Você está na página 1de 372

Sinopse

A surpreendente notícia de que o arrojado administrador


Harrison Tolly, filho ilegítimo do conde de Ashwood, é o legítimo
herdeiro da propriedade de seu pai chega no momento mais
inoportuno possível. Com um casamento no horizonte e um bebê a
caminho, uma nova vida de privilégios e prestígio seria uma bênção,
exceto por um problema: seu coração pertence a outra mulher.
Harrison mantém tão escondido o seu desejo pela mulher de seu
empregador, Lady Olivia Carey, que até mesmo ela não sabe de sua
devoção. Seu insensível marido, o Marquês Carey, entrou em fúria
depois que a problemática irmã mais nova de Olivia voltou grávida de
sua excursão da Espanha, e Harrison impulsivamente entrou em cena
para salvar toda a família do escândalo. Agora, como Olivia, ele está
preso em um arranjo sem amor. Quando um trágico acidente leva a
vida do marquês, pode Harrison aproveitar sua chance e trocar uma
irmã pela outra? Ou fazer isso vai expor o mais escuro segredo da
família Carey e arruinar sua única chance de ganhar o coração de
Olivia?
Prólogo
Inglaterra, 1809

Vinte e oito almas serviam a família Carey em Everdon Court, e


cada uma delas, desde a jovem que descasca batatas na cozinha até o
senhor Brock, o mordomo, sabiam manter distância de Lorde Carey se
quisessem continuar com seus empregos. Sua senhoria tinha um
temperamento frio e calculista, e com uma ou duas doses de uísque,
ele poderia se sentir provocado pela coisa mais inocente. Depois de
algumas doses, ele poderia facilmente demitir um jardineiro que tinha
servido por vinte anos, mas não tinha conseguido cortar os arbustos de
acordo com os exigentes padrões do marquês no dia em que ordenou
que o fizesse. Ou enviar um jovem do estábulo para embalar suas
coisas e deixar a casa imediatamente caso algo que tenha dito fizesse
Lady Carey rir enquanto ela montava seu cavalo.
Os servos evitavam o marquês sempre que podiam, e quando
não tinham o luxo de fazer isso, mantinham seus olhos para baixo e
os lábios selados. Lady Carey, no entanto, não podia evitar seu
marido. Como ela conseguia cumprir seu casamento com um homem
tão frio era uma fonte de fascínio sem fim para duas velhas amigas
empregadas da família: a senhorita Foster, a cozinheira, e a senhora
Perry, a governanta. Foster acreditava que a proeza de Lorde Carey
no leito conjugal era a única coisa que tinha mantido a marquesa leal
a ele nos seis anos em que estavam casados.
― Uma senhora pode aguentar muita coisa se é devidamente
tratada entre os lençóis, sim? ― Ela alegremente especulava.
A Senhora Perry, que havia sido casada muito mais do que seis
anos, argumentava:
― Você está louca se acredita que uma brincadeira é tudo o que
é necessário. Aposto que o que a leva a aguentar é muito mais a
ameaça de ser tratada de uma forma que ela não vai achar nem um
pouco agradável.
― Bobagem ― dizia a senhorita Foster. ― Nancy nos diria se
isso fosse verdade, ― disse ela, referindo-se à empregada pessoal de
Lady Carey.
― E, além disso, agora ela não estaria disposta a deixar nada
disto para trás, estaria? ― A senhorita Foster estava se referindo, é
claro, à monstruosidade que era Everdon Court. Tinha sido uma
fortaleza um dia, mas ao longo dos séculos os Carey, o sobrenome,
bem como o título decorrente das fronteiras, uma vez conhecidas
como Careyridge, tinham adicionado alas à torre central e levado para
baixo ameias. Agora a casa ostentava dezoito quartos, dois pátios e
uma sala de banquetes anexada ao salão que poderia acomodar cem
convidados. Foi preenchida com as melhores mobílias francesas
obtidas durante o desmantelamento da aristocracia francesa ao longo
dos últimos vinte anos.
― Sim, mas como tudo isso pode ser bom quando ela está
casada com um homem como ele? ― A senhora Perry argumentou.
Para ela, tudo isso pouco adiantaria se o senhor Perry a tratasse da
maneira áspera como o marquês tratava a marquesa. ― São apenas
coisas. Lady Carey merece a estima de um homem.
―Talvez seja uma criança o que ela quer, ― a senhorita Foster
sugeriu. ― Um herdeiro para tudo isso iria servi-la bem.
A senhora Perry deu a senhorita Foster um olhar fulminante. ―
Se fosse para haver uma criança vinda dessa união, teria nascido há
muito tempo.
Cada um dos vinte e oito empregados sabia do problema nessa
frente. Eles esperaram cada mês com ansiosa expectativa, ela estaria,
ou não estaria?
― O que, você acha que sua senhoria é estéril, então? ―
Perguntou a senhorita Foster.
― Não, ― a senhora Perry disse rapidamente. ― Prefiro pensar
que é ele, com todo aquele uísque.
― Talvez você esteja certa, ― disse a senhorita Foster. ― E
então, talvez por isso ele seja incapaz. ― As duas se entreolharam e
riram.
O que não sabiam era que o casamento do Marquês e da
Marquesa de Carey existia só na aparência, e, além disso, entre os
lençóis, mal existia. Na maioria das vezes, Lorde Carey não era nem
exigente, nem u m amante excitante; ele realizava seus deveres
conjugais apenas o necessário para ganhar um herdeiro e guardava
suas preferências pessoais para uma jovem mulher da cidade que
tinha estado feliz em recebê-lo por cerca de quatro anos.
Quatro anos atrás, Lady Carey tinha pensado que estava grávida.
Como qualquer mulher teria feito, ela compartilhou a notícia feliz com
seu marido, que ficou aliviado e grato. Infelizmente, quando dois
meses se passaram, Lady Carey percebeu que não estava mais, ou
nunca tinha ficado grávida, a decepção do marquês foi tão grande
que ele nunca se recuperou totalmente.
Lady Olivia Carey, que tinha desfrutado um casamento muito
notório e elegante entre a alta sociedade da Inglaterra, há muito
havia abandonado qualquer esperança de ter um casamento de mútuo
respeito e admiração. Não havia nada que detestasse mais do que as
duas visitas semanais do marido em seu quarto, exceto por sua
tendência a beber em excesso, e ela estava sempre grata que tudo
terminasse em questão de minutos.
Às vezes, enquanto Olivia estava deitada com Edward tentando
engravidá-la, ela se perguntava como seria ter um amante
emocionante. Ou carinhoso. Ela iria se contentar com um amante que
não se comportasse como um animal respondendo a
alguma necessidade primordial para procriar. Por vezes, ela ficava lá
deitada contando as telhas do telhado, tentando adivinhar em qual
número ela poderia chegar antes de ele terminar.
E ainda outras vezes, quando ele cheirava a uísque e
desajeitadamente a tocava, Olivia passava o tempo imaginando as
maneiras que podia assassinar seu marido e evitar ser descoberta.
Atirar nele era muito arriscado, já que não estava inteiramente certa
de como disparar uma arma. Imaginou atrapalhar-se com a coisa e
perder o elemento surpresa. Empurrá-lo do alto de Everdon Court
parecia uma alternativa melhor, mas ela poderia chamar a atenção se
o convidasse para um encontro no telhado. E depois, claro, precisaria
que ele ficasse na borda, de preferência onde ela poderia correr um
pouco para ter força suficiente para derrubá-lo.
Veneno parecia a opção mais sensata, mas a senhorita Foster
nunca permitiria Olivia perto dos alimentos de sua senhoria. A mulher
era inteiramente consciente e orgulhava-se das refeições que servia.
Seria difícil convencê-la de que Olivia estava de repente interessada
em preparar um prato para o marido consumir. E realmente, quanto
veneno era necessário para matar um homem? E se ela não usar o
suficiente? Ou tanto que o sabor da comida ficasse arruinado?
Ultimamente, os pensamentos assassinos haviam perdido o
brilho para Olivia. Por um lado, Edward não tinha sido capaz de
realizar “seu dever”, como ele chamava, por mais de um mês devido a
seu gosto pela bebida. Certamente não o impediu de tentar, mas ele
desistiu rapidamente e Olivia se virou e olhou para os laços de seda
dourada que seguravam as pesadas cortinas do dossel em volta de
sua cama. Inevitavelmente, ela sentia um poço de inveja borbulhando
de Alexa, sua irmã mais nova.
Ela não invejava a situação desastrosa de Alexa. Ela invejava o
fato de que Alexa tinha caído tão profundamente de amor por um
homem que andava com um olhar de desejo em seus olhos. Alexa
recusou-se a revelar a Olivia quem tinha ganhado sua devoção; a
única coisa que Olivia sabia era que ele era um cavalheiro que ela
havia conhecido na Espanha, enquanto esteve de férias com Lady
Tuttle. Alexa mal podia falar de qualquer outra coisa, além da sombra
fina marrom de seus olhos, o timbre de seu riso ou a inteligência de
seu discurso.
Oh, mas Olivia invejava o tranquilo e desesperado declínio que
parecia envolvê-la como um xale de inverno pesado. Olivia queria saber
o que era, como se sentia. Ela queria sentir.
Na primeira quinzena de seu retorno da Espanha, Alexa não
tinha revelado que estava carregando o filho do homem. Olivia tinha
adivinhado pela forma como Alexa sem perceber colocava a mão em
seu abdômen quando falava de amor. E enquanto Olivia admirava a
determinação feroz de Alexa de proteger seu amante da
condenação e do escândalo, ela queria estrangular a jovem tola por
trazer este problema intransponível para Everdon Court.
Quando Olivia confrontou-a, Alexa tinha tentado negar ― tão
típico! Ela tinha sido mimada quando criança e permitiam que
barganhasse e esperneasse fora seus problemas, e nunca tinha
aprendido a arte de assumir seus erros. Preferia negar e transferir a
sua culpa para onde ela conseguia... e Olivia sempre pegava os
pedaços.
Especialmente desde que sua mãe tinha morrido.
Alexa era oito anos mais jovem que Olivia e sua única irmã, a filha
de sua mãe e do seu segundo marido. Ela tinha cabelos claros, como
Olivia e sua mãe, mas seus olhos eram castanhos, não azuis como os
de seus, e era menor em estatura do que Olivia.
Sua mãe tinha sempre adorado Alexa. Todos tinham. Alexa tinha
sido uma criança querida, com cabelos encaracolados e um sorriso
1
com covinhas que combinava com seu borbulhante joie de vivre .
― O diabo beijou aquela garota quando ela nasceu, ― sua mãe
costumava dizer, e era verdade que, na infância, Alexa era sapeca. Na
juventude ela mostrou ser um espírito livre e desdenhoso das regras
sociais que governavam suas vidas. Ela nunca pensava nas
consequências de suas ações, enquanto que Olivia tinha sido sempre
circunspecta. E quieta. E responsável.
Entretanto, Alexa geralmente não era tão irresponsável.
Quando Alexa finalmente admitiu a verdade ela caiu em suas
mãos e joelhos, enquanto grandes soluços asfixiavam seu corpo.
― O que devo fazer, Livi? ― Ela implorou. ― Eu não sei o que
fazer!
Foi doloroso para Olivia ver sua irmã tão perturbada,
especialmente porque Alexa realmente não sabia o que fazer. Olivia
podia adivinhar que as consequências de seus atos mal haviam tido um
pensamento na cabeça da menina até agora.
Infelizmente não havia nada que elas pudessem fazer a não ser
contar a Edward, e Olivia sabia que ele não aceitaria bem. Edward não
iria tolerar o espírito de Alexa.
― Ela sempre procura ajustar suas ligas em público, em seguida,
faz cara de inocente, ― ele reclamou uma vez quando Alexa tinha
assistido a um baile em Londres e dançou com o mesmo jovem
cavalheiro quatro vezes.
Quando Olivia explicou a sua irmã que isso simplesmente não
poderia ter sido feito a menos que houvesse um entendimento com o
jovem, Alexa tinha ficado docemente contrita. ― Perdoe-me ― ela
disse. ― Eu não sabia.
Edward não se acalmou.
― Ela não tem apreço pelo nome Carey, e eu sou primo em
segundo grau do rei! ― Ele protestou com Olivia, como se dançar
pudesse de alguma forma ser comparado com traição.
―O que vamos fazer, Livi? ― Alexa perguntou para
sua irmã, artisticamente convertendo sua gravidez em um dilema para
as duas.
― Nós não temos outra escolha a não ser explicar isso a Edward,
― Olivia disse, cansada.
Alexa engasgou e se jogou aos pés de Olivia, implorando por
qualquer outro destino que não esse.
― Oh, Alexa, ― Olivia disse com tristeza, inclinando-se sobre
sua irmã. ― O que você esperava? Não será óbvio para todos nós em
questão de semanas?
― Sim, mas eu pensei que ia me ajudar sem contar-lhe.
― Devo contar-lhe! Como eu poderia esconder esse fato dele?
Havia tanto que Alexa não entendia, particularmente quão
impotente uma mulher era neste mundo dominado pelos homens. No
momento em que a mulher dizia seus votos de casamento estava
condenada a qualquer destino que seu marido determinasse. Ela não
podia escapar.
― Devemos dizer a ele agora? ― Alexa perguntou entre
lágrimas.
― Vai acontecer o jantar para o Duque de Rutland, e você sabe
como o marquês pode ser.
Olivia sabia melhor do que ninguém. Edward não iria respeitar
mesmo um sopro de escândalo quando o Duque de Rutland vinha
para jantar.
― Depois da ceia, ― ela disse a Alexa. ― Mas não mais tarde do
que isso.
Ela não tinha certeza de quem estava mais aliviada, ela ou
Alexa.
Capítulo Um

Harrison Tolly, o administrador da família Carey, era conhecido


na vila de Everdon por seu comportamento afável e sua vontade de
ajudar os amigos em necessidade. Razão pela qual seu amigo Marcus
Dembly, o dono de Mercadorias Dembly, acreditava que Harrison iria
ajudá-lo com o problema de ter muitos cavalos em seu estábulo.
Ele trouxe o cavalo até Everdon Court para mostrar a Harrison e
estava tentando convencê-lo a montar.
― Não tenho a intenção de comprar o seu cavalo, Dembly ―
Harrison disse enquanto admirava o castrado Ruão. ― Você percebe,
não é?
― Eu não posso ver por que não, ― disse Dembly. ― Por que
depender dos estábulos de Everdon Court quando você pode ter o seu
próprio cavalo? Há um estábulo perfeitamente bom aqui na casa da
viúva. Eu diria que você deveria querer seu próprio cavalo, de modo
que possa chamar sua Lady X sempre que lhe agrada.― Ele sorriu e
socou Harrison no ombro.
Lady X era como os amigos de Harrison referiam-se à mulher
que ele adorava de longe. Ou melhor, eles não sabiam que ele a
adorava de longe; eles tiraram suas próprias conclusões porque
Harrison tinha se recusado a revelar seu nome.
Ele nunca teria mencionado se não houvesse um movimento em
andamento nos últimos anos para arranjar-lhe uma esposa. Às vezes
parecia-lhe que metade de Everdon estava desesperada para vê-lo
casar, e a outra metade desesperada para ele não se casar com
alguém de sua família, tendo em vista as circunstâncias de seu
nascimento, melhor dizendo, sua falta de paternidade.
― Seus poderes de persuasão são muito bons, ― Harrison disse
de maneira agradável. ― Mas eu não vou comprar um cavalo. Não
preciso e não tenho os meios para alimentar um cavalo. O que é
suspeito, é a razão pela qual você esteja tão ansioso para vender.
― Caramba, Harry, apenas experimente o cavalo, certo? ―
Dembly implorou, claramente irritado agora. ― Eu vim de tão longe.
Você pode pelo menos fazer minha vontade.
― Muito bem, ― disse Harrison com um encolher de ombros. ―
Deixe-me passar o dia com o cavalo e eu vou fazer sua vontade
corretamente. Por qual nome você chama esse castrado?
― Lightning, ― disse Dembly.
― Terrivelmente original ―,Harrison falou ousadamente. ― Vá,
então, ― ele disse, espantando seu amigo. ― Eu não terei você no
meu pé, esperando por um milagre.
Colocou o pé no estribo, Dembly tinha posto uma sela de
primeira qualidade, Harrison observou e virou-se. Sentiu-se bem sobre
o cavalo, ele era forte e resistente. E grande. Tão grande que Harrison
só podia imaginar que o animal exigiria um pasto inteiro e um alqueire
de cenouras a cada semana.
Ele estimulou o cavalo para apaziguar seu amigo e cavalgou
através dos portões para o parque atrás de Everdon Court, a caminho
da casa de o senhor Fortaine, o inquilino que ele tinha a intenção de
chamar hoje. Tomou o caminho da floresta que leva à estrada do rio e
quando saiu da floresta, se deparou com Lady Carey na clareira
gramada ao lado do rio.
Ela estava em pé diante de um cavalete. Usava um chapéu de
abas largas e segurava uma paleta em uma mão. Estava vestida com
um vestido de musselina branca e cor-de-rosa. Um lacaio estava
sentado em uma rocha na margem do rio, uma vara de pesca na
mão.
Harrison trotou até ela. Lady Carey virou a cabeça; quando viu
que era ele sorriu de maneira serena.
Aquele sorriso flutuava através de Harrison como poeira de
estrelas.
― Sr. Tolly! ― Ela disse, sua voz cheia de prazer. ― Que
surpresa agradável! Você é a pessoa certa para dar uma opinião
honesta sobre minha pintura. Pode dar uma olhada?
― Eu não sabia que era uma artista, ― ele disse quando saltou
do cavalo castrado.
― Não? ― Ela perguntou, sorrindo timidamente.
Ele se aproximou para dar uma olhada em sua obra. Teve que
tombar a cabeça para um lado e apertar os olhos um pouco, mas
depois de cuidadosa consideração, determinou que a pintura era de
um bode comendo margaridas em um campo. E aquele bode tinha
um rosto de homem. Um rosto vagamente familiar. Algo parecido com
o marquês.
― O que você acha? ― Ela perguntou alegremente. ― Você
gosta?
― Bom... está bem colorido ― disse ele.
― Colorido! Que gentil!
Ele a olhou de esguelha; ela tinha um sorriso brincalhão nos
lábios enquanto casualmente estudava seu trabalho.
― Minha habilidade em interpretar obras de arte é pequena ―
disse ele, ― mas se não me engano você pintou um bode com um
rosto familiar.
O sorriso dela se iluminou. ― Sim, de fato! Você está
impressionado com a minha habilidade?
― Ah... ― Ele olhou para a pintura novamente.― Estou
impressionado. Mas não com a sua habilidade.
Lady Carey começou a rir, uma profunda risada que fez brilhar
seus olhos.
― Eu compartilho da sua opinião ― disse ela, rindo, e levou seu
pincel para a cauda do bode. ― No entanto, o meu marido acredita
que as senhoras de berço devem pintar. E, portanto, eu pinto ― disse
ela enxugando a paleta. ― Gosto da vida selvagem ― continuou ela,
e começou a retocar as margaridas que estavam saindo da boca do
bode. ― Você sabe, cavalos e aves. Cabras. Mesmo burros. ― Ela
piscou. Harrison não pode impedir sua risada.
― Você é talvez a melhor pintora de cabras que eu já vi. — Lady
Carey riu calorosamente. ― Sua irmã está por aí? ― ele perguntou,
olhando ao seu redor enquanto Lady Carey acrescentava mais algumas
margaridas em seu campo.
― Infelizmente não. Alexa não está se sentindo bem.
Para Harrison a senhorita Hastings sempre atraia problema.
Certamente, o marquês não se importava com ela. ― Ela é como
um pavão ― ele disse um dia, sem motivo aparente. ― Sem qualquer
senso de decoro.
Harrison não tinha ideia do porquê o marquês falava assim, ele
nunca ouviu qualquer coisa sobre a senhorita Hastings. Assim, pensou
que o marquês simplesmente não gostava dela.
― Sinto ouvir isso. ― Disse para Lady Carey.
Lady Carey sorriu lindamente para ele, mas seu olhar se fixou
em algo atrás dele.
― Este é um novo cavalo, Sr. Tolly? ― perguntou ela, inclinando-
se para a direita para ver ao seu redor.
― De certa forma, ― disse Harrison. ― Meu amigo, o senhor
Dembly, quer que eu compre. Ele não se importa com o fato de que eu
não tenho necessidade de um cavalo.
― Não? Este parece que seria um bom corredor.
Harrison olhou para o cavalo, depois para ela.
― Você gostaria de montá-lo?
Ela ofegou com prazer. ― Posso?! — Perguntou, já colocando
sua paleta de lado.
― Claro que pode. No entanto, o cavalo não está selado
adequadamente para uma senhora.
― Oh, tudo bem, ― disse ela com um movimento casual das
mãos. ― Farei dar certo.
Ela posicionou-se ao lado do cavalo e Harrison levou suas mãos
para ela, já que o estribo era muito alto. Ela deslizou o pé em seus
dedos e deu um impulso quando a levantou. Ela posou diretamente
na sela, enganchou seu joelho ao redor das alças. A outra perna ficou
exposta a partir da panturrilha, e embora ela usasse meias brancas,
Harrison pode ver a linha de sua perna bem torneada.
― Oh, ele é realmente um belo cavalo, ― Ela disse, e se inclinou
para acariciar seu pescoço. ― E bastante forte.
Seus seios puxaram contra seu casaco quando ela tentou
alcançar o cavalo, e Harrison imprudentemente imaginou aqueles seios
pressionados contra ele.
― Talvez você possa dar-lhe um pouco de encorajamento? ―
Ela perguntou.
Harrison golpeou a garupa do cavalo. O cavalo começou em um
galope lento. Lady Carey montou habilmente, levando-o a trotar ao
redor da clareira, fazendo um grande círculo em torno de seu cavalete
e de Harrison, que estava com as pernas abertas e as mãos nos
quadris. O chapéu dela caiu de sua cabeça, mas seu lacaio foi rápido
para recuperá-lo.
― Você se lembra da corrida entre o senhor Williams e o senhor
Janus há alguns anos atrás? ― ela perguntou ao passar por Harrison.
Como se Harrison pudesse esquecer qualquer momento que ele
passou em sua companhia. Naquele dia em particular ela o tinha
convencido, com seu sorriso cativante e risada encantadora, a fazer
algumas apostas em seu nome.
― Meu marido não vai permitir qualquer aposta, você sabe, ―
ela sussurrou. ― Ele acha que é bastante vulgar. O que você acha, Sr.
Tolly?
― Eu acho que você está louca em apostar no senhor Janus ―
disse baixo. ― Ele é mais pesado do que o senhor Williams e não
pode ganhar dele naquele cavalo.
― Eu tenho fé no senhor Janus, ― ela insistiu de maneira
impertinente, e tinha pressionado algumas moedas na palma da sua
mão. ― Você se importaria de apostar comigo?
Harrison faria qualquer coisa para prolongar o tempo em sua
companhia. ― O que você tem em mente, milady?
― Se o senhor Janus ganhar por uma cabeça, você deve me dar
dez libras.
― Dez libras? ― Ele disse, erguendo uma sobrancelha com
diversão.
― Desculpe, é muito dinheiro para você? ― Ela brincou com ele.
― Eu acho que é muito ousado para você.
― Você quem sabe ― ela disse timidamente.
― Se o senhor Janus ganhar por menos de uma cabeça, eu vou
dar-lhe dez libras. E se ― ele disse, o olhar fixo em seus olhos azuis
cintilantes ― não ganhar nada?
Ela encolheu os ombros. ― Então vou dar-lhe vinte libras.
Ele riu. Mas apostou.
O senhor Janus tinha vencido com folga naquela tarde,
colocando quatorze libras no bolso de Lady Carey. Mas ele ganhou
apenas por um nariz, o que significava que ela tinha perdido para
Harrison. Isso não diminuiu seu espírito triunfante.
Correu tudo bem até o marquês descobrir que a única pessoa a
apostar em Janus e ganhar tinha sido sua esposa. Ele ficou bastante
irritado com seu “descaramento” e forçou-a a dar-lhe os seus ganhos.
― Está muito silencioso, Sr. Tolly, ― Lady Carey disse ao passar
novamente por ele. ― Certamente você não esqueceu?
― Sabe muito bem que me lembro, ― disse ele. ―
Particularmente o quão satisfeita você ficou consigo mesma.
Ela riu. ― Naturalmente! Provei que era a única entre nós que
poderia ler um cavalo. ― Ela chutou o castrado no flanco e enviou-o
em um galope.
Harrison observou como seu cabelo loiro pálido escapou de seus
grampos e começou a voar atrás dela. Quando ela virou no final da
clareira e galopou de volta, as tranças estavam totalmente desfeitas e
caíam sobre os ombros.
― Devo-lhe dez libras, ― disse ela.
― Eu mal me lembrava.
― Não acredito em você. Acho que é um amigo querido e está
corajosamente tentando esconder o fato de que eu não consegui
honrar minha aposta.
Um amigo querido. O peito de Harrison vibrou um pouco com
essa admissão. ― Foi uma aposta amigável, ― disse ele. ―Posso
ajudá-la a descer?
― Por favor.
Estendeu a mão em sua direção e ele pegou-a pela cintura
enquanto ela apoiava as mãos em seus ombros para que a baixasse.
Suas saias e pernas roçaram-no; o cabelo dela flutuou entre eles.
Deus, como Harrison ansiava tocar aquele cabelo, senti-lo entre os
dedos. Ele a colocou no chão e ela olhou-o com carinho em seus
olhos.
Foi afeto, não foi? Sua mente não estava brincando? O que quer
que ele tenha visto fez seu sangue correr.
As mãos de Lady Carey deslizaram de seus ombros e ela tocou
em seu peito com um sorriso no rosto.
― Eu deveria terminar minha pintura para mostrar a meu marido
que me portei como uma senhora deveria. ― Ela se afastou e Harrison
sentiu como se uma corrente de ar frio de primavera houvesse
preenchido seu lugar. ― Você vai me ajudar com o arranjo dos
lugares do jantar, não vai, Sr. Tolly?― Ela chamou por cima do ombro
enquanto voltava para seu cavalete.
― Isso depende, ― disse, e sorriu quando ela se virou para ele. ―
O senhor Wallaby vai estar presente?
― Pior que isso, ― ela disse, enquanto Harrison observa-a
arrumar seu cabelo graciosamente. ― Lady Ames vai se juntar a nós.
― Meu Deus, ― disse ele, e deu um tapa brincalhão sobre o
coração. ― Vou vestir minha armadura mais pesada.
A risada de Lady Carey encheu o ar.
― Você sempre me faz rir tanto, ― ela disse aceitando o chapéu
que o lacaio oferecia. ― Boa tarde, Sr. Tolly.
― Boa tarde, ― disse Harrison.
Ela voltou para sua pintura, com o rosto uma vez mais
obscurecido. Ele montou no cavalo e virou-o, trotando na direção da
casa de campo do senhor Fortaine, seu corpo uma massa de nervos
desordenados e emoções conflitantes.

Alexa ainda estava em sua cama, um pano frio na testa, seu


travesseiro molhado pelas lágrimas que nunca pareciam parar de cair.
Ela se recusou a levantar, se recusando a participar do jantar em
homenagem ao Duque e a Duquesa de Rutland.
Com toda a honestidade, dessa maneira foi melhor para Olivia.
Ela já tinha o suficiente com que se preocupar e não precisava ficar
preocupada se Alexa ofenderia Edward com algo tão simples como
respirar. Isso não estava fora das possibilidades.
Os convidados do jantar eram esperados às sete horas, e às seis
horas Edward ainda não tinha retornado de sua cavalgada para só
Deus sabia onde. Mas Brock tinha informado Olivia que o Bispo
Ogden, que era famoso por aparecer cedo, tinha chegado.
― Descerei para vê-lo em um momento ― assegurou ao
mordomo, e deu uma última olhada no vestido de seda azul bordado ao
longo da bainha recortada que tinha encomendado. Ela devia ao
senhor Tolly um agradecimento, foi ele que levou a amostra de tecido
até Londres e em seguida, o encomendou, junto com outros bens de
consumo.
Ela ouviu Edward antes mesmo de vê-lo; não havia dúvida que
estava bêbado, cambaleando pelo corredor. Olivia ajustou uma tiara
de pérolas sobre a cabeça enquanto Edward entrou pela porta de sua
suíte.
Ele parou ali, ombro contra o batente, olhando para ela,
claramente atordoado. Ele se afastou da porta e passou devagar.
― Minha querida esposa.
― Bem-vindo, milorde, ― disse ela.
Seu olhar passou sobre ela, mas soube que nenhum elogio a sua
aparência seria iminente. Edward colocou seu braço em volta dos
ombros dela. Ele cheirava a uísque e perfume, e quando tentou beijá-
la, ela virou a cabeça; seus lábios pousaram na bochecha. Tentou
beijá-la novamente, mas Olivia virou a cabeça ainda mais, inclinando-
se para longe dele.
― Você está me recusando? ― Ele assobiou.
― Eu preferiria, ― disse ela, se libertando de seu abraço, ― que
você, pelo menos, lavasse o perfume da outra mulher do seu corpo.
O rosto de Edward enfureceu. ― Você acha que é tão desejável?
― Perguntou. ― Você me dá nojo.
Ele se voltou em direção a ela novamente, mas Olivia levantou a
mão. ― Nós temos convidados para o jantar esta noite. O bispo já
chegou e o duque não está muito atrás.
Edward olhou para ela, sua mandíbula apertada fechada. Mas
ele não a alcançou novamente.
― Se você me der licença, irei fazer companhia ao bispo até que
possa se juntar a nós. ― Ela passou por ele sem olhar, esperando que
a chamasse de volta.
Mas não fez. Um Duque estava chegando, e Edward estava, sem
dúvida, mais preocupado com a forma como ele seria observado por ele
do que por Olivia.
O Duque e Duquesa já tinham chegado no momento em que
Edward apareceu, depois de ter tomado banho e vestido roupas
formais. Era notável para Olivia como ele conseguiu se recompor, mas
já tinha feito isso uma e outra vez. Ninguém poderia suspeitar que
apenas a três quartos de hora atrás ele tinha cambaleado em sua
suíte cheirando a uísque e perfume.
Ele estava na companhia do senhor Tolly, e Olivia estava feliz
com isso. O senhor Tolly era uma boa influência para Edward. Era uma
boa influência para todos, na realidade. Olivia presumia que ele era
um pouco mais jovem do que o marido, mas ele estava muito mais em
forma; seu marido havia se descuidado nos últimos anos. O senhor
Tolly era um pouco mais alto do que Edward, e enquanto Edward
tinha cabelos dourados, o senhor Tolly tinha cabelos castanhos cor de
mogno e seus olhos eram brilhantes. Os olhos de Edward eram tão
marrons que pareciam quase pretos. Dois buracos escuros sem fundo.
Juntos, os dois homens cumprimentaram o Duque e a Duquesa,
em seguida, andaram ao redor da sala para cumprimentar os poucos
convidados, eventualmente chegando ao lado de Olivia. Estava de pé
com o bispo, que tinha tomado um gosto por ela há muito tempo e
raramente saía de seu lado quando em sua companhia. Ela estava
mostrando para o bispo sua pintura.
O cavalete e a pintura pareceu confundir Edward depois de ele
ter cumprimentado o bispo.
― O que é isso? ― Perguntou. ― Por que está neste salão?
― É a pintura que me pediu para fazer, ― disse Olivia. ― Eu pedi
ao criado para colocá-la aqui. Você gosta?
Ele olhou para ela estranhamente, em seguida, para a pintura. ―
O que é isso? Uma cabra?
― Uma cabra! ― Ela riu. ― É um cavalo, meu amor.
Em pé atrás de Edward, o senhor Tolly arqueou uma
sobrancelha e um leve sorriso apareceu em seus lábios. Olivia teve
que morder o interior de seu lábio para não sorrir enquanto Edward
se inclinou, apertando os olhos.
― É um belo cavalo Lady Carey, ― disse o bispo. ― Pequeno,
eu acho, mas um bom cavalo. ― O bispo estava apertando os olhos
também, e agarrando seu segundo xerez como se temesse que
pudesse ser arrancado de sua mão por um vendaval.
― Um cavalo, ― repetiu Edward.
― Sim. Um cavalo.
O senhor Tolly olhou para baixo. Olivia podia ver os músculos de
sua mandíbula trabalhando para não sorrir.
Edward se afastou de sua pintura. ― É uma versão infantil,
então. Coloque-a no berçário onde ela pertence.
― Ah sim, enfeitaria o berçário muito bem, ― disse o bispo.
― Eu concordo, ― Olivia disse alegremente. ― Eu poderia até
mesmo acrescentar mais à pintura. Tal como um laço ao redor da
cabeça do bode. Ou uma explosão de fogo. — Mas Edward não o
ouviu já tinha saído.
― Esse cavalo passou por uma transformação notável nas
últimas horas, ― disse o senhor Tolly.
― Não foi? ― perguntou ela com um sorriso travesso.
― Sr. Tolly, é você? ― Lady Ames gritou do outro lado da sala.
― Eu tenho uma pergunta de importância considerável, senhor!
O senhor Tolly deu a Olivia um leve estremecimento antes de se
afastar para falar com Lady Ames.
A ceia foi servida precisamente às oito horas. Olivia, sentada na
extremidade da mesa, estava ao lado do bispo. Essa não foi a
disposição dos assentos que ela e o senhor Tolly tinham planejado, e
ela suspeitava que o bispo pediu a mudança. Edward estava na outra
extremidade na companhia do Duque e da Duquesa. Ele estava
relaxado e rindo.
O bispo começou a conversar assim que o vinho começou a fluir.
Olivia se empenhou para ser uma boa ouvinte, ela realmente tentou...
mas o bispo tinha uma tendência a falar em grandes caminhos
concêntricos antes de chegar a qualquer coisa que se assemelhasse
mesmo remotamente a um ponto. Por duas vezes, enquanto
trabalhava para manter-se atenta, Olivia passou o olhar na direção do
senhor Tolly e chamou sua atenção. Ele estava sorrindo para ela com
diversão, sabendo muito bem a agonia que estava sofrendo. Uma vez,
Olivia inclinou sutilmente sua cabeça para o bispo, em silêncio,
sugerindo ao senhor Tolly para envolvê-lo.
O senhor Tolly, igualmente de maneira sutil, recusou a oferta.
Apesar da conversa tediosa, ela pensou que a noite avançava
muito bem. Não sentia uma sensação de mau agouro que muitas vezes
sentia quando apenas ela e Edward jantavam. Seu marido parecia de
bom humor, os convidados desfrutavam da sua refeição e da
companhia. E então o bispo perguntou sobre Alexa.
― Infelizmente, minha irmã está doente, ― Olivia disse quando
o bispo perguntou por que ela não se juntou a eles.
― Ah, isso é uma pena. Eu desfruto muito de sua companhia,
ela é muito animada. Sua saúde não está em perigo, eu espero?
Olivia sorriu e balançou a cabeça. ― Ela está cansada depois da
viagem tão longa que fez à Espanha.
― Ah sim. E o que vem em seguida para a nossa senhorita
Hastings?― O bispo perguntou, recostando-se na cadeira.
― Bem ... ― Olivia não tinha pensado no que ela poderia dizer
sobre Alexa ainda. ― Londres, suponho, ― disse. Isso parecia seguro;
todos iriam naturalmente supor que ela estaria fora para a temporada,
para começar a busca de um pretendente.
O bispo, obviamente, assumiu assim, pois ele disse bem alto: ―
Sim, é claro que ela vai a Londres agora. Uma jovem mulher tão
bonita e espirituosa como a senhorita Hastings vai se destacar durante
a temporada na verdade, especialmente com o nome Carey para
patrociná-la!
― Estamos falando da minha cunhada? ― Edward perguntou de
repente do outro lado da mesa, assustando Olivia. A conversa cessou
e todos olharam para Olivia; ela sentiu o calor começar a rastejar em
suas bochechas.
― Nós estávamos de fato, milorde, ― disse o bispo, e se moveu
em torno de seu assento para que pudesse olhar melhor para Edward.
― Eu estava comentando como fortuito é que a senhorita
Hastings possa ter o Marquês Carey para patrociná-la na temporada.
― Eu? ― Edward riu como se ele nunca tivesse considerado a
questão. ― Você não tem um tio em Londres, que pode olhar por ela,
querida?
Olivia ficou tensa. O irmão de seu pai estava na prisão por não
quitar seus débitos, fato que Edward sabia muito bem.
― Não, ― ela disse, e sorriu quando balançou a cabeça.
― Mas, eu acho que você tem, ― ele insistiu. ― Qual é seu
nome? Ah, sim. Barstow. ― Ele olhou em volta para os rostos de seus
convidados curiosos. ― O senhor Barstow é o irmão do falecido pai de
minha esposa. Seu padrasto, Lorde Hastings, adotou-a. Talvez porque
seu parente de sangue mais próximo era uma espécie de perdulário.
― Ele riu novamente, mas foi recebido com um silêncio
desconfortável.
― Eu era muito jovem quando meu pai morreu, ― disse Olivia. ―
Sempre considerei Lorde Hastings como meu pai.
― Bastante vantajoso para você fazê-lo, eu acho, ― Edward
disse jovialmente. ― E onde está o nosso tio Barstow, meu amor?
Ainda na prisão?
Lady Ames engasgou. O bispo franziu a testa observando sua
taça de vinho. o senhor Wallaby parecia bastante surpreso e virou-se
para Olivia, claramente interessado em sua resposta.
Houve um tempo em que Olivia teria tentado fazer uma
brincadeira com os golpes baixos de Edward, mas ela não tinha mais
paciência para isso. Não havia nenhum ponto em negá-lo.
― Sim, ― disse ela. ― Kings Bench, de acordo com minha última
informação.
― Dívidas de jogo, não foi? ― Edward perguntou casualmente.
― Incapaz ou não disposto a pagar suas apostas?
― Eu suspeito que ele está apostando para conseguir sua
liberdade enquanto estamos aqui falando, ― disse Olivia, e sorriu para
o marido.
― Se eu puder oferecer um brinde, então, ― disse o senhor
Tolly. ― Para o seu tio Barstow, minha lady. Que sua sorte possa
melhorar.
Olivia sorriu agradecida e levantou a taça. ― Que assim seja, Sr.
Tolly.
― Que assim seja, ― o Duque de Rutland disse, e riu enquanto
levantava sua taça. — Uma rodada de riso subiu ao redor da mesa, e
os convidados ergueram as taças, acompanhando o brinde do senhor
Tolly.
Olivia estava ciente de que o olhar de Edward estava no seu
enquanto levantava seu copo. Ela podia sentir queimar um buraco em
sua pele.
Às duas e meia da manhã, quando o Duque e a Duquesa se
despediram, a maioria dos outros convidados seguiu-os, deixando
apenas o bispo e o senhor Wallaby para trás. O senhor Wallaby estava
determinado a mostrar para Edward uma lança africana que tinha
descoberto em um mercado de Londres. Os três homens
desapareceram no estúdio, com seus portos. Olivia ouviu Edward
instruir um criado para trazer uma garrafa de uísque.
Aquela garrafa e a lança iriam manter seu marido ocupado.
Olivia retirou-se para seus aposentos. Ela estava bastante cansada e
adormeceu rapidamente, sonhando com pinturas de cavalos a galope.
Ela foi acordada abruptamente por um peso pressionando-a e
encontrou Edward em cima dela, vestido apenas em uma camisa. Ele
cheirava a bebida, e estava afastando suas pernas, para penetra-la.
― Edward.
Ele fechou a mão sobre sua boca e virou a cabeça dela para um
lado, enquanto tentava entrar nela. Mas o uísque o tinha deixado
flácido novamente. Ele rosnou e fez o seu melhor para trazer-se de
volta à vida, mas não conseguiu.
― Faça alguma coisa, ― ele rosnou para ela.
― O que eu poderia possivelmente fazer? ― perguntou Olivia,
sem vontade de tocá-lo e esperando que ele não a forçasse a fazê-lo.
Edward tentou novamente, grunhindo com o esforço e,
finalmente rolou de cima dela. Ele caiu para o lado, ao seu lado e o
braço dele pesava sobre seu abdômen. A bebida tinha finalmente o
derrubado.
Olivia estava olhando para cima na escuridão com o braço dele
sobre ela, imaginando como poderia usar a lança do senhor Wallaby
para pregar Edward na parede. Ela precisaria de alguma ajuda, pois a
lança parecia pesada, e haveria a questão de manter Edward parado
para que pudesse pregá-lo. Ela pensava fixá-lo abaixo da cintura.
Seria melhor fazê-lo no dia seguinte, pois já não podia evitar dizer
a ele sobre Alexa. Não ficaria menos surpresa se ele a pregasse na
parede primeiro.
Capítulo Dois
O corredor que levava ao estúdio do Marquês Carey em Everdon
Court era tão longo e tão assustador como o corredor do coro na
abadia de Westminster, e a cada passo, Alexa soluçava um pouco mais
alto e tentava um pouco mais reprimir os soluços.
Era como se Olivia estivesse lentamente levando-a para a forca,
um passo de cada vez. ― Anime-se, Alexa, ― murmurou quando
passaram um par de lacaios, e puxou sua irmã mais nova mais para o
lado dela. ― Não há nada a ser feito. Você deve encarar a verdade.
― Sim, sei que eu preciso, ― Alexa disse fracamente. ― Mas
não entendo por que você não pode dizer a ele para mim.
Olivia suspirou; Alexa sabia muito bem o porquê. Olivia tinha
esperado tanto tempo quanto pode antes da cintura de Alexa
engrossar e chamar a atenção, mas ela não podia esperar mais. Olivia
podia adivinhar que tipo de sofrimento Edward iria infligir sobre elas, e
naquela tarde encharcada de chuva, pensou que possivelmente ela
temia dizer ainda mais do que Alexa.
Depois do que pareceu uma caminhada interminável, chegaram
às portas de carvalho polido do estúdio. No momento que Olivia
levantou a mão para bater, Alexa se dobrou contra ela.
― Estou tão cansada, ― ela soltou. ― Não me sinto bem.
― Levante-se, ― disse Olivia, e empurrando Alexa, forçou-a a
ficar de pé, em seguida, bateu na porta.
Uma das portas com painéis se abriu imediatamente, e por trás
dele, um lacaio inclinou. ― Meu marido está aí dentro, Charles? ―
perguntou Olivia.
Antes que Charles pudesse responder, ela ouviu a voz do
marido.
― Entre.
Olivia olhou para Alexa e entrou, puxando sua irmã com ela. Mas
quando cruzou o limiar, descobriu que seu marido não estava sozinho;
o senhor Tolly estava presente também.
O senhor Tolly sorriu calorosamente quando elas entraram,
inclinando a cabeça em saudação.
― Lady Carey, senhorita Hastings. Como vão?
― Ah... ― Olivia tentou pensar em uma resposta apropriada,
dado que eles não se despediram bem.
― Sim? O que é? ― Seu marido perguntou secamente sem
levantar a cabeça dos papéis em sua mesa.
Olivia desviou o olhar para Edward. ― Alexa... e eu ... temos algo
que devemos dizer, ― disse ela. ― Podemos ter um momento?
― Vá em frente, ― Edward disse, impaciente, ― e seja rápida.
Como você pode ver, estamos ocupados.
O olhar de Olivia voou para o senhor Tolly, cujo o sorriso fez
seus olhos cinzentos parecem dançar. Curvou-se quando começou a
pedir sua licença.
― Onde vai, Tolly? ― Disse sua senhoria. ― Você pode ficar.
― Edward... é pessoal, ― Olivia disse rapidamente. Pelo amor
de Alexa ela não queria o senhor Tolly presente.
― O senhor Tolly já ouviu mais detalhes pessoais e privados sobre
esta família do que até mesmo eu. Ele vai ficar. ― Edward levantou a
cabeça e olhou para Olivia. ― O que é?
O senhor Tolly lentamente recuou, sua expressão de repente
estoica.
Olivia ficou agradecida de que Edward havia ordenado que ele
permanecesse, pois o senhor Tolly era a única pessoa que poderia
argumentar com ele. Onde outros seriam demitidos rapidamente,
Edward valorizava a opinião do senhor Tolly. Houve uma vez, em um
dia particularmente horrível, quando Edward tinha levantado a mão
para bater em Olivia por algum motivo insignificante, o senhor Tolly
tinha estado lá para pegar seu braço e impedi-lo de golpeá-la.
Chocado, Edward tinha berrado: ― Você acha que pode colocar
a mão em mim? Vou tirar a sua posição!
O senhor Tolly tinha retornado com calma o olhar de Edward,
como se o esforço de parar sua mão não tivesse precisado de
nenhuma força.
― Então tire. Se você acredita que a minha posição aqui é mais
importante para mim do que o meu código de conduta, está
enganado. Eu não vou ficar parado e permitir que qualquer homem
ataque uma mulher.
Olivia esperava sua demissão instantânea, até mesmo uma
briga. Mas, surpreendentemente, Edward se recompôs. E nunca
tentou colocar uma mão sobre Olivia novamente. Não, ele preferia
golpeá-la com palavras.
Ele nem sempre tinha sido tão cruel com ela. Indiferente, talvez,
mas não particularmente cruel no começo. No entanto, à medida que
os anos passaram e Olivia não tinha concebido um filho, a consideração
de Edward para ela tinha diminuído para nada. A crueldade tinha
começado há quatro anos, quando Olivia acreditava, finalmente, estar
grávida. Edward tinha estado tão feliz. Ele a tinha mimado, a cobriu de
presentes..., mas depois de dois meses, suas regras começaram a fluir
novamente, e a crueldade de Edward corria junto com elas.
― Por que você me mantém esperando, Olivia? ― Edward
perguntou secamente, trazendo-a de volta para a missão presente. ―
Eu disse que tenho trabalho a fazer.
Alexa estremeceu; Olivia colocou o braço em volta dos ombros
de sua irmã e começou o pequeno discurso que tinha ensaiado: Alexa
tinha ido para a Espanha. Havia se comportado mal, pelo que estava
terrivelmente arrependida. Alexa estava grávida. Pelo canto do olho,
ela viu o senhor Tolly vacilar, e se perguntou se era repulsa pelo que
Alexa tinha feito, ou reconhecimento de que isso não iria terminar bem
para qualquer um.
O discurso de Olivia foi seguido por puro silêncio. Não havia um
sopro, nem um rangido, quando Edward virou seu olhar frio para
Alexa, que tremia diante dele.
O olhar de Edward ligou para seu abdômen, em seguida, para o
rosto dela. ― Isso é verdade?
― Sim, milorde, ― Alexa admitiu, sua voz pouco mais que um
sussurro.
― Quem fez isso? ― Ele perguntou, sua voz tão suave e
perigosamente baixa que um arrepio percorreu a espinha de Olivia.
Quando Alexa não respondeu de imediato, Edward sorriu um pouco e
disse: ― Você pode confiar em mim, Alexa.
Não, Alexa, você não pode confiar nele! Nunca confie nele!
Alexa baixou o olhar para o chão e sacudiu a cabeça. ― Eu não
vou dizer.
Olivia olhou para o senhor Tolly. Ele sustentou seu olhar um
rápido momento e ela pensou, ou talvez esperou ver um lampejo de
garantia em seus olhos. Ele sempre foi tão calmo, tão esperançoso!
Olivia queria se apoiar nele agora, para colocar a cabeça em seu
ombro largo, sentir seus braços em volta dela, forte e protetor,
mantendo-a à salvo de Edward.
― Você não vai dizer? ― Edward perguntou, levantando-se de
seu assento.
― Eu não vou, ― repetiu Alexa.
Edward fez um som de surpresa. ― Mas minha querida, com
certeza deve perceber que, caso se recuse a me dizer quem colocou
este bastardo em você , só posso supor que ele não é adequado de
todas as maneiras imagináveis. ― Ou... que você é uma prostituta.
Alexa sufocou um soluço.
― Edward, por favor, ― Olivia pediu.
O marido dela trocou seu olhar duro para ela. ― Por favor, o
quê? ― Perguntou ele, o veneno escorrendo de seu sorriso frio.
― Por favor, deixe-a em paz, ― Olivia implorou a ele. ― Ela
sabe do seu erro, e o bom Deus sabe que vai pagar por isso, em
muitos aspectos para o resto de sua vida. Você não precisa puni-la
ainda mais.
― Entendo, ― Edward disse casualmente, enquanto andou até a
frente de sua mesa. ― De repente você acredita-se na posição de me
dizer o que eu não preciso fazer. Devo dizer-lhe o que eu acho
interessante? ― perguntou enquanto se sentava na beirada da mesa.
― Não, ― Olivia disse rapidamente.
― Eu acho interessante que, enquanto você é tão estéril como
um pântano escocês, sua irmã é uma prostituta que, aparentemente,
vai conceber um bastardo com qualquer homem que levantar suas
saias.
O rosto de Olivia ficou inflamado. O conflito entre ela e seu
marido não era segredo, mas era humilhante, no entanto.
― Há apenas um, ― Alexa tolamente tentou, mas Edward
rapidamente se virou para ela.
― Apenas um, hein?― Ele riu como se isso fosse de alguma
forma divertido, e apontou para a barriga de Alexa. ― A única
diferença entre as duas é que uma de vocês é apenas metade de uma
mulher. Uma de vocês me levou a acreditar que poderia me dar
herdeiros mas ainda não conseguiu. Ou não vai.
Ele trocou o olhar duro para Olivia, e Alexa explodiu em lágrimas.
Atrás de Edward, o senhor Tolly se virou para olhar para fora da
janela, com as mãos nos quadris. Olivia podia ver a tensão em sua
mandíbula, como se estivesse lutando para abster-se de falar.
― A questão que temos diante de nós é o que fazer com isto, ―
Edward meditou, seu olhar esquadrinhando Alexa. ― Com sua mãe
enterrada, não há ninguém para proteger você, não é? ― perguntou
ele. ― Certamente não o seu tio Barstow. Você está inteiramente à
minha mercê como seu benfeitor e provedor. E ainda, eu sou o
segundo primo do rei. O nome Carey significa muita coisa neste país.
Você quer macular o meu bom nome? Um nome a partir do qual você
recebe benefícios sociais por mera associação?
― Não, milorde, ― Alexa disse suavemente.
― Então por que você permitiria algum homem macular você?
Pensou em sua irmã, que tem o meu nome? Você pensou em
qualquer coisa além de seus próprios desejos básicos?
Ela inclinou a cabeça e sabiamente não respondeu.
― O que devo fazer, Alexa? ― Ele continuou friamente. ― Ouso
dizer que sua irmã urdiu seu caminho para este casamento e há muito
pouco que eu possa fazer sobre isso. Mas eu posso manter a mancha
do seu julgamento de trazer escândalo para o nome da minha família,
e, portanto, o nome do rei, não é assim? Ainda mantenho algum grau
de influência sobre esta família, não? Não existe outra pessoa para
quem você pode pedir assistência neste... assunto desagradável?
Alexa empalideceu. ― Não, ― ela disse, sua voz quase um
sussurro. ― Eu estou à sua mercê, meu senhor. ― Ela olhou para
Edward de maneira inquieta enquanto enxugava as lágrimas com um
lenço.
O couro cabeludo de Olivia vibrou com um mau pressentimento.
― Talvez, se tomarmos um momento.
O olhar de Edward virou-se ainda mais difícil.
― Obrigado, milady, mas eu não preciso de sua ajuda para
determinar o que deve ser feito com a prostituta. Se não houver
ninguém para casar com ela, vou mandá-la para o convento de St.
Brendan na Irlanda com uma generosa doação. As irmãs podem
determinar o que deve ser feito com a criança.
― O que? ― Olivia sentiu o sangue escorrer de seu rosto.
O senhor Tolly se afastou da janela, com o cenho franzido com
uma carranca profunda.
― O que quer dizer com, o que deve ser feito com ele? ―
perguntou Alexa, arrasada.
Edward encolheu os ombros. ― É um filho bastardo. Ficará
melhor se for criado por um arrendatário irlandês do que procurar
aceitação na nossa sociedade. Se você acha que tenho a intenção de
sustentá-la e permitir-lhe criar um bastardo em Everdon Court para
que todos possam ver, e no final...
― Você não vai levar o meu filho de mim, ― exclamou Alexa.
― E você não vai ter a pretensão de me dizer o que vou ou não
vou fazer, ― Edward disse com firmeza.
O tom de sua voz era muito frio, e Olivia sabia por experiência,
que iria de mal a pior. Ela deu um passo em frente a Alexa para salvá-
la, para impedi-la de dizer qualquer coisa.
― Milorde, talvez você possa considerar uma alternativa?
― Claro, ― disse ele grandiosamente, levantando a mão para
ela. ― Brinde-me com sua alternativa adequada, pois o Senhor sabe
que eu estou precisando após esta notícia.
― Olivia, eu não posso dar o meu bebê a ninguém! ― Alexa
disse, entre lágrimas atrás dela. ― Eu não vou!
Olivia quis que Alexa ficasse em silêncio.
― Milorde, o primo de meu pai vive em uma pequena mansão no
País de Gales e tem quatro filhos. É bastante remoto e há muito pouca
sociedade. Talvez Alexa possa ir lá, e quando a criança nascer, meu
primo poderá mantê-la.
Ela ouviu Alexa engolir outro soluço.
As sobrancelhas de Edward levantaram.
― Essa é a sua ideia? Mandá-la para este primo no campo?
Ele era o gato agora, brincando com o rato. Olivia nunca ganhou
essas rodadas, mas ela nunca parou de tentar. ― Para removê-la da
tua vista, marido, ― disse ela. ― Meu primo é sangue de meu pai e sei
que ele não vai falar sobre isso a ninguém, ― acrescentou
desesperadamente, mas Edward riu como se Olivia estivesse falando
bobagem.
Ele se levantou de seu assento em sua mesa e colocou os dedos
sob o queixo de Olivia, forçando-a a inclinar a cabeça para trás de
modo que ela olhasse em seus olhos escuros frios.
― Querida Olivia, ― disse ele, suspirando um pouco. ― Você
realmente acredita que eu iria confiar em alguém de sua família? Não
foi sua família que me enganou, levando-me a acreditar que você era o
melhor par para mim? ― Ele abaixou a cabeça e tocou os lábios nos
dela, enviando um tremor de repulsa por ela. ― Nós dois sabemos
que você foi a pior escolha para mim.
Ela queria arranhar o rosto dele. Mas, estava ciente do senhor
Tolly na sala, de Alexa choramingando atrás dela.
― Estou ciente do quanto você me despreza, Edward, ― ela
disse suavemente. ― Mas, por favor, não puna Alexa por causa disso.
Ela não fez nada para você.
― Ela vai para o Convento Saint Brendan amanhã e ali
permanecerá. Ou ela pode ir para o inferno.
― Não! ― Alexa soluçou e caiu no chão.
Olivia se virou e ajoelhou-se ao lado da irmã, tentando ajudá-la
a se levantar, mas Alexa estava inconsolável. ― Levante-se, levante-
se, ― ela pediu a ela. ― Não deixe ele te derrotar, ― ela sussurrou.
― Eu vou casar com ela, ― o senhor Tolly disse claramente.
O coração de Olivia deu uma guinada em seu peito e seu olhar
voou para cima. o senhor Tolly tinha aparecido ao lado de Alexa, e ele
trocou um olhar com Olivia quando se inclinou para baixo e levantou
Alexa pelo braço. Ele a puxou para seus pés, forçando-a a ficar de pé.
Olivia tropeçou nos dela, boquiaberta. Ele era louco, louco! ― para
oferecer tal coisa, mas o senhor Tolly tinha um aperto firme em Alexa e
estava olhando para Edward, seus olhos ligeiramente apertados, os
músculos de sua mandíbula contraído.
Edward riu. ― Você vai se casar com ela, Tolly? Oras! Eu
pensava melhor de você! Não pode rebaixar-se a casar com ela, está
arruinada, ― disse ele, como se estivesse explicando por que o
senhor Tolly deveria preferir uísque no lugar do gin. ― Entendo que
talvez tenha algum sentimento pela criança, pois você mesmo é um
bastardo. Mas você puxou-se até o topo das árvores, Tolly. Este irá
simplesmente arrastá-lo até o fundo de novo.
― Não, Sr. Tolly, ― Olivia disse rapidamente, com o coração
acelerado. ― É uma oferta verdadeiramente nobre, mas...
― Nobre, ― Edward bufou. ― É imbecil.
― Eu não vou casar com ele! ― Alexa lamentou. ― Não vou!
Você não pode me obrigar a isso!
― Senhorita Hastings, ― disse Tolly, e colocou a mão sob o
queixo de Alexa e forçou-a à olhar para ele. ― Por favor, me escute, ―
disse ele, com a voz mais suave. ― Por enquanto, vamos dizer que
vamos casar, e vamos procurar elaborar um plano que proteja você e
a família Carey do escândalo. ― Alexa começou a sacudir a cabeça,
mas ele mergulhou para baixo um pouco e olhou-a nos olhos. ― Seja
forte agora, moça, ― disse ele gentilmente. ― Agora é a hora de você
pensar na criança que carrega e ser forte.
A mão de Alexa escorregou para seu abdômen. Pareceu
considerar o que ele disse enquanto engolia as lágrimas. Ela
concordou, encostando-se impotente contra ele, olhando como se o
mais leve toque fosse levá-la a entrar em colapso, fazendo-a em
pedaços.
― Tolly, você me surpreende, ― Edward disse, quase
alegremente. ― Eu acredito que há pouca coisa que você não faça
para proteger o bom nome Carey. Alguém poderia pensar que você
fosse um de nós. Mas, neste caso, eu acho que é um tolo. Alexa
Hastings ficará tão bem em um convento irlandês como ela será uma
boa esposa para você.
O senhor Tolly parecia mais grave do que Olivia já tinha visto ele.
― Se você me permite, milorde, vou abordar esta complicação
infeliz de modo que você possa voltar sua atenção para questões mais
prementes.
Edward olhou para o senhor Tolly com ceticismo por um longo
momento, mas o senhor Tolly constantemente sustentou o olhar, não
menos intimidado. Edward finalmente deu de ombros e se virou.
― Faça como quiser. Mas mantenha-a fora da minha vista. Eu
não quero ser lembrado de que tenho uma puta vagando por Everdon
Court. Leve-a para a casa da viúva até encontrar um lugar para
colocá-la.
Como se ela fosse uma peça de mobiliário quebrado o senhor
Tolly virou Alexa, movendo-a rapidamente para a porta. Olivia tentou
seguir, mas Edward a parou com uma mão em seu braço.
― Lady Carey, ― disse ele severamente. Olivia fechou os olhos
por um momento antes de se virar para ele. ― Eu não lhe dei
permissão para sair. ― Ele se recostou contra a mesa, com os braços
casualmente cruzados sobre a cintura. ― Vá em frente agora, Tolly,
― ele disse com desdém. ― Leve-a para longe de minha vista.
Olivia olhou por cima do ombro para Alexa, mas foi o olhar de o
senhor Tolly que ela encontrou e pensou que viu um flash de raiva em
seus olhos.
A porta se fechou atrás do senhor Tolly e Alexa, deixando-a
sozinha com Edward. Ele olhou para Olivia por um longo momento,
seus olhos vagando sobre o vestido cor de pêssego que ela usava,
demorando em seu decote de uma forma que lhe causou arrepios.
― Como é que, ― disse ele, por fim, ― sua irmã pode abrir suas
pernas para Deus sabe quem na Espanha e conceber, e ainda assim
você não pode?
A questão não surpreendeu Olivia, mas mesmo assim prendeu
sua respiração, como sempre acontecia. Ele falou como se houvesse
algum defeito nela, mas ele nunca considerou que ele poderia ser a
razão por que eles ainda não tinham produzido uma criança.
― Eu lhe fiz uma pergunta, a senhora.
― Eu não posso dizer.
― Parece-me que se uma irmã é fértil, a outra também seria.
Olivia engoliu. ― Eu não acho que isso necessariamente procede.
Somos todos individuais, não há dois iguais.
― Talvez, ― disse ele. ― E então, novamente, talvez seja
porque você toma algum elixir para abortar minha semente. Brock disse
que uma velha visitou você recentemente.
Confusa, Olivia voltou a pensar em suas visitas recentes e
lembrou da senhora Gates, que tinha vindo em nome da caridade que
tinha começado para os pobres. Ela era idosa, com cabelos grisalhos
que pareciam incontroláveis. ― Se você está se referindo à senhora
Gates ela é uma patrona do reformatório da paróquia, ― disse Olivia.
― Ela é uma velha.
Olivia lutou para manter a voz firme. ― Ela não me trouxe um
elixir. Eu quero um filho tanto quanto você. Deve saber que eu nunca
iria entrar em tais táticas. Eu não posso suportar até mesmo ouvi-lo
falar sobre isso.
Edward riu e se empurrou longe da mesa, vindo em sua direção.
― Você de fato quer uma criança, Olivia? Porque eu não vejo
nenhuma evidência de que quer. Pode-se perguntar se deseja uma
criança, então porque não concebeu uma? Ou você é incapaz, caso em
que sua mãe mentiu para mim, ou me engana todos os dias, ― ele disse
enquanto casualmente estudou seu rosto. ― Estou inclinado a pensar
o último. Inclinado a pensar que quer me maltratar de qualquer
maneira que você conseguir.
A raiva começou a borbulhar dentro dela.
― Isso não é verdade, ― disse ela. ― Eu nunca quis outra coisa
senão ser uma esposa e mãe.
― Mentirosa, ― disse ele. ― Você está cercada por riquezas e
pessoal, mas nunca me traz alegria, Olivia. Você me ocupa com os
problemas de sua irmã órfã e espera que eu de alguma forma possa
fazê-los ir embora, como se por magia. Me enganou para casar com
você, e a única coisa que eu lhe pedi, a única coisa que tenho
necessidade para toda a generosidade que tenho concedido a você, é
para me dar um herdeiro. Isso é tudo que eu peço, um herdeiro. E, no
entanto, você não concebe. E quando o faz, você aborta.
Olivia engasgou; seus joelhos tremeram com a força da
observação.
― Como ousa dizer uma coisa tão vil, ― disse ela asperamente.
― O Dr. Egan disse que eu não fiz nenhum dano para o meu corpo.
Eu sou uma esposa obediente.
― Obediente? ― Edward disse, surpreso. Ele sorriu. ― É isso
que você chamaria o seu desempenho em nosso leito conjugal?
Obediente?
― Eu não posso chamá-lo de qualquer outra coisa, ― disse ela,
seus olhos se estreitando.
As narinas de Edward queimaram. Ele apertou a mandíbula e
caminhou até o aparador, onde serviu uísque para si mesmo.
A barriga de Olivia agitou com os nervos, e ela tentou se
concentrar em uma pintura acima da lareira. Era de um antepassado
sentado em uma pedra, olhando para o artista enquanto seu cão
olhava para ele. Olivia se sentia como aquele cachorro. Ela tinha que
estar sempre vigilante, para assistir tudo que Edward fazia.
― Não a acho nem um pouco obediente. ― Edward jogou para
trás o uísque. ― Eu acho que você trama para remover a minha
semente de seu corpo. ― Ele despejou mais.
O temor estava fazendo Olivia ter náuseas, mas ela estava
determinada a manter-se firme com ele. ― Como pode ser? Você me
faz ficar deitada por meia hora e me vigia para que eu não me mova.
Como eu poderia removê-la?
― As mulheres tem muitos truques à sua disposição, ― disse
ele, e voltou-se para ela. Seu olhar começou a vagar por seu corpo
quando ele se aproximou. ―Talvez eu tenha lidado com isso da
maneira errada, ― acrescentou pensativo. ― Talvez eu não estou
buscando meus direitos conjugais tão determinadamente como devo.
― Seu olhar permanecia em seu regaço, e Olivia resistiu ao impulso
de cobrir os seios com os braços. ― Talvez eu não tenha sido tão
forte como é necessário.
Alarme disparou através dela. ― O que você quer dizer?
― Quero dizer, esposa, ― ele rosnou, ― que talvez eu tenha
sido muito gentil em meus desejos. Talvez você fosse uma esposa mais
obediente se eu fosse um marido mais insistente.
Alarme rapidamente se transformou em medo e Olivia olhou
para a porta, avaliando sua chance de fuga. Edward assustou-a com
uma carícia em sua bochecha, em seguida, uma mão em seu ombro e
pescoço.
― Se sua irmã pode ter uma criança, deve haver alguma
maneira de colocar u m a em você. ― Ele pressionou o polegar
levemente no oco de sua garganta. ― Se é seu desejo que eu não
coloque sua irmã para fora, como eu tenho todo o direito de fazer,
então você vai encontrar uma maneira de me dar um herdeiro, Olivia.
Não pense em me desafiar. Quem vai receber você e sua irmã uma
vez que eu expulse vocês? Quem? Seu primo no País de Gales, com
quatro bocas para alimentar? O irmão de sua mãe, que definha no
presídio? O país inteiro vai se voltar contra você. Ninguém vai te tocar e
arriscar a ira de Carey. Pense nisso quando você tomar elixir e ervas, ―
ele disse em voz baixa, depois a soltou com um empurrão para trás. ―
Agora vá. Tenho trabalho a fazer.
Olivia se pegou no braço de uma cadeira. Ela observou Edward
caminhar até o aparador e servir mais uísque, em seguida,
rapidamente saiu da sala.
Capítulo Três
Alexa Hastings não parava de soluçar. Ela estava inclinada
sobre o sofá, seus gritos chacoalhando a casa, sacudindo os ombros
com a força deles. Harrison Tolly não tinha a menor ideia do que fazer
para ela. Ele tentou bajular, depois suborno, então simplesmente
exigiu que parasse. Nada funcionou. Ela se acalmava por um minuto,
pedia desculpas e, em seguida, começava de novo.
Ele estava estudando agora como ela chorava, pensando que
talvez um pouquinho de láudano pudesse acalmá-la, quando Rue, a
camareira redonda e ruiva que servia na casa da viúva onde ele
morava, apareceu. Ela era outra que tinha salvo do marquês. Rue era
obtusa; matemática básica estava além dela, assim como a maioria das
tarefas. Harrison ficou com pena dela quando Brock a despediu da casa
principal por sua inépcia. Ele olhou para seu rosto redondo jovem e
percebeu que ela rapidamente seria devorada pelo mundo se não
houvesse alguém para cuidar dela. Então a trouxe aqui para a casa da
viúva para ser sua camareira, e rapidamente descobriu que ela poderia
possivelmente ser a pior camareira em toda a Inglaterra.
A senhora Lampley, sua cozinheira e arrumadeira, também tinha
sido salva de Everdon Court. Ela tinha sido casada por muitos anos
com o porteiro, que tinha morrido de repente, uma noite depois do
jantar. Carey não tinha nenhuma utilidade para senhora Lampley
depois disso. Ele havia instruído Brock para encontrar um outro
porteiro e parecia não pensar no que aconteceria com a senhora
Lampley e seu jovem filho. Harrison os tinha levado para a casa da
viúva para cozinhar e limpar.
Particularmente, Harrison suspeitava que ele sabia o que tinha
matado o senhor Lampley, porque a comida da senhora Lampley era
aceitável, no melhor dos julgamentos.
Harrison não podia realmente dizer por que ele acolheu estes
desajustados, mas supôs que tinha a ver com as suas próprias origens
humildes. Vinte e nove anos atrás, ele tinha nascido o filho bastardo
de uma cortesã. Ele não tinha sequer conhecido quem era seu pai até
que tinha dezesseis anos. Ficou à margem da sociedade decente a
maior parte de sua vida até que ele tinha feito algo de si mesmo e,
mesmo assim, parecia como se cada associação tivesse sido
contaminada pelas circunstâncias de seu nascimento. Harrison supôs
que isto lhe deu uma afinidade com aqueles que não tinham nenhum
lugar neste mundo.
Seus amigos avisaram que ele iria acabar com um canil cheio de
cães vadios se não fosse cuidadoso.
― Visita, ― disse Rue, olhando com curiosidade para a senhorita
Hastings.
― Visita? Que visita? ― Perguntou Harrison.
― Não sei, ― disse Rue. ― Mas ele disse para dizer que é
urgente.
Harrison reprimiu um gemido. Ele estava até os joelhos em
problemas e não precisava de outro adicionado à mistura. ― Tome
conta da senhorita Hastings, Rue. Certifique-se de que ela não se
afogue em lágrimas, ― disse ele enquanto caminhava para fora da
sala.
No hall de entrada não viu ninguém e perguntou o que Rue
tinha feito com ele. Mas, então olhou para a porta e viu que estava
entreaberta. Chuva caía dos céus, mas Rue havia deixado o indivíduo
molhado ficar na varanda. Harrison encaminhou o cavalheiro, seu
casaco de lã encharcado e o chapéu de castor pingando no piso de
entrada.
― Sim? ― Harrison perguntou impaciente.
― Sr. Tolly?
― Sim, quem está procurando, por favor?
― O Sr. Harrison Tolly?
Pelo amor de Deus.
― Sim, ― disse ele, franzindo a testa. ― Agora que nós
estabelecemos quem eu sou, talvez, possa ser amável e me dizer
quem você é e do que se trata.
― Eu sou o Sr. Theodore Fish, ― o homem disse, curvando-se
ligeiramente. ― Acredito que possa ter algumas novidades bastante
impressionantes para você.
É claro! O que tinha acontecido com o mundano? O que tinha
acontecido aos simples problemas de gestão de quatro propriedades
familiares dos Carey, como rendas não correspondentes a despesas,
ou entregas de farinha que chegam tarde, ou preços de carne bovina
sempre em baixa? O que aconteceu com o tipo de problemas que
Harrison conseguia resolver?
Ele suspirou e cansado inclinou um ombro contra a parede.
― E qual seria a sua notícia, o Sr. Fish?
O homem parecia um pouco perturbado. Ele, sem dúvida, queria
uma resposta melhor para seu anúncio da notícia deslumbrante, um
suspiro de surpresa, um grito de alarme.
― Você está familiarizado com o nome Ashwood? ― Perguntou o
senhor Fish. Bem, agora, isto foi um pouco surpreendente. Claro que
Harrison estava familiarizado com esse nome, mas ele não tinha
ouvido em anos. Ele endireitou-se e olhou para o homem,
desconfiado. ― Suponho que o nome é familiar a você, ― disse o
senhor Fish, um pouco presunçoso.
Os olhos de Harrison se estreitaram.
― Quem é você? ― perguntou ele. ― E o que diabos isso
significa?
― Se me permite, senhor? ― Disse o senhor Fish, com um olhar
não tão sutil na porta. ― A notícia é bastante complicada e exige mais
do que uma explicação superficial.
De todos os meses e as semanas e os dias do ano, o senhor Fish
teve que trazer sua notícia impressionante hoje. Harrison olhou por
cima do ombro para a sala de estar, onde o som de soluços da
senhorita Hastings soou como a performance de uma tragédia em três
atos. Ele desviou o olhar para o senhor Fish novamente, olhando-o da
cabeça aos pés.
― Sim, tudo bem, ― disse ele, com relutância. ―Rue! ― Ele
chamou enquanto o senhor Fish pisou mais fundo no hall e tirou o
casaco. Rue correu para fora da sala de estar com o vestido que era
pequeno demais para ela. Ele realmente deveria lhe encontrar uma
roupa mais adequada. ― Encontre uma toalha para o senhor Fish e
depois traga o chá para o estúdio.
― Para o estúdio, senhor? Não a sala de estar?
Harrison deu à jovem empregada um olhar aguçado. Ela tinha
um coração mole, e como os sons de lágrimas da senhorita Hastings
podiam ser ouvidos no hall de entrada, a menina queria que ele
consertasse as coisas. Isso é o que todos queriam dele, consertar isso,
reparar aquilo.
― Não, Rue, não para a sala de estar. Para o estúdio, ― ele
disse uniformemente. ― E você pode dizer a senhorita Hastings que
ela vai se sentir melhor em seu quarto com um pano frio na testa.
Ele arqueou a sobrancelha para a menina. Ele não governava a
casa da viúva com mão de ferro, e em momentos como este se
arrependia.
O arco de sua sobrancelha teve o efeito desejado; Rue
rapidamente olhou para baixo.
― Sim, milorde, ― disse ela baixinho e correu.
― Sr., ― ele corrigiu. ― E peça para a senhora Lampley trazer o
chá, ― gritou para ela. Para o senhor Fish, ele disse: ― Por aqui, ― e
fez um gesto na direção oposta.
O senhor Fish passou o casaco nas costas de uma cadeira,
colocou o chapéu ao lado e olhou na direção do som dos soluços da
senhorita Hastings.
Harrison mostrou para o senhor Fish o estúdio, seu retiro
privado e local favorito. A guarnição de madeira escura fez com que as
paredes verdes se destacassem de maneira vibrante aos olhos. As
prateleiras estavam cheias de livros que ele vinha recolhendo desde
que era uma criança; obras de ficção, poesia, estudos de lugares que
nunca tinha estado e pessoas que nunca conheceu.
Entre suas primeiras memórias, vagas como eram, ele poderia
lembrar de um dos supostos amigos de sua mãe, um cavalheiro
sorridente em uma peruca e com punhos rendados longos dando-lhe
doces antes de subir as escadas para o quarto de sua mãe. Aquele
mesmo cavalheiro tinha tomado um gosto por ele e providenciou que
Harrison tivesse um tutor. O tutor de Harrison, o senhor Ridley, tinha
sido um amante de livros e tinha passado este amor para ele.
Harrison considerava seus livros seus companheiros enquanto sua
mãe estava ocupada em algum lugar e ele era deixado para trás.
Dirigiu o senhor Fish para uma cadeira de couro a o lado da
lareira onde um fogo brilhava. A água das botas e calças enlameadas
de o senhor Fish sujaram o tapete Aubusson que Harrison havia
herdado da casa de sua mãe. O senhor Fish notou isso também.
― Perdoe-me, — disse ele. ― Está chovendo como um dilúvio e
Everdon Court é bastante longe das estradas principais.
De fato. A grande propriedade de mil acres de floresta profunda
e campos cultivados demandava um pouco de esforço para alcançar.
― Não foi nada, ― disse Harrison, e sentou em frente ao senhor
Fish, cruzando uma perna casualmente sobre a outra. Rue
movimentava-se com uma toalha, que ela entregou ao senhor Fish
com uma reverência.
― Perdão, o que mais poderia fazer, senhor? ― perguntou a
Harrison.
― Chame a senhora Lampley.
― Ah, ― disse ela, como se o sol tinha acabado de brilhar
através da janela, e correu para fora outra vez.
― Muito obrigado, ― disse o senhor Fish, e começou a limpar a
chuva do rosto, ombros e mãos. ― Não me lembro de uma chuva
como esta.
― Que história é essa sobre Ashwood? ― Harrison perguntou
impaciente. O senhor Fish dobrou a toalha ordenadamente no colo.
― É bastante extraordinária, ― disse ele. ― Meu conselho é
que deve preparar-se, senhor Tolly, pois há razão para acreditar que
o falecido conde de Ashwood pode ter tido alguma relação com você.
Harrison não podia deixar de sorrir para a descrição cuidadosa.
― Se essa é à sua maneira de afirmar que eu possa ter sido seu
filho ilegítimo vou poupá-lo de qualquer teatralidade e confirmar que é
verdade, senhor Fish.
Os olhos do senhor Fish quase pularam para fora de sua cabeça
com a surpresa.
Harrison nunca falou sobre isso, e ele não gostava de ser
lembrado disso. ― Se veio até aqui para me dizer algo que é bastante
conhecido para mim, desperdiçou seu tempo. Eu não conhecia
pessoalmente o homem que me gerou, mas estou bem ciente de
quem ele era.
― Esplêndido, ― disse o senhor Fish, implacável. ― Nós
descobrimos sua linhagem nos registros paroquiais em uma igreja de
Londres. No entanto, essa não é a razão para a minha vinda, Sr. Tolly.
― Não pode, eventualmente, ter mais nada. ― Harrison sabia
tudo que havia para saber de seu pai, de seu relacionamento de longa
data com sua mãe. Muito para seu desgosto, houve poucos segredos
entre ele e sua mãe.
― Parece, — o senhor Fish disse, quando estendeu as mãos
para o fogo, ― que você pode ser o seu único e verdadeiro herdeiro.
Ainda assim, Harrison deu de ombros. ― Eu ainda sou o seu
filho bastardo. Não consigo ver o significado da sua vinda.
― Neste caso altamente incomum, sendo o seu único e
verdadeiro herdeiro faria de você o herdeiro de Ashwood.
Harrison riu.
O senhor Fish olhou para ele. ― Eu não teria vindo de tão longe
se não acreditasse que isso fosse verdade, Sr. Tolly.
Harrison teria dito que ele tinha vindo até aqui para nada, mas o
jovem filho da senhora Lampley apareceu com o serviço de chá.
Harrison encontrou-o na porta e tomou-o dele, depois voltou para a
lareira e colocou o serviço de prata fina, também de sua mãe, em uma
pequena mesa. ― Você veio de Londres, Sr. Fish? ― ele perguntou
agradavelmente enquanto servia-lhes chá.
― Eu vim diretamente de Ashwood a mando da condessa. Só que
ela não é mais a condessa. O falecido conde e sua esposa adotaram a
senhorita Lily Boudine, e até muito recentemente, acreditava-se que
ela era a única sobrevivente e herdeira legítima. No entanto, agora
que descobrimos a sua existência, ela não pode mais assumir os bens.
― Nem eu, ― Harrison disse calmamente. ― As leis da
primogenitura são bastante restritivas e muito explícitas na exigência
de legitimidade. Mel? — O senhor Fish sacudiu a cabeça para o mel.
― Elas são restritivas, de fato... a menos que a alguém foi dado
um título e uma propriedade por um decreto real, bem como os
termos de herança.
Harrison bufou. ― Eu duvido mesmo que um decreto real faria
um filho ilegítimo digno de uma propriedade tão grande como
Ashwood. Por isso, vamos evitar uma série de discursos, Sr. Fish.
Existe algum papel que devo assinar para esta condessa ter o seu
lugar? Pode me dar, eu assino. ― Ele tomou um gole de chá e olhou
para o relógio.
O senhor Fish não se moveu.
― Chocado? ― Perguntou Harrison.
O senhor Fish colocou sua xícara de chá na mesa.
― Depois do ano que passei, senhor, eu raramente fico
chocado. No entanto, temo que não me entendeu. O rei Henrique VIII
concedeu o título e a propriedade ao primeiro conde de Ashwood, e
especificamente implicou-o para a prole de sangue daquele conde, e
ao próximo conde e assim por diante, sem levar em conta a
legitimidade. A descendência de sangue. Isso significa que, como o
único sobrevivente da prole masculina de sangue do último conde,
que você herdou a propriedade. Além disso, nosso advogado em
Londres acredita que você tem direito legal ao título, também.
O encontro de repente ganhou toda a atenção de Harrison. Ele
olhou para o homem, tentando adivinhar o seu jogo.
― Perdoe-me, Sr. Fish, mas espera que eu acredite que você
veio aqui para me entregar uma propriedade e um título? ― Ele riu.
― Não vou acreditar que eu tenho qualquer alegação que não pode
rapidamente e facilmente ser desmontada por algum advogado
empreendedor. Eu sou o filho bastardo do falecido conde, um homem
que lembro de ver uma ou duas vezes na minha vida. Minha relação
de sangue, como você diz, é ilegítima.
O senhor Fish assentiu. ― Lady Ashwood, Lady Eberlin, ― ele se
corrigiu, ― também pensou que você poderia ver as coisas dessa
maneira.
Ele enfiou a mão no bolso do casaco e tirou uma carta e
entregou-a Harrison. O pergaminho úmido tinha um selo de cera que
era o brasão do duque de Darlington, um reverenciado nome na
Inglaterra. A breve carta introduzia o senhor Fish como um autêntico e
verdadeiro agente de Ashwood, e declarava que o Duque de Darlington
avalizava o que ele estava dizendo a Harrison hoje. O duque terminou
o seu aval com a palavra “Felicitações” rabiscada presumivelmente
por sua própria mão na parte inferior.
Harrison supôs que ele deveria estar feliz ao ouvir esta notícia
surpreendente, mas não estava. Ele jogou o pergaminho de volta para
o senhor Fish com uma miríade de pensamentos nublando seu
cérebro. Havia o problema de Alexa, em primeiro lugar. E havia o
problema pessoal e privado de Lady X. ― Eu não quero isso, ― disse
ele categoricamente.
O senhor Fish quase cuspiu o chá. ― Perdão?
― Eu não quero isso, ― Harrison disse novamente, dirigindo o
olhar para o senhor Fish. ― Diga a sua condessa para enviar os
papéis necessários para entregar a propriedade para ela, e eu
assinarei.
O senhor Fish parecia atordoado. Ele ficou de pé. ― Percebe o
que você está dizendo?
― Sim, ― Harrison disse com firmeza. Ele passou os dedos pelo
cabelo, tentando absorver essa notícia inoportuna e impossível. Seu
pai nunca o tinha reconhecido de qualquer maneira e agora ele teria
sua propriedade? Harrison estava inteiramente desconfiado, certo de
que havia uma pegadinha. E Harrison não queria nada com Ashwood
e qualquer pegadinha que poderia ser por tantas razões que sua
cabeça começou a girar.
― Você não pensou possivelmente! ― o senhor Fish
argumentou. ― Ninguém em seu perfeito juízo iria descartar isso tão
facilmente
― Você acha que isso é fácil? ― Harrison argumentou.
O senhor Fish se conteve. ― Eu não me atreveria a achar. Mas eu
sei o que é um decreto real. E como qualquer criança nascida para
herdar, você pode não querer as riquezas que tenham acabado de cair
em seu colo, mas elas são suas independentemente.
― Sr. Tolly?
Ambos Harrison e o senhor Fish pararam com o som da voz da
senhorita Hastings. Ela estava em pé na soleira, o rosto pálido, os
olhos inchados e as mãos firmemente à sua frente. Ela olhou para o
senhor Fish, em seguida, em Harrison. ― O que aconteceu? ―
perguntou ela. ― Aconteceu alguma coisa?
― Nada aconteceu, ― assegurou ele, caminhando rapidamente
para a porta. ― Por favor, volte para o seu quarto.
Mas seu olhar estava fixo em no senhor Fish. ― Você herdou, ―
ela disse, e virou os olhos castanhos para Harrison. ― O que você
herdou? O que isso significa? Significa que...
― Isso não significa nada, ― ele disse rapidamente, e levou-a
pelo braço, virando-a e conduzindo-a para fora da porta. ― Por favor,
volte para o seu quarto, senhorita Hastings. Estarei com você em
breve.
Ela olhou relutantemente sobre o ombro para o senhor Fish antes
de se virar. Harrison fechou a porta do estúdio e se irritou com o sorriso
simpático do senhor Fish.
― Vejo pelo menos uma razão que você pode estar relutante em
acolher esta notícia, ― disse ele maliciosamente.
Harrison fez uma careta. Não havia nada que pudesse dizer
sobre a senhorita Hastings até que decifrasse o que o havia possuído
para tomar uma medida tão drástica na oferta de se casar com ela. E o
que diabos ele faria agora? ― Bolas, ― ele murmurou, e foi para as
janelas, imaginando como iria sair desse atoleiro que parecia ficar mais
profundo e mais grosso à medida que o dia avançava.
Capítulo Quatro
Edward cumpriu sua promessa de tentar forçar Olivia a sua
vontade, mas como era o seu problema mais tarde, ele não podia
forçar-se.
― Você faz isso em mim, ― ele disse amargamente. — Você
remove todo o desejo de um homem.
No domingo de manhã Edward foi subjugado. Ele permaneceu
no café da manhã, lendo em voz alta para Olivia a Bíblia, tendo
decidido que por causa da chuva, enquanto os servos iriam fazer a
caminhada de um quarto de milha para a igreja, o tempo estava muito
ruim para ele e sua esposa se aventurarem.
Olivia sentou-se calmamente, fingindo ouvir a lição que ele
pregava. Ela estava ansiosa por Alexa. Não tinha voltado para casa
ontem à noite e Olivia se perguntava onde o senhor Tolly a tinha
levado. Pelo menos ela poderia descansar sabendo que Alexa estava
em boas mãos.
Olivia pensou no senhor Tolly, também, de pé tão orgulhoso e
capaz no escritório de Edward, preparado para arcar com o problema
de Alexa como se fosse seu, para salvá-la do destino que Edward lhe
entregou. Olivia tentou imaginar como seria a sensação de ter alguém
fazendo um gesto heroico para ela, alguém vindo a Everdon Court para
levá-la do casamento infernal que ela vive por seis longos anos...
Ela balançou a cabeça e distraidamente dobrou o guardanapo.
Ninguém estava vindo para salvá-la. Salvá-la de quê? Ela era uma
marquesa, vivendo no topo do luxo, com toda a pompa, riqueza e
privilégio que implicava. Não era a primeira mulher a ter sofrido um
casamento sombrio.
Infelizmente Olivia tinha selado seu próprio destino quando
concordou com sua mãe que Edward daria um bom marido.
Foi a noite em que sua família tinha jantado em Everdon Court
pela primeira vez. Como inexperiente, tola e boba tinha sido! Olivia
tinha sido tão tomada pela grande casa, o mobiliário, a obra de arte, e,
certamente, o próprio Edward. Ele tinha sido encantador, tocando o
dedo em sua bochecha, comentando sobre sua beleza. Ela pensou que
ele não brilhava em aparência, mas era agradável. Parecia tão
confiante e seguro e Olivia tinha ficado encantada com a ideia de
casamento e filhos.
Então, falou sua mãe. ― Ele não é lindo, ― ela exclamou na
carruagem a caminho de casa.
― Ele parece muito agradável, ― Olivia tinha concordado.
― Agradável! Ele tem vinte mil por ano, Livi. Você deve pensar
nisso. É muito importante casar bem. Eu não vou estar sempre aqui
para cuidar de Alexa, por isso você deve. Mal podemos contar com ela
para fazer um casamento apropriado, podemos? ― perguntou, e riu
quando ela deu um tapinha no joelho de Alexa.
Alexa, que tinha doze anos na época, tinha tomado grande ofensa
a isso.
― Eu nunca me casarei! ― declarou. ― Eu não vou ter um
cavalheiro me dizendo o que fazer!
― Eu suspeito que você vai se casar, ― Lorde Hastings havia
dito. ― Mas com certeza você vai assustar alguém com vinte mil por
ano.
― Livi, meu amor, eu sei que o marquês vai fazer uma oferta
para você, ― sua mãe disse, emocionada. ― Ele parece tomado por
você e acaba de herdar seu título. Ele precisa produzir um herdeiro.
Agora, então, você deve sempre apresentar-se como recatada e
obediente, ― sua mãe tinha aconselhado. ― Não discuta. Faça-o
sentir-se satisfeito.
Olivia piscou para uma sensação de ardência de lágrimas com a
lembrança. Deus sabia o quanto ela tinha tentado agradar ao marido,
mas era impossível. Mesmo antes de ele começar a desprezá-la, ele
não tinha nenhuma utilidade para ela. Nunca tinha dado a ela o mesmo
tipo de sorriso caloroso que recebia do senhor Tolly cada dia.
Francamente, Edward parecia nem a ver.
Mas o senhor Tolly... Deus a ajudasse, Olivia não teria se
importado se ele tivesse apenas cinco centenas de libras por ano, ela
ainda iria desejá-lo acima de todos os outros. Ela tinha sido seduzida
por seu calor e bondade, seu sorriso pronto. Tinha sido cativada pela
luz brilhante em sua vida abismal.
Ela voltou há algumas semanas, quando o aperto gelado do
inverno ainda não havia deixado Everdon Court. Ela tinha ido à estufa
para recolher algumas flores para iluminar sua sala de estar e dar-lhe
um toque de primavera. Estava examinando os vasos de flores
quando o senhor Tolly tinha vindo em busca do senhor Gortman, o
jardineiro.
― Lady, ― ele disse, levantando o chapéu e piscando um sorriso
que a encantou até as pontas dos dedos dos pés.
Sem perceber, ficou emocionada ao vê-lo. ― Você tem que me
ajudar, Sr. Tolly, ― ela disse instantaneamente. Essa era a maneira que
conseguiu de manter a companhia dele o maior tempo possível; dessa
forma pediu a ajuda dele. Ela levantou dois vasos de flores. ―
Amarelo? Ou branco?
Ele olhou para os vasos de flores. ― Vermelho.
— Vermelho? ― Ela riu e olhou ao seu redor. ― Mas não há
nenhum vermelho.
― Ah, mas tem sim, ― ele disse com uma astuta piscadela. ―
Você não está tão familiarizada com o senhor Gortman como eu.
Venha. ― Ele tomou os vasos e deixou de lado, em seguida pegou
sua mão e colocou-a em seu braço, acompanhando-a para fora para
um pequeno galpão ao lado da estufa. Estava quente no interior do
abrigo; de um lado o carvão em um pequeno braseiro ardia. Mas não
foi o braseiro que fez Olivia suspirar de prazer; foram as flores
vermelhas. Havia vasos e mais vasos delas: gerânios, crista-de-galo,
dálias e rosas em miniatura.
― O senhor Gortman pretende replantar o pequeno jardim, ―
explicou o senhor Tolly.
― É lindo! ― Olivia tinha dito em apreciação. Estava em uma
pequena sala cheia de promessas da primavera. ― Você não pensa
assim, Sr. Tolly?
― Sim. ― Ele disse quase instantaneamente, suavemente, e
Olivia se virou para ele. Mas ele não estava olhando para as flores,
estava olhando para ela de uma forma que tinha enviado um arrepio
profundo em suas veias. Mas o momento passou rapidamente pois ele
se virou para a porta e segurou-a aberta para ela. ― Vou falar ao
senhor Gortman por você. Estou certo de que ficaria encantado em
fazer-lhe um arranjo.
Ela se perguntou se queria tanto ver algo na expressão do senhor
Tolly que acabou imaginando o que viu. ― Obrigada, mas eu não
poderia impor. Ele as cultivou com muito cuidado por um motivo
especial.
No entanto, na manhã seguinte, Olivia despertou com um vaso de
flores vermelhas sobre sua penteadeira. ― De onde vieram? ―
perguntou para sua empregada.
― O senhor Gortman enviou-as a senhora, ― Nancy respondeu.
Olivia ficou tão satisfeita como se ele tivesse enviado diamantes,
e ao pensar nisso agora não pôde deixar de sorrir para si mesma.
― O que está pensando, Lady Carey? ― Edward perguntou,
assustando Olivia de seus pensamentos. Ela relutantemente voltou
sua atenção para o marido. Ele estava sentado à cabeceira da mesa,
segurando a Bíblia em uma das mãos, tamborilando os dedos da outra
sobre a mesa.
― Perdão? ― perguntou.
― Eu não posso imaginar que a Escritura coloque um sorriso
encantador como este em seu rosto. Você nunca me pareceu o tipo de
mulher que fica feliz pela boa palavra.
Olivia não falou; ela não tinha ouvido uma palavra do que ele
tinha dito.
― Eu gostaria de saber o que você pensa da passagem.
Ele sabia muito bem que ela não havia prestado atenção. Olivia
suspirou. ― Perdoe-me, mas eu não estava escutando.
Edward levantou uma sobrancelha em diversão. ― Obviamente.
E porque não, Olivia? Você acha-me tedioso? Eu sou tão
desinteressante para você?
― Nem um pouco, ― ela disse, e pensou rapidamente como
alisar suas penas eriçadas. ― Meus pensamentos estão ocupados,
pois estou preocupada com a minha irmã nos últimos dias.
― Entendo, ― Edward disse, acenando com a cabeça,
pensativo. ― Sua irmã tem um lugar de maior importância do que o
seu marido em seus pensamentos.
― Nesta ocasião particular, sim, ― Olivia descaradamente
concordou. Edward arqueou uma sobrancelha, olhando com
curiosidade para ela, surpreendido por ela admitir isso.
― Eu sinto muito se ela te angustia. Mas parece que o seu
sofrimento é mais uma razão para bani-la de nossas vidas.
― Ela é minha irmã, ― disse Olivia. ― Quero-a aqui comigo,
como qualquer irmã faria. Ela está em uma situação terrível, Edward.
Será evitada e ridicularizada e coisas depreciativas serão ditas sobre
ela. Tudo o que ela tem é a sua família.
Edward sentou-se, estudando-a. ― Essa é precisamente a razão
pela qual não podemos tê-la aqui, e você bem sabe disso. A associação
com ela iria manchar a reputação desta família.
― Eu entendo, ― Olivia disse cuidadosamente. ― Mas, eu
pensei que talvez ninguém precisasse saber. ― Tinha uma tênue
esperança de que ele pudesse concordar, apenas uma esperança, no
entanto.
Mas, Edward revirou os olhos e disse ― Ou você é ingênua ou
simplória. Francamente, eu não posso acreditar que iria mesmo
perguntar isso para mim. Se você fosse uma esposa amorosa,
procuraria remover este flagelo de nossas vidas por todos os meios
possíveis. Se realmente me amasse, a teria mandado embora, em vez
de trazê-la para mim. É como se você se esquecesse de quem eu sou.
― É claro que não esqueci, Edward. Eu trouxe para você porque
pensei que seria muito infeliz para proceder de outra forma.
Ele balançou sua cabeça. ― Você tem um monte de desculpas
na mão. Se não vai mandá-la para longe de nós, vou fazer isso por
você. Terei certeza que não irá desgraçar-nos outra vez mais.
― Mas, o senhor Tolly se ofereceu para dar-lhe o seu nome.
Edward bufou e virou uma página de sua Bíblia. ― Ela é graciosa,
a puta da sua irmã. Estou certo de que ele aguarda com expectativa o
prazer que vai encontrar em seu leito conjugal. ― Ele olhou para ela.
― O prazer que tem sido negado no meu.
O rosto de Olivia inflamou. Ela não podia olhar para ele.
―Tolly sabe o que é, ― Edward disse, rindo.
― Eu ouvi o meu nome? ― perguntou o senhor Tolly,
caminhando para a sala naquele momento com seu sorriso fácil.
Olivia podia sentir a tensão instantaneamente deixá-la.
― Ah, Sr. Tolly! ― Edward disse, seu sorriso brilhando. ―
Obrigado por ter vindo. Sente-se, e permita que Lady Carey faça algo
útil e sirva chá para você. Olivia?
Olivia mordeu a língua e obedientemente serviu chá para o
senhor Tolly.
― Eu estava justamente perguntando a opinião de minha esposa
a respeito das Escrituras, ― Edward disse enquanto ela se movia para
o aparador.
― Eu não queria interromper, ― disse Tolly.
― Você não interrompeu, ― Edward assegurou.
Olivia serviu o chá e virou-se; os olhos de Edward estavam presos
nela. Ele riu. ― Na verdade, minha querida esposa confessou que
tinha pouca atenção à minha leitura. O que você acha de uma mulher
que ignora ostensivamente a leitura da Escritura de seu marido?
Olivia deixou o chá perante o senhor Tolly. ― Obrigado, ― ele
disse, e olhou para ela com um fantasma de um sorriso.
― É um prazer. ― Ela se sentou em frente a ele; seus olhos
cinzentos permaneceram voltados para ela.
― Eu estava lendo Efésios, Tolly. Você está familiarizado com as
cartas de Paulo aos Efésios? ― perguntou Edward.
O senhor Tolly sorriu. ― Acredito que não estou tão
familiarizado como deveria.
Se ele estivesse casado com Edward, estaria extremamente
familiarizado com o capítulo. Edward muitas vezes selecionava suas
leituras do evangelho de Paulo.
― Se você tolerar a um homem e sua esposa um pouco de
leitura espiritual, vou continuar, ― Edward disse, como se ele fosse o
arcebispo. Ele levantou a Bíblia e leu, ― "Vós, mulheres, sujeitai-vos a
vossos maridos, como ao Senhor. Porque o marido é a cabeça da
mulher”. ― Ele abaixou a Bíblia e sorriu friamente para Olivia.
O senhor Tolly olhou desconfortavelmente em sua xícara de chá e
levou-a aos lábios. Mas Olivia sorriu brilhantemente para o marido. Ela
o desprezava, mas desprezava ainda mais ser ridicularizada na frente
do senhor Tolly.
― Uma leitura excelente, milorde. Você deveria considerar o
púlpito.
Edward fez uma careta. ― Agora que me deu atenção, minha
querida, talvez poderia ter a gentileza de me dizer a sua
interpretação?
Olivia sabia muito bem o que arriscou ao desafiá-lo, mas estava
além do ponto de se preocupar. Deixe-o bani-la também, seria uma
bênção. Deixe-o bater nela, não poderia ser mais doloroso do que a
sua companhia.
― Minha interpretação? ― perguntou, como se ponderando. ―
Oh, eu mal sei, meu amor. Mas acho que você está muito ansioso para
me dizer o que minha interpretação deveria ser.
O senhor Tolly engasgou com o chá.
Os olhos de Edward escureceram. Ele se inclinou para trás,
estudando-a. ― Acho que você precisa ser lembrada que o evangelho
adverte que uma esposa deve reverenciar o marido.
― Mesmo? ― perguntou Olivia com um olhar de corça, depois
deu de ombros levemente. ― Lembro-me muito pouco dos versos,
realmente… Exceto ― disse ela, levantando um dedo, ― me lembro do
verso que diz que o marido deve prestar à mulher a devida
benevolência.
A tosse do senhor Tolly repentinamente piorou. ― Perdão, ―
disse ele com a voz rouca e se levantou, caminhando para o aparador.
Edward, previsivelmente, não ficou nem um pouco divertido. ―
Eu acho que você quer me provocar.
― Nem um pouco! ― Olivia disse docemente. ― Eu nunca quis
provocá-lo.
Os lábios de Edward desapareceram em uma linha fina.
― Se me permite, milorde, ― o senhor Tolly disse quando voltou
para a mesa, ― há muito a ser feito antes de sua partida.
― Partida? ― Perguntou Olivia.
― Sim, ― Edward disse com firmeza. ― Partida.
Olivia resistiu ao impulso de pular de alegria. ― Onde você vai?
Edward de repente se levantou. O senhor Tolly também.
― Eu vou a Londres. E antes de perguntar vou dizer-lhe
imediatamente que você não tem permissão para vir.
Se não o desprezasse, Olivia poderia tê-lo beijado. ― Eu não
sonharia sobrecarregar você com a minha presença, ― disse ela
docemente.
Edward jogou para baixo seu guardanapo. ― Sr. Tolly, por favor
suporte a companhia de minha esposa por alguns momentos. Acho que
preciso de um pouco de ar antes de começar, ― ele disse, e olhando
incisivamente para Olivia saiu.
O senhor Tolly permaneceu de pé até que ele se foi, em
seguida, virou-se e olhou para Olivia, um leve sorriso no rosto. ―
Efésios, ― disse quando retomou seu lugar.
― Somos muito seletos em nossas leituras aqui. Mas não
importa, Sr. Tolly, eu preciso desesperadamente falar com você.
― Claro.
Ela inclinou-se e estendeu a mão por cima da mesa. ― Você não
pode se casar com Alexa! Eu não posso permitir isso.
― Claro que eu...
― Não, não, ― disse ela, sacudindo a cabeça. ― Foi muito
cavalheiresco de você oferecer, e Deus sabe que não posso agradecer o
suficiente por isso. ― Ela falou rapidamente, certa de que Edward iria
aparecer a qualquer momento. ― Mas eu não vou permitir que você
fique preso a um casamento indesejado e uma mulher para o resto da
sua vida.
― Isto é...
― Você está louco? ― Ela sussurrou, olhando nervosamente
para a porta. ― Não há vida, não há felicidade no casamento de
alguém que você não pode amar. Sua intenção era pura e foi gentil,
mas você e Alexa não podem cometer um erro tão grave. Pense
nisso, ― ela implorou. ― Você não quer se casar com uma mulher
que ama?
A mandíbula do senhor Tolly cerrou. Ele engoliu em seco. Olivia
acreditou que ela entendia, ele ofereceu às pressas e se arrependeu.
Em um momento infeliz viu uma mulher em perigo e acreditou, assim
como Olivia, que tudo estaria perdido para Alexa se alguém não
interviesse para ajudá-la.
― Sr. Tolly... você tem sido tão bom para mim, ― Olivia
sussurrou. ― Alexa arruinou a vida dela, mas não deixe sua simpatia
por ela arruinar a sua vida para sempre. Meu coração se parte pela
minha irmã, de verdade, mas ela e eu não podemos envolver alguém
tão bom quanto você.
De repente o senhor Tolly chegou do outro lado da mesa e cobriu
a mão dela com a dele, apertando suavemente. Seu toque
surpreendeu Olivia e tirou-a fora de seus pensamentos. Ela olhou para
sua mão, duas vezes maior que a dela, seus dedos embrulhado
firmemente ao redor dela.
― Você vai ficar doente, ― disse ele em voz baixa. ― E
certamente me conhece bem o suficiente para saber que eu não sou
um homem incauto. Deve entender que eu não faria tal oferta de
ânimo leve. Preciso de um pouco de tempo para pensar numa
solução, de forma que tanto ela como eu possamos evitar essa
situação e ainda salvar a reputação da Alexa e a sua.
A sensação da mão dele sobre a dela foi tão poderosa que fez
bater descontroladamente o coração de Olivia. Havia tanta coisa em
seu toque: proteção, garantia. Não solte a minha mão, nunca solte a
minha mão.
― É tão injusto ― Olivia murmurou, seu olhar fixo na mão dele,
em uma pequena sarda na parte traseira do seu polegar. ― Onde ela
está? Ela está bem?
― Ela está na casa da viúva. ― O senhor Tolly não fez nenhum
esforço para remover a mão da dela, e Olivia imaginou que ele estava
ajudando-a com a sua força. Ela quase podia sentir essa força fluindo
entre eles. ― Ela está compreensivelmente chateada e confusa, ―
continuou ele, mas ficará muito bem. Lady Carey, olhe para mim, ―
ordenou suavemente.
Olivia não queria olhar para longe de sua mão. Ela se
perguntava quando as sardas tinham aparecido em seu polegar, se
ele passou sua juventude ao sol. Perguntou-se tantas coisas sobre
ele.
O senhor Tolly apertou a mão dela, e ela relutantemente levantou
o olhar para ele.
― Não se preocupe, ― disse ele. ― Sua irmã será bem cuidada.
― Eu não tenho nenhuma dúvida de que em suas mãos ela será
muito bem cuidada. Mas eu me preocupo por você, senhor. E seus
afetos e desejos pessoais? Você é um homem jovem, pouco mais
velho que eu. Você vai querer o seu próprio amor e filhos, e ainda
assim vai jogar tudo isso fora?
O olhar do senhor Tolly foi para a boca de Olivia, e ela
imediatamente sentiu um calor em seus dedos do pé, subindo em
espiral nas pernas e coluna, aquecendo suas bochechas. Seu coração
bateu descompassado; seus dedos se curvaram ao redor dos dele.
― Se eu posso ser tão ousado, ― disse ele, como se
pesando cada palavra, ― minhas afeições pessoais recaem sobre
uma mulher que eu nunca poderei casar por uma série de razões. Se
chegar ao ponto de eu me casar com a senhorita Hastings, e não
estou convencido de que isso possa acontecer, você deve acreditar
que o acordo vai me atender perfeitamente.
O som de Edward caminhando pelo corredor chegou a eles; a mão
do senhor Tolly deslizou sobre a mesa e em seu colo. Ele continuou a
manter seu olhar nela enquanto Edward entrou na sala. Assim que
Edward olhou para cima dos papéis que estava segurando, Olivia
pegou sua xícara e trouxe-a aos lábios, escondendo-se atrás dela.
Estava vazia; ela delicadamente a devolveu ao pires e
disfarçadamente olhou para o senhor Tolly.
― Olivia, você pode levar o seu chá para seus aposentos. —
Edward disse com desdém.
Ela levantou. ― Tenha um bom dia, Sr. Tolly. Edward.
Ela podia sentir o olhar do senhor Tolly segui-la enquanto
caminhava em volta da mesa. Seu coração estava vibrando quando
saiu da sala, a cabeça cheia com a imagem daqueles olhos cinzentos,
e um pequeno tremor sacudiu sua coluna vertebral dada a intensidade
com a qual ele tinha olhado para ela.
Capítulo Cinco
Na noite de domingo Harrison teve um pequeno contratempo
com a senhorita Hastings, sua futura noiva.
― Você parece um marido, Sr. Tolly, e nem mesmo dissemos os
votos. — Ela reclamou com petulância.
Como Harrison nunca foi casado ele não tinha ideia de como se
portar. Em sua opinião, ele se portava como a única pessoa razoável
na sala de estar, a senhorita Hastings estava determinada a ir ter com
a irmã e chorar em seu ombro, mas Harrison estava da mesma
maneira determinado a fazê-la esperar até que Lorde Carey partisse
de Everdon Court.
O humor de Carey esteve particularmente desagradável naquela
tarde depois que Harrison explicou que seu irmão mais novo, o senhor
Westhorpe tinha tomado uma série de decisões para a propriedade
Carey em Surrey que tinha custado uma soma significativa. Lorde
Carey não tolerava erros em ninguém. Ele se julgava incapaz de
cometê-los, e esperava dos outros a mesma conduta.
― Depois de séculos de construção da fortuna dessa família
David vai nos arruinar. — Disse ele bruscamente. ― Ele vai nos
arruinar com suas ações perdulárias e desatenção aos detalhes!
Harrison se considerava afortunado, pois por qualquer motivo que
tenha sido o marquês o ouviu. Carey prestou atenção a seu aviso,
procurou seu conselho, e, em sua maior parte, o tratou como igual na
gestão das vastas propriedades Carey, que rivalizavam com as dos
homens mais ricos do reino.
Harrison era um administrador excelente e capaz, treinado pelo
melhor na Inglaterra. Mas não era tão ingênuo a ponto de acreditar que
estava de alguma forma imune a ser despedido de imediato. Ele tinha
visto isso acontecer muitas vezes.
Gostava de pensar que tinha impedido alguns casos em Everdon
Court. Ele não podia deixar de se sentir protetor com os servos lá,
eles eram pessoas impotentes, à mercê dos caprichos de homens
poderosos como Carey, e ele passou por isso quando era criança. Ele
assistiu sua mãe preocupar-se quando estava doente e lutar para
manter o interesse dos cavalheiros que a sustentavam, pois quando
terminavam com ela era o fim de sua generosidade. Uma das
memórias mais dolorosas de Harrison foi na noite em que sua mãe
tinha tomado conhecimento que seu benfeitor tinha sido visto na
companhia de uma amante mais jovem. Ela entrou em colapso,
soluçando, e ele sentiu uma inutilidade profunda. Ele não podia ajudar
sua mãe. Não podia dar-lhe a paz.
Quinze dias depois eles se mudaram para uma vizinhança pior, ele
com seus livros, sua mãe com as joias que ela usou para pagar suas
despesas.
Agora, Harrison estava em posição diferente. Ele era poderoso
em seu próprio direito, porque a família Carey confiava nele.
Harrison acreditava firmemente que ele permanecia e m bons
termos como resultado da relação que ele tinha desfrutado com o
falecido pai de Lorde Carey. O pai do marquês tinha empregado
Harrison com base na recomendação de um dos amantes de sua mãe.
Ele tinha gentilmente ignorado a situação dele e tinha se afeiçoado a
Harrison. Sempre o tratou como igual. Seu filho tinha seguido o seu
exemplo e tinha vindo a contar com Harrison assim como seu pai
havia feito.
Hoje, no entanto, Harrison tinha detectado uma ligeira mudança
no tom do marquês, e que tinha a ver com Alexa Hastings. Quando
Harrison reuniu suas coisas para sair, seu senhorio o tinha parado
com uma pergunta: ― O que você pretende fazer com a prostituta?
Harrison ficou irritado com o termo usado, a senhorita Hastings
era uma garota de dezoito anos de idade, que tinha cometido um erro
que alterou sua vida, mas ele se ressentia desse julgamento.
― Tenho a intenção de procurar uma situação que irá atender
a todos os envolvidos, e se eu não puder encontrar, tenho a intenção
de me casar com ela. — Ele disse, sem rodeios. Um olhar sombrio veio
sobre o rosto de Lorde Carey.
― Estou chocado. Eu lhe dei todo o meu respeito e é assim
que me paga? Tomando uma prostituta como sua esposa, enquanto
está a meu serviço?
― Desculpe-me, se eu o ofendi. — Harrison respondeu
uniformemente. Ele sabia como apelar para o ego de Carey. ― Mas,
se alguém não se casar com a menina, o escândalo poderá muito bem
ser ruinoso.
Carey não tinha dito nada a isso, mas olhou-o astutamente.
― É meu dever aqui cuidar da propriedade. — Harrison afirmou,
e devolveu o olhar, desafiando-o a dizer que ele não estava sendo
firmemente leal em todos os sentidos.
Carey finalmente desviou o olhar. ― Eu não consigo entender o
seu desejo de se intrometer nos assuntos da família Hastings e
arruinar a sua própria vida no decorrer do mesmo, mas se esse é o seu
desejo, que assim seja. Insisto que você encontre uma solução
rapidamente, enquanto eu estiver fora. — Disse, voltando sua atenção
para os papéis diante dele. ― E mande-a para algum lugar fora da
minha vista. Não posso suportar olhar para ela, não é bem-vinda em
minha casa. Se você achar censurável, tenha em mente que eu
preferiria bani-la para sempre.
Harrison sabia que Carey quis dizer o que ele disse. O marquês
tinha banido seu próprio primo por acumular dívidas de jogo
incontroláveis, há dois anos. Ele reduziu seu subsídio e enviou-o para
a Escócia com a promessa de que iria remover completamente se ele
ousasse mostrar sua cara na Inglaterra novamente.
― Muito bem. — Disse Harrison, e despediu-se antes de dizer
algo que lamentaria mais tarde.
Ele tinha deixado Lorde Carey cantarolando uma melodia alegre.
Voltou para a casa da viúva perguntando por que tinha ficado
neste cargo tanto tempo. Era o salário generoso? Não. Dinheiro não era
tudo. Foi por causa das Rue da vida, que precisavam de alguém como
ele para cuidar deles? Possivelmente. O trabalho? Ele gostava do que
fazia.
Seja qual for a razão, Harrison ficou e suportou os preconceitos
e fanatismos do marquês. Mesmo se aquele senhor Fish estivesse
dizendo a verdade, não poderia ir embora.
Harrison não queria pensar em Ashwood. Na possibilidade de que
havia um lugar para ele ir, ao qual pertencer, de ser seu próprio. Se
pensasse nisso, sentir-se-ia perturbado, uma sensação de que não se
importava, no mínimo.
No entanto, estava se sentindo bastante incomodado quando
entrou na casa que os Carey graciosamente lhe cederam, enquanto
estava trabalhando para eles. A casa da viúva era uma casa senhorial
que em alguns aspectos, era muito superior às casas de propriedade
de outros senhores e senhoras. Ela era grande demais para um
homem só.
Rue estava na porta naquela tarde para pegar seus pertences
molhados.
― Está chovendo ainda? — Perguntou ela, segurando seu
casaco gotejando.
Harrison suprimiu um pequeno sorriso para o óbvio. ― Sim,
está. Onde está a senhorita Hastings? — Perguntou enquanto se
dirigia para seu estúdio.
― Está colocando seu casaco. Ela quer ir para a casa grande.
― É mesmo? — Ele demorou. ― Onde ela está agora?
― Na sala de desenho, milorde.
― Sr., ― ele corrigiu, e passou para a sala de desenho.
Encontrou a senhorita Hastings em sua capa, calçando suas mãos em
luvas. ― Boa tarde.
Ela olhou para ele com o canto do olho. ― Sr. Tolly.
― Posso perguntar onde você está indo?
De repente, ela virou-se para encará-lo. ― Você parece um
marido, Sr. Tolly, e os votos nem mesmo foram ditos. Não pode
manter-me longe de minha irmã!
Harrison cruzou as mãos atrás das costas e baixou a cabeça. ―
Eu não tenho nenhuma intenção de mantê-la longe de sua irmã. — Ele
disse, como se falasse com uma criança. ― Espero que durante a
quinzena, enquanto o marquês estiver longe, você possa gastar cada
momento possível com ela. Mas, ele ainda não partiu e você deve ficar
aqui até que ele vá. Isso não está aberto a discussão.
― Porquê? — Ela perguntou. ― Ele não pode fazer nada para
mim. Ele não é meu pai.
― Eu discordo, ― disse Harrison. ― Existem poucos homens
nesta terra que são tão poderosos quanto o marido de sua irmã. Se
ele quiser vê-la arruinada publicamente, poderá fazê-lo com uma
palavra. Uma única palavra, senhorita Hastings. Se ele quiser banir
você, ele vai fazê-lo e ninguém vai desafiá-lo. Ninguém.
Ela estremeceu com isso.
― Eu só quero Olivia, Sr. Tolly. Eu quero estar com a minha irmã.
Você não pode imaginar como isso é difícil para mim.
― Sua irmã deseja estar com você, também. — Assegurou ele.
― No entanto, você deve confiar em mim que será melhor esperar. Sua
senhoria vai para Londres amanhã, e quando ele se for, você pode ir
e vir quando quiser.
― Graças aos santos. — Ela murmurou, e olhou para as luvas.
― Assim, você pode gentilmente remover a capa e as luvas. —
Disse ele.
A senhorita Hastings não removeu. Ela olhou para ele,
mordendo o lábio inferior. ― Sr. Tolly, eu não gostaria que pensasse
que sou ingrata pela sua intervenção em meu nome, porque não sou.
Mas não quero me casar com você.
Certamente a menina tola não acreditava que ele queria.
― Eu entendo completamente — disse ele. ― Não precisa dizer
mais nada.
― Pelo contrário, eu preciso muito desesperadamente dizer isso.
— A senhorita Hastings disse seriamente. ― Eu percebo que não
estou em posição de discutir, mas realmente não posso, em sã
consciência, me casar com você, porque eu não... — Ela olhou ao
redor da sala, como se procurasse alguma coisa, finalmente, fixando
em um pequeno anjo de porcelana que Rue tinha colocado em uma
mesa. ― Eu não o amo. — ela disse suavemente.
Ela disse como se ele tivesse feito alguma declaração de sua
estima por ela, e Harrison não pode deixar de sorrir.
― Claro que você não me ama. Você mal me conhece.
― Sim, bem... Há também a questão de que você é um
administrador. Eu esperava uma situação melhor.
O amargor da senhorita Hastings era tão fascinante como sua
honestidade brutal. Mas essa observação colocou um pequeno furo na
bolha de boa vontade de Harrison.
― Eu sou de fato um administrador. — Disse ele. ― E você está
carregando um filho fora do casamento.
A senhorita Hastings corou furiosamente.
― Como você ousa falar sobre isso?
― Por que não? — Harrison rebateu. ― Você certamente deve
perceber que esta não é uma situação ideal para qualquer um de nós.
Eu sinceramente espero poder encontrar uma maneira de evitar um
casamento, por nós dois...
― Estou ansiosa para saber que maneira poderia ser. — Ela
murmurou sarcasticamente.
― Mas, se eu não conseguir. — Ele continuou, ignorando seu
ceticismo. ― Você deve ter em mente que está desesperadamente
necessitando de um marido, e é meu dever manter o nome dos Carey
afastado de um escândalo.
― Porquê?
A pergunta o surpreendeu.
― Porquê? ― repetiu ele.
― Sim, Sr. Tolly, por que é seu dever manter um escândalo
afastado do nome Carey? Eu não posso ver como você iria sofrer com
isso. — Harrison moveu-se desconfortavelmente com a verdade nisso.
― Acredito que gostaria de se casar com alguém que estima, alguém
com temperamento compatível.
― Naturalmente seria a minha preferência, mas acho que talvez
seja tarde demais para mim. E, ouso dizer, tarde demais para você.
― Por que é tarde demais para você?
Pela segunda vez hoje, Harrison foi forçado a dizer em voz alta
um segredo que ele tinha carregado por muitos anos.
― Acontece, senhorita Hastings, que a mulher por quem
sustento um fascínio particular é lamentavelmente inatingível para
mim. Isso é tudo o que precisa ser dito sobre a minha situação.
Estamos falando da sua situação.
― Quem é ela? ― A senhorita Hastings perguntou curiosamente.
― Isso aqui não é da sua conta.
― Eu digo que é. Se estamos para casar, eu tenho o direito de
saber.
Ele arqueou uma sobrancelha duvidosa.
― Vamos nos casar, então?
Ela revirou os olhos.
― Quem é ela? ― ela perguntou novamente.
Ele sorriu da maneira mais paciente que pode, dado o sentido
desconfortável da conversa.
― Vamos chamá-la de Lady X.
A senhorita Hastings sorriu.
― Lady X? Quem poderia ser? Olivia?
Ela riu de sua brincadeira e Harrison sorriu também.
― É Olivia? ― ela perguntou, com os olhos arregalados de
surpresa.
― Essa é uma sugestão absurda.
― Oh, eu sei quem é, ― ela disse de repente, seu sorriso
iluminando.
― Lady Martha Higginbottom. Sim, deve ser! Olivia disse que ela
o chama muitas vezes e nunca tem muito a dizer.
Harrison sorriu. Ele tinha jogado este jogo de adivinhação no
Cock and Sparrow com seus amigos provocando-o sobre sua misteriosa
Lady X. Eles tinham suas teorias também.
― Você tem que ver o meu ponto, não é verdade, Sr. Tolly? Se
estima Lady Martha, deve encontrar uma maneira de se casar com ela.
Eu deveria pensar que Lorde Higginbottom ficaria muito satisfeito em
casá-la com um administrador. Ela é a terceira filha, depois de tudo.
Ele sorriu ironicamente.
― Eu não pretendo me casar com Lady Martha, senhorita
Hastings. Agora, então, gostaria de sugerir que, como somos duas
pessoas razoáveis, vamos manter nossa atenção no problema que
temos em nossas mãos e determinar como vamos encontrar o nosso
caminho.
― O que quer dizer...
― Quero dizer..
Deus do céu, Harrison não tinha ideia do que ele queria dizer.
Ele não queria se casar com essa menina mais do que ela queria que
ele se casasse com ela. E como ela astutamente mencionou, ele não
tinha esperança de encontrar uma solução viável. Mas a senhorita
Hastings era tão jovem que não havia entendido que as poucas opções
que tinha tido como uma mulher, em geral, tinham sido eliminadas no
momento em que ela concebeu a criança que carregava.
― Significando que devemos planejar cuidadosamente. Para o seu
bem e para o bem da sua irmã. Você está certa de que o pai de seu
filho não vai honrar a sua responsabilidade?
As bochechas da senhorita Hastings ficaram vermelhas e ela
olhou para baixo.
― Vou ser sincera, Sr. Tolly. Eu não quero falar com você sobre
tais assuntos pessoais. Gostaria de falar com Olivia.
― Estou tentando ajudá-la, senhorita Hastings. Se você for
franca e honesta comigo, poderemos ver a melhor maneira de sair
deste atoleiro.
A senhorita Hastings gemeu como se ele a tivesse posto à prova.
Harrison lembrou-a de quando Olivia tinha sido tão espirituosa.
Quando ela se casou com o marquês, tinha infundido na antiga casa
um entusiasmo ensolarado que só uma mulher bonita pode fazer. Ela
tinha prazer em hospedar chás e piqueniques. Como a senhorita
Hastings andando de um lado para o outro em frente a Harrison
agora, falando muito apaixonadamente sobre como ela não tinha
desejo de se casar, que ela iria encontrar uma maneira de criar a
criança por conta própria, mesmo que isso significasse vender
vegetais, Harrison tentou se lembrar exatamente quando o sol tinha
começado a desaparecer da casa principal. Era como se a gravidade do
difícil casamento de Lady Carey fosse puxando-a para baixo, puxando
a leveza fora dela.
― Eu não tenho medo de trabalho, você sabe. — A senhorita
Hastings disse, terminando o seu monólogo. ― Nem um pouco.
― Essa é uma excelente notícia para um futuro marido. — disse
Harrison. ― Eu não vou ficar no seu caminho, se você achar que deve
vender legumes. No entanto, gostaria de evitá-lo, se possível, o que
significa que você deve ficar próxima de mim. Vamos tomar um chá
enquanto discutimos isso?
Ela suspirou. A jovem sabia que estava derrotada, e começou a
arrancar as luvas de seus dedos.
― Muito bem. Mas no dia seguinte, vou voltar para Everdon Court
onde eu pertenço. Não vou pedir sua permissão, tampouco. Eu
pretendo ir por minha própria vontade.
Harrison sorriu enquanto caminhava para puxar o sino.
― Muito bem.
― Eu quero dizer exatamente isso, Sr. Tolly. Alertou enquanto
jogava as luvas de lado e começava a desfazer o fecho de sua capa.
― Você deve saber desde já que sou completamente independente. E
a propósito, se quisermos ser próximos, você pode me chamar de
Alexa. E como devo chamá-lo?
Ele pensou que ela poderia chamá-lo de completamente louco,
mas ele disse:
― Harrison.
―Tudo bem. Harry. — Disse ela enquanto ele a levou para fora
do salão.
Capítulo Seis
Edward não apareceu para o jantar naquela noite. Olivia não
quis saber ou se importou onde ele estava e jantou sozinha, em
seguida, retirou-se para seu quarto em paz. Ela se acomodou com um
livro que o senhor Tolly tinha dado a ela uma tarde, quando o pegou
lendo-o. Quando ela manifestou interesse no livro, ele insistiu que ela
deveria ficar com ele.
― Eu não poderia possivelmente, — disse, admirando o couro
vermelho da lombada.
― Mas você deve. — Respondeu ele com um sorriso cativante.
― Acabou de chegar de Londres. Entendo que seja um conto bastante
fascinante sobre um administrador. — Ele sorriu um pouco torto,
como se isso o divertisse.
― Um administrador? Sinceramente?
― Sinceramente. Você pode não estar ciente de que
administradores são geralmente bastante fascinantes. — Ele disse,
com os olhos brilhando. ― São recheados com segredos e contos
intrigantes.
― Sério? — Ela perguntou, rindo. ― Que tipo de segredos?
― Oh, o habitual. — Respondeu casualmente. ― Jogos de azar e
saqueadores e caos. Amores ilícitos e intrigas.
Olivia tinha sorrido. E ele também.
― Eu não poderia estar mais intrigada.
― Não? — Ele apertou o livro na mão dela e Olivia se perguntou
se ele tinha sentido a centelha entre eles que ela tinha sentido. ―
Você deve tê-lo. — Ele disse. ― É um alegre conto dos habitantes de
Castelo Rackrent.
Olivia olhou ansiosamente pelo corredor, esperando Edward
aparecer a qualquer momento e exigir saber o que ela estava fazendo.
― Obrigada. Agradeceu suavemente. Ela não conseguia se lembrar da
última vez que Edward a tinha agradado ou desejado agradá-la. ― Eu
aprecio isso mais do que posso dizer.
O senhor Tolly tinha dado a ela um sorriso que fez sua pele
formigar e Olivia rapidamente se afastou, o livro agarrado firmemente
na mão.
Ele estava certo sobre o livro, era de fato divertido e quando
Olivia terminou naquela noite, colocou-o no colo, então inclinou a
cabeça contra a chaise, os olhos fechados. Imaginou o senhor Tolly
sentado em uma cadeira na casa da viúva, calmamente passando uma
noite com este livro em seu colo, rindo para si mesmo ao longo do
tempo.
Ela ouviu Edward vindo pelo corredor antes mesmo de vê-lo.
Houve um baque, como se tivesse colidido em algo, seguido por uma
maldição.
Bêbado novamente, ela pensou, e no momento seguinte, Edward
tropeçou em seu quarto, piscando na luz.
― O que você está fazendo? — Perguntou ele.
Olivia pôs o livro de lado e alisou seu colo. Ela podia sentir o
cheiro de uísque do outro lado do aposento.
― Eu estava lendo.
― Lendo! ― Ele bufou como se não acreditasse que ela era
capaz de ler. ― Espero sinceramente que você esteja lendo algo que
vai melhorar a sua mente. — Disse ele e começou a desatar sua
gravata, puxando-a. ― Francamente, acho que falta alguma coisa em
sua educação, Olivia. Você não tem conhecimento ou opiniões sobre
assuntos de importância.
Olivia se perguntou como este homem, que não conseguia ficar
longe dos seus copos, poderia pensar que ele sabia quais eram suas
opiniões. Ele nunca perguntava e era rápido em cortá-la quando
tentava falar.
― O que importa? — Ela perguntou casualmente.
Edward suspirou com impaciência. ― Isso é precisamente o meu
ponto. Eu não deveria ter que enumerá-los para você, deveria? O que
você está lendo?
― Um livro.
― É claro que é um livro! Que livro é?
― Castelo Rackrent. — Ela disse e levantou-se da cadeira,
caminhando para a lareira.
Edward fez uma pausa de suas tentativas atrapalhadas para se
despir e olhou para ela, balançando um pouco.
― Isso não soa como um livro com qualquer valor redentor. Que
tipo de livro é?
E lá iam eles, Olivia pensou severamente. ― Um conto de ficção.
— Ela disse com um encolher de ombros.
Edward deixou cair as mãos de seu colete, sua face
escurecendo.
― Devo instruí-la em tudo? É o seu julgamento tão pobre? Eu não
aprovo sua leitura de ficção, Olivia. Pelo amor de Deus, se você optar
por ler, faça-me a pequena cortesia de ler algo de valor. Não algo que
vai enfraquecer a sua mente mais do que já é.
Olivia imaginou-se com seu arco, uma flecha esticada, deixando-
o ir e vendo-o perfurar Edward entre os olhos.
― Sim, querido. — Ela hesitou e quando ele a olhou com
desconfiança, ela sorriu o mais inocentemente quanto podia.
Mas é claro que Edward não estava satisfeito.
― Onde você obteve este conto de ficção? — Ele perguntou
maliciosamente. Olivia hesitou apenas um pouco, mas o suficiente
para que o rosto de Edward avermelhasse. ― Eu lhe fiz uma
pergunta.
― O senhor Tolly emprestou-o para mim.
Algo brilhou nos olhos de Edward.
― Tolly. — Disse ele afastando-se dela e trabalhando em seu
colete. ― Aquele ali parecia estar inteiramente envolvido nos assuntos
de mulheres esta tarde. — Acrescentou ele, finalmente conseguindo
descartar o colete. ― Admito que fiquei um pouco decepcionado
quando se prontificou a ajudar a puta da sua irmã. Mas, ele próprio é
um bastardo. Quem melhor para criar um bastardo?
― Edward! — Exclamou Olivia, chocada com suas observações.
― Como pode dizer uma coisa dessas? O senhor Tolly sempre foi
firme em seu serviço para você e esta família.
Ele encolheu os ombros. ― Isso faz dele menos bastardo? Ele
não é o filho de uma puta assim como o filho de sua irmã será?
Uma raiva impotente apertou como um torno o seu peito. Ela
sabia que era melhor não discutir, mas ela não podia ouvir o senhor
Tolly ou Alexa serem caluniados e não falar. ― Alexa não é uma
prostituta.
― E agora eu o encontro passando livros para os de espírito
fraco. — Edward continuou como se ela não tivesse falado. ―Terei de
enfrentar seu lapso de julgamento. — Ele oscilou quando ele puxou a
camisa de suas calças.
― Não foi seu lapso de julgamento. — Olivia disse
rapidamente. ― Pedi-lhe para me trazer uma obra de ficção e ele fez
como eu pedi.
Edward parou. Ele levantou a cabeça; seus olhos tinham ficado
duros. ― Você pediu a ele?
O pulso de Olivia correu um pouco mais rápido, mas ela o olhou
diretamente nos olhos.
― Sim. Os dias podem ser bastante tediosos, sem uma
ocupação.
Ela encolheu-se interiormente com o olhar que veio de Edward,
a carranca de desaprovação que aprofundou os vincos entre as
sobrancelhas.
― Bem. Ele jogou a camisa de lado e ficou com o peito estreito e
braços expostos. ― Parece que eu preciso explicar para a marquesa
— disse ele, sua voz cheia de desgosto ― que o senhor Tolly tem a
responsabilidade de supervisionar quatro propriedades e vários
interesses comerciais em nome desta família.
― Estou bem ciente de suas responsabilidades, Edward.
― Você está realmente, Olivia? — Ele perguntou
maliciosamente. ― Porque, certamente, se você está ciente das suas
responsabilidades, iria entender que é abaixo do tempo e esforço do
homem ser enviado em uma perseguição de contos de ficção para
diverti-la.
― Pelo amor de Deus, é apenas um livro.
― Não presuma querer me dizer o que é ou não é! — Ele
retrucou. ― Você é ignorante, Olivia. Você traz à minha mente uma
vaca diante de mim agora.
Olivia odiava-o. Ela odiava sua depreciação constante, odiava
como ele sorria de forma tão cruel, odiava o ar que ele respirava, o
espaço que ocupava. Sua esperança de um casamento feliz tinha sido
tão tola, tão ingênua! Por muito tempo, acreditou que a melhor
maneira de o suportar era concordar com ele. E no começo, houve
menos problemas para ela. Mas com o passar do tempo, as coisas que
era forçada a concordar eram mais e mais ridículas ou degradantes.
Hoje à noite ela sentiu como se não pudesse tolerar mais um outro
momento.
Haveria um preço por isso, mas Olivia cruzou os braços e olhou
para longe.
― Não tenha medo, meu amor. — Edward disse, como se
estivessem jogando um jogo. ― Não a julgo inteiramente responsável
por suas muitas falhas. Acho que é um defeito do seu nascimento,
assim como a sua incapacidade de conceber uma criança é um defeito
grave. — Ele riu. ― A incapacidade de conceber filhos ou ideias —
disse ele. ― Eu casei com uma imbecil.
Olivia se dirigiu para o vestiário. Ao se mover para ultrapassá-lo,
ela disse: ― É mais provável que o defeito esteja em você, marido.
A resposta de Edward foi rápida, ele a pegou, fechando seus
dedos em torno de seu braço, puxando-a para si.
― Você acha que eu sou o defeituoso? — Ele respirou e girou
em torno dela, empurrando-a de bruços sobre a cama.
Olivia imediatamente se levantou e saiu fora da cama. ― Você
não vai forçar-se em mim novamente — disse ela sem fôlego.
Os olhos de Edward ficaram pretos. Ele bateu com as costas da
mão na boca dela. A força do golpe jogou Olivia sobre a cama mais
uma vez. Ele a surpreendeu, mas ela conseguiu ficar em seus
cotovelos e levar seus dedos para os lábios. Ele tinha tirado sangue.
A fúria de Olivia disparou. Ela não se importava que a cópula
fosse seu direito legal. Não se importava que sua mãe uma vez disse-
lhe que o dever de uma esposa era se submeter voluntariamente ao
seu marido. Não permitiria que ele colocasse a mão sobre ela, não sem
se defender da melhor maneira possível. Ela pulou para fora da cama
e encarou-o totalmente, os punhos enrolados em seus lados.
― Você é uma besta. Mantenha as suas mãos longe de mim.
A risada de Edward foi alta e em expansão. Sorrindo como um
louco, ele se lançou para ela. Olivia tentou arremessar fora de seu
alcance, mas ele era muito rápido, muito poderoso. Jogou-a de bruços
sobre a cama novamente e a prendeu lá com seu corpo.
― Sua estúpida, estúpida, cadela. — Ele respirou calorosamente
em seu pescoço, enchendo suas narinas com o cheiro de sua bebida.
― Você acha que eu a tomei por esposa por sua conversa cintilante?
Seus olhares graciosos? Tomei você como esposa para uma coisa só,
que foi para me dar um herdeiro de sangue. E vou continuar tentando
o que você me deve até que me dê um! — Ele colocou o braço ao
redor de seu pescoço e apertou o rosto contra a colcha. ― Se você
não pode ou não me fornecer o meu herdeiro, vou procurar que eu
nunca tenha que olhar para você de novo. Você me entende? — Com
isso, ele tirou o braço de seu pescoço e com Olivia arrastando ar em
seus pulmões ele pegou-a pelo ombro e virou-a de costas. ― Então eu
lhe pergunto, Lady Carey, você pretende abrir as pernas para mim
como uma esposa obediente? Ou você deve forçar-me a tomá-la?
Olivia estava tremendo, sua fúria era tão grande. Ela se levantou
sobre os cotovelos, levantou o rosto de modo a ficar logo abaixo dele.
Edward não a interpretou corretamente; seu olhar caiu para os lábios
e baixou a cabeça, como se para beijá-la. Mas Olivia virou a cabeça
para evitar a boca e disse:
― Eu nunca vou me submeter voluntariamente a você
novamente.
A boca de Edward se curvou em um sorriso hediondo.
― Então você não me deixa escolha — disse ele e empurrou-a
de costas.
Olivia lutou com ele, mas foi inútil. Em pouco tempo ele prendeu
suas mãos acima da cabeça com uma mão. Ele arrastou suas saias
em volta da cintura enquanto Olivia chutava-o, em seguida abriu suas
coxas com o joelho libertando seu pênis da calça e empurrando nela
como a besta que era, olhando para ela em triunfo escuro por ter
conseguido isto. Quando ele terminou, Olivia rolou para o lado dela,
segurando o vestido que ele tinha arrancado para cobrir seus seios,
em seguida, fechou os olhos e recordou a ampla mão do senhor Tolly
na dela, apertando os dedos de maneira tranquilizadora, infundindo-a
com sua calma.
Capítulo Sete
Mesmo na onda de atividade que cercava a partida do marquês
de Everdon Court, Harrison notou uma diferença no comportamento
de sua senhoria. Com a carruagem carregada e os cavalos atrelados,
Carey parecia distraído e distante. Podia-se mesmo dizer desconfiado.
E desconfiado dele em particular.
Ficaram na passagem junto com Brock. Um cocheiro abriu a
porta da carruagem com as plumas negras e rolos do ouro elaborados
pintadas nas laterais.
― Tudo está pronto, milorde — disse ele.
― Obrigado. — O marquês se moveu para o interior da
carruagem, mas com um pé no degrau, ele parou e olhou para trás,
seu olhar pairando sobre Harrison. ― Você gosta de ler, não é, Tolly?
Era uma pergunta tão estranha que Harrison sentiu a ira subindo
em seu pescoço.
― Sim.
― Obras de ficção?
Harrison não estava certo se ele realmente ouviu o ligeiro
gotejamento de escárnio na voz do marquês.
― De tempos em tempos.
― Eu acredito que a ficção é um desperdício de tempo bom em
um homem educado. — Carey disse enquanto alisava a luva na mão
esquerda. ― No entanto, acho que é uma escolha pessoal. — Seu
olhar fixo em Harrison. — Entretanto, se a minha esposa escolher para
ler, farei com que leia algo mais esclarecedor do que contos de fadas.
Ela tem pensamentos tolos o suficiente em sua cabeça, sem
acrescentar esses.
Harrison não sabia o que dizer para uma visão tão
desconcertante, tacanha.
Mas Carey não tinha terminado. Sua bota polida saiu da
carruagem e ele virou-se para enfrentar Harrison totalmente.
― Eu gostaria de saber em que ocasião você presenteou minha
esposa com livros.
Ele disse como se Harrison a tivesse presenteado com uma
chave para seu quarto privado, juntamente com um convite ao
adultério.
― A ocasião foi um encontro casual, milorde — disse ele
calmamente. ― Como desfruto de um conto de ficção de vez em
quando, pedi alguns livros de Londres. Na tarde que eles chegaram,
sua senhoria aconteceu de estar por perto enquanto eu estava
folheando-os.
― Apenas aconteceu, não é? — O marquês perguntou cético.
Harrison raramente queria bater em um homem como ele queria
atacar Carey naquele momento. Ele nunca tinha sido nada mais do
que infalivelmente honesto com o marquês. Em mais de uma ocasião,
Carey tinha elogiado sua franqueza.
― Sim. — Harrison repetiu friamente.
E ainda Carey olhou para ele, como se estivesse à procura de
qualquer sinal de que ele estava dissimulando. Ele deu um passo
mais perto.
― Diga-me, Tolly, você pediu alguns livros para serem entregues
aqui para ela?
De todos os anos que tinha servido este homem, ele nunca, nem
uma vez, tinha feito qualquer coisa que não fosse inteiramente
honrosa.
― Claro que não. — disse ele secamente. ― Eles eram para
mim, como eu disse.
Se Carey observou a dureza na voz de Harrison, ele não
mostrou. Na verdade, suas feições pareceram relaxar. Seu olhar
passou sobre Harrison, mais uma vez e então ele virou-se e subiu
para a carruagem.
― Vai com Deus, milorde. — Disse Brock.
O marquês não respondeu. O cocheiro fechou a porta atrás dele,
em seguida, saltou para trás e gritou para o motorista. Fervendo,
Harrison estava com as mãos cruzadas com força em suas costas
enquanto a carruagem se afastava.
Quando a carruagem tinha desaparecido de vista, Harrison
exigiu de Brock
― Aconteceu alguma coisa?
― Nada fora do comum de que tenho conhecimento, senhor, —
disse Brock quando a carruagem desapareceu atrás dele. ― Mas não
se pode dizer o que se passa por trás de portas fechadas, se você me
entende.
A raiva de Harrison disparou. ― E Lady Carey?
― Eu acredito que ela estava cuidando de sua correspondência
na sala de estar verde.
Harrison foi até a casa principal à frente de Brock, seu pulso
correndo de raiva indignada. Ele se dirigiu para a sala de estar de
Lady Carey e bateu insistentemente.
― Entre! — Ela respondeu e Harrison entrou.
Lady Carey estava sentada em uma mesa com uma xícara de chá
e uma pilha espessa de pergaminho. A sua pena estava balançando
rapidamente através da página. Quando ela olhou para cima e o viu
lá, seu rosto se iluminou com um sorriso ensolarado. Ele podia ver o
brilho nos seus olhos azuis em toda a sala. Seu lindo rosto estava livre
da carranca que muitas vezes enrugava sua testa. Ela estava
brilhando de felicidade.
O próprio sorriso de Harrison de repente vacilou.
― Bom dia, Sr. Tolly, ― disse brilhantemente. ― Não é um belo
dia? Nunca pensei que seria tão feliz em ver o sol, mas depois de toda
a chuva que tivemos, tenho vontade de dançar. Você parece atônito.
Não tema. Prometo que não vou dançar. — Ela riu. ― Gostaria de um
pouco de chá?
― A senhora, eu... Você está bem?
Seu sorriso desapareceu.
― Claro! — De repente, ela se levantou e caminhou até a
janela, empurrando para trás as cortinas abertas ainda mais. ―
Estou determinada a dar uma volta no jardim e aproveitar o sol. — Ele
se moveu em direção a ela, mas ela deliberadamente se manteve de
costas para ele, inclinando-se sobre a janela e olhando para fora. ― A
chuva fez tudo tão verde, não?
Harrison estava muito ocupado com a marca em seu rosto para
responder.
― Eu deveria pedir a Brock para abrir as janelas. — Ela disse e
se afastou dele novamente, voltando para a mesa. Sua mão deslizou
ao longo da borda da mesma, enquanto caminhava em torno dele,
mantendo a cabeça virada para um lado. Ela olhou para ele de soslaio,
então mexeu nervosamente com seu cabelo, reunindo-o no nó em sua
nuca. ― Sr. Tolly, você olha tão intensamente que me sinto um pouco
desconfortável.
― Perdoe-me, — disse ele instantaneamente. ― Não quero
olhar, mas fiquei assustado por...
― Um acidente. — Ela interrompeu, e desviou o olhar. ― Não é
nada. Garanto-lhe, parece muito pior do que é.
― Um acidente. — Repetiu ele com ceticismo. Seu coração
estava disparado quando a verdade afundou. Ele não podia acreditar
que Carey iria levantar a mão para ela por causa de um maldito livro.
― A senhora... Por favor, olhe para mim.
Ela suspirou e relutantemente fez o que ele pediu. Ele podia ver
claramente a contusão em sua pele.
― Verdadeiramente, não é nada, Sr. Tolly. — Ela disse baixinho,
e olhou para o criado que estava de pé na porta, pronto para servir.
― Um acidente. Por favor, acredite em mim.
Harrison olhou para o criado, também.
― Richard, por favor deixe-nos para que eu possa discutir alguns
assuntos particulares relativos a Everdon Court com sua senhoria.
Richard balançou a cabeça e saiu pelas portas abertas.
Quando Harrison teve certeza de que ele tinha ido, virou-se para
Lady Carey, seus olhos em sua boca. Seu coração reagiu com um
pequeno de salto ao vê-lo, então se contraiu. Lady Carey ficou atrás da
mesa com a cabeça inclinada como uma criança castigada. Harrison
queria dizer algo para consolá-la, mas ele não sabia o que dizer.
― Se eu puder ser tão atrevido.
― Como se encontra Alexa hoje? — Perguntou ela, afastando-se
dele novamente.
Ele engoliu sua frustração e bateu com o punho contra a borda da
mesa.
― Ela se acalmou consideravelmente. — Isso não era
exatamente a verdade. Durante o chá na noite anterior, ela protestou
para ele sobre a injustiça da vida, e depois tinha caído em
contemplação silenciosa. ― No entanto, acho que ela não se
conformou com quaisquer planos sobre seu futuro.
― Então ela deve estar muito melhor. — Lady Carey disse com
uma risada irônica. ― Minha irmã nunca renunciou a quaisquer planos
sobre seu futuro. — Ela cruzou os braços e olhou para uma pintura
pastoral acima da lareira. Era um vale verde onde as vacas pastavam,
e em um canto, uma família com três jovens crianças faziam
piquenique debaixo de uma árvore de carvalho maciço. ― Neste caso,
acho que dificilmente posso culpá-la. — Lady Carey continuou
pensativa. ― Eu tive o meu destino planejado para mim, e não
chegou nem perto do que eu tinha imaginado ou esperado.
Harrison sabia como seu futuro tinha sido planejado para ela; ele
tinha sido parte disso.
― A vida tem uma maneira desconcertante de se comportar.
Ele olhou para a família feliz em seu piquenique e para o
pensamento da primeira noite que tinha visto Lady Carey. Harrison
tinha sido criado nas franjas da alta sociedade de Londres, e não
havia nada que ele não tinha visto: belas mulheres, homens
perigosos e os jogos que jogavam entre si. Mas na noite que Olivia
Hastings tinha vindo com seus pais para jantar em Everdon Court,
tinha ficado extasiado. Para ele, ela era a personificação da beleza
feminina com seu cabelo cremoso loiro, um punhado de sardas no
nariz e olhos azuis como violetas. Ela tinha sido uma garota de dezoito
anos de idade, tímida, sua vida gasta em propriedades rurais no círculo
protetor de sua mãe e seu padrasto, sua governanta e seus tutores.
Seu sorriso era fácil e quente, sem o artifício dos jogos de sedução
jogados em Londres. Aquela jovem tinha sido uma inocente, rindo
lindamente das tentativas desajeitadas de Lorde Carey para provocá-
la. Ela tinha cantado como um pássaro quando pressionada para
executar depois do jantar e tinha inocentemente superado Lorde
2
Carey no Uíste com uma risada de triunfo feliz. Harrison tinha estado
por perto, seu olhar fixo sobre ela, sua inveja de Edward Carey
crescendo aos trancos e barrancos.
Mas quando os Hastings disseram boa noite e colocaram-se em
sua carruagem ornamentada e foram embora, Lorde Carey deu de
ombros e disse:
― Ela vai servir, eu suponho. Enquanto ela possa gerar um
herdeiro, não é? — Ele disse convenientemente e deu tapas no ombro
de Harrison enquanto caminhava até as escadas para seu quarto.
Harrison ficou atordoado de que Carey pode ver a bela e
encantadora Olivia Hastings e ter tido uma reação tão diferente da que
ele próprio tinha tido.
― Eu realmente deveria ter sido mais resistente a todo o
planejamento para o meu futuro. — Lady Carey disse, seu olhar ainda
na pintura. Com um sorriso, ela deu a Harrison um olhar de soslaio. ―
Você vai se surpreender ao saber que eu nunca questionei isso? Foi-me
dito a partir do momento que eu era uma criança que me casaria com
um certo tipo de homem e viveria um certo tipo de vida e que eu iria
cuidar de Alexa e nunca questionei isso.
― Acho que quando somos crianças dizem a todos nós o que
devemos nos tornar.
― Você também? — Ela perguntou.
A Harrison foi dito que as portas nunca se abririam para ele. Que
ele seria um bastardo e ilegítimo para a sociedade em geral até o dia
de sua morte.
― Disseram-me mais o que eu não podia ser.
― Oh. — Ela parecia surpresa. ― Acho que você poderia ser
qualquer coisa que desejasse ser, Sr. Tolly. Eu não tinha a imaginação
ou talvez a liberdade quando criança, de imaginar todas as coisas que
eu poderia ser.
Ele achou aquilo interessante.
― Agora você sabe?
Ela olhou para ele então.
― Oh, sim, ― ela disse enfaticamente. ― Minha imaginação é
agora bastante vívida.
Ele teria dado qualquer coisa para saber o que ela imaginava. A
inocência dela estava perdida, mas em seu lugar existia um
mundanismo que ele achou cativante.
― Talvez, então, você entendeu que o que seus pais queriam era
o melhor para você. — ele sugeriu.
Ela lhe deu um olhar duvidoso, em seguida, voltou sua atenção
para a pintura novamente.
― Meus pais viram este jogo como o que era: uma oportunidade
para promover a sua própria posição, tanto quanto a minha.
Isso era verdade. Harrison estava bem familiarizado com Lorde e
Lady Hasting: ele negociou o dote de sua filha em nome do seu
senhorio. Ele supervisionou a publicação dos proclamas e alguns dos
elementos mais burocráticos do casamento de um marquês. Ele teve
muitas ocasiões para se encontrar com a senhorita Hastings e seus
pais antes de seu casamento e encontrou-a sempre feliz, sempre
agradável.
Encontrou-os sempre oportunistas.
Olhou para ela agora, com a cabeça inclinada para trás, seu
cintilante cabelo louro na baixa luz do dia, e pensou nela no dia do
casamento. Ela parecia tão radiante de felicidade, tão esperançosa
para os dias à frente. E na experiência pessoal de Harrison, ele nunca
tinha visto Lady Carey fazer nada, além de trabalhar duro para agradar
ao marido intratável.
Ela entreteve a família e amigos, porque Carey desejava que ela
fizesse, e criticou sua escolha de menu e entretenimento. Ela recebeu
no salão vermelho e ele disse que seu gosto derivava da sociedade
agrária. Ela tentou caçar com ele e ele disse que ela se sentou em seu
cavalo como uma criança.
Harrison nunca tinha ouvido Carey cumprimentar sua esposa ou
dizer qualquer coisa agradável para ela, mas ele nunca a tinha visto
ser qualquer coisa, mas incansavelmente alegre.
Até recentemente.
Recentemente, ele notou uma rachadura em sua fachada serena,
e isto parecia espalhar juntamente com o aumento do carinho do
marquês para a bebida.
Infelizmente, havia apenas uma coisa sobre esta bela e agradável
jovem que poderia agradar o marquês e que era conceber um
herdeiro. Carey tinha dito muitas vezes para Harrison no início de seu
casamento, ele observou que sua esposa teve “tempo mais que
suficiente” para engravidar, como se fosse uma questão de selecionar
uma criança na loja local de produtos secos. Como o tempo passou e
ela não tinha concebido, o marquês se queixava de que a mãe de Lady
Carey certamente sabia que ela era incapaz de conceber e o tinha
sobrecarregado com uma esposa estéril.
Mas depois que sua senhoria tinha erroneamente acreditado
estar grávida, algo no marquês alterou. Ele abertamente insinuou que
sua esposa deliberadamente não queria conceber seu herdeiro.
Harrison tinha sido exposto a todos os tipos de homens no curso
da sua educação, mas ele nunca tinha ouvido falar de um homem que
falasse de sua esposa de maneira tão desrespeitosa como Lorde Carey.
O pior de tudo era que sua senhoria era muito astuto em sua crítica,
fazendo suas observações com a naturalidade que um observador
casual pode acreditar que suas declarações sobre ela eram de fato
verdade.
Mas em seus seis anos de casamento e seis anos de escrutínio e
depreciação, Harrison nunca teve conhecimento de Carey bater nela.
Sim, ele tentou fazê-lo uma vez. Ele estava bêbado e Harrison o
tinha parado. Carey se mostrou contrito e apologético no dia seguinte,
e Harrison tinha acreditado que era um momento de loucura
provocado por embriaguez.
― Eu nunca questionei os planos, e talvez eu deveria tê-lo feito.
— Lady Carey continuou. ― Agora minha irmã questiona os planos para
o seu futuro, mas infelizmente suas ações a deixaram sem opções.
Ainda... Eu estive pensando, Sr. Tolly. — Ela disse, e voltou sua
atenção para ele. ― Eu acredito que enquanto meu marido está
longe, as cabeças mais frias podem discutir o que deve ser feito com
Alexa. Com isso quero dizer a sua cabeça e a minha, pois os
pensamentos de Alexa não são particularmente úteis. — Ela lhe deu
um sorriso de desculpas.
― Compreendo. Você mencionou um primo em Wales.
― Não. — Ela respondeu, balançando a cabeça.
Não? Harrison tinha nutrido grandes esperanças em relação ao
primo.
― Eu entendo que seu senhorio não queira...
― A verdade é que há muitos anos não me correspondo com ele.
Eu não posso dizer com certeza que está de fato no País de Gales… ou
que tendo quatro filhos. Essa era o melhor da minha lembrança. Eu
lancei essa ideia com um pouco de pensamento positivo e um monte
de pânico, para falar a verdade.
― Ah, ― disse Harrison. Aquilo certamente limitava as opções
deles.
― Eu acho que você deveria encontrar uma situação que poderia
ser mais adequada. — disse ela, esperançosa. ― Eu faria isso sozinha,
se pudesse fazê-lo sem causar falatório ou suspeitas. Não posso
suportar pensar o que Edward poderia fazer se ele pensar que eu saí
pelo país em busca de uma viúva como acompanhante ou um viúvo
como um marido para a minha irmã. Ele é um primo do rei, você
sabe.
Harrison ouviu o toque de sarcasmo na sua voz.
Se ele soubesse de uma solução para sua irmã, mas não era
como se estivessem penduradas em árvores, prontas para arrancar.
Lady Carey não era a única que tinha falado apressadamente e com
um pouco de pânico ontem.
― Nós temos uma quinzena antes de Edward retornar. Eu
pensei que talvez você pudesse… que você pudesse dizer que está
viajando para as propriedades em Ridgeley, mas usar o tempo para
fazer algumas perguntas delicadas.
― Eu tenho que ser honesto, milady. Não estou muito
esperançoso.
― Sim, mas temos de tentar, Sr. Tolly.
Ele balançou sua cabeça.
― É um pedido estranho para fazer para alguém.
― Eu pensei sobre isso, ― disse ela, balançando a cabeça. ―
Tenho guardado todo o meu dinheiro. Isso deve ajudar.
Essa foi a quantidade que Lorde Carey permitiu a ela para as
coisas que poderia querer. ― Quanto? — perguntou Harrison.
― Setenta e duas libras.
Se a situação não fosse tão grave, ele poderia ter rido.
― Bom Deus, Lady Carey. Isso pode mantê-la até que a criança
nasça.
― Eu tenho joias que posso vender, também. — Ela
rapidamente complementou.
Ele sentiu uma torção muito familiar no estômago. Foi
precisamente o que sua mãe fez, ela vendeu as joias para
hospedagem, para subornar uma escola adequada para Harrison. Para
pagar a sua aprendizagem.
― Deixe-me fazer o que puder primeiro. — Disse ele.
Ela sorriu agradecida.
― Obrigada. Vou fazer o que posso, também. Vamos começar
hoje?
Onde exatamente alguém vai colocar uma mulher solteira,
grávida de um homem desconhecido?
― Discretamente, é claro. Acrescentou.
― Claro.
― Nós vamos encontrar alguma coisa. — Disse ela, como se ele
fosse o único que precisava de reafirmação. ― Deve ser resolvido antes
de Edward retornar, uma vez que existem apenas duas opções que ele
irá considerar se eu não tiver resolvido isso. Eu não posso ter a minha
irmã banida de mim; ela é toda a família que eu tenho.
― Qual é a outra opção que o marquês vai aceitar? ― Harrison
perguntou curiosamente, à procura de qualquer ângulo que ele
poderia explorar.
Ela piscou para ele; a marca em seu lábio claro na luz solar direta.
― Que eu esteja grávida. Se eu pudesse entregar-lhe um herdeiro,
todo o reino seria meu para pedir. — ela sorriu com tristeza.
Isso tocou Harrison, tanta tristeza no fundo dos ossos brilhando
em tais belos olhos. Quantas vezes perdeu o sono, imaginando
aqueles olhos em alguma circunstância incrivelmente íntima? Quantos
dias tinha andado por Everdon Court, esperando apenas um vislumbre
deles? Ver a profundidade de sua dor era tão irremediavelmente
frustrante como quando ele era um menino, incapaz de ajudar sua
mãe. Ele queria tocar Lady Carey, abraçá-la e acalmá-la. Acariciar seu
cabelo.
Lady Carey disse: ― Perdoe-me. Fiz você se sentir
desconfortável com meus problemas.
― Nem um pouco. — Disse, mas era verdade que se sentia
ansioso, como se tivesse patinando em um lago recém-congelado,
incerto de onde o gelo era fino. No entanto, ele não podia abster-se
de patinar cada vez mais longe da costa. Ele se segurou por tanto
tempo, tinha mantido seus verdadeiros sentimentos tão
profundamente enterrados sob dever e honra. Ele gostaria que ela
conhecesse a felicidade, para entender como um homem podia se
sentir a respeito de uma mulher.
Harrison quase não percebeu o que estava fazendo quando ele
colocou os dedos sob o queixo dela, virando o rosto para que ele
pudesse ver o hematoma.
― A verdade é, milady, que você merece mais que um reino. —
Ele murmurou, e passou levemente o polegar sobre a contusão. ―
Você não merece isso.
A respiração de Lady Carey aumentou. Seus olhos se
arregalaram de surpresa. Mas ela não se moveu para longe dele.
Desejo inchou em Harrison. Ele gentilmente tocou a contusão de
novo, desejando que ele pudesse apagá-la.
Os olhos de Lady Carey fecharam-se.
― Sempre foi muito gentil comigo, Sr. Tolly. O que eu faria sem
você?
As palavras embrulharam-se como uma mecha ao redor de seu
coração. Se ela soubesse, se entendesse como o seu coração a
chamou, tinha procurado por ela desde o momento em que ele
colocou seus olhos nela.
― Rezo para que nenhum de nós saiba a resposta para isso. —
ele murmurou. ― Vamos encontrar uma solução, senhora. Eu te dou
minha palavra.
Ela abriu os olhos, e Harrison sentiu alguma coisa. Era pequeno,
mas feroz, como o bater de asas de um colibri entre eles.
O som da abertura da porta assustou ambos, e Harrison
rapidamente deixou cair sua mão.
― O que está acontecendo aqui? ― A senhorita Hastings exigiu.
Capítulo Oito
— Alexa, pelo amor de Deus, — disse Olivia.
Ela tremia. Tinha tomado toda sua força para se afastar do
senhor Tolly. Ela tinha estado a um fôlego de cair em seus braços. Os
braços dele! O que ela estava pensando? Havia alguma coisa que
poderia fazer sua existência pior do que já era? Havia alguma coisa
mais perigosa?
― O quê? ― Alexa exigiu.
― Estamos falando de sua situação, naturalmente, pois não há
nada tão urgente para ocupar nossos pensamentos. — Disse Olivia
enquanto se movia pelo aposento.
Alexa olhou curiosamente para ela. Em seguida para o senhor
Tolly.
O coração de Olivia tinha começado a bater intensamente no
momento que o senhor Tolly a tocou e agora pulsava por causa da
falta de seu toque que quase fez com que perdesse seu fôlego. Ela
colocou a mão no peito em uma tentativa fútil para acalmá-lo.
― Eu não sei o que faria sem os conselhos do senhor Tolly.
Ela não se atreveu a olhá-lo, certa de que suas bochechas a
queimando denunciariam. Em vez disso, ela seguiu para o aparador e
examinou os vários decantadores que havia ali. Podia sentir o olhar de
Alexa sobre ela enquanto pegava uma garrafa de cristal.
― Uísque, Sr. Tolly?
― Não, obrigado. ― Sua voz era tão calma e confiante como
sempre.
― Uísque? ― Alexa disse desconfiada. — Eu não sabia que você
tinha um gosto por Uísque, Livi.
― Sim, bem... Eu tenho. — Olivia derramou uma pequena
quantidade e depois bebeu como água, tossindo um pouco quando a
dose lhe queimou a garganta. Talvez Uísque não fosse a melhor ideia.
― Como tem passado? — Ela perguntou, e colocou o copo sobre o
balcão. Quando olhou para cima, viu seu reflexo no espelho em cima
do aparador. Sombras cinzentas ofuscavam seus olhos e a contusão
estava escura contra sua pele.
― Eu não me sinto bem, esta manhã, se você quer saber, —
disse Alexa. ― Estou muito cansada.
― Aqui, você deve sentar-se, ― o senhor Tolly ofereceu, e se
moveu para uma cadeira mais perto dela.
Alexa moveu-se para ela.
― Eu gostaria... Olivia! — Alexa disse de repente. Ela saiu de seu
assento e agarrou Olivia em seus braços, olhando com horror a
contusão. ― Querido Deus, o que aconteceu?
Olivia virou a cabeça e saiu do alcance de Alexa.
― Um acidente.
― Um acidente! Ele fez isso! Eu suspeitava que ele fosse o tipo!
O homem tem um coração negro.
― Alexa! — Disse Olivia e olhou para a porta aberta. O senhor
Tolly a entendia e foi fechá-la rapidamente. ― Tenha cuidado com o
que você diz nesta casa. — Olivia avisou a irmã. ― Você está falando
do meu marido e, neste momento, o seu benfeitor... e as paredes têm
ouvidos, —acrescentou baixo.
― Eu não me importo! Deve deixá-lo, Livi! — Alexa insistiu. ―
Você não pode permitir tal tratamento!
Às vezes parecia que Alexa tinha oito, em vez de dezoito anos.
― Você acha que eu permiti isso? — Olivia disse com
veemência.
― Você permite isso ao ficar aqui, com ele. — Alexa estalou. ―
Deve deixar este lugar.
― E exatamente para onde você sugere que eu vá? Para fazer o
que, rezar? — Olivia perguntou. ― Não posso deixar Edward. Ele é
meu marido e tem o direito legal de fazer comigo o que quiser. Mesmo
que ele me permitisse deixá-lo, aonde eu iria? Com você? Para um
convento na Irlanda?
Alexa corou.
― Eu só quero dizer que você não deve ter de suportar tal
tratamento.
Olivia se suavizou.
― Eu sei o que você quer dizer. Mas tenha cuidado, querida. E
não se preocupe. Ele não tem o hábito de me bater, apesar de como
pode parecer. — Ela sentiu a bile subir na parte traseira de sua
garganta com essas palavras. Sua mãe uma vez lhe dissera que os
homens que espancam suas esposas eram como lobos, uma vez que
tinham provado o gosto de sangue, não poderiam voltar atrás. ―
Infelizmente, você e eu somos dois cordeiros neste mundo, Alexa. Nós
não temos nenhuma família, nenhum dinheiro próprio, não há leis
para nos proteger. Até que possamos conceber uma solução melhor,
temos de fazer o que ele diz.
― É totalmente injusto, que os homens possam fazer o que
quiserem e nós devemos fazer o que mandam. — Alexa disse
amargamente. Ela olhou com desconfiança para o senhor Tolly
quando retomou seu assento. ― Poderíamos falar sozinhas, Livi?
Gostaria de falar com você em particular.
― Não. — Disse Olivia. ― Precisamos da orientação do senhor
Tolly. Ele tem nossa confiança, e precisamos desesperadamente da
sua ajuda.
Alexa murchou em seu assento.
― Ele não me deixou vir a você ontem, sabe. Ele é o
administrador aqui, e está me dizendo o que fazer. Eu sou a filha de
um Visconde, Olivia. Eu não fui feita para me casar com um
administrador.
Olivia engasgou; uma das sobrancelhas do senhor Tolly subiu
alto.
― Alguma vez você já ouviu o ditado que você não deve morder a
mão que te alimenta? — Ele perguntou.
Olivia achou que a arrogância de sua irmã era de tirar o fôlego.
― Você deveria ter pensado em suas necessidades enquanto
estava na Espanha.
― Senhor! — disse Alexa para o teto. ― Devo ser
constantemente lembrada disso?
― Alexa! — Olivia gritou, horrorizada.
― Olivia, por favor! — Alexa reclamou. ― Por que não podemos
ir para algum lugar e viver? Você seria mais feliz, sabe que seria.
― Pense no que você está dizendo, Alexa. — Olivia disse,
impaciente. ― Nós não temos dinheiro. Como poderíamos viver?
― Vou encontrar uma ocupação. — Disse ela. ― Eu poderia ser
uma governanta.
Olivia riu com isso.
― Por que não? Sou perfeitamente capaz. Pelo menos eu estou
tentando pensar em uma solução adequada!
― Se eu puder? ― O senhor Tolly perguntou calmamente.
― Eu não estou surpresa que deseje adicionar a sua voz ao coro.
— Alexa disse desanimada.
― Oh, meu Deus. — Olivia gemeu.
Mas o senhor Tolly estava sereno.
Ele disse calmamente: ― Minha mãe deu à luz um filho fora do
casamento: eu.
Alexa engasgou. Seu olhar voou para Olivia, sua expressão cheia
de choque. Olivia ficou igualmente chocada ao ouvi-lo dizer isso tão
claramente.
― Sr. Tolly, não é necessário.
― Desculpe, Lady Carey, mas se você me permite, eu acho que
pode ser de alguma ajuda. — ele disse, e cruzou as mãos atrás das
costas e olhou para Alexa. ― Minha mãe não teve tanta sorte para
encontrar trabalho como governanta. Ela era uma cortesã.
Alexa ficou boquiaberta.
― Ela foi forçada a confiar em seu corpo para se manter. Não foi
sua primeira escolha, mas, infelizmente, sua única opção realista.
Assustada por sua honestidade, ou talvez pela verdade, Alexa de
repente se levantou e se afastou dele.
Mas o senhor Tolly casualmente prosseguiu.
― Quanto a mim, — continuou, — eu não sabia a identidade do
meu pai até que alcancei a maioridade. Eu só o tinha visto de longe.
Não posso mesmo dizer-lhe de onde o nome Tolly vem. Fui evitado
pela sociedade e meus companheiros de jogos eram os filhos dos
servos. Minha mãe vendeu as joias que recebeu de seus amantes
para subornar o diretor de uma escola adequada para meninos; ele a
usou, levou suas joias, e ainda me recusou. Então, ela barganhou com
um de seus benfeitores para fornecer minha tutoria.
― Sr. Tolly, você já disse o suficiente. — disse Alexa. A cor tinha
corrido para fora de seu rosto. Olivia não estava certa de que não
estava pálida também; seu coração e imaginação estavam correndo.
― Ela vendeu suas joias novamente para me dar um
aprendizado. — Ele obstinadamente continuou. ― Se não fosse por
isso, eu tremo só de pensar o que minha profissão seria hoje. Eu não
tinha patrocinador, nenhuma proteção, e agora que minha mãe se foi,
estou totalmente sozinho neste mundo, pois não tenho relações
legítimas. Essa é a realidade de sua situação, senhorita Hastings. Sua
irmã está determinada a que você não seja forçada ao mesmo destino
de minha mãe, e que seu filho não cresça nas sombras.
Olivia estava atordoada. Ela nunca tinha ouvido o senhor Tolly
falar de sua infância e ela nunca imaginou que fosse tão difícil.
Ele não exalava nenhum indício agora o que o fazia parecer ainda
mais notável para ela. Suas observações tinham tido algum efeito
sobre Alexa, também.
― Perdoe-me. — Disse ela dramaticamente. — Sinto muito.
Sinto muito, Harry.
― Harry! — Exclamou Olivia.
― Está tudo bem. — Disse o senhor Tolly. ― Alexa e eu temos
nos esforçado para encontrar um terreno comum.
― Eu não quero ser indelicada, Livi e eu aprecio o que ele me
disse. Mas não quero me casar com ele. Tenho sido bastante honesta
a esse respeito.
Era o pior tipo de frustração, ser incapaz de fazer qualquer coisa
para Alexa quando ela mais precisava de Olivia. Para não mencionar
ser incapaz de fazê-la enfrentar a verdade sobre sua situação. Ela era
tão abençoadamente ingênua para uma mulher prestes a ser mãe!
― Eu entendo. — Disse Olivia, tentando não parecer irritada. ―
Não é o ideal para qualquer um de vocês. O senhor Tolly e eu ainda
temos esperança de encontrar uma alternativa.
Alexa bufou.
― Se houvesse uma alternativa, já teríamos pensado nisso e
levado para o infeliz do seu marido.
Olivia não podia contestar isso.
― Se apenas mamãe estivesse viva. — Alexa acrescentou
melancolicamente. ― Ela saberia o que fazer. Sempre soube o que
fazer, não?
Olivia estalou a língua.
― Mamãe acreditava que a resposta para todos os seus
problemas era casar bem. — Perante o olhar assustado de Alexa,
Olivia deu de ombros. ― Quando meu pai morreu, mamãe estava
organizando seu casamento com Lorde Hastings, enquanto ainda
estava de luto. E quando o seu pai morreu, ela mal se preocupou com
um período de luto completo, mas fugiu para a Itália em busca de um
terceiro marido e encontrou um disposto Signor Ruffalo.
Olívia era consciente do quanto sua mãe não era muito diferente
da mãe do senhor Tolly, percebeu, que tudo o que tinha para negociar
era ela mesma, e ela tinha duas filhas que dependiam dela.
― Mas mamãe estava apaixonada pelo Signor Ruffalo. — Alexa
argumentou.
Olivia não acreditava naquilo nem por um momento. Sua mãe
tinha sido uma verdadeira sobrevivente. Tinha mantido a sua posição
na sociedade da única maneira que uma mulher viúva, sem herança
conseguia: se casando bem. Olivia não tinha ideia do que sua mãe
realmente sentia pelo Signor Ruffalo, mas ela sabia do que sua mãe
precisava. Era a mesma coisa que a senhora Tolly tinha necessitado:
segurança.
A mãe e a irmã de Olivia estavam planejando a visita à Espanha,
quando ela faleceu. Um mês antes de sua partida prevista, a mãe de
Olivia queixou-se a seu marido de se sentir cansada e tinha se recolhido
cedo. Na manhã seguinte sua empregada não conseguiu despertá-la;
tinha morrido enquanto dormia. Só assim, Bettina Hastings Ruffalo, a
fortaleza de Olivia e Alexa, guia e confidente, de repente e
tragicamente desapareceu de suas vidas.
Olivia daria qualquer coisa para tê-la de volta, mesmo que
apenas por um dia.
Alexa, coitada, tinha ficado inconsolável. De repente, ela não tinha
casa. Os poucos fundos que sua mãe tinha sido capaz de deixar
para elas dificilmente eram suficiente para manter Alexa. O Signor
Ruffalo não tinha vontade de mantê-la, e havia retornado para a Itália
logo após o funeral. A situação para a qual precisamente a mãe de
Olivia sempre a havia preparado havia chegado: cuidar de sua irmã.
Naturalmente, Olivia tinha assegurado a sua irmã que ela sempre teria
uma casa com ela... mas em particular, ela estava grata de que nunca
tinha tido que colocar isso à prova, dada a opinião de Edward sobre
Alexa. E agora a situação de Alexa tinha forçado a situação.
Após o meio ano de luto delas, Lady Tuttle, uma amiga de sua
mãe, se ofereceu para ir para a Espanha com Alexa no lugar de sua
mãe. Parecia que Lady Tuttle sempre teve um desejo de conhecer as
igrejas daquele lugar. Alexa estava inquieta e ansiosa para ir.
― É precisamente o tipo de diversão que eu preciso, e eu ouso
dizer que mamãe teria me pedido para ir. — Alexa tinha argumentado
com Olivia.
Olivia ficou aliviada, pois Edward estava cada vez mais
impaciente com sua presença em Everdon Court. Além disso, Olivia
tinha ficado feliz por Alexa ter uma diversão apropriada. Ela pensou
que Alexa era ainda muito jovem para se preocupar com sua situação,
e ficou claro que haveria muito tempo para isso. Então ela mandou
Alexa com sua bênção.
Agora, de volta a Everdon Court, Alexa suspirava. Ela movia-se
distraidamente pela sala. Atrás dela, Olivia e o senhor Tolly trocaram
um olhar cauteloso.
― Se devo me casar com o senhor Tolly. — Ela disse, — eu
poderia ser facilmente persuadida se me derem uma casa na cidade
de Londres.
O senhor Tolly riu.
Surpresa, Alexa disse: ― Eu não exigiria servos. Apenas uma
cozinheira. E uma camareira. Ninguém mais. Criarei meu filho eu
mesma.
Ela disse como se estivesse oferecendo uma troca justa.
― Você quer dizer que o senhor Tolly deve pagar por esta
cozinheira, esta camareira e esta casa ainda permanecendo aqui em
Everdon? — Olivia perguntou impaciente.
― Por que não? Você não prefere esse arranjo, Sr. Tolly? —
Para Olivia ela disse ― Não é como se ele tivesse qualquer grande
desejo de casar, você sabe. Ele ama outra, ele me disse claramente.
Essa notícia foi tão inesperada que Olivia ficou
momentaneamente muda.
O senhor Tolly parecia do mesmo modo atingido.
― Ele não pode falar sobre isso, porque ela é uma lady. — Alexa
brincou com a faixa das cortinas. ― Lady X.
― Lady X? — Olivia repetiu fracamente.
― Ele não divulgou sua identidade verdadeira para mim, pois
mal me conhece para confiar em mim com algo tão importante. Que é
precisamente o meu ponto.
Olivia olhou para o senhor Tolly, cuja mandíbula estava
apertada. Lady X... poderia ser ela? O pulso de Olivia saltou com tanta
força que o fôlego faltou. Não, não, isso é um absurdo. Ele era um
administrador fiel da família Carey, um modelo de decoro e decência.
Ele nunca...
― Senhorita Hastings, você tomou algo que eu disse em
confiança e fez disso algo muito maior do que é. — Disse o senhor
Tolly, seu tom de voz era frio.
― Fiz? — Alexa perguntou à toa. ― Você parecia muito sério para
mim. — Ela desviou o olhar para Olivia e engasgou. ― Oh, querida, não
é você, Livi, se é isso que você pensa. É obviamente a senhorita
Martha Higginbottom.
― O que? — disse Tolly. ― Certamente não é Lady Martha!
― Quando eu disse o nome dela, você virou quase carmesim! —
Alexa disse em tom acusador.
Olivia levantou-se, esperando que seu coração que batia
descontroladamente aguentasse. Claro que era Lady Martha. Ela era
jovem, solteira, e seu dote certamente adequado para um homem na
posição do senhor Tolly. Mas era surpreendente. Realmente. Lady
Martha não parecia o tipo de mulher que interessaria um homem
como o senhor Tolly. Ela era estudiosa e muitas vezes tediosa e
sempre tímida, especialmente para um homem tão viril quanto ele...
Mas, novamente, o que Olivia realmente sabia dele ou de seus afetos?
― Você está enganada. — Disse o senhor Tolly a Alexa, sua voz
severa.
― Bem, quem quer que seja, você não deve pensar em se casar
comigo se ama outra. — Alexa alegremente continuou. ― Você não
quer que ele possa comprometer a sua verdadeira felicidade, não é,
Livi?
― Claro que não! — Olivia firmou. — Mas o seu descuido nos
deixou com muito poucas alternativas. Agora todos nós devemos
redobrar os nossos esforços para encontrar um arranjo adequado
para você.
―O que quer dizer, com um arranjo adequado? ―
Alexa perguntou desconfiada.
― Tal como uma viúva na necessidade de uma companhia? —
disse Olivia. Ela não podia pensar em mais nada no momento, ela não
conseguia tirar o senhor Tolly e sua Lady X de sua mente.
― Uma viúva? — Alexa repetiu incrédula. ― Devo fazer bordados
e encher caixas de rapé?
― Acho que é infinitamente mais atraente do que um convento.
Talvez você não esteja ciente de que os conventos são frios, e as
irmãs se orgulham da austeridade. Não há vestidos, não há sociedade.
Há trabalho e devoção, nada mais. Ou talvez você prefira a vida de
cortesã após o que o senhor Tolly compartilhou? Céu Misericordioso,
você ouviu alguma coisa do que dissemos Alexa? Você nos trouxe um
problema insuperável, e espera que todos a sua volta o resolvam, mas
você se recusa a ficar satisfeita com qualquer opção, e se recusa a ver a
realidade de sua situação. Não há resposta fácil para esse dilema, e eu
ainda tenho que ouvir você oferecer qualquer tipo de ajuda em tudo!
Não vê o grande sacrifício que o senhor Tolly fez ao se oferecer para
ajudá-la? Você não pode ser pelo menos um pouco grata?
O sangue sumiu do rosto de Alexa.
― Não é minha vontade...
― Sim, você deixou bem claro que não é o seu desejo. Você
acha que é o desejo do senhor Tolly? Ou o meu? Você não considerou
que talvez o senhor Tolly fez a oferta porque ele sabe que a alternativa
para você era muito pior? — Alexa apertou os lábios.
― Perdoe-me. Claro que eu sei o que você quer dizer, mas por
favor, entenda que isso tudo é muito difícil para mim. E eu não quero
me impor ao senhor Tolly, como ele professou sua estima por Lady X,
e tem também o caso da herança, e eu não quero ser um fardo.
Herança! O que isso significa? A cabeça de Olivia estava
começando a doer.
― Meu Deus, Alexa, não é da sua competência! — disse o
senhor Tolly.
Olivia ficou subitamente exausta.
― Por favor, vá, Alexa. Vá e deite-se ou algo assim. — Disse ela,
acenando com a mão para a porta.
Alexa piscou para ela.
― Mas eu...
― Não. Não suporto ouvir mais nada de você hoje. Você se
impôs em nosso relacionamento e na generosidade do senhor Tolly
sem um pensamento e mostrou ser totalmente egoísta.
Alexa engasgou. As lágrimas encheram seus olhos.
― Livi, como você pôde? — Ela perguntou fracamente, mas
Olivia acenou com a mão na direção da porta novamente. Ela não
podia tolerar sua impossível e imprudente irmã mais um momento
sequer.
Com os olhos arregalados de dor, Alexa saiu sem outra palavra.
Olivia não se moveu. Ela não conseguia respirar. Ela não teve
coragem de olhar para o senhor Tolly, mas quando ela finalmente o
fez, o olhar dele estava fixo no dela.
― Você não tinha que nos contar sobre sua... mãe. — Disse ela,
inquieta.
Ele sorriu para o desconforto dela.
― Não tenho nada a esconder, senhora. E acho que ela
precisava ouvir. Ela acabará por aceitar a verdade. No momento, eu
suspeito que ela esteja cheia de medo e incerteza sobre o resto de sua
vida.
Ele estava certo.
― Obrigada. — Olivia disse, agradecida. ― Eu sei que deve ter
sido difícil.
Ele encolheu os ombros. Ela engoliu em seco e olhou para a
mão.
― Você recebeu uma herança? Eu não tinha conhecimento disso.
— Ela olhou para cima.
Ele hesitou, então disse:
― Eu acho que as circunstâncias são questionáveis. E isso não
tem influência sobre o presente.
― Tem toda influência. — Seu coração se sentia como se
estivesse encolhendo. ― Você vai nos deixar?
Por favor, diga não, diga não...
― Não. — Ele disse rapidamente. Mas então olhou para baixo e
completou. ― Quer dizer, eu não sei. — De repente ele se virou. ―
Há muitas incertezas, milady, mas eu acho que a questão mais
premente é o problema de sua irmã. Eu irei imediatamente e farei
algumas perguntas, se eu tiver a sua licença?
Olivia não podia pensar. Era como se a terra fosse rachar abaixo
desta casa, preparando-se para engoli-los.
― Senhora?
― Sim. — ela disse, e olhou para a janela. Ar. Ela precisava
de ar. ― Obrigada, Sr. Tolly. Como sempre, obrigada.
Ela ouviu-o sair da sala, e permaneceu de pé, seu corpo rígido,
sua respiração rasa.
O que faria sem ele? Como iria suportar?
Capítulo Nove
Alexa Hastings era uma criança petulante, desagradável e
sem consideração. Harrison tinha alternado entre querer colocar algum
sentido nela e enviá-la para descansar. Como no céu ele iria ajudar a
fedelha a encontrar uma situação adequada? E o que exatamente era
uma situação adequada? Casamento? Ele orou para que os conhecidos
da família Carey gentilmente esquecessem sua aritmética quando a
criança nascesse, mas ele não tinha esperança de que isto se
realizasse. Espantou lhe como perigosamente ineptos alguns membros
da sociedade poderiam ser ao organizar as contas de seus próprios
livros, mas como precisos eram no cálculo do momento da concepção.
Uma governanta? Ele bufou. Mesmo ela deveria saber que era
impossível com uma barriga crescendo. Nenhum pai se importaria de
explicar aos seus filhos porque a barriga de sua governanta cresce sem
um marido perto.
Companhia? Essa era, talvez, sua única esperança ― impingi-la
a alguma trêmula velha viúva coberta de rendas e que esteja
necessitando de alguém para lhe fazer companhia enquanto ela
aquece os pés na lareira. Harrison vasculhou seu cérebro. Ele tinha
que pensar em pelo menos uma viúva porque ele não podia se casar
com Alexa Hastings.
Mas sabia que se casaria, se outra solução não for encontrada.
Ele faria porque teria que proteger essa criança por nascer da vida que
ele tinha experimentado.
Enquanto andava por Everdon, ele metodicamente analisou
todos os ângulos imagináveis, descartando-os todos por ser
demasiado público ou muito cruel. Não podia suportar ver Lady Carey
perturbada. Mas não podia suportar pensar nela com outra contusão, e
como ela, ele temia que se a situação com sua irmã não fosse
rapidamente resolvida, a ira de Lorde Carey iria crescer. Harrison não
sabia mais o que o homem era capaz de fazer. A bebida parecia ter
lavado seu bom senso.
Ele chegou à Cock and Sparrow para procurar o conselho de
Robert Broadbent, seu amigo mais próximo. Robert era um solteiro
que tinha olhos castanhos e cabelos loiros e que tinha uma reputação
de seduzir viúvas e a senhoras jovens sem distinção. Ele era o dono
de uma pequena propriedade, um excelente caçador e jogador, cheio
de ambição pessoal e um entusiasmo pela vida. Harrison tinha caçado
em bosques e locais em torno de Everdon Court com Robert por mais
de dez anos.
O proprietário cumprimentou Harrison quando ele entrou. Benny
era tão fino quanto uma erva daninha, e sua esposa era construída
como um barril.
― Sr. Tolly!
Sue disse enquanto limpava um pouco de cerveja que havia
derramado. ― Nós nos perguntávamos para onde tem estado.
― Sentiu falta de mim, então? — Perguntou ele, e agarrou sua
mão rachada para beijar os nós dos dedos.
― Sabe que sim. Eu sempre sinto falta de você quando não vem,
amor. — Sue sorriu timidamente.
Harrison riu e piscou. Ele se virou e ficou cara-a-cara com Fran,
uma jovem serva.
― Sentiu falta de mim? — Perguntou ela quando seu olhar
vagou para ele.
― Meus dias são incompletos sem você. — Disse Harrison, e deu
um passo em volta dela.
― Talvez tenha sentido falta o suficiente para me pagar uma
visita, então, eh, Sr. Tolly?
― Nunca.
Isto veio de Robert. Ele estava sentado na mesa habitual na sala
comum, de onde ocupava seu posto na maioria dos dias por uma ou
duas horas, recebendo seus amigos e fazendo uma refeição de
guisado aguado.
― Se o senhor Tolly paga uma visita para qualquer mulher, é
para Lady X. — Disse ele, sorrindo.
― Lady X. — Fran disse, olhando meio intrigada e meio com
ciúmes.
Harrison riu.
― Não perca a esperança, Franny. Não há Lady X.
― O inferno que não existe. — Robert levantou dois dedos para
Fran. ― Um par de cervejas, moça, e seja rápida.
― Eu os tenho aqui. — Disse Benny, aparecendo ao lado de
Robert. Ele colocou duas canecas de cerveja quente ante Harrison,
que deslizou uma para Robert.
― Então, onde você esteve? — Perguntou Robert, e bebeu da
caneca. ― Que loucura tem o marquês espumando de sua boca esta
semana?
― Ele não espuma, ― Harrison disse facilmente. ― Ele foi para
Londres por uma quinzena.
― Uma quinzena inteira? Sem você? — disse Robert, balançando
as sobrancelhas. — Sua Lady X deve estar contente. Quanto tempo se
passou desde que você teve tempo para estar sob as saias da
senhora?
Robert ficaria chocado se ele soubesse quanto tempo se passou
desde a última vez que Harrison tinha estado sob uma saia.
― Algum tempo. — Disse ele com um suspiro.
Na ocasião, quando ele estava em Londres, Harrison foi a uma
casa escondida perto da Regente Street para aliviar sua luxúria. Mas,
ele descobriu que era impossível forjar qualquer apego romântico com
qualquer mulher, dado seus sentimentos por Lady Carey. Ele não
conseguia pensar em ninguém mais.
Robert sorriu para ele.
― Algum tempo, não é? E aqui está você sentado com uma
cerveja. Você está louco, rapaz. Vá em frente, então, vá ver a sua
amada. Diga-me onde ela está e eu te encontro lá.
Harrison riu e bebeu sua cerveja.
― Maldito galo de boca fechada você é. — Disse Robert,
olhando-o com astúcia. ― Eu vou descobrir sua identidade, você sabe.
— Disse ele, e bateu sua caneca contra a de Harrison. ― Por que está
aqui quando você tem um pouco de liberdade?
― Porque eu tenho um problema para o qual preciso de sua
ajuda.
― Minha? — Perguntou Robert. ― O conselho normalmente flui
para o outro lado entre nós, sim? Que ajuda?
Harrison deixou de lado sua caneca. Ele tinha compartilhado
muito poucas coisas sobre seu trabalho com Robert ao longo dos
anos, pois sua discrição era um dos aspectos mais importantes de sua
ocupação. Este problema era duplamente doloroso, pois era
embaraçoso para os Carey e trouxe à mente as dificuldades que
Harrison tinha experimentado em sua própria vida. Dificuldades que ele
tinha conseguido colocar atrás dele. Mas agora, recordou a primeira
vez que ele percebeu o que significava não ter pai neste mundo,
quando três meninos mais velhos tinham caído sobre ele, enquanto
voltava do mercado, batendo nele e rotulando-o de bastardo sujo. Ou
quando o amante de sua mãe tinha dado a Harrison um tutor, mas
havia dito a sua mãe na frente de Harrison que ele não iria colocá-lo
na escola por medo de ser associado à sociedade.
Harrison engoliu as velhas mágoas e disse: ― Posso falar
abertamente?
― Sim, sabe que pode Harry.
Ele olhou ao redor para assegurar-se de que ninguém estava
escutando.
― Tem a ver com a irmã mais nova de sua senhoria, a senhorita
Hastings. Você a conheceu, não é mesmo?
Robert assentiu.
― Pequenina, com cabelos cor de mel.
Harrison contou para Robert o que tinha acontecido, incluindo o
debate de hoje. Ele confiava em Robert, e contou-lhe tudo... exceto que
ele imprudentemente entrou em cena e se ofereceu para casar com a
menina insolente. Essa omissão era uma questão de orgulho, ele não
queria que Robert soubesse o quão tolo que ele era.
Quando terminou, Robert tinha tomado sua caneca e colocado
de lado.
― Este é um conto triste, mas comum, rapaz. Eu suspeito que
um convento na Irlanda não é o pior que a moça pode experimentar
na sociedade, dada a determinação do marquês para bani-la.
― Ela merece melhor do que isso. — Harrison disse secamente.
― Dê-me uma solução, Robert. Diga-me o que poderia salvar esta
pequena idiota e mantê-la perto de sua irmã.
― Harry, rapaz, ― Robert disse simpaticamente quando ele se
inclinou para trás na cadeira e apoiou sua bota contra a parede. ― Não
precisa que eu te diga que não há melhor opção para ela, a menos
que você produza magicamente alguém que vai se casar com ela.
Mesmo assim, suspeito que Carey iria deserdá-la imediatamente para
salvar a si mesmo de um escândalo profundo. Se ela se casar
rapidamente, pode poupá-los de um pouco de escândalo, mas ainda
assim... — Ele balançou sua cabeça. ― Que cavalheiro daria seu
nome a um filho bastardo? Eu não. — Harrison sabia melhor do que
ninguém que os cavalheiros não davam livremente seus nomes para
filhos bastardos.
― Eu esperava que você pudesse me ajudar com uma situação
em que nós poderíamos, pelo menos, mandá-la com alguém até o
final de seu confinamento.
Robert bufou. ― Você sabe muito bem que eu não, por
princípio, familiarizo-me com o tipo de pessoas decentes que levariam
uma moça para dentro.
― Sim, mas você se familiariza com as viúvas, ― Harrison
pressionou. ―Talvez saiba de alguém que necessite de uma
companhia?
― Eu só mantenho a companhia de jovens viúvas, aprazíveis, e
nenhuma delas iria distrai-la. Pensando sobre isso, eu não estive com
uma jovem viúva a tempos. Bess Walls foi a última que eu...
― Viúvas velhas, então. — Harrison disse, impaciente, antes de
Robert começar a enumerar suas conquistas.
― Não. — Disse Robert.
Era como Harrison tinha adivinhado: não havia nada a ser feito
pela senhorita Hastings. Ou por si mesmo, sobre essa matéria. Ele
tinha sido confiante de que iria encontrar uma solução quando
interveio ontem e se ofereceu para casar com Alexa; encontrar
soluções para problemas aparentemente insuperáveis era seu dom.
Mas seu saco de truques agora se sentia terrivelmente vazio. Ele tinha
sucumbido ao olhar de terror no rosto de Lady Carey naquela tarde no
estúdio do marquês e tinha aberto sua tola boca e agora teria que
viver de acordo com sua palavra.
― Por você, Harry, vou fazer o meu melhor para descobrir
alguém para ajudar. — ele sorriu. ― Anime-se, rapaz.
― Obrigado Robert. — Disse Harrison. ― Qualquer ajuda que
você puder oferecer será muito apreciada. E eu não preciso dizer-lhe
que o tempo é da maior importância.
Harrison terminou sua cerveja e conversaram sobre outras coisas
antes de andar desanimadamente de volta para Everdon Court e a
casa da viúva. Ele não estava desistindo, ainda não. Decidiu que
deveria ter uma conversa com a senhorita Hastings fora do alcance da
voz de Lady Carey. Uma conversa em que ele iria estabelecer as
regras de sua associação e deixar claro que ele não iria tolerar seu
mau comportamento.
Rue estava dentro do pequeno hall de entrada, polindo um vaso
de bronze, quando Harrison entrou. ― Boa tarde, Sr. Tolly! — Ela
continuou a esfregar o vaso.
― Boa tarde, Rue. — Disse ele, e descartou as luvas. ― Onde eu
poderia encontrara senhorita Hastings? — Perguntou enquanto
desabotoava sua capa.
Rue parou de esfregar. Ela endireitou os ombros.
― A senhorita Hastings se retirou. Ela estava necessitando de
descanso após toda a conversa. ― Ela falou como se recitando suas
cartas.
Harrison jogou de lado sua capa.
― Que conversa é essa?
Rue piscou. Ela lançou seu olhar pensativo para o afresco no teto
por um momento como se estivesse tentando recuperá-lo.
― Bem, eu acho... ― disse ela, como se tivesse acabado de
chegar à verdade. Ela deu de ombros e voltou para o seu polimento. ―
Sim, ela subiu para descansar e depois Lady Carey disse que não era
para perturbá-la se estivesse descansando.
Harrison virou.
― Lady Carey veio à casa da viúva?
― Sim. — Rue sorriu orgulhosamente, como se ela tivesse
arranjado isso ela mesma.
Lady Carey nunca veio à casa da viúva.
― Lady Carey esteve aqui... Procurando sua irmã... — Ele
sugeriu a Rue, na esperança de acelerar sua memória.
Rue assentiu.
― Mas, a senhorita Hastings tinha subido para descansar e sua
senhoria disse que eu não deveria perturbá-la e disse que ela gostaria
de ter uma palavra com você quando voltasse de sua cerveja...
― Minha cerveja? — Harrison disse bruscamente. ― Pelo amor
de Deus, Rue, o que você disse a ela que iria levá-la a acreditar que eu
estava fora para beber uma cerveja?
O gordo lábio inferior de Rue começou a tremer e as lágrimas
encheram seus olhos.
Demorou um supremo ato de autocontrole para Harrison manter
a calma.
― Porque no céu que você diria a Lady Carey tal coisa? Eu não
lhe disse onde eu estava indo. Por tudo que você sabe eu estava de
joelhos na igreja orando por todos aqui.
Rue engasgou; seus pequenos olhos se arregalaram e parecia um
par de moedas de um centavo.
― Obrigado, milorde! Eu nunca tive ninguém para rezar por mim!
Harrison suspirou.
― Rue...
― Eu não sabia onde tinha ido! E a senhora Lampley disse que
se você não estivesse aqui ou com sua senhoria, então talvez você
tivesse ido até a aldeia para uma cerveja, por que algumas vezes,
você está querendo uma cerveja!
― Pelo amor de Deus, Rue. — Disse ele. ― Ouça-me agora, no
futuro, você não vai adivinhar onde eu possa ter ido. Diga que eu não
estou, e deixe por isso mesmo. Você entendeu?
― Sim, milorde. — Disse ela timidamente.
― Sr., — ele disse, e caminhou até a porta, alcançando o manto
no caminho.
― Muito obrigado por suas orações, Sr. Tolly! — Rue disse.
― Deus do céu. — Harrison murmurou quando ele saiu.
Capítulo Dez
Na casa principal Brock encaminhou Harrison para os jardins
e ele viu Lady Carey pelas alamedas. Ela usava um chapéu de palha
grande que tinha deslizado fora de sua cabeça e estava pendurado
em suas costas. O sol brilhava em seu cabelo. Ela estava vestida com
um vestido suíço pontilhado de branco com rosa e fitas verdes e um
3
casaco spencer verde. Ela parecia a primavera.
Ela carregava uma cesta de recortes em seu braço. A fita tinha
sido enfiada em torno do punho, mas tinha desfeito e arrastava atrás
dela. Estava estudando algumas recém-plantadas roseiras, e ele
admirava a curva elegante do queixo e pescoço longo e fino quando
se aproximou. Por alguma razão, o perfil dela o lembrou do dia de seu
casamento. Ele nunca esqueceria como ela estava de pé ao lado do
marquês, vestida com uma seda cor de nuvens da manhã. Um sorriso
tímido de prazer desenhava seus lábios, e ela espiou o marquês, os
olhos brilhando, sua expressão cheia de radiante felicidade e
esperança.
Harrison tinha pensado nela como a mais bela das noivas, e
mesmo assim, ele sentiu uma pequena dor em seu coração por que
não poderia tê-la como sua, que ela estava selando seu destino com
Carey para sempre.
Lady Carey ouviu seus passos no cascalho; de repente, ela virou
a cabeça e seu rosto se iluminou quando o viu andando pelo caminho
do jardim.
― Sr. Tolly! — Ela disse, como se ele estivesse ausente por um
mês, em vez de horas. ― Você voltou rapidamente de sua cerveja,
não é? — Seu sorriso era travesso.
Não iria decepcioná-la, ele estava totalmente envergonhado.
― Perdoe-me, milady, mas a minha empregada estava
adivinhando o meu paradeiro.
Lady Carey riu, e este som, tão leve e arejado, assustou-o.
Parecia fora de lugar entre os acontecimentos dos últimos dias, e
como ele raramente ouvi-a rir, este fato sacudiu memórias antigas
nele, daqueles dias e semanas logo após o casamento, quando seu
riso tinha enchido os longos corredores de Everdon Court.
― Espero que, pelo menos tenha terminado a cerveja antes de
correr de volta para o seu posto. Honestamente, eu vou ficar
desapontada se você não me disser que bebeu um barril inteiro de
cerveja após a entrevista com a minha irmã. ― Ela sorriu para ele.
Harrison sorriu. Aquele sorriso reconfortante foi uma mudança
bem-vinda após o dissabor com Alexa no estúdio.
― Cada última gota. — Disse ele.
O sol brilhava na trança que pendia abaixo de seu chapéu.
Imaginou-se tocando o comprimento do cabelo, e sentindo o roçar de
fios de seda contra sua pele. Perguntou-se como o marquês poderia
olhar para esta mulher todos os dias, os olhos azuis cristalinos, seus
lábios de rubi e belas sobrancelhas, e não cair de joelhos em gratidão
que ela fosse sua.
― Espero que você perdoe Alexa, Sr. Tolly. Ela geralmente não é
assim... — Arrogante? Inconsequente? ― Infantil. — Ela disse, com
um estremecimento envergonhado.
Infantil. Uma boa palavra para senhorita Alexa Hastings.
― A pobrezinha está verdadeiramente confusa, pois eu nunca a vi
tão obstinada.
Harrison não ficou tranquilo.
Ela viu claramente que ele não estava. Ela suspirou quando se
virou para uma rosa de caule grande para podá-la.
― Eu não deveria ter ido à casa da viúva sem antes enviar um
mensageiro. — Acrescentou. ― Sua criada ficou um pouco perturbada
por isso, eu acho.
― Minha criada é perpetuamente instável. — Harrison
secamente assegurou. ― E você, senhora, é muito bem-vinda na casa
da viúva, em qualquer momento de sua escolha.
― Obrigado. — Disse ela com um pequeno sorriso. ― Prometo
que não devo fazer disso um hábito.
Decepcionante, mas esperado.
― Eu fui ver Alexa e ter uma palavra severa com ela, mas estava
descansando.
Lady Carey fez uma pausa e distraidamente escovou uma
pequena folha da manga. Ela suspirou de novo e ergueu o olhar para
Harrison. ― Você caminhará comigo, Sr. Tolly? Está um dia glorioso
de início da primavera, e apesar de nossos problemas, não posso
deixar de regozijar depois de um inverno tão longo e miserável.
― Eu ficaria feliz. ― Disse ele. ― Posso levar sua cesta?
― Obrigada.
Ele estendeu a mão para ela, seus dedos roçando os dela
quando ele pegou a cesta de sua mão.
Eles passeavam pelo jardim, Lady Carey apontando algumas das
novas adições do senhor Gortman. Eles chegaram a um portão de
madeira velho que separava os jardins bem cuidados do parque. Lady
Carey destravou o portão, subiu nele e girou para fora com junto com
o portão antes de descer novamente.
O coração de Harrison sorriu com a brincadeira.
― Devo lhe contar um segredo, Sr. Tolly? — Perguntou ela,
usando a mão para proteger os olhos enquanto olhava para ele. ― Eu
fui para falar com você.
― Perdão?
― Hoje, na casa da viúva. Eu disse a Brock que tinha saído para
uma caminhada e, em seguida, fui até o caminho dos servos para a
casa da viúva para falar com você.
Harrison ficou imprudentemente satisfeito pela admissão.
― Foi?
― Sim. Eu sei que continuo dizendo isso, mas você é muito bom
para nós, senhor. Serei eternamente grata.
Não pôde evitar um leve sorriso. Ele não era nem um pouco bom,
pois cobiçava a mulher de outro homem. Isso era coisa de réprobos,
de adúlteros.
― Certamente você não veio para me dizer isso. E a propósito,
eu não sou bom. É meu dever...
― Não. — Ela disse, levantando uma mão. ― Eu te imploro, não
diga isso. Não ouse me dizer que o dever obriga a bondade. — Ela
sorriu. ― Eu sei melhor do que a maioria que o dever só obriga
alguém até um ponto.
Ele não queria pensar sobre o significado por trás dessa
afirmação.
Lady Carey levantou uma sobrancelha.
― Estou errada? A sua bondade não resulta de algo totalmente
diferente?
O coração de Harrison balançou um pouco, e ele sentiu a onda
de calor na nuca. Esperava que ela proclamasse em voz alta para
Deus e toda a Inglaterra ouvir que ela sabia que ele a amava, tinha
amado, a tinha cobiçado por mais de seis agoniantes anos.
― Acredito que não entendo o que quer dizer.
― É bastante óbvio. — Disse ela com simpatia. ― Talvez você
não esteja ciente de que, enquanto outros podem não ver a sua
verdadeira natureza, eu sei que você é compassivo e não pode
suportar ver o sofrimento em ninguém. Não há ninguém que teria
acolhido a pequena Rue, mas você fez. Você abriria mão de seu
próprio futuro feliz para manter alguém longe do sofrimento.
O olhar de Harrison caiu para o machucado no lábio. Não
estava sendo compassivo; ele estava malditamente assombrado.
Olhou para ela esperando por ele para falar, para confirmar que
estava sendo compassivo. Eu te amo. Era o que ele queria dizer, era a
pressão que podia sentir em seu peito. Ele a amava tanto que não
saberia como dizer, mesmo se tivesse tido a coragem. Parecia que
deveria haver palavras para descrever tal sentimento como o seu, e
ainda assim ele conseguia pensar em apenas três palavras simples. Eu
te amo.
Quando ele não disse nada, Lady Carey mordeu o lábio e
desviou o olhar.
― Oh, querido. ― Disse ela. ― O senhor Gortman deve vir e
limpar um pouco. Edward ficará descontente ao ver tantas folhas
espalhadas.
― Eu vou dizer ao senhor Gortman. — Harrison disse, aliviado
pelo desvio.
Caminharam, os dedos de Lady Carey arrastando ao longo das
cercas vivas novamente, e Harrison sentindo aquele velho desespero
para tocá-la. Eles chegaram a um labirinto, e caminharam para
dentro, para o meio.
― Você vai sentar-se comigo um momento? ― Ela perguntou.
Sentar. Sim. Harrison precisava de um momento para se
recompor e reforçar a parede em pedaços em torno de seu coração.
Juntos eles sentaram-se em um banco em frente de uma fonte
elaborada em torno de três cavalos empinados sobre as patas
traseiras, suas patas dianteiras entrelaçadas em alguma estranha
dança de cavalo. Abaixo dos cavalos, um bando de pássaros se
banhavam na piscina rasa.
Lady Carey sentou-se, as mãos graciosas em seu colo, revelando
a pequena cicatriz branca em toda a volta de sua junta que ele tinha
notado inúmeras vezes antes. Ela olhou para o céu.
― Adoro a primavera, com sua promessa de novos começos.
Qual é a sua estação favorita, Sr. Tolly?
Sua estação favorita, de todas as coisas.
― A Primavera. — disse ele instantaneamente. ― Eu gosto de
novos começos também.
Ele desejou um novo começo para este dia. Desejou um novo
começo para sua vida há sete anos, aquele que poderia ter envolvido
ela. Ele até se permitiu um momento para imaginar o braço em torno
dela agora, a cabeça em seu ombro, talvez até mesmo uma criança
ou duas tentando pegar os pássaros que se banhavam na fonte.
Lady Carey começou a inquietar-se distraída com o fim de sua
trança.
― Estou sendo cruel, eu sei. Estou a falar de novos começos
quando minha irmã enfrenta uma incerteza e você tem se oferecido
para sacrificar o seu futuro por ela.
O pouco da feliz fantasia de Harrison virou vapor.
― Você deve ser autorizado a prosseguir o seu próprio caminho
para a felicidade, Sr. Tolly, não importa o quê. Estou bastante
determinada com isso. E estou igualmente determinada a encontrar
uma solução para a situação de Alexa. Eu espero que você me ajude,
pois já pensei sobre o assunto até a exaustão.
― Como o tenho feito. ― Ele admitiu. Queria tranquilizá-la de
alguma forma, mas não podia.
― Temos poucas opções, não é? ― Ela perguntou.
Harrison sempre tinha apreciado uma abordagem simples, e
decidiu que tinha de ser franco agora.
― Pouquíssimas. Eu não consigo pensar em ninguém nas
redondezas que possa acolhê-la durante sua gravidez. Mas, eu
poderia ir a Londres e talvez encontrar algo lá.
― Céus, não, ― disse Lady Carey. ― Se meu marido viesse a
descobri-lo lá, eu não posso imaginar sua ira. E eu acho que não há
ninguém em Londres que pode ser confiável com um segredo tão
delicado.
― Nem eu, na verdade.
― Eu sei que tudo parece impossível. Mas minha mãe me disse
uma vez que os Hastings tem um jeito de resolver seus problemas.
Ela nos comparou aos gatos. — Lady Carey sorriu de repente. ―
Quando eu era uma menina, ela usava carvão para desenhar nariz e
bigodes de um gatinho no meu rosto. — Riu com a lembrança. ― Ela
sempre nos advertiu para nunca esquecer que nós, meninas Hastings
tínhamos sorte, e sempre encontraríamos uma outra chance. Alguns
podem acreditar que nossa sorte se esgotou desde sua morte, mas
estou otimista. — Ela sorriu, esperançosa.
― Estou totalmente preparado para fazer o que me propus a
fazer, ― disse Harrison.
― Oh, Sr. Tolly! — Ela disse, impaciente. ― Eu acho que você
perdeu o meu significado completamente! Você está muito
acostumado a resolver todos os nossos problemas. Lembra-se da ceia
que Edward ofereceu em honra do retorno do capitão Granville da
guerra?
― Claro. ― Seu sorriso se alargou; seus olhos brilhavam.
― Você se lembra dos assentos?
Harrison sorriu também.
― Como eu poderia esquecer? — Distribuir os assentos de trinta
e seis convidados ilustres foi assustador para o mais experiente dos
secretários sociais. Infelizmente, nem ele nem Lady Carey eram muito
versados neste tipo de coisa. ― Passamos dois dias na sala de jantar
formal reorganizando cartões com os nomes.
Lady Carey riu com prazer.
― Nós mudamos o senhor Rothbone uma dúzia de vezes! Nós
não poderíamos determinar quem iria pagar o preço de sentar-se ao
lado dele.
4
― ”Eu gosto de Arinca ”. — disse Harrison, imitando o
corpulento velho Lorde Rothbone. ―”Mas não no molho. Arinca ao
molho lembra de cartilagem na bile”.
― ”Meu marido não se importa com cartilagem”. ― Lady Carey
disse, imitando a voz estridente de Lady Rothbone.
Harrison riu. ― ”Você quer veado, então? Gostaria de um pouco
de carne de veado. Mas não cozido demais. Veado cozido traz à
mente sapato de um arrendatário. Você já viu um sapato de
arrendatário? Um monte de sujeira e lama, por assim dizer”.
Lady Carey riu redondamente, pressionando as palmas das mãos
contra a sua barriga como se para conter o riso. ― Eu acho que o
Lorde Braxton nunca nos perdoou por colocar Rothbone com ele.
― Mal posso culpá-lo. — Disse Harrison. ― Eu não pude olhar
para o pobre cavaleiro depois do jantar.
Ela sorriu com carinho para ele, em seguida, colocou sua mão na
dele. O toque sacudiu Harrison; sua mão endureceu debaixo dela.
― Eu não poderia ter feito isso sem você, Sr. Tolly. Eu estava
perdida quando vim para Everdon Court, tão verde quanto grama de
verão e tímida como um rato. Se você não estivesse aqui para me
guiar, eu teria vacilado muito.
Lembrou-se da marquesa jovem e inexperiente, querendo muito
fazer tudo exatamente perfeito.
― Você me dá muito crédito, s e n h o r a . Você sempre soube o
que fazer. Eu não guiei você; eu simplesmente te ajudei.
― Você é muito modesto. — Ela retirou a mão da dele. ―
Quando minha mãe morreu, foi você quem me ajudou a fazer os
arranjos.
― Essa é a natureza do meu trabalho para esta família.
― Possivelmente. Mas, como agora, você foi além de seus
deveres. Sentei-me em seu escritório soluçando como uma criança, e
você se sentou ao meu lado, o seu lenço de linho pronto.
Ele queria nada mais do que envolver seus braços em volta dela
naquele dia e mantê-la nesse momento de tristeza de cortar o
coração. Mas ele teve que se contentar por apertar o lenço.
― E o que dizer da seda azul que você trouxe de Londres? Eu
só tinha ouvido falar dela através de meu amigo Bernie, e você
bravamente se aventurou na Bond Street, em meu lugar e encontrou
uma que coincidiu com a descrição. Você tinha um quadrado dela
escondido em seu bolso, como se temia que alguém pudesse vê-lo
com ele. No entanto, não pode imaginar como fiquei entusiasmada
com o quadrado. Mandei para a costureira imediatamente, e agora é
meu vestido favorito de noite, e tudo porque você foi gentil o
suficiente para procurá-la e trazê-la para mim.
Harrison estava começando a se sentir exposto. Ela tinha usado
aquele vestido azul de seda para participar de um sarau na residência
do Conde de Elmont. Naquela noite, ele mal conseguia olhar para ela
na seda sem sentir o sangue correr em suas veias, reunindo em sua
virilha, fazendo-o desconfortavelmente duro, enquanto ele assistia ela
sair nos braços daquele marquês entediado. Lembrou como ela lançou
um sorriso para ele por cima do ombro, e voara seus dedos em seu
vestido como se a perguntar-lhe se ele aprovava. Ah, sim, ele tinha
aprovado.
― A senhora me dá muito crédito.
― Não. Eu dependo de você mais do que ninguém. — Ela sorriu
tão carinhosamente que ele poderia mais uma vez sentir o sangue
começar a correr em suas veias. ― Na verdade, esta é uma outra vez
que eu quero desesperadamente depender de você, Sr. Tolly. Mas
infelizmente, sua ajuda não pode ser suportada. Não dessa vez. Eu
expressamente me recuso a permitir que se case com Alexa.
Harrison arqueou uma sobrancelha em surpresa, e ela ergueu o
queixo como se esperasse uma discussão.
― Você não vai? ― Perguntou delicadamente. ― Por que, se
não há nenhum parente para o qual a senhorita Hastings pode ir, nem
viúva, nem um bom samaritano para acolhê-la, então para o bem dela
e para o seu bem, e, particularmente, para o bem do que vai nascer,
ela deve se casar e rapidamente.
― Sim, sim, eu concordo. Mas não com você, Sr. Tolly.
― Vou tentar não ficar ofendido. — Disse ele facilmente. ― Já
tem alguém em mente?
― Ainda não. Mas eu tenho minhas joias para negociar e eu vou
pensar em alguém desesperado para tê-las. Não sou completamente
sem conexões.
Ela era ingênua. Harrison se moveu um pouco mais perto.
― A senhora, me perdoe, mas eu acho que você não entende. ―
Ele se inclinou, falando suavemente. ― Qualquer homem que
considerar para sua irmã provavelmente não iria aceitar seu filho. E
mesmo se você encontrar um homem que tenha a gentileza de
considerar, ele não iria aceitar a criança como sua. Por mais que me
doa fazê-lo, devo dizer isso em voz alta: Alexa está arruinada. Sem
algum acordo, sem alguma promessa de enriquecimento continuado
que, posso aconselhá-la desde já, que sua senhoria não irá fornecer
não há ninguém que vai tocá-la.
Lady Carey de repente virou-se no banco e encarou-o
totalmente, sua expressão séria.
― Como você pode suportar?
― Perdão?
― Eu preciso saber, Sr. Tolly. Como você pode oferecer a si
mesmo quando suas afeições se encontram com outra? Quando você
se tornou um herdeiro! Você não merece pegar a seu herança e fazer
o seu próprio final feliz com a sua Lady X?
Ouvi-la dizer essas palavras assustou-o.
― Lady Carey.
Ela se inclinou, o olhar fixo no dele.
― Não testemunhou infelicidade suficiente aqui para avisá-lo
contra um casamento arranjado? Você deseja tanta agitação e
desespero para si mesmo?
A admissão dela irritou-o; uma mistura nauseante de fúria e
tristeza encheu seu estômago.
― Esta situação na qual vai colocar-se é insuportável. Você é um
bom homem, e merece uma esposa que você estime e crianças e a
felicidade que a maioria das pessoas só aspira. O que se propõe é
uma loucura! Você tem medo de meu marido? Tem medo do que ele
vai fazer para você ou para Alexa? É por isso que você iria virar as
costas para a sua Lady X, a mulher que você estima, acima de todos
os outros...
― Eu não posso tê-la. ― Ele disse de forma mais acentuada do
que pretendia, mas teve que parar antes que ela enumerasse as
muitas, muitas coisas que ele nunca saberia com ela. Seus dedos
enrolados em um punho contra seu joelho. ― É tão simples quanto
isso.
Ela inclinou a cabeça para um lado, parecendo confusa.
― Por que não?
Será que ela não podia realmente ver por que não? Será que não
via como ele olhava para ela agora? Harrison engoliu e empurrou para
baixo o desejo de tocá-la, de dizer palavras que ele nunca poderia dizer-
lhe.
― Eu acho que é impossível que você possa entender isso, por
isso eu lhe peço para nem sequer tentar.
Mas Lady Carey não se intimidou. Ela tocou seu punho.
― Eu acho que talvez você é o único julgando mal a situação,
Sr. Tolly. Tem certeza de que não pode tê-la?
― Totalmente. — Disse ele com firmeza, e se moveu apenas o
suficiente para mover a mão por debaixo de seus dedos.
Lady Carey respirou.
― Perdoe-me. Não é o meu lugar para interferir, ou para
oferecer conselhos... mas não posso deixar de dizer-lhe que estou
certa de que Lady Martha ficaria bastante satisfeita. E se ela não ficar,
eu ficaria feliz de intervir.
Levou Harrison um momento para entender o que ela pensou, e
a realização atirou a seus pés.
― Lady Martha! — Exclamou. ― Meu Deus, milady, por favor,
permita-me a cortesia de assumir que eu iria ser atraído por alguém
de maior... ― Ele não podia pensar na palavra que descrevia a
maçante Lady Martha ― Vigor do que Lady Martha! Eu não tenho
nenhum interesse na mulher!
Ela recuou, com os olhos arregalados de surpresa.
― Mas, se não é Lady Martha, então quem?
Harrison encarou-a, com as mãos nos quadris, e olhou para ela.
Algo parecia registrar em Lady Carey. Suas pestanas se agitaram
com uma careta pensativa, e seu olhar caiu para seu colo.
― Meu Deus... — ela sabe... — Lady X sabe de sua afeição?
― Aparentemente não. ― Ele disse secamente.
Lady Carey mordeu o lábio inferior.
― Mas se ela soubesse, ela poderia...
― Ela poderia o quê? — Ele perguntou impaciente. ― Deixar o
marido e viver em circunstâncias reduzidas com sua reputação
destruída? Não, milady. Confessar meu afeto e estima para Lady X é
comprometê-la completamente e eu nunca a desonraria.
Lady Carey olhou para cima, em seguida, com os olhos cheios
de compreensão.
E tristeza.
Harrison lamentou-se de falar. Ele deveria ter permitido que ela
continuasse acreditando que sua afeição repousava com Lady Martha.
Lady Carey levantou-se, e, surpreendentemente, ela tocou seu
rosto. Harrison estava tão perturbado por esse único toque, macio que
ele ficou sem fala.
― Pobre homem, ― ela murmurou. ― Eu o entendo melhor do
que você pode imaginar.
Harrison estava subitamente caindo em um precipício. Ele tinha
equilibrado em uma borda por todos esses anos, de pé praticamente
na ponta dos seus dedos, não caindo no abismo, mas perto o
suficiente que ele poderia cheirar as rosas que perfumavam o cabelo
dela, sentir a suavidade de seu toque. E agora estava caindo, caindo
tão duro e rápido que não poderia mesmo dizer o que aconteceu em
seguida. Ele só sabia que seus braços estavam de repente em volta
dela, e que sua boca estava na dela, nos lábios que eram tão macios
e suculentos como ele sabia que seriam ainda o queimando como um
carvão quente.
Ele segurou seu rosto, saboreando-a como tinha desejado fazer
todos estes anos, sua língua contra a costura de seus lábios, e então
mergulhando dentro de sua boca, girando sobre a língua quando ele
caiu, caiu e desapareceu no desejo que havia mantido engarrafado
dentro dele.
Lady Carey beijou de volta, caindo para a direita junto com ele,
seu corpo levantando-se ao dele, pressionado contra o seu. Ela
agarrou-o como se temesse cair, envolvendo o braço em volta de seu
pescoço quando ele rodeou sua cintura com o braço para segurá-la lá,
para manter a sensação de sua forma bem torneada contra ele
enquanto podia. Sua ereção puxou contra as calças, exigindo que ele
atendesse as necessidades de seu corpo, para ser fisicamente saciado.
Em algum lugar nas profundezas de sua consciência, ele estava ciente
do perigo em beijá-la, mas naquele momento não dava a mínima.
Suas mãos percorriam, deslizando sobre a curva de seu quadril,
até as costelas e o seio, enchendo sua mão. Só então Lady Carey fez
um som de alarme em sua boca. Só então ela recuou, puxando para
trás e para longe dele.
― Oh, meu Deus, ― disse ela com voz rouca e apertou as mãos
ao rosto. ― O que eu fiz?
A expressão em seus olhos era de puro pânico.
― Respira, ― ele disse a ela.
― Isso nunca deveria ter acontecido. — Ela dizia freneticamente.
― E se alguém nos viu? Foi um erro, um erro terrível!
― Por favor, não entre em pânico.
― É tarde demais para isso! ― Ela disse bruscamente e pegou
sua cesta. Ela moveu-se para passar por ele, para fugir, mas Harrison
pegou o braço dela.
― Lady.
Ela olhou para ele, e Harrison viu desejo desenfreado misturado
com medo em seus olhos.
― Solte-me, ― ela disse, e puxou o braço livre.
Ela correu até o caminho, a fita da cesta arrastando atrás dela. O
que ele tinha visto em seus olhos era o pior tipo de anseio. Ele sabia,
porque era profundo em suas veias, cortando fendas profundas nele.
Quando ela desapareceu na esquina, Harrison gemeu e correu
as duas mãos sobre a sua cabeça.
― Droga.
Capítulo Onze
No salão da casa da viúva, uma Alexa triste examinou o
pianoforte. Ela pensou que estava desafinado, mas sua habilidade era
razoável, de modo que não estava totalmente certa.
A mãe de Alexa possuía um pianoforte que ela dizia que tinha
vindo diretamente do Palácio de Versalhes. Alexa não sabia como sua
mãe poderia ter adquirido uma coisa dessas, mas era feito da melhor
madeira e as chaves eram de marfim polido. Sentia-se confiante de
que o pianoforte do senhor Tolly não tinha vindo de Versailles. Ela
duvidava que tinha chegado tão longe como até mesmo York.
Ela suspirou e jogou algumas notas.
Carlos, sem dúvida, teve um pianoforte muito bom. Sua família
era rica. Não que ela tivesse perguntado, mas era evidente. Carlos
Alfonso de la Fuente vivia em um castelo com vista para Madrid.
Alexa o tinha encontrado por acaso. Lady Tuttle ficou doente um
dia, desmaiou enquanto ela e Alexa excursionavam pelos jardins da
Plaza de Oriente. Carlos socorreu-as, falando um impecável inglês com
um sotaque lindo e mandou seus servos levar Lady Tuttle para o hotel
onde ela e Alexa estavam hospedadas. Quando ele entendeu que não
tinham médico, Carlos tinha enviado seu médico pessoal para ver
depois Lady Tuttle. Quando o médico tinha declarado que Lady Tuttle
deveria convalescer antes de retomar suas viagens, Carlos tinha
oferecido uma casa que pertencia a sua família para o uso de Alexa e
Lady Tuttle.
E assim começou o seu tórrido romance. Ele era alto e
sombriamente bonito, com olhos castanhos e um sorriso como a
espuma do Mar Mediterrâneo. Ele veio todos os dias para averiguar o
bem-estar de Lady Tuttle, e dentro de uma semana, estava escoltando
Alexa para as ruas de Madrid para mostrar as redondezas.
Alexa nunca teve a intenção de que nada acontecesse entre
eles. Na verdade, ela foi levada por sua beleza física. E estava tão grata
por sua ajuda e ficou cativa de sua alegre companhia. Mas não estava
preparada para a rapidez com que tinha caído de amor por ele! Seus
olhos enchiam de lágrimas só de pensar nisso. Deus a ajudasse, ela o
amava.
Ele era encantador e sofisticado. Ele ensinou-lhe a história
espanhola e a língua. Queria saber tudo sobre ela, e olhou-a de uma
forma que tinha feito o coração de Alexa bater forte e as palmas das
mãos suarem.
Um mês virou dois, e dois, três. Carlos ficou mais ousado,
provocando-a com beijos e toques lúdicos. E Alexa ficou mais suave,
acolhendo cada toque, sorrindo com prazer quando ele a beijou. Em
seguida, veio o dia da chuva, quando era horrível demais para sair,
mas muito tedioso para permanecer dentro da casa de dois quartos
que Alexa compartilhava com Lady Tuttle.
Carlos tinha vindo, e enquanto Lady Tuttle dormia em um quarto,
Carlos levou Alexa para um lugar que ela nunca tinha ido antes ― os
braços de um homem, e seu corpo no dela. Era fisicamente mágico, e
emocionalmente cativante. Alexa sentiu como se ela fosse dele, e que
ele pertencia a ela. Nunca tinha sentido nada tão profundo em sua
vida.
Alexa continuou a ter relações íntimas com ele, assumindo que
eles iriam se casar. Não era inteiramente sua imaginação; Carlos tinha
dito coisas como:
― Um dia, seremos como aquele velho casal, ― e apontava para
um casal de idosos a passear juntos. Ou: ― Nossos filhos serão
destemidos.
Alexa tinha acreditado com todo seu coração.
Ele falou eloquentemente sobre sua vida e sua obra. Ele
descreveu onde ele e sua família viviam em uma antiga fortaleza nas
montanhas, que tinha se transformado em uma casa. Enquanto Lady
Tuttle roncava pelo corredor, Alexa estava na cama com ele,
imaginando sua família. Ela imaginou um encontro estridente de
irmãos, alguns casados e com filhos, outros não. Imaginou suas
refeições de família, e ela imaginou, que os céus a ajudassem, ela
imaginou-se sentada entre eles, um membro da família.
― Eu quero conhecê-los. — Ela disse um dia.
― Sim, é claro. Quando for a hora certa, mi amor. — Ele dizia e
Alexa confiava nele.
Lady Tuttle começou a ficar boa. Ela queria ir para casa para a
Inglaterra, para estar perto de seu filho, e Alexa começou a pensar
sobre como ela iria dizer a velha mulher que não tinha a intenção de
voltar para a Inglaterra. Ela até escreveu uma carta para Olivia com a
notícia de que ela permaneceria na Espanha com Carlos.
Mas ela nunca enviou a carta.
Um dia, Carlos não veio. Nem veio no dia seguinte. Até o final da
semana, Lady Tuttle estava determinada a continuar com sua turnê, e
Alexa estava desesperada, já sabia então que estava grávida.
Ela tocou mais algumas notas no piano na casa da viúva, em
seguida, estabeleceu-se com ambas as mãos para tocar uma música
que ela se lembrava de sua infância enquanto sua mente vagava
através de suas memórias de Madrid.
No começo ela estava com raiva de si mesma por não saber mais
sobre onde Carlos vivia. Ela perguntou se ele a tinha intencionalmente
mantido no escuro, pois ela tinha apenas algumas descrições vagas de
onde a casa era. Por isso, foi surpreendente que ela foi capaz de
descobrir onde Carlos vivia. Levou um pouco de criatividade para
encontrar o seu caminho até lá, uma pergunta discreta para o florista
que entregava as flores para ela, um punhado de palavras em
espanhol para ajudar seu caminho através das ruas movimentadas e
confusas de Madrid. Mas Alexa tinha feito isso, ela tinha encontrado
ele.
Ela se lembrava de ficar de pé na parte inferior da colina e
admirar o antigo castelo. Ele parecia como Carlos havia descrito, com
glicínias subindo pelas paredes e uma fonte na parte inferior da
unidade. Alexa tinha caminhado do morro até o portão. Tinha a
intenção de enviar uma nota para ele, e nunca tinha imaginado que
iria vê-lo parado na unidade, quase como se estivesse esperando por
ela.
Mas ele não estava esperando por ela.
Eram interessantes, Alexa pensou entorpecida, as coisas que ela
se lembrava sobre aquela manhã cheia de sol. Tais como o cavalo e a
sela com as borlas e um rolo de papel vermelho bordado no assento.
Que as buganvílias ao longo da parede de pedra em suas costas
precisavam de corte.
Alexa lembrou com dolorosa clareza escaldante, que, quando ela
levantou a mão para chamá-lo, uma mulher veio em sua direção. Foi
quando ela percebeu o outro cavalo, e que a mulher estava vestida
para a equitação, como ele. E ela era linda, com cabelo preto como
tinta e escuros lábios vermelhos. Os dois tinham rido e falado em sua
língua nativa em um ritmo que Alexa não tinha sido capaz de
entender.
Ela ficou fora dos portões, sem ser notada, observando com um
inchaço nauseante como Carlos tinha tomado o cotovelo da mulher e
se inclinou para beijar sua bochecha. A mulher apertou a mão em
suas costas e descansou sua bochecha contra seu ombro, e Carlos
colocou o braço em volta dos ombros e abraçou.
A luz do entendimento brilhou na cabeça de Alexa naquele
momento. Sem uma palavra, sem um gemido, ela virou-se e desceu a
colina de paralelepípedos. E ela continuou andando, sem se importar
com as pessoas ou os animais ou carrinhos que enchiam a rua, não
vendo nada, mas a imagem de Carlos beijando a mulher bonita. Ela
continuou andando até que ela tinha chegado à casa onde Lady Tuttle
havia ordenado um pequeno exército para embalar suas coisas.
Mesmo agora, um mês depois, a memória ainda era dolorosa
demais para suportar.
Alexa tocou mais de sua canção, mas parecia triste. Ela estava
determinada a colocar o passado para trás; O que mais ela poderia
fazer? Ela tinha feito algo miserável ― ela tinha se apaixonado por um
espanhol, e caído tanto, e tão profundo, que havia concebido um filho
dele. Alegremente concebeu, ansiosamente concebeu. E então ela
tinha descoberto que ele era casado.
Não havia outra explicação. Seu desaparecimento súbito de sua
vida, o beijo na bochecha da mulher... Alexa imaginou que sua esposa
tinha sido afastada enquanto ele a seduziu. Ele a tinha deixado em
uma tarde chuvosa com beijos e promessas e um sorriso brilhante e
tinha ido para casa, aparentemente, para sua esposa.
Alexa nunca mais viu Carlos novamente. Ela tinha deixado uma
nota agradecendo-lhe o uso da casa de campo, e voltou correndo
para casa, para Everdon Court e Olivia, o único lugar que ela poderia
ir.
Não podia dizer o que pensou que aconteceria quando chegou a
Everdon Court. Supôs que ela queria varrer tudo para debaixo do
tapete e fingir que não tinha acontecido.
Mas Olivia tinha adivinhado a verdade. Esse era o jeito dela e
sempre seria. Ela era tão perfeita em sua conduta, tão terrivelmente
inteligente. Toda a vida de Alexa, Olivia tinha sido apresentada como
o ideal, o que Alexa deveria se esforçar para ser. Não importava se
Alexa não queria ser tão cerimoniosa e apropriada como Olivia. Foi dito
a ela que deveria ser se quisesse um casamento quando crescesse.
Alexa nunca tinha sido tão preocupada com aparências como sua
irmã. Ela tinha acreditado que Olivia estava fazendo uma situação
ruim ficar ainda pior com sua insistência de que deveriam dizer a
Edward, que era tão frio e distante. Ela não queria acabar como Olivia,
casada com um homem de coração frio.
Mas, em seguida, Alexa tinha visto o hematoma no lábio de
Olivia, e aquilo lhe dera o que pensar. A evidência física a fez perceber
que ela tinha de se levantar e enfrentar as consequências do que tinha
feito, pois se não o fizesse, Olivia faria.
Se apenas Alexa soubesse como enfrentar as consequências sem
ser banida para a Irlanda! Ela realmente não tinha opções, mas
quanto mais resistisse, mais Olivia iria pagar o preço por seu erro com
a besta de seu marido.
Alexa sabia que ela tinha sido horrível para Olivia e o senhor
Tolly e verdadeiramente, ela não tinha a intenção de ser. Mas estava
sentindo tantas emoções confusas, contraditórias. Ela não queria se
casar. Ela ansiava por Carlos ainda, por mais ferida que estivesse. Ela
tinha agonizado com tudo o que ele disse, perguntando como ela
poderia imbuir suas palavras com tanta promessa, ou como ele
poderia ter mentido tão facilmente. Ela chorou até dormir mais vezes
do que podia contar e tinha desistido de toda a esperança. Só queria
voltar para a casa onde ela e Carlos tinha passado tantas tardes felizes,
e acordar emaranhada em seus braços e pernas, a cabeça em seu
ombro. Alexa tinha lutado poderosamente para deixar esse sonho ir.
Mas não queria viver em um convento, e ela não iria desistir de seu
filho.
Hoje, Olivia tinha conseguido penetrar no nevoeiro que cercou
Alexa desde aquele dia em Madrid e a convenceu de que sua situação
era terrível. Esta tarde, Alexa tinha metodicamente analisado suas
opções e encontrou-as dolorosamente ausente. Pensou no que Harry
tinha dito sobre sua vida. Ela pensou na criança que ela carregava. E
se fosse um menino, como Harry? Será que ele seria evitado? Não
permitido na escola? Alexa não tinha joias para vender, e o pensamento
de fazer o que sua mãe tinha feito para fornecer o necessário para o
seu filho a fez estremecer.
Olivia estava certa. Ela teria que se casar.
O senhor Tolly parecia ser tão bom candidato como qualquer
outro. Ele era agradável, bonito, e tinha herdado alguma coisa, por isso
esperava que o seu filho não iria sofrer. Mas a coisa mais interessante
sobre isto era que as alternativas eram muito sombrias. Ele
simplesmente teria que servir.

Harrison voltou para a casa da viúva sem realmente recordar do


trajeto. Sua cabeça estava cheia pelo beijo de Lady Carey, seu corpo
ainda vibrando, seus nervos patinando de culpa. Ele segurou seu
desejo por ela durante tantos anos que ficou surpreso com a rapidez
com que sucumbiu. Como se tivesse sido arrancado de seu precipício
por uma ligeira brisa da primavera. Em um único momento, sua vida
havia mudado para sempre e ele nunca seria o mesmo homem que era
apenas algumas horas atrás. Pior, sabia que iria fazê-lo novamente,
sem um momento de hesitação.
Harrison entrou no hall de entrada com a intenção de se retirar
para o seu estúdio e uma garrafa de uísque, e foi envolvido pelo som
surpreendente de música. Era o velho pianoforte do salão de sua
mãe, que ele nunca tinha ouvido tocar. Curioso, caminhou para o que
ele com otimismo chamava de sala de música.
Alexa estava sentada ao piano, a cabeça de ouro para baixo e
uma carranca de concentração em seu rosto. Harrison limpou a
garganta; ela olhou para cima e sorriu levemente.
― Aí está você.
― Aqui estou eu. — Respondeu enquanto se movia para o
aposento. ― Por favor, siga em frente. Esta casa não ouviu música
durante o tempo em que estou aqui.
Ela sorriu timidamente e colocou as mãos no colo.
― Não toco há muito tempo, preciso praticar. Eu estava apenas
passando o meu tempo, esperando por você. Posso ter uma palavra,
Harry?
Harrison reprimiu um gemido. Ele não estava de humor para ela
no momento, já que tinha o seu próprio mal humor para resolver.
― Seria possível esperar? Eu tenho um monte de trabalho.
― Vai demorar apenas um momento, — disse ela, levantando-se
do pianoforte, segurando suas mãos firmemente em sua cintura. ―
Por favor, senhor. Eu sei que tenho sido miserável, mas dou minha
palavra, eu não serei assim de novo.
A promessa contrita surpreendeu Harrison. Ela até parecia
arrependida.
Ainda assim, Harrison foi cauteloso.
― Vá em frente, então.
― Eu, ah... ― Ela respirou fundo, em seguida, começou
novamente. ― Eu tenho pensado muito sobre o que você e minha
irmã disseram.
Harrison não estava mais interessado em ajudá-la, muito pelo
contrário. Ele desejava que ela voasse para longe.
― E... Eu cheguei à conclusão de que você tem toda a razão.
Agora havia um milagre celeste se alguma vez ele tinha visto
um. Será que ela realmente esperava que ele acreditasse nisso? Ele
lhe deu um olhar duvidoso. ― Você, de fato? Perdoe-me, Alexa, mas
isso não soa como a jovem que eu vim a conhecer.
― Eu estou ciente disso. — Ela engoliu em seco. ― Você foi tão
gentil comigo oferecendo casamento e um nome para meu bebê,
dada a minha situação impossível, e eu... e eu percebi que tinha sido
tola e ingrata em troca. Mas depois de refletir...
Ela fez uma pausa e engoliu mais uma vez e Harrison resistiu ao
rolar de seus olhos, à espera do que ele suspeitava que ela iria dizer a
seguir. Eu não posso me casar com você, etc., etc., etc.
― Após uma reflexão. — Ela disse novamente, sua voz suave ―
Eu cheguei à conclusão de que podemos realmente encontrar nosso
caminho, e talvez até mesmo ser... felizes. Portanto, gostaria de
aceitar sua proposta de casamento.
Ele não podia sentir seu coração batendo; não conseguia sentir
nada, pois tudo tinha parado de se mover. O ar, a respiração. Tempo.
Ele olhou para Alexa; ela apertou os lábios, seu peito subindo e
descendo a cada respiração ansiosa. Ele não tinha ideia do que dizer,
seu mundo tinha sido virado de cabeça para baixo depois de beijar
Lady Carey no jardim, e seu coração estava torcido, emaranhado. E
agora isso? Ele não podia falar, não podia se mover.
Senhorita Hastings empalideceu.
― Eu sei o que você deve pensar. Que eu sou petulante e não
cooperativa, e por isso peço desculpas. Mas dou minha palavra,
senhor, eu nunca na minha vida enfrentei um dilema. Peço desculpas
por meu pobre comportamento.
Ele estava sonhando?
― Por favor, diga alguma coisa. Ela implorou.
― Trata-se de uma brincadeira? Algum tipo de truque?
― O que? Não!
Harrison cruzou os braços sobre o peito. ― Então eu posso
perguntar o que aconteceu nas últimas três horas para trazer essa
mudança impressionante em seu coração? Como é que de repente me
encontro com sua aprovação?
― Eu nunca disse que você não tinha. ― Ela disse fracamente.
― Você pareceu muito clara sobre isso para mim.
Alexa olhou para baixo e traçou seu dedo ao longo da borda do
pianoforte.
― Eu acho que eu não estava pronta para aceitar que eu não
posso... estar... com a pessoa por quem me apaixonei. Mas aceitei. E
eu encontro-o inteiramente agradável, e, francamente, senhor, eu
temo o que será de Olivia se eu não acertar a minha situação. — Isso,
pelo menos, era algo que eles tinham em comum. ― Espero que
possamos encontrar uma solução mais palatável para nós dois, mas se
não... Sinto-me humilde por sua bondade, ― disse ela.
Harrison atravessou a sala e sentou-se pesadamente. Ele só
conseguia pensar em Lady Carey. Não neste fiapo de menina.
― Sem dúvida, seria mais fácil para nós dois se fôssemos mais
familiarizados uns com os outros, — disse ela, nervosa. ― Talvez
possamos falar de como existir na companhia um do outro até que a
familiaridade tome conta?
Harrison estava pasmo. Ele não mais queria se casar com essa
moça do que ele queria caminhar para as mandíbulas do inferno. Mas,
ele havia colocado as rodas em movimento, abrindo sua boca
sangrenta, e agora, não podia sequer começar a pensar como gerir o
seu caminho para sair dela. Um peso de esmagamento, decepção e
frustração se estabeleceram em seus ombros. Não havia maneira de
sair deste pesadelo?
Capítulo Doze
Depois daquele perturbadoramente excitante beijo no jardim,
Olivia teve que fugir dos pensamentos e sentimentos que a tinham
inundado, então ela foi para o único lugar onde ninguém iria procurá-
la. O único lugar que ninguém, e especialmente Edward, arriscaria: o
berçário.
Ela correu até a escada de volta e abriu a porta pintada de verde
com ambas as mãos, em seguida, rapidamente fechou-a e virou a
fechadura. Ela ficou ali por um momento, a testa e as mãos
pressionadas contra a porta fechada, tentando recuperar o fôlego.
Mas não conseguia; tinha sido arrancado de seus pulmões.
Olivia virou-se e examinou o quarto. Com janelas de frente para o
norte e oeste e as paredes pintadas de um amarelo ensolarado, era
brilhante, uma sala feliz. Cortinas de brocado branco combinavam
com a colcha na cama da criança. A madeira de cerejeira escura do
berço brilhava na transmissão de luz solar. Edward havia
encomendado durante os dois meses que Olivia tinha acreditado estar
grávida. Ele tinha estado no centro do quarto, a cama da babá nas
proximidades. Agora, o berço foi empurrado para um canto.
Perto da lareira, flores amarelas pintadas adornavam a mesa e
havia cadeiras do tamanho das crianças. O urso de pelúcia que a mãe
de Olivia tinha dado a ela, estava pousado em uma prateleira,
esperando o filho que nunca habitou este quarto.
Olivia não tinha pensado nisso até hoje. Só pensava que era
muito brilhante e alegre para o seu estado de espírito. Ela começou a
andar no tapete amarelo e verde, mordiscando ansiosamente em uma
miniatura. Ela não sabia o que fazer, o que pensar. Como tinha
acontecido? Como tinha Harrison Tolly vindo beijá-la, ou foi ela que o
beijou?
Olivia mal sabia o que tinha acontecido. Num momento ela
estava falando, e no outro ela estava beijando o senhor Tolly,
afundando-se nele e em sua fantasia profunda. ― O que no céu se
apoderou de ti? ― se repreendeu. Ela colocou os dois em um risco
extraordinário, mas não tinha parado porque queria aquele beijo mais
do que ela jamais quis nada em sua vida.
Mais do que tudo.
O peso do seu desejo empurrou para baixo sobre seus joelhos,
suas mãos apoiadas em cada lado deles, arrastando ar em seus
pulmões. O que era pior, o medo da descoberta, ou a dor de querer
mais?
Olivia levou os dedos à boca, desesperada para se lembrar de
cada momento, cada sensação. O gosto dele, canela, e como ele
cheirava a roupa de cama.
Em toda a sua vida, ela nunca tinha sido beijada com tanta
paixão, mas também foi surpreendentemente gentil. Ele a desejava.
Não apenas seu corpo, mas ela.
Olivia fechou os olhos, apertou o dorso da mão contra sua boca.
Ela podia ver seu rosto, os lábios, os olhos cheios de desejo selvagem.
Ela podia sentir sua boca na dela, apreensão apertada de seus braços
ao redor dela, todo o seu desejo por ela.
Quão injusto é! Para receber esse tipo de beijo com o poder e a
força do desejo de um homem, e sentir a dor por mais, tudo ao
mesmo tempo sabendo que ela nunca poderia tê-lo, era doloroso.
Olivia deslizou lentamente um braço sobre o tapete até que ela estava
deitada de lado, com a cabeça apoiada em seu braço estendido. Ela
fechou os olhos e descaradamente imaginou o duro corpo do senhor
Tolly, quente e fluidamente entrar dela. Ela imaginou as mãos sobre a
pele dela, acariciando-a, deslizando em suas dobras secretas.
Imaginou sua boca e língua em sua pele, e a maneira como ele olhava
para ela enquanto a levava, seu cabelo caindo sobre a testa, braços
mantendo-se acima dela, sua expressão cheia de desejo e afeto.
Dor rodou no peito de Olivia, e uma lágrima de frustração
escapou de seu olho. Ela o queria mais do que o ar. Era a pior tortura
saber que ele seria a última coisa na terra que ela poderia ter.
Eu sou sua Lady X.
Como podia não ter sabido? Com um gemido, Olivia rolou de
costas, olhando para o mural pintado no teto, um pouco de cena
pitoresca de barcos boiando sobre um lago, dirigido por ursos que
vestiam os coletes e lenços de pescoço. O que foi que o senhor Tolly
tinha dito? Que ele nunca poderia ter sua Lady X, ele nunca poderia
pedir-lhe para deixar o marido e viver em circunstâncias reduzidas com
sua reputação destruída.
― Oh, sim, sim, sim, você pode, ― ela gemeu. Ela não hesitaria
em deixar Edward e tudo o mais para trás. Ela viveu muitos anos em
sua pequena gaiola miserável para se importar com circunstância ou
reputação. Ela viveria em um casebre com o senhor Tolly e mataria
galinhas e cozeria pão e cultivaria trigo.
Mas e Alexa?
Ela não podia pedir ao senhor Tolly para levá-la; ela tinha que
considerar Alexa e seu filho agora. E tanto quanto doía admitir, o
senhor Tolly era a única opção viável que ela tinha para salvar sua
irmã mais nova.
Mas era mais do que isso. Edward nunca concordaria em libertá-
la. Ele nunca iria admitir que tinha sido traído; ele nunca iria solicitar
ou permitir um divórcio. Não, Edward preferiria mantê-la e atormentá-
la. Era meio louco, e ele nunca, nunca permitiria que sua reputação
fosse manchada com calúnias. Ele preferia destruir Harrison. E Alexa.
E ela.
Olivia fechou os olhos, desejando as lágrimas que ameaçavam
cair. Ela estava presa em um casamento sem amor para o resto da sua
vida, vivendo em uma gaiola dourada que ficava menor a cada dia até
que ela estava pressionada contra as grades, incapaz de respirar,
incapaz de se mover. Lentamente sufocando até a morte.
Ela empurrou-se a seus pés, arrumou o cabelo que tinha desfeito,
e tirou o pó de sua saia.
Não era como se ela não tivesse percebido a verdade da sua
vida antes. Mas hoje teve um vislumbre de esperança para algo
diferente. Quanto mais cedo ela emparedasse a esperança, melhor.
Talvez, ela respirou fundo e soltou, talvez ela pudesse
emparedar Edward em seu estúdio em primeiro lugar. Imaginou
amarrá-lo a uma cadeira, então, e calmamente empilhar um tijolo em
cima do outro enquanto ele gritava para ela parar, indo tão alto
quanto conseguia até que não podia mais vê-lo ou ouvi-lo. Que
diferença feliz seria se ela já não pudesse vê-lo ou ouvi-lo.
Olivia foi até a janela e olhou para o jardim onde ela beijou o
senhor Tolly.
― Levanta a cabeça, moça, ― ela murmurou. Ela tinha
problemas suficientes sem criar novos.
Nancy Carthorn, uma rechonchuda mulher jovem e ruiva com
grandes aspirações, era criada em Everdon Court por quatro anos. Ela
gostava de sua ocupação, particularmente quando passava os dias
nas salas privadas da Marquesa em meio a toda a elegância e os
vestidos e as joias reluzentes. Seu posto era muito superior a qualquer
outro na casa, com exceção, talvez, do senhor Brock.
Era certamente melhor do que a pobre Lucy Krankhouse
enfrentava todos os dias na cozinha, trabalhando ao lado da
rabugenta senhorita Foster. Lucy estava firmemente sob o opressivo
jugo da senhorita Foster ― que esteve bastante irritada com Lucy
quando ela pensou que sua concha especial tinha desaparecido ― e
na maneira de pensar de Nancy, a menina estava sendo tratada
injustamente. A bela coisa sobre o posto de Nancy era que poderia
dizer que ela pensava assim a Lady Carey, e sua senhoria iria falar
com o senhor Brock. Ela tinha feito isso quando Fred não deixava
Nancy em paz, e agora Fred estava nos estábulos com uma pá de
esterco e não a perseguindo nas escadas dos servos.
Naquela noite, Nancy mencionou a infelicidade de Lucy quando
ela estava penteando o cabelo da marquesa. Mas Lady Carey não
parecia ouvi-la. Isso intrigou Nancy. Geralmente, Lady Carey escutava
polidamente ao que Nancy tinha a dizer, e muitas vezes lhe oferecia
sua opinião pessoal, o que, naturalmente, Nancy corria lá embaixo
para entregar na primeira oportunidade. Mas Lady Carey parecia
distraída, e Nancy fez uma pausa.
― Perdão, a senhora, você está doente?
― Humm? ― Disse sua senhoria, e olhou para cima.
― Você parece um pouco pálida, é tudo, ― disse Nancy.
Lady Carey olhou-se no espelho, observando um pouco. ― Eu
suponho que estou cansada, ― disse ela com um pouco de um
encolher de ombros.
Fatigada, pálida... a mão de Nancy parou no cabelo de sua
senhoria. Meu Deus, seria possível que sua senhoria estivesse
grávida? Isso traria um pouco de leveza para esta casa velha e
sombria! Todos sabiam que um herdeiro era a única coisa que faria o
marquês feliz.
― Nancy? O que foi? ― Perguntou sua senhoria, olhando para o
reflexo de Nancy no espelho. Nancy instantaneamente retomou a
colocação de seu cabelo.
― Perdão, ― ela colocou um pino no cabelo de Lady Carey para
segurá-lo. — Eu estava pensando que você deve ter
cuidado para não se sobrecarregar, senhora. Deve manter a sua força.
― Manter minha força para quê?
Agora ela tinha ido e falado demais. Nancy virou-se para ir
buscar mais pinos.
― Nenhuma razão em particular, ― disse ela. ― Eu não gostaria
de vê-la na friagem. ― Ela se virou e sorriu. ― Isso é tudo.
Sua senhoria não disse nada, mas sentou-se calmamente,
pensativa, quando Nancy terminou seu cabelo. Quando estava pronta,
Lady Carey levantou-se e olhou-se no espelho por um longo tempo. Ela
estava usando um vestido que parecia quase como se fosse fiado a
ouro. Ele abraçava seu corpete com força, e com seu senhorio longe,
Lady Carey tinha renunciado o pedaço de tafetá que ela geralmente
usava como um colar modesto. Hoje à noite seu decote foi
pulverizado e perfumado, e um par de diamantes pendia de suas
orelhas. Se ela vestisse uma coroa, ela pareceria uma princesa.
― Muito bonito, senhora, ― Nancy disse admirada.
― Obrigado. ― Lady Carey deu a Nancy um fantasma de um
sorriso antes que ela saísse, seu vestido atrás dela.
Nancy sorriu para si mesma quando ela começou a arrumar o
quarto. Toda a propriedade esperava em suspense que Lady Carey
fornecesse um herdeiro, e não seria bom ter um bebê por ali? Ela mal
podia esperar para contar a senhorita Foster e a senhora Perry o que
ela suspeitava.
Capítulo Treze
O salão vermelho parecia vazio sem a presença opressiva de
Edward. Ele tinha uma tendência para sugar o ar do ambiente. Olivia
era obrigada a encontrá-lo aqui cada noite antes da ceia; Edward
gostava que ela bordasse enquanto lia seus jornais. Não importava
para ele que Olivia nunca tinha levado jeito para o bordado, ou que
suas criações geralmente necessitavam de algum reparo da parte da
senhora Perry, ou mesmo que nenhum deles tinha qualquer desejo de
estar na companhia do outro. Edward acreditava que era o que os
casais deviam fazer.
Hoje à noite, Olivia estava sozinha com o lacaio Bruce, que ficou
em silêncio ao lado do aparador, caso ela necessitasse de qualquer
coisa.
Olivia apertou as mãos em seu abdômen quando atravessou a
sala. Respire, maldita. Ela não conseguia encontrar o rumo depois do
que aconteceu esta tarde.
― Olivia!
O som da voz de Alexa chamando-a do corredor deixou os
nervos de Olivia na borda. Ela engoliu em seco, respirou fundo outra
vez, e virou-se assim que Alexa veio correndo.
― Aí está! Onde esteve? Procurei por você mais cedo e não
encontrei.
O pulso de Olivia se agitou com a percepção de que Alexa
poderia tê-la visto com o senhor Tolly. Céu misericordioso, todos em
Everdon Court poderiam tê-los visto! Tão imprudente, tão tolo.
― Ah… Eu tinha alguma correspondência, ― ela viu o olhar do
lacaio para ela, depois ele desviou o olhar novamente. Será que ele
sabia que ela mentiu?
― Preciso falar com você, Livi, ― disse Alexa. ― Tenho algo que
preciso dizer.
Se o comportamento ansioso de Alexa era alguma indicação, ela
tinha, mais uma vez, algo terrível para transmitir, e Olivia queria
gritar.
― Bruce, por favor, um pouco de vinho, ― disse Olivia. ― Alexa,
por favor não me aborreça esta noite, ― ela disse calmamente
enquanto Bruce virou-se para o aparador. ― Eu já tive o bastante por
um dia.
― Aborrecer você? ― Repetiu Alexa, como se estivesse surpresa
com a noção de que ela poderia ser irritante. ― Não, Livi, eu não
quero irritar você. ― Pelo olhar dúbio de Olivia, ela suspirou. ― Tudo
bem, suponho que eu mal posso culpá-la por isso. Estou ciente de que
tenho sido infeliz. Quero pedir desculpas por isso.
Um pedido de desculpas era a última coisa que Olivia esperava de
Alexa, que nunca tinha sido muito interessada neles. Sua irmã era
decididamente sem remorso. Ela deve ter ficado boquiaberta em
descrença, já que Alexa disse um pouco sem graça.
― Você parece tão chocada?
― Estou chocada, ― disse Olivia. ― E, eu não posso evitar, mas
pergunto o que trouxe esta súbita mudança.
― Acontece que tive algum tempo para pensar. ― Ela fez uma
pausa enquanto Bruce entregava a Olivia uma taça de vinho, em
seguida, levou-a pelo cotovelo através da sala para um assento na
janela. Ela olhou para Bruce novamente, e sussurrou. ― Lamento,
Livi. Eu não tenho nenhuma desculpa para isso, realmente, só que eu
não estava pronta para aceitar que... ― Ela se inclinou para que
pudesse sussurrar no ouvido de Olivia. ― Que eu não posso casar
com o pai.
Olivia animou-se, Alexa tinha sido relutante em mencioná-lo. ―
Mas você está certa, Alexa? ― ela sussurrou, aproveitando o
momento. ― Estive pensando... e se mandássemos chamá-lo? Talvez
se oferecesse...
― Não, — Alexa disse com firmeza e apertou a mão de Olivia.
Ela olhou ansiosamente para o lacaio.
― Obrigado, Bruce ― disse Olivia. ― Você pode deixar-nos. ―
Com um aceno de cabeça, ele saiu. ― Tudo bem, então, ― disse
Olivia. ― Vou perguntar de novo, Alexa. Não podemos chamar este
homem? Não deveríamos recorrer a ele em razão da sua
responsabilidade moral?
― Não, ― exclamou Alexa.
― Pelo amor de Deus, por que não?
― Eu sei que é o que você quer, ― disse Alexa, impaciente. ―
Você não acha que é o que eu quero, também? Claro que eu quero!
Mas meu conhecimento sobre ele é... ― Ela mordeu os lábios e olhou
para baixo. ― Certamente não é como você deve imaginar isso.
― Como eu imagino isso? ― Olivia repetiu irritada. ― Este
homem colocou uma criança em você e, portanto, tem uma
responsabilidade, se você ou ele não quiserem admitir isso! Eu acho
que é uma solução muito melhor do que qualquer outra que já
pensamos até agora.
― Entendo…
― Você não entende, ― disse Olivia. ― Se tivesse entendido
alguma coisa você me contaria mais, diria o seu nome, de modo que
eu poderia pelo menos ajudar você..
― Não, ― Alexa disse com firmeza, e se levantou.
― Isso é tão parecido com você, ― Olivia disse com raiva.
― O que isso significa?
― Significa que a sua consideração por seus próprios desejos
supera os de todos os outros.
― Eu me ressinto disso, ― disse Alexa. ― Tenho meus motivos.
― Que motivos? ― Olivia exclamou olhando para o céu.
― E isso é tão parecido com você, Olivia. Tão superior e segura
de si.
― Nisto estou muito certa, ― disse Olivia. ― Se é um homem
decente, ele irá…
― Por favor, pode parar com isso, Olivia? Eu sei sem dúvida que
a situação dele não vai permitir que ele me ajude.
Olivia suspirou e olhou para fora da janela. Era o que ela
suspeitava o tempo todo. ― Ele é casado, então.
Alexa fez um som de desagrado e se virou, marchando para o
aparador.
― Você quer ouvir o que vim dizer, ou não?
― Claro que sim, ― Olivia disse cansada, e pediu a Deus que
fosse algo simples.
Alexa apoiou as mãos no aparador. ― Cheguei à conclusão de
que você está certa, e eu preciso de sua ajuda.
― Graças a Deus por isso.
Alexa virou. ― E que você estava muito certa sobre o senhor
Tolly, ― ela continuou. ― Ele fez um ato de bondade incrível para
mim.
Algo torceu profundamente dentro de Olivia. Certamente Alexa
não quis dizer...
― Eu estou tentando dizer que Harry e eu concordamos...
Olivia de repente não conseguia respirar. Ela olhou para seus
pés e olhou em volta, sem saber para onde ir para evitar ouvir o que
ela soube instintivamente que Alexa diria. O que tinha acontecido?
Que raio de repente a tinha atingido para mudar o coração de Alexa?
― Concordamos que, na ausência de qualquer outra opção, o
meu melhor curso é casar. Ele e eu discutimos, ele...
― O que? Quando?
― Hoje, ― disse Alexa, tomando um pouco de surpresa. ― Esta
tarde. Por que você pergunta?
― Somente... continue, ― disse ela firmemente, e apoiou as
mãos na janela.
― Não há realmente muito a dizer, não é? Eu sei que você teria
preferido me colocar na casa de uma velha viúva, longe da sociedade,
mas eu prefiro isso. Pelo menos poderia ter alguma aparência de uma
vida.
Ela teria uma vida? E o senhor Tolly?
― Harry parece bondoso e é fisicamente bonito...
― Você tem que chamá-lo de Harry? ― Olivia interrompeu. ―
Mesmo eu não sou tão familiarizada com ele, e eu o conheço há muitos
anos. Eu devo tê-lo visto todos os dias da minha vida de casada e eu
nunca o chamei pelo seu nome.
― Se eu for me casar não posso chamá-lo de senhor Tolly para
sempre, ― Alexa disse com um encolher de ombros. ― E
concordamos que devemos colocar-nos em termos familiares se há
alguma esperança de que possamos crescer em afeto.
Oh, aquele punhal em seu coração, esfaqueando de maneira
limpa por todo o caminho. Olivia fechou os olhos. ― Ele disse isso?
― Essas não foram suas palavras exatas, mas era certamente o
seu sentimento.
Assim, enquanto Olivia estava deitada no chão do berçário
lutando contra um desejo irresistível em relação a ele, lamentando-o,
Harrison Tolly estava prometendo um futuro para sua irmã.
Seu coração tinha sido rasgado.
― Livi, por favor, ― disse Alexa atrás dela. ― Estou tentando
fazer o que queria.
Não havia nada que Olivia pudesse dizer. Alexa estava fazendo
exatamente o que Olivia tinha aconselhado que ela fizesse. Mas isso
foi antes desta tarde, quando Olivia tinha conhecido um momento de
felicidade tão pura e profunda. No entanto, foi apenas um momento,
ela tinha ficado no barco errado boiando no rio de sua vida há vários
anos. O barco que ela queria era na margem oposta, mas a corrente
era muito forte, e não havia meio de alcançá-lo.
Recomponha-se! Olivia engoliu. Ela apertou a mão contra a
vidraça fria e disse:
― Na verdade, é a melhor opção que temos. E eu acho que você
vai ser feliz apesar das circunstâncias. O senhor Tolly é... ele é ...― Ele
é tudo. Era sua segurança, a única pessoa que ela poderia ansiar para
ver todos os dias. Ele era riso e luz em seu mundo escuro. Ele era seu
sonho feliz.
― Bem, no momento, ele está bem aqui, ― Alexa disse
casualmente.
Olivia não o tinha ouvido entrar, mas quando ela virou, lá estava
ele, de pé ao lado da porta, as mãos cruzadas atrás das costas. Ele
parecia ... viril. Desejável. E doeu.
― Minha irmã estava preste a dizer alguma cortesia sobre você,
― disse Alexa e virou-se para o aparador para retomar o exame das
garrafas. ― No entanto, ela parece encontrar-se um pouco com a
língua presa com a mudança, do meu coração. Eu pareço ter
surpreendido a todos hoje.
― Foi uma surpreendente mudança de eventos, com certeza. ―
O olhar do senhor Tolly estava fixado em Olivia.
― Não se pode dizer que Alexa Hastings não vê seu caminho em
torno do que é melhor, ― disse Alexa, e derramou água. ― Uísque,
ou... porto, talvez, Harry? Acho que eu deveria saber o que você bebe
durante a noite.
― Uísque, ― Olivia disse suavemente.
Alexa olhou para ela com surpresa. Ela sorriu. ― Eu suponho
que você está se referindo a preferência de Harry e não a sua?
― Um Uísque vai fazer muito bem, ― disse o senhor Tolly, e
partiu para o aparador. ― Permita-me.
Alexa se afastou. ― Você já se recuperou de seu espanto, Livi?
Poderíamos falar dos arranjos agora?
Arranjos. Isso soou assim... final. Olivia se afundou em uma
cadeira.
― Eu estava pensando, talvez, uma coisa pequena, aqui em
Everdon Court, ― Alexa disse levemente.
― Impossível, ― Olivia murmurou.
― Porquê? ― Perguntou Alexa.
― Penso que o marquês não gostaria, ― o senhor Tolly disse
uniformemente. ― Talvez você possa pensar em algo menor.
― Quão pequeno?
― Nós dois.
Alexa bufou. ― Sem nem mesmo Olivia? Ou um amigo ou dois?
― Eu acho que, dada a natureza da nossa... união, ― disse o
senhor Tolly, como se procurasse a palavra certa, ― devemos ir para
a Escócia e cuidar das coisas discretamente.
Meu Deus, ele queria fazê-lo imediatamente. Olivia desviou o
olhar. Ela não podia olha-lo agora e pensar nele fugindo para a Escócia
para se casar com Alexa.
Nem poderia Alexa, aparentemente. ― Escócia, ― Exclamou ela.
― Eu tinha pensado que poderíamos fazer isto o mais normalmente
possível. Não fugir!
― Devemos retirar-nos do público. ― O senhor Tolly parecia
calmo, mas Olivia podia ouvir um pouco de tensão em sua voz.
Alexa não teve uma oportunidade para reclamar, pois Brock
entrou naquele momento e informou que o jantar estava servido.
― Graças a Deus. Estou faminta. Podemos continuar esta
conversa durante o jantar? ― Perguntou Alexa, e saiu atrás de Brock,
aparentemente alheia à hesitação de Olivia e a tensão na mandíbula
do senhor Tolly.
O senhor Tolly não estava desatento, no entanto. Seus olhos se
moveram sobre o rosto de Olivia como se não a tivesse visto em um
bom tempo. Ele olhou como se quisesse falar. Olivia podia sentir suas
defesas já explodindo, o aquecimento do corpo.
Ele estendeu o braço para ela como tinha feito mil vezes antes.
Olivia hesitou; tinha medo de tocá-lo, mas também com medo de
deixar a oportunidade passar, para, pelo menos, um pequeno contato.
Ela colocou a mão levemente em seu braço. Ele imediatamente cobriu a
mão dela com a sua, deslizou seus dedos por baixo dos dela, e
levemente acariciou o interior de seu pulso.
Era quase nada, mas reverberou através de seu corpo. De
alguma forma, ela conseguiu caminhar até a sala de jantar ao lado
dele. Com seu olhar para a frente, o senhor Tolly acariciou seu pulso
por esse longo corredor.
Na sala de jantar, Alexa já estava sentada. O senhor Tolly
entregou Olivia em uma cadeira.
― A sopa cheira divinamente, ― Alexa disse enquanto Brock
servia sopa em suas tigelas. Ele saiu, carregando a terrina.
Alexa pegou na colher e provou o prato, em seguida, colocou a
colher para baixo. ― Olivia, ― disse, enquanto preguiçosamente
traçou o padrão de rolagem no prato, ― você, sem dúvida, está de
acordo com Harry que é melhor ir para a Escócia, mas não irão todos
em Everdon especular sobre a necessidade de tanta pressa? Penso
que iria produzir mais escândalo onde podemos evitá-lo.
― Não faria a menor diferença se casássemos na Abadia de
Westminster, Alexa, ― o senhor Tolly disse pacientemente. ― No
momento em que os votos forem ditos haverá especulação, uma vez
que existe apenas uma razão para se casar com tanta pressa. Além
disso, não vai demorar muito antes que qualquer um que te ver irá
entender a razão para isso.
Alexa corou e olhou melancolicamente para Olivia. ― Tudo bem,
eu entendo, mas este é o único casamento que eu jamais terei.
Gostaria pelo menos um pequeno affaire.
― Você pode ter o seu pequeno affaire em nossa volta, ― o
senhor Tolly disse com firmeza. ― Quando estiver casada e, portanto,
incapaz de causar mais danos à reputação de todos ao seu redor.
Alexa olhou novamente para Olivia como uma criança à procura
de uma resposta diferente de outro pai. Olivia queria nomear mil
razões pelas quais Alexa e o senhor Tolly não poderiam se casar. Mas
agora não era o momento para lamentar. Ela poderia cuidar de suas
feridas mais tarde.
Ela colocou a colher para baixo. ― Talvez haja uma maneira de
lançar esta situação para que não pareça inteiramente... vergonhosa,
― disse ela com cuidado.
― Eu gostaria de receber quaisquer sugestões, ― o senhor Tolly
disse secamente.
Olivia olhou para o prato de sopa. ― Eu acho que nós
simplesmente podemos dizer que o dois tiveram a oportunidade de se
conhecer e foi amor à primeira vista. ― Ela conseguiu dizer isso sem
engasgar com as palavras. O senhor Tolly desviou o olhar. ― E que,
como nós não tínhamos ideia de quanto tempo o marquês estaria
longe, você não poderia suportar a espera. É uma ... história de
amor. ― Seu coração estava quebrando. ― Poderíamos convidar
algumas senhoras para o chá e plantar a semente, ― acrescentou como
um adendo. Meu Deus, ela estava realmente dizendo estas palavras?
Alexa refletiu sobre isso, então sorriu. ― Eu acho que é uma
excelente ideia, Livi.
― Pronto, então, Alexa, você tem a sua explicação, ― disse
Tolly.
― Agora vamos discutir quando vamos fazer a viagem para
Gretna Green.
Alexa e o senhor Tolly passaram a falar deste assunto enquanto
Olivia se virou para sua refeição. Ela notou que a familiaridade entre o
senhor Tolly e Alexa não se limitou aos nomes; eles tinham atingido
algum tipo de amizade na casa da viúva, o tipo de conhecimento onde
eles poderiam ter uma discussão íntima como esta sem inibição. Olivia
tentou se convencer de que a familiaridade deles era boa e
necessária. A situação era difícil o suficiente como era; eles precisavam
de um certo conforto um com o outro para enfrentar isso.
Quando Olivia havia se casado com Edward, ela tinha sido
tímida, incerta quanto a fazer perguntas, quanto a dar sua opinião.
Como resultado, ela sempre se sentia ansiosa em torno dele.
Que jovem tola ela tinha sido.
Que mulher endurecida estava agora.
Sua perda particular e profundamente pessoal correu através
dela, inchando em cada veia. O senhor Tolly tinha sido seu amigo, seu
confidente, e ela nunca o teria novamente. Por causa de seu beijo,
ela agora seria sempre cautelosa, cuidadosa para não revelar muito.
Por causa de Alexa, Olivia nunca poderia revelar seus verdadeiros
sentimentos para ninguém. Era um inferno de um lugar para se estar,
com medo de estar sozinha em companhia do senhor Tolly, e com
medo de que ela nunca estaria novamente. A pior tortura de todas
seria assistir sua irmã crescer e ter os filhos do senhor Tolly,
enquanto ela definhava em Everdon Court com um bruto como marido.
― A refeição não está ao seu gosto, Livi?
― Perdão?
Alexa olhou para o prato de Olivia. ― Estamos falando sobre os
arranjos, e você está aí olhando para o seu cordeiro. Eu concordo que
não é o melhor assado que Foster fez.
― Não há nada de errado com o cordeiro. Eu simplesmente não
tenho muito apetite.
― Oh, Livi, ― Alexa disse simpaticamente. ― Eu sei como isso é
difícil para você, mas eu quero colocar tudo em ordem,
imediatamente. ― Ela acariciou a mão de Olivia.
Olivia esboçou um sorriso, olhou para seu prato, e imaginou
lançando-o através da sala. ― Você decidiu quando vai então? ― ela
se forçou a perguntar.
― Ainda não. Vou precisar de pelo menos alguns dias para
reunir meu juízo e montar um enxoval, ― disse Alexa.
Um enxoval. Bom Deus.
― Eu diria que pelo final da semana, ― o senhor Tolly disse
calmamente.
― Tão cedo? ― Perguntou Alexa, forçando um sorriso.
― Esqueceu que você concordou em cumprir as minhas decisões
até que estejamos certos de que o escândalo foi reduzido a um
mínimo absoluto?
― Eu não percebi que se estendia ao meu casamento.
― Começa com o seu casamento, ― ele lembrou.
Alexa abriu a boca para argumentar, mas fechou-a rapidamente.
Ela olhou para Olivia a partir do canto do olho. ― Tudo bem então.
Para assegurar-lhe que serei tão obediente como qualquer mulher
deve ser, eu concordo.
O senhor Tolly não disse nada. Ele voltou sua atenção para a
sua refeição. Olivia não podia deixar de notar que ele não tinha
comido muito, tampouco. Alexa, parecia inteiramente alheia ao mal
estar em volta da mesa. Ela estava muito ocupada em sua tentativa de
colocar o máximo de dignidade e pompa em seu casamento, dadas as
circunstâncias infelizes, e tagarelando para preencher o silêncio em
torno dela.
Felizmente, a tagarelice de Alexa deixou Olivia para seus
próprios pensamentos. Quando o prato principal tinha sido retirado e
Brock retornou para servir pudins ante eles, Olivia olhou para cima e
seu olhar encontrou o do senhor Tolly. Ele estava olhando para ela. O
coração de Olivia afundou mais profundamente em seu desespero. Ele
a conhecia bem, este homem. Ele a conhecia melhor do que ninguém.
E como se para tranquilizá-la de que ele a conhecia, o senhor
Tolly sorriu para Olivia. Era o mesmo sorriso tranquilizador que lhe
tinha dado quase todos os dias durante os últimos seis anos. O
mesmo tipo de sorriso que a fez amá-lo.
Capítulo Catorze
Depois do jantar, eles se retiraram para o salão. Para quê?
Harrison pensou. Mais conversa de enxovais e chás que já tinham
colocado seus cabelos em pé? Ele estava perto da lareira, contando os
minutos até que ele pudesse escapar desta noite interminável.
Ele podia ver que Alexa estava tentando envolver o casamento a
volta dela como uma corda, algo seguro para agarrar, mas ela ainda
não parecia compreender plenamente quão perigosa era sua situação.
Ela falava sobre isso como se Harrison tivesse ajoelhado e pedido
para se juntar a ele na felicidade conjugal. Mesmo agora, ela estava
falando seriamente para Lady Carey acerca de um vestido. Estava tão
concentrada no que ela poderia usar que não percebeu o quão
distante Lady Carey estava.
Harrison tinha claramente expressado suas reservas para Alexa
depois de sua surpreendente virada. Ele tinha sido franco que o
casamento não era seu desejo, mas necessário para salvá-la de
banimento, salvar sua irmã da ira do marquês, e depois salvar a
família Carey do escândalo prejudicial. Alexa lhe tinha assegurado que
entendia, e que ela estava muito grata por sua generosidade e sua
ajuda, e que iria se esforçar para ser tão boa esposa como ele
merecia.
O que ele merecia era ser chutado na cabeça por ter beijado Lady
Carey no jardim. Ele tinha tomado uma liberdade impensável com ela,
mas aqui ele se levantou, ainda incapaz de tirar os olhos dela. Aquele
beijo tinha feito nada menos, que fazer sua fome absoluta por ela
crescer. Harrison tinha guerreado com ele próprio durante todo o dia,
imaginou-se dentro de sua quente e apertada envoltura, suas pernas
ao redor de sua cintura, seus olhos brilhando com o prazer carnal que
a ela havia sido negado por tantos anos, e que ele seria muito feliz de
mostrar a ela. Maldição, seu corpo começou a inchar apenas com a
ideia de lhe dar esse prazer.
Ele virou as costas e fingiu olhar para alguns livros nas
prateleiras, forçando para baixo o seu desejo.
Lady Carey estava na janela, olhando para a escuridão, como se
pudesse saltar para ela a qualquer momento. Ele não poderia culpá-
la; sua vida estava girando descontroladamente. Da mesma forma a
dele. Para um homem que tinha feito o seu próprio caminho neste
mundo, que tinha sido dono de seu destino em uma idade muito
precoce, ele agora era um escravo de uma situação que não era de
sua vontade, mas uma em que tinha entrado precipitadamente. Ele
quase podia ouvir o portão de ferro fechando atrás dele e a chave
girando na fechadura. Ele teria gostado de se juntar a Lady Carey na
janela e contemplar também a possibilidade do salto.
Então, de repente, ou talvez não tão de repente, pois Harrison
tinha deixado de ouvir o que estava sendo dito ― Alexa esticou os
braços acima da cabeça e bocejou. ― Por favor, desculpe-me, mas
estou muito cansada.
― Vou levá-la para a casa da viúva, ― Harrison disse
instantaneamente, ansioso para estar longe desse quadro
angustiante.
― Eu acho que estou muito cansada para caminhar até lá. E
realmente, eu deveria voltar para a casa principal, enquanto o marquês
está longe, eu não deveria? Não creio que Rue se qualifica como uma
acompanhante adequada. Posso, Olivia? ― Alexa bocejou novamente.
― Humm? ― disse Lady Carey, afastando-se da janela.
― Eu prefiro dormir aqui.
― Sim, claro, ― Lady Carey disse com um leve mas desdenhoso
movimento de seu pulso. ― O que preferir.
― Obrigada, ― disse Alexa, e levantou-se, cruzando a sala para
beijar o rosto de sua irmã. ― Boa noite.― Ela sorriu para Harrison
quando atravessou a sala, com as mãos pressionadas contra suas
costas como se doesse.
Ele e Lady Carey observaram-na sair da sala em silêncio, ambos
enraizados no chão. O pulso de Harrison aumentou quando ouviu os
passos de Alexa nas escadas. Ele tinha um momento, se isso, para
explicar o que tinha acontecido depois que ele deixou o jardim. Ele
virou-se para Lady Carey.
Seus olhos azuis arregalaram. Ela pôs a mão na nuca, um gesto
que ela fazia quando se sentia inquieta. Ela olhou para a porta aberta
e de repente começou a andar em direção a ela, andando
rapidamente. ― Se você me desculpar, senhor Tolly, mas devo
desejar-lhe uma boa noite também.
Harrison não ia permitir isso, moveu-se rapidamente, batendo a
porta e fechando-a com firmeza. Deu uma volta, de costas para a
porta. ― Você está tentando escapar de mim?
― Sim, ― exclamou ela, e virou, se afastando dele.
― Lady Carey... Olivia, ― disse ele firmemente.
Ela manteve-se de costas para ele, mas seus ombros levantados
com uma respiração profunda.
― Olivia, ― disse ele de novo, sua voz mais suave.
― Você não deve me chamar assim.
― Pelo menos permita-me explicar...
― Não há nada para explicar, ― ela disse, e moveu-se
novamente, deliberadamente colocando uma cadeira entre eles. Ela
colocou as mãos de cada lado do rosto, pressionando os dedos em
suas têmporas.
― Eu acho que talvez você esteja com medo porque eu te beijei
no jardim, e, em seguida, virei-me e acertei-me com sua irmã, ―
disse ele, avançando com cuidado. ― Não, Olivia. Ela me pegou
completamente de surpresa, como estou certo de que fez com você.
― Sr. Tolly , ― ela gritou, erguendo sua mão. ― Não fale dela!
Harrison impulsivamente estendeu a mão e pegou a mão
dela. Ela puxou, mas ele não quis liberá-la. ― Harrison, Olivia. Meu
nome é Harrison.
― Afaste-se, ― ela disse com firmeza, e tentou puxar a mão e se
afastar dele, mas Harrison pegou seu rosto com os dedos e forçou-a
olhar para ele.
― Olivia, ouça-me...
― Não diga o meu nome, ― ela gritou e gemeu como se as
palavras tivessem tomado o folego dela.
― Como posso fazê-lo? ― ele perguntou, seu olhar patinando
sobre o rosto, tão mais bonito do que qualquer outro que ele já tinha
visto. ― Eu te beijei, e eu...
Ela bateu-lhe no peito com o punho. ― Não diga isso! ― Ela
disse, sua respiração vindo em golpes. Ela bateu-lhe novamente. ―
Você me entende? Não diga, Harrison Tolly! Proíbo-te de dizer meu
nome, porque cada vez que você diz, eu despedaço.
Harrison agarrou-a em seus braços e segurou-a firmemente. Ela
agarrou os braços dele, seus dedos enrolando no tecido com a força
de uma mulher se afogando.
― Não diga, nunca mais diga, — ela implorou. ― Não queria que
isso acontecesse, mas agora que aconteceu, eu não posso suportar. Eu
não posso suportar isso, ― ela disse novamente, e bateu no seu braço
com o punho.
― Acalme-se, ― ele tentou tranquiliza-la. ― E pelo amor de
Deus, respire. ― Ele a segurou, seu rosto pressionado a têmpora
dela, até que pode sentir sua respiração calma e firme. Ela não soltou o
aperto de seu casaco, mas ele sentiu seu corpo começar a amolecer, a
tensão aliviando de seu corpo. Por fim, ela virou a cabeça, encostou o
rosto no ombro dele, e suspirou.
Ficaram assim um longo momento até que ela se endireitou,
limpou debaixo de seus olhos com uma junta, e respirou estabilizada.
― Bem, ― disse ela. ― Isso foi um pouco estranho.
― Não foi.
Ela sorriu e tocou seu rosto. ― Foi. Você sabe tão bem quanto eu.
Sr... — Ela hesitou. ― Harrison, ― disse ela com cuidado, testando o
seu nome. ― Não tenho pensado em outra coisa que não seja o que
aconteceu no jardim. Não queria que isso acontecesse. Eu nunca
sonhei que algo assim poderia acontecer. Mas minhas defesas me
abandonaram, e senti... eu senti... ― Ela fechou os olhos, os lábios
ligeiramente afastados com a expiração de sua respiração.
Harrison se preparou. Esperava que ela dissesse que se sentiu
culpada ou comprometida, enquanto ele tinha sido levantado por esse
beijo. Ele sentiu-se subir naquele beijo, e não iria pedir desculpas por
isso. Não para ela, nem ninguém.
― Eu me senti viva, ― ela disse, e abriu os olhos.
Ele piscou com surpresa. Seu coração começou a inchar no
peito.
― Olivia...
― Mas não tenho o direito de me sentir assim, ― exclamou ela,
e se soltou dele. ― Eu sou casada e quando pensei no que
aconteceria se o meu marido, meu marido, o homem a quem jurei a
minha fidelidade, para melhor ou pior. Você sabe, você sabe melhor do
que ninguém que foi para o pior. O que aconteceria se ele descobrir
aquele beijo? ― Ela exclamou com angústia.
― Não seria bom para nenhum de nós, ― ele concordou. ― Eu
nunca quis que isso acontecesse, Olivia. E isso não vai acontecer de
novo; Eu te dou minha palavra. Vou manter distância de você.
― Eu não quero sua distância, ― ela gritou. ― Deus me ajude,
sei que deve manter, mas eu não quero isso.
Harrison está se sentindo completamente perdido. Ele não
queria manter distância, também, mas não tinha escolha. Estar perto
dela era cortejar o desastre; ele já tinha descoberto que a parede que
tinha construído em torno de seu coração ao longo dos anos era tão
fraca como um castelo de cartas.
― Diga-me o que você quer e eu vou fazê-lo, seja o que for, ―
disse ele. ― Eu vou ajudá-la de qualquer maneira que puder.
Ela fez um som de frustração. ― Se pudesse me ajudar, você
teria feito isso há muito tempo. Estou além da ajuda.
A verdade nessa afirmação cortou-o ao meio, o fez sentir como
metade de um homem. Ele não podia salvar a única pessoa que
significava mais para ele do que qualquer outra. Harrison empurrou os
dedos pelo cabelo e desesperadamente procurou o equilíbrio. A única
coisa que sabia era que queria tocá-la de novo, para levá-la em seus
braços e em sua cama.
― Você sabe o que eu realmente quero? ― Perguntou ela, sua
voz suave e sem fôlego.
― O que? Diga-me, e eu vou dar a você, ― disse ele
sinceramente.
― Quero o que nunca poderei ter, eu quero você, Harrison.
Ele prendeu a respiração. Foi a última coisa que ele pensou
o u v i r dela. Uma semana atrás, teria se alegrado com sua
declaração. Ele teria a levado para longe de Everdon Court, tão longe
quanto poderia levá-la. Mas agora... agora tudo era diferente. Ele
tomou-lhe as mãos, o olhar em seus dedos finos.
― Surpreendeu você, não foi? ― Disse ela. ― Não pode
imaginar como eu vim a depender de você. Tem sido minha rocha
esses anos, Harrison. Você é o único que me manteve respirando.
Seu coração apertou. Que triste par eles eram. Ele ergueu as
mãos dela e beijou-lhe os nós dos dedos. ― Essas palavras enchem
meu coração com igual alegria e desespero. São palavras que nunca
me atrevi a sonhar em ouvir de você.
―E hoje, ― ela disse ― hoje, eu conheci alguns momentos
de felicidade. Não há palavras para descrever como devastada estou
por saber que eu nunca vou sentir isso de novo.
― Se eu soubesse, ― disse ele. ― Você deve saber, deve ter
percebido que eu a adorava nesses muitos anos, a partir do momento
em que apareceu pela primeira vez em Everdon Court usando aquele
vestido amarelo ensolarado e pérolas.
Olivia olhou com surpresa. ― Você se lembra o que eu usava?
― Eu me lembro de tudo, ― disse ele. ― Lembro-me do dia em
que foi cavalgar, e voltou com galhos em seu cabelo e sem chapéu,
perdeu quando tentou atravessar um galho baixo. Você riu e chamou de
ousadia de um tolo. Pensei que você era tão vibrante.
― Oh, Harrison.
― Eu lembro de um dia de verão quando você organizou um chá
no gazebo, e a senhorita Shields contou uma história que te fez rir tão
profundamente que suas mãos estavam pressionadas contra seu
abdômen e as lágrimas encheram seus olhos.
― Como pode lembrar? ― Ela perguntou, sorrindo com prazer.
― Você não estava lá.
― Eu vi você de uma janela aberta no estúdio. Lembro-me da
ocasião de seu primeiro aniversário, e o vestido prateado que você
usava. Parecia uma princesa, e no meio da dança, você olhou para
mim e piscou.
Ela sorriu suavemente. ― Você parecia um pouco abandonado,
de pé sozinho.
― Não abandonado, ― ele disse, seu olhar no dela. ―
Hipnotizado. Sempre extasiado.
Olivia se ruborizou. ― Por mim? Eu sempre me senti tão
desinteressante.
― Você? ― Ele balançou a cabeça. ― Nunca. Você se lembra de
uma noite, dois ou três anos atrás, quando a neve pesada caiu e nós
5
jogamos écarté ? Você me derrotou e tomou três coroas de mim.
― Você ficou tão zangado sobre isso, ― disse ela, e sorriu para
ele. ― O que mais se lembra?
O sorriso de Harrison desbotou. ― Lembro-me da alegria que
irradiava de você, como a luz solar, quando acreditava estar grávida,
e o desespero que escureceu seu rosto depois. E eu não podia... ―
Ele engoliu em seco. ― Eu era impotente para remover a dor.
Esse lembrete triste fez Olivia desviar o olhar e puxar a mão.
― Você se lembra de tanto.
― Lembro-me de tudo, Olivia. Cada momento, porque eu a
admirei cada vez mais ardentemente a partir do momento que eu a vi
pela primeira vez.
― Por que nunca me contou?
― Contar-lhe? ― Ele sorriu e balançou a cabeça, roçou os dedos
contra seu rosto como tinha desejado fazer mil vezes. ― Como eu
poderia? Como você diz, é uma mulher casada. Você está acima de
mim na sociedade, no matrimônio, em todos os sentidos que uma
mulher pode estar acima de um homem. E eu estimava-a demais para
colocá-la em perigo com os meus sentimentos. Até hoje. Hoje foi
muito além do meu poder resistir a você.
― Harrison... fui eu que não pude resistir, ― ela murmurou. Seus
olhos começaram a brilhar com lágrimas. ― Eu desejaria... Eu gostaria
de poder roubar um momento no tempo. Gostaria de poder esculpir
alguns dias de felicidade, só para mim, com você. Infelizmente, ―
disse ela, seu olhar caindo para sua boca, ― isto não é a minha sorte
na vida. Ou na sua. É imperativo que o que aconteceu entre nós hoje
não volte a acontecer.
Mas seu olhar desmentia as palavras que ela falou. Seu olhar não
deixou sua boca, e estava aquecendo seu sangue. Ele tocou os dedos
nos dela, entrelaçando-os.
― É melhor para todos os envolvidos, ― disse ela, como se
estivesse tentando convencer a si mesma. A ponta de sua língua sair
para molhar seu lábio inferior, e o pulso de Harrison começou a
acelerar. Foi um ato supremo de autocontrole manter as mãos longe
dela.
― Temos de nos esforçar para colocar isso atrás de nós, ― disse
ela. ― Nós devemos. Mas Harrison, não posso viver sem sua amizade.
Se não tiver ao menos isso, eu perecerei aqui nesta velha casa e neste
casamento escuro. Prometa-me. Prometa-me que vamos sempre ser
amigos.
Uma pequena rachadura serpenteava o seu caminho através do
coração de Harrison. Sem dúvida, ela sempre seria sua amiga. A ideia
de que ele nunca mais teria sua amizade era cruelmente
decepcionante. Parecia um pouco como se tivesse que correr todo o
percurso, mas caísse um pouco antes da linha de chegada. Era um
pedido insatisfatório de um desejo que já tinha sido aberto para os
céus. Mas a expressão de Olivia era tão séria.
― Não só vou ser seu amigo, como estarei sempre por perto. E
eu sempre vou te segurar no meu coração, Olivia. ― Ele ergueu a
mão dela e apertou-a contra o peito.
― Oh, querido, ― ela disse, com um sorriso trêmulo. ― Como
podem tais palavras ternas picar assim? Meu bom e fiel amigo.
Ela estava tentando subir acima de seus sentimentos e colocar
seu respeito um pelo outro em seu lugar, mas Harrison não os queria
lá. Ele queria que ela fosse sua. E se perguntou como iria abafar
aquele desespero, que devorava sua alma.
Por ela, no entanto, faria. Ele sorriu. Se inclinou. E, ele deixou seus
lábios roçar sua têmpora. Inalou o cheiro dela, a boca em seu cabelo,
sua mão na dele. Ele podia sentir o sussurro de sua respiração e o
calor do seu suspiro em seu pescoço. Que percorreu por ele,
espalhando minúsculas fagulhas através dele, agarrando em suas
veias e ossos.
Estava relutante em deixá-la, relutante em deixar este momento
para trás, mas soltou sua mão e afastou-se da única mulher que ele
adoraria.
Quando chegou à porta, Olivia disse.
― Harrison?
Seu coração encheu-se de esperança tola; ele se virou.
― Eu já sinto sua falta.
Tomou cada pedaço de sua força para sair pela porta, para
deixá-la parada ali. Olivia, doce Olivia. Ele andou, e não olhou para
trás. No entanto, seu coração ainda estava apertado, ainda em busca
dela, e sentiu a dor aguda de a ter perdido quando nunca a tinha tido.
Capítulo Quinze
Olivia acordou na manhã seguinte com um sobressalto. Nesse
estado entre sonho e consciência, sentiu um peso invisível caindo
sobre ela e disparou para cima, olhando ao redor da sala.
Não havia nada fora do comum. Tudo parecia tal como estava
na noite passada.
Olivia apertou a mão no peito. O que a tinha despertado, ela
percebeu, era uma tristeza extraordinária aliada a raiva e frustração
com todos e tudo sobre ela.
Sentia falta de Harrison mais do que acreditava que era possível.
Ela escondeu o rosto entre as mãos. Tinha ficado acordada por
um longo tempo na noite passada com a cabeça dolorida, seus
pensamentos sobre como Alexa tinha se voltado para esse casamento,
e de alguma forma o abraçado completamente, querendo até mesmo
um casamento de fato. Foi de cortar o coração. Completamente,
totalmente de cortar o coração.
Mas Olivia não poderia culpá-la por isso. Seu próprio casamento
tinha sido arranjado, e ela abraçaria o dela também. É o que as
mulheres jovens na sua posição faziam, foram treinadas para querer o
melhor arranjo na fortuna e posição social, não o melhor arranjo de
afetos.
Olivia levantou a cabeça e recostou-se contra os travesseiros.
Aos dezoito anos de idade, tinha sido surpreendida quando o marquês
de Everdon tinha manifestado interesse depois de uma ceia em
Everdon Court. Edward tinha enviado Harrison Tolly para negociar seu
dote. Lembrou-se de como ele tinha montado até a sua casa, com a
capa voando atrás dele. Ele pulou de sua montaria e varreu o chapéu
fora de sua cabeça e tinha sorrido para Olivia e Alexa, que estava
atrás de Lorde Hastings na entrada.
Seu padrasto o havia trazido para sua casa, ofereceu chá.
Harrison tinha se sentado à mesa de chá pequena, a xícara parecendo
um brinquedo em sua mão grande.
― Se me permite, senhorita Hastings, ― ele disse a Olivia, ― Lorde
Carey é um homem de sorte. ― Olivia lembrava corar de prazer e o
sorriso que ele lhe dera. Ela pensou que ele era bonito e charmoso.
Acreditava que Harrison era um bom presságio, um presságio do que
estava por vir em Everdon Court. Ela acreditava que sua vida estava
prestes a florescer, como um botão de rosa, pétalas esticando,
alcançando tudo o que o mundo tinha para oferecer.
Meu Deus, como foi ingênua.
Mas Olivia supôs que Alexa deveria estar sentindo um pouco
disso, a promessa de algo novo, a esperança de um futuro brilhante,
particularmente após o tumulto emocional que ela sofreu.
E Olivia não tinha dúvida de que Alexa teria um futuro brilhante
e feliz com Harrison.
Assim como ela tinha pensado que teria com Edward.
―Tola, ― ela murmurou baixinho e saiu da cama. Caminhou até
a janela e puxou as cortinas, olhando para a luz do amanhecer. Tentou
recordar o momento ou o evento ou mesmo o dia que marcou o início
de sua desilusão. Foi quando ela descobriu a sede de Edward para o
uísque? Ou quando ela percebeu o quão indiferente ele era em
relação a ela, mesmo culpando-a por isso? Foi quando ele
casualmente informou que ela era tediosa, ou quando começou a
controlá-la, querendo saber onde estava e quem ela viu? Era sua total
falta de desejo por ela? Ele nunca quis qualquer coisa, mas apenas
copular como um porco e colocar sua semente nela, em seguida, sair.
Quando Olivia contou para sua mãe, Lady Hastings havia
implorado que ela fosse mais atraente na cama. Mas, por mais que
tentasse, Olivia nunca poderia atraí-lo para qualquer coisa, apenas
para mais raiva.
Foi, talvez, quando ela percebeu que ele tinha uma amante? Oh,
como devastadoramente obtusa ela se sentiu! Eles só estavam
casados há pouco mais de dois anos, quando foram convidados para a
casa do Major Barrow junto com uma dúzia de casais para um longo
fim de semana de caça. Desde o início, Olivia se sentia como se
houvesse algo que todo mundo estava escondendo dela. Parecia não
haver fim para os olhares desviados, ou o sussurro que parava quando
ela entrava na sala. A única pessoa que não parecia sussurrar era a
senhora Bronson, que tinha vindo com seu marido, o senhor Bronson.
Olivia gostou da senhora Bronson. Ela tinha uma animada
conversa, falando das últimas modas em Londres, com quem ela
jantou, e quem era esperado para brilhar na próxima temporada. E ela
parecia muito atenta a Olivia.
Por fim, a senhora Barrow ficou com pena de Olivia e a puxou de
lado.
― Minha querida... não percebeu quem a senhora Bronson é?
― Quem é ela? ― Olivia perguntou inocentemente.
― Pelo amor de Deus! Ela é uma amiga particular de seu
marido.
Ela disse “amiga” de tal maneira que Olivia de repente entendeu.
Ela tinha sido humilhada. Tinha conversando com a amante de Edward
todo o fim de semana, enquanto todo mundo tinha visto.
Em todos esses anos, a única pessoa que trouxe qualquer calor
em sua vida foi Harrison. Ele estava sempre pronto com um sorriso,
um piscar de olhos, uma brincadeira. Estava a mão para jogar cartas
com ela quando não havia nada a fazer em longas noites de inverno.
Ele estava lá para ajudá-la a planejar as noites sociais que ela e
Edward tinham hospedado, para garantir que Everdon Court estava
pronto quando membros da família de Edward chegavam para
estadias prolongadas.
Harrison sempre esteve lá para salvá-la.
Olivia virou longe das janelas com um estalo de sua língua,
irritada com ela mesma. Atravessou o quarto, pegou a escova e
começou a remexê-la através de seu cabelo, fazendo uma careta
quando pegou um emaranhado.
Não era como se Harrison tivesse morrido, pelo amor de Deus.
Estava se casando com sua irmã e ainda seria muito em sua vida. Não
havia nenhum ponto em se deprimir sobre isso. Olivia tinha sofrido
através de muitos anos para ser arrastada para o fundo de seu
desespero agora. Estava sofrendo de desejo inútil, de luto sem sentido.
Ela iria colocar seu melhor rosto e saldá-lo, assim como ela sempre
tinha feito.
Qual seria a melhor forma de derrotar seu marasmo? Um pequeno
sorriso em seus lábios. Ela gostaria de convidar a senhorita
Bernadette Shields de Harkingspur Grange e Lady Martha para
Everdon Court. Ninguém poderia fazê-la rir como Bernie. E ela sempre
incluiu Lady Martha em seus chás, pois a coitada era tão tímida, ela
não tinha nenhuma socialização, se não fosse pelos convites de Olivia
de vez em quando.
Mas a verdadeira razão por que Olivia queria convidar as senhoras
para Everdon Court era porque Edward não poderia tolerar. Ele não
suportava a companhia de alguém a quem não havia selecionado para
Olivia, mas nem ele poderia negar sua amizade com estas duas senhoras
em especial, pois seus pais eram influentes no condado. Se Edward
queria dar a aparência de ser um rei um pouco benevolente neste
canto da Inglaterra, ele teria que permitir a Olivia a companhia delas.
E elas, sem querer, a ajudariam a suportar a perda de Harrison.
Ela mandaria Brock enviar um mensageiro para elas diretamente
depois do café da manhã.

A senhora Lampley enviou Rue da casa da viúva para a casa


principal para lavar a roupa. ― Você não pode usar tanto sabão, Rue,
― ela repreendeu a menina com um aceno de cabeça. ― Ele come a
roupa inteira se colocar em demasia.
― Sim, madame, ― disse Rue.
Rue raramente estava fora da casa da viúva, pois tinha muito
medo de ser acusada de fazer algo errado. Ela andou até o caminho,
tomando seu tempo, feliz por estar na luz solar. Quando chegou às
cozinhas de Everdon Court, não havia ninguém. Havia um prato de
bolinhos sobre uma mesa de madeira, em meio a algumas xícaras de
cerâmica e um saco de farinha. Ela serviu-se de um muffin.
― Rue!
A menina estava tão assustada que deixou cair o muffin. A
senhorita Foster entrou como um furacão, seu avental cheio de ovos.
― O que em chamas você pensa estar fazendo? Você vê alguma coisa
nessa mesa que a convida a ficar à vontade?
Rue olhou para a mesa.
― Não, você não vê, ― a senhorita Foster respondeu por ela. ―
Pegue.
Rue abaixou-se e pegou o muffin. Ela não sabia o que fazer com
ele e enfiou-o no bolso do avental.
― Não pense que pode entrar em minha cozinha e fazer o que
quiser! Isso pode ser o caminho na cozinha da senhorita Lampley,
mas não será tolerado aqui! ― Ainda segurando os cantos de seu
avental, a senhorita Foster inclinou sobre a mesa, prendendo Rue com
um olhar. ― Esses bolinhos são para Lady Carey. ― Ela se inclinou
para trás e começou a colocar seus ovos em uma tigela. ― Espero que
seu apetite vá aumentar muito em breve, se você me entende.
― Ela está com fome? ― Rue perguntou com a boca cheia de
muffin.
― Oh, ela está com fome suficiente,― a senhorita Foster disse,
e riu. ― Fome suficiente para dois.
― Fico com fome assim quando eu me esqueço de quebrar o
meu jejum. Pela tarde, eu acho que eu poderia desmaiar.
Senhorita Foster suspirou com impaciência. ― Não porque ela se
esqueceu de comer, sua pequena simplória. Ela está comendo por
dois.
Rue piscou. Isso foi precisamente o que ela quis dizer. Às vezes,
ela sentia como se tivesse comido o suficiente para alimentar duas
pessoas. A senhorita Foster estalou a língua.
― Um bebê, ― ela sussurrou, e sorriu abertamente. ―Tenha
cuidado para não repetir isso a ninguém, ouviu? O marquês está
viajando e não gostaria desse tipo de conversa que vai e volta.
Rue franziu a testa um pouco. Ela tinha ouvido a senhora Lampley
dizer que a marquesa era estéril. Talvez ela queria dizer algo
completamente diferente.
― Você pretende ficar o dia todo? O que você quer?
― Roupa, ― disse Rue.
― Lençóis! Eu pareço ter a chave para o armário de linho? Vá e
encontre a senhora Perry e fique fora da minha cozinha.
Levou uma meia hora antes de Rue voltar para a casa da viúva,
depois de ter tomado seu tempo descendo ao longo do caminho dos
servos de volta para a casa de viúva. Quando entrou no hall, ela quase
colidiu com a senhora Lampley.
― Oh! Perdão, ― disse ela, mergulhando em uma reverência.
― O que você está fazendo, uma reverência para mim? ― Disse
a senhora Lampley, e levou os lençóis das mãos de Rue. ― Penicos
precisam ser esvaziados. O que é isso?
― O quê? ― Perguntou Rue.
Senhora Lampley assentiu com a cabeça grisalha no colo de Rue.
Rue olhou para baixo; o resto de seu bolinho tinha sido esmagado e
tinha manchado o bolso do avental.
― Sinto muito, ― Ela gritou quando a senhora Lampley franziu a
testa para a mancha. ― Como eu poderia saber que sua senhoria
precisaria de um muffin para alimentar duas pessoas!
― O que? O que você está tagarelando?
― A senhorita Foster disse que os muffins eram para sua
senhoria, pois ela estava comendo por dois, e eu não podia ter um.
A senhora Lampley piscou. E, em seguida, um sorriso iluminou
seu rosto lentamente. ― Bem, bem, bem.
Capítulo Dezesseis
Alexa estava muito enjoada para comer quando acordou e
decidiu que precisava de um pouco de ar fresco. Ela caminhou até a
casa da viúva a fim de recolher algumas coisas, já que ela não tinha
intenção de ficar lá enquanto Edward estava fora.
O dia estava começando a virar cinza e com cheiro de mais
chuva, coisa que não a agradava. A viagem para a Escócia seria difícil
o suficiente na carruagem sem esbarrar em estradas esburacadas. Ela
colocou a mão no abdômen, pensando na criança que carregava.
Talvez ela pudesse persuadir Harrison a esperar mais alguns
dias.
Na casa da viúva, ela estava nos degraus da frente e bateu a
lama de suas botas. Ao fazer isso um mensageiro entrou na pequena
entrada circular. Alexa fez uma pausa e olhou curiosamente para ele.
― Bom dia, senhorita. Eu tenho uma carta para o senhor Tolly,
― disse ele.
― Espere aqui, ― ela disse, e entrou.
Rue e a senhora Lampley emergiram de uma sala quando Alexa
chamou. A senhora Lampley balançou a cabeça e rapidamente passou
para o outro lado, com o braço cheio de roupas de cama. Rue parecia
da mesma maneira como Alexa a tinha visto da última vez, como se não
soubesse o que fazer com ela mesma. Ela olhou com olhos
arregalados para Alexa.
― Oh, ― Disse ela. ― É você, menina.
Se Alexa fosse ser a dona desta casa, ela pretendia fazer
algumas mudanças, começando com um mordomo ou um lacaio,
alguém que soubesse lidar corretamente com as pessoas indo e vindo,
e não ficasse sempre surpreendido por isso.
― Tem um mensageiro lá fora com uma carta para o senhor
Tolly, ― disse Alexa. ― Você pode ir atendê-lo?
― Um mensageiro! ― Rue gritou, aparentemente encantada
com a notícia. ― Eu devo dar aos mensageiros uma moeda quando
eles vêm, ― acrescentou ela, e correu para uma pequena alcova ao
lado da entrada. Não percebendo o pequeno estrado a seus pés, ela
se estendeu até as pontas de seus dedos, a mão quase atingindo uma
tigela na prateleira de cima. Ela conseguiu colocar dois dedos na tigela
e, em seguida, segurou a moeda, voltando-se triunfante para Alexa em
seu caminho para a porta.
― Eu tenho a sua moeda, senhor! ― Rue chamou
orgulhosamente o mensageiro, e saiu.
Alexa revirou os olhos. Desatou a touca e colocou de lado, e
estava retirando sua capa quando Rue chegou por trás, segurando a
carta no alto.
― Onde está o senhor Tolly esta manhã? ― Perguntou Alexa.
― Eu acho que ele saiu, ― disse Rue, franzindo a testa um
pouco enquanto pensava sobre isso. ― Mas eu não posso dizer que ele
saiu para uma cerveja.
― Uma cerveja! Rue, pelo amor de Deus! ― Harry disse,
aparecendo nas escadas acima deles em mangas de camisa e colete.
Ele começou a descer. ― Eu não sai, e nem fui tomar uma cerveja. ―
Ele sorriu para Alexa quando chegou ao térreo. ― Bom Dia.
― Bom dia, senhor, ― disse Alexa, e forçou-se a sorrir.
Harry olhou para Rue de novo, olhando a carta.
― O que você tem aí?
― Uma carta! Um mensageiro trouxe, ― disse Rue. ― Eu dei a
moeda, assim como você disse.
― Assim como eu disse, não é? Então devemos marcar este dia
no calendário, Rue. Isso é uma notícia esplêndida, ― Harry disse, e
estendeu a mão para a carta.
Uma Rue radiante colocou-a na mão.
― Você gostaria de um pouco de chá? ― Harry perguntou a
Alexa. ― Parece bastante úmido lá fora.
― Terrivelmente úmido, ― disse ela. ― Sim, obrigada.
― Irei buscar o chá, então? ― Perguntou Rue.
― Você deve buscar o chá, ― disse Harrison, e deu a Alexa um
pequeno aceno de cabeça quando Rue saiu correndo. ― Venha para o
estúdio.
Alexa o seguiu para o estúdio e aceitou a oferta para se sentar
em uma das cadeiras na lareira.
― Desculpe-me por um momento, por favor, ― disse ele
educadamente, e quebrou o selo da carta.
Alexa observou-o ler, um leve franzido de concentração na testa.
Seu cabelo parecia como se tivesse penteado para trás com os dedos,
e suas calças, de camurça, cabiam-lhe muito bem, na verdade. Ele era
muito bonito, realmente; bem construído e forte, e não muito magro.
Além disso, ele tinha sido educado e gentil com ela, apesar de
todas as dificuldades. Talvez, Alexa meditou, ela tinha tomado a
melhor decisão depois de tudo. Talvez pudesse realmente vir a amá-
lo.
Ela olhou ao redor da sala enquanto ele lia. Eram poucos móveis,
como o resto da casa, e havia tantos livros! Eles estavam empilhados
sobre a mesa e sobre a mesa entre as duas cadeiras. Havia uma
parede de estantes, também, recheada deles. Ela não podia imaginar
o desejo de possuir tantos livros como este, ou a despesa de obtê-los.
Parecia que um ou dois seriam suficiente. Um atlas. A Bíblia, é claro.
Talvez um livro histórico ou científico. O que mais era necessário?
Harry suspirou pesadamente e Alexa virou a cabeça quando ele
jogou a carta sobre a mesa.
― Algo errado?
― Não. ― Ele olhou para a grande janela um momento, o
aperto da mandíbula se fechando. Então pareceu se lembrar que ela
estava lá e sorriu mais uma vez. ― Eu espero que você tenha
descansado bem, ― disse quando se sentou na cadeira ao lado dela.
― Descansei, obrigada.
Ele distraidamente tamborilou com os dedos em um joelho,
claramente distraído. ― Eu acho que hoje deve chover.
Senhor! É isso que eles falariam em companhia um do outro? O
clima? Como descansados estavam?
― Está tudo bem? ― perguntou Alexa.
― O quê? ― Perguntou. ― Sim, está tudo bem.― Seus dedos
pararam de bater. ― E com você também?
― Tudo bem, ― disse ela, sentindo-se irritada agora.
― E como é que se encontra Lady Carey esta manhã? ―
perguntou.
― Eu não desci para o café da manhã. Estava me sentindo um
pouco enjoada.
O olhar de Harry desceu para seu abdômen um momento.
― Recuperada agora?
― Bastante.
― Muito bom, ― disse ele, e olhou para a lareira, mais uma vez.
― Acho que você está certo. Eu acho que a chuva está vindo, ―
disse Alexa, observando-o de perto. ― E estava pensando que talvez
possamos esperar até que a chuva passe, antes de empreender uma
longa viagem.
Harry acenou com a cabeça, mas depois olhou para Alexa.
― Perdão?
― É um longo caminho a Gretna Green, ― disse ela.
― Reconsiderando suas intenções? ― Ele perguntou em voz
baixa.
― Nem um pouco, ― ela rapidamente assegurou. ― Mas acho
que eu não viajo tão bem assim como no passado. ― Ela colocou a
mão em seu abdômen.
Ele balançou a cabeça e se levantou. ― Eu diria que a
capacidade de viajar só se tornará mais difícil para você. Mas vou
considerá-lo. Você não deve se preocupar, Alexa. Tudo ficará bem.
Ela não podia imaginar por que ele pensava assim. A situação
era uma terrível bagunça. Observou-o caminhar até a mesa, pegar a
carta de novo, olhar para ela, em seguida, atirá-la para baixo
novamente.
― Vai ficar tudo bem com a sua Lady X? ― Perguntou Alexa.
Aquilo trouxe sua atenção.
― Perdão?
― Lady X, ― Alexa disse novamente. ― Parece um pouco
distraído, e eu pensei que talvez, você está tendo segundos
pensamentos.
Seu rosto escureceu e Alexa corou. Ela tinha ultrapassado seus
limites. Novamente. E sem querer.
― Talvez você ficasse aliviado ao saber que eu não tenho
nenhuma expectativa, ― disse ela, em uma débil tentativa de suavizar
sua gafe.
Isso pareceu diverti-lo um pouco, a julgar pelo seu sorriso
levemente irônico.
Um estrondo de vidro e metal assustou os dois.
― Oh, Deus! ― Ouviram Rue exclamar.
― O que em chamas é agora? ― Disse. ― Estarei de volta
quando me assegurar de que era apenas um serviço de chá e que a
casa ainda está de pé. ― Ele caminhou com determinação para fora
da porta.
Alexa permaneceu em seu assento um momento. As coisas
pareciam tão tensas entre eles. Como na terra ela iria encontrar seu
caminho com ele? Ela suspirou e se inclinou para trás. Seu olhar caiu
para a carta aberta sobre a mesa. Lá fora, no corredor, podia ouvi-lo
advertindo Rue para ter cuidado, que ela poderia cortar-se.
Alexa se levantou e caminhou em direção à mesa. Olhou
disfarçadamente para a carta aberta. A caligrafia parecia ser a de uma
mulher. Ela inclinou a cabeça e olhou para a assinatura. Lady Eberlin.
Era ela! Esta era a sua Lady X.
Alguém tinha se juntado ao coro de vozes alheias; ela podia
ouvir a calma, a voz profunda de Harry com as duas mulheres
discutindo. Com um olhar furtivo por cima do ombro, Alexa se inclinou
sobre a mesa e examinou a carta.
E então ela leu uma segunda vez.
Quando ela foi até a janela e piscou para fora no dia cinzento, mal
viu alguma coisa. Sua mente estava girando.
Deus do céu. Ela estava à beira de se casar com um homem que
era o legítimo herdeiro da propriedade Ashwood em Sussex, e, se
Lady Eberlin poderia ser acreditada, o direito do título de Conde.
O que significava que ela seria uma Condessa. No mínimo, uma
herdeira. De repente, ela viu como poderia suportar seu
casamento com Harry. De repente, tudo parecia possível.
Capítulo Dezessete
Harrison tinha a sensação de que tudo o que poderia dar
errado nos próximos dias, aconteceu. Lã que tinha sido cortada e
limpa para o mercado tinha sido perdida no trânsito. Uma ponte sobre
um pequeno rio estava perdida em inundações. Harrison recebeu um
aviso de que Lorde Westhorpe tinha uma dívida em atraso de mais de
duas mil libras. E, em cima de tudo isso, ele era o único que poderia
fazer todos os arranjos discretos que eram necessárias para a viagem
para Gretna Green.
Como resultado, Harrison não viu Olivia. Ela manteve-se na casa
principal e ele se manteve em seu posto. Enquanto ele acreditava que
esta era a única maneira que poderia continuar, era angustiante.
Visões dela dançavam em seus pensamentos, tornando a
concentração impossível. Cada voz de mulher, cada riso feminino, fez
seu coração pular com a esperança de que era ela. Ele se decepcionou
uma e outra vez. Quando recebeu a carta de Lady Eberlin,
anteriormente Lady Ashwood, instando-o a tomar o seu lugar de
direito como herdeiro de Ashwood, Harrison tinha brincado com a
fantasia de roubar Olivia e se dirigir para lá. Era um pensamento
ridículo, ele sabia, eles não poderiam se esconder em Ashwood. Ele
estava apaixonado por uma mulher casada, e ela era casada com um
homem muito poderoso. E então havia Alexa. Ele não podia deixar a
menina tola a seus próprios termos. E ele não podia deixar o filho
dela sofrer o mesmo tipo de educação que tinha sofrido.
Mas, por mais curioso que estivesse sobre Ashwood, Harrison
não tinha intenção de levar Alexa lá. Ele não tinha nenhuma intenção
de deixar Everdon Court. Ele nunca poderia dormir novamente se
abandonasse Olivia aqui com o marquês.
Ele nunca conseguiria dormir de novo se não pudesse vê-la,
todos os dias. Tentou imaginar-se em Ashwood, existindo sem ela.
Era impossível de fazer, e depois de dois dias destes pensamentos se
sentia completamente diferente de si mesmo. Ele desejava ver Olivia,
mas a única mulher que ele viu foi Alexa.
Parecia que Alexa tinha feito um avanço emocional. Como se
tivesse tomado sua decisão e agora estava se estabelecendo em seu
futuro papel como esposa de Harrison. Ela passou várias horas na
casa da viúva, foi educada e solícita com ele, e mais de uma vez, se
ofereceu para ajudá-lo de qualquer maneira que podia.
Havia uma outra, uma mudança mais sutil nela que Harrison não
podia deixar de notar, e foi uma que ele não queria encarar. O sorriso
de Alexa estava diferente do que tinha sido; estava mais suave, mais
atraente. Podia-se mesmo dizer, sedutor.
E lá estavam os ocasionais, pequenos toques discretos.
A primeira vez que Alexa o havia tocado, Harrison tinha
instantaneamente endurecido. Ela sorriu, tinha deixado sua mão
escorregar em seu braço, e quando ela tinha pedido licença para sair,
imagens desagradáveis do que estava por vir começaram a girar na
mente de Harrison. Alexa Hastings era uma jovem graciosa, mas
Harrison não podia sentir nada amoroso em relação a ela.
Claro que tinha considerado que, se ele se casasse com Alexa,
precisaria tratá-la como um marido deve tratar uma mulher. Em todos
os aspectos. Incluindo o leito conjugal. Harrison pretendia honrar os
votos matrimoniais que iria tomar... mas esperava um pouco de tempo.
Alguns meses. Talvez alguns anos.
Ele tinha, de alguma forma, que tirar Olivia fora de seu coração
em primeiro lugar. Seria pedir muito? Será que ele não merecia pelo
menos algumas semanas para fazer este sacrifício? Dada a atenção de
Alexa para ele, adivinhou que ela pensaria que era pedir demais, e
estava tornando isto extraordinariamente penoso.
A realidade do seu erro colossal iria desabar sobre ele no dia
seguinte, quando planejava partir para a Escócia se o tempo ajudasse.
Tinha chovido durante toda a semana, mas o sol tinha feito uma
aparência fraca ontem. Alexa estava certa em que a chuva tinha
tornado as estradas difíceis e lentas para viajar, mas Harrison se sentia
ansioso. Ele tinha apenas três dias para resolver o problema de Alexa;
mais do que isso deixaria a gestão prejudicada na ausência do
marquês.
E pelo amor de Olivia, ele tinha que ter isto resolvido e estar de
volta em seu posto antes do marquês retornar, pois sua senhoria
ficaria furioso se descobrisse que Harrison estava ausente e a irmã de
Olívia era a causa.
Infelizmente, hoje tinha amanhecido com o céu cinzento e
pesado. Mas, se a chuva ajudasse, Harrison planejava sair ao
amanhecer.
Naquela tarde, quando Harrison subiu para a casa principal para
anotar as rendas, ele notou uma carruagem de Harkingspur Grange.
No hall, ele tirou seu chapéu molhado e capa e entregou-os para
o mordomo.
― Obrigado, Brock, ― disse ele. ― Estou esperando o senhor
Fortaine. Melhor não permitir que ele entre pela porta da frente, pois
foi tosquiar ovelhas na chuva e isso tem um cheiro peculiar. Nem eu
posso garantir a limpeza de suas botas.
― Sim, Sr. Tolly.
― Quem veio em visita? ― Ele perguntou, curioso.
― A senhorita Shields e Lady Martha, ― disse Brock.
Harrison atravessou o corredor que levava aos escritórios na
esquina da ala sul. A porta do salão estava aberta; ele podia ouvir as
senhoras rindo enquanto ele se aproximava. Viu-as quando passou,
reunidas em torno de uma mesa de jogo. Alexa estava sentada de
costas para a porta, em frente a Lady Martha. Olivia e a senhorita
Shields sentaram-se em ambos os lados dela. Olivia estava sentada na
borda da sua cadeira, o olhar fixo na senhorita Shields, que
aparentemente estava no meio de um conto.
― Em minha palavra, ― Harrison ouviu a jovem dizer enquanto
passava, ― no momento em que Lady Rollingoke viu o senhor Carver
entrar na sala, ela foi atrás dele como um pequeno ganso gordo atrás
de migalhas de pão.
Alexa riu alegremente.
― Sr. Tolly?
A voz de Olivia o pegou desprevenido; Harrison empurrou ao
redor. Ela estava inclinada para fora da porta do salão.
― Olivia, ― ele ouviu o chamado da senhorita Shields. ― Eu ainda
não lhe disse o que o senhor Carver disse às suas perguntas.
― Um momento, por favor, Bernie, ― disse Olivia, e saiu do
salão, caminhando rapidamente para onde Harrison estava. Seus olhos
estavam cheios de desejo; ele podia sentir em seu próprio
coração.
― Alexa me informou que pretende sair na manhã seguinte? ―
ela sussurrou.
Era sua imaginação, ou ele ouviu um mundo de sofrimento em
sua voz?
― Se a chuva der uma trégua, ― admitiu.
― Oh. Quando você vai voltar?
Ele apertou a mandíbula e olhou-a, da cabeça aos pés. ― Em
três dias. ― Os cílios de Olivia vibraram como se tivessem sido
atingidos. Mas ela levantou a cabeça e sorriu. ― Isso me dará tempo
suficiente para encontrar um presente adequado de casamento para
você.
― Olivia...
― Sr. Tolly, estou bastante à vontade, ― disse ela. ― Há muito
tempo, eu aprendi a arte de aceitar as coisas como elas são.
― Então, talvez, você possa ensinar essa habilidade para mim,
pois eu não a domino, por mais que tente.
― É realmente muito simples. Você chora. E então se lembra de
ser grata pelo que tem, e que poderia ser pior. Muito pior.
― Poderia ser pior? ― Ele perguntou baixo.
Dor brilhou nos olhos dela, mas ela continuou sorrindo. ― Sim,
poderia ser pior. Vamos, Sr. Tolly, você sempre foi tão pronto com um
sorriso.
O senhor Tolly. Ela tinha recuado dele. ― Não se pode olhar
para você e não sorrir, Lady Carey, ― disse ele, e sorriu para ela.
Mas há tanto não dito. Eu te amo. Eu sempre te amei. Eu vou
sempre amar você.
― Eu gostaria de vê-lo fora disso, mas...― ela encolheu os
ombros levemente. ― Então, eu desejo-lhe boa sorte ― ela se virou.
Harrison não podia deixá-la ir assim. Ele impulsivamente pegou
seus dedos com os dele. Era uma quantidade infinitesimal do que ele
precisava dela, mas era tudo o que iria arriscar.
Olivia não virou a cabeça. Mas, ela colocou os dedos ao redor
dele e apertou-os com força, em seguida, deixou ir e seguiu em
frente, seus quadris suavemente balançando, com a cabeça alta.
Harrison estava sozinho no corredor, o toque queimando os
dedos, espalhando o calor ímpio de raiva, frustração e pura saudade
através dele.
― Estou certa, Olivia? ― Ele ouviu Alexa perguntar quando ela
entrou na sala.
― Sobre o que, querida? ― Disse Olivia, sua voz clara e
brilhante.
Harrison virou para o outro lado e caminhou para o escritório,
seu coração apertando mais e mais, até que ele desejava que
desaparecesse por completo.

Olivia não tinha ideia do que ela pretendia quando saiu no


corredor até Harrison, simplesmente olhar para ele, ela supôs. Para
ver seus olhos, para ver seu sorriso, do que tinha sentido
lamentavelmente falta esta tarde. Ela não tinha a intenção de dizer o
que disse. Não até que tinha visto a fome em seus olhos, a mesma
fome que estava comendo-a de dentro para fora, e ela tinha percebido
com clareza insuportável que tinha que parar de querer ele. Pelo bem
de ambos.
Era impossível parar de quere-lo, talvez mais ainda agora que
Alexa tinha tido uma mudança tão milagrosa no coração. Sua irmã
estava subitamente conversando sobre o casamento como se Harrison
a tivesse cortejado como qualquer pretendente e, em seguida, pediu-
lhe a mão. E quanto mais Alexa aceitava seu destino, mais Olivia se
sentia sufocada pelo seu. O pássaro na gaiola pequena continuou a
crescer, e ela se apertou contra as barras.
― Você não vai jogar o sua carta, Olivia? ― Perguntou Bernie.
Assustada fora de seus pensamentos, Olivia olhou para a mesa.
Ela jogou.
― Oh, querida, ― disse Bernie. ― Isso não vai fazer-nos nem
um bem, não é?
Olivia olhou para o carta e imediatamente percebeu seu erro.
― Que extraordinário, ― Lady Martha disse quando pegou as
cartas descartadas. ― A senhorita Hastings e eu vencemos
novamente.
― Olivia, eu nunca soube que jogasse tão mal, ― disse Bernie,
olhando para ela com astúcia. ― Você tem alguma coisa em sua
mente? Deve nos dizer o que é, porque a chuva lavou todos as nossas
diversões.
Calor encheu o rosto de Olivia. Ela era tão óbvia?
― Não seja tímida, Livi, — disse Alexa com um sorriso doce. ―
Eu quase não me importo se o mundo inteiro souber disso.
Olivia piscou. O sorriso de Alexa iluminou.
― Devo dizer-lhes, então?
Agora o coração de Olivia apertou. Ela havia dito que iria plantar
uma semente. Certamente Alexa não tinha a intenção de dizer...
― Eu vou casar, ― ela disse alegremente, e virou seu sorriso
para Bernie e Lady Martha.
― Alexa! ― Exclamou Olivia.
Lady Martha parecia atordoada, mas Bernie gritou com prazer.
― Senhorita Hastings! ― Ela agarrou a mão de Alexa, apertando-a. ―
Como é que vocês duas, podem esconder isso de mim? Quem? Quem
teve a sorte de ganhar a sua mão em casamento?
― É realmente a coisa mais incrível, ― Alexa disse
alegremente. ― Quando voltei da Espanha eu só tinha uma coisa em
mente, e que era ver minha irmã.
Oh meu Deus.
― Mas eu conheci outra pessoa aqui, e devo dizer que foi amor à
primeira vista. Bem, segunda ou terceira vista, realmente, como eu
tinha conhecido ele brevemente antes. Mas não tinha tido a
oportunidade de falar com ele, e quando o fiz, fui atingida.
― Não diga que é o senhor Broadbent, ― Lady Martha disse,
parecendo muito pouco à vontade.
― Não, não, ― Bernie perguntou animadamente. ― Não é o
filho do Barão Peterman, não é senhorita Hastings?
― Não, ― disse Alexa, e sorriu. ― É... o senhor Tolly.
Lady Martha engasgou. ― O senhor Tolly, ― ela repetiu,
parecendo chocada.
A senhorita Shields gritou de alegria.
― O senhor Tolly! Oh, eu não consigo nem dizer como isto
alegra o meu coração! Há muito que o admirava, na verdade. Um
homem tão bonito e tão atencioso! E generoso. Você sabe que ele
paga o aluguel para o senhor Gaston nos últimos dois anos?
― O quê? ― Perguntou Olivia. Ela nunca tinha ouvido falar disto.
― É verdade. Estou certa de que ele é muito modesto para falar
disso, mas eu ouvi isso da senhora White. O senhor Gaston machucou
muito o braço colhendo trigo e agora ele é incapaz de fazê-lo. Quando
ele recorreu ao senhor Tolly por um pouco de tempo até que pudesse
encontrar alguém para tocar seu sítio, o senhor Tolly não quis ouvi-lo.
“O que você vai fazer com os seus filhos, senhor”, ― disse Bernie,
agindo como se ela fosse Harrison. ― ”Vá e seja um bom pai para
seus filhos e trabalhe da melhor maneira possível, e eu vou fazer com
que o seu aluguel seja pago”.
― Você não quer dizer isso, ― disse Alexa.
― Sim! Todos na igreja sabem disso. Ele é universalmente
adorado, senhorita Hastings. Você teve muita sorte com este
relacionamento.
Alexa de repente riu.
― Maior do que você sabe.
― E quando as núpcias serão realizadas? ― Disse Bernie. ―
Quando estiver mais quente, espero. Um café da manhã de casamento
é tão triste na primavera úmida.
― Oh, ― disse Alexa. Ela olhou para Olivia, que apenas deu de
ombros. Alexa que desfaça a confusão que ela mesma arrumou. ―
Bem, ― ela disse cuidadosamente, ― O senhor Tolly e eu pensamos
que poderíamos... apenas sair correndo e casar.
Bernie ficou boquiaberta. Lady Martha olhou como se ela
estivesse doente. Olivia suspirou. Era difícil imaginar como Alexa
poderia fazer ficar pior, mas ela tinha acabado de fazer isso.
― O que Alexa quer dizer, ― ela disse calmamente, ― é que nós
não podemos ter certeza quando meu marido vai voltar, e não parece
apropriado que eles residam tão perto.
― Claro, claro, ― disse Bernie. ― Eu entendo o que você quer
dizer. Esta primavera, em algum momento, então?
― A senhorita Peugeot está casando na primavera deste ano, ―
Lady Martha disse, seu ponto perdido em Olivia.
― Nós ainda não decidimos, ― disse Alexa, e se mexeu um
pouco em seu assento.
Olivia queria muito chutá-la em ambas as pernas por ter dito
alguma coisa. A menina nunca pensava antes de abrir a boca tola!
― Mas, naturalmente, vocês deverão estar entre os primeiros a
saber, ― disse Olivia. ― Vamos jogar outra rodada antes de pedir o
chá?
― Por favor, ― disse Alexa, e pegou as cartas para embaralhá-
las.
― Abril é uma bela época do ano, ― comentou Bernie. ―
Quando eu me casar, gostaria de um casamento em abril. Seu
casamento foi adorável, Olivia, mas foi fevereiro, e o dia foi
terrivelmente frio e cinza. ― Ela estremeceu.
― Sim, não foi? ― Olivia respondeu. ― Frio como gelo.
― Senhora.― Brock tinha entrado no salão e inclinou a cabeça
para sussurrar. ― Perdão, mas sua senhoria chegou.
Esse anúncio pegou-a de surpresa, Olivia não estava esperando
por Edward por pelo menos mais uma semana.
― Aqui? Agora? ― Ela sussurrou.
― Sim, madame. Ele, o irmão e alguns outros senhores acabaram
de desmontar no pátio.
― O que é, Livi? ― perguntou Alexa.
― Ah...― ela forçou um sorriso. ― Parece que o meu marido
voltou um pouco mais cedo do que eu pensava.
― Porque ele não pode suportar ficar longe de você, ― Bernie
disse alegremente.
Olivia levantou-se. Tão cedo! Alexa parecia tão atordoada
quanto ela; ela se levantou também.
― Acho que devemos... ?
― Devemos, ― Olivia concordou.
― Mas isso é uma notícia esplêndida, s e n h o r i t a Hastings! ―
Bernie cantou. ― Agora que ele voltou, não há necessidade de pressa!
Você pode esperar até que o tempo tenha aquecido e presentear a
sua família com um casamento lindo de primavera.
Os joelhos de Olivia tremeram um pouco com a ideia de Bernie
dizendo algo parecido a Edward. Ele iria explodir de raiva. Mas, no
momento, sua questão mais premente era cumprimentá-lo e a seus
convidados, pois se ela não estivesse na mão para fazê-lo, ela iria
pagar por isso mais tarde.
― Por favor, desculpem-me, ― disse ela tão levemente quanto
pôde e saiu do aposento sem pensar, esfregando as palmas das mãos
em suas saias.
Capítulo Dezoito
Olivia pisou do lado de fora apenas a tempo de ver Edward
deslizar para fora da sela e cair em um joelho ao lado de seu cavalo. Ele
riu quando um lacaio correu para ajudá-lo, em seguida, empurrou o
rapaz para longe antes de cambalear em seus pés.
― Tenha cuidado para não quebrar sua perna sangrenta, ― seu
irmão mais novo, David, Lorde Westhorpe, disse. Os dois cavalheiros
em sua companhia riram. Olivia os tinha encontrado antes: Lordes
Fennick e Keddington.
Um sorridente Keddington pegou o braço de Edward e colocou-o
ao redor de seus ombros, então o ajudou a subir os degraus.
― Lá está ela, minha linda esposa, ― Edward falou de maneira
arrastada como também arrastava seus passos. ― Olhando para ela,
alguém seria capaz de acreditar que sou um homem de sorte.
― Você é um homem de sorte, ― disse Keddington.
― Olivia, querida, ― disse David, subindo os degraus, com os
braços abertos. Olivia sorriu para ele; ele passou os braços em torno
dela em um caloroso abraço e beijou sua bochecha. ― Linda como
sempre, amor. Como alegra o meu coração vê-la. ― Ele beijou a
bochecha dela novamente, então ligou seu braço através dela. ― Que
notícias você tem? Eu ouvi que sua irmã voltou da Espanha, ― disse
ele enquanto a levava para o hall. Edward e seus amigos tinham
deixado lama em todo o piso limpo da entrada.
― Ela voltou, de fato, ― disse Olivia.
― Diga-me, ― David começou, mas uma comoção no corredor
chamou sua atenção. Os senhores tinham, aparentemente,
encontrado as senhoras. Olivia podia ouvi-los implorando as senhoras
para ficar e entreter os viajantes cansados.
Quando Olivia e David entraram no corredor, ela viu Alexa extrair
a mão de Bernie do aperto de Fennick.
― Por favor, permitam que a senhorita Shields e Lady Martha
se despeçam, ― disse ela com um sorriso doce. ― Suas famílias não
podem mais ficar sem elas.― Ela empurrou Bernie ao longo do
corredor, que estava apreciando a atenção dos senhores, apesar de
suas bebedeiras.
A única pessoa que não parecia charmosa era Edward, que
encarou como uma criança mal-humorada, inclinando-se contra a
parede, enquanto esperava pelos seus amigos voltar a sua atenção
para ele.
― Senhorita Hastings, como bom vê-la novamente ―, disse
David, afastando-se de Olivia para cumprimentar Alexa. Olivia
aproveitou a oportunidade para escoltar Bernie e Lady Martha ao hall.
― Você vai ter suas mãos cheias, não vai? ― Bernie perguntou
alegremente quando ela aceitou o manto de um lacaio.
― Sempre, ― disse Olivia.
O lacaio abriu a porta e Olivia ficou consternada ao ver que a
chuva tinha começado novamente.
― Você realmente precisa convencer sua irmã a esperar para se
casar até que o tempo melhore, ― disse Bernie. ― É um mau presságio
chover no dia do casamento.
O coração de Olivia começou a bater em seu peito.
― Eu farei o meu melhor. Obrigada por terem vindo, ― Ela disse
alegremente, na esperança de apressar a saída de suas amigas antes
que elas dissessem algo para Edward.
Quando ela as tinha visto na carruagem, lançou um suspiro de
alívio, e correu de volta para o corredor. David e Alexa estavam ali,
Alexa, de costas para a parede, David inclinando-se como se contando
um grande segredo.
― David! ― Edward gritou de dentro do salão. ― Onde está
você?
― Estou indo! ― David disse algo a Alexa que a fez rir.
Edward de repente apareceu na porta do salão, seu olhar
endurecendo quando viu o que manteve David.
― Senhorita Hastings, você vai se juntar a nós no salão? ― David
perguntou ao se mover atrás de Edward.
― Talvez em outro momento, ― disse Alexa. ― Eu tenho uma
dor de cabeça bestial e devo me retirar no momento.
― Uma pena, ― disse David, seu sorriso encantador. ― Vou me
consolar com sua irmã linda. ― Ele estendeu a mão para Olivia, que
rapidamente deu-lhe a dela, com receio de que Alexa mudasse de
ideia.
Consciente de que Edward estava encarando ambos, Olivia disse
baixinho
― Vá para a casa da viúva e fique lá. Irei mais tarde.
Alexa olhou para Edward, então caminhou rapidamente pelo
corredor.
Olivia não olhou para o marido, mas permitiu que David a
arrastasse para o salão, onde Lordes Fennick e Keddington tinham
conseguido encontrar o uísque.
Edward seguiu-os, aceitando um copo de uísque de Fennick. Ele
olhou para Olivia, seu olhar duro.
― Talvez você possa ficar mais confortável em sua sala de estar,
― disse ele.
― Sua sala de estar!― David riu. ― Vai me privar do prazer de
sua companhia? Você conhece o meu grande respeito por sua esposa,
Edward.
― Você pode se encontrar com ela durante o jantar.
― Sim, claro, ― disse Olivia. ― Bem-vindo, meu Lorde, ― disse
ela, e saiu da sala. O dia não melhorou e a chuva se transformou em
um dilúvio. Olivia podia ouvir as gargalhadas dos homens ecoando
pela casa, a voz de Edward mais alta do que todos eles.
Quando Olivia se juntou aos senhores para jantar, seu humor
era sombrio. A noite foi exatamente como poderia ter imaginado: ela,
sozinha, na companhia de quatro cavalheiros que tinham conseguido
passar uma tarde inteira com bilhar e uísque. No decorrer da mesma,
tinham afogado suas maneiras à mesa. Eles se deliciaram com
ruidosas gargalhadas sobre os assuntos mais triviais.
Edward foi o pior. Quando ele entrou na sala de jantar, ele
lançou os braços.
― Ah, minha querida esposa. ― Ele colocou seus braços em
volta dela e beijou sua boca duramente, para o deleite dos outros.
Quando ele levantou a cabeça, foi um milagre que Olivia conseguiu
manter-se e não arrastar a mão sobre a boca para limpar o beijo de
seus lábios.
― Eu lhe disse que David sentiu saudades de você? ― Edward
perguntou em voz alta enquanto andava um pouco cambaleante para
o seu lugar. Ele dispensou o lacaio que estava lá para puxar sua
cadeira. ― Ele insistiu em vir para Everdon Court só para te ver.
― Pelo que me lembro, você insistiu para que eu viesse, ―
David disse quando ajudou Olivia com seu assento. ― Você
especificamente ameaçou minha renda mensal, ― acrescentou, e caiu
em uma cadeira ao lado de Olivia. ― Ele me tortura, Olivia. Se não
fosse por você, eu não iria obedecê-lo.
Olivia sorriu. David colocou a mão no queixo e sorriu para ela.
― Como você é linda, minha querida. Eu sempre pensei que é a
mais bonita das mulheres. E com uma disposição tão ensolarada,
também. Que sorte que eu possa apreciar o favor do seu sorriso e sua
conversa durante a minha refeição.
― Você é sempre tão lisonjeiro, milorde, ― disse Olivia. ― Não
se pode deixar de pensar se você tem talento natural, ou se o pratica
em várias salas de jantar e salões em Londres.
― Tão justa, e ainda assim tão cética.
― Eu te conheço há vários anos, ― disse ela com uma ligeira
piscadela.
David riu e levou sua mão aos lábios, beijando os nós dos dedos.
― Eu adoro você, Olivia.
― Onde está sua irmã? ― Edward perguntou quando ele
levantou a taça de vinho para ser preenchida.
― Sim, onde é que está a irmã formosa de vocês? ― Perguntou
David, olhando ao redor da sala.
― Ela está de cama com uma dor de cabeça, ― disse Olivia, e
Edward bufou.
― E Tolly? ― perguntou David. ― Aonde foi parar o nosso Tolly?
― O que você está esperando? ― Edward gritou para um dos
lacaios, que estavam pacientemente ao seu lado, esperando por ele
para aprovar o vinho. ― Encha as taças, homem!
O lacaio se apressou a fazê-lo.
― Estou em profundo desespero, Olivia, ― disse David com
grandes olhos tristes. ― Meu irmão me disse que entrei em território
sombrio e ameaça a minha renda mensal. Mas eu tenho toda a
confiança que o senhor Tolly vai definir tudo e deixar em ordem.
― Você deve aprender a manter sua moeda em seus bolsos em
vez de espalhá-la entre as leves-saias de Londres, ― Edward zombou.
― Você pode me culpar? ― perguntou David alegremente. ― Eu
não tenho o luxo de ter uma esposa formosa para ocupar minha
cama.
Olivia corou.
David riu e piscou para ela.
― Fennick, o que me diz de Basingham? Que é isto que ouço de
suas dívidas? ― Edward perguntou, e levou a taça de vinho aos lábios,
bebendo como se fosse água.
Olivia olhou para a janela, enquanto os homens conversavam. Ela
podia ouvir a chuva que caia em grandes faixas, absorvendo Everdon
Court e tudo em torno dele. Imaginou a casa flutuando, descendo o
vale para o mar, se imaginou no telhado, saltando sobre uma pedra,
no momento em que a casa era levada para o mar. E se imaginou
assistindo a coisa toda afundar, garrafas de uísque aparecendo na
superfície quando a casa tinha ido para baixo.
Depois de uma refeição que parecia se estender para sempre, o
vinho do porto foi finalmente servido. Era uma maravilha para Olivia
que Edward conseguia permanecer sentado.
Ela estava debatendo como e quando fazer a sua fuga, quando
David se inclinou para ela.
― O que você está pensando?
Olivia olhou para seus olhos dançantes. ― Eu estou pensando
que vocês estão todos muito bêbados, ― ela sussurrou de volta.
Ele riu e levantou a taça num brinde simulado.
― Não há nada a ser feito quanto a isso, eu temo. Quando
quatro homens estão confinados à casa por causa da chuva, eles não
podem evitar, mas podem encher suas taças e pensar na vida.
Ela riu. ― Que coisa curiosa para pensar quando se está
enchendo sua taça.
― Diga-me uma coisa, ― disse ele, plantando seus braços sobre
a mesa. ― A sua irmã tem quaisquer pretendentes? Qualquer pessoa
em particular que ela estima? Ela é bonita, e meu irmão me informou
que eu estou precisando de uma esposa. Vamos, diga-me. Ela colocou
seus olhos em alguém em particular?
Oh, meu Deus, esta era a última coisa que Olivia poderia
suportar. ― Eu não posso dizer com certeza.
― Você pode, ― disse David, tocando seu braço. ― Ela é sua
irmã. O que você acha? Será que ela encontraria um homem com
grandes dificuldades financeiras atraente? ― Ele riu de sua
brincadeira.
― Eu não sei, ― disse Olivia, rindo também. ― Mas, na verdade,
eu acho que há alguém que ela estima. Ela tem sido bastante tímida
sobre isso, realmente, mas eu prefiro pensar assim.
Os olhos de David se estreitaram com desconfiança. ― Eu sou
um Conde e eu venho de uma família distinta. E o seu interesse é
alguém com uma posição melhor do que essa?
― Eu não sei dizer, ― Olivia disse, ― mas vou perguntar.
― Isso é tudo que eu peço, ― disse ele. ― Você me conhece
bem, Olivia. Somos bons amigos, você e eu. Sabe que eu não entraria
em matrimônio com alguém que não é agradável, ou que eu não
possa conversar. Eu posso conversar com você. Sempre foi muito
franca. Eu quero alguém como você para ser minha esposa. ― Ele
sorriu, como se isso devesse agradá-la além da medida. ― Vai me
ajudar, não vai?
― Se eu puder, ― disse Olivia.
Aparentemente satisfeito com isso, David recostou-se na
cadeira.
― Cartas, senhores, ― disse ele em voz alta. ― Devemos ter
uma rodada ou duas?
― Eu pensei que você nunca pediria, ― disse Fennick. O olhar
de Olivia encontrou com o de Edward.
Ele estava olhando para ela, o que era a sua deixa para sair. Ela
se levantou da cadeira, acenando para o criado, que se apressou para
puxá-la de volta.
― Senhores, se me dão licença, vou deixá-los com suas
cigarrilhas e suas cartas.
Todos os homens estavam com níveis alcoólicos variados quando
Olivia saiu da sala, o seu olhar para a frente.
Em sua suíte, Olivia tirou a joias e a peça da cabeça, debatendo
se ela sequer deveria mencionar o interesse de David com Alexa. Ela
estava trabalhando o fecho teimoso de sua pulseira quando a porta se
abriu e Edward tropeçou.
Olivia engasgou com surpresa; em seguida, preparou-se, pronta
para qualquer coisa. Preparada para o pior.
Edward se firmou em uma cadeira; seu olhar passou sobre ela. Ele
muito desajeitadamente começou a puxar o nó da gravata.
― Lady Carey, ― disse ele, pronunciando o nome dela
ligeiramente, ― Eu não pude discernir a partir de sua expressão se
você está satisfeita ou não de ver o seu marido.
― Nem eu posso dizer pela sua expressão se você está feliz em
me ver, ― disse ela cautelosamente.
― Eu? ― Seu toque sobre a cadeira escorregou; ele ergueu-se
novamente. ― Não posso imaginar o que você quer dizer. Estou
sempre feliz em ver você, Olivia. E eu tenho sempre a esperança de
que vai se tornar a mulher que eu mereço.
O sangue de Olivia imediatamente gelou.
― Você chegou muito próximo esta noite, devo dizer, ― ele
adicionou enquanto desistia de desatar a gravata e concentrou em
fazer o seu caminho para a cama. ― Não poderia pedir por uma
anfitriã mais encantadora. ― Caiu de costas em sua cama, se jogando
sobre os travesseiros e cruzando os pés nos tornozelos. Sorriu e deu
um tapinha na cama ao lado dele. ― Vem cá, meu amor.
Não, não, não isso, não agora.
― Por que você hesita? ― Ele perguntou friamente.
Olivia engoliu uma onda de repulsa e atravessou o quarto. Ela
sentou-se cuidadosamente sobre a cama ao lado dele.
Edward acariciou seu braço. Seus olhos vidrados lhe disseram
que ele estava muito embriagado. Ela só queria acabar com isso.
Quanto mais cedo ele tentasse o que tinha ido fazer e ficasse
frustrado com sua inabilidade, mais cedo ele a deixaria.
― Eu vi um lado diferente de você esta noite, ― disse
densamente. ― Gentil. Gracioso. Isso me fez pensar o que devo fazer
para desfrutar aquele lindo rosto na minha mesa todos os dias. Humm?
― ele perguntou, e passou os dedos em torno de seu antebraço.
Talvez se ele não a golpeasse ou a tomasse sem o seu
consentimento, ela poderia se sentir mais inclinada a sorrir para ele.
― Você não acha, preciosa?
Preciosa? A palavra, falada com seu hálito encharcado de porto,
dava náuseas.
― Talvez gentileza seja recíproca.
Ele olhou para ela, e sua cabeça pendeu para um lado. ― Não
sou gentil?
Ela desviou o olhar, não querendo ter essa conversa ridícula.
― Então essa é a minha falha como marido, ― disse ele, e riu
enquanto desajeitadamente endireitou-se mais uma vez. ― Eu não
tenho sido gentil! ― O colchão afundou quando ele se aproximou
dela, apoiando-se sobre um cotovelo. ― Eu me comprometo a ser
mais gentil, ― disse ele, e puxou um pino de sua touca. Uma madeixa
espessa caiu abaixo.
― Eu serei tão amável quanto um homem pode ser com sua
esposa. O homem mais gentil de todos.― Ele puxou outro pino e mais
cabelo caiu para baixo.
Olivia se preparou para o que estava por vir. Ela tinha ensinado
a si mesma que se relaxasse o desconforto não era tão grande.
— Eu serei... generoso, ― disse ele, procurando a palavra. ―
Sim, derramarei minha atenção em você, esposa. É isso que você
quer? ― Ele perguntou, e com um braço em volta dos ombros, ele a
arrastou para baixo em suas costas.
Olivia estava deitada de costas, olhando para o teto. Edward
tocou seu dedo na marca em seu lábio. Ela tinha quase desaparecido
em sua ausência.
― Isso não foi muito gentil, foi?
― Não.
― Eu não deveria ter feito isso, ― ele disse, e acariciou sua
bochecha. ― Eu sinto muito, Olivia. Realmente sinto muito por isso.
Mas, nem você deveria me provocar.
Ela se irritou com a noção de que ela o tinha de alguma forma
provocado. Sempre foi cuidadosa para não o provocar. Mas, Edward
estava sorrindo magnanimamente, como se ele tivesse acabado de
mostrar-lhe a bondade que tinha falado, e Olivia não podia deixar
passar.
― Isso inclui a minha respiração? ― Perguntou ela
simplesmente. As narinas dele se inflaram. Mas seu sorriso
permaneceu.
― Querida Olivia, ― ele suspirou, e beijou sua bochecha. Ele
cheirava como se tivesse se banhado em porto e suor. ― Minha tola
esposinha, ― ele disse, e beijou seus lábios. Sua boca estava
nauseantemente pegajosa e quente. ― Vou ser amável e gentil com
você, meu amor... a menos que encontre meu irmão mais a seu
gosto? Diga a palavra, e eu vou convidá-lo para sua cama.
Cada fibra em Olivia ficou tensa.
― Que absurdo é esse?
― Gostaria que David colocasse seu pênis dentro de você?
Olivia gritou e imediatamente tentou rolar para longe dele, mas
Edward moveu-se surpreendentemente rápido por estar tão bêbado
quanto estava, fixando metade do corpo dela com o seu corpo e a
outra metade com um braço.
― Você acha que David seria mais amável do que eu?
― Pare com isso, Edward, ― ela gritou e empurrou contra ele.
― Sabe, pode adivinhar como me era humilhante ver você sorrir
para ele? E falar com ele como se compartilhassem um segredo?
Ela o empurrou de novo, e Edward caiu para o lado.
― Ele é seu irmão! Por isso, ele é um irmão para mim, ― ela
disse com raiva. ― Como ousa sugerir algo tão vil!
― Não minta para mim, Olivia, ― disse ele, e agarrou-a pela
cintura, lançando-a sobe sua barriga. ― Eu não suporto olhar para
você, ― ele murmurou, e começou a agarrar a bainha de seu vestido.
Algo explodiu em Olivia; ela se ergueu e bateu-lhe com força no
ouvido com o cotovelo. Edward gritou de dor e soltou para pegar sua
orelha. Ela torceu e o empurrou tão duro quanto podia.
Como estava muito perto da beirada da cama, Edward foi
derrubado para fora, batendo com a cabeça na mesa de cabeceira.
Olivia gritou e pulou para seus pés. Ela se inclinou sobre ele, com
medo de tocá-lo. Ela o tinha matado? Ela se ajoelhou, levantou a mão
para tocar seu pescoço...
Edward de repente gemeu e colocou a mão
em sua cabeça.
― Maldição, ― ele murmurou, e rolou para o lado.
Olivia levantou-se e fugiu de sua suíte. No corredor, olhou ao
redor. Não se atrevia a correr em direção a escadaria principal, ela não
tinha ideia de onde seus convidados estavam. Ela correu para a
escada dos servos.
Não havia velas acesas, portanto, usando as mãos, Olivia sentiu
seu caminho até o térreo, seus passos silenciosos sobre o tapete no
corredor. No piso térreo, ela fez uma pausa para recuperar o fôlego,
apertando a mão sob seu coração para conter sua batida selvagem. Ela
se esforçou para ouvir qualquer som que pudesse indicar que Edward
estava vindo atrás dela, mas não ouviu nada.
Estava escuro no corredor; ela lentamente começou a andar. Iria
a pé por toda a extensão da casa para a biblioteca e sentaria no sofá
até que pudesse pensar no que fazer em seguida. Ela podia ouvir os
senhores rindo e conversando no pequeno salão, o tilintar de copos, o
cheiro de tabaco... e o que soou como ronco.
Olivia diminuiu o passo e rapidamente puxou para baixo o
restante de seu cabelo do coque que ela tinha usado anteriormente;
então, passou uma longa trança em torno do restante para fazer um
rabo, que caía sobre o ombro. Ela respirou fundo várias vezes para
retardar seu coração. Quando estava tão calma quanto podia, dadas as
circunstâncias, continuou pelo corredor, com a intenção de passar o
pequeno salão sem ser notada. Mas enquanto se movia, ela ouviu a
voz de Harrison.
Aquilo parou seu passo.
― Pelo amor de Deus, ― ela ouviu dizer Davi. ― O jogo é
impossível com três. Tolly, vá buscar o marquês de modo que
possamos ter quatro e terminar o jogo.
― Não acho que ele vai ser de alguma ajuda, ― Keddington
disse rindo.
― Ele mal conseguia segurar sua mão do jeito como estava.
Olivia adiantou-se e espreitou para o salão. David, Keddington, e
Harrison estavam sentados na mesa de jogo. o senhor Fennick estava
esparramado no sofá, com um braço pendurado, e ele estava
roncando.
Olivia de repente teve uma ideia. Ela tomaria o lugar de Edward.
Se ele acordasse, diria que tinha estado aqui. O faria pensar que a
coisa toda foi um sonho de bêbado. Ela entrou no salão.
Harrison olhou para cima, e seus olhos acenderam quando ele a
viu. Uma sobrancelha subiu questionando em silêncio. Não havia
nenhum lugar que ela se sentia mais segura do que perto dele, e
Olivia avançou, limpando a garganta.
David e Keddington se viraram; Keddington desajeitadamente
ganhou seus pés e olhou timidamente para Fennick.
― Boa noite, senhores. ― Ela desviou o olhar para Fennick.
David tinha conseguido levantar-se e riu. ― Você não deve ligar
para ele.
Olivia assentiu. ― O que você estão jogando?
― Comércio, ― disse David. ― Um jogo tedioso com apenas três
jogadores. Você seria um amor e buscaria aquele meu irmão bêbado?
Olivia sorriu e apertou as mãos atrás das costas enquanto olhava
as moedas empilhadas. ― Não creio que eu poderia despertá-lo se eu
tentasse.
― Se me permite, meu senhor, ― disse Harrison sem levantar
as suas cartas, ― Lady Carey é uma jogadora bastante experiente.
― Bem, agora, ― disse David, olhando para Olivia. ―Tem algum
suporte, Lady Carey?
Ela ergueu o braço, a partir do qual o bracelete de diamantes
com o fecho teimoso ainda pendia.
―Sim.
Keddington pareceu surpreso; Harrison riu.
― Você não vai se importar de ser parceira de seu administrador,
vai? ― perguntou David.
Olivia sorriu para Harrison. ― Eu não consigo pensar em ninguém
que eu preferiria, ― disse ela.
David sorriu e casualmente chutou uma cadeira de volta para
ela. Esta noite miserável estava começando a virar.
Por sorte Olivia e Harrison ganharam o primeiro round por causa
de um erro de Lorde Keddington.
― Meu Deus, homem, ― David reclamou. ― Estamos jogando
contra uma senhora e seu administrador. Se não pudermos ganhar
deles, quão bem nós estamos?
― Milorde, sexo ou ocupação de uma pessoa não determina sua
habilidade no jogo de cartas, ― disse Olivia, e superou a carta que ele
tinha jogado para abrir o próximo conjunto.
― Seu ponto é bem aceito, senhora, ― disse Keddington, e
superou sua carta.
― Acho que eu deveria me sentir afortunado por ser capaz de
ficar de pé hoje, ― disse Harrison, e para a alegria de Olivia, tomou o
conjunto. ― Bem jogado, Lady Carey.
― O crédito é todo seu, Sr. Tolly, ― ela disse com uma
inclinação graciosa de cabeça, e arrecadou o pote para o lado dela.
Eles jogaram mais algumas rodadas, Olivia e Harrison ganhando
mais deles. Quando foi a vez de Harrison para dar as cartas, Olivia se
desculpou e foi para o aparador para pegar água. Ao derramar um
pouco em um copo, Lorde Keddington disse.
― Se eu posso ser tão ousado, madame… a sua irmã acertou
com algum pretendente?
A pergunta a surpreendeu. ― Ah... ― Ela se virou. Harrison foi
dar as cartas, mas ela podia vê-lo lutando contra um sorriso.
― Uma pergunta muito interessante, meu senhor, ― Olivia disse
ao caminhar de volta para a mesa de jogo.
― Poupe sua respiração, Keddington, ― disse David. ― Eu já
perguntei. ― Harrison de repente parecia como se tivesse
engasgado, e Olivia teve um diabo de um tempo segurando-se para
não rir. Era tudo tão impossível! Era como uma peça teatral!
― Embora não tenha dito nada para mim ―, disse Olivia, ―
Prefiro pensar que ela tem.
David e Keddington olharam interrogativamente para ela. ―
Quem? ― David perguntou. ― Eu te conheço bem, Olivia, e sei que
está mantendo um segredo. Você afirma não saber quem é, mas acho
que sabe. Que diabo é isso?
Olivia sorriu para Harrison. ― Certamente você não me pede
para quebrar a confiança da minha irmã, milorde, ― disse ela
docemente. ― Talvez eu saiba mais do que posso dizer. A única coisa
que posso dizer é que o cavalheiro é muito bonito e muito amável .
― Eu não dou a mínima se ele é um anjo. Qual é a sua fortuna?
― David perguntou.
― Ah, isso eu não posso dizer, ― Olivia hesitou, e sorriu
diabolicamente da impaciência de David. ― Eu seria inconveniente se
perguntasse.
― Eu acho que sei o que você quer dizer, ― Harrison disse de
repente, surpreendendo Olivia. ― Um sujeito um pouco tolo, não é?
― Talvez um pouquinho, ― Olivia concordou. ― Mas ele tem
boas intenções.
― Um bajulador, não é? ― Keddington disse irritado quando
jogou a carta.
Harrison riu abertamente. ― Embora isso possa ser agradável a
sua senhoria, eu suspeito que o problema do cavalheiro é sua boca.
Parece falar sem o benefício do pensamento.
― Às vezes, acontece de pensar inteiramente muito antes de
falar, ― Olivia respondeu. ― Eu prefiro desfrutar de sua falta de juízo.
Harrison lhe sorriu tão carinhosamente que ela estremeceu. ―
Eu suspeito que ele gosta de fazer você sorrir com seu absurdo.
― O que em chamas estão os dois falando? ― Disse David, e
jogou uma carta que Harrison instantaneamente superou.
― Você está errada sobre ele, Sr. Tolly, ― disse Olivia. ― Ele
não é tolo. Ele é um cavalheiro. Um bom homem.
― Malditamente bom para ele, então, ― disse David, e superou
a carta de Olivia, ganhando a rodada.
Olivia olhou através da mesa para Harrison e sorriu.
Eles jogaram até as primeiras horas da manhã, o tempo
suficiente para Fennick despertar. Quando isso aconteceu, Olivia
desculpou-se e, com um último sorriso furtivo para Harrison, voltou
para seus aposentos.
Edward estava exatamente onde ela o deixou: no chão,
roncando alto. Olivia tocou-o cuidadosamente com a ponta do seu
chinelo. Ele não se moveu. Ela o deixou lá e foi para a sala de vestir
adjacente para se lavar e se vestir para a cama, em seguida, passou
por cima dele e subiu em sua cama. Ela dormiu profundamente
naquela noite, seus sonhos cheios de Harrison.
Uma réstia de luz estava rastejando através das cortinas,
quando Olivia foi despertada pela presença de alguém ao lado da
cama. Ela sentou-se com um sobressalto.
― Sinto muito, Olivia, ― Edward disse densamente.
Ela se virou na cama e caiu em seus pés. O cabelo dele estava
despenteado, sua roupa enrugada. Ele tinha desfeito o nó da gravata
e colete, e tinha puxado as caudas de sua camisa de suas calças. ―
Perdoe-me, ― disse ele.
O que estava acontecendo? Edward nunca se desculpava. A
única vez que pediu desculpas foi depois que ele bateu nela. De
repente, ocorreu-lhe, ele não se lembrava do que tinha acontecido.
― Você honestamente acha que um pedido de desculpas é
suficiente? ― Ela perguntou, testando-o.
Ele fez uma careta e olhou para baixo. ― Como eu disse, eu
imploro seu perdão. Você vai ter que se contentar com isso, pois não há
nada mais que eu possa fazer.― Ele saiu de seu quarto, seu casaco na
mão, a luva arrastando no chão atrás dele.
Olivia piscou, então afundou na borda da cama em descrédito. O
tolo assumiu que tinha feito algo pior do que tinha. E ela estava mais
do que feliz em lhe permitir pensar isso.

Nancy chegou logo após o nascer do sol para mudar a água da


bacia de Lady Carey e atiçar o fogo. Quando ela chegou ao topo da
escada, viu sua senhoria cambalear, segurando o casaco em uma mão
e aparentando ter rolando sobre o gramado. Ele não falou com ela
quando passou.
Ela correu para a sala de sua senhoria.
― Bom dia, Nancy, ― Lady Carey disse quando Nancy colocou a
cabeça para dentro. Ela estava sentada na chaise perto do fogo, que
tinha sido remexido. Sua senhoria deve ter feito isso.
― Ainda está chovendo? ― Perguntou sua senhoria.
― Está. ― Lady Carey nunca foi de sorrir pelas manhãs, mas
este foi um grande e brilhante sorriso. ― Como você se sente, milady?
Lady Carey riu. ― Muito bem, ― disse ela, como se tivesse sido
surpreendida por isso. ― Muito bem, na verdade. ― Ainda sorrindo,
ela voltou sua atenção para o fogo.
Mais tarde, quando Nancy fez seu caminho para as cozinhas com
os lençóis usados, a senhora Perry e a senhorita Foster estavam
sentadas à mesa da cozinha, tomando chá.
― Aí está você, ― disse a senhora Perry. ― Eu tive que mandar
a menina esperar para começar a lavagem até chegar os lençóis de
sua senhoria. Por que demorou tanto?
Nancy alegremente deixou cair as roupas em uma pilha de lençóis
sujos. ― Lady Carey não estava sozinha esta manhã.
― Oh? ― Disse a senhorita Foster, sentando-se e voltando sua
atenção para Nancy.
― Sua senhoria veio tropeçando para fora de seu quarto meio
vestido, e parecia como se ele tivesse tido um bom momento.
― Oh meu Deus, ― disse a senhora Perry, e corou enquanto ria.
― Lady Carey tinha um sorriso tão largo quanto o Tamisa e
estava sentada diante do fogo como se fosse seu hábito despertar
daquela maneira todas as manhãs. Estava bastante alegre, e não
como ela é habitualmente, de verdade.
― Essa mesma coisa aconteceu comigo quando eu estava
carregando o meu terceiro ―, a senhora Perry disse sabiamente. ― Não
conseguia dormir uma piscadela! Eu estava de pé ao amanhecer a
cada manhã.
― Acha que ela disse a sua senhoria ― a senhorita Foster
sussurrou em voz alta.
― Eu acho que sim, ― disse Nancy. — Ele não é de ficar em sua
cama a noite inteira. Percebi que era uma ocasião especial, se você
me entende.
As três mulheres riram como garotas, e começaram a debater
quando o bebê Carey faria sua estreia.
Capítulo Dezenove
Harrison sentou-se na borda da cama e distraído observou uma
piscina de água formando-se na base da janela, onde a chuva vazava.
Sempre se orgulhara da capacidade de enfrentar situações difíceis
de cabeça erguida e forjar um caminho através delas. Era uma
habilidade que ele tinha aprendido em Londres, na ausência de alguém
para guiá-lo, e ele tinha navegado seu caminho através de muitas
situações difíceis. Mas estava tendo um diabo de um tempo
procurando o seu caminho através desta.
Havia criado uma maldita bagunça. Ele estava em conflito,
terrivelmente em conflito, e o desejo ardente que sentia por Olivia
não o ajudava a pensar claramente. Ficar sentado em frente a ela na
mesa de cartas havia sido insuportável. Ele ficava doente por ter que
permanecer reservado e desinteressado quando ela estava perto. Ele
queria apenas sorrir, tê-la só para ele. Observou-a provocar seu
cunhado, e tinha se imaginado com ela todas as noites, seu belo
sorriso para aquecê-lo, sua risada para acalmá-lo.
Quando tentou imaginar passar todas as noites com Alexa, ele
não conseguiu. Era enlouquecedor não poder saciar sua sede de Olivia.
Toda vez que viu seus olhos brilhando para ele, se sentiu mais
enlouquecido. Seu desejo vinha crescendo há anos, bebendo de
minúsculos fragmentos de esperança, até que era uma coisa viva,
respirando dentro dele. Tinha vida própria, e ele era impotente para
detê-lo. Não podia forçá-lo para baixo; não podia vencê-lo em sua
exibição. Ele estava preso por sua força e ancorado à situação
miserável de querer o que não podia ter. Como poderia continuar essa
charada com Alexa? Estava destinado a tornar sua vida miserável
com sua incapacidade de cuidar dela como um marido deveria? Foi
uma loucura, loucura total, e ele não podia ver o seu caminho claro.
Ele supôs que a única coisa boa resultante deste mau tempo era
a necessidade de adiar qualquer esperança de ir para Gretna Green
rapidamente, o que lhe deu um pouco de tempo. Mas para que? Mais
debate sobre o assunto? Ele sentaria como se estivesse à espera de
sua execução.
Harrison se lavou e vestiu, em seguida, desceu. A senhora
Lampley estava acendendo as lareiras. Tentou ler, mas seus
pensamentos continuavam girando descontroladamente sobre sua
situação, e com imagens de Olivia deitada nua debaixo dele.
Pouco depois do café um lacaio da casa principal apareceu. ―
Sua senhoria pede que você venha, pois seus convidados querem se
despedir e o senhor Westhorpe requer uma palavra.
Harrison estava grato pela distração.
Ele encontrou Westhorpe no estúdio do marquês, e enquanto o
jovem senhor batia uma caneta contra uma xícara de chá, Harrison
revisou as finanças imobiliárias da Cornualha com ele.
Depois de alguns minutos de, pelo menos, tentar ouvir, Lorde
Westhorpe impacientemente jogou a caneta de lado.
― Chega disso, Tolly, ― disse ele.― Eu confio em você para
fazer o que deve ser feito para endireitar as finanças.
Esse era precisamente o problema de Westhorpe, ele não tinha
paciência para administrar uma vasta propriedade e preferia deixá-lo
para outra pessoa. Seus assuntos sofriam de sua falta de atenção.
― Vou fazer o que posso, milorde, ― disse Harrison. Era
impossível gerir os interesses de tão longe, Harrison tinha explicado a
Lorde Carey e a Lorde Westhorpe mais de uma vez. ― No entanto,
devo lembrá-lo que é imperativo que dê à mineração sua atenção. A
maioria das minas estão obtendo grandes lucros, mas nossa mina
custa mais para operar do que ganha.
― Eu voto para dar muita atenção, ― disse Westhorpe com um
sorriso desarmante. ― Agora, então, o que dizer da minha renda
mensal? Você vai falar com o meu irmão, não é Tolly? Ele ameaçou
reduzi-la, e eu não posso possivelmente viver com menos.
Harrison deu-lhe um olhar cético.
Westhorpe deu de ombros timidamente. ― Sei que você acredita
que eu vivo além de meus meios, mas manter uma posição na
sociedade de Londres é uma proposta cara.
― Estou certo de que é, ― disse Harrison. ― As faturas que
chegaram de Millinery de Madame Broussard são impressionantes.
Westhorpe sorriu. ― Você entende o meu ponto. Isso é tudo que
eu peço de você, Sr. Tolly. Eu preciso da minha renda mensal. Muito
bem, então, eu vou embora. Espero vê-lo novamente em uma
quinzena ou assim. ― Piscou para Tolly quando ele passou. ―
Gostaria de me familiarizar com a senhorita Hastings mais uma vez
sem Keddington perto.
Harrison deve ter parecido surpreso, pois Westhorpe riu. ― Eu
devo me debruçar sobre o negócio de herdeiros um dia, não é? E aqui
entre nós, minha cunhada parece incapaz de dar ao meu irmão um
herdeiro. Assim, uma criança nascida de mim seria o herdeiro
presuntivo. ― Ele sorriu, como se fosse perfeitamente aceitável ver o
matrimônio somente com o propósito de herdar. ― Você vai manter
isso entre nós, eu confio, ― acrescentou levemente.
― Naturalmente. ― Harrison só podia adivinhar o que Westhorpe
diria ao ouvir a notícia de que Harrison tinha casado com ela. Seu
atoleiro estava ficando mais e mais profundo a cada momento,
sugando seus tornozelos, puxando-o para baixo.
Lorde Carey estava do lado de fora para se despedir dos
senhores, parecendo um pouco com os olhos turvos, e inclinando-se
contra a porta enquanto os homens montavam em seus cavalos no
aguaceiro. Chuva soprava através da porta aberta, molhando a
entrada de mármore. Quando os cavaleiros partiram, Carey virou e
disse:
― Uma palavra, Sr. Tolly, ― quando ele passou.
Harrison o seguiu para o estúdio e ficou esperando enquanto o
marquês serviu-se de uísque. Ele levantou a garrafa para Harrison,
que sacudiu a cabeça. Eram 10:30 da manhã.
― Diga-me, o que eu perdi enquanto eu estive fora? ― Sua
senhoria perguntou, e tomou um gole.
― Muito pouco, ― disse Harrison. ― Falei com o senhor Fortaine
sobre suas rendas, e ele me garante que vai ser pago integralmente
até o final do mês.
― Eu não estou perguntando sobre o maldito aluguel, ― disse o
marquês, e jogou para baixo o uísque. ― Eu estou perguntando sobre
a puta que habita a minha casa. Por que ela ainda está aqui?
Todo o corpo de Harrison tensionou. Ele sinceramente esperava
que pudesse passar por esta entrevista sem lançar-se em Carey. ― Os
arranjos foram feitos, mas as chuvas estão dificultando.
O rosto de Carey escureceu. ― Deixe-me dizer uma coisa Tolly,
Keddington perguntou por ela. Você pode imaginar o desconforto que
me causou? Quem sou eu para dizer? Que a prostituta carrega um
filho bastardo, mas é livre para ser tomada?― Ele fez um som de
desgosto. ― Se sua condição for descoberta, eu serei a chacota de
toda a Inglaterra.
Irritou Harrison que a vida da jovem não significava nada mais
para Carey do que como ele iria aparecer na sociedade. O marquês de
repente parecia mais desprezível do que nunca.
― Tenho a intenção de levá-la para a Escócia, logo que as
chuvas diminuam, ― disse.
Carey olhou ameaçadoramente para ele, e estendeu a mão para
a garrafa de uísque novamente. ― Penso que você se tornou
inteiramente demasiado ousado, Tolly. Não se esqueça, você é o
administrador aqui. Você não me informa o que vai ou não fazer. Nem
determinar quando. ― Harrison estava calmo, seu olhar firme,
silenciosamente desafiando Carey a dizer mais.
Mas Carey fez precisamente o que Harrison teria imaginado, ele
olhou para baixo e serviu mais uísque. ― Mande-a embora. Eu não
me importo para onde você irá enviá-la, mas tire-a de Everdon Court.
Harrison deu-lhe um breve aceno de cabeça e se dirigiu para a
porta.
― Uma outra coisa, ― Carey estalou.
Harrison se forçou a olhar ao redor.
O olhar de sua senhoria era penetrante quando perguntou ―
Como você encontrou minha esposa enquanto eu estava fora?
Cada nervo do corpo de Harrison disparou com a pergunta. Ele a
tinha encontrado triste, maltratada, e incompreensivelmente corajosa
em face de tudo isso.
— Perdão?
― Ela estava agradável? ― Ele perguntou com um encolher de
ombros. ― Estava contente? Ou estava lamentando sobre a falta de
seu marido?
Que diabos foi isso?
― Eu não sei, milorde. Eu quase não a vi.
― Verdade? ― Disse Carey, sorrindo um pouco. ― É
interessante dizer isso, porque quando perguntei a Brock se você teve
a oportunidade de falar com ela, ele me disse que você tinha
encontrado com ela no jardim uma tarde.
Harrison fez tudo o que podia para não se lançar para Carey e
colocar o punho no meio do seu rosto. ― Eu, de fato, me encontrei
para discutir a situação de sua irmã.
― Então você a viu, ― disse Carey com um sorriso.
― Naquela ocasião, sim, ― disse Tolly. ― Há mais alguma coisa
sobre a qual você está curioso?
Carey franziu a testa sombriamente.
― Tome cuidado, Tolly. Você pode ir. ― Ele se virou para o
aparador.
Harrison saiu da sala, andando em linha reta a seu escritório e
fechou a porta. Ele estava com as mãos nos quadris, sua ira elevando
um grau a cada respiração, até que ele rodopiou e socou a parede com
o punho tão duro quanto podia, rompendo o gesso.
― Ouch ― ele murmurou, encolhendo-se dolorosamente, e
esticou os dedos, apertando a mão dele.
Tinha de haver uma fuga, uma solução. Se ele pudesse pensar em
como remover Olivia desta casa sem acabar no final de uma corda,
poderia salvá-los todos. Ele só tinha que pensar em como fazer isso.
Capítulo Vinte
Na tarde seguinte, uma inquieta Alexa ouviu Rue exclamar.
― Meu Deus! Milady! ― Ela saiu da sala para o hall para ver
Olivia entregar um guarda-chuva encharcado para Rue, que
prontamente enfiou-o no porta guarda-chuva sem agitar fora o
excesso de água.
― Boa tarde, Livi, ― disse Alexa. ― Eu não esperava vê-la aqui.
― Acho a companhia aqui mais atraente do que na casa
principal, ― disse Olivia. Ela sorriu para Rue e entregou sua capa.
― Obrigada, madame, ― disse Rue, e fez uma reverência.
― Pendure-o na cabide, Rue, ― disse Alexa. Quando Rue
mudou-se para pendurar o casaco, Alexa perguntou ― O seu marido
aprova sua visita na casa de viúva, para caminhar entre os caídos e a
banida?
Olivia sorriu com tristeza. ― Se eu temesse tudo que meu
marido não aprova, eu nunca deixaria minha cama. ― Ela uniu seu
braço com Alexa. ― E eu estaria muito feliz de ter sido banida para a
casa de viúva, se fosse você.
― Venha e dê uma olhada antes de declará-lo, ― disse Alexa, e
puxou Olivia para a sala. ― Você vai encontrar o mobiliário bastante
sem graça. Confio que Harry será aberto a algumas pequenas
alterações.
― Sem graça! ― Olivia exclamou, olhando ao redor. ― Acho que
é encantador. Espero que você não vá sobrecarregá-lo com coisas
como mobiliário.
― Eu não pretendo sobrecarregá-lo, ― disse Alexa, impaciente.
E, além disso, ela pretendia residir em Ashwood, não neste velho
lugar. ― Mas eu acho que você está certa, eu serei muito feliz com
Harry.
Olivia olhou ao redor da sala. ― Mal posso imaginar como
alguém poderia ser infeliz com ele. No entanto, querida, por que
diabos você anunciou para Bernie e Lady Martha que pretende se
casar com ele?
― Eu pensei que tinha concordado com isso.
― Concordamos em lançar as sementes. Não anunciar.
― Que diferença isso faz? ― Perguntou Alexa com um encolher
de ombros.
― Faz toda a diferença, ― Olivia disse pacientemente. ―
Certamente você entende que, se qualquer uma delas falar disso
agora, particularmente desde que Bernie está convencida de que
Edward retornou, você deve esperar por dias mais quentes para se
casar. O que fará que todo mundo saiba o porquê você apressou-se
para a Escócia.
Alexa suspirou profundamente. ― Eu não achei que iria causar
nenhum dano. E agora que já disse, quase não penso que importa,
realmente. Não será evidente para todos em questão de semanas? Se
você me perguntar, Harry e eu deveríamos partir daqui
imediatamente.
― Por favor, não diga isso, ― disse Olivia. ― Dói-me ouvir você
dizer isso.
― Muito bem, eu não vou dizer isso. Mas é o que acho, ― Alexa
disse, petulante, e sentou-se. Ela queria sair desta casa, estava
começando a se sentir como em uma prisão. ― Acho que já tem
quase uma quinzena desde que elaboramos este plano, ― disse Alexa,
sacudindo a cabeça. ― Eu não queria ter nada a ver com isso, mas
agora... agora vejo a sabedoria disso. ― Ela sorriu timidamente para
Olivia. ― Estou, pela primeira vez em muitas semanas, muito ansiosa
por minha nova vida.― Harry não era Carlos, mas ela tinha aceitado o
inevitável. Ela nunca ficaria com Carlos, e, portanto, não havia nenhum
ponto no sonho dela. ― Quem sabe? ― ela acrescentou com um
sorriso. ― Talvez iremos adicionar outro filho para o nosso pequeno
bando.
Olivia se afastou de Alexa para examinar a tigela de porcelana
sobre a lareira. ― Talvez sim, ― ela disse, soando distante.
Sua irmã temia perdê-la, Alexa compreendeu. ― Eu tenho uma
dívida de gratidão com você, Livi, ― disse ela. ― Quero dizer, muito
sinceramente. Você sempre esteve lá para me ajudar.
― Ah, bem, ― disse Olivia, e pegou a tigela. ― Você faria o
mesmo por mim.
― Você realmente acha que eu faria? ― Alexa perguntou
curiosamente.
― Eu espero que sim. Mas o sapato nunca está no outro pé, não
é?
— Eu sou aquela que sempre precisa de você. Eu mal sei o que eu
faria sem você. Olivia olhou curiosamente para ela. ― Eu sei muito
bem como eu sou, ― disse Alexa para óbvia surpresa de Olivia. ― Eu
confio em você para tudo. Sempre fiz e suponho que sempre farei.
Mas desta vez, você me salvou, Livi.― Ela colocou a mão em sua
barriga e imaginou ter que subornar um diretor para permitir que o
seu filho estude em uma escola. ― Sinto muito que eu não entendia
isso antes, mas vejo isso agora. Você sabia do que eu precisava
quando eu não poderia ou não queria ver, e você me salvou, apesar
de mim mesmo.
Olivia se ruborizou. ― Você faz parecer que sou muito, querida.
Eu só queria ajudar...
― Mas você sempre ajudou, ― Alexa insistiu. Ela levantou. ―
Obrigado. Por tudo. Por sempre me mimar, e por me guiar quando
mamãe morreu, e por me salvar quando não podia sequer ver que eu
precisava ser salva. Devo-lhe minha vida, e a vida do meu filho. ― Ela
colocou os braços ao redor Olivia e a abraçou.
― Oh, Alexa, ― Olivia disse, e apertou-a com força, em seguida,
a deixou ir. Ela sorriu levemente. ― Por favor, não faça tanto disso.
O som da abertura da porta da frente chegou a elas, seguido pelo
passo de um homem do outro lado do hall de entrada. Harry apareceu
na porta, ainda vestindo sua capa. Ele pareceu surpreso ao vê-las lá,
e olhou de Alexa para Olivia.
― Boa tarde, ― disse Alexa.
― Boa tarde, ― Harry respondeu; seu olhar estava em Olivia.
― Eu, ah... Eu espero que você não se importe que eu tenha
vindo, ― disse Olivia, apertando as mãos com força diante dela.
O marquês tinha feito isso com ela, pensou Alexa. Ele a fez ter
medo da própria sombra.
― Claro que não. Você é sempre bem-vinda. Sempre. Está
tudo...
― Tudo está bem, Sr. Tolly, ― Olivia disse rapidamente, e
sorriu. ― Eu queria caminhar e ver como Alexa estava se saindo. Me
sinto como se tivesse sido enjaulada pelo tempo, e pensei que seria
bom sair, mesmo na chuva. ― Ela colocou a mão na nuca. ― Eu
deveria voltar.
― Você não precisa correr, ― disse Alexa.
― Edward vai saber para onde eu vim.
― Devo acompanhá-la? ― Perguntou Harry.
― Não, não, ― disse ela, sorrindo para ele. ― Você deve ficar
e... e falar com Alexa. Estou certa de que há muito que discutir.
― Na verdade, existe, ― disse Alexa, e sentou-se no sofá. ―
Muita coisa, Harry.
― Pelo menos deixe-me acompanhá-la até a porta, ― disse
Harry.
Ele era um bom administrador, solícito com a s. Alexa esperava
que ele fosse solícito com sua esposa.
― Obrigada, ― Olivia disse suavemente, e entrou saiu pela
porta. Ele a seguiu para fora sem olhar para Alexa.
Alexa sentou-se no sofá e passou as mãos ao longo do
estofamento de veludo, seus dedos deslizando sobre uma parte que
começava a se desmanchar. Ela podia ouvir Harry e sua irmã
sussurrando no hall, em seguida, ouviu a porta abrir e fechar.
Harry apareceu alguns momentos mais tarde, sem a sua capa. Do
canto do olho, Alexa viu Olivia se mover rapidamente pela janela sob
seu guarda-chuva.
― Como você está hoje? ― Alexa perguntou alegremente.
Harry olhou para ela estranhamente. ― Muito bem, obrigado. E
você?
― Muito bem, obrigado.― Ela sorriu.
― Esplendido, ― disse ele, distraído. ― Rue!― Ele chamou. ―
Rue, o que aconteceu com o conhaque?
― O conhaque, milorde? ― Perguntou ela, aparecendo na sala.
― Senhor, ― ele corrigiu. ― Sim, o conhaque. Um líquido âmbar
em uma garrafa de cristal. Absolutamente necessário em um dia frio,
úmido, tal como este.
― Será que você não o bebeu, milorde?
― Eu não sou um lorde, ― Harry disse pacientemente. ― E eu
não bebi uma garrafa inteira de conhaque. Por favor, vá consultara a
senhora Lampley.
― Sim, eu vou meu… senhor, ― disse Rue.
― Posso falar francamente? ― Alexa perguntou quando Rue
tinha saído.
― É claro, ― disse ele, e começou a classificar através das
garrafas no aparador. ― Sinta-se livre para falar o que está em sua
mente.
― O que está em minha mente é Everdon Court. O marquês não
pode suportar me ver, e mal posso respeitá-lo. Gostaria de partir.
― Acho que é melhor você permanecer na casa de viúva por um
tempo, ― disse ele.
― Eu tinha em mente algo um pouco mais drástico do que isso.
― Harry levantou uma garrafa e franziu a testa para ela, pensativo. ―
Você está ouvindo? ― ela perguntou, e levantou-se. ― Harry, vamos
sair daqui. Vamos a algum lugar onde o marquês não está. Eu não
posso suportar ser confinada à casa da viúva e não ter permissão para
ver minha irmã porque desagrada a seu marido.
Harry deu-lhe um olhar então. ― E ir para onde, Alexa? ― ele
perguntou, parecendo um pouco impaciente com ela.
― Eu pensei que talvez possamos... poderíamos ir para
Ashwood, ― disse ela.
Harry parou. Ele virou a cabeça e olhou fixamente para ela, como
se não pudesse acreditar que tinha ouvido corretamente. Seus olhos
se estreitaram ligeiramente. ― O que você sabe de Ashwood?
Sua voz era perigosamente baixa, e o coração de Alexa começou
a vibrar com a incerteza. ― O homem que veio vê-lo, disse. Ele disse
que tinha herdado.
― Não me lembro de ele ter dito isso a você, ― disse ele,
desconfiado.
― Eu ouvi, ― ela mentiu. A expressão dele escureceu. ― O quê?
― ela perguntou. ― O que eu disse?
Harry de repente fechou a distância entre eles e olhou para ela
de uma forma que a fazia se sentir como se fosse uma criança,
incapaz de compreender algo. ― Você não deve mencioná-lo
novamente.
― Mas porquê? ― ela perguntou. A carta tinha sido muito clara
que Ashwood pertencia a ele. Por que ele não admitia?
― Porque eu estou pedindo para não dizer. Não é de sua conta,
Alexa. Vamos fazer da nossa casa aqui, como planejado.
― Você planejou isso. Eu não. O marquês não pode suportar a
me ver.
― Então deve resignar-se à ideia de que por um tempo, pelo
menos, será uma existência tranquila. Você vai ter o suficiente para
ocupá-la quando a criança nascer.
Alexa ficou boquiaberta. ― Mas isso não é justo!
― Não é justo? ― Ele retrucou. ― Devo dizer-lhe o que não é
justo? Que eu estou desistindo da minha vida por você. Que a sua
irmã deve definhar na prisão de Everdon Court todos os dias para o
resto de sua vida. Que você, em seu lapso surpreendente de
julgamento, trouxe isto em todas as nossas cabeças! Isso não é justo!
Alexa ficou tão surpresa que as lágrimas brotaram e começaram
a cair.
Ela baixou a cabeça, envergonhada, mas incapaz de detê-las.
― Por favor, não chore, pelo amor de Deus.― Harry suspirou, e
colocou os braços ao redor dela. ― Vamos, vamos, Alexa. Chegará
um tempo em que vamos olhar para isso e achar divertido.
― Eu nunca vou achar divertido, ― ela gritou.
― Você está certa, ― disse ele, suspirando de novo. — Isso foi
uma bagunça miserável. Penso que nem eu jamais vou achar
divertido, mas estas coisas têm uma maneira de resolver com o tempo.
Eu não acho que você vai ficar desesperada por muito tempo.
Alexa fungou e descansou a cabeça em seu ombro. Ela gostou do
cheiro de seu perfume picante. Ele era duro e forte, e ela sentiu-se
movida por seu conforto. Ela levantou a cabeça e olhou para seu
rosto.
― Como você pode ter tanta certeza?
― Eu tenho fé.
Fé há muito tinha a abandonado, e Alexa subitamente queria um
pouco da dele. Ela não conseguiu evitar, subiu na ponta dos pés e
corajosamente o beijou. Ela não sabia o que poderia acontecer, mas
não esperava que Harry se jogasse para trás como se tivesse sido
picado.
― O que no inferno você está fazendo? ― Perguntou ele.
Calor inundou suas bochechas. ― Eu ... Estamos prestes a nos
casar. Eu pensei ...
Ele se afastou dela, colocando espaço entre eles.
Mortificada, lágrimas começaram a fluir novamente. Alexa
sentiu-se humilhada e confusa, e quando Rue entrou com a garrafa
de conhaque, de olhos arregalados e boca aberta, Alexa pensou que
ela poderia morrer de vergonha por ter sido tão profundamente
rejeitada.
― Rue, ― Harry disse, pegando a garrafa de suas mãos e
colocando-a sobre o aparador. ― Estou indo para a aldeia para uma
cerveja.
― Devo dizer isso? ― Perguntou ela, ansiosa.
― Eu não dou a mínima. ― Ele saiu.
Capítulo Vinte e Um
Na hora do chá Edward ainda estava arrependido, e
educadamente cumprimentou Olivia quando ela entrou. Ele não fez
nenhum comentário quando ela ignorou o bordado disposto ao lado de
sua cadeira, nem reclamou quando ela se levantou para olhar para
fora da janela enquanto lia seu jornal.
Mas quando ela mencionou que a chuva parecia estar
diminuindo, ele disse: ― Isso deve fazer seus passeios para a casa da
viúva mais agradável. ― Ele olhou para ela por cima da borda de sua
taça de vinho e bebeu profundamente, então sinalizou o lacaio para
derramar mais.
Olivia olhou para a garrafa, estava quase vazia, o que indicava que
ele tinha consumido a maior parte dela na última hora ou algo assim.
O que significava que qualquer coisa poderia acontecer. Esperou por
sua condenação, e seu decreto que ela não tinha permissão para andar
para a casa da viúva. Ela esperou que ele fizesse uma observação
cruel.
Quando o lacaio tinha enchido o sua taça, Edward instruiu-o a
sair.
― Me preocupo com sua saúde, meu amor, ― Edward disse,
com os olhos fixos nela. ― Andar na chuva poderia fazer-lhe mal.
― Eu não estava terrivelmente molhada, ― ela cautelosamente
retomou sua cadeira, com os olhos no relógio sobre a lareira,
silenciosamente contando os minutos e as horas que ela deveria
permanecer em sua companhia.
A senhorita Foster chegou com o chá poucos minutos depois,
movimentando as portas de carvalho e batendo uma contra a mesa. ―
Oh! Perdão, milorde, milady, ― ela disse alegremente. ― Brock me
pediu para trazer o chá, pois o senhor Dembly veio com uma entrega.
Temo estar ficando desajeitada na minha velhice.
― Obrigado, senhorita Foster, ― disse Olivia, e se levantou de
seu assento para ajudá-la. Edward franziu a testa para Olivia, mas
não a instrui a sentar-se.
Mas a senhorita Foster fez. ― Sente-se, senhora, por favor!
Permita-me lhe servir. Eu fiz um bolo de figo, especialmente para você.
Eu sei o quão você gosta dele.
Olivia não se importava com bolo de figo da senhorita Foster, e
não podia imaginar de onde ela tinha obtido essa ideia. ― Que
gentileza. Obrigada.
― Quer que eu sirva? ― Perguntou a senhorita Foster.
― Sim, ― disse Edward sem levantar os olhos do papel.
A senhorita Foster não era tão hábil com o serviço como
Brock; havia tal barulho de porcelana e estanho que Edward suspirou
alto e baixou seu jornal para beliscar a ponta do nariz entre o polegar
e o dedo.
A senhorita Foster não parecia notá-lo no entanto. Ela colocou o
chá na mesinha ao lado da cadeira de Edward, em seguida, entregou
a xícara para Olivia.
― Obrigado, senhorita Foster.
― É um prazer, ― ela disse com entusiasmo. Com um sorriso
brilhante, ela removeu a tampa do bolo de figo com um floreio. Ela
serviu uma fatia grossa e colocou sobre a mesa ao lado de Edward.
Ele ignorou.
A senhorita Foster levantou a faca para cortar outra fatia, e
Olivia disse rapidamente, ― Não, obrigada, senhorita Foster. Eu não
estou me sentindo bem esta noite. Vou esperar, se você não se
importa.
A senhorita Foster olhou cabisbaixa.
― Estou certa de que está delicioso, mas estou um pouco sob a
influência do tempo, ― ela disse, e apontou para a barriga para
indicar sua angústia.
Senhorita Foster de repente se iluminou e piscou para Olivia. ―
Eu entendo completamente. Minha irmã ficava da mesma maneira,
quando estava grávida; ela mal podia comer uma coisa por um
tempo.
Por um momento, as palavras não fizeram sentido para Olivia.
― Perdão? ― Disse, mas então ela percebeu o que Foster estava
querendo dizer ao mesmo tempo em que Edward o fez.
Ele olhou para Olivia, em seguida, para senhorita Foster. ― O
que você quer dizer com isso? ― Perguntou ele.
A senhorita Foster piscou. ― Perdoe-me, milorde. Eu sou apenas
uma mulher velha, tagarelando, ― ela colocou a tampa no prato de
bolo.
― Não foi o que eu perguntei, ― Edward disse, deixando de lado
o jornal.
― O que exatamente você quis dizer com isso?
― Perdão, milady, ― disse Foster. ― Eu falei fora de hora!
― Eu lhe fiz uma pergunta, mulher! ― Edward estalou. ―
Explique-se! ― a senhorita Foster parecia tão horrorizada quanto
Olivia se sentia.
― Deve ter havido algum mal-entendido, ― disse Olivia, mas
Edward acenou com calma, seus olhos trancados na senhorita Foster.
Ele se levantou de seu assento, encarando a pobre mulher.
― Eu quis dizer apenas que quando minha irmã estava grávida,
ela não podia comer. E pensei... Eu pensei que talvez sua senhoria…
― Oh não, ― Exclamou Olivia. ― Não, senhorita Foster, está
enganada! Não estou grávida. De onde que você obteria tal ideia?
A pobre mulher olhou como se ela pudesse entrar em colapso. Ela
olhou freneticamente do olhar frio de Edward para Olivia. ― Todo
mundo sabe, senhora. Eu já ouvi isso de…
― Isso é tudo, ― Edward estalou, e apontou para a porta. ― Nos
deixe. ― A senhorita Foster correu para fora do salão, ainda
segurando a faca que tinha usado para cortar o bolo de figo.
A mandíbula de Edward estava apertada, seu olhar duro, e Olivia
sabia que ela já tinha perdido.
― Eu não estou grávida, ― disse ela. ― Eu não consigo sequer
imaginar por que ela iria pensar isso.
― Você mentiu para mim? ― Ele perguntou, sua voz
perigosamente suave.
― Não, claro que não. É a única coisa que você quer de mim,
Edward. Se estivesse carregando o seu filho, eu estaria dançando no
telhado. — Isso não o satisfez, a julgar pelo seu olhar escuro. ― Você
pode chamar o Dr. Egan e pedir para examinar-me se você não
acredita em mim.
― Eu acredito em você quando diz que não está carregando
meu filho, Olivia. Então agora eu pergunto, se não é meu filho, então
de quem?
― Como você se atreve, Edward, ― Gritou. ― Eu não estou
grávida de ninguém! Sou fiel a você.
― Então me explique por que o pessoal da casa iria acreditar
que você está grávida, ― disse, e de repente se lançou para ela.
Olivia gritou e tentou se arremessar fora do seu caminho, mas ele
facilmente a pegou e empurrou-a contra a parede, prendendo-a no
lugar. ― É melhor você não estar mentindo para mim, ― disse ele. ―
Porque, se eu descobrir que me traiu e tentar exibir algum bastardo
como meu filho, eu vou te matar primeiro.
Ela engasgou. ― Solte-me!
Edward levou a mão ao rosto dela, os dedos espalmados contra
seu rosto, empurrando a cabeça para trás. ― Não minta para mim.
― Eu não estou mentindo para você. ― Olivia abaixou o salto do
sapato com força no pé dele. Edward assobiou com a dor e a deixou
ir. Olivia rapidamente afastou-se dele, colocando o sofá entre eles.
― É Tolly, não é? ― Edward fervilhava. ― Ele é seu amante.
― Você está louco, ― Olivia disse acaloradamente. ― Primeiro
você me acusa com o seu irmão, e agora o Sr. Tolly? Vou dizer mais
uma vez: Eu sempre fui fiel a você, mesmo quando achei
extremamente difícil de ser!
Seus olhos se arregalaram e ele tremia quando apontou o dedo
para ela.
― Você vai pagar por isso, Olivia. Querido Deus, você vai pagar.
Apesar do arrepio de medo que percorreu lhe a espinha, Olivia
levantou o queixo. ― Você não pode me punir mais do que tem feito
nestes últimos anos.
Edward pegou a taça de vinho e atirou-a através da sala. Ela se
espatifou contra a parede e caiu em pedaços; vinho descia na
parede forrada.
― Mentirosa, ― ele rugiu e girou, caminhando para fora da
porta. ― Mentirosa, ― ele gritou no corredor.
Olivia agarrou a parte de trás do sofá e afundou-se enquanto
medo, raiva e ódio a sufocavam.

Na casa da viúva Rue estava recolhendo as botas do senhor


Tolly para engraxar quando ouviu uma batida na porta.
Ela deixou cair as botas e correu para o topo das escadas assim
que a porta se abriu e o marquês quase voou para o hall.
― Tolly! — Rue engasgou e o marquês olhou para cima. ―
Venha até aqui, ― ele retrucou.
Ela não queria ir para baixo, e deu um passo hesitante.
― Agora!
Rue desceu as escadas.
― Onde ele está? ― O marquês perguntou quando ela chegou
ao piso térreo. ― Onde está Tolly?
Seu comportamento assustava. Seus olhos estavam arregalados
e quase brilhantes. Uma vez, o irmão de Rue tinha prendido uma
raposa raivosa, e tinha havido um olhar brilhante em seus olhos,
também. O marquês tinha olhos como aquela raposa.
― Onde ele está? ― O marquês berrou.
Rue estava tremendo. Ela viu a senhora Lampley no corredor, viu-
a empurrar seu filho para trás dela.
― Por Deus, eu lhe fiz uma pergunta, moça!
― Eu não posso dizer, ― ela gritou.
Os olhos do marquês ficaram mais brilhantes, e ele agarrou seu
braço e puxou-a para frente. ― Porquê? ― ele respirou. ― Por que
você não quer dizer?
Rue pensou que ia desmaiar de medo. ― Porque não gosta que
eu diga quando ele foi tomar uma cerveja, ― ela gritou e fechou os
olhos, certa de que o marquês ia bater nela.
Ele a empurrou, e Rue caiu no chão. Quando ela abriu os olhos o
marquês já tinha ido embora, deixando a porta aberta. Ela lentamente
se levantou quando o som de um cavalo ao longe a alcançou. A
senhora Lampley de repente estava ao seu lado, com os braços sob
Rue.
― Levante-se, agora, amor ― disse ela.
― Você o viu? ― perguntou Rue. ― Ele tinha o olhar do diabo
sobre ele. E cheirava a bebida!
― Você não vai dizer como ele cheirava, ― a senhora Lampley
suavemente a repreendeu. ― Feche a porta antes que a chuva nos
leve, em seguida, limpe a lama.
Capítulo Vinte e Dois
Robert parecia irritado quando Harrison entrou na sala
comum da casa pública. Ele franziu a testa sombriamente quando
Harrison sentou-se à sua mesa.
― O nó da sua gravata está muito apertado? Ou talvez suas
botas beliscam? ― Harrison perguntou ao tirar o chapéu e casaco. ―
Você parece um pouquinho infeliz.
― Como você estaria, se fosse eu, ― Robert reclamou. ― Pensa-
se que se está bem familiarizado com um homem e depois descobre-
se que mal conhece-o em tudo. ― Ele ergueu dois dedos para a garota
que servia para indicar que precisavam de duas cervejas, em seguida,
olhou para Harrison.
Harrison riu. ― Tudo bem, então, vamos ver, velho amigo. O
que faz você se comportar de modo tão petulante?
― Quando ia me dizer, Harry? Não somos amigos? Você não
confia em mim?
― Claro que eu confio em você! O que é que você acha que eu
não te disse?
Robert grunhiu para isso e sentou-se, olhando para longe de
Harrison, cruzando os braços sobre o peito.
― Vamos, não posso adivinhar o que você tem feito, ― disse
Harrison. ― Quando eu ia dizer-lhe o que, precisamente?
― Que você estava planejando se casar com a senhorita
Hastings, que é, ― Robert estalou ― a mesma senhorita Hastings
que, quinze dias atrás, você tinha a esperança de colocar para morar
com alguma viúva!
― Ah, ― Harrison disse, moderando.
― Ah, ― Robert estalou.
Fran colocou as cervejas sobre a mesa sem olhar para Harrison
e saiu rebolando. Sem sorriso, sem perguntar por sua saúde, sem roçar
contra ele como estava acostumada a fazer. Harrison gemeu e abaixou
a cabeça por um momento. Este mês tinha que ser o pior de sua vida.
― Acho que todo mundo num raio de Everdon ouviu isso, então?
― Eu aposto em alguns, ― Robert demorou. ― E ainda assim,
não respondeu minha pergunta. Quando você pensava em me dizer?
Quando o primeiro filho nascesse? ― Ele bufou e bebeu sua cerveja.
Assim fez Harrison. ― Eu não tive a intenção de esconde-lo de
você, Rob. Mas eu não tinha decidido como exatamente fazer o
anúncio.
Os olhos de Robert reviraram. ― Então é verdade! Ach, eu
sempre acreditei que você fosse contra o casamento, a princípio.
Pensei que erámos duas mentes que pensavam igual, melhor na cama
delas do que se casar com elas.
― Eu não acredito que nós pensamos da mesma maneira a esse
respeito, ― disse Harrison com um sorriso irônico. ― Mas, nem eu
estive ansioso para me juntar às fileiras dos casados. Contudo... ― Ele
olhou à sua volta. ― Algumas coisas mudaram.
― Você se apaixonou, então? Perdeu a sua estima por sua Lady
X, e encontrou-a em uma mulher que é pouco mais que uma menina? E
antes que você responda a isso, ― disse inclinando-se para a frente e
apontando para ele, ― devo avisá-lo que não vou acreditar em você se
disser que sim. A senhorita Hastings é formosa e ela pode ser muito
agradável, mas eu seria capaz de apostar tudo o que tenho que ela
não é tão atraente como sua Lady X.
― Eu não posso negá-lo, ― disse Harrison. ― Ela não é. No
entanto, a senhorita Hastings encontra-se em apuros, e eu, na minha
infinita sabedoria, concordei em ajudar.
― Por quê? ― Robert exigiu.
― Porque não? ― Harrison rebateu. ― Não é como se eu pudesse
alguma vez ter a Lady X.
― Eu não vejo por que isso é assim, ― Robert disse
teimosamente.
― Não é óbvio? ― Harrison perguntou impaciente. ― Ela é
casada. E não comigo. ― Ele bebeu o resto de sua cerveja.
― Sim, eu tinha minhas suspeitas, ― disse Robert. ― No
entanto, você se saiu bastante bem até agora. Você parecia
perfeitamente feliz! E agora, de repente, decide se casar com alguém
que mal conhece? ― ele balançou a cabeça. ― Dificilmente soa como
você.
― Não é a minha primeira escolha, ― Harrison disse, sem
rodeios. ― Mas, eu me coloquei em uma posição difícil. A propósito,
como em chamas você ficou sabendo disso?
Com um rolar de seus olhos, ele disse: ― Bernadette Shields
gosta muito do som de sua própria voz.
Harrison gemeu e sinalizou para mais cerveja. ― Eu não tenho a
menor ideia de como a senhorita Shields soube disso, mas eu
apostaria que a senhorita Hastings é igualmente apaixonada pelo som
de sua voz.
― Por tudo o que é santo, Harry, ― disse Robert com grande
exasperação. ― Se não está inclinado a casar com essa menina, não
se algeme. Isso só vai levar a ressentimento e infelicidade. Você está
preparado para viver o resto de sua vida dessa maneira?
Deus não, ele não estava preparado, de maneira nenhuma. Ele
não queria falar sobre isso; não queria pensar nisso. Ele queria uma
ou duas horas de liberdade disso.
― Não, eu não estou, mas eu dei minha palavra. Caramba, é
ainda pior do que isso, eu me ofereci, Robert. Em um momento de
pena da menina, eu me ofereci, e agora é impossível para mim retirar
minha palavra.
Robert ficou boquiaberto. Depois de um momento, ele sacudiu a
cabeça e olhou tristemente para o amigo.
― Quando?
― Em questão de dias, ― Harrison murmurou. ― Assim que a
chuva cessar. ― Ele se mexeu na cadeira, irritado com os vínculos
invisíveis nela. ― Vamos, me dê alguma notícia. Deixa-me beber uma
cerveja e não pensar em meus problemas por alguns minutos.
― Eu não acho que eu posso melhorar suas novidades, mas vou
tentar, ― disse Robert com um suspiro, e se acomodou. ― Andrew
Penstock foi acusado de caça furtiva, ― ele começou, e estava no
meio de contar a história do infeliz encontro com o senhor Penstock
com um policial quando a porta da casa pública abriu com um grande
estrondo, assustando todos. A sala inteira de homens virou para ver
quem havia chegado.
Lorde Carey entrou na casa pública um pouco instável, mas seu
olhar pesquisou calmamente a sala lotada quando ele puxou os dedos
da luva de sua mão, um por um.
A visão dele confundiu Harrison. Ele não conseguia se lembrar
de ter ouvido o marquês indo na casa pública. Quando o olhar do
marquês pousou em Harrison, e ele começou a empurrar ruidosamente
por entre as mesas até ele, Harrison acreditou que deveria ter algo a
ver com a propriedade.
― Parece que ele estava nadando em um barril de cerveja, ―
Robert murmurou.
― Eu imagino que sim, ― Harrison disse baixo, e se levantou. ―
Milorde? ― Ele disse enquanto Carey desajeitadamente empurrou
uma última mesa fora do seu caminho com tanta força que ela
tombou. Harrison ouviu Robert levantar atrás dele.
Carey olhou para Harrison com veneno. Ele agarrou as costas de
uma cadeira para apoiar-se contra ela e disse:
― Você realmente acredita que poderia andar todo empertigado
ao redor de Everdon Court como um maldito pavão, e eu não iria
saber de sua traição? Acha que um bastardo poderia me cornear e
não sofrer as consequências?
O ambiente de repente ficou tão silencioso que se podia ouvir
uma moeda caindo. Bom Deus! O pulso de Harrison começou a bater
com raiva crua. Ele gesticulou para a mesa.
― Milorde, talvez você possa ficar mais confortável se você se
sent…
― Eu não quero sentar-me! — Carey retrucou, balançando um
pouco contra a sua cadeira. ― Eu sei que você se deitou com ela, Tolly!
Sei que você colocou uma criança em minha esposa!
― Deus no céu, ― Robert murmurou.
― Você está muito enganado, milorde, ― Harrison disse
severamente. ― Por favor, sente antes de envergonhar-se ainda mais.
― Traidor, ― Carey disse acidamente. ― Depois de tudo que fiz
por você
― Eu não vou ficar aqui e permitir que você manche o bom nome
de sua esposa ou o meu com a sua calúnia. Você está enganado.
Algo despertou nos olhos vítreos de Carey. Ele se lançou para
frente e enfiou o dedo no peito de Harrison, empurrando-o. ― Vou vê-
lo enforcado, Tolly. Vou vê-lo enforcado por tomar a minha mulher
para sua cama!
Harrison bateu a mão do marquês para baixo e agarrou seu
braço, segurando-o em um aperto. ― Isso é o suficiente, ― disse ele
baixo. ― Você está fazendo um grande tolo de si mesmo. Sente-se
agora, antes de fazer um dano irreparável.
Ele estava ciente de que Robert moveu-se para ficar ao lado
dele, consciente de que todos na sala estavam assistindo de bocas
abertas.
Carey não parecia compreender. Ele olhou como se fosse
balançar Harrison, a qualquer momento, e Harrison se preparou para
isso. Mas Carey era um covarde por completo. Ele empurrou o braço
livre do aperto de Harrison e tropeçou para trás, colidindo com uma
mesa.
― Não sabe o que você fez, ― disse ele. ― Ainda não entendeu
como vai pagar por isso. ― Ele empurrou ao redor, colidindo mais
uma vez com a mesa, e com um grito de raiva, mandou-a correndo
através da sala antes de sair para a noite.
Ninguém se mexeu; ninguém quase respirava. Quando alguns
momentos se passaram e parecia que o marquês não voltaria, as
pessoas lentamente começaram a tomar os seus lugares. O ruído de
vozes sussurrantes começou a subir, e depois olhares foram lançados
na direção de Harrison.
Harrison saltou quando Robert colocou a mão em seu ombro.
― Sente-se. Quanto mais tempo você ficar em pé, mais tempo
eles olharão, ― disse ele, e empurrou Harrison para baixo no assento,
e sua caneca de cerveja na mão.
Harrison fechou os dedos em torno do punho; raiva apertava
sobre o peito. ― Eu deveria me despedir, ― disse ele. ― Não posso
imaginar o que ele fez com Lady Carey, se é isso o que ele mostrou
em público.
― Espere, ― Robert aconselhou-o. ― Encontre seu equilíbrio.
Você não vai ser de alguma utilidade se estiver tão irritado como
parece.
Robert estava certo, mas Harrison não conseguia parar de
imaginar as muitas maneiras que Carey poderia ter prejudicado Olivia.
Seu sangue bombeou muito mais forte.
― Bem, então, ― Robert disse enquanto levantava sua caneca.
― Acho que o segredo de Lady X foi revelado.
― Cristo no céu, ― Harrison murmurou, em seguida, ergueu o
caneco.
― Cerveja, ― Ele chamou Fran. ― Traga-me cerveja! ― Ele
tinha que levar Olivia para longe daqui.
Ashwood. Era tudo o que tinha, o único lugar para onde ele
poderia escapar. Pensou em Alexa, em Olivia, na equipe leal de
Everdon Court. Robert estava falando seriamente sobre algo, mas os
pensamentos de Harrison foram girando, o sangue correndo como um
rio em seus ouvidos. Tudo tinha girado fora de controle e não sabia
como obtê-lo de volta.
A porta do Cock and Sparrow se abriu novamente, e Harrison
instantaneamente ficou de pé, girando em direção à porta.
Não era Carey; era um jovem que gritou: ― Socorro! Alguém
venha, houve um acidente!
― O que aconteceu? ― Harrison exigiu quando vários homens
correram para ver o que tinha acontecido.
Outro homem tropeçou, seus olhos se encheram de horror. Ele
olhou ao redor da sala, finalmente encontrando Harrison. ― Você tem
que vir, Sr. Tolly! É o marquês! Ele cavalgava muito rápido, e o cavalo
escorregou na lama e quebrou a perna.
O som alto de um tiro enviou um choque através de Harrison.
― Onde está o marquês? ― perguntou rapidamente. ― Ele está
ferido?
O homem engoliu em seco. ― Eu acho que ele está morto,
senhor. Quebrou o pescoço.
Capítulo Vinte e Três
— Você violou a minha confiança, ― Olivia disse com raiva
para Nancy.
Seu tom pegou Nancy desprevenida; a jovem empalideceu e
ficou boquiaberta com Olivia. ― Eu ... Eu não sei o que quer dizer,
madame.
― Você não sabe? ― perguntou Olivia. ― Quem mais nesta casa
seria tão presunçosa a ponto de pensar que sabe algo tão íntimo
como uma gravidez?
Nancy pareceu ficar enjoada.
― Eu não estou grávida, Nancy, ― disse Olivia, suas mãos se
curvaram em punhos para não gritar. ― Mas a sua especulação
indecorosa causou um racha horrível entre meu marido e eu.
― Perdão, Lady Carey, ― Nancy murmurou entre lágrimas com
uma reverência.
― É tarde demais para isso. ― Ela apontou para a porta. ― Vá.
Deixe-me.
O queixo de Nancy começou a tremer enquanto fugia. Olivia
podia ouvir seus soluços enquanto corria pelo corredor. Ela nunca
tinha levantado a voz para qualquer servo, mas a velha que incomodara
Olivia, e que temia irritar seu marido, se fora. Não sabia o que iria
acontecer, mas ela iria encontrá-lo de cabeça erguida.
Ela começou a andar, sua mente correndo através de todas as
possibilidades. Nunca tinha visto Edward tão irritado. Pegou o atiçador
de ferro da lareira e escondeu atrás da cadeira onde ela poderia
alcançá-lo. Ela estava preparada para usá-lo, Edward nunca iria forçá-
la ou levantar a mão para ela novamente, não se pudesse evitar.
O som de vozes lá embaixo chegou até ela. Seu coração estava
correndo tão rápido que ela temia que poderia pular para fora do
peito. Parecia que vários homens tinham vindo com ele. Olivia se
esforçou para ouvir. As vozes foram ficando mais altas, e soou como
se alguém tivesse gritado. Isso foi seguido por passos movendo-se
rapidamente pelo corredor em direção a seu quarto.
Olivia pegou o atiçador, sua mão fechando em torno do punho.
Sua respiração estava vindo tão dura e rápida, que ela estava com
medo de que seu coração parasse. A batida dura em sua porta foi
como um tiro de medo incandescente por sua espinha.
Outra batida dura, e ela levantou o atiçador.
― Lady Carey! ― Brock chamou através da porta. — Olivia
deixou cair o atiçador. ― Lady Carey!
Ela correu para a porta e abriu-a. O rosto de Brock estava
pálido.
― Brock! O que foi ? O que está errado? ― Ela nunca tinha visto
ele assim; o pobre homem mal podia falar. Ela colocou a mão em seu
braço. ― Brock! Brock, está tudo certo. Diga-me o que aconteceu.
Ele engoliu em seco e colocou a mão na gravata. ― Você tem
que vir, senhora. Houve um acidente horrível.
Harrison. Edward o matou! Seus joelhos começaram a
enfraquecer, e seu estômago revirou. Ela agarrou a moldura da porta
para manter-se de entrar em colapso. ― Edward…
Brock assentiu, e seu coração se apertou dolorosamente. ― Sua
senhoria foi jogado de seu cavalo, ― disse ele, com a voz embargada.
― O cavalo escorregou na lama e ambos caíram.
Não o Harrison. Com a cabeça girando, Olivia soltou a respiração
que ela estava segurando. ― Querido Deus, Brock, ele está
gravemente ferido?
Brock estremeceu. ― Senhora, ele está... morto.
Olivia olhou para o mordomo. Não era possível. Alguém havia
sido morto, não Edward. Quando Brock não falou, ela desabafou. ―
Meu marido está morto? ― Incapaz até mesmo de compreender essas
palavras.
― Lady Carey.
Harrison! De repente ele estava lá, seu refúgio, muito vivo, sua
expressão sombria. Sua capa estava molhada e a bainha enlameada.
Seu cabelo escuro molhado, estava despenteado. Olivia queria jogar-
se na segurança de seus braços.
― É verdade? ― Ela perguntou, sua voz quase um sussurro. Ele
assentiu. ― Onde? ― ela disse, com a voz embargada. ― Onde ele
está?
― Ele foi levado para o salão da manhã, ― Brock disse com voz
rouca.
― Preciso vê-lo.
― Eu não recomendo, ― disse Harrison, sua voz firme e forte.
― Seu pescoço foi quebrado na queda.
Olivia olhou diretamente nos olhos de Harrison. ― Preciso vê-lo,
― ela insistiu. Ela tinha que ver com seus próprios olhos que ele
estava realmente morto.
Harrison trocou um olhar com Brock, em seguida, estendeu o
braço.
― Eu vou te levar.
Havia homens no hall, todos falando em voz baixa. Eles pararam
de falar quando Olivia e Harrison começaram a descer as escadas,
olhando para ela com expressões que pareciam quase suspeitas.
Apenas um deles falou enquanto ela se movia através deles. ―
Minhas condolências, a senhora, ― disse ele.
Harrison passou por eles, pelo longo corredor até a salão da
manhã.
Dois homens estavam dentro e ela podia ver as botas de Edward
saindo do final da mesa onde o tinham posto. Suas botas ainda
estavam molhadas. Ele não tinha sido morto há tempo suficiente para
suas botas terem secado.
Olivia soltou o braço de Harrison e caminhou para a frente, os
olhos fixos nas botas até que chegou ao seu lado. Sua roupa estava
completamente encharcada; seu cabelo dourado escurecido estava
preso à sua testa. O sangue escorria de um corte na bochecha e a
lama havia manchado sua gravata marrom. O colete estava rasgado, e
Olivia irracionalmente se perguntou porquê.
Obrigou-se a olhar para seu rosto. Sua pele estava cinza, com os
lábios azuis, e sua cabeça pendia para um lado em um ângulo
peculiar. Ele estava morto, realmente morto.
Edward estava morto.
Olivia cobriu a boca com a mão e olhou com horror para o seu
cadáver. Os senhores ao redor dela se moveram e evitaram olhar para
ela.
Ele se foi. Ele não podia machucá-la novamente. No entanto,
Olivia jamais tinha desejado a morte de Edward. Ele era jovem; tinha
toda a vida à sua frente. Ainda assim, ela sentiu uma corrida tão
esmagadora de alívio que ela caiu de joelhos ao lado dele. Na morte,
ele parecia tão relaxado. Não havia expressão entre os olhos, sem
punhos apertados. Ele se parecia com o jovem que ela conheceu há
sete anos. Ele se parecia com o homem que ela acreditava que podia
fazer feliz.
Ela se ergueu e deu um passo para trás, longe de seu corpo, e
de alguma forma conseguiu virar. Harrison estava a poucos passos de
distância, as mãos entrelaçadas com força em suas costas, seu olhar
fixo nela.
― Temos de avisar a família, ― disse ela suavemente. ― E o
vigário.
― Claro.
― E o agente funerário.
― Você não deve se preocupar, senhora. Vou providenciar tudo
o que precisar ser feito.
― Obrigada. ― Olivia se obrigou a olhar para Edward mais uma
vez. Morto. ― Obrigado por trazê-lo para casa, ― disse ela. ― Se
você me desculpar...
De repente, precisava ficar sozinha. Ela baixou a cabeça e saiu
da sala, longe de seu marido morto e da opressão que tinha sofrido,
que acreditou que sempre sofreria. Ela caminhou pelo corredor longe
do hall, quase sem enxergar.
Seus pensamentos estavam correndo junto com seu coração; ela
ainda não tinha retomado a respiração. Olivia foi até as escadas de
serviço e correu até um lance de escadas, e depois outro, e fez seu
caminho para o berçário.
O quarto estava frio e tão escuro que ela quase não podia
distinguir o mobiliário. Entrou no aposento, em seguida, afundou no
fim da pequena cama e começou a puxar ar para os pulmões.
Como era possível? Que milagre foi esse, que ela tinha sido
libertada de sua prisão? Ele estava morto! Uma onda surpreendente
de tristeza subiu nela, mas foi rapidamente superada pelo inchamento
forte de alívio. A tensão começou a escoar para fora de seu corpo
quando a realidade começou a afundar-se. Estava livre dele. Ela
estava livre.
Olivia permaneceu no berçário escuro, frio, olhando para o
padrão de chuva nas janelas, sentindo algo que ela não sentia há tanto
tempo que no início ela não reconheceu.
Era a esperança. A tensão tinha desaparecido, e em seu lugar, ela
foi se enchendo de esperança.
Mas havia algo mais lá, também; algo mordiscando nas bordas
do seu alívio, culpa. Ela tinha dito coisas que sabia que iria irritá-lo. O
levara a correr de Everdon Court em estado de embriaguez. Ela não
era, em parte, responsável por sua morte? Não tinha fantasiado sobre
isso uma e outra vez?
O alívio, a culpa, a confusão, eram esmagadoras.
A casa estava em silêncio quando Olivia finalmente saiu do
berçário e desceu os degraus. Quanto tempo ela tinha ficado no
berçário? Ela moveu-se silenciosamente para o piso principal, e
quando virou a esquina para o corredor principal, ela viu a luz de uma
única vela.
Harrison estava sentado fora do salão da manhã debaixo de uma
arandela. Seus cotovelos estavam em seus joelhos, a cabeça entre as
mãos.
Enquanto Olivia caminhava pelo corredor acarpetado, ele não
levantou a cabeça.
― Harrison? — Ele ficou de pé ao som de sua voz. Quando a viu,
ele rapidamente se levantou. ― Você está bem? ― Perguntou ela.
― Eu estou bem, ― disse ele. ― Um pouco atordoado.
― Como eu. ― Ela olhou para a porta do salão da manhã.
― O agente funerário chegou, ― disse ele. ― Ele e sua esposa
estão dentro e Brock está com eles agora. Mensageiros foram
enviados a Londres para dar a notícia a sua família.
Ele tinha tomado conta de tudo, como ela sabia que faria.
― Olivia...
― Mal posso acreditar, Harrison, ― ela deixou escapar, antes
que ele pudesse falar, antes que pudesse dizer coisas que ela não
podia responder. ― É como se eu estivesse em um sonho.
― Compreendo.
― Estou livre dele. ― Lágrimas de repente nublaram sua visão.
― Eu sonhei com liberdade, mas nunca quis ficar livre dele assim.
Harrison concordou. Ele olhou como se quisesse falar, mas
apertou os lábios e tocou seu rosto.
― Há muitas coisas a considerar. Mas, no momento, há
muitas providências a serem tomadas.
― Sim.
― Você deveria descansar um pouco enquanto pode.
― Eu não posso descansar!
― Experimente, ― ele pediu a ela. ― Dezenas de pessoas
começarão a chegar na parte da manhã, e a marquesa deve estar
disponível para encontrá-los e dirigir os procedimentos do funeral.
Ele estava certo. Olivia assentiu com a cabeça e acariciou sua
mão, em seguida, passou pela porta fechada do salão da manhã, meio
que esperando Edward vir balançando para fora, exigindo saber onde
estava indo e por que ela não manteve uma vigília ao seu lado.
Mas a porta não abriu. Ele estava realmente morto.
Capítulo Vinte e Quatro
O som de alguém fungando acordou Alexa na manhã seguinte.
Ela se levantou sobre seus cotovelos. Rue estava no guarda-roupa, a
touca para trás, dobrando as coisas de Alexa e guardando-as.
Com um gemido de desespero, Alexa rolou para o lado dela. ―
Por favor, tente não chorar tão cedo pela manhã, Rue, ― disse ela, e
fechou os olhos.
― Perdoe-me , senhorita…, ― Rue fungou ruidosamente. ― É
tudo culpa minha. Eu não devia dizer que ele saiu para uma cerveja,
mas eu fiz, e essa é a razão de ele está morto esta manhã.
Alexa abriu os olhos. ― O que você disse? ― Ela sentou. ― O
que você está dizendo? O que aconteceu com o senhor Tolly?
Rue engasgou, arregalando os olhos. ― Aconteceu alguma coisa
com o senhor Tolly?
― Pelo amor de Deus, você acabou de dizer que ele estava
morto!
― Não o senhor Tolly, senhorita! Oh, não, ― Gritou Rue. ― Eu
não poderia suportar se algo vier a acontecer com o senhor Tolly!
Alexa saiu da cama. ― Então, por quem você está chorando? ―
perguntou ela.
― Sua senhoria. É ele quem está morto.
Alexa engasgou. ― Por tudo o que é santo, menina, me diga o
que você quer dizer! Por que diz isso?
― É verdade, ― Gritou Rue. ― Ele caiu de seu cavalo e quebrou
o pescoço. Ele saiu e morreu, senhorita!
A notícia foi tão impressionante que para Alexa não podia fazer
sentido.
Edward, morto? ― Ajude a me vestir, disse.
Era como se a morte do marquês tivesse limpado toda a chuva do
céu ao amanhecer. Estava azul profundo como um ovo de pardal, e a
luz do sol refletia a umidade que se agarrava às árvores.
Quando Alexa correu para a casa principal, viu carruagens no pátio,
e entre elas, a carruagem preta do agente funerário. Ela ainda não
podia acreditar no que tinha acontecido, que o marquês tinha ido
embora. Ela tinha ouvido tudo da senhora Lampley, que estava ansiosa
para compartilhar os rumores que estavam voando sobre Everdon. O
marquês tinha montado para a aldeia na chuva, a senhora Lampley
disse, e tinha ido para a casa pública, e diante de Deus e de todos,
acusou Harry de fazer um corno dele.
― O que você quer dizer? ― Alexa havia exigido. ― Ele acusou
o senhor Tolly de um caso ilícito com a minha irmã?
― Pior ainda, ― disse a senhora Lampley. ― Ele acusou o
senhor Tolly de colocar uma criança nela!
Alexa estava atordoada demais para falar, e a senhora Lampley
tinha tomado isso como convite para continuar. Ela disse que o
marquês tinha deixado a casa pública com raiva e ido embora muito
rápido para a noite e as estradas lamacentas, e ele e o cavalo tinham
caído.
Ambos os animais estavam mortos agora.
Alexa não deu qualquer credibilidade às acusações do marquês.
Olivia nunca iria abandonar seus votos de casamento; decoro vinha
sempre antes do desejo. Olivia estava mais preocupada com as
aparências do que sua própria felicidade.
Na casa principal, um lacaio sombrio dirigiu Alexa para o salão. Ela
podia ver Olivia dentro, de frente para um par de cavalheiros que
estavam usando braçadeiras negras. Olivia estava vestida
modestamente em preto, o cabelo amarrado na nuca e envolto em
uma renda preta. Ela viu Alexa pairando à porta, e pediu aos senhores
para desculpá-la por um momento. Ela dirigiu Alexa para uma
antessala e fechou a porta.
― Ele se foi, Alexa, ― Olivia sussurrou. ― Você acredita nisso?
Ele está morto!
Olivia parecia pálida, como se não tivesse dormido. Mas havia
algo totalmente diferente sobre ela. Levou um momento para Alexa
perceber que o rosto de sua irmã parecia mais jovem. Estava livre de
tensão.
― Eu estou surpresa, ― disse Alexa. ― parece impossível.
― Eu não podia acreditar até que o vi. E ainda, parece quase
demasiado… ― Olivia sacudiu a cabeça. ― A família foi chamada. O
funeral será realizado na sexta-feira. Ele vai ficar neste estado até
então.
Alexa não se preocupava com os arranjos. Ela esperou por Olivia
dizer mais, para, pelo menos, reconhecer os eventos que cercaram a
morte do marido. Mas Olivia apenas olhava vagamente para a
pequena janela. Parecia como se ela estivesse a milhas desta pequena
sala.
― Você não está preocupada com o que aconteceu? ― Alexa
perguntou cuidadosamente.
Isso chamou a atenção de Olivia. Ela deu a Alexa um olhar
interrogativo.
― Ele foi jogado do cavalo e quebrou o pescoço.
― Oh, meu Deus, ― Alexa disse quando reconheceu a situação.
― Você não está ciente do que aconteceu, não é?
― O que você quer dizer?― Olivia perguntou. ― Fale
claramente. Ele bebeu muito e ele foi jogado de seu cavalo.
― Não, Livi. ― Alexa estendeu a mão para as mãos de Olivia. ―
Você não sabe o que todo mundo sabe. Não sabe o que aconteceu na
noite passada.
― O que no céu você está falando, Alexa? ― Olivia perguntou. ―
Eu disse o que aconteceu ontem à noite. Pare de falar em enigmas e
diga o que você quer dizer.
― Quero dizer que o marquês foi à aldeia na noite passada, ao
Cock and Sparrow, onde Harry estava com seus amigos, e diante de
todo mundo, ele acusou Harry de fazer um corno dele e colocar uma
criança em você. ― Olivia suspirou como se tivesse sido atingida. ―
Na casa pública, ― ela repetiu, incrédula.
― Não! Existe algum engano, ― disse ela, sacudindo a cabeça.
― Eu não ouvi tal coisa.
― É verdade. Edward estava bêbado, e fez uma acusação muito
pública. Harry levantou-se e disse que não iria ficar parado e ouvi-lo
difamar você, e Edward saiu. Foi quando aconteceu o acidente.
Olivia olhou para Alexa, seus olhos nublando com a confusão.
― Eu não ouvi isso, ― ela disse novamente, uma carranca
vincando sua testa. ― Por que Harrison não me disse quando eles
trouxeram Edward para casa?
― Talvez ele não quisesse angustiá-la mais do que o necessário,
― Alexa argumentou.
Olivia pressionou os dedos na testa como se sua cabeça doesse.
― Preciso falar com ele, ― ela disse suavemente. ― Eu preciso
ouvir dele o que aconteceu.
― Devo buscá-lo? ― perguntou Alexa, querendo ser útil.
Olivia sacudiu a cabeça. ― Ele foi para Everdon para organizar
moedas e símbolos de funeral.
Alguém bateu na porta.
― Lady Carey, o Conde de Manbrooke chegou, ― uma voz
masculina chamou.
― Eu tenho que ir, ― disse Olivia. Ela pegou a mão de Alexa e
apertou-a. ― Encontre algo preto para vestir.
Devemos prestar atenção às aparências.
Alexa bufou com isso. ― Porquê? Edward não pode ditar-lhe
mais, Livi.
― Porque nós estamos vivendo agora à mercê da família Carey,
Alexa. É por isso. Por favor, faça o que eu peço, ― disse ela, e saiu para
aceitar suas condolências.

A manhã passou pouco a pouco, e, lentamente, tudo começou a


fazer sentido para Olivia: os olhares dos homens ontem à noite
quando eles tinham trazido para casa o corpo de Edward, os olhares
curiosos do estafe. Olivia queria muito falar com Harrison sobre isso,
mas não havia um momento em que ela estava sozinha. O negócio de
enterrar um marquês era uma tarefa complicada.
Quando Olivia via Harrison, era sempre na companhia de outros.
Ele trabalhou incansavelmente para garantir que os arranjos
estivessem à altura de Edward. Símbolos de funeral foram arranjados,
mudos contratados para a procissão para a igreja, locutores para
atestar a vida estimada de Edward.
Os familiares de Edward chegou um após o outro, todos eles
enlutados. Sua irmã, Lady Belinda Mathieson, abraçou Olivia mais de
uma vez, a soluçar no ombro dela, e pediu para Olivia a fazer o
mesmo.
― Você deve estar em estado de choque, ― ela disse, entre
lágrimas para Olivia. ― É insalubre segurá-las; você deve liberar suas
emoções, Olivia.
― Estou além do ponto de choque, ― Olivia tentou assegurá-la,
mas Belinda não entendia.
― Você tem que estar em estado de choque, querida. Você não
derramou uma única lágrima.
Olivia permitiu Belinda abraçá-la novamente. ― Você está certa,
Belinda, ― ela disse com tristeza. ― Estou chocada que ele se foi. ―
E, como Belinda ficou ali, seus braços firmemente em torno de Olivia,
ela se perguntou se os Carey tinha ouvido o que tinha acontecido na
noite em que tinha caído do cavalo.
David parecia o mais atordoado de todos eles. ― Mal posso
compreender, ― disse a Olivia na noite de sua chegada. ― Eu nunca
imaginei que iria assumir o lugar de Edward. Eu me sinto tão mal
preparado. Como hei de viver sempre à altura do padrão que ele
estabeleceu?
― Você vai, ― Olivia assegurou. ― O senhor Tolly irá guiá-lo.
― Sim. Graças a Deus pelo Tolly, ― disse David. Ele olhou para
Olivia e sorriu fracamente. ― Graças a Deus por você. É tão querida a
todos nós, Olivia. Estamos todos profundamente preocupados com
você. Minha irmã, minhas tias e tios e primos. Não deve se preocupar
com o seu futuro. Nós todos concordamos que tem um lugar com a
gente e uma renda mensal durante o tempo que você precisar.
Estamos conscientes de que não há ninguém para cuidar de você.
Para cuidar dela. Ela não tinha dinheiro próprio, ninguém a
quem recorrer, como salvar Alexa. Tudo tinha acontecido tão
rapidamente que ela não havia pensado sobre o que aconteceria
quando Edward fosse sepultado e a família retomasse suas vidas. Ela
gostaria de poder falar com Harrison, para buscar seu conselho e seu
conforto.
Olivia esperava que Alexa tivesse entendido mal o que havia
acontecido na noite em que Edward tinha morrido. Se alguém sabia,
esse alguém era Harrison. Se ao menos pudesse falar com ele.
A oportunidade não se apresentou até a manhã do funeral.
Olivia não conseguia dormir, então ela se levantou antes do
amanhecer e vestiu-se em seu traje fúnebre de bombazina preto e
fitas pretas. Quando a procissão começasse, ela acrescentaria um
chapéu preto e um véu.
Quando ela estava vestida, Olivia moveu-se através de uma casa
em silêncio, para o salão de recepção, onde Edward estava. Ela podia
ouvir os sons fracos de panelas na cozinha enquanto a senhorita Foster
se preparava para o dia. Olivia não tinha apetite.
Lentamente abriu a porta para o salão de recepção, ela ainda
tinha que superar o choque de ver seu falecido marido e ficou surpresa
ao descobrir Harrison lá. Ele estava de pé nas janelas olhando para
fora, sua roupa sóbria e marcada pela faixa preta amarrada em torno
de seu braço. Ele virou-se quando ela entrou, e um sorriso suavizou
suas feições cansadas. Olivia fechou rapidamente a porta atrás dela.
Os dois olharam através do salão um para o outro.
― O que você está fazendo aqui? ― Perguntou ela.
― Esperando o agente funerário. Ele vai chegar em breve para
preparar a mudança. ― Seu olhar vagou por seu rosto, bebendo dela.
Nenhum deles fez um movimento em direção ao outro, sem vontade
de fazê-lo com o cadáver de Edward no aposento. ― Como você está? ―
perguntou ele, com a voz um pouco rouca.
― Assim como seria de esperar. Estava desesperada para falar
com você. Alexa me disse o que os outros estão dizendo que
aconteceu na noite que Edward morreu. Mas eu preciso saber de
você, Harrison, é verdade?
O sorriso de Harrison desapareceu; Ele olhou para sua mão.
― Oh, Senhor, ― Olivia murmurou. Ela caiu contra a porta
fechada. ― Todo mundo ouviu a acusação?
― Todo mundo, ― ele confirmou.
Ela olhou para Edward, então, e um pequeno arrepio de
pressentimento percorreu sua espinha. Ela sabia que não importava o
quão falsa a acusação fosse, isso importava.
Harrison também sabia disso; seu olhar cinza parecia um pouco
mais velho.
― Os rumores se espalharam rapidamente, particularmente
sobre alguém tão notável como o marquês. Você deve preparar-se para
as perguntas que sua família vai inevitavelmente fazer.
― Eles não me perguntaram, ― disse ela. ― Não devem ter
ouvido.
Ele sorriu com simpatia. ― Talvez ainda não. Mas eles vão. E
quando o fizerem, pense com cuidado o que você vai dizer. Sua
posição com eles foi reduzida com a morte do marquês, como você
sabe.
― Sim, ― disse ela. ― Mas David gosta muito de mim.
Harrison parecia cético. ― Ele é o marquês agora, Olivia. Isso
muda a perspectiva de uma pessoa.
Ela sabia que ele estava certo, que ela não poderia tomar nada
como garantido. Olivia de repente se sentiu muito cansada. Ela
afastou-se da porta e atravessou o salão até ele. Pareciam milhas. Ele
a viu se aproximar, o corpo dele estava tenso, com as mãos ao lado do
corpo. Era errado, tão errado, mas Olivia precisava de seu conforto
uma última vez. Ela se inclinou para frente e colocou sua bochecha
contra seu ombro. Harrison levantou o braço e para colocá-lo em
torno de sua cintura. Ele virou a cabeça, a boca n o t o p o da cabeça
dela.
― Tome cuidado, ― ele sussurrou. ― É uma viúva sem um
herdeiro. Quando se adiciona um escândalo a isso, é como se você
estivesse em pé sobre o fim de um galho fino de árvore. Não é uma
questão de se ele vai quebrar, mas quando. E então a questão é
quão longa é a queda.
Ela fechou os olhos. ― Juro que não sei o que fazer.
Ele enfiou o dedo sob o seu queixo e a fez olhá-lo. Ele sorriu
suavemente, tranquilizador.
― Seja quem você é, amor. Seja a mulher vibrante e bonita que
sempre foi. Depois do funeral, vamos determinar o curso do nosso
futuro.
O coração de Olivia deu um salto ou dois.
Ela ouviu o som de uma carruagem descendo para o pátio.
Harrison baixou a cabeça e beijou sua bochecha, seus lábios quentes
em sua pele fria.
― Seja corajosa, ― ele sussurrou. Ele deu um passo em volta
dela, saindo da sala para cumprimentar o agente funerário.
Quando ele saiu, Olivia olhou para o rosto de cera de Edward.
Um calafrio correu por sua espinha novamente, e ela apertou a mão
contra seu abdômen, empurrando para baixo uma onda de náusea.
Capítulo Vinte e Cinco
No funeral, Harrison sentou-se diretamente atrás da família, o
olhar fixo nas costas de Olivia. Ela estava sentada entre Westhorpe e
Lorde e Lady Mathieson.
O funeral foi tudo que Carey teria desejado; Harrison assegurou
duplamente que haveria uma grande quantidade de pompa e palavras
floridas que atestavam o excelente homem que Carey tinha imaginado
ser.
Depois do enterro, a família Carey recebeu carpideiras que
vieram de toda a Inglaterra para prestar suas últimas homenagens.
Olivia estava régia em seu papel como a viúva. Ela falou a cada
pessoa, uma mulher triste, grata pelo respeito mostrado a seu marido,
preocupada com sua dor, e digna face aos sussurros que parecia
flutuar sobre o ambiente. Harrison podia sentir o escrutínio. Mais do
que um olhar suspeito foi lançado em sua direção, mais de um leque
preto levantado para que a fofoca pudesse ser dita. Ele ficou afastado
de um lado, disponível se a família precisasse dele, mas a parte das
atividades de modo a não dar mais motivo para conversa.
À medida que as pessoas começaram a rarear, Harrison assistiu
Westhorpe puxar Olivia de lado. Ele agarrou seu cotovelo e inclinou a
cabeça para ela, falando seriamente. Olivia olhou para ele,
balançando a cabeça, o rosto sereno. Quando Westhorpe soltou o
braço dela, Olivia se virou e olhou para Harrison do outro lado da sala.
Ele soube imediatamente pela expressão de olhar que tinha chegado
o momento, que a família Carey tinha ouvido os rumores do que tinha
acontecido na noite em que o marquês tinha morrido e que iria
confrontá-los.
Um lacaio apareceu ao lado de Harrison. — Sr. Tolly, por favor,
Lorde Carey gostaria de uma palavra no estúdio.
O novo Lorde Carey.
― Obrigado, Bruce, ― disse.
Ele não tinha exatamente elaborado o que diria, mas estava
muito claro em sua cabeça uma coisa: ele não iria aceitar qualquer
responsabilidade pelo que tinha acontecido com o marquês. O
bastardo sangrento tinha feito isto a si mesmo. Harrison só esperava
que Olivia se lembrasse disso também.
No estúdio com Olivia, Westhorpe parecia um pouco incerto sobre
como proceder. Harrison sempre o admirou. Ele tinha sido criado
como um segundo filho sem nenhuma responsabilidade. Sua sede de
prazer tinha sido incentivada por seu pai, que achou mais fácil dar a
ele um banho de dinheiro do que encontrar uma ocupação útil para
ele.
Westhorpe nervosamente pigarreou. Ele coçou o queixo,
pensativo. Foi até a janela e olhou para fora antes de se virar e sorrir
para Olivia, embora bastante superficialmente.
― Olivia, sabe como admiro você, não é?
― Assim como eu também admiro você, David. Nós sempre
tivemos ótimos momentos na companhia um do outro, não tivemos?
― Sim, tivemos. ― Ele respirou. ― Infelizmente... meu carinho
por você não pode me ajudar a esquecer as coisas muito
perturbadoras que minha família e eu ouvimos nestes últimos dias.
Particularmente sobre as últimas horas do meu irmão. ― Ele olhou
para Harrison.
― Lamento que você já tenha ouvido falar sobre isto, ― disse
Olivia. ― Mas Edward estava enganado. Terrivelmente enganado.
Harrison se encostou na parede e cruzou os braços sobre o
peito.
― O problema com os mexericos é que raramente são baseados
na verdade.
― Estes não são mexericos, Tolly. Este é o relato de várias
pessoas que estavam na casa pública quando meu irmão confrontou
você. ― Westhorpe olhou para Olivia. ― Tanto quanto me dói dizer
isso, me disseram que meu irmão tinha ido à aldeia para enfrentar
Tolly e acusou vocês dois de fazer-lhe um corno. E havia menção de
uma criança por nascer.
― Oh, David, ― Olivia disse com tristeza, como se ela estivesse
decepcionada com ele por sugerir isso. ― Lamento que a sua família
tenha ouvido essas coisas miseráveis. Mas, elas não são verdadeiras.
Eu não o traí. Não estou grávida.
― Mas, por que ele deveria pensar isso? Por que iria cavalgar
até a aldeia na chuva, à noite, para confrontá-lo? ― Ele perguntou,
apontando para Harrison.
― Porque ele era um bêbado que desconfiava de todos ao seu
redor, ― Harrison disse, sem rodeios.
Westhorpe o encarou em choque.
Harrison se afastou da parede, seu olhar firme sobre Westhorpe.
― Eu já fui menos do que honesto com você, milorde? Nunca
suspeitou que o carinho de seu irmão para a bebida estava além do
normal? Você sabe muito bem que eu, de todas as pessoas, nunca
mancharia o nome do seu irmão para você ou qualquer outra pessoa,
mas as circunstâncias são excepcionais. Lorde Carey era dado a beber
e desconfiar, especialmente no que se referia a sua esposa. Ele ouviu
as insinuações equivocadas de uma empregada, essa é a verdade.
Westhorpe parecia confuso. Ele passou a mão sobre a sua
cabeça. ― Eu sei muito bem como servos falam, ― admitiu. ― Mas eu
também conhecia meu irmão muito bem, e eu não o r e conheço
como o homem que você descreve, Tolly. Sim, ele gostava de sua
bebida, mas não mais do que qualquer outra pessoa. E era um
homem racional, e não um disposto a ouvir fofocas ou apressar o
julgamento. Você não pensa assim, Olivia?
Olivia hesitou, e por um momento, Harrison pensou que iria
negar. Mas ela balançou a cabeça lentamente. ― Ele raramente era
racional no que se referia a minha pessoa. Foi cruel comigo.
Westhorpe parecia completamente atônito. Ele olhou para Olivia
como se nunca a tivesse visto antes. ― Como você espera que eu
acredite que isso é verdade? ― Perguntou ele. ― Ele nunca
mencionou qualquer desconfiança de você, Olivia. Mas, mesmo que
eu tenha notado uma amizade entre você e o senhor Tolly…
― David, o senhor Tolly pretende se casar com a minha irmã.
― Lady Carey... — Harrison começou.
― O senhor Tolly tem sido meu amigo firme nesta casa e neste
casamento por muitos anos. Edward não me respeitava, David. Ele até
me bateu. E na noite em que morreu, estava bêbado e irracional. No
entanto, ao contrário da fofoca que você já ouviu, eu tenho sido fiel a
ele, como tem o senhor Tolly. Como eu disse, o senhor Tolly tem um
entendimento com Alexa.
Westhorpe parecia totalmente chocado. Ele olhou de Harrison a
Olivia.
― A senhorita Hastings, ― ele repetiu, e olhou para Harrison
para confirmação. ― Você está para se casar com a senhorita
Hastings. ― Harrison concordou. ― Por que diabos ela concordou
com isso? ― perguntou Westhorpe. ― Ela tem muitas opções para se
casar com um homem que possui um título e um nome legítimo e
melhorar a sua situação, ― disse ele, como se casar com Harrison iria
arrastá-la para as profundezas da sociedade.
― Ela é a única com uma criança, ― Olivia disse suavemente.
― Meu Deus, ― Harrison murmurou. ― Lady Carey, não há
necessidade de divulgar mais.
― Ele deve saber a verdade, ― disse ela simplesmente. ― Ele
perdeu seu irmão e deve saber a verdade.
Westhorpe não parecia particularmente sensível da verdade. Ele
olhou para Harrison. ― Então é assim que você paga a generosidade
do meu irmão? ― Ele perguntou, irritado. ― Corrompendo a irmã de
sua esposa?
― Procuro apenas salvar sua reputação, ― Harrison disse, e
teria dito mais se Olivia não tivesse entrado na frente dele.
― Você entendeu mal, David, ― ela disse suavemente. ― A
criança que minha irmã carrega não é do senhor Tolly. Ele se ofereceu
para ajudá-la.
Westhorpe ficou pálido. ― O que em chamas está acontecendo
aqui? ― exclamou. Ele se afastou deles. ― Eu não estou preparado
para isso. Esta lamentável notícia, tudo isso, ― disse ele. ― Pensar em
tudo que se passou por trás das costas do meu irmão, e que sua irmã
está arruinada. ― Ele virou-se para eles. ― E agora temos um
escândalo que envolve a morte de meu irmão. Toda a Inglaterra vai
falar sobre isso, se já não estão. Os rumores são galopantes. E parece
que só vão piorar, dado esta notícia!
― O que pode ser feito a esse respeito? ― perguntou Olivia. ―
Procuramos evitar o escândalo, todos nós. Infelizmente, a
desconfiança e as suspeitas de Edward, misturadas com uísque,
trouxeram o seu fim.
― É isso que trouxe o seu fim? ― Westhorpe zombou. ―
Parece-me que entre você e sua irmã, Edward foi levado à loucura.
― Isso não é verdade, ― disse Olivia, sua voz tremendo de
indignação. ― Como você ousa dizer tal coisa?
― Eu não sei o que devo fazer, ― disse Westhorpe, cortando-a.
― Mas, sei que isso não será tolerado dentro da família. Não podemos
permitir qualquer coisa para dar origem a mais conversa, e enquanto
os dois ficarem aqui, especialmente se Tolly se casa com a senhorita
Hastings e ela tiver uma criança. Você vê, Olivia? O escândalo se
aprofunda, e em um momento em que devo assumir o controle dos
títulos da família e participações. Todo mundo vai olhar para ver o
que faço. Eu não vejo como isso pode ser evitado.
― Como o que pode ser evitado? ― Perguntou Olivia.
― Eu acho que o que sua senhoria sugere é que Alexa e eu
devemos partir, ― disse Harrison.
― Sim, no mínimo, ― Westhorpe concordou. Ele balançou sua
cabeça. ― Os últimos convidados estão saindo. Eu deveria estar lá. Vou
falar com o meu tio sobre isso e determinar o que deve ser feito. Venha
agora, Olivia. Os nossos convidados esperam por você para se
despedir.
Olivia olhou impotente para Harrison, depois deixou Westhorpe
levá-la para fora.
Quando eles tinham ido, as mãos de Harrison se contraíram em
seus lados. Ele tinha um mau pressentimento sobre isso. Um
sentimento muito ruim, de fato.
Capítulo Vinte e Seis
Os Carey se reuniram depois do jantar no escritório de Edward.
Todos eles, menos Olivia. Às onze e meia, eles se retiraram para a
noite. Olivia sabia disso, pois ela permaneceu no salão, esperando.
Nenhum deles falou com ela quando passaram pela porta
aberta, exceto David. Ele entrou no salão e parou no limiar, com as
mãos na cintura.
― Bem, então, ― disse ele. ― Nós tomamos uma decisão.
― Tomaram? ― Perguntou ela, levantando-se.
― Eu acho que não é nenhuma surpresa que vamos pedir a
Tolly e sua irmã para partir imediatamente. Gostaria de tê-lo mantido
para me ajudar, mas isso é impossível, dada a situação que ele se
colocou com sua irmã.
Como se Harrison tivesse causado isso. Como se Harrison fosse
de algum modo responsável pela morte de Edward, ou a situação de
Alexa. Olivia sabia pelo comportamento de David que não sairia nada
melhor.
― E quanto a mim? ― Perguntou ela calmamente.
― Quanto a você, ― disse ele, suspirando, ― gostaríamos que
você permaneça em Everdon Court e lamente Edward como ele
merece ser lamentado, de forma condizente com uma marquesa.
Após o período de luto, nós... vamos interceder para que você tenha o
que precise.
Parecia que seria banida, depois de tudo. ― Isso soa um pouco
ameaçador.
David suspirou novamente. ― Meu tio não é tão indulgente como
eu sou, Olivia, ― disse ele suavemente. — É sua sugestão de que
deixássemos claro: Se você não cooperar conosco e fizer o que
pedimos, será deixada sem dinheiro e cortada de nossa sociedade.
Naturalmente, que se estenderia a sua irmã também. Meu tio não tem
nenhum desejo de colocar os olhos em você de novo, mas eu o
persuadi que você deve ter pelo menos o período de luto.
Olivia piscou. ― Você poderia me expulsar?
David desviou o olhar desconfortavelmente. ― Como meu tio
aponta, você não nos trouxe nada. O benefício deste casamento tem
sido todo seu, na fortuna, na posição, e em conexões. Portanto,
vamos usar esse benefício para garantir que você não nos cause
escândalos mais dolorosos.
― Estou pasma, ― Olivia disse suavemente. ― Como você pode
falar comigo como se eu fosse uma criminosa? Não faz duas semanas,
eu era sua amiga mais querida, lembra?
O olhar de David cortou em toda ela. ― Você realmente deveria
descansar um pouco, Olivia, ― ele disse, se virou e saiu da sala.
Olivia não se moveu. Ela ficou olhando para a porta, além no
corredor, desejando a oportunidade de falar. Ela queria dizer-lhes
toda a verdade sobre Edward. Queria pedir desculpas por ter
imaginando todas as maneiras que ela poderia livrar-se dele, e, em
seguida, de alguma forma conseguindo fazê-lo. Ela queria dizer-lhes
que sentia muito pela sua perda, mas estava feliz por estar livre.
Que ironia, pensou Olivia, que a culpa era quase tão insuportável
quanto o seu casamento tinha sido.
Era meia-noite e meia, Olivia se encontrou vagando pela casa
escura, uma única vela para iluminar seu caminho. Era estranho,
pensou, como uma casa pode parecer quando uma alma a havia
deixado. Ela sempre tinha sido capaz de sentir a presença de Edward
nesta casa, mesmo quando ele não estava por perto. Mas não podia
senti-lo por mais tempo. O lugar onde ele tinha estado era apenas...
quieto.
Ela moveu-se silenciosamente pelos corredores, parando uma
vez para olhar para fora da janela, onde uma lua cheia derramava
uma luz leitosa sobre os jardins onde ela e Harrison tinham
compartilhado um beijo. Olivia fechou os olhos, recordando cada
momento, sentindo a lembrança aquecê-la.
Ela iria perdê-lo, sabia.
Olivia conhecia os Carey bem, entendia seu desejo de ser
percebidos como acima de qualquer suspeita. Mesmo uma pitada de
escândalo, especialmente um tão intimamente ligado à morte de
Edward não seria tolerado. Suspeitava que Harrison sabia disso,
também. Seria dado a ele a oportunidade de sair em seus próprios
termos, e em troca eles ofereceriam cartas de recomendação para
encontrar um novo posto.
Mas o que seria dela? Ela não tinha dinheiro próprio, salvo seu
dote. Quanto tempo isso iria mantê-la? Ela não achava que fosse o
suficiente para uma casa, muito menos para a manutenção. E então
havia Alexa, cujo segredo Olivia tanto tinha tentado manter. Agora
todo o campo e metade de Londres iria especular sobre elas de
formas que Olivia não podia sequer começar a imaginar. As meninas
Hastings deveriam ficar de pé, mas no final elas tinham rolado
montanha abaixo de uma forma espetacular.
Olivia virou a esquina do corredor, caminhando lentamente. À sua
frente estava um toque de luz, e quando ela se aproximou, viu que a
luz estava vindo de debaixo da porta do escritório do senhor Tolly.
Olivia acelerou o passo. Ela colocou a mão na porta de madeira lisa,
pressionou sua bochecha contra ela, em guerra consigo mesma. Ela
deveria caminhar, deixar para lá. Eles haviam causado problemas
suficiente. Mas a tentação de vê-lo, abraçá-lo, era insuportável.
Antes que ela percebesse completamente o que estava fazendo,
ela colocou a mão na maçaneta e virou. Quando ela abriu a porta e
olhou ao seu redor, Harrison estava de pé atrás de sua mesa em
mangas de camisa. Ele havia descartado sua gravata, tinha
desabotoado o colete, e seu olhar estava fixo na porta. Quando viu
que era ela, deu a volta na mesa.
Olivia deslizou para dentro e fechou a porta, em seguida, colocou
a vela de lado. Ele parecia preocupado, como se pensasse que algo
estava errado.
― Olivia?
Não havia nenhum pensamento consciente, nada mais do que a
emoção correndo através dela. Olivia correu para ele. Ela jogou os
braços ao redor do seu pescoço, enterrou o rosto em seu colarinho.
Os braços de Harrison envolveram em torno dela como duas
barras de ferro. Ele deu um longo suspiro e beijou sua testa. ― Você
está bem?
Olivia sacudiu a cabeça. ― Eu nunca vou estar bem, ― disse ela,
suas emoções borbulhando para a superfície, a sua vontade de
permanecer acima de seus desejos rapidamente se desgastando. ― Eu
quero conhecer um momento de felicidade, Harrison, ― disse ela. ―
Apenas um.
― Ah, querida, ― disse ele, e alisou seu cabelo para trás. Ele
olhou para ela com preocupação, desespero e amor, tudo isso. Ela
podia sentir a conexão com ele, podia sentir a força do seu coração ao
dela. Tudo o que sempre quis estava logo ali na frente dela, e o
abismo entre eles parecia ainda maior do que tinha sido antes da
morte de Edward.
Olivia levantou a cabeça, ficou na ponta dos pés e beijou
Harrison com tudo o que ela estava sentindo.
Mas ele imediatamente colocou-a em seus pés e levantou um
dedo entre eles. ― Não me toque, Olivia. Meu poder de resistir a você
tem sido severamente comprometido, e eu não posso prometer que
não vou tirar o máximo proveito de qualquer incentivo que você me
mostrar.
― Um momento é tudo que eu peço. Para saber, por uma vez
na minha vida, o que é ser amada.
Os olhos cinzentos de Harrison brilharam sombriamente quando
ele a esmagou para si, sua boca na dela, beijando-a com força,
segurando-a como se estivesse com medo de que ela voaria se ele a
deixasse ir.
Olivia sabia muito bem o que estava fazendo. Ela estava dando
credibilidade à fofoca, estava traindo sua irmã, mas na névoa de
excitação profunda e desejo, também sabia que seria a única vez em
sua vida que saberia o que era ser totalmente desejada, e desejar
alguém completamente em troca. Ela não iria fugir, não desta vez.
Ela estava livre.
Harrison girou em torno dela e empurrou-a contra a porta,
trancando-a. Sua boca, tão quente e úmida sobre a dela, era tão
tormentosa como agradável. Ele a abalou, sacudiu todos os ossos e
nervos. O corpo dela se curvou ao dele e ela sentiu como se misturasse
com ele, como ela se encaixasse em seus braços e seu corpo como se
estivessem destinados a ficar juntos assim. Agarrou-se a seu corpo
duro, sentiu os músculos se movendo sob suas mãos.
Ela nunca tinha sentido nada tão forte como a necessidade dele,
para ela, dentro dela, ao redor dela. Enquanto sua língua girava em
torno dela, e suas mãos acariciavam seus lados, seu torso, em
seguida, seus seios, Olivia esqueceu Alexa, Edward, e tudo o que
tinha acontecido. Ela viu, sentiu, somente Harrison. Ela foi encorajada
por seu desejo óbvio e admissão de afeto. Ele desencadeou
finalmente o seu desejo, e foi colidir com o dela em uma tempestade
voluptuosa de prazer.
Ele ansiosamente explorou sua boca enquanto suas mãos se
moviam em seu corpo, deslizando para baixo em uma curva, e depois
outra enquanto ela procurou seu cabelo com os dedos, em seguida,
pescoço e peito.
Harrison, de repente levantou-a do chão, girando em torno dela
e colocando-a na cadeira. Ele mergulhou para baixo para o oco de sua
garganta.
― Enfim, eu sinto o sua pulsação, ― disse ele.
O coração dela corria, galopava. Olivia baixou a cabeça para trás
com um gemido quando Harrison procurou a pele de seu seio com a
boca. Arrepios quentes de antecipação correram por sua espinha, o
que provocou sua virilha, fazendo-a úmida. Quando Harrison
pressionou o cume duro de sua ereção contra sua perna, ela inalou
uma respiração irregular, voraz.
Ele segurou seu rosto, pressionou sua testa na dela. ― Você não
pode imaginar o poder que você possui sobre mim. Com um olhar, um
suspiro, um sorriso, você me reduz a nada, apenas fome.
― É o mesmo poder que você possui sobre mim, ― ela disse, e
empurrou para trás uma mecha de cabelo escuro da testa. Harrison a
beijou com ternura, e deslizou as mãos até os ombros, em seguida,
sua costelas, deslizando-as para baixo, até os quadris. Ele mergulhou
uma mão debaixo da bainha de seu vestido e deslizou por sua perna.
Olivia gemeu e pressionou contra ele, rodeando o pescoço com
os braços, provocando-o com a ponta da língua. Ele moveu a mão,
tocando a carne macia da parte interna da coxa.
Ela engasgou de excitação. Uma pequena voz disse-lhe para
fechar as pernas, para parar antes ir longe demais e desistir de tudo o
que ela já tinha acreditado. Mas outra voz, uma voz mais forte, pediu
a ela para aproveitar este momento, pois nunca viria novamente. Ela
abriu as pernas um pouco mais.
Harrison gemeu. Ele acariciou sua coxa quando beijou seu rosto
e pescoço. Quando seus dedos tocaram o ápice de suas pernas, uma
deliciosa sensação percorreu Olivia como um rio.
Ela pegou as calças dele, os dedos encontrando os botões para
desfazê-los. Seu membro saltou livre de suas roupas e em sua mão. Ela
fechou os olhos enquanto ele a acariciava, de bom grado montando a
onda de prazer que estava construindo, o acariciou, sentindo-o inchar
e endurecer. Os dedos dele giravam em torno do núcleo de prazer de
Olívia, deslizando profundamente dentro dela, movendo-se mais
rápido. Ele ancorou um braço ao redor dela, com os olhos no rosto
dela, observando-a sucumbir ao seu toque e ao prazer que ela nunca
tinha conhecido.
― Harrison ― ela disse, com voz rouca.
Ele se moveu entre suas pernas. ― Relaxe e permita-se isso. ―
Ele começou a acariciá-la de novo, e quando Olivia oscilava à beira de
um clímax, ele empurrou para dentro dela, enchendo-a.
Olivia ofegou em voz alta com a sensação do corpo de Harrison
no dela. Ela caiu para trás contra a cadeira, agarrando-se a seus
braços, movendo-se com ele, contra ele, levantando-se para atender
a cada impulso. Ele se moveu enquanto a acariciava, montando-a em
um clímax explosivo que se quebrou em torno dela. Era como se
pedaços dela estivem caindo como chuva em torno deles. No
momento seguinte, Harrison gemeu e arrancou livre dela, derramando
sua semente em sua coxa. Olivia agarrou-se aos braços da cadeira
enquanto lutava para respirar. Harrison tocou sua testa à dela.
― Nunca, ― ele disse sem fôlego. ― Nunca me senti mais
realizado. Nunca desejei uma mulher como tenho desejado você por
mais de seis anos. Só você. Sempre você.
Ela cobriu lhe o rosto com as mãos e beijou-o na boca,
demorando lá, exaltando a sensação de ter se unido a ele tão
completamente.
Harrison beijou sua bochecha, testa, e depois ternamente a
beijou na boca antes de reuni-la nos braços, segurando-a para ele.
Olivia nunca se sentira tão ligada a outra pessoa. Seu coração
batia contra o peito dele, tentando saltar para o seu. Ela podia sentir
as lágrimas não derramadas em seus olhos, podia sentir seu sangue
fluindo quente e pesado através de cada veia. Os céus estavam
brilhando sobre eles, cobrindo-os.
Vários momentos se passaram antes que Harrison colocasse a
mão em seu rosto e a beijasse, suavemente, languidamente. E então
ele se inclinou para trás.
― Não, ― disse Olivia, se aproximando mais dele, mas Harrison
ganhou seus pés. Ele se endireitou e pôs as roupas. Ele sorriu para
ela enquanto corria os dedos pelos cabelos, em seguida, estendeu a
mão e acariciou-lhe a cabeça.
Ela encostou o rosto na palma da mão dele e fechou os olhos,
desesperada para memorizar cada momento, cada sensação. Mas a
realidade começou a infiltrar-se novamente como fumaça, enrolando
em torno de seus ternos pensamentos por Harrison, esgueirando-se
entre eles.
Ele desceu em um joelho ao lado dela e segurou seu rosto. ―
Vamos sair daqui, Olivia, ― disse ele suavemente. ― Deixamos
Everdon Court para trás, de uma vez por todas.
Olivia pegou sua mão e apertou-a entre as dela, e beijou a ponta
de cada dedo, um por um.
― O que você quer dizer? Para onde é que iriamos?
― Ashwood, ― disse ele instantaneamente. ― Eu herdei
Ashwood. Nós vamos para lá…
― O escândalo nos seguiria, ― disse ela.
― Eu não dou a mínima para o escândalo, ― ele disse
seriamente, e segurou seu rosto com as duas mãos, forçando-a olhar
para ele. ― Você é a única coisa que me preocupa, Olivia. Você é a
única coisa que me preocupou todos esses anos. Você sabe o quanto
eu te amo? Eu te amo, e Deus sabe que eu quis dizer-lhe isso, te
beijar, fazer amor com você. E agora, no infortúnio que se abateu
sobre esta família, um milagre aconteceu, não tenho mais que te
amar de longe. Eu posso te amar todos os dias, prover para você e
cuidar de você em todos os sentidos.
Ela podia sentir uma torrente de lágrimas crescendo em sua
cabeça e no peito. Ela engoliu-as para baixo e tomou as mãos dele
nas suas.
― Eu não posso ir com você, ― ela murmurou.
Harrison fez um som de impaciência, mas Olivia apertou a mão
dele. ― O que será de Alexa? Eu não posso deixá-la para trás por
causa da minha própria felicidade.
― Ela vai entender…
― Ela não vai. Ela honestamente acredita que vai fazer uma boa
vida com você, que você vai dar ao seu filho um nome. ― Ela olhou
em seus olhos. ― Você de todas as pessoas sabe como isso é
importante. Ela sabe que sua situação é desesperadora e fixou todas
as suas esperanças em você. Devo dizer-lhe que agora que meu
marido está morto, eu quero você, e ela deve cuidar de si mesma?
― Ela pode residir com a gente em Ashwood…
― Nós três? ― disse Olivia. ― Harrison, Alexa tem esperança em
um futuro que nós lhe demos. Que a convencemos de que deveria
aproveitar. E agora ela pode dormir sabendo que seu filho não vai
sofrer o mesmo destino que você sofreu. Como posso tirar isso dela?
Ela é minha irmã…
― Eu não me importo, ― disse ele asperamente.
― Talvez não agora. Mas, nos anos vindouros, quando você ver
Alexa e seu filho, você não vai sentir pelo menos um pouco de
remorso? Acho que vai. Penso que vai se sentir como se tivesse
perseguido sua própria felicidade à custa de uma criança inocente.
― Mas, eu te amo, ― ele insistiu.
― E eu te amo, ― ela disse com tristeza. ― Infelizmente, o
destino às vezes intervém na nossa felicidade.
Ele tirou as mãos da dela e se levantou. ― Se está determinada,
você vai pensar em muitas razões pelas quais não pode vir comigo.
Mas já pensou em por que deveria? Já pensou em sua felicidade?
Você está livre agora, Olivia. Você está livre.
Olivia olhou para seu vestido preto e balançou a cabeça.
― Eu não sou livre. Eu simplesmente mudei-me para outra
gaiola. Estou sendo mantida em cativeiro por minha estima por você,
e o fato de que sou tudo o que minha irmã tem neste mundo. Alexa
não é livre, ela é mantida em cativeiro por um filho bastardo. E a
criança... a criança não é nem um pouco livre, não é? A criança
enfrentará uma vida inteira de censura.
Harrison gemeu com exasperação e girou, fechando os dedos
atrás da cabeça por um momento. O peso de sua decepção encheu a
sala e apertou contra ela.
― Isto é realmente o que você quer? ― Perguntou
amargamente.
― Claro que não. Eu quero estar com você. Mas, reconheço que
há outros que serão feridos por minhas vontades. Edward está morto
por causa delas. Você e Alexa oscilam à beira da ruína por causa
delas.
― Você não está fazendo nenhum sentido.
― Porque você não quer ver, ― disse ela, chegando a seus pés.
― Eu sou responsável por tudo isso, Harrison. Edward está morto por
minha causa. Você está para ser banido por minha causa, assim como
Alexa.
― Isso é um absurdo!
― É, realmente? Pense nisso, se eu não tivesse te beijado, se eu
não tivesse caído de amor por você, teria Edward acreditado que um
caso entre nós era mesmo possível?
Ele olhou para ela em estado de choque. ― Você realmente não
acredita nisso. ― Ele a puxou para ele, segurando-a com força. ― Não
é culpa sua, Olivia. O marquês estava bêbado, ele era louco e foi
imprudente. É simples assim.
― Mas eu lhe dei razão para cavalgar…
― Silêncio, ― Harrison disse, e apertou a cabeça contra o
ombro dela. ― Silêncio.
Era impossível explicar a culpa que sentia, culpa por Edward ter
acreditado que ela tinha sido infiel, o que ela realmente tinha sido, no
seu coração. Culpa por ela não sentir tristeza por sua morte. Uma
grande extensão de culpa tão pesada quanto o desapontamento de
Harrison com ela, tão pesado como o vestido preto que usava. Ela
olhou para ele, estremecendo com a dor e mágoa em seus olhos.
― Eu te amo, Harrison. Mais do que palavras jamais poderiam
transmitir. Mas eu não posso ir com você. ― Ela saiu de seu abraço e
caminhou até a porta. Ela hesitou lá, esperando que ele a chamasse de
volta. Mas quando ele não falou, ela olhou para trás. ― Eu sempre
amei você, também, ― disse ela. ― E eu sempre amarei.
― Isso é um conforto escasso, ― disse ele friamente.
― Para mim também, ― ela concordou. Não havia mais nada a
dizer. Ela pegou a vela e saiu, seu coração rachando e caindo aos
pedaços.
Capítulo Vinte e Sete
Rue anunciou a Alexa que o senhor Tolly queria vê-la em seu
estúdio antes do café da manhã. Ele estava vestido de fraque cinza e
calça preta, uma gravata branca e imaculada amarrada perfeitamente,
e um colete cinza escuro. Se não fosse pela braçadeira de luto e as
olheiras sob seus olhos, ele teria parecido como se fosse qualquer
outro dia. Era óbvio que a morte do marquês tinha tido um impacto
sobre ele.
― Obrigado por ter vindo, ― disse ele friamente, como se ela
fosse um servo. ― Eu pensei que você deveria saber que vamos partir
para Ashwood no final da semana.
Alexa engasgou com surpresa. Ela estava exultante, surpresa, e
de repente muito esperançosa de que sua vida consistiria em algo
mais do que as paredes monótonas da casa da viúva.
― Esta é uma notícia muito bem-vinda! Pensei que estivesse
determinado a ficar.
― As coisas mudaram com a morte de Lorde Carey.
― E nós devemos residir lá, ― disse ela, para ter duplamente
certeza de que ela o entendia.
― Sim.
Um largo sorriso se espalhou em seu rosto.
― Obrigada, Harry, ― disse ela. E obrigada, Olivia. ― Eu sei que
você não deseja deixar Everdon Court, mas acho que é o melhor. Você
será um conde!
― Eu aconselho a não contar as galinhas antes que choquem,
Alexa. Eu não sei o que vamos encontrar lá, muito menos se a
possibilidade de um título é ainda viável. Vamos ficar satisfeitos de que
pelo menos temos um lugar para ir para o bem de seu filho.
― Sim, claro, ― disse ela. Ele era um homem cauteloso, mas ela
tinha toda a confiança de que seria intitulado antes do final do ano.
― Isso é tudo por agora, ― ele disse, e pegou sua caneta.
Alexa inclinou-se para ver o que ele estava escrevendo e notou
que a carta era endereçada ao senhor Fish.
― Olivia sabe?
― Não, ― ele disse, e começou a escrever.
― Vou contar a ela nesta manhã, devo?
Quando Harry não respondeu, Alexa deu a volta na mesa e
olhou pela janela. Outro dia de primavera cheio de sol. As flores
estariam florescendo logo. Ela esperava que tivesse jardins em
Ashwood. Condessas deveriam ter jardins.
Ainda estava sorrindo quando se virou e colocou as mãos nos
ombros de Harry. Seu corpo ficou tenso instantaneamente e ela
rapidamente retirou suas mãos.
― Perdoe-me.
― Por favor, Alexa, eu tenho muito para fazer antes de nos
despedirmos.
Alexa estava mortificada. Sua mãe sempre lhe tinha assegurado
que em um casamento arranjado, carinho viria, mas pode demorar um
pouco mais do que quando alguém era livre para escolher. Ela
certamente esperava que isso fosse verdade.

A maioria dos Carey tinha tomado seu caminho no meio da


manhã, deixando apenas David para trás. Belinda disse um estranho
adeus a Olivia, em seguida, correu para a carruagem, onde seu
marido esperava por ela.
Ninguém mais falou com ela.
Quando a família tinha ido, David chamou Olivia no estúdio.
Ela fez seu caminho até lá, o vestido arrastando no tapete atrás
dela. Não queria falar com David. Ela queria caminhar até o lago e
sentar-se em uma pedra e se lembrar dos momentos felizes que
passara na companhia de Harrison.
David estava andando quando ela entrou no estúdio. Ele limpou
a garganta.
― Meu tio e eu pensamos que talvez você poderia estar mais
confortável na casa da viúva. ― Ele olhou para ela, inquieto, como se
esperasse um rompante histérico.
Pelo menos não era um convento na Irlanda. ― E o senhor
Tolly? ― ela perguntou.
― Ele foi convidado a se retirar.
Ela suspirou e afundou-se na borda de uma cadeira. ― Depois de
quinze anos de serviço para esta família, é lançado fora, com base em
um rumor.
― Você não pode estar surpreendida, ― disse ele. ― É óbvio para
todos os interessados que algo aconteceu aqui, embora nenhum de
nós pode concordar a respeito de exatamente o quê. No entanto, as
decisões foram tomadas e nós pensamos que uma existência tranquila
na casa da viúva é talvez a maneira correta para você lamentar sua
perda.
Como se ela não pudesse ser confiável para se lamentar
corretamente.
― Estou interrompendo?
A voz de Harrison preencheu Olivia com esperança. Ela
rapidamente ficou de pé enquanto ele andava. Parecia tão viril, tão
bonito. E tão competente. Mas ele não parecia ele mesmo.
E ele não olhou para ela.
Não havia sorriso pronto para ela, nenhum calor, e o coração de
Olivia afundou. Ela deveria ter esperado por isso.
― Entre, Tolly, ― disse David. ― Nós estávamos falando de
você.
― Vocês estavam, de fato? Vim só para informar que a senhorita
Hastings e eu partiremos até o fim da semana. Vou deixar instruções
sobre várias contas para o meu sucessor.
― Quanto a isso, há alguém que você pode sugerir? ― Perguntou
David. Um sorriso frio se espalhou pelo rosto de Harrison. ―
Ninguém. ― David franziu a testa. ― Você tem alguma ideia de onde
você irá?
― Tenho a intenção de aceitar a minha herança e tomar o meu
lugar de direito em Ashwood.
David bufou. Quando Harrison não sorriu, ele olhou para ele com
ceticismo. ― O que quer dizer? Você quer que eu acredite que herdou
a propriedade Ashwood em West Sussex?
― Sim, ― Harrison disse calmamente.
― Mas como? ― David pressionou. ― Como pode um bastardo
herdar uma propriedade como essa?
― Quando o pai do bastardo não deixou herdeiros legítimos e o
decreto original concede especificamente a herança a qualquer
herdeiro de sangue.
David riu com surpresa. ― Caramba, eu acho que você quer dizer
isso.
― Sim, de verdade. ― Harrison olhou para Olivia então, um
olhar penetrante.
Sua respiração estava ficando curta. Ela sentiu-se um pouco
tonta, como se fosse desmaiar. ― Você deve partir tão cedo? Há
tantos detalhes a serem verificados…
― Lorde Carey terá um novo administrador para verificar.
― Ele está certo, Olivia, ― disse David. ― E, enquanto isso,
você pode começar a se familiarizar com a casa da viúva. — Ele olhou
para Harrison.
― Pedimos a Lady Carey para assumir a residência. Eu suponho
que há algum pessoal?
― Ela merece um tratamento melhor do que isso, ― Harrison
disse friamente.
David ergueu as mãos. ― Se o meu tio tivesse conseguido o que
queria, ela teria sido expulsa. Foi o melhor que eu pude fazer, dadas
as circunstâncias.
― O melhor que você poderia fazer? ― Harrison zombou. ― O
melhor que você poderia fazer seria acreditar nela e admitir que seu
irmão estava ficando cada dia mais louco pela bebida.
― Eu acho que é melhor se você ir, Tolly, ― David disse
calmamente. ― Edward não está aqui para se defender, e eu não vou
tolerar a difamação de seu bom nome.
― No entanto, você vai permitir a difamação de Lady Carey, ―
Harrison disse bruscamente.
O rosto de David escureceu. ― Ela já não é sua preocupação.
Harrison olhou para Olivia. Ela o tinha ferido tão profundamente,
que podia ver isso rodeando seus olhos. Ele apertou a mandíbula.
― Não, ― ele disse calmamente. ― Não creio que ela seja. ― Ele
lhe deu um breve aceno de cabeça. ― Se você me desculpar, ― disse
ele, e saiu da sala.
Nada que Olivia tinha sofrido nos últimos seis anos era mais
doloroso do que assistir Harrison caminhar decididamente para longe
dela. Ela sentou-se em sua pequena gaiola minúscula. Ela não podia
se mover. Suas asas foram cortadas.
Capítulo Vinte e Oito
— Pode acreditar nisso? Serei uma condessa, ― disse Alexa
para Olivia. Ninguém nunca tinha esperado isso dela; Olivia sempre
tinha sido a único a ser a senhora. Depois de tudo o que tinha
acontecido, Alexa não podia acreditar que era ela quem iria encontrar-
se nesta posição.
― Sim, parece que tudo tomou um rumo para melhor para você,
― Olivia disse enquanto olhava para a renda de seu xale preto. Ela
raramente olhou para Alexa nestes últimos dois dias, o que afligia sua
irmã. Alexa pensou que seu entusiasmo com a perspectiva de uma vida
fora das paredes da casa da viúva teria sido muito maior se Olivia não
parecesse tão abatida.
Claro, Alexa não era tão insensível que ela não entendia sua
aflição, ela perdeu sua posição na sociedade, sua irmã, e sua amizade
com o senhor Tolly. E ela estava sendo obrigada a mudar para a casa
da viúva. Mas Alexa pensou que iria servir a Olivia a longo prazo.
Olivia apreciaria muito o pequeno estúdio com os livros e atlas e
outros enfeites.
― Harry deixou muitos de seus livros para você, ― Alexa
ofereceu, esperando animar sua irmã. ― Ele disse que a você não foi
oferecido o luxo da leitura antes, e agora pode aproveitar-se de
muitos dos seus romances. Nem todos eles, no entanto, ― disse ela.
― Nós temos pilhas e pilhas de livros que devem ser levados junto.
― Isso foi atencioso dele, ― Olivia disse distraidamente, e
recostou-se na espreguiçadeira para olhar pela janela.
― Realmente, Livi. Eu pensei que você estaria pelo menos um
pouquinho animada que você está finalmente livre de Edward.
― Alexa!
― Estou errada? ― perguntou Alexa com um encolher de
ombros. ― Você não está aliviada?
Olivia riu com isso. ― Liberdade para um é apenas uma gaiola
para outro.
Alexa revirou os olhos. Ela pegou dois chapéus e segurou um,
depois o outro contra seu vestido. ― O que você prefere? ― ela
perguntou.
― O azul.
Alexa colocou-o na cabeça, estudando-o. No reflexo do espelho
ela podia ver o perfil de Olivia. Sua cabeça estava inclinada, e ela
pegou o tecido do chaise. Alexa nunca a tinha visto em tal desânimo.
Olivia sempre foi... estável.
― Você está triste porque vou partir? Pois não é como se nós
não fossemos nos ver uns aos outros. Você irá me visitar em
Ashwood.
― Eu acho que você não compreendeu totalmente a minha
posição aqui, querida, ― disse Olivia. ― Eu não tenho dinheiro.
― Livi!― Alexa disse rindo. ― Você pode muito bem pagar.
Ainda é Lady Carey.
― Não por muito tempo, ― disse Olivia com um encolher de
ombros. ― David deverá se casar e gerar um herdeiro muito em
breve. Considero-me afortunada por, pelo menos, ter um teto sobre
minha cabeça.
― Agora está sendo boba, ― Alexa zombou. ― Você será
sempre muito bem-vinda em Ashwood. ― Ela se afastou para admirar
o vestido de viagem spencer. ― Harry irá enviar para você, ― ela
disse, e fechou a pequena maleta com as coisas dela. ― E antes que
você diga não a isso, devo dizer-lhe que você está sendo bastante
difícil. ― Alexa olhou para a irmã e sorriu. ― Eu sei que não se importa
com nossa partida, Livi. Eu queria que você estivesse vindo conosco.
Mas nós devemos fazer o melhor possível, não devemos?
Olivia sorriu ironicamente. ― É irônico que você está satisfeita
com os arranjos, e eu sou a única deixada para cuidar de mim
mesma. Suponho que isso significa que temos um círculo completo.
Alexa não conseguia pensar no que dizer a isso. Não era isso que
Olivia queria? ― Eu suponho que nós temos, ― disse ela com um
encolher de ombros.
O olhar de Olivia deslocou-se para a janela novamente. ―
Quando você vai se casar?
Alexa gostaria de saber a resposta para isso. ― Harry afirma que
ele deve ver Ashwood e compreender as finanças antes de nomear o
dia. Logo, no entanto. Disse a ele que eu pensava que era terrivelmente
interessante que em meras duas semanas atrás, era imperativo que
eu me casasse imediatamente. Agora que o marquês morreu, parece
como se pode esperar.
― Senhorita Hastings! ― Rue chamou do corredor.
Alexa revirou os olhos. ― Ela nunca bate, ― ela sussurrou.
Era verdade, Rue abriu a porta e enfiou a cabeça para dentro.
― O senhor Tolly diz que é hora.
A menina estava radiante. Ela estava usando um manto novo.
Por que Harry achou que fosse necessário levar Rue junto para
Ashwood, Alexa não poderia dizer, mas ele deixou claro que não
haveria nenhuma discussão sobre isso.
― Aqui, ― disse Alexa, e entregou para Rue sua maleta.
― Devo colocar na carruagem?
― Não consigo pensar em nenhuma outra maneira que poderia
chegar a Ashwood, ― disse Alexa.
Rue mergulhou em uma reverência alegre e saiu com a maleta.
Alexa se virou e olhou para a irmã. ― Acho que isso é um adeus,
por enquanto, Livi. Mas só por enquanto.
Olivia assentiu. Ela levantou-se da espreguiçadeira e estendeu
os braços.
Alexa caminhou para eles, e segurou sua irmã apertado. Ela
respirava o perfume familiar de sua irmã e fechou os olhos.
― Você vai, não vai, Livi? Sabe que eu sou inútil sem você.
― E eu desesperada sem você, ― disse Olivia. Ela beijou a
bochecha de Alexa e uniu os braços. ― Eu sei que você vai ser muito
bem cuidada, ― disse quando começaram a andar. ― Prometa-me que
vai fazer como o senhor Tolly mandar. Prometa-me que não vai ser
um incômodo para ele. Ele deu-se bastante por você, Alexa. Ele
merece o seu respeito.
― Claro, ― disse Alexa. ― Você realmente deve acreditar em
mim quando digo que após uma cuidadosa reflexão, estou feliz com
este arranjo. Eu acho que Harry e eu vamos nos dar bem um com o
outro. Acho que devo ser muito feliz. ― Especialmente ele sendo conde
e ela condessa, ela pensou calorosamente. ― Agora você tem que me
prometer que virá quando o bebê nascer, Livi.
Olivia sorriu. ― Vou aguardar a notícia feliz de que você teve uma
criança saudável, ― disse ela.
Harry estava esperando no hall em sua capa, o que fez seus
ombros parecerem mais amplo do que o normal. Ele estava segurando
seu chapéu nas mãos e ficou com as pernas distantes. Alexa sorriu
para ele enquanto ela e Olivia desceram as escadas.
Harry não sorriu em troca. Ele estava olhando para Olivia, e Alexa
notou seu engolir em seco. Era realmente tão difícil para ele? Ele
estava tão ligado a esta posição e esta família?
No hall, Alexa abraçou sua irmã com força mais uma vez. ―
Adeus Livi, ― ela disse e virou-se para o aparador para buscar as
luvas.
― Então, isto é um adeus, ― disse Olivia.
― Por um tempo, ― disse Alexa, e olhou por cima do ombro e
sorriu para sua pobre irmã.
Mas Olivia tinha feito aquele comentário para Harry. E ela
parecia, pensou Alexa, sem esperança. Isso foi estranho. Em todos os
anos que Olivia tinha sido atormentada por Edward, Alexa não se
lembrava de alguma vez ter visto seu olhar como este. Ela tinha visto
Olivia desesperada, cansada e triste... mas não sem esperança.
Alexa quis dizer algo conciso para clarear o momento, mas ela
passou a olhar para Harry, e para sua surpresa, sua grande surpresa,
ela viu o mesmo olhar em seu rosto. E havia algo mais na expressão
de Harry: desejo. Desejo desesperado.
Alexa conhecia aquele olhar. Um tremor na memória lembrou-
lhe que ela tinha visto aquela expressão no rosto de Carlos mais de
uma vez, aquele olhar de angústia misturado com desejo. Vê-lo no
rosto de Harry era tão surpreendente que ela não estava certa do que
fazer. Não que isso importasse, nem ele nem Olivia pareciam se dar
conta de que ela ainda estava lá.
― Eu vou ... esperar lá fora, ― disse ela, e fugiu do hall. Mas
quando ela passou pela porta, Alexa olhou para trás. Eles só ficaram
lá, olhando um para o outro através do hall.
A cabeça de Alexa ficou subitamente girando, sua mente
relembrando todos os momentos que ela tinha visto Harry e Olivia
juntos. Como ela podia ter sido tão cega? Como ela poderia ter
perdido o que estava tão claramente diante dela? Por que Olivia não
tinha contado a ela sobre seus verdadeiros sentimentos?
Alexa subiu para o transporte com Rue.
― Parece um bom dia para viajar, sim, senhorita? ― Rue disse.
― Eu nunca estive longe de Everdon. Você já?
― Sim, ― Alexa disse distraidamente.
― Eu gostaria que Lady Carey pudesse vir, também, ― disse
Rue, olhando pela janela para a casa da viúva. ― Mas acho que o
herdeiro deve estar aqui com os Carey.
Alexa olhou para Rue. ― O herdeiro? Não há herdeiro!
― Mas isso é o que a sua senhoria disse naquela noite…
― Isso foi um boato malicioso, Rue! Não era verdade, no mínimo,
e você não vai repeti-lo!
― Oh. Não, eu não vou. Não vou dizer a ninguém que o bebê do
amante não é o herdeiro.
Alexa teria tomado a tarefa de elucidar Rue, mas viu um
movimento fora da janela da carruagem. Era Harry, caminhando para
fora da casa da viúva. Ele atirou-se para cima em seu cavalo, deu o
sinal para o condutor, e a carruagem deu uma guinada para a frente
tão rapidamente que Alexa foi jogada de volta contra as almofadas. Ela
rapidamente se endireitou, olhou pela janela e viu Olivia segurando a
porta aberta, observando-os se afastar, e parecia que os joelhos de
Olivia iriam se curvar.
Querido Deus. Harry e Livi estavam apaixonados.
Capítulo Vinte e Nove
Ashwood não era suficientemente longe de Everdon Court e
Olivia para Harrison. Essa era a coisa mais decepcionante sobre a
propriedade que herdou. Não que não houvesse um grande número de
coisas com as quais se decepcionar, a pintura descascando, as
rachaduras em torno das bases, os móveis desgastados, para citar
alguns, mas se Harrison pudesse pegar essa grande mansão e colocá-
la na Escócia, ele teria feito isso.
Como ele não podia, se baseou em uísque para entorpecer sua
raiva durante a semana que tinha estado lá. O que irritou Harrison era
que ele nunca tinha fugido de qualquer coisa em sua vida até agora.
Ele sempre correu em direção as coisas, olhando para aquele local de
reconhecimento, e acreditava que tinha encontrado isso no seu
trabalho com o Marquês Carey. Ele sabia da verdadeira aceitação em
sua amizade com Robert, com o senhor Dembly... e com Olivia. Como
resultado, Harrison tinha cometido um erro terrível: tinha acreditado.
Quando o marquês tinha morrido, Harrison tinha acreditado que
mesmo um homem como ele poderia ter as coisas que todo homem
queria: uma mulher para amar e cuidar, crianças para adorar que
levariam seu nome. Uma lareira, uma casa, risadas, lembranças.
Ter essa crença tão completamente e de repente desfeita o
tinha enviado para uma raiva interna que foi dirigida para o mundo
em geral. Estava a tanto tempo acostumado com a censura que tinha
sofrido entre a sociedade educada com relação às circunstâncias de
seu nascimento e a ocupação de mau gosto de sua mãe, que ele
nunca tinha realmente entendido. Ele não era seus pais. Ele era dono
de si.
O pai de Lorde Carey tinha sido um homem de verdadeira
integridade que estava disposto a olhar para um homem pelo que ele
era, não quem o deu à luz. Se não fosse pelo idoso Lorde Carey,
Harrison nunca teria gostava da vida que ele levou estes últimos
quinze anos. Ele nunca teria conhecido Olivia.
Ele pensou muitas vezes em seus últimos momentos com ela no
hall. Tantos pensamentos tinham saqueado sua cabeça nos últimos
dias, tantas coisas que desejava ter dito a ela. Mas ele não disse nada.
Nada! Ele tinha sido picado quando Olivia, com lágrimas brilhando em
seus olhos, tinha dito:
― Por favor, basta ir, Harrison. Não olhe para trás, pois não
vou desonrar esta família ou trair a minha irmã. Não por você, não por
mim.
Naquele momento, Harrison mal podia olhar para ela. Ele se
perguntou se talvez tinha imaginado a ligação entre eles. Talvez ela
tenha estendido a mão para ele na sua dor, e não por amor como ele
queria acreditar. Talvez seu amor por ela tinha colorido o seu
pensamento.
Harrison sabia apenas que a amava, que ele a tinha amado por
tanto tempo que não sabia como se sentir de outra maneira. Exceto,
talvez, rejeitado. Ele tinha aprendido a sentir aquilo profundamente.
Harrison também se sentia desprovido de uma avaliação plena
de seus sentimentos. Ele precisava de um tempo, precisava de uma
garrafa, talvez até mesmo uma mulher, algo para tirar a dor da
distância. Ele precisava de algo para impedi-lo de sentir a falta dela.
Mas enquanto ele estava na entrada de Ashwood, olhando para a
fachada, esperando o senhor Fish chegar, reconheceu que Alexa sem
querer serviria como um lembrete constante de tudo o que ele tinha
perdido.
Como ele poderia se casar com ela? Como poderia comprometer
sua vida, seu carinho, sua lealdade para com uma mulher que não
amava? Como poderia não se casar com ela? Eles tinham caminhado
uma longa estrada, e chorar agora seria convidar um destino ainda pior
para Alexa e seu filho. Será que ele condenaria a criança que ela
carregava ao mesmo destino que sofreu? Não foi esse o ponto de
Olivia ao fazê-lo partir?
No entanto, suas dúvidas foram se tornando cada vez mais
evidentes a cada dia. Alexa sentia claramente a sua relutância. Ela
não o tinha pressionado, mas estava ficando impaciente. Talvez ela
estivesse se sentindo relutante, também. Ela mesma havia se ocupado
com o balanço completo da mansão, fazendo listas de coisas que
precisariam.
Harrison tinha assegurado que uma vez que ele revisasse os
livros da propriedade com o senhor Fish, tratariam do assunto de dar
a seu filho um nome. Era assim que ele tinha que pensar sobre isso,
estava dando a seu filho um nome. Ele não conseguia pensar em
nenhuma outra maneira, ou que, Deus o ajudasse, ele teria que fazer
Alexa sua esposa em todos os sentidos da palavra.
Ele ouviu o som de uma carruagem se aproximando e se virou
para ver a carruagem correndo solta o caminho para a casa, plumas
negras saltando descontroladamente. Ele caminhou e antes que o
cocheiro pudesse afastar-se de seu assento, a porta da carruagem se
abriu e saiu uma mulher atraente, com cabelo preto e olhos verdes
pálidos.
― Você é o Sr. Tolly, ― ela gritou para ele, e veio caminhando
para a frente, com a mão estendida.
― Sou, ― ele disse, e pegou a mão dela, curvando-se sobre ela.
― E você é...?
― Eu sou Lady Eberlin, ― ela disse alegremente. ―
Anteriormente Lady Ashwood, até que descobrimos que você existe.
― Ela deu um sorriso largo. Atrás dela, um cavalheiro com cabelo
dourado ondulado emergiu d a carruagem. ― Posso apresentar meu
marido, Lorde Eberlin, ― ela disse, varrendo a mão em sua direção e
dando um ligeiro passo para trás.
Quando Harrison apertou a mão do homem, viu o senhor Fish
descer, um livro grosso de couro debaixo do braço.
― Bem-vindo a Hadley Green e Ashwood, ― disse Lorde Eberlin.
― Obrigado, ― disse Harrison. ― Sr. Fish. Como vai?
― Sr. Tolly! ― O senhor Fish ajustou o livro pesado que
segurava debaixo do braço. ― Estou muito bem, senhor, muito bem!
Estou extremamente feliz que você veio depois de tudo.
― Foi a minha carta, não foi? ― Lady Eberlin disse
brilhantemente. ― Meu marido acha que eu não deveria ter escrito,
mas então eu ouvi que você tinha chegado, e como eu disse a ele,
deve ter sido a minha carta.
Ela sorriu com tanta esperança, que Harrison foi duramente
pressionado a não negar. ― Você escreveu de fato uma carta muito
persuasiva, senhora, ― disse ele, e notou o sorriso irônico de Eberlin.
― Você deve ter tantas perguntas, ― disse ela.
― Algumas, ― ele concordou, e fez um gesto para a casa. ―
Vamos entrar?
Enquanto caminhavam para dentro, Alexa estava descendo a
escada. Harrison notou com leve desgosto que se alguém olhasse de
perto, poderia ver o aumento de sua barriga. Ela parecia surpresa que
eles tinham convidados, e Harrison tentou se lembrar se tinha
mencionado a ela.
― Permita-me apresentara senhorita Alexa Hastings. Senhorita
Hastings, Lorde e Lady Eberlin e o senhor Fish.
― Um prazer, ― disse Alexa, fazendo uma reverência. Ela olhou
para Harrison, claramente esperando por ele para dizer mais.
― Linford, você vai trazer o chá?― Harrison disse ao mordomo, e
para o grupo, ― Vamos?
Ele não perdeu os olhos apertados de Alexa, enquanto
caminhavam para o salão.
Eles falaram sobre o tempo por alguns minutos. Linford trouxe
um serviço de chá tão rapidamente que Harrison se perguntou se ele
não estava começado a prepará-lo depois do almoço. Alexa serviu,
mas Harrison notou que ela estava extraordinariamente reservada,
quase não falando.
― Como você encontrou a casa, senhorita Hastings? ―
Perguntou Lady Eberlin.
― Adorável, ― disse. Ela bebeu delicadamente de sua xícara de
chá.
Lady Eberlin estava ansiosa para contar a Harrison sobre a
propriedade e a casa. Ela estava particularmente orgulhosa da escada.
― É uma obra de arte, ― Harrison concordou. ― Quem foi o
artista?
― O pai do meu marido a esculpiu, ― ela disse, sorrindo.
Eberlin não olhou para cima de sua xícara de chá, e Harrison
tinha a sensação de que havia outros segredos que flutuavam sobre o
ambiente.
― Conto-lhes a história porque pode não ser evidente que
Ashwood é uma propriedade digna, ― disse Lady Eberlin. ― Eu sei
que você estava relutante em aceitá-la como sua.
Alexa olhou para Harrison.
― Eu nunca pensei que a propriedade era indigna, Lady Eberlin.
Tinha dúvidas de que tinha herdado algo tão grandioso. E eu preferia
meu trabalho em Everdon Court. Para aceitar as minhas
responsabilidades aqui tive que deixar uma ocupação da qual gostava
bastante.
― Mas certamente o título de conde e todo o privilégio concedido
a esse título é mais atraente do que uma intendência? ― Lady Eberlin
perguntou rindo.
― Sim, não é? ― Perguntou Alexa, olhando-o diretamente,
esperando para ouvir sua resposta.
Harrison ignorou e pousou sua xícara de chá. ― Talvez você não
tenha conhecimento, Lady Eberlin, que eu nunca conheci meu pai.
Apenas de passagem, e mesmo assim, não estava ciente de que ele era
o homem que tinha me gerado até que era um jovem. Quando o
senhor Fish me trouxe a notícia de que eu havia herdado sua
propriedade, não estava particularmente intrigado. Isso é
provavelmente difícil de entender a menos que estivessem no meu
lugar.
― Na verdade, ― Lady Eberlin disse quando largou a xícara de
chá e cruzou as mãos no colo, ― Eu entendo completamente. Ele era
meu padrasto e eu acho que mal sabia meu nome. Fiquei muito
surpreendida por ter sido nomeada herdeira, e bastante relutante em
aceitar. Na verdade, eu fugi para a Itália e enviei meu primo para
supervisionar…
― Querida, talvez devemos deixar este ponto para outro dia, ―
Eberlin disse calmamente.
― Certo, ― ela concordou. ― O ponto é, Sr. Tolly, posso
garantir por experiência própria que você pode vir a apreciar este
velho lugar.
― Posso perguntar por que você desistiu? Eu nunca teria sabido
sobre isso, se você não tivesse enviado o senhor Fish para mim.
Seus olhos se arregalaram de surpresa. ― Porque não é meu. É
seu. ― Ela sorriu. ― Eu teria entregado mais cedo, mas eu não sabia
de sua existência até que nós soubemos da senhora Priscilla
Braintree, e se ela não estivesse de posse do retrato, nós nunca
teríamos descoberto você. Estamos felizes em podermos colocar a sua
herança de direito em suas mãos e, talvez, perguntar sobre as joias.
― Perdão? ― perguntou Alexa.
― Lily, querida, eu acho que você já correu à frente de si
mesma, ― Lorde Eberlin disse, colocando a mão em seu joelho. Para
Harrison, ele disse, ― Nós procuramos o paradeiro de algumas
inestimáveis joias de rubi que desapareceram das coisas de sua tia há
mais de quinze anos atrás. Foram pesquisados os registros do velho
conde, que nos levaram à senhora Braintree. Ela tinha um retrato de
sua mãe, senhor Tolly, e no retrato, sua mãe estava usando o colar
de rubi da coleção. A senhora Braintree não sabia o que tinha
acontecido com as joias, mas ela sabia de você. Com um pouco de
escavação, fomos capazes de descobrir sua identidade e seu
paradeiro.
― Se eu posso ser indelicada, ― Lady Eberlin disse: ― Posso
perguntar se você sabe o que aconteceu com as joias? ― Ela se
inclinou para frente, como se sua resposta fosse de extrema
importância.
Harrison franziu a testa um pouco. Sua mãe tinha uma grande
quantidade de joias. ― Rubis, você diz? ― ele perguntou, pensando.
― Sim, rubis, ― Lady Eberlin disse ansiosamente. ― Um colar,
uma coroa, e alguns brincos.
― Ah, sim, ― disse ele. ― Lembro-me bem. Ela os mantinha em
uma caixa.
Lady Eberlin trocou um olhar com o marido antes de pressionar
Harrison. ― Você sabe o que aconteceu com ele?
Ele encolheu os ombros. ― Deve estar envolvido em torno do
pescoço de alguma grande de dama, eu suspeito.
Lady Eberlin olhou cabisbaixa. Eberlin franziu a testa para sua
xícara de chá.
― Eu disse alguma coisa errada? ― Harrison perguntou.
― Nem um pouco, ― disse Eberlin. ― Esperávamos que eles
pudessem ter o encontrado, para esclarecer um antigo mistério ou
dois.
― Eu gostaria de poder ajudá-lo, ― disse ele. ― A joia de rubi
foi um presente para minha mãe. Ela ocasionalmente teve que vender
grandes lotes para pagar por nosso alojamento e minha educação. Eu
me lembro do colar muito bem, ela gostava dele e usava
frequentemente. Mas ela o vendeu a um joalheiro para pagar meu
aprendizado.
― Oh, querido, ― Lady Eberlin disse, claramente desapontada.
― É possível que você possa saber de onde vieram as joias?
― É bastante óbvio, meu amor, ― disse Eberlin, e tomou-lhe a
mão.
― Do meu pai, ― Harrison disse, sem rodeios. Colocando de
maneira simples, ― milady, ele as tomou de sua tia para agradar sua
amante, e por isso, sinto muito. Mas eu não posso ficar surpreendido.
Afinal, ele teve um filho a quem nunca reconheceu.
Harrison não tinha pensado nas desfeitas que seu pai lhe havia
feito em muitos anos. Mas ele se lembrou de quão doloroso foi saber
que o conde havia visto ele, seu filho, tantas vezes e olhou
diretamente através dele. Era como se Harrison não tivesse existido
para esse homem. Todos esses anos que passou orando por um pai,
observando os homens desfilando pela vida de sua mãe, perguntando
se algum deles poderia ser o único. Quando Harrison era muito jovem,
imaginou que um deles era seu pai e não sabia dele, e se pudesse
determinar qual deles era, ele poderia dizer-lhes, eu sou seu filho. E,
em sua inocência, imaginou que o cavalheiro cairia de joelhos em
gratidão, iria abraçá-lo e segurar apertado, prometendo nunca o deixar
ir.
Harrison olhou para Alexa. Estava sentada muito quieta, seu
olhar em um retrato acima da lareira. Ela estava certamente pensando
a mesma coisa que ele estava pensando, que sua criança seria igual a
ele. Harrison não poderia viver consigo mesmo se deixasse o filho dela
sofrer isso. Ele estava fazendo a coisa certa. Por mais doloroso que
fosse, estava fazendo a coisa certa para uma criança por nascer.
― Eu não tive a intenção de trazer à tona lembranças
desagradáveis, ― disse Lady Eberlin. ― Tenho estado ansiosa para
resolver o mistério do que aconteceu com as joias.
― E agora você tem sua resposta, meu amor, ― Eberlin disse, e
pôs de lado sua xícara de chá. ― Vamos deixá-los tratar dos negócios
de sua propriedade? Estou certo que senhor Fish tem um monte de
notícias para dar.
― Eu tenho, na verdade, ― disse o senhor Fish, batendo o livro
em seu colo.
― Obrigado por ter vindo, ― disse Harrison, e viu os Eberlin
indo para fora. Eles pararam no vestíbulo e olharam para a escada. ―
É uma peça surpreendente, ― Harrison disse enquanto admirava a
videira sinuosa esculpida na grade. ― Seu pai era um carpinteiro
experiente, estou certo?
― Ele era. Está morto, ― disse Eberlin. Um músculo em sua
mandíbula saltou. ― Foi enforcado pelo crime de roubar as joias de
rubi.
― Desculpe? ― Perguntou Harrison, assustado.
Eberlin engoliu em seco e olhou para Harrison. ― Ele era amante
de Lady Ashwood. O velho conde permitiu que ele fosse acusado e
enforcado pelo crime, para que ele pudesse dar as joias para sua
mãe.
Harrison estava chocado. ― Eu... Eu não sei o que dizer.
Eberlin sorriu. ― Não há nada a dizer, Sr. Tolly. Há muito tempo
aceitei o fato . Eu espero que você também. A propósito, nós temos
uma caixa de coisas que eu colecionei da senhora Braintree que você
pode achar de interesse. Vou enviar amanhã. Bom dia.
― Tenha um bom dia, senhor, ― Lady Eberlin adicionou, e
permitiu que seu marido a levasse para fora da casa.
― Não se pode dizer que Ashwood não viu sua cota de tragédias,
― disse o senhor Fish. ― Mas eu gostaria de pensar que dias mais
felizes vieram. Devemos ter um olhar para os livros?
Eles se dirigiram para o estúdio, onde o senhor Fish deu a
Harrison um discurso detalhado do negócio de Ashwood. O senhor
Fish era um homem meticuloso. Ficou claro que a propriedade estava
sofrendo de uma falta de gestão fiscal, mas Harrison era experiente
para fazer tais correções. Lorde Westhorpe lhe dera ampla
oportunidade ao longo dos anos.
― Acho que podemos mudar a sorte de Ashwood com alguns
movimentos estratégicos, ― disse ele enquanto o senhor Fish
preparava para se despedir.
― Eu concordo, milorde, ― disse Fish.
― Eu não sou um Lorde, senhor, ― Harrison o corrigiu.
O senhor Fish sorriu. ― Não no momento, talvez, mas eu acho
que é inevitável. Lady Eberlin está determinada que você terá tudo o
que é seu por direito.
― Sim, ― disse Harrison. ― Sobre isso. Eu gostaria de me casar
com a senhorita Hastings, logo que seja possível. Seria preferível se a
publicação de proclamas pudesse de alguma forma ser evitada ou
acelerada. ― Ele deu ao senhor Fish um olhar de soslaio. ― É algo
que você pode conseguir?
O senhor Fish piscou, então concordou. — Eu acho que posso.
― Você já deve ter percebido que o tempo é de importância.
Quão em breve poderemos estar diante de um clérigo?
As bochechas do senhor Fish assumiram um tom ligeiramente
rosado. ― Eu penso em sexta-feira. Devo falar com o vigário em seu
nome?
― Com a devida discrição, por favor.
― Claro, ― disse Fish.
Harrison podia sentir o calor em seu pescoço, e apertou as mãos
em suas costas. ― Obrigado, Sr. Fish. Existe algo mais?
― Não. Vou voltar no dia seguinte com os detalhes que você
precisa. ― O senhor Fish partiu, correndo, na realidade, e Harrison
sentiu o calor em sua escalada do pescoço para suas bochechas. A
sorte estava lançada agora.
Não havia como voltar atrás.
Capítulo Trinta
A lexa vestiu um dos poucos vestidos que não esticavam
sobre sua barriga e que continham os seios inchados. Ela teria que
falar com Harry sobre a roupa adequada para sua cintura se
espalhando.
Perguntou-se quando exatamente ela deveria fazer isso
enquanto punha seus brincos. Desde que eles chegaram em Ashwood,
não o tinha visto muito. Ela deveria mencionar antes de sua ceia
tipicamente silenciosa? Ou depois, durante a pausa silenciosa no salão
antes que eles se retirassem?
Alexa estudou sua barriga no espelho, virando um lado, depois o
outro. Ashwood não era o que ela tinha imaginado, na verdade. Não
era a casa e os jardins que havia sonhado, mas ela supôs que seria de
se esperar, dado que ninguém tinha cuidado dela por tanto tempo. A
propriedade poderia ficar espetacular novamente com algum
investimento e ideias.
O que estava errado sobre Ashwood era Harry. Seu futuro
conde.
Alexa acreditava que iria se casar, e ela seria uma Condessa, e
passaria seus dias preparando seu berçário e convidando as senhoras
para o chá. Ela realmente não tinha pensado muito além disso. Tinha
evitado pensar além disso. Pois quando pensava em si mesma com um
bebê, inevitavelmente pensava em Carlos, e a dor em seu coração iria
incendiar e... bem, ela preferia não pensar nisso.
Mas Alexa gostava de pensar em como decoraria o berçário, e
como ela e Harry poderiam andar sobre a propriedade e ter um olhar
para as coisas, e que iriam conversar, e que iriam se tornar o tipo de
amigos que ela supunha que homens e mulheres deveriam ser se
fossem casados.
No entanto, eles tinham estado aqui um pouco mais de uma
semana, e em vez de estreitarem os laços como ela esperava,
Harrison parecia ficar mais distante. Além disso, ele estava
contrariado. Não era mais o homem sorridente, senhor de si que ela
encontrou pela primeira vez em Everdon Court. Quando Alexa tinha
cometido o erro de fazer um comentário sobre isto uma noite, ele
tinha bruscamente informado que Ashwood exigia sua atenção no
presente, e ele pediu desculpas se isso não cumpria com suas
expectativas.
Alexa havia se retirado aquela noite se sentindo infantil e como
se estivesse sendo tratada com condescendência.
Além disso, ela não acreditava nele. Não era o negócio de
Ashwood que vinha ocupando os seus pensamentos; era Olivia. Alexa
tinha vislumbrado a verdade no dia em que ela e Harry partiram de
Everdon Court, e Harry e Olivia não conseguiam arrancar os olhos um
do outro. Mas Alexa havia pensado em tudo aquilo. Ela e Harry
haviam embarcado em um novo caminho agora, e como estavam a um
dia de Everdon Court, o afeto entre Harry e Olivia iria desaparecer.
Ela não podia mais fingir que era assim. A verdade não poderia
ter sido mais gritante a Alexa, esta tarde, quando Lorde e Lady Eberlin
os havia visitado. Harry a tinha apresentado unicamente como a
senhorita Hastings. Ele havia deixado sua associação à imaginação
dos Eberlin, e Alexa se sentiu humilhada.
Harry não conseguiu nem mesmo dizer isso, e porque ele não o
fez, os Eberlin, sem dúvida, pensaram que ela era sua irmã, ou sua
governanta, ou sua amante ― qualquer um dos quais poderia fazer
um casamento repentino bastante difícil de explicar.
Alexa achou que ela tinha, no máximo, um mês antes de sua
situação ser perceptível para todos. Sem mencionar que quanto mais a
data do nascimento da criança se aproximasse cada vez mais se
tornaria difícil de explicar de qualquer maneira crível. Ela tinha
concordado em amarrar seu futuro com Harry, e agora estava
pendurada na extremidade de uma corda muito incerta.
Era Olivia que segurava Harry de notar Alexa. Em retrospectiva,
ela podia ver tudo tão claramente: a maneira como eles sorriam um
para o outro, como se compartilhassem um segredo. Ou os momentos
que Alexa tinha se deparado com os dois, e suas cabeças estavam
juntas, sussurrando. Tinha acreditado tolamente que eles estavam
cochichando sobre ela.
Recordou o dia em que o decoro de Olivia tinha deslizado um
pouco e ela se referiu a Harry por seu nome próprio, uma indicação
segura de que havia uma certa intimidade, Olivia nunca iria sair dos
limites do decoro e chamar o administrador por seu nome . E, claro, o
dia em que Alexa, Rue, e Harry tinha deixado Everdon Court. De pé no
hall da casa da viúva, Alexa se sentiu como se estivesse nadando
através de toda a tensão entre Harry e sua irmã.
Como podia ter sido tão malditamente cega?
Isso estava tão fora do personagem para Olivia! Ela sempre foi a
silenciosa, estudiosa, a filha que sua mãe tinha uma vez lamentado
que era tão boa em caráter e disposição que temia que estava
faltando qualquer tempero na vida dela. No entanto, era Olivia, a
simples Olivia, que prendeu o coração de Harry em sua mão. Alexa
não poderia mesmo obter a sua atenção, muito menos estabelecer-se
dentro de seu coração.
Ela tinha que fazer algo. Não podia permanecer aqui em
Ashwood, crescendo mais e mais e definhando na borda de
escândalo, não amada, esquecida, e só. Colocou a mão na curva
suave de sua barriga enquanto olhava para o espelho. Era hora de ser
ainda mais ousada do que normalmente era. Ela falaria com Harry
agora.
As portas do salão estavam abertas quando Alexa chegou. Harry
já estava lá, de pé, com uma mão sobre a lareira, a cabeça baixa,
como se estivesse perdido em pensamentos. Alguém poderia pensar
que ele não estava mesmo ciente de que um lacaio ficou de lado,
esperando para servir.
Quando o criado viu Alexa, ele disse: ― Boa noite, senhorita.
Devo servir um vinho?
Harry empurrou ao redor como se ela tivesse se esgueirado em
cima dele.
Alexa sorriu para o lacaio. ― Não, obrigado, Louis.
― Alexa, ― disse Harry. ― Como você está?
― Bem, obrigado. E você?
Ele assentiu, pegou a taça de vinho e bebeu, drenando o restante
em um só gole. Moveu-se para encontrá-la no meio da sala, lhe deu
um beijinho na bochecha, e depois apontou para o sofá.
Alexa sentou. Ele se sentou ao lado dela e sorriu. Não o sorriso
fácil que ela tinha vindo a conhecer. Este sorriso não dobrou os cantos
dos olhos. Este sorriso pareceu forçado.
― Como foi seu dia? ― Perguntou.
― Tedioso, ― admitiu ela. ― E o seu?
― Ocupado, ― disse. Ele fixou o olhar no tapete. ― Há muito a
ser feito.
Alexa tinha o suficiente. ― Harry, eu posso lhe fazer uma
pergunta?
― Claro. ― Ele ainda estava olhando para o tapete, pouco
presente em tudo.
― Quando vamos casar? ― Ela perguntou sem rodeios.
Harry saiu do sofá tão rapidamente que era como se tivesse sido
queimado.
― Obrigado, Louis, acho que ficaremos sozinhos agora, ― disse
ele.
O criado assentiu e saiu do salão, fechando a porta atrás de si.
Harry virou-se para enfrentar Alexa.
― Você poderia ser um pouco mais cautelosa em suas
declarações.
― Por que eu deveria? Todos em Ashwood saberão que eu
estou carregando uma criança em breve. Eles vão perguntar por que
estou aqui com você, tanto quanto eu faço.
― Não outra vez, ― Harry gemeu. ― Eu pensei que tinha
explicado claramente. Há coisas que devo resolver antes de casar.
― Que coisas? ― Ela perguntou cética.
― Como já expliquei, há muitas questões que envolvem a
herança e as legalidades de casamento que devam ser liquidados.
― Por que devem ser resolvidos antes de estar diante de um
clérigo? ― Ela perguntou.
Ele suspirou como se ela estivesse arguindo-o. ― Para que eu
possa conceder a você todos os direitos e privilégios que merece
como minha esposa. Honestamente, Alexa, se serei seu marido, você
deve aprender a confiar em mim.
― É aí que reside o problema, Harry, ― disse ela, irritada, e
cruzou os braços sobre sua barriga. ― Eu não confio em você. Acho
que é o momento de parar de fingir.
― Fingir o que, pode me dizer?
― Fingir que você não está desesperadamente apaixonado por
minha irmã, é isso.
― Meu Deus, ― Murmurou. Ele caminhou até o aparador e
serviu-se de mais vinho.
― Você nega isso?
― Você vai caluniar sua irmã com esta conversa descuidada? ―
ele disparou de volta, evitando a pergunta. ― Quando penso em tudo o
que ela fez por você.
― Eu não caluniei ela! ― Alexa disse com raiva, e levantou. ― Eu
estou dizendo o que nós dois sabemos que é verdade. Há um mês,
casar-me e salvar a minha reputação era de extrema importância.
Hoje, no entanto, pode esperar. Contudo, eu estou ficando cada vez
maior, e você está contrariado, e penso que você não tem intenção de
se casar comigo.
― Está imaginando coisas, ― disse ele secamente. ― Você
precisa de uma ocupação.
― E ainda assim você não vai negar isso, ― exclamou ela. ― Eu
vi o jeito que olhou para ela quando partíamos de Everdon Court. Vi os
sorrisos entre os dois. Eu posso ver seu carinho por ela, Harry.
― Pare! ― Ele disse bruscamente. ― Ter carinho por alguém não
equivale a amar.
Alexa gemeu. ― Por que você não admite?
― Por que você não se mantém fora de meus assuntos? ― Ele
disparou de volta.
Alexa ofegou.
― Não me conhece, Alexa. Não presuma que porque eu tenho
estendido a minha proteção, que você saiba alguma coisa sobre mim.
― Ele virou-se outra vez, bebeu o vinho, e bateu a taça sobre o
aparador.
― Eu não pedi para se casar comigo, Harry, ― ela disse
suavemente.
Ele balançou a cabeça e suspirou. ― Não, você não o fez, ― disse
ele, sua voz mais calma. ― Eu me ofereci, e você aceitou, e na sexta-
feira, vamos estar diante de um clérigo e nos juntar em matrimônio.
― Perdão? ― Alexa disse enquanto suas palavras afundavam em
sua consciência. ― Sexta-feira?
― Sim. Sexta-feira. Como eu disse, algumas coisas tinham que
ser cuidadas primeiro.
Alexa engasgou com surpresa e alegria. Correu até ele e colocou
os braços ao redor de sua cintura, a cabeça contra suas costas. ―
Obrigado, Harry! Eu estava começando a acreditar que você não iria
honrar a sua palavra!
Ele suspirou. Passou as mãos por cima da cabeça e virou-se, no
que ela teve que soltar seu abraço. Ele virou-se para encará-la, seus
olhos cinzentos estudando seu rosto.
― Você não percebeu isso ainda, moça? Está carregando uma
criança que não tem um nome.
― Sim, mas eu…
Ele tomou-lhe o queixo entre os dedos.
― Vou revelar um pequeno segredo para você, Alexa. Eu
desistiria de tudo isso, ― disse ele, apontando para o teto sobre eles,
― para ter conhecido um pai. Eu desistiria de tudo que já tive pelo
privilégio de saber o que é ser abraçado por um pai. Minha vida teria
sido muito mais fácil se eu tivesse um nome legítimo. Isso é o que
devemos fazer para o seu filho. O tempo passou para quaisquer
preocupações sobre o nosso querer próprio e egoísta, pois em breve
haverá um ser indefeso que deve prevalecer.
Alexa olhou-o de perto, procurando algo que ela não estava
vendo, uma sensação de que eles estavam juntos nessa. Parecia
muito estranho para ela, como se a sua convicção estivesse
firmemente no lugar, mas seu coração estava longe de ser
encontrado.
― Tenho sua palavra? ― Ela perguntou.
Ele engoliu em seco, como se estivesse forçando para baixo um
elixir amargo. ― Eu pedi ao senhor Fish para organizar tudo hoje. Ele
me assegurou que sexta-feira poderíamos nos casar.
Alexa piscou. Ela colocou a mão em seu abdômen e assentiu.
― Obrigada. — Era o que ela queria, mas quase sentia como se o
chão tivesse inclinado neste local; ela estava tendo dificuldades para
encontrar o centro de seu equilíbrio.
― Vamos jantar? ― Perguntou ele, oferecendo-lhe o braço.
Alexa tinha muito pouco apetite, mas permitiu que ele a levasse
para a sala de jantar.
Como era hábito de Harry, muito pouco foi dito enquanto eles
consumiram a sopa de cebola. Alexa mal provou. Ela não conseguia
sacudir a instabilidade de seus sentimentos. Tinha o que queria; Por
que, então, de repente se sentia tão inquieta?
― Eu acho, ― disse ela com cuidado ― que devemos convidar
Olivia depois que estivermos casados.
A cabeça de Harry levantou rapidamente.
― Estou certa de que depois de tudo que ela passou, poderá
gostar de companhia, ― disse Alexa.
Uma emoção moveu-se rapidamente através do semblante de
Harry. Ele pegou o garfo e faca e cortou sua carne.
― Ou talvez possamos convidá-la para…
― Não, ― ele disse abruptamente, antes que Alexa pudesse
sugerir que sua irmã estivesse presente em suas núpcias. Ele largou
seus utensílios e recostou-se, seu olhar em Alexa.
― Parece-me que devemos isso a ela, pelo menos, ― disse
Alexa.
― Não, ― ele disse de novo, seu olhar firme.
Alexa desviou o olhar. A inquietação em seu interior cresceu. ―
Então vou escrever-lhe e dizer-lhe que vamos visitá-la em Everdon Court
após as núpcias.
Harry não discordou. Na verdade, ele não falou nada.
O sentimento inquietante não deixou Alexa, e quando ela e
Harry sentaram-se no salão depois do jantar, ele com seu livro, ela
olhou para a pintura de um homem em um cavalo branco acima da
lareira. Ela não poderia encontrar qualquer conforto físico. Era como
se estivesse sentada sobre uma almofada irregular e não conseguia
encontrar o lugar suave.
― Você está desconfortável? ― Perguntou Harry.
Alexa não tinha percebido que ele estava olhando para ela.
Balançou a cabeça e sorriu ironicamente. ― Sofri ao longo de minha
vida de agitação, ― disse ela timidamente. ― Livi iria dizer-lhe que eu
sempre pareço estar sentada sobre brasas.
Ele sorriu e voltou ao seu livro.
― Uma vez, quando eu era pequena, minha mãe mandou nós
duas para visitar a nossa avó, ― Alexa continuou. ― Eu nunca me
importei com aquela velha. Ela estava muito doente e com
dificuldades na audição, dificilmente sequer sabia quem éramos, e ela
era cruel.
Harry fechou o livro.
― Era maldosa, ― disse Alexa, surpresa de ter sua atenção.
― Mamãe disse que ela sofria de senilidade, mas acho que ela estava
muito consciente. ― Ela franziu a testa ligeiramente ao recordar a
velha rancorosa que as atacava com uma bengala quando pensava que
uma delas havia se comportado mal. ― No entanto, minha mãe
ordenou ir e sermos obedientes. Era responsabilidade de Olivia ter
certeza de que eu me comportasse e não aborrecesse a avó.
Harry sorriu.
― Sentamos na sala de estar da minha avó e ela segurou uma
bengala em seu colo, pensando que se fizéssemos algo que não
deveríamos fazer, iria nos atacar com ela. Mas naquela tarde, tinha
tomado um monte de láudano para uma dor ou outra coisa, e ela
começou a cochilar enquanto estava falando. Aconteceu de eu ver um
pequeno pássaro de ferro que estava em sua mesa, ― disse Alexa,
desenhando-o com as mãos. ― Era o pássaro decorativo muito
estranho. Estava em uma balanço e eu supunha que iria balançar e
bicar a mesa, em seguida, oscilar de volta. Eu peguei. Olivia disse-me
para s o l t a - l o , imediatamente, mas eu era teimosa e não o fiz,
estava inquieta.
― Como você está agora? ― Perguntou Harry.
Ela sorriu. ― Precisamente como estou agora.
― O que aconteceu?
― Eu estava segurando o pássaro e avó começou a despertar.
Olivia agarrou-o, e seu dedo ficou preso no balanço. Ele cortou seu
dedo, bem lá, ― disse ela, apontando para a junta de seu dedo
mindinho. ― A avó abriu os olhos e viu Olivia segurando o pássaro e
golpeou-a com a bengala e disse que não era para tocar e coisas que
não pertenciam a ela. ― Alexa sorriu timidamente. ― Foi tudo minha
culpa.
Uma das sobrancelhas de Harry se ergueu. — Eu vi a cicatriz.
Ele tinha notado a pequena cicatriz em sua junta?
― Ela não gritou ou pronunciou uma palavra de protesto. Disse
apenas: “Perdoe-me, avó”. E quando saímos, eu lhe disse que me
sentia terrivelmente mal, mas ela falou que eu não deveria pensar
mais sobre isso, porém que ela ficaria contente se da próxima vez, eu
deixasse as coisas da vovó em paz.
Harry riu. ― Parece que ela toma conta de você a um longo
tempo, hein?
― Sim. ―Alexa olhou para a lareira por um momento,
pensando. ― Francamente, ela é a única que se preocupa tanto por
mim.
― Eu sempre gostei de seu humor, ― disse Harry. ― Ela tem
um ótimo senso de humor.
― Olivia, ― disse Alexa, surpresa com isso. ― O que você quer
dizer?
― Uma vez, num jantar em Everdon Court, Lady Fenster
compareceu. Ela pode ser teimosa e determinada a compartilhar suas
opiniões sobre qualquer número de assuntos. Ela não estava
encantada com a sopa de alho-poró que foi servida e disse que, se os
alhos franceses tinham ficado no chão após seu apogeu, seu gosto era
mais de sujeira do que de alho-poró. O que implica, naturalmente, que
os alhos franceses utilizados na sopa haviam passado seu apogeu e
tinham gosto de sujeira. Lady Carey ficou tranquila sobre isso, pediu
desculpas pela sopa, enviou de volta para a cozinha e pediu outra
sopa para Lady Fenster. Veja você, aquilo provavelmente deu algum
trabalho.
― Eu posso imaginar que deu, ― Alexa concordou.
― Semanas depois, várias das mesmas pessoas foram
convidados para uma festa de jardim e eles jogaram croquete. Lady
Fenster imagina-se bastante boa em croquete. Sua cor favorita é azul,
então Lady Carey deu-lhe o martelo azul e bola. Mas com cada batida
de seu malho, Lady Fenster mandava a bola desviada para o lado.
― Por quê? ― Perguntou Alexa.
― Isso é o que Lady Fenster queria saber. Ela reclamou em voz
alta. Perante todos, Lady Carey pegou a bola azul e examinou. “Oh,
veja aqui”, disse ela, a Lady Fenster. “A bola é disforme.” Lady
Fenster exigiu saber o que tinha acontecido. Lady Carey disse, “Eu
imagino que foi deixado no chão após seu apogeu”. ― Ele riu. ―
Naturalmente Lady Fenster não se lembrava de sua observação, mas
os outros sim. Mais tarde foi revelado a mim pelo zelador que Lady
Carey tinha pedido a ele para raspar um pouco da bola e repintá-la.
Alexa riu. ― Olivia fez isso?
― Ela fez, na verdade, ― disse ele, e sorriu com carinho.
Alexa nunca tinha visto esse lado de sua irmã. Para ela, Olivia
era a pessoa que estava sempre lá quando precisava de uma mão, ou
de um ombro. Ela era a irmã mais velha, lá para Alexa correr quando
os tempos eram ruins, e rapidamente esquecida quando os tempos
eram bons e havia outras coisas e pessoas mais divertidas.
Ela nunca pensou em Olivia ser tão engraçada. Ou travessa.
Esses pensamentos atormentaram Alexa o resto da noite. Quando ela
se retirou para a noite, enxotou Rue e se sentou em uma cadeira,
olhando para o fogo até que ele não passava de brasas.
Quando sua mãe morreu inesperadamente, Alexa estava cheia
de tristeza e indignação. Acreditava que sua vida era injusta. Havia
perdido seu pai e sua mãe. Ela tinha sido deixada sem dinheiro, e um
padrasto que estava a caminho de casa para a Itália praticamente
antes do corpo de sua mãe esfriar. Não tinha ninguém, apenas Olivia.
Olivia foi a pessoa que a tinha incentivado a fazer a viagem para
a Espanha. “Você deve ir, enquanto é jovem”. Ela tinha dado a Alexa
o dinheiro que havia ganhado com a venda de um dos broches de
pérolas de sua mãe, e Alexa tinha ido para a Espanha com a ideia de
que tinha o direito de fazer o que quisesse, pois ela tinha sofrido.
Alexa nunca pensou no sofrimento de Olivia.
E na Espanha, Alexa fez algo que não deveria ter feito,
obviamente, e quando seu coração foi quebrado, soube sem dúvida
que Olivia iria corrigi-lo para ela. Olivia tinha feito exatamente isso.
Ela havia ofertado a Alexa o homem que amava. Olivia tinha feito isso
porque era casada e não poderia ter Harry, mas, em seguida, Edward
tinha morrido, e tudo tinha mudado... e, no entanto, Olivia se
assegurou de que Alexa fosse cuidada.
Era hora, pensou Alexa, de ela resolver seus próprios problemas.
Era tempo de assumir o que tinha feito, bem como as consequências.
Ela se levantou e caminhou até a pequena escrivaninha em seu
quarto, sentou-se, retirou uma folha de papel fino, e tingiu a caneta
no tinteiro.
Em seguida, escreveu uma carta a Carlos.
Capítulo Trinta e Um
Na sexta de manhã, o senhor Fish chegou com o vigário
paroquial, o senhor Meachamp, para realizar a cerimônia de
casamento. o senhor Fish serviria como uma testemunha e Harrison
tinha arranjado para Rue servir como a outra. Quando ele explicou à
menina simples que ela iria testemunhar seu casamento com a
senhorita Hastings, Rue parecia confusa.
― O que é, Rue?
― Milorde, você não ama Lady Carey, então? ― Ela perguntou,
claramente angustiada.
― Senhor, ― ele corrigiu. ― De onde que você tirou a ideia de
que eu amava Lady Carey? ― Ele perguntou, esperando que seus
sentimentos não fossem tão evidentes que mesmo Rue poderia
discerni-los.
― Mas foi por isso que o sua senhoria caiu do cavalo! Todo
mundo sabe disso.
A menina realmente tinha mais cabelo do que sagacidade.
Harrison colocou o braço em volta dos ombros dela. ― Sua senhoria
caiu de seu cavalo, porque ele estava bêbado. E o que foi que eu disse
a você sobre rumores e fofocas? Está me entendendo?
Rue franziu a testa. ― Não, milorde.
― Senhor. Se recorda o que eu lhe disse antes de sairmos de
Everdon, que o que você pode ter ouvido falar sobre a noite em que o
marquês morreu era tudo fofoca e boato?
― Não, ― disse Rue, afastando uma lágrima.
Harrison inclinou a cabeça para um lado. ― Você vai tentar se
lembrar disso agora?
― Sim.
― Agora ouça com atenção, Rue. Estou prestes a dizer-lhe algo
que é para não sair desta casa. Você entende muito bem?
Ela assentiu.
― A senhorita Hastings está grávida. Vou casar com ela para
que a criança tenha um nome.
― A senhorita Hastings! ― Rue gritou. ― Você teve seu tempo
com ela, também?
― Pelo amor de Deus, ― Harrison disse, e apontou para o sofá.
― Sente-se, menina tola. E pelo amor de Deus, por uma vez, você vai
ouvir?
Ele não tinha ideia se Rue tinha escutado ou não, mas ela estava
no salão esta manhã, seu vestido passado e um pequeno defeito
remendado. Ela também estava segurando um punhado de flores
silvestres que, anunciou, tinha escolhido ontem. Mas tinha esquecido
de colocá-las em água, a julgar por sua aparência.
― Estamos prontos para começar, senhor, ― disse o vigário.
Harrison concordou. Um arrepio estranho percorreu sua espinha.
Esta não é uma sentença de prisão, disse a si mesmo. Com o tempo, eu
poderia vir a gostar de Alexa. A distância que sentia dela agora não era
culpa de Alexa. Era o seu coração que estava firmemente
entrincheirado em Olivia.
Ele esperava, pelo menos, ser um bom pai para o filho de Alexa.
― Linford, busque a senhorita Hastings, por favor, ― disse ele.
Quem pode dizer que não vou ter mais filhos? Harrison gostou
da ideia. Ele sempre quis uma grande ninhada. Talvez tia Olivia iria vir
visitá-los
Isso era um absurdo. Claro que Olivia viria visitar, e ele sentiria a
dor e a miséria de estar tão perto e ainda ser incapaz de tocá-la. Ouvi-
la rir e saber que não era para ele. Não importa o quanto tentasse
pintar um retrato rosado, ele sempre se desvanecia à luz do belo rosto
de Olivia, seus olhos azuis, uma mecha de cabelo loiro esbranquiçado
provocando sua bochecha. Ela era a mulher que amava. Ela era a
mulher que ele queria. Como em que diabos ele tinha chegado a este
momento?
Não havia como voltar atrás agora. Então Harrison juntou as
mãos firmemente por trás das costas e procurou a força para fazer o
que tinha que fazer.

Alexa estava olhando para seu reflexo no espelho quando Linford


veio até ela. Estava usando um vestido de baile amarelo ensolarado
que ela tinha feito em Madri e que Rue tinha ajudado a alterar, um
que ela tinha planejado usar durante a temporada em Londres este
ano. Era bonito, e isso a fez parecer muito mais alegre do que se
sentia.
Mas ela não era uma noiva feliz.
Alexa seguiu Linford até o salão, pronta para dizer seus votos.
Mas quando cruzou o limiar, e viu Harry parado com aqueles que ele
tinha reunido para testemunhar seu casamento, ela sentiu algo em seu
coração.
― Alexa? Só falta você, por favor, ― disse Harrison, apontando
para seu lado, como se quisesse acabar logo, para poder começar o
trabalho de enterrar-se sob a montanha de arrependimento que ele
tão claramente empilhava sobre seus ombros.
Ela se aproximou dele lentamente, sentindo-se totalmente em
desacordo com ela mesma.
Harrison fez uma careta. ― Você está bem?
Bem? Como poderia estar? Ela distraidamente colocou a mão em
seu abdômen e lhe deu um pequeno sorriso trêmulo. ― Estou bem,
obrigada. Talvez melhor do que eu tenha estado em algum tempo.
Ele arqueou as sobrancelhas com surpresa. ― Estou contente de
ouvir isso. Se você vir aqui, podemos começar.
Alexa fez como ele pediu, e fez uma reverência ao vigário. ― Meu
senhor reverendo, ― ela disse, e inclinou-se em torno de Harrison. ―
Sr. Fish, obrigada por terem vindo. E você, Rue, obrigada
― Eu trouxe flores, a senhorita, ― disse Rue, empurrando um
triste buquê para ela.
Surpresa e tocada, Alexa pegou o buquê. ― Obrigada. ― Ela
percebeu que sua mão estava tremendo, então agarrou o buquê mais
apertado e levantou um sorriso ao vigário.
― Senhorita Hastings? Sr. Tolly? Devo continuar? ― Perguntou o
vigário.
― Sim, ― Harry disse rapidamente. Ele era um homem
resignado à sua sorte.
O vigário moveu Rue e o senhor Fish um pouco mais perto, para
ficar em ambos os lados de Alexa e Harry. ― Amados, ― ele
começou, sua voz assumindo um tom sério, ― estamos aqui reunidos
na presença de Deus…
Alexa assistiu a garganta do vigário se mover enquanto ele
falava. Era como se fosse quase um sonho. Ela olhou para Harry, e
percebeu ― que tudo parecia errado, e era Olivia que deveria estar de
pé aqui, não ela. Estava em pé no lugar de Olivia.
― Primeiro, foi ordenado para a procriação de filhos... ― O vigário
continuou, e olhou diretamente para Alexa. Claro, se era para ter um
filho, é preciso ser casado. Claro que ela tinha que casar com Harry por
causa de seu filho. Não era isso o que o vigário quis dizer?
― Em segundo lugar, foi ordenado como um remédio contra o
pecado e para evitar fornicação..., ― disse ele, erguendo a voz um
pouco.
Ah sim, os perigos da fornicação. Alexa os conhecia melhor do
que a maioria, e sentiu a profundidade dessa angústia. Não porque
ela tinha feito isso, mas porque ainda não conseguia pensar nos
momentos que passara nos braços de Carlos, sem sentir a dor da falta
dele. Ela olhou para Harry novamente a partir do canto do olho e se
perguntou se ele sentia angústia. Como não poderia? Ele amava
Olivia, assim como Alexa amava Carlos. Quão profunda é a sua dor,
Harry?
Deveria ser Olivia em pé aqui. Não ela. Mas Olivia não estava
carregando uma criança. Alexa estava.
―... no qual santo estado estas duas pessoas presentes vem
agora a ser unidos. Portanto, se alguém pode mostrar alguma justa
causa por que eles não podem ser legalmente unidos, deixe-o falar
agora, ou então para sempre mantenha a sua paz. — O vigário olhou
para o senhor Fish, que manteve o olhar no chão. Ele então olhou Rue,
que furiosamente balançou a cabeça e deu um passo atrás.
O vigário, em seguida, olhou para Harrison. ― Sr. Tolly, aceita
esta mulher como sua legítima esposa, para viverem juntos,
segundo os mandamentos de Deus, no santo estado do matrimônio?
Promete amá-la, confortá-la, honrar e mantê-la, na doença e na saúde
e abandonando todos os outros, manter-te apenas para ela durante o
tempo que ambos viverem?
Alexa sentiu toda a emoção escapando para fora dela.
― Sim, ― Harry disse, sua voz surpreendentemente clara e
forte. Ele até conseguiu um pequeno sorriso para Alexa.
Pobre homem. Sentia-se entorpecida.
― Senhorita Hastings, ― o vigário continuou, ―aceita este
homem como teu esposo, para viver juntos, segundo os
mandamentos de Deus, no santo estado do matrimônio? Queres
obedecer-lhe e servi-lo, amar, honrar e mantê-lo, na doença e na
saúde e abandonando todos os outros, manter-te apenas para ele
durante o tempo que ambos viverem?
Alexa hesitou. Ela olhou para Harry, os olhos cinzentos. Não
havia nenhuma emoção lá, nem mesmo um lampejo. Devia ser Olivia de
pé aqui. Não ela.
― Eu... digo não.
Ninguém falou por um momento.
― Perdão? ― Harry perguntou, como se ele tivesse entendido
mal.
Mas Alexa ficou subitamente muito clara.
― Eu não posso, ― disse ela, sacudindo a cabeça.
― Alexa, ― Harry disse suavemente. ― O que está
acontecendo?
― Entendo que o momento é muito inoportuno, Harry, mas eu...
eu não te amo, ― disse ela em tom de desculpa. ― Amo outra
pessoa.
Seu rosto escureceu. ― Pelo amor de Deus, Alexa, ― ele
sussurrou acaloradamente, ― Eu acho que nós estabelecemos isso…
― E você também, ― ela sussurrou. ― Esta não é a resposta,
deve haver uma outra maneira. Para nós dois.
― Mas senhorita Hastings, você leva a sua criança! ― Rue disse
em voz alta.
Alexa olhou para o céu, em seguida, olhou timidamente para o
vigário atordoado.
― Não dele, ― disse ela. ― O senhor Tolly foi gentil o suficiente
para fingir isso, mas devo ser honesta. A criança não é dele.
― Meu Deus, ― disse o senhor Fish, chocado.
― Mas você carrega uma criança. Uma criança sem pai, ― Harry
lembrou.
― Sim, ― Alexa disse, pensativa. ― A criança vai carregar a
minha vergonha, não há dúvida. Mas será que o meu bebê também
carregará o meu compromisso para salvar as aparências? ― Ela
estava se perguntando, realmente, embora soubesse a resposta. E a
resposta era não. Seu filho poderia ser um bastardo, e nunca
conhecer o seu pai, e ser evitado na sociedade. Mas Alexa não
destruiria a felicidade de outra pessoa apenas para dar a aparência de
que seu filho não era um bastardo.
Tudo parecia tão claro para ela agora. O vigário e Rue olharam
para ela boquiabertos. E Harry...
Harry suspirou para o teto. ― Se vocês nos der licença um
momento, ― disse ele, e agarrou o cotovelo de Alexa com força,
virando-a e marchando para fora do salão para falar com ela em
particular.
Mas Alexa tinha feito a sua escolha e não se deixaria influenciar.
Capítulo Trinta e Dois
Nos primeiros dias após Alexa e Harrison deixarem Everdon
Court, Olivia encontrou-se olhando muito para o relógio sobre a
lareira. Ela não tinha nada para ocupar seu tempo na casa da viúva,
nada para fazer com as muitas horas do dia, a não ser pensar em
Harrison.
Pensou em Alexa, também, e se perguntou como estava indo,
mas na verdade, Olivia tinha começado a entender que ela estava
muito irritada com Alexa.
Alexa tinha tomado muito dela. Mesmo quando menina, Alexa
tinha sido a única a ganhar a atenção e favores de sua mãe e padrasto.
Era alegre e bonita, e tinha sido a única a sair e experimentar o
mundo, enquanto Olivia foi feita para se casar, para que ela pudesse
cuidar de sua irmã quando chegasse a hora.
E agora Alexa tinha Harrison. Ela tinha o amor de Olivia.
Harrison tinha deixado um vazio em sua vida, tão profundo, que
Olivia temeu que nunca seria preenchido. Sua ausência fez tudo ao
seu redor parecer tão maçante. O tempo era imóvel, e minutos viraram
anos. O ar era rançoso, e ela sentia falta de ar. O silêncio, Deus, o
silêncio, não havia nada, nenhum som, apenas o tique-taque
constante do relógio. Olivia ansiava por Harrison, doía não ver o
sorriso em seus olhos cinzentos.
Todos os dias acordou e preparou-se para o vazio que tocava
nela. Ela tentou desviar seus pensamentos, mas nada parecia
funcionar. Trabalho com agulha foi inútil. Ela tinha convidado Bernie,
mas Bernie parecia ansiosa. No começo, Olivia não sabia por que sua
amiga estava se comportando de forma tão estranha, mas finalmente
ficou claro: os rumores.
A alegria ansiosa de Bernie estava excepcionalmente rala. Olivia
não queria alegria. Se ela tivesse sua maneira, o mundo inteiro teria
se juntado a ela em se arrastar sombriamente com o coração pesado
e olhos baixos.
Ela não encontrou ninguém da sociedade em Everdon Court,
qualquer um. Os Carey tinha partido logo após o funeral, e quando
David voltou alguns dias depois, estava na companhia de alguns
amigos. Ou então foi o que Olivia ouviu da senhora Lampley.
― A senhora Perry está louca com eles, ― ela relatou, sacudindo
a cabeça. ― Eles jogam todas as noite, dormem metade do dia, e não
se apresentam quando o jantar é servido. E ontem à noite tinham
convidados, se você me entende, ― ela acrescentou, balançando as
sobrancelhas para Olivia.
Olivia mal podia reprimir um pequeno sorriso. Edward teria
ficado furioso.
Olivia não foi convidada para a casa principal.
Seu humor negro aprofundou dia a dia. Olivia não encontrava
nada para rir, nada para diverti-la. Nada poderia aliviar sua dor.
Uma manhã, enquanto vagava pela casa da viúva em busca de
uma ocupação, Olivia abriu a porta para o estúdio, a senhora Lampley
tinha dito a ela que era onde Harrison tinha passado a maior parte de
seu tempo, lendo ou trabalhando.
― Ele amava seus livros, amava, ― ela disse.
Olivia tinha evitado esta sala. Além do quarto onde ele tinha
dormido, este era o lugar onde ela iria sentir mais a sua presença.
Mas, quando entrou, não estava sobrecarregado com a sua presença.
Estava em falta nesta sala, assim como ele estava em falta em
qualquer outro lugar.
Ela olhou ao seu redor; as prateleiras estavam principalmente
nuas agora. Ele tinha levado sua coleção de livros, e não havia nada
sobre a mesa; que tinha sido encerada e limpa. Não havia realmente
nada para dizer que Harrison tinha ocupado este espaço por anos.
Exceto por uma pequena pilha de livros sobre uma mesa lateral
perto da janela. Olivia se aproximou e pegou um, seus dedos traçando
a lombada. Ela abriu o livro. Camilla; ou, A Imagem da Juventude.
Virou a página e foi surpreendida ao encontrar uma nota dobrada
dentro.

Este livro foi escrito por Fanny Burney. Em todos os anos que
vivi em Londres, eu não vi o mundo que ela descreve. Seu romance
abriu meus olhos para uma cidade muito diferente da que eu
conhecia. HT

Olivia piscou com surpresa e lentamente afundou na cadeira.


Ela colocou o livro de lado e abriu o próximo. Fausto. Dentro havia
outra nota.

Enquanto encontrei este conto altamente implausível, eu achei


descontroladamente divertido. Como eu escrever esta nota para você
agora, se sente como se eu tivesse feito o meu próprio pacto com o
diabo. Você deve ler o livro para entender o que quero dizer.

Olivia fechou o livro no colo. A percepção de que Harrison tinha


deixado um presente de despedida nestes livros e nestas notas enviou
dor através dela. Juntou os livros contra o peito e se inclinou,
soluçando. Os sentimentos que ela passou tantos anos empurrando
para baixo para que pudesse tolerar sua vida, finalmente inundando
suas margens, derramando nestes livros que Harrison tinha tocado e
deixou para ela. Chorou até que não conseguiu chorar mais, e quando a
última lágrima foi arrancada dela, Olivia empurrou-se na posição
vertical, em seguida, enxugou os olhos com a manga.
― Suficiente, ― ela disse suavemente.
Aconteceu. Ele se foi. Não voltaria, e ela não podia continuar
assim, de luto e definhando sem esperança. Seria uma mulher a
definhar como uma viúva? Ou ela se recomporia e seguiria em frente?
Tinha uma vida que valia a pena ser vivida, e era hora dela começar.
Foi com uma nova perspectiva que Olivia surgiu na manhã
seguinte. O dia estava gloriosamente brilhante, as cores da primavera
magníficas. Ela vestiu suas melhores botas e um lenço vermelho
brilhante, pegou o romance Camilla, colocou-o debaixo do braço, e foi
marchando para a cozinha.
― Bom dia, milady! ― a senhora Lampley cantou. ― Você veio
acima com o sol, ao que parece.
― Sim, de fato. Gostaria de uma cesta de piquenique, por favor,
senhora Lampley. Quero tomar uma caminhada muito longa.
― Agora esta é uma ideia adorável, ― disse a senhora Lampley.
― Não há uma nuvem no céu esta manhã.
Olivia sorriu e pegou um muffin. Ela deu uma mordida. ―
Delicioso. ― Pela primeira vez em dias, ela realmente notou o gosto
de alguma coisa.
― Você não vai acreditar quando eu lhe disser que eu recebi
uma carta de Rue! ― A senhora Lampley disse quando ela alinhou uma
cesta com um pano de linho.
― Rue! ― Olivia repetiu cética. ― Acho que minha irmã ajudou
a escrevê-la.
― Eu não penso assim, ― disse a senhora Lampley. ― A carta é
muito mal escrita e a caligrafia atroz! ― Riu quando cortou o queijo e
colocou na cesta. ― Ela disse que o senhor Linford, o mordomo em
Ashwood, ajudou-a soletrar algumas das palavras.
Olivia sorriu. ― Ela está bem, eu espero.
― Oh, muito. E bastante animada que foi convidada a
testemunhar o casamento entre o senhor Tolly e a senhorita Hastings.
Ela está bastante orgulhosa disso.
Olivia não conseguia respirar. Ela olhou para senhora Lampley,
que usava um sorriso alegre quando cortou um pedaço de pão.
― Casamento da minha irmã e do senhor Tolly? ― Olivia ouviu-
se perguntar.
A faca da senhora Lampley parou. ― Perdoe-me, madame.
Achei que você sabia. Eu tinha ouvido da senhora Perry.
Senhora Perry! Como é que a senhora Perry sabia, e não Olivia?
― Eles se casaram, ― ela repetiu.
― Sim.― A senhora Lampley retirou a carta de Rue do bolso do
avental e entregou-a Olivia.
Olivia leu a carta duas vezes, já que havia inúmeros erros de
ortografia e marcas estranhas. Mas ficou claro que Alexa e Harrison
tinham definido uma data para casar há três dias e Rue era para ser
uma testemunha.
Eles haviam se tornado marido e mulher há três dias.
Olivia afundou na bancada de trabalho da senhora Lampley,
olhando para a carta toscamente escrita por Rue.
― Você está bem, madame? ― Perguntou a senhora Lampley.
― Estou desapontada que eu não estava lá para as núpcias, ―
ela mentiu.
― Ah, claro. Talvez eles enviaram uma nota e ela foi perdida.
― Talvez, ― Olivia murmurou.
A cozinha, com suas paredes de pedra e de teto baixo, estava
começando a sentir chegar muito perto. ― Bem, então, ― ela disse,
entregando a carta de volta para senhora Lampley. ― Acho que vou
tomar essa caminhada sob o sol. ― Ela pegou a cesta que a senhora
Lampley tinha reunido e forçou um sorriso. ― Tenha um bom dia,
senhora Lampley.
― Tenha um bom dia, Lady Carey.
Olivia caminhou para fora e ficou no jardim com galinhas
bicando ao redor de suas botas à procura de grãos. Foi tão bom que
não tinha tomado conhecimento; ela estava à beira de entrar em
colapso sob sua dor. Ela não conseguia imaginar quão doente e
desesperada poderia ter ficado se tivesse conhecido o dia, a hora, o
momento em que ele havia comprometido a sua fidelidade eterna a
Alexa.
Foi feito. Tinha acabado. Ele havia se casado com sua irmã, e de
todas as crueldades que Olivia tinha sofrido, este teve que ser o golpe
mais cruel. E pior, ela desferiu o golpe em si mesma. Ela tinha
insistido; o tinha dispensado, então ela tinha apenas a si mesma para
agradecer por isso.
Olivia estava cansada de tudo isso.
Andou ao longo do caminho até o portão, pulou para a linha de
fundo, e abriu-o, balançando para fora. Ela pulou e fechou o portão, e
quando se virou, ela viu dois cavaleiros descendo da casa principal.
Olivia fez uma pausa, ajustando a touca.
David e um cavalheiro pararam ao lado dela.
― Lady Carey, ― David disse, tirando o chapéu. ― Como se
encontra?
― Muito bem, ― disse Olivia, lembrando-se de fazer uma
reverência a ele, agora que era o marquês. ― Eu escutei que você veio
de Londres.
― Posso apresentar o senhor Eason?
― Senhora, ― disse Eason, curvando-se sobre o pescoço do
cavalo.
― Tenha um bom dia, milorde, ― disse Olivia.
― O senhor Eason é o novo administrador, ― disse David, e
colocou o chapéu na cabeça novamente.
― Ah. ― Ela sorriu.
David olhou para a mão. ― Eu tinha a intenção de convidá-la
para o chá, Olivia, mas já que estamos aqui, devo dizer-lhe que nós, isto
é, meu tio e eu pensamos que talvez você pudesse ficar mais
confortável na Casa Greystone em Ridgeley State.
O coração de Olivia afundou. Ela olhou para o senhor Eason, que
parecia muito desconfortável.
― Ridgeley, ― disse ela. Favor concordou. ― Em Cornwall? ―
Perguntou ela friamente.
― Sim, ― disse David. ― Naturalmente, nós lhe enviaremos com
uma criada. E uma cozinheira. Há um casal que vive em Greystone
para cuidar das coisas.
― Mas é na Cornualha, David, ― disse ela. ― Minha vida é aqui.
― Sim, bem... ― Ele se mexeu na sela. ― Precisamos da casa
da viúva para o senhor Eason. Ele agora é o administrador e deve estar
mais próximo de mim.
O senhor Eason pareceu como se gostaria de rastejar sob uma
rocha. Olivia se aproximou do cavalo de David e colocou a mão sobre
o pescoço do cavalo.
― Eu pensei que éramos amigos.
― Nós somos, ― ele disse apressadamente. ― Claro
que somos. Lamentamos o inconveniente, Olivia, mas o que
devemos fazer?
Sim, o que a família de um homem cruel e danificado faria senão
deixar de lado sua esposa? ― Eu suponho que você vai exilar-me para
a Cornualha. Meu marido se foi há pouco mais do que uma quinzena e
já fui forçada a sair do meu entorno.
― E de quem é a culpa? ― Perguntou David. Ele olhou inquieto
para o senhor Eason, mas não encontrou ajuda aí.
― Eu só vou andar até o caminho e dar uma olhada. ― O
senhor Eason disse, e estimulou seu cavalo adiante.
― O senhor Eason está preparado para trazer sua família para
Everdon Court até o final do mês, ― disse David.
O olhar de Olivia se estreitou. ― Eu tenho uma semana?
David deu de ombros. ― Se houvesse qualquer outra maneira…
― ele disse.
― Há muitas outras maneiras, David. Mas você gostaria de me
tirar fora da vista e não tenho poder para impedi-lo. Que assim seja.
Você já entregou seu veredicto, por isso, se me der licença… ― Ela
começou a andar no caminho.
― Olivia, ― David disse suplicante.
Olivia girou ao redor, e continuou andando para trás. ― Edward
era um bêbado, David! Ele era cruel e era louco e forçou sua vontade
em mim! Você sabe, sabe o que eu suportei! Mas eu não o traí! ― Ela
se virou e desceu o caminho.
Desprezava David. Ela desprezava todos os Carey. Desprezava
que as mulheres não tinham voz e podiam ser empurradas. Ela ficaria
feliz em deixar Everdon Court, mas não iria para Cornwall. David e sua
família poderiam mandá-la para Hades, ela não iria se desperdiçar em
algum precipício varrido pelo vento.
Londres, talvez. Ou talvez ela iria para a Espanha e teria um
amante espanhol! França! O que era um pouco de guerra, quando a
família se voltou contra ela?
Olivia estava com tanta raiva, marchou todo o caminho até o rio
antes que percebesse. Ela deixou cair o cesto e seu livro, em seguida,
caiu sobre os joelhos, olhando para a água.
Quando sua respiração tinha voltado ao normal, Olivia tirou o
manto e espalhou-o nas margens do rio. Olhou a cesta, mas não tinha
apetite, então pegou o livro e abriu-o, relendo a nota que Harrison
tinha deixado. Ela virou-se para a primeira página e começou a ler.
Quanto tempo ela leu, Olivia não sabia. No início, tinha
encontrado sua mente vagando, e foi forçada a reler passagens. Mas
a história que começou a desdobrar-se diante dela era sobre uma
menina de dezessete anos de idade, que era ingênua e muito
confiante.
Ah, ela sabia muito bem como era ser aquela menina.
Quando cansou de ler, ela rolou de costas e observou as nuvens
em todo o céu da tarde. Talvez pudesse esculpir uma vida para si
mesma. Talvez ela poderia colocar Harrison e tudo o que tinha
acontecido em Everdon Court atrás dela e forjar seu próprio caminho.
Talvez pudesse passar muitas tardes assistindo as nuvens flutuando.
Havia vidas piores. Resolvida, Olivia juntou suas coisas e começou a
voltar para a casa. Pegou uma vara e andou sobre de algumas ervas
daninhas altas, em seguida, deixou a vara. Quando ela se aproximou do
portão, inadvertidamente deixou cair o livro. Ela pegou, tirou fora a
poeira, e limpou um pouco de lama do canto do livro. Seu cabelo se
soltou, e ela tirou uma mecha de seu rosto, em seguida, olhou para o
portão.
Ela deixou cair a cesta e o livro novamente com a visão de
Harrison ali de pé, sua capa ondulando na brisa da tarde.
Algo deve ter acontecido para ele estar de pé na colina como
estava, olhando para ela. Alexa. Teria ela perdido o bebê?
Ele começou a descer o caminho, seu passo largo, e Olivia ficou
ali, paralisada com a incerteza, com o coração insensato batendo
como um passarinho.
A expressão de Harrison era severa, sua determinação evidente
na força do seu passo. Ele parou diante dela, seu olhar a varrendo, do
alto de seu cabelo para as pontas de suas botas enlameadas.
Olivia não conseguiu encontrar sua língua.
Algo mudou nos olhos de Harrison; ela viu uma centelha de luz,
quando ele casualmente estendeu a mão e empurrou o chapéu fora de
sua cabeça, e com o polegar, enxugou seu rosto. Ele mostrou. Lama.
― Onde está Alexa? ― Olivia perguntou ofegante.
― Em Ashwood. Se escondendo, eu acho.
― Se escondendo? Você deixou sua esposa escondida em
Ashwood?
― Minha esposa? ― Ele sorriu. ― Não, Olivia. Não a minha
esposa.
― Mas recebemos uma carta.
― E eu prefiro imaginar que você receberá uma outra em breve.
Nós não casamos. Essa menina tola me recusou no altar.
Olivia engasgou. Deveria ter ficado indignada, mas o único som
que ela poderia fazer era um riso louco. Eles não estavam casados! A
onda de alegria que lavou sobre ela era forte o suficiente para levá-la,
e ela teria prazer em ir junto.
Eles não estavam casados!
― O bebê, ― disse ela.
Harrison traçou sua mão em sua bochecha, seus dedos
deslizando sob sua mandíbula.
― Alexa está feliz que seu filho terá uma tia e um tio que o
amam. Eu acho que é tempo de você parar de se importar com sua
irmã. Ela é uma mulher adulta, e está pronta para tomar suas próprias
decisões e enfrentar suas próprias consequências. Ela sabe o que é, e
está em paz com isto. Agora você deve ficar, também.
― Sim, ― ela disse, balançando a cabeça.
Ele sorriu. ― Olivia, nenhum de nós precisa fingir por mais
tempo. Acabou. Não resta mais nada, só nós. Quero que você venha
para Ashwood comigo. Sua irmã e seu filho terão sempre um lugar lá.
Ashwood. Parecia o céu para ela. ― Os Carey vão arruinar a sua
carreira.
Ele encolheu os ombros. ― Eu herdei uma propriedade inteira, e
com algumas mudanças será bastante rentável.
― Nossa reputação não vai nos permitir frequentar a sociedade.
― Nós teremos um ao outro.
― Sim, ― ela disse, e atirou-se para ele, envolvendo os braços
em volta do pescoço. ― Sim, teremos um ao outro! Eu te amo,
Harrison. Você não pode saber como eu tenho me desesperado estes
últimos dias. Eu nunca deveria ter te mandado embora. Eu nunca
deveria …
― Silêncio, ― ele sussurrou. ― Há tantas coisas que nós dois
nunca deveríamos ter feito, mas todos elas estão atrás de nós agora.
Eu amo você, Olivia. Eu te amei desde o momento em que a vi pela
primeira vez, e sempre vou te amar. Eu nunca mais vou permitir que
você fique longe de mim. Temos uma nova vida pela frente. Venha
recolher suas coisas. Estamos deixando Everdon Court.
Capítulo Trinta e Três
A senhora Lampley parecia chocada quando Harrison e Olivia
entraram juntos pela porta de trás.
― Sr. Tolly, ― Ela gritou. ― Você voltou!
― Só por uma noite, senhora Lampley.
― Mas o senhor Eason está aqui. Oh, céus, onde estão minhas
maneiras? Felicitações em suas núpcias, senhor.
― Obrigado, mas isso não é necessário. Quem é o senhor Eason?
― Perguntou Harrison.
Olivia riu. ― O novo administrador.
― Ele está aqui, andando, olhando o lugar, ― a senhora
Lampley sussurrou, parecendo angustiada. ― Diz que ele tem uma
esposa e quatro filhos. Quatro!
Harrison sorriu. ― Tenho plena confiança de que você vai
enfrentar o desafio, senhora Lampley, ― disse ele. ― Acho que vou
dar uma boa olhada no camarada.
― Mas… ― a senhora Lampley virou-se para Olivia. ― Mas
onde e s t á a s e n h o r a Tolly?
― Oh, não há senhora Tolly, ― Olivia disse brilhantemente. ―
No entanto, tenho a intenção de remediar isso imediatamente. E a
propósito, senhora Lampley, vou deixar Everdon Court.
― Deixar! Onde você irá?
Olivia sorriu. ― Com o senhor Tolly para Ashwood. Para se
tornar a senhora Tolly. Alexa decidiu que ela não queria.
Ainda estava rindo quando subiu as escadas correndo para seus
aposentos, perguntando se alguma viúva já tinha se atrevido a casar
tão cedo como ela pretendia.

O senhor Eason estava no estúdio, inclinado, abrindo as gavetas


da escrivaninha.
― Você não vai encontrar nada aí, ― Harrison disse enquanto
entrava.
O senhor Eason levantou-se. ― Perdão.
― Harrison Tolly, ― Harrison disse, e estendeu a mão, sorrindo
para o olhar chocado do homem.
― Eu não entendo, ― o senhor Eason disse ao pegar a mão de
Harrison.
― Voltei para algo que erroneamente deixei para trás. E alguns
livros. ― Ele caminhou até a mesinha onde tinha empilhado os livros
para Olivia e os pegou. ― Desejo-lhe a melhor sorte com Lorde Carey,
senhor Eason. Ele não tem a capacidade para os números que seu
falecido irmão tinha. E ele gosta de gastar livremente. O último
marquês era bastante bom em controlá-lo, mas não posso adivinhar
quem poderá controlá-lo agora ― ele sorriu. ― Se você não encontrar
alguém que possa argumentar com ele, a fortuna da família Carey
provavelmente vai ser esgotada dentro de um ano. ― Não era
verdade, mas Harrison não se conteve. ― Boa sorte para você,
senhor, ― disse ele, e saiu, deixando um escandalizado senhor Eason
para trás.
Ele subiu as escadas de dois em dois e foi direto para a suíte na
qual Olivia tinha se acomodado. Estava lá dentro, ocupada, recolhendo
suas coisas; ela ainda não tinha retirado sua capa.
Harrison entrou e colocou os livros na sua penteadeira. Olivia
sorriu-lhe. Ele não tinha visto seu olhar tão feliz em anos.
― Você não vai remover a capa? ― Perguntou.
― Não. Eu quero estar pronta para partir sem um momento de
hesitação.
Ele riu, e empurrou a porta fechada. ― Você tem a minha
palavra que teremos partido na primeira luz da manhã. Mas eu acho
que há algo que requer nossa atenção imediata, ― disse ele, girando a
chave na fechadura.
Seu sorriso iluminou ainda mais. ― Imediato! Deve ser muito
importante.
― Muito, ― disse ele.
― Bem, então.― Ela desabotoou sua capa e deixou cair.
Harrison sorriu e estendeu a mão para ela. Ele tinha montado
como um homem selvagem de Ashwood, desesperado para vê-la,
abraçá-la. Ele seria eternamente grato a Alexa por acabar com a
loucura que ele tinha começado naquele dia no estúdio do marquês, e
por pedir-lhe para ir buscar Olivia antes que fosse tarde demais.
― Eles não vão mantê-la em Everdon Court, ― Alexa tinha
discutido na noite da cerimônia de seu quase casamento. ― Lorde
Westhorpe vai querer sua liberdade e nenhuma lembrança de Edward.
Para uma jovem que era muito ingênua sobre algumas coisas,
Alexa foi muito sábia sobre outras.
― Você é tão bonita, ― disse Harrison para Olivia agora. Beijou
seus lábios. ― E eu vou te fazer minha, Olivia. Só minha.
― Isso é uma promessa? ― Ela colocou os braços ao redor da
cintura dele.
― Eu estive esperando um tempo muito longo por isso.
Esse desejo detonou algo profundo dentro de Harrison. Ele
precisava sentir seu corpo sob o dele. Ele precisava acabar com a
espera, para saber que suas vidas estava prestes a mudar da forma
que ambos haviam sonhado por tantos anos. Ele a puxou, segurando-a
com força enquanto a beijava.
Olivia sorriu sedutora quando puxou os pinos de seu cabelo e
deixou cair pelas costas.
Harrison passou a mão pelo cabelo sedoso que ele admirava de
longe, levando-o ao rosto e cheirando-o. Seu aperto em volta da
cintura quando ela o beijou, sua língua procurando a dele. Virou de
costas, batendo contra a cama, com a boca no pescoço dela agora,
com os dedos sobre o peito, curvando sobre seu decote, o aroma de
seu perfume enchendo seus sentidos.
Suas mãos procuraram cada curva, a boca, cada pedaço de pele.
Olivia fechou os olhos e deixou cair a cabeça para trás, seu suspiro de
saudade fazendo o sangue de Harrison correr e inchar. Ele tirou o lenço
do pescoço; os dedos de Olivia voaram para os botões de seu colete e
empurrou-o de lado. Suas mãos correram sobre o peito, até à cintura,
e puxou a camisa de suas calças.
Ele tirou o colete e às pressas puxou a camisa sobre a cabeça.
Olivia passou as pontas dos dedos no peito, então se inclinou e
beijou onde seu coração estava batendo em seu peito. Seus dedos se
agitaram sobre seus mamilos, e o ligeiro recuo entre os músculos que
corriam de seu esterno e desapareceu no topo de suas calças.
Harrison apertou a mandíbula, restringindo-se enquanto ela o
explorava. Mas quando ela passou a palma da mão contra a ereção
que puxava contra sua calça, ele disse asperamente,
― Eu não posso suportar estar perto de você por mais tempo
sem te possuir. ― Ele se sentiu quase febril com o desejo ardente
nele. ― Eu não posso suportar isso, ― disse de novo, então se
afundou na cama com ela.
Olivia riu com seu ardor, com as mãos em toda a parte,
corajosamente explorando, acariciando e afagando. Quando a língua
dela sacudiu nos mamilos dele, ele gemeu e encontrou os botões do
vestido dela, em seguida, empurrou-o para baixo de seu corpo. Ele
liberou seus seios, acariciou-os, levou-os cada um em sua boca, por
sua vez, sugando os picos endurecidos em sua língua.
A mão de Olivia rodeou sua ereção e se moveu, o que
provocou um incêndio nele que rapidamente o deixou fora de
controle. Ela empurrou-o de costas e começou a trilhar beijos no peito,
no seu abdome, e abaixo. Quando os lábios rodearam seu membro,
Harrison ficou perdido. Ela traçou a língua ao longo do comprimento
dele, e Harrison engasgou quando tentou impedir de se contorcer
contraindo debaixo dela. Mas foi inútil; seu autocontrole estava
pendurado por um fio. Ela foi empurrando-o para além dos limites
do anseio. Por mais enlouquecedor e agradável que fosse,
ele precisava estar dentro dela. Ele tateou cegamente por
ela, levantando-a e cercando-a com força em seus braços. Os lábios
de Olívia suavemente encontraram os dele enquanto ele a rolou sobre
suas costas.
Ele se moveu sobre ela, empurrando as saias acima de seu
quadril, então enfiou a mão entre as pernas dela. Ela estava quente e
lisa, e seu profundo gemido contra sua boca chegou perto de desfazê-
lo completamente. Seus dedos deslizaram dentro daquele calor; o
polegar acariciou sem pensar até que ela deu um pequeno grito e se
moveu contra ele.
Ele se moveu entre as coxas, empurrando-as mais distantes com
o joelho.
― Eu estou no fim da minha resistência, Olivia. Preciso de você.
Eu precisei de você toda a minha vida. ― Ele deslizou para dentro
dela e começou a se mover. Olivia o beijou, levantando-se para ele,
levantando as pernas para sua cintura, puxando-o para dentro até
que ele estava se movendo profundamente dentro dela, seu coração
cada vez maior com cada curso, reivindicando-a como sua própria, da
maneira mais primitiva que um homem pode reivindicar uma mulher.
Ela gemeu de prazer, seu corpo apertado ao redor dele, e depois
gritou quando estremeceu e contraiu em torno dele.
Seu clímax foi seguido pelo de Harrison, que com um soluço
estrangulado de êxtase, se lançou nela.
Enquanto acalmava a respiração ofegante, sentia-se
impressionado com o que tinha acontecido entre eles. Ele foi tomado
pela compreensão: Como poderia ter contemplado estar sem ela por
um momento sequer?
Ele ternamente reuniu Olivia em seus braços e rolou para o lado.
Ela esfregou o rosto em seu pescoço. Eles estavam cobertos com um
brilho de transpiração, e ficaram deitados ali até que o calor de suas
peles havia diminuído.
Ainda assim, Harrison não queira deixá-la ir. Nunca tinha se
sentido tão vivo, nunca tinha sentido nada tão profundamente. Sabia
que este era o lugar onde estava destinado a estar, que este era o
lugar onde ele foi aceito. Este era o resto de sua vida.
― Olivia, ― ele murmurou.
― Humm? ― Ela soou como um gatinho ronronando, com um
sorriso de satisfação no rosto para corresponder.
― Vamos para casa, ― ele murmurou contra sua têmpora.
― Eu já estou lá, ― disse ela.
Capítulo Trinta e Quatro
Rue estava limpando o quarto de Alexa. Ela estava sempre
limpando o quarto do Alexa, pois sua capacidade de arrumar era
marcada por sua desatenção às coisas que precisavam ser arrumadas.
No momento ela estava mexendo com as cortinas, e tinha pisado na
frente da janela, bloqueando a luz.
Sentada em uma chaise, Alexa suspirou com irritação. ― Rue,
você precisa fazer isso agora?
― Sim senhorita. Você me disse que eu preciso, ― disse Rue.
― Eu lhe disse que você deve arrumar o quarto, não cortina. E
você deve estar diante da janela? Gostaria de sentir o sol no meu
rosto.
― Oh, mas você não pode sentir o sol quando está em casa. O
sol está fora.
― É? ― Alexa demorou, e se levantou. ― Então, talvez eu irei
para onde o sol está, já que você insiste em bloqueá-lo.
― Não, senhorita, não sou eu, ― disse Rue. ― É a casa que
bloqueia.
Alexa gemeu e pegou o xale, o spencer já não cabia sobre seus
seios, e envolveu-o firmemente em torno dela. ― Você deve se dedicar
a costura, Rue, ― ela disse, e fez uma pausa para olhar para as
roupas infantis que Rue tinha feito e deixado em sua cama para
admirar. Elas eram surpreendentemente belas. Alexa tinha descoberto
o extraordinário talento de Rue como costureira quando ela tinha
alterado o vestido amarelo. ― Sua habilidade é muito superior à sua
capacidade de limpeza.
Rue sorriu com orgulho.
Alexa foi para o andar de baixo, com a mão no corrimão, seus
dedos sentindo as vinhas curvas e folhas esculpidas na grade. Louis, o
lacaio com o sorriso amável, abriu a porta da frente para ela.
― Boa tarde, senhorita Hastings.
― Boa tarde, Louis. ― Ela se perguntou se ele ou Linford ou a
senhora Thorpe, a governanta, tinham notado sua crescente barriga.
Como não podiam? Ela sentia como se estivesse rompendo tudo o que
possuía. Mas se eles se sentiam ofendidos, nenhum demonstrou. Eles
todos foram muito gentis com ela, mesmo depois do desastre do
casamento.
Alexa saiu para os degraus que levam até a entrada. Ouviu
cavaleiros se aproximando e olhou para a estrada. Ela não ficou
surpresa ao ver Harry e Olivia cavalgando em direção à casa, mas
ficou surpresa com o quão bem sua irmã podia cavalgar.
Era algo mais sobre sua irmã notável que ela não tinha notado.
Eles alcançaram a entrada e frearam. Olivia praticamente se
jogou de seu cavalo e atravessou o caminho de cascalho para Alexa.
Ela não estava usando roupas de luto; estava vestida em um traje de
montar. Ela correu para cima. Ela não falou. Olhou para Alexa, e antes
que Alexa soubesse o que estava acontecendo, Olivia jogou os braços
ao redor dela, abraçando-a com força.
― Obrigada, querida, ― disse ela. ― Obrigada do fundo do meu
coração.
Alexa sentiu uma onda de alívio e alegria. ― Eu sabia que estava
certa, ― ela gritou. ― Você o ama!
Olivia riu e ficou para trás. Seus olhos estavam brilhando, seu
sorriso cintilante. Ela não tinha esse olhar feliz por anos, desde muito
antes de se casar com Edward.
― Sim. Eu o amo com todo meu coração, e eu o tenho amado
por muito tempo. Pensei que o tinha perdido, mas você fez a minha
felicidade possível.
Alexa sorriu. Sentia-se orgulhosa de si mesma, na verdade. Ela
tinha realmente feito uma bondade a alguém. ― Eu fui forçada a tomar
medidas com minhas próprias mãos, ― ela ostentava. ― Você pode
ser tão abençoadamente teimosa, você sabe.
― Acho que posso, ― disse Olivia, sorrindo com carinho, e sorriu
para Harry quando ele subiu os degraus para elas. Ele sorriu para Olivia
de uma forma que fez torcer o coração de Alexa um pouco. Era amor.
Era isso o que ela acreditava que tinha tido com Carlos.
Mas Alexa empurrou para baixo a tristeza, era a vez de Olivia
sentir pura felicidade. ― Vamos, então, venha ver sua nova casa, ―
disse Alexa, tomando a mão de Olivia na dela. ― Um monte de
trabalho deve ser feito, começando com o salão. É terrível. Oh, e você
nunca vai acreditar no que eu descobri, Rue é uma excelente
costureira!
― A pequena Rue? ― Perguntou Olivia, e lançou um sorriso por
cima do ombro para Harry, que sorriu para ela com o mesmo olhar de
adoração.
― Oh, pelo amor de Deus, vocês dois vão se tornar tediosos
muito rapidamente, com todo esse sorriso, ― disse Alexa, e puxou a
mão de Olivia. ― A senhora Thorpe é a governanta aqui, e eu posso te
dizer, ela não vai aprovar a sua chegada para se casar com Harry
depois que eu recusei. Ela é muito rigorosa em suas opiniões, e
mesmo se você expressamente não pedir por elas, ela consegue dar
de qualquer maneira. Ela é muito habilidosa, aquela lá. E você deve
falar claramente e precisamente para Linford. Ele é o mordomo, e ele é
duro de ouvido. Oh! Este é Louis. Ele é o nosso lacaio, ― ela disse,
quando Louis inclinou-se e abriu a porta. ― Louis, esta é a minha irmã,
que em breve será a nova Lady de Ashwood.
― Como vai você? ― Disse Olivia, mas Alexa foi puxando-a.
― Rue! Desce de uma vez! ― Ela chamou, e Olivia se apressou
para acompanhar sua irmã quando entraram para ver o lugar que
seria sua casa.
Capítulo Trinta e Cinco
O senhor Meachamp, o vigário, foi chamado para longe de
Hadley Green para atender a um paroquiano morrendo nas
proximidades de Boxhill. O paroquiano aparentemente resistia, pois o
vigário estava longe o suficiente para a palavra se espalhar por Hadley
Green de que o novo conde de Ashwood iria se casar com a bela
jovem com quem ele misteriosamente tinha chegado.
Enquanto isso, Lily, Lady Eberlin, organizou um chá para alguns
dos habitantes mais ilustres de Hadley Green para introduzir sua tia e
tio Hannigan, e suas primas gêmeas, Molly e Mabe Hannigan. Eles se
juntaram a sua cunhada Charity e sua filha Catherine. O encontro das
senhoras teve tempo suficiente para especular sobre o motivo do
novo conde viajar com uma mulher jovem e solteira e apenas uma
empregada como acompanhante.
Lady Horncastle estava particularmente perturbada com a
inadequação de seu arranjo.
― Ele deveria ter trazido uma escolta adequada para ela, ―
disse. ― Uma irmã, um primo. Qualquer um daria, realmente, mas
você não pode me convencer de que a menina está tão sozinha no
mundo que não há ninguém para cuidar de sua virtude.
― Talvez ela não se importasse de ter sua virtude cuidada, sim?
― Molly Hannigan perguntou inocentemente, e Charity riu.
― Que coisa ridícula de dizer, mocinha, ― Lady Horncastle
reclamou.
― Ele pretende acertar as coisas, não pretende? ― Disse Lily. ―
E realmente, madame, Hadley Green viu escândalo pior do que isso.
― Não temos? ― A senhorita Daria Babcock riu. ― É tudo tão
alegre.
― Alegre, talvez. Mas se esse é o tipo de pessoa que atraímos
para Hadley Green, não é bom para as perspectivas futuras, não é? ―
perguntou a senhora Morton, e ao lado dela, a senhora Ogle acenou
em completo acordo.
― Eu não me importaria com um pouco de escândalo, ― a
senhorita Babcock disse com um encolher de ombros. ― Tornaria a
vida interessante.
― Talvez mais do que você imagina, ― Charity disse com um
suspiro.
As gêmeas se entreolharam e riram, como se compartilhassem
um segredo. As senhoras de Hadley Green não tinham ideia de que
Molly e Mabe Hannigan eram famosas na Irlanda por seus jogos
diabólicos.
Toda aquela conversa levou Lily a sugerir ao marido que eles
fossem fazer uma visita aos novos moradores de Ashwood.
― Por quê? ― Perguntou ele, enquanto estavam deitados na
cama aquela noite, seus membros emaranhados uns com os outros.
― Porque eles são novos aqui e estão para se casar. Poderiam
querer ver alguns conhecidos.
Tobin colocou a mão no peito de sua esposa. ― Acho que você
está procurando uma diversão.
Ela sorriu carinhosamente para ele. ― Tenho toda a diversão
que eu preciso no meu marido, senhor.
Ele beijou sua testa e rolou de lado. ― Eu me recuso a visitar e
irritar nossos novos vizinhos.
Mas Lily beijou seu ombro, sua mão flutuando sobre suas costas
largas.
― Acho que vou fazer uma visita.
― Lily…
― Eu não deverei ficar muito tempo. Apenas o suficiente para
recebê-los corretamente. A primeira vez que nos encontramos com
eles, estava tão interessada nas joias que quase não pensei neles. Eu
fui rude. Devo corrigir isso, você não concorda?
Tobin suspirou, e ela riu enquanto beijava a parte de trás de seu
pescoço. Ela sabia que o tinha firmemente na ponta de seu dedo
mindinho.

Em Ashwood na tarde seguinte, o velho mordomo Linford estava


tentando o seu melhor para explicar ao novo mestre que a senhora
Thorpe, a governanta, sentia-se um pouco incomodada pela chegada
da viúva.
― Então, talvez ela ficaria mais confortável indo trabalhar em
alguma casa em outro lugar, ― Harrison casualmente sugeriu.
O velho empalideceu. ― Mas Thorpe está em Ashwood por trinta
anos, milorde.
― Eu não sou um Lorde. Eu sou o Sr. Tolly, ― Harrison disse
pacientemente. ― Por que, Linford, que não consigo convencer
ninguém que eu não sou um conde?
― Sir, ― Linford se corrigiu.
Harrison suspirou. ― Tudo bem, aqui está o que você deve dizer
para Thorpe para acalmar suas penas eriçadas. Diga-lhe que, por
vezes, ocorrem eventos que estão bem além do nosso controle. E
assim que Meachamp retornar de Boxhill, vamos definir tudo em
ordem. Será que pode fazer?
― Espero sinceramente que sim, senhor.
Louis apareceu na porta. ― Visitantes, senhor.
― Você vê? ― Disse Harrison, apontando para o lacaio. ― Louis
entende perfeitamente que não sou um conde. ― Ele saiu do estúdio
e no hall de entrada ficou cara a cara com Lady Eberlin. Atrás dela
estavam duas jovens belezas de cabelos escuros.
― Sr. Tolly, como você está? ― Lady Eberlin disse
brilhantemente. ― Espero que não estejamos incomodando?
Harrison curvou-se e disse: ― Bem-vinda a Ashwood.
― Posso apresentar minhas primas, a senhorita Molly Hannigan,
e a senhorita Mabe Hannigan?
Harrison cumprimentou as duas e se perguntou como alguém
poderia distingui-las.
Lady Eberlin sorriu para ele. ― Eu não teria vindo sem um
convite, mas tenho notícias!
― E quais seriam?
― Lorde Eberlin e eu pretendemos dar um baile.
― Extraordinário ― Harrison exclamou. Ele ouviu alguém nas
escadas e olhou para cima. Olivia e Alexa estavam descendo.
― Aqui está ela! ― Lady Eberlin disse, o rosto iluminando com
seu sorriso. ― Sua bela noiva. Por que não nos disse que você e a
senhorita Hastings iam se casar? Nós teríamos festejado como merece,
você sabe.
Alexa riu. ― Tem havido algum engano, o senhor Tolly e eu não
temos intenção de casar.
― Oh. ― Lady Eberlin pareceu confusa.
― Posso apresentar a minha irmã, Lady Carey? ― disse Alexa,
deslizando para baixo das escadas.
― Vou fazer as honras, por favor, ― disse Harrison, um passo à
frente.
Ele estendeu a mão para Olivia quando ela chegou ao degrau.
― Esta, ― disse ele, ― é Lady Carey.
― Prazer em conhecê-la, ― disse Lady Eberlin. ― E estou
terrivelmente triste por sua perda. Nós ouvimos a notícia.
Olivia piscou. ― Oh, ― disse ela. ― Sim, obrigada. Um trágico
acidente.
― Trágico, ― Lady Eberlin concordou e olhou para Harrison. ―
Mas… toda a aldeia de Hadley Green está falando de suas núpcias, Sr.
Tolly.
― Estão? ― Ele olhou para Olivia; ambos riram.
― O senhor Tolly pretende se casar com a minha irmã, Lady
Carey, ― disse Alexa, como se fosse perfeitamente natural.
― Alexa. ― Olivia suspirou. ― A notícia pode precisar de um
pouco mais de introdução do que isso.
Lady Eberlin parecia chocada. Ela olhou para Harrison, que
assentiu, confirmando. ― É um fato, senhoras, que eu pretendo me
casar com esta mulher. Não aquela.
Uma das gêmeas engasgou. Olivia deu um ronco suave de riso e
rapidamente colocou a mão na boca para esconder o sorriso.
― Mas... mas só agora recebemos a notícia sobre Lorde Carey,
― Lady Eberlin disse, como se estivesse tentando resolver tudo em
sua cabeça.
― Sim, parece que todos nós estamos envolvidos em um grande
escândalo, ― Harrison continuou, divertindo-se agora. ― Eu me sinto
confiante de que os detalhes chegarão em breve.
Olivia mal podia conter suas risadas. Mesmo Alexa estava
sorrindo.
― Um monte de bobagens, ― ela concordou. ― Mas não deve
acreditar que estou grávida do senhor Tolly. Não é dele de maneira
alguma.
A tentativa de Olivia para conter a risada falhou. Ela olhou para
Lady Eberlin, seu sorriso quase efervescente.
― Deveria ter cuidado, senhora, de se associar muito de perto
conosco. Nós quebramos todas as regras da sociedade educada. Mas
antes de virar as costas por completo, por favor, saiba que estamos
determinados a colocar tudo em ordem. Nós nunca fizemos mal a
ninguém. ― Ela virou um sorriso brilhante para Harrison.
Aquele sorriso o aquecia até o núcleo cada vez que via, e Harrison
sorriu de volta. ― Vamos resolver tudo tão logo o vigário chegar.
― Realmente não somos pessoas tão terríveis, ― Alexa
adicionou, mudando-se para ficar ao lado de Olivia. ― Mas temos sido
assoladas por circunstâncias extraordinárias que não podem ser
facilmente explicadas.
Lady Eberlin suspirou e olhou para suas primas. A da direita
sorriu.
― Diga a elas, ― disse a Lady Eberlin.
― Eu não poderia. Eu não deveria.
A outra gêmea disse: ― Parece que se há alguém em Hadley
Green com quem você pode ser completamente honesta, são eles.
Continue. Diga-lhes.
― Dizer-nos o que? ― Perguntou Harrison.
Lady Eberlin sorriu timidamente.
― O que minhas primas gostariam que vocês saibam é que nós,
também, temos sofrido com um pouco de escândalo por causa de
circunstâncias extraordinárias. Para começar, uma outra prima fingiu
que era eu, por meses. E então ela foi descoberta e forçada a fugir da
Inglaterra. Eu tive que ficar aqui e fazer o meu pacto com o diabo.
Olivia e Harrison se entreolharam e disseram em uníssono, ―
Fausto! ― Olivia estendeu a mão para Lady Eberlin. ― Eu acho que
isso resolve o caso, Lady Eberlin. Seremos amigas rapidamente.
Venha, vamos compartilhar um pouco de chá e um conto selvagem ou
dois.

No dia que Harrison Tolly tomou Lady X como sua esposa, a noiva
usava azul. O escândalo de Lady Carey e o administrador tinha
começado a infiltrar-se nos mais altos escalões da sociedade, e estava
na ponta da língua de todos.
Mas ninguém parecia se importar com esse escândalo no
casamento do recém-elevado Lorde Ashwood. Não havia quase
ninguém, salvo a noiva, sua irmã, e os moradores de Tibre Park, onde
Lorde e Lady Eberlin residiam. Aquela família não estava
particularmente intocada pelo escândalo.
Quando a primavera virou verão, Alexa estava redonda como
uma bola. Uma tarde, a família tomava chá no gazebo perto do lago.
Os Eberlin tinham chegado, e Lorde Ashwood tinha contratado os
serviços de um violinista para entretê-los. Eles estavam no meio de
seu lanche quando uma das gêmeas Hannigan olhou para cima e
disse:
― Quem é esse?
Todas as cabeças viraram. Em pé no topo da colina estava um
cavalheiro usando calça de camurça e um casaco verde. À frente dele,
Louis estava caminhando para baixo da encosta gramada para
anunciá-lo.
Alexa gritou e deixou cair o garfo em seu prato com um barulho.
Ela se levantou, empurrando a cadeira para trás tão rapidamente que
tombou atrás dela.
― Alexa, ― disse Harrison. ― O que está errado?
Mas Alexa estava correndo na direção do homem o mais rápido
que seu corpo de grávida permitia.
Harrison se levantou, mas Olivia pegou seu braço. ― Deixe-a ir,
querido.
― Mas quem é? ― Harrison exigiu.
Olivia sorriu. ― Meu palpite é que o maior desejo de Alexa se
tornou realidade.

Fora do gazebo, Carlos viu Alexa no momento em que saltou da


cadeira e ele desceu o morro correndo, agarrando-a em seus braços.
― Tola, menina tola, ― ele disse bruscamente. ― Por que você
me deixou?
― Porquê, ― ela gritou e jogou os braços ao redor de seu
pescoço. ― Por que você não veio? Porque você era casado, sua
besta miserável!
― Casado? ― Ele explodiu com uma série em espanhol, a beijou
duramente, então a colocou no chão e passou a mão sobre a barriga.
― Eu não sou casado, amor.
― Não minta para mim, ― Alexa disse, entre lágrimas. ―
Porque eu te amo, Carlos. Eu te amo muito profundamente, e eu vi
você beijando uma mulher atrás de seus portões!
― Uma mulher, ― ele zombou. ― Quem é esta mulher?
Alexa contou sobre caminhar até sua casa e vê-lo beijar a bela
mulher atrás dos portões.
― Isto é o que a levou a fugir de mim? ― Ele exclamou. ― Ela
não era minha esposa, Alexa. Ela é a minha prima. Eu a beijo quando
ela vai embora! Eu a beijo quando ela chega. Eu a beijo, ela é minha
prima!
― Então por que você não veio me ver? Por que me deixou por
uma semana inteira?
Uma carranca escureceu seu rosto. ― Eu queria enviar um
mensageiro para você, mi amor, mas tudo aconteceu tão
rapidamente.
― O quê? ― Ela perguntou cética.
Ele tomou-lhe as mãos. ― Minha mãe, ela de repente ficou
doente, e morreu em um dia. Minha família, eles vieram de toda a
Espanha para lamentá-la. ― Ele franziu a testa para ela. ― Mas você
me deixou!
― Claro que eu deixei, ― disse Alexa. ― Você me deixou! Eu
não sei se acredito em você.
Carlos soltou mais outras palavras em espanhol. ― Então eu vou
levá-la de volta para a Espanha e você vai conhecer a minha prima e
ela lhe dirá. Eu te amo, mi amor. Você não sabe que é o meu coração?
Eu a procurei por toda a Espanha e não consegui encontrá-la. Você leva
meu filho. Se eu não te amasse, se eu fosse casado, quando recebi
sua carta, eu viria tão rápido quanto podia para encontrá-la?
Um pequeno raio de esperança começou a brilhar em Alexa. ―
Não, ― ela disse, e sorriu. ― Então você vai me ajudar?
― Ajudar você? Eu não vim até aqui para ajudá-la! Eu vim para
me casar com você, ― ele gritou.
― Oh, Carlos…
― Não, não argumente. Você discute com muita facilidade. ―
Ele agarrou-a e beijou-a.
Quando ele levantou a cabeça, Alexa pegou a mão de Carlos e
colocou-a em sua barriga. ― Você é meu coração, também.
― Claro que eu sou, ― disse ele. ― Como você pôde esquecer,
nem que por um momento? ― Ele perguntou, e envolveu-a mais uma
vez em um abraço apertado.

Foi acordado por todos que Alexa e Carlos deveriam se casar


imediatamente, e voltar para a Espanha antes de Alexa não poder
mais viajar. No espaço de poucos dias, eles estavam prontos para
partir, juntamente com Rue.
― Eu nunca estive em um barco, senhor, ― disse Rue para
Harrison.
― Milorde. Você se refere a ele como milorde, ao se dirigir a um
conde, ― Alexa corrigiu.
― Mas não devemos chamá-lo de milorde, ― disse Rue.
― Está tudo bem, ― disse Harrison, e deu a Rue um aperto nos
ombros. ― Tome cuidado para não perder sua senhora, Rue. Tremo só
de pensar o que seria de você se fizer isso.
Rue riu. ― Eu não posso perder uma pessoa, Milorde. E ela é
grande demais para perder.
Alexa piscou para ele sobre a cabeça de Rue. ― Eu vou manter
um olhar atento sobre ela.
Alexa e Carlos se despediram e então embarcaram na carruagem
de Ashwood. Harrison e Olivia estavam na entrada e acenaram
enquanto observavam eles se afastarem.
Surpreendentemente, foi Harrison que ficou mais abatido depois
da partida. ― Eu confesso uma pequena queda por ela. Afinal, ela é a
razão de você ser minha esposa.
― E ela foi a razão pela qual eu quase não fui sua esposa, ―
Olivia apontou. ― Mas ela está loucamente feliz, Harrison. Eu a prefiro
feliz e longe de nós, do que sempre triste e com a gente.
― Sim, eu suponho, ― disse Harrison, e colocou os braços em
volta dos ombros de Olivia. ― Eu tenho outra confissão, Lady X. Eu
estava ansioso para o nascimento do filho dela.
― Você estava?
― Sim. Eu me imagino uma ótima figura paterna.
― Bem, então. ― Olivia passou o braço em volta da cintura. ―
Eu suponho que terei de dar-lhe um dos seus próprios.― Ela espiou
para ele e sorriu.
O coração de Harrison começou a bater descontroladamente. ―
Olivia, você quer dizer...?
― Na próxima primavera você vai ser pai.
Mais tarde, Lady Eberlin poderia jurar que ouviu o grito de
alegria de Harrison por todo o caminho até Tibre Park.

Fim
Notas

[←1]
Gosto pela vida
[←2]
É um jogo de cartas de duas duplas, com parceiros frente a frente. Este jogo é
considerado o ancestral do bridge.
[←3]
Spencer é um casaco muito curto, que fica acima da cintura, surgido na Inglaterra nos anos de
1790.
[←4]
É um peixe marinho que se pode encontrar em ambos os lados da costa do Oceano Atlântico.
[←5]
É um jogo de cartas para dois jogadores, a palavra significa literalmente "descartado"

Você também pode gostar