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Proteção de equipamentos terminais de

assinantes.

José Osvaldo Saldanha Paulino - EEUFMG

Maio de 1996

Sumário
1 - Introdução.
2 - Sobretensões geradas por descargas atmosféricas na rede externa.
2.1 - Influência do tipo de cabo.
2.2 - Tensões impostas no cabo telefônico - Simulações.
2.2.1 - Tensões induzidas por descargas laterais.
2.2.2 - Tensões impostas por descargas diretas.
2.2.3 - Efeito da instalação de protetores no fio FE.
2.3 - Tensões que atingem os equipamentos.
3 - Sobretensões geradas por descargas atmosféricas na rede interna.
4 - Critérios básicos de proteção.
4.1 - Utlização de cabos subterrâneos.
4.2 - Utilização de cabos blindados.
4.3 - Aterramento da rede.
4.4 - Instalação de protetores.
4.4.1 - Instalação de protetores no cabo blindado.
4.4.2 - Instalação de protetores no fio FE.
5 - Critérios gerais de proteção.
6 - Considerações finais.

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1- Introdução.

O objetivo deste trabalho é definir critérios gerais de proteção de


equipamentos terminais de assinantes contra descargas atmosféricas.
A utilização cada vez mais intensa de equipamentos terminais que utilizam
componentes eletrônicos sensíveis tem provocado um aumento significativo
no número de danos a estes equipamentos, principalmente durante o período
de chuvas.
Estudos e pesquisas sobre proteção destes equipamentos estão sendo feitas
em todo o mundo, podendo-se destacar os trabalhos desenvolvidos na Itália,
França, Japão, Alemanha, Estados Unidos e Canadá. O CCITT (ITU) tem
desenvolvido um grande esforço no sentido de atualizar suas normas e
recomendações.
Os trabalhos já desenvolvidos indicam que o maior ofensor dos
equipamentos são as descargas atmosféricas, que induzem tensões
elevadas na fiação das redes elétricas e telefônicas. O segundo grande
ofensor são as redes de energia elétrica. Devido ao paralelismo, as redes
elétricas induzem correntes e tensões na rede telefônica e no caso de
sistemas com uso mútuo de posteação pode-se ter o contato acidental entre
as duas redes.
Este relatório apresenta uma discussão sobre a proteção de equipamentos
terminais e apresenta também uma série de critérios básicos a serem
adotados na proteção de equipamentos terminais.
Para a realização deste estudo foram considerados dois pressupostos
básicos:
➊ A responsabilidade da empresa concessionária está restrita aos eventos
originados na rede telefônica externa;
➋ Eventos originados na rede AC dos equipamentos com alimentação local
não são de responsabilidade da empresa concessionária;
A justificativa para tal procedimento é que conforme a legislação brasileira a
fiação interna de uma edificação (seja elétrica ou telefônica) é de
responsabilidade do proprietário.
Entretanto, devido ao grande número de problemas que se originam na rede
interna da edificação, será feita uma análise suscinta do problema.

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2 - Sobretensões geradas por descargas atmosféricas na rede externa.

Normalmente, os equipamentos terminais são danificados devido à


sobretensões que aparecem nos seus terminais.
As principais fontes de sobretensão são:
- descargas atmosféricas;
- eventos originados nas redes de energia elétrica.
Conforme resultados obtidos em estudos realizados em vários países, as
sobretensões originadas nas descargas atmosféricas são as mais severas e
as de maior probabilidade de ocorrência.
Um destes estudos foi realizado na França onde foram realizadas medições
em equipamentos terminais instalados em fazendas, fábricas, prédios, casas,
etc. O estudo apresenta a seguinte relação entre surtos rápidos (provocados
por descargas atmosféricas e surtos de chaveamentos na rede de energia) e
surtos lentos:
-Duração das medições: 1992 a 1994;
-Número total de surtos medidos: 19.000 surtos;
-Número de surtos rápidos: 16.000 surtos.
Este estudo indica que 84% dos surtos são surtos rápidos. Isto num país
onde a atividade atmosférica é bem menor do que no Brasil:
-Nível ceraúnico médio em Minas Gerais: 80 dias de trovoada por ano;
-Nível ceraúnico médio na França: 30 dias de trovoada por ano.
No caso das descargas atmosféricas as sobretensões podem ser geradas:
- na rede telefônica externa à edificação;
- na fiação interna da edificação.
A figura 1 apresenta as formas de interação de uma descarga atmosférica
com uma edificação.

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A - Perto da edificação; D - Na rede de baixa tensão;
B - No pára-raios; E - Perto das redes elétricas e telefônicas.
C - Na rede de alta tensão;

Figura 1 - Pontos de incidência das descargas atmosféricas.

No caso dos eventos “C”, “D” e “E”, as sobretensões irão atingir os


equipamentos através da fiação externa das redes de energia elétrica e
telefônica.
Nos casos dos eventos “A” e “B” os campos eletromagnéticos criados pela
descarga irão atingir a fiação das redes existentes dentro da edificação e
gerar sobretensões que atingirão os terminais dos equipamentos.
As sobretensões geradas na rede externa dependem de uma série de
fatores:
- grau de exposição das redes elétricas e telefônicas;
- comprimento das redes;
- tipo de cabo utilizado;
- resistividade do solo;
- nível ceraúnico;
- etc.
A determinação dos valores das sobretensões e sobrecorrentes que atingem
um equipamento terminal pode ser feita por meio de simulações
computacionais ou de medições realizadas em instalações reais.

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O projeto COPELITE do CPqD-TELEBRÁS realizou uma série de medições
de sobrecorrente em estações telefônicas instaladas em SP, MG e RJ.
Estudos similares foram realizados em vários países (França, Alemanha,
USA, Japão, Itália e Canadá) inclusive com medições das sobretensões que
atingem os equipamentos terminais.
O CCITT/ITU publicou o documento: Draft of a New Chapter of Lightning
Handbook “Overvoltages and Overcurrents Measured on Telecommunication
Subscriber Lines” que contém um resumo dos dados coletados ao redor do
mundo.
Algumas conclusões importantes deste trabalhos foram:
-99% das sobretensões medidas tiveram valor inferior a 1500 V;
-No estudo francês apenas 27 surtos (em 16.000) tiveram valores
superiores a 1500 V;
-No estudo alemão, das 71 linhas monitoradas 17 tinham parte aérea.
Dos 151 surtos que excederam 400 V, 118 ou 78% ocorreram em linhas que
tinham parte aérea. Todos os surtos acima de 1000 V ocorreram
exclusivamente em linhas com parte aérea.
Seria bastante interessante que se implantasse no Brasil um programa de
medições similar ao COPELITE só que voltado para medições das
sobretensões que atingem os equipamentos terminais.
A seguir serão analisadas as sobretensões calculadas através de simulações
computacionais.

2.1 - Influência do tipo de cabo.

O tipo de cabo utilizado na rede telefônica é bastante importante na


determinação dos valores de sobretensão geradas na rede externa que irão
atingir os equipamentos.
A figura 2 ilustra as tensões dentro de um cabo coaxial.

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Figura 2 - Tensões em um cabo coaxial.

Na figura 2 tem-se:
I ⇒ Corrente que circula na blindagem do cabo;
V1 ⇒ Tensão da blindagem para a terra;
V2 ⇒ Tensão do fio para a terra;
V3 ⇒ Tensão entre o fio e a blindagem;
Rcc ⇒ Resistência da blindagem do cabo;
Rat ⇒ Resistência de aterramento da blindagem.

V1 = Rat . I ;
V3 ≅ Rcc . I ;
V2 = V1 +V3 ;
V3 << V1 ;
V2 ≅ V1 .

É importante observar que a tensão “V1” que aparece da blindagem para a


terra, é a soma da queda de tensão no cabo, que interliga a blindagem à
malha de aterramento, com a queda de tensão que ocorre na malha de
aterramento. A queda de tensão na malha, na maioria das vezes, é bem
superior à queda de tensão no cabo(figura 3).

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Figura 3 - Tensão desenvolvida em um ponto de aterramento.

A figura 2 mostra que a partir do conhecimento das tensões que aparecem


da blindagem do cabo para a terra é possível estimar as tensões que
aparecem dos pares para a terra. Esta conclusão será utilizada nas
simulações computacionais apresentadas a seguir.

2.2 - Tensões impostas no cabo telefônico - Simulações.

Como pode ser visto na figura 1, descargas atmosféricas que incidem na


própria rede telefônica ou próximo dela irão impor tensões elevadas que
poderão chegar até os equipamentos. As descargas diretas na rede
geralmente provocam um grande dano no local do impacto, levando na
maioria das vezes à ruptura do cabo. As tensões induzidas por descargas
próximas da rede são de menor valor que as provocadas pelas descargas
diretas mas em compensação a sua ocorrência é muito mais frequente.
Em contrato assinado entre o CPqD-TELEBRÁS e a UFMG foi financiado o
desenvolvimento de quatro dissertações de mestrado, defendidas em 1990,
que analisaram o problema das tensões induzidas em redes telefônicas. Na
dissertação defendida pelo Prof. Ivan J. S. Lopes foi implementado um
programa para microcomputador (LEATNING) que calcula as tensões
induzidas por descargas atmosféricas nas blindagens dos cabos telefônicos.

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A rede pode ser composta de cabos aéreos e subterrâneos. Na dissertação
foi feita uma análise das sobretensões que atingem a central telefônica.
O programa de cálculo de transitórios eletromagnéticos MICROTRAN
(desenvolvido pelo Prof. H.W. Dommel da Universidade de British Columbia,
Canadá) permite que se calculem as tensões impostas em uma rede
telefônica atingida por uma descarga direta.
Utilizando-se estes dois programas de computador será feita, a seguir, uma
análise das tensões que atingem o equipamento terminal.
Como visto na figura 2, a partir do conhecimento da tensão blindagem-terra é
possível estimar o valor da tensão par-terra. Isto significa que pode-se
calcular apenas as tensões induzidas da blindagem do cabo para a terra, o
que facilita muito a utilização dos programas de computador.

2.2.1 - Tensões induzidas por descargas laterais.

O caso que será analisado, no tocante a descargas que incidem perto da


rede (descargas laterais), é o mostrado na figura 4. A rede é constituída de
um trecho subterrâneo terminado na central telefônica e um trecho aéreo
constituído de um cabo blindado terminado em um fio FE de comprimento
variável.

Figura 4 - Arranjo da rede utilizado no cálculo das tensões induzidas.


Parâmetros da rede:
Trecho subterrâneo:

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Impedância de surto: Z = 100 Ω;
Comprimento: 500 m;
Resistência de aterramento da central: 5 Ω;

Trecho aéreo:
Cabo blindado:
Impedância de surto: Z = 480 Ω (blindagem-terra);
Comprimento: 1500 m;
Resistência de aterramento : R1 e R2;
Fio FE:
Impedância de surto: Z = 480 Ω;
Comprimento: L;

Parâmetros da descarga atmosférica (figura 5):


Valor de pico da corrente: 80 kA;
Tempo de frente de onda: 2,0 µs;
Tempo de cauda: 50 µs;
Velocidade de propagação da corrente de retorno: 30 m/µs;
Ponto de incidência da descarga:
ao longo da linha: “X” ;
a partir da linha: 100 m.

Figura 5 - Forma de onda da descarga atmosférica utilizada nas simulações.


Esta descarga é uma descarga bastante intensa, a probabilidade de
descargas de 80 kA de valor de pico é de apenas 10%, ou seja, 90% das
descargas tem valor de corrente inferiores a 80 kA.

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A distância de 100 m está no limiar do raio de atração da linha. Descargas
que cairiam mais próximas da linha provavelmente seriam atraídas e
incidiriam diretamente na rede.
Com objetivo de se definir o ponto de incidência da descarga que induzirá os
maiores valores de tensão, são apresentadas as curvas da figura 7. Nestas
simulações a distância da descarga à linha foi mantida fixa em 100m. O que
se variou foi a localização da descarga ao longo da linha (“X”). O caso 1 é
para X = 0 m (início do fio FE), caso 2 é para X = 500 m (início do cabo
blindado) e o caso 3 é para X = 1250 m (metade do cabo blindado). A figura
6 ilustra os casos estudados. A curvas da figura 7 se referem aos valores de
tensão induzidos na ponta do cabo blindado (Vo) com R1=15 Ω e R2 = 5 Ω.

Figura 6 - Localização da descarga em relação à rede.

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Figura 7 - Tensões induzidas em função da localização da descarga.

Como pode-se visto na figura 7, o pior caso é o de uma descarga que incide
alinhada com o final do trecho aéreo (X = 0 m - Caso 1). Provavelmente o
caso mais comum será o de uma descarga que incide mais perto do cabo
blindado, isto devido à maior extensão do cabo blindado em relação ao fio
FE. Portanto, serão feitas simulações com :
X = 0 m;
X = (750 + L) m.
O casos apresentados na figura 9 e 10 ilustram o efeito de se multiaterrar a
blindagem do cabo aéreo. São instalados pontos de aterramento de 500 em
500 m, figura 8.

Figura 8 - Rede telefônica multiaterrada.


A figura 9 apresenta os casos onde R =100, 50, 30, 15 Ω e X = 0 m.

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A figura 10 apresenta os casos onde R =100, 50, 30, 15 Ω e X = 750 m.

Figura 9 - Tensões induzidas em uma rede multiaterrada.


R = 100, 50, 30, 15 Ω - X = 0 m.

Figura 10 - Tensões induzidas em uma rede multiaterrada.


R = 100, 50,30, 15 Ω. X = 750 m.
A tabela 1 apresenta os valores de pico das tensões apresentadas nas
figuras 9 e 10.

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X R V1
(m) (Ω) (kV)
750 100 10,31
750 50 3,30
750 30 1,13
750 15 0,43
0 100 24,51
0 50 13,37
0 30 8,35
0 15 4,32

Tabela 1 - Valores de pico das tensões induzidas em uma rede multiaterrada


R = 100, 50, 30, 15 Ω. X = 0 e X = 750 m. Figuras 9 e 10.

Pode-se ver que no caso de uma rede multiaterrada com resistência por
ponto igual a 15 Ω a tensão induzida varia de 400 V a cerca de 4000 V.
Mesmo para o caso estudado, que é bastante crítico (descarga de 80 kA e
incidindo no limiar do raio de atração da linha), o valor calculado da tensão
induzida está coerente com os valores medidos na França e na Itália (99%
das sobretensões são inferiores a 1500 V).

A seguir será estudado a influência do comprimento do fio FE (“L”), figura 11.


Será utilizada uma rede multiaterrada com R = 50 Ω sendo o aterramento da
ponta do cabo igual a R1 = 15 Ω.
As curvas das figuras 12 a 17 mostram as tensões induzidas no final do cabo
blindado (V1) e no final do fio FE (Vo).

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Figura 11 - Arranjo da rede para o estudo da influência do comprimento do
fio FE (L).

As figuras 12 a 14 são para:

Figura 12 - X = 0 m - L = 100 m;
Figura 13 - X = 0 m - L = 300 m;
Figura 14 - X = 0 m - L = 500 m.

As figuras 15 a 17 são para:

Figura 15 - X = 850 m - L = 100 m;


Figura 16 - X = 1050 m - L = 300 m;
Figura 17 - X = 1250 m - L = 500 m.

15
Figura 12 - Tensões induzidas na blindagem do cabo (V1) e na ponta do fio
FE (Vo) - X = 0 m - L = 100 m.

Figura 13 - Tensões induzidas na blindagem do cabo (V1) e na ponta do fio


FE (Vo) - X = 0 m - L = 300 m.

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Figura 14 - Tensões induzidas na blindagem do cabo (V1) e na ponta do fio
FE (Vo) - X = 0 m - L = 500 m.

A tabela 2 apresenta os valores de pico das tensões induzidas mostradas


nas figuras 12 a 14.

L V1 Vo
(m) (kV) (kV)
0 4,24 4,24
100 6,24 26,49
300 6,18 94,70
500 7,84 139,77

Tabela 2 - Valores de pico das tensões induzidas mostradas nas


figuras 12 a 14 (X= 0 m).

Pode-se ver nas figuras e na tabela que quanto maior o comprimento do fio
FE maiores são as tensões na ponta da rede.

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As simulações referentes às figuras 12 a 14 foram repetidas só que
alterando-se o valor de “X = 0 m” para “X = (750 + L) m” . As figuras 15 a 17
mostram os resultados obtidos.

Figura 15 - Tensões induzidas na blindagem do cabo (V1) e na ponta do fio


FE (Vo) - X = 850 m - L = 100 m.

Figura 16 - Tensões induzidas na blindagem do cabo (V1) e na ponta do fio


FE (Vo) - X = 1050 m - L =300 m.

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Figura 17 - Tensões induzidas na blindagem do cabo (V1) e na ponta do fio
FE (Vo) - X = 1500 m - L = 500 m.

Os valores de tensão obtidos nas figuras 15 a 17 são bem menores do que


os das figuras 12 a 14. Entretanto, a conclusão é a mesma: quanto maior o
comprimento do fio FE maiores são as tensões na ponta da rede.
A tabela 3 apresenta os valores de pico das tensões induzidas mostradas
nas figuras 15 a 17.

L V1 Vo
(m) (kV) (kV)
0 1,05 1,05
100 2,54 3,29
300 1,13 -3,23
500 1,19 -8,4

Tabela 3 - Valores de pico das tensões mostradas nas


figuras 15 a 17 [ X = (750 + L) m].

As figura 18 e 19 mostram os valores das tensões induzidas na ponta do fio


FE (Vo), para X = 0 e X = (750+L) m:

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Figura 18 - Tensões induzidas na ponta do fio FE (Vo) - X = 0 m
L = 0, 100, 300, 500 m.

Figura 19 - Tensões induzidas na ponta do fio FE (Vo) - X = (750+L) m


L = 0, 100, 300, 500 m.
Para efeito de comparação a tabela 4 apresenta os valores de pico das
tensões mostradas nas figuras 18 e 19.

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L X Vo
(m) (m) (kV)
0 750 1,05
100 850 3,29
300 1050 3,23
500 1500 8,40
0 0 4,24
100 0 26,49
300 0 94,77
500 0 139,77

Tabela 4 - Valores de pico das tensões mostradas nas


figuras 18 e 19.

2.2.2 - Tensões impostas por descargas diretas.

As descargas diretas na rede telefônica, geralmente, provocam danos locais


de grande extensão e impoem na rede telefônica sobretensões similares as
impostas pelas tensões induzidas só que as ondas impostas pelas descargas
diretas são mais rápidas.
Os valores de tensões impostas pelas descargas diretas são muito elevados.
O valor da tensão imposta é igual a:
V = Z.I;
Z - Impedância de surto da linha;
I - Valor de pico da corrente de descarga.
Para uma linha típica (Z = 300 Ω) e para uma corrente de 3 kA (90% das
descargas tem valor superior a 3 kA) tem-se:
V = 900 kV.
As simulações apresentadas a seguir foram feitas utilizando-se o programa
MICROTRAN. Foi utilizada na simulação um linha semi-infinita em uma
direção e terminada em uma resistência de aterramento de 15 Ω na outra
direção. Uma descarga incide diretamente sobre a linha originando uma
tensão de valor de pico igual a 1 p.u., a figura 20 ilustra o arranjo utilizado.

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Figura 20 - Arranjo da rede para as simulações referentes às descargas
diretas.
A forma de onda da descarga atmosférica utilizada nas simulações é a
mostrada na figura 21.

Figura 21 - Forma de onda da tensão imposta pela descarga atmosférica no


ponto de incidência.
As figuras 22 a 26 apresentam os resultados obtidos nas simulações:
Figura 22 - R1 = 15 Ω, L = 50m;
Figura 23 - R1 = 15 Ω, L = 100m;
Figura 24 - R1 = 15 Ω, L = 200m;
Figura 25 - R1 = 15 Ω, L = 300m;
Figura 26 - R1 = 15 Ω, L = 500m.

22
Figura 22 - Tensões impostas blindagem do cabo (V1) e na ponta do fio FE
(Vo) - R1 = 15 Ω - L = 50 m.

Figura 23 - Tensões impostas blindagem do cabo (V1) e na ponta do fio FE


(Vo) - R1 = 15 Ω - L = 100 m.

23
Figura 24 - Tensões impostas blindagem do cabo (V1) e na ponta do fio FE
(Vo) - R1 = 15 Ω - L = 200 m.

Figura 25 - Tensões impostas blindagem do cabo (V1) e na ponta do fio FE


(Vo) - R1 = 15 Ω - L = 300 m.

24
Figura 26 - Tensões impostas blindagem do cabo (V1) e na ponta do fio FE
(Vo) - R1 = 15 Ω - L = 500 m.

A tabela 5 apresenta os valores de pico das tensões mostradas nas figuras


22 a 26.

L V1 .100 Vo .100 Vo /V1


(m) (kV) (kV)
50 3,03 3,20 1,1
100 3,03 3.77 1,2
200 3,03 4,03 1,3
300 3,03 5,09 1,7
500 3,03 5,88 1,9

Tabela 5 - Valores de pico das tensões mostradas nas figuras 22 a 26.

A conclusão é a mesma a que se chegou com o estudo relativo às tensões


induzidas: quando maior o comprimento de fio FE maiores são os valores de
tensão na ponta do cabo.

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Para descargas diretas o maior valor de tensão na ponta do fio FE será igual
ao dobro do valor na ponta do cabo blindado:

Vo ” 2.V1.

2.2.3 - Efeito da instalação de protetores no fio FE.

Os resultados mostrados nos itens 2.2.1 e 2.2.2 permitem a determinação do


comprimento máximo de uma rede telefônica sem pontos de aterramento.
Nos casos estudados, distâncias da ordem de 100 metros foram suficientes
para que a tensão na ponta do cabo aumentasse significativamente (4 vezes)
em relação à tensão desenvolvida no ponto de aterramento, quando se
considerou uma descarga incidindo perto da terminação do fio FE.
Para descargas incidindo perto do cabo blindado os aumentos de tensão são
bem menores.
A escolha de um distância máxima para o comprimento do fio FE está
condicionada a uma análise do grau de exposição da rede telefônica.
No caso de rede com fio FE de grande comprimento é interessante que se
aterre também o fio FE, entretanto não se pode aterrar o fio sem a instalação
de um protetor.
O protetor instalado do fio FE para a terra permite apenas que o fio seja
aterrado quando da ocorrência de uma sobretensão.
A figura 27 ilustra a situação. Quando uma sobretensão atinge o protetor, o
mesmo atua, aterrando o fio FE. Isto implica em que o comportamento do fio
FE se torna muito parecido com o comportamento de um cabo com a
blindagem aterrada.

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Figura 27 - Efeito da instalação de um protetor no fio FE.

Será repetida a simulação apresentada na figura 11, só que com um protetor


instalado no final do fio FE e aterrado com uma resistência de 15 Ω.
A situação é ilustrada na figura 28.

Figura 28 - Arranjo para o estudo da influência de um protetor no fio FE.

O resultado é mostrado na figura 29.

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Figura 29 - Tensões induzidas na blindagem do cabo (V1) e na ponta do fio
FE (Vo) - X = 0 m - L = 500 m.

A Tabela 6 apresenta uma comparação entre os casos: com e sem protetor


no fio FE (figuras 15 e 29).

Caso L V1 Vo
(m) (kV) (kV)
S / protetor 500 7,84 139,77
C / protetor 500 -1,40 4,24

Tabela 6 - Valores de pico das tensões induzidas para os caso com e sem
protetor no fio FE (figuras 15 e 29).

Pode-se ver na tabela 3 que o protetor reduz drasticamente o valor da tensão


induzida na ponta do fio FE (Vo) e também reduz o valor da tensão induzida
na ponta do cabo blindado (V1).

2.3 - Tensões que atingem os equipamentos.

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A partir do conhecimento das tensões impostas na rede externa pode-se
estimar os valores de tensão que irão atingir os equipamentos.
As situações mais usuais em termos da alimentação dos equipamentos são:
- rede externa constituída de cabo blindado e alimentação do
consumidor feita via cabo blindado (figura 30);
- rede externa constituída de cabo blindado e alimentação do
consumidor feita via fio (figura 34).

Figura 30 - Equipamento alimentado via cabo blindado.

Pode-se observar na figura 30 que a tensão que atinge os componentes do


telefone são as tensões:
V4 - Tensão entre os fios do par;
V3 - Tensão par-blindagem.
A tensão V1 (tensão blindagem para a terra) irá aparecer do corpo do
telefone para a terra (mesa, solo, paredes).
Do ponto de vista da proteção do equipamento a alimentação com cabo
blindado é uma ótima solução. As tensões V3 e V4 podem ser controladas
através da instalação de protetores. Como ilustrado na figura 31, as tensões
V3 e V4 serão as tensões residuais dos protetores.

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Figura 31 - Protetor instalado na rede externa. Equipamento alimentado via
cabo blindado.

Do ponto de vista de segurança pessoal a situação não é muito favorável. Se


a malha de aterramento estiver distante do equipamento (mais de 20 metros)
toda a tensão desenvolvida na malha (V1) irá aparecer da carcaça do
equipamento para o terra local. Este terra local pode ser uma pessoa, as
paredes da edificação ou a própria mesa do equipamento. Como a carcaça
do equipamento está metalicamente conectada à malha, a corrente que
circulará pela pessoa poderá ser elevada.
Se a malha de aterramento estiver próxima do equipamento, a tensão que
aparecerá da carcaça para o terra local será apenas uma parcela da tensão
V1 (figura 32). É importante observar que a queda de tensão na malha é uma
tensão que se desenvolve da malha para pontos bem distantes dela. Para
malhas típicas de redes elétricas e redes telefônicas a distância “d” (figura
32) é da ordem de 20 metros.
Se a malha de aterramento for próxima do equipamento e se for uma malha
equalizada a tensão que aparecerá na carcaça será apenas a queda de
tensão no cabo que interliga a blindagem à malha de aterramento (tensão Va
da figura 33).

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Figura 32 - Tensões desenvolvidas em um ponto de aterramento.

Figura 33 - Tensões em um equipamento com aterramento local.

No caso mais usual de equipamentos residenciais a alimentação é feita via


fio que sai de um cabo blindado, figura 34. Neste caso as tensões que irão
atingir os componentes do telefone serão:
V4 - Tensão entre os fios do par;
Va - Parcela da tensão tensão par-terra (V2).
A tensão V2 é praticamente igual à tensão V1 (tensão blindagem-terra).

31
Figura 34 - Equipamento alimentado via fio.

A tensão V2 aparecerá da parte ativa do equipamento para a carcaça e da


carcaça para o terra local:
V2 = Va + Vb ;
Os valores de Va e Vb dependem dos valores das capacitâncias existentes
entre a parte ativa do telefone e a carcaça (C1) e a carcaça e o terrra local
(C2), figura 35.

32
Figura 35 - Capacitâncias parte ativa-carcaça e carcaça-terra local.

Como as distâncias envolvidas entre a parte ativa do telefone e a carcaça


são bem menores que as distâncias envolvidas entre a carcaça e o terra
local, a capacitância C1 é menor que a capacitância C2. Isto implica em que a
tensão Va será menor que a tensão Vb.

C1 < C2 ⇒ Va < Vb.

A instalação de protetor no fim do cabo blindado, figura 36, não ajuda muito,
uma vez que a tensão residual do protetor é bem menor que a tensão V1. A
tensão V2 será:

V2 = V1 + Tensão residual do protetor ≅ V1.

33
Figura 36 - Instalação de protetor na rede externa. Equipamento alimentado
via fio.

Do ponto de vista da proteção do telefone a situação da figura 30 (telefone


alimentado via cabo blindado) é melhor que a situação da figura 34 (telefone
alimentado por fio). Do ponto de vista de segurança pessoal a situação da
figura 34 parece ser mais favorável. No caso do telefone alimentado pelo
cabo não se tem uma conexão metálica entre a malha de aterramento e a
carcaça do telefone. No caso de uma pessoa tomar um choque no telefone
alimentado pelo fio, a corrente será menor do que no caso do telefone
alimentado pelo cabo. No caso do fio o circuito malha-par-carcaça-pessoa
tem uma impedância maior que no caso do cabo, figuras 37 e 38.

34
Figura 37 - Tensão de contato.Telefone alimentado por cabo blindado.

Figura 38 - Tensão de contato.Telefone alimentado por fio.

A especificação de um nível mínimo de isolamento dos equipamentos


terminais garantirá segurança pessoal aos usuários.

3 - Sobretensões geradas por descargas atmosféricas na rede interna.

35
Em princípio, as sobretensões geradas na fiação interna de uma edificação
não são de responsabilidade da empresa concessionária, bem como as
sobretensões geradas na alimentação AC dos equipamentos com
alimentação local.
No entanto, devido ao elevado número de danos que ocorrem,
principalmente nos equipamentos com alimentação local, serão feitos alguns
comentários sobre as tensões induzidas na fiação interna das edificações.
Sabe-se pela Lei de Faraday que uma corrente variável no tempo induz
tensão em uma espira aberta e corrente em uma espira fechada (figura 39).

Figura 39 - Lei de Faraday. Tensões e correntes induzidas em espiras.

A fiação interna de uma edificação pode formar “loops” abertos ou fechados


que irão se comportar da mesma forma que as espiras mostradas na
figura 39.
O valor da tensão induzida depende basicamente:
- da distância da descarga à fiação;
- do valor da corrente de descarga;
- da taxa de variação da corrente de descarga;
- da área formada pelos fios.

A figura 40 ilustra um “loop” formado pela fiação da rede elétrica e pela


fiação da rede telefônica.

36
Figura 40 - “Loop” formado pelas redes elétrica e telefônica.

A tensão induzida no “loop” irá aparecer dentro do equipamento, como


ilustrado na figura 41.

Figura 41 - Tensões dentro do equipamento.

A figura 42 ilustra com mais detalhes as tensões que serão induzidas dentro
do equipamento.

37
Figura 42 - Detalhe das tensões dentro do equipamento.

Na figura 42 tem-se:

V1 - Tensão induzida entre fase - neutro;


V2 - Tensão induzida entre os fios do par;
V3 e V4 - Tensão induzida entre redes elétrica e telefônica.

V3 ≅ V4 ;
V1 e V2 << V3 .

Mesmo no caso dos equipamentos telealimentados, ou seja, equipamentos


que só se conectam à rede telefônica, pode-se ter a formação de “loops”. A
figura 43 ilustra o caso de um “loop” formado pela rede telefônica e pelo cabo
de descida do pára-raios da edificação.

38
Figura 43 - “Loop” formado pela rede telefônica e pelo cabo de descida do
pára-raios.

A figura 44 ilustra com mais detalhes as tensões que serão induzidas no


equipamento.

Figura 44 - Tensões dentro do equipamento.

Na figura 44 tem-se:

39
V5 - Tensão entre os fios do par;
V3 - Tensão entre a parte ativa do telefone e a carcaça;
V4 - Tensão entre a carcaça e o terra local.
A tensão total induzida no “loop”é igual a soma de V3 e V4.

V3 + V4 = V1.+ V2.
V5 << V3+ V4.

O exemplo a seguir (figura 45) foi apresentado por Eric Montandon em um


curso proferido no II Seminário Internacional de Proteção Contra Descargas
Atmosféricas:

Figura 45 - Tensão induzida em uma espira aberta.

Na figura 45 a tensão “V” será:

dφ dI
V= = M. ;
dt dt

d
M = 0,2. L.ln .
r

Para :
L = 1,0 m, d = 1,0 m e r = 6,5 mm:

40
M = 1,0 µH;
V = M dI/dt.

A taxa de variação da corrente de descarga atmosférica varia de:

1,0 kA/µs a 100 kA/µs.

Logo:
V = 1,0 kV (dI/dt = 1,0 kA/µs);
V = 100 kV (dI/dt = 100 kA/µs).

Isto demonstra que mesmo para “loops” pequenos os valores das tensões
induzidas são muito elevados.
É importante observar que para a tensões induzidas na fiação interna não
adianta instalar protetores ou aterrar melhor a rede externa. A única solução
é a instalação protetores junto ao equipamento.
No caso de equipamento tealimentado o protetor irá apenas controlar o valor
da tensão induzida entre os fios do par. Para se controlar a tensão par-terra
precisa-se de um ponto de aterramento.
As estatísticas de defeito indicam que o número de danos a equipamentos
telealimentados é bem menor que o número de danos a equipamentos com
alimentação local. O maior problema do equipamento tealimentado é o de
segurança pessoal. Como já comentado no item anterior, do ponto de vista
de segurança pessoal é necessário a especificação de um nível mínimo de
isolamento para o equipamentos terminais, figura 46.

41
Figura 46 - Protetor instalado em equipamento telealimentado.

A proteção secundária de equipamentos com alimentação local deve atender


quatro requisitos básicos:
• Proteger a entrada AC do equipamento;
• Proteger a entrada de áudio do equipamento;
• Isolar a rede elétrica da rede telefônica;
• Interligar, via protetor, as duas redes no caso de sobretensões.
Pode-se proteger o equipamento através da instalação de dispositvos
protetores contra sobretensão, utilizando-se o fio terra (onde ele existir) ou o
próprio fio neutro (quando não existir o fio terra), figuras 47 e 48.

Figura 47 - Proteção de equipamento com alimentação local.


Rede com fio terra.

42
Figura 48 - Proteção de equipamento com alimentação local.
Rede sem fio terra.

A solução adotada na França, para os equipamentos da rede MINITEL


(computador junto com o telefone), foi a de se utilizar um transformador de
isolamento na rede AC.
Pode-se efetuar este isolamento no lado de áudio ou no lado AC.
O isolamento do lado de áudio demanda uma solução mais aprimorada mas
é possível de ser implementada.
No lado AC o isolamento pode ser obtido através de um transformador de
relação 1/1 e com nível de isolamento de 5,0 kV (valor adotado na França),
figura 49.

Figura 49 - Proteção de equipamento com alimentação local.


Rede sem fio terra.

4 - Critérios básicos de proteção.

43
Na rede telefônica os meios de proteção elétrica são:

- Utilização de cabos subterrâneos;


- Utilização de cabos blindados;
- Aterramento da rede;
- Instalação de protetores.

4.1- Utilização de cabos subterrâneos.

As tensões induzidas pelas descargas atmosféricas dependem da altura da


rede e da resistividade do solo. Em solos de baixa resistividade praticamente
não se tem tensões induzidas em redes subterrâneas. Em solos de alta
resistividade, como é o caso brasileiro ter-se-a tensões induzidas em redes
subterrâneas mas de valores bem inferiores aos que ocorrem na rede aérea.
A adoção de cabos blindados subterrâneos é uma das melhores alternativas
de proteção.
Conforme já mencionado anteriormente, nas medições realizadas na
Alemanha nenhuma tensão acima de 1000 V foi medida em redes
subterrâneas. Infelizmente, o custo elevado destas redes restringe a sua
adoção.

4.2 - Utilização de cabos blindados.

Como analisado anteriormente as tensões que se desenvolvem em um cabo


blindado dependem basicamente da filosofia de aterramento adotada.
Quanto menor o valor da resistência de aterramento e quanto maior o
número de pontos de aterramento melhor será o desempenho da rede.
Equipamentos muito expostos ou equipamentos de maior porte devem ser
alimentados por cabos blindados.
Sempre que existir ou for possível construir uma malha de aterramento local
(perto do equipamento) deve-se fazer a alimentação do mesmo por cabo
blindado.

44
4.3 - Aterramento da rede.

O aterramento da rede aérea é um dos meios mais eficientes para se


proteger os equipamentos.
A tabela 1 mostra os valores de tensões induzidas em uma rede
multiaterrada. Os casos mais críticos são para descargas que incidem perto
do final da rede, entretanto a maioria das descargas incidirá ao longo da
rede. Para averiguar a veracidade desta afirmação, foram feitas algumas
simulações probabilísticas para se determinar os pontos de incidência de
descargas.
A figura 50 mostra os pontos de incidência de descargas atmosféricas ao
longo de uma rede. Foram simuladas descargas durante um período de 50
anos em uma região com 9,0 descargas por km2 por ano (nível ceráunico de
80 dias de trovoada por ano). O método utilizado para gerar os pontos de
incidência das descargas foi o método de Monte Carlo, implementado no
programa MATLAB.
Considerando-se uma linha de 1,0 km de comprimento e descargas que
incidem a até 500 m da rede, ter-se-a em 50 anos 900 descargas.

Figura 50 - Pontos de incidência de descargas atmosféricas.

45
Uma descarga que incide a menos de 50 metros da linha, será atraída pela
linha e será uma descarga direta. A área “S1”, da figura 50, mostra a região
de incidência de descargas diretas. A área ”S2” compreende os pontos onde
as descargas se situam próximas da ponta da linha, nesta área considerou-
se as descargas alinhadas com o final da linha e também aquelas que caiam
a até 200 metros do final da linha. A figura 51 mostra em detalhes as áreas
“S1” e ”S2”.

Figura 51 - Detalhes das áreas S1 e S2.

Ve-se na figura 50 que em 50 anos:


- 900 descargas na área de interesse;
- 49 descargas são diretas (5,4% do total);
- 74 descargas (8% do total) incidem na região crítica.
Como nas simulações adotou-se uma descarga de 80 kA de pico, cuja
probabilidade de ocorrência também é pequena (da ordem de 10%), é
bastante razoável condiderar-se apenas as descargas que caiam no trecho
central da linha para a determinação de critérios gerais de proteção.
Isto indica que pode-se trabalhar na tabela 1, repetida a seguir, apenas com
as descargas que incidem perto da região central da linha (X = 750 m).

X R V1
(m) (Ω) (kV)
750 100 10,31

46
750 50 3,30
750 30 1,13
750 15 0,02

Tabela 1 - Valores de pico das tensões induzidas em uma rede multiaterrada


R = 100, 50, 30, 15 Ω. X = 750 m.

Um dado muito importante para o estabelecimento de critérios de proteção é


o conhecimento da resistibilidade dos equipamentos. É necessário a adoção
no Brasil de normas sobre a resistibilidade dos equipamentos terminais. O
CCITT / ITU recomenda um valor mínimo de 1500 V.
Se for adotado no Brasil o mesmo valor de resistibilidade proposto pelo
CCITT/ITU (1500 V) a utilização de redes multiaterradas de 500 em 500 m
com resistências de aterramento da ordem de 30 Ω é uma boa alternativa.
Pela Tabela 1, no caso mais provável (X = 750 m), a tensão induzida é de
cerca de 1000 V.

4.4 - Instalação de protetores.

4.4.1 - Instalação de protetores nos cabos blindados.

No caso de cabos blindados a instalação de protetores tem por objetivo


controlar os valores das tensões entre os fios do par e as tensões par-
blindagem. O controle da tensão blindagem-terra é feita através do
aterramento da blindagem.
As tensões entre fios do par e entre par-blindagem são pequenas, em
comparação com as tensões blindagem-terra, entretanto, em certas
situações elas podem ser significativas.
Nas redes brasileiras se utiliza um tipo de caixa de emenda (CEV), de
plástico, onde se garante a continuidade elétrica da blindagem através da
interligação das blindagens dos cabos por um fio, figura 52.

47
Figura 52 - Caixa de emenda ventilada - CEV.

O fato da blindagem não existir dentro da CEV implica na indução de tensões


elevadas entre par e blindagem.
A tensão induzida entre par e blindagem em um cabo com blindagem
contínua é baixa e é dada, aproximadamente, por:

V2 = Rcc . I.

Onde Rcc é a resistência da blindagem ( Rcc = 1,55 Ω / km para um cabo


CTP-APL de 100 pares) e I é o valor de corrente que circula pela blindagem,
figura 53.

Figura 53 - Tensão induzida em um cabo blindado.

No caso da CEV a tensão induzida no “loop” formado pelo par e pelo cabo de
conexão (V3) será adicionada à tensão originada na blindagem (I.Rcc), figura
54. Apesar deste “loop” ser pequeno, existem vários deles em uma rede de
grande extensão. Além disto, como visto no item 2, a taxa de variação da

48
corrente de descarga (dI/dt) é bastante alta. Descargas que incidem
diretamente ou próximo da rede podem induzir tensões elevadas no “loop”.

Figura 54 - Tensão induzida em um cabo blindado.


A instalação de protetores entre pares e blindagem garante que as tensões
entre fios do par e entre par-blindagem serão no máximo iguais às tensões
residuais dos protetores.
Em redes muito expostas ou no caso da alimentação de equipamentos de
grande porte recomenda-se a instalação de protetores, mesmo nos casos
onde a alimentação do equipamento é feita totalmente por cabo blindado.

4.4.2 - Instalação de protetores nos fio FEs.

Toda vez que o comprimento do fio FE for “grande” deve-se instalar


protetores ao longo do seu percurso.
A determinação do comprimento máximo de fio FE sem protetor não é uma
tarefa fácil. Os resultados obtidos nas simulações apresentadas no item 2
fornecem algumas pistas.
Ve-se na tabela 4, repetida a seguir, que comprimentos de fio FE da ordem
de 300 m implicam em tensões na ponta do fio da ordem de 3,O kV para
descargas que incidem no trecho central da rede, caso mais provável. Como
o valor da corrente de descarga utilizada nas simulações foi muito elevado
(80 kA), comprimentos da ordem de 500 metros são aceitáveis.

49
L X Vo
(m) (m) (kV)
0 750 1,05
100 850 3,29
300 1050 3,23
500 1500 8,4
0 0 4,24
100 0 26,49
300 0 94,77
500 0 139,77

Tabela 4 - Valores de pico das tensões induzidas na ponta do fio FE.


Adotando-se a mesma justificativa apresentada no item 4.2.3, pode-se
concluir que:
- Em redes pouco expostas não utilizar fio FE maior que 500m;
- Em redes muito expostas sempre instalar proteção no final do fio FE.
A tabela 6, repetida a seguir, mostra a eficiência de um protetor instalado no
final de um trecho de fio FE de 500 m de comprimento. Sem protetor a
tensão no fio era de 140 kV e com a instalação de um protetor, aterrado com
15 Ω, a tensão cai para 4 kV.

Caso L V1 Vo
(m) (kV) (kV)
S / protetor 500 7,84 139,77
C / protetor 500 1,4 4,24

Tabela 6 - Valores de pico das tensões induzidas para os caso com e sem
protetor no fio FE.

5 - Critérios gerais de proteção.

Serão considerados:

50
-Localização do equipamento:
-Área exposta (rural e suburbana);
-Área não exposta (urbano).
-Tipo de rede que alimenta o equipamento:
-Cabo subterrâneo;
-Cabo aéreo blindado;
-Fio aéreo não blindado.

As tabelas 7 a 11 apresentam um resumo das principais recomendações de


projeto. É importante observar que são propostos critérios gerais. Casos
específicos devem ser tratados individualmente, levando-se em conta o tipo
de equipamento, o grau de exposição e o tipo de rede.
Aterrar a rede com o menor valor de resistência possível.
Sempre aterrar as pontas de rede em regiões expostas.
Instalar protetor em toda ponta de rede em regiões expostas.

Tabela 7 - Critérios gerais.

ATERRAMENTO DA REDE
Distância entre pontos Valor da resistência Aterramento do protetor
de aterramento
< 500 m < 50 Ω < 15 Ω

Tabela 8 - Aterramento da rede.

ATERRAMENTO NA PONTA DA REDE


Tipo de cabo
Situação Subterrâneo Aéreo C/blindagem

51
geográfica Comprimento Comprimento
< 500 m > 500 m < 500 m > 500 m
Exposta Sim Sim Sim Sim
Não exposta Não Sim Não Sim

Tabela 9 - Aterramento na ponta da rede.

INSTALAÇÃO DE PROTETORES AO LONGO DA REDE


Situação Tipo de cabo
geográfica Aéreo S/blindagem
Exposta 500 em 500 m
Não exposta 1000 em 1000 m

Tabela 10 - Instalação de protetores ao longo da rede.

INSTALAÇÃO DE PROTETORES NA PONTA DA REDE


Tipo de Cabo
Situação Subterrâneo Aéreo Aéreo
geográfica C/blindagem S/blindagem
Comprimento Comprimento Comprimento
< 500 m > 500 m < 500 m > 500 m < 500 m > 500 m
Exposta Não Sim Sim Sim Sim Sim
Não exposta Não Não Não Sim Não Sim

Tabela 11 - Instalação de protetores na ponta da rede.

52
5.1 - Exemplos.

As figuras abaixo ilustram algumas das situações descritas nas tabelas 7/11.

Figura 55 - Multiaterramento da rede.

53
Figura 56 - Aterramento e proteção na ponta da rede - Cabo subterrâneo.

54
Figura 57 - Aterramento e proteção na ponta da rede.Cabo blindado.

55
Figura 58 - Aterramento e proteção na ponta da rede. Cabo sem blindagem.

Figura 59 - Proteção ao longo da rede. Cabo não blindado.

5 - Recomendações finais.

➊ As empresas devem orientar seus clientes sobre a necessidade de


instalar protetores junto aos equipamentos com alimentação local. Isto pode
ser feito através da distribuição de uma cartilha (manual técnico);

56
➋ As empresas devem testar os protetores vendidos no comércio para
melhor orientar seus clientes sobre a qualidade dos mesmos;

➌ Recomenda-se alterar a normalização brasileira no tocante a


instalações eletricas e telefônicas;

➍ O nível de resistibilidade dos equipamentos terminais deve ser


estabelecido em norma técnica e deve-se exigir testes nos equipamentos
terminais;

➎ O nível de isolamento dos equipamentos terminais deve ser


estabelecido em Norma Técnica e deve-se exigir testes nos mesmos.

57

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