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EDIÇÃO IMPRESSA
Fabiano Maisonnave
Era a época do “Brasil Potência”, e o regime tinha pressa em avançar sobre o que
chamava de deserto verde. Em 1970, foi lançado o PIN (Programa de Integração
Nacional), que previa a construção de rodovias e projetos de colonização.
Quatro anos mais tarde, o presidente Emilio Médici inaugurava a estrada, com mais de
4.000 km entre Lábrea (AM) e Cabedelo, no litoral da Paraíba. “Conquistar a imensa
área verde e construir um grande e vigoroso país”, anunciava a placa comemorativa.
A Amazônia não era desabitada, mas, para o regime, os “silvícolas”, termo empregado
à época, eram mero obstáculo ao progresso. Esse desprezo se traduziu em
deslocamentos forçados, doenças, confrontos e genocídio.
Essa mistura de colonização desordenada com atropelo aos povos indígenas se repetiu
na construção de outras rodovias. É o caso da BR-163 (Cuiabá-Santarém), hoje
importante via de escoamento da soja de Mato Grosso, mas também foco de
desmatamento e garimpo ilegais e que quase levou o povo panará à extinção.
“As compensações feitas para as comunidades indígenas são ações muito pontuais”,
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28/06/2020 Afã de integrar Amazônia levou a desmatamento e morte de índios - 27/06/2020 - Poder - Folha
afirma a liderança Zezinho Kaxarari, cujo povo, que vive na divisa entre Rondônia,
Acre e Amazonas, sofreu com os impactos da BR-364, no trecho entre Porto Velho
(RO) e Rio Branco (AC). “Para os povos indígenas, os danos causados serão para o
resto da vida.”
“É preciso reconhecer que essa estratégia de negação teve sucesso, pois entre muitos
brasileiros a noção de que crimes foram praticados contra indígenas nunca foi
devidamente introjetada e explicada. A política do silêncio se estendeu pelas décadas
seguintes, pois até hoje as Forças Armadas nunca pediram nenhum tipo de desculpa
pelas mortes, doenças, perda dos territórios e outros crimes cometidos contra os
indígenas”, diz o colunista do UOL (empresa que tem participação acionária
minoritária e indireta da Folha).
A lista inclui municípios à beira da Transamazônica, como Anapu (PA) e Apuí (AM);
São Félix do Xingu (PA), sob influência da PA-279; áreas de Rondônia, Acre e
Amazonas próximas à BR-364; e Novo Progresso (PA), cidade surgida com a
construção da BR-163.
Mas a maior parte da floresta derrubada deu mesmo lugar a uma pecuária de baixa
produtividade. Segundo levantamento do projeto TerraClass, uma parceria entre o
Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Especiais) e a Embrapa, a Amazônia Legal
possuía 12 milhões de hectares de pasto degradado, comparável ao tamanho de três
Estados do Rio de Janeiro. O cálculo foi feito em 2014.
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28/06/2020 Afã de integrar Amazônia levou a desmatamento e morte de índios - 27/06/2020 - Poder - Folha
Amazônia), a construção das estradas amazônicas tinha mais cálculo político do que
econômico.
“No caso da Transamazônica, foram dez dias entre a visita do Médici aos flagelados
[pela seca] e o anúncio da estrada. Não houve tempo para nenhum tipo de análise nem
nada”, afirma.
“A BR-319 [Manaus-Porto Velho] não tinha nenhum raciocínio econômico. Era tudo
paranoia de que a Amazônia seria tomada pela cobiça internacional.”
Um deles, Itaituba (PA), se tornou o centro do garimpo ilegal de ouro no Brasil. Essa
posição já pertenceu a Serra Pelada, que, no final dos anos 1970 e ao longo dos anos
1980, se tornou a maior mina a céu aberto do mundo.
Curionópolis (PA), município onde se localiza Serra Pelada, aparece em 3.378º lugar
no ranking do Atlas do Desenvolvimento Humano, enquanto Itaituba está em 3.291º,
em lista com 5.565 municípios.
Com desenvolvimento humano tão baixo, não é surpresa que a importância econômica
da Amazônia seja pífia.
Meio século após o lançamento do PIN, a região representa 8,7% do PIB de 2017, o
ano mais recente disponível. Em comparação, a cidade-região de São Paulo responde
por 24,6% do PIB brasileiro.
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