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br • 10/07/2020
Jair Messias
Eduardo Boÿsonaro O
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bolse
1 A
A prova
Uma investigação do Facebook comprova o que uma reportagem publicada por Crusoé
há nove meses mostrava: o gabinete do presidente da República está ligado a uma
azeitada rede de difamação e fake news
10/07/2020 00:30
LUIZ VASSALLO
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Reprodução
De acordo com o relatório, a maioria das postagens da lavra do assessor especial foi
publicada durante o horário comercial - o que mostra que elas muito provavelmente foram
idealizadas, produzidas e despachadas durante o expediente dele no Planalto. Ou seja, ao
que tudo indica, atos de improbidade administrativa foram cometidos debaixo do nariz de
Bolsonaro. Literalmente na sala ao lado.
O modus operandi da turma capitaneada por Tércio Arnaud Tomaz é conhecido por quem
tem o mínimo de familiaridade com os linchamentos virtuais promovidos nas redes sociais
desde a era petista no poder. A diferença é que, agora, no governo Bolsonaro, a tática de
destruição de reputações ganhou sofisticação, capilaridade e passou a ser, segundo o
Facebook, institucionalizada.
www.crusoe.com.br- 10/10/2019
EXCLUSIVO
REDE
Mensagens de
WhatsApp revelam como
atua a militância virtual
bolsonarista
Tércio e sua turma usavam as contas nas redes sociais para lançar petardos contra rivais e
difundir narrativas que, invariavelmente, favoreciam Bolsonaro. Para escapar de punições, o
grupo usava contas duplicadas e falsas, criava personagens fictícios fingindo ser jornalistas
e administrava páginas emulando veículos oficiais de mídia. Também se valia de perfis fakes
que postavam em grupos não necessariamente relacionados à política, como se fossem
pessoas comuns a fustigar opositores de Bolsonaro e enaltecer os "feitos" do
presidente. Um dia após a saída do ex-ministro da Justiça Sergio Moro do governo, a conta
@bolsonaronewsss fez questão de espalhar um meme em que exibia o ex-juiz apunhalando
Bolsonaro pelas costas, sob a legenda "o traidor silencioso". A postagem também forçava
uma ligação entre Moro, o STF e a Rede Globo. Ao longo da semana, o Jornal Nacional
também mostrou que uma das contas clandestinas criadas pelos bolsonaristas foi usada até
mesmo para torpedear a estreia de Sergio Moro como colunista de Crusoé.
Se restar caracterizado que Tércio, um servidor pago com dinheiro público, foi mesmo
escalado por Carlos Bolsonaro - com o consentimento do mandatário do país - para destilar
veneno nas redes sociais contra quem quer que se opusesse aos objetivos muitas vezes
nada republicanos do governo, Bolsonaro encalacra-se de vez. Na tarde de quinta-feira, 9,
Carluxo acusou o golpe. Em seu perfil no Twitter, provavelmente já orientado pelos
bombeiros da crise no Palácio do Planalto, disse que, aos poucos, "vai se retirando" e que
pode ter chegado a hora de um novo "movimento pessoal". O vereador acrescentou que
"ninguém é insubstituível". "Totalmente ciente das consequências e variações. Aos poucos
vou me retirando do que sempre explicitamente defendi. Creio que possa ter chegado o
momento de um novo movimento pessoal. Ninguém é insubstituível e jamais seria pedante
de me colocar nesse patamar", postou.
Reza a Constituição que um presidente não pode ser processado por atos estranhos ao
mandato. Ocorre que, a julgar pelas revelações do Facebook, há fartos indícios de que a
usina do ódio que começou na campanha jamais parou de operar, o que joga o problema
para dentro do mandato de Bolsonaro. Na verdade, a investigação do Facebook teve o
condão de acertar dois flancos de Bolsonaro numa tacada só - e é por isso que ela passou a
apavorar o Planalto bem mais do que o diagnóstico positivo do presidente para Covid-19
anunciado na terça-feira, 7.
Ao revelar que um dos expoentes do ódio atua a poucos passos do gabinete presidencial, o
Facebook colocou Bolsonaro mais próximo ainda do inquérito que corre no Supremo
Tribunal Federal e apura as supostas ameaças a integrantes da corte. Ao mostrar que a
engrenagem funciona desde a campanha, acabou por municiar as ações que tramitam no
Tribunal Superior Eleitoral contra a chapa Bolsonaro-Hamilton Mourão. Os dois casos se
entrelaçam quase que indissoluvelmente e podem compor a tempestade perfeita contra o
governo, pois o STF já compartilha com o TSE dados extraídos do inquérito, sob a batuta de
Alexandre de Moraes, responsável por levantar o sigilo bancário de empresários
bolsonaristas, supostos patrocinadores das fake news.
A corte eleitoral tem se mostrado hostil a Bolsonaro. A ação que representava o menor risco
contra a chapa presidencial e tinha grandes chances de ser arquivada não só foi mantida
pelos ministros como o caminho para aprofundar as investigações foi pavimentado. Elá
outras bem mais sensíveis, que acusam a chapa de abuso de poder económico e uso
indevido de meios de comunicação na campanha. O argumento das representações que
deram origem aos processos segue exatamente a mesma linha da justificativa usada pelo
Facebook para derrubar as contas ligadas a aliados de Bolsonaro.
Adriano Machado/Crusoé
Perfis associados a Eduardo Guimarães, outro assessor do 03, também foram cancelados.
Ele administrava a página "Bolsofeios", usada para insultar jornalistas, o Supremo e
opositores de Bolsonaro. O elo entre Guimarães e o "Bolsofeios" já havia sido mencionado
na CPMI das Fake News, em curso no Congresso. Antes de trabalhar com o filho do
presidente, Guimarães foi assistente de Bolsonaro durante as eleições de 201 8. Ele atua na
Câmara dos Deputados desde 2006, onde ganha 1 5 mil reais por mês.
A investigação que levou à derrubada das páginas bolsonaristas faz parte de uma investida
mais ampla do Facebook, que também alcançou contas no Canadá, Equador, Ucrânia e
Estados Unidos. Entre os figurões que tiveram seus perfis confiscados, está o lobista norte-
americano RobertJ. Stone Jr, amigo do presidente Donald Trump condenado por ameaçar
testemunhas nas investigações sobre a interferência russa nas eleições de 2016 - a rede
social o acusa de ser ligado a contas de um grupo supremacista branco que atuou durante o
pleito.
Os impulsionamentos dessas redes no exterior envolveram cifras milionárias em
publicidade. No Brasil, chamou a atenção o fato de a rede bolsonarista ter angariado 2
milhões de seguidores, número bem mais expressivo do que o registrado nos outros países
investigados, com o investimento de módicos 1,5 mil dólares em anúncios. A rede, no
entanto, frisa que, além dos recursos empregados no impulsionamento, toda a operação
destinada a promover o presidente e achincalhar quem se atrevesse a contestá-lo foi
irrigada com dinheiro público - e é exatamente aí que mora o perigo para Jair Bolsonaro.
Diagnosticado com Covid-19, Bolsonaro retomou a propaganda da cloroquina, remédio sem eficácia comprovada
Um governo doente
10/07/2020 00:30
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O conselho para fazer o exame "no particular" poderia soar prosaico em condições normais
de temperatura e pressão, mas ante a eclosão de uma pandemia sem precedentes na
história recente do Brasil e do mundo é sintomático da falta de direção - se nem no núcleo
do governo central é possível confiar no encaminhamento rápido e eficaz de um simples
diagnóstico, não é difícil imaginar a situação das dezenas de milhões de brasileiros
dependentes dos serviços públicos de saúde.
Não bastasse a tentativa de transformar o anúncio de que está com Covid-1 9 num
espetáculo político, com ode a um remédio sem eficácia comprovada, embalado por uma
entrevista presencial em que de novo menosprezou cuidados consigo mesmo e com
terceiros, o presidente nem sequer tem cumprido a receita básica como gestor de um país
abalado por múltiplas crises.
No comando da Saúde, uma área crucial do governo em qualquer circunstância, ainda mais
na atual, Bolsonaro mantém um interino, o general de brigada Eduardo Pazuello, há mais de
dois meses. Dois ministros técnicos saíram por se recusarem a admitir tentativas de
intervenção ideológica e anticientífica. Mesmo assim, o presidente ainda se regozija
publicamente do feito. Hoje, no lugar de especialistas, há quase três dezenas de militares no
Ministério da Saúde prestando continência a uma política negacionista só adotada no Brasil
- até o presidente americano, Donald Trump, que Bolsonaro gosta de emular, já abandonou
ideias carentes de sustentação científica praticadas por aqui, como o uso da cloroquina.
Falta bússola também ao Ministério da Educação, às voltas com uma briga de foice entre as
alas militar, a olavista e a fisiológica, encarnada pelo notório Centrão; a pasta do Meio
Ambiente segue sem rumo ao adotar políticas controversas, tendo à frente um ministro que
pode ser afastado por ordem judicial; e o Itamaraty permanece imerso numa guerra
ideológica, que só contribui para compor o quadro do fosso em que está o país.
Adriano Machado/Crusoé
Presidente muda rotina pessoal, mas não a do governo: áreas seguem à deriva
A interlocutores, Bolsonaro tem dito que na Saúde até aceita tirar Pazuello, um especialista
em logística, mas ainda não encontrou um substituto. "Fora o protocolo da cloroquina, não
me lembro de nenhuma política pública relevante para enfrentar a Covid desde maio",
desabafa uma fonte do corpo técnico do ministério, próxima ao gabinete do ministro. A
avaliação interna é que a pasta demora a responder aos eventos da pandemia e não tem
embasamento para tomar decisões.
Nos bastidores do Ministério da Saúde, disputas internas travam um dos principais projetos
do governo, o "Médicos pelo Brasil", que, se estivesse funcionando, poderia reforçar a
atenção básica para o enfrentamento da pandemia. O projeto tem mais de 700 milhões de
reais à disposição no orçamento, mas não saiu do papel.
No final de junho, Pazuello indicou seu braço direito, Élcio Franco, aquele que costuma
aparecer em entrevistas coletivas ostentando um broche de caveira, e a secretária de
Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Mayra Pinheiro, como presidente e vice-
presidente, respectivamente, do conselho da Agência para o Desenvolvimento da Atenção
Primária à Saúde, criada especificamente para gerir a nova versão do "Mais Médicos" de
Bolsonaro. Só que a dupla, tão logo foi nomeada, iniciou uma cruzada para destituir três
servidores de carreira da diretoria executiva do órgão.
Em meio à querela interna, importantes decisões da área técnica do programa ficaram
pendentes. Por exemplo, o impasse fez com que a agência estourasse o prazo legal para ter
seu estatuto aprovado. Também não foi assinado até agora o contrato de gestão com o
ministério, necessário para que o Médicos Pelo Brasil seja colocado para funcionar.
Técnicos temem que a disputa política acabe aparelhando o programa, que nasceu baseado
em metas e experiências de sucesso adotadas no Canadá e no Reino Unido. Fontes ouvidas
por Crusoé relatam que o mérito da proposta é a criação de uma carreira médica sem
extrapolar o orçamento que já era destinado ao Mais Médicos.
Adriano Machado/Crusoé
A pasta ainda convive com problemas de execução orçamentária. Enquanto o país acumula
mais de 70 mil mortos pela Covid-19, o ministro da Saúde interino está sentado em cima de
723,1 milhões de reais, segundo dados do Ministério da Economia. Até agora, a Saúde já
recebeu 39,3 bilhões em razão da pandemia, mas menos de 30% desses recursos foram
efetivamente desembolsados até o momento.
Quando a política fala mais alto, quem paga a conta é a gestão. Na administração Pazuello,
Mayra Pinheiro assumiu o protagonismo no Ministério ao abraçar sem qualquer pudor as
demandas do bolsonarismo. Presença constante em coletivas de imprensa, ela chegou a
dizer que o órgão atendeu a um "clamor" popular quando editou um protocolo de
tratamento para a Covid-19 baseado na hidroxicloroquina. Nos corredores da pasta, ela é
chamada à boca pequena de "Mayra Cloroquina".
A doença do governo, conhecida como "paralisia decisória" na ciência política, não contagiou
apenas o Planalto e a Saúde. O MEC, sem ministro desde que Abraham Weintraub se
demitiu e fugiu do país, há mais de 20 dias, continua patinando. Governos estaduais
reclamam da falta de políticas públicas destinadas principalmente ao ensino básico durante
a pandemia. Até o parecer do Conselho Nacional de Educação que autorizou a equivalência
entre aulas online e aulas presenciais para cumprimento da carga horária letiva demorou
um mês para ser homologado por Weintraub.
O Comité de Emergência do MEC, criado por Weintraub em março, é visto como pouco útil
por gestores da educação básica. A secretária de Educação Básica, Nona Becskehazy,
recentemente bateu boca pelo WhatsApp com secretários estaduais, que se ressentem da
falta de diálogo com Brasília. Ilona chegou a ser cotada para assumir o comando da
Educação, mas a balbúrdia em que se transformaram os casos de Carlos Alberto Decotelli e
do empresário Renato Feder fez o governo colocar um pé no freio.
A exemplo da Saúde, a Educação está acéfala. Indicação da ala militar, Decotelli ostentava
experiência, títulos e interlocução com o setor. O perfil parecia perfeito, mas se revelou uma
estrepitosa fraude. Sucessor natural, o empresário Renato Feder, duas vezes favorito, antes
e depois de Decotelli, achou mais conveniente pular fora. Antes mesmo de ser anunciado,
ele já havia virado alvo dos olavistas, a quem Bolsonaro ainda costuma dar ouvidos - eles
querem ver no posto um dos seus.
Também sob fogo cerrado, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, tenta exibir força
após uma série de questionamentos do setor privado à política ambiental do governo
brasileiro. A sua desastrosa declaração sobre "passar a boiada" na legislação ambiental teve
impacto na imagem do Brasil no exterior. Salles, no entanto, tem recebido apoio ostensivo
do ministro da Secretaria-Geral, general Luiz Eduardo Ramos, articulador político do
governo, um dos representantes da ala militar no Palácio do Planalto.
Para conter os danos, o vice-presidente Hamilton Mourão vem assumindo aos poucos o
comando da pauta ambiental e tenta convencer o público externo, especialmente o
empresariado estrangeiro, da seriedade das medidas de combate ao desmatamento ilegal
na Amazónia. Em paralelo, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, trabalha para
desvincular o agronegócio de exportação da grilagem de terras. Em carta, um grupo de 40
grandes empresas de diversos setores, incluindo o agronegócio e a mineração, instou o
vice-presidente a endurecer as ações contra o desmatamento e cobrou políticas para o
desenvolvimento sustentável.
No curto prazo, no entanto, interlocutores de governos europeus acham pouco provável
que o "banho de loja" da pauta ambiental consiga desbloquear recursos do Fundo
Amazónia, por exemplo. Isso vai depender dos resultados da intervenção de Mourão,
escalado como paramédico de um governo que, nas mais diversas frentes, só faz agravar o
quadro do país, um paciente que há décadas lida com comorbidades graves e que, quando
mais precisava recuperar seus sinais vitais, foi atingido pelo vírus da confusão.
Witzel, Doria e Ibaneis: eles fecharam na hora certa, mas estão reabrindo na hora errada
Sócios no desastre
Para além da lambança no trato das verbas para reduzir os danos da Covid-1 9, os
governos estaduais erram ao ceder à pressão para flexibilizar o isolamento no
momento mais crítico
10/07/2020 00:30
o FABIO LEITE
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No Distrito Federal, a guinada retórica e prática não teve disfarce. Pioneiro nas ações de
distanciamento social, adotadas em março, o governador Ibaneis Rocha, do MDB, admitiu
que iniciou a flexibilização da quarentena porque "as pessoas já não aguentam mais" ficar
em casa. "É muito melhor fazer uma abertura coordenada, fiscalizada, com exigências, do
que você viver na ilusão de que vai conseguir trancafiar as pessoas dentro de casa por todo
esse período", disse o emedebista no mês passado. No início de abril, quando o comércio de
Brasília estava fechado, Ibaneis defendia o confinamento como forma de conter a
transmissão da doença e poupar vidas. A expectativa dele era que a curva de contágio
atingisse seu pico no fim daquele mês. Estava enganado. O recorde de mortes no DF se deu
na última terça-feira, 7, justamente o dia da reabertura de academias, restaurantes e salões
de beleza. Em 24 horas, foram registrados 41 óbitos. Após ser contestado na Justiça, o
governador revogou o decreto no dia seguinte e adiou o plano de retomar as aulas nas
escolas em agosto.
RicardoJayme/Agif/Folhapress
Movimento em feira tradicional de Brasília: depois do libera-geral, o governo local teve que recuar
A falta de coordenação central no processo de retomada das atividades nos estados foi
criticada nesta semana pelo ex-ministro Nelson Teich em artigo e entrevistas. Segundo ele,
as ações têm sido adotadas de forma "confusa" e "intempestiva" e "baseadas em uma
estratégia de tentativa e erro, que é ineficiente e não gera aprendizado". A responsabilidade
é do presidente Jair Bolsonaro, que testou positivo para a Covid-19, mas também dos
governadores, que não se articulam entre si.
"Como estamos sob pressão económica, vão encontrar qualquer desculpa, algum viés nos
dados, para liberar a reabertura. As consequências daquelas cenas que vimos nas ruas do
Rio de Janeiro no último fim de semana, nós vamos ver daqui a dez dias nas estatísticas.
Aquilo é impensável, é um genocídio", afirma o médico sanitarista Gonzalo Vecina Neto, ex-
presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa. As agressões
testemunhadas contra os fiscais da pandemia no Rio demonstram que não dá para confiar
no bom senso das pessoas. A falta dele, seja nas ruas, seja em gabinetes, é uma epidemia
para a qual nunca haverá vacina, ao que parece.
Diniz, ao ser preso em fevereiro de 2018: ele ainda não diz tudo, mas já assusta muita gente
Acordo selado
Orlando Diniz, o ex-todo-poderoso da Fecomércio do Rio que despejou milhões de reais
em bancas de advocacia, finalmente vira delator e turbina investigações com potencial
para chegar em figurões do Judiciário
10/07/2020 00:30
FABIO SERAPIAO
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Agora, sob a tutela da advogada Juliana Bierrenbach, do mesmo escritório que defende
Flávio Bolsonaro no Caso Queiroz, as negociações avançaram, os capítulos da proposta de
delação foram reforçados com mais informações e o acordo foi finalmente fechado. No
material entregue ao MPF, Diniz fala, por exemplo, sobre os pagamentos para escritórios
como o de Roberto Teixeira, compadre do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que
recebeu mais de 68 milhões de reais para a Fecomércio. O escritório de Teixeira e da
advogada carioca Ana Basílio, que recebeu cerca de 13 milhões da Fecomércio, eram os
responsáveis pelo esforço junto ao Judiciário para manter Diniz no comando da entidade
durante o embate com a CNC.
Lucas Tavares/ZimeIPress/Folhapress
E com muito prazer que compartilhamos com o Senhor uma tremenda oportunidade de
Financiamento de Projetos totalmente Livre de Débitos, por meio de TRANSFERÊNCIA
DIRETA DE DINHEIRO AUTORIZADO (DTCC, na sigla em inglês, também conhecida
como DTC). A fonte é dos chamados "fundos de herança" que estão sendo AUTORIZADOS
pela Reserva Federal dos EUA em NY. Uma quantia de US$ 500 bilhões está disponível
para ser compartilhada por seu governo e um Consórcio de Fundações Internacionais,
liderado por uma fundação europeia localizada nos Países Baixos: a Fundação CFH.
A /mira rr\rwi\r iin cAlirífsHa Ho coi ÿ rsnlc ó tor n rarvanHiHn o KaKiliHaHo Ho nrAroccar
Golpe no Planalto
Prometendo meio trilhão de dólares para o Brasil, um conhecido golpe da internet fez o
gabinete presidencial mobilizar tempo e energia de técnicos para concluir o óbvio: a
história não passava de uma fraude
10/07/2020 00:30
ANDRÉ SPIGARIOL
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é segredo para ninguém que a pandemia abriu um rombo nos cofres públicos. Em
Não meio à crise, o Ministério da Economia teve de envidar esforços para analisar o que
seria uma doação generosa de fundos ao governo brasileiro: 500 bilhões de dólares. A
oferta chegou por meio de várias cartas enviadas para o presidente Jair Bolsonaro. A
história estava toda contada lá. O dinheiro, em poder de fundações internacionais, teria
origem em polpudas heranças esquecidas nos Estados Unidos. O gabinete do presidente
não só acreditou como mandou que técnicos do governo avaliassem a proposta.
Propostas mirabolantes como essa são conhecidas de quase todos que têm uma caixa de e-
mail. Elas chegam de várias partes do mundo e variam de personagens, mas o enredo de
fundo é quase sempre o mesmo: supostos príncipes africanos, xeiques, filhos de
multimilionários e altos executivos de grandes empresas se apresentam oferecendo
verdadeiras fortunas ao destinatário. Alguns dos generosos "doadores" exigem
contrapartidas. Para outros, basta que o destinatário responda dizendo que topa a
empreitada. O dinheiro, por óbvio, jamais vai aparecer na conta dos interessados - tudo não
passa de uma fraude.
No caso da oferta feita ao governo brasileiro, porém, o gabinete pessoal de Jair Bolsonaro
levou a ideia a sério. Mandou que as cartas, em inglês, fossem traduzidas para o português
e as remeteu para a equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes. Uma das cartas, sob o
timbre de uma certa Arcode Europa, dizia que o dinheiro poderia ser usado "para financiar
grandes projetos de capital como infraestrutura rodoviária e ferroviária, coleta e tratamento
de resíduos, produção de eletricidade, construção de hospitais modernos e equipados,
construção de habitações, construção de prédios administrativos, turismo etc". Outras
correspondências, todas integrantes de um mesmo pacote e enviadas por um mesmo
intermediário, aparecem assinadas por representantes de uma tal Chardet Foundation.
Isac Nóbrega/PR
Do meio trilhão de dólares que o Brasil receberia, uma parcela teria que voltar para uma
das fundações envolvidas e outra caberia ao intermediário. Por mensagem, Pereira disse o
seguinte a Crusoé: "É uma grande oportunidade que o Brasil está recebendo! Estou
buscando captação para um novo tempo para o Brasil". "Não tem taxas, nem pagamentos, é
sem dívidas; como um fundo perdido. Não tem custos!", prosseguiu.
Adriano Machado/Crusoé
Acionada pelo Planalto, a equipe de Guedes teve que levar o assunto a sério
A primeira carta chegou ao Planalto no dia 3 de junho e foi logo encaminhada pelo gabinete
pessoal do presidente da República para o ministério de Paulo Guedes. Entre idas e vindas,
o papelório circulou entre o Planalto e a Economia por um mês inteiro. A equipe económica,
depois de análises feitas por diferentes funcionários, teve que preparar uma "nota técnica"
para concluir o óbvio: não valia a pena embarcar na empreitada porque nada ali parecia
crível.
"A alegação é feita por empresa desconhecida desta secretaria, em linguagem incompatível
com a prática de negócios do setor, sem vinculação a instituição financeira de porte ou
especificação de fontes críveis de recursos, e sem intermediação ou validação por qualquer
entidade com conhecimento e experiência em projetos no Brasil", diz um dos documentos
anexados ao processo, assinado por Breno Zaban, diretor de Controle e Normas da
Secretaria de Desenvolvimento da Infraestrutura.
No expediente que pôs fim ao caso, Vitor Lima de Magalhães, especialista da Coordenação-
Geral de Financiamentos Externos do Ministério da Economia, talvez por saber que estava a
fazer uma análise a partir de documentos enviados pelo Planalto, ainda fez um esforço para
não tratar a proposta como coisa de lunáticos ou golpistas: "Tendo em vista as informações
disponíveis é importante verificar as propostas oferecidas e indagar se tais propostas
oferecem retornos desproporcionais aos riscos envolvidos, mecanismos de compliance e
observância das práticas comumente adotadas, conforme advertência emanada por
instituições fiscalizadoras".
Mais um corpo
O assassinato do ex-secretário pessoal de Cristina Kirchner inaugura mais uma
rumorosa disputa de narrativas e revela uma afoita caça ao tesouro da corrupção
argentina
10/07/2020 02:26
ÍDUDA TEIXEIRA
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Reprodução/redes sociais
Histórias como essa, de sacolas de dinheiro voando para a província de Santa Cruz,
despertaram a cobiça de criminosos locais nos últimos anos. Esses caçadores de tesouro
passaram a sonhar não apenas com a fortuna escondida dos Kirchner, como também dos
empreiteiros e secretários próximos à Casa Rosada. Em 2016, Roberto Néstor, também ex-
secretário de Cristina, foi sequestrado por criminosos que pediam o dinheiro da corrupção,
que estaria guardado em um galpão. Três dias depois, outro ex-secretário de Cristina,
Daniel Álvarez, teve a casa de seus pais assaltada por três ladrões armados.
Reprodução
O fato de o ex-secretário de Cristina ter sido torturado, contudo, pode indicar que os
criminosos estavam em busca de algo mais. Facundo e Agustin Zaeta, dois irmãos que
participaram do crime, são netos de um escrivão que realizou operações imobiliárias para
os Kirchner. "Mesmo que o crime não tenha uma motivação política, é claro que não se
pode tirar a política da história. Gutiérrez não teria se tornado milionário se não tivesse sido
funcionário dos Kirchner", diz o advogado argentino Luis Maria Palma, presidente da
Associação Internacional para a Administração de Tribunais. Na causa em que foi acusado
de lavagem de dinheiro, Gutiérrez teve 900 milhões de pesos embargados, o equivalente a
67 milhões de reais. AJustiça identificou que ele tinha 36 propriedades, 35 carros de luxo e
três embarcações.
"A partir de certo momento, toda a polícia do Rio já sabia que o Adriano (da Nóbrega) era uma laranja podre"
Interferência perigosa
O ex-capitão do Bope Rodrigo Pimentel, que inspirou o personagem principal de Tropa
de Elite, explica o risco que as milícias representam para a política -- e conta o que sabe
sobre Adriano da Nóbrega
10/07/2020 00:30
ÿ LUIZ VASSALLO
ÿ OUVIR NOTÍCIA
Aos 49 anos, Pimentel segue acompanhando de perto a cena do crime organizado no Rio,
seja como consultor de segurança, seja como roteirista de novas produções, como
Intervenção, filme que estreia em setembro e mostra o fracasso das Unidades de Polícia
Pacificadora, as UPPs, o projeto dos sonhos do enrolado Sérgio Cabral. Nesta entrevista a
Crusoé, o ex-capitão traça um panorama dos novos negócios das facções cariocas, explica
como elas têm tentado se infiltrar nas instituições e fala de sua relação com Adriano da
Nóbrega, seu ex-companheiro de farda que virou chefe de milícia e foi morto em fevereiro,
em confronto com a polícia na Bahia. Eis os principais trechos da conversa:
O sr. acaba de concluir um filme que gira em torno de um batalhão de Unidade de Polícia
Pacificadora. Por que essa política fracassou?
Num primeiro momento, isso parecia muito legal, e eu comprei a ideia. Confesso que virei
um entusiasta até ingénuo das UPPs. Em um segundo momento, percebi que o projeto não
era sustentável. O comandante da PM disse que não tinha mais condição de abrir nenhuma
UPP, não tinha mais efetivo na corporação, ela havia contratado 10 mil homens só para esse
projeto. E o governador ( Sérgio Cabral) queria que abrissem mais UPPs. Já era uma
enganação. Não tinha mais efetivo, não tinha mais recursos humanos, não tinha mais
viatura, não havia mais pagamento nem armamento, mas o governador precisava continuar
inaugurando mais unidades porque a eleição estava próxima. Em algum momento, o
governo começou a priorizar as UPPs em relação ao policiamento normal nas ruas, a
radiopatrulha. O carioca começou a ver as ruas sem policiais. Houve, assim, uma redução
do número de enfrentamento nas favelas, mas um aumento absurdo do número de roubos
de rua. A cidade ficou totalmente desequilibrada. Em um terceiro momento, o Comando
Vermelho percebeu que as UPPs estavam fragilizadas, o efetivo estava reduzido, e resolveu
estabelecer de novo o tráfico nos becos, nas vielas. Então, recomeçaram os enfrentamentos.
Num quarto momento, você percebe que as favelas pacificadas, com UPPs, já apresentavam
um número de enfrentamentos maior do que antes do processo de pacificação.
E qual é a solução? As operações de enfrenta mento?
Operações policial como essas que a PM desenvolve por volta das 7 horas da manhã na
favela da Maré normalmente envolvem 200 policiais, helicópteros blindados, e
normalmente provocam o fechamento de todas as escolas municipais e estaduais, num raio
de três quilómetros, dois quilómetros. Resultado na favela: 7 mil alunos sem aula, 7 mil
crianças vão voltar para casa sem merenda, a mãe não vai poder trabalhar, o pai vai ter que
tomar conta da criança, vai ter bala perdida, vai ter pânico, e a PM, no final dessa operação,
se tiver muita sorte, vai apreender um quilo de cocaína, um quilo de maconha, um fuzil e 2
mil dólares. Vai fazer aquela apresentação, vai jogar na estatística de apreensão de fuzis e
pistolas. O que determina o nível de operacionalidade dos batalhões é quanto mais você
apreender, mais profissional você foi. Mas para tirar um quilo de maconha da rua, um fuzil,
você provocou uma situação na qual 7 mil alunos ficaram sem aula, provocou medo, bala
perdida. Será que essa conta vale a pena? Isso não fecha.
O governador do Rio, Wilson Witzel, se elegeu anunciando que criminosos com fuzis
levariam "tiro na cabecinha". Como o sr. enxerga essa política?
É grotesco, totalmente inapropriado um governador de estado em qualquer situação falar
em "tiro na cabecinha", ou então falar em entrevista: "Não saia de casa, você vai morrer".
Não pode, porque, sem querer, ele acaba por legitimar ações policiais inadequadas. O
policial que está na ponta se sente autorizado, acha que tem um mandato na mão. Ele sabe
que o governador foi eleito com 60% dos votos, sabe que 60% da população está apoiando
esse discurso, então lá na ponta isso vai refletir em um policial que acha que pode fazer
qualquer coisa. É perigoso demais. Por outro lado, eu entendo o aumento da letalidade
policial. Se você realiza mais operações, apreende mais fuzis, recupera mais cargas
roubadas, captura mais traficantes com mandado de prisão em aberto, isso vai resultar em
mais confrontos e mais mortes. Jornalistas dizem que a Polícia Militar está matando mais.
Ora, se ela estivesse matando mais, e estivesse apreendendo menos cocaína, menos
maconha, menos fuzis, prendendo menos bandidos, eu até concordaria que a polícia está
mais violenta, mas se está matando mais, e todos os níveis de operacionalidade estão
aumentando, é porque a polícia está trabalhando mais.
Divulgação
"Surgiram coisas esquisitíssimas, como milícias daquelas antigas, formadas por policiais, se
aliando às milícias novas, dos bandidos"
Divulgação
"Vários colegas policiais tiveram um grande susto ao descobrir que a família do Adriano trabalhava no
gabinete do Flávio (Bolsonaro)"
A cena final de Tropa de Elite 2 mostra políticos ligados às milícias chegando em Brasília.
Isso virou realidade?
Eu sinceramente até hoje não consigo entender a relação, apesar de conhecer o Flávio
(Bolsonaro) pessoalmente. Até ajudei o Flávio na campanha para senador, pedi voto. Não
consegui perguntar para o Flávio por que ele deu espaço para a família do Adriano (o
miliciano Adriano da Nóbrega, morto em fevereiro, acusado de chefiar o Escritório do
Crime) no gabinete dele. Mas acho que ele responderia que é relação do Queiroz, que o
Queiroz indicou e tal. O Adriano não era miliciano quando saiu da Polícia Militar. Ele se
tornou miliciano bem depois, em 2014, 2015. Até então, era ligado ao jogo do bicho, caça-
níqueis e escolas de samba. Não enxergo como verdade que a milícia tenha chegado ao
Planalto. Eu acho horrível que o Adriano, envolvido com vários homicídios no Rio dejaneiro,
tenha recebido vaga no gabinete do deputado estadual Flávio Bolsonaro, mas acho que isso
não conecta a família à milícia. Sinceramente, espero que isso seja esclarecido. Vários
colegas policiais tiveram um grande susto ao descobrir que a família do Adriano trabalhava
no gabinete do Flávio. Isso é totalmente incompatível com a trajetória dele na Assembleia. O
Flávio era bem relacionado com delegados, representava os interesses da classe, ia nos
quartéis, nas delegacias.
Quando foi a última vez que o sr. esteve com o Capitão Adriano?
A última vez que vi o Adriano foi em 201 3. Eu estava na Ilha do Governador. Estava em um
restaurante aguardando um garçom e entra o Adriano, acompanhado de umas dez pessoas,
pelo menos. E eu logo percebi que eram bandidos. Todo mundo mal encarado, camisa
larga, pistola escondida na cintura. Eles estavam fazendo a segurança do Adriano. Aí ele veio
até mim, me cumprimentou. Ele gostava de mim. Eu não perguntei o que ele estava
fazendo, mas ele disse que estava tomando conta das kombis e vans da Ilha do Governador.
Acontece que elas pertenciam a um traficante famoso. Se ele estava tomando conta delas,
era porque tinha tomado as kombis e as vans dos traficantes. E para tomar isso do
traficante tem que ter muita disposição. Tem que chegar com uma equipe de pessoas
valentes e dispostas a morrer. Aquilo me chamou atenção. Ali eu sabia que ele estava em
uma parada muito errada.
Àquela altura, será que o hoje senador Flávio Bolsonaro já não sabia de tudo isso?
Como é que o Flávio e o Queiroz não sabiam disso? Ou o Queiroz não sabia, ou então o
Flávio deixava mesmo o Queiroz pilotar o gabinete. Até hoje não sei se a ligação do Queiroz
com o Flávio é maior com o Flávio ou maior com o pai. Se você perguntar se o Queiroz é um
homem do Flávio ou do Jair, eu apostaria que é homem do Jair.
Guedes irado
10/07/2020 02:26
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Paulo Guedes: torpedos contra a Greenfield nos bastidores
Medo de Wassef
10/07/2020 02:26
ÿ OUVIR NOTÍCIA
Kufa, advogada de Jair Bolsonaro, foi orientada a evitar os embates com Frederick
Karina
Wassef, que também se apresenta como defensor do presidente. Desde o início do
governo os dois travam uma guerra surda. Logo após a prisão de Fabrício Queiroz, quando
chegou a divulgar uma nota pública tentando dissociar Wassef da figura de Bolsonaro, Kufa
passou a evitar o enfrentamento. A interlocutores, ela disse ter sido aconselhada a não
brigar com o advogado porque ele é uma "pessoa perigosa".
Adriano Machado/Crusoé
Adriano Machado/Crusoé
Rosinei Coutinho/SCO/STF
bancários de uma conta controlada pela filha do senador José Serra na Suíça
Extratos
mostram volumosas transações suspeitas no mesmo período em que ela recebeu
supostas propinas destinadas ao tucano em 2006, quando ele foi candidato a governador
de São Paulo. Além de compras de ações das empresas de alimentos Heinz e de bebidas
Inbev, destacadas pelos procuradores da Lavajato paulista, a conta de Verônica transferiu,
em euros e dólares, o equivalente a 7,5 milhões de reais em valores atuais para dois bancos
com sede em Luxemburgo, famoso paraíso fiscal na Europa. Batizada como Firenze, a conta
de Verônica foi aberta em 2005 no banco Arner, na cidade suíça de Lugano, em nome da
Dormunt International Inc, uma offshore aberta pela filha de Serra em 2003 no Panamá. A
acusação ajuizada pelo Ministério Público Federal contra o senador na semana passada
sustenta que foi nessa conta que ele recebeu 936 mil euros repassados pela Odebrecht.
Nesta semana, Crusoé revelou que os extratos bancários mostram que ao menos três
transferências atribuídas pelos investigadores à empreiteira aparecem em documentos do
banco relacionadas à Alstom. multinacional francesa que comandou o cartel de trens em
governos tucanos de São Paulo a partir da década de 1 990, acusada de subornar agentes
públicos e políticos.
Bruno Poletti/Folhapress
Policiais federais que foram cumprir o mandado de busca e apreensão na casa dejosé
Serra em São Paulo, nas primeiras horas da última sexta-feira, 3, só puderam entrar no
imóvel depois da chegada da Polícia Militar. O tucano não estava e a mulher dele acionou a
PM porque pensou que os agentes da PF que batiam à sua porta fossem bandidos. Foi
quase meia hora de espera até que Mônica Serra, bastante assustada, permitisse a entrada
dos policiais.
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Já há gente muito boa projetando uma queda do PIB neste ano de apenas 4%. Por esse
motivo, o mercado financeiro torce para que o vírus não mate imediatamente o governo
doente de Jair Bolsonaro. Sabe como é: os investidores, assim como os colunistas da Folha
de 5.Paulo, são consequencialistas.
Nesta semana, contudo, o que me comoveu mesmo foi uma baleia que recebeu o nome de
Codamozza ("cauda cortada", em italiano), como informa o jornal La Repubblica, que
publicou um vídeo protagonizado por ela. Codamozza foi avistada pela primeira vez em
1 996, quando ainda conservava uma parte da cauda; no final de 201 9, foi-se o resto.
Provavelmente, hélices de motores de barcos a aleijaram duas vezes. Codamozza não tem
sorte, definitivamente, mas lhe sobra força de vontade. Sem cauda, essa baleia notável
desenvolveu um jeito próprio de se locomover. Para nadar, ela realiza um movimento
ondulatório com as costas e vai adiante graças apenas às barbatanas. É uma baleia que
nada no estilo borboleta, portanto. É uma baleia que nada tem de literária, o reverso de
Moby Dick.
O fato de não ter cauda reduz, obviamente, a sua capacidade de locomoção e busca por
comida, mas Codamozza é capaz de cobrir grandes distâncias pelo Mediterrâneo. Fez há
pouco uma viagem de mil quilómetros, a distância entre a Calábria, na ponta da Bota
italiana, e um santuário de baleias na Ligúria, bem ao norte, na fronteira com a França. Está
sendo monitorada por uma equipe especializada. Com a perda da segunda parte da cauda,
aumentou a preocupação com Codamozza. "Parece muito magra e nada muito próximo à
costa, arriscando-se a sofrer outros acidentes", disse o veterinário Sandro Mazzariol ao La
Repubblica. A esperança é que consiga alimentar-se melhor no santuário.
A história de Codamozza seria tocante em qualquer momento, mas adquire mais pungência
agora que todos estamos como baleias sem caudas, tentando nos mover de alguma forma
nesta quarentena interminável, em viagens interiores, inclusive. Seremos capazes de nos
adaptar no curto prazo a um nado borboleta, para prosseguir vivendo como antes, ou de
modo parecido? A vida só é projetável no curto prazo, nossa única certeza, com o perdão da
platitude. É preciso, assim, que sejamos capazes.
Codamozza que estou, obrigo-me a voltar aos muitos leões do meu cotidiano, esperando a
solidariedade dos poucos elefantes que nele existem e um dia rever Napoléon.
CARLOS FERNANDO
LIMA DOS SANTOS
O problema do Brasil
10/07/2020 02:26
ÿ OUVIR NOTÍCIA
Só que não!
Mesmo sendo isso um completo absurdo, no último mês temos visto uma reação contra a
Operação Lava Jato vinda de diversos aliados de ocasião e oportunistas. Essa "Santa Aliança"
com o objetivo de denegrir o trabalho investigativo da polícia e do Ministério Público reuniu
figuras aparentemente díspares, passando pelos criminalistas de sempre e pelos políticos já
bem conhecidos, mas também pelo próprio governo Bolsonaro e pelo procurador-geral da
República, Augusto Aras. Cada um por seus motivos inconfessáveis, mas todos irmanados
em salvar o status quo.
A partir daí observou-se a realização de uma enxurrada de ataques ordenados, seja por
meio do famoso "gabinete do ódio", instaurado em Brasília e que é alvo de investigação do
STF, ou por meio de posicionamentos um tanto quanto questionáveis de autoridades, com
um objetivo definido: manchar a imagem da Lava Jato e, consequentemente, abortar
qualquer possibilidade da candidatura do ex-juiz para a Presidência. É este o momento em
que estamos. Uma união de petistas, bolsonaristas e do Centrão, com todos os apaniguados
distribuídos por instituições e órgãos públicos, para reescrever essa história e colocar a
culpa nos investigadores, acusadores e juiz.
Este panorama faz entender as recentes polémicas entre as forças-tarefas da Lava Jato e o
gabinete do procurador-geral da República, Augusto Aras, advogado militante que dava
pareceres no Ministério Público Federal, uma excrescência do velho Ministério Público
subordinado aos interesses do Poder Executivo. O PGR, em desvio de finalidade evidente,
promove uma devassa interna na esperança de agradar a Bolsonaro, que o guindou para
um cargo tão importante e sensível, com poderes, inclusive, para (não) o investigar.
Todos os interessados nos ataques contra a operação podem distorcer o quanto quiserem a
realidade, mas não há como esconder que nós brasileiros pagamos uma taxa chamada
corrupção, exigida pela classe política como o preço que temos para sermos "bem
governados" por ela, que se imagina uma "aristocracia esclarecida", quando, na verdade,
somos dilapidados por uma oligarquia desqualificada.
E o pior, observa-se ainda que instituições que deveriam ser republicanas são aparelhadas
pelas formas de escolha de seus dirigentes, para que o sistema seja perpetuado, mesmo
que, eventualmente, uma peça ou outra tenha que ser trocada para satisfazer a
necessidade de circo das massas.
A esperança é que essa clara percepção de como funciona esse "mecanismo" não se
contamine com as mentiras da campanha de Bolsonaro, um arrivista que usou das
investigações para se promover, sem ter, na verdade, qualquer compromisso com a
mudança. O objetivo de todo o rearranjo de forças promovido nos últimos meses, inclusive
com a adesão do presidente, é enfraquecer apurações e investigadores para atingir a
candidatura de Sergio Moro e impedi-lo de chegar à Presidência. Entretanto, tudo que até
agora fizeram foi tornar sua candidatura cada vez mais inevitável e necessária.
M
LEANDRO
NARLOCH
As leis fundamentais da estupidez política
10/07/2020 02:26
ÿ OUVIR NOTÍCIA tu*Cfc@Qot
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estupidez dos políticos brasileiros não é aleatória, não ocorre ao acaso. Segue padrões
A de comportamento que precisamos diagnosticar e descrever. Abaixo estão cinco de
muitos deles; o leitor fique à vontade para sugerir outros nos comentários.
1) Quanto mais sensato um candidato a presidente, menores são suas chances de ganhar a
eleição.
Meu colega Ruy Goiaba escreveu um texto tocante aqui na Crusoé semanas atrás. "Só
queria que meu país parasse, uma vez na vida, de votar em gente que só falta circular por aí
ostentando um luminoso de neon piscante com a palavra BURRO na testa", disse.
É difícil realizar esse desejo porque o brasileiro, se tem alguma ideologia, é a da rejeição
completa à entediante sensatez política. Veja o caso de Geraldo Alckmin, Henrique Meirelles
ejoão Amoêdo. Não, nenhum deles é um Winston Churchill. Mas pelo menos sabem usar os
talheres, entendem que não se pode gastar mais do que se arrecada. Resultado? Somados
não tiveram 9% dos votos em 201 8.
É assim no Brasil todo. Vereadores e deputados estaduais têm uma visão um tanto mística
dos problemas sociais. Acreditam que basta fixar palavras na parede e (mágica!): o
problema se resolverá.
Tragédia da Samarco, epidemia, crise nos aeroportos, violência das favelas: é tudo "culpa do
neoliberalismo", do "desmonte do estado", da "perda de direitos garantidos". A sociologia
para explicar já está empacotada, pronta para se encaixar nos problemas do futuro.
4) Qualquer protesto de rua, por mais sensato que seja, acabará dominado por estúpidos.
Como protestos acontecem na rua, não é possível restringir a entrada de quem tem Ql
baixo e alto potencial de sabotagem. E assim manifestações muito justas, em defesa de
causas nobres e necessárias, caem diante da invasão de energúmenos.
Começa como um protesto contra o machismo. Termina com idiotas enfiando crucifixos
naqueles lugares. Poderia ser um protesto contra o autoritarismo do STF e a judicialização
da política. Vira manifestação de idiotas pedindo intervenção militar. Começa como um
protesto contra o racismo. Termina pedindo a derrubada de estátua do século 17.
5) Todo presidente acredita que ao sobrevoar áreas atingidas resolverá estragos causados
por tragédias.
Não há motivo para se preocupar com enchentes, desabamentos, rompimentos de
barragens ou ciclones no Brasil. Quando isso acontecer, o presidente do momento vai
sobrevoar a área de helicóptero. Posará para o fotógrafo oficial olhando com consternação
a tragédia lá embaixo. E assim os problemas serão solucionados.
Pelo menos é nisso que os últimos presidentes parecem acreditar. Lula sobrevoou
enchentes em Santa Catarina, Alagoas, Pernambuco, Maranhão e Piauí; Bolsonaro só este
ano sobrevoou Minas Gerais e Santa Catarina; Dilma passeou pela serra fluminense,
Mariana, Paraná e Rio Grande do Sul. Michel Temer, em seu curto mandato, sobrevoou
alagamentos no Rio Grande do Sul e Alagoas, e até mesmo as áreas de atuação das tropas
federais do Rio de Janeiro.
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ÿ OUVIR NOTÍCIA .u*Cfc@Qut
Não seria a primeira vez que uma derrota é "homenageada" com um feriado: aqui em São
Paulo, o 9 de julho é exatamente isso. É o dia da Revolução de 32, aquela que os paulistas
perderam — aliás, o termo "revolução" é usado de maneira bastante elástica para descrever
o acontecimento (vale o mesmo para o 20 de setembro e a Revolução Farroupilha no Rio
Grande do Sul). E nós ainda teríamos a vantagem de juntar uma derrota com outra, o 8 de
julho com o 9 de julho, e ganhar um feriado prolongadaço — principalmente se 8 de julho
cair numa terça ou numa quarta. As batalhas perdidas não terão sido em vão.
Todos os anos, esse feriado do 8 de julho nos lembraria de que os brasileiros somos um
povo que adora tomar decisões erradas: já elegemos Dilma Rousseff, Jair Bolsonaro e
grande elenco, já achamos que David Luiz, Bernard "Alegria nas Pernas" e Hulk podiam ser
titulares de seleção brasileira e, agora, andamos enchendo bares mesmo com o coronavírus
não dando nenhum sinal de que arrefeceu. (É verdade que nisso, como em muitos outros
casos, não estamos sós: basta ver os protestos nos EUA, país campeão de mortes e casos de
Covid-1 9. Parece haver entre os manifestantes a curiosa noção de que o vírus tem
consciência social e, se a causa for boa, ninguém se contamina.)
Hoje, o 7 a 1 é a metáfora mais sintética que temos à mão para descrever as consequências
de decisões erradas. E é aquilo que mais nos traduz como país. Não é o dia de Tiradentes,
nem o dia do Descobrimento — esse erro de português que já dura 520 anos — , nem o 7 de
Setembro, muito menos o dia desse experimento basicamente falido que é a Proclamação
da República. (E não tomem isso como "defesa da monarquia", ainda mais com esses
cretinos de sobrenome Orléans e Bragança que andam por aí. Eu só seria a favor se o
saudoso Clóvis Bornay fosse entronizado como nosso Rei Sol de língua presa; como ele
infelizmente já morreu, a ideia deixou de fazer sentido.)
Enfim, nada disso nos define mais: o que nos define hoje é esse castigo para a húbris, para
o excesso de marra, que foi aquela goleada vexatória em casa numa semifinal de Copa. O
Brasil fez e faz por merecer. Não apenas sou a favor de substituir por "sete a um foi pouco"
o "ordem e progresso" da bandeira — que nunca fez muito sentido no Bananão, mas hoje é
basicamente uma piada de mau gosto — como defendo que em cerimónias oficiais, em vez
do hino, toquem aquela gravação do Galvão Bueno dizendo "gol da Alemanha!" e "virou
passeio!".
(Admito: há no fundo de tudo isso um restinho de esperança de que o país tome vergonha
na cara algum dia. Mas não deve acontecer. Em vez de Pelé ou Tostão, continuaremos
sendo David Luiz pensando que é o Beckenbauer.)
A GOIABICE DA SEMANA
Reprodução/redes sociais
Vamos falar de coisa boa? Vamos falar deste comprimido milagroso aqui, talquei?"