LITÍGIOS COLETIVOS Dr. Edilson Vitorelli Procurador da República Pós-doutor – UFBA Doutor - UFPR edilsonvitorelli@gmail.com TIPOLOGIA DOS LITÍGIOS COLETIVOS: DIAGNÓSTICO DE UM PROBLEMA • A previsão do CDC. Classificação de direitos. • A proposta de Nelson Nery Jr.: classificação de pretensões. • As confusões jurisprudenciais • “o pedido de indenização pelos valores pagos em razão da cobrança de emissão de boleto bancário, seja de forma simples, seja em dobro, não é cabível, tendo em vista que a presente ação civil pública busca a proteção dos interesses individuais homogêneos de caráter indivisível”. • REsp 794.752/MA, 4a Turma, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJe de 12.04.2010 • Em sede de ação civil pública ajuizada por associação civil de defesa do consumidor, instituição financeira pode ser condenada a restituir os valores indevidamente cobrados a título de Taxa de Emissão de Boleto Bancário (TEB) dos usuários de seus serviços. Com efeito, os interesses individuais homogêneos não deixam de ser também interesses coletivos. Porém, em se tratando de direitos coletivos em sentido estrito, de natureza indivisível, estabelece-se uma diferença essencial diante dos direitos individuais homogêneos, que se caracterizam pela sua divisibilidade. Nesse passo, embora os direitos individuais homogêneos se originem de uma mesma circunstância de fato, esta compõe somente a causa de pedir da ação civil pública, já que o pedido em si consiste na reparação do dano (divisível) individualmente sofrido por cada prejudicado. Na hipótese em foco, o mero reconhecimento da ilegalidade da TEB caracteriza um interesse coletivo em sentido estrito, mas a pretensão de restituição dos valores indevidamente cobrados a esse título evidencia um interesse individual homogêneo, perfeitamente tutelável pela via da ação civil pública. Assentir de modo contrário seria esvaziar quase que por completo a essência das ações coletivas para a tutela de direitos individuais homogêneos, inspiradas nas class actions do direito anglo- saxão e idealizadas como instrumento de facilitação do acesso à justiça, de economia judicial e processual, de equilíbrio das partes no processo e, sobretudo, de cumprimento e efetividade do direito material, atentando, de uma só vez, contra dispositivos de diversas normas em que há previsão de tutela coletiva de direitos, como as Leis 7.347/1985, 8.078/1990, 8.069/1990, 8.884/1994, 10.257/2001, 10.741/2003, entre outras. REsp 1.304.953-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 26/8/2014. • DIREITO PROCESSUAL CIVIL. TUTELA ESPECÍFICA EM SENTENÇA PROFERIDA EM AÇÃO CIVIL PÚBLICA NA QUAL SE DISCUTA DIREITO INDIVIDUAL HOMOGÊNEO. • É possível que sentença condenatória proferida em ação civil pública em que se discuta direito individual homogêneo contenha determinações explícitas da forma de liquidação e/ou estabeleça meios tendentes a lhe conferir maior efetividade, desde que essas medidas se voltem uniformemente para todos os interessados. Com efeito, o legislador, ao estabelecer que "a condenação será genérica" no art. 95 do CDC, procurou apenas enfatizar que, no ato de prolação da sentença, o bem jurídico objeto da tutela coletiva (mesmo que se trate de direitos individuais homogêneos) ainda deve ser tratado de forma indivisível, alcançando todos os interessados de maneira uniforme. Ademais, as medidas em questão encontram amparo nos arts. 84, §§ 4º e 5º, e 100 do CDC, que praticamente repetem os termos do art. 461, § 5°, do CPC. REsp 1.304.953-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 26/8/2014. TIPOLOGIA DOS LITÍGIOS COLETIVOS • Quem é o titular dos direitos direitos coletivos? • Todos? Mas quem são todos? • A sociedade? Mas o que é sociedade? • O Estado? Mas como ele exerceria essa titularidade? • Proposta baseada em 3 diferentes conceitos de sociedade como titular dos direitos coletivos, baseados em uma tipologia catalogada pelos sociólogos britânicos Anthony Elliott e Bryan Turner PREMISSAS • 1 – Classificar direitos coletivos só faz sentido no contexto do litígio, não dos direitos em abstrato. A violação cria a titularidade. • 2 – A titularidade varia com o grau de interesse pessoal em jogo no litígio. Mais interesse significa maior titularidade. • 3 – Litígios coletivos podem ser mais ou menos complexos, se admitirem mais de uma possibilidade de tutela adequada. Ex: dúvida científica sobre a viabilidade ou o método de concretizar uma recuperação ambiental. • 4 – Litígios coletivos podem ser mais ou menos conflituosos, considerando o grau de conflito intraclasse. LITÍGIOS COLETIVOS GLOBAIS • Situações em que a violação não alcança diretamente os interesse de qualquer indivíduo, especificamente. • Ninguém é particularmente lesado. • Complexidade pode ser alta ou baixa.. • Conflituosidade é baixa. • Todos se beneficiam igualmente da condenação e são igualmente prejudicados se o causador da lesão ficar impune, incorporando ao seu patrimônio os custos que teria de incorrer para evitar a ocorrência da lesão. • Exemplos: danos ambientais que afetam a todos, mas a ninguém em particular, tais como o aquecimento global; pequenas lesões ao consumidor. LITÍGIOS COLETIVOS LOCAIS • Lesões coletivas que atingem comunidades de um modo muito específico e significativo. • 1º círculo: grupos reduzidos que compartilham fortes laços sociais, emocionais e territoriais, resultando em elevado grau de consenso interno. • 2º círculo: outros grupos minoritários, cujos membros compartilham uma perspectiva social, embora tendo um vínculo mais tênue entre si. • Conflituosidade média. • Complexidade tende a ser alta. GOLD EXTRACTION AT ”CINTA-LARGA” TRADITIONAL TERRITORY LITÍGIOS COLETIVOS IRRADIADOS • Litígios decorrentes da violação que afeta o interesses de várias pessoas, que compõem subgrupos diversos, mas essas pessoas não compõem uma comunidade, não têm a mesma perspectiva social comum, não são afetadas do mesmo modo, nem com a mesma intensidade pelo resultado do litígio. Isso faz com que suas visões sobre o resultado desejável do processo sejam diferentes e, possivelmente, antagônicas. • Um grupo composto de um conjunto de subgrupos afetados de diferentes formas pela violação. • O litígio é mutável e multipolar, colocando a sociedade titular do direito não apenas contra o réu, mas também contra si mesma. • Alta complexidade, alta conflituosidade. LITÍGIOS IRRADIADOS TÉCNICAS PROCESSUAIS ADEQUADAS PARA LITÍGIOS GLOBAIS • O objetivo de um sistema processual coletivo, sempre que preferências ou características pessoais não estiverem em jogo, não deveria ser favorecer a natureza individualista dos direitos violados, mas sim a proteção dos interesses da sociedade como um todo, pela obtenção do nível ótimo de desincentivo ao cometimento de ilícitos. • Processos coletivos obrigatórios • Participação apenas de experts. Desnecessidade de audiências públicas, notificações individuais ou opt-out. • Mais autonomia para o representante. • O equilíbrio entre representação e participação em litígios globais pende para o lado da representação, porque: a) os indivíduos têm pouco a ganhar com a participação; b) é altamente improvável que a participação melhore a precisão da decisão; c) eventuais resultados negativos serão pouco significativos para os indivíduos; d) é mais provável que o representante consiga contrabalançar as vantagens sistêmicas do litigante habitual que o indivíduo por contra própria; e) o resultado social ótimo, no contexto, é a redução do custo processual e a maximização dos desestímulos ao comportamento ilícito (deterrence) TÉCNICAS PROCESSUAIS ADEQUADAS PARA LITÍGIOS LOCAIS • Compensação, nesses casos, deve vir antes de prevenção de ilícitos. • É impensável que o representante que age ”em seu favor” faça pedidos que a comunidade explicitamente não quer, sem lhes apresentar uma explicação sobre as razões pelas quais assim está procedendo. • O resultado ótimo no contexto dos litígios locais é a compensação justa para as pessoas especialmente lesadas pela violação. • O representante deve promover momentos de participação significativa com os membros da classe e deles próprios, entre si. • Realizar pesquisas entre os membros da classe é recomenável, usando métodos quantitativos e qualitativos. • Notificação e oitiva dos membros da classe são importantes. Se os direitos litigiosos são divisíveis, a técnica de opt-in deveria ser considerada. TÉCNICAS PROCESSUAIS ADEQUADAS PARA LITÍGIOS IRRADIADOS • Um processo civil inteiramente novo • Novas regras de provas, estabilização da demanda, coisa julgada e execução. • Participação é proporcional ao grau de afetação com a violação. O processo como ”Town meeting”. • Subclasses e multiplicação de representantes. • Diálogo prolongado entre os membros das subclasses e deles com seus representantes e com a classe como um todo. • Análise de custo-benefício, não de legalidade/ilegalidade. Problemas policêntricos. • Ordens parciais e soluções parciais. TEORIA GERAL DO PROCESSO REPRESENTATIVO • PREMISSAS • A REPRESENTAÇÃO NO PROCESSO COLETIVO NADA TEM A VER COM A SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL CLÁSSICA. • NÃO HÁ TEORIA DA REPRESENTAÇÃO QUE POSSA LEGITIMAR A EXCLUSÃO TOTAL DOS TITULARES DO DIREITO DO PROCESSO, EM TROCA DA ATUAÇÃO DE UMA ENTIDADE QUE NÃO É ESCOLHIDA POR ELES, NÃO LHES PRESTA CONTAS E NÃO SOFRE COM ELES AS CONSEQUÊNCIAS DECORRENTES DO RESULTADO DO PROCESSO. REPRESENTAÇÃO NO PROCESSO CIVIL • PROPOSTA • INVESTIR NO CARÁTER COMPLEMENTAR DA REPRESENTAÇÃO E DA PARTICIPAÇÃO E NÃO NA OPOSIÇÃO ENTRE ELAS. • A REPRESENTAÇÃO, NO PROCESSO COLETIVO, EXIGE ALGUM GRAU DE PARTICIPAÇÃO, CUJO OBJETIVO É GARANTIR QUE OS RESULTADOS DO PROCESSO SEJAM ADEQUADOS AOS INTERESSES DO GRUPO QUE SERÁ IMPACTADO POR ELES (PERSPECTIVA INSTRUMENTAL DA PARTICIPAÇÃO). • O REPRESENTANTE É O RESPONSÁVEL POR CRIAR UMA CONEXÃO SIGNIFICATIVA ENTRE ELE E OS REPRESENTADOS, INCLUINDO MOMENTOS DE AUTORIZAÇÃO E PRESTAÇÃO DE CONTAS • O GRAU DE PARTICIPAÇÃO É CALIBRADO PELO TIPO DE LITÍGIO. ESSA CALIBRAGEM PODE SER DESCRITA EM 4 PRINCÍPIOS. REPRESENTAÇÃO NO PROCESSO CIVIL 1. PRINCÍPIO DA TITULARIDADE DEFINIDA DOS DIREITOS REPRESENTADOS: cabe ao legitimado coletivo identificar o tipo de litígio no qual atua e o grupo representado que titulariza o direito litigioso. 2. PRINCÍPIO DA ATUAÇÃO ORBITAL DO REPRESENTANTE: o representante não é um autômato, vinculado à vontade dos representados ou da maioria deles, mas um agente que deve atuar criticamente, na promoção dos interesses de seus representados. Cabe a ele perceber esses interesses, mas o conflito entre a sua atuação e o grupo corre às suas expensas. Ele deverá justificar sua atuação e persuadir o grupo da adequação de sua avaliação. A recorrência de conflitos entre o representante e o grupo representado constitui indício de que a relação representativa deve ser posta em questão, oportunizando-se o diálogo intraclasse e de seus membros com o representante, do qual decorram providências concretas, seja para esclarecer o grupo ou melhorar a atuação do representante. O representante tem liberdade para se afastar da opinião dos representados, mas não de modo indefinido. REPRESENTAÇÃO NO PROCESSO CIVIL 3. PRINCÍPIO DA COMPLEMENTARIDADE ENTRE PARTICIPAÇÃO E REPRESENTAÇÃO: o processo coletivo deve complementar seu caráter representativo com momentos participativos, anteriores, simultâneos e posteriores à atuação do representante, nos quais os representados tenham efetiva oportunidade de questionar a atuação do representante, ouvir suas explicações e, em situações extremas, demandar sua substituição ou a divisão do grupo, pluralizando a representação. A restrição da participação é aceitável se: a) decorre da natureza da relação jurídica litigiosa, a qual impede ou dificulta a efetiva tutela dos direitos violados de modo participativo, b) a participação é restrita na proporção necessária para garantir a efetividade da tutela e, c) os representados têm efetivas oportunidades de participação, em momentos de avaliação antecipatória e retrospectiva, estruturados com o objetivo de propiciar o diálogo entre os representados e destes para com o representante. REPRESENTAÇÃO NO PROCESSO CIVIL 4. PRINCÍPIO DA VARIÂNCIA REPRESENTATIVA: nem todos os litígios demandam o mesmo grau de participação dos representados. A obrigação do representante promover a participação dos representados é uma função do grau de envolvimento pessoal destes com a questão em litígio, combinado com o potencial do mesmo para impactar suas realidades. Litígios de maior conflituosidade e complexidade demandam maior participação, para que possam ser resolvidos os conflitos intraclasse e possam ser levadas em conta todas as possibilidades de tutela. Se essas características são reduzidas, a participação é menos necessária, pois pouco agrega em termos instrumentais. REPRESENTAÇÃO NO PROCESSO CIVIL • Litígios globais: menor grau de participação dos representados, porque estes são apenas remotamente atingidos pelo resultado do processo e o grau de conflituosidade da sociedade titular do direito é baixo. • Litígios locais: o alto impacto da causa sobre a sociedade representada determina que ela tenha maiores oportunidades de participação processual, em momentos avaliativos que serão retomados ao longo do tempo, restringindo, com maior rigor, a liberdade de atuação do representante. • Litígios irradiados: as oportunidades participativas e a relevância da intervenção dos indivíduos serão tanto maiores quanto mais significativa for a lesão experimentada. O representante, nessas situações, tem mais liberdade para contrariar a opinião dos representados que ocupam posições periféricas na titularidade do direito, do que aqueles que ocupam posições centrais. REPRESENTAÇÃO NO PROCESSO CIVIL • Uma teoria geral dos processos representativos considera compatível com a Constituição um processo em que a representação não seja um mecanismo de exclusão dos representados, mas proporcione a obtenção de tutela efetiva dos direitos materiais violados, restringindo a participação apenas na medida necessária para tanto. Cabe ao representante promover momentos de participação no decorrer da atividade representativa, nos quais os representados são chamados a avaliar prospectiva e retrospectivamente as ações do representante em relação ao processo, bem como debater entre si e com ele os resultados e objetivos desejáveis. Nesses momentos, que variarão de acordo com o tipo de litígio, o representante deve buscar apreender os interesses e opiniões dos representados, confrontando-os com suas próprias ações e formulando justificativas, para si e para o público, relativamente às situações em que sua conduta diverge das expectativas de seus constituintes. LITÍGIOS ESTRUTURAIS • 1) “For every complex problem there is an answer that is clear, simple, and wrong." - H. L. Mencken • 2) “There ain't no such thing as a free lunch” • 3) As soluções de curto prazo vão implicar, via de regra, em um processo desestrutural: caso das creches • 4) Considere o custo de oportunidade: você poderia estar fazendo outra coisa. • 5) É difícil aprender com as experiências dos outros; é difícil aprender com suas próprias experiências. Os casos são únicos CARACTERÍSTICAS DOS PROBLEMAS ESTRUTURAIS • William Fletcher, é “característica de problemas complexos, com inúmeros ‘centros’ problemáticos subsidiários, cada um dos quais se relacionando com os demais, de modo que a solução de cada um depende da solução de todos os outros”. METODOLOGIA • 1) Compreensão do problema: realização de reuniões técnicas com os responsáveis pela instituição, com aqueles que apresentaram as críticas, com o público por ela atendido e com especialistas. Eventualmente, audiência pública. • Há tipos diversos de problemas estruturais, com soluções mais ou menos evidentes. Ex: desinstitucionalização psiquiátrica. • É preciso entender que não era só falta de quem mandasse fazer. O problema é complexo. Se a solução parece simples, desconfie. Alguém já a teria adotado. • METODOLOGIA • 2) Estabelecimento de metas e, especialmente, de etapas intermediárias de curto, médio e longo prazo. • Em realidade, a ideia de execução por fases não é nova. • O problema prático está em conciliar: • 2.1 A rigidez da teoria da coisa julgada; • 2.2 O tempo do cidadão que precisa da política; • 2.3 O tempo da burocracia necessária para a implementação da reforma; • 2.4 O tempo do processo. METODOLOGIA • 3) Possibilidade de acordo. É importante enfocar acordos parciais. • Quase toda a teoria dos processos estruturais no Brasil enfoca a implementação das medidas mediante acordo. Sendo viável, é um caminho importante, mas o verdadeiro desafio é a implementação da reforma quando não há acordo. • Em realidade, o verdadeiro desafio é alinhar os interesses de modo a fazer o acordo mais interessante. Não espere boa vontade. • Também é preciso considerar que o acordo pode simplesmente ser mal feito ou um mal negócio: o acordo coletivo dos planos econômicos. METODOLOGIA • 4) Tramitação judicial estratégica: necessidade de conduzir o processo estrutural como processo estratégico. É preciso pensar melhor em momento de distribuição, localidade (sobretudo ante a flexibilização do art. 16 da LACP pelo STJ), tese que será debatida, fracionamento do problema em várias ações. • O caso do FCVS. • 4.1 A criatividade do pedido e das providências: o caso da queima da palha da cana. • 4.2 O problema da rigidez do pedido e da prognose de resultados: vieses cognitivos. HEURÍSTICA DE DISPONIBILIDADE • Aquilo que está mais disponível parece mais frequente. • No campo da heurística de disponibilidade, as partes buscarão apresentar, e o julgador estará mais propenso a acolher, pretensões construídas e sustentadas a partir de histórias individuais dramáticas. Os dados estatísticos sólidos, que representem a totalidade do contexto da reforma que se pretende desenvolver, tenderão a ter menos peso. • Viéses cognitivos no contexto da heurística de disponibilidade também fazem com que os efeitos previstos, imaginados ou discutidos de uma decisão sejam considerados mais prováveis do que efeitos não previstos, mesmo que haja elementos científicos que indiquem o contrário. • Os latinos e os chineses na dessegregação HEURÍSTICA DE REPRESENTATIVIDADE • A heurística de representatividade se apresenta na situação de enquadramento de elementos em categorias. Um elemento é considerado representativo quando tem as características prototípicas associadas à categoria. O problema é que as pessoas tendem a se focar em determinadas características dos elementos, sem perceber o quão comum essas características de fato são nos outros. Isso faz com que propriedades muito raras tendam a ter sua ocorrência superestimada, por serem muito representativas da categoria, enquanto características comuns são subestimadas. Com isso, cria-se a propensão de tomar decisões que contrariam as probabilidades reais de incidência dos eventos. • Fenômenos que estão associados são vistos como causais, mesmo que não sejam. HEURÍSTICA DE ANCORAGEM • Em uma palavra, conservadorismo. Há uma tendência a buscar menos do que seria necessário para efetivamente resolver o problema: • “se é certo que os Poderes são harmônicos entre si (art. 2º da CF) e que o Executivo tem prioridade indiscutível na implementação de políticas públicas, indubitável também é que, em termos abstratos, o ordenamento jurídico em vigor permite que o Poder Judiciário seja chamado a intervir em situações nas quais a atitude ou a omissão do Administrador se afigure ilegítima. O STJ, atento ao assunto, tem admitido a legitimidade do Ministério Público e a adequação da ação civil pública como meio próprio de se buscar a implementação de políticas públicas com relevante repercussão social (REsp 1.367549-MG, Segunda Turma, DJe 8/9/2014; AgRg no AREsp 50.151-RJ, Primeira Turma, DJe 16/10/2013; REsp 743.678-SP, Segunda Turma, DJe 28/9/2009; REsp 1.041.197-MS, Segunda Turma, DJe 16/9/2009; REsp 429.570-GO, Segunda Turma, DJ 22/3/2004). É cabível ação civil pública proposta por Ministério Público Estadual para pleitear que Município proíba máquinas agrícolas e veículos pesados de trafegarem em perímetro urbano deste e torne transitável o anel viário da região. REsp 1.294.451-GO, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 1/9/2016, DJe 6/10/2016. A FRUSTRAÇÃO DOS OBJETIVOS • Em um estudo comparativo com dados de processos relacionados a prestações de saúde pública, que envolveu cinco países (Índia, Brasil, África do Sul, Indonésia e Nigéria), Brinks e Gauri concluíram que, fora a Nigéria, o Poder Judiciário brasileiro foi o que obteve os piores resultados concretos, no que tange aos impactos sociais das suas decisões. A Índia, a África do Sul e a Indonésia conseguiram, com um número de julgamentos consideravelmente inferior, alterar a vida de um número significativamente maior de pessoas, porque enfocaram aspectos estruturais do problema, como falhas regulatórias ou deficiências prestacionais que impactavam toda a população, não apenas aos demandantes. BRINKS, Daniel; GAURI, Varun. Sobre triángulos y diálogos: nuevos paradigmas em la intervención judicial sobre el derecho a la salud. In: GARGARELLA, Roberto (org.) Por una justicia dialógica: El poder Judicial como promotor de la deliberación democrática. Buenos Aires: Siglo XXI Editores, 2014, ebook. CONCLUSÃO: É POSSÍVEL PRODUZIR MUDANÇAS SOCIAIS SIGNIFICATIVAS POR INTERMÉDIO DO PROCESSO? • ROSENBERG, Gerald N. The Hollow Hope: Can Courts Bring About Social Change? 2. ed. Chicago: The University of Chicago Press, 2008. • a possibilidade de se produzir bons resultados depende do caso e das circunstâncias em que ele ocorre. É ingênuo imaginar que o processo possa resolver todos os problemas, mas também é ingênuo supor que ele não resolva problema algum. OBRIGADO! edilsonvitorelli@gmail.com