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Antologia de Poemas Persas

Contemporâneos

Compilado e editado por Farhad Sasani


Traduzido por Farhad Sasani, Ana Leite e Henrique Costa Jung

1ª edição

Brasília, DF
2019
Sumário

Mapa 1 - mapa da língua persa……………………………………………….……...10

Tabela 1 – fonética da língua persa……………………………………….…………12

Tabela 2 – os números de zero até 20……………………………………….……….14

Prefácio……………………………………………………………………..…….5

Introdução………………………………………………………………….……..6

I PARTE

1.Língua persa……………………………………………………………………..……..8
2. Literatura persa…………………………………………………………………..…..15
3. Tipos clássicos dos esquemas métricos prosódicos…………………………..….21
4. Poesia moderna persa do século XX até atualmente………………………..…...32

II PARTE – Poemas

Poemas no Estilo Clássico


1. Iraj Mirzā (1874-1926), Qalb e mādar: Coração de mãe 37
2. Bahār (1884-1951), Šeer o nazm: Poema e verso
40
3. Shahriār (1906-1988), Hālā cerā?: Agora por quê? 41
4. Parvin e E'tesāmi (1907-1941), Ašk e yatim: As lágrimas do órfão 44
5. Simin e Behbahāni (1927-2014), Šamšir e man hamin šeer ast: Minha 46
espada é este poema
6. Esmāil e Khoi (1938- ), Hambastegi: Solidariedade 48
7. Mohammad-Rezā Shafiei-Kadkani (1939 - ), Miresam ammā be to 49
ruz i degar: Chegarei a ti, mas num outro dia
8. Mohammad-Ali e Bahmani (1942- ), Delxoš -am bā qazal i tāze: Eu 51
estou satisfeito com um novo gazal
9. Soheil e Mahmoudi (1961- ), Sokut mikonam o ešq dar del am jāri - 52
st: Eu me calo e o amor corre no meu coração
10. Soheil e Mahmoudi (1961- ), Man be yek ehsās e xāli delxoš -am: 53
Eu com só um sentimento estou satisfeito
11. Abdoljabār e Kākāi (1963- ), Be mundan e to āšeq -am, be raftan e 55
to mobtalā: Eu me apaixono pelo seu ficar, eu me aflijo pelo seu partir
12. Afshin e Yadollāhi (1969-2017), Vaqti garibān e adam bā dast e 57
xelgat midarid: Quando o colarinho da inexistência com a mão da
criação se rasgava
Poemas no Estilo Moderno ou Novo (No)

13. Nimā Yuhij (1897-1960): To rā man cešm dar rāh –am: Estou te 60
aguardando
14. Fereydoon e Moshiri (1926-2000), Kuce: Ruela 62
15. Sohrāb e Sepehri (1928-1980), Xāne ye dust kojāst?: Onde fica a 66
casa do amigo?
16. Sohrāb e Sepehri (1928-1980), Vāhe i dar lahze: Um oásis no 68
momento
17. Mehdi e Akhavān-Sāles (Akhavan-Sales) (1929-1990), Zemestān: 70
Inverno
18. Forough e Farrokhzād (1935-1967), Tavallod i digar: Um outro 74
nascimento
19. Esmāil e Khoi (1938- ), sem título 80
20. Esmāil e Khoi (1938- ), sem título 81
21. Esmāil e Khoi (1938- ), Dar rāh: No caminho 82
22. Hamid e Mosadegh (1940-1998), Sib: Maçã 83
23. Forough e Farrokhzād (1935-1967), Resposta ao poema "Maçã" de 85
Hamid Mosadegh
24. Mohammad-Ali e Sepānlou (1940-2015), Rezāyat: Satisfação 87
25. Hossein e Pahāhi (1956-2004), Cešm e man o anjir: Meu olho e o 89
figo
26. Hossein e Pahāhi (1956-2004), Sokut: Silêncio 94
27. Hossein e Pahāhi (1956-2004), Pist: Pista 95
28. Hossein e Pahāhi (1956-2004), Eeterāf: Confissão 96
29. Qeysar e Aminpour (1959-2007), Dastur-zabān e ešq: Gramática do 98
amor
Poemas no Estilo Livre (Āzād) ou Branco (Sepid)
30. Ahmad e Shāmlou (1925-2000), Mi'ād: Encontro 100
31. Bizhan e Jalāli (1927-2000), Ce daryāce i: Que lago 103
32. Yadollāh e Royāee (1932- ), Sang e šād: A pedra feliz 104
33. Yadollāh e Royāee (1932- ), Tamām e harf: Todas as palavras 105
34. Yadollāh e Royāee (1932- ), Royā: Sonho 106
35. Shams e Langeroodi (1950- ), sem título 107
36. Shams e Langeroodi (1950- ), Harf at rā: Com as suas palavras 107
37. Shams e Langeroodi (1950- ), sem título 109
38. Shams e Langeroodi (1950- ), sem título 110
39. Shams e Langeroodi (1950- ), sem título 111
40. Shams e Langeroodi (1950- ), sem título 112
41. Shams e Langeroodi (1950- ), sem título 112
42. Shams e Langeroodi (1950- ), sem título 114
43. Ali e Sālehi (1955- ), Hāl e hame ye mā xub ast, amā to bāvar 115
nakon: Todos nós estamos bem, mas ei! Não acredite
44. Qeysar e Aminpour (1959-2007), Hasrat e hamišegi: O 118
arrependimento de sempre
45. Qeysar e Aminpour (1959-2007), Qāf: Qaf 119
46. Qeysar e Aminpour (1959-2007), Tarh i barāye solh: Um projeto 120
para a paz

Bibliografia………………………………………………………………..……..121
5

Prefácio

O presente livro foi idealizado pelo professor Farhad Sasani quando lecionava
persa na Universidade de Brasília entre os anos de 2015 e 2018. Por não ser fluente
em português, dois alunos seus, Henrique Costa Jung e Ana Leite, se dispuseram a
ajudá-lo na tradução dos poemas selecionados, e, após um ano e meio, o trabalho se
concluiu neste formato. Deve ser informado que, sob a tutela do professor Farhad
Sasani, as traduções foram feitas por um graduado em Engenharia Elétrica e por
uma graduanda em História, de tal forma que esta obra inevitavelmente não possui
os zelos de conservação métrica e rímica que se teria caso ela tivesse sido feita por
especialistas na área. De qualquer modo, acreditamos que, apesar da qualidade
amadora, este livro possa abrir os horizontes da literatura persa para os leitores e
acadêmicos brasileiros, por isso o levamos orgulhosamente a público.

Ana Leite
6

Introdução

Este livro é uma antologia de poemas persas do século XXI. Já há traduzidas


para o português algumas obras de poetas persas clássicos mundialmente famosos
como Omar Khayyām (1048-1131), Molavi ou Rumi (1207-1273), e Hāfez (1315-
1390). Os poemas selecionados para este livro são dos poetas mais significantes na
literatura persa contemporânea, cujos versos foram traduzidos para diversas
línguas. Neste trabalho, os poemas escolhidos foram desde aqueles de formatos
clássicos com métricas prosódicas àqueles de formatos modernos e livres. Foi
evitada a seleção de poemas políticos e históricos, em vez disso escolhemos
aqueles de temas mais frequentes na poesia persa como o amor, o misticismo e a
filosofia.
O livro é dividido em duas partes. Na primeira, há uma breve explicação sobre a
língua e a literatura persa, especialmente sobre a poesia. A segunda é a antologia da
poesia contemporânea persa, que inclui três seções: 1- poemas nos estilos clássicos,
2- poemas novos ou modernos, 3- poemas livres ou brancos. A ordem dos poemas
é baseada nas datas de nascimento dos poetas, e antes de cada poema é apresentada
uma breve biografia de seu autor. Como muitos poemas foram usados como letras
de músicas, estão dispostos em algumas apresentações links direcionando o leitor
para a versão musical de cantores relevantes.

Farhad Sasani
7

I PARTE

Língua Persa, Literatura Persa, Tipos clássicos dos esquemas métricos


prosódicos, Poesia moderna persa do século XX até atualmente.

Farhad Sasani
8

1- Língua Persa

A língua persa é uma língua indo-europeia do subgrupo ocidental do ramo das


línguas irânicas ou arianas1. As línguas irânicas modernas têm falantes numa região
muito vasta que ocupa ao menos onze países: Geórgia e Rússia (língua osseta); Irã,
Turquia, Iraque e Síria (curdo); Azerbaijão (talish), o norte do golfo persa (línguas
como kumazāri no Omã), o Afeganistão e Paquistão (pachto), o Tajiquistão (yaghnobi);
e Xinjiang na China (língua sarikoli).
O persa tem três períodos históricos:
1- Persa antigo (existiu há quase 3000 anos durante o período do Irã
Aquemênida: 550-330 a.C.)
2- Persa médio (ou pahlavi, falado no Irã Sassânida: 224-651 d.C.)
3- Persa moderno (originado há 1400 anos).
Registros do persa antigo resumem-se a epigrafias reais inscritas num sistema
de escrita cuneiforme semi-alfabético provavelmente inventado durante o reinado de
Dario I (522-486 a.C.)2. O persa médio era escrito com o alfabeto pahlavi, que possuía
uma forte presença de logogramas advindos do Aramaico Imperial, a língua e a forma
de escrita administrativas do Império Aquemênida3. A maioria dos textos religiosos do
zoroastrismo, religião iraniana considerada como a primeira monoteísta, encontram-se
em persa médio, por causa disso a língua apresenta grande valor religioso, teológico e
histórico, além de, claro, linguístico.
O persa moderno ou simplesmente persa é a língua oficial em três países: Irã,
Afeganistão e Tajikistão, porém falantes nativos também são encontrados em outros
países vizinhos como Uzbequistão, Iraque, Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Qatar,
Kuwait, Azerbaijão, Paquistão; e em nações mais afastadas do planalto iraniano como,

1
- Para mais informações, conferir Windfuhr (2009b).
2
- David D. Testen (1996).
3
- P. Oktor Skjaervo (1996).
9

por exemplo, os Estados Unidos, que possui uma grande comunidade de imigrantes
iranianos formada na Califórnia4.
O persa moderno é importante por várias razões: ele funcionava como língua
franca no subcontinente indiano (por cerca de seiscentos anos entre os séculos XIII a
XIX como língua oficial antes da ocupação pela Grã-Bretanha), Oriente Médio, Ásia
Menor, Ásia central, e em geral no planalto Iraniano ou Grande Irã5. Portanto, para
estudar a história dessas regiões durante esse período, precisa-se da língua persa para
poder ler os documentos autóctones. Além disso, conhecer o persa configura-se como
imprescindível para os estudos xiitas ou, mais geralmente, para pesquisas sobre o islã
no planalto iraniano. A literatura persa é uma literatura considerável e influente no
mundo.
O idioma persa, no Irã, é chamado de pārsi ou fārsi, no Afeganistão, de dari e
no Tajiquistão, de tajik também. Atualmente, são três os sistemas de escrita nos quais a
língua é registrada:
1- A escrita oficial no Irã, que é parecida com o alfabeto árabe, urdo, curdo, e
outros de países vizinhos.
2- O alfabeto cirílico no Tajiquistão.
3- O alfabeto latino com adaptações, não utilizado oficialmente e chamado por
alguns de finglish ou pinglish, mas eu prefiro usar uma escrita mais
foneticamente apropriada que é chamada de pārsnegār ou pārsāvā.

4
- Para mais informações, checar: Margoliouth (1903), Morrison (1981) e Kreyenbroek & Marzolph
(2010).
5
- Para mais informações sobre a língua persa na Índia e no Império Otomano, conferir Alam (1998) e
Windfuhr (2009).
10

Mapa 1 - mapa da língua persa, de ANU Persian Online (extraído em 01/05/2018):


https://persianlanguage.anu.edu.au/PERS1001/Lesson1/index5.php

Há vários dialetos e sotaques no persa, mas o mais influente e padrão é o falado


em Teerã, a capital do Irã. Abaixo segue uma breve apresentação de várias
particularidades do persa e algumas de suas semelhanças com o português para aqueles
interessados em começar a estudar persa ou simplesmente curiosos. De qualquer forma,
a apresentação será útil para a percepção melódica dos poemas uma vez que a
transcrição deles está disponibilizada no livro.
O persa padrão tem 6 vogais e 23 consoantes como disposto a seguir:

As vogais do persa padrão

/ɒ/, /æ/, /i/, /ε/, /u/, /o/

As consoantes do persa padrão


11

/b/, /p/, /m/, /n/, /f/, /v/, /t/, /d/, /r/, /l/, /s/, /z/, /ʃ/, /Ʒ/, /ʧ/, /ʤ/, /c/, /ɟ/, /j/, /x/, / ԍ/, /h/, /ɂ/
(esta última geralmente é substituída pelo alongamento da vogal imediatamente
anterior)

Assim o persa, ao contrário do português, não tem vogais nasais. A diferença


entre a vogal anterior e aberta /ɒ/ e a vogal posterior e meia-aberta /æ/ é significante,
pois modifica o sentido das palavras.

 ā: a vogal aberta posterior, como pušāk (roupa), kār (trabalho)


 a: a vogal quase aberta anterior, como pušak (fraldas), kar (surdo)

Os sons mais difíceis para os falantes nativos do português são:

 x: velar fricativa surda, como xāki (cáqui), xodā (deus)


 q: uvular oclusiva sonora, como qanāri (canário), qāz (ganso)
 r inicial e final: alveolar vibrante múltipla: rāh (rua), rud (rio), dir (tarde), dur
(longe)
 t especialmente na posição final: alveolar oclusiva surda, como peste
(pistachio), šāhmāt ou kiš-o-māt (xeque-mate)
 d especialmente na posição final: alveolar oclusiva Sonora, como dānešjade
(faculdade), dard (dor)
12

Fonética da língua persa


Os sons no AFI e no alfabeto romanizado do persa
sons
sons articulação letras
semelhantes
aberta posterior meio termo entre
ɒ ā
"á" e "ó"
æ quase aberta anterior a arte
e semiaberta anterior e medo
i fechada anterior i ítem
o semifechada posterior o rolha
u fechada posterior u uva

b bilabial oclusiva sonora b barco


p bilabial oclusiva surda p pato
m bilabial nasal m meio
n nasal alveolar n neto
f labio-dental fricativa surda f fato
v labio-dental fricativa sonora v vaso
t alveolar oclusiva surda t teto
d alveolar oclusiva sonora d dedo
r alveolar vibrante múltipla r carimbo
l alveolar aproximante lateral l lado
s alveolar fricativa surda s sete
alveolar fricativa
z sonora
z zebra
ʃ palate-alveolar fricative surda š sh chuva
palate-alveolar fricative
Ʒ sonora ž zh jato
ʧ alveolar africada surda č c ch tchau
ʤ alveolar africada sonora j DJ
k palatal oclusiva surda k calor
g palatal oclusiva sonora g gato
j palatal aproximante y baixo
x velar fricative surda x kh mujer espanhol
velar oclusiva sonora como o som do
ԍ q gh gargarejo
h glotal fricative surda h rua
representa um
ɂ glotal oclusiva ’
hiato
13

A acentuação tônica de todos os substantivos e adjetivos e da maioria dos


advérbios em persa cai na última sílaba. Há alguns advérbios com sílabas tônicas
iniciais, e nos verbos o acento tônico recai ou no prefixo, ou, na ausência desse, na
sílaba final da raiz do verbo, seja ela de primeira raiz, segunda raiz ou um particípio.
Para fazer uma pergunta, como em português, só é preciso mudar a intonação.
Há também uma opção mais formal que se inicia com a partícula interrogativa āyā.
Os pronomes possuem três pessoas e se flexionam em número, mas não têm
formas femininas ou masculinas. Por fim, similarmente à língua francesa, as formas
plurais são usadas para expressar educação e respeito, por exemplo: šomā (vocês) é
usado no lugar de to (você ou tu) para se dirigir a autoridades, pessoas idosas ou
simplesmente estranhos.
No geral, não há diferença entre feminino e masculino em persa, mas há
várias diferenças regulares entre as formas escritas e as faladas. Esse fato é
importante para a leitura e a compreensão dos estilos e dos sentidos de diversos
poemas. Por exemplo, a sílaba ān no fim, meio ou início das palavras normalmente,
exceto em nomes próprios e em palavras emprestadas, transforma-se em un quando
pronunciada: pois, ānhā (eles/ elas) na escrita muda para unā na fala. Outra
diferenciação entre a escrita e a fala são os sufixos de conjugação da terceira pessoa
do singular (somente nas formas derivadas do presente, seja no indicativo ou no
subjuntivo), segunda pessoa e terceira pessoa plurais: -ad/-e, -id/-in, -and/-an.
Assim como no português, há verbos simples como xordan (comer) e verbos
complexos como duš gereftan (tomar ducha). Todos os verbos têm três raizes:
primeira raíz, usada no presente; segunda raíz, usada no passado; e terceira raíz, que
funciona como um particípio. Os verbos são conjugados nas três pessoas nas formas
singulares e plurais em todos os tempos tal qual a conjugação do verbo gereftan
(pegar) no pretérito perfeito:

gereftam: eu peguei gereftim: nós pegamos


14

gerefti: você pegou gereftid: vocês pegaram


gereft: ele/ela pegou gereftand: eles pegaram

A ordem das palavras nas orações na linguagem falada possui uma grande,
mas não total, flexibilidade, geralmente ela é determinada pragmaticamente. Na
linguagem escrita, a tendência é sujeito + complemento + verbo.
Os números de um até vinte e a regra para fazer os números compostos são,
em certa medida, parecidos com os do português. Para fazer todos os números
compostos, basta usar a partícula o (e) entre os números, como em sad o navad o šeš
(cento e noventa e seis).

Os números de zero até 20


por extenso em por extenso em Os
persa português números
sefr zero 0
yek um 1
do dois 2
se três 3
čāhār quatro 4
panj cinco (penta) 5
šeš/ šiš falado seis 6
haft sete (hepta) 7
hašt oito 8
noh nove 9
dah dez 10
yāzdah onze 11
davāzdah doze 12
sizdah treze 13
čāhārdah quatorze 14
pānzdah/ quinze 15
falada
punzdah
šānzdah/ dezesseis 16
falado
šunzdah
hefdah/ hivdah dezessete 17
falado
15

hejdah/ hiždah dezoito 18


falado

nuzdah dezenove 19
bist vinte 20

Para saber mais sobre o persa falado, indico os seguintes livros: Rosen
(1898), Hawker (1961), Vahidian-Kamyar (1964), Obolensky, Panah e Nouri (1973),
Samareh (1977), Moshiri (1988), Shahidi (1999), Sikov (2002), Vahidian-Kamyar
(2005), Abdi (2015). E para gramática persa, consulte: Levy (1951), Lambton (1953,
1984), Windfur (1979), Ahadi (200), Mace (2003), Lazar 92012) e Yousef & Torabi
(2013); e esses sites:
http://persian.sdsu.edu
http://www.jahanshiri.ir/fa/en/index-grammar

Há várias palavras oriundas do persa e cognatas entre as duas línguas como:


xá (šāh), limão e limoerio (limu), laranja e tangerina (nāranji), tambor (tanbur),
caqui (xaki), xadrez (šatrang, šatranj), caravana (kārevān), espinafre (espināč,
esfenāj), hena (hanā), azul (lāževard, lājevard), paraíso (pardis), pêssego (significa
"de Pérsia"), estrela (setāre), ...

2 - Poesia clássica persa


Em se tratando da literatura iraniana, a transmissão oral foi a dominante
durante todo o período pré-islâmico, que durou até o ano 651 com a derrota do rei
persa Yazdegerd III por parte do exército árabe.
Registros narrativos em persa antigo durante o Império Aquemênida (550–
330 a.C.) resumem-se a poucas fontes epigráficas, como por exemplo a famosa
inscrição de Behistun do rei Dario I (550–486 a.C.). Quanto ao Império Arsácida,
dinastia da região Pártia que regeu o planalto iraniano entre 247 a.C. a 224 d.C.,
parte de sua literatura perseverou e cristalizou-se em grafemas nos impérios
16

subsequentes graças à sobrevivência da classe de menestréis partas, os gōsāns, que


continuaram servindo nas cortes imperiais iranianas6. O poema arsácida Draxt ī
Āsūrīg é um raro caso no qual os manuscritos existentes o registram em sua língua
original, i.e., parta, a qual pertence, junto com o persa médio, ao ramo ocidental das
línguas iranianas médias. O mais comum em relação à literatura arsácida é encontrar
obras posteriores que apresentam, em persa médio ou moderno, histórias de origem
arsácida, exemplos disso são os dois poemas épicos dos grandes poetas persas do séc.
XI: o romance versificado Vis o Ramin (Vis e Ramin) de Fakhraddin Asaad Gorgani,
e o poema épico do poeta Ferdosi, Shāhnāme ou O Livro dos Xás, ambos compostos
já no persa moderno.
A transmissão literária oral começou a ser desafiada pela escrita a partir dos
séculos finais do império Sassânida. O caso do zoroastrismo, por exemplo, pode ser
visto como um dos marcos do início da formação da tradição escrita no mundo
iraniano: apesar de possuir uma tradição religiosa que remonta ao Império
Aquemênida, o zoroastrismo teve o seu cânone religioso, o Avesta, fixado em letras
somente durante o domínio sassânida com a invenção de um novo sistema de escrita
a partir do pahlavi7, usado para grafar principalmente o persa médio.
Infelizmente, todos os manuscritos da literatura Sassânida de que temos
conhecimento são tardios, isto é, foram produzidos após a queda do império. O que
nos resta, portanto, na maioria dos casos são cópias, frequentemente com camadas
redacionais, da cópia de um manuscrito provavelmente sassânida. Apesar do aspecto
tardio, a literatura em persa médio conservada até nós é relativamente rica: abrange
lendas e histórias arsácidas8 e sassânidas; livros religiosos e sagrados do
zoroastrismo, o que inclui traduções do Avesta; e poemas e textos de sabedoria.
Após a chegada do islã (651 d.C.), Safā (1976: 25-26) escreve, vários textos em
persa médio foram traduzidos para o árabe como Zij e Šahriyār, Dastur e Pezeški,

6
- Mary Boyce (1957).
7
- Prods Tokan Skjœrvø (2009).
8
- Ahmad Samii-Gilāni, http://www.ettelaat.com/etiran/?p=67207 (27 setembro 2017).
17

Morqān e Šekār, e muitas histórias, e.g., "Rostam e Esfandiār", e "Bahrām Cubin".


Listamos abaixo algumas das obras literárias mais importantes desta seção:
Ardā Wirāz Nāmag (O livro de Arda Viraz) é um texto zoroastriano que relata
a viagem de um devoto para o mundo vindouro, passando do “inferno” ao “paraíso”.
O conteúdo do livro já foi comparado com a Divina Comédia de Dante, tendo alguns
acadêmicos formado hipóteses de que o livro, por meio de uma tradução árabe, possa
ter vertido influências sobre o escritor renascentista9.
Kār-Nāmag ī Ardašīr ī Pāpagān (O livro dos feitos de Ardashir, filho de
Papak) é uma prosa no persa médio sobre Ardeshir, o fundador do Império
Sassânida, que mistura fatos reais com lendas mitológicas e feitos fictícios10.
Dēnkard (Atos da religião) é uma enciclopédia e uma apologética ao
zoroastrismo de originalmente nove volumes, cujos dois primeiros estão
completamente perdidos.
Bundahishn (Criação Primordial) é um grande livro que trata do mito
cosmogônico do zoroastrismo e que perpassa pelas questões astrológicas,
geográficas, apocalípticas e mundanas dentro da perspectiva da religião.
Mēnōg-ī Khrad (O espírito da sabedoria) é uma série de perguntas e
respostas entre dois personagens, Dānag, o sábio, e o Menog-i Khrad, que simboliza
a sabedoria interna. O tema das questões volta-se para o bom comportamento seja em
assuntos seculares ou religiosos.
Zand-i Wahman Yasn é uma obra de conteúdo apocalíptico que narra o
diálogo entre Ahura Mazda, a divindade suprema do zoroastrismo, e o profeta
Zoroastro sobre o futuro da religião e dos seus fiéis.
Havia ainda uma grande história em formatos de contos que se relacionavam
entre si por meio de uma trama principal, a qual dizia respeito ao infortúnio destino
da princesa contadora de histórias Shahrzad. Originalmente, essa história chamava-se

9
- Fereydun Vahman (2016).
10
- Zeke Kassock (2013).
18

Hezār Afsān11 (Mil Lendas), mas, depois do Islã, foi traduzida com o título Mil e
Uma Noites para o árabe com muitas mudanças de personagens e contextos, por
exemplo: Harun al-Rashid tomou o lugar do Rei do Irã Khosro Parviz e Yahyā
Barmaki substituiu o vizir Bozorgmehr. O texto original em persa médio não existe
mais. Essa história, que pode ser classificada como a primeira dramaterapia,
infuluenciou muito autores como Giovanni Boccaccio (1313-1375), Geoffrey
Chaucer (1343-1400) em The Canterbury Tales, James Joyce (1882-1941) em
Dubliners (1914), Jorge Luis Borges (1899-1986), além de muitos balés e óperas.
Para mais informações, consulte: Benveniste (1932), Safā (1976), Boyce (1987),
Āmuzgār e Tafazzoli (2001), e Tafazzoli (2012).
Deve-se notar que a métrica nos poemas em parta, persa médio e sogdiano
(línguas iranianas), segundo Safā (1976: 28), era silábica, isto é, baseava-se em
números definidos por sílabas. Por exemplo, os Gāthās, a mais antiga parte do
Avesta, que, segundo os zoroastrianos, foram compostos pelo próprio Zoroastro, são
silábicos; a palavra gāthā na língua avéstica e no sânscrito significa poema, hino ou
canção. Safā (1976: 31-32) continuou alegando que alguns poemas às vezes tinham
estresses definidos, métrica e rima também.
A literatura clássica do persa moderno, ou simplesmente persa, começou no século
IX quando o persa foi pela primeira vez escolhido como a língua oficial da extensa
região iraniana por Ya'qub e Leys e Saffār (840-879), cujo nome persa era "Rādmān
e pur Māhak", o fundador da dinastia Safárida no leste do Grande Irã (Pérsia), isto é,
o leste do Irã contemporâneo e o sul do Afeganistão. A partir daí, o persa foi
continuamente a língua oficial de todos os diversos governos que dominaram o
Grande Irã.
Poesias, histórias, historiografias, dramas e folclores faziam parte do escopo da
literatura persa clássica. Nessa variedade, a poesia era a mais relevante e influente
tanto que muitos livros científicos, medicinais, filosóficos e narrativos eram escritos

11
- Para mais informações, conferir Bahram Beyzai (2013).
19

na linguagem poética. Além disso, muitos dos versos da literatura clássica foram
incorporados ao vocabulário do cotidiano.
Inicialmente, entre os séculos VIII a XII, os gêneros poéticos geralmente
buscavam o enaltecimento e o panegirismo, e frequentemente eram usados como
elogio a figuras da corte do califado Abássida, que regeu o Irã entre 750 e 819, e da
corte do Império Samânida, dinastia persa que se emancipou dos Abássidas em 819 e
que governou o Irã até 999. Esses poemas clássicos, chamados de tchakāme ou
qaside, têm métrica definida e esquemas fixos de métrica prosódica, com rimas
internas e finais. Os primeiros poetas significativos eram normalmente de Coração,
região ao nordeste do Grande Irã. Um desses poetas e letricistas foi Rudaki (?-941),
conhecido pelo seu amor à natureza. Depois emergiu o estilo épico, consagrado por
Ferdosi (c. 940-1020) no Shāhnāme, o qual é um dos mais longos poemas épicos já
escritos do mundo e que narra sobre a mitologia e a história do Irã desde o momento
dos primeiros humanos até os últimos séculos antes da chegada do islã. O impacto de
Ferdosi com o Shāhnāme na literatura e cultura iraniana nos séculos subsequentes foi
tamanho que hoje ele é um dos heróis nacionais do Irã. Ele inspirou substancialmente
poetas que foram seus contemporâneos e permanece fazendo o mesmo com os poetas
da atualidade.
Durante esse período, havia também o esquema clássico robā'i, que era um
tipo de quadra. Omar Khayyām (1048-1131), matemático, astrônomo, e poeta é o
mais famoso compositor deste estilo.
Os séculos XIII a XIV marcam a poesia lírica conhecida como qazal, que era
comumente usada nos poemas sobre o amor, misticismo e sufismo. Poetas como
Sanāi (?-1131/1141), Nezāmi (1141-1209), Attār (c. 1145- c. 1221), Molavi (Rumi)
(1207-1273), Saadi (c. 1208-1291/1294), Obeyd-e-Zākāni, o poeta satirista, (c. 1300-
1371), Hāfez (1315-1390) são exemplos excelentes deste estilo poético. Devido ao
uso excessivo da linguagem figurada e de elementos da retórica, que ocorreu à
20

medida que o qazal foi se difundindo, o estilo tornou-se demasiadamente complexo.


Essa forma exagerada da poesia chama-se estilo hendi (da Índia).
No século XIII, o persa foi a língua franca da Índia até 1835 quando o
colonialismo britânico a mudou para o inglês (mais sobre isso, consulte Alam, 1996).
Bidel Dehlavi (1642-1720), Mirzā Galib (1797-1869), e Mohmmad Iqbal (Iqbāl
Lāhuri) (1877-1938) são exemplos de poetas indianos que compunham em persa. No
Império Otomano, o persa era considerado a língua dos nobres e dos intelectuais,
como consequência, havia muitos poemas e textos em persa nos territórios otomanos.
Todos os poemas clássicos são prosódicos (šeer e aruzi) e possuem
esquemas (qālebs) métricos definidos. Cada qāleb se define por:
1- Métrica (vazn), baseada no encadeamento das medidas prosódicas silábicas e
em harmonias métricas fixas;
2- Tamanho dos beyts, linhas ou versos que se consistem de dois mesraas, meia-
linhas ou meio-versos;
3- Qāfiye (rima);
4- Radif, penúltimas palavras que rimam entre os versos;
5- O número dos beyts.
Na poesia clássica, há até 33 métricas diferentes. Embora seja mais comum
em livros sobre poesia persa a classificação das sílabas ser dita quantitativa, essas
métricas classificam-se na verdade pela qualidade das sílabas, pois a diferença entre
as vogais persas é qualitativa, isto é, depende da abertura da boca e do lugar de
aproximação da língua ao céu da boca como no português e no inglês e ao contrário
do árabe e do grego. As sílabas são classificadas em:
1- Sílabas curtas: uma consoante mais uma vogal breve /a/, /e/, /o/, como ma (na
poesia clássica significa "não"): Cv
2- Sílabas longas:
a- uma consoante mais uma vogal longa /ā/, /i/, /u/, como mā (nós): CV
21

b- uma consoante mais uma vogal breve /a/, /e/, /o/ seguida de mais uma
consoante, como man (eu): CvC
3- Sílabas alongadas:
a- uma consoante mais uma vogal breve ou longa seguida de mais duas
consoantes, como past (inferior) ou dust (amigo): CvCC, CVCC
b- uma consoante mais uma vogal longa /ā/, /i/, /u/ seguida de mais uma
consoante, como dir (atrasado): CVC

3. Tipos clássicos dos esquemas métricos prosódicos

Na poesia prosódica persa, existem ao menos doze esquemas clássicos de


métrica silábica frequentemente usados, eles serão brevemente introduzidos na
sequência.

A- Tchakāme ou Qaside
Tchakāme ou Qaside é uma forma de panegírico ou elogio a pessoas,
natureza, festas, Deus, etc. Há várias métricas definidas, dentre as quais o poeta pode
escolher. O número de linhas pode ser de vinte a setenta, e a rima na primeira e
segunda mesraa (meia-linha) da primeira beyt (linha) define a rima da segunda
mesraa das demais beyts. Os primeiros poemas clássicos eram tchakāme, como os
poemas de Rudaki (?-941), Farrokhi-e-Sistāni (980-1037/1038), Manuchehri-e-
Dāmqāni (1000-1040), Onsori (?-1039/1040), Khāqāni-e-Shervāni (1121/1122-
1190), Anvari (1126-1189), e no século XX Bahār (1884-1951). O esquema de rimas
é da seguinte forma:

___x ___x
___a ___x
___b ___x
22

___c ___x
___d ___x
___e ___x

Um tchakāme de Rudaki:

Bu ye ju ye Moliyān āyad hami


Yād e yār e mehrabān āyad hami
Rig e Āmuy o dorošti ye rāh e u
Zir e pāy am parniyān āyad hami
Āb e Jeyhun az našāt e ru ye dust
Xeng e mā rā tā miyān āyad hami

Āfarin o madh sud āyad hami


Gar be ganj andar ziān āyad hami

B- Qazal
Qazal, em português gazal, é uma forma de poema lírico. Com a excessão da
métrica e do número de beyts, que varia de cinco a no máximo quinze, a estrutura
restante do gazal, ou seja, as rimas, é semelhante à do tchakāme, o qual tornou-se
obsoleto no séc. XII devido à popularização do gazal. Os temas enquadrados nesse
estilo são geralmente o amor e o misticismo, e é comum ‌o poeta usar seu nome
poético na linha final. Esse esquema se tornou muita popular entre poetas clássicos e
contemporâneos, por isso a lista dos seus adeptos é bastante longa, alguns deles são:
Sanāi-e-Qaznavi (1080-1131/1141), Attār-e-Neyshāburi (c. 1145- c. 1221), Saadi
(1210-1292), Molavi (Rumi) (1207-1273), Hāfez (1315/1317-1390), Sāeb-e-Tabrizi
(1601/1602-1677), Bidel-e-Dehlavi (1642-1720), Āref-e-Qazvini (1882-1934),
Farokhi-e-Yazdi (1889-1939), Simin Behbahāi (1921-2012), Hushang Ebtehāj (H. E.
Sāye) (1928- ), Mohammad-Ali Bahmani (1942- ). Vale observar que nos poemas
modernos métricas novas foram criados. O esquema de rimas é da seguinte forma:

___x ___x
___a ___x
23

___b ___x
___c ___x
___d ___x
___e ___x

Um qazal de Hāfez:

Har ke šod mahram e del dar haram e yār bemānd


V- ān ke in kār nadānest dar enkār bemānd
Agar az parde borun šod del e man eyb makon
Šokr e Izad ke na dar parde ye pendār bemānd
Sufiyān vā setadand az gero ye mey hame raxt
Dalq e mā bud ke dar xāne ye xamār bemānd
...

Be tamāšāgah e zolf aš del e Hāfez ruz i


Šod ke bāz āyad o jāvid gereftār bemānd

C- Qet’e
Qet'e é uma forma de poema que expressa sobretudo uma histótia ética e de
boa moral. Sua estrutura é fixa como a do tchakāme, porém, diferentemente das duas
acima, não há nenhuma rima na primeira mesraa, todas estão na segunda meia-linha
das beyts. Anvari (1126-1189), Ebn-e-Yamin (664-685), e Parvin Etesāmi (1907-
1941) são três poetas brilhantes no qet'e. O esquema de rimas é da seguinte forma:

___a ___x
___b ___x
___c ___x
___d ___x
___e ___x

Um qet'e de Parvin E'tesāmi:

Fekr at makon nayāmade fardā rā


Ey del abas maxor qam e donyā rā
Konj e qafas co nik biyandiši
Con golšan ast morq e šakibā rā
24

Beškāf xāk rā o bebin āngah


Bimahri e zamāne ye rosvā rā
...

Parvin, boruz e hādese o saxti


Dar kār band e sabr o modārā rā

D- Masnavi ou dotā-dotā
Masnavi é uma forma de poema usada para expressar temas diversos, o que
inclui a narrativa de histórias longas. Seu esquema é fixo apesar de haver inúmeras
beyts. As duas mesraas de cada beyt rimam entre si de forma única, assim não existe
rima entre as beyts. Os mais famosos poetas do estilo masnavi são Abushakur-e-
Balkhi 915-?) com a sua obra Āfarinnāme, Ferdosi (c 940-1020) no Shāhnāme,
Nezāmi-e-Ganjavi (114-1209), Molavai (Rumi) (1207-1273), e Jāmi (1414-1492). O
esquema de rimas é da seguinte forma:

___a ___a
___b ___b
___c ___c
___d ___d
___e ___e
___f ___f

Um masnavi de Rumi:

Bešno in ney con hekāyat mikonad


Az jodāyihā hekāyat mikonad
K- az neyestān tā ma- rā bobrideand
Dar nafir am mard o zan nālideand
Sine xāham šarhe-šarhe az farāq
Tā beguyam šarh e dard e eštiyāq
...

Āyen- at dāni cerā qammāz nist


Z- ān ke zangār az raxš momtāz nist
25

E- Do-beyti, tarānak ou fahlavi


Do-beyti, tarānak ou fahlavi é um poema minimalista que inclui dois beyts,
que formam uma quadra de mesraas baseadas em um sistema métrico de onze sílabas
embora originalmente fossem doze. Suas mesraas possuem uma única rima, sendo a
da terceira mesraa facultativa. Na época do Império Sassânida, o estilo costumava
ser chamado tarānak. Os poemas de Bābā-Tāher na segunda metade do século X e na
primeira metade do seguinte foram os pioneiros em persa moderno. Fāyez-e-Dashti
(1834-1910) fez-se conhecido neste modelo também. O esquema de rimas é da
seguinte forma:
___a ___a
___b ___a

Ou:
___a ___a
___a ___a

Um dobeyti de Bābā-Tāher:

Yeki dard o yeki darmān pasandad


Yeki vasl o yeki hejrān pasandad
Man az darmān o dard o vasl o hejrān
Pasandam ānce rā jānān pasandad

F- Robāi
Robāi, à semelhança do do-beyti, é um poema minimalista, mas com uma métrica
diferente. Robāi incui dois beyts de quatro mesraas com uma única rima na primeira,
segunda e quarta mesraa. O mais famoso poeta nesse esquema é Omar Khayyām
(1048-1131). O esquema de rimas é da seguinte forma:

___a ___a
___b ___a
26

Um robāi de Khayyām:

Ān qasr ke Jamšid dar u jām gereft


Āhu bacce kard o rubah ārām gereft
Bahrām ke gur migerefti hame omr
Didi ke cegune gur Bahrām gereft

G- Tak-beyti, fard ou mofrad


Tak-beyti é um estilo comumente usado como provérbio ou ditado, e que é
composto por somente um beyt de, naturalmente, dois mesraas, sendo que a rima
entre essas duas meia linhas é facultativa. Saadi (1210-1292), Sāeb-e-Tabrizi
(1601/1602-1677), e Hātef-e-Esfahāni (?-1783) são poetas conhecidos por esse tipo
de poema. O esquema de rimas é da seguinte forma:

___a ___a

Ou:

___a ___b

Um tak-beyti de Sāeb-e-Tabrizi:

Dud agar bālā nešinad, kasr e ša'n e šo'le nist


Jā ye cešm abru nagirad, garce u bālātar ast

H- Bahr-e-tavil
Bahr-e-tavil (métrica longa) é uma forma poética para expressar sátira e
humor, fazer elegias, construir debates dialógicos e escrever letras musicais. Em
poemas bahr-e-tavil, há linhas de tamanhos diferentes, e cada estrofe tem um radif
igual (a palavra repetida antes da rima) e uma rima idêntica. Nesse poema, não há
mesraas ou beyts discretos, no lugar deles há uma estrofe de métrica maleável, na
qual encontram-se rimas finais, rimas internais e radifs, rimas que ocorrem nas
palavras imediatamente antecessoras àquelas que terminam o verso. Bahr-e-tavil tem
27

se tornado um estilo dominante desde o Império Safávida (1501-1736). Um poeta


célebre nesse tipo de poema é Abolqāsem-e-Hālat (1919-1992).

Um bahr-e-tavil de Sāeb-e-Tabrizi:

Manba' e cešme ye har kalame ke jāri šavad az notq o bayān,


Kām o zabān,
Esm e Xodāvand e azim ast
Ke az lotf o karam dāde be har no' e bašar,
Aql o honar,
Qovvat e edrāk, do abru o do guš o do basar,
Ārez mānand e qamar,
Sarv-qad o muy-kamar,
Kāse ye sar madd e nazar,
Huš o bar o duš o banāguš o lab e nuš o xat e anbar e reyhān
Do saf e laškar e možgān,
Dahān e peste ye xandān,
Ze lab e la'l e Badxšān,
Ze son' aš šode manzum cenān,
Gohar e dandān,
Ke yeki piš e xeradmand bovad beh ze hezārān,
Dorr o marjān.

I- Tarjiiband
Tarjiiband é um poema geralmente longo que consiste de várias reštes
(estrofes) com a mesma métrica e com normalmente cinco a 25 beyts de modo que
todos os mesraas de uma estrofe têm uma mesma rima. Para conectar essas estrofes,
um beyt chamado band e bargardān (elo de referência) com rima específica repete-
se e conecta uma estrofe à próxima até o fim do poema. Exemplo de alguns poetas
que trabalharam com esse estilo: Saadi (1210-1292), Hātef-e-Esfahāni (?-1783), e
Farrokhi-e-Yazdi (1889-1939). O esquema de rimas é da seguinte forma:

___a ___a
___a ___a
….
___x ___x
28

___b ___b
___b ___b

___x ___x

Um tarjiiband de Saadi:

Ey sarv e boland-qāmat e dust


Vah-vah ke šamāyel at ce niku –st
Dar pāy e letāfat e to mirād
Har sarv e sahi ke bar lab e ju –st
Nāzok-badan i ke minagonjad
Dar zir e qabā co qonce dar pust
...

Ey saxt-delān e sost-peymān
In šart e vafā bud ke bi dust
Benšinam o sabr piše giram
Donbāle ye kār e xiš giram
Dar ahd e to ey negār e delband
Bas ahd ke beškanand o sogand
Digar naravad be hic matlub
Xāter ke gereft bā to peyvand
Az piš e to rāh e raftan am nist
Hamcon magas az barābar e qand
...

Mostojeb e in o biš az in –am


Bāšad ke co mardom e xeradmand
Benšinam o sabr piše giram
Donbāle ye kār e xiš giram
...

J- Tarkibband
Assim com o tarjiiband, tarkibband é um poema normalmente longo feito de
várias estrofes, cujos mesraas têm rimas próprias à sua respectiva estrofe. A
diferença entre tarkibband e tarjiiband é que a rima da band e bargardān não se
29

mantém a mesma pelo poema, ela muda constantemente. Estes são alguns poetas
conhecidos nesse esquema: Saadi (1210-1292), Mohtasham-e-Kāshāni (1500-1588),
Vahshi-e-Bafqi (1532-1583), Hātef-e-Esfahāni (?-1783), e Farrokhi-e-Yazdi (1889-
1939). O esquema de rimas é da seguinte forma:

___a ___a
___a ___a
….
___x ___x

___b ___b
___b ___b

___y ___y

___c ___c
___c ___c

___z ___z

Um tarkibband de Mohtasham-e-Kāshāni:

Bāz in ce šureš ast ke dar xalq e ālam ast


Bāz in ce nohe o ce azā o ce mātam ast
Bāz in ce rastaxiz e azim ast k- az zamin
Bi nafx e sur xāste tā arš e aazam ast
In sobh e tire bāz damid az kojā k- az u
Kār e jahān o jomle jahān darham ast
...

Jenn o malek bar ādamiyān nohe mikonand


Guyā azā ye ašraf olād e Ādam ast
Xoršid e āsemān o zamin, nur e mašreqayn
Parvarde ye kenār e Rasul e Xodā, Hosayn
Kešti ye šekast-xorde ye tufān e Karbalā
Dar xāk o xun tapide meydān e Karbalā
Gar cašm e Ruzegār bar u zār migarist
Xun migozašt az sar e ivān e Karbalā
30

Nagreft dast e Dahr golāb i be qeyr e ašk


Z- ān gol ke šod šekofte be bustān e Karbalā
...

Āh az dam i ke lašgar e aadā nakard šarm


Kardand ru be xeyme ye soltān e Karbalā
Ān dam falak bar ātaš e qeyrat sepand šod
K- az xof e xasm dar haram afqān boland šod
...

K- Mosammat
Mosammat é um estilo semelhante ao tarjiiband se diferenciando por apenas
o último mesraa de rima diferente do restante da estrofe, mas rimando com o último
mesraa de todas as estrofes. Esse mesraa chama-se band (elo) por conectar as
estrofes entre si. Há, no entanto, formas mais complicadas do mosammat. Os poetas
Manuchehri-e-Dāmqāni (1000-1040), Nāser-Khosro (1004-1088), Qāāni (1223-
1270), Sheikh-Bahā'i (1547-1621), Bahār (1884-1951) compuseram poemas famosos
neste estilo. O esquema de rimas é da seguinte forma:

___a ___a
___a ___a
….
___a ___x

___b ___b
___b ___b

___b ___x

Um mosammat de Manuchehri-e-Dāmqāni:

Xizid o xaz ārid ke hengām e xazān ast


Bād e xonak az jāneb e Xārazm vazān ast
Ān barg e razān bin ke bar ān šāx e razān ast
Guyi be masal pirahan e rang-razān ast
31

Dehqān be ta'ajjob sar e angošt gazān ast


K- andar caman o bāq, na gol mānad o na golnār

Dehqān be sahargāhān k- az xāne biyāyad


Na hic biyārāmad o na hic biyābad
Nazdik e raz āyd dar e raz rā begošāyad
Tā doxtar e raz rā ce be kār ast o ce šāyad
Yek doxtar e dušize bedu rox nanamāyad
Ellā hame ābestan o ellā hame bimār
...

L- Mostazād
Mostazād é um poema de certo modo parecido com o qazal pois as rimas do
primeiro e de todos os segundos mesraas se repetem. No entanto, cada mesraa é
seguido de um nim-mesraa, isto é, a palavra ou frase curta rítmica de rima
equivalente à do mesraa imediatamente anterior. Os versos não possuem uma
métrica única. Os poetas Mas'ud Sa'd-e-Salmān (1040-1121), Mirzāde-Eshqi (1893-
1924), Mehdi Akhavan-Sāles (M. Omid) (1929-1990) são exemplos de autores
famosos neste estilo. O esquema de rimas é da seguinte forma, observando que, ao
contrário dos esquemas anteriores, a segunda linha neste representa o nim-mesraa,
estando todos os mesraas na primeira coluna:

___a _a
___a _a
___b _b
___a _a
___c _c
___a _a
___d _d
___a _a

Um mostazād de Mirzāde Eshqi:

In majles e cārom be Xodā nang e bašar bud.


Didi ce xabar bud?
Har kār ke kardand zarar ru ye zarar bud.
Didi ce xabar bud?
32

In majles e cārom, xodemān –im, samar dāšt:


Vallāh ke zarar dāšt.
Sad šokr ke omr aš co zamāne be gozar bud.
Didi ce xabar bud?
Digar nakonad ho, nazand jofte Modarres,
Dar sālon e majles.
Bogzašt degar moddat i ar mahšar e xar bud.
Didi ce xabar bud?
...

4. Poesia moderna persa do século XX até atualmente

No início do século XX, por causa das turbulências políticas entre a Inglaterra
e Rússia com o Irã (Pérsia) durante a dinastia Qājār (1785-1925) e por causa da
consequente separação de terras historicamente iranianas como Azerbaijão, Armênia,
Geórgia, Turcomenistão e Tajiquistão, o governo iraniano enfraqueceu-se. Sua
estrutura corrupta tornou-se mais frágil e o povo iraniano, movimentado por
influências políticas e culturais francesas e ideais modernistas, fez eclodir a
Revolução Constitucional entre 1905 e 1911. A expansão do jornalismo, o anseio por
um novo estilo de vida, a ênfase crescente na vida quotidiana, o surgimento de novos
estilos de narrativa como romance, peça e drama, e o desenvolvimento da nova
crítica foram outros fatores que compuseram essa mudança dramática.
Paralelamente, a saturação do Sabk-e-Hendi (Estilo Indiano) causada pelo uso
excessivo de linguagem figurada nos poemas persas no Irã 12, o tornou indesejável
para alguns poetas. A mudança da cultura política e o desejo pela simplificação da
poesia fizeram com que novas formas poéticas se desenvolvessem e com que estilos
antigos como Khorāsāni e Arāqi, e os métodos dos poetas como Rudaki (?-941) e
Saadi (1210-1292) fossem revitalizados. Essa tendência é chamada de Bāzgašt-e-

- No norte da Índia onde o persa era usado como a língua franca e cultural, havia uma tendência
12

geral no século XIX para poesia pomposa e abstrusa. Isso foi expressivo nos primeiros séculos (IX-
XIII) da literatura persa clássica.
33

Adabi (o Retorno da Literatura) ou Rastāxiz-e-Adabi (o Renascimento da Literatura)


por Bahār (1958: 316)13. Nos países então recém formados de Afeganistão 14 e
Tajiquistão a literatura persa também encontrou novas formas: no Tajiquistão,
Sadriddin Aini (1878-1954), Abul-Qāsem Lāhuri (1887-1957) (imigrante do Irã), e
Mirza Tursunzoda (1911-1977) foram os pioneiros.
Os fundadores da poesia moderna persa no Irã são: Iraj-Mirzā (1874-1926), Āref-
e-Qhazvini (1882-1934), Bahār (1886-1951), conhecido como O Poeta Laureado, e
Mirzādeh-Eshqi (Mohammad-Rezā Kordestāni) (1893-1924).15
Após o Retorno da Literatura na primeira metade do século XX, estilos novos de
poesia foram introduzidos. Nimā Yushij (1897-1960) tirou a prosódia fixa da poesia
persa e inventou Šeer-e No (poema novo) ou em outras palavras poema moderno.
Shafiei-Kadkani (2015: 7-14), no entanto, recentemente afirmou que o fundador do
šeer-e no é Parviz Nātel-Khānlari (1914-1990) e que Nimā Yushij imitou o seu
estilo, no qual a métrica e a rima são livres. Poetas renomados nesse tipo de poema
são Fereydoon Moshiri (1926-2000), Sohrāb Sepehri (1928-1980), Mehdi Akhavān-
Sāles (1929-1990), Mohammad-Rezā Shafiei-Kadkani (1939- ) e a poetisa Forough
Farrokhzād (1935-1967).
Posteriormente, poetas como Ahamad Shāmlou (1925-2000), Bizhan Jalāli (1927-
2000), e Manouchehr Ātashi (1931-2005) introduziram o estilo Šeer-e Sepid (Poema
Branco), que não possui métrica ou rima.
Deve-se observar que, tal qual atualmente, nesse período havia poetas que
compunham poemas clássicos. Os estilos clássicos, portanto, ainda gozam de
popularidade ao lado dos estilos novos.
Depois da Revolução Constitucional, um formato novo surgiu: Cārpāre (quatro-
partes), que é parecido com o do-beyti e o robāi. Esse estilo tem a mesma rima no
segundo e quarto mesraa e não tem uma métrica específica, sendo necessário
13
- Consulte Hanaway (1989) também para mais informações.
14
- Sobre literatura persa no Afganistão, consulte Ahmadi (2008).
15
- Sobre Literatura moderna do persa, consulte Bahār (1958), Ebādiān (1992), Karimi-Hakkak (1995),
Langerudi (1998) e Aminpur (2007).
34

somente ter beyts rimados. Fereydoon Moshiri (1926-2000) e Mehdi Soheili (1924-
1987) são afamados nesse formato.
Por fim, há outros formatos novos como Šeerak (como um quarteto), Segāni
(como um terceto), Tarāne (letra de música), Tasnif (balada) e Nohexāni (lamentação
religiosa). Vale mencionar que a melodia é muito importante em todos os aspectos da
cultura persa. Por exemplo, geralmente provérbios, lemas, anúncios, e ainda
palavrões têm melodia e rima. Além disso, a maioria das histórias, especialmente
histórias infantis, é melódica. Há um formato de história para crianças chamado
matal, que é um tipo de fábula totalmente musical e que tem rimas internas e finais
como o estilo poético bahr-e-tavil.
II PARTE
os poemas

Traduzidos por Farhad Sasani, Ana Leite e Henrique Costa Jung


36

Os Poemas Clássicos

Iraj Mirzā (1874-1926), Qalbe e mādar: Coração de mãe

Bahār (1884-1951), Šeer o nazm: Poema e verso

Shahriār (Mohammad-Taqi Shahriār) (1906-1988), Hālā cerā?: Por que agora?

Parvin E'tesāmi (1907-1941), Ašk e yatim: As lágrimas do órfão

Simin Behbahāni (1927-2014), Šamšir e man hamin šeer ast: Minha espada é este
poema

Esmāil Khoi (1938- ), Hambastegi: Solidaridade

Mohammad-Rezā Shafiei-Kadkani (Xafiei-Kadkani) (1939- ), sem título

Mohammad-Ali Bahmani (1942- ), Delxoš -am bā qazal i tāze: Eu estou satisfeito


com um ovo gazal

Omrān Salāhi (1947-2006), Yād e to : Tua lembrança

Soheil Mahmoudi (1961- ), Sokut mikonam o ešq dar del am jāri -st: Eu me calo e o
amor corre no meu coração

Soheil Mahmoudi (1961- ), Man be yek ehsās e xāli delxoš -am: Eu com só um
sentimento estou satisfeito

Abdoljabār Kākāi (1963- ), Be mundan e to āšeq -am, be raftan e to mobtalā: Eu me


apaixonei pelo seu ficar, eu me aflijo pelo seu partir

Afshin Yadollāhi (1969-2017), Vaqti garibān e adam bā dast e xelgat midarid:


Quando o colarinho da inexitência com a mão da crianção se rasgava
37

Iraj Mirzā (1874-1926) 

O príncipe Iraj Mirzā, conhecido como Jalāl-ol-Mamālek, foi o primeiro mestre da


poesia coloquial persa, por em seus versos usar palavras do discurso cotidiano. Sua
linguagem poética simples é também famosa por sua sagacidade, sátira, e sarcasmo
impressionantes, com palavras pungentes apontadas para o clero, os empresários,
comerciantes e estadistas desonestos. Seu estilo é rico na arte do símile e suas obras
estão associadas a críticas das tradições. Iraj também compunha para algumas
personalidades de sua época elogios, que nunca se transformaram em lisonja; e compôs
muitos Masnavi e Qet'e agradáveis sobre a educação das crianças, o afeto materno,
amor e romance. Alem disso, trabalhou em traduções de obras literárias do francês para
o persa. Aos 15 anos, ele era fluente em persa, francês, árabe e azari. Ele também estava
familiarizado com a arte da caligrafia.
O poema “qalb e mādar” tem um tom moral e foi escrito no estilo clássico qet’e;
possui muitas palavras e estruturas antigas. Abaixo segue o link para uma recitação do
poema:
https://www.youtube.com/watch?v=9noJcf4BnU0

Qalb e mādar: Coração de mãe

Dād maašuq be āšeq peyqām Ke konad mādar e to bā man


Enviou a amada ao amado a jang
mensagem “Tua mãe implica comigo”

Har kojā binadam az dur, konad Cehre porcin o jabin porāžang


Em qualquer lugar que ela me Ela ficará séria e franzirá o
veja de longe cenho

Bā negāh e qazabālud zanad Bar del e nāzok e man tir e


Com o olhar furioso lança xadang
Em meu frágil coração a flecha
de álamo-branco
Az dar e xāne ma- rā tard konad Hamco sang az dahan e
38

Ela me repele na porta de casa qalmāsang


Como uma pedra na boca da
funda

Mādar e sangdel at tā zenda-st Šahd dar kām e man o to -st


Enquanto viver tua mãe coração šarang
de pedra O néctar será veneno na minha e
na tua boca
Našavam yekdel o yekrang to rā Tā nasāzi del e u az xun rang
Não serei um único coração e Até pintar da cor do sangue o
uma única cor contigo seu coração

Gar to xāhi be vesāl am beresi Bāyad in sāat bi xof o derang


Se quiseres ficar comigo Deves nesta hora sem medo e
demora

Ravi o sine ye tang aš bedari Del borun āri az ān sine ye tang


Ir e dilacerar seu peito estreito E o coração do seu peito estreito
arrancar

Garm o xunin be man aš bāz āri Tā barad z- āyne ye qalbam


Quente e ensanguentado trazê-lo zang
de volta para mim De modo que se remova a
ferrugem no espelho do meu
coração
Āšeq e bixerad e nāhanjār Na bal ān fāseq e biesmat o
O amado abominável e sem nang
sabedoria Não! Mais que isso! Aquele
pervertido e sem inocência ou
vergonha
Hormat e mādari az yād bebord Xire az bāde o divāne ze bang
Perdeu o respeito pela mãe Despudorado pela bebida e
louco pelo haxixe

Raft o mādar rā afkand be xāk Sine bedrid o del āvard be čang


Foi e derrubou a mãe no chão Dilacerou o seu peito e pegou o
coração com a garra
Qasd e sarmanzel e maašuq Del e mādar be kaf aš con
nemud nārang
Ele partiu ao destino O coração da mãe na palma
como uma laranja

Az qazā xord dam e dar be zamin V- andaki sude šod ān rā ārang


Por acaso, na porta, caiu no chão E de leve seu cotovelo arranhou

V- ān del e garm ke jān dāšt Uftād az kaf e ān bifarhang


39

hanuz Daquele inculto caiu da palma


E aquele coração quente que
ainda vida tinha

Az zamin bāz co barxāst nemud Pey e bardāštan e ān āhang


Quando do chão se levantou Com o intuito de pegá-lo

Did k- az ān del e āqešte be xun Āyad āheste borun in āhang:


Viu que daquele coração cheio Saía uma canção fraca
de sangue

Āh dast e pesar am yāft xarāš Āh pā ye pesar am xord be sang


“Oh! O braço do meu filho se “Oh! O pé do meu filho bateu
arranhou!” numa pedra!”
40

Bahār (1884-1951)

Mohammad-Taqi e Bahār, conhecido também pelo título de Malakošoarā e Bāhr (O


poeta Laureado) ou simplesmente Bahār, era poeta, escritor, jornalista, historiador e
político durante a Revolução Constitucional do Irã. Seus poemas geralmente são do
estilo Tchakāme e Masnavi. Ele também escreveu muitas letras de músicas (tarāne).
Esse poema é um Qet’e com o esquema métrico clássico sobre a diferença entre o
poema e o verso.

Šeer e nazm: Poema e verso


Šeer dāni čist? morvārid i az Šāer ān afsungar i k- in torfe ye
daryā ye aql morvārid soft
Sabes o que é um poema? Um poeta, aquele encantador
Uma pérola do mar da que perfura essa fantástica
sabedoria pérola

Sanat o saj’ o qafāfi hast Ey basā nāzem ke nazm aš nist


nazm o nist šeer ellā harf e moft
Figuras de linguagem, Há demasiados versificadores
assonâncias, rimas fazem os cujos versos são nada senão
versos, e não o poema conversa fiada

Šeer ān bāšad ke xizad az del Bāz dar delhā nešinad har kojā
o jušad ze lab guš i šenoft
O poema é aquele que surge E outra vez senta nos corações
do coração e ebule dos lábios onde um ouvido escuta

Ey basā šāer ke u dar omr e V- ey basā nāzem ke u dar omr


xod nazm i nasāxt e xod šeer i nagoft
Há demasiados poetas que E há demasiados versificadores
nas suas vidas não fizeram que nas suas vidas não disseram
um verso um poema
41

Shahriār: Mohammad-Hossein e Shahriār (1906-1988)

Mohammad-Hossein e Behjat e Tabrizi, conhecido como Shahriar, é um notável


poeta iraniano do persa e do azeri. O dia da sua morte é considerado o dia
nacional do poema no Irã. Shahriar foi influenciado por Hāfez (1315-1390) em
seus poemas. Inicialmente seu pseudônimo poético foi Behajat e depois mudou
para Shahriar. Ele estudava medicina, mas não conseguiu se formar, e trabalhava
no banco. Ele recebeu um doutorado honorífico em literatura persa pela
Universidade de Tabriz. Seu livro dos poemas em azeri Heydar Babaya Salām
(Olá! Heydar Baba) já foi traduzido para 30 línguas. Ele escreveu um poema a
Einstein sobre a tragédia humana da bomba atômica. Muitos de seus poemas são
sobre o amor, especialmente seu amor por Sorayyā Ebrāhimi com a qual nunca
conseguiu ficar junto. Kamal Tabrizi fez uma série de TV sobre a vida de
Shahriar. Segue um trecho da série da TV IRIB Canal 2:
https://www.youtube.com/watch?v=G_Vg0S7CmTI
Há um documentário sobre Shahriar também:
https://www.youtube.com/watch?v=6E4d2RifzsY
O poema “agora por quê?” é sobre amor e no estilo clássico de qazal.
O poema foi transformado em música por Rouhollah Khaleghi com a canção de
Banan:
https://www.youtube.com/watch?v=8AGA-IRnZOo

Hālā cerā?: Agora por quê?

Āmadi, jān am be qorbān at Bivafā hālā ke man oftādeam


vali hālā cerā az pā cerā
Vieste, senhora da minha Infiel! Agora que eu me
alma! Mas agora por quê? curvo aos pés, por quê?

Nušdāru -i o baad az marg e Sangdel in zudtar mixāsti


Sohrāb āmadi hālā cerā
És o antídoto e vieste depois Coração de pedra! Poderias
42

da morte de Sohrab16 ter vindo mais cedo, agora


por quê?
Omr e mā rā mohlat e emruz Man ke yek emruz mehmān e
o fardā ye to nist to -am fardā cerā
O prazo da minha vida não é Eu que neste hoje sou teu
para teus titubeios convidado, amanhã por quê?

Nazanin ā mā be nāz e to Digar aknun bā javānān nāz


javāni dādeim kon bā mā cerā
Minha querida! eu dei minha Mas agora vá flerta com os
juventude aos teus flertes jovens, comigo por quê?

Vah ke bā in omrhā ye kutah e In hame qāfel-šodan az con


bieetebār man i šeydā cerā
Oh! Com essas vidas curtas e Todo esse descaso por um
sem valor encantado como eu por quê?

Šur e Farhād am be porseš Ey lab e širin javāb e talx e


sar be zir afkande bud sarbālā cerā
Minha paixão de Farhad17 ao Ei Lábio-doce! Prendes a
tentar se declarar resposta amarga por quê?
envergonhava-se

Ey šab e hejrān ke yek dam In qadr bā baxt e xābālud e


dar to cešm e man naxoft man lālā cerā
Ei noite de separação em que Tu cantarolas tanto para
os meus olhos não minha fortuna sonolenta por
adormeceram nem um quê?
momento em ti

Āsemān con jam’ e moštāqān Dar šegeft -am man


parišān mikonad nemipāšad ze ham donyā
Quando o céu distrai o grupo cerā
16
- Sohrāb é um herói mítico iraniano, cuja história encontra-se na tragédia de Rostam (pai de Sohrāb),
que por sua vez está no épico persa Šāhnāme do poeta Ferdosi. Sohrāb é o filho de Tahmine oriunda
do país mítico de Turān. Sohrāb foi criado pela sua mãe e, portanto, não conheceu seu pai, um
iraniano. Numa guerra entre Irã e Turān, os dois lutaram um contra o outro sem que os nomes de cada
um fossem revelados. Quando Sohrāb foi ferido pelo seu pai, Rostam finalmente viu a sua braçadeira,
que ele havia deixado com Tahmine, assim identificando o seu filho desconhecido. Foi em busca de
um remédio, mas, quando chegou, Sohrāb já havia morrido. Assim nuš-dāru pas az marg e Sohrāb
(remédio depois da morte de Sohrāb) significa a solução atrasada.
17
- Farhād é uma personagem famosa na literatura e mitologia persa por causa de seu amor zeloso por
Širin, a princesa da Armênia da Pérsia, e pela sua rivalidade contra Khosro, o rei da Pérsia. Khosro
enganou Farhād e prometeu que se ele conseguisse esculpir uma escada numa montanha para o outro
lado, ele desistiria do seu amor por Širin. Quando Farhād conseguiu terminar a escada, Khosro mentiu
sobre a morte de Širin, e por tristeza Farhād morreu. Assim Farhād é o símbolo do amor na cultura
iraniana.
43

dos desejosos Eu fico surpreso: o mundo


não se desfaz por quê?

Dar xazān e hejr e gol ey Xamoši šart e vafādāri


bolbol e tab’ e hazin bovad, qoqā cerā
Nos outonos distantes da flor, O silêncio é a condição da
ei rouxinol melancólico! lealdade, lamúrias por quê?

Šahriyār ā bi habib e xod In safar rāh e qiyāmat miravi


nemikardi safar tanhā cerā
Ei Shahriar! Sem teu amor, tu Nesta viagem, tu vais sozinho
não viajavas para o outro mundo por quê?
44/ Antologia de Poemas Persas Contemporâneos

Parvin e E'tesāmi (1907-1941)

Parvin e E'tesāmi era a mais famosa poetisa do século 20 no Irã. Seu pai era um poeta e
tradutor, assim influenciando-a. Seu idioma materno era azari, e na sua infância
aprendeu inglês, persa e árabe. Parvin morreu aos 35 anos de febre tifóide. Sua
antologia poética consiste em 606 poemas nos estilos Masnavi, Qet'e, e Tchakāme. Os
poemas são sobre opressão, simpatia pelos oprimidos e pessoas necessitadas. Às vezes
eles estão estruturados como diálogos ou perguntas e respostas entre humanos, animais,
plantas ou objetos personificados tais como uma agulha e uma linha. Desde 2004, há o
festival de filmes Parvin E'tesāmi que a cada ano oferece um prêmio para uma diretora
de cinema.
Abaixo seguem uma recitação do poema:
www.ganjoor.net/parvin/divanp/mtm/sh15

Ašk e yatim: A lágrima do órfão


Ruz i gozašt pādešah i az Faryād e šoq bar sar e har kuy o
gozargah i bām xāst
Num dia passou o Xá por uma O grito de deleite se ergueu de
galeria todas ruas e telhados

Porsid -z ān miyāne kudak e yatim K- in tābnāk cist ke bar tāj e


Perguntou uma criança órfã no pādešā -st
meio daquilo "O que é o brilho na coroa do
Xá?"

Ān yek javāb dād ce dānim mā ke Peydā -st ān qadr ke matā i


cist gerānbahā -st
Aquele outro respondeu "não Está claro até que é algo valioso"
sabemos o que é isso

Nazdik raft pirzan i kupošt o goft In ašk e dide ye man o xun e del e
Chegou perto uma velha corcunda šomā -st
e disse: "Isto é uma lágrima de meu olho
e o sangue de vossos corações

Mā rā be raxt o cub e šabāni In gorg sālhā -st ke bā galle


Poemas /45

farifte ast āšenā -st


Ele nos enganou com o traje e o Esse lobo há anos que conhece o
cajado de pastor rebanho."

Ān pārsā ke deh xarad o molk Ān pādešā ke māl e raayat xorad


rahzan ast gedā -st
Esse piedoso que compra vilas e Esse Xá que come o que é do
terras é um salteador povo é um pedinte

Bar qatre ye serešk e yatimān Tā bengari ke rošani ye gohar az


nezāre kon kojāst
Olha a gota da lágrima dos órfãos Para enxergar de onde vem o
brilho da gema

Parvin, be kajrovān e soxan az Ku ān cenān kasi ke naranjad ze


rāsti ce sud harf e rāst
Parvin, de que serve os discursos Cadê aquele que não se incomoda
de virtude aos desviados com as palavras direitas
46/ Antologia de Poemas Persas Contemporâneos

Simin e Behbahāni (1927-2014)

Simin e Behbahān (Khalili e Binbahani também) era uma poeta proeminente, letrista, e
além disso uma ativista e intelectual. O seu pai foi um poeta, autor e editor de jornal, e
as sua mãe foi uma poeta e professora da língua francesa. Ela foi nomeada duas vezes
para o prêmio Nobel de literatura em 1999 e 2002, e ganhou vários prêmios
internacionais. Simin é chamada de “leoa iraniana”. Ela foi a presidente da associação
de escritores iranianos. Ela foi um membro de conselho de música e poesia da Rádio
Nacional do Irã de 1971 a 1978 juntos com Fereydoon Moshiri, Hushang Ebtehaj e
Emad Khorasani.

Šamšir e man hamin šeer ast: Minha espada é este


poema

Šamšir e xiš bar divār āvixtan Bā xāb e nāz joz dar gur āmixtan
nemixāham nemixāham
Pendurar minha espada na parede Misturar-me com o sono
não quero tranquilo no túmulo não quero

Šamšir e man hamin šeer ast, Bā in selāh e širin kār e xun-


porkārtar ze har šamšir rixtan nemixāham
Minha espada é este poema, mais Com esta arma doce, o trabalho
prolífico do que todas espadas de derramar sangue não quero

Joz haq nemitavānam goft, gar Sar piš minaham va -z marg


sar-boridan am bāyad parhixtan nemixāham
Eu não posso dizer nada senão a Oferecerei minha cabeça, e evitar
verdade, mesmo se me a morte não quero
decapitarem

Ey mard, man zan -am ensān, Gar tāj e xār nagzāri, gol-rixtan
bar tārak am be kintuzi nemixāham
Ei homem! Eu sou mulher, Uma coroa de espinhos, ser
humana, se você não pôr no meu coberta de flores não quero
topo com malícia

Bā haft rang e abrišam az ešq šal In reštehā ye rangin rā besgixtan


mibāfam nemixāham
Poemas /47

Com as sete cores da seda, eu Esses fios coloridos romper eu


teço o xale do amor não quero

Har lahze ātaš i dar šahr Har ruz fetne i dar dahr angixtan
afruxtan nemiyāram nemixāham
Atear fogo a cada momento na Provocar uma intriga no cosmos
cidade não me atrevo a cada dia não quero
In qāfiyat saboktar gir, jang o In jomle gar to mixāhi ey mard,
jonun o jahl at bas man nemixāham
Pegue esta rima mais leve, basta Se você quer esta frase, ei
de suas guerras e insanidade e homem! Eu não a quero
ignorância
48/ Antologia de Poemas Persas Contemporâneos

Esmāil e Khoi (1938- )

Esmāil e Khoi é um poeta ativista antes e depois Revolução, com tendências à


esquerda. Ele tem poemas no estilo clássico e moderno em persa e em inglês, e
traduzia poemas para o persa. Seus poemas foram traduzidos para inglês, francês,
russo, alemão, indiano e ucraniano, por exemplo:
Esmail Khoi, Outlandia: Songs of Exile (Vancouver: Nik Publishers, 1999).
Ele obteve seu doutorado de filosofia em Londres, e é um membro do Centro dos
Escritores Iranianos. Esmail mora atualmente na Inglaterra.
O poema seguinte é no estilo clássico robāi:

Hambastegi: Solidariedade

Bā yek del e qamgin be jahān Tā yek deh e virān bovad, ābādi


šādi nist nist
Com um coração triste, alegria Enquanto existe uma vila
no mundo não há destruída, prosperidade não há

Tā dar hame ye jahān yeki


Dar hic kojā ye ālam āzādi nist
zendāni hast
Em nenhum lugar da Terra
Enquanto existe uma prisão no
liberdade há
mundo inteiro
Poemas /49

Mohammad-Rezā Shafiei-Kadkani (1939- )


Mohammad-Rezā Shafiei-Kadkani (Xafiei-Kadkani) é um autor, poeta, crítico
literário, tradutor, teórico e professor de literatura Persa. Ele tem alguns livros
importantes, especialmente em crítica literária como musiqi ye šeer (A Música do
Poema), sovar e xiyāl (As Formas da Imaginação), advār e šeer e fārsi (As Épocas da
Poesia Persa). Famoso como poeta moderno, ele também é professor de literatura
Persa na Universidade do Teerã, e foi professor de muitos poetas, tais como Qeysar
Aminpour.
O poema “miresam ammā be to ruz i degar” é sobre amor e no estilo clássico
masnavi.
Abaixo seguem uma recitação do poema por Farhad Sasani:
https://drive.google.com/open?id=0B5OG8GKJxhSzUmprVGFfdmhzdUU

Miresam ammā be to ruz i degar: Chegarei a ti, mas num


outro dia

Har ce šekoftam to nadidi ma- Rafti o afsus nacidi ma- rā


rā Tu fostes e pobre de mim não
Por mais que eu florescesse, tu me colheste
não me viste

Māndam o pažmorde šodam Tā ke be dāmān e to āvixtam


rixtam Até que em tua saia me pendurei
Eu fiquei e murchei e tombei

Dāman e xod rā matekān ey In man -am ey dust be xāk am


aziz nariz
Não sacuda a tua saia, minha Este sou eu, não me jogue no
querida chão, minha amiga

Vāy ma- rā sāde sepordi be Heyf ke našnāxte bordi ze yād


bād Pobre de mim, sem me
Oh! Tu facilmente ao vento me conhecer, tu me esqueceste
confiaste

Hamsafar e bād -am az ān pas Migozaram bixabar az bām o


50/ Antologia de Poemas Persas Contemporâneos

modām šām
Desde então eu sou o Vivo sem notícias todo
companheiro do vento sem entardecer e todo raiar
cessar
Miresam ammā be to ruz i Panjere rā bāz gozāri agar
degar Se deixares a janela aberta
Chegarei a ti mas num outro
dia
Poemas /51

Mohammad-Ali e Bahmani (1942- )

Mohammad-Ali e Bahmani é um poeta do estilo qazal, cujos poemas são


normalmente sobre o amor, e escreve letras para músicas também. Seu primeiro poema
foi composto quando tinha somente 9 anos. Ele tinha colaborações com o Radio
Nacional e várias revistas, e foi o diretor da Editora Tchitchikā. Ele ganhou o prêmio
do Khorshid e Mehr (O Sol da Afeição) por ser o melhor poeta de gazal em 1999. Mas
recentemente escreve poemas pós-modernos.

Delxoš -am bā qazal i tāze: Eu estou satisfeito com um novo


gazal

Delxoš -am bā qazal i tāze, hamin To ma- rā bāz resāndi be yaqin am


am kāfi -st kāfi -st
Eu estou satisfeito com um novo Tu me fizeste voltar à certeza, me
gazal, só isso me basta basta

Qāne' -am, bištar az in ce bexāham Gāhgāhi ke kenār at benešinam


az to kāfi -st
Eu sou humilde, mais do que isso o Se de vez em quando me sentar ao
que eu quereria de ti? teu lado, me basta

Gele i nist, man o fāselehā hamzād Gāhi az dur to rā xāb bebinam kāfi
-im -st
Não há queixas, eu e as distancias Se às vezes eu te vir de longe nos
somos gêmeos sonhos, me basta

Man haim qadr ke bā hāl o havā Barg i az bāqce ye šeer becinam


yat - gahgāh - kāfi -st
Se eu ao menos dos devaneios Tirar uma folha do quintal da
sobre ti – de vez em quando - poesia, me basta

Fekr-kardan be to yaani qazal i Ke hamin šoq ma- rā, xubtarin am!


šurangiz kāfi -st
Pensar em ti é uma gazal Assim essa paixão, minha melhor,
apaixonante me basta
52

Soheil e Mahmoudi (1961- )

Hasan e Sabet e Mahmoudi, conhecido como Soheil e Mahmoudi, é um poeta,


letrista, autor e apresentador de TV que tem uma grande posição na formação da poesia
persa pós-revolucionária. Seus poemas são cheio de bondade e amabilidade. Ele tentou
inserir palavras cotidianas nos seus poemas no estilo de Qazal. Ele está publicando a
coleção de 100 anos de poesia persa junto com Sāed Bāqeri, e até agora eles
publicaram 19 volumes. Em baixo, é um link para o recital do poema “eu me-calo e o
amor escorre no meu coração”:

Sokut mikonam o ešq dar del am jāri -st: Eu me calo e o


amor escorre no meu coração

Sokut mikonam o ešq dar del am Ke šegefttarin no’ e xištandāri -st


jāri -st Esse é o mais maravilhoso tipo de
Eu me calo e o amor escorre no auto-contenção
meu coração
Tamām e ruz agar bitafāvot am, Šab am qarin e šekanje, docār e
ammā bidāri -st
Por mais que dia todo eu fique A minha noite é a companheira da
indiferente tortura e sofre de insônia

Rahā kon ān ce šenidi o didei, Be joz man o to o ešq e man o to


har ciz … tekrāri -st
Esqueça aquilo que você ouviu e Exceto eu e você, o amor meu e
viu, todas as coisas seu, se repetem

Man xodam tohi yam; az to niz Hamin …! Dalil e cehel-sālegi


…? Na! Bogzar sabokbāri -st
Eu estou vazio de mim mesmo; Isso mesmo! O resultado de se ter
de você também? Não! Perdão quarenta anos é ser despreocupado

Marā bebaxš badi kardeam be to Kamāl e ešq jonun ast o digar-


gāhi āzāri -st
Perdoe-me, eu te fiz mal às vezes A perfeição do amor é um delírio
e sadismo
53

Marā bebaxš agar lahzeehā yam Bebaxš agar nafas am sard o zard
ābi nist o zangāri -st
Perdoe-me se meus momentos Perdoe se minha respiração é fria,
não são azuis amarela e enferrujada

Behešt e man! Be nasim e Jahān e jahannam e mā rā, ke


tabassom i dar yāb qarq e bizāri -st
Meu paraíso! Com brisas de um O meu mundo de inferno afogado
sorriso ache em ódio

Man be yek ehsās e xāli delxoš -am: Eu com só um


sentimento estou satisfeito
Man be yek ehsās e xāli delxoš - Man be golhā ye xiyāli delxoš -
am am
Eu com só um sentimento estou Eu com as flores imaginárias
satisfeito estou satisfeito

Dar kenār e sofre ye osturehā Man be yek zarf e sofāli delxoš -


Ao lado da toalha de mesa dos am
mitos Com um vaso de cerâmica eu
estou satisfeito

Mesl e anduh e kavir o boqz e Bā xiyāl e ābsāli delxoš -am


xāk Com a imaginação de um ano
Como a tristeza do deserto e a chuvoso eu estou satisfeito
angústia da terra

Sar Naham bar bāleš e anduh e Bā hamin afsorde-hāli delxoš -


xiš am
No travesseiro da minha tristeza
eu deito a cabeça Com essa depressão eu estou
satisfeito

Dar hojum e rang dar fasl e sedā Bā bahār e naqš e qāli delxoš -
Na invasão das cores na estação am
dos sons Com a primavera das figuras no
tapete eu estou satisfeito

Āsemān am: hajm e sard e yek Bā qam e āsude-bāli delxoš -am


qafas
Meu céu: o volume frio de uma Com o desalento de um planar eu
gaiola estou satisfeito
54

Garce ahl e in xiyābān nistam Bā havā ye in havāli delxoš -am


Embora eu não seja dessa rua Com o ar desses arredores eu
estou satisfeito
Poemas /55

Abdoljabbār e Kākāi (1963- )

Abdoljabbār e Kākāi é um poeta, autor e jornalista. Ele trabalhava no radio e televisão


governamentais do Irã, e escreveu muitas letras para músicas de séries de TV. Seus
poemas geralmente são dos estilos qazal ou masnavi.
O poema embaixo está na linguagem falada.

Be mundan e to āšeq -am, be raftan e to mobtalā: Eu me


apaixono pelo seu ficar, eu me aflijo pelo seu partir

Bemun vali be xāter e qorur e Boro vali be xāter e del e šekaste


xaste am boro am bemun
Fique, mas pelo bem do meu Vá, mas pelo bem do meu
orgulho cansado vá coração partido fique

Be mundan e to āšeq -am, be Šekasteam vali boro, borideam


raftan e to mobtalā vali biyā
Eu me apaixono pelo seu ficar, Eu estou partido mas vá, eu estou
eu me aflijo pelo seu partir cortado mas venha

Ce gij harf mizanam, ce sāde Asir e qahr o āšti, miyun e āb o


dard mikešam ātaš -am
Quão confuso eu estou falando, o Eu sou cativo das brigas e das
quão fácil estou doendo pazes, estou entre a água e o fogo

Ce āšeqāne zistam, ce bisedā Ce sāde bā to hastam o ce sāde bi


geristam to nistam
Quão apaixonadamente eu vivi, o Quão fácil eu estou com você e
quão silenciosamente chorei quão fácil não estou sem você

To rā nafas kešidam o be gerye Ce dir āšeq at šodam, ce dirtar


bā to sāxtam šenāxtam
Eu te respirei e chorando Quão tarde eu me apaixonei por
perdurei contigo você, quão mais tarde eu te
conheci

To bā man -i o bi to -am, bebin Sokut kon, sokut kon, sokut harf e


ce geryeāvar -e āxar -e
Você está estás comigo e eu Silêncio! Silêncio! O silêncio é a
estou sem você, veja que última palavra
56

comovente (é)

Bebin ce sard o bisedā, bebin ce Gol i ke dust dāšteam be dast e


sāf o sāde -am bād dādeam
Veja quão frio e silencioso, veja A flor que eu amava entreguei nas
quão cristalino eu sou mãos do vento

Bemun ke bi to zendegi taqās e Azāb e dust-dāštan talāfi ye


eštebāh am -e gonāh am -e
Fique, pois a vida sem você é O tormento de amar é uma
uma retaliação do meu erro expiação do meu pecado
57

Afshin e Yadollāhi (1969-2017)

Afshin e Yadollāhi era um médico neurologista, e um poeta, compositor


(letrista) que morreu num acidente de carro. Ele escreveu muitas letras para cantores
como Ehsan Khajeh-Amiri (1984- ) e para várias séries como Madār e sefr-daraje (O
circuito de zero grau) (2007). Ele publicou 5 livros de poemas.
Segue uma recitação deste poema oelo próprio poeta, e em seguida uma outra
cantada por Alireza Ghorbani (1973- ) cuja música foi composta por Fardin Khalatbari
(1964- ) para a série Madār e sefr-daraje:

https://www.youtube.com/watch?v=Mh3vO9kpSgw
https://www.youtube.com/watch?v=SZwoehw3ThI

Vaqti garibān e adam bā dast e xelqat midarid: Quando


o colarinho da inexistência com a mão da criação se
rasgava

Vaqti adam bā dast e xelqat Vaqti abad cašm e to rā piš az


madarid azal miāfarid
Quando o colarinho da Quando a eternidade18 antes do
inexistência com a mão da criação inicio dos tempos teu olho criava
se rasgava

Vaqti zamin nāz e to rā dar Vaqti ataš taam e to rā bā aškhā


āsemānhā mikešid yam micešid
Quando a Terra nos céus te Quando a sede com minhas
mimava lágrimas teu gosto provava

Man āšeq e cašm at šodam, na Ciz i nemidānam az in divānegi o


aql bud o na del i āqeli
Quando eu me apaixonei por teus Eu não sei nada dessa loucura ou

- Nessa frase há as palavras abad e azal. Abad significa a eternidade sem o fim, mas azal significa a
18

eternidade sem início. Aqui decidimos traduzir a primeira palavra como "eternidade" e a segunda palavra
como "o inicio dos tempos".
58

olhos, não era o juízo nem o razão


coração

Yek ān šod in āšeq-šodan donyā Ān dam ke cešmān at ma- rā az


hamān yek lahze bud omq e cešmān am robud
Num instante deu-se essa paixão, Teus olhos me roubaram da
era só aquele momento o mundo profundidade de meus olhos
naquele segundo

Vaqti ke man āšeq šodam šeytān Ādam zaminitar šod o ālam be


be nām am sojde kard ādam sojde kard
Quando eu me apaixonei, Satanás Adão se tornou mais terreal 20, e o
em meu nome se prostrou19 mundo a Adão se prostrou

Man budam o cešmān e to, na Ciz i nemidānam az in divānegi o


ātaš i o na gel i āqeli
Só éramos eu e teus olhos, não um Eu não sei nada dessa loucura ou
fogo21 e nem uma lama razão

Man āšeq e cešm at šodam šāyad Ciz i dar ān su ye yaqin šāyad


kami ham bištar ham kami hamkištar
Eu me apaixonei pelos teus olhos Alguma coisa além da certeza
talvez ainda mais talvez fiel22 um pouco mais

Āqāz o xatm e mājarā lams e Digar faqat tasvir e man dar


tamāšā ye to bud mardomakhā ye to bud
O inicio e o fim da aventura eram Apenas minha imagem existia
o toque do teu olhar nas tuas pupilas

19
- Essa frase refere-se à interpretação do Alcorão sobre a criação do primeiro humano diante de quem
Deus ordenou que todos os anjos e os gênios se prostrassem, ordem que foi desacatada por Satanás.
Então ele foi rejeitado da corte de Deus para sempre. Não obstante, o poeta diz que Satanás prostrou-se a
ele pois se apaixonara.
20
- Essa frase se refere à queda de Adão e Eva do Paraíso para o Terra.
21
- Os gênios são considerados seres originados do fogo, e Adão, da lama baseando-se em algumas
interpretações.
22
- A palavra original é hamkištar composto de ham- + kiš + -tar (o prefixo co- + culto + mais), um
neologismo adjetival significando "com o culto mais comuns".
59

Poemas no Estilo No:


Poemas Novos ou Modernos
Nimā Yushij (1897-1960): To rā man cešm dar rāh –am: Estou
te aguardando
Fereydoon Moshiri (1926-2000), Kuce: Ruela
Sohrāb Sepehri (1928-1980), Xāne ye dust kojāst?: Onde fica a
casa do amigo?
Sohrāb Sepehri (1928-1980), Vāhe i dar lahze: Um oásis no
momento
Mehdi Akhavān-Sāles (Akhavan-Sales) (1929-1990), Zemestān:
Inverno
Forough Farrokhzād (1935-1967), Tavallod i digar: Um outro
nascimento
Esmāil Khoi (1938- ), sem título
Esmāil Khoi (1938- ), sem título
Esmāil Khoi (1938- ), Dar rāh: No caminho
Hamid Mosaddegh (1940-1998), Sib: Maçã
Forough Farrokhzād (1935-1967), A resposta do poema "Maçã"
de Hamid Mosaddeq
Mohammad-Ali Sepānlou (1940-2015), Rezāyat: Satisfasão
Hossein Pahāhi (1956-2004), Cešm e man o anjir: Meu olho e o
figo
Hossein Pahāhi (1956-2004), Sokut: Silêncio
Hossein Pahāhi (1956-2004), Pist: Pisto
Hossein Pahāhi (1956-2004), Eeterāf: Confissão
Qeysar Aminpour (1959-2007), Dastur-zabān e ešq: Garmatíca
do amor
60

Nimā Yushij (1897-1960)

Nimā Yushij, cujo primeiro nome foi Ali Esfandiāri, era um poeta e pesquisador, que
ficou famoso como o fundador da Šeer e No (poesia nova) ou Šeer e Nimāyi (poesia de
Nimā), mas, recentemente, Dr. Mohammad-Rezā Shafiei Kadkani (1939- ) acusa-o de
imitar os poemas de Parviz Nātel-Khānlari (1914-1990). Ele tem alguns poemas em
tabari (māzandarāni), uma outra língua iraniana falada no norte do Irã; ele usa muitas
palavras de mazandarāni nos poemas persas.
Segue abaixo uma recitação do poema, e duas músicas baseadas nele:
https://www.youtube.com/watch?v=30kN7W9C7zc
A música cantada por Shahrām Nāzeri (1950- ):
https://www.youtube.com/watch?v=eR7AMYzwsoY
A música cantada por Hossein Ghavāmi (Fākhte) (1909-1990):
https://www.youtube.com/watch?v=yh5qlpKYHKQ

To rā man cešm dar rāh -am: Estou te esperando


To rā man cešm dar rāh -am
Estou te esperando23

Šabāhengām
À noite

Ke migirand dar šāx e "talājan" sāyehā rang e siyāh i


Quando as sombras pegam o preto no galho da flor "Talādjan24"

Va zān delxastegān at rāst andohi farāham

23
- Na frase persa, há a expressão cešm be rāh budan (literalmente: "estar com o olho na rua) que
significa "aguardar ou esperar ansiosamente".
24
- Talājan ('j' se pronuncia como [dʒ]) é uma palavra da língua mazandarāni ou tabari no norte do Irã,
que significa uma arbusto com flores parecidas de crista de galo de briga nas florestas e montanhas no
sul do Mar Cáspio. Talā significa galo e jan é a forma curta da palavra jang que significa "guerra".
Consulte:
http://tabarestan.ir/dictionary/viewName/10352- )11/2018/ 21( ‫تالجن‬.
Como foi mencionado anteriormente, Nimā usa muitas palavras de mazandarāni nos poemas persas.
61

Me entristeço por aqueles de coração cansado por ti

To rā man cešm dar rāh -am.


Estou te esperando

Šabāhengām. Dar ān dam ke bar jā darrehā con morde-mārān e


xoftegān -and
À noite, naquele instante que em que os vales, nos seus lugares,
parecem cobras-mortas adormecidas

Dar ān nobat ke bandad dast e nilufar be pā ye sarv e kuhi dām


Naquela vez em que a mão da ipomeia fecha no pé da junípero a
armadilha

Gar am yād āvari yā na


Se tu te lembras de mim ou não

Man az yād at nemikāham


Eu não diminuo as lembranças de ti

To rā man cešm dar rāh -am


Estou te aguardando
62

Fereydoon e Moshiri (1926-2000)

Fereydoon e Moshiri foi um poeta proeminente tanto de poemas clássicos


quanto modernos. Como um compositor bem entendido de música, foi um membro do
Conselho de Música e Poesia da Rádio (da Rádio e Televisão Nacionais do Irã) entre
1971 e 1978 junto com Simin Behbahani, Hushang Ebtehaj e Emad Khorasani. Ele
costumava recitar seus poemas o fazia frequentemente no exterior. Alguns poemas dele
foram traduzidos para o inglês. O seu poema mais famoso do estilo moderno (no) é
“Kuce” (a ruela), o qual fala sobre o amor. Embora esse poema seja do estilo moderno
ou no, ele é rimado.
Abaixo segue uma recitação do próprio autor:
https://www.youtube.com/watch?v=3GwM4h3OQKQ

Kuce: Ruela

Bi to mahtāb-šab i bāz az ān kuce gozaštam


Sem ti numa noite enluarada, naquele ruela eu de novo passei

Hame tan cašm šodam, xire be donbāl e to gaštam


O meu corpo em olhos transformei, fitando te procurei

Šoq e didār e to labriz šod az jām e vojud am


O anseio de te ver da taça do meu ser transbordou

Šodam ān āšeq e divāne ke budam


Aquele louco apaixonado que eu era me tornei

Dar nahānxāne ye jān am gol e yād e to deraxšid


No esconderijo da minha alma, a flor da tua lembrança brilhou

Bāq e sad xātere xandid


O jardim de cem memórias gargalhou
63

atr e sad xātere picid


O perfume de cem memórias se espalhou

Yād am āmad ke šab i bā ham az ān kuce gozaštim


Lembrei-me de uma noite em que juntos naquele ruela passamos

Par gošudim o dar ān xalvat e delxāste gaštim


Nós abrimos as asas e por aquele retiro desejado passeamos

Sāat i bar lab e ān juy nešastim


Por uma hora na beirada daquele córrego nos sentamos

To hame rāz e jahān rixte dar cāsm e siyāh at


Tu, todos os mistérios do mundo derramados nos olhos negros teus

Man hame mahv e tamāš ye negāh at


Eu, completamente absorto contemplando os olhares teus

Āsemān sāf o šab ārām


A noite calma, o céu desanuviado

Baxt xandān o zamān rām


O destino risonho e o tempo domado

Xuše ye māh foru rixte dar āb


O cacho da lua caído na água

Šāxehā dast bar āvarde be mahtāb


Os galhos ergueram as mãos ao luz da lua

Šab o sahrā o gol o sang


Noites e flores e pedras e prados

Hame del dāde be āvāz e šabāhang


Todos os corações à canção do rouxinol dados

Yād am āyad to be man gofti:


Eu me lembro que tu me disseste:

“Az in ešq hazar kon


“Este amor evita!

Lahze i cand bar in āb nazar kon


Por alguns instantes essa água assista

Āb āyine ye ešq e gozarān ast


64

A água é o espelho do amor contingente

To ke emruz negāh at be negāh i negarān ast


Tu que hoje para um outro olhar está com teu olhar impaciente

Bāš fardā ke del at bā degarān ast


Talvez seja amanhã que o teu coração estará com um diferente

Tā farāmuš koni, cand i az in šahr safar kon”


Para que esqueças, viaja desta cidade por algum tempo.”

Bā to goftam: “hazar az ešq? nadānam


Eu te disse: “Evitar o amor? Não saberia

Safar az piš e to? hargez natavānam


Viajar para longe de ti? Nunca conseguiria

Ruz e avval ke del e man be tamanā ye to par zad


No primeiro dia em que meu coração bateu asas por teu desejo

Con kabutar lab e bām e to nešastam


Como uma pomba na beira do teu telhado me sentei

To be man sang zadi, man na ramidam, na gosastam”


Tu jogaste pedras em mim, eu nem me esquivei nem me afastei

Bāz goftam ke: “to sayyād -i o man āhu ye dašt -am


“Tu és a caçadora e eu, o cervo do campo," eu ainda falei

Tā be dām e to dar oftam hame jā gaštam o gaštam


"Para cair na tua armadilha, por todos os lugares eu passei e passei

Hazar az ešq nadānam


Evitar o amor eu não saberia

Safar az piš e to hargez natavānam


Viajar para longe de ti eu nunca conseguiria

Natavānam”
Não conseguiria”

Ašk i az šāxe foru rixt


Uma lágrima do galho caiu

Morq e šab nāle ye talx i zad o bogrixt


O pássaro da noite soltou um gemido amargo e partiu
65

Ašk dar cašm e to larzid


A lágrima no teu olho tremulou

Māh bar ešq o to xandid


A lua do teu amor gargalhou

Yāda am āyad ke degar to javāb i našenidam


Lembro que respostas tuas não mais ouvi

Pāy dar dāman e anduh kešidam


Um manto de sofrimento vesti

Nagosastam, naramidam
Eu não me afastei, não me esquivei

Raft dar zolmat e qam, ān šab o šabhā ye degar ham


Foram-se na escuridão da tristeza aquela noite e outras mais

Na gerefti degar az āšeq e āzorde xabar ham


Nem notícias do apaixonado sofredor procuraste mais

Na koni digar az ān kuce gozar ham


Nem, por aquela ruela passas mais

Bi to ammā be ce hāl i man az ān kuce gozaštam


Mas sem ti em que estado não passei por ela
66

Sohrāb e Sepehri (1928-1980)

Sohrāb e Sepehri era um poeta e pintor moderno notável, tendo sido um dos
cinco poetas modernos iranianos mais famosos (incluindo Nima Yushij, Ahmad
Shamlou, Mehdi Akhavan-Sales e Forough Farrokhzad). Ele é considerado um pintor
modernista de vanguarda. Sohrab viajou para à Índia, Paquistão, Afeganistão, China,
Japão, França e Inglaterra. Conhecia bem budismo, misticismo e tradições ocidentais, e
os misturou em um estilo de poesia sem precedentes. Seus os poemas são cheios de
valores humanos e de natureza. Ele publicou 8 livros de poemas, e depois todos foram
compilados sob o título Hašt Ketāb (Oito Livros). Seus poemas foram traduzidos para
várias línguas como inglês, francês, espanhol, alemão, russo, sueco, árabe, turco e
italiano.

Abaixo seguem três canções do poema "xāne ye dust kojāst":


https://www.youtube.com/watch?v=aujV7qLn9Zg
https://www.youtube.com/watch?v=O1gu9pYw-ao
https://www.youtube.com/watch?v=ucUdawxGYPw

Xāne ye dust kojāst?: Onde fica a casa do amigo?

“Xāne ye dust kojāst?” dar falaq bud ke porsid savār


“Onde fica a casa do amigo?”, na aurora estava o caalgador que
perguntou

Āsemān maks i kard


O céu deu uma pausa

Rahgozar šāxe ye nur i ke be lab dāšt be tāriki ye šenhā baxšid


O passante doou um galho de luz que tinha nos lábios à escuridão
das areias

Va be angošt nešān dād sepidār i o goft:


Com o dedo mostrou um álamo e disse:
Poemas /67

“Nareside be deraxt,
“Antes de chegar à árvore,

Kuče-bāq i -st kea z xāb e xodā sabztar ast


Tem um caminho de jardim que é mais verde do que os sonhos de
Deus

Va dar ān ešq be andāze ye parhā ye sedāqat ābi -st


E nele, o amor do tamanho das penas da honestidade é azul

Miravi tā tah e ān kuče ke az pošt e boluq sar be dar miārad,


Você vai até a rua que leva aos fundos da maturidade,

Pas be samte e gol e tanhāyi mipici,


Depois, vira na direção da flor à solidão,

Do qadam mānde be gol,


A dois passos antes de chegar da flor

Pā ye favvāre ye jāvid e asātir e zamin mimāni


Fique diante do chafariz eterno dos mitos da Terra,

Va to rā tars i šaffāf farā migirad


E um medo transparente vai lhe envolver

Dar samimiyat e sayyāl e fazā, xešxeš i mišenavi:


Na intimidade fluida do espaço, você vai ouvir um farfalhar

Kudak i mibini
Vai ver uma criança

Rafte az kāj e boland i bālā, juje bar dārad az lāne ye nur


Que subiu no pinho alto para levar um pintinho do ninho da luz

Va az u miporsi
E vai perguntar para ela

Xāne ye dust kojāst?”


Onde fica a casa do amigo?”
68

Abaixo segue uma canção do poema "vāhe i dar lahze":


https://www.youtube.com/watch?v=_AnYRpEQip8

Vāhe i dar lahze: Um oásis no momento

Be sorāq e man agar miāyid,


Se você forem me dar uma visita

Pošt e hicestān -am.


Eu estarei nos fundos da nadalândia

Pošt e hicestān jā yi -st,


Os fundos da nadalândia é um lugar

Pošt e hicestān raghā ye havā, par e qāsedhā yi -st


Nos fundos da nadalândia, as veias do ar são penas dos dentes-de-leão

Ke xabar miārand az gol e vā-šode ye durtarin bute ye xāk


Que trazem notícias da flor desabrochada na moita mais longe da
Terra

Ru ye šenhā ham, naqšhā ye som e asbān e savārān e zarif i -st ke


sobh
Nas areias também, estão as marcas dos cascos dos cavalos dos
cavalgadores delicados que de manhã

Be sar e tappe ye meerāj e šaqāyeq raftand.


Subiram o monte da ascensão da papoula.

Pošt e hicestān catr e xāheš bāz ast:


Nos fundos da nadalândia, o guarda-chuva dos desejos está aberto:

Tā nasim ataš i dar bon e barg i bedavad,


Assim que a brisa de uma sede corre na haste de uma folha,

Range bārān be sedā miāyad,


A cor da chuva ressoa,

Ādam injā tanhā -st


Um homem aqui é solitário

Va dar in tanhāyi, sāye ye nārvan i tā abadiyat jāri -st


E nessa solidão, a sombra de um olmo flui até eternidade

Be sorāq e man agar miāyid,25


69

Se vocês forem me visitar,

Narm o āheste biyāyid, mabāda ke tarak bar dārad


Venham delicadamente e devagar, para que não se rache

Cini ye nāzok e tanhāyi ye man


A fina porcelana da minha solidão

- Essas três últimas linhas são escritas no túmulo do Sohrab, e ironicamente


25

um caminhão bateu na sepultura, quebrando-a.


70

Mehdi e Akhavan-Sales (Mim. Omid) (1929-1990)

Mehdi e Akhavan-Sales, também conhecido como Mim Omid (Mim é a primeira letra
do seu nome Mehdi que em Persa é chamada “mim”, e Omid significa esperança e
expectativa) foi um dos poetas proeminentes de Moj e No (Nova Onda) ou Šeer e Āzād
(poema livre) na poesia moderna persa. Ele começou com poesia tradicional e depois se
voltou para poesia moderna. De qualquer forma, seus poemas têm rimas internas. O
livro de poemas Zemestān (Inverno) o tornou famoso em 1956. Foi preso depois do
golpe de Estado em 1953. Mehdi conhecia música e trabalhou na Rádio e Televisão
Nacionais do Irã e também foi professor de literatura. Os seus poemas são épicos, e
geralmente é comparado com Ferdosi (935-1020), o grande poeta Persa. Seu Túmulo é
no mausoléu de Ferdosi na cidade de Tus.

Abaixo seguem uma recitação do próprio poeta: e algumas canções baseadas no poema:
https://www.youtube.com/watch?v=4sel6lAo2vs

A canção de Parvin (1950s):


https://www.youtube.com/watch?v=HSaa8xVOfpc

A canção de Sharam Nazerian, com a música de Mohammad-Reza Darvishi (1990s):


https://www.youtube.com/watch?v=p1dFvq-gZP0&list=RDp1dFvq-gZP0

A canção de Mohammad-Reza Shajarian, com a música de Hossein Alizadeh (2001; ao


vivo 2000 em Califórnia), do álbum Āzāz e Dād o Bidād de Hossein Alizadeh:
https://www.youtube.com/watch?v=HWOZYCZPND4

Zemestān: Inverno

Salām at rā nemixāhand pāsox goft


O teu olá eles não querem responder

Sarhā dar garibān ast


As cabeças se enfiam nos colarinhos
Poemas /71

Kasi sar bar nayārad kard pāsox-goftan o didār e yārān rā


Ninguém levanta a cabeça para responder e olhar aos amigos

Negah joz piš e pā rā did, natvānad


O olhar exceto diante do pé nada consegue ver

Ke rah tārik o laqzān ast


Porque a rua está escura e escorregadia

Va gar dast e mohabbat su ye kas yāzi


E se tu estendes a mão gentil para alguém

Be ekrāh āvard dast az baqal birun


Ele relutantemente descruza os braços

Ke sarmā saxt suzān ast


Porque o frio queima terrivelmente

Nafas k- az garmgāh e sine miāyad borun, abr i šavad tārik


A respiração que vem do calor do peito se transforma numa nuvem
escura

Co divār istad dar piš e cešmān at


Como um muro erguido diante dos teus olhos

Nafas k- in ast, pas digar ce dāri cašm


Com a respiração assim, o que tu esperas26 ainda

Ze cašm e dustān e dur yā nazdik?


Dos olhos dos teus amigos distantes ou íntimos?

Masihā ye javānmard e man! Ey tarsā ye pir e pirehan-cerkin


Ei meu messias clemente27! Ei cristão28 velho da roupa suja29!

Havā bas nājavānmardāne sard ast … Āy …


O ar está de um frio demasiado inclemente … Ah …

Dam at garm o sar at xoš bād


Que a tua respiração seja quente30 e a tua cabeça feliz

26
- Em persa, a palavra cašm na expressão cašm dāštan (literalmente ter olho) significa esperar, e então e
polissêmica com cašm (olho) na linha seguinte.
27
- A palavra javānmard é um adjetivo ou nome que significa uma pessoa clemente, cavalheiresca,
benevolente, honesta e justa; a tradução literal dela é jovem+homem.
28
- Geralmente naquele época, os vendedores de bebidas alcoólicas eram cristãos.
29
- Da roupa suja aqui significa que ele é piedoso e devoto e não se atém às coisas mundanas.
72

Salām am rā to pāsox guy, dar bogšāy


Responde o meu olá, abre a porta

Man -am man, mihmān e har šab at, lulivaš e maqmum


Sou eu o convidado de todas as tuas noites, sem-abrigo e desolado

Man -am man, sang e tipā-xorde ye ranjur


Sou eu uma pedra miserável chutada

Man -am, došnām e past e āfarineš, naqme ye nājur


Sou eu o insulto baixo da criação, a melodia desarmônica

Na az Rum -am, na az Zang -am, hamān biirang e birang -am


Não sou de Roma, nem de Zanzibar31, incolor e sem cor sou

Biyā bogšāy dar, bogšāy, deltang -am


Vem abrir a porta, abre, sinto o coração apertar

Harifā! Mizbānā! Mihmān e sāl o māh at pošt e dar con moj milarzad
Parceiro! Anfitrião! O teu convidado de todos os meses e anos está
tremendo como uma onda atrás da porta

Tagarg i nist, marg i nist


Não há granizo, não há morte

Sedā yi gar šenidi, sohbat e sarmā o dandān ast


Se tu ouvires uma voz, é a conversa entre o frio e os dentes

Man emšab āmadestam vām bogzāram


Hoje à noite eu vim pagar as minhas dívidas

Hesāb at rā kenār e jām bogzāram


Colocar32 minha conta ao lado da taça

Ce miguyi ke bigah šod, sahar šod, bāmdād āmad!


O que tu estás dizendo que está tarde, já é madrugada, que está
amanhecendo

Farib at midahad, bar āsemān in sorx i baad az sahargah nist


30
- Essa expressão significa eu desejo que você viva longa e saudavelmente. Antigamente, esse desejo era
dito na luta tradicional iraniana, košti ye pahlavāni ou bāstāni (luta ou wrestling heróica ou antiga).
31
- Essa frase é um provérbio e significa que ele não tem nenhum preconceito.
32
- Nessa linha e na linha anterior, tem dois verbos homofônicos, mas na escrita oficial do persa com uma
letra diferente: ‫ بگزارم‬e ‫بگذارم‬. O primeiro verbo bogzāram (1a pessoa sigular) significa cumprir
obrigações como pagar dívidas, realizar tarefa ou cumprir orações, expressar ou reportar. O segundo
verbo significa colocar ou pôr.
Poemas /73

Ele está te enganando, isso não é a vermelhidão depois da madrugada

Harfiā! Guš e sarmā-borde ast in, yādegār e sili ye sard e zemestān


ast
Parceiro! Essa é a orelha mordida pelo frio, é a lembrança do tapa do
frio do inverno

Va qandil e sepehr e tang-meydān, zende yā morde


E a tocha da esfera de campos apertados, morta ou viva

Be tābut e zolmat e setabr e noh-tu ye marg-andud, penhān ast


Está escondida no caixão da escuridão, maciço e de nove camadas,
mumificado com morte

Harifā! Ro cerāq e bāde rā befruz, šab bā ruz yeksān ast


Parceiro! Vá ligar a lâmpada do vinho, a noite com o dia são um só

Salām at rā nemixāhand pāsox goft


Eles não querem responder teu olá

Havā delgir, darhā baste, sarhā dar garibān, dasthā penhān


O ar entristecido, as portas fechadas, as cabeças no colarinho, as mãos
escondidas

Nafashā abr, delhā xaste o qamgin


As respirações nuvens, os corações cansados e tristes

Deraxtān eskelethā ye bolurājin


As árvores esqueletos cristalizados

Zamin delmorde, saqf e āsemān kutāh


A terra desalentada, o teto do céu baixo

Qobārālude mehr o māh


O Sol33 e a Lua empoeirados

Zemestān ast.
É inverno.

- Sol é comumente xoršid, mas há outras palavras também: mehr significa sol, bondade, afeição,
33

benevolência, e por fim a divindade Mitra do culto mitraísmo ou mehrparasti. Mehri é o nome do
primeiro mês do outono do calendário iraniano no hemisfério norte, de 21 do setembro até 21 do
outubro.
74

Forough e Farokhzad (1935-1967)

Forough e Farrokhzad, considerada um símbolo para mulheres modernas, era


uma poeta moderna controversa e iconoclasta, e também cineasta. Ela publicou 5
volumes de poemas, e o seu livro Tavallod i Digar (Um Outro Nascimento) composto
por 35 poemas, é um ponto de inflexão na poesia moderna. O seu documentário In
Xāne Siyāh Ast (Essa Casa é Preta) (1962) sobre lepra ganhou vários prêmios
internacionais. Forough era a irmã do poeta e compositor Fereydoun Farrokhzad (1938-
1992) e da poeta Pooran Farrokhzad (1952-2016). Ela é um dos cinco poetas modernos
iranianos mais famosos (incluindo Nima Yushij, Ahmad Shamlou, Mehdi Akhavan-
Sales e Forough Farrokhzad). em fevereiro de 1967, para evitar uma colisão com um
ônibus escolar, bateu seu carro numa árvore, falecendo. Os seus poemas foram
traduzidos para várias línguas incluindo inglês, turco, árabe, chinês, francês, espanhol,
japonês, alemão e hebraico.
Abaixo seguem duas recitações do poema pela próprio poeta:
https://www.youtube.com/watch?v=9RfqZLWFEyg
https://www.youtube.com/watch?v=woHqMVUPx88

Tavallod i digar: Um outro nascimento

Hame ye hasti ye man āyne ye tāriki -st


Todo o meu ser é um espelho da escuridão

Ke to rā dar xod tekrārkonān


Que repetidamente te levará para ti

Be sahargāh e šekoftanhā vo rostanhā ye abadi xāhad bord


Até a madrugada dos floresceres e crescimentos eternos

Man dar in āye to rā āh kešidam, āh!


Eu te suspirei neste verso, oh!
75

Man dar in āye to rā


Eu te transplantei neste verso

Be deraxt o āb o ātaš peyvand zadam


Em árvore, água e fogo

----

Zendegi šāyad
A vida talvez

Yek xiyābān e derāz -ast ke har ruz zan i bā zanbil i az ān migozarad


Seja uma rua longa em que cada dia uma mulher com uma cesta passa

Zendegi šāyad
A vida talvez

Rismān i -st ke mard i bā ān xod rā az šāxe miāvizad


Seja uma corda com a qual um homem se pendura de um galho

Zendegi šāyad tefl i -st ke az madrese bar migardad


A vida talvez seja uma criança que volta da escola

---

Zendegi šayad afruxtan e sigār i bāšad dar fāsele ye rexvatnāk e do


hamāquši34
A vida talvez seja acender um cigarro entre a distância lânguida de
duas transas

zendegi šayad obur e gij e rahgozar i bāšad


A vida talvez seja o andar tonto de um passante

Yā negāh e gij e rahgozar i bāšad


Ou o olhar tonto de um passante

Ke kolāh az sar bar midārad


Que tira o chapéu da cabeça

Va be yek rahgozar e digar bā labxand i bimaani miguyad “sobh be


xeyr”
E diz para outro que passa com um sorriso sem sentido: “Bom dia!”

Zendegi šāyad ān lahze ye masdud i st


A vida talvez seja aquele momento imóvel
34
- Essa linha numa recitação do poema pela própria poeta era censurada.
76

Ke negāh e man, dar nini ye češmān e to xod rā virān misāzad


Em que meu olhar se destrói na pupila dos teu olhos

Va dar in hess i st
E nele tem um sentimento

Ke man ān rā bā edrāk e māh o bā daryāft e zolmat xāham āmixt


Que eu misturarei com a percepção da Lua e a compreensão da
escuridão

----

Dar otāq i ke be andāze ye yek tanhāyi -st


Num quarto que é do tamanho de uma solidão

Del e man
Meu coração

Ke be andāze ye yek ešq ast


Que é do tamanho de um amor

Be bahānehā ye sāde ye xošbaxti ye xod minegarad


Assiste os simples pretextos de sua própria felicidade

Be zavāl e zibāyi ye golhā dar goldān


A decomposição linda das flores no vaso

Be nahāl i ke to dar bāqče ye xāne mān kāšte-i


A muda que tu plantaste no quintal de nossa casa

Va be āvāz e qanārihā
E a canção dos canários

Ke be andāze ye panjere mixānad


Que cantam no tamanho de uma janela

----

Āh!
Ah!

Sahm e man in ast


Esta é a minha parte

Sahm e man in ast


77

Esta é a minha parte

Sahm e man
Minha parte

Āsemān i -st ke āvixtan e parde i ān rā az man migirad


É um céu que o pendurar de uma cortina tira de mim

Sahm e man pāyin-raftan az yek pelle ye matruk ast


A minha parte é o descer de uma escada abandonada

Va be čiz i dar pusidegi o qorbat vāsel-gaštan


E o encontro com algo em decadência e isolamento

Sahm e man gardeš e hoznālud i dar bāq e xāterehā -st


A minha parte é um passeio melancólico no jardim das memórias

Va dar anduh e sedā yi jān-dādan ke be man miguyad


E o morrer na tristeza de uma voz que me diz:

“Dasthā yat rā
“De tuas mãos

Dust midāram
Eu gosto.”

----

Dasthā yam rā dar bāqče mikāram


Eu plantarei minhas mãos no quintal

Sabz xāhad šod, midānam, midānam, midānam


Verdejarão, eu sei, eu sei, seu sei

Va parastuhā dar godi ye angoštān e johari yam


E as andorinhas na cavidade dos meus dedos sujos de tinta

Toxm xāhand gozāšt


Botarão ovos

Gošvār i be do guš am miāvizam


Eu pendurarei nas minhas duas orelhas brincos

Az do gilās e sorx e hamzād


De duas rubras cerejas gêmeas
78

Va be nāxonhā yam barg e gol e kokab mičasbānam


E colarei nas minhas unhas folhas de flor dália

Kuče i hast ke dar ānjā


Existe uma ruela onde

Pesarān i ke be man āšeq budand, hanuz


Uns meninos que eram apaixonados por mim, ainda

Bā hamān muhā ye darham o gardanhā ye bārik o pāhā ye lāqar


Com aqueles mesmos cabelos desgrenhados e pescoços finos e pernas
magras

Be tabassom e maasum e doxtarak i miandišand ke yek šab u rā


Estão pensando nos sorrisos inocentes de uma garotinha que uma
noite

Bād bā xod bord


O vento levou consigo

Kuče i hast ke qalb e man ān rā


Existe uma ruela que meu coração

Az mahallehā ye kudak i yam dozdid-ast


Roubou dos bairros da minha infância

----

Safar e hajm i dar xatt e zamān


A viagem de um volume na linha do tempo

Va be hajm i xatt e xosk e zamān rā ābestan-kardan


E com um volume, o engravidar da linha seca do tempo

Hajm i az tasvir i āgāh


Um volume de uma imagem consciente

Ke ze mehmāni ye yek āyne bar migardad


Que volta da festa de um espelho

Va bedin sān ast


E é assim

Ke kasi mimirad
Que alguém morre
79

Va kasi mimānad
E alguém fica

----

Hič sayyād i dar juy e haqir i ke be godāl mirizad morvārid i seyd


naxāhad kard
Nenhum caçador caçará numa pequena corrente que derrama sobre
um buraco uma pérola

Man
Eu

Pari ye kučak e qamgin i rā


Uma pequena fada triste

Mišenāsam ke dar oqiyānus i maskan dārad


Que tem uma casa num oceano conheço

Va del aš rā dar yek neylabak e čubin


E numa flauta de madeira

Minavāzad ārām-ārām
Toca seu coração devagarinho

Pari ye kučak e qamgin i


Uma pequena fada triste

Ke šab az yek buse mimirad


Que à noite morre de um beijo

Va saargāh az yek buse be donyā xāhad āmad


E na madrugada nascerá de um beijo
80/ Antologia de Poemas Persas Contemporâneos

Esmāil e Khoi (1938- )

(Sem título)
Dišab ke āsemān rā nušidam
Ontem à noite quando bebi o céu

Fals e setāre
As escamas da estrela

Dar zehn am
Na minha mente

Mānd
Ficaram
Tā bāmdād
Até madrugada

Anbuh e vāžehā yam barq mizad


Um monte de minhas palavras brilhava

Va māh
E a Lua

Dar galugāh am
Na minha garganta

Mixānd
Cantava.
Poemas /81

(Sem título)
Yek panjere -st šāer
É uma janela o poeta

Šāer kasi -st ke miporsad


O poeta é quem pergunta

Va saxt mitarsad
E teme duramente

Va az hamin ru -st
E é neste jeito

Ke ru be āftāb
Que em frente ao Sol

Minešinad:
Se senta:

Va har ce hast,
E tudo o que existe

Hatā,
Até mesmo

Ān maxmal e siyāh e asir


Aquele veludo preto cativo

Bāzice i be dast e rangraz e āftāb mibinad:


Ele vê como um peão na mão do tintureiro Sol

Va, be mesl e āftāb-parast i hošyār,


E como um camaleão35 vigilante,

Dar maxmal e siyāh i šab hal mišavad:


Se dissolve no veludo da escuridão da noite:

Yaani ke, dar sepide-dam e farjām,


Isto é, na aurora do desfecho

Be āftāb badal mišavad


Se transforma no Sol.

35
- Em persa, camaleão é literalmente "adorador do Sol".
82

Dar rāh: No caminho


Ān ce man mibinam
O que eu vejo

Māndan e daryā -st,


É o permanencer do mar

Rostan o az no rostan e bāq ast,


É o nascer e o renascer do jardim,

Koštan e šab be su ye ruz ast,


É o assassinato da noite na direção do dia,

Gozarā-budan e moj o gol o šabnam nist.


Não é a efemeridade da onda, da flor e do orvalho.

Garce mā migozarim,
Embora nós passemos,

Rāh mimānad.
O caminho permanene.

Qam nist.
Não há tristeza.
83

Hamid e Mosadegh (1940-1998)

Hamid e Mosadegh foi um poeta e escritor cujos poemas são simples e sinceros. Atuou
também como advogado geralmente ajudou autores e artistas.

Abaixo seguem as recitações desse poema e a sua resposta:


https://www.youtube.com/watch?v=5qd6C2ZwyzY
https://www.youtube.com/watch?v=Xe2gVga5njk

Sib: Maçã 36

To be man xandidi o nemidānesti


Você riu para mim e não sabia

Man be ce delhore az bāqce ye hamsāye sib rā dozdidam


O quão aflito eu fiquei ao roubar a maçã do quintal do vizinho

Bāqebān az pe ye man tond david


O jardineiro correu rápido atrás de mim

Sib rā dast e to did


Ele viu a maçã na sua mão

Qazabālud be man kard negāh


Furiosamente olhou para mim

Sib e dandān-zade az dast e to oftād be xāk


A maçã mordida caiu de sua mão na terra

Va to rafti o hanuz
E você foi, e ainda

Sālhā -st ke dar guš e man ārām-ārām


Há anos que no meu ouvido devagarinho

Xeš-xeš e gām e to tekrākonān midahad āzār am


O farfalhar de seus passos repetidamente me incomoda
36
- Esse poema em algumas linhas tem rimas, métrica não-clássica.
84/ Antologia de Poemas Persas Contemporâneos

Va man andišekonān qarq e in pendār -am


E eu estou reflexivamente imerso neste pensamento:

Ke cerā xāne ye kucak e mā sib nadāst


“Por que nossa pequena casa não tinha maçã?”
85

Abaixo é a resposta de Forough Farrokhzad do poema "Maçã" de Hamid e Mosadegh.

Resposta ao poema "Sib"


Man be to xandidam
Eu ri para você

Con ke midānestam
Porque sabia

To be ce delhore az bāqce ye hamsāye sib rā dozdidi


Da sua aflição por ter roubado a maçã do quintal do vizinho

Pedar am az pey e to tond david


Meu pai correu rápido atrás de você

Va nemidānesti bāqbān e bāqce ye hamsāye


E você não sabia que o jardineiro do quintal do vizinho

Pedar e pir e man ast


Era meu velho pai

Man be to xandidam
Eu ri para você

Tā ke bā xande ye xod pāsox e ešq e to rā xālessāne bedaham


Para que com o meu sorriso eu desse sinceramente ao seu amor uma
resposta

Boqz e cešmān e to lik larze andāxt be dastān e man o


Mas o sofrimento dos seus olhos fez tremer as minhas mãos e

Sib e dandān-zade az dast e man oftād be xāk


A maçã mordida da minha mão caiu na terra

Del e man goft: “boro”


Meu coração disse: vá

Con nemixāst be xāter bespārad gerye ye talx e to rā …


Porque não queria lembrar o seu choro amargo

Va man raftam o hanuz


E eu fui, e ainda
86

Sālhā -st ke dar zehn e man ārām-ārām


Há anos que na minha mente devagarinho

Heyrat o boqz e to tekrārkonān


A sua surpresa e sofrimento repetidamente

Midahad āzār am
Me incomodam

Va man andišekonān qarq e in pendār -am


E eu estou reflexivamente imersa neste pensamento

Ke ce mišod agar bāqce ye xāne ye mā sib nadāšt


O que teria acontecido se nosso quintal não tivesse maçãs
87

Mohammad-Ali e Sepānlou (1940-2015)

Mohammad-Ali e Sepānlou era um poeta, autor, crítico literário, jornalista,


tradutor e ator, e um dos fundadores do Kānun e Nevisandegān e Irān (Centro dos
Escitores do Irã). Ele ganhou Légion d'Honneur. Sua filha, Shahrzād, é cantora.

Rezāyat: Satisfação
To sāat -i, to cerāq -i, to bastar -i, to sokut -i
Tu és hora, tu és luminária, tu és cama, tu és silêncio

Cegune mitavānam
Como posso

Ke qāyeb at bedānam
Te julgar ausente

Magar ke xofte bāši dar anduhhā yat


A menos que tu estejas adormecida nas tuas tristezas

To vāže -i, to kalām -i, to buse -i to, to salām -i


Tu és palavra, tu és fala, tu és beijo, tu és olá

Cegune mitavānam ke qāyeb at bedānam


Como posso te julgar ausente

Magar ke morde bāši dar nāmehā yat


A menos que tu estejas morta nas tuas cartas

To yādegār -i, to vasvase -i, to goftogu ye daruni


Tu és lembrança, tu és tentação, tu és diálogo interno

Cegune mitavāni ke qāyeb am bedāni


Como podes me julgar ausente

Magar ke morde bāšam man dar hāfeze at


A menos que eu esteja morto na tua memória

Bahānehā rā morur kardam


Eu revisei as desculpas
88

Gozašte rā be āftāb sepordam


Eu confiei o passado ao Sol

Be ešq e morde
O amor morto

Rezāyat dādam
Eu satisfiz

Yaani
Isto é

Hamin ke dar durdast zende -i


Apenas por tu estares viva num lugar remoto

Be sarnevešt rezāyat dādam


Eu satisfiz o destino
89

Hossein e Panāhi e Dezhkuh (1956-2004)

Hossein e Panahi foi um ator no cinema, no teatro e nas séries de TV, director de teatro,
e poeta. Ele inicialmente era um clérigo, mas abandonou os trajes e começou a dar
aulas, e depois voltou-se ao teatro. Ele tem muitos livros, sendo que o seu primeiro de
poemas foi publicado em 1997, e até agora teve 16 reimpressões, traduzido para 6
línguas. Ele publicou sues três livros de poema em audio: Salām, xodāhāfez (Olá,
Tchau), Setāre (Estrela), Rāh bā rafiq (Rua com camarada). Seus poemas geralmente
são filosóficos e céticos, e vários deles são na forma de diálogo e na linguagem falada.
Os poemas a seguir são recitados pelo poeta.

O pema é recitados pelo poeta:


https://www.youtube.com/watch?v=I03Llw1OYnU
https://drive.google.com/open?id=0B5OG8GKJxhSzQUZWZVpiMmZmUDA

O poema “cešm e man o anjir” é um diálogo com Deus, portanto esse poema é na
falada. Linguagem falada tem muitas diferenças regulares com a escrita no persa; por
exemplo, os sufixos de conjugação na terceira pessoa singular, segunda e terceira
pessoas plurais; alguns verbos mais frequentes têm formas cortas no tempo presente, e
algumas palavras são pronunciadas com mudanças fonéticas. Além disso, na fala, as
sílabas “ān” e “ām” geralmente muda para “un” e “um” respectivamente, exceto nomes
próprios e palavras não persas. Por exemplo, nesse poema, divāne, jānevar na fala
mudam para divune e junevar respectivamente. O marcador de objeto direto definido
rā muda para ro ou o (depois de consoantes), va (e) muda para o.

Cešm e man o anjir: Meu olho e o figo

Divune kiye37?
90

Quem é louco?

Āqel38 kiye?
Quem é são?

Junevar e kāmel kiye?


Quem é o animal perfeito?

Vāsete nayār, be ezzat et xomār -am


Não traga o mediador; juro pela sua dignidade39, tô em abstinência

Hosele ye hic kasi ro nadāram


Não tô afim de receber ninguém

Kofr nemigam, soāl dāram


Eu não blasfemo, tenho perguntas

Ye tereyli mahāl dāram


Eu tenho uma carreta de impossibilidades

Tāze dāre hāli -m miše čikāre -am


Já tô sacando qual é a minha função

Micarxam o micarxunam, sayāre -am!


Eu me giro e faço girar, sou um planeta

Tāze didam harf e hesāb et man -am


Já vi que eu sou o tema de suas conversas serias

Talā ye nāb et man -am


Seu ouro puro sou eu

Tāze didam ke del dāram, bastam eš


Já vi que eu tenho coração, e o fechei

Rāh didam narafte bud, raftam eš


Vi uma rua que não passada, passei nela

Javune ye naškofta ro rostam eš


Cresci o broto não florido

Virus ke bud, hāli -š nabud, hastam eš


Era um vírus que não sacava, eu sou ele
37
- Kist (ke ast) na escrita.
38
- Āqel significa “sábio”, e aqui, contrário a divāne, significa “são”.
39
- Na fala do persa há muitas juras, especialmente “por Deus”, “pela sua alma”.
91

Javāb e zende-budan am marg nabud;


A resposta do meu ser vivo não era a morte;

June šomā bud?


Era? Pela sua alma?

Mordan e man mordan e yek barg nabud;


Minha morte não era a morte de uma folha;

To ro be xodā bud?
Por Deus, era?

Un hame afsāne o afsun vel eš?


Todas as lendas e encantos, deixe pra lá?

In del e porxun vel eš?


Esse coração aflito, deixe pra lá?

Delhore ye gom-kardan e godār e Mārun vel eš?


A ansiedade da perda da passagem de Mārun 40, deixe pra lá?

Tamāšā ye parandehā bālā ye Kārun vel eš?


Ficar observando os pássaros sobre Kārun41, deixe pra lá?

Xiyābunā, sut-zadanā, šap-šap e bārun vel eš?


Ruas, assobios, o chiar da chuva, deixe pra lá?

Divune kiye?
Quem é louco?

Āqel kiye?
Quem é são?

Junevar e kāmel kiye?


Quem é o animal perfeito?

Gofti biyā zendegi xeyli zibā -st;


Você disse venha que a vida é muito bonita;

Dovidam42!
Eu corri!

40
- Mārun é um rio no sudoeste do Irã que passa através das montanhas de Zāgros.
41
- Kārun é o mais longo e maior rio no Irá no sudoeste.
42
- A forma normal do verbo é davidam, mas essa pronunciação é coloquial.
92

Cešm ferestādi barām tā bebinam;


Você me mandou os olhos pra que eu visse;

Ke didam!
E vi!

Porsidam in ātiš-bāzi tu āsemun maanā -š ciye?


Eu perguntei desses fogos no céu qual é o sentido?

Kenār e in jub e ravun maanā -š ciye?


Ao lado desse córrego fluindo qual é o sentido?

In hame rāz, in hame ramz


Todos esses mistérios, todos esses códigos

In hame serr o asrār moammā -st?


Todos os enigmas são charadas?

Āvordi herun am koni ke ci beše?


Você me trouxe pra me deixar perplexo pra que?

Na vāllā!
Por Deus não é!?

Māt o parišun am koni ke ci beše?


Pra me deixar pasmo e agitado pra que?

Na bellā!
Por Deus não é!?

Parišun et nabudam?
Eu não tava agitado por você?

Man heyrun et nabudam?


Eu não tava perplexo por você?

Tāze dāštam mifahmidam ke fahm e man ceqadr kam -e


Eu já tava entendendo o quão baixo meu entendimento era

Atom tu donyā ye xodeš harif e sad tā Rostam e


E o átomo no mundo dele é um oponente de cem Rostans 43

- Rostam é um dos mais famosos heróis míticos iranianos, é o mais forte e o mais poderoso. Ferdosi
43

(935-1020), um dos primeiros poetas do persa moderno e o autor de Šāhnāme, o mais longo poema épico
no mundo. Rostam é o pai do Sohrāb cuja história está escrita brevemente no poema "hālā cerā?" de
Shahriār.
93

Gofti beband cešmā -t o vaqt e raftan -e


Você disse feche seus olhos porque é tempo de partir

Anjir mixād donyā biyād,


E porque o figo queria vir ao mundo,

Āhan o fosfor eš kam -e


Seu ferro e fósforo eram poucos.

Cešmā ye man āhan e zanjir šodan


Meus olhos se tornaram o ferro de uma corrente

Halqe i az halqe ye zanjir šodan …


Eles se tornaram pedaços da corrente 44

Amu zanjirbāf, zanjir et o benāzam


Amu zanjir-bāf45! eu gabo de suas correntes

Cešm e man o anjir et o benāzam …


Me gabo dos meus olhos e do seu figo

Divune kiye?
Quem é louco?

Āqel kiye?
Quem é são?

Junevar e kāmel kiye?


Quem é o animal perfeito?

Kiye?
Quem é?

- Como o ciclo da vida.


44

- Amu significa tio (exatamente o irmão do pai), e zanjir-bāf significa alguma pessoa que tece ou faz
45

correntes. Amu zanjir-bāf é o nome de um jogo para crianças como “ciranda”, mas no Irã as crianças
cantam um poema e chamam Amu zanjir-bāf. Nesse contexto, Amu zanjir-bāf pode significa Deus.
94/ Antologia de Poemas Persas Contemporâneos

O pema é recitado pelo poeta:


https://drive.google.com/open?id=0B5OG8GKJxhSzY2pLTEl6djI0X00

Sokut: Silêncio
Ce mehmānān e bidardesar i hastand mordegān
Que convidados despreocupantes os mortos são

Na be dast i zarf i rā cerk mikonand


Não sujam pratos com as suas mãos

Na be harf i del i rā ālude


Nem mancham corações com as suas palavras

Tanhā be šam’ i qāne -and


Ficam satisfeitos com só uma vela

O andaki sokut …
E um pouco de silêncio …
Poemas /95

O poema é recitado pelo poeta:


https://drive.google.com/open?id=0B5OG8GKJxhSzdDBZdGlqLWpUTGM

Pist: Pista
Miz i barāye kār
Uma mesa para o trabalho

Kār i barāye taxt


Um trabalho para a cama

Taxt i barāye xāb


Uma cama para o sono

Xāb i barāye jān


Um sono para a alma

Jān i barāye marg


Uma alma para a morte

Marg i barāye yād


Uma morte para a memória

Yād i barāye sang


Uma memória para a pedra

In bud zendegi?
Essa era a vida?
96/ Antologia de Poemas Persas Contemporâneos

O pema é recitado pelo poeta:


https://drive.google.com/open?id=0B5OG8GKJxhSzWEtETXRrSFJaMlU

Eeterāf: Confissão

Man zendegi rā dust dāram vali


Eu gosto da vida, mas

Az zendegi ye dobāre mitarsam!


Temo uma segunda vida

Din rā dust dāram vali


Eu gosto da religião, mas

Az kešišhā mitarsam!
Temo os cleros

Qānun rā dust dāram vali


Eu gosto da lei, mas

Az pāsbānhā mitarsam!
Temo os policiais

Ešq rā dust dāram vali


Eu gosto do amor, mas

Az zanhā mitarsam!
Temo as mulheres

Kudakān rā dust dāram vali


Eu gosto das crianças, mas

Ze āyne mitarsam
Temo o espelho

Salām rā dust dāram vali


Eu gosto do olá, mas

Az zabān am mitarsam
Temo minha língua

Man mitarsam
Eu temo

Pas hastam
Poemas /97

Logo existo

Incenin migozarad ruz o ruzegār e man!


Assim passa meu dia e meus dias!

Man ruz rā dust dāram


Eu gosto do dia

Vali az ruzgār mitarsam


Mas temo os dias
98

Qeysar Aminpour (1959-2007)

Qeysar (Kaiser) Aminpour é considerado um dos fundadores da poesia persa pós-


revolucionária. Ele escrevia poemas modernos e poemas clássicos do-beyti e qazal
(gazal). Ele ganhou o prêmio Nimā Yushij em 1989 por seus poemas modernos. Ele foi
aceito como membro da Academia Iraniana de Língua e Literatura Persa em 2003. Sua
tese de doutorado, sob a supervisão do Dr. Mohammad-Rezā Shafiei-Kadkani (um
poeta famoso) foi publicada em 2004 como Tradição e Inovação na Poesia
Contemporânea.

Dastur-zabān e ešq: Gramática do amor

Ān ke dastur-zabān e ešq rā
Aquele que, a gramática do amor

Bi gozāre dar nahād e mā nahād


Pôs em nossos sujeitos46, sem predicados,

Xub midānest tiq e tiz rā


Sabia bem que não se deve colocar

Dar kaf e mast i nebāyest dād


Uma lâmina afiada na palma de um bêbado

- Nahād tem três sentidos. O primeiro nahād significa "sujeito" da oração e ao mesmo tempo "natureza"
46

do indivíduo. Essa palavra é homofônico com a forma de terceira pessoa singular do tempo passado do
indicativo do verbo nahādan (pôr, colocar).
99

Poemas no Estilo Sepid (Branco)


ou Āzād (Livre)
Ahmad Shāmlou (1925-2000), Mi'ād: Encontro
Bizhan Jalāli (1927-2000), Ce daryāce i: Que lago
Yadollāh Royāee (1932- ), Sang e šād: A pedra feliz
Yadollāh Royāee (1932- ), Tamām e harf: Todas as palavras
Yadollāh Royāee (1932- ), Royā: Sonho
Shams Langeroodi (Shams Langeroodi) (1950- ), sem título
Shams Langeroodi (Shams Langeroodi) (1950- ), Harf at rā: Com as suas
palavras
Shams Langeroodi (1950- ), sem título
Shams Langeroodi (Shams Langeroodi) (1950- ), sem título
Shams Langeroodi (Shams Langeroodi) (1950- ), sem título
Shams Langeroodi (Shams Langeroodi) (1950- ), sem título
Shams Langeroodi (Shams Langeroodi) (1950- ), sem título
Shams Langeroodi (Shams Langeroodi) (1950- ), sem título
Ali Sālehi (1955- ), Hāl e hame ye mā xub ast, amā to bāvar nakon: Todos
nós estamos bem, mas não acredite
Qeysar Aminpour (1959-2007), Hasrat e hamišegi: O arrependimento de
sempre
Qeysar Aminpour (1959-2007), Qāf: Qaf
Qeysar Aminpour (1959-2007), Tarh i barāye solh: Um projeto para paz
100

Ahmad e Shāmlou (1925-2000)

Ahmad e Shāmlou era um poeta com o pseudônimo A. Bāmdād (A. Madrugada),


letrista e escritor de histórias para adultos e crianças, jornalista, dramaturgo e tradutor.
Ele traduziu poemas do francês para o persa, e seus poemas foram traduzidos para
várias línguas sobretudo o francês. Ele é um dos principais fundadores da poesia livre
ou "branca" (šeer e sepid), e por isso é considerado por alguns o mais importante poeta
da poesia moderna persa. Um de seus características é a formatação de substantivos
compostos, longos e singulares de palavras concretas e abstractas. Ele publicou muitos
livros incluindo 13 volumes sob o título Ketāb e Kuce (O Livro das Ruas) sobre as
expressões folclóricas, ditados e provérbios persas. Ahmad Shāmlu era contrario ao
governo Pahlavi e posteriormente à Republica Islâmica, pois era um nacionalista. Ele
foi preso duas vezes, uma vez depois da Segunda Guerra Mundial e a outra vez depois
do golpe de estado de 1953. Ele ganhou prêmios como o Prêmio Forough Farrokhzad
em 1973, o Prêmio Liberdade de Expressão em 1990, o prêmio Stig Dagermanpriset na
Suécia em 1999, e Free Word Award em 2000. Seguem o site oficial de Ahmad
Shamlou:
http://shamlou.org.

Mi'ād: Encontro
Dar farāsu ye marzhā ye tan at to rā dust midāram.
Além das fronteiras do teu corpo, eu te amo

Āynehā o šabparehā ye moštāq rā be man bede


Os espelhos e as mariposas sôfregas me dá

Rošani o šarāb rā
A claridade e o vinho

Āsemān e boland o kamān e gošāde ye pol


O céu alto e o arco largo da ponte
Poemas /101

Parandehā o qosoqazah rā be man bede


Os pássaros e o arco-íris me dá

Va rāh e āxarin rā
E o último caminho

Dar parde47 i ke mizani mokarrar kon.


A melodia que tocas repita

Dar farāsu ye marzhā ye tan am


Além das fronteira do meu corpo

To rā dust midāram.
Te amo

Dar ān durdast e ba'id48


Naquele remoto49 distante

Ke resālat e andāmhā pāyān mipazirad


Onde a missão dos órgãos se termina

Va šo'le o šur e tapešhā o xāhešhā


E a flama e a paixão e a pulsação e os pedidos

Be tamāmi
Por completo

Foru minešinad
Se assentam

Va har maanā qāleb e lafz rā vā migozārad


E cada sentido deixa o molde da expressão

Cenān con ruh i


É como um espírito

47
- Parde em persa significa 1- cortina, 2- tom (música), 3- maqām ou uma coleção de melodias
(naqmehā) com intervalos (fāselehā ou gāmhā) definidos.
48
- Ba'id em persa significa "longe" e "improvável".
49
- Durdast em persa significa um "lugar remoto", mas em português o adjetivo "remoto" é usado como
um substantivo.
102

Ke jasad rā dar pāyān e safar


Que abandona o cadáver no fim da viagem,

Tā be hojum e karkashā ye pāyān aš vā nahad …


À véspera da invasão dos abutres no seu término …

Dar farāsu ye ešq


Além do amor

To rā dust midāram.
Te amo

Dar farāsu ye parde o rang..


Além das melodias50 e dos tons51

Dar farāsu ye peykarhā yemān


Além dos nossos talhes

Bā man vaade ye didār i bede.


Me dá uma promessa de que me visitaras

50
- Parde, como foi mencionado anteriormente, significa principalmente "cortina", mas na terminologia
musical tem sentido de melodias específicas como nesse poema.
51
- Rang em persa primeiramente significa mais comumente"cor", mas na terminologia musical implica
tom.
/103

Bijan e Jalali (1927-2000)

Bijan (Bižan) e Jalāli era um poeta moderno que escrevia simples mas profundamente,
especialmente sobre os conceitos da morte e da inexistência. O mais importante livro
de poemas dele é Rozanehā (Diários).

Ce daryāce i: Que lago

Ce daryāce i bud
Que lago era

Negāh at
Teu olhar

Va man nemidānestam tā kojāhā


E eu não sabia até quais lugares

Hamrāh e xande at
Junto ao teu riso

Dar ān pāru xāham zad


Eu remaria nele
104

Yadollāh e Royaee (1932- )

Yadollāh e Royaee é um poeta moderno da Nova Onda de Imaginaçao da poesia Persa.

Sang e šād: A pedra feliz


Hamiše ān ke miravad kam i az mā rā
Sempre que alguém vai, um pouco de nós

Bā xiš mibarad.
Leva consigo

Kam i az xod rā, zāyer!


Um pouco de você, peregrino!

Bā man begozār.
Deixe comigo.
Poemas /105

Tamām e harf …: Todas as palavras


Tamām e harf
Todas as palavras

Bar sar e harf i ast


São sobre uma palavra

Ke az goftan e ān ājez -im


Da qual somos incapazes de falar sobre
106

Royā: Sonho 52

Man bogzaram agar to bemāni


Eu passarei se você permanecer

Az māndan e to migozaram
Pela sua permanência eu passarei

To dar gozaštan e man benšin


Na minha passagem sente-se

Tā az xiyāl bogzaram
Até que eu passe pelo sonho

Ey yāl
Ei crina53!

Ey xiyāl bar šānehā ye man!


Ei sonho nos meus ombros!

52
- Esse poema em geral mostra palavras homofónicas, homónimas,
polissêmicas, e as palavras cognatas como bogzaram, migozaram, gozaštan,
e bemāni e māndan.
53
- Em persa, crima (yāl) e sonho (xiyāl) rimam.
107

Shams Langeroodi (1950- )

Shams Langeroodi é um poeta, autor, pesquisador, romancista, ator, e professor de artes


e literatura. Em 2002, ele era um ativista politico antes e depois da Revolução. Shams
ganhou o prémio da fundação do Bizhan Jalāli pela sua pesquisa de quarto volumes
tārix e tahlili ye šeer e no: 1905-1979 (A história analítica da poesia moderna) em
1998. Ele foi nomeado para Festival (Internacional de Cinema) de Fajr, uma
organização governamental em 2014, mas recusou.

(Sem título)
Mixāham dobāre be donyā biyāyam
Eu quero vir ao mundo de novo

Birun e dar, to montazer am bude bāši


Você estaria me esperando fora da porta

Va bi ān ke kasi befahmad
E sem que ninguém entendesse

Jā ye bidāri o xāb rā
Os lugares de dormir e acordar

Be rasm e xodemān dar ārim


Trocaríamos à nossa maneira

Ce bud bidāri
O que era estar acordado

Ke zendegi aš nām karde budand?


Que o tinham chamado de vida?

Harf at rā: Com as suas palavras


Harf at rā
Com as suas palavras

Bar xodam mikešam o garm mišavam


Eu me cubro e me aqueço
108/ Antologia de Poemas Persas Contemporâneos

Yaxbandān cenān ast


É uma geada tal

Ke do panguan dar man rāh miravand


Que dois pinguins andam dentro de mim

Va sepās miguyand.
E me agradecem

Ciz e bad i nist jang


Não é uma coisa ruim a guerra

Šekast mixoram
Eu perco

Ešqāl am mikoni
Você me ocupa
109

(Sem título)

Tamāmi ye ruzhā yek ruz -and


Todos os dias são um dia

Teke-teke
Fragmentado

Miyān šab i bipāyān


Entre uma noite infinita
110

(Sem título)

Kāš
Se ao menos

Nabz at rā migereftam o montašer mikardam


Eu tirasse seu pulso e o espalhasse

Tā donyā
Para que o mundo

Be hāl e tabii yaš bar gardad …


Voltasse para o seu estado natural …
111

(Sem título)
Sar miravam az xiš
Eu me transbordo

Az guše-guše foru mirizam


Me derramo para todos os lados

Va atr e to
E seu perfume

Rosvā yam mikonad.


Me escandaliza
112

(Sem título)

Āxar be ce dard mixorad


Afinal, para que serve

Āftāb e esfand
A luz do sol de Esfand54

In ke jā ye pā ye to rā
Se as suas pegadas

Āb karde ast
Ele derrete

Sem título

Sut bezanid
Assobiem

Hamān ke sar az sangar birun mikešad


Aquele que levanta a cabeça para fora da trincheira

Dust e mā -st
É nosso amigo;

Hamān ke šomā u rā mikošid.


Aquele mesmo que vocês matam.

Ey akshā ye man be ce dard mixorid


Ei fotos minhas! Para o que vocês servem?

Az mā kodām yek āšeqtar ast


Qual de nós é o mais apaixonado?

U ke be xāter e yek sut morde ast


Aquele que morreu por um assobio

- Esfand ou Espand é o último mês do ano no calendário persa e também o último do inverno no
54

hemisfério norte em que a neve derrete; corresponde a mais ou menos de 21 do fevereiro até 21 de
março.
113

Yā man ke be xāter e u mimiram.


Ou eu que morro por ele?

Ey akshā ye tamām-qad
Ei fotos de corpo inteiro!

Šomā az man yādegār -id


Vocês são as lembranças de mim,

Yā man yādegār e šomā -yam


Ou eu sou a lembrança de vocês?

Dāram pir mišavam


Eu estou ficando velho

Dāram pir mišavam


Eu estou ficando velho

Rafiq e marā az ruye zamin bar dārid


Levantem o meu camarada do chão

Akshā ye man
Fotos minhas!
114

(Sem título)

Man nāzbāleš e kucak i az soāl -am


Eu sou uma pequena almofada de perguntas

Del am mixāhad
Eu quero

Sar bogzāri bar sine ye man


Que você ponha sua cabeça no meu peito

Beguyi
E diga

Ce parande i -st
Que pássaro é

Ke be jā ye man
Que no meu lugar

Dar havā ye to āvāz mixānad.


Está cantando pelo ar de sua graça55

- A expressão dar havā ye kasi (no ar de alguém) figurativamente significa "em desejo de alguém", mas
55

aqui decidimos usar a expressão brasileira "pelo ar de sua graça".


115

Ali Salehi (1955- )

Ali Sālehi é um poeta, autor e o fundador da tendência poética da "moj e nāb" (onda
pura) em 1974-1975 junto com Manuchehr Ātashi (1931-2005) e Nosrat Rahmāni
(1928-2000); e também da šeer e goftār (poema da fala) em 1984 na poesia moderna
persa com a intenção de simplificar a linguagem dos poemas, se baseado nas gāthās do
Avestā. Ele era um dos editores principias do Kānun e Nevisandegān e Irān (O Centro
dos Escritores Iranianos). Em 1977, ele ganhou o prêmio de Forough Farokhzad. Ele
era um ativista cultural e político, e passou por dificuldades. Seus poemas são
traduzidos para francês, alemão, árabe, inglês, armênio, russo e curdo.

Segue uma recitação do poema "hāl e hame ye mā xub ast ammā to bāvar nakon" por
Khosrow Shakibai (1944-2008), o ator famoso iraniano:
https://www.youtube.com/watch?v=cvTFhxpoKYc

Hāl e hame ye mā xub ast ammā to bāvar nakon: Todos


nós estamos bem, mas ei! Não acredite
Salām!
Olá!

Hāl e hame ye mā xub ast


Todos nós estamos bem

Malāl i nist joz56 gom-šodan e gāh-be-gāh e xiyāl i dur,


Não tem desânimo, exceto o se perder ocasional numa imaginação
distante,

Ke mardom be ān šādmāni ye bisabab miguyand


Que o povo chama de felicidade sem motivo

Bā in hame omr i agar bāqi bud

56
- A primeira metade desse verso é uma forma comum nas cartas persas.
116

Com tudo isso, se a vida ficar

Tor i az kenār e zendegi migozaram


Eu passarei do lado dela de tal maneira

Ke na zānu ye āhu ye bijoft belarzad va


Que o joelho de uma gazela sem par não tremerá

Na in del e nāmāndegār e bidarmān!


Nem este coração fugaz e intratável

Tā yād am narafte ast benevisam


Antes que eu esqueça, devo escrever

Havāli ye xābhā ye mā sāl e porbārān i bud


O arredor dos nossos sonos era um ano chuvoso

Midānam hamiše hayāt e ānjā por az havā ye tāze ye bāznayāmadan


ast
Eu sei sempre que o pátio dali é cheio do ar fresco do não retorno

Ammā to lāaqal, hatā har vahle, gāhi, har-az-gāhi


Mas pelo menos, veja, mesmo em cada momento, às vezes, algumas
vezes

Bebin enekās e tabassom e royā


Que o reflexo do sorriso do sonho

Šabih e šamāyel e šaqāyeq nist!


Não se parece com o ícone da papoula57!

Rāsti xabar at bedaham


Aliás, eu te informo

Xāb dideam xāne i xarideam


Eu sonhei que eu comprava uma casa

Bi parde, bi panjere, bi dar, bi divār … Hey bexand!


Sem cortina, sem janela, sem porta, sem parede … Fique rindo!

Biparde beguyam at
Com as cortinas abertas eu te digo

Ciz i namānde ast, man cehel-sāle xāham šod

57
- Papoula é uma flor simbólica do amor e do martírio.
117

Não durou muito tempo, eu já vou fazer quarenta anos

Fardā rā be fāl e nik xāham gereft


Eu considerarei amanhã como um bom agouro

Dārad hamin lahze


Está neste momento

Yek foj kabutar e sepid


Um bando de pombinhas brancas

Az farāz e kuce ye mā migozarad


Passando por cima da nossa rua

Bād bu ye nāmhā ye kasān e man midahad


O vento espalha o cheiro dos nomes da minha gente

Yād at miāyad rafte budi


Lembra que você havia saído

Xabar az ārāmeš e āsemān biyāvari!?


Para trazer notícias de tranquilidade do céu?!

Na Reyrā jān
Não, Reyrāzinha58

Nāme am bāyad kutāh bāšad


Minha carta tem que ser curta

Sāde bāšad
Ser simples

Bi harf i az ebhām o āyne,


Sem uma palavra de ambigüidade ou de espelho

Az no barā yat minevisam


De novo eu escrevo para você

Hāl e hame ye mā xub ast


Todos nós estamos bem

Ammā to bāvar nakon!


Mas, ei! Não acredite!

58
- Reyrā é o nome de uma moça nos poemas de Ali Sālehi que representa a sua amada.
118

Hasrat e hamišegi: O arrependimento de sempre

Harfhā ye mā hanuz nātamām…


Nossas palavras ainda incompletas …

Tā negāh mikoni:
Até que você olhe:

Vaqt e raftan ast


É tempo de partir.

Bāz ham hamān hekāyat e hamišegi


De novo a mesma história de sempre

Piš az ān ke bāxabar šavi


Antes de você perceba

Lahze ye azimat e to nāgozir mišavad


Seu momento de partir se torna inevitável

Āy! ...
Oh! …

Ey dariq o hasrat e hamišegi


É o lamento e o arrependimento de sempre!

Nāgahān
De repente

Ceqadr zud
Tão cedo

Dir mišavad
É tarde.
119

Qāf : Qaf
59

Va qāf harf e āxar e ešq ast


Qāf é a última letra em amor

Ānjā ke nām e kucak e man


Onde meu nome

Āqāz mišavad
Começa

- Qāf (‫ )قاف‬é o nome da uma letra do alfabeto Persa. O nome do poeta inicia com a letra qāf e a palavra
59

ešq (‫عشق‬/ amor) finaliza com qāf também.


120

Tarh i barāye solh: Um projeto para paz

Šahid i ke bar xāk mixoft


Um mártir que dormia no chão

Sarangošt dar xun e xod mizad o minevešt:


A ponta do dedo molhava no seu próprio sangue e escrevia:

Be omid e piruzi ye vāqei


Com esperança de uma vitória de verdade

Na dar jang!
Não à Guerra

Ke bar jāng!
Mas contra a guerra
121

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