Jacques Marie Émile Lacan (13 de abril de 1901 - 9 de setembro de 1981), conhecido
simplesmente como Jacques Lacan, foi psicanalista e psiquiatra francês que foi chamado
de "o psicanalista mais controverso desde Freud". Conhecido por sua forma singular de
ensinar psicanálise, foi responsável pela criação dos seminários anuais em Paris, de 1953
a 1981, Lacan influenciou muitos intelectuais franceses importantes nas décadas de 1960
e 1970, especialmente aqueles associados ao pós-estruturalismo. Suas ideias tiveram um
impacto significativo no pós-estruturalismo, teoria crítica, linguística, filosofia francesa do
século XX, teoria dos filmes e psicanálise clínica.
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Professor Universitário, Psicanalista, Estudioso de Freud-Lacan, Doutorando em Psicologia, Mestre em
Educação (Pesquisa em Formação Psicanalítica e Educação). Coordenador do Núcleo de Formação de
Psicanalistas e Mestres em Psicanálise. Co-coordenador da Clínica Social de Psicanálise – Instituto GAIO.
Contato: consultoriodr.aeuzebio@gmail.com ou Instagram: https://www.instagram.com/aeuzebio.psi
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"Numa época em que a psicanálise buscava fundamentações na Biologia, Lacan escolheu
a linguística e a lógica para reconfigurar a teoria do inconsciente", diz Christian Dunker,
psicanalista e professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP).
Lacan retomou a obra de Freud ao lidar com conceitos como inconsciente, identificação
e Eu (ego), se apoiando em outros autores, principalmente filósofos. Ele rejeitava a
tendência de considerar o ego como a força dominante na estrutura psíquica do sujeito.
Afirmava, em vez disso, a impotência do Eu frente ao inconsciente. Para ele, o sujeito
opera em conflito eterno, e a situação só é sustentável por meio de artifícios, entre eles
a alienação.
De qualquer modo, a despeito dessa divisão didática das clínicas acima descrita, é
importante que se faça leituras fundamentais de Lacan para a compreensão de suas
teorias, bem como discernir que as leituras da clínica não se anulam entre si, mas
acrescentam umas às outras como num trabalho de arqueologia propriamente dito.
Assim, neste primeiro momento de nosso curso, optou-se por dar ênfase à compreensão
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do silêncio da perspectiva da primeira clínica lacaniana, apenas por uma questão
metodológica e didática de Lacan.
É o próprio Jacques Lacan que reitera essa ideia de um colocar-se pessoalmente na cena
analítica, evento possível em seu seminário: “O que realmente me cabe acentuar é que,
ao se oferecer ao ensino, o discurso psicanalítico leva o psicanalista à posição do
psicanalisante, isto é, a não produzir nada que se possa dominar, malgrado a aparência,
a não ser a título de sintoma. (...). Se um saber pudesse nascer do seminário, ele seria,
pois mais um “saber do inconsciente”, “discurso do outro”, que teoria verdadeira. (p.
580-581).
Todavia, antes de ser objeto de estudos da psicanálise, o silêncio é tema primordial nas
teses de teóricos da comunicação, sendo que ―em variados campos de saber onde se
estuda a comunicação, o fenômeno do silêncio está presente e se apresenta como objeto
de estudo.
Neste sentido o nosso papel como analista lacaniano, sempre vai além desse conceito e
compreensão, ou seja, no sentido designado pela definição etimológica concede ao
termo silêncio um caráter ―universal referido à não emissão de sons.
Porém, ―o silêncio é singular, de cada análise, em sua dinâmica própria, e evoca pontos
de vista diversos como ferramentas úteis.
Sobre essa pergunta, que jamais terá uma resposta universal e que só pode ser
respondida um a um, pois o analista, como uma entidade ou uma ideia a ser encontrada
em um sujeito, não existe.
Sendo que, ―na doutrina clássica do passe, o pivô de uma análise e de seu final é o desejo
do psicanalista, tomado aqui como ―o que opera na psicanálise para além
da terapêutica, para além da transferência e para muito além da identificação, compondo
a formação do psicanalista.
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O desejo na análise: olhar da clínica lacaniana
Com base nos estudos Freud-Lacan, vemos que isso não existe. Na verdade, é comum os
pacientes/clientes procurarem a terapia por já não terem qualquer vontade de viver, ou
de fazer coisa alguma, ou por intuírem que sua força libinal está sufocada pela angustia,
podemos dizer ainda casos de pacientes/clientes na contemporaneidade que vem em
direção da clínica (analistas) até mesmo sem saber do que se trata psicanálise, ou por ter
visto um post na internet ou e-mail marketing sobre temas gerais como “ansiedade,
depressão e por aí vai” meios de divulgação do trabalho de alguns analistas, em muitos
casos, esses pacientes/clientes vão ao até o analista com um diagnóstico formado, e já
até com direção do tratamento, indagando-os sobre se poderíamos medicá-los, daí
vemos que não tem vontade de se tratar/melhorar, mas porquê?
(...) O que esses terapeutas não percebem é que o desejo do paciente de prosseguir na
terapia deve diminuir ou desaparecer totalmente, em certas ocasiões – caso contrário,
os conflitos essenciais ligados a seus sintomas não estariam sendo afetados. É verdade
que o paciente tem o direito legal de parar de comparecer, e é verdade que o terapeuta
pode ter feito alguma besteira que levou o paciente a abandonar a terapia, mas, na
maioria dos casos, o paciente fica à procura de uma desculpa para ir embora, e de modo
geral quase qualquer desculpa serve. Os pacientes tendem a faltar a sessões ou até a
interromper a terapia quando intuem que estão sendo solicitados a abrir mão de alguma
coisa, ou a fazer um sacrifício que não estão dispostos a fazer (BRUCE FINK, 2018).
Ao fazer o trabalho com neuróticos (utilizaremos esse termo, mas lembre-se das
estruturas clínica em psicanálise), o (psico)terapeuta deve sempre expressar o desejo de
que os pacientes prossigam, mesmo se achar que eles concluíram seu trabalho. Tais
pacientes terminarão o tratamento quando seu próprio desejo de seguir adiante houver
se tornado suficientemente forte e decidido.
Quando isso nunca acontece, claro, significa que a terapia está deixando o paciente cada
vez mais dependente do (psico)terapeuta, ou seja, o analista reforçou o processo de
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infantilização, e não cabe ao analista esta tarefa embora ocorra com frequência no campo
psicanalítico. Talvez essa seja uma das grandes diferenças da psicanálise em relação a
outras psicoterapias, já dizia Sigmund Freud: Qual a sua responsabilidade na desordem
da qual você se queixa? É que Lacan nos ensina a importância de conduzirmos ao sujeito
a sua posição.
Assim, ao final de uma análise, temos um sujeito que sabe: de seu desejo, do que causa
o seu desejo, da falta na qual se enraíza seu desejo, e que também sabe do seu mais
gozar que vinha obstruindo essa falta. Ou seja, o final da análise consiste em descobrir
que não há, em sentido real, sujeito suposto saber; sendo isso o que constitui o desejo
do analista e sendo isso o que produz um novo silêncio.
O analista está em causa. Ele deve estar a postos com o seu desejo quando alguém o
procura para uma análise. Trata-se do desejo do analista, um conceito formulado por
Lacan, a que vamos nos referir mais adiante.
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sobre si, sobre o próprio inconsciente. Esse saber não é dado, mas construído na relação
analítica.
Vejamos que para Jacques Lacan a autoridade do “Sujeito Suposto Saber” existe em toda
transferência: transferência de ensino, psicoterápica, psiquiátrica, em suma qualquer que
seja o tipo de transferência. Mas, a característica própria da psicanálise é que o Sujeito
Suposto Saber é um efeito do fato de que o analista ocupa o lugar do objeto.
(...) é preciso que o analista se preocupe com aquilo que ele sente em suas entranhas,
sem ter que procurar ocupar esse lugar do Sujeito Suposto Saber, para criar a sua
autoridade dessa maneira. (J.D. Nasio. Como Trabalha um psicanalista p. 68-69).
O simples fato de que uma pessoa que procura uma consulta e esteja diante de um
analista constitui a prova em ato da sua aspiração e da sua expectativa de ser
curado/tratado de algo muitas vezes para ele é uma “psicopatologia”, ou melhor, como
dizia Freud em seus primeiros textos, da sua “expectativa crente”.
O paciente/cliente ao fazer isso, ele crê mesmo no analista. Crê no poder curativo e
transformador que atribui ao procedimento da análise, assim como crê nos poderes da
ciência, do saber e do desejo do analista.
CONSIDERAÇÕES
Vimos que a pedra angular da clínica, isto é, o terceiro elemento da relação analítica, a
linguagem, do sujeito suposto saber, da transferência marca a atuação do analista na
Clínica lacaniana. Desse modo viu-se ainda que é ele que ocupa a posição deste grande
Outro ao ser situado pelo analisando na posição transferencial de sujeito suposto saber
que dá suporte à palavra plena do sujeito.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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