Explorar E-books
Categorias
Explorar Audiolivros
Categorias
Explorar Revistas
Categorias
Explorar Documentos
Categorias
Psicanálise
Eliane Nascimento
Introdução
Sigmund Freud (1975i) aponta ser essa etapa semelhante a um novo momento do
despertar das pulsões 2 pelo real biológico, pela premência da sexualidade no
jovem. A fase da adolescência vai reativar os fantasmas que se instalaram no
início da vida a partir das primeiras relações de objetos, como Freud (1975e)
explica no seu texto "Projeto para uma Psicologia científica", apresentando as
primeiras relações de objeto do bebê com sua mãe. No período de latência, essas
relações deixaram marcas que permaneceram ocultas, vindo à tona na
adolescência. Fantasmas arcaicos são reativados e pensamos que podem ser
remontados à fase anterior ao Estádio do Espelho, proposto por Jacques
Lacan (1978), poiso que está em jogo é o corpo, porém, corpo enquanto imagem.
No terceiro e último momento, nem a mãe, nem o pai, nem mais o filho
podem representar o falo, pois estão submetidos à castração, e portanto, à lei de
interdição do incesto. Estão em uma linguagem e na cultura. É o que Lacan
(1999) vai chamar de "instalação da metáfora paterna”4 e "Nome do Pai”.
A partir dos estudos desenvolvidos por Freud (1974) sobre a histeria, foi
possível entender formas de linguagem expressas pelo corpo, de maneira
radicalmente nova, através das conversões sintomáticas das pacientes. O
corpo, assim compreendido, também é um meio de expressão de conflitos
sintomáticos e de distúrbios, e pode estar sendo utilizado como metaforização,
ser decodificado e o seu sentido entrar no circuito da linguagem, apontando para
a verdadeira etiologia dos sintomas. Para os adolescentes, é de fundamental
importância uma abordagem que privilegie uma nova visão do corpo, não
somente junto a pacientes histéricas, mas também na passagem adolescente.
Destacamos a contribuição trazida por Freud (1975i) em seu texto Três ensaios
sobre a teoria da sexualidade, quando aponta, decorrente de uma percepção
absolutamente nova, o corpo pulsional, sexual e libidinal, onde são investidas as
pulsões, propondo uma abordagem que privilegia um novo mapeamento da
sexualidade desse corpo.
Mas como o adolescente percebe seu corpo? Qual imagem tem dele? A fase da
puberdade/adolescência, conforme observamos, é marcada por intensas
modificações corporais. Como essas mudanças são vividas pelo jovem e como
são vistas pelo seu grupo? O que é mesmo um corpo?
A relação de uma criança com quem quer que seja responsável por seu
cuidado proporciona-lhe uma fonte infindável de excitação sexual e de
satisfação de suas zonas erógenas. Isto é essencialmente verdadeiro, já que a
pessoa que cuida dela, que, afinal de contas, em geral é a mãe, olha-a ela
mesma com sentimentos que se originam de sua própria vida sexual: ela a
acaricia, beija-a, embala-a e muito claramente a trata como o substitutivo
de um objeto sexual completo. Uma mãe provavelmente ficaria
horrorizada se lhe fosse dito que todos os seus sinais de afeição estavam
despertando os instintos sexuais do filho e preparando-os para sua
intensidade ulterior. (FREUD, 1975i, p. 229-230)
Da releitura que faz de Freud, Lacan (1978) fala do corpo com seus orificios
e bordas e sobre a erotização da cobertura da pele, desse modo sendo observado
como um corpo pulsional, lugar e objeto de desejo e gozo. No bebê, no entanto, o
corpo é vivido como fragmentado e parcial. Para ser construído, necessita que
várias operações psíquicas se realizem. A construção se dá a partir do olhar e do
espelho — o semelhante, na relação com o agente que cuida do bebê,
normalmente a mãe. Nessa relação circulam significantes que marcam esse
corpo. Constrói-se um longo percurso até que alguém possa dizer: "meu corpo"
— o corpo próprio, para que ele seja constituído e constituinte para o sujeito.
Mas isto envolve um trabalho psíquico que não é natural, não é da ordem da
natureza; é necessário que o sujeito esteja articulado com a estrutura da
linguagem e nela estar inserido. Freud nomeou essa passagem de Complexo de
Édipo, e Lacan, de Metáfora Paterna.
3. Corpo marcado pelo real. Pela partilha sexual, pela castração e pelo
gozo Corpo dividido pela dimensão inconsciente e pulsional, que o dirigem
para o encontro com a morte. Corpo que une vida e morte, Eros e Thánatos;
é apenas uma substância que goza. É o corpo implicado nos s intomas, nos
sonhos, nos sofrimentos e na angústia. Corpo que está inscrito como falta,
frente ao falo, símbolo de uma ausência na partilha sexual.
By Luciano.