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SEIS MEZES
DE
DICTADURA
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DE JULHO A ,,,,,.DEZEMBRO
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I
Primeiros indicios de arbitrariedade
(tSffiJIS!S.&O (DE 19 DE JUDHiO)
ne,s ta ,Casa., que acha 1q,ue o Regimenfo, que a lei, (lue a -Cons-
tituição, -são pedaços, são retalhos, ,s ão farrapos de papel,
que as ,c on.veniencia-s pUlblicas, o capricho ou o m·bitrio -da
autoridade supprimem a ,s eu ta.lante.
•E ' certo 1que o mom.e nto é -d e angustia. Quem o nega ?
Qual o rbom paüiota ,que· o negou em instantes como este ?
Mas se é certo ta,:mJbem que para restabelecer a 011dem, para
reintegrar a moralidade, pa~·a observar os ,bon-s ,costumes, é
f.o.rça t.ra,nsi-gir com a lei, ca1cair o direito .e abafar a jus,t i-
ça, então, rSr. ,Presideute, pergunto, quem mais n ~v-oluciona-
rio .é nes•te momento: o po·d er constituído, ou os ,que estão de
armas na mã:o, em rS. 1Paulo, ,n a vanguarda das hostes revo-
1'ucionarirns ?
O !SIR. FRANiOIISICO PIDIXOTO - Com certeza, é o
Poder constituido.
,o IS!R. AZEVW:mO ~l[k'\. - ·S aiba-se que o atrecvtdo
soldado estacou, não ,deante -ela observação do Deputado ,que
lhe ifalou ,da magesta,de da .Constituição, d:a.s leis, dos ,decre-
tos e de quejanclas cousas, mas em face ,da resolução do re-
presentante -Cari,oca. rque lhe -f ez ver que aos po.liciaes irreve-
rentes se ,costtuma ~ppôr. o, direito da fo,rça. e a.cima do a1~bi-
trio, -ela ígnoraucia e da curioskla.de ma,lsãs se co.lloca o a.r-
gmneuto rierifurante da .pistola do Deputa-do. (rRiso).
Não fosse essa pistola, . ,que ,t anto mexe com os n ervos
dos co'llega,s·; n ão fosse essa. arma, que irrita o animo .d,o,s
que sé presumem -calmos , e a esta hora não sei que
seria da a.utori-da•de, da dignidade, ,do respeito que de·vem ser
inherentes. ao r epresentan te da Nação. O de que faço que-stão
é não crer que a ob&tinação elo, salda.do seja a. imagem da.
1
Patria. ·
Nilo ,é po,ssivel que conotiniuemos, indefinidamente, a ap-
pellar para o poder das armas. Foi justamente para ,que ,n ão
proseguis,s e ,ess,e estado ·d e perturbaçilo ela: 01:dem que· conce-
demos ao Go,v erno pod·e.res, ,excepci-onaes, ,que estamos em
vesperas ·rle ampliar, votaniclo uma lei ele eme,r gencia. ,e d,e ex-
cepção para q11e se proces·s('.m em termos rigorosos os ·s edi-
ciosos militares. Ma-s não é pos,s-ivel que, ·sem pr.ote-sto, sem
Que -se !l evante uma. :vo1z ao ,menos, penetrem insidiosamente
nos -costumes da minha terra ,e ,s e constituam ,so1her.anos e ha-
bitua,es os pruri-dos ,d e Oll}primir, de Iui,m1lha1:, de achin1ca.-
lhr11: .a 1·epresentaG~o na_ci~nal. _ . , \\\, \J,.: f, ., 'i
A Cam,a.,i·a esta ass1stw1d,o a ,con~ummaçao -&e v-a~·10s •at-
fon ta,clos ,c ontra a J.füer-éla'Cle e o 1üteito. O estado de sitio
,1r,bitrario c'l andestino no ílyio ,G rande qo rS ul; 9 prova.vei
12 - SEIS M:EZES DE DICTADURA
.ll
LII
.tlZE:VEDO LIMA - 23 -
IV
(SESS1IO DE S DE AGOS'rO)
nJi n ha$ -asse yera ções, a·s a.speras expressões com que fulminei
..a pretenção ele c-avalheiros sem escrupulos, deviam trazer á
tri b1ma cita Camarn, nãio só a pnl:avra ele ordem elo leader•
.:;m as a in-cla a do honrado Relat or do orçamento da Justi-
ç a. a quem, afim de remover respons abilidades, cum-
pria ex hibil' ú Ca-mam -o o termos do c-onti,ac-to cuja,.,;; clausu-
la-s e.1,am c-0nh ecida.s vagamente, de oitiva , ma.s cujo esc<andalo
já m e havia sido revelMlo por informações fW.e.clignas. Não
·ob,:tant.e t.od.a a ímportancia e gravi-tlacle do all ega-rlo, o Re-
1a,tor, ao nc nclir ('111 respostJa á minha orRção , apenas fez
refenmc:iil a-o contracto, m·a s nem sequer me declarou se era
ve.n1!1c1e on n1l.o que a Ca mara excedera as suas proprias attri-
·1rnições. homolo11::111,clo o contracto anteriorment·e celebraüo
0 0m o Supremo Tribunal Federal, e - o que peior é - ainda
-111odifica ndo os proprios termos desse mal afamado contracto •.
O SR AUBUSTO DE LIMA - :M as como o R elato!' se
jnsti.ficou entiio ?
O SR A7.iEVBDO LHlA - Direi em bre ve a V. Ex.
A s•e gunda parte d'O disposi.t.ivo elo orç,amento da Jnsti-
·-(;a, assim se e x11rimia, de])'Oi•s ele alludir á homologação do
··t'ontrn.c t·-o do Supre mo Tribunal . }avntd:o em 2 ele março de
1921.: "o q1Jal (o contracto ) fica a ppronH1o para todos os
•·e ft'e~toR, sendo elevada a :rn.· a contrilmição movel por pa-
gi na. edita.d a, -e -b em a-ssim para a a{:quisição elo material ty-
pographi co constante do r el·ação apr ese11tada a 2 de dezem-
-bro <le 1921 e protocollada s ob nnmero 3. 719 ".
O SR. AUGUSTO DF, Lll\I A - Esse a ug mento de 15$
1mm 30$ por qu em foi proposto?
O SR. AZBVEDO LFMA - E ' rli~posição elo orçamen-
·to, não posso a.ffirm:n se proveiu do Senado, ou se teve ori-
gem na Camarn.
O SR. A'.'.NlBAL FREIRE -- As emendas vi-eram do
·senàck,.
O 'SR. AZEVEDO LIMA - E sto u tratando do orça-
mento c1-e 22.
O SR. SHiõ'li:S FILHO -,,,. Vieram do S-ena do, foram
Jll'Opootas pelo Senaclo1.. José Eusebio .
O SR. AZEVFJDO LIMA - Esse facto, p-Ot'ém, não tem
·1111portancia , no mom ento.
O SR. RODRIGUES :MACHADO - A emenda fazia
·,p art·e do projecto do orçamento vetad o, e, como tal, foi reno-
- 42 SEIS :c\-IEZES D]) DICT.ADUR.4.
(SESS.~O DE 12 DE AGOSTO)
VI
Reforma do processo penal dos sediciosos
DECLARAÇÃO DE VOTO
(SESSÃO DE 13 DE AGOSTO)
I
Foi, evidentemente, o leva'llte militar de is·. Paulo, de 5
do mez proximo passado, que suggeriu á Gamara a preci-
pitada elaboração do pr-ojecto de lei n . 82 B, deste anno,
que voltou do Senado emenda·clo com a creação dispen dios a
de mais tres varas federaes.
Ainda não havia tornado em si o paiz .elo espanto que
lhe causára a subversão ·d a ordem na prospera ca,pital elo
gran·de Estado, e já a Oommissão de Justiça, poucos dia s
após a decretação do sitio, sob a pressão dos acontecimen -
tos, em meio do s boatos mais aterrorizadores e de rigorosissi-
mas medidas de censura official que davam á sedição mili-
tar um caracter de assustadora gravidade, offerecia á con-
sideração da Gamara o substitutivo, logo discutido e appro-
vado, com o fim de promover a punição rapida dos sedi-
ciooo-s .
Está-se a ver que a influencia ineluctRv·el das paixões,
dos interesses políticos, da reacção partidaria, do r ancor
e da vingança, combinada com o clesuzado a rd or com que
se estngou a marcha elo snb.stitutivo, havia de dar-lhe, afi-
nal, o aspecto de vinclicta social, tão especifica, tão carB.cte- ·
ristica, tão ad rem, que faz pena assistir á impassibilidade
com que adoptou a Caniara semelhant·e proposição.
Em época normal, em ,a tmosphera menos carregada de
odioo. e resentimentos, quando a Cama.ra estivesse em con-
dições de deliberar t ranquillamente, ninguem ·d uvida que o
senso juridico da unanimidade governamental repelliria
essa inopportuna reforma que vae restringir propositadamen-
te o direito de defe.sa e crear um elemento de retroactividade.
Mas, a Nação atravessa, desgraçadamente. dias rev olu-
cionarios e ominosos.
Os ultimos restos de liberdàJde de imprensa, que não
foram confiscados pela lei execravE'l, ·desappareceram a po-
der da censura inquisitorial do sitio. · Faltar em voz alta é
pouco menos que peccado; ,possuir o-p inião é luxo; e expri-
mil-a é delicto. Cercados de tantas immunidades e reg_a lias
60 - SEIS ME,Z ES DE DIC'I'ADURA
.., VII
Bombardeamento de S. Paulo
(SB)SSAO l ;>I<J 21 DI<J A~OSTO)
O Sr. Azevedo Lima - Sr. P.resiclente, desde remotas
-eras, as mai's cultas 1mções -do munüo 'l)orfiam pül' mitigar as
t orI}t!zas ela .g,uerm , red~1zirudo, tanto ·quanto possível, sem
prejui,10 das operações bellicas, as cruel-dades inheren-tes aos-
. conflictos internacionaes. E' assi-m que, desde a declaração
r, rf S . Pnersb.urgo. ~·rn 1868, cl:1 qna,l part.icip,uam quasi to-
dos os Esta do s europeus, até a segunda conferencia de Haya,
el e 1:rn7. onde "ref n1;ôn o genio {lo maior dos brasilekos, to-
rl:rs ;is na ç;õPs, conlcor{l~ no lou.vavf>-1 sentimento rl e abran-dar
, e suavizar os hom·ores da guen-a, vi~ram-lhe codificando as
lt• i:, e os co«tnmes. ele modo qne pudessem ser incorporaclos
;io direito internacional publico mollerno, para honra e para
maior .g lorht de n<m;·s a ri viliza.ção . S•e is annos após a clecla-
ra çã.n ile S. Peters,b11 rg,0 , o projecto ele Bruxell-as. no seu -ar-
ticg-o 18. ch.e gon mesmo a esta,bP'lecer, com a annuencía e
c·omp:1rencia ele gTancle num-ero de poten,cri11s, qne o Uó"O de
a lguns meios nocivos -ao inimigo deviam <ser vedados ás na-
t:iws helligerantes. Aliás, muito -antes já, desde 1863, o arti-
go 16 elas instrn cções -para os Estadok Unidos da America do-
Norte prescrevia , literalmente ·: ".ll:s' necessidades militares
não t1.,n,t ori:a1m a c<m11metter >1(:tos de crneldarle.. "
.J,loi, pon,m , Sr. Pr.,-sLden.t.e n--a quarta conYenção de
Ha:,··,.t, de 189rJ. qu e o m:t. 25 elo re.,rulam,:mto :rnnexo esita-
br•Jeeen, de ,m o,rln cl e.f.i nit.ivo , com o eo11senso e a respon<sabi-
lidad.e da ma~ori<1 das nar;ões rnuur'lin.es, a essa convenção
pi·e~en<tes, qR1e. em reJ.aç.lfo 110 bomlrn.rcleio, f"eri,q inteiramen-
te intercli'0 to, para salv1-1g•uarcla ela c:ivili'.4a<;.ã.o, para honra da
<·nl,tnra nnh·ersal, que se bomílM-rde;issem cidades, villas, Jo-
gar~ on edifi.do,5 não deifen,clidos. Esse arti-g o 25 foi quasi
· te:x•tual,m ente re-prodnzido, ,so-b o m-e~=o num ero. na qu,a rta
,conv€'n\:ão ele 1907. na quaiI o !Brnsil tomou pal'te, ,r 1cpresen.
t n.fl.o 1)e1a pe,~soa. do rnai:s emill'ent.e elos seus filhos , o &ena-
r1o,r Ruy B~1:1·1YJ,1n.
0 SR. AUGUSTO DE LIMA - Hom;e uma otitra con-
C'Jn·s ão : ta-mbem pl'Ohibia forti-fi,ca.r -praças ele guerra dentro
- tle cidades aberta.s, para evitar -represalias.
O SR. A~gVEDO LIMA - As autoridades . mais abaí.i..
- 62 - SEIS MEZES DE DIC'l'ADURA
1
zadas do direito internacional publico moderno , e eu poderia
cital-a s, -desde Pasqu al-e Fior-e, Piédelievre, Geffeken , Philimo-
re e Fichaulle, até o n osso egi:egio patiicio., o professor Clo-
vis Bevilaqua, admittem, 8em discrepanda , qu e se entendem
poT cidades -defendidas, _conforme consta do texto do regula-
mento de Haya, não sõ aqu-ellas que ,;ão dotadas ele for tifica-
ções perman entes, de pr aças forte s, de systema ele defesa mi-
li tar . mas ainda, como occorreu. ha pouco, em S. Paulo as
que, poi- medida -ele defesa illlJPrOvizada, conteem porções -de
tropa entrincheirada e armada.
Não ha pois, ·d uvida nenhuma, Sr. Presidente, de que ao
numero dess-as ultimas. de que brilha n temen te tratou o con-
sagrado professor ele Direito Internacional, o Sr. Fichaulle,
pertencia a capital paulista. em poder -elos insurrectos mili-
ta-res. Estes estavam, ele fac-to, entrincheirados .e armados, na
defesa da cidade ele qne se haviam a.ssenhoreaclo.
O SR. AUGUSTO DE ,L IMA. - Mas começaram ibom-
bardeanclo o pn la cio do Gover no, 'q ue era uma casa não for -
tificada. (Apoiados).
O SR. AZEVEDO LI MA ·_ E' ponto, porém , pacifico
em Direito Intermucion al, sob r e o qnal nun ca surgi-raro duvi-
d-as, nem se s uscitou litígio, que cumpr-e -aos atacantes, antes
de pro ceder em ao bombardeio on ao conhoneio, para expugnar
a pr aça ou cidade defendida, notifica1<, advertir, avisar. dar
pl'évio s ;gn nl á ,população inerme e pacifica de -qu e se.rá em
breve, ou dentro de prl)Jlo prefixo, bomharcleada a cida-de.
Cumpre-lhes ainda prover aos n ã o •belliger an tes -de m eios·para
que se retirem em paz. sem serem moles tnclos pelas tr opas
· atacantes, facu ltando-lhes mai.s. a lém dos meios de evnc ua-
ção, toda a protecção compatível em casos desa-a e~r:ccie.
O artigo 26 -do regulamen t o de Haya, de 1007. af,Sim
reza:
"O comman-c1o da-s tropas assaltan tes a ntes ele empre-
hencler o bombardeio, e s-alvo caso de ataque de viva força ,
deverá faz-er tudo que delle ,dependa para advertir as a utori-
da des . "
.A.Hás, Sr. Presidente, essa dis-posição, co di.ficad-a na Con-
feren cia era Paz, já era uma conquist-a -da cultura e da -civili-
zaição mo dernas, que -eles-d e longa -d ata r ecommenclavam a ·p ra-
tica da humanidade e protecção dos imbelles em -c asos -c1e
aggressão i11 tern a cional.
EsC'r ev€u, -e m 1 89 0 , o ~ele,bre internacionalis ta italiano
Pasquale Fiore :
''.ú comman-do das tropas inimigas poderá, 1;em outra
4ZEVEDO LIMA (53
VIII
Appello ao patriotismo da Oamara
(SJTISSÃO DE 21 DE AGOSTO)
nho o rlireito rlP sns r,eitn 1:. se lll l ' riui zerem dar a demonstra.
r::í o pnlpavPl el e mie yfür, 1. 111 f'om n opinH'ío pnbli cn. e de qu e
0s ti't o sen ·corn,;í'ín h nt,~nclo. nni sono. com o sentimento na-
('ional , elevem nr1l ir rl eF<rlr• :i :í. no Gov erno que não prosiga
no re;rirn en r1,, rerrorismo n rreidm enta do e syi;;tematizaclo ,
,,ob o g-n n ntr 110 onn l r:C'JUP ,, f'ic1firle rl e S. Pnulo ...
O SR. ADOT,FFIO RT'IR GAMINI - E n Capital da R e-
publi ca.
O SR. A½liJVRDO LIMA - .. . r1 evPm exhortar. amig·os
rine são do GoYerno. r·om n a utorid a de qr.e possuem, por esta-
rem semprP aqui obecli ent.cs li. sua vontade. devem exbortar
n,: r en i-esen!-au tcs elo por1rr nnblico ::i QHP intimem os com-
mnudantes rln s tropa s de ·S. P a ulo a qne evitem a todo n
tn1nse n nra ticn. do reg- im Pn mnrcial. for cejando por qne os
Rolcla dos impeçam quP RP exec nte . nos Jog-raclonros de S .
Pn nlo, sob os olhos rla nopnlnc;ão ntnrrlida. 6 espingardea-
rn e nto coirntante, o (l.es r P.speito :1. familin. paulista. o saqn e
e o r oubo. ele f]_n e no s n ão falta m t estemunho s ...
O SR. - .TOAQUIM DE SALLES - Porque o orad or não
pedP ao Governo que r e~t nb Pleçn I sidoro e Pnulo de Olivei,:;1
em S. Paulo. 11n e talY P¼ fncnm a f eli cidade daqu ella terra? ...
O SR. A½EVJCDO LTMA - Cumpra o Gov erno o se11
drver. p er eg-uinclo nR r Pvoltosos. mas não transija com as
IC'is rhl mornl.
O SR. SIMõF;S FU,HO - S e esses crimes fo1·am pra-
tica do s . no 111:·e n:í o acrPrli.to. existem as pe1rnliclades no nos-
RO Cocl'igo. O qur ncho d ema.sindo é V. Ex. ·responsabilizar o
Gover no por elles. O nobre D eputado está repetindo aq ui n
historia da i nYn s1i<;> germani c.a na Belgica e no norte da
Franc;a.
O SR. AZEVEDO LIMA - Perg-nn te o aparten.nte á po-
pula ção de S. Pnnlo qnem com metten taes crimes.
O ·SR. SIMõEJS FILHO -- fato é uma monstn1osirla1fo.
O SR. AZEVEDO LIMA - Qnando obtiver a certez~
elas sinceras disposições dn maiori a da Cama-ra, quando ·a vir
AZEVEDO LIMA 91 --
XI
(SESSÃO DE 10 DE SETEMBRO)
.
110 SEIS MEZES DE DICTADURA
men,so paiz, a,s praticas machiavelicas, que não teem a a'l ti-
tude nem a sabedoria politica -das -do autor do li principe,
vão demolindo os seus antigos inimigos, para que se creem
nucleos novos de politica .sHuacioni·s ta . Na ·p ro·p ria ·Ca,pital
Federal, ,o nde a independencia e a altivez do eleitorado não
se deixam submetter ao apparato -d as forças militares e poli-
ci-aes ...
O SR. ADOLPHO BERGAMINI - Muito bem.
O SR. NICANOR NASCIMENTO - Nunca ihouve dessas
intervenções .
O SR. ADOLP.HO BERGAMINI - A 17 -de fevereiro,
houve, no Meyer.
O SR NICANOR NASCIMENTO - Foi apenas um epi-
sodio eleitoral.
O SR. AZEVEDO LIMA - .. . onde os eleitores, apezar
de toda a atmosphera ·d e terror ·pani-co, que desaconselhava
o comparecimento ás urnas, collocaram o direito de delibe-
rar Hvremente acima da -coacção -official, tentou-,se compe'l-
lir o funccionalismo a v·otar ,de confo.rmida·d e com a vontade
do Governo. Consumou-se mesmo o esbulho de candidatos,
com ·o confisco -dos di,plomas de um Seruador e um Deputad·o,
ambos legitimamente eleitos.
Em toda a parte, em todos os Estados, em ,todas as
unidades <la Federação, onde a volitica local nã·o prestigiava
o nome do Presidente da Repub'lica, viu-se, apôs o inicio de
clom,'i.nio ·do Governo·, es-sa transmutação de magica, essa
modificação assombrosa das representações estadoaes, a
derrubada em massa, para revelar á Nação que o .r egimen de-
mocratico, que o regimen presidencial é um perenne atten-
tado á liberdade publica, uma violação con,stante das suas
liberdade, uma transgressão permanente cuntra os seus di-
reitos. Não era assim nos tão blasphemados tempos da mo-
narchia ...
.-
/
AZEVEDO LIM.A. 113
XII
Riograndi:no 1Cruel ;
CeBar Bacchi -de A,r aujo;
Ximeno Villeroy ;
Raul Paula Lopes;
Julio Pereira, menor, 17 annos;
Edmundo Bittencourt, jorn·a lista;
Mario Rodrigues, jornalista; -
Heitor de Mello, jornalista;
Corrêa de Araujó, jornalista;
Sallés Duarte, jornalista;
José Eduardo de Macedo 1S'Oares, jornali:.-ta;
José Oiticica, professor;
José de Souza Marques, professor;
Sylvio Rangel, advogado;
Paulo de Lacer da, advogado;
J oaqui::n Pereira Teixeira, advogado;
Benjamin F. Silveira da Motta, advogado;
Amador da Cunha Bueno, advogado;
Raul Cardoso de Mello Filho, estudante;
João Guedes Tavares, estudante;
Oswaldo Sampaio, pharmaceutico;
Pompeu Realle, mechanico;
Sylvio Coelho, agente commercial;
Rodrigo Colle, .a gente commercial;
Fausto Gaya de Azevedo, promotor publico;
Nilo Costa, advogado."
XIII
Desastre militar em Guayra
(SES'SÃO DE 24 DE SETEMBRO DE 1924)
O Sr. Azevedo Lima (.para explicação pessoal)
Graças, Sr. Presidente, á minha evangelica paciencia, venho
benedictinamente supportando, como victima ou como' espe-
ctador, as scenas que mais depõem contra a soberania desta
Casa e contra as prerogativ•a s dos legisladores.
De alguns dias a esta parte, tenho encontrado por en-
tre os funccionarios e os representantes da imprensa acre.
ditados perante a Oamara •d os Deputados, dentro do .recinto,
certas figuras patibulares de cães de fila da Policia.
Pedi a um dos membros da Mesa, particularmente, que
providenciasse para que se não reproduzisse essa scena atten-
tatoria do direito, da liberdade e da independencia dos legis-
lador es. Íia 'vinte dias, communiquei ao honrado S.r. 1.o Se-
cretario da Cama1'a dos Deputados que, contra determina.
ção expressa do Regulamento da Secretaria, transitavam no
recinto e assis tiam ás Sessões , no meio dos Srs. Deputad.ne,
alguns agentes elo Corpo de Segurança, sempre presentes aos
meus discursos e a acompanharem-me em todos os recantos
desta Casa. · ·
122 - SEIS MEZES DE DICTADURA
XIV
1ntervenção no Amazo-nas
(SESSÃO DE 26 DE SETEMBR O)
P1·aza aos céos que, ,s eguindo por est a a certada vere da,
a pôr mão nos ctelapidadores da Republica, a r ecolhel-os á
cadeia do Estado, -ou a expôl-os ao pelourinho da exec-r ação
publica - o Congresso Nacional, fraternizando Cbil a po-
pulaçã.o brasileira, tendo o seu coração a pulsar isochr ono
com o ela Patria, ,s e resolva, afinal , a banir do poder gran de
parte da malta dos_ caciques. que vão sugando ao paiz as
Sitas e:ielhore:; em·'rg'i',l·s e espr:lia n.{!'l o eral'io estado al.
Por que é que, accei.ta como foi, a suggestão de facto,
que os revoltosos do Estado do Amazonas impuzeram ao
Governo estadoal, havemos de con tinuar ainda a apostr ophar
com os ·epithetos mais rudes e bordalengos os homens qu e
se serviram das armas em julho passado?!
Ainda h a dias, · o illustre SenacloT pelo Estado par a o
qual vae em br eve a CamaTa votar a intervenção, uma das
grandes -es·pera nças da Patria e uma das mais formosas m en-
tali{l adcs b1,n-sHeir ns. o in ditó Semulo l' B,trbo,sa Lima ...
O SR. ADOLPHO BERGAMINI - Muito bem.
O ·SR. AZEVEDO LIMA - ... da tribuna do Senado,
coni a sua palavra sempre t ersa e vibrante, demonstrou a
im propriedade com que os falsos patriotas br asileiros vão
H~oim m1do el e nrnsh orrJn•eirc.s .e 8ses qa e in'icin.ram o m oYimen-
to reivindicador.
·~1 t1 s h 0rq u ciru s f or:un, a \ ll·jnci·1Jin . CD n1O di:;s<.~ o iile s tr c
Senador, todos os que tiveram a coragem civica e a br avm·a
lnclomita ele desfrDlda.r a bandeira <lll li berdade. Grandes e
benemerifos patriotas passaram, porem, a ser logo qu e se
consolidaram as conquista,s das r evoluções.
O SR. NICANOR NASCIMENTO - Logo que as trop:ls
do Goveruo chegaram ao Ama zona s, os heróes fugiram de-
sabalada mente, sem dar um combate.
O SR. ADOLPHO BERGAMINI - Não par ece, por que
as forças que representam o pensameuto do Sr. · Presidente
da Republica mantiveram em todos os logares aquelles que ·
b.aviam .sido nomeados pelos revoltosos.
O SR. NICANOR NASCIMENTO - Não se trata disso;
"· declarei a esse respeito; apenas disse que os h eró es
·la ram á simples approximação das fo r ça s legaes.
l),aa..__ S:: R . .ADOLPHO BERGAMINI - Tenho informa ções
'm cliscur-s os, ás quaes· allndirei dentro em pouco,
b.auricla-s. '- l\l[ON'l'EIRO DE SOUZA ·- P osso citar a V . Ex,
O S'fl_. '- ·,omea,cl o~s pel o a ctu a1 g-oYer~:. nd ol' , rin c n:Io e.s t;to
oro es d:o-s '.L ·lon arios.
os n . :ol$.
~n tre o& :i:.e-v: -
AZEVEDO LIMA --, 131 -
XV
Arbitrariedades e esperalílças
(St:mSSkO DE, 26 DE. S'E TEMBRO)
XVI
XVII
XVIII
1 .
ill!JVEDO LIMA ---' lõl
XIX
(SESSÃO DE 22 DE OUTUBRO)
XX
Verificação de ,poderes
(SESSÃO DE 24 DE OUTUBRO)
O Sr, Azevedo Lima (paTa explicação pessoal)
Infelizmente, Sr. Presidente, o incidente que se verificou
quando orava o representante de Goyaz, o qual me obrigou a
altear sobremodo a vóz, afim de que chegasse a seus ouvidos
o meu pro.testo contra as aUegações 1nv,eridi-ca:s de q ue s:
1
' -
- 170 - SEil5 MEZES DE DICTADURA
XXI
mental. ums não· tem essa elasticidade. Isso -que . :Se faz ·é de::
primente para o Congresso.
O SR. HENRIQUE DODSWORTH - Não ha discmso
que seja. todo ene, de expressões a11tLre gimentaes.
O. SR. JO.A!QUIM DE SALLES - A Mesa eleve garan.
tir a palavra aos Deputados em toda a sua plenitude, r es.
,p onsabilizanclo...se cada um pelos abusos que ' commetter. O
Regimento é l~ü ela ·Camara. A Mesa pôde mandar riscar phra-
ses que Julgue inconvenientes, mas dahi a prohibir a pub1i-
cação do discurso vae grande distancia.
O SR. HENRIQUE DODSWOR'l'H - Expungir o,s de-
bates d_a s expressões anti-regimentaes ê cousa muito 'flif.fo,
~·ente. .
O SR. AZEVEDO LIMA - Sr. Presidente, venho ap pel-
lar justamente para os bons officios de V. Ex. no senti-elo ele
não ·permHtir que se prqsiga na pratica injustifica vel que
tanto depõe coutra o nosso liJ}eraHsmo e t_a nto rebaixa o
I'ai,Jamento brasileiro em fa,ce dos ·clemafr,. ,
O SR. ADOLP.HO BER(1-AMINI - Muito bem.
O SR. AZEVEDO LIMA . - E' ele todo o ponto neces-
sario, que ponhamos paradeiro a -e ssa facu ldade, que se ar-
roga a Secretaria ela (}amara, ele co'llabora.r com emendas e
rasuras nos discursos de opposição, bem como 1mpedir por
com,pleto a publicação clo-s que não a gradam ás suas tenclen-
cias par.tidaria.s. Se a Camara cl0seja contribuir com autorida-
de para que .se Testabeleça um pouco de ·ordem nos neg'odos
politi-cos elo Bra-sil, incumbe-lhe o dever ele desde já prescre-
vêr p·e10 Sr. Presidente ao Secretario que a:cate e res·peite a ·
liberdade ele pensamento immanente ás prerogativas elos De-·
puta.elos . Ao menos , Sr. P-1,esiclente, rnspeite.se o direito ele
expressão elo pem;amento pelo ongão elos representantes da
Nação, j á que, nesta época ten·e brosa ele oppressão, nem a
imprensa livre, nem a vôz dos cidadãos emancipados, nem a
palavra dos que não se ·d eixaram assoldadar pela poücia ca-·
rioca, podem nas praças publicas gritar contra a coacção··
que nos enverg-onha, nem protestar con t ra o aviltamentó a
que nos sujeitam p erante o mundo civi1izar1o.
O SR. HENRIQUE DODSWORTH - E ainda se faz
mais: publi-cam-se -a s resposta s aos clis·cm:sos que não silo
publicados.
O SR. AZEVEDO LIMA - Emqua-nto não se esforçar
a policia reg:imental ela Cama•r a, com sinceridade, po1· dar
o exemplo de !),catamento aos direitos dos manclatarios do
povo, emquanto não houver ·por bem cleterm,inar que se res-
AZEVEDO LIMA - 187 -
XXIl
XXIII
· Democracia ás avessas
(SESSÃO DE 14 DE NOVEMBRO)
XXIV
XXV
P a rec e. pois, que a.s liçõ es -do nos,so prezado collega Sr.
Ar m a·nclo Burlamaqui deviam ser da das a ntes a os l egalistas,
que f izeram a p ontaria errada, e violaTam preceitos de direi.
to intern acionnl. do qu e ao General Abílio de Noronha, que
dellns não p r ecisa.
O SR. AR'.\1ANDO BURLAMAQUI - V. Ex. está e·n·.
ganado; não d ou lição n nin guem, m as ao General Abilio
posso dftl-as.
O SR. ADOLPHO BERGAMINI - Acho que V. Ex . não
pôde mai,<·, pre~en tem ente. clftr lições de balistica a ninguem .
O SR. AZEVEDO LIMA - A a rtilharia de V. Ex. é
mi úda e parlnmentar.
O SR. AR:'.IANDO BURLAMAQUI - E stá V. Ex. en.
gan.ado . A mi n h a é esplendida · nr tilh ar·ia de combate.
O SR. A ZEVEDO LIMA - E' daquellas metralhadoras
de tiro rapido Que alvejam os discursos dos oradores . ..
O SR. ARMANDO BURLAMAQUI - V. Ex. pergu nte
aos meus camaradas ela Marinha .
XXVI
XXVII
,
segundo se deprehern de da leitura elos pareceres publicados
no ,J o,nail do Commel"cio, ele hontem.
· Assumpto ha, importantíssimo, desen v olv'iclo no parecer
do Sr. Alfredo Bernardes, e é o seguinte: depois de dar as
nizões jurídicas, em virtude das quaes .seguiu seus tramites
até a Gamara o contracto la vrado, declara:
"
.AZEVEDO LIMA - 25;9 -
XXVIII
LTIX
XXX
\
/\
(SESSÃO DE 10 DE DEZEMBRO)
( Prosegqindo).
presumivelmente. com os dois seg uintes:
1.o, o ·mal-estar que se reflecte -n as guarnições dos
n;ivios, que offerecem assim um ca m110 facil
para tentativas de levante; 2.o, o prestigio pessoal
do commandante Protogenes na M-a rinha de Guerra' ' .
Tuuo quanto ha de m ais llypothetico. esses dois ele-
mentos, de que não ha certeza nas s npposições, negam o
con.c erto de previo plano.
Nem sobre o numero, n em sobre o concerto entr e os con-
:imados o processo - mesmo policial - fornece info·r mações.
Passemos ao segundo r equisito, celeremente, como nos
impõe a premenc:ia do tempo.
2.o, Meios reaes, idoneos e sérios, aptos á consecução uo
fim. Não se positivam, com precisão, qµaes seriam esses
meios . .Ao contrario, a ca<la passo o Gon'r no' nsscyera que
as forças de terra e mar lhe estão fieis, não passando de
pequena e .desprezivel min oria os elementos que o c·ombatem .
'l'aiito bastaria pa ra realçar a inidoneidade dos m·eios, fossem
quaes fos sem, a pôr em acção .
.Accresce, porém, que o -comroandante Protogenes, como
uo r elato1io do marechal Fontoura se <liz, assumiria o com-
lllando -d e uma unida de naval.
Que unida de seria ·e ssa? _T eria ella efficieucia, presta-
bili-dade? I-uane a prova tambem, do segundo r equisito do
crime, da figura jnridiica ·no delictn. <lo ffl.cl·o em si.
Ha mais, porém. O officio relatorio assiguado p elo ch e-
fe de policia fala em bombas e arm as tênebrosas. :M:éra al-
legação, desacompanhada dos necessarios autos de appre-
b.ensão e exames periciaes, ·s em o minimo valor portanto .
::\fesmo porque não se esclarece em poder de quem foram
taes bombas encontradas, nem se conh ecem a relação des-
sas pessôas com as demais implicadn s na ·c onjuração, n em
o papel que lhes- estava reservado, os actos constitutivos do
:::omeço de execução do crime.
3.o, A violencia.
Quererá a policia, para o cus<, e1u :ipn--ç;o. {\ He ba~~te nlli:t
vio!encia potencial, uma violencia estatica, uma violencia
presumida?
Não se ouviu, de 20 para 21 de outubro, nesta capi-
Ull, o dispa:ro de um tiro -d e canhão ou de Flaubert; não
houve ,a rruaça, nem movimento de forçe.s , aggressue-.s on in-
vesrtidas contra quem quer que seja, pr-eposto que fosse do
AZEVEDO LIM.4. - 289 -
1
Governo; não houve nada , senão prisões por suspeitas pra-
ticadas pela policia.
O s imples rela ncear da vista educad a em rudimento ~
de direito penal nega a existencia do delicto.
Os elementos que lhe dão vida jurídica não se presn-
mem ; · carecem d·e ser p·rovados na sua materialiclad'e :posi-
tiva. objectivamente, os pertinentes ao füoto.
Não bastam actos preparatorios, reclama-se o começo ele
execução necessaria á f igura d a tentativa.
Será possível autorizar-se o processo de um Deputado
por facto que nífo é qualificado crime?
Nem se argumente que ao Ministerio Publico é facul-
tado variar ·a quaUficação do delicto 1.o. porque, se a illus-
~rada Commissão de Con stituição e Justiça visa acautelar o
Deputado até da h ypothcse de um flagra n te forjado , nullo,
inopern nte, nã.o pód-e .burlar o intento protector ela dignida-
de e h onra elo P a rla mento conferindo ao Executivo o arbí -
trio de, por seu agente do Ministerio Publico, denuúciar o
representante da Nação ao seu livr e alvedr:io; 2.o, porque,
de posse da lic<ença e não aJ)nrnda II conspir:-tç:ão. 11ermittir -
se-hia á policia, em cujo poder ainda está o i nquerito, que
não deu sequer entrada em juízo, mudar a f,ei ção ás cousras
e forgicar outro crime, infamante e deprimente, de r oubo
por exemplo, com o unico intuito de humilhar o Deputa do
oppos idonista, levando-o ao ban co dos réos como la·drão, co-
mo tal r egistral-o nos archivos criminaes, formar-lh e o prom-
ptnario, ma-cular-lhe a honra e por esses e outros m eios s ob
o estado de sitio, âJs proximidades elo encerramento -do Con -
gresso, a .coberto de qualquer fisc aHzação, exer cer a s vin ga n -
çn.'s , e perseguições q ue -quizcr.
· Não abandonemos um instante a ·i déa de que se trata
de crime político. i-ntentaclo pelo Governo contra adversa-
rio tenaz.
Honestamente, .qual poderia ser a varia nte ela denuncia?
A deslocação do crime previs to no art. 115 para o es-
tituÍdo no art. 107 do ,Cod'igo ·P enal.
Aclmitta-se para argumentar - e sômente para argu-
mentar - que, conced ida a licença para o D eputado res-
ponder a proceilso por um crime -determinado, fiqu e o Pro-
motor da Jus tiça investido do arbihio de offerecer denuncia
por outra. Existe prova do crime do firt. 107?
Certo que não.
"Tentar, -di,r ectamente e por r.acto reza o Co-
·digo - mudar por meios violentos a Constituição J)IJ',
200 ::mm ~1 1!:ZE :-i DE ·DlC'l'ADUHA
:il-lai s acleante:
.AZEVEDO LIMA - 291
Linh<11s adeante:
Sã o autores.
II
me~ ma ,do Bl'asil para não s'er ~Iara, pat ente. i nilludivel e
insophismavel, a gravidade da crise financeira que nos as-
soberba de longa data, exigindo a mais carinhosa e a m ais
constante attenção ,dos nossos estadistas, o m ais vigil:nn e
e o mais permanente cuidado dos nossos h omens p ublicos,
reclamando, para sua solução, o trabalho inin t errupto, o
esforço descontinuado de todos os brasileiros. ( Mt;ito be m).
Infelizmente, o 'llosso ,p aiz soffre de um m al ain, lit
roaio1·, causa, de certo, de todos os outros que nos a.i'fli·1:e •u,
mal que lhe vae corroendo todas as fibras, abatendo-lhe as
en ergias. annulland·O-lhe a,s r esistencias, m a tando-lhe a.s
esperanças e implantando a descrença no futuro; o Brasil
~of.fre de anci-a de paz. (J\'1ui.to bem). An.cia de l)az TI O seio
llas c,lasses productoraiil, incertas sempre quan t o a o ,dia de
am a nhã, sem poderem aoceitar como garantia de· r epouso o
trabalho já executado : ancia -ele paz entre os que se ent rega m
ús profissões libe-raes, na duvi-rl a constante ela s ·g \ rantias .que
lhe são affirm-a das pela l ei, ·dentro da ordem;' a·n cia de
paz no seio ·do Exerci to, em pro mp tidões perm a nen t es, para
que não sejam utilizada,s contra a Patria as armas entre-
gues para garantia -da integrida de dessa mesma Patria; arr-
eia de paz no seio da Marinha, em vigilancia ininterrupta,
para que os vasos -ele guerra, :1.dquiriclos com sa.crLl'icio im-
menso, ,n ão se .tornem em am eaças ao .p oder con stituído e
á vida & á propriedade dos nossos concidadãos ; a ncia de
paz, emfim, no seio da propria familia brasileira, mais do
que n enhuma outra tradicional mente unida, e que, a cada
hora, a cada insta.n te, soffre com a lembrança de que po-
<ler á ficar d-iminuida de u m dos seus m embros sacrifi cado em
uma luta sem gloria, em uma gueni sem ideal, em um
{;Ombate entre irmão,s. ( /V!uito bem.)
E desde quando dura esse martyrio? Póde dizer.se, sem
receio de errar, qu~ desde quando 'instituímos entre nõs o
govern o demo m·atico, em nma eloquen t e n ttc~ t ação de que
nós .não o comprehendemos em toda a sua belleza, que
nós não soubemos interpreta-1-o, preferindo sacrificar o con-
junto, que é de todos, a ceder um pouco dos interesses fle
cada um.
A historia ahi está palpita nte, a mostrar os n ossos
err-os: Deodoro, que em 89 ra sgava noy os• ,horizontes ao
Bra sil, ,cobrindo elas mai ores glorias a es pada heroica que
no Paraguay demostrava a bravura do nosso soldado, _re.
voltava.se contra a sua propria obra com o golpe de E.ita.
300 - SEIS l\l1'JZEJS UE DICTADURA
illL
(SESSÃO DE 10 DE DEZE-MBRO)
ligencia.s ,q ue, uma v.ez requeridas ao Juiz, podem ser por el-
le deferidas on não , cabendo, elo despacho do Juiz , recurso
para uma ins, tancia s uperior. P or conseg ui nte, o Juiz tem
rde tomar conhecimento ela natureza clesses depoimentos e se
de seu conjuncto julgar préviamente, m uito antes do des pa-
cho, da. possive1 criminalidade de um dos membros do Gon°
gresso , então dirigir-se-ha ao Poder L egislatiY o, solicita ndo a
licença para o processo.
Assim, .Sr. Presi.td-ente, este pedido não dev erii. ser defe-
rido pela Camara, porque a autorida'fle impetrant e é incom-
petente. .
:Elm aíbono da minlrn affirmativa devo citar os ·commen-
tarios do artigo 20 da Constituição de Aristides Milton, pa-
ragrapho 89 de sua obra, que dizem: " P ara solicitar a licença,
afim de instaurar o processo, é comp et ente a. parte
offemli-da. Na hypothese de flagrancia em crime in-
afiançav-el, quem deve se dirigir Gamara respecti-
va é o juiz ,ela ·culpa .. "
Penso por esta fórma -c om a grnncle a uto riclade de Ruy
Barbosa que, no Senado da Republica, assiiu se expressou
no seu voto em relação ao pedido -de processo -d o Sr. Sena.-
dor João ·Cordeiro : ·
Em 1898, agitou-se uma grande questão, motivada pe-
la licença que, na fôrma do art. 2 0, um dos promotores pu-
blicos da Oapital ela Republica &olicitára parn serem pro-
cessados o Sena,clor ,Toão Cor-deir-o e 1qua tro · Deput ados Fe-
deraes. ·
Percebe-se - ,que o assumpto enten de (: Om · as immunt-
clades parlamentares, como é claro - qne JH .ra resolvel-o
o Senado ou a Ca-mar-a converte-se em tribun al politico.
E, por ser tribunal poHtico, pócle , - d epois de exami-
nar o.s documentos e ,f actos expos to.s - n egJ.r a licença,
conforme entender -c onveniente e opportuno; a tten,d endo á-s
razões e·s peciaes -ele -ordem puihlica, entre as quaes a neces-
sidade, ás veze-s tyranna, de não afastar - t emporari amen-
te embora - -do recinto legislat ivo o congr essis ta incri-
minado.
· O Senado, negando, na .sessão ele 28 ,de junllo, a licen-
ça - na parte que lhe cabia - não deixou pate nte a razão
porque assim o fizera. Apenas Ru y Barbosa mandou esta
sua declaração -d e voto:
"Votei -contra a licença, 'tão s(µµente ,p_ô r não con-
siderar competente a :n.utor iclacle,, q.Í1e ,a irh'J)'efr á r â , '-ele
accôrdo com a doutrina por nini" formulada, desde
JS19·S, contra a licen ça para o J_Jró-cesso Wan-clenk-ol'k."
/
310 - SEIS MEZES DE DICTADURA
t-0s que ahi estã:o, dirigiu uma carta pedindo ao chefe da re-
volução que dêsse ao Districto Fderal aquillo que pacifica-
mente ,p edia de ha muito ao Presidente desta Casa
e á Gamara .
O SR. NOGUEIR~ PEN,:õo - E aquillo que está na
Constituição Federal.
O SR ALBERICO DE MORAES - Pergunto agora,
Sr. Presidente, se verda-deiros são esses depoimentos, se é
crime um cidadão representante do Districto Federal, em
opposição ao Governo, não esta-n do de accôrdo ,com .a or-dem
que ahi está, ordem que elle combate, porque, no entender
de S. Ex., não é a ,o rcle~ cons'titucional, é crime commuuicar-
se com um chefe i·evolto.so, -p edindo para a sua cidade as rei·
vindicaçõeis constitucionaes '! Pôde-se censurar a esse re-
presentante por esse a-ct-0, ma·s ,i sso · não constit ue auxilio á
conspiração.
Nã·o é isso um crime, Sr. Presidente, porque, como aca-
bei ,d•e ler, o crime se ca racteriza -p elo concerto -ele conjura-
dos, comprO'Illmetten-d o-se -cacl·a um t1etles a entrar CO'lll con-
üngentes ~a-teriaes p:ara a consummação elo delicto. O no-
bre De,p utado Sr. Azevedo Lima apenas, pela sua sitmtção
de opposicionista, , conversou . . .
O SR. ADOLPHO BERGA:MINI - Dizem os a utos .
O SR. ALBERICO DE MORAES - .. dizem os au-
tos, com o chefe da revolução, e tambem -dizem os mes-
mos autos que S. Ex. dirigiu uma cart-a nesse sentid-o . S _
Ex., entretanto , nã-0 pretendia cous.a alguma para si, não
tev.e o desejo de governar, nem queria ser prefei:to, - é o Sr.
Protogenes quem o diz. Se esse depoimento é verdadeiro
para um -caso, deYe tambem ser verdadeiro para outro , e as-
sim, se a carta é ve"ridica, fundad a tambem é a allegação
do depoente, .quando diz que da revolução S. Ex, nada
queria .
Por esses motivos, Sr . Presidente, is-to é, porque não
julgo o procurador criminal autorida·de c-ompetente para se
dirigir a es-ta Gamar-a pedindo licenç.a para o proce6'SO ·ele
um dos seus representantes, ·nego o meu voto. Nego o meu
voto para a li-cença, Sr. Presidente, porque elos autos ou
dos depoimentos em có,pia que acompanham o illus-trado pa-
recer da Commissão ele Justiça, se verifica que não houve
concerto de 20 co-n jura·do.s, para que se caracterize o crime
de conspiraçã:o descripto no § 2. o elo art. 115.
Nego ainda o meu voto, porque a co--autoria. a que se
SEIS llrIDZ1•lS DE DIC'l'~\DURA
IV
,,
318 Sl<JIS i\JEZT,JS DE DI C'l 'á.DUk-',.
(SESSÃO DE 10 DE DEZEMBRO)
Isto é grave.
VI
. (Sl)JSSÃO DE 10 DE DEZEMBRO)
VII
(SESSÃO DE 26 DE DEZEMBRO)
VH'I
e ,o meu nobre amigo Sr. Adolpho Ber-g amini foi fazer até
uma visita ao Sr. Chefe de Policia, palestrando largo t~mpo
com S. Ex.
O SR. ADOLPHO BERGAMINI - E' exacto. E o meu
amigo. meu irmão que curte ha 65 dias os horrores da pri..
são, não tinha um canivete.
O SR. HENRIQUE DODSWORTH - O capitão de mar .
e guerra, no seu depoimento , na parte referente oa Sr. Aze-
vedo Lima, declara :
E mais adeante:
pah:õe; m a lsã s tio:; go veru au te.,, que tem incen did o violen~
tos clcsa,;-gTaYos pop ulares ! P obre paiz, onde o e:s:ito da e,ar-
r eira publica exige · a ca ncer a ção da couscieucia e a per-
ver são d-o l}alnda r -,cons ciencia qu e nã o r esvo nda aos ap-
p ellos in stantes elo Direito, da Liberdade e da J ustiça, que
inspiraram o idealis mo da Republica; paladar que ingira
todof' odios ,elos GoYern os e os devolva sem r epulsa a os t a -
pet es do Gongres?o ! Que a o m enos nã-o nos falte a Provi-'
clencia, a p ro tecç?Lo clivina, desse Deus omnipotente e bom
que p ara sempre invoco u os sentimen t os de fraternidade
do povo bra,sileir o, quando l h e a briu, nos céos, os braços
da cnns t ella ção do seu martyrio !
IX
( SE>SSÃO DE 26 DE DfüZIDMBR,O)
'. ' Os' Dep uta dos e Senadores, des de que tiverem
recebido diploma até a nov a eleição, não poderão ser
'Presos, salvo caso de flagra ncia em crime i nafian ça.-
vel. ..
X
(SE'SSÃO DE 27 DE DEZE,M BRO)
quer pelo seu bri1hante talento, quer pela ina t.acavel houesti.
·dade, (lt,er, ainda , pela sua independencia e coragem.
· Não tenho a pretensão de dar lições a quem · quer que
seja, tanto mais quanto percebo -q ue a mai-otia da Camara
está com o proposito firme e deliberado -d e conceder essa li-
cença.
lVIas, como s ou um homem de respons abilidade política,
senão perante o p-aiz - porque nada valho (não apoiados),
- pelo m enos peran te o m eu Es tad,o, e, s obretudo, perante o
·m eu ,p artido, desejo e quero que os funda men tos do rrieu voto,
nesta questão, ·que, a meu juízo, carac teriza a psychologia de
um quadrieunto presidencial, ou ·pela comprehensão de um
aleva ntad o patriotismo, ou pela profunda ·d epressão moral
dó sentimento de indepenclen cia, fiquem archivados nos An-
naes des ta Casa .
Quem, Sr. Pr,esi:clente, com calma, despreoccupadamente,
manuseia as peças officiaes offerecicla s pel-o procurador cri-
minal da Republica e n as (]trnes se baseou para pedir licença,
afim de ser processado o Deputado Azevedo Lima, como in-
curso nas penas do art . 115, § 2.o, do Codigo Penal, com re-
f er enc i,t ao art. 18, vê logo, á ,p rimeira vista, manifestas per-
guntas <t endenciosa·s ela policia, com o vi:sivel empenho de
incrimin,u· esse Deputado, seguramen te para proporcionar
as delicias elas do çuras ela vingança ao honra.elo Presidente da
Republic:a, a quem es·s e' digno represen tante ela Nação tem
a tacado com des usada energia e coragem.
O SR. FR>A)l'CISCO PEIXOTO - Cor agem até demais.
O· SR. WENCEJSLAO ESCOBAR - Astraindo. dessas
manifestas p erguntas tendenciosas da policia - n-ote bem a
Gamara, que digo "abstraindo dessas manifestas per-guntas
tendenciosas da policia" - não se encontra nes-ses1 documen.
tos officiaes nada, absolutamente nada, que possa compro.
m etter criminalmente o Depu:ta-do Azevedo Lima. Não ha a:eto
algum que concretize um facto material qualificado ele cri-
me pelns n·ossas leis penaes, e menos ainda, . portanto, fun.
da m en t o juriclico pa ra esta Gamara conceder essa licença
com plena e absolu ta isen,;ão de a nimo.
Não abstraindo , -p orém, das pergunta-"S tendenciosas cl~
policia, vamos ver o q ue se encontra nesses documentos que
p ossa fazer reca hir uma culpabilidade criminosa sobre esse
nosso collega.
· Nã o ha duvida que o ·principal documento em que o
procnraclor crim inal ela Repubiíca se baseou para fundamen-
ºl
AZEVEDO LIMA
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Pag.
Pag.
Advertencia previa 3
I - Primeiros indicias de arbitrariedade 9
II Presos politicos ·na Casa de Correcção 14
III Esta do de si1tio clandestino n/l Bahia
e em Sergipe 17
IV O credito para a "Revista do · Supremo
Tribunal" e a attitude da Ga mara 37
V Pri sões no Rio Grande 56
VI Refor.m a do proces so penal dos sediciosos 59
· VII Bombardeamentd de São Paulo 61
VIII Appello a o patrioitismo da Gamara 82
IX Reforma regimental 91
X Suspensão do "Correio da Manhã" 92
XI Acerca -da s·i tuação politica do Rio Gran- \
de do Sul 06
XII As prisões politkas e o Sr. Macedo Soares 113
XIII Desastre militar em Guayra 121
XIV Intervenção no Amazonas . 129
XV Arbitrariedades e esperanças 132
XVI Sequestro -da familia de João Francisco 137
XVII P etição -de "habeas corpus" e informà-
ção official 140
XVIII Orça·mernto da Receita e acontecimentos
po11t-icos 147
- 390- SEIS MEZES DE DICTADURA
Pag.
XIX- Tentativa de prisao do orador 162
XX V~rificaç:1io de poderes 166
XXI Comicio ele desacato e tiroteio homicida 172
XXII A -p roposito do levante do "S. Paulo" 187
XXIII Democracia ás' avessas 191
XXIV O manifesto presiden-cial ele 15 de No-
vembro 199
XXV Bomba r-cleio -ele Siio Paulo e opinião do
General Abilio de Noronha . 212
XXVI O presidente Bernardes e suas declara-
ções ao commandante Protogenes . 223
XXVII O problema siderurgico e o Sr. Bernardes 232
XXVIII Promoç:ão dos sargentos 268
XXIX Evasão do Sr. Macedo Soares 272
XXX - Prorogação dos orçamentos . 277
SEGUNDA PARTE
Dhicussão do parecer da: Commissão de Justiça da Camara,
que opiniou pela concessão da licença para formação de
culpa e denuncia do Deputado Azevedo Lima.
I - Discurso do Sr. Adolpho Bergamini (s'essão
ele 10 .de Dezembro) . 283
II Dis-curso do Sr. Vicernte Piragibe (sessão de
10 de Dezembro) 297
· JJI Discurso do Sr. Alberico ele Moraes (sessão
{le 1 O de Dezembro) 307
IV Di'scurs o do Sr. Baptista Luza rdo (s•essão
de 10 Dezembro) 316
V Discurso do Sr. Plinio Casado (sessão· de 10
de Dezembro) 321
VI Discurso do Sr. Nogueirn Penido (sessão de
l.0 de De,zembro 329
\TU Discurso -do Sr. Alberico de Moraes' (sessão
de 26 de Dezembro) 331
VIII Discurso do Sr. Henrique Doclsworth (sessão
de 26 ele Dezembro) 346
XI Discurso elo Sr. Plinio Casado (sessifo de
26 ele Dezembro) 35'7
X Discurso do Sr. Wen.cesláo Escobar (sessão
cte 27 ,d e Dezembro) 375
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BIBLIOTECA DA CÂMARA DOS
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Azevedo Lima
Seis meses de