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Visão do todo

Pensamento sistêmico propõe ter ideias “fora da caixa”.


Forma de abordagem da realidade ajuda na vida pessoal e profissional

Você consegue resolver todos os seus problemas da melhor forma? Pensa no todo
antes de tomar uma decisão importante? Será que o seu raciocínio diário não está tomado por
velhas ideias? As pessoas podem até não se dar conta (e provavelmente não se dão), mas
estão acostumadas a sempre agirem da mesma maneira. Com isso, as dificuldades em
contornar alguma dificuldade serão sempre as mesmas, pois as atitudes não mudam. E não
seria melhor pensar “fora da caixa”?

Na defesa de que devemos promover uma revolução, o pensamento sistêmico vem


sendo aplicado, cada vez mais, em empresas e na vida pessoal. Com o lema de perceber o
todo de maneira expandida no tempo e no espaço, a corrente ganha adeptos e mostra que as
coisas podem ser resolvidas sem o marasmo habitual. Quem reforça a ideia é o professor
do MBA em Gestão Empresarial, Aurélio Andrade. Em entrevista, o sócio do Instituto
Sistêmico (que se apresenta como uma organização voltada para o desenvolvimento de
pessoas, empresas e sociedade para uma vida mais feliz e produtiva) fala sobre como o
pensamento pode ajudar na melhoria da qualidade de vida e ascensão profissional.

O pensamento sistêmico inclui a inter e a transdisciplinaridade, ou seja, "bebe" de


todas as áreas para ter sua percepção da realidade. É isso mesmo? Como você define o
pensamento sistêmico?
Andrade - O pensamento sistêmico é uma nova forma de pensar. Ele nasceu para
responder a fenômenos surpreendentes que ocorreram em várias disciplinas ao longo do
século XX. Os fenômenos motivaram uma “crise de percepção”, causada pela forma de
refletir vigente, o pensamento cartesiano. A crise ocorreu na Física, Biologia e Psicologia,
entre outras, o que implicou a formação de novas áreas, como a Física Subatômica, a Ecologia
e as Terapias Holísticas, respectivamente.
O resultado provocou uma explosão de conhecimento de um novo tipo, especialmente
a partir da Segunda Guerra Mundial. Surgem então ideias inovadoras como Física Quântica,
Teoria do Caos, Matemática da Complexidade, Autopoiese, entre muitas outras. E surge a
interdisciplinaridade (integração de dois ou mais componentes curriculares na construção do
conhecimento), ou mais, a transdisciplinaridade (abordagem científica que visa a unidade do
conhecimento).
Nas primeiras décadas do século passado, o biólogo austríaco Ludwig von Bertalanffy
argumentou que o pensamento cartesiano e disciplinar estava começando a dificultar a
comunicação entre os cientistas. Propôs uma teoria que pudesse recuperar a
interdisciplinaridade, ou mesmo a transdisciplinaridade, que é uma maneira ainda mais
profunda das disciplinas trabalharem juntas.

Qual a importância para as empresas de aplicarem o pensamento no seu dia a dia,


na tomada de decisões?
Andrade - Pensamento sistêmico é a capacidade de perceber o todo de maneira
expandida no tempo e no espaço. Expandimos nossa visão para perceber e agir sobre
fenômenos que o pensamento cartesiano não é capaz de lidar. Que importância isso tem para
as empresas? As organizações vivem cada vez mais imersas em problemas complexos, que são
aqueles que envolvem muitas variáveis, relações intrincadas, alto dinamismo e diferentes
interesses sobre a questão. Nesses casos, o modo de pensar tradicional da gestão é ineficaz.
Ele foca nas partes, não no todo. Foca nos objetos isolados, não nas relações. Foca na visão
linear, não na circularidade. Na estrutura estática, não nos processos dinâmicos. Não é à toa
que vemos crises de percepção também nas empresas. Um exemplo disso são as dificuldades
com a geração Y (e as subsequentes). Em resumo, na gestão moderna é preciso pensar “fora
da caixa”.

E para implantar o pensamento sistêmico é preciso ter uma formação específica,


ser de determinada área, ou o profissional precisa apenas estudar sobre o assunto?
Andrade - Implantar uma nova forma de pensar requer ferramentas práticas. Como
disse Buckminster Fuller, um grande inventor norte-americano, “se quisermos ensinar às
pessoas um novo modo de pensar, não devemos nos dar ao trabalho de tentar ensiná-las. Em
vez disso, oferecemos a elas uma ferramenta, cujo uso levará a novos modos de pensar.” As
pessoas, em diferentes profissões e áreas, devem conhecer o método do pensamento
sistêmico, a linguagem sistêmica e algumas de suas ferramentas. O pensamento cartesiano
oferece muitas ferramentas, e nós as usamos diariamente, até mesmo de maneira
inconsciente. É por isso que pensamos no dia a dia de maneira tradicional. Devemos aprender
novas ferramentas.

No MBA em Gestão Empresarial você trabalha o conceito? De que maneira?


Andrade - Nossa ideia é questionar as abordagens tradicionais de gestão nas
empresas. Eu estimulo meus alunos a perceber que seu raciocínio diário, no trabalho e na
vida pessoal, é dominado por velhas ideias. E elas produzem mazelas, como colaboradores
infelizes, alto turnover (rotatividade de pessoal), sistemas de indicadores que levam ao
conflito diferentes departamentos, insustentabilidade ecológica, social e econômica. As
pessoas estão quase a ponto de largar completamente tais sistemas, pois não suportam mais a
regras burocráticas, a hipocrisia e a falta de ética na empresa e na sociedade. Eu estimulo
meus alunos a pensarem uma revolução na gestão, assim como ocorreu uma revolução na
Física.

E o pensamento sistêmico pode ser implementado em empresas de qualquer área


e em qualquer caso?
Andrade - Sim. Um livro escrito por mim e meus colegas, chamado Pensamento
Sistêmico Caderno de Campo, exemplifica todas essas aplicações. Temos casos em empresas
pequenas, médias e grandes, no setor privado e público. Mas chamo a atenção de que existe
uma crescente demanda pelo pensamento sistêmico na gestão de prefeituras (afinal, cidades
são cada vez mais sistemas altamente complexos) e na gestão de ONGs. O terceiro setor é o
mais ávido, pois as velhas ferramentas de gestão se mostram muitas vezes inadequadas às
ONGs. Tais organizações são diferentes, pois atuam em rede e não por meio de uma
hierarquia. Você é capaz de impor um sistema de regras, indicadores, comando e controle
para pessoas que estão ali fazendo trabalho voluntário? Na minha opinião, dificilmente vai
funcionar bem.

Texto: Pablo Furlanetto


Fonte: http://www.juonline.com.br/index.php/13.03.2013/visao-do-todo/2d47

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