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1 ANÁLISE DE VIABILIDADE DA INSERÇÃO DE UMA EMPRESA NO

2 MERCADO LIVRE DE ENERGIA

3 Paula Barbosa da Silva Guerra (paula.barbosa088@gmail.com); Taynan


4 Fernandes Basto (taynanfernandesb@gmail.com); Profº Msc. Felipe Santana
5 Santos (felipe.ssantos@souunit.com.br)

6 RESUMO
7 O artigo tem como objetivo analisar a viabilidade da inserção de uma unidade consumidora
8 pertencente ao mercado cativo no mercado livre de energia. Através desse estudo, foram abordados
9 os principais conceitos, exigências, vantagens e legislações pertencentes a este mercado. Analisa
10 também, a reestruturação do setor elétrico brasileiro, que passou a ter como finalidade proporcionar
11 tarifas equilibradas e acessíveis aos consumidores. Este novo modelo de setor elétrico fez com que a
12 comercialização de energia elétrica fosse realizada através de duas categorias: Mercado Cativo e
13 Mercado Livre. Como resultado dessa nova estrutura, o mercado passa a ser descentralizado e a
14 defender a livre concorrência, tornando-se extremamente competitivo. Para a realização da análise
15 de viabilidade, foi utilizado o método break-even point e algumas ferramentas de estudo econômico
16 que comprovaram o quão economicamente vantajoso será caso ocorra a inserção da empresa no
17 mercado livre de energia, obtendo-se 37,36% de economia média referente à diferença de preços
18 entre os mercados de energia em questão. Isto é, para essa empresa, a mudança para o mercado
19 livre trará diversos benefícios para o consumidor, sendo o principal, os preços mais competitivos do
20 que no mercado cativo devido à possibilidade de negociações mais flexíveis que garantem
21 independência para a gestão de compra de energia.

22 Palavras-chave: Comercialização de energia elétrica. Inserção. Mercado cativo. Mercado livre. Setor
23 elétrico brasileiro.

24 ABSTRACT
25 This article has the objective to analyze the viability for the insertion of a consumer unit that belongs to
26 the captive market into the free energy market. Through this study, it were approached the main
27 concepts, requirements, advantages and legislation pertaining to this market. It also analyzes the
28 restructuring of the Brazilian electric sector, which has passed to have as purpose to providing
29 balanced and affordable taxes to consumers. This new electric sector´s model has made the trading of
30 electric energy to be performed through two categories: Captive Market and Free Market. As result for
31 this new structure, the market becomes decentralized and defends the free competition, becoming
32 extremely competitive. For the performing of the analysis it has been used the “break-even point”
33 method and some economic studying tools that had proved how economically advantageous it will be
34 in case of the company´s insertion on the free energy market occurs, obtaining 37.36% from average
35 savings related to the difference in prices among the energy markets concerned. In other words, for
36 this company, the shift for the free market will bring several benefits to the consumer, being the
37 mainly, the prices more competitive than in the captive market due to the possibility of more flexible
38 negotiations that guarantee independence for energy purchase management.
39 Keywords: Commercialization of electric energy. Insertion. Captive market. Free market. Brazilian
40 electric sector.

41 1 INTRODUÇÃO
42 A utilização de energia elétrica é um dos indicativos mais ligados ao
43 crescimento da humanidade, hoje indispensável em quase todos os setores de
44 funcionamento da sociedade. O mercado de energia elétrica passou por grandes
45 modificações nos últimos tempos, sendo a energia elétrica atualmente tratada como
46 um produto de grande valor comercial em diversos países, em mercados
47 completamente não regulados, abertos para a livre competição entre os
48 comercializadores de energia.
1 Atualmente o Brasil caminha nessa direção, já que o mercado livre de energia
2 já responde por 30% de toda energia consumida no país, de acordo com a Câmera
3 de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). Segundo um levantamento feito
4 pela Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia Elétrica (ABRACEEL),
5 o mercado livre já gerou, no Brasil, uma economia de R$ 123 bilhões, com a
6 redução média de 23% no preço de energia. Existe, ainda, bastante a se fazer até
7 que o país consiga ter um mercado de energia elétrica completamente livre, igual a
8 outros países que atravessaram por caminhos parecidos no processo de
9 desregulamentação do setor elétrico.
10 Essas modificações no panorama do mercado de energia elétrica brasileiro irão
11 ampliar a perspectiva de oportunidades de redução de custos. Portanto, a
12 compreensão dessas mudanças serão decisivas para o sucesso de empresas no
13 mercado.
14 Nesse contexto, o presente artigo apresenta os resultados alcançados por meio
15 da utilização de ferramentas matemáticas e econômicas para a realização de
16 simulações de custos de uma instituição de ensino superior na opção tarifária do
17 Ambiente de Contratação Regulada (ACR) em relação ao Ambiente de Contratação
18 Livre (ACL) para verificação de viabilidade da inserção dessa Unidade Consumidora
19 (UC) no mercado livre de energia.

20 2 SISTEMA ELÉTRICO DE POTÊNCIA


21 O Sistema Elétrico de Potência pode ser definido como um sistema composto
22 por estruturas e equipamentos que operam em conjunto e de maneira coordenada,
23 cuja função é transformar ou converter fontes energéticas diversas em energia
24 elétrica, transportá-la e distribuí-la aos consumidores (MEDEIROS, 2017).
25 Segundo Souza (2008), os Sistemas Elétricos de Potência podem ser divididos
26 basicamente em: geração, transmissão, subtransmissão e distribuição. Em cada
27 parte do sistema elétrico, há a necessidade de se reduzir e elevar, de maneira
28 conveniente, os níveis de tensão de modo que o transporte de energia elétrica seja
29 econômico e, portanto, viável. Nos últimos anos o setor elétrico tem passado por
30 uma extensa reestruturação.
31 No Brasil, este processo de reestruturação foi desencadeado com a criação de
32 um novo marco regulatório, a desestatização das empresas do setor elétrico, e a
33 abertura de mercado de energia (LEÃO, 2007).
34 Com o intuito de coordenar o setor elétrico após a reforma, foi criada pelo
35 Governo Federal uma nova estrutura organizacional. De acordo com a Câmera de
36 Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), o atual modelo do setor elétrico
37 brasileiro criou novas instituições, alterou funções de outras já existentes e as dividiu
38 em dois grupos.
39 Quanto ao primeiro grupo, composto pelo CNPE, CMSE, MME e EPE, aponta-
40 se que os trabalhos são voltados a uma perspectiva mais estratégica, com o
41 estabelecimento de políticas e diretrizes; o monitoramento amplo do sistema e o
42 desenvolvimento de análises para a proposição de medidas focadas no longo prazo.
43 Já o segundo, representado pela ANEEL, ONS e CCEE, possui um viés de atuação
44 para o desdobramento das diretrizes em regulamentações, a fiscalização dos
45 agentes do setor, a operacionalização dos processos de comercialização de energia
46 e a gestão do Sistema Interligado Nacional (RAMOS, 2017).
47 A estrutura organizacional do setor elétrico brasileiro é apresentada na Figura
48 2.1.

2
1 Figura 2.1 - Estrutura Organizacional do Setor Elétrico Brasileiro

2
3 Fonte: CCEE

4 Com as reformas do setor elétrico brasileiro, os segmentos de geração,


5 transporte e comercialização de energia passam a ser independentes, sendo
6 administrados e operados por agentes distintos. Privilegiando a livre concorrência, o
7 estado passa a ter o papel apenas de regulação aonde for necessário. Assim, os
8 segmentos de geração e comercialização foram caracterizados como segmentos
9 competitivos, sendo marcados pela livre concorrência e ausência de regulamentação
10 econômica (BRAGA, 2018).

11 3 MERCADO LIVRE DE ENERGIA


12 O mercado livre de energia elétrica, ou Ambiente de Contratação Livre (ACL), é
13 o ambiente em que os consumidores podem escolher livremente seus fornecedores
14 de energia. Nesse ambiente, fornecedores e consumidores negociam entre si as
15 condições de contratação de energia (ABRACEEL, 2018).
16 Em 1995, foi promulgada a Lei n° 9.074, que criou a figura do Produtor
17 Independente de Energia e do Consumidor Livre, e, portanto, estabeleceu os direitos
18 de livre acesso ao sistema de distribuição e transmissão e deu origem ao mercado
19 competitivo de energia elétrica. De acordo com o artigo 15° e 16° da referida norma
20 legal, consumidores livres são aqueles que possuem carga superior a 3 MW e
21 tensão acima de 69 kV, se conectados antes de 08/07/1995, ou qualquer tensão, se
22 conectados após essa data e podem escolher outro fornecedor de energia que não o
23 detentor da concessão de serviço público de distribuição. O mesmo artigo definia um
24 cronograma gradual para abertura de mercado e redução das barreiras de migração,
25 sendo que inicialmente apenas consumidores com carga superior a 10MW tinham a
26 opção de compra com qualquer fornecedor de energia elétrica. Após cinco anos de
27 promulgação da lei, o requisito mínimo de carga seria 3 MW, e após oito anos o
28 poder concedente poderia reduzir ainda mais os requisitos estabelecidos
29 (OLIVEIRA, 2017).
30 Isso marcou a criação de um novo modelo institucional para o setor elétrico
31 brasileiro, que foi resultado da revisão setorial proposta pelo Projeto de
32 Reestruturação do Setor Elétrico (RE-SEB), que ocorreu entre 1996 e 1998. O RE-
33 SEB qualificou a importância de um operador independente do sistema elétrico (o
34 Operador Nacional do Sistema Elétrico, criado em 1998), a criação do órgão

3
1 regulador (a Agência Nacional de Energia Elétrica, criada em 1996) e a criação de
2 um ambiente para realização de compra e venda de energia elétrica (o Mercado
3 Atacadista de Energia Elétrica - MAE, criado em 1998) (OLIVEIRA, 2017).
4 Segundo Araújo (2001), o suprimento de eletricidade entrou num estado de
5 escassez crônica, resultado do subinvestimento no setor elétrico desde os anos
6 oitenta. Isso porque, desde essa década, a capacidade instalada cresceu
7 sistematicamente menos do que a demanda por energia elétrica. A situação foi
8 agravada por alguns anos de precipitação pluvial abaixo da média e, em 2001, os
9 cálculos da ONS indicaram a necessidade de uma redução imediata de 20% no
10 consumo de eletricidade para prevenir o completo esvaziamento dos reservatórios
11 de água. O racionamento foi declarado e teve fim apenas em 2002, o que evidenciou
12 problemas gerais na modelagem do setor desenvolvida pelo projeto RE-SEB.
13 De acordo com Clímaco (2010), os problemas de suprimento ocorridos em
14 2001 sinalizaram que o livre mercado poderia não ser suficiente para manter a
15 eficiência da operação e expansão do setor. Diante desses problemas, iniciou-se um
16 processo de ajustes na regulamentação, buscando, por um lado, manter os aspectos
17 positivos da introdução de maior competição e abertura com as primeiras reformas,
18 e por outro lado, fazendo mudanças para corrigir as falhas ocorridas e que
19 resultaram nas crises de suprimento.
20 Nesse contexto, o setor elétrico vivenciou uma significativa reestruturação. A
21 eletricidade passou a ser comercializada em separado de seu transporte,
22 possibilitando a introdução da competição na produção. O planejamento e o
23 mercado passaram a ser o centro do novo modelo do setor, contribuindo para a
24 redução dos custos da energia e estabelecendo um novo paradigma para o setor.
25 Em relação à comercialização de energia, foram instituídos dois ambientes para
26 celebração de contratos de compra e venda de energia: o Ambiente de Contratação
27 Regulada (ACR), do qual participam agentes de geração e de distribuição de
28 energia; e o Ambiente de Contratação Livre (ACL), do qual participam agentes de
29 geração, comercializadores, importadores e exportadores de energia e
30 consumidores livres (CLÍMACO, 2010).
31 A opção tradicional da maioria dos consumidores está restrita a adquirir energia
32 elétrica no ACR. Trata-se de contratação exclusiva e compulsória dessa energia da
33 distribuidora da região em que estão. As tarifas pelo consumo de energia são
34 fixadas pela ANEEL e não podem ser negociadas. Todos os consumidores
35 residenciais estão nesse mercado, assim como a imensa maioria do comércio,
36 pequenas indústrias e consumidores rurais (ABRACEEL, 2018).
37 As empresas que optaram pelo mercado livre buscam, principalmente, redução
38 nos custos e previsibilidade na fatura de eletricidade. Desde 2003, o mercado livre
39 proporcionou, em média, uma economia de 29% em comparação com o mercado
40 cativo. As regras de ambos os mercados são definidas pela Aneel. Todos os
41 contratos são contabilizados mensalmente pela Câmera de Comercialização de
42 Energia Elétrica (ABRACEEL, 2018).
43 Segundo a Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia
44 (ABRACEEL), existem dois tipos de consumidores livres: os consumidores livres e
45 consumidores especiais. Consumidores livres devem possuir, no mínimo, 2.500 kW
46 de demanda contratada para poder contratar energia proveniente de qualquer fonte
47 de geração. Esse requisito, para os consumidores livres, irá mudar para 2.000 kW a
48 partir de janeiro de 2020. Essa mudança advém da Portaria 514/2018 do Ministério

4
1 de Minas e Energia. Já os consumidores especiais, devem possuir demanda
2 contratada igual ou maior que 500 kW e menor que 2.500 kW, requisito que também
3 irá reduzir em função da Portaria 514. Esses consumidores podem contratar energia
4 proveniente apenas de usinas eólicas, solares, a biomassa, pequenas centrais
5 hidrelétricas (PCHs) ou hidráulica de empreendimentos com potência inferior ou
6 igual a 50.000 kW, as chamadas fontes especiais. As principais diferenças entre os
7 dois tipos de consumidores livres estão resumidas na Figura 3.1.

8 Figura 3.1 - Comparação entre dos dois tipos de consumidores livres

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10 Fonte: ABRACEEL - Cartilha Mercado Livre de Energia

11 Os consumidores classificados como especiais podem utilizar do artifício de


12 comunhão de carga, ou seja, consumidores com o mesmo CNPJ ou localizados em
13 área contígua (sem separação por via pública) podem agregar suas cargas para
14 atingir o nível de demanda de 500 kW exigido para se tornar consumidor especial
15 (ABRACEEL, 2018).
16 De acordo com a legislação, o poder concedente pode diminuir os requisitos
17 de demanda para elegibilidade do mercado livre. O Projeto de Lei 1.917/2015, que
18 tramita na Câmera dos Deputados e o Projeto de Lei 232/2016, que tramita no
19 Senado, preveem a expansão do mercado livre de energia brasileiro por meio da
20 adoção da portabilidade para todos, ou seja, a possibilidade de que todos os
21 consumidores escolham o próprio fornecedor de energia, independentemente do
22 montante contratado. Em vigor na maior parte dos Estados Unidos e em toda a
23 Europa, essa sistemática permite a redução de custos para os consumidores finais,
24 ao mesmo tempo em que promove importante aumento da concorrência e da
25 eficiência setorial (ABRACEEL, 2018).

26 3.1 Funcionamento do mercado livre


27 Quanto ao funcionamento do mercado livre de energia elétrica, a ANEEL
28 explica que, no mercado cativo de energia, a conta de energia contempla três custos
29 de natureza distinta: a energia elétrica gerada, o transporte da energia até as
30 unidades consumidoras (transmissão e distribuição) e os encargos setoriais. Além
31 da tarifa, os Governos Federal, Estadual e Municipal cobram na conta de luz o
32 PIS/COFINS (Programa Integração Social/Contribuição para Financiamentos da

5
1 Seguridade Social), o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) e
2 a Contribuição para Iluminação Pública. Portanto, quando a conta de energia chega
3 ao consumidor, ele paga pela compra de energia (custos do gerador), pela
4 trasmissão (custos da transmissora) e pela distribuição (serviços prestados pela
5 distribuidora), além de encargos setoriais e tributos.
6 No mercado livre, os consumidores podem escolher adquirir eletricidade de
7 fontes convencionais ou provenientes de energia incentivada. Usinas hidrelétricas de
8 grande porte e termelétricas são as fontes mais comuns de energia no país e são
9 denominadas fontes convencionais. Os consumidores que adquirem energia de
10 fontes incentivadas têm direito à redução, entre 50% e 100%, nas tarifas de uso do
11 sistema de distribuição e transmissão (TUSD e TUST), que é o custo do transporte
12 de energia. O percentual do desconto depende da data de homologação da outorga
13 ou do registro da usina na Aneel e do tipo de fonte de geração. Essa medida é um
14 incentivo econômico para o desenvolvimento das fontes renováveis no país
15 (ABRACEEL, 2018).

16 3.2 Estratégia de contratação de energia


17 O consumidor do mercado livre é quem define sua estratégia de contratação de
18 energia e toma as próprias decisões de compra. É fundamental que cada
19 consumidor tenha uma estratégia de longo prazo. Apenas a energia contratada
20 protege o consumidor de variações de preços, que são muito voláteis no setor
21 elétrico brasileiro. Essa volatilidade se deve, principalmente, às características do
22 nosso parque gerador predominantemente hidroelétrico e, portanto, dependente do
23 regime de chuvas. A partir de estudos e estratégias de contratação, o agente
24 comprador pode optar por realizar um contrato com perfil conservador ou arrojado
25 (RIZKALLA, 2018).
26 Caso opte pelo perfil conservador, o contratante celebrará um contrato de
27 longo prazo, no qual se tenta contemplar o consumo mensal em sua totalidade, de
28 forma a evitar o mercado de curto prazo (MCP) e, por consequência, a exposição ao
29 preço de liquidação das diferenças (PLD) (RIZKALLA, 2018).
30 Optando pelo perfil arrojado, o contratante negociará um volume de energia
31 maior ou menor do que sua capacidade real, a fim de poder negociar o excedente ou
32 déficit no mercado de curto prazo, de forma a maximizar seus ganhos. O risco
33 relacionado a esse tipo de estratégia é significativamente superior ao anterior, uma
34 vez que o preço da energia é muito inconstante (ABRACEEL, 2018).
35 Há ainda opções de alternativas contratuais, como por exemplo, a de consumo
36 flexível. Nesse tipo de contrato, pode ser estabelecido uma margem de consumo
37 flexível (por exemplo, de 10% acima ou abaixo do total contratado), reduzindo assim
38 ainda mais os riscos de déficits e superávits da contratação de energia. De qualquer
39 forma, toda e qualquer “sobra” ou “falta” de energia deve ser liquidada no mercado
40 de curto prazo ao valor do PLD vigente na semana, portanto, há sempre algum risco
41 associado ao mercado livre de energia (RIZKALLA, 2018).
42 Castro, Leite e Timponi (2010) anotam que as principais características do
43 mercado de curto prazo no Brasil são a existência de um operador único de
44 mercado, a CCEE, que centraliza as transações de compra e venda de energia,
45 custos e preços associados diretamente ao despacho econômico, com modelo de
46 preço baseado no preço marginal do sistema, calculado de forma ex-ante (taxa real

6
1 esperada) com bases semanais, demanda passiva no mercado atacadista e
2 inexistência de pagamentos por capacidade.
3 Os preços praticados no mercado de curto prazo brasileiro, no entanto, não
4 decorrem diretamente da relação entre oferta e demanda, ao contrário do que é
5 verificado em outros países. No Brasil, as transações no mercado de curto prazo são
6 liquidadas ao PLD, que reflete o custo marginal do sistema, ou seja, o custo de
7 produção de uma unidade de energia adicional à última unidade consumida pelo
8 mercado, dependente da hidrologia atual e futura. Logo, o PLD não incorpora a
9 reação da demanda ao seu processo de formação de preços (WALVIS, 2014).

10 3.3 Processo de adesão ao mercado livre de energia


11 O primeiro passo para a adesão ao mercado livre é avaliar os requisitos de
12 demanda citados anteriormente. Em seguida, é necessário analisar o contrato
13 vigente com a distribuidora. O contrato de compra de energia regulada ou contrato
14 de fornecimento tem, usualmente, vigência de 12 meses e deve ser rescindido para
15 a migração com seis meses de antecedência (ABRACCEL, 2018).
16 Após analisar os contratos vigentes, o consumidor deve realizar um estudo de
17 viabilidade econômica, comparando as previsões de gastos com eletricidade no
18 mercado livre e no cativo. Caso decida pela migração para o mercado livre, o
19 consumidor deve enviar uma carta à distribuidora comunicando a denúncia dos
20 contratos vigentes. Caso queira antecipar a rescisão contratual, deve pagar pelo
21 encerramento antecipado do contrato (RIZKALLA, 2018).
22 O próximo passo é a compra de energia no ACL, por meio de contratos de
23 compra de energia em ambiente de contratação livre (CCEAL) e/ou de contratos de
24 compra de energia incentivada (CCEI). O contrato pode ser comprado de
25 comercializadores, geradores ou outros consumidores (por meio de cessão)
26 (ABRACCEL, 2018).
27 Os últimos passos são a adequação do sistema de medição para faturamento
28 (SMF) e a realização da adesão à CCEE ou optar ser representado por outro agente
29 vinculado a esta câmara no tocante a contabilização e liquidação. Os consumidores
30 livres e especiais precisam adequar o SMF aos requisitos descritos no procedimento
31 de rede, submódulo 12.2. A partir da adesão, torna-se compulsório o pagamento
32 mensal da contribuição associativa ao CCEE, referente aos custos operacionais que
33 são rateados entre os agentes de acordo com o volume de energia negociado por
34 cada um. Por fim, deve-se fazer a modelagem dos contratos de energia comprados
35 no ACL, conforme os procedimentos de comercialização da CCEE, submódulos 1.1
36 e 1.2 (RIZKALLA, 2018).
37 O processo para migração ao mercado livre e a contratação a longo prazo de
38 energia no ACL é ilustrado pela Figura 3.2.

39

40

41

42

7
1 Figura 3.2 - Etapas da adesão ao mercado livre de energia

2
3 Fonte: (OLIVEIRA, 2017)

4 Uma vez que um consumidor livre ou especial tenha optado por migrar para o
5 Ambiente de Contratação Livre, este poderá retornar ao Ambiente de Contratação
6 Regulada, desde que notifique a Distribuidora a qual está conectado, com 5 anos de
7 antecedência ou em menor prazo, a critério da Distribuidora. A mesma pode, a seu
8 critério, aceitar ou não o retorno do consumidor ao mercado cativo em prazo inferior,
9 dependendo das negociações entre as partes (BRAGA, 2018).

10 4 CÂMERA DE COMERCIALIZAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA


11 A Câmera de Comercialização de Energia Elétrica é uma associação civil e
12 privada, sem fins lucrativos que sucedeu ao MAE e tem por finalidade viabilizar a
13 comercialização de energia elétrica no Sistema Interligado Nacional (SIN).
14 Autorizada em 15/03/2004 pela Lei n° 10.848 e instituída pelo Decreto n° 5177 de
15 12/08/2004, a organização tem como associadas as concessionárias,
16 permissionárias, e autorizadas de geração, distribuição e comercialização de
17 energia, além de consumidores livres e especiais.
18 Entre as atribuições da CCEE, está a manutenção do registro de todos os
19 contratos de comercialização de energia, a disponibilização de sistemas
20 computacionais que viabilizem as negociações, a medição e o registro de dados de
21 geração e consumo e a contabilização das operações de compra e venda de energia
22 no ACR, no ACL e no MCP (CCEE, 2015).
23 Segundo a CCEE, o agente participante do ACL passa a ter diversas
24 obrigações monetárias para com a mesma ao mesmo tempo em que se é instituída
25 uma série de direitos que viabilizam sua atuação no mercado livre de energia
26 elétrica, tendo a oportunidade de contribuir ativamente para o desenvolvimento do
27 setor.
28 O faturamento da energia contratada no mercado livre é calculado em cima das
29 regras estipuladas no contrato firmado entre o agente vendedor e o agente
30 comprador. A CCEE disponibiliza diariamente a mediação de cada agente
31 participante do mercado livre. Como práticas de mercado, o faturamento dessa
32 energia é efetuado geralmente nos primeiros dias do mês seguinte ao fornecimento.
33 O faturamento de energia no mercado livre funciona de acordo com calendário da
34 CCEE, com prazos bastante rigorosos (SILVA, 2017).

8
1 A faturação de energia no ambiente de contratação livre não considera
2 diferença de preço para consumo em ponta ou fora ponta, o que no mercado livre
3 deixa de existir. No ACL o preço do faturamento é estipulado em contrato e é fixo
4 independente da hora do dia em que a energia foi consumida.
5 No ambiente livre, o faturamento de energia contratada leva em consideração o
6 volume consumido, o preço contratual reajustado e a alíquota do imposto sobre
7 circulação de mercadorias e prestação de serviços (ICMS). Essa é a disposição do
8 faturamento referente à contratação de energia, então vale ressaltar, mais uma vez,
9 que o agente do mercado livre continua tendo a obrigação de realizar o pagamento
10 para a distribuidora referente à utilização do sistema. Para a energia incentivada, é
11 nesse faturamento que incide os descontos relacionados à Tusd/Tust.
12 De acordo com Silva (2017), mensalmente, o vendedor de energia registra o
13 volume faturado, e esse registro leva em consideração o tipo de modulação
14 estabelecida em contrato que pode ser fixa (flat), flutuante ou conforme a carga. A
15 existência da modulação se dá pelo fato de que a programação do sistema elétrico é
16 baseada também nos montantes a serem consumidos no hora a hora, então é
17 necessário que a CCEE verifique que o consumo dos agentes hora a hora está
18 dentro do que ele contratou no hora a hora.
19 A Figura 4.1 ilustra, respectivamente, o registro de uma modulação fixa,
20 flutuante e conforme a carga.

21 Figura 4.1 - Exemplo de uma modulação fixa, flutuante e conforme a carga

22
23 Fonte: (SILVA, 2017)

24 O agente participante do mercado livre de energia sai do cenário usual no qual


25 cada unidade consumidora paga apenas uma fatura de energia por mês, incluindo o
26 serviço de geração, distribuição e tarifas e passa a ter seis faturas mensais, sendo
27 elas: a Contribuição Associativa, Encargo de Energia de Reserva, Aporte de
28 Garantia Financeira, Liquidação Financeira, pagamento à distribuidora referente à
29 utilização do sistema (Tusd/Tust) e o pagamento direto ao fornecedor de energia.
30 O descumprimento de qualquer uma das obrigações estipuladas pela CCEE
31 acarreta em um processo de monitoramento, com duração de 6 (seis) meses. Dentro
32 desse período o agente fica sendo fiscalizado e podendo até ser desligado da
33 CCEE.

34 5 METODOLOGIA
35 Neste tópico, será apresentada a utilização de um método para que seja
36 possível analisar a viabilidade da migração do mercado cativo para o mercado livre
37 de energia. Para isto, será empregada como ferramenta o método do ponto de

9
1 equilíbrio (break-even point).
2 O ponto de equilíbrio é o preço máximo em R$/MWh que poderá ser ofertado
3 no mercado livre de energia, o qual equilibra os custos neste ambiente contratual
4 com os do ACR.
5 Segundo Rizkalla (2018), quando aplicada à tarifa de energia elétrica, pode-se
6 entender o ponto de equilíbrio como o valor máximo, em unidades monetárias, que é
7 levado em consideração, para que a opção de compra de energia elétrica, tanto no
8 mercado regulado, quanto no livre, seja neutra.

9 5.1 Método do ponto de equilíbrio


10 Com o intuito de determinar os valores referentes à tarifa elétrica tanto no
11 mercado cativo como no mercado livre, deve-se aplicar o ponto de equilíbrio de tal
12 maneira que o valor da conta de energia no mercado cativo seja calculado para um
13 determinado consumidor, e nele seja aplicada todas as tarifas referentes à
14 modalidade tarifária do mesmo. Para este tipo de cálculo, será utilizada a Equação
15 (1).

16 Vparcial = Dp*TDp + Dfp*TDfp + Du*TDu + Cp*TCp + Cfp*TCfp (1)

17 Em que,
18 Vparcial = valor total, sem tributos, em R$;
19 Dp = demanda contratada para horário de ponta, em kW;
20 TDp = tarifa de demanda contratada para o horário de ponta, em R$/kW;
21 Dfp = demanda contratada para horário fora de ponta, em kW;
22 TDfp = tarifa de demanda contratada para o horário fora de ponta, em R$/kW;
23 Du = demanda de ultrapassagem, em kW;
24 TDu = tarifa de demanda de ultrapassagem, em R$/kW;
25 Cp = consumo em horário de ponta, em kWh;
26 TCp = tarifa de consumo para o horário de ponta, em R$/kWh;
27 Cfp = consumo em horário fora de ponta, em kWh;
28 TCfp = tarifa de consumo para o horário fora de ponta, em R$/kWh.
29 Após o primeiro cálculo, os tributos deverão ser aplicados para que seja
30 descoberto o custo final da conta (TE + TUSD). O custo será calculado através da
31 Equação (2).

32 Vtotal = Vparcial / [1 - (PIS + COFINS + ICMS)] (2)

33 Em que,
34 Vtotal = resultado da conta de energia com a inclusão dos tributos, em R$;
35 Vparcial = valor total, sem tributos, em R$;
36 PIS e COFINS = tributos federais, alíquotas relativas a cada mês e é determinada
37 pela concessionária.

10
1 ICMS = tributo estadual, relativo à faixa e classe de consumo.
2 No próximo passo deve-se calcular o valor da conta referente ao TUSD, já que
3 este será um custo comum aos ambientes de contratação. Para isso, será utilizada a
4 Equação (3). Esta equação é muito semelhante àquela empregada para encontrar o
5 valor parcial, porém, nessa etapa só será considerada a demanda contratada e
6 consumo relativos à parcela da TUSD.

7 VparcialTUSD = Dp*TDpTUSD + Dfp*TDfpTUSD + Du*TDuTUSD + Cp*TCpTUSD + Cfp* TCfpTUSD (3)

8 Uma vez calculado o valor da conta referente apenas a taxa de utilização do


9 sistema de distribuição, os tributos devem ser aplicados, com o propósito de
10 encontrar o custo final referente a TUSD. Para o cálculo desse custo será utiizado
11 novamente a Equação (2).
12 Para finalizar o cálculo do ponto de equilíbrio, será realizado o cálculo da
13 diferença entre o custo final de energia (TE + TUSD) e o valor referente ao TUSD. O
14 valor encontrado representará o ponto de equilibrio entre os dois mercados. Para
15 chegar a esse valor, será utilizada a Equação (4).
16 Vfinal(TE) = Vfinal(total) – V final(TUSD) (4)
17
18 Em que,
19 Vfinal(TE) = valor final referente a parcela da TE, com os tributos incluídos, em R$;
20 Vfinal(total) = valor total da conta de energia, com os tributos incluídos, em R$;
21 Vfinal(TUSD) = valor final referente à parcela da TUSD, com os tributos incluídos, em
22 R$.
23 Como valor final encontrado (Vfinal(TE)) será o ponto de equilíbrio entre os
24 mercados cativo e livre, caso o preço praticado no mercado livre seja superior a
25 esse resultado, será mais vantajoso ao consumidor continuar no mercado cativo,
26 mas se for menor, será mais atrativo ao consumidor optar pela migração.
27 Este método tem sido um dos indicadores mais importantes no setor financeiro,
28 porém sua aplicação isolada apresenta limitações. Mesmo que o valor encontrado
29 no mercado livre seja menor, não significa que seja o mais vantajoso. Será preciso
30 levar em consideração que para esta mudança, do mercado cativo para o mercado
31 livre, haverá custos para adequação a esse novo mercado.
32 Com o intuito de verificar a viabilidade financeira da inserção do consumidor no
33 mercado livre de energia, serão utilizadas algumas estratégias econômicas. Através
34 dessa análise, será possível ter uma visão sobre o potencial de retorno desse
35 investimento. Serão utilizados como indicadores de análise de investimentos o Valor
36 Presente Líquido (VPL), a Taxa Interna de Retorno (TIR) e o Payback.

37 5.2 Valor presente líquido


38 É uma das ferramentas mais empregadas para avaliar sugestões referentes a
39 investimentos de capital. Por meio desse indicador, é possível identificar se o retorno
40 mínimo esperado será obtido. Esse valor é calculado através da Equação (5).

41 VPL = -I₀ + ∑ Fc /(1+ i)t (5)

11
1 Em que,
2 VPL = valor presente líquido, em R$;
3 I₀ = valor inicial investido, em R$;
4 Fc = fluxo de caixa no período t, em R$;
5 i = taxa de desconto, em %;
6 t = período em questão, em unidade de tempo.
7 Sendo assim, se o valor encontrado for de VPL > 0 , significa que é viável
8 financeiramente. Caso contrário, a migração não deverá ser considerada.

9 5.3 Taxa interna de retorno


10 A taxa interna de retorno (TIR) determina a rentabilidade de um projeto
11 comparando o investimento que foi realizado inicialmente com valores futuros,
12 considerando os juros. Através da Equação (6) é possível realizar o cálculo desse
13 indicador.

14 -I₀ + ∑ Fc /(1+ TIR)t = 0 (6)

15 Se o valor encontrado pela TIR for superior a uma Taxa Mínima de Atratividade
16 (TMA) que é prevista pelo investidor, a migração se torna viável.

17 5.4 Payback
18 É uma técnica que determina o período necessário para que o montante
19 investido seja recuperado. A verificação desse método pode ser feita com uma taxa
20 de desconto maior do que zero (i > 0%), chamada de payback descontado. E uma
21 taxa de desconto igual a zero (i = 0), conhecida como payback simples. O cálculo
22 desse período pode ser feito através da Equação (7).

23 Payback = I0/Rt (7)

24 Em que,
25 Payback = tempo de retorno;
26 I₀ = valor inicial investido;
27 Rₜ = fluxo de caixa líquido.

28 6 RESULTADOS E DISCUSSÕES
29 O consumidor em questão é atendido pela concessionária de energia Energisa
30 Sergipe com tensão contratada de 13,8 kV, enquadrada no subgrupo A4. O atual
31 contrato entre o consumidor e a concessionária em questão se encontra na
32 modalidade tarifária verde com uma demanda contratada de 2000 kW.
33 Baseando-se nos dados do consumidor, impostos governamentais e tarifas
34 adotadas pela distribuidora local, calcula-se o custo de energia utilizando-se o
35 método proposto anteriormente. As Tabelas 1, 2 e 3 apresentam, respectivamente,
36 as tarifas referentes à modalidade tarifária verde para o subgrupo A4, os consumos
37 em ponta, fora ponta e demanda contratada (de outubro de 2018 a janeiro de 2019 o

12
1 valor da demanda contratada era de 2200 kW devido ao contrato vigente nesses
2 meses), e os valores dos tributos governamentais respectivos ao período de estudo.

3 Tabela 1 – Tarifas da Energisa Sergipe


Modalidade tarifária verde
TUSD +TE TUSD

Subgrupo Classe Demanda Consumo Demanda Consumo


(R$/kW) (R$/kWh) (R$/kW) (R$/kWh)

Ponta Fora Ponta Fora Ponta Fora Ponta Fora


ponta ponta ponta ponta

A4 Demais - 17,55 1,64349 0,27527 - 17,55 1,25453 0,04243


(2,3 kV a classes
25 kV)
4 Fonte: Energisa Sergipe

5 Tabela 2 – Demanda contratada e consumo registrado


Mês Consumo na ponta Consumo fora de ponta Demanda contratada
(kWh) (kWh) (kW)
Out/18 0 460600 2200
Nov/18 0 462000 2200
Dez/18 1400 295400 2200
Jan/19 2800 281400 2200
Fev/19 0 494200 2000
Mar/19 2800 431200 2000
Abr/19 4200 436800 2000
Mai/19 0 470400 2000
Jun/19 1400 341600 2000
Jul/19 1400 270200 2000
Ago/19 0 373800 2000
Set/19 0 392000 2000
6 Fonte: Unidade consumidora do estudo de caso

7 Tabela 3 – Alíquotas dos tributos governamentais


Alíquotas (%)
Mês
ICMS PIS COFINS
Out/18 27 0,6671 3,0729
Nov/18 27 0,8316 3,8304
Dez/18 27 1,0845 4,9955
Jan/19 27 1,0273 4,732
Fev/19 27 0,713 3,2839
Mar/19 27 1,0323 4,755
Abr/19 27 1,0845 4,9955
Mai/19 27 1,0779 4,9648
Jun/19 27 1,0845 4,9955
Jul/19 27 1,0845 4,9955
Ago/19 27 0,8861 4,0815
Set/19 27 0,7143 3,2902
8 Fonte: Unidade consumidora do estudo de caso

13
1 Para facilitar a compreensão da análise de viabilidade de inserção do
2 consumidor no mercado livre de energia, serão adotadas algumas condições. Ou
3 seja, não serão levados em consideração os valores referentes à Contribuição para
4 Iluminação Pública (já que este não tem influência no valor da tarifa de energia), o
5 fator de potência da instalação será considerado maior do que 0,92, pois assim o
6 consumidor não pagará por excesso de consumo reativo, e não serão levadas em
7 consideração as bandeiras tarifárias, já que estas influenciariam a favor do ACL.
8 Serão utilizadas as Equações 1 e 2 para calcular o custo da conta sem imposto
9 e com imposto. O valor total sem tributos (Vparcial) e o valor total com a inclusão dos
10 tributos (Vtotal) da conta de energia do mês de outubro de 2018 a setembro de 2019,
11 o consumo total e preço de energia estão apresentados na Tabela 4.

12 Tabela 4 – Definição do preço de energia


Mês Conta com Conta sem imposto Consumo Preço da energia
imposto (R$) (R$) total (R$/MWh)
(kWh)
Out/18 238.809,36 165.399,36 460600 518,47
Nov/18 242.595,25 165.784,74 462000 525,10
Dez/18 182.644,42 122.225,64 296800 615,38
Jan/19 179.463,85 120.672,75 284200 631,47
Fev/19 248.015,57 171.138,43 494200 501,85
Mar/19 235.667,06 158.398,20 434000 543,01
Abr/19 242.439,62 162.240,59 441000 549,75
Mai/19 245.808,91 164.587,01 470400 522,55
Jun/19 196.403,34 131.433,12 343000 572,60
Jul/19 167.033,53 111.778,84 271600 615,00
Ago/19 202.838,54 137.995,93 373800 542,64
Set/19 207.268,36 143.005,84 392000 528,75
Média 215.748,98 146.221,70 393633 555,55
13 Fonte: Autoria própria

14 Na sequência, calcula-se o valor referente à parcela TUSD da energia. Os


15 resultados encontrados através das Equações 3 e 2 são exibidos na Tabela 5.

16 Tabela 5 – Definição da parcela referente à TUSD


Mês Conta com Conta sem imposto Consumo Preço da TUSD
imposto (R$) (R$) total (R$/MWh)
(kWh)
Out/18 R$ 83.963,70 R$ 58.153,26 460600 R$ 182,29
Nov/18 R$ 85.183,44 R$ 58.212,66 462000 R$ 184,38
Dez/18 R$ 79.049,86 R$ 52.900,16 296800 R$ 266,34
Jan/19 R$ 80.401,43 R$ 54.062,49 284200 R$ 282,90
Fev/19 R$ 81.255,63 R$ 56.068,91 494200 R$ 164,42
Mar/19 R$ 84.669,27 R$ 56.908,50 434000 R$ 195,09
Abr/19 R$ 88.019,20 R$ 58.902,45 441000 R$ 199,59
Mai/19 R$ 82.230,13 R$ 55.059,07 470400 R$ 174,81
Jun/19 R$ 76.734,06 R$ 51.350,43 343000 R$ 223,71
Jul/19 R$ 72.207,01 R$ 48.320,93 271600 R$ 265,86
Ago/19 R$ 74.905,98 R$ 50.960,33 373800 R$ 200,39
Set/19 R$ 74.979,61 R$ 51.732,56 392000 R$ 191,27
Média R$ 80.299,94 R$ 54.385,98 393633,33 R$ 210,92
17 Fonte: Autoria própria

14
1 Uma vez calculados os valores finais em relação à conta total de energia e à
2 parcela TUSD, basta utilizar a Equação 4 para encontrar o valor médio da TE. Como
3 o preço médio mensal pago pela energia é de R$ 555,55 e o preço médio pago
4 referente à TUSD é R$ 210,92, tem-se:

5 Vfinal(TE) = R$ 555,55 – R$ 210,92

6 Vfinal(TE) = R$ 344,65

7 Dessa forma, o ponto de equilíbrio econômico entre o mercado cativo e


8 mercado livre é R$ 344,65. Portanto, esse é o valor limite no qual não ocorre nem
9 vantagem, nem desvantagem caso o cliente opte por qualquer um dos mercados de
10 energia em questão. Caso os preços ofertados no ambiente de contratação livre
11 sejam menores do que o ponto de equilíbrio encontrado, a migração será lucrativa
12 para o consumidor. Já para valores maiores, permanecer no ambiente de
13 contratação regulada será a melhor decisão.
14 Para decidir se a mudança para o mercado livre de energia é ou não é lucrativa
15 para o consumidor se faz necessário obter um preço médio da energia (R$/MWh) no
16 ambiente de contratação livre. Sabe-se que no mercado de médio e longo prazo o
17 preço é acordado entre comprador e vendedor, e que o mercado de curto prazo
18 apresenta alto índice de volatilidade, ou seja, maior risco. Portanto, com a intenção
19 de se analisar o pior cenário, será adotado como custo médio da energia no
20 mercado livre os preços médios disponibilizados pela CCEE para o submercado
21 nordeste (NE) nos meses de outubro/2018 a setembro/2019. A Tabela 6 apresenta o
22 valor da conta no mercado livre de energia.

23 Tabela 6 – Valor da conta no mercado livre de energia


Preço médio
Consumo Conta referente (R$/MWh) Conta no mercado
Mês total (kWh) a TUSD (R$) Submercado - livre (R$)
Nordeste
Out/18 460600 83.963,70 271,83 209.168,60
Nov/18 462000 85.183,44 123,92 142.434,48
Dez/18 296800 79.049,86 71,13 100.161,24
Jan/19 284200 80.401,43 84,76 104.490,22
Fev/19 494200 81.255,63 164,24 162.423,04
Mar/19 434000 84.669,27 154,15 151.570,37
Abr/19 441000 88.019,20 42,35 106.695,55
Mai/19 470400 82.230,13 50,95 106.197,01
Jun/19 343000 76.734,06 78,52 103.666,42
Jul/19 271600 72.207,01 177,49 120.413,29
Ago/19 373800 74.905,98 211,33 153.901,13
Set/19 392000 74.979,61 218,52 160.639,45
Média 393633,33 80.299,94 137,43 135.146,73
24 Fonte: Autoria própria

25 Uma vez calculados os valores das contas no ACR e ACL, será possível
26 calcular a diferença de custo entre os ambientes em questão. A Tabela 7 e o Gráfico
27 1 expressam a diferença de preço entre o mercado cativo e o mercado livre.
28
29
30
31

15
1 Tabela 7 – Diferença de preço entre o mercado cativo e o mercado livre
Mês Conta no mercado cativo Conta no mercado livre Diferença
(R$) (R$) (R$)
Out/18 238.809,36 209.168,60 29.640,76
Nov/18 242.595,25 142.434,48 100.160,77
Dez/18 182.644,42 100.161,24 82.483,18
Jan/19 179.463,85 104.490,22 74.973,63
Fev/19 248.015,57 162.423,04 85.592,53
Mar/19 235.667,06 151.570,37 84.096,70
Abr/19 242.439,62 106.695,55 135.744,07
Mai/19 245.808,91 106.197,01 139.611,90
Jun/19 196.403,34 103.666,42 92.736,93
Jul/19 167.033,53 120.413,29 46.620,24
Ago/19 202.838,54 153.901,13 48.937,41
Set/19 207.268,36 160.639,45 46.628,90
2 Fonte: Autoria própria

3 Gráfico 1 – Diferença de preço entre o mercado cativo e o mercado livre

R$ 300.000,00

R$ 250.000,00

R$ 200.000,00 CONTA NO
MERCADO CATIVO
R$ 150.000,00
CONTA NO
R$ 100.000,00 MERCADO LIVRE
DIFERENÇA
R$ 50.000,00

R$ 0,00

4
5 Fonte: Autoria própria

6 Para aplicação das estratégias econômicas citadas anteriormente, será


7 necessário determinar a TMA, que será utilizada no cálculo do VPL, através do
8 histórico da taxa referente ao Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic)
9 disponibilizado pelo Banco Central do Brasil (BCB). A Tabela 8 aponta a média da
10 taxa Selic de outubro de 2018 a agosto de 2019 que será adotada.

11 Tabela 8 – Média da taxa Selic


Taxa Selic (%)
Mês 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 Média

Taxa 6,4 6,4 6,4 6,4 6,4 6,4 6,4 6,4 6,4 6,4 5,9 6,35

12 Fonte: Banco Central do Brasil

13 Outra informação necessária para execução dos cálculos econômicos é a


14 determinação do custo de investimento inicial referente a quanto será gasto para a

16
1 adequação do SMF. O valor médio dessa adequação varia de acordo com cada
2 concessionária e em Aracaju a distribuidora Energisa cobra em média R$ 21.900,00.
3 Em posse dos valores respectivos às diferenças de preços entre o mercado
4 cativo e o mercado livre, à TMA (média da taxa Selic) e ao investimento inicial será
5 possível realizar os cálculos do método VPL, do TIR e do payback. Os resultados
6 estão apresentados nas Tabelas 9 e 10.

7 Tabela 9 – Resultados para análise econômica


Receitas (R$) Despesas (R$) Fluxo de caixa (R$)

Mês Diferença entre Investimento Descontado Acumulado TIR %


mercado cativo Inicial
e livre
0 - -21.900,00 -21.900,00 -21.900,00 -
1 29.640,76 0,00 27.870,95 5.970,95 35%
2 100.160,77 0,00 88.556,95 94.527,91 192%
3 82.483,18 0,00 68.572,96 163.100,87 217%
4 74.973,63 0,00 58.608,22 221.709,09 223%
5 85.592,53 0,00 62.914,16 284.623,25 225%
6 84.096,70 0,00 58.123,80 342.747,05 226%
7 135.744,07 0,00 88.218,24 430.965,29 226%
8 139.611,90 0,00 85.314,43 516.279,72 226%
9 92.736,93 0,00 53.286,26 569.565,99 226%
10 46.620,24 0,00 25.188,34 594.754,33 226%
11 48.937,41 0,00 24.861,57 619.615,90 226%
12 46.628,90 0,00 22.274,36 641.890,26 226%
8 Fonte: Autoria própria

9 Tabela 10 – Resultados para análise econômica


TIR VPL
226,10% R$ 641.890,26
10 Fonte: Autoria própria

11 Percebe-se que logo no primeiro mês o fluxo de caixa descontado já será


12 positivo, que a TIR será maior que zero (TIR > 0) e que o payback do investimento já
13 ocorrerá. Caso a empresa opte pela migração para o mercado livre de energia, após
14 um ano ocorrerá uma economia de R$ 641.890,26. Portanto, existirá um
15 considerável benefício econômico caso a unidade consumidora em questão decida
16 migrar para ACL.

17 7 CONCLUSÕES
18 A elaboração do presente artigo com o objetivo de analisar a viabilidade
19 financeira de migração de uma empresa para o mercado livre de energia possibilitou
20 compreender o quanto o mercado brasileiro de energia elétrica mudou ao longo dos
21 anos em consequência do processo de modernização do mesmo para assim reduzir
22 o preço da energia elétrica e dessa forma gerar a competitividade no SEB.
23 Observou-se, também, o quanto é indispensável realizar um estudo minucioso
24 caso um consumidor do mercado cativo migre para o mercado livre, para que assim
25 seja possível reduzir ao máximo os riscos no ACL. É muito importante que o
26 consumidor livre adquira contratos com fornecedores que assegure o atendimento a
27 sua carga de forma íntegra. Deste modo, o consumidor não precisará se expor ao

17
1 risco do mercado de curto prazo no qual estará sujeito à vulnerabilidade de preços
2 do mesmo.
3 A análise de viabilidade de migração da empresa em questão evidenciou a
4 imensa vantagem econômica para essa unidade consumidora. Os cálculos
5 realizados demonstraram uma grande diferença de preços entre o mercado cativo e
6 o mercado livre. Foi possível constatar que a média de preço da conta do
7 consumidor no ACR é de R$ 215.748,98, no ACL é de R$ 135.146,73 e que a média
8 de diferença de preço entre os mercados é de R$ 80.602,25. Os indicadores
9 econômicos utilizados mostraram que o tempo de retorno, para que a empresa
10 recupere seu investimento inicial de R$ 21.900,00 em um mês, é muito curto,
11 reforçando assim, a viabilidade da proposta. Tudo isto nos permite concluir que o
12 mercado livre de energia é uma possibilidade real, possível e, geralmente, bastante
13 atrativa para consumidores potencialmente livres, podendo ser analisada por estes
14 como opção ao mercado cativo.
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55

18
1 REFERÊNCIAS
2 ABRACEEL - Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia. Cartilha
3 Mercado Livre de Energia Elétrica: Um guia básico para quem deseja comprar sua
4 energia elétrica no mercado livre. Brasília, 2018.
5
6 AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA - ANEEL. Disponível em:
7 <htttp:www.aneel.org.br/>. Acesso em 28 de Setembro de 2019.
8
9 ARAÚJO, J. L. A Questão do Investimento no Setor Elétrico Brasileiro: Reforma e Crise.
10 Anais do XXIX Encontro Nacional de Economia. 2001.
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12 BANCO CENTRAL DO BRASIL - BCB. Disponível em: <https://www.bcb.gov.br/>.
13 Acesso em 05 de Dezembro de 2019.
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15 BRAGA, L. A. Um Estudo Sobre o Mercado de Energia Elétrica no Brasil. Universidade
16 Federal de Ouro Preto. 2018.
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18 CCEE - Câmera de Comercialização de Energia Elétrica. Primeiros Passos na CCEE:
19 Guia prático para novos agentes da Câmera de Comercialização de Energia
20 Elétrica. São Paulo, 2015.
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22 CÂMARA DE COMERCIALIZAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA – CCEE. São Paulo.
23 Disponível em: <htttp:www.ccee.org.br/>. Acesso em: 17 de Agosto de 2019.
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25 CASTRO, N. J.; LEITE. A. L. S.; TIMPONI, R. R. Preço Spot de Eletricidade: Teoria e
26 Evidências do Caso Brasileiro. IV Encontro de Economia Catarinense. 2010.
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28 CLÍMACO, F. G. Gestão de Consumidores Livres de Energia Elétrica. Dissertação
29 (Pós-Graduação) - Universidade de São Paulo. São Paulo. 2010.
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31 LEÃO, R. GTD – Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica. Universidade
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34 MEDEIROS, Carlos. Introdução ao Estudo de Sistema Elétrico de Potência. PUC.
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37 OLIVEIRA, Y. M. O Mercado Livre de Energia no Brasil: Aprimoramentos para Sua
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40 RAMOS, A. S. Avaliação dos riscos e incertezas de contratações das empresas
41 distribuidoras de energia elétrica. Universidade Federal de Juiz de Fora. 2017.
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43 RIZKALLA, F. L. Migração para o Mercado Livre de Energia: Estudo de Caso do Centro
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45 Rio de Janeiro. 2018.
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47 SILVA, D. T. Estudo Analítico sobre Adesão ao Ambiente de Contratação Livre de
48 Energia Elétrica. Universidade Federal do Rio de Janeiro. 2017.
49
50 SOUZA, F. A. Detecção de Falhas em Sistema de Distribuição de Energia Elétrica
51 Usando Dispositivos Programáveis. Unesp. Ilha Solteira. São Paulo. 2008.

19
1
2 WALVIS, A. Avaliação das Reformas Recentes no Setor Elétrico Brasileiro e sua
3 Relação com o Desenvolvimento do Mercado Livre de Energia. Dissertação
4 (Mestrado) - Fundação Getúlio Vargas. Rio de Janeiro. 2014.

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