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3/14/2019 Documento sem título - Documentos Google
Em 313 o imperador Constantino concedeu aos cristãos os mesmos direitos e a mesma
proteção que aos praticantes das outras religiões do império; o que permitiu o crescimento da igreja
sem esconderijos. Com um número crescente de convertidos e riquezas cada vez maiores, a Igreja
começou a construir grandes basílicas, e os serviços precisaram tomar um caráter mais formal. Assim,
muitos papas se empenharam na revisão da liturgia e da música. No século V já existia em Roma uma
schola cantorum , para a formação de rapazes e homens para músicos de igreja. No século VI existia
um coro, e atribuise a Gregório I (Gregório Magno), papa de 590 a 604, um esforço de
regulamentação e uniformização dos cânticos litúrgicos. As realizações de Gregório foram tão
admiradas que em meados do século IX começaram a espalharse rumores de que ele teria, sob
inspiração divina, escrito todas as melodias usadas pela Igreja. No entanto, apesar de importante, ele
contribuiu bem menos do que diziam, uma vez que uma obra tão grande não poderia ter sido realizada
em apenas quatorze anos.
É importante ressaltar a convicção dos Padres da Igreja de que o valor da música residia no
seu poder de elevar a alma às coisas divinas. Eles sabiam que o som era, sim, agradável, mas
defendiam que as belezas aparentes do mundo que apenas inspiram o deleite egoísta, ou o desejo de
posse, devem ser rejeitadas. E por não acreditarem que música sem letra pudesse ter essa aura do
divino, excluíram, a princípio, a música instrumental do culto público, embora fosse permitido aos
fiéis usar uma lira para acompanharem o canto dos hinos e dos salmos em suas casas e em reuniões
informais.
Boécio foi a autoridade mais respeitada e mais influente na Idade Média no domínio da
música. O seu tratado era um compêndio de música servia inclusive de preparação para o estudo da
filosofia. Pouca coisa neste tratado, no entanto, era fruto do próprio Boécio, pois tratavase de uma
compilação das fontes gregas de que dispunha. Porém, os leitores medievais compreenderam que a
autoridade da teoria musical e da matemática gregas estava naquilo que Boécio dizia sobre estes
temas. A mensagem que a maioria dos leitores apreendiam era que a música era uma ciência do
número e que os quocientes numéricos determinavam os intervalos admitidos na melodia, as
consonâncias, a composição das escalas e a afinação dos instrumentos e das vozes. Na parte mais
original do livro, os capítulos de abertura, Boécio divide a música em três géneros: música mundana
(“música cósmica”), as relações numéricas fixas que temos no movimento dos planetas, na sucessão
das estações e nos elementos, ou seja, a harmonia no macrocosmos; música humana, a que determina
a união do corpo e da alma e das respectivas partes, o microcosmos; e música instrumental, ou música
audível produzida por instrumentos, incluindo a voz humana.
Ao colocar a música instrumental em terceiro lugar (sendo vista, assim, como a categoria
menos importante), Boécio mostrava bem que, assim como seus mentores, concebia a música mais
como um objeto de conhecimento do que como uma arte criadora ou uma forma de expressão de
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sentimentos. Segundo ele, a música é a disciplina que se ocupa a examinar minuciosamente a
diversidade dos sons agudos e graves por meio da razão e dos sentidos. Sendo assim, o verdadeiro
músico não é o cantor ou aquele que faz canções por instinto sem conhecer o sentido daquilo que faz,
mas o fdósofo, o crítico, aquele “que apresenta a faculdade de formular juízos, segundo a especulação
ou razão apropriadas à música, acerca dos modos e ritmos, do gênero das canções, das consonâncias,
de todas as coisas respeitantes ao assunto .
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