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Aspectos Antropológicos e

Sociológicos da Educação
PRÁTICA COMO COMPONENTE CURRICULAR (PCC)

Observações Sociológicas sobre o bairro do Alecrim, em Natal/RN

Filipe Moreno Brazão Teixeira – Matrícula -201804026743


Letras-inglês | 14/06/2020
OBJETIVOS
Os objetivos do presente trabalho foram, a princípio, analisar as bases teóricas
vistas na disciplina de Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação em
comunhão com dados obtidos através de pesquisa bibliográfica sobre o bairro
do Alecrim, em Natal-RN. Além disso também é acrescentado, o conhecimento
empírico do autor à pesquisa, sendo este último residente do bairro desde de
seu nascimento. Então, a partir destas fontes; tenta-se estabelecer um diálogo
teórico com os autores tratados na disciplina

INTRODUÇÃO
O bairro do Alecrim é um dos mais antigos de Natal, porém, continua vivo e pulsante
até hoje, visto que é o centro de comércio mais popular da cidade. Nesta frase, o termo
“popular” exprime três de seus significados: popular por ser amplamente conhecido
localmente, popular por ser objeto do afeto de um grande número de pessoas, e por
fim, popular por ser acessível a todas as classes sociais.

Nesse contexto rico em interações humanas, o autor faz o papel de observador-


participante, visto que, segundo Malinowski(1922); o objetivo do estudo etnográfico é o
de “capturar o ponto de vista do nativo, sua relação com a vida, perceber sua visão de
seu mundo.” Deste modo supomos, a princípio, que o autor se encontra em posição
privilegiada para realizar tal estudo, pois é ele mesmo o próprio nativo da cultura que
pretende descrever.

Porém, a literatura das ciências humanas em grande parte se refere ao estudo da


cultura como estudo da cultura alheia, da cultura do “outro”, como exemplificado pela
citação acima referida. Isto acontece por quê, por grande parte de sua história, a
antropologia e a sociologia tomaram por principal referencial a cultura judaico-cristã
ocidental, devido aos seus pensadores seminais pertencerem à esta cultura. Exemplo
desses pensadores seriam os franceses Auguste Comte e Lévi Strauss, considerados por
muitos respectivamente, fundadores da Sociologia e Antropologia. Esta cultura era tida
como a mais civilizada entre esses pensadores, que tinham em seus estudos um caráter
comparativo entre “homens civilizados” e “selvagens”.

Nesse sentido, ao longo da história surgiram novas concepções de estudo


antropológico e sociológico, como o conceito de relativização cultural, que questiona
essa perspectiva de cultura mais ou cultura menos civilizada. Pois segundo um dos
antropólogos mais influentes dessa época de transição, Franz Boas(1987): “...civilização
não é algo absoluto, mas (...) é relativa e nossas ideias e concepções são verdadeiras
apenas na medida de nossa civilização”.

Enquanto elemento do método de estudo etnográfico, o relativismo consiste no


pesquisador abster de sua observação etnográfica julgamentos de valor moral, como o
de cultura mais civilizada, pois a moral seria relativa à cultura do próprio pesquisador

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e, portanto, preveniria uma observação objetiva, cientificista da sociedade, como
queria Comte em sua Física Social.

Ora, se nesse sentido o autor é observador-participante e nativo da cultura que é seu


objeto de estudo, a seguintes indagações se apresentam: seria necessário, ou mesmo
possível, relativizar a própria cultura? Teria uma parte integrante de um sistema
perspectiva para compreender o sistema como um todo? Essas indagações encontram
eco num dos problemas fundamentais dos estudos das ciências humanas e mesmo
biomédicas, que remonta à filosofia clássica: É possível ser o homem objeto de estudo
de si mesmo? É o que o trabalho se esforça para responder através de uma observação
antropológica da cultura onde o autor está inserido.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Foi realizado um exame do conhecimento empírico do autor no que se refere as
desigualdades socioeconômicas, educacionais e diferenças sociais no bairro de sua
criação, além de pesquisa bibliográfica realizada através de mecanismos de busca
virtuais.

RESULTADOS E CONCLUSÃO

O bairro do Alecrim, por ser um bairro majoritáriamente comercial, poderia ser


definido por Marx como um bairro pequeno-burguês. Ele pode ser dividido
geograficamente em duas partes: a região dos estabelecimentos comerciais e a região
dos domicílios. Enquanto as diferenças sociais são visíveis por toda região, a
desigualdade econômica pode ser sentida mais acentuadamente na sua região
comercial.

Na parte residencial, pode-se perceber que padrão de tamanho e valor econômico das
casas, diferente de vários outros bairros da capital, são similares. Pode-se dizer com
confiaça que em toda a duração do estudo em campo, foi observado que nenhuma das
casas possuía piscina, ou área de lazer. E sendo este um importante indicador
econômico das famílias, pode-se inferir daí que as famílias que ali moram tem
condições econômicas similares. A predominância das casas sobre os prédios no
território do bairro são indicadores históricos de sua antiguidade. Quando o bairro foi
povoado, o padrão dos centros comerciais das cidades ainda não eram prédios.

Históricamente, os residentes do bairro são os próprios pequeno-comerciantes e seus


descendentes, que ali decidiram morar pela proximidade física ao seu comércio.
Dentre estes, os mais econômicamente desfavorecidos são os feirantes da célebre Feira
do Alecrim e os pequenos comerciantes do “Shopping popular”, também conhecido
por “Camelódromo” devido aos seus camelôs. Nesses centros comerciais, a imensa
maioria não é de residentes do Alecrim em si, e sim de bairros periféricos ainda mais
empobrecidos.

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Também nesses centros pode-se começar a observar mais claramente que dentro da
classe que Marx definiu como pequeno-burguesa, existem grandes diferenças
socioeconômicas, o que leva a definição de sub-classes: O micro comerciante se
encontra com o pequeno, o médio e o grande. O micro comerciante vindo das regiões
periféricas da cidade, o pequeno e médio comerciante residentes no próprio bairro de
classe média-baixa, e os grandes comerciantes donos de lojas de departamento e
franquias, vindo de bairros mais abastados da cidade.

Não é difícil deduzir que na parte comercial do Alecrim também se encontra outra das
classes Marxistas: o ploretariado. Todas as lojas de pequeno e médio porte precisam de
ao menos um funcionário para funcionar. Nas lojas de pequeno porte que são maioria
no Alecrim, em grande parte o ploretário é familiar do proprietário. Os negócios são
assim, familiares e passados hereditariamente, na perpetuação de bens típica do
sistema capitalista.

O que explica a faixa etária avançada de seus moradores e residências é a pouca


mobilidade social dos habitantes do bairro. Isso ocorre pelo fato do principal fator de
mobilidade social ser a educação. Como a maioria dos moradores é pequeno
comerciante, e essa ocupação não exige qualificação acadêmica, a maioria dos antigos
residentes do bairro permaneceram em sua classe social. Fato esse que tentam corrigir
através de seus filhos. Por isso, a maioria dos filhos dos residentes do Alecrim não
estudam nas escolas aqui situadas.

À medida em que o ensino público de qualidade no Brasil foi sendo substituído pelas
escolas privadas, a qualidade das escolas públicas do Alecrim foi também sendo
defasada. Isso levou alguns residentes a procurarem escolas privadas dentro do Bairro,
ou escolas em outros Bairros. A desigualdade educacional também pode ser sentida
mais acentuadamente quando esses elementos se encontram, novamente, na região
comercial.

Por fim, um fenômeno recente que pôde ser notado foi o grande fluxo de imigrantes
estrangeiros no bairro, devido à globalização. Com o grande crescimento da economia
chinesa, pode-se encontrar uma imensa variedade de seus produtos nas lojas do
Alecrim, além dos próprios imigrantes, que com sua cultura afetam e transformam o
modo de vida da comunidade.

Assim, o autor do presente trabalho conclui que é possível, ainda que de maneira
incompleta, fazer um exercício de estudo etnográfico de sua própria cultura.

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BIBLIOGRAFIA

Ethnology and the Study of Society, Bronislaw Malinowski, Economica No. 6


(Oct., 1922), pp. 208-219

Franz Boas, 1887. Museums of Ethnology and their claissification. Science 9: 589

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