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Dolores Galindo
Universidade Federal de Mato Grosso. Av. Fernando Corrêa da Costa, 2367, sala 38/FCA,
Boa Esperança, 78060-900, Cuiabá, MT, Brasil. dolorescristinagomesgalindo@gmail.com
Resumo. Neste texto, argumentamos que, nos Abstract. In this text, we argue that there is a dou-
shows de heavy metal Cristão, ocorre uma dupla ble production of presence in Christian heavy met-
produção de presença, na qual a figura do diabo al shows. The Devil, who is constituted as a pres-
se constitui como presença, por meio de materiali- ence, through materialities, at first secular, which,
dades, em princípio seculares, as quais, desinterdi- disinterested, act in the Christian metal. First, the
tadas, atuam no metal cristão. Primeiro, a presença presence of God, in the Word, taken as an actu-
de Deus, na Palavra, tomada como atualização do alization of the Divine in its material dimension,
Divino, em sua dimensão material, invocada para invoked to purge and banish the image of the devil
expurgar e banir a figura do diabo situado na forma situated in the individual form or in the form of the
individual ou na forma de legiões que lhe é atribu- legions assigned to it. Second, through organized
ída. Segundo, por meio de práticas organizadas na practices in the form of ministries in charge of the
forma de ministérios encarregados das chamadas so-called spiritual battles. Making diabolic gifts
batalhas espirituais. Fazer presentes elementos dia- present and then denying them is a crusade daily
bólicos para depois negá-los é uma cruzada reafir- reaffirmed in the Christian metal. The text has as
mada cotidianamente, no metal cristão. O texto tem theoretical contribution the studies on production
como aporte teórico os estudos sobre produção de of presence of Hans Gumbrecht (2010–2015) and
presença de Hans Ulrich Gumbrecht (2010–2015) e field research content on Christian heavy metal,
o material de pesquisa de campo sobre heavy metal and aims at contributing to delineate one of con-
cristão, e visa contribuir para delinear uma das prá- temporary neopentecostal practices and to discuss
ticas neopentecostais contemporâneas discorrendo the articulations between ministries created to
sobre as articulações entre ministérios undergrounds combat the devil and the heavy metal music linked
criados para combater o demônio e a sonoridade to the biblical discourse.
heavy metal vinculada ao discurso bíblico.
Palavras-chave: diabo, heavy metal cristão, neopen- Keywords: devil, Christian heavy metal, neopente-
tecostalismo, produção de presença. costalism, production of presence.
Este é um artigo de acesso aberto, licenciado por Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional (CC-BY 4.0), sendo per-
mitidas reprodução, adaptação e distribuição desde que o autor e a fonte originais sejam creditados.
Angela Mastella Coradini, Dolores Galindo
do diabo como um outro a ser combatido. Por De todo o espectro de pesquisa em torno
fim, passamos a modalidade de produção de do conceito de materialidade da comunicação,
presença nos shows por meio da prática de to- “utilizado em todos os vários tipos de teoria
car os corpos via heavy metal cristão. de comunicação, que trabalham com alguma
noção de suporte material” (Hanke, 2005, p. 6),
A figura do diabo no talvez seja a noção de produção de presença
presente contemporâneo aquela que “aperfeiçoa” e dá dinâmica aos
processos desencadeados pela presença sem se
Vigora no neopentecostalismo – e no metal opor ao sentido, propondo uma oscilação en-
cristão – uma intensificação da presença da fi- tre eles (Gumbrecht, 2010). Na literatura, por
gura do diabo, que, à espreita, vigia os corpos exemplo, Diniz aproxima a ideia de presença
e é continuamente feito presente por práticas ao processo de imaginação, desenvolvendo
que visam a sua expulsão. Essa intensificação um modo de ler que se centra na “mobiliza-
encontra aporte em estudos que apontam no ção dos afetos e no envolvimento somático do
contemporâneo uma alteração na construção leitor no mundo das coisas” (2016, p. 10). No
sociomaterial do tempo que apresenta altera- espetacular, como prática “de se dar a ver ao
ções “nas concepções usuais de tempo e espa- outro”, segundo Icle (2010, p. 25) a presença
ço” (Gattas, 2007, p. 27), por meio de processos é essencial ao jogo que mobiliza elementos de
de destemporalização, destotalização e desre- presença e de sentido. Como no caso do tea-
ferencialização que desfazem, neutralizam e tro e dos shows musicais onde a dimensão da
transformam os efeitos das cascatas de moder- presença forma camadas que coadunam letras,
nização (Gumbrecht, 1998). O contemporâneo atuação/performance, iluminação, cenário, etc.
descrito como “amplo presente” apresenta-se Mas retornando ao contexto de nosso con-
poroso, sem contornos precisos e com mundos temporâneo, se há no amplo presente um cam-
simultâneos, também acionando um retorno po de tensão com dinâmicas que impulsionam
da atenção à dimensão da presença como par- em direções opostas: uma, que continua a di-
te constituinte da experiência e dos processos recionar, a partir do projeto de abstração do
de interação e não só como um meio para con- espaço, do corpo e do contato sensorial com o
teúdos ou significados (Gumbrecht, 2015). mundo; e a outra, a qual insiste na concretude,
Nesse contexto de mudanças na apreensão na corporalidade e na presença na vida huma-
das coisas do mundo, com uma atenção pro- na (Gumbrecht, 2015), é esse segundo direcio-
gressiva aos fenômenos de presença, à mate- namento que parece nos dar substrato para o
rialidade e ao corpo nas interações, as pesqui- interesse ferrenho dos neopentecostais pelas
sas apontam para perspectivas epistêmicas coisas do mundo e, principalmente, pela inser-
que trazem descrições do mundo que não se ção da figura do diabo como presença. E “pre-
baseiam unicamente em processos interpreta- sença” assinala uma referência espacial, como
tivos, mas que deixam ainda mais complexa a o que “está à nossa frente, ao alcance e tangível
tarefa crítica “ao incluir na própria existência para nossos corpos” (Gumbrecht, 2010, p. 39).
a sensualidade de estar-no-mundo” (Cardoso Dessa forma, quando, no cristianismo pro-
Filho e Martins, 2010, p. 152). Essa abordagem testante neopentecostal, o corpo (templo do
materialista dos problemas das ciências hu- Espírito Santo) perde a condição de inviolável,
manas surge como alternativa às teorias domi- e a possessão do corpo é temida – possibilida-
nantes de perspectivas construtivistas (Felinto de não compartilhada pelos adeptos do pen-
e Andrade, 2005) sendo debitaria de inúmeros tecostalismo clássico – os crentes recuperam
autores1 influenciados por impulsos para a re- uma dimensão material, física e espacial na
formulação das Humanidades que se consoli- religião. O temor ao diabo, que pode irromper
daram na década de 80. a qualquer momento (Felinto, 2008), torna-o
1
Alguns filósofos trazem questionamentos próximos ou apenas tangenciais, como a obra de Walter Benjamin que ten-
tava celebrar o “toque físico imediato dos objetos culturais”; o estudo de Friedrich Kittler, que oferecia uma tese “psico-
-histórica para o domínio do paradigma da interpretação nas Humanidades”; e o abandono da abordagem semiótica da
literatura, pelo medievalista Paul Zumthor (Gumbrecht, 2010, p. 29). Trabalho de outros filósofos também deixavam sua
centelha, como Jean-François Lyotard, que na época apresentava a exposição Les Imatériaux, com a tese de que “a revolu-
ção dos meios eletrônicos dera início a uma desmaterialização cada vez mais veloz da vida humana”; e Jacques Derrida,
que no início de seu trajeto filosófico havia defendido que “a indiferença sistemática da exterioridade do significante era
uma das principais razões para o predomínio devastador do logo-fonocentrismo” (Gumbrecht, 2004, p. 30).
2
Chamada de Power Encounter ou Dominion Theology, nos Estados Unidos, essa teologia exerce forte influência no pente-
costalismo e neopentecostalismo brasileiro (Mariano, 2010).
pode-se argumentar o mesmo sobre o diabo de que os envolve. Fascinação que se expressa por
entendido como produção de presença. certa avidez em se apropriar de tudo aquilo que,
Assim, numa visão dualista de mundo produzido para finalidades mundanas ou não-re-
onde vigora um conflito entre trevas e luz, a ligiosas, mostra-se simbolicamente e esteticamente
sedutor, mobilizador de atenção, consumível em
figura do diabo, em seu protagonismo, tem o
grande escala, racionalizador de esforços. Mídia,
retorno sempre iminente e repetitivo, de modo marketing, computação, internet, artes visuais,
que, mesmo após aparentes términos (exorcis- moda, estética moderna, músicas profanas, estilos
mos), insiste em voltar. Resta aos neopente- e comportamentos de vanguarda, rapidamente são
costais o combate cotidiano, pois faz parte das incorporados, ressemantizados ou instrumentali-
“coisas que nos perturbam precisamente pelo zados individualmente e institucionalmente por
fato de não obedecerem a essa regra geral” dos crentes e grupos de todas as vertentes evangéli-
descartes (Felinto, 2008, p. 49). cas para incrementar a pregação e divulgação do
Tanto os ministérios quanto as bandas de Evangelho (Jungblut, 2007, p. 145).
heavy metal cristão flertam, duplamente, com
a exacerbação da presença da figura do diabo O tradicional rigor e sectarismo dão espaço
e com o contraponto do toque salvador, pois a novas formas de se relacionar com a cultu-
ambos estabelecem continuidades e descon- ra envolvente e com a sociedade (Gumbrecht,
tinuidades com o metal secular e o neopente- 2010, 2015): o apreço pela materialidade, o cui-
costalismo. Tais continuidades e descontinui- dado do corpo, a deglutição das expressões
dades aparecem na adoção de usos estéticos e artísticas mundanas etc. Quase tudo está de-
sonoros do heavy metal, mas também na nome- sinterditado, quase tudo já pode ser sacraliza-
ação de diabólico aquilo do metal que não está do! As fronteiras entre cristão e mundano se
em acordo com o evangelho; ao mesmo tempo, tornam tênues. Se a conexão com Deus deveria
por serem dissidentes de instituições neopen- ser alcançada pelo asceticismo ao mundo – em
tecostais mantêm a intensa essa batalha, contu- sua materialidade e cultura –, na prática neo-
do, focam grupos minoritários não acessados pentecostal, essas coisas do mundo passam a
por essas igrejas. E é a Teologia do Domínio ter função na relação com o sagrado: ou seja,
(Mariano, 2010) e da Batalha (Mariz, 1999) que a cultura do mundo, ao ser inserida no cristia-
vai oferecer suporte, igualmente imersas em nismo, traz também sua materialidade.
muito metal cristão, travadas contra os deno- No seio dessas desinterdições e capturas de
minados e móveis domínios das trevas. práticas, ganha corpo um movimento cultural
evangélico direcionado à juventude e que apos-
Para combater o diabo, ministérios ta em espaços e práticas sintonizadas com a
undergrounds e desinterdição cultura secular contemporânea, dando origem
a organizações interdenominacionais e parae-
O lugar incomum ocupado pelos ministé- clesiásticas, como os Surfistas de Cristo, a Or-
rios underground constitui uma das faces que ganização Palavra da Vida e Tribal Generation
emergem a partir do que Jungblut (2007) chama – Novas Igrejas para a Nova Geração, além de
de desinterdição de áreas de mundanidades, grupos de evangelismo alternativo, como os mi-
um forte processo instrumentalização de ações nistérios underground. Alguns exemplos de mi-
não cristãs, articulado principalmente pelo ne- nistérios underground são a extinta Comunida-
opentecostalismo, o qual insere manifestações de Zadoque, hoje Crash Church Underground
musicais, estéticas e midiáticas no cotidiano das Ministry (São Paulo), Caverna de Adulão (Belo
igrejas, alterando a estereotipada aparência dos Horizonte), Manifesto Underground (Uberlân-
crentes. Pintam os cabelos, usam brincos, vão a dia), Ministério Metanoia (Niterói), Ministério
festas, dançam, praticam esportes, etc. – e as ex- Underground Ossos Secos (Florianópolis), Mis-
tensões podem continuar com o uso de piercin- são Urbana Ossos Secos (João Pessoa), Caverna
gs, alargadores e tatuagens. O que ainda não é do Rock Missões Urbanas (Juiz De Fora), Jocum
permitido são os excessos de bebidas alcoólicas, Underground (Goiânia) (Cardoso, 2012); nos
drogas, sexo fora do casamento, diversidade se- Estados Unidos, o primeiro ministério under-
xual e afetiva, pornografia, frequência a bares e ground, Sanctuary - The Rock and Roll Refuge,
casas noturnas e participação no carnaval. Com foi formado pelo Pastor Bob Beeman, em 1984.
efeito, constata-se Embora tenham em comum a mobilização em
direção à juventude, esses espaços nem sempre
[...] uma inusitada, e aparentemente paradoxal, estão sob a teologia neopentecostal. Suas confi-
fascinação de muitos evangélicos pela mundanida- gurações de crença e práticas vão seguir o ema-
3
Sua primeira formação trazia Batista (vocal e baixo), Elke (bateria) e Kleber (guitarra); entre os anos de 1995 e 1998, gra-
vou três demo-tape (K7) e participou da coletânea em LP Refúgio Rock. Em 1999, lançou o álbum Demonocídio, de forma
independente; em 2002, o álbum Anillo de Fuego, durante uma turnê pelo México; em 2009, o álbum Satanichaos, igualmen-
te de forma independente; e, em 2012, o álbum Apocalypsenow, lançado pela gravadora australiana Rowe Productions.
A banda realiza turnês internacionais frequentemente, já passou por mais de 30 países, em quatro continentes, e traz no
conteúdo de suas letras críticas sociais e a luta contra o inferno.
a ganhar destaque e lançar álbuns por de da música metal, estão dançando ao movi-
gravadoras evangélicas e independentes, mas mentar-se sob a mesma sonoridade. E, para
é a Antidemon (2012), com som death grind, Gumbrecht (2012), os movimentos do corpo
que se torna conhecida internacionalmente e – quando dança – estabelecem uma associação
a principal referência do heavy metal cristão no entre música, ritmo e atmosfera. Segundo o
Brasil (Sousa, 2011). autor, a música e o ritmo são molduras para os
Continuando sua empreitada, os músicos movimentos de dança do corpo, são realidade
cristãos logo alcançam o metal extremo, com percebidas por todo o corpo, não apenas pelos
bandas como a Paramaecium (1991), a qual se ouvidos, podendo fornecer concentração de
transforma em uma das maiores de doom me- energia e, enquanto capazes de afetar os cor-
tal, e a Horde (1994), a primeira de black me- pos, compõem “um relacionamento material
tal, com letras que faziam oposição aos temas com o ambiente”, atmosfera, em que estamos
mais comuns do subgênero. A letra da música inseridos (Gumbrecht, 2012, p. 116).
Invert the Inverted Cross, e o título do álbum, Nos shows de metal cristão, o som dissonan-
Hellig Usvart, deram origem à expressão un- te e tensor proporcionado pelo trítono (inter-
black metal, usada em algumas referências valo entre alturas de duas notas musicais que
para designar o black metal feito por músicos possui três tons inteiros), usado como base
cristãos. Outras bandas também se dedicam a do metal e que carrega o adjetivo de diabó-
um som que se aproxima ao black metal, como lico, desde a Idade Média (Metal Evolution,
Crimson Moonlight (1997), Divine Symphony 2011), acaba por embalar movimentos de cor-
(2001) e Antestor (1990). Nesse conglomerado, pos colocados em frente ao palco que querem
é importante lembrar que nem todas as bandas adorar. O som das técnicas vocais, gutural
de heavy metal que se autodenominam cristãs (som rouco, grave e profundo) e screamo (vo-
são neopentecostais, há exemplares por todas cal rasgado com distorção onde o que é dito é
as vertentes cristãs e, também, algumas que pouco distinguível), carrega “A Palavra” até
não estão ligadas a nenhuma denominação, os corpos. O adereço conhecido como “chi-
em específico. frinho” (meloik: proteção contra mau-olhado),
Contudo, como toca esse metal cristianiza- movimento feito com os dedos indicador e
do? Essa aproximação entre manifestações ar- mindinho das mãos (inserido pelo músico
tísticas e cristianismo começa a ser discutida Dio, no mundo do metal) remodelado por al-
por autores cristãos protestantes, como Hen- guns metaleiros cristãos que fazem o mesmo
derik Roelof Rookmaaker e Francis Schaffer, movimento invertido, convoca os corpos à
no início dos anos 1970, e é colocada como ca- propulsão da música. Essas várias materiali-
paz de “criar a atmosfera na qual vivemos”, dades do metal, ritmo, música, gestos, movi-
onde a maior influência da arte na vida das mentos corporais etc., conjugam um aparato
pessoas seria “no aspecto que mais se parece que concerne a um meio para as ações prose-
com o encanamento e que não percebemos”, litistas, justamente por sua potencialidade de
pelo qual “a mentalidade transmitida pela arte tocar os corpos enquanto presença. É o heavy
é importante” (Rookmaaker, 2010, p. 38-39). metal inserido na religião e instrumentalizado
Ao mesmo tempo, Rookmaaker apontava uma para proselitismo.
prostituição da arte, ao ser usada para prega- Se os movimentos dos dedos indicador
ção: “um meio para o fim de ganhar almas” e anelar, das mãos do vocalista, vão na dire-
(Rookmaaker, 2010, p. 37). Assim, o que parece ção para baixo, objetivam expulsar demônios:
vigorar, de maneira geral, no metal das bandas mas só o podem fazer por tomá-los como pre-
cristãs – e talvez em outros gêneros musicais senças a serem combatidas pela Palavra que,
incorporados – é não só criar atmosferas em também como presença, toca os corpos dos
cultos, ou eventos midiáticos, para configurar que frequentam os shows. É um duplo jogo de
modos de transmitir aquilo em que acreditam, captura, no qual o que se quer expulsar se faz
mas também ser um instrumento de aproxi- presente, exatamente, no ato mesmo da expul-
mação: um meio, ou uma liga, algo que traz são. E expulsar, desvelar o que está escondido,
mais para perto os corpos dos músicos cristãos libertar-se das ataduras da morte, são ações a
e não cristãos que se movimentam sob a mes- serem exercidas pelos metaleiros cristãos neo-
ma sonoridade. pentecostais, seja em shows em espaços alter-
Mediados pelos elementos de ambiência nativos, seja em encontros específicos para es-
dos shows, ao baterem cabeça, chocarem-se, sas metas, como se nota em trechos de diários
saltarem, os corpos estão imersos na ritmida- de campo, nas falas dos vocalistas:
É hoje! Quinta Feira 11 de junho de 2015, mal, numa cruzada moralista sobre os modos
retornamos com a nossa Reunião de Libertação de vida, de maneira que os ministérios under-
e uma dose de Batalha Espiritual. Esperamos grounds e seu metal instrumentalizado operam
vocês... Nenhum de nossos inimigos espirituais por meio da Teologia do Domínio, num mun-
ficará escondido! (Batista Antidemon, 2015a,
do onde a figura do diabo está introduzida em
s/p.).
todas as áreas da vida cotidiana. E, ao lado da
Nessa Quinta feira dia 16 de julho de 2015 às luz (bem), parecem presos ao eterno combate:
20 horas... Noite de Libertação na Crash Church associados a uma lógica de convocação e ex-
Underground Ministry. Será uma continuação pulsão, visto que não há como definir o reino
pratica da Ministração que ocorreu no último de luz, sem fazer referência ao reino das trevas
domingo... onde confrontaremos as ataduras da – o diabo enquanto acusador do homem é o
morte que de alguma maneira ainda estão tentan- princípio contrário a Cristo.
do nos prender (Batista Antidemon, 2015b, s/p.). Permanecem, ministérios e suas bandas de
metal, nessa dupla operação de fazer presentes
No entrecruzamento entre heavy metal e elementos diabólicos, para depois negá-los:
textos do evangelho, os corpos estão imersos numa cruzada, reafirmando cotidianamente
na presença da sonoridade e na presença da a necessidade do exercício de livrar-se da in-
Palavra: e todas essas potências são capazes fluência – expulsar a presença – de um diabo
de tocar os corpos. Parece-nos que os ministé- fantasmático, feito presente, por suas próprias
rios undergrounds e suas bandas de metal vão práticas – para que, paradoxalmente, se man-
operando uma produção de presença sempre tenha longe. Enfim, é no tocar o corpo que se
dualista: simultaneamente, convocando a pre- dá a batalha travada: o metal potencializa a
sença de Deus e da figura do diabo. Comba- presença da figura do diabo para tocar os cor-
tem, organizadamente, o mesmo mal, imersos pos, e a Palavra, enquanto potência de Deus,
na sonoridade do heavy metal. também toca os corpos. Deus e a figura do dia-
bo entram num jogo de múltipla captura e in-
Considerações finais dissociabilidade, nas práticas neopentecostais.
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