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28/06/2020 Bíblia do Caminho | Testamento Kardequiano | Livro Obras Póstumas - 2ª Parte - Capítulo 21 - IMITAÇÃO DO EVANGELHO

Bíblia do Caminho † Testamento Kardequiano


   
Obras póstumas — 2ª Parte
(Édition Française)

Capítulo 21
IMITAÇÃO DO EVANGELHO

Ségur, n 9 de agosto de 1863 — (Médium: Sr. d’A…)

NOTA — Eu a ninguém dera ciência do assunto do livro em


que estava trabalhando. Conservara-lhe de tal modo em
segredo o título, que o editor, Sr. Didier, só o conheceu
quando da impressão. Esse título foi, a princípio: Imitação
do Evangelho. Mais tarde, por efeito de reiteradas
observações do mesmo Sr. Didier e de algumas outras
pessoas, mudei-o para o de O Evangelho segundo o
Espiritismo. Assim, as reflexões contidas nas
comunicações seguintes não podem ser tidas como fruto de
ideias preconcebidas do médium.

Pergunta. — Que pensais da nova obra em que trabalho


neste momento?
Resposta. — Esse livro de doutrina terá considerável
influência, pois que explanas questões capitais, e não só o
mundo religioso encontrará nele as máximas que lhe são
necessárias, como também a vida prática das nações
haurirá dele instruções excelentes. Fizeste bem enfrentando
as questões de alta moral prática, do ponto de vista dos
interesses gerais, dos interesses sociais e dos interesses
religiosos. A dúvida tem que ser destruída; a terra e suas
populações civilizadas estão prontas; já de há muito os teus Abrir
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amigos de além-túmulo as arrotearam; lança, pois, a


semente que te confiamos, porque é tempo de que a Terra
gravite na ordem irradiante das esferas e que saia, afinal,
da penumbra e dos nevoeiros intelectuais. Acaba a tua obra
e conta com a proteção do teu guia, guia de todos nós, e
com o auxilio devotado dos Espíritos que te são mais fiéis
e em cujo número digna-te de me incluir sempre.
P. — Que dirá o clero?
R. — O clero gritará — heresia, porque verá que atacas
decisivamente as penas eternas e outros pontos sobre os
quais ele baseia a sua influência e o seu crédito. Gritará
tanto mais, quanto se sentirá muito mais ferido do que com
a publicação de O Livro dos Espíritos, cujos dados
principais, a rigor, poderia aceitar. Agora, porém, tu
entraste por um novo caminho, no qual não poderá ele
acompanhar-te. O anátema secreto se tornará oficial e os
espíritas serão repelidos, como o foram os judeus e os
pagãos, pela Igreja Romana. Em compensação, os espíritas
verão aumentar-se-lhes o número, em virtude dessa espécie
de perseguição, sobretudo com o qualificarem, os padres,
de demoníaca uma doutrina cuja moralidade esplenderá
como um raio de sol pela publicação mesma do teu novo
livro e dos que se seguirão.
Aproxima-se a hora em que te será necessário apresentar o
Espiritismo qual ele é, mostrando a todos onde se encontra
a verdadeira doutrina ensinada pelo Cristo. Aproxima-se a
hora em que, à face do céu e da Terra, terás de proclamar
que o Espiritismo é a única tradição verdadeiramente cristã
e a única instituição verdadeiramente divina e humana. Ao
te escolherem, os Espíritos conheciam a solidez das tuas
convicções e sabiam que a tua fé, qual muro de aço,
resistiria a todos os ataques.
Entretanto, amigo, se a tua coragem ainda não desfaleceu sob
a tarefa tão pesada que aceitaste, fica sabendo que foste
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feliz até ao presente, mas que é chegada a hora das


dificuldades. Sim, caro Mestre, prepara-se a grande
batalha; o fanatismo e a intolerância, exacerbados pelo
bom êxito da tua propaganda, vão atacar-te e aos teus com
armas envenenadas. Prepara-te para a luta. Tenho, porém,
fé em ti, como tu tens fé em nós, e sei que a tua fé é das
que transportam montanhas e fazem caminhar por sobre as
águas. Coragem, pois, e que a tua obra se complete. Conta
conosco e conta sobretudo com a grande alma do Mestre
de todos nós, que te protege de modo muito particular.
Paris, 14 de setembro de 1863.

NOTA — Eu solicitara para mim uma comunicação sobre


um assunto qualquer e pedira que ela me fosse enviada
para o meu retiro de Sainte-Adresse. † [Ver Anexo]

“Quero falar-te de Paris, embora isso não me pareça de


manifesta utilidade, uma vez que as minhas vozes íntimas
se fazem ouvir em torno de ti e que teu cérebro percebe as
nossas inspirações, com uma facilidade de que nem tu
mesmo suspeitas. Nossa ação, principalmente a do Espírito
de Verdade, é constante ao teu derredor e tal que não a
podes negar. Assim sendo, não entrarei em detalhes
ociosos a respeito do plano de tua obra, plano que, segundo
meus conselhos ocultos, modificaste tão ampla e
completamente. Compreendes agora por que precisávamos
ter-te sob as mãos, livre de toda preocupação outra, que
não a da Doutrina. Uma obra como a que elaboramos de
comum acordo necessita de recolhimento e de insulamento
sagrado. Tenho vivo interesse pelo teu trabalho, que é um
passo considerável para a frente e abre, afinal, ao
Espiritismo a estrada larga das aplicações proveitosas, a
bem da sociedade. Com esta obra, o edifício começa a
libertar-se dos andaimes e já se lhe pode ver a cúpula a Abrir
desenhar-se no horizonte. Continua, pois, sem impaciência
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e sem fadiga; o monumento estará pronto na hora


determinada.
“Já tratamos contigo das questões incidentes do momento,
isto é, das questões religiosas. O Espírito de Verdade te
falou das rebeliões que já se levantam na hora presente.
São necessárias essas hostilidades para manter desperta a
atenção dos homens, que tão facilmente se deixam desviar
de um assunto sério. Aos soldados que combatem pela
causa, incessantemente se juntarão combatentes novos,
cujas palavras e escritos hão de causar sensação e levarão a
perturbação e a confusão às fileiras dos adversários.
“Adeus, caro companheiro de antanho, discípulo fiel da
verdade, que continua através da vida a obra a que outrora,
diante do Espírito que te ama e a quem venero, juramos
consagrar as nossas forças e as nossas existências, até que
ela se achasse concluída. Saúdo-te.”

OBSERVAÇÃO — O plano da obra fora, de fato,


completamente modificado, o que sem dúvida o médium
não podia saber, pois que ele estava em Paris e eu em
Sainte-Adresse. Tampouco podia saber que o Espírito de
Verdade me falara da atitude de revolta do Bispo de Argélia
e outros. Todas essas circunstâncias eram bem urdidas para
me comprovar que os Espíritos tomavam parte em meus
trabalhos. (Ver o APÊNDICE no final da obra. Nota da
Editora — FEB)

ANEXO À EDIÇÃO BRASILEIRA

Como Allan Kardec preparou O Evangelho


segundo o Espiritismo n
Charles Kempf
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Vamos examinar, neste artigo, o contexto em que Allan


Kardec redigiu a Imitação do evangelho segundo o
espiritismo.
Quando da desencarnação de Allan Kardec, foram
encontrados em sua casa inúmeros documentos que,
coligidos por Pierre-Gaëtan Leymarie, foram publicados
em 1890 sob o título Obras póstumas.
Na segunda parte desse livro há um capítulo intitulado
Imitação do Evangelho, contendo uma comunicação
mediúnica recebida em Ségur (Paris), no dia 9 de agosto de
1863, pelo Sr. d’Ambel, enquanto Allan Kardec se
preparava para um retiro em Sainte-Adresse, perto do
Havre. A comunicação mencionava o título de uma obra
em preparação, mantida em segredo pelo Codificador,
título esse que o próprio médium ignorava. Mais à frente, a
comunicação prevenia Kardec da forte oposição que ele
encontraria por parte do clero, mas continha também uma
mensagem de encorajamento.
Em seguida, Kardec fala de seu recolhimento em Sainte-
Adresse, onde recebera uma segunda comunicação,
explicando-lhe a razão desse “isolamento sagrado”; “livre
de qualquer outra preocupação”; assistido pelo Espírito de
Verdade e por inúmeros outros Espíritos elevados, durante
o qual o texto inicial do livro havia sido modificado
consideravelmente. Tais elementos eram igualmente
ignorados pelo médium.
Remetemos o leitor à obra mencionada, contendo a
integralidade do texto. Por ora vamos examinar alguns
elementos inéditos, oriundos de três cartas a que tivemos
acesso, enviadas por Allan Kardec, durante seu retiro em
Sainte-Adresse, à sua esposa Amélie Boudet, que ficara em
Paris. A seguir, transcrevemos uma parte de tais cartas:
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Sainte-Adresse, domingo, 6 de setembro de 1863.


Minha cara Amélie, Alegra-me a presteza com que me
escreveste, apesar das ocupações a que por certo te
entregavas naquele dia. Eu não estava inquieto porque sei
que os Espíritos bons nos protegem, e contente fiquei por
saber de tua chegada sem contratempos. No mesmo dia fui
levar tuas recomendações às Sras. Foulon e Mambarel, as
quais te agradecem. Almocei e, no momento de partir, caiu
um aguaceiro que me obrigou a tomar uma condução. Era
o prenúncio de uma horrível tempestade que dura ainda.
Não se pode fazer ideia do barulho ensurdecedor que se
seguiu o dia inteiro e a noite, barulho de despertar os
mortos e, com mais forte razão, os vivos. Começo a me
acostumar com os abalos de minha cabana. Realmente, é
um belo espetáculo ver tudo isso da janela e estar abrigado
ao mesmo tempo. Após o almoço, estando ainda na casa da
Sra. Foulon, a Sra. Mambarel obsequiou-me com uma
comunicação a respeito de uma pastoral do bispo de Argel,
cuja análise foi feita pela Sra. d’Ambel. Ela dá no que
pensar. O mais interessante, porém, é que, tendo opinado
que o arcebispo de Lyon provavelmente seguiria seu
exemplo, minha presença neste momento naquela cidade
teria sido inoportuna e me colocaria numa situação difícil;
que provavelmente foi esse o motivo de me ter
aconselhado a não ir lá. Em síntese, eis a resposta: “Para
muitos adeptos, tua presença teria sido uma oportunidade
para se manifestarem, por se sentirem obrigados por uma
questão de devoção. Teria sido um pretexto para exercerem
sobre eles perseguições que importa evitar neste momento,
visto ser preciso reservar as forças para mais tarde. Os
adversários esperavam tua chegada para isso e os falsos
irmãos tirariam proveito da situação. Tua ausência
frustrou-lhes o projeto. Esta a razão por que lá não devias
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ir, mesmo porque, de toda maneira, nós to teríamos


impedido”.
Darás conhecimento desta resposta ao Sr. d’Ambel e lhe
dirás que eu ficaria muito contente se Erasto, a Verdade ou
qualquer outro Espírito bom houvessem por bem me darem
uma comunicação em meu retiro.
[…] À exceção do bom e do mau tempo, as novidades são
muito restritas no que me respeita, razão por que encerro
minha carta dizendo-te que estou bem de saúde e
trabalhando sempre.
A tempestade parece acalmar-se um pouco; o Sol aparece,
mas o horizonte ainda está carregado de nuvens de mau
augúrio. Adeus, cara Amélie, eu te abraço de todo o
coração, rogando-te que me escrevas muitas vezes e
recomendando-te que te cuides.
(assinado) H.L.D. Rivail.

[…] Fico contente por Maria ter ido te esperar na estação


ferroviária; é uma grande atenção da parte dela à qual
agradeço. […] Não olvides de pôr, em tuas cartas, o
endereço que eu havia esquecido: Rua da Praia.

O conteúdo desta primeira carta confirma, pois, em todos


os pontos, o que figura em Obras póstumas, principalmente
que Allan Kardec havia solicitado uma comunicação e
acrescenta inúmeros detalhes, por exemplo, que Amélie
havia acompanhado o marido e retornado a Paris, que
Kardec residia em uma cabana à beira da praia, bem como
as pessoas que conheceram naquela região, incluindo a Sra.
Foulon, cuja menção encontramos no livro O céu e o
inferno.
Passemos agora à segunda carta:

Sainte-Adresse, 11 de setembro de 1863.


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Minha cara Amélie, recebi ontem tua carta, que me deu tanto
maior prazer porque a esperava com impaciência.
surpreendendo-me por não tê-la recebido mais cedo. Vejo
com satisfação que tudo vai bem. Quanto a mim. como
disse, a uniformidade de minha vida não dá margem a
nenhum incidente digno de ser contado. Limito-me, pois, a
dizer-te que estou bem de saúde, melhor até que no início
de minha estada aqui. Não é senão com o passar do tempo
que a influência da mudança do ar se faz sentir; no começo
se sofre um pouco. Há dois dias somente que o tempo ficou
bom, porque tivemos grandes tempestades.
Almocei uma vez na casa da Sra. Foulon, e quarta-feira à
tarde, voltando ali novamente, aquelas senhoras fizeram
questão de me reterem para o jantar. A Sra. Lombard
preparou-me uma torta de ameixas deliciosa. Não as revi
desde tua carta e não lhes pude anunciar o incidente que
sobreveio às duas pequenas cozinheiras. Quando me
escreveres, dize-me se sabes o nome daquela senhora de
Bourg que para aqui veio. Fico encantado de ver,
finalmente, um gérmen da Doutrina nesta região.
Diz ao Sr. d’Ambel que fui tomado pelo pesar muito natural
que ele experimentou; entretanto, penso que. como
verdadeiro espírita que é, ele saberá suportar tudo isso com
resignação. Domingo passado fiz uma excursão aos faróis,
onde houve uma borrasca seguida de bom tempo. Almocei
no restaurante. Tem uma vista maravilhosa, mas pouco
diferente da dos sinais.
[…] Adeus, cara Amélie; o tempo de meu retiro chega ao fim
e logo poderei te abraçar.
Todo teu.
[assinado] A.K.
Não me esqueças junto de ninguém.

Nesta carta, Kardec menciona o efeito benéfico da Abrir


“mudança de ar”; o que leva a pensar que seu retiro era
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motivado também por um problema de saúde, além do


isolamento para a redação da Evangelho. O Sr. d’Ambel,
médium da Sociedade de Paris, que na época era seu
secretário, aparentemente havia perdido um ente querido. É
de notar, também, a breve menção de uma “senhora de
Bourg”; deduzindo-se que Kardec era ligado àquela região,
na qual havia passado sua infância (Bourg-en-Bresse, perto
de Lyon, onde nascera).
A seguir e na íntegra, a terceira carta:

Terça-feira, 15 de setembro de 1863.


Minha boa Amélie, recebi tua carta esta manhã e. embora
nada tenha de particular a te dizer. apresso-me em
agradecer aos Srs. d’Ambel e Canu pelo que eles fizeram
ao Sr. Costeau, pois atuaram como verdadeiros espíritas.
Sua alocução é admirável; eles mostraram agir com
coração, o que não me surpreende, visto que sua fé é
sincera. O Sr. Vezy também deve receber sua quota de
felicitações.
Quanto à viúva, tu sabes que o Sr. Prévert me entregou 200
francos para as boas ações; podes, pois, lançar mão de uma
parte deles para ajudá-la. Esse dinheiro não pode ter
melhor emprego. Estou maravilhado com as alvíssaras que
me dás; razão tinham os Espíritos quando me disseram
que, ao retornar, eu encontraria um progresso satisfatório.
A comunicação que Erasto me deu, através do Sr.
d’Ambel, é muito animadora para mim e eu lhe agradeço;
concorda com a mensagem da Verdade, a mim transmitida
por intermédio da Sra. Judith. Tu não me falas da tua
saúde, o que me faz presumir que é boa; entretanto, eu
ficaria mais contente se dela tivesse uma certeza mais
positiva. Quanto a mim, estou muito bem; os últimos
banhos que tomei fortificaram-me de maneira notável. Já
não tenho aquela fraqueza nas pernas que sentia há muito Abrir
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tempo e pude comprová-lo domingo. O tempo estava


magnífico e fui tomado pela preguiça, ou seja, trabalhei
muito pouco. Após o banho fiz um longo passeio marítimo
num pequeno barco à vela; embora o mar estivesse calmo,
pensei que não me terias acompanhado naquela casquinha
de noz a balouçar-se nas ondas. À tarde fiz uma excursão à
beira do mar, sobre os rochedos desmoronados que formam
um promontório situado abaixo dos sinais e dos faróis;
depois subi desde o nível do mar até o pequeno vale que
precede os sinais, escalando os rochedos e as falésias. E,
coisa extraordinária! de modo algum me senti ofegante
nem sufocado, como em geral acontece quando subo uma
simples escada. Voltei pela capela de Nossa Senhora das
Ondas e desci novamente à beira-mar para jantar no parque
das ostras. Cheguei em casa às 19:30, estava um pouco
fatigado e me deitei; dormi até às 8 horas da manhã.
Faz alguns dias que o tempo está admirável, sem nuvens no
céu, um Sol resplandecente, um mar tranquilo como um
lago, salpicado de navios e de embarcações de todos os
tamanhos; é um espetáculo encantador. O mar sem fim é
para mim uma grande distração; todo dia constato sua
beleza. Não há um único ponto no horizonte que eu não o
explore, daí saindo observações interessantes e instrutivas
que me levam a meditar, pois tudo é instrução para quem
quer refletir. Domingo próximo será meu último domingo
aqui. Terei uma pequena reunião espírita na casa do Sr.
Bodier, que está muito contente por me receber; em
seguida, farei meus preparativos para a partida. O dia ainda
não está certo, mas penso que será terça-feira ou, no
máximo, quarta-feira; eu to avisarei. Partirei pelo trem das
10:30 da manhã, o que significa que chegarei às 6:30 da
noite, hora conveniente para todos. Adeus, cara Amélie,
teu mui dedicado
[assinado] A. K. Abrir
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PS - Quando me escreveres, cuida que tua carta me chegue


às mãos domingo pela manhã, juntando-lhe, se possível, a
comunicação de Costeau.

Esta carta, mais completa e extremamente tocante, permite


mergulhemos fluidicamente no contexto da época em que
foi redigida a Imitação do evangelho segundo o
espiritismo, nas belas paisagens à beira-mar da Normandia.
Aí encontramos também uma menção à desencarnação do
Sr. Costeau, n que era muito pobre, bem como o auxílio
prestado à sua viúva, além de referência à mensagem de
Erasto, já citada, assim como numerosos detalhes sobre o
segundo motivo desse retiro, que se prendia também a
razões de saúde, muito melhoradas ao que tudo indica,
graças, por certo, à ação combinada dos Espíritos que o
assistiam na redação da obra. Finalmente, Kardec
menciona seu retorno a Paris.
Esperamos que estas informações inéditas permitam aos
leitores se inspirarem, não somente nos elementos
extraordinários contidos em O evangelho segundo o
espiritismo, mas também nos exemplos de devotamento da
vida de Allan Kardec.

(Revista Reformador da FEB | Julho de 2014 | pág. 20.)

[1] [v. domicílio pessoal do Sr. Allan Kardec]

[2] O texto deste artigo, originalmente escrito em francês por


Charles Kempf, foi traduzido por Evandro Noleto Bezerra.

[3] Ver O Céu e o Inferno, segunda parte, Espíritos felizes.

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