral da Faculdade de Odontologia de Araçatuba (Unesp).
4 - Cirurgiãs Dentias
5 - Mestre em reabilitação oral - Foa - Unesp

Revista Odontológica de Araçatuba, v.36, n.2, p. 70-74, Julho/Dezembro, 2015 70


apnéia tem como consequência a menor oxigenação respirat órios do sono (DRS) do que puros
do sangue e também a hipercapni a, o que estreitamentos anatômicos9.
pode redundar em danos ao organismo3. Existe alguma evidência de que o status
Apnéia (do grego “vontade de respirar”) é definida hormonal pode influenciar a atividade dilatadora dos
como a cessação da respiração por 10 ou mais músculos das VAS. Mulheres em pré-menopausa têm
segundos12. Estudos maisrecentes demonstram que grande atividade da musculatura do genioglosso,
essa redução do fluxo aéreo, em roncadores habituais quando comparadas com mulheres em pós-
e em apnéicos, não se restringe ao fluxo inspiratório, menopausa e homens da mesma idade. Acredita-se,
mas que o processo de obstrução das vias aéreas então, que a progesterona pode ter um papel protetor
superiores (VAS) é evento inspiratório e expiratório9. da apneia antes da menopausa. O maior nível de
As apnéias podem ser classificadas como progesterona ocorre na fase lútea do ciclo menstrual,
obstrutivas, mistas ou centrais. Nas obstrutivas, o fluxo e nesse período as mulheres experimentam um
aéreo é impedido pelo colapso das vias aéreas superiores, aumento no comando ventilatório, evidenciando uma
apesar dos esforços repetidos para restabelecer a das funções desse hormônio. Progesterona exógena
respiração. Durante as apnéias centrais, a ventilação tem sido associada a uma pequena, mas definitiva,
cessa porque o sistema nervoso central é incapaz de melhora na ventilação durante o sono de homens e
ativar o diafragma e outros músculos respiratórios. As mulheres com apneia. Outro hormônio também
apnéias mistas começam com uma pausa do centro importante é o estrogênio, e a sua administração está
respiratório, seguida por aumento sucessivo do esforço associada à diminuição plasmática de interleucina 6,
respiratório contra uma via aérea obstruída12. a qual está elevada em pacientes com apneia.
Portanto, mulheres em pós-menopausa em uso de
FATORES DE RISCO terapia de reposição hormonal (progesterona e
O ronco é um pré-requisito para a síndrome de estrogênio) têm menor prevalência de SAOS, pois
apnéia do sono, e estudos recentes enfatizam que essa possuem dois mecanismos protetores15.
síndrome tenha uma predisposição familiar. Havendo Quanto ao tônus do músculo genioglosso,
predisposição genética para o ronco e para a SAOS, acredita-se que ele é maior nas mulheres, sugerindo
essa predisposição poderia ser anatômica um mecanismo de defesa para manutenção da
(estreitamento congênito das faces, cavidade oral permeabilidade das VAS. Dessa forma, quando
pequena, por exemplo), funcional (por exemplo, defeito deitados na posição de decúbito dorsal, os homens
de coordenação da atividade dos músculos dilatadores têm uma maior redução da luz das VAS do que as
da faringe e do diafragma) ou constitucional (por mulheres, visto que quando um indivíduo se situa
exemplo, hábito pletórico, pescoço curto, obesidade)9. nessa posição, a língua e o palato mole projetam-se
Alterações na anatomia externa da cabeça e posteriormente, reduzindo a área da orofaringe. Uma
pescoço podem ser f atores de ri sco para outra situação que corrobora essa hipótese é que
desenvolvimento da SAOS, independentemente da quando há aumento da circunferência do pescoço,
obesidade. O dismorfismo craniofacial pode envolver por acúmulo de gordura, as mulheres mantêm o
um atraso no desenvolvimento da mandíbula, diâmetro transverso das VAS maior que o dos homens,
produzindo uma retroposição mandibular. Essa sugerindo, mais uma vez, que elas apresentam um
micrognatia ou hipoplasia mandibular é associada com melhor mecanismo de defesa15.
o posicionamento posterior da base da língua, o que Por outro lado, a administração exógena de
estreita as VAS15. Ainda, a forma e o tamanho das testosterona em mulheres e homens sadios induz
VAS dependem das estruturas do tecido mole (palato, apnéias sem aumentar o peso, pois tem sido
úvula, língua e parede da faringe), as quais podem associada a uma maior colapsibilidade das VAS.
ser influenciadas pela ação da gravidade. Acredita-se que níveis elevados de andrógenos podem
A avaliação da morfologia craniofacial, com alterar a composição da gordura corpórea e levar a
estudos cefalométricos diversificados, analisando maior depósito de tecido mole na faringe, podendo
estruturas ósseas e partes moles como a língua, o atuar também sobre os músculos dilatadores da
palato mole e a faringe, tem procurado encontrar faringe, relaxando-os. A apneia é resolvida após a
parâmetros preditivos para o ronco e para a SAOS. retirada exógena dohormônio ou, em casos de tumores
Até o momento, não se sabe a relevância de produtores de testosterona, com a sua ressecção15.
anormalidades encontradas a partir desses estudos A obesidade aumenta a freqüência do ronco e
anatômicos. Por outro lado, há indícios de que da síndrome da apnéia obstrutiva do sono (SAOS),
anormali dades encontradas em estudos conf orme tem sido regi strado nos estudos
cefalométricos, particularmente em tecidos moles, epidemiológicos9. O maior acúmulo de gordura na
ocorram mais provavelmente como conseqüência do região de circunferência do pescoço, aumenta o risco
ronco habitual e da SAOS do que de um evento do indivíduo de desenvolver apnéia, uma vez que pode
primário. Assim, em estudos recentes, a instabilidade agravar o colabamento das VAS durante o período de
das VAS e seu controle muscular parecem fatores sono. Idade, peso e circunferência do pescoço estão
mais relevantes na fisiopatologia dos distúrbios intimamente ligados, uma vez que, com o aumento

Revista Odontológica de Araçatuba, v.36, n.2, p. 70-74, Julho/Dezembro, 2015 71


da idade, aumenta-se o nível de gordura corporal, com Para obtenção do diagnóstico, deve-se fazer uma
conseqüente elevação da deposição de gordura em avaliação completa do paciente, realizando-se a princípio
torno do pescoço. Porém, dentre os fatores de risco um exame físico e clínico geral. As variáveis
para a SAOS, a obesidade é um dos de maior antropométricas (peso e altura), a circunferência do
importância e pode ser reversível. pescoço e a pressão arterial devem ser mensuradas. Entre
Ainda, a ingestão de álcool é reconhecida como essas variáveis do exame físico, destacam-se, como de
um dos fatores de piora das apnéias, aumentando maior valor preditivo, a circunferência do pescoço, o índice
sua freqüência e duração, intensificando as arritmias de massa corpórea e a presença de hipertensão arterial1.
cardíacas concomitantes e as reduções de saturação Na parte odontológica do diagnóstico, é
de oxigênio. Por outro lado, sua influência na fundamental avaliar a morfologia craniofacial de cada
mortalidade da SAOS ainda está para ser determinada indiv íduo, detect ando-se alterações do
em estudos populacionais13. desenvolvimento da maxila (hipoplasia) e da mandíbula
(retroposição mandibular)1.
SINTOMAS E CONSEQUÊNCIAS Os pacientes obesos com concentração de
Pacientes portadores da SAOS apresentam gordura no nível do tronco comumente apresentam
sonolência diurna excessiva não explicada por outros pescoço curto, circunferência cervical alargada,
fatores ou no mínimo dois dos seguintes sintomas, excesso de gordura na região submentoniana e osso
também não explicados por outros fatores - engasgos hioide deslocado inferiormente. As alterações da
durante o sono, despertares recorrentes, sono não oclusão dentária (mordida cruzada, mordida aberta, má
reparador, f adiga diurna ou di f icul dade de oclusão de classe II de Angle, presença de palato
concentração, monitorização polissonográfica durante ogival e estreitamento lateral da maxila podem sugerir
a noite mostrando cinco ou mais eventos respiratórios um crescimento inadequado da maxila e/ou da
obstrutivos por hora de sono. Estes eventos podem mandíbula, o que pode sugerir uma predisposição ao
ser indistintamente redução (hipopnéia) ou interrupção colabamento das vias aéreas superiores1.
completa (apnéia) do fluxo de ar apesar da Uma anatomia desproporcional da cavidade
manutenção do esforço inspiratório ou esforço oral, seja por aumento de t ecidos moles
respiratório relacionado ao despertar15. (principalmente do volume da língua) ou por
Apesar do ronco ser o problema mais hipodesenvolvimento da estrutura óssea bimaxilar,
incômodo, a apnéia do sono é o problema bastante pode ser suspeitada aplicando a classificação de
relevante uma vez que afeta vários órgãos do nosso Mallampati modificada.
corpo, principalmente o coração, onde aumenta de Índice de Mallampati modificado:
modo significativo a possibilidade de desenvolver Classe I: visualiza-se toda a parede posterior
arritmias, hipertensão, infarto e derrame cerebral. da orofaringe, incluindo o polo inferior das tonsilas
Um paciente apneico, durante uma crise, não palatinas.
tem chances de morrer sufocado devido a mesma, já Classe II: visualiza-se parte da parede posterior
que o cérebro tem o controle sobre o nível de oxigênio da orofaringe.
e gás carbônico no sangue e quando eles se alteram Classe III: visualizam-se a inserção da úvula e o
a pessoa acorda e volta a respirar. A apneia obstrutiva palato mole. Não é possível evidenciar a parede
não mata diretamente, mas aumenta muito a chance posterior da orofaringe.
de desenvolver doenças que matam como o infarto Classe IV: visualizam-se somente parte do
do coração e os derrames cerebrais7. palato mole e o palato duro.
Esta síndrome é, atualmente, considerada um Após a avaliação do paciente como um todo,
problema de saúde pública por causar aumento de devem ser realizados exames específicos para
acidentes de trânsito e trabalho, bem como, da morbi- detecção da SAOS. A polissonografia é considerada
mortalidade cardiovascular14. indispensável e consiste na monitorização, durante a
noite inteira, de diversos parâmetros fisiológicos,
DIAGNÓSTICO incluindo o eletroencefalograma, eletrocardiograma,
Muitos pacientes procuram o médico com queixa eletrooculograma, eletromiograma, medida de fluxo
de ronco, principalmente quando desencadeia conflitos aéreo bucal e nasal, esforço respiratório por meio de
matrimoniais e familiares insustentáveis. O barulho pneumógrafo e medida desaturação transcutânea
excessivo é o que realmente os incomoda, não se contínua de O2 por meio de oxímetro. Esta
atentando para outros quadros associados. Em geral, as monitorização é feita em Centros de Distúrbios do
queixas de fadiga, sonolência diurna, alterações Sono, em salas com temperatura constante e
comportamentais e cognitivas são pouco valorizadas pelo atenuação de sons. A severidade da SAOS é, via de
próprio paciente que as atribui a desgastes físicos, regra, av ali ada com base nos dados da
emocionais e/ouenvelhecimento. No entanto, uma polissonografia2, verificando-se também se existem
avaliação adequada pode diagnosticar que o ronco tem out ros distúrbios do sono cujos sintomas
chances de fazer parte da SAOS14. assemelham-se com a apnéia e, para que se possa

Revista Odontológica de Araçatuba, v.36, n.2, p. 70-74, Julho/Dezembro, 2015 72


avaliar os resultados do tratamento, faz-se uma antes do sono. São adaptados por dentistas com
e uma depois, comparando-se ambas. conhecimento e treinamento em medicina do sono7.
Existe um outro exame, podendo este ser
realizado por um cirurgião-dentista, que não deve
PAPEL DO CIRURGIÃO DENTISTA NA SAOS
substituir a polissonografia, mas pode auxiliar no
O cirurgião-dentista tem papel significativo no
acompanhamento do paciente, sendo de fácil aplicação,
diagnóst ico da SAO S, podendo uti lizar da
rápido e sem qualquer custo. Trata-se da escala de
classificação de Mallampatti, a qual avalia o paciente
Epworth (Tabela 1), desenvolvida em 1991 por um
quanto a sua predisposição para a doença por meio
médico australiano, Dr. John W. Murray, e desde então
da anatomia da cavidade oral. Pode ainda realizar a
é utilizada em todo o mundo e, apesar de ser um método
avaliação do indivíduo através da Escala de sonolência
subjetivo, contribui para a avaliação do quadro.
de Epworth, a qual é baseada nas chances de cochilar
A escala citada acima possui numeração de 0 a
do mesmo.
3, baseando-se nas chances do paciente cochilar, sendo
O tratamento, dependendo do grau de
considerada de nenhuma à alta chance de cochilar,
severidade da doença, pode ser realizado também
acompanhando a ordem crescente de numeração.
pelo cirurgião-dentista. Os aparelhos orais instalados
por esse profissional são indicados quando a SAOS
TRATAMENTO é considerada de leve a moderada. Porém, dentro
Os tratamentos para a SAOS irão depender do
desse critério, sua indicação possui algumas
grau de severidade da doença, que pode ser leve,
limitações, sendo elas:
moderada ou severa. Existem métodos cirúrgicos e
- Impossibilidade de reter o aparelho na boca,
também paliativos para o tratamento. As cirurgias
tendo como exemplo pacientes que têm poucos
podem ser a redução dos tecidos da garganta
dentes, os que usam próteses removíveis extensas,
(uvulopalatofaringoplastia) através da remoção da úvula portadores de prótese total (dentadura) inferior e
e parte do palato mole e cirurgias para avanço uni ou problemas periodontais severos em que os dentes
bi-maxilar (cirurgias ortognáticas) que consistem no apresentam mobilidade acentuada4.
avanço da parte óssea bucal (maxila e mandíbula). São - Casos em que a perspectiva de bons
realizadas pelo Otorrino (Uvulopalatofaringoplastias) ou resultados é pequena. Pacientes muito obesos ou
pelo Cirurgião Bucomaxilofacial (Ortognáticas)7. com índice de apnéia muito acentuado (acima de 30
Dentre os métodos não-cirúrgicos e paliativos, apnéias por hora) precisam ser bem avaliados, pois a
tem-se os aparelhos de pressão positiva (CPAP, Figura perspectiva de resultados é mais pobre, devendo-se
3) que são compostos de um compressor de ar, de optar por outro tipo de tratamento, ficando o aparelho
um tubo e uma máscara que, injetando ar nas vias como uma segunda opção ou para ser usado em
aéreas, mantém as paredes da faringe afastadas e conjunto com outros tratamentos4.
impede o colapso da via aérea. Tem sua indicação - Nos casos em que o paciente tem problemas
principal noscasos de apnéias moderadas ou graves. na Articulação (ATM) da mandíbula (dor, estalos ou
São adaptados pelo médico especialista em sono7. desvios). Nestes casos é preciso uma avaliação
detalhada da articulação e um tratamento diferenciado,
pois o aparelho pode agravar estes problemas4.
É necessário fazer uma avaliação, na qual o
dentista ou o médico especialista em sono verificam
as condições para a colocação do aparelho, se é
preciso fazer alguns exames complementares, como
radiografias ou outros exames médicos, avaliação da
condição dentária verificando possíveis problemas que
precisam ser tratados antes da colocação do aparelho7.
O aparelho funciona avançando a mandíbula e
mantendo-a firmemente nessa posição. O avanço da
mandíbula faz com que os tecidos da garganta se
“estiquem”, aumentando a abertura para a passagem
do ar. O avanço mandibular estimula um reflexo que
faz a musculatura da faringe e arredores ficarem mais
Além disso, existem os aparelhos orais que tensos e mais firmes, evitando o ronco. Mantendo a
são placas presas aos dentes, que se articulam entre mandíbula presa ao aparelho, ele não permite que ela
si avançando a mandíbula e com isso afastam os “caia” durante o sono, abrindo a boca, pois esse
tecidos da garganta, evitando o ronco e a apnéia do movimento de abertura geralmente é seguido de um
sono. De fácil adaptação, são indicados nos casos reflexo que faz a língua ir para trás obstruindo a
de ronco primário (sem apnéia) e nas apnéias passagem do ar7.
obstrutivas leves e moderadas. Tem sido a alternativa
mais conservadora no tratamento do ronco e da apnéia

Revista Odontológica de Araçatuba, v.36, n.2, p. 70-74, Julho/Dezembro, 2015 73


Vale ressaltar que o aparelho oral é paliativo, 5. http://www.cursospos.com.br/arquivos_biblioteca/
ou seja, não atua na causa da doença e sim na 3feeb13cf32fc98e5f45e3c50259003be1134277.pdf
suspensão dos seus sintomas enquanto o paciente 6. h t t p : / / w w w. d e n t i s t a d o s o n o . c o m . b r /
estiver sob seu uso. ronco_apneia.php
7. http://www.dentistadosono.com.br/tratamentos.php
CONCLUSÃO 8. http://www.fariadinizodontologia.com/artigos-
A população procura médicos especialistas em odontologicos/ronco-e-apneia-do-sono/
tratamento para distúrbios do sono quando os 9. CARDEAL, J.O.; OLIVEIRA, A.S.B. & GABBAI,
mesmos passam a ser um incômodo e interferem em A.A. É o Ronco Secundário a uma Miopatia
sua vida social. No entanto, o cirurgião-dentista pode Focal?; Rev. Neurociências 8(1): 26-30, 2000.
fazer uma anamnese de rotina e constar, após uma 10. BALBANI, APS et al. Ronco e síndrome da apnéia
escala subjetiva, se o paciente apresenta a SAOS, obstrutiva do sono; Rev Ass Med Brasil 1999;
podendo encaminhar o mesmo a um atendimento 45(3): 273-8.
especializado. E dependendo do grau de severidade 11. Boari, L; Cavalcanti, C.M; Bannwart, S.R.F.D;
desta, o profissional possui condições de realizar o Sofia, O.B; Dolci, J.E.L. Avaliação da escala de
tratamento através da placa intra-oral, que é um Epworth em pacientes com a Síndrome da apnéia
método mais barato e não-cirúrgico. e hipopnéia obstrutiva do sono; Rev Bras
Otorrinolaringol. V.70, n.6, 752-6, nov./dez. 2004.
ABSTRACT 12. BALBANI, APS et al. Ronco e síndrome da apnéia
Obstructive Apnea Syndrome (OSAS) is attracting obstrutiva do sono; Rev Ass Med Brasil 1999;
much interest because it is a condition not fully 45(3): 273-8.
established in medicina.Trata up of arousals that 13. R. Reimão, S.H. Joo. Mortalidade da apnéia
generate sleep fragmentation, and consequently obstrutiva do sono; Rev. Assoc. Med. Bras. vol.46
impairs motor coordination, hormone deficiencies, n.1 São Paulo Jan./Mar. 2000.
thinking ability , among others. The common signs 14. Boari, L; Cavalcanti, C.M; Bannwart, S.R.F.D;
and symptoms are snoring, excessive daytime Sofia, O.B; Dolci, J.E.L. Avaliação da escala de
sleepiness, memory loss, irritability, lack of attention. Epworth em pacientes com a Síndrome da apnéia
For diagnosis, polysomnography (PSG) is the gold e hipopnéia obstrutiva do sono; Rev Bras
standard examination and training to dentists need to Otorrinolaringol. V.70, n.6, 752-6, nov./dez. 2004.
know to interpret it and perform the appropriate 15. Martins, A.B; Tufik, S; Moura, S.M.G.P.T.M.
treatment the dental profession. Síndrome da apnéia-hipopnéia obstrutiva do sono.
Fisiopatologia; J. bras. pneumol. v.33 n.1 São
UNITERMOS: Snoring, sleep apnea syndrome, Paulo jan./fev. 2007.
Sleep.
ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA:
REFERÊNCIAS
Prof. Stefan Fiuza de carvalho Dekon
1. Bittencourt LRA, Haddad FM, Fabbro CD, Cintra
FD, Rios L. Abordagem geral do paciente com Departamento de Materiais Odontológicos e
síndrome da apneia obstrutiva do sono; Prótese, Faculdade de Odontologia de Araçatuba -
RevBrasHipertens vol.16(3):158-163, 2009. UNESP, Rua José Bonifácio 1193, CEP 16.015-050,
2. http://docasuloaborboleta.blogspot.com.br/ Vila Mendonça, Araçatuba/SP.
2012_01_01_archiv e.html via Rev ista da dekon@foa.unesp.br
Associação Médica Brasileira
3. http://drauziovarella.com.br/obesidade/apneia-
obstrutiva-do-sono-saos/?trackid=sp-006 (2011)
4. Bomfim, Marco Aurélio Gouvêa. Importância do
Sono e Sua Principais Int erf erênci as;
www.abcdasaude.com.br

Revista Odontológica de Araçatuba, v.36, n.2, p. 70-74, Julho/Dezembro, 2015 74

Você também pode gostar