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Limonge França em seu livro Hermenêutica Jurídica, 1988,

nos introduz ao tema dizendo que “a interpretação não se


restringe tão somente aos estreitos termos da lei, pois
conhecidas são suas limitações para o bem exprimir do
direito, o que, aliás, acontece com a generalidade das formas
de que o direito se reveste”.
Segundo o doutrinador a interpretação pode ser dividida em 3
critérios, a saber:

a) Agente da interpretação;

b) Natureza;

c) Extensão.

Vejamos o quadro sinótico da interpretação conforme


definição de Limonge França:

Agente

Interpretação Pública Autêntica

Interpretação Pública Judicial

Interpretação Privada Doutrinária

Natureza

Interpretação Gramatical

Interpretação Lógica

Interpretação Histórica

Interpretação Sistemática
Extensão

Interpretação Declarativa

Interpretação Extensiva

Interpretação Restritiva

Interpretação Progressiva

Interpretação Analógica

Tourinho Filho escreve sobre outras 2 interpretações que não


são abordadas pelo doutrinador Limonge França, a
saber: Interpretação Progressiva e Interpretação Analógica,
no qual, para fins estudantis, eu as acrescentei no critério
quanto a extensão.
A seguir veremos a explicação para cada tipo interpretação.

QUANTO AO AGENTE

Interpretação Pública Autêntica


É aquela oriunda do próprio órgão que favoreceu a lei. Se o
Poder Legislativo declara o sentido e alcance de um texto, o seu
ato, é uma verdadeira norma jurídica, e só por isso tem força
obrigatória, ainda que ofereça interpretação incorreta, em
desacordo com os preceitos basilares da hermenêutica.

O professor Tourinho exemplifica a interpretação autêntica


através do art. 150, § 4º e § 5º do CP em que o próprio
legislador procurou estabelecer os contornos da palavra “casa”.
Art. 150 -  Entrar ou permanecer, clandestina ou
astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou tácita de
quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências:
§ 4º - A expressão "casa" compreende:
I - qualquer compartimento habitado;

II - aposento ocupado de habitação coletiva;

III - compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce


profissão ou atividade.

§ 5º - Não se compreendem na expressão "casa":


I - hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação coletiva,
enquanto aberta, salvo a restrição do n.º II do parágrafo
anterior;

II - taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero.

Interpretação Pública Judicial


É aquela realizada pelos juízes ou Tribunais (órgãos do Poder
Judiciário) em que aplicam a lei no caso concreto. Oportuno
anotar que as decisões reiteradas formam a jurisprudência e,
por conseguinte, atraves do efeito vinculativo, formam as
Súmulas.

Interpretação Privada Doutrinária


É aquela interpretação, ligada a uma questão do direito
científico, realizada pelo doutrinador que demanda pesquisas
em que são apresentadas especial significado sobre o assunto
interpretado.
QUANTO À ESPÉCIE

Interpretação Gramatical
Limonge França bem diz que a interpretação gramatical é
aquela que tem como ponto de partida o exame do significado e
alcance de cada uma das palavras do preceito legal, ou seja, o
próprio significado das palavras. Contudo, importante dizer
que em casos de dúvida entre os vários significados de uma
frase ou palavra, o intérprete gramatical deve aceitar o
significado comum, salvo se puder demonstrar um uso
linguístico especial. Se os significados variam, é decisivo aquele
dominante ao tempo da elaboração da lei, alerta Fenech.

Os autores, ainda acrescentam que a interpretação gramatical,


atualmente, é insuficiente para conduzir o intérprete a um
resultado conclusivo, pois, pode haver textos ambíguos,
anfibiológicos ou até mesmo a imprecisão do legislador ao
elaborar o texto da lei, por isso, é necessário que os elementos
por ela fornecidos sejam articulados com os demais,
propiciados pelas outras espécies de interpretação.

Por fim, insta dizer que a interpretação gramatical também é


conhecida por interpretação literal ouinterpretação filológica.

Interpretação Lógica
Esta interpretação leva em consideração a finalidade da norma
jurídica. Ela é subdividida em critério subjetivo e objetivo. No
primeiro caso, leva em consideração qual foi a intenção de o
legislador ao elaborar a norma jurídica, analisando
principalmente o processo legislativo da sua criação. Já o
segundo leva em consideração a finalidade da lei.
A interpretação lógica também é conhecida por
interpretação Teleológica.

Interpretação Histórica
Tourinho Filho salienta que é a pesquisa do processo evolutivo
da lei, a história dos seus precedentes, auxilia o aclaramento da
norma. Os projetos de leis, as discussões havidas durante sua
elaboração, a Exposição de Motivos, as obras científicas do
autor da lei são elementos valiosos de que se vale o intérprete
para proceder à interpretação. Limonge França, complementa,
dizendo que a interpretação histórica é aquela que indaga das
condições de meio e momento da elaboração da norma legal,
bem assim das causas pretéritas da solução dada pelo
legislador.

A interpretação histórica também é conhecida por


interpretação histórica sociológica.

Interpretação Sistemática
Procura extrair o conteúdo da norma jurídica por meio da
análise sistemática do ordenamento jurídico. Uma vez que este
não é lógico. Quem irá colocar lógica no sistema é o interprete
ou o cientista do Direito. Parte-se sempre da interpretação
gramatical, analisando-se os vários dispositivos legais até se
chegar a uma conclusão interpretativa.

Limonge França divide esta interpretação em dois aspectos


diversos:

1) Quando é feita em relação à própria lei a que o dispositivo


pertence; e
2) Quando se processa com vistas para o sistema geral do
direito positivo em vigor.

No primeiro caso, revela considerar o caráter geral da lei; o


livro, título ou parágrafo onde o preceito se encontra; o sentido
tecnológico-jurídico com que certas palavras são empregadas
no diploma, etc. Já no segundo caso, importa atender à própria
índole do direito nacional com relação as matérias semelhantes
à da lei interpretada; ao regime político do país; às últimas
tendências do costume, da jurisprudência e da doutrina, no
que concerne ao assunto do preceito etc.

Tourinho Filho nos ensina que o interprete recorre a este tipo


de interpretação quando a dúvida não recai sobre o sentido de
uma expressão ou de uma fórmula da lei, mas sim sobre a
regulamentação do fato ou da relação sobre que se deve julgar.
Aqui o intérprete deve colocar a norma em relação com o
conjunto de todo o Direito vigente e com as regras particulares
de Direito que têm pertinência com ela. O intérprete poderá,
inclusive, lançar mão da analogia e dos princípios gerais do
Direito.

A interpretação sistemática também é conhecida por


interpretação Lógico Sistemática.

Interpretação Comparativa
Extrai-se o conteúdo da norma jurídica fazendo uma
comparação com o ordenamento jurídico de outro país.
QUANTO À EXTENSÃO

Interpretação Declarativa
É aquela interpretação que chega ao mesmo resultado da lei,
ou seja, aquilo que está escrito na norma. O interprete chega
nesse resultado utilizando-se dos vários métodos de
interpretação supracitados.

Interpretação Progressiva
Diz-se progressiva a interpretação quando o intérprete,
observando que a expressão contida na norma sofreu alteração
no correr dos anos, procura adaptar-lhe o sentido ao conceito
atual. Por exemplo, o CPP não cuidou do mandado de prisão
via fax, justamente porque o CPP é de 1941 e o primeiro
sistema de fax ocorreu em 1949 no Japão. Hoje, entretanto, é
muito comum os Tribunais, quando a condenação é por eles
decretada, ordenar a expedição de mandado de prisão por esse
meio. Trata-se de interpretação progressiva conforme
preceitua Tourinho Filho.

Interpretação Extensiva
É aquela que amplia o sentido da norma, pois, a norma disse
menos do que ela queria, por isso o interprete deve ampliar o
sentido ou alcance delas. Geralmente o interprete utiliza-se
do método teleológico.
As leis penais também admitem a interpretação extensiva?
Tourinho Filho aponta a posição de Maggiore, a interpretação
extensiva nada mais representa senão a reintegração do
pensamento do legislador, e, por conseguinte, é aplicável
também à penal. No mesmo sentido a lição de Aníbal Bruno,
Magalhães Noronha é, também desse sentir. Como exemplo de
interpretação extensiva no campo penal, aponta Hungria o
art. 235 do CP no qual incrimina a bigamia. Dai conclui-se que
também a poligamia também é objeto de incriminação.
A interpretação extensiva também é chamada de interpretação
ampliativa.

Interpretação Restritiva
O contrário da interpretação extensiva é a restritiva. Esta
interpretação restringe o sentido da norma jurídica. Isso quer
dizer que a norma jurídica disse mais do que ela queria dizer.
Há uma superabundância normativa. Nesse sentido, vem o
interprete e faz uma interpretação teleológica para restringir o
alcance daquela norma jurídica, de modo a dar uma
interpretação menos ampla àquela norma jurídica.

Interpretação Analógica
Tourinho Filho ensina que ao lado da interpretação extensiva e
mantendo com esta certa similitude, está a interpretação
analógica. Não se deve confundir, contudo, interpretação
analógica com analogia. A primeira é forma de interpretação; a
segunda é integração. Quando se pode proceder a
interpretação analógica? Quando a própria lei a determinar.
Por exemplo, quando o art. 61, II, c, do CP fala em “à traição,
de emboscada, ou mediante dissimulação, ou outro recurso
que dificultou ou tornou impossível a defesa do ofendido”,
pergunta-se: que outro recurso poderá ser este? Evidentemente
deve ser um “recurso” semelhante, análogo à “emboscada”, à
“traição”, à “dissimulação”, em molde a dificultar ou tornar
impossível a defesa do ofendido. Não teria sentido que o
legislador ali catalogasse todas as hipóteses que guardassem
semelhança com a “emboscada”, com a “traição”, com a
“dissimulação”. Já a analogia é a integração. A doutrina
entende que o ordenamento jurídico apresenta lacunas, vazios
e devem ser preenchidos, e o processo de preenchimento,
chama-se analogia.
O doutrinador ainda complementa dizendo que analogia é um
princípio jurídico segundo o qual a lei estabelecida para
determinado fato a outro se aplica, embora por ela não
regulado, dada a semelhança em relação ao primeiro.

E finaliza: "Como se percebe, nítida a diferença entre a


interpretação extensiva e a analogia. Naquela, o intérprete
conclui que a lei contém a disposição para o caso concreto,
mas, como a expressão é mais defeituosa, procura-se adaptá-
la à mens legis. Já na analogia, parte-se do pressuposto de
que a lei 'não contém a disposição precisa para o caso
concreto, mas o legislador cuidou de um caso semelhante ou
de uma matéria análoga'. Nítida a diferença, também, entre
interpretação analógica e analogia. Ali, a vontade da lei é
abranger os casos análogos àqueles por ela regulados. Aqui,
não há essa voluntas legis, não existe essa vontade, mas o
intérprete, assim mesmo, preenche o meato, o claro, o vazio."
Considerações finais: Todas as menções realizadas aos ilustres
doutrinadores Tourinho Filho e Limonge Franca foram
retiradas, respectivamente, dos livros: Processo Penal,
volume 1, ano 2012 eHermenêutica Jurídica, 2º edição,
1988.

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