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DA APRENDIZAGEM
E MEMÓRIA
1ª edição
SESES
rio de janeiro 2017
Conselho editorial roberto paes e gisele lima
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2017.
CDD 153.15
Prefácio 5
3. Aprendizagem e cognição 51
O modelo cognitivo e a aprendizagem 53
Aprendizagem por insights – Wolfgang Köhler 54
Aprendizagem latente de Tolman 55
Teoria cognitiva social da aprendizagem:
as contribuições de Bandura 56
Desengajamento moral em Albert Bandura 62
4. Memória: tipos e classificações 65
Classificações da memória 67
Estágios da memória 67
Codificação (níveis de processamento) 68
Armazenamento (memória sensorial, primária e secundária) 71
Recuperação (recordação livre e com pistas) 74
Memória explícita 75
Memória episódica 75
Memória semântica 76
Memória autobiográfica 76
Memória implícita 76
Memória de procedimentos 77
Pré-ativação (priming) 77
Prezados(as) alunos(as),
Bons estudos!
5
1
Histórico e
conceitos de
aprendizagem
Histórico e conceitos de aprendizagem
capítulo 1 •8
OBJETIVOS
• Apresentar os autores clássicos da teoria da aprendizagem;
• Destacar as principais contribuições conceituais dos autores clássicos da teoria
da aprendizagem.
capítulo 1 •9
Ivan Petrovich Pavlov (1849 – 1936)
capítulo 1 • 10
“estímulo condicionado”, e a resposta dos indivíduos a esse estímulo condicionado
ou substitutivo é o “reflexo condicionado”. (GARRETT, 1966)
Dessa forma, respondente são todas as reações automáticas apresentadas pelos ani-
mais ou pessoas, ou seja, reações que independem da vontade do sujeito. Todos nós es-
tamos munidos destas reações, que são os reflexos. Precedendo à resposta automática,
existe um estímulo que desencadeia o reflexo (E –> R). Conclui-se, então, que os res-
pondentes possuem duas características principais: são involuntários e são controlados
pelos eventos que os precedem. Como exemplos têm-se: a luz forte contra os olhos e a
contração da pupila, o balançar da perna em resposta a uma batida no tendão patelar,
transpirar em resposta ao calor e salivação em resposta ao alimento. (REESE, 1978)
Condicionamento respondente é, portanto, quando um novo estímulo ad-
quire a capacidade de evocar um respondente. Uma resposta é condicionada no
momento em que se torna associada a um estímulo que anteriormente não a pro-
vocava. Assim, para se classificar o condicionamento respondente, pode-se dizer
que os elementos são os que se seguem:
• EI (estímulo incondicionado);
• RI (resposta incondicionada);
• EN (estímulo neutro);
• EC (estímulo condicionado);
• RC (resposta condicionada).
capítulo 1 • 11
Vale lembrar que o incondicionado é sempre da ordem da necessidade, do bioló-
gico; já o condicionado relaciona-se com aprendido, ensinado (SAHAKIAN, 1980).
A partir daí, então, um estímulo não condicionado (por exemplo, alimento), pro-
duz uma resposta não condicionada (por exemplo, salivação); a associação repetida de
um estímulo neutro (por exemplo, uma campainha) com um estímulo não condiciona-
do resulta, por sua vez, no aparecimento de uma resposta condicionada (SAHAKIAN,
1980). Nota-se, assim, que o condicionamento só tem possibilidade de ocorrer se houver
associação ou vínculo entre a comida e a campainha (SCHULTZ, 1988).
O condicionamento apresenta-se, então, como um processo associativo em
que há a formação de uma ligação funcional entre um estímulo (neutro) e uma
resposta (não condicionada), inicialmente independentes. A formação dessa liga-
ção obedece a algumas regras fundamentais. (EHRLICH, 1979)
Primeiro, o estímulo neutro e o estímulo não condicionado devem aparecer
em contiguidade temporal, simultaneamente ou sucessivamente. Se for o último
caso, o estímulo neutro deve preceder o estímulo não condicionado, segundo um
intervalo que pode ser variável, mas cujo valor não deve ultrapassar alguns segun-
dos. Não é possível obter um condicionamento numa condição em que o estímulo
não condicionado preceda o estímulo neutro. (EHRLICH, 1979)
Em segundo lugar, a apresentação conjunta do estímulo neutro e do estímulo
não condicionado deve ser repetida no decurso de uma prova composta de vários
ensaios. Mas essa regra não é geral, e são conhecidos casos, especialmente no ho-
mem, em que um único estímulo neutro e um estímulo não condicionado bastam
para o estabelecimento do condicionamento. (EHRLICH, 1979)
O estímulo não condicionado desempenha o papel de agente de reforço. Logo,
sua presença é indispensável para que ocorra o condicionamento. O reforço é um
efeito do estímulo não condicionado sobre a capacidade do estímulo neutro para
provocar a resposta não condicionada; em outras palavras, a presença do estímulo
estabelece e aumenta a força da ligação condicionada entre o estímulo neutro e a
resposta não condicionada. (EHRLICH, 1979)
Neste sentido, observa-se que nenhuma teoria da aprendizagem pode deixar de con-
siderar o trabalho de Pavlov. Após ter concluído sua teoria sobre o condicionamento, o
autor foi de grande importância para os estudos da aprendizagem, à medida que deu
base para a observação da possibilidade de haver aprendizagem por condicionamento. O
condicionamento é, assim, o meio pelo qual se aprende. (GARRETT, 1966)
Essa descoberta abriu caminho para o desenvolvimento da reflexologia e da psico-
logia comportamental, e mostrou ter ampla aplicação prática, inclusive no tratamento
de fobias, nos anúncios publicitários, aplicações da medicina e ciências cognitivas.
capítulo 1 • 12
Vladimir M. Bechterev (1857 – 1927)
capítulo 1 • 13
Figura 1.6 – Fonte: http://bit.ly/2slEhIg
Além disso, ele é popular por sua competição com Ivan Pavlov sobre o estudo
dos reflexos condicionados.
capítulo 1 • 14
Psicólogo americano que teve seu interesse despertado pela ciência após a leitura
dos Princípios de Psicologia, de Willian James, quando fazia graduação na Universidade
Wesleyan em Middletown, Connecticut. Mais tarde, estudou com James em Harvard,
onde iniciou suas pesquisas em aprendizagem. (SCHULTZ, 1998)
Foi um dos primeiros a realizar, experimentalmente, o estudo a respeito da
aprendizagem animal, estudando o comportamento manifesto, desenvolvendo
uma teoria objetiva, mecanicista, quantitativa e determinística. Logo, criou uma
abordagem experimental do associacionismo, à qual deu nome de Conexionismo.
(MARX; HILLIX, 1978)
Reforçando a tendência funcionalista, enfatizou ser a psicologia o estudo das
conexões ou vínculos E -> R. Considerava a passividade do organismo às pres-
sões externas, sendo a aprendizagem interpretada em termos de ligações concre-
tas entre estímulos e respostas, com mínimas referências à consciência. (MARX;
HILLIX, 1978; SCHULTZ, 1988)
A sua teoria desenvolvida em 1898 afirma que a fixação das conexões E -> R
depende também dos efeitos que acompanham tais respostas, e não apenas do fato
de ocorrerem conjuntamente.(HILL, 1981) Ou seja:
capítulo 1 • 15
dela, como recompensa. Thorndike percebeu que, inicialmente, os comporta-
mentos do animal eram gerais e caóticos; até que, acidentalmente, conseguia
abrir a porta. Nas tentativas seguintes, o animal exibia cada vez com menor
frequência tais comportamentos caóticos, conseguindo abrir a porta assim que
colocado na caixa.
capítulo 1 • 16
Hermann Ebbinghaus (1850 – 1909)
capítulo 1 • 17
Figura 1.10 – Fonte: http://bit.ly/2rzfyxl
capítulo 1 • 18
Watson, como primeiro promotor-fundador da psicologia, propôs-se delibe-
radamente fundar uma nova escola de pensamento. (SCHULTZ, 1988)
capítulo 1 • 19
Por estímulo, entendemos qualquer objeto no meio geral ou qualquer
mudança nos próprios tecidos devida à condição fisiológica do animal,
como a mudança que obtemos quando se impede a atividade sexual
do animal, quando o impedimos de comer ou de construir um ninho.
Por resposta, entendemos tudo o que o animal faça – como a reação
de se aproximar ou se afastar de uma luz, saltar quando escuta um som
e as atividades mais altamente organizadas, como edificar um arranha-
céu, traçar planos, ter filhos, escrever livros. (WATSON, 1925, p. 6 e 7
apud MARX; HILLIX, 1978)
capítulo 1 • 20
movimentos musculares; portanto, é basicamente redutível a processos físico-
-químicos; (3) existe uma resposta imediata, de alguma espécie, a todo e qual-
quer estímulo eficaz; toda e qualquer resposta tem alguma espécie de estímulo.
Assim, existe no comportamento um rigoroso determinismo de causa e efeito;
(4) os processos conscientes, se é que existem, não podem ser cientificamente es-
tudados; as alegações sobre a consciência representam tendências sobrenaturais
e, como remanescentes das fases teológicas e pré-científicas da psicologia, devem
ser ignoradas. (MARX; HILLIX, 1978)
É de se sublinhar que Watson atribuía grande importância à influência do
meio sobre o organismo. O desempenho dependia do modo como o meio atuava
sobre as conexões herdadas E -> R. Ao enfatizar a ressalta aos fatores ambientais,
Watson assinalou a grande variedade de características e hábitos humanos associa-
dos a diferentes climas e culturas. (MARX; HILLIX, 1978)
Vale acrescentar que Watson, muitas vezes, é chamado de behaviorista meto-
dológico. Pode ser assim considerado porque ele introduziu o método científico
em função de uma necessidade de estudo de um objeto objetivo. A psicologia
como a ciência do comportamento deve tratar unicamente de atos que podem ser
descritos objetivamente em termos de estímulo e resposta, formação de hábitos
etc. Todo o comportamento humano pode ser descrito nesses termos sem recorrer
a conceitos e terminologias mentalistas. (SCHULTZ, 1988) Ele cita que é possível
estudar o comportamento do homem com tanta objetividade como se estuda o
comportamento de máquinas. (HILL, 1981)
Por fim, cabe aqui uma nota sobre seu trabalho experimental. Embora os
primeiros estudos de Watson se relacionassem com problemas animais, o melhor
exemplo de seu programa behaviorista experimental é, provavelmente, a pesquisa
que realizou sobre o condicionamento e recondicionamento das reações emocio-
nais em crianças pequenas. Esse trabalho também representa o melhor exemplo
da aplicação da técnica de condicionamento por qualquer dos primeiros behavio-
ristas clássicos. (MARX; HILLIX, 1978)
capítulo 1 • 21
Wolfgang Köhler (1887 – 1967)
capítulo 1 • 22
Com esse trabalho, Köhler descobriu a aprendizagem por “insight” através
de pesquisas sobre soluções inteligentes de problemas. Visto que sua interpre-
tação de aprendizagem tende a ser apresentada na terminologia da percepção,
enfatizou-a com reestruturações perceptivas, relações e soluções imediatas, sendo
o modo como ocorrem tais reestruturações o foco de interesse da teoria gestaltista
da aprendizagem. (HILL, 1981) Köhler sugere que a teoria da Gestalt consistia em
uma lei geral da natureza que pode ser amplamente aplicada em todas as ciências.
capítulo 1 • 23
Hull organizou suas variáveis intervenientes num esquema preditivo de qua-
tro estágios. O primeiro estágio consistia nas variáveis independentes a partir das
quais fazia a predição; o segundo e terceiro estágios, nas variáveis intervenientes
que estabelecem a conexão entre as variáveis independentes e dependentes; a quar-
ta fase, nas variáveis dependentes para as quais fazia a predição. Dessa maneira,
esquematicamente obtém-se:
capítulo 1 • 24
Tolman ensinava psicologia comparada fazendo pesquisas com ratos, quan-
do começou a ficar insatisfeito com o behaviorismo watsoniano. (SCHULTZ;
SCHULTZ, 1998) Logo, selecionando o que havia de melhor no comportamen-
talismo de Watson, acrescentou-lhe suas próprias contribuições, desenvolvendo
uma interpretação do comportamento como intencional, num sistema que repre-
senta uma combinação paradoxal entre elementos importantes do behaviorismo e
da psicologia da Gestalt. (MARX; HILLIX, 1978)
Seu sistema se constituiu em dar à teoria cognitiva uma conexão tão estreita
com os estímulos externos e com a aprendizagem quanto os da teoria conexionista
possui. (HILL, 1981)
Ao mesmo tempo em que Tolman ficou impressionado com a objetividade da
escola behaviorista, achou que demonstrava interesse muito reduzido pelos aspec-
tos cognitivos do comportamento.
É claro que, tal como Watson, ele rejeitava vigorosamente a introspecção; e
toda a referência a processos conscientes em seu sistema era vazada em termos
de cautelosas inferências a partir do comportamento observável. Por outro lado,
Tolman não era watsoniano em dois aspectos: não se preocupava com unidades
elementares do comportamento; focava o comportamento molar – as ações de
resposta total do organismo inteiro. (SCHULTZ; SCHULTZ, 1998) Uma ação
molar é formada de numerosos movimentos moleculares. (HILL, 1981)
Num segundo aspecto, e principal base do sistema de Tolman, a noção de
comportamento intencional configura a grande diferença entre os dois. Todo
comportamento se orienta para a realização de um objetivo, para a aprendizagem
dos meios destinados a um fim. (SCHULTZ; SCHULTZ, 1998) Os estímulos,
naturalmente, orientam-nos em direção ao objetivo, mas a busca desse objetivo
é o que confere unidade e significado a nosso comportamento. (HILL, 1981) O
fato da aprendizagem é uma prova comportamental altamente objetiva de inten-
ção. Tolman se ocupa da resposta do organismo e que suas medidas referem-se
às modificações no comportamento de resposta como função da aprendizagem.
(SCHULTZ; SCHULTZ, 1998)
Podemos dizer então que o sistema de Tolman é chamado de behaviorismo
intencional, porque estuda o comportamento tal como este se organiza em torno
de propósitos ou intenções. (HILL, 1981)
capítulo 1 • 25
Jean Piaget (1896 – 1980)
capítulo 1 • 26
um organismo que vai amadurecer em contato com o meio ambiente. Dessa in-
teração organismo/meio, resultarão determinadas estruturas cognitivas que vão
funcionar de modo semelhante durante toda a vida do sujeito. Esse modo de
funcionamento, que constitui para Piaget uma herança biológica, permanece es-
sencialmente constante durante toda a vida. Note-se que o sujeito herda a con-
dição de capacidade para a aprendizagem e o desempenho, mas a plena realiza-
ção dessas capacidades depende das condições que o meio ambiente irá oferecer.
(RAPPAPORT et al., 1981)
Ainda atentos ao aspecto biológico, é de se afirmar que a maturação do orga-
nismo (basicamente do sistema nervoso central) vai contribuir de forma decisiva
para que apareçam essas novas estruturas mentais que proporcionam a possibilida-
de de adaptação cada vez melhor ao ambiente. (RAPPAPORT et al., 1981)
Tomando-se uma classificação decorrente da identificação das variáveis interve-
nientes postuladas, pode-se dizer que o cognitivista usa como variável interveniente
predileta o que se chama esquema. Os esquemas estão em constante modificação;
o processo pelo qual se modificam é conhecido como acomodação. (HILL, 1981)
Mais comum ainda que a acomodação é o processo contrário pelo qual os
esquemas influenciam a interpretação das experiências. Esse processo é conhecido
como assimilação. (HILL, 1981) Em síntese, os esquemas incorporam as coisas
e pessoas à atividade própria do sujeito, isto é, assimilam o mundo exterior às
estruturas já construídas; reajustam estas últimas em função das transformações
ocorridas, ou seja, acomoda-as aos objetos externos. Adaptação é o equilíbrio des-
sas assimilações e acomodações. (PIAGET, 1995)
capítulo 1 • 27
Ao longo de sua vida, Piaget observou que existem formas diferentes de interagir
com o ambiente nas diversas faixas etárias. O modelo de desenvolvimento do pro-
cesso cognitivo compreende os seguintes estágios: (1) período sensório-motor – de 0
a 2 anos; (2) período pré-operacional ou pré-operatório – de 2 a 7 anos; (3) período
das operações concretas – de 7 a 11 anos; (4) período das operações formais – de
11,12 a 14, 15 anos. (SAHAKIAN, 1980) Cada um desses estágios representa, em
relação ao anterior, um aumento da capacidade do indivíduo de pensar abstrata-
mente, predizer o mundo corretamente, explicar exatamente as razões das coisas e,
de um modo geral, lidar intelectualmente com o mundo. (HILL, 1981)
A relação da teoria de Piaget com a aprendizagem pode ser fundamentada na
seguinte afirmação: chama-se então aprendizagem a aquisição assim distinta da
maturação. No sentido mais amplo, a aprendizagem é um processo adaptativo
se desenvolvendo no tempo, em função de certas respostas dadas pelo sujeito a
um conjunto de estímulos anteriores e atuais. (PIAGET, 1974) Na concepção de
que o autor nos deu subsídios para saber quais os processos mentais envolvidos
numa dada situação de resolução de problemas e quais os processos que ocorrem
na criança para possibilitar aquele tipo de atuação, a relação de sua teoria com a
aprendizagem tem caráter de muita proximidade. A partir das suas descobertas,
Piaget nos deu possibilidade de compreender como o indivíduo conhece o mun-
do, como ele aprende a aprender. (RAPPAPORT, et al., 1981)
capítulo 1 • 28
Skinner (1981) e seu sistema representavam uma renovação do pensamento
watsoniano, sobre o qual não apenas estudou a relação do estímulo com a respos-
ta, mas principalmente descreveu a relação da resposta com o reforço a partir de
um comportamentalismo radical.
Skinner (1981) nunca objetivou explicar o comportamento, pois, a partir da
observação, o que era possível ser feito era meramente descrever as relações funcio-
nais entre as estimulações que afetam o organismo e a resposta decorrente.
Diferentemente dos neobehavioristas, não formulou hipóteses, postulados,
teoremas ou construiu variáveis intervenientes, assim como não manifestou ne-
nhum interesse em investigar a respeito do que ocorre no interior do organismo.
Quaisquer uns desses recursos teóricos são dispensáveis a uma análise do compor-
tamento nos moldes skinnerianos, pois que não se constituem em dados objetivos.
Deste ponto de vista, o organismo se comporta em função das forças do ambiente.
As diferenças em relação à teoria hulliana são muito significativas, tendo em
vista que esta importava-se com a teorização e a verificação empírica de conclusões
deduzidas. No sistema de Skinner, não havia um referencial teórico na realização
de pesquisas, que eram conduzidas seguindo o método indutivo, elaborando ge-
neralizações conjeturais.
Esta explicação não só veio como explicação alternativa ao conceito de im-
pulso, como também ao conceito de incentivo, no que se refere à explicação do
movimento do comportamento.
Não se fazia necessária a utilização de variáveis como o drive (D) ou a motiva-
ção de incentivo (K) para explicar o comportamento, pois suas propriedades são
produto das condições existentes contingentes ao reforço.
Skinner (1981) considerava não haver necessidade de uma explicação mo-
tivacional para o entendimento do comportamento aprendido, pois para haver
aprendizagem bastavam os mecanismos associativos. O conceito energizador foi
colocado de lado e substituído por mecanismos de associação. Considerava que
motivação era o próprio reforço, e o que garantia o “movimento” do compor-
tamento era o fato de o organismo ao se comportar e ser reforçado repetir tal
comportamento em situação semelhante, visando com isso a obtenção de tal re-
forçador. A busca deste reforçador é motivadora.
Assim, nesta perspectiva, motivação e reforço são equivalentes. Portanto, o
reforço foi definido como tudo aquilo que aumenta a probabilidade de recorrência
de uma resposta.
capítulo 1 • 29
O reforço, na concepção do behaviorismo radical de Skinner ou, como é cha-
mado, análise experimental do comportamento refere-se a algo que, se removido
ou introduzido, fortalece o comportamento antecessor. Eles podem ser positivos,
negativos, primários ou secundários e devem ser definidos de acordo com sua uti-
lização nas diversas aplicações do processo de aprendizagem.
Os reforçadores podem ser positivos ou negativos. Os primeiros referem-
-se à apresentação de algo agradável para o sujeito logo imediatamente após a
emissão de uma resposta, e o reforçador negativo implica a remoção de algo,
o que para o sujeito é desagradável ou aversivo. Vale lembrar que o agente
reforçador não se define por suas características físicas, mas por sua utilização
em um arranjo experimental.
É bastante difícil definir o porque do reforço reforçar, pois, segundo Skinner
(1981), o comportamento especificado pode na verdade ser um outro produto do
efeito reforçador.
capítulo 1 • 30
Figura 1.19 – Fonte: http://bit.ly/2rMtJmM
capítulo 1 • 31
consequentes e que de alguma forma estão vinculados a um estado de necessidade.
Pressupõe-se que haja um fator temporal que produza essa necessidade, um tempo
sem comida, sem ingestão de líquido, sem atividade sexual, sem atividade gregária
ou um agente doloroso. Portanto, a historicidade se faz presente.
Os motivos ou os movimentos são possibilitados por “mecanismos de víncu-
lo” entre estímulos e respostas ou pela formação de hábito, a partir de uma prática
reforçada. Desta forma, não há uma diferença significativa entre o comportamen-
to de seres animados e de seres inanimados, pois que se estimulados desenvolvem
um mecanismo para responder, tornando seus comportamentos previsíveis.
Os conceitos de estímulo, resposta, impulso, incentivo e reforço são conceitos
que de certa forma são definidos operacionalmente, o que facilita a possibilidade
de uma redução no sentido de conduzi-los no seu sentido explicativo, ou melhor,
reporta-los a sua origem e a sua função.
Cabe aqui esclarecer que, diante destas necessidades, a visão de homem é histó-
rica e os agentes dessas necessidades são sempre geradores que independem da von-
tade do homem. É evidente que as críticas que se fazem a essas teorias colocam em
questão o conceito de autonomia e liberdade do homem, chegando alguns autores
a assinalar que o homem é tido como mecânico e desprovido de atividade própria.
ATIVIDADE
Associe a coluna dos autores à sua principal contribuição no estudo da aprendizagem:
capítulo 1 • 32
F. Princípio da frequência de associa-
6. John Broadus Watson
ções como condição da recordação
GABARITO
1- G, 2- H, 3- E, 4- I, 5- F, 6- C, 7- K, 8- J, 9- D, 10- B, 11- A.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARANHA, M. L. A.; MARTINS, M. H. P. Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo: Moderna, 1993.
EHRLICH, S. Aprendizagem e memória humanas. Rio de Janeiro: Zahar, 1979.
FADIMAN, J. & FRAGER, R. Teorias da personalidade. São Paulo: Harbra, 1986.
GARRETT, H. E. Grandes experimentos da psicologia. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1966.
HEIDBREDER, E. Psicologias do século XX. São Paulo: Mestre Jou, 1975.
HILGARD, E. R. Teorias da aprendizagem. São Paulo: Pedagógica e Universitária, 1975.
HILL, W. F. Aprendizagem. Rio de Janeiro: Guanabara Dois, 1981.
MARX, M. H. & HILLIX, W. A. Sistemas e teorias em psicologia. São Paulo: Cultrix, 1978.
PAVLOV, I. P. Pavlov: obras escolhidas. São Paulo: Hemus, 1970.
capítulo 1 • 33
PIAGET, J. Aprendizagem e conhecimento. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1974.
_______ Seis estudos de psicologia. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1995.
RAPPAPORT, C. R. et al. Psicologia do desenvolvimento. São Paulo: Pedagógica e Universitária, 1981.
SAHAKIAN, W. S. Aprendizagem: sistemas, modelos e teorias. Rio de Janeiro: Interamericana, 1980.
REESE, E. P. Análise do comportamento humano. Rio de Janeiro: José Olympio, 1978.
SCHULTZ, D. História da psicologia moderna. São Paulo: Cultrix, 1988.
SCHULTZ, D. P. & Schultz, S. E. História da psicologia moderna. São Paulo: Cultrix, 1998.
SKINNER, B. F. Ciência e comportamento humano. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
capítulo 1 • 34
2
Condicionamento e
controle aversivo do
comportamento
Condicionamento e controle
aversivo do comportamento
OBJETIVOS
• Apresentar os conceitos de aprendizagem supersticiosa e desamparo aprendido;
• Destacar as principais diferenças conceituais dos conceitos de punição e reforço negativo.
capítulo 2 • 36
Condicionamento e controle aversivo do comportamento
capítulo 2 • 37
Para que haja o que se chama de resposta supersticiosa, alguns pontos devem
ser considerados:
capítulo 2 • 38
comportamental pode ser reforçado intermitentemente para ser estabelecido.
Deste modo, no comportamento supersticioso o sujeito não obtendo a conse-
quência esperada continua a se comportar. Tendo em vista que as probabilidades
se encontram nas contingências, ou seja, na resposta posterior a um estímulo e
antecedente às consequências, o comportamento assume um caráter de busca so-
mente após ser reforçado.
Comportamento “supersticioso”, contudo, não é equivalente às práticas sociais
que denominamos superstições. A esse respeito, Skinner (1953) considerou que:
capítulo 2 • 39
Figura 2.2 – Fonte: Wikipédia.
AUTOR
Martin Seligman nasceu em 12 de agosto de 1942 é psicólogo estadunidense. Profes-
sor da Universidade da Pensilvânia, é ex-presidente da Associação Americana de Psico-
logia. Os experimentos e a teoria do desamparo aprendido, que notabilizaram o psicólogo,
foram amplamente criticados por sofrimento excessivo infligido a animais, especificamente
a aplicação de choques elétricos em cães, a intervalos aleatórios, até que o animal atinja um
estado de total impotência, tornando-se incapaz de agir para escapar dos choques, mesmo
quando é dada a ele a oportunidade para tal.
capítulo 2 • 40
Outro resultado que a análise de sujeito único demonstrou foi que todos os
13 participantes que na primeira fase tiveram algum padrão repetitivo de respostas
identificado, independentemente do arranjo experimental ao qual foram subme-
tidos, não apresentaram na segunda fase o efeito de desamparo aprendido. Esse
dado corrobora a suposição de Matute (1994, 1995) de que quando há compor-
tamento supersticioso na primeira fase não há o efeito do desamparo na segunda.
Matute (1995) e Matute e Miller (1998) sugerem que o comportamento supersti-
cioso pode prevenir o desenvolvimento do desamparo aprendido.
Segundo a teoria do desamparo aprendido, o efeito comportamental de de-
samparo se deve ao fato de que os sujeitos expostos a uma condição de incontro-
labilidade aprendem que suas respostas e os estímulos são independentes, e essa
aprendizagem se generaliza para novas situações futuras. (HUNZIKER, 2005) No
entanto, um conjunto de observações tem demonstrado que sujeitos expostos a
eventos incontroláveis podem se comportar de maneiras diferentes, e até opostas,
da sugerida por essa teoria: o organismo passa a se comportar “como se” estivesse
produzindo alterações ambientais que, na verdade, não dependem do que ele faz
(ANDERY; SÉRIO, 2005). Matute (1995) atribui a não ocorrência do efeito do
desamparo e o desenvolvimento de comportamento supersticioso em seus estudos
à não detecção da independência entre resposta e reforço, por parte dos sujeitos,
durante a primeira fase experimental. Entretanto, uma descrição mais precisa des-
sa explicação, do ponto de vista da análise do comportamento, seria a de que o
comportamento supersticioso é mais provável de ocorrer quando os sujeitos não
são sensíveis ao fato de que as alterações ambientais independem de suas respos-
tas, enquanto o desamparo seria mais provável quando os sujeitos são sensíveis
a esse fato. (ANDERY; SÉRIO, 2005) Partindo dessas formulações e dos dados
apresentados anteriormente, é possível afirmar que os dois fenômenos em questão
parecem, mesmo, ser antagônicos.
Em direção contrária à anterior, a hipótese do desamparo aprendido pressupõe
que o efeito obtido é fruto direto da impossibilidade de controle do ambiente: o
sujeito aprende que não existe relação entre suas respostas e os estímulos, aprendi-
zagem essa que se contrapõe à aprendizagem seguinte, que envolve contingência de
reforçamento. (MAIER; SELIGMAN; SOLOMON, 1969; MAIER; SELIGMAN,
1976) Deve-se ressaltar que a “hipótese do desamparo aprendido” extrapola a aná-
lise das relações funcionais objetivamente estabelecidas na condição experimental e
considera como críticos alguns processos cognitivos/mentalistas, inferidos a partir
dos dados. Segundo seus proponentes (MAIER; SELIGMAN; SOLOMON, 1969;
capítulo 2 • 41
MAIER; SELIGMAN, 1976), a variável independente crítica para o desamparo
não é a incontrolabilidade estabelecida experimentalmente, mas sim a expectativa
desenvolvida pelo indivíduo de que ele não pode controlar o ambiente.
Essa expectativa atuaria em diferentes níveis, promovendo um conjunto de efeitos
que comporiam o desamparo como uma síndrome, e não como um simples compor-
tamento, que abarcaria três tipos de déficits: motivacional, cognitivo e emocional.
O déficit motivacional seria, do ponto de vista descritivo, caracterizado pela
baixa probabilidade da resposta no teste. No nível interpretativo cognitivista, é
sugerido que após os choques incontroláveis o sujeito cria a expectativa de que o
reforçamento não vem, e por isso não tem motivo para emitir respostas no teste.
Por sua vez, o déficit cognitivo é objetivamente caracterizado pelo fato de o animal
não ter seu comportamento modificado pelo reforçamento negativo: mesmo que
o animal emita algumas respostas de fuga no teste e experimente que essa resposta
é seguida pelo término do choque, seu comportamento não fica sob o controle
dessa relação de consequenciação.
Segundo a interpretação cognitivista desse efeito, ele decorre de uma alteração
na forma como o sujeito processa a informação relativa à nova contingência. Seria
esse “erro de processamento”, causado pela “expectativa” de incontrolabilidade,
que o levaria a não registrar a relação de dependência que há entre suas respostas
e as mudanças no ambiente.
Por fim, o déficit emocional é caracterizado por alterações fisiológicas, tais
como mudanças do ciclo de sono e de ingestão de alimentos, imunossupressão,
entre outras. Na interpretação cognitivista, a “crença” de que o reforço não virá
produz estados alterados de emoções (ansiedade e depressão) que, por sua vez,
levam a essas alterações fisiológicas.
A hipótese do desamparo tem, portanto, dois níveis de apresentação que preci-
sam ser analisados separadamente: (1) o nível descritivo, que diz respeito aos dados
experimentais obtidos, e (2) o nível interpretativo, baseado em processos mentalistas
que são inferidos dos dados experimentais. O nível descritivo é bem estabelecido
cientificamente, permitindo previsão e controle dos comportamentos em estudo.
capítulo 2 • 42
Toda contingência em que estiver operando alguma forma de evento aversivo
será chamada de contingência coercitiva. (SIDMAN, 2003) Denominaremos de
contexto coercitivo (GUILHARDI, 2005) qualquer condição em que as relações
entre os indivíduos e o ambiente forem tipicamente de natureza coercitiva. Assim,
por exemplo, uma família em que as relações entre as pessoas se definem por
punições e comportamentos de fuga ou esquiva pode ser definida como um con-
texto coercitivo.
Em tais contextos, o controle aversivo se dá, basicamente, através de três gru-
pos de procedimentos: paradigma de ansiedade, reforçamento negativo e punição
(negativa e positiva).
No paradigma experimental de ansiedade, um estímulo (pré-aversivo) é apre-
sentado durante determinado tempo, no final do qual ocorre um evento aversivo
(choque elétrico, por exemplo) que não é contingente a nenhum comportamento
específico e que não pode ser evitado, nem adiado por nenhuma resposta parti-
cular. Tal procedimento é superposto a um esquema de reforçamento positivo
intermitente (em geral, intervalo variável), que se mantém em operação o tempo
todo. Depois de repetidas associações entre os estímulos pré-aversivo e aversivo,
programadas pelo experimentador, o sujeito experimental para de responder du-
rante o tempo de apresentação do estímulo pré-aversivo e apresenta respostas res-
pondentes (eriça os pelos, defeca, urina etc.).
No reforçamento negativo, a resposta que remove um estímulo determinado
aumenta de frequência. A resposta é chamada de fuga, quando remove o estímulo
presente, e é chamada de esquiva, quando impede o aparecimento do estímulo. O
estímulo que fortalece as respostas que o removem ou que impedem a sua apresen-
tação é chamado de reforço negativo ou estímulo aversivo.
A punição é um conceito mais complexo e suscita discussões desde a própria
definição do termo até os efeitos que o procedimento produz:
capítulo 2 • 43
Catania (1999) está entre os autores que definem punição pelo procedimento
e pela mudança comportamental que produz, assim:
Para outros autores, a punição se define pelo procedimento, não pelos efeitos:
“Devemos primeiro definir “punição” sem pressupor efeito algum”. (SKINNER,
1967, p. 109) E, mais adiante, o mesmo autor acrescenta:
ATIVIDADE
Prezado acadêmico, realize a leitura do texto abaixo e desenvolva uma redação dissertativa
com no mínimo 15 linhas sobre o tema “Ética e o tratamento aversivo na pesquisa com seres vivos”.
capítulo 2 • 44
POSIÇÃO DE B. F. SKINNER SOBRE TRATAMENTO AVERSIVO1
James C. Griffin
(Richmond State School – Richmond, Texas)
Timothy J. Palsey
(Connecticut Department of Mental Retardation Region 5)
Mary T. Stark e Joseph H. Emerson
(Richmond State School)
Em setembro de 1987, uma entrevista com B. F. Skinner, gravada em vídeo e editada, foi
apresentada no segundo Simpósio Anual sobre o Avanço da Tecnologia Comportamental Não
Aversiva. Subsequentemente, apareceram artigos anunciando que Skinner se opunha ao uso
da punição. Numa carta de resposta à pergunta do autor principal, a respeito de sua posição
sobre o tratamento aversivo ao lidar com problemas de comportamento, Skinner afirmou: “Fi-
quei constrangido pela forma como meu nome foi usado por aqueles que se opõem a todas as
formas de tratamento aversivo para lidar com problemas de comportamento, não importando
quão severos.” A resposta de Skinner é apresentada aqui em sua totalidade.
____________________________________________________________________________
A posição de Skinner
Tendo em vista a importância atual do tema da não aversividade, pedimos a Skinner que
registrasse sua posição por escrito. Nossa intenção era compartilhar a posição dele com pro-
fissionais que prestavam serviços a indivíduos com comportamento severamente inadaptado.
Eis aqui a resposta de Skinner em 25 de janeiro de 1988:
1 Publicado na American Journal on Mental Retardation, 93, Seção “Readers Reactions”, pp.104-105. Traduzido
por Noreen Campbell de Aguirre para uso exclusivo dos alunos do Instituto de Terapia por Contingências de
Reforçamento, Campinas – SP. Disponível em: http://bit.ly/2toXhnH
capítulo 2 • 45
Fiquei constrangido pela forma como meu nome foi usado por aqueles que se opõem a
todas as formas de tratamento aversivo para lidar com problemas de comportamento, não
importando quão severos, e preparei a seguinte declaração sobre minha verdadeira posição:
O uso da punição tem sido amplamente debatido, especialmente em conexão com
educação e terapia. Frequentemente se tem dito que me oponho a todas as formas de
punição e eu gostaria de fazer a seguinte correção.
A punição geralmente é usada a favor do punidor, mas há exceções e elas às vezes podem
ser justificadas. Algumas crianças autistas, por exemplo, ferem a si próprias seriamente
ou se engajam em outros comportamentos excessivos, a menos que sejam medicadas ou
contidas, e outros tratamentos são então virtualmente impossíveis. Caso estímulos aversivos
breves e inofensivos, usados de maneira precisamente contingente a comportamento
autodestrutivo ou outro comportamento excessivo, suprimam o comportamento e deixem a
criança livre para se desenvolver de outras maneiras, acredito que possam ser justificados.
Quando considerados fora do contexto, tais estímulos podem parecer pouco humanos,
mas não devem ser diferenciados dos muito mais dolorosos estímulos por vezes
necessários na odontologia e em diversas práticas médicas. O verdadeiro erro consiste
em se satisfazer com a punição, sem explorar alternativas não punitivas.
Exceto no acasalamento e no cuidado com a prole, o comportamento social dos animais
é quase todo ele punitivo. O território e outras posses são defendidos através da força
ou da ameaça de força. Presumivelmente, isso também já valeu para a espécie humana,
e aqueles que têm poder para tratar os outros aversivamente muitas vezes ainda o
fazem. Há consequências indesejáveis, incluindo a fuga e o contra-ataque.
A alternativa é o reforçamento positivo. Se comparado ao reforçamento negativo ou à punição,
seu efeito é um tanto atrasado e, portanto, não tão facilmente aprendido. O atraso é tão crítico
que outras espécies não usam o reforçamento positivo. Os animais fazem muitas coisas que
reforçam o comportamento de outros, mas não porque seja uma consequência reforçadora.
Não há dúvidas quanto aos ganhos alcançados por práticas que são singularmente (e
bem apropriadamente chamados de) humanas, mas isso ainda está no início. Leis éticas,
religiosas e governamentais são basicamente punitivas, especialmente quando destinadas
a restringir comportamento aversivo. As exceções que dão testemunho da singularidade
do comportamento humano são raras. Ainda não descobrimos práticas não punitivas
adequadas para substituir a parte aversiva de nossa herança genética. Por exemplo:
estamos longe de abandonar o uso da força nas relações internacionais ou na manutenção
da ordem doméstica. Pessoas que convivem em proximidade, e isso inclui professores e
alunos, terapeutas e clientes, dificilmente conseguem evitar todas as formas de punição.
capítulo 2 • 46
Acredito que não há mais qualquer utilidade para a punição corporal nas escolas e muito
há a se ganhar com sua supressão. Sobre outras formas de punição, então, a questão
principal é a intensidade. Uma punição severa demais pelo atraso na entrega de um
trabalho estaria bem aquém de adequada no caso de quem traz uma arma de fogo ou
uma faca à sala de aula.
Fico orgulhoso do sucesso que temos alcançado em encontrar muitas alternativas à
punição e lastimo que esta controvérsia talvez venha a renovar a visão de que behaviorismo
significa punição. Ele é, creio eu, a única esperança para a eventual eliminação do controle
punitivo em todas as áreas.
Discussão
Ainda que Skinner não tenha usado o jargão associado ao campo do retardo mental,
sua mensagem nos parece razoável. Como Skinner, não escolhemos “nos satisfazer com
a punição sem explorar alternativas não punitivas” e “nos orgulhamos do sucesso que te-
mos alcançado em encontrar muitas alternativas à punição”. Procedimentos não aversivos
para a supressão de comportamento que representa potencial ameaça à vida devem ser
procurados, como têm sido há décadas. Até que alternativas não aversivas empiricamente
embasadas tenham demonstrado suprimir todas as formas de comportamento inadaptado,
os procedimentos aversivos devem ser mantidos como tratamentos de último recurso. Orga-
nizações profissionais, agências reguladoras e entidades governamentais devem apoiar o di-
reito da equipe interdisciplinar de cada cliente a determinar ou não o uso de terapia aversiva.
Checagens e avaliações adequadas, na forma de comitês de direitos humanos e de revisão
de programas, devem monitorar se os direitos dos clientes são respeitados nas decisões.
Opositores e proponentes de procedimentos aversivos têm em comum o objetivo de su-
primir comportamentos inadaptados com o mínimo de procedimentos restritivos. Concordamos
com Skinner que “não há dúvidas quanto aos ganhos alcançados por práticas que são singular-
mente (e bem apropriadamente chamadas de) humanas, mas isso ainda está no início”.
capítulo 2 • 47
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capítulo 2 • 49
capítulo 2 • 50
3
Aprendizagem
e cognição
Aprendizagem e cognição
É possível afirmar que a principal contribuição das teorias cognitivas foi per-
mitir um maior nível de compreensão sobre como as pessoas aprendem, partindo
do princípio de que essa aprendizagem é resultado da construção de um esquema
de representações mentais que se dá a partir da participação ativa do sujeito e que
resulta, em linhas gerais, no processamento de informações que serão internaliza-
das e transformadas em conhecimento.
Em conjunto, Köhler, Tolman e Bandura chamaram a atenção para os aspe-
tos mais cognitivos da aprendizagem, trazendo uma abordagem complementar
à proposta de Pavlov, Thorndike, Skinner e Watson. Na verdade, no dia a dia as
perspectivas comportamental e cognitiva são fundamentais. Enquanto na apren-
dizagem comportamental o enfoque está apenas nos eventos observáveis (estímulo
e resposta), na aprendizagem cognitiva são realizadas inferências sobre os proces-
sos mentais que não são diretamente observáveis (por exemplo, mapas mentais de
um labirinto). No primeiro caso, a aprendizagem resulta da associação entre estí-
mulos e respostas; no segundo caso, a aprendizagem decorre do processamento da
informação (isto é, o aprendiz procura a informação mais relevante do estímulo).
capítulo 3 • 52
A seguir, vamos aprofundar o estudo sobre o modelo cognitivo de aprendiza-
gem, com destaque aos trabalhos de Köhler, Tolman e Bandura.
OBJETIVOS
• Explicar o modelo cognitivo de aprendizagem;
• Apresentar a teoria dos insights;
• Apresentar a teoria da aprendizagem latente;
• Destacar a teoria cognitiva da aprendizagem e o desengajamento moral.
capítulo 3 • 53
Aprendizagem por insights – Wolfgang Köhler
capítulo 3 • 54
da figura se elucida. A esse fenômeno é dado o nome de insight. O termo designa
uma compreensão imediata e súbita
Para Köhler, “o termo insight refere-se à dinâmica experimentada nos campos
emocional e de motivação, não menos que à determinação experimentada em si-
tuações intelectuais”. “Na experiência comum, nada pode ser mais evidente que o
discernimento (insight), isto é, a consciência de determinação”. (KÖHLER, 1968
[1947], p. 195)
capítulo 3 • 55
Teoria cognitiva social da aprendizagem: as contribuições de Bandura
capítulo 3 • 56
Esse aprendizado frequentemente não se restringe a imitar, uma vez que passa a se
identificar com a pessoa-modelo. Para Bandura, imitar envolve um comportamento
e objetos restritos, enquanto identificar-se envolve adotar e reconhecer-se nos com-
portamentos, valores, crenças e atitudes observados da pessoa-modelo. Identificar-se
amplia o comportamento observado para diversos outros objetos animados e ina-
nimados (generalização), enquanto imitar é muito mais restrito. (McLEOD, 2011)
Albert Bandura também enfatiza os conceitos de personalidade que reconhe-
cem a importância do contexto social, assim como descreve as variáveis cogniti-
vas que a descrevem e predizem o comportamento (CLONINGER, 1999). Para
Bandura, os seres humanos são flexíveis nas formas de aprender. Por isso, o teórico
entende que a aprendizagem pode ser ativa ou por observação.
A aprendizagem ativa ocorre por meio de experiências diretas, que são com-
portamentos apresentados com suas respectivas consequências. Logo, a aprendi-
zagem ativa ocorre mediante a reflexão do comportamento e da avaliação das suas
consequências. As consequências dos comportamentos, por sua vez, têm como
funções informar os efeitos das ações, motivar comportamentos antecipadamente
e reforçá-los. (FEIST; FEIST, 2008)
A aprendizagem por observação, meio pelo qual advém a maior parte das apren-
dizagens, ocorre por meio da observação de comportamentos de outras pessoas que
fornecem experiências indiretas (vicárias) e tem como consequência reforços vicá-
rios. Esses, por sua vez, possibilitam que indivíduos sejam reforçados ao observar
uma pessoa sendo reforçada. Segundo Bandura, todos os fenômenos que ocorrem
por meio de experiências diretas podem também ocorrer de forma vicariante. Ele ex-
plica que por reforço vicariante entende-se o aprendizado a partir da observação de
outras pessoas e das consequências geradas ou obtidas por elas. Por esta abordagem
sua teoria também é conhecida como aprendizagem observacional.
Nesse sentido, Bandura destaca que os reforços diretos não são essenciais à
aprendizagem, apesar de fornecerem incentivos ao desempenho. (CLONINGER,
1999) Dessa forma, a aprendizagem por observação pode ser considerada mais
eficiente, já que não expõe os indivíduos a reforços ou punições e, assim, evitam
que o processo cognitivo e o desenvolvimento social sejam atrasados.
A aprendizagem por observação ocorre por meio do processo denominado de
modelação, no qual a observação é seguida por um processo cognitivo, o que implica
dizer que esse tipo de aprendizagem não é uma pura imitação, já que necessita de re-
presentações simbólicas peculiares a cada indivíduo e situação. A modelação depen-
de das consequências do comportamento, das características do modelo observado e
capítulo 3 • 57
do observador. Assim, esse processo envolve mecanismos de atenção, representação,
produção comportamental e motivação. (FEIST; FEIST, 2008)
Em relação à atenção, há uma maior tendência a observar indivíduos com
os quais se tem mais contato, modelos atraentes e comportamentos de natureza
que se considera importante ou valiosa. Assim, o processo de atenção ocorre de
acordo com as características do modelo, afetividade que desperta, a prevalência
com é visto, a complexidade e o valor funcional do comportamento, a capacidade
sensorial do observador, seu nível de excitação, motivação, sua percepção e os re-
forços recebidos no passado. (BANDURA, 1986 apud CLONINGER, 1999) A
representação, também chamada de processo de retenção, é necessária à obtenção
de novos padrões de reação, pois o que é observado deve ser representado simbo-
licamente na memória e, para ser mais eficiente, necessita da codificação verbal.
(CLONINGER, 1999; FEIST; FEIST, 2008)
Depois de reter o comportamento e ensaiar cognitivamente, reproduz-se o
comportamento na produção comportamental ou processo de reprodução mo-
tora. A aprendizagem é mais eficaz quando existe motivação, e isso se traduz no
desempenho em realizar um comportamento. A motivação pode ocorrer por meio
de reforços externos, vicariantes ou por interiorização de processos motivacionais.
(CLONINGER, 1999)
REFLEXÃO
Muitas são as lembranças das coisas que aprendemos observando outras pessoas. Bus-
que em sua memória exemplos de regras e conceitos que você aprendeu por meio da obser-
vação. Em seguida, reflita como eles aconteceram.
COMENTÁRIO
Nesta questão, você deve ter resgatado de sua memória regras que não foram explica-
das de forma clara, mas que você aprendeu observando. Por exemplo, a forma como deve-
mos agir em sala de aula é aprendida com a observação. Dizem que devemos nos comportar
e prestar atenção às explicações do professor. Mas como é “nos comportar”? Chegamos e
observamos, vamos fazendo o que a maioria faz. Algumas regras que aprendemos são ini-
bidas na presença dos pais. Por exemplo, em uma festinha de aniversário, se sua mãe está
capítulo 3 • 58
com você, ela diz que é para esperar que lhe sirvam o cachorro-quente, mas você sabe que a
regra é “quem atacar primeiro come mais”. Você vê os seus amigos que estão sem as mães
se lambuzarem enquanto espera o cachorro-quente que nunca chega. A mesma coisa quan-
do se quer conhecer alguém: essas regras não estão nos livros, o jeito é ver como o amigo
ou a amiga mais experiente faz.
capítulo 3 • 59
De acordo com Feist e Feist (2008), a autorregulação é a capacidade de regu-
lar os próprios comportamentos. Ela envolve estratégias reativas, responsáveis por
reduzir a discrepância entre realidade e objetivos, e as estratégias proativas, incum-
bidas de definir novos e maiores objetivos. A autorregulação é regida por fatores
externos (fornecedores de padrão de avaliação e reforçamento), e por fatores in-
ternos, que compreendem a auto-observação (monitoração do comportamento),
o processo de critério e a autorreação (produção de autorreforço e autopunição).
Conforme Zimmerman, Bandura e Martinez-Pons (1992), os aprendizes
autorregulados não são diferenciados somente por sua orientação proativa e de-
sempenho, mas também por suas capacidades automotivadoras. Schunk e Ertmer
(2000) destacam da literatura os seguintes processos envolvidos na autorregulação
da aprendizagem: estabelecer objetivos, atender regras, usar estratégias cognitivas
apropriadas, organizar o ambiente de trabalho, usar os recursos de forma eficaz,
monitorar o próprio desempenho, gerenciar o tempo disponível, buscar ajuda se
necessário, manter crenças de autoeficácia positivas, perceber o valor do aprendi-
zado, identificar os fatores que influenciam a aprendizagem, antecipar os resulta-
dos das ações e experimentar satisfação com o próprio esforço. Ainda, diante da
descrição do processo autorregulatório da aprendizagem por meio dos diferentes
modelos, denota-se que o estudante autorregulado em sua aprendizagem é aquele
que, como sintetizado por Montalvo e Torres (2004), aprendeu a planejar, contro-
lar e avaliar seus processos cognitivos, motivacionais, afetivos, comportamentais
e contextuais; possui autoconhecimento sobre o próprio modo de aprender, suas
possibilidades e limitações. Com tal conhecimento, o estudante controla e regula
o próprio processo de aprendizagem em direção aos objetivos e metas.
O processo de critério avalia o desempenho por meio da mediação cognitiva
e resultam de padrões individuais, de referência, de valores gerais e de atribuição
do desempenho. (FEIST; FEIST, 2008) Esse processo cognitivo em seu conjunto
é denominado autossistema em Hall, Lindzey e Campbell (2000) e em Cloninger
(1999). Portanto, para esses autores o processo seria dividido em auto-observação,
processo de julgamento e em autorresposta.
capítulo 3 • 60
A agência moral diz respeito ao controle exercido por padrões morais de con-
duta. O autocontrole exercido pela agência moral é ativado ou afastado seleti-
vamente por meio de mecanismos como redefinir ou reconstituir a natureza do
próprio comportamento; minimizar, ignorar ou distorcer as consequências do
comportamento; culpar ou desumanizar as vítimas; deslocar ou dispersar a res-
ponsabilidade por seus atos. (FEIST; FEIST, 2008)
A teoria da aprendizagem social tem como princípio considerar que as crian-
ças aprendem comportamentos sociais a partir da observação e imitação de mode-
los. Outra característica é que a teoria da aprendizagem social considera o aprendiz
como sujeito ativo, com isso, a pessoa atua sobre o ambiente, e em até certo ponto,
cria o ambiente. (BANDURA; POLYDORO; AZZI, 2008)
A abordagem de Bandura estuda o comportamento tal como é formado e modifica-
do em situações sociais, ou seja, na interação com outras pessoas. Reconhece a importân-
cia da cognição, considera as respostas cognitivas às percepções, em vez de respostas ba-
sicamente automáticas ao reforço ou à punição, como centrais para o desenvolvimento.
Essa imitação realizada pelas crianças no processo de aprendizagem depende do
que elas percebem que é valorizado em sua cultura. Nem sempre o reforço está presente,
e a criança pode aprender determinado tipo de comportamento na ausência de reforço
diretamente vivenciado. Com isso, aprende-se pela observação do comportamento e
das consequências deste comportamento de outra pessoa. Consequentemente, esta
capacidade de aprender pelo exemplo supõe a aptidão de antecipar e avaliar conse-
quências apenas observadas em outras pessoas e ainda não vivenciadas.
As pesquisas de Bandura sobre a autoeficácia trouxeram discussões sobre uma
forma de as pessoas enfrentarem as situações cotidianas. Essa autoeficácia seria o
sentido de autoestima ou de valor próprio de um sujeito, a sensação de adequação e
eficiência em tratar dos problemas da vida. Sujeitos com autoeficácia elevada apre-
sentam a capacidade de lidar com todos os eventos de sua vida, eles esperam superar
obstáculos e, como resultado, buscam desafios, perseveram e mantêm um alto nível
de confiança em sua aptidão para ter êxito. (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009)
A teoria da aprendizagem cognitiva social foi desenvolvida por Albert Bandura,
que estudou os processos de ensino e aprendizagem e apontou a observação de
modelos significativos como ponto determinante do ato de aprender. Descobriu
que a observação provoca efeitos cognitivos e motores que levam à construção ou
à fixação de uma informação. Entre eles, temos o efeito instrutor, efeito de inibi-
ção ou desinibição de comportamentos aprendidos, efeito de facilitação, efeito de
incremento de estímulo ambiental e efeito de ativação das emoções.
capítulo 3 • 61
Desengajamento moral em Albert Bandura
São oito os processos postulados por Bandura (1986) para explicar as ações
prejudiciais que os indivíduos realizam. Sua descrição pode ser encontrada em
todos os seus artigos sobre desengajamento moral, mas, para descrevê-los, recor-
re-se ao texto traduzido e já organizado no capítulo de Iglesias (2008), tal como
apresentado nos parágrafos que se seguem:
capítulo 3 • 62
Deslocamento de responsabilidade – recorresse à ideia de que outras
pessoas estão agindo na mesma intenção. Exemplo: “Se uma criança
está vivendo sob más condições, ela não pode ser culpada por se
comportar agressivamente”. (IGLESIAS, 2008, p. 170)
Difusão de responsabilidade – usada quando as pessoas veem suas ações
como se estivessem emergindo de pressões sociais ou de imposições dos
outros, muito mais do que algo pelo que são pessoalmente responsáveis.
Exemplo: “As crianças não podem ser culpadas por falar palavrão quando
todos os seus amigos o fazem”. (IGLESIAS, 2008, pp. 170-171)
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capítulo 3 • 64
4
Memória: tipos e
classificações
Memória: tipos e classificações
OBJETIVOS
• Compreender os estágios da memória e como funciona a memória humana;
• Aprender as diferentes classificações da memória.
capítulo 4 • 66
Classificações da memória
Estágios da memória
capítulo 4 • 67
Codificação (níveis de processamento)
AUTOR
Um dos mais renomados psicólogos do mundo, o dr. Fergus Craik contribuiu imensamen-
te para a compreensão da memória humana. Por mais de quatro décadas, sua pesquisa tem
sido instrumental em moldar nosso conhecimento sobre como funciona a memória e como
essas funções mudam à medida que envelhecemos. O enorme escopo de trabalho e lideran-
ça do Dr. Craik no campo lhe valeu as mais altas honrarias, inclusive sendo nomeado membro
da Royal Society of Canada e membro da Royal Society of London. Um dos pioneiros funda-
dores do Rotman Research Institute de Baycrest, o Dr. Craik continua a trabalhar ao lado dos
jovens cientistas de Baycrest, colaborando na pesquisa da memória humana e compartilhan-
do seu vasto conhecimento e a sua experiência com a próxima geração de mentes líderes.
capítulo 4 • 68
(aquisição de informação), armazenamento (manutenção da informação) e recupe-
ração (uso da informação que foi armazenada). (ATKINSON; SHIFFRIN, 1968)
Craik e Lockhart (1972) propõem o conceito de "níveis de processamento",
ou seja, na etapa de codificação há uma série de níveis de processamento que
vai do mais superficial (é o que a pessoa percebe inicialmente, por exemplo, as
características físicas e sensórias) ao mais profundo (relacionado com padrões de
reconhecimento e extração de significado, com maior análise semântica e cogni-
tiva do que os processamentos anteriores). O resultado desses processamentos são
os traços de memória.
Os processos envolvidos na codificação do estímulo influenciam o subsequen-
te reconhecimento, sendo que níveis de processamento mais superficiais e atenção
dividida prejudicam a evocação consciente, que não é afetada, porém, por mudan-
ças nas características perceptuais do estímulo. (GREGG; GARDINER, 1994;
YONELINAS, 2001)
Lockhart e Craik (1990) introduziram o termo "codificação robusta" para ex-
plicar que os níveis de processamento influenciam o processamento apropriado à
transferência no sentido de que um traço mais profundamente codificado torna-se
acessível a mais pistas no momento da recordação. Dessa forma, Craik (2002) afirma
que a ideia de processamento apropriado à transferência é complementar aos níveis
de processamento, ou seja, que a codificação e a recuperação estão integradas de tal
forma que os processos iniciais determinam a natureza qualitativa da característica
codificada e as codificações mais profundas são associadas com maior potencial de
recuperação em um ambiente propício ao recall. Por exemplo, quando um estu-
dante está estudando um conceito particular, ele/ela procura estabelecer associações
múltiplas consigo, construindo uma "rede semântica" larga e interconectada. Assim,
quando a recuperação é necessária (por exemplo, durante um exame), ele/ela terá
uma gama mais ampla de pistas disponíveis para recordar o conteúdo.
Como Craik (2002) apresentou, uma das principais contribuições dos níveis
de processamento é a compreensão do recall como um processo e uma atividade
da mente em oposição às ideias estruturais nas quais traços de memória são enti-
dades que devem ser pesquisadas e reativadas.
capítulo 4 • 69
Figura 4.3 – Fonte: http://bit.ly/2sAK9Mr
AUTOR
Dr. Endel Tulving é considerado por muitos como o único cientista que teve o maior im-
pacto em nossa compreensão da memória humana. Luminária internacional em psicologia
experimental, as teorias do Dr. Tulving sobre os sistemas de memória múltipla do cérebro
estabeleceram as bases para todo o campo da pesquisa da memória. Mais conhecido por
suas descobertas sobre a memória "episódica" (ou a memória de experiências pessoais e
eventos específicos no tempo), Dr. Tulving não só avançou a compreensão teórica da memó-
ria, mas teve uma tremenda influência na pesquisa de distúrbios neurológicos como acidente
vascular cerebral e doença de Alzheimer. Em 2010, o Dr. Tulving se aposentou do Rotman
Research Institute de Baycrest, mas sua influência continua a ser sentida tanto em Baycrest
quanto em todos os campos da neurociência cognitiva, psiquiatria e neurologia clínica. Dr.
Tulving foi eleito para seis academias nacionais de ciência em todo o mundo, recebeu vários
prêmios de prestígio, incluindo o Prêmio Gairdner, em 2005, e em 2006 foi nomeado como
um oficial da Ordem do Canadá.
capítulo 4 • 70
episódio, razão pela qual a memória é tão propensa a erro. Isso pode explicar o
velho ditado de que se você contar uma mentira com frequência suficiente, ela se
tornará verdade.
Memória sensorial
capítulo 4 • 71
A Memória operacional corresponde ao armazenamento temporário da infor-
mação necessária para o desempenho de diversas tarefas cognitivas, entre cálculo,
leitura, conversação e planejamento. A memória operacional é responsável pela
manipulação da informação, o que ocorre, por exemplo, em situações em que se
solicita que dígitos sejam subtraídos mentalmente de um valor determinado e que
palavras sejam colocadas mentalmente em ordem alfabética. É entendida como a
capacidade de manter e, ao mesmo tempo, manipular informações por um perío-
do breve de tempo. Essas informações provêm do ambiente imediato e de fontes
já acumuladas na memória de longo prazo. Desse modo, conseguimos operar com
diversas informações e, conjuntamente, possibilitar o desempenho das funções
cognitivas mais altas, como a linguagem, o pensamento e o raciocínio.
De acordo com o modelo de Baddeley e Hitch (1974), o sistema de memória
operacional é constituído por vários componentes:
A alça fonológica é o retentor da memória de curto prazo verbal, e dela faz parte,
ainda, uma alça articulatória capaz de reciclar a informação fonológica por meio da
repetição subvocal, o que evita seu decaimento. (SALAMÈ; BADDELEY, 1982) A
alça fonológica participa do processamento auditivo e visual, desde que os estímulos
sejam verbais. Os estímulos visuais são transformados em um formato fonológico e
podem, assim, ser codificados; já os estímulos auditivos são diretamente codificados
no formato fonológico. Dessa forma, o esboço visuoespacial proposto compreende
um subsistema especializado em processar informações visuais e outro em processar
movimentos ao redor de uma localização. (LOGIE, 2011)
capítulo 4 • 72
Memória de longa duração (secundária)
capítulo 4 • 73
Recuperação (recordação livre e com pistas)
capítulo 4 • 74
em um contexto específico. A familiaridade é um processo automático que exige
pouca demanda de atenção e envolve a consciência noética. Para se discernir se o
reconhecimento é feito de forma consciente ou automática, costuma-se utilizar o
paradigma “lembrar/saber”. (BUNCE; MACREADY, 2005)
Memória explícita
Memória episódica
capítulo 4 • 75
O processamento automático é iniciado por um estimulo apropriado e, a partir
daí, procede automaticamente, sem o controle do sujeito, sem forçar as limitações
de capacidade do sistema e sem demandar atenção necessariamente.
Memória semântica
Memória autobiográfica
Memória implícita
capítulo 4 • 76
condicionamento operante (relação de contingência entre uma resposta e um estí-
mulo reforçador), a habituação e a sensibilização. O aspecto distintivo em relação
à memória declarativa é que na memória implícita prescinde-se de consciência,
sendo a avaliação feita pelo desempenho obtido.
As memórias implícitas envolvem processamento automático. O conceito de
hábito lembra a memória de procedimento. Para Bergson (1999), o hábito con-
siste no armazenamento de lembranças pela repetição de eventos que, de modo
gradual, vão construindo um traço fixo de memória.
Memória de procedimentos
Pré-ativação (priming)
capítulo 4 • 77
estímulo subsequente, sem que exista consciência do indivíduo sobre tal influên-
cia. (BARGH, 2006; BARGH; CHARTRAND, 2000)
CONCEITO
Segundo Bargh e Chartrand (2000, p. 3), priming se refere a “como experiências recentes
ou correntes criam passivamente (sem o ato de intervenção da vontade) prontidão interna”.
Wheeler e Berger (2007, p. 357) dizem ser um efeito “pelo qual construtos
de ação relevante se tornam acessíveis e influenciam o comportamento sem a per-
cepção do ator”. De acordo com Loersch e Payne (2014), as representações que
se tornam disponíveis através do priming passam a ser utilizadas como entradas
adicionais no processamento das informações do estímulo subsequente.
Smeets e Dijksterhuis (2014, p. 3), diferentemente, trazem o conceito de pri-
ming como sendo o “fenômeno onde um estímulo incidental é mostrado para
influenciar um resultado cognitivo e comportamental de maior ordem sem a per-
cepção ou apreciação do indivíduo sobre esta influência”. Pérez-Nebra (2010, p.
45) expõe que “o priming pode ser definido como a recuperação de um grupo de
conceitos, deixando-os ativos na memória de trabalho sem a pessoa ser capaz de
perceber de onde veio este conceito ativo”.
ATIVIDADE
A) Quantos tons de azul você encontra na imagem abaixo?
capítulo 4 • 78
Resposta:
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
B) Visualize as imagens abaixo e relate ao final quais as formas que você identificou em
cada imagem:
1-
2-
capítulo 4 • 79
3-
4-
Respostas:
1- __________________________________________________________________________
2- __________________________________________________________________________
3- __________________________________________________________________________
4- __________________________________________________________________________
capítulo 4 • 80
GABARITO
A) Na realidade, existe apenas um tom de azul. Vemos um azul claro e um azul escuro devido
ao efeito de contraste simultâneo. O azul em contraste com o branco nos dá a impressão
de ser um azul mais claro, enquanto que em contraste com o preto nos parece um azul
mais escuro.
B)
1- O vaso de Rubin: a mais clássica das figuras ambíguas estudadas pela psicologia. Esta
figura apresenta um alto grau de equilíbrio entre a dominância de uma imagem e a de outra,
de modo que a percepção oscila entre o vaso e os rostos com muita facilidade.
2- A velha e a moça: nesta imagem, ou bem vemos primeiro a moça ou bem vemos primeiro
a velha. Qual você viu primeiro? Uma vez que fechamos com a imagem de uma delas, às
vezes se leva tempo para conseguirmos ver a segunda. Depois que vimos as duas, fica fácil
reverter a percepção de uma e de outra.
4- O índio e o esquimó: esta figura apresenta um desafio adicional para ver a outra ima-
gem, uma vez que tivermos fixado a percepção em uma delas. Efeito que desaparece depois
da primeira vez que vemos as duas.
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capítulo 4 • 83
capítulo 4 • 84
5
Fatores que afetam
a memória
Fatores que afetam a memória
capítulo 5 • 86
de pensamento, que são entendidos por Freud como “atos puramente internos”
(Freud, 1988, p. 195). Ainda que seja possível questionar esses atos, podemos
dizer que destaca a predominância da interioridade num grupo e a necessidade
da vinculação com a exterioridade no outro. Nos processos em que se prima pela
“interioridade”, Freud ressalta o esquecer e o recordar:
capítulo 5 • 87
Superaprendizagem, organização e recuperação da memória
OBJETIVOS
• Aprender os diferentes fatores que afetam a memória;
• Diferenciar amnésia anterógrada de amnésia retrógrada;
• Apresentar as influências das emoções na memória humana.
Superaprendizagem
Um dos fatores que mais contribuem para uma melhor retenção ou memória
de longo prazo do conhecimento escolar é o nível de aprendizagem original. Isto
significa que se a classificação obtida num curso ou numa disciplina for elevada, a
memória deste conhecimento permanece em média durante muito mais tempo e
numa percentagem mais elevada.
Por exemplo, Bahrick (1984) efetuou um estudo com 753 americanos de vá-
rias idades sobre os conhecimentos que adquiriram no passado sobre a língua es-
panhola. Estes conhecimentos foram avaliados em nove momentos diferentes, que
iam desde o final da conclusão do curso até passados 50 anos. Entre outros aspec-
tos, os resultados indicaram claramente que o conhecimento da língua espanhola,
ou seja, a memória do espanhol dependia do número de cursos frequentados e
da classificação obtida. Se a classificação obtida no curso de espanhol fosse baixa
e o número de cursos frequentados reduzidos, seria possível prever com grande
segurança que o esquecimento seria elevado no futuro e o uso e aplicação que os
participantes do curso de espanhol podiam vir a fazer no futuro do conhecimento
adquirido nos cursos era reduzido ou nulo.
A superaprendizagem, ou aprendizagem duradoura não ocorre até que você
tenha superaprendido o conteúdo. Superaprender consiste em estudar e ensaiar
além do ponto de domínio inicial. Pela superaprendizagem, a recordação torna-se
automática, pois ela permite que a recordação da informação aconteça sem a ne-
cessidade de pensar nela, não sendo necessário ir à busca da informação pra ativar
a memória. (FELDMAN, 2015)
capítulo 5 • 88
Organização
capítulo 5 • 89
Entre os muitos estudos que poderiam ser apresentados para se demonstrar
os efeitos da organização externa, o estudo de Danner (1976) se destaca. Danner
(1976) apresentou a grupos de crianças dois textos, que chamaremos de A e B,
ambos formados por 12 pequenas frases sobre os hábitos de uma raposa. O texto
B incluiu as mesmas frases que o texto A, mas apresentava-as de forma mais bem
organizadas. No texto B, a informação foi agrupada em três temas principais: (1)
Qual o aspecto geral de uma raposa? (2) Onde vive a raposa? e (3) De que é que
a raposa se alimenta? No texto A, as 12 frases eram apresentadas numa ordem ao
acaso. Quando esta experiência foi realizada com crianças de 7, 9 e 11 anos, a
recordação do texto B foi sempre melhor em relação à do texto A.
Uma boa organização externa facilita a aprendizagem, mas não é condição
suficiente. Uma boa aprendizagem requer o estabelecimento de uma organização
subjetiva ou interna das informações ou materiais escolares que se pretende ad-
quirir. A expressão “organização subjetiva” foi proposta por Tulving (1962) numa
experiência em que apresentou uma lista de 16 palavras não relacionadas a um
grupo de estudantes. No final da primeira apresentação, solicitou uma primeira
evocação do maior número de palavras apresentadas. Houve ainda uma segunda
e uma terceira apresentação das 16 palavras, numa ordem sempre distinta seguida
respectivamente de uma segunda e uma terceira fase de evocação. Tulving (1962)
verificou que alguns sujeitos uniam certas palavras em grupos e que estes grupos
de palavras se mantinham e se expandiam da primeira evocação para a segunda
e depois para a terceira evocação, apesar da ordem de apresentação das palavras
serem diferentes de ensaio para ensaio.
Nesta experiência, a organização subjetiva se manifestou porque por um lado
os participantes evocavam as palavras numa ordem pessoal, mas diferente da ordem
apresentada, e por outro evocavam certas palavras em grupo, mesmo que tais pa-
lavras não apresentassem qualquer relação imediata aos olhos do experimentador.
A tendência para agrupar palavras não relacionadas de uma lista é tão grande
que mesmo palavras de significado bastante diferente e de difícil agrupamento são
objetos de agrupamento por parte dos participantes em função da sua experiência
prévia. O agrupamento, ou “organização subjetiva”, surge assim fortemente rela-
cionado com situações de aprendizagem e de recordação bem-sucedidas.
capítulo 5 • 90
Recuperação
capítulo 5 • 91
REFLEXÃO
É bem possível até que a maior limitação da memória humana não seja tanto em termos
de capacidade de retenção, mas antes em termos de capacidade de recordação. Por exem-
plo, os estudantes não conseguem às vezes se recordar da resposta a uma pergunta durante
o tempo de exame, mas ao saírem da sala, ou pouco tempo depois, a resposta ocorre súbita e
inesperadamente. Isto indica que a informação estava disponível na memória, mas por razões
várias não pôde ser acessada ou recordada no devido tempo.
capítulo 5 • 92
Amnésia retrógrada
Amnésia anterógrada
capítulo 5 • 93
Na figura abaixo, (a) mostra-se uma linha do tempo que representa a vida do
portador de amnésia anterógrada, desde o seu nascimento. Em cada etapa da sua
vida, atribui-se um percentual de memória normal para tal indivíduo. Como pode
ser notada, até a lesão sofrida (e que causa a amnésia anterógrada) a memória está
normal. Porém, a partir de então ele não consegue armazenar novas informações.
Figura 5.5 – Porcentagem de memória normal com relação ao tempo para amnésia ante-
rógrada e amnésia retrógrada.
capítulo 5 • 94
Interferência
Interferência retroativa
Interferência proativa
capítulo 5 • 95
Influências da emoção sobre o sistema mnemônico
A palavra “emoção” tem sido usada para se referir a um estado afetivo presente
durante a codificação e/ou recuperação da memória. (BOWER; MONTEIRO;
GILLIGAN, 1978; EICH; MACAULAY; RYAN, 1994)
Do ponto de vista experimental, refere-se ao estado afetivo/fisiológico que um
indivíduo apresenta na vigência de um teste de memória sob condições de estresse.
(BADDELEY, 1972)
Os pesquisadores interessados em estudar o efeito da emoção na memória
devem poder separar “emoção” de outros importantes fatores, potencialmente in-
fluenciadores, como o fato de os eventos emocionais serem recontados diversas
vezes ou serem únicos e não usuais.
Em virtude de sua natureza fisiológica, medidas de parâmetros fisiológicos
durante a ativação emocional ou o uso de escalas específicas para padrões compor-
tamentais são uma boa opção para esses estudos. Apesar de esses parâmetros serem
respeitados, os estudos produzem resultados inconsistentes quanto à influência da
emoção na memória, quais sejam: facilitação da memória, prejuízo da memória ou
facilitação de alguns aspectos da memória e prejuízo de outros.
Assim, as teorias que tentarem abarcar a conexão entre memória e emoção
deverão buscar explicar essas inconsistências, além de considerarem as questões
fisiológicas e comportamentais envolvidas na aquisição, na codificação, na conso-
lidação e na recuperação de informações. Por esse motivo, as variáveis neurobioló-
gicas não podem ser desconsideradas no estudo da memória e emoção.
A emoção pode ser manipulada experimentalmente apresentando-se, por exem-
plo, uma sequência de slides representando eventos estressores e potencialmente
capítulo 5 • 96
emocionais, como um assalto ou ameaça, com a intenção de simular uma situação
de testemunho real dessas situações. (CHRISTIANSON; LOFTUS, 1987)
Esse tipo de manipulação tende a prejudicar o desempenho em testes de
recordação e reconhecimento. Quando a emoção é manipulada se apresentan-
do palavras ou figuras com diferentes cargas emocionais, contudo, o efeito na
memória tende a ser facilitado para essas palavras ou figuras. (DOERKSEN;
SHIMAMURA, 2001)
A memória de reconhecimento, por sua vez, pode ser influenciada de três
diferentes maneiras:
capítulo 5 • 97
emocionais são mostradas a algumas pessoas (Paradigma de Stroop) que foram
orientadas para apenas relatarem a cor da palavra, independentemente do seu sig-
nificado, o nome da cor das palavras emocionais demorava mais a ser dito em
relação à cor das palavras neutras. (MATHEWS; MACLEOD, 1985; WATTS,
TREZISE; SHARROCK, 1986) Quando esse experimento era aplicado em in-
divíduos com transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), eles levavam muito
mais tempo para nomear a cor de palavras emocionais relacionadas com o trauma
(consideradas como negativas) do que a de palavras neutras ou emocionalmente
positivas. (MCNALLY et. al., 2000; METZGER, 1997) Isto sugere que talvez
o estresse crônico tenha um papel diferente do estresse agudo na influência dos
processos mnemônicos.
Em linhas gerais, as evidências apontam para a ideia de que há uma boa me-
mória para o “significado” desses eventos emocionais. Por outro lado, fortes emo-
ções parecem alterar o processamento mnemônico, levando a uma perda para
detalhes periféricos. Dessa forma, não há prejuízo ou facilitação global da memó-
ria traumática, mas, sim, diferentes processamentos agindo simultaneamente para
detalhes periféricos e centrais.
Além disso, é interessante compreendermos os efeitos da emoção sobre a memó-
ria a partir de uma relação curvilínea, não linear. (BREWIN, 2001) Segundo esta
relação, o aumento dos níveis de estresse contribuiria para melhoria da memória até
certo patamar. Passando deste ponto, os efeitos prejudiciais se intensificariam, pro-
vocando uma piora nas lembranças, possivelmente relacionada à sua fragmentação.
ATIVIDADE
Responda às questões propostas. As questões abaixo também estão disponíveis no portal do
INEP, mais especificamente na prova do ENADE do curso de psicologia dos anos de 2006 a
2015 e foram extraídas do site http://portal.inep.gov.br/provas-e-gabaritos3.
1-ENADE 2015
QUESTÃO 27
Izquierdo cita a situação apresentada por Elizabeth Loftus, na década de 70, em que as
fotografias de um acidente automobilístico foram apresentadas a vários indivíduos, e após
alguns dias, eles foram divididos em quatro grupos: ao primeiro, questionou-se a velocida-
de dos veículos quando "se encontraram"; ao segundo, quando eles "toparam"; ao terceiro,
quando "bateram"; e ao quarto, quando "estraçalharam" — e a todos foi perguntado se havia
capítulo 5 • 98
vidros quebrados e sangue na cena. Para o primeiro grupo, os veículos trafegavam a 35 km
por hora, e não havia vidros quebrados e sangue. O segundo apontou velocidades superiores
e vidros quebrados, mas não sangue. Os do terceiro grupo afirmaram que a velocidade era
de 65 a 80 km por hora, e que perceberam vidros quebrados e algum sangue. Finalmente,
o quarto grupo ressaltou que as velocidades eram altíssimas e que havia muitos vidros que-
brados e mortos na rua.
NORONHA OE ÁVILA, G.; CHITTÓ GAUER, G. J. "Falsas" Memórias e Processo Penal: (Re) discutindo
o Papel da Testemunha. Disponível em: <http://www.uniritter.edu.br>. Acesso em: 10 jul. 2015 (adaptado).
2-ENADE 2009
Questão 30
Leia o seguinte texto:
Evidências de pesquisas com neuroimagem identificam dois sistemas neurais responsá-
veis pelas diferentes etapas da geração e controle de estados afetivos.
O sistema ventral é composto por circuitos envolvendo amídala, ínsula, corpo estriado
ventral, regiões ventrais do cíngulo anterior e córtex órbito-frontal. Tal sistema estaria rela-
cionado às etapas de identificação do significado emocional de estímulos e de produção dos
estados afetivos específicos.
O sistema dorsal é composto pelo hipocampo, regiões dorsais do cíngulo anterior e pelo
córtex pré-frontal. Tal sistema estaria relacionado à regulação dos estados afetivos, eliciando
respostas comportamentais contextualmente apropriadas. O sistema ventral recebe aferên-
cias de áreas sensoriais primárias e de associação, e o dorsal está relacionado a mecanismos
cognitivos, como memória e atenção.
BUSATTO, G, et al, 2006. (Adaptado)
capítulo 5 • 99
a) a autonomia do processamento neural ocorre em cada nível, pois as conexões sensoriais
se dão a partir do sistema sensorial aferente.
b) a complexidade da rede de interconexões entre os sistemas dorsal e ventral possibilita
a modulação recíproca entre ativação emocional e contextualização da resposta comporta-
mental.
c) existe domínio dos aspectos cognitivos sobre os emocionais, uma vez que o sistema ven-
tral pode modular o sistema dorsal.
d) há independência entre os circuitos neurais da emoção e do processamento cognitivo, já
que as conexões aferentes ocorrem primariamente no sistema ventral.
e) o sistema dorsal controla o comportamento por meio de suas conexões com as aferências
sensoriais, enquanto o sistema ventral suporta sua atividade.
3-ENADE 2006
QUESTÃO 19
A memória e as emoções são estudadas tanto por técnicas psicológicas como através
da neurociência. A partir de estudos realizados nos últimos anos e relatados em revistas
científicas especializadas, pode-se concluir que:
a) eventos desagradáveis são melhor lembrados do que eventos agradáveis, pois represen-
tam traumas rememorados obsessivamente.
b) as lembranças de intensa emocionalidade, agradáveis ou desagradáveis, são melhor lem-
bradas do que lembranças neutras.
c) a emoção e a memória não se relacionam, pois são controladas por regiões diferentes do
cérebro.
d) eventos desagradáveis levam à formação de falsas memórias.
e) a memória depende mais da repetição dos eventos, ou da freqüência de sua evocação, do
que de seu conteúdo afetivo.
4-ENADE 2012
QUESTÃO 16
Esquecemos da maior parte das informações que chegam até nós, e várias teorias já
foram propostas para esclarecer por que isso acontece. Entre elas, as mais conhecidas são a
teoria da interferência e a teoria da deterioração. A interferência ocorre quando informações
concorrentes fazem com que esqueçamos de algo, e a deterioração acontece quando a sim-
ples passagem do tempo faz com que esqueçamos.
STERNBERG, R. J. Psicologia Cognitiva. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000 (adaptado).
capítulo 5 • 100
Tendo como base os processos de esquecimento e a teoria da interferência, é correto
concluir que
a) a interferência retroativa decorre da passagem do tempo, que faz com que nos esque-
çamos de algo.
b) o efeito da recenticidade ocorre quando nos recordamos melhor de itens do final de uma lista.
c) a interferência proativa ocorre quando nos recordamos melhor de itens do início de uma lista.
d) o efeito da primazia ocorre após termos aprendido algo, mas antes que tenhamos que recordá-lo.
e) o decaimento ocorre quando o material que interfere está antes e não depois da aprendi-
zagem do conteúdo a ser lembrado.
5-ENADE 2015
QUESTÃO 34
A emoção é um tema muito estudado pelos neurocientistas. A experiência emocional
não é um fenómeno único, varia de indivíduo para indivíduo, sendo o resultado de diferentes
eventos. De forma simplista, a emoção se expressa por um ato motor, em decorrência de
sensações provocadas por estímulos sensoriais do meio onde está inserida a pessoa.
BRANDÃO, L. M. As bases biológicas do comportamento: introdução à Neurociência.
São Paulo: E.P.U., 2009 (adaptado).
capítulo 5 • 101
6-ENADE 2012
QUESTÃO 14
Henry (19 anos de idade) terminou seu trabalho na cozinha e foi para o convés. Havia
um velho marinheiro sentado em uma escotilha, trançando um longo cabo. Cada um de seus
dedos parecia uma inteligência ágil enquanto trabalhava, pois seu dono não os olhava. Em
vez de olhá-los, tinha os olhinhos azuis fixos, ao estilo dos marinheiros, cravados além dos
confins da costa.
— Então, queres conhecer o segredo das cordas? disse-lhe, sem afastar o olhar do ho-
rizonte. — Pois só tens que prestar atenção. Faço há tanto tempo que minha velha cabeça
se esqueceu de como se faz; s6 meus dedos se lembram. Se penso no que estou fazendo,
me confundo.
STEIBECK. J. A taça de ouro. In: POZO, J. I. Aprendizes e mestres.
Porto Alegre: ArtMed, 2002. p. 227 [adaptado).
Considerando o texto acima, avalie as seguintes asserções e a relação proposta entre elas.
I. Depreende-se da fala do velho marinheiro ,apresentado no último parágrafo do texto, que
a aprendizagem motora se diferencia do conhecimento verbal, pois implica saber fazer algo,
sem, necessariamente, saber dizer o que faz.
PORQUE
II. A memória estrutura-se em distintos sistemas: processual, episódico e semântico.
7-ENADE 2009
QUESTÃO 19:
Leia o trecho:
O estudo das falsas memórias é útil á expansão do conhecimento da memória em con-
textos laboratoriais, à psicologia clinica e a diversas áreas do saber que lidam com ela. As
recentes investigações denotam que sugerir informações e forçar as pessoas a evocá-las
pode aumentar a magnitude dos efeitos das falsas memórias.
ALVES, C.M. 2007 (adaptado)
capítulo 5 • 102
Com base na leitura desse texto, considere as seguintes afirmativas:
I. A memória é parte do complexo funcionamento do processo cognitivo e mostra-se mais
que simples registro, revelando uma relação entre o recordar e a situação de interação.
II. A recordação pode ser falseado quanto ao conteúdo pelo engajamento emocional com
o entrevistador, que pode sugerir involuntariamente elementos facilitadores da lembrança
reconstruída.
III. O processo terapêutico pode evitar o surgimento de falsas memórias. pois o ambiente
seguro garante a expressão emocional consistente do individuo. incluindo suas lembranças.
IV. A repetição da recordação de um episódio aumenta a fidedignidade da recordação. pois
a experiência emocional permite afirmar que uma recordação é mais profunda e segura de
que sua validade objetiva.
GABARITO
1-C
2-B
3-B
4-B
5-C
6-A
7-A
capítulo 5 • 103
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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