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Cultura Religiosa

Autor
Douglas Moacir Flor

2009
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© 2006 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor
dos direitos autorais.

F632c Flor, Douglas Moacir. / Cultura Religiosa. / Douglas Moacir


Flor. — Curitiba : IESDE Brasil S.A. , 2009.
160 p.

ISBN: 85-7638-421-3

1. Religião. 2. Grandes Religiões do Mundo. 3. Cristianismo. 4.


Reforma Luterana. 5. Ética Cristã. I. Título.

CDD 291

Capa: IESDE Brasil S.A.


Imagem da capa: IESDE Brasil S.A.

Todos os direitos reservados.


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Sumário
Cultura religiosa –um tema controverso...................................................................................9
Resumo.........................................................................................................................................................9
A palavra religião.......................................................................................................................................10
Conhecimento religioso..............................................................................................................................10
Por que estudar as religiões?.......................................................................................................................12
Tolerância religiosa.....................................................................................................................................13
Sincretismo religioso..................................................................................................................................13

O fenômeno religioso..............................................................................................................17
Religião e Arte............................................................................................................................................17
Religião e Moral.........................................................................................................................................22
Religião e Ciência.......................................................................................................................................22
Religião e Filosofia.....................................................................................................................................23
Religião e Economia...................................................................................................................................23
Religião e Educação...................................................................................................................................24

As grandes religiões I..............................................................................................................27


Hinduísmo...................................................................................................................................................27
Budismo......................................................................................................................................................30

As grandes religiões II............................................................................................................35


Confucionismo............................................................................................................................................35
Xintoísmo ..................................................................................................................................................41
Taoísmo .....................................................................................................................................................42
Conclusão ..................................................................................................................................................48

As grandes religiões III...........................................................................................................51


Judaísmo.....................................................................................................................................................51
Islamismo....................................................................................................................................................57

Movimentos religiosos no Brasil ...........................................................................................69


Nova espiritualidade...................................................................................................................................69
Como se caracterizam os movimentos religiosos.......................................................................................70
Religiões africanas . ...................................................................................................................................70
Religiões afro-brasileiras............................................................................................................................72
Espiritismo..................................................................................................................................................75

O Cristianismo I......................................................................................................................79
Conhecer Jesus é fundamental....................................................................................................................79
O amor ágape.............................................................................................................................................79
A história.....................................................................................................................................................80
Jesus – o mestre..........................................................................................................................................81

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O Cristianismo II.....................................................................................................................87
A Bíblia – livro sagrado do Cristianismo ..................................................................................................87

A Reforma do século XVI.......................................................................................................97


Introdução...................................................................................................................................................97
Lutero..........................................................................................................................................................97

A Reforma Luterana – pensamento.......................................................................................103


A base de Lutero.......................................................................................................................................103
Pensamento de Lutero...............................................................................................................................104
A Igreja tenta silenciar Lutero..................................................................................................................104
A excomunhão de Lutero..........................................................................................................................105
A bula papal..............................................................................................................................................107
Declarado herege......................................................................................................................................108
O exílio.....................................................................................................................................................108
A volta.......................................................................................................................................................109
O casamento de Lutero.............................................................................................................................109
A morte de Lutero.....................................................................................................................................110
A paz de Augsburgo..................................................................................................................................110

A Igreja Luterana e a Educação............................................................................................ 113


Lutero e a Educação..................................................................................................................................113
O Luteranismo pós-reforma......................................................................................................................116
A Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB).......................................................................................117

Questões fundamentais de Ética...........................................................................................125


Questões básicas.......................................................................................................................................125
Ética Social e Ética Religiosa...................................................................................................................127

Princípios de Ética................................................................................................................131
Algumas questões.....................................................................................................................................131
Ética – algumas reflexões de ordem geral ...............................................................................................131
Ética e Moral.............................................................................................................................................131
Consciência . ............................................................................................................................................134
O direito positivo e o senso de justiça .....................................................................................................135
Responsabilidade......................................................................................................................................135
O livre-arbítrio..........................................................................................................................................136

Ética – uma perspectiva cristã...............................................................................................141


Ética – uma abordagem Religiosa e distinção da Social..........................................................................141
Ética – uma perspectiva religiosa cristã....................................................................................................141
Ética Religiosa cristãe Moral Religiosa – os Dez Mandamentos.............................................................144
Ética Social cristã.....................................................................................................................................145

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Ética – assuntos práticos ......................................................................................................147
A ordem da vida: a Ética nas questões da vida . ......................................................................................147
A Ética da corporeidade............................................................................................................................149
A ordem familiar: a Ética na família.........................................................................................................151
A ordem de justiça: a Ética nas questões legais . .....................................................................................153
A ordem civil: a Ética na política.............................................................................................................154

Referências............................................................................................................................157

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Apresentação
Caro amigo

E
stamos iniciando uma caminhada. Há mais de 15 anos trabalho com a disciplina de Cultura
Religiosa. O começo sempre é difícil. Existe uma resistência natural do aluno em estudar os
conteúdos. O “pré-conceito” fica claro quando se define a disciplina como aula de religião.
Outros ainda pensam em catequese. Mas não será este o nosso objetivo. Apenas quero caminhar com
vocês no sentido de construir uma reflexão madura sobre a vivência e o comportamento religioso das
pessoas e a influência que exercem sobre a vida de cada um de nós.
Ao final de cada semestre, fico surpreso com a reação dos alunos. A maioria considera a disci-
plina muito interessante. É claro, que alguns resistentes ficam indiferentes, pois não tiveram a cora-
gem de abrir o coração e aceitar conceitos essenciais para se viver uma boa vida.
Trabalho em uma Universidade Confessional, isso significa que a mesma está ligada a uma
Instituição Religiosa. Mas nem por isso queremos impor o que pensamos. Vamos apenas debater. Se
puder ajudá-los com essa reflexão, com certeza o farei.
Você irá encontrar neste livro um panorama das maiores religiões do mundo. Notará a plurali-
dade religiosa e terá uma idéia da riqueza de pensamento e valores das religiões estudadas. Também
iremos estudar mais detalhadamente o Cristianismo e a Reforma Luterana, pois são movimentos que
influenciaram diretamente na existência da Universidade Luterana do Brasil. Por fim, estudaremos
ética. Particularmente, a ética cristã e os valores que ela pode acrescentar na vida de cada um de nós.
Nesta caminhada, muitos dos textos têm a participação de professores de Cultura Religiosa que
nesses 15 anos estão ao meu lado. Citamos aqui Ronaldo Steffen, Jonas Dietrich, Valter Kuchenbecker,
Egon Seibert, Ricardo Rieth, Valter Steyer, Thomas Heimann, Nereu Haag e Bruno Muller. Além desses,
não podemos deixar de citar o Capelão Geral da Universidade Luterana do Brasil, pastor Gerhard Grasel
e o Diretor do curso de Teologia da Ulbra, pastor Leopoldo Heimann. São pessoas que têm ajudado não
somente a construir esta trajetória em Cultura Religiosa, como têm colaborado com o aprofundamento da
reflexão e ajudado muitas pessoas.
Douglas Moacir Flor

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Cultura religiosa –
um tema controverso
Douglas Moacir Flor*

Resumo

V
ocê já deve ter passado por alguma experiência religiosa. Se não passou,
alguém ao seu lado já deve ter contado algo que o levou a refletir sobre o
assunto. Aqui, vamos ver que a experiência religiosa é mais rica do que se
imagina, além de ser universal.
A religião está presente no cotidiano por meio de diferentes manifestações.
Pode-se, sem entrar em detalhes por ora, mencionar algumas áreas, alguns even-
tos e algumas práticas pessoais e sociais marcadas por idéias, ritos e símbolos
consagrados ao campo religioso.
Vamos utilizar alguns pontos trabalhados pelo colega Ronaldo Steffen
(2003), estudioso do assunto e professor de Cultura Religiosa, publicado no site
da universidade.
De uma forma bem simples, podemos reportar o leitor a algumas práticas
familiares ligadas à tradição religiosa como o casamento, batismo, morte e vela-
mento. São cerimônias religiosas tão tradicionais que muitas pessoas, sem que se
dêem conta, se envolvem. O que dizer de pessoas doentes ou com problemas mais
sérios que buscam ajuda divina como alternativa para a cura?
No esporte, estamos acostumados, marcadamente no futebol, com a cena de
uma oração conjunta antes da entrada no campo. Numa decisão por pênaltis, por
exemplo, é comum a imagem de jogadores ajoelhados, rezando ou beijando sua
santinha.
No campo musical não são raras as menções que se faz a personagens reli-
giosos e até mesmo a sentimentos de ordem religiosa; no campo das artes somos
conduzidos a milhares de imagens notadamente carregadas de simbolismo reli-
gioso dos mais diversos matizes. A literatura não tem deixado por menos e tem
sido o mercado que mais cresce em termos de editoria nos últimos anos. O cinema
tem sido pródigo nas temáticas de ordem religiosa. As novelas, fenômeno brasilei-
ro que ganha o mundo, jamais têm deixado de lado alguma alusão, personagem e
até mesmo a temática central ligados a fatos eminentemente religiosos. Mestrando em Educação
pela Universidade Luterana do
Brasil. Graduado em Teologia
A nossa alimentação está em grande parte determinada por elementos de or- pelo Seminário Concórdia –
Instituição da Igreja Luterana
dem religiosa; o modo de expressar nossas idéias por meio da linguagem é, igual- do Brasil – e em Jornalismo
mente, em grande parte determinada por formas religiosas. O turismo religioso é pela Unisinos. Professor de
Cultura Religio-sa e Jornalis-
hoje um grande filão na arrecadação de divisas para um município. A Educação mo na Ulbra.

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Cultura Religiosa

é fortemente marcada pelos valores que ela prega, quase sempre idênticos aos
de ordem religiosa. A área da saúde, o trato com a dor, a vida e a morte foram e
ainda são construídos com suporte religioso. Nosso calendário, suas datas festivas
e grandes eventos têm sua origem no meio eclesiástico. As diversas áreas do co-
nhecimento humano, de uma ou de outra maneira, têm-se ocupado com a temática
religiosa, como a Filosofia, a Psicologia, a Sociologia, a Antropologia, a História,
a Medicina, a Física, a Arqueologia, a Geografia e assim por diante.

A palavra religião
Afinal, o que é religião? No texto a seguir temos uma definição que poderá
ajudá-lo a entender o sentido.
Etimologicamente, o termo religião surge na história da humanidade através dos autores
clássicos, como Cícero, Lactânio e Agostinho, respectivamente, nas palavras re-legere,
que significa reler, re-ligare, que significa religar, e re-eligere, que significa reeleger. To-
dos os conceitos nos dão a idéia de voltar a uma situação anterior, ou seja, ligar novamente
a criatura com o criador. É exatamente esta tentativa de religar com o Ser Superior, através
de um conjunto de crenças, normas, ritos ou costumes, que dá origem às diversas religiões
o fenômeno religioso propriamente dito. (KUCHENBECKER, 2000, p. 18).

Apesar de seguidamente ouvir-se que religião é coisa do passado, as men-


ções acima indicam uma direção contrária. Estão apontando para o fato de que
o ser humano preocupa-se com o divino, aqui entendido no sentido daquilo que
ocupa lugar de destaque ou o primeiro lugar na vida.

Conhecimento religioso

Istock Photo.

Batismo.

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Cultura religiosa – um tema controverso

John Fries.
Peregrinos no rio Ganges.

Istock Photo.

Monge budista.
Ilona M. Lachowski Loewen.

Celebração judaica.

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Cultura Religiosa

Ainda tentando responder o que é religião, podemos dizer que religião é um


batismo numa igreja cristã. É um ritual sagrado nas águas do rio Ganges. É a ado-
ração num templo budista. Pode ser um muçulmano ajoelhado e orando para Alá.
Ou os mesmos devotos do Islã peregrinando à Meca. Pode ser um judeu diante do
Muro das Lamentações em Jerusalém. São tantas as menções que seria impossível
citar todas.
O que pretendemos fazer é ligar os fatos. As ciências da religião procuram
responder o que as atividades citadas acima têm em comum. Nós procuramos,
como pesquisadores, investigar os rituais de uma perspectiva externa. Buscamos
semelhanças e diferenças. Queremos entender como se dá o processo historica-
mente e o que isso representa para sociedade hoje.

Por que estudar as religiões?


Dependendo da experiência de cada um, as respostas serão diferentes. Tal-
vez você seja um religioso e não precise de tantas explicações. Mas, com certeza,
muitas pessoas não se atentaram para a importância do assunto.
Jostein Gaarder, em seu O livro das religiões, nos ajuda a responder à per-
gunta acima:
Um rápido olhar para o mundo ao redor mostra que a religião desempenha um papel bas-
tante significativo na vida social e política de todas as partes do globo. Ouvimos falar de
católicos e protestantes em conflito na Irlanda do Norte, cristão contra muçulmanos nos
Bálcãs, atrito entre muçulmanos e hinduístas na Índia, guerra entre hinduístas e budis-
tas no Sri Lanka. Nos Estados Unidos e no Japão há seitas religiosas extremistas que já
praticaram atos de terrorismo. Ao mesmo tempo, representantes de diversas religiões pro-
movem ajuda humanitária aos pobres e destituídos do Terceiro Mundo. É difícil adquirir
uma compreensão adequada da política internacional sem que se esteja consciente do fator
religião. (GAARDER, 2000, p. 14).

Além disso, explica Gaarder, um conhecimento religioso também pode ser


útil num mundo que se torna cada vez mais multicultural. Ainda mais quando fala-
mos em globalização, apesar de que o termo deva ser usado com cuidado. Muitos
de nós viajamos pelo Brasil ou mesmo ao exterior, entrando em contato com as
diversas culturas religiosas. Esses povos têm costumes diferentes que devem ser
respeitados pelos seus visitantes. Se uma mulher estiver num país muçulmano, por
exemplo, terá que observar o tipo de roupa que usará nas ruas. É claro que não pre-
cisará andar com uma burca, mas terá que cobrir seu corpo com roupas decentes.
Finalmente, acreditamos que o estudo das religiões pode ser importante para
o desenvolvimento pessoal do indivíduo. As religiões podem responder várias das
perguntas existenciais que fazemos, como: de onde viemos? o que somos? para
onde iremos?

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Tolerância religiosa

Steve Evans/Wikipedia.
Muçulmanas vestidas com a burca.

Este é um dos pontos mais importantes na nossa caminhada. Tolerância é o


respeito pelas pessoas que possuem diferentes pontos de vista em relação à reli-
gião. Não significa que precisamos concordar com tudo o que as outras religiões
praticam e seguir os mesmos rituais. Cada um tem o direito de seguir aquilo que
é melhor para si, pode ter uma fé sólida. Mas a tolerância não é compatível com
atitudes como zombar das opiniões alheias ou se utilizar da força e de ameaças. A
tolerância não limita o direito de fazer propaganda, mas exige que esta seja feita
com respeito pela opinião dos outros (GAARDER, 2000, p. 15).
O respeito pela vida religiosa dos outros, pelas suas opiniões e pontos de
vista, é um pré-requisito para a nossa aula de Cultura Religiosa. Sem isso, é im-
possível começar, pois:
Com freqüência, a intolerância é resultado do conhecimento insuficiente de um assunto.
Quem vê de fora uma religião, enxerga apenas as suas manifestações, e não o que elas
significam para o indivíduo que a professa. (GAARDER, 2000, p. 15).

Sincretismo religioso
No Brasil, é muito interessante falar sobre religião. Isto porque temos aqui
uma pluralidade religiosa bem interessante. Além disso, encontramos o que cha-
mamos de sincretismo religioso. Isso acontece quando misturamos elementos de
várias religiões numa só. Sincretismo é o termo que os historiadores denomi-
nam de fusão ou associação de religiões, ritos, crenças e personagens cultuais.

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Cultura Religiosa

Os cultos afro-brasileiros são um exemplo comprovado de sincretismo religioso.


Queremos mostrar como isso acontece através da fala de Riobaldo Tatarana, um
personagem sertanejo do Grande Sertão: Veredas.
Hem? Hem? O que mais penso, testo e explico: todo-o-mundo é louco. O senhor, eu, as
pessoas todas. Por isso é que se carece principalmente de religião: para se desendoidecer,
desdoidar. Reza é que sara da loucura. No geral. Isso é que é a salvação-da-alma... Muita
religião, seu moço! Eu cá, não perco ocasião de religião. Aproveito de todas. Bebo água
de todo rio... Uma só, para mim é pouca, talvez não me chegue. Rezo cristão, católico, em-
brenho a certo; aceito as preces de compadre meu Quelemém, doutrina dele, de Cardéque.
Mas, quando posso, vou no Mindubim, onde um Matias é crente, metodista: a gente se
acusa de pecador, lê alto a Bíblia, e ora, cantando hinos belos deles. Tudo me quieta, me
suspende. Qualquer sombrinha me refresca. Mas é só muito provisório. Eu queria rezar – o
tempo todo. Muita gente não me aprova, acham que lei de Deus é privilégios, invariável.
E eu! Bofe! Detesto! O que sou? – o que faço, que quero, muito curial. E em cara de todos
faço, executado. Eu? – não tresmalho!
Olhe: tem uma preta, Maria Leôncia, longe daqui não mora, as rezas dela afamam muita
virtude de poder. Pois a ela pago, todo mês – encomenda de rezar por mim um terço, todo
santo dia, e, nos domingos, um rosário. Vale, se vale. Minha mulher não vê mal nisso. E
estou, já mandei recado para uma outra, do Vau-Vau, uma Izina Calanga, para vir aqui,
ouvi de que reza também com grandes meremerências, vou efetuar com ela trato igual.
Quero punhado dessas, me defendo em Deus, reunidas de mim em volta... Chagas de
Cristo! (ROSA, 1985).

Quem sabe você conhece alguém que se identifica com este personagem.
É comum a gente encontrar situações como esta. Nas aulas de Cultura Religiosa,
quando perguntamos se nossos alunos têm alguma religião, muitos respondem:
sou católico apostólico romano, não praticante. Isto significa que eles são católicos
por tradição, mas não vão à igreja aos domingos. Muitos são católicos, mas não
deixam de ir ao terreiro ou ao centro espírita.
É importante ressaltar aqui a questão da tolerância. Religião sem o devido
respeito perde o sentido. Não é possível pregar algo e praticar outra coisa. Por
outro lado, a experiência religiosa é importante na vida de todo o ser humano. Se
você ainda não passou por isso, busque entender um pouco mais do assunto. Leia,
reflita sempre.

1. Como você analisa a experiência religiosa?

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Cultura religiosa – um tema controverso

2. Como você vê a religião dos outros?

Busque em jornais e revistas textos que o reporte a algum assunto relacionado à cultura religio-
sa e reflita sobre ele. Se possível, discuta com seus colegas.
Recomendamos a leitura do primeiro capítulo do livro:
KUCHENBECKER, Valter. O homem e o sagrado. Canoas: Editora da Ulbra, 2000.

Você já passou por alguma experiência religiosa? Relate uma experiência que o tenha reportado
ao mundo religioso.

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O fenômeno religioso

É
possível perceber a religião como um fenômeno religioso. Mesmo que nos dias atuais, a ciência
cada vez mais ocupe o lugar da religião, são muitos os fatores que nos reportam à importância
da religião na vida dos povos em todo o mundo. No passado, a religião era o centro do universo.
Assim, é possível concordar que:
[...] apesar desta mudança de prioridade, o homem sempre e em todos os tempos tem demonstrado a sua preocupa-
ção com o divino. Existe no ser humano uma consciência natural que o impulsiona nesta direção. Tal preocupação
tem se manifestado de formas diferentes através das diferentes culturas e civilizações. Esta busca e necessidade de
relacionar-se com o Ser Superior, o Eterno e o Divino chamamos de fenômeno religioso. No entanto, este fenômeno
precisa ser corretamente orientado e conduzido pelo próprio Criador. Caso contrário, levará o homem a falsos deu-
ses. (KUCHENBECKER, 2000, p. 15).

Essa assertiva remete a uma dimensão em que é possível perceber-se a religião como fenômeno
humano, tais como os classificados abaixo e expostos pelo Professor Martinho Lutero Hoffmann, em
material não-publicado.

Religião e Arte
A religião, enquanto fenômeno humano, tem provocado as mais belas obras artísticas. Isso pode
ser observado em qualquer religião desde os tempos mais antigos até os mais modernos.
No antigo Egito, citamos as pirâmides, o templo de Karnac, a esfinge de Gizé e uma quantidade
enorme de estátuas.
Corel/IESDE.

Esfinge.

Na Grécia Clássica, o Pathernon, as estátuas de Fídias e toda uma série de mitos que até hoje
influenciam as artes e até mesmo as ciências.

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Cultura Religiosa

Istock Photo.
Pathernon.

Na Palestina, o templo de Salomão, destruído na conquista babilônica do sé-


culo VI a.C.; o de Herodes, também destruído pelos romanos no ano 70 d.C., mas
que subsistem na memória do povo judeu como alguns dos grandes marcos da
sua arte; e os livros sagrados, que levaram Augusto de Campos, um dos maiores
escritores contemporâneos, a afirmar que Deus é um grande poeta.
Na Idade Média européia, as grandes catedrais, prodígios não só de concep-
ção artística, mas também de engenharia e arquitetura; os vitrais dessas mesmas
catedrais; a criação da música polifônica; esculturas; e pinturas.

Wikipédia.

Catedral gótica.

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O fenômeno religioso

Wikipédia.
Vitrais.

Na Renascença italiana, a catedral de Florença; a basílica de São Pedro, em


Roma. As pinturas sobre os mais variados assuntos religiosos, dentre as quais se
sobressai o conjunto ímpar da Capela Sistina; as esculturas como a Pietá; a Divina
Comédia escrita por Dante Alighieri.
Wikipédia.

Basílica de São Pedro.

19
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Wikipédia.
Pietá de Michelângelo.

Em Portugal, os conjuntos de azulejos; os sermões de Antônio Vieira; o mo-


numento monolítico erigido em louvor a Deus, mas cujos rescaldos são mais que
suficientes para fazer da Língua Portuguesa uma língua de primeira grandeza.
No Brasil, o mesmo Vieira, que nacionalizamos com muito amor, devido ao
fato de aqui ter vivido muitos anos; as igrejas barrocas de Minas Gerais, Bahia e
Pernambuco; as estátuas e pinturas desse mesmo período; e a catedral de Brasília
projetada por Niemeyer. Beni Jr.

Igreja barroca de Ouro Preto.

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O fenômeno religioso

A música alemã, por sua vez, se torna a mais importante por seus inúmeros
gênios, entre os quais avultam Mozart, Beethoven, Buxtehude, Brahms e, princi-
palmente, os 200 compositores da família Bach, um em especial que deu o supre-
mo nome da história musical: Johann Sebastian Bach (1685-1750).

Wikipédia.

Johann Sebastian Bach.

Nos Estados Unidos, a música gospel e o negro spiritual. Outras regiões do


mundo com outras religiões também contribuíram significativamente para as artes
em geral, como os pagodes chineses, os jardins japoneses, os templos hindus, entre
outros. Em suma: todo povo e toda religião forneceram à Arte alguma coisa de
muito valor que não deve, sob nenhuma hipótese, ser relegada a segundo plano.
Corel/IESDE.

Jardim japonês.

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Religião e Moral
A Moral vem a ser, num mundo que se vive em sociedade, um de seus pila-
res imprescindíveis. A convivência de muitas pessoas dentro de um mesmo espa-
ço físico exige regras e leis, deveres e obrigações, direitos e privilégios e, mais que
tudo, virtudes e valores. A Moral nos diz o que é certo e o que é errado. Mas o que
diz à Moral se algo é certo ou errado, ou qual a hierarquia dos valores e virtudes,
é, na maioria das vezes, a religião que as pessoas aceitam. Há, evidentemente,
religião sem moral e moral sem religião, mas, na grande maioria dos casos, moral
e religião mantêm um casamento mais do que fechado.
Quando isso acontece, é a religião que dita as normas e ainda fornece toda
a motivação para que as normas sejam plenamente cumpridas.

Religião e Ciência
Se Religião, Arte e Moral formam um trio quase perfeito, Reli-
Wikipédia.

gião e Ciência, há tempos descasados, brigam muito, continuamente.


A briga realmente esquentou no século XIX. Auguste Comte (1798-
1857), o fundador do positivismo, afirmou, na teoria dos três estágios
do conhecimento, que a Religião era, dos três, o mais antigo e o mais
simplório, devendo ceder lugar à Filosofia que, por sua vez, entregaria
o posto à Ciência. O incrível de tudo isso é o próprio Comte, depois
de haver levantado essa idéia, criar a religião da humanidade, um
manual que, a partir da sua filosofia positivista, defende o amor como
causa, a ordem como meio e o progresso como fim.
Auguste Comte.
O grande problema, no entanto, surge com Charles Darwin
(1809-1882) e a Teoria Evolutiva. Até aí não se via nenhuma dificul-
Wikipédia.

dade com o relato inicial do primeiro livro de Moisés. Acreditava-se,


com toda a candura, na criação do mundo em seis dias e na idade do
universo em torno de seis mil anos, como se o relato bíblico fosse
uma reportagem dos tempos antigos. O universo ficou mais velho, e
a rápida mão do Criador cedeu lugar à lenta evolução. A imagem e a
semelhança de Deus atribuída ao homem desmanchou-se em crânios
simiescos datados de algumas centenas de milhares de anos.
As perguntas que, pois, se impõem são estas: há no big-bang e na
evolução alguma verdade que pode ser considerada final, ou tudo gira
Charles Darwin. no terreno arenoso das hipóteses e da especulação? As narrativas bíbli-
cas têm a pretensão de ser uma afirmativa de caráter científico tal e qual entendemos
hoje a ciência com seu meticuloso método, ou foram desde o princípio concebidas na
categoria de mitos, como verdades superiores que só podem ser expressas em lingua-
gem sublime e figurada? Sendo assim, podemos abrir mão da literalidade da Criação
para injetar nela as categorias da evolução? As respostas a cada uma dessas perguntas
dependerão da fé e da compreensão ou ausência de fé tanto em relação à religião como
também em relação à própria ciência, visto que essa, para muitos, constitui uma espé-
cie de religião que, além de plantar certezas, garante safras de soluções.
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O fenômeno religioso

Religião e Filosofia
Religião e Filosofia são duas retas paralelas que ora divergem, ora se encon-
tram, ora se complementam, ora se anulam.
Pode-se afirmar que o surgimento da Filosofia no Ocidente foi um ataque
aos mitos gregos. Tales de Mileto (625/4-558/6 a.C.) procura uma explicação fora
deles e diz que a origem de tudo é a água. Anaximandro (610/9 -547/6 a.C.) põe no
lugar da água o indeterminado, e Anaxímenes (588-528/5 a.C.), o ar. Xenófanes de
Cólofon (Jônia, Ásia Menor, 570-528 a.C.) critica a antropomorfização de Deus na
poesia de Homero e Hesíodo. Demócrito de Abdera (Trácia, 460-370 a.C.) é o pai
do atomismo, afirmando que tudo é formado por substâncias indivisíveis, as quais
se combinam ou se separam, formando ou desfazendo uma pessoa ou um objeto.
Os sofistas, primeiros professores profissionais da história, tornam tudo relativo
segundo a famosa frase de Protágoras: “O homem é a medida de todas as coisas;
do ser enquanto existe e do não-ser enquanto não existe”.
Sócrates (470-399 a.C.), reagindo ao relativismo sofista, introduz a teoria
das idéias inatas, às quais se poderia chegar pela maiêutica (partejamento de
idéias). Com as idéias inatas, se pressupunha uma vida anterior, abrindo, assim,
caminho para a religião. Platão (428-347 a.C.), aluno de Sócrates, continua na
mesma trilha ao propor o mundo das idéias como a autêntica realidade (mito da
caverna, corpo prisão da alma).
A Idade Média, marcada profundamente pela religião cristã, desenvolve a
tese de que a Filosofia é a serva da Teologia (ciência da religião). Vale notar que
os eruditos cristãos primeiramente usaram as categorias platônicas e acabaram
contaminando-se com um modo platônico de ver as coisas, mas em seguida se
apropriaram das concepções aristotélicas, sendo igualmente influenciados por
elas (amor ordenado, provas racionais da existência de Deus etc.).
Por outro lado, há quem visualize religião (ou teologia) e Filosofia não como
concorrentes, mas como dois métodos diferentes, não opostos, para tratar e com-
preender uma mesma realidade. Martin Heidegger (1889-1976), por exemplo, foi
sepultado como católico romano. Edmund Husserl (1859-1938), expoente do feno-
menalismo, converteu-se à Igreja Luterana.
Em tempo: não se deve confundir religião e teologia. Embora sejam concei-
tos afins, não são a mesma coisa. Religião é um conjunto de crenças que formam
um sistema coeso. Teologia é a reflexão crítica e sistemática sobre os dados ofere-
cidos pela religião. Em outras palavras: teologia é a ciência, e religião é o objeto
ou a matéria dessa ciência.

Religião e Economia
Toda crença, tão logo se institucionalize, passa a ter uma economia interna.
Precisa manter suas propriedades (escolas, templos, creches, asilos, seminários
etc.) e pagar seus funcionários. Para tanto, se utiliza de vários expedientes: co-

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Cultura Religiosa

brança de uma taxa, estabelecimento de um percentual dos ganhos do fiel (o dízi-


mo, por exemplo), ofertas livres, doações ou subvenções do governo.
A religião, no entanto, não se limita apenas a isso. Ela, para o bem ou para
o mal, influencia a economia da comunidade como um todo, embora nem sempre
seja determinante. Max Weber (1864-1920) tentou mostrar que o surgimento do
capitalismo se deveu ao protestantismo de cunho calvinista. Sabe-se, porém, que
muito antes de Calvino já havia banqueiros e que até os papas se utilizavam dos
seus monetários serviços. Certamente, o que se pode afirmar é isto: certas ênfa-
ses doutrinárias desta ou daquela religião podem motivar seus adeptos a ter uma
ou outra resposta econômica. Contrastando-se o catolicismo medieval e contra-
reformista com o luteranismo, é possível ver algumas diferenças: no catolicismo
a forma de se adorar e servir a Deus passava pela veneração dos santos, orações,
jejuns, penitências, peregrinações e culminava em tornar-se monge ou freira; no
luteranismo, o servir e adorar a Deus começava pela fé (considerada o supremo
culto, prosseguia na participação dos cultos, leitura da Bíblia, oração etc., e con-
cretizava-se no trabalho diário, visto como vocação de Deus, razão pela qual todo
trabalho, fosse ele qual fosse, deveria ser bem feito porque era, além de um culto
a Deus, um serviço ao próximo).
Partindo-se daí, é possível admitir que o progresso dos países luteranos em
relação aos católicos tenha uma origem doutrinária. Contudo, pode-se também
questionar se outros fatores não intervieram com peso igual ou até superior. Um
deles seria o posicionamento assumido pela nobreza medieval em relação ao tra-
balho, que era de franco desprezo – calcula-se que na Espanha, no século XVI,
apenas 3% da população efetivamente se dedicava ao trabalho! Por não ter havido
uma quebra de ordem cultural e social nos países em que a visão medieval perma-
neceu firme, não poderia estar aí também uma resposta?

Religião e Educação
Por ser a Religião um conjunto de ensinamentos (note-se o termo), segue-se
Wikipédia.

que ela, para sobreviver, precisa apelar para a Educação. Não é por outro motivo
que os primeiros professores foram todos pessoas ligadas a um culto específico.
No entanto, o que se quer discutir aqui é se a religião consegue lançar os olhos
para a Educação como um todo. Num primeiro exame, observa-se que a religião
contribuiu com muito pouco ou mesmo nada nessa direção.
Na China, país de cultura milenar, a Educação esbarrava nos milhares de
ideogramas que um aluno precisava memorizar, pois era necessário tempo e di-
nheiro. Ao que tudo indica, não havia nenhum plano de Educação abrangente. No
primeiro projeto educacional conhecido, o confuciano (século VI a.C.), a ênfase
Confúcio.
não era popular, mas elitista, já que Confúcio queria restabelecer o império, o
transformado quase numa obra de ficção por causa do ínfimo poder exercido pelo

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O fenômeno religioso

imperador. O sistema idealizado pelo mestre visava a preparar os funcionários


públicos, os mandarins, que seriam a base burocrática do império. Deve-se notar
que, embora seja atualmente considerado uma religião, o confucionismo tinha
a princípio uma função muito mais política e pedagógica do que propriamente
religiosa.
Num certo sentido, é a Reforma que ata o nó bem firme da religião com a
educação. Lutero achava que ela poderia fazer de alguém um cidadão útil para o
Estado. Já nos primeiros anos da Reforma, recomendava aos príncipes e gover-
nantes que fundassem escolas e obrigassem os pais a enviar a elas os filhos. Por
outro lado, a fim de pôr em prática a noção de sacerdócio universal de todos os
crentes, advogava que todo cristão poderia ler a Bíblia e interpretá-la — não ale-
atoriamente — de modo objetivo, levando em conta as regras da gramática e da
retórica e todo o contexto geográfico, histórico, social etc.
Pode-se até afirmar, sem nenhum receio, que a educação brasileira não seria
hoje o que é sem as escolas confessionais, pois são milhares por toda parte.
É interessante analisar a religião no intuito de abrir as lentes para um novo olhar.
À medida que conseguimos nos despir de preconceitos, avaliamos de outra maneira e
enriquecemos culturalmente. Você vai perceber isso quando se deparar com notícias
de jornais e televisão. O assunto “religião” será percebido com mais atenção.

1. Em grupos formados com quatro pessoas, refletir e listar sobre a influência da religião na vida
diária da sua cidade.

2. Num segundo momento, os grupos apresentam suas respostas e abrem o debate com o grande
grupo.

A dica de estudo é prática. Busquem o diálogo. Pesquisem na internet sites que mostrem a rela-
ção entre arte e religião.

Ouçam músicas que tenham sido inspiradas pela religião. Pode ser música clássica, gospel ou
mesmo popular. Muitos jovens, das mais diversas religiões, costumam compor músicas e gravá-
las em CD.

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Cultura Religiosa

Com quais aspectos desta aula você se identificou? Escreva o relato sobre uma visita a algum
museu, o ouvir de uma música etc., que o tenha reportado à religião.

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As grandes religiões I

V
amos partir para uma longa viagem. A idéia é dar a volta ao mundo e estudar as grandes re-
ligiões. Se fôssemos numerar todas as religiões existentes no mundo, possivelmente teríamos
milhares. Portanto, vamos falar das principais, pois a partir dessas é que surgiram todas as
outras. Cada uma das grandes religiões produziu milhares de seitas ou grupos menores que foram se
subdividindo durante os séculos. Todas produziram uma grande riqueza cultural e valores fundamen-
tais para a preservação do ser humano.

Hinduísmo
É uma religião intrigante em muitos aspectos. Não tem um fundador, apenas um livro sagrado
ou regras singulares que nos ajudam a entender facilmente suas crenças e suas tradições. Nasceu
há cerca de 4 mil anos, na Índia. É difícil falar dela como uma religião só. O Hinduísmo tem uma
infinidade de ramos e divindades. A religião hindu passou por constantes transformações ao longo
dos séculos – resultado das sucessivas invasões que marcaram a história deste povo. Apesar da di-
versidade de deuses e formas de encontrar o caminho, um aspecto é comum entre todos: a vida na
Terra é parte de um ciclo de nascimentos, mortes e renascimentos, do qual é preciso se libertar. A
reencarnação, determinada pela Lei do Carma, talvez explique a resignação e a satisfação pela vida
que levam, mesmo diante de costumes tão diferentes dos nossos e da “pobreza” (do nosso ponto de
vista) em que vivem.
Origem
Não há uma precisão histórica sobre o início do Hinduísmo. Ele é resultado de um processo
gradual, provém das religiões primitivas tribais da Índia e toma forma com a invasão deste país, por
volta de 1500 a.C., pelos arianos indo-europeus. Seu sistema religioso está organizado em torno de
quatro escritos sagrados, conhecidos como Vedas.
As tradições religiosas eram inicialmente transmitidas oralmente. A partir de 800 a.C. é que
surgem os primeiros escritos. O Rig-Veda é o livro principal. Aos Vedas são acrescentados dois outros
livros: os Brahmanas e o Upanishads. As três obras contêm todo o Dharma, as obrigações da casta,
uma espécie de lei.
A melhor definição é que
[...] projeta-se como a religião eterna e se caracteriza por sua imensa diversidade e pela capacidade excepcional
que vem demonstrando através da história de abranger novos modos de pensamento e expressão religiosa. (GA-
ARDER, 2000, p. 40).

Por outro lado, encontramos algumas pistas que nos levam a entender o processo de construção
e consolidação do Hinduísmo:
[...] A invasão dos árias levou à Índia um politeísmo já organizado, como mitos e cultos próprios, de caráter natu-
ralista [...] Para assegurar o predomínio de sua casta, os sacerdotes arianos elaboraram uma doutrina sincretista,
em que o conceito de brahman, de alguma forma equivalente ao mana dos melanésios, era elevado a uma ordem
superior, absolutizada, que por vezes se identificava com a própria divindade (donde o deus Brahma, personifica-
do). Desta forma, valorizavam a sua mediação sacerdotal, pois pelos ritos sagrados podiam produzir e manipular
o brahman (conceito mágico). (PIAZZA, 1991, p. 246).

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Muitos entendem que os arianos usaram o Hinduísmo para exercer o poder


e governar os hindus sem resistência, mas isso é apenas uma hipótese.

O povo hindu
Precisamos pensar nas pessoas, no povo hindu, e como a religião funciona no
dia-a-dia. Olhando o Hinduísmo como um todo – sua grande literatura, seus rituais
complexos, sua difundida cultura popular, sua arte opulenta – podemos resumir
tudo numa única frase: “Você pode ter aquilo que deseja.” (SMITH, 1991, p. 30).
Pense no que as pessoas buscam na vida: prazer, sucesso mundano (rique-
za, fama e poder), serviço e libertação. Os hindus não proíbem nenhuma dessas
buscas. Para eles tudo tem o seu momento na vida e se você desejar essas coisas
deve buscá-las. Por outro lado também sabem que nem todas as buscas vão trazer
os resultados esperados.

Somos pessoas limitadas


Sabem os hindus que somos pessoas limitadas na alegria, no conhecimento
e na existência. Na alegria, por exemplo, existem restrições como a dor física, a
frustração que surge dos impedimentos ao desejo e o tédio com a vida em geral.
A dor física é a menos problemática. Como a intensidade da dor se deve, em
parte, ao medo que a acompanha, dominar o medo reduzirá a dor.
A segunda grande limitação da vida humana é a ignorância. Dizem os hin-
dus que ela pode ser removida. Os Upanishads falam de “conhecer aquilo cujo
conhecimento traz o conhecimento de todas as coisas”.
Quanto à terceira grande limitação, a existência, o Hinduísmo leva essa
idéia um pouco além, propondo um eu extenso, com vidas sucessivas, assim como
uma única vida é feita de momentos sucessivos.
A literatura hindu é rica em metáforas e parábolas destinadas a nos desper-
tar para as “minas de ouro” que repousam ocultas nas profundezas do nosso ser.
Somos como reis que, vítimas de um ataque de amnésia, vagueiam pelo
reino vestindo andrajos, sem saber quem realmente são. Ou como um filhote de
leão, separado da mãe, que é criado por ovelhas e se acostuma a pastar e balir,
acreditando ser também uma ovelha. Somos como o amante que, no sonho,
corre o mundo, desesperado em busca da amada, esquecido de que ela está
deitada ao seu lado.

Os quatro estágios da vida


Segundo a tradição hindu, a vida do homem está dividida em quatro está-
gios, denominados asramas:
Bramacarya – é o estágio da juventude. Fase em que o estudante deve
aprender os ensinamentos dos Vedas com um professor mais velho ou
com um sábio;

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As grandes religiões I

Grihastha – fase adulta, em que ele assume o papel de chefe de família;


Vanaprastha – é o estágio do homem idoso. Ele deve gradualmente afas-
tar-se das coisas deste mundo e dedicar-se à reflexão;
Samnyasin – nesta fase, o indivíduo deve renunciar ao mundo.
A vida da mulher não é dividida em etapas.

Divindades
O Hinduísmo possui uma tríade de grandes deuses – Brahma, o criador,
Shiva, o destruidor, e Vishnu, o conservador. Além desses, os hindus possuem
milhões de divindades, chamadas de divindades dos lares. É a religião no mundo
com o maior número de deuses.
A única regra universalmente aceita pelo hindu é a de seguir as normas de
sua casta, na expectativa de um futuro feliz para si mesmo.

Brahma, o criador
Nascido de uma flor-de-lótus que brotava do umbigo de Vishnu, Brahma é
o criador, o responsável pela construção do Universo. Ele é casado com Sarasvati,
a deusa do conhecimento. Embora seja central na mitologia hindu, Brahma não
é muito cultuado porque já realizou sua tarefa e só voltará na próxima criação do
mundo.

Shiva, o destruidor
Esse possui dois aspectos principais, aterrorizante e benevolente, aparece
sob muitas formas e recebe mais de mil nomes. O primeiro é Rudra, um deus
violento, o deus das tempestades. Durante a dinastia Gupta, Shiva era ao mesmo
tempo o deus do amor e da destruição. Suas manifestações podem ser divididas
em cinco categorias: o jovem asceta, o dançarino cósmico, o senhor da destruição,
o demônio Brairava e o marido amoroso. Ele é representado vestido ou nu, com o
cabelo longo preso em um coque ou usando uma coroa.

Vishnu, o protetor
Conhecido como deus preservador, Vishnu representa a força criadora que une
todo o universo e possibilita a luz e a vida. Ele incorpora o amor divino e controla o
destino humano. Pode ser reconhecido pela sua cor azul-escura e pelos quatro braços,
que sugerem sua capacidade de alcançar os quatro cantos do mundo. Vishnu é muito
popular, principalmente sob a forma de avatares – suas diversas encarnações.

Reencarnação
Os hindus acreditam na reencarnação ou transmigração das almas. É um pro-
cesso de infinitas encarnações com o fim de ser absorvido o espírito pelo absoluto
Brahma. Isto significa que as almas nunca morrem, desde que façam parte do indes-
trutível tudo, Brahma. A alma de um homem de baixa posição social poderá renascer
como uma cobra ou até como um objeto não pertencente ao plano humano, depen-

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dendo da segunda crença, a Lei do Carma. Entendem que o homem é hoje resultado
de suas ações anteriores a esta vida.
Os hindus dividem o povo em castas. O grupo de maior valor era formado
pelos Brâmanes ou líderes religiosos, também chamados de videntes. Logo abaixo
aparecem os príncipes ou administradores, depois os agricultores ou vassalos se-
guidos dos servos. Fora das castas estão os párias, ou intocáveis, uma espécie de
mendigos e miseráveis. Desta forma, para eles, é impossível questionar, duvidar
ou aspirar a qualquer posição social nessa existência.
Uma das explicações para a questão das castas é que os arianos (invasores
europeus) mantinham ligação com algumas religiões, como a grega, a romana e a
germânica. Eles davam importância significativa ao sacrifício e faziam diversas
oferendas a seu panteão de deuses, a fim de conquistar favores e manter sob con-
trole as forças sobrenaturais. As crenças e os ritos, já existentes na região, foram
incorporados ao sistema religioso dos invasores e originaram novos cultos. Aí está
um exemplo de sincretismo religioso, como também aconteceu no Brasil com as
religiões africanas.

Animais sagrados
Ouvimos muitas histórias sobre animais sagrados na Índia, especialmente
sobre a vaca. Realmente existe o culto aos animais. A vaca é um animal sagra-
do, simbolicamente vista como Alimentadora Sagrada. Não pode ser morta sob
nehuma circunstância. A pessoa que toca a vaca fica ritualmente limpa, por isso o
leite e todos os seus derivados, como a manteiga, são utilizados em cerimônias de
purificação. Até seus excrementos são sagrados e podem ser usados como agentes
de purificação. Também são considerados sagrados animais como a cobra, o cro-
codilo e o macaco. Normalmente os hindus não gostam de tirar a vida dos animais
e muito menos comer sua carne, o que tornou a maioria dos fiéis vegetarianos.
Para concluir, é importante ressaltar que extraímos apenas algumas partes
importantes que nos dão uma idéia da religião. Mas entender em que os hindus
acreditam é difícil, como nos conta o historiador:
É difícil descrever o Hinduísmo. É preciso vivenciar. Os sábios hindus parecem mais sá-
bios do que nós; têm mais força, mais alegria. Parecem ser mais livres no sentido de não
se confinarem à ordem natural. Parecem serenos, até mesmo radiantes. Pacifistas por na-
tureza, seu amor flui para o mundo, para todos sem distinção. O contato com eles fortalece
e purifica. (SMITH, 1991, p. 41).

Budismo
Um príncipe hindu rico, possuidor de todos os bens necessários para uma
vida agradável, sem problemas e pertencente a uma das maiores castas. Bem que
Siddartha Gautama poderia desfrutar tudo isso e viver sua vida com sua esposa,
sua filha recém-nascida, nos palácios de seu pai. Mas faltava alguma coisa. Os
problemas existenciais o levaram a abandonar tudo em busca de uma solução para

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As grandes religiões I

superar o sofrimento humano. Passou a ser conhecido como Buda ou “Ilumina-


do”. Espalhou suas descobertas por toda a Índia dando origem a uma das religiões
mais influentes do mundo. Hoje, são mais de 400 milhões de adeptos.
Para se compreender o Budismo é necessário muita leitura. É uma religião
complexa devido às muitas seitas, escolas e pensamentos existentes, sempre de
caráter nacionalista regionalizado.
O Budismo começou no século VI a.C. como uma dissidência do Hinduís-
mo, nas proximidades do Himalaia. Siddartha Gautama, o fundador, foi um prín-
cipe que não concordou com o poder salvador dos Vedas, com os rituais e com
a ascendência dos sacerdotes nas questões religiosas. Deixou tudo o que tinha e
durante seis anos procurou o verdadeiro caminho da salvação ou o sentido mais
elevado e permanente da vida.
Dentre as suas tentativas, buscou experiências que lhe respondessem aos
anseios da vida. Tentou os caminhos dos sacerdotes e do ascetismo, chegando pró-
ximo à morte por causa do sofrimento ao seu corpo. Não foi nesse momento que
encontrou a paz de espírito. Como um ascético, testava-se a si mesmo, chegando
ao extremo de comer suas próprias fezes para testar sua autodisciplina. Depois
de várias tentativas, veio a resposta: a salvação pode ser conquistada por um ca-
minho intermediário entre o desejo e a mortificação. Assim chegamos à idéia do
“caminho do meio”.

As quatro verdades
Buda desenvolveu o seu pensamento em torno de quatro verdades, como
mostra Steffen (2000, p. 42):
a primeira verdade é que o sofrimento é universal;

a segunda identifica a causa do sofrimento (o desejo interno);

a terceira indica a necessidade de dominar o desejo e aniquilar a ambição;

a quarta verdade vai mostrar o caminho (os oito caminhos) para aniquilar a ambição.

Os oito caminhos
Fé justa

Resolução justa

Palavra justa

Conduta justa

Ocupação (trabalho) justa

Esforço justo

Pensamento justo

Meditação justa

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Com isso, alcança-se nirvana, que é o estado mental livre de paixões.


Assim Gautama anulou todo o sistema de castas1 do Hinduísmo, os rituais
brâmares e toda a concepção de divindade. Manteve, no entanto, a doutrina do
carma e da reencarnação.
A filosofia budista pode ser resumida pela afirmação de que há um caminho
do meio. Buda dizia que os excessos, tanto de prazeres sexuais como de ascetis-
mo, eram evidências externas do desejo latente – desejo de vida material ou desejo
de glória espiritual futura.

Os dez preceitos
O Budismo é rico em preceitos, cuidados a serem adotados para uma vida
equilibrada. Quem seguir determinadas regras vai encontrar benefícios no ca-
minho com a finalidade de chegar à salvação. Os dez preceitos incluem desde
ordenamentos para não se destruir a vida até a abster-se da promiscuidade, enfa-
tizando a necessidade de só possuir o que for dado como presente, afastar-se da
mentira, não beber álcool, fazer refeições apenas depois do surgimento da lua,
além de regulamentar o uso de ornamentos e metais preciosos. Quando Gautama
morreu, por volta dos 80 anos, o movimento já estava institucionalizado.
No livro O homem e o sagrado, o autor do texto que fala sobre o Budismo,
Professor Ronaldo Steffen, faz uma referência interessante de Buda. Diz ele:
Buda era um humanista. Embora afirmasse a existência de uma multidão infinita de deu-
ses e espíritos menores, era seu parecer que essas divindades não tornavam os seres huma-
nos melhores, pois eram seres finitos e sujeitos a todas as fraquezas da natureza humana.
Não acreditava num ser supremo nem em rituais puramente cerimoniais. Também não via
importância no ato de orar e na existência de sacerdotes. Ensinava seus seguidores a de-
penderem de si mesmos, mas permanecendo benevolentes e amorosos com a humanidade.
Aceitava, no entanto, a crença da transmigração das almas e a lei do carma. Acreditava
que os erros do passado poderiam ser superados por uma vida exemplar e que a alma nada
mais era do que a inter-relação de cinco energias, que se desintegravam quando o ser físico
morria. (STEFFEN, 2000, p. 43).

O Budismo e suas diversas seitas


O Budismo hoje é formado por diversas seitas. Com o passar do tempo seus
seguidores foram introduzindo novos ingredientes nos rituais. Por este motivo, o
Budismo não pode ser totalmente explicado sem uma leitura mais aprofundada.
O paradoxo é que Gautama, que não acreditava em Deus, tornou-se um para seus
1 Castas: derivam de quatro
grandes classes da antiga
Índia: Brâmares (sacerdotes),
seguidores. Três séculos após sua morte, já havia pelo menos 16 seitas distintas
Kshatriyas (governantes),
vaisyas (agricultores, comer-
de Budismo. É necessário estudar um pouco da expansão territorial do Budismo
ciantes etc.) e Sudras (escra- para entender o surgimento destas seitas. Esta expansão ocorre no século III a.C.,
vos, párias), que represen-
tavam a instituição social e quando Asoka, talvez o mais importante imperador da Índia, envia missionários às
nações estrangeiras para convertê-las ao Budismo. Desta forma, encontramos hoje
religiosa da sociedade hindu.
Cada uma delas é presidida
por um conselho com poder
extraordinário. Nas escritu-
o Budismo chinês, com ênfase no culto aos ancestrais; o Budismo japonês, que
ras hindus, o primeiro dever
religioso é observar as regras
inclui o antigo deus Shinto em sua lista de divindades; e o Budismo tibetano, que
da casta. enfatiza a vida monástica e o princípio da não-quebra do poder eclesiástico.

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As grandes religiões I

Algumas seitas budistas


Seitas da “Terra Pura”, que seguem tenazmente o objetivo último de atingir o paraíso.
Ensinam que as obras não têm importância e que, para garantir os resultados desejados na
vida, basta crer e executar os rituais.
Seitas dos “Intuitivos”, que perseguem os benefícios da contemplação vivendo vida
simples e autodisciplina.
Seitas “Racionalistas”, que se utilizam de processo sincrético, alegando que não há um
único caminho a ser observado.
Seitas da “Palavra Pura”, que depositam sua fé em salvadores cuja boa vontade deve
ser buscada em complexas observações ritualísticas.
Seitas “Sociopolíticas”, que desenvolvem, como no Japão, um forte sentimento nacio-
nalista como doutrina central. (STEFFEN, 2000, p. 44)

O Budismo pode ser analisado a partir de suas duas maiores escolas de pen-
samento: a Hinayana, predominantemente monástica e não-teísta, e a Mahayana,
que ensina que o universo é habitado por numerosos espíritos e deuses ansiosos
por ajudarem os homens em suas necessidades.
As duas religiões têm algumas características bem definidas. Mas é bom
lembrar que o Hinduísmo é uma dissensão do Budismo. Buda não concordava
com a situação de resignação, principalmente dos párias. Para ele, a vida não tinha
sentido se fosse compreendida dessa maneira. Ao mesmo tempo fica claro que
para Buda não há a necessidade de um deus que supra todas as necessidades do
homem, pois o ser humano, por suas próprias forças, pode encontrar o caminho e
chegar ao nirvana.

1. No que o pensamento hinduísta difere do pensamento ocidental?

2. Quais as lições que podemos tirar dos hindus para a nossa vida?

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Cultura Religiosa

3. Qual a ligação de Sidharta Gautama com o Hinduísmo?

4. Quando falamos em reencarnação, qual religião da atualidade está relacionada a este pensa-
mento e como isso acontece?

Recomendo para estudo a leitura dos capítulos 2 e 3 do livro:


SMITH, Huston. As religiões do mundo. São Paulo: Cultrix, 1991.

Como você encararia a vida se tivesse que viver como os hindus e eles dissessem que você per-
tencesse aos párias?

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As grandes religiões II

Confucionismo

V
amos caminhar por terras orientais. Uma volta pela China é o nosso compromisso neste mo-
mento. Vocês já devem ter observado que a China está despontando em todo o mundo pelo
seu crescimento econômico e aos poucos vem sendo reconhecida como uma grande potência
mundial. Talvez, o que você não saiba é que, “até 1911, a China foi uma potência imperial, onde o
imperador reinava acima de tudo. O imperador era considerado o representante do país diante do su-
premo deus Céu”. (GAARDER, 2000, p. 77).
O que havia por traz de tudo isso era uma ideologia confucionista. O conjunto de pensamentos,
regras e rituais sociais confucionistas, foi desenvolvido pelo filósofo K’ung-Fu-Tzu (551-479 a.C.). No
Brasil, o conhecemos como Confúcio. Além disso, Confúcio formulou normas para a vida religiosa,
para os sacrifícios e os rituais. Segundo Gaarder,
o confucionismo era, na verdade, uma religião estatal praticada pela elite e pelas classes dominantes, a qual, no
entanto, nunca se disseminou muito entre as massas, as camadas mais amplas da população. Da mesma forma
que o imperador, em seu palácio em Pequim, ficava remotamente afastado das pessoas comuns, o Céu era remoto
e impessoal para a grande massa dos chineses pobres, trabalhadores e camponeses. A religião dos pobres era a
adoração dos espíritos, particularmente dos antepassados, religiosidade carregada de magia e traços de outras
religiões. (GAARDER, 2000, p. 77).

Quem foi Confúcio


Confúcio nasceu em 551 a.C., filho de pessoas pobres, e desde cedo demonstrou um grande in-
teresse no que se referia à vida. Diz a história que “após iniciar sua carreira pública como um oficial
de segunda classe no estado de Lu, aos 18 anos, tornou-se professor e começou a ensinar História,
Filosofia, Ética, Música, Poesia e boas maneiras” (STEFFEN, 2000, p. 48). A idéia era mostrar aos
seus alunos os princípios necessários naquele momento de decadência da ordem feudal chinesa.
Num outro texto, lemos o seguinte:
Embora suas lembranças da infância contenham referências nostálgicas à caça, à pesca e ao arco, sugerindo com
isso que ele foi tudo menos uma traça de livro, Confúcio dedicou-se cedo aos estudos e se saiu bem. Chegando aos
quinze anos de idade, forcei a minha mente ao aprendizado.” Com vinte e poucos anos, depois de ter ocupado vá-
rios cargos públicos insignificantes, depois de ter feito um casamento não muito bem sucedido, ele se estabeleceu
como professor particular. Essa era obviamente a sua vocação. A reputação de suas qualidades pessoais e sabedo-
ria prática espalhou-se com rapidez, atraindo um Circulo de discípulos entusiasmados. (SMITH, 1991, p. 156).

A carreira de Confúcio não foi um sucesso. Sua ambição era bem maior. Alguns biógrafos che-
garam a criar a lenda de que, por volta dos 50 anos, Confúcio realizou uma brilhante administração
durante cinco anos, avançando rapidamente de ministro de Obras Públicas para ministro da Justiça
e primeiro-ministro, e fazendo de Lu uma província modelo. “A verdade é que os governantes da
época tinham medo da franqueza e da integridade de Confúcio, tanto medo que nunca o designariam
para qualquer posição de poder” (SMITH, 1991, p. 156).

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Os escritos
Confúcio compilou alguns materiais, os quais foram utilizados em sua fi-
losofia de vida. Dentre os materiais, encontramos: Shih Ching (Livro de poesias),
Li Chi (Livro dos ritos), I Ching (Livro das transformações), Shu Ching (Livro de
história) e Ch’um Ch’íu (os anais da primavera e do outono).

A filosofia de Confúcio
A questão central na filosofia de Confúcio está no termo li. Significa cortesia,
reverência, ritos e cerimônias e o posicionamento ideal na vida pública e privada.
“O chinês mais moderno entende por ‘li’ uma ordem social ideal, com tudo
em seu devido lugar e com todas as pessoas prestando respeito e reverência aos
outros na hierarquia social”. (STEFFEN, 2000, p. 48).
De uma certa forma, a idéia era estabelecer a ordem e acabar com a queda
do respeito desencadeada pela ordem feudal. Confúcio acreditava que, se cada um
soubesse o seu lugar, poderia haver um comportamento de reciprocidade como
um guia de vida. É aqui que vai surgir o dito “não faças aos outros o que não
queres que te façam”.
Político fracassado, Confúcio foi, sem dúvida, um dos maiores professores
do mundo. Preparado para ensinar história, poesia, governança, propriedade, ma-
temática, música, adivinhação e esportes, ele foi, à moda de Sócrates, um homem
Universidade. Seu método de ensino também era socrático. Sempre informal, ele
não fazia preleções; preferia conversar sobre os problemas propostos pelos seus
alunos, citando leitura e fazendo perguntas. Ele se apresentava aos alunos como
um companheiro de viagem, comprometido com a tarefa de se tornar plenamente
humano, mas modesto. Quanto ao ponto a que chegou no cumprimento dessa ta-
refa, ele mesmo cita:
Há quatro coisas no Caminho da pessoa profunda, nenhuma das quais fui capaz de
fazer. Servir ao meu pai, como esperaria que um filho me servisse. Servir ao meu go-
vernante, como esperaria que meus ministros me servissem. Servir ao meu irmão mais
velho, como esperaria que meus irmãos mais novos os servissem. Ser o primeiro a tratar
os amigos como esperaria que eles me tratassem. Essas coisas não fui capaz de fazer.
(CONFÚCIO).

Homem simples e humilde


Não havia nada de sobrenatural nele. Confúcio gostava de estar com as pes-
soas, de jantar fora, de cantar em coro uma bela canção e de beber, mas não em ex-
cesso. Seus discípulos relataram que, nas horas de folga, o Mestre tinha um com-
portamento informal e alegre. Ele era afável, mas firme; digno, mas agradável.
Estava sempre pronto para defender a causa das pessoas comuns contra a nobreza
opressiva de sua época; nas suas relações pessoais, ele rompia escandalosamente
as linhas de classe impostas pela sociedade e nunca menosprezava os alunos mais
pobres, mesmo quando não podiam pagar as aulas. Era gentil, mas capaz de sar-
casmos quando achava merecido. Falando daquele que começava a criticar suas

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companhias, Confúcio observou: “É evidente que Tzu Kung tornou-se perfeito.


Ele tem tempo para esse tipo de coisa. Eu não tenho tempo livre”.
Confúcio nunca lamentou a escolha que fez. Ele dizia que com alimento
ordinário para comer, água para beber e o braço dobrado como travesseiro, ainda
existia alegria em meio a isso e a tudo. As riquezas e honrarias adquiridas por
meios iníquos não significaram para ele mais do que as nuvens flutuantes.
A glorificação veio após a sua morte. Entre seus discípulos, o gesto foi ime-
diato. Disse Tzu Kung: “Ele é o sol, a luz, aos quais não há meios de se subir. A
impossibilidade de igualarmos nosso Mestre é como a impossibilidade de alcan-
çarmos o céu subindo por uma escada”. Em poucas gerações, Confúcio era visto
em toda a China como o “mentor e modelo de dez mil gerações”. O que mais lhe
teria agradado foi a atenção dada às suas idéias. Durante dois mil anos – até o
século XX – toda criança chinesa chegou à sala de aula, toda manhã, e lavantou
as mãozinhas postas na direção de uma mesa que tinha uma placa com o nome de
Confúcio. Praticamente, todo estudante chinês estudou cuidadosamente os pro-
vérbios de Confúcio, durante horas a fio; o resultado é que eles se tornaram parte
da mente chinesa, chegando até aos analfabetos na forma de provérbios. O gover-
no chinês também foi influenciado por essas idéias, mais profundamente do que
qualquer outra pessoa.

Alguns provérbios
Verdadeiro filósofo não será aquele que, mesmo sendo reconhecido, ja-
mais guarda ressentimento?
Não faças aos outros o que não queres que te façam.
Não me entristece que os outros não me conheçam. Entristece-me não
conhecer os outros.
Não esperes resultados rápidos nem procures pequenas vantagens. Se
buscares resultados rápidos, não alcançarás a meta final. Se te deixares
desviar por pequenas vantagens, nunca realizarás grandes feitos.
As pessoas mais nobres primeiro praticam o que pregam e depois pregam
de acordo com a sua prática. Se quando olhas dentro do teu coração não
vês nada de errado, por que te preocupas? O que há para temeres?
Quando conheces uma coisa, reconhecer que tu a conheces; e quando
não a conheces, saber que tu não sabes – isso é conhecimento.
Ir longe demais é tão mau quanto ficar aquém.
Quando vês um homem digno, pensa quando poderás emulá-lo.
Quando vês um homem desprezível, examina o teu próprio caráter.
Riqueza e posição, eis o que as pessoas desejam; mas se não as consegui-
rem da maneira correta, nunca as possuirão.
Sê bondoso com todos, mas íntimo apenas dos virtuosos.

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Pano de fundo
É claro que os provérbios, por si só, não explicam o sucesso de Confúcio. É
necessário compreender o que havia de errado na sociedade em que ele vivia.
A Antiga China não era nem mais nem menos turbulenta do que as outras
terras. Do oitavo ao terceiro século a.C., porém, a China testemunhou o colapso
da dinastia Chou, que foi um governo de paz e ordem. Baronatos rivais ficaram
em liberdade para fazer o que bem entendiam, criando uma situação idêntica à
da Palestina no período dos juízes: “Naqueles dias não havia rei em Israel; cada
homem fazia o que parecia certo a seus próprios olhos”.
A guerra quase contínua desse período começou dentro dos padrões do ca-
valheirismo. O carro de guerra era sua arma, a cortesia era o seu código e os atos
de generosidade conferiam honra. Diante da invasão, o barão arrogante enviaria
um comboio de provisões ao exército invasor. Ou, para provar que seus homens
estavam além do medo e da intimidação, ele enviaria, como mensageiro, soldados
que cortariam a própria garganta diante do invasor. Tal como na era de Homero,
guerreiros de exércitos inimigos se reconheciam, trocavam desdenhosos cumpri-
mentos do alto de seus carros de guerra, bebiam juntos e às vezes trocavam armas
antes de entrar em combate.
Na época de Confúcio, porém, a guerra interminável degenerava; de cava-
lheiresca, tornara-se o terror desenfreado do período dos Estados combatentes. O
horror chegou ao auge no século seguinte à morte de Confúcio. Os combatentes
entre carros de guerra deram lugar à cavalaria, com seus ataques de surpresa e
reides súbitos. Em vez do ato nobre de manter os prisioneiros até receber o resgate,
os conquistadores promoviam execuções em massa. Populações inteiras, captura-
das nos azares da guerra, eram decapitadas, incluindo velhos, mulheres e crian-
ças. Lemos descrições de chacinas de 60 mil, 80 mil e até de 400 mil pessoas.
Há relatos de vencidos atirados em caldeirões de água fervente e seus familiares
forçados a beber aquela “sopa” humana.
A pergunta, nessa época, era: por que continuamos nos destruindo? Talvez aí
esteja a resposta para compreendermos o poder do Confucionismo. Confúcio viveu
numa época em que a coesão social havia se deteriorado até o ponto crítico.
Confúcio insistia que o amor ocupa um lugar importante na vida; mas tam-
bém que o amor deve ser apoiado por estruturas sociais e por um etos coleti-
vo. Bater exclusivamente na tecla do amor é o mesmo que pregar os fins sem os
meios. Quando perguntaram à Confúcio certa vez, “devemos amar nossos inimi-
gos, aqueles que nos causam mal?”. Ele respondeu: “De modo algum. Respondei
ao ódio com a justiça e ao amor com a benevolência. Caso contrário, estaríeis
desperdiçando vossa benevolência.”

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Respeito às tradições
O que chama a atenção nas religiões orientais é o respeito que todos culti-
vam pelos mais velhos. A idade não é um peso, mas uma bênção. A experiência é
importante para os mais novos, que a buscam nas pessoas de maior vivência. As-
sim também são conservadas as tradições, transmitidas pelos mais velhos. Sobre
a socialização, o próprio Confúcio ensinou:
Deve ser transmitida dos velhos para os jovens, enquanto os hábitos e as idéias devem
ser conservados como uma teia ininterrupta de memória entre os portadores da tradição,
geração após geração. [...] Quando a continuidade das tradições de civilidade se rompe,
a comunidade é ameaçada. A menos que essa ruptura seja consertada, a comunidade se
esfacelará em [...] guerras de facções. Isso porque, quando a continuidade é interrompida,
a herança cultural não está sendo transmitida. A nova geração se defronta com a tarefa de
redescobrir, reinventar e reaprender, por tentativa e erro, a maior parte daquilo que precisa
saber. [...] Essa não é tarefa para uma única geração (CONFÚCIO).

A tradição deliberada
A tradição deliberada segue, no esquema de Confúcio, cinco termos chaves:
Jen: Etimologicamente uma combinação dos caracteres correspondentes
a “ser humano” e “dois”, designa o relacionamento ideal que deve existir
entre as pessoas. Traduzido das mais variadas formas (bondade, fraterni-
dade, benevolência e amor), talvez a melhor maneira de transmitir a idéia
seja pela expressão: “sensibilidade do coração humano”. Jen envolve
simultaneamente um sentimento de compaixão pelos outros e de respeito
por si mesmo, um sentimento indivisível da dignidade da vida humana,
onde quer que ela apareça.
Chun Tzu: Se jen é o relacionamento ideal entre seres humanos, chun tzu
refere-se ao termo ideal nesses relacionamentos. Esse conceito tem sido
traduzido como homem superior e o melhor da humanidade. Talvez pessoa
amadurecida seja uma tradução tão fiel quanto qualquer outra. É o oposto
de pessoa estreita, da pessoa mesquinha, da pessoa de espírito pequeno. So-
mente quando aqueles que formam a sociedade se transformarem em chun
tzus é que o mundo poderá caminhar na direção da paz.
Se houver honra no coração, haverá beleza no caráter.
Se houver beleza no caráter, haverá harmonia no lar.
Se houver harmonia no lar, haverá ordem no país.
Se houver ordem no país, haverá paz no mundo.
Li: O terceiro conceito, li, tem dois significados. Seu primeiro significado
é propriedade, a maneira pela qual as coisas devem ser feitas. As pessoas

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precisavam de modelos, e Confúcio queria direcionar a atenção delas


para os melhores modelos oferecidos pela sua história social. Proprieda-
de é um conceito com amplo alcance, mas podemos perceber o âmago do
interesse quando ele diz que:
Se as palavras não forem correta [...] a linguagem não estará de acordo com a verdade
das coisas. Se a linguagem não estiver de acordo com a verdade das coisas, os negócios
não poderão ser concluídos com sucesso. [...] Portanto, um homem superior considera
necessário que os nomes por ele utilizados sejam falados apropriadamente, e também
que aquilo que ele fala possa ser transmitido apropriadamente. O que o homem supe-
rior requer é que em suas palavras nada haja de incorreto.

Todo o pensamento humano avança por meio de palavras; logo, se as pa-


lavras forem oblíquas, o pensamento não conseguirá avançar em linha reta. Aí é
importante aquilo que Confúcio chamava de “retificação dos nomes”.
A “retificação dos nomes”, na doutrina do meio, nas relações constantes, no
respeito pela idade e pela família, esboça importantes aspectos específicos de li
no seu primeiro significado: propriedade ou o que é certo. O outro significado da
palavra é ritual, que transforma o certo – no sentido daquilo que é correto fazer
– em rito. Quando o comportamento correto é detalhado em minúcias confucio-
nistas, a vida inteira do indivíduo se estiliza numa dança sagrada. A vida social
foi coreografada.
Te: O quarto conceito axial que Confúcio procurou elaborar para seus
conterrâneos foi te. Significa poder. Especificamente, o poder por meio
do qual os homens são governados. Ele estava convencido de que nenhum
governante consegue reprimir todos os seus cidadãos o tempo todo, nem
mesmo grande parte deles na maior parte do tempo. O governo precisa
contar com uma aceitação da sua vontade, uma confiança apreciável na-
quilo que está fazendo. Confúcio acrescentou que a confiança popular
era de longe a mais importante, pois “se o povo não tiver confiança em
seu governo, este não se sustentará”. Para ele, somente são dignos de
governar aqueles que prefeririam não ter de governar.
Quando o Barão de Lu perguntou-lhe como governar, Confúcio respondeu:

Governar é manter-se reto. Se tu, senhor, dirigires teu povo em linha reta,
qual de teus súditos se arriscará a sair dessa linha?

Wen: O conceito final na estrutura confucionista é wen. Refere-se às “ar-


tes da paz”, enquanto diferenciadas das “artes da guerra”, à música, à
arte, à poesia, à soma da cultura no seu modo estético e espiritual. Confú-
cio considerava apenas semi-humanas as pessoas que eram indiferentes
à arte. Mas o que atraía seu interesse não era a arte pela arte. Era o poder
da arte de transformar a natureza humana na direção da virtude que o
impressionava – seu poder de facilitar o interesse pelos outros.
Pela poesia, a mente é despertada; pela música, recebe-se o acabamento. As
odes estimulam a mente. Elas induzem à autocontemplação. Ensinam a arte da
sensibilidade. Ajudam a evitar o ressentimento. Fazem-no acreditar no dever de
servir ao país e ao príncipe.
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As grandes religiões II

Xintoísmo

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Templo xintoísta.

Não vamos nos ater muito a esta religião. Apenas para cultura geral vamos te-
cer algumas considerações sobre o Xintoísmo, que tem uma influência muito grande
sobre a cultura japonesa. A partir desta religião é que poderemos entender um pouco
mais a força desse povo, sua seriedade, seus compromissos e sua devoção.

O caminho dos deuses


Quando falamos do Xintoísmo, normalmente nos reportamos aos japone-
ses, ricos pela sua forma de pensar, por sua cultura e também pelos seus valores
religiosos.
Primitivamente, a religião Xintoísta era chamada de Kami-no-michi, que é traduzido por
“o caminho dos deuses”. Em chinês, a mesma expressão é shen-tao, de onde procede a pa-
lavra shinto (em português, xinto). O Xintoísmo é uma religião peculiar por sua expressão
de amor japonês pelo seu país e suas instituições. Este aspecto da história sagrada está
descrito no Kojiki, datado do século VIII. (STEFFEN, 2000, p. 50).

O Kojiki diz que as ilhas japonesas foram criadas por Izanami e Izanagi,
que também habitaram a terra como numerosas divindades, das quais os japone-
ses são descendentes. A família real é descendente de Jimmu Tenno ( cerca de
660 a.C.), o primeiro imperador humano, neto de Ni-ni-go, neto de Amaterasu, a
divindade feminina Sol. No Shinto, Amaterasu é reconhecida como a primeira no
panteão das divindades, mas não é a única. É apenas uma entre muitos. O Xinto-
ísmo primitivo via o Japão como a terra dos deuses, o que explica o caráter nacio-
nalista da religião. Acreditam que todos os japoneses têm origem divina, mas em
especial o imperador, que é descendente da própria deusa do sol.
A partir de 500 d.C., o Xintoísmo enfrentou dura competição com o Budis-
mo, e as duas religiões acabaram por influenciar uma à outra. Não é raro, no Ja-
pão, o uso alternando de várias religiões. É tanto que o país é chamado por muitos
de laboratório religioso. Diferente de outras religiões, como o Cristianismo e o Is-
lamismo, o Xintoísmo não tem um fundador. É tipicamente uma religião nacional.
Não conta com nenhum credo ou código de ética expressamente formulado. A sua
essência está na cerimônia e no ritual, que mantêm o contato com o divino.
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O Shinto, “o caminho dos deuses”, pode ser descrito como um modo ideal
de comportamento. O seu sistema ético inclui os seguintes preceitos:
lealdade ao imperador;
gratidão;
coragem diante da morte;
o serviço aos outros está acima dos interesses próprios;
verdade;
polidez até mesmo com os inimigos;
controle das manifestações de sentimentos e honra, que significa o ato de
preferir a morte do que a desgraça.
Os acontecimentos da Segunda Guerra Mundial nos mostram um pouco
desses conceitos quando os pilotos japoneses foram capazes de jogar seus próprios
aviões para atingir o alvo e acabar com o inimigo.

Principais idéias
O mito da origem japonesa parece ser uma resposta animista primitiva à
natureza. A multiplicidade de deuses japoneses pode ser atribuída a condições
civis primitivas, quando a nação era habitada por um grande número de clãs inde-
pendentes, cada um com seus próprios deuses e práticas religiosas.
As idéias confucionistas introduziram o culto aos ancestrais, segundo o qual,
quando as pessoas morrem, adquirem poderes sobrenaturais. Acredita-se que os mor-
tos são instrumentos de ajuda e proteção aos vivos, razão que leva os vivos a honrá-
los e reverenciá-los, tanto nos rituais fúnebres como nos santuários domésticos.
As cerimônias religiosas ajudam a evitar acidentes, promovem a cooperação
e o contato com os Kamis, e geram o contentamento e a paz para o indivíduo e a
sociedade. As cerimônias são feitas tanto no próprio lar, como nas grandes festas
anuais do templo – Morada dos Kamis. Quatro elementos estão sempre presentes
nestas cerimônias:
purificação;
sacrifício;
oração; e
refeição sagrada.

Taoísmo
É interessante observar que toda a filosofia chinesa está voltada para o so-
cial. Os problemas éticos, sociais e políticos estão no centro das discussões da
maioria das religiões orientais. É basicamente a preocupação constante com o
bem estar das pessoas. É a opção pelo ser e não pelo ter. Se as idéias de Confúcio
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são estimulantes para governantes sérios, o Taoísmo apresenta uma visão trans-
cendente das preocupações com a vida. Apresenta uma visão diferente da vida. É
uma cultura oposta ao que estamos acostumados a viver no ocidente. Aqui apre-
sentaremos um resumo do Taoísmo. Serão recomendadas leituras complementa-
res para quem tiver interesse maior em conhecer melhor as idéias de Lao-tsé – o
grande e velho mestre.

O Velho Mestre
A origem do Taoísmo é apresentada com o nome de um homem chamado
Lao-tsé. Supostamente nascido por volta de 604 a.C., as histórias sobre a vida
deste homem são muito variadas. Alguns historiadores não têm nem certeza se ele
realmente existiu. Algumas lendas são fantásticas, como aquela que diz “ter sido
ele concebido por uma estrela cadente, permaneceu no ventre materno por 82 anos
e já nasceu velho, sábio e com os cabelos brancos.” (SMITH, 1991, p. 193).
Lao-tsé se traduz como “o velho”, “o velho amigo”, ou “o grande e velho
mestre”. Era contemporâneo de Confúcio. Um historiador chinês relata que

Wikipédia.
Confúcio ficou intrigado com o que ouvira a respeito de Lao-tsé e, certa vez,
o visitou. Sua descrição sugere que aquele estranho homem o desconcertou,
enchendo-o, porém, de respeito.
Eu sei que um pássaro pode voar; sei que um peixe pode nadar, sei que os animais
podem correr. Criaturas que correm podem ser apanhadas em redes; as que nadam,
em armadilhas de vime; as que voam, atingidas por flechas. Mas o dragão está
além do meu conhecimento; ele sobe ao céu nas nuvens e no vento. Hoje vi Lao-tsé,
e ele é como o dragão. (Confúcio).
Lao-tsé.
O Tao Te King
Uma boa idéia do início do Taoísmo, como conta a tradição, é o que lemos
no texto de Huston Smith, que assim coloca:
A história tradicional conta que Lao-tsé, entristecido com o seu povo pela relutância em
cultivar a bondade natural que ele pregava e buscando maior solidão para os seus últimos
anos de vida, montou nas costas de um búfalo e galopou para o oeste, na direção do atual
Tibete. No passo de Hankao, uma sentinela, percebendo o caráter incomum daquele via-
jante, tentou convencê-lo a retornar. Não obtendo êxito, pediu ao velho que, ao menos,
deixasse um registro de suas crenças para a civilização que estava abandonada. Lao-tsé,
concordando com o pedido, recolheu-se durante três dias e retornou com um magro volu-
me de 5.000 caracteres intitulado Tao Te King, ou O Caminho e o seu Poder. O livro pode
ser lido em meia hora ou durante toda a vida, e continua a ser, até os dias de hoje, o texto
básico do pensamento Taoísta. Um livrinho de apenas 25 páginas e 81 capítulos. (SMITH,
1991, p. 194).

É interessante fazer um paralelo entre Lao-tsé e Confúcio. O Velho Mestre


não pregava, não organizava, nem promovia. Escreveu algumas páginas a pedido,
foi embora e não ficou para dar respostas. Confúcio teve que infernizar príncipes
e barões tentando um cargo administrativo para pôr em prática as suas idéias. Al-
guns acreditam que o Tao Te King foi escrito por mais de uma pessoa e afirmam
que o livro só alcançou a forma hoje conhecida na segunda metade do século III
a.C. Não importa. O Taoísmo hoje está tão presente na cultura que é mais impor-
tante a essência das palavras deixadas no Tao Te King.
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O Tao e seus três significados


No Taoísmo tudo gira em torno do Tao, que literalmente significa caminho.
Este caminho pode ser entendido de três maneiras:
o Tao é o caminho da realidade última. É demasiado vasto para que a
realidade humana possa sondá-lo. De todas as coisas, o Tao certamente é
o maior;
o Tao é o caminho do universo, a norma, o ritmo, o poder propulsor de
toda a natureza, o princípio ordenador por trás de toda a vida;
o Tao se refere ao caminho da vida humana, quando ela se harmoniza
com o Tao do universo.
O Tao Te King tem sido traduzido como O Caminho e seu Poder.
O objetivo do Taoísmo Filosófico é alinhar a vida cotidiana da pessoa ao
Tao. O caminho básico para fazê-lo é aperfeiçoar uma vida de wu wei. Wu wei sig-
nifica pura eficácia e quietude criativa. O conceito mais tradicional significa não-
ação ou inação, mas devemos cuidar para não entender como atitude vazia, ócio.
O Taoísmo, na concepção de muitos, implica passividade e não atividade. Para um
sábio taoísta, a ação mais importante é a “não-ação”. Enquanto Confúcio deseja-
va educar o homem por meio do conhecimento, Lao-tsé preferia que as pessoas
permanecessem ingênuas e simples, como crianças. Enquanto Confúcio ansiava
por regras e sistemas fixos na política, Lao-tsé acreditava que o homem deveria
interferir o mínimo possível no desdobramento natural dos fatos. Confúcio queria
uma administração bem ordenada, mas Lao-tsé acreditava que qualquer adminis-
tração é má. “Quanto mais leis e mandamentos existirem, mais bandidos e ladrões
haverá”, diz o Tao Te King.
O Estado ideal de Lao-tsé era a pequena comunidade (a aldeia ou a cidade
pequena) que, segundo ele, já existia nos tempos antigos. Ali as pessoas viviam
em paz e contentes, sem interesse em guerrear contra seus vizinhos, como fize-
ram mais tarde as províncias chinesas. O líder devia ser um filósofo, e sua única
tarefa era que sua passividade e seu distanciamento servissem de exemplo para
os outros.
Praticar a caridade não tem sentido para um Taoísta. Mas ele tem uma boa
vontade sem limites para com os outros, sejam eles bons ou maus.

Alguns trechos do Tao Te King


Para pensar um pouco, veja algumas das idéias de Lao-tsé ao escrever o Tao
Te King.

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A pessoa precisa deixar o Tao fluir para dentro e para fora de si mesma,
até toda a sua vida se tornar uma dança na qual não há febres nem desequi-
líbrios. Wu wei é a vida vivida acima da tensão:
Encha a tigela até a borda
E ela vai derramar
Fique sempre afiando a faca
E ela vai cegar
Wu wei é a materialização da maleabilidade, da simplicidade, da liber-
dade – uma espécie de pura eficácia na qual não se desperdiçam movimen-
tos em discussões ou exibições externas.
A pessoa pode caminhar tão bem que nunca deixa pegadas
Falar tão bem que a língua nunca comete deslizes,
Calcular tão bem que não precisa de ábaco. (cap. 27)
Uma eficácia dessa ordem obviamente exige uma capacidade extraordi-
nária, o que é transmitido pela lenda taoísta do pescador: com um simples fio,
ele conseguia puxar para a terra peixes enormes, porque o fio havia sido fabri-
cado com tanta perfeição que não tinha um “ponto fraco”. A capacidade tao-
ísta raramente é notada porque, vista de fora, wu wei – nunca forçando, nunca
sob tensão – parece não exigir praticamente nenhum esforço. O segredo está
na maneira pela qual ele busca os espaços vazios na vida e na natureza, e se
move por meio deles.

A água era o paralelo mais próximo ao Tao do mundo natural. Era tam-
bém o protótipo do wu wei. Os chineses observavam a maneira pela qual a
água se adapta ao ambiente e procura os lugares mais baixos. Por isso:
O bem supremo é como a água,
Que alimenta todas as coisas sem esforço.
Ela se contenta com os lugares baixos, que as pessoas desdenham.
Por isso, ela é como o Tao. (cap. 8)
Mas a água, apesar de se acomodar, tem um poder que não é conhecido
pelas coisas duras e quebradiças. A água abre caminho além das fronteiras e
por baixo dos muros divisórios. Seu fluxo suave acaba dissolvendo as rochas
e levando embora as orgulhosas montanhas que pensamos eternas.
Nada no mundo
É tão suave e maleável como a água
No entanto, para dissolver o duro e inflexível
Nada a suplanta.
O suave supera o duro;
O gentil supera o rígido.

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Todos sabem que isso é verdade,


Mas poucos o põem em prática.
A pessoa que incorpora estas virtudes, diz o Tao Te King, “trabalha
sem trabalhar”. Ela age sem tensão, persuade sem argumentação, é eloqüen-
te sem floreios e alcança resultados sem violência, coerção ou pressão. En-
quanto o agente mal seja percebido, sua influência é de fato decisiva.
Quando o bom líder governa,
O povo mal percebe que ele existe.
O bom líder não fala, age.
Quando ele termina o trabalho,
O povo diz: “fomos nós que fizemos sozinhos”. (cap. 17)
Uma última característica da água, que torna apropriada sua analogia
com o wu wei, é a clareza que ela alcança ficando parada. “Água lodosa dei-
xada parada”, diz o Tao Te King, “ficará limpida.”

Mais valores taoístas


O taoísta rejeita todas as formas de auto-afirmação e competição. O
mundo está cheio de pessoas determinadas a ser alguém ou causar proble-
mas; pessoas que querem avançar, se destacar. O Taoísmo não vê utilidade
nessa ambição. “O machado abate primeiro a árvore mais alta”.
Aquele que se põem na ponta dos pés
Não tem firmeza.
Aquele que se apressa
Não vai longe.
Aquele que tenta brilhar
Tolda sua própria luz. (cap. 24)
As pessoas deveriam evitar a estridência e a agressividade não só em
relação aos outros, mas também em relação à natureza. No taoísmo existe
um naturalismo profundo e um respeito muito grande pela natureza. Tanto
que quando falamos na escalada do Everest, por exemplo, nós ocidentais
dizemos que o Everest foi conquistado. Os orientais diriam que este ato foi
o de fazer amizade com o Everest.
Aqueles que querem dominar o mundo
E moldá-lo à sua vontade
Nunca, percebo, terão sucesso.
O mundo é como um vaso, tão sagrado
Que, à mera aproximação do profano,
Se danifica,
E quando estendem a mão para pegá-lo, ele se perdeu. (cap. 29)

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As grandes religiões II

Yin/yang

Outra característica do Taoísmo é a sua noção da relatividade de todos os


valores e, como idéia correlata, a identidade dos opostos. Nesse aspecto, o taoísmo
está ligado ao tradicional símbolo chinês do yin/yang:
Essa polaridade resume todas as oposições básicas da vida: bem/mal, ativo/passivo,
positivo/negativo, claro/escuro, verão/inverno, masculino/feminino. Mas as metades,
embora estejam em tensão, não são francamente opostas; elas se contemplam e se
equilibram uma à outra. Cada uma invade o hemisfério da outra e faz sua morada no
recesso mais profundo do domínio de sua parceira. E, no fim, ambas se resolvem no
círculo que os cerca, o Tao em sua totalidade. A vida não se dobra sobre si mesma, e
chega, completando o círculo, à percepção de que tudo é um e tudo está bem. (SMI-
TH, 1991, p. 210).

O Taoísmo segue seu princípio da relatividade até seu limite lógico, colo-
cando a vida e a morte como ciclos complementares no ritmo do Tao.

Há o globo,
O alicerce de minha existência física
Ele me gasta com trabalho e deveres,
Dá-me repouso na velhice,
E me dá paz na morte.
Pois quem me deu o que necessitei na vida
Também me dará o que necessito na morte. (Chuang Tzu)

Assim nós terminamos esta caminhada por estas religiões sapienciais. Na-
turalmente, cada uma tem um vasto material para ser lido e analisado. A nossa
idéia é dar apenas um panorama para que você compreenda que existem pensa-
mentos muito diferentes daquilo que estamos acostumados a ver no Brasil. Aliás,
no nosso país quase não encontramos movimentos ligados a estas três religiões.

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Conclusão
Foram abordadas três religiões que nos apresentam valores interessantes. É
difícil aplicarmos estes valores no nosso dia-a-dia porque se diferenciam do nosso
modo de vida. Na confusão em que vivemos, é difícil fazer comparações com a
tranqüilidade dos orientais.

1. Após a leitura dos textos, procure identificar o que difere as religiões abordadas do nosso pen-
samento ocidental.

2. Você considera possível aplicar os valores aqui encontrados na nossa vida? De que forma?

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3. Como você interpreta a palavra equilíbrio?

Nossa indicação de estudos é a leitura dos capítulos que falam sobre estas três
religiões no livro:
PIAZZA, Valdomiro. Religiões da humanidade. São Paulo: Loyola, 1991.

Das filosofias de vida destacadas no texto, o que melhor se encaixa com


você. Faça uma relação de pontos que o agradaram.

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As grandes religiões III

V
amos trabalhar duas grandes religiões do mundo. São religiões importantes no contexto in-
ternacional. Ao mesmo tempo, são duas religiões que dividem o mesmo espaço e têm como
cidade santa Jerusalém. Não é e nunca foi fácil manter a paz nesta cidade, já que ela é povoada
também por religiosos fundamentalistas, o que torna a tolerância um exercício de difícil execução.

Wikipédia.
Jerusalém.

Judaísmo
Hoje é fundamental você saber um pouco mais sobre o Judaísmo. Os judeus estão espalhados
pelo mundo. São importantes na história da humanidade e colaboraram muito para o desenvolvimen-
to de todos os lugares em que passaram. Foram perseguidos em muitas situações, mas na dispersão
sempre levaram a sua fé na certeza da existência de um Deus forte, que os acompanha, assim como
acompanhou o povo com Moisés na fuga do Egito em direção à Terra Prometida. É uma religião inti-
mamente ligada à história. Aqui, religião e nacionalismo se misturam, assim como acontece também
no Islamismo. Queremos levar você a alguns estudos. O principal dele é entender hoje os conflitos
entre judeus e palestinos, matéria apresentada diariamente pelos meios de comunicação de todo o
mundo. Embarque agora nessa leitura.

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Wikipédia.
Muro das Lamentações.

História
A história do povo judaico começa por volta de 1700 a.C., com Abraão, que
parte de Ur da Caldéia, na Babilônia, para Canaã, e depois para o Egito. Abraão
gerou Isaac este gerou Jacó, que teve 12 filhos homens que deram origem às 12
tribos que constituíram a descendência de Abraão. Jacó se estabeleceu no Egito,
onde seu filho José era o primeiro-ministro do Faraó. Após a morte de José, o
povo descendente de Jacó e seus filhos foram oprimidos e escravizados. A liber-
tação se dá através de Moisés, líder escolhido por Deus para livrar o seu povo.
Foram 40 anos de caminhada pelo deserto até a chegada ao Monte Sinai, neste
local recebem os Dez Mandamentos (Decálogo) e as leis cerimoniais e civis a
serem observadas (Torá).
Recomendamos aqui uma leitura interessante. Na Bíblia você encontra a his-
tória completa no Êxodo1. É um panorama bem interessante sobre o povo judeu.
De 1200 a 1000 a.C., ocorre, em Canaã, o estabelecimento das tribos nôma-
des hebraicas, numa espécie de ocupação da terra prometida.
Entre 1000 a 587 a.C., ocorre a fase da monarquia, destacando-se os reis Davi, Salomão e o
profeta Samuel. A época é difícil, pois o povo, encantado com as constantes vitórias e con-
quistas contra os povos vizinhos, esquece com facilidade o Deus que os protegera e criara
até então. É então que surgem os profetas, com a finalidade de recordar o povo da aliança
feita com Deus. Os profetas denunciam os desvios dos reis e do povo, anunciando juízos
divinos, numa tentativa de fazê-los retornar à fé. Neste período também é estabelecida a
existência de dois reinos entre os descendentes de Jacó: o reino do Norte ou Israel, com ca-
pital em Samaria, e o reino do Sul, com capital em Jerusalém. O reino do Norte, já em 722
a.C., deixa de existir ao cair sob o poder dos assírios. (KUCHENBECKER, 2000).

Seguindo o curso da história, vamos para 539 a.C., quando ocorreu o cha-
1 Segundo livro da Bíblia,
no Antigo Testamento. mado cativeiro babilônico. Depois, de 587 a 539 a.C., o reino do Sul caiu em poder

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As grandes religiões III

dos babilônicos e sua população foi simplesmente deportada para a Babilônia,


de onde só foram libertados em 539 a.C., quando o imperador Ciro conquistou a
Babilônia. Com sua volta à terra prometida, observa-se que a grande maioria era
pertencente à tribo de Judá (um dos filhos de Jacó), sendo, por isso, identificados
como judeus. Seu modo de cultuar passa a ser reconhecido como judaísmo.
O ano de 63 a.C. determina o começo do período de dominação romana. Na
ocasião, os judeus já estavam dispersos por todo o mundo conhecido. A dispersão
é interessante porque ajuda na expansão do Judaísmo pelo mundo. Jerusalém con-
tinuava sendo o grande centro de adoração e o ponto de referência do Judaísmo,
enquanto religião e identificação do povo.
Em 70, os romanos destruíram o templo de Jerusalém e, mais uma vez, os
judeus remanescentes são dispersos, perdendo não só o seu ponto de referência,
mas o completo controle da Terra Santa. Só em 1948 os judeus obtiveram (pela
Organização das Nações Unidas – ONU) o reconhecimento mundial e sua terra,
com a criação do Estado de Israel. Jerusalém, o grande centro religioso judaico,
é também centro de dois outros grandes movimentos religiosos: o Cristianismo e
o Islamismo.
No decorrer de toda a sua história, o povo judeu desenvolveu a convicção de
ser o povo eleito, o povo do Deus que sempre dirigiu os seus escolhidos mesmo
nos momentos mais críticos. É especialmente a partir do cativeiro babilônico que
se desenvolveu no judaísmo uma forte esperança de um futuro melhor. Será quan-
do Deus mesmo governará o seu povo através do Messias. Muitos judeus, ainda
hoje, aguardam a chegada desse momento.

Pontos principais
Deus criou e governa todos os seres.
Deus é uno.
Deus não tem corpo.
Deus é eterno.
Deus deve ser o único a ser adorado.
Todas as palavras dos profetas são verdadeiras.
Moisés é o maior dos profetas.
Toda a Torá (conjunto de leis) é a que foi dada a Moisés.
Esta lei não pode ser alterada.
Deus conhece todas as ações e todos os pensamentos dos homens.
Deus recompensa os que observam os seus mandamentos e pune os que
os transgridem.
Deus fará vir o Messias.
Deus fará reviver os mortos. (STEFFEN, 2000).

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Quatro tendências

Wikipédia.
Judeu ortodoxo.

O Judaísmo de hoje está marcado por quatro grandes tendências:


o Judaísmo ortodoxo: observa toda a Torá, conforme foi dada a Moisés;
o Judaísmo conservador: a Torá deve ser adaptada, conforme os tempos
e situações;
o Judaísmo reformador: a Torá é apenas fonte de ética, não revelação
divina; a era messiânica começou com a criação do Estado de Israel;
o Judaísmo liberal: o Reino de Deus na Terra deve se realizar pelo exem-
plo de vida do povo de Israel.
O Judaísmo é de fundamental importância para o Cristianismo, pois este en-
tenderá que o Messias prometido aos judeus é Jesus Cristo, que, na realidade, vem
estabelecer um reinado divino não terreno, mas espiritual. (STEFFEN, 2000, p. 67).

Costumes
Os judeus têm costumes muito antigos relativos ao ciclo da vida. São os
seguintes:
Circuncisão – é feita oito dias após o nascimento. Somente os meninos
são circuncidados, de acordo com a Torá: “Deveis circuncidar a pele do
prepúcio, e este será o sinal da aliança entre nós”. A cerimônia é acom-
panhada pelos padrinhos. Junto são feitas orações numa cerimônia de
alegria e celebração.
Bar-Mizvá – aos treze anos, o menino judeu passa a ser um Bar-Mitzvá.
A expressão significa “filho do mandamento”. A cerimônia acontece na
sinagoga (templo judaico) no primeiro sábado após o seu 13.º aniver-
sário. Antes, ele recebe aulas com um rabino para aprender as leis e os
costumes judaicos. Também aprende um trecho da Torá, que será lido no
sábado. A partir daí, o menino passa a ser membro da congregação, com
todas as responsabilidades.

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Istock Photo.
Bar-Mitzvá.

A menina se torna automaticamente uma Bat-Mitzvá quando completa 12


anos. Por volta dos 15 anos, as meninas aprendem história e costumes judaicos,
principalmente as regras alimentares, que são responsabilidade da mulher.
Casamento – a família, como não poderia deixar de ser, desempenha um
papel especial no Judaísmo. O casamento é considerado o modo de vida
ideal, instituído por Deus. É o único tipo de coabitação que existe. É
tradição que um judeu case com uma judia, apesar de que hoje é comum
vermos casamentos mistos. A cerimônia do casamento chama muito a
atenção, especialmente pelo seu ritual. O contrato de casamento é cha-
mado de Ketubá. Ele é lido durante o ritual. Nele estão registrados todos
os deveres do noivo para com a noiva. O casamento começa com a lei-
tura de sete bênçãos especiais depois disso o casal toma vinho. O noivo
então quebra uma taça com o pé, em memória da destruição do templo.
Após o casamento, os noivos são levados a um quarto particular, onde
podem quebrar o jejum e ficar a sós.
O divórcio é permitido se sancionado por um tribunal rabínico e selado pelo
marido, que dá à esposa a carta de divórcio.
Enterro – o enterro deve ocorrer o mais rápido possível depois da morte
em consideração às condições do corpo. São contrários à cremação. Não
usam flores nem música na cerimônia. Note que os cemitérios judaicos
não são ornamentados. Mesmo assim, são bem cuidados, pois lá os cor-
pos descansarão até a ressurreição.

Festas judaicas
As festas judaicas estão ligadas ao calendário judaico e são fundamentadas
em acontecimentos históricos. O calendário se apóia no ano lunar e tem 12 meses
de 29 ou 30 dias, com 354 dias ao todo. Acrescenta-se um mês extra sete vezes
durante cada ciclo de dezenove anos, para alinhar o ano lunar pelo ano solar.

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Desta forma, as datas festivas mudam a cada ano. O tempo é contado em relação
à criação do mundo, a qual, segundo o nosso calendário, ocorreu em 3761 a.C.
O Ano-novo (Rosh Hashaná, em hebraico): é celebrado em setembro ou
outubro, diferente do ano-novo cristão, os judeus comemoram a passa-
gem do ano judaico. É o momento de refletir sobre a vida, sobre as ações
e uma oportunidade para melhorar o que não saiu muito bem. Nesta pas-
sagem de ano é feita uma grande refeição preparada em casa, com diver-
sos pratos simbólicos. Não faltam as orações de arrependimento. A festa
de ano-novo também comemora Deus como Criador e Rei.
O Dia do Perdão, Iom Kipur (Dia da Expiação): termina o período de
dez dias de arrependimento iniciado no ano-novo. O Dia da Expiação
era o único dia do ano em que o sumo sacerdote entrava no Santo dos
Santos, o recinto mais sagrado do templo. Isso se dava após o sacri-
fício de um carneiro, como sinal de expiação pelos pecados do povo.
Hoje, o sacrifício já não é mais feito. Os pecados são confessados na
sinagoga e o indivíduo pede perdão a Deus depois de ter se reconcilia-
do com seus semelhantes.
A Festa dos Tabernáculos, Sukot (festa das tendas): acontece poucos dias
depois do Dia do Perdão. A festa acontece em memória das tendas nos
quais os judeus moraram durante a peregrinação no deserto e do cuidado
que Deus dedicou a eles. Para comemorar a data, os judeus constróem
cabanas de folhas no jardim da casa ou próximo à sinagoga. No último
dia se conclui o ciclo anual da leitura da Torá, e um novo ciclo se inicia,
recomeçando a leitura a partir do Gênesis.
A Festa da Inauguração (Chanuká): é comemorada em novembro ou de-
zembro, durante um período de oito dias. A festa acontece em come-
moração a uma grande vitória dos judeus ocorrida em 165 a.C., quando
inauguraram novamente o Templo de Jerusalém, depois que os invasores
sírios os haviam profanado e proibido o culto judaico.
A Páscoa: em hebraico é chamada Pessach, que significa “passar por
cima”. É uma referência ao relato da Torá sobre o anjo do Senhor que,
ao levar a décima praga ao Egito, “passou por cima” das casas dos isra-
elitas e, desse modo, só os primogênitos egípcios morreram. Esta festa
é comemorada em março ou abril e comemora o êxodo os judeus da
escravidão do Egito. Como ritual, antes da festa, os judeus devem fazer
uma limpeza na casa, usam um serviço especial de pratos para a comida
e não podem comer nem beber nada que contenha grãos ou farinha fer-
mentada. Os pratos feitos para a refeição da Páscoa têm um significado
simbólico. São mergulhados ramos de salsa numa tigela com água sal-
gada, simbolizando as lágrimas dos judeus no Egito. As ervas amargas
lembram a infelicidade da escravidão sob o domínio do faraó.
Festa das Semanas (Slavuot): a Festa de Pentecostes. Comemorada em
maio ou junho. É a lembrança do momento em que a Torá foi dada ao
povo no Monte Sinai.
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As grandes religiões III

Veja como a cultura judaica tem fatos interessantes. Anualmente vemos em


jornais e revistas matérias sobre os costumes judaicos. Bom é entender o porquê
deste ritual. Vale a pena lembrar que os judeus levam muito a sério estas come-
morações. Toda a família participa, é um fator de integração. Como os judeus hoje
estão espalhados pelo mundo, é claro que encontramos estes mesmos costumes
entre nós, aqui no Brasil.

Islamismo

Mesquita. Istock Photo.

Você vai ler e gostar desta história. É impressionante a tradição e a cultura


islâmicas. Depois dos atentados de 11 de setembro, milhões de pessoas no mundo
desejam ler mais sobre o Islamismo. Querem entender do fundamentalismo religio-
so, da coragem de homens prontos a morrer pelo seu Deus. Mas cuidado! Somente
15% dos muçulmanos são radicais. Afinal, o Islã continua sendo a religião da paz.

Primeiras considerações
A fé islâmica é a que está mais próxima do Ocidente, tanto em termos geográficos como
ideológicos. Isto porque em termos religiosos pertence à família das religiões abraâmicas
e, em termos filosóficos, baseia-se nos gregos. Mesmo assim é a religião mais difícil de ser
compreendida pelos ocidentais.
Em certas épocas e lugares, cristãos, muçulmanos e judeus conviveram harmoniosamente
– basta pensar na Espanha Moura. Mas durante boa parte dos últimos 14 séculos, o Islã e
a Europa estiveram em guerra e as pessoas raramente formam uma imagem justa de seus
inimigos.
O termo maometismo não é aceito pelos muçulmanos. Além de inexato é ofensivo. Isso
porque para eles Maomé não criou essa religião; Deus a criou. Maomé foi apenas o porta-
voz de Deus. Além disso, é ofensivo porque transmite a impressão de que o Islã se con-
centra num homem e não em Deus.
Derivado da raiz s-l-m, que basicamente significa “paz”. Num sentido secundário, “entre-
ga”, sua plena conotação é “a paz que vem quando a pessoa entrega sua vida nas mãos de
Deus”. (SMITH, 1991, p. 261).

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Pano de fundo
Se perguntarmos como surgiu o Islamismo, eles vão responder que não foi
com Maomé na Arábia do século VI, mas com Deus. “No princípio Deus...”, diz o
livro de Gênesis. O Alcorão concorda. A única diferença está no uso da palavra Alá.
Alá é formado pela união do artigo definido al (que significa o) com Alah (Deus).
Literalmente, Alá significa “o Deus”. Não um Deus, porque existe apenas um.
Deus criou o mundo e, depois, os seres humanos. O nome do primeiro ho-
mem era Adão. A descendência de Adão chegou a Noé, que teve um filho cha-
mado Sem. É daqui que provém a palavra “semita”; literalmente, semita é do
descendente de Sem. Abraão desposou Sara. Como Sara não teve filhos, Abraão,
querendo continuar sua linhagem, tomou Agar como segunda esposa. Agar deu-
lhe um filho, Ismael. Depois, Sara concebeu e teve um filho, chamado Isaac. Sara
então exigiu que Abraão banisse Ismael e Agar da tribo. Chegamos aqui à pri-
meira divergência entre os corânicos e bíblicos. Segundo o Alcorão, Ismael foi
para o local onde se ergueria Meca. Seus descendentes, florescendo na Arábia,
tornaram-se muçulmanos; enquanto os descendentes de Isaac, que permaneceram
na Palestina, eram hebreus e se tornaram judeus.

O selo dos profetas


Na segunda metade do século VI d.C, aparece Maomé, o profeta por meio
de quem o Islamismo alcançou sua forma definitiva. Houve autênticos profetas de
Deus antes dele, mas ele foi o apogeu; por isso é chamado de “Selo dos Profetas”.
Nenhum profeta genuíno surgirá depois dele.
O mundo em que nasceu Maomé é descrito por gerações de muçulmanos
com uma única palavra: ignorância. As condições no deserto não eram boas, a es-
cassez de bens materiais fazia do banditismo uma instituição regional. No século
XV, a estagnação política e o colapso da justiça na influente cidade de Meca agra-
varam uma situação já caótica. Embriaguez e orgias eram comuns, o impulso do
jogo corria descontrolado. A religião predominante observava a tudo, inativa. Re-
ligião esta que era uma espécie de politeísmo animista, que povoava as amplidões
arenosas com espíritos brutais, denominados jinn (demônios). Esses demônios não
inspiravam nem sentimentos elevados nem restrições morais.
A época pedia um libertador. Este libertador surge na pessoa do profeta
Maomé.

Maomé
Nasceu na influente tribo de Meka, os Koreisch, aproximadamente em 570
d.C. e recebeu o nome de Maomé, “altamente louvado”.
A vida foi marcada por tragédias. Perdeu o pai poucos dias antes de nascer;
perdeu a mãe quando tinha oito anos. Foi adotado por um tio que, em declínio,
forçou o jovem a trabalhar duro cuidando dos rebanhos da casa. Mesmo assim foi
recebido calorosamente pela nova família.

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A descrição de Maomé, segundo a tradição, é a de um jovem puro de cora-


ção e amado pelos seus. Diz-se dele que tinha um temperamento meigo e gentil.
Mais tarde era reconhecido como “o verdadeiro”, “o reto”, “o fidedigno”. Ele per-
manecia afastado dos outros, de uma sociedade corrupta e degenerada.
Aos 21 anos começou a trabalhar para uma viúva chamada “Khadija”. Ela
ficou impressionada com a sua prudência e aos poucos a relação se aprofundou,
tornando-se afeição e depois amor. Embora 15 anos mais velha do que ele, acaba-
ram casando e tornaram-se felizes em todos os sentidos. Depois disso, seguiram-
se mais 15 anos de preparação.
Na caverna do monte chamado Hira, Maomé, precisando de solidão, come-
çou a freqüentá-la. Sondando os mistérios do bem e do mal, incapaz de aceitar
o barbarismo, a superstição e o fratricídio que eram vistos como coisas normais,
estendia suas mãos a Deus.
Por volta de 610, o profeta recebe a sua missão: na mesma caverna, depois
de muitas visitas e horas de meditação, uma voz desce do céu e diz: “Tu és o es-
colhido”. Naquela noite, dizem os muçulmanos, o livro foi aberto para uma alma
já preparada.
Nessa primeira noite de poder, estava Maomé sentado no chão da caverna,
com a mente absorta na mais profunda contemplação, quando chegou até ele um
anjo em forma de homem. O anjo lhe disse: “Proclama!” e ele respondeu: “Não
sou um proclamador.” Então, como o próprio Maomé relataria,
o anjo me tomou nos braços e apertou-me até alcançar o limite da minha resistência. Ele
então me libertou e novamente disse: “Proclama!”. Mais uma vez disse eu: “Não sou um
proclamador”. E ele novamente me apertou em seu abraço. Quando mais uma vez alcan-
çou o limite da minha resistência, ele disse: “Proclama!”. E quando novamente eu protes-
tei, ele me apertou em seus braços pela terceira vez, dizendo agora:
Proclama em nome do teu Senhor que criou!
Criou o homem de um sangue coagulado.
Proclama: Teu Senhor é o mais generoso,
Que ensina com a pena;
Ensina ao homem o que este não sabia.
Alcorão 96: 1-3. (SMITH, 1991).

Despertando do transe, Maomé sentiu que as palavras que ouvira tinham


sido marcadas com ferro em brasa na sua alma. Contou para a esposa que de início
resistiu. Mas ouvindo toda a sua história, tornou-se o primeiro caso de conversão.
Os muçulmanos relatam freqüentemente este fato afirmando que “se há
quem entenda o verdadeiro caráter de um homem, esse alguém é sua mulher”.
“Rejubila-te, caro esposo meu, e enche teu coração de alegria”, disse ela.
“Serás o profeta deste povo”.

A missão
Numa época carregada de sobrenaturalismo, em que os milagres eram acei-
tos como as ferramentas características do santo mais comum, Maomé se recusou
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a fomentar a credulidade humana. Para os idólatras famintos de milagres que


buscavam sinais e portentos, ele esclareceu a questão: “Deus não me enviou para
fazer milagres. Ele me enviou para pregar a vós. Sou apenas um pregador das
palavras de Deus, o portador da mensagem de Deus para a humanidade. Somente
os tolos pedem sinais aos céus, pois a criação, em si, já é a maior prova! Maomé
reivindicou apenas um único milagre: o próprio Alcorão. Produzir essa obra da
verdade, unicamente com seus próprios recursos, era a única hipótese naturalista
que ele não aceitava. (SMITH, 1991, p. 221).

Oposição à sua missão


As reações foram violentamente hostis.
Seu monoteísmo irredutível ameaçava as crenças politeístas e a renda con-
siderável que entrava nos cofres de Meca com as peregrinações a seus 360 san-
tuários.
Seus ensinamentos morais exigiam o fim da licenciosidade a que se agarra-
vam os cidadãos.
Seu conteúdo social desafiava uma ordem injusta. Numa sociedade dividi-
da por distinções de classe, o novo profeta pregava uma mensagem intensamen-
te democrática. Maomé insistia que, aos olhos de seu Senhor, todas as pessoas
eram iguais.
Dessa forma resolveram não apoiá-lo. Ridicularizaram, deram gargalhadas
zombeteiras, insultos, vaias e escárnios. Depois jogaram lixo sobre eles, difama-
ram, atiraram-lhes pedras, bateram neles com bastões, jogaram-nos na prisão e
tentaram matá-los de fome recusando-se a vender-lhes comida. Tudo em vão. A
perseguição apenas fortaleceu a vontade dos seguidores de Maomé.
No início, a balança pesava tão fortemente contra ele que poucas foram as
conversões; três anos de esforços sofridos produziram menos de 40. Mas depois,
passada uma década, várias centenas de famílias o aclamavam como autêntico
porta-voz de Deus.

A fuga que levou à vitória


Maomé recebe a visita de uma delegação composta pelos principais cida-
dãos de Yathrib, cidade situada a 450 quilômetros ao norte de Meca. A cidade en-
frentava rivalidades internas que exigiam um líder forte e imparcial, um homem
de fora, e Maomé parecia ser este homem.
Maomé recebeu um sinal de Deus para aceitar o encargo. Em Meca, sabendo
disso, tentaram matar Maomé, mas ele fugiu de Meca por uma fenda ao sul da cidade.
Quase descobriram Maomé. Abu Bakr, desesperado disse: “Somos apenas dois”. “Não,
somos três”, respondeu Maomé, “Porque Deus está conosco”.
Corria o ano de 622. A fuga de Maomé de Meca, conhecida em árabe como
Hijra (Hégira, “a migração”), é vista pelos muçulmanos como o ponto de mutação
da história mundial: 622 d.C. é o ano a partir do qual é datado o seu calendário.
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Yatrib logo passaria a ser conhecida como Medinat al-Nabi, a cidade do profeta e,
por contração, simplesmente Medina, “a cidade”.
Em Medina assumiu o papel de administrador. O pregador desprezado tor-
nou-se um político magistral; o profeta foi transformado em estadista. O povo via
nele um mestre a quem era tão difícil não amar quanto não obedecer. Ele possuía
“o dom de influenciar os homens, e também a nobreza de só influenciá-los para o
caminho do bem”. Ele conseguiu despertar nos cidadãos um espírito de coopera-
ção, desconhecido na história da cidade. Sua reputação se espalhou e as pessoas
começaram a vir de todas as partes da Arábia para ver o homem que tinha reali-
zado aquele milagre.
A caminho da famosa Caaba (o templo cúbico que se diz ter sido construído
por Abraão e que Maomé reconsagrou a Alá e adotou como foco central do Isla-
mismo) ele aceitou a conversão em massa de praticamente toda a cidade de Meca.
E então voltou para Medina.

Wikipédia.

Caaba.

Dez anos depois, em 632 (ou 10 d.H., “depois da Hégira”), Maomé morreu
tendo praticamente toda a Arábia sob o seu controle.
A combinação incomparável de influência secular e religiosa intitula Ma-
omé a ser considerada a pessoa mais influente da história humana. A explicação
dos muçulmanos para esse veredicto é simples: toda a obra de Maomé, dizem eles,
foi obra de Deus.

O milagre permanente
Maomé não foi apenas pastor, mercador, eremita, exilado, soldado, legis-
lador, profeta-sacerdote-rei e místico; foi também um órfão, o marido durante
muitos anos de uma mulher bem mais velha do que ele, o pai que sofreu a morte
de muitos dos seus filhos, um viúvo e finalmente um marido com várias esposas,
algumas bem mais jovens do que ele. Em todos estes papéis, ele foi exemplar.
Dizem os muçulmanos em gratidão: “que a paz esteja sobre ele”. Mas o
centro terreno da fé dos muçulmanos é o Alcorão.
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Cultura Religiosa

O Alcorão

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Alcorão.

É interessante falar sobre o livro sagrado do Islamismo. O Alcorão é o livro


mais recitado no mundo, segundo alguns pesquisadores. A revelação de todo o
livro a Maomé nos chama a atenção:
Literalmente, a palavra árabe al-qur’na (de onde provém “corão”) significa leitura, re-
citação. Talvez seja o livro mais recitado e lido no mundo. É, com certeza, o livro mais
memorizado e, possivelmente, o que exerce maior influência sobre quem o lê. Para eles, o
livro é um milagre permanente. O fato de o próprio Maomé com tão pouca escolaridade
a ponto de ser analfabeto e mal conseguir escrever o seu nome ter sido capaz de produzir
um livro que oferece os alicerces de todo o conhecimento, sendo ao mesmo tempo, gra-
maticalmente perfeito e de poesia inigualável – isso, no entender de Maomé e de todos os
muçulmanos, é algo que desafia a crença. (SMITH, 1991, p. 225).

Com um tamanho que corresponde a 4/5 de Novo Testamento, o Alcorão


se divide em 144 capítulos, ou suras, que (com exceção do primeiro, um capítulo
muito curto que figura nas preces diárias dos muçulmanos) se arranjam em ordem
descrescente de tamanho. A sura 2 tem 286 versículos, a sura 3 tem 200, e assim
por diante, até chegar à sura 114, com apenas seis versículos.
As palavras do Alcorão chegaram até Maomé em segmentos de fácil ma-
nejo, ao longo de 23 anos por meio de vozes que, de início, pareciam variar e às
vezes soavam como a “reverberação dos sinos”, mas que gradualmente se conden-
savam numa única voz que se identificou como a de Gabriel.
As palavras que Maomé exclamava nesses freqüentes estados de “transe”
eram memorizadas por seus seguidores e registradas em ossos, cascas de árvo-
res, folhas e pedaços de pergaminho, com Deus preservando sua acuraria do
início ao fim.
O Alcorão continua o Antigo Testamento e o Novo Testamento, primeiras
revelações de Deus, e se apresenta como a sua culminação. “Fizemos uma aliança
com os filhos de Israel e em nada vos apoiais enquanto não observardes a Torá e
os Evangelhos”. (SMITH, 1991).

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As grandes religiões III

O ritmo, a cadência melódica e a rima produzem um numeroso efeito hipnótico. Deste


modo, o poder da revelação corânica não está apenas no significado literal de suas pala-
vras, mas também na língua em que se incorporou esse significado, incluindo o seu som. É
por isso que os muçulmanos sempre preferiram ensinar aos outros povos a língua na qual,
segundo a sua crença, Deus falou pela última vez, com força e clareza incomparáveis.
(SMITH, 1991).

No Alcorão, Deus fala na primeira pessoa. Alá se descreve e torna conheci-


das suas leis. O Alcorão não fala da verdade: ele é a verdade.
É um memorando para o fiel, um lembrete para os atos diários e o repositó-
rio da verdade revelada. É um manual de definições e garantias e, ao mesmo tem-
po, um mapa rodoviário para a vontade. Finalmente, é uma colação de máximas
para a meditação em particular, aprofundando infinitamente nosso senso da glória
divina. “Perfeita é a Palavra de teu Senhor, na justiça e na verdade”. (Sura 6:115).

Conceitos teológicos
Com poucas exceções, os conceitos teológicos básicos do Islamismo são
praticamente idênticos aos do Judaísmo e do Cristianismo, seus predecessores.
Deus é imaterial e, portanto, invisível. Os muçulmanos temem Alá. O
bem e o mal têm importância. As escolhas têm conseqüências, e des-
denhá-las seria tão desastroso quanto escalar uma montanha de olhos
vendados. A crença no Alcorão ocupa lugar tão decisivo por ser análoga
à avaliação do monte Everest pelo alpinista: sua majestade é evidente,
mas também são evidentes os perigos que apresenta. Qualquer erro seria
desastroso.
O mundo foi criado por um ato deliberado da vontade de Alá. Ele criou
céus e terra.
Ele criou o homem, lemos na Sura 16:4, e a primeira coisa que observa-
mos nessa criação é a sua constituição perfeita.
A idéia de entrega (rendição, capitulação) está tão carregada de conota-
ções militares que precisamos fazer um esforço consciente para perceber
que ela também significa uma absoluta e sincera doação de nós mesmos.
Para eles, ser um escravo de Alá significa libertar-se de outras formas de
escravidão. Abraão é decididamente a figura mais importante do Alco-
rão: ele passou no teste último de estar pronto a sacrificar o filho, se isso
lhe fosse pedido.
Toda vida é individual; não existe uma vida universal. Deus é, Ele pró-
prio, um indivíduo; Ele é o indivíduo mais singular. “Ó Filho de Adão, tu
morrerás sozinho, entrarás sozinho em teu túmulo e sozinho serás ressus-
citado, e será contigo, contigo sozinho, que se fará o ajuste de contas.”
“Quem cometer delitos, comete-os apenas por sua própria responsabilida-
de. Quem se desvia carrega consigo toda a responsabilidade por seu des-
norteamento”. (Sura 4:111 e Sura 10:103). O Alcorão apresenta a vida
como uma oportunidade breve, mas imensamente preciosa, que oferece

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Cultura Religiosa

uma escolha “única para sempre”. Dependendo da maneira como se sai


em seu julgamento, a alma será encaminhada ao céu ou ao inferno.

Os cinco pilares
São como uma ordem aos islâmicos. Seguem esses pilares diariamente por
toda a vida. São eles:
caminho da retidão – Deus é um só e Maomé o profeta;
praticar as orações;
praticar a caridade. As pessoas que têm muito devem ajudar a aliviar o
fardo dos menos afortunados;
observar o mês de Ramadã. O jejum: jejuar obriga a pessoa a pensar;
ensina a autodisciplina; faz relembrar nossa fragilidade e dependência;
sensibiliza a compaixão;
a peregrinação.

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Peregrino em Meca.

Existem outras coisas que eles não podem fazer: jogar, roubar, mentir, co-
mer carne de porco, ingerir álcool e praticar a promiscuidade sexual.

A economia
Enquanto as necessidades básicas do corpo não forem satisfeitas, os inte-
resses mais elevados não conseguem florescer. O Islã não faz objeção ao lucro,
à concorrência econômica ou à ousadia empresarial. Vêem o Alcorão como um
manual de administração de empresas. A herança deve ser partilhada por todos
os herdeiros, filhas tanto quanto filhos. Um versículo do Alcorão proíbe a cobran-
ças de juros.

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A posição social das mulheres


Depois de Maomé a posição social das mulheres mudou. Antes as mulheres
eram vistas como pouco mais que escravas ou bens móveis, de quem pais e
maridos dispunham como bem lhes aprouvesse. As filhas não tinham direito
de herança e muitas vezes eram enterradas vivas logo ao nascerem.
Proibiram o infanticídio. Exigiram que as filhas fossem incluídas na he-
rança – não em pé de igualdade. O Alcorão abre à mulher a possibilidade
de plena igualdade ao homem – educação, voto e carreira.

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O Islamismo santificou o casamento, transformando-o como úni-
co lugar legal para a prática do ato sexual. O Alcorão exige que
uma mulher dê seu livre consentimento antes de se casar; nem
mesmo um sultão poderá se casar sem a aprovação expressa de
sua noiva. (SMITH, 1991, p. 237).

Relações raciais
O Islã enfatiza a igualdade racial.
Abraão é um modelo para eles. Ele desposou Hagar, uma mulher Mulher islâmica.
de raça negra que é vista no Islã como a segunda esposa de Abraão e não
como uma concubina.

O uso da força
O Alcorão ensina a perdoar e a retribuir o mal com o bem quando as
circunstâncias o permitirem. “Afastai-vos o mal com algo melhor”, mas
isso é diferente de não resistir ao mal.
Quando se estende o princípio de justiça para a vida coletiva, temos, por
exemplo, a jihad, o conceito muçulmano de Guerra Santa, cujos mártires
têm assegurado o paraíso.
“Defendei-vos contra vossos inimigos, mas não o ataqueis primeiro:
Deus não ama o agressor”. (Sura 2:190).
O Islamismo, embora em certos momentos tenha sido difundido pela
espada, difundiu-se principalmente pela persuasão e pelo exemplo.
Eles negam que o registro de intolerância e agressão do Islã seja maior
que as outras grandes religiões.
Jihad significa, literalmente, esforço. (SMITH, 1991, p. 245).

Divisão
A principal divisão histórica foi entre os sunitas (tradicionalistas, de Sun-
nah – tradição), que compreedem 87% de todos os muçulmanos e os xiitas (lite-

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ralmente partidários de Ali, o genro de Maomé) que deveria ter sido o sucessor
direto de Maomé, mas foi preterido três vezes e, quando finalmente indicado líder
muçulmano, foi assassinado.
Xiitas – Irã, Iraque.
Sunitas – Oriente Médio, Turquia e África, Paquistão e Bangladesh, Malá-
sia, Indonésia, onde há mais muçulmanos do que em todo mundo árabe.
Há indicativos de que o Islã está despertando de muitos séculos de estag-
nação, exacerbada sem dúvida pela colonização. Contando com mais de 900 mi-
lhões de fiéis numa população global de seis bilhões, hoje em dia uma pessoa em
cada cinco ou seis pertence a esta religião.

1. Quais são as similaridades entre o Judaísmo e o Islamismo?

2. Qual é a relação entre o Islamismo e o Cristianismo?

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As grandes religiões III

3. Faça uma relação de valores que mais lhe agradaram neste texto.

Recomendo a leitura dos capítulos 6 e 7 do seguinte livro:


SMITH, Huston. As religiões do mundo. São Paulo: Cultrix, 1991.

1. Lendo o material apresentado, quais os preceitos do Judaísmo você conseguiria seguir sem
mudar seu estilo de vida?

2. Em que sentido todas as leis do Islamismo mudariam o seu estilo de vida?

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Movimentos
religiosos no Brasil

E
ncontramos milhares de religiões no mundo todo. Cada uma das grandes religiões propor-
cionou material para a formação de novos movimentos religiosos que vêm crescendo a cada
ano. Vamos analisar neste texto como esses movimentos se formam e ainda algumas religiões
presentes no Brasil.

Nova espiritualidade
Com a evolução tecnológica e científica do último século e com explicações não religiosas para
o curso dos eventos, pode-se pensar que o homem tenha deixado a religião de lado e buscado novas
alternativas para a sua vida. É bom lembrar que estamos num processo de secularização. Com isso,
notamos que também os conceitos éticos ensinados pelas religiões não afetam mais as questões so-
ciais. Mas será que as religiões estão mesmo perdendo a força?
Talvez isso esteja acontecendo com as religiões tradicionais. Mas a cada ano novas seitas e
novos movimentos vêm surgindo, e, como no Brasil há liberdade de culto religioso, nada impede que
se invente uma nova religião a cada dia. Por outro lado, os problemas sociais e as necessidades do ser
humano fazem com que ele ainda recorra à religião.
Hoje, as igrejas cristãs têm de lutar não só contra a discriminação, mas também contra uma
série de diferentes tendências religiosas, entre elas algo que pode ser chamado de esoterismo. (GA-
ARDER, 1989, p. 253).
É verdade também que as pessoas preferem falar sobre nova “espiritualidade”. É a palavra da
moda, fugindo especialmente das igrejas tradicionais. Gaarder (1989, p. 254), falando sobre isso, ex-
plica que o conceito de nova espiritualidade é muito abrangente, pois compreende:
novas campanhas missionárias de religiões antigas como o Hinduísmo e o Budismo;
novas seitas cristãs;
novas seitas religiosas não cristãs, que adotam idéias de uma ou de mais de uma das princi-
pais religiões do mundo;
antigas noções esotéricas;
novo “conhecimento”, que com freqüência é uma mistura de ciência moderna com antigos
conceitos religiosos.

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Cultura Religiosa

Como se caracterizam
os movimentos religiosos
Cada movimento religioso tem a sua característica. Cada um busca modifi-
car o seu ritual, adaptando-o ao gosto dos seus fiéis e também atendendo às suas
necessidades. Mas encontramos em alguns autores características que nos ajudam
a analisar estes movimentos.
Normalmente, foram fundados por alguém com forte personalidade, que
teve uma revelação da divindade e se sente chamado a liderar uma igreja. Pode
ser uma “figura messiânica” a quem as pessoas recorrem em épocas de crises es-
piritual, cultural ou política. Mas também pode ser, como em vários movimentos,
inspirados pelo Hinduísmo, um “guru” (mestre religioso) que exige a completa
obediência e devoção de seus discípulos. O guru em si não é necessariamente
divino, mas representa o divino e, portanto, pode receber oferendas de seus segui-
dores (GAARDER, 1993, p. 256).
Outras características comuns aos novos movimentos religiosos é que eles
sempre se dizem universais e aplicáveis para todos. Aparecem como a solução de
todos os problemas e oferecem uma vida próspera aos seus fiéis. Ao mesmo tempo,
é muito comum que sejam usados os nomes de grandes líderes religiosos para apro-
fundar ou melhorar a sua propaganda. Assim usam, sem nenhum medo, o nome de
Jesus, Moisés, Maomé e Buda e os tomam como precursores. Normalmente, os no-
vos movimentos não repudiam as outras religiões, mas as consideram antiquadas.
Normalmente, eles exageram na busca pela experiência interior do indiví-
duo e ignoram os dogmas e as leis das religiões tradicionais. “A experiência inte-
rior, segundo eles, propicia uma liberdade total, que promove a tranqüilidade, a
harmonia e a felicidade.” (GAARDER, 1993, p. 256). O problema está no fato de
que o indivíduo pode encontrar a si mesmo, muitas vezes sem a necessidade da
presença de Deus, contrariando assim a maioria das religiões. Portanto, sempre
lembrem-se de que precisamos buscar o equilíbrio nas práticas religiosas e não
chegar ao fanatismo religioso.

Religiões africanas
O tráfico de escravos
O fato negativo é que por mais de três séculos milhares de pessoas morreram nas mãos
de homens gananciosos. Os povos da África foram arrancados de suas nações e levados à
escravidão nos países da América.

A colonização do Novo Mundo, a partir do século XVI, mudou para sempre


a história da África. Vulneráveis, entre outros motivos devido a uma sucessão
de lutas tribais, os negros africanos tornaram-se presas fáceis dos exploradores
do tráfico de escravos. Conquistadores da França, da Inglaterra, da Holanda e de
Portugal disputavam essa mão-de-obra, importante para o aproveitamento das
riquezas naturais e para o cultivo de terras na América.
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Movimentos religiosos no Brasil

Inicialmente, os negros eram capturados pelos muçulmanos que os troca-


vam com os portugueses por prisioneiros de conquistas marítimas. Aos poucos, o
tráfico de escravos organizou-se e deixou de ser ilegal, contando com o apoio e a
proteção de todos os governos. O comércio de negros só terminaria com a Revo-
lução Industrial na Europa, que deu origem a um novo modelo econômico.

A captura de negros
Vemos também que os mouros eram os intermediários entre os portugueses
e os grandes fornecedores de escravos. Todavia, com o decorrer do tempo, as nego-
ciações passaram a ser feitas diretamente com os régulos (chefes tribais) nas aldeias.
Os negros eram quase sempre caçados pelos próprios mercadores, mediante o pa-
gamento de um tributo aos régulos. Eles eram arrastados até o litoral e embarcados
em navios negreiros. Antes de cruzarem os mares em direção aos novos domínios,
eram marcados com ferro em brasa no ombro, no peito ou na coxa. Muitos não so-
brevivam à viagem devido às péssimas condições da travessia. Calcula-se que de 3
a 5 milhões de africanos tenham morrido confinados em cubículos nos portos, nos
porões dos navios e nas guerras tribais ocasionadas pelo comércio escravagista. O
tráfico negreiro durou três séculos. Nesse período, cerca de 10 a 15 milhões de afri-
canos chegaram à América. Estima-se que de 500 a 7 mil deles foram levados para
a América do Norte. Os demais foram trazidos para as Américas do Sul e Central.

A origem dos escravos


O trecho da costa africana localizado entre Cabo Verde (Senegal) e Luanda
(Angola) tornou-se uma reserva de escravos para as plantações do Novo Mundo.
Dos cerca de um milhão de africanos aprisionados pelos portugueses no início
do século XVII, mais da metade era de Angola, do Congo e de Benin. Os demais
escravos foram capturados na Costa do Ouro (Gana) e da Senegâmbia (entre o rio
Senegal e as ilhas Sherbo, em Serra Leoa).
A história mostra que no ano de 1640, quando se libertou da dominação es-
panhola, a monarquia portuguesa conservava apenas algumas possessões africa-
nas e o Brasil. As colônias africanas passaram a ser meras fornecedoras de escra-
vos para as plantações brasileiras de cana-de-açúcar, que representavam, naquela
época, a mais importante fonte de divisas para Portugal.

Chegada ao Brasil
Os portugueses tinham autorização para escravizar índios. Mesmo sendo
um fato negativo, muitos o fizeram. Mas, como o tráfico de negros mostrou-se
altamente lucrativo, eles deram preferência à escravização de africanos. O lucro
chegava a 600%. Todos ganhavam: a burguesia européia, que montou entrepostos
de escravos na costa africana; a Coroa Portuguesa, que cobrava altos impostos dos
senhores de engenho, não só pela importação de escravos, como também pela ex-
portação do açúcar produzido pela mão-de-obra negra; e os próprios colonizado-
res, que tinham à disposição trabalhadores escravos, que podiam ser negociados
como mercadoria.
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Cultura Religiosa

Os primeiros escravos chegaram ao Brasil em 1549. Dez anos depois, cada


senhor de engenho a recebeu um Alvará Real com permissão para adquirir 120
negros, pagando um terço de seu valor como imposto de importação. Os escravos
vinham de Angola, de Moçambique, da Costa do Marfim, de Serra Leoa, de Gâm-
bia, da Nigéria, da Libéria, do Congo, de Cabinda e de Bissau. Entre eles havia
integrantes de culturas diversas e milenares como nagôs, jejes, minas, mandingas,
hauçás, fulas, benguelas, tapas e angicos. Estima-se que no século XVI tenham
chegado ao país cerca de 100 mil escravos negros – número superior ao de bran-
cos que viviam aqui naquela época. Até o fim do tráfico negreiro para o Brasil,
em 1850, calcula-se que entre 4 e 5 milhões de escravos chegaram ao país, onde o
regime de escravatura só foi abolido em 1888.

Religiões afro-brasileiras
Apesar de lamentarmos profundamente o tráfico de escravos, foi por meio
dele que recebemos no país uma riqueza enorme de cultura. A fusão de crenças e
costumes africanos, católicos e indígenas deu origem a uma nova cultura religio-
sa, representada principalmente pela Umbanda e pelo Candomblé.
Na época da escravidão, os cultos africanos foram condenados e perseguidos
pela Igreja Católica. As práticas, quase sempre clandestinas, e a natureza secreta de
alguns rituais deixaram poucos registros dos costumes religiosos dos negros afri-
canos no Brasil. A documentação sobre esses rituais, produzida por autoridades,
desqualificou e reduziu a religiosidade negra à mera feitiçaria. Ainda hoje, quando
o número de praticantes e simpatizantes chega a 70 milhões de pessoas, segundo a
Federação Nacional de Tradição e Cultura Afro-brasileira, os cultos afro-brasilei-
ros enfrentam preconceitos, críticas e ataques de alguns segmentos da sociedade.

O Candomblé
Essa é a religião afro-brasileira mais influente no país. A base de sua prática
é a reverência e o culto aos orixás. Olorum é considerado o ser supremo, o prin-
cípio das coisas. Os orixás, emanações de Olorum, originaram-se dos ancestrais
dos clãs africanos, divinizados há mais de 5 mil anos. Embora sejam associados
aos santos cristãos, possuem características humanas como a vaidade, a raiva, a
força e o ciúme.
As diferentes origens dos escravos explicam a multiplicidade de manifes-
tações do Candomblé pelo território brasileiro. Em cada canto do país, pratica-se
um tipo de culto, mas preserva-se certa unidade em torno da liturgia e das crenças
originais, trazidas pelos africanos.

Rituais e pedidos
Os cultos do Candomblé são realizados no terreiro, também denominados
“roça” ou “casa-de-santo”, usado simultaneamente como templo e moradia. Du-

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Movimentos religiosos no Brasil

rante os rituais, o terreiro é decorado de acordo com as cores do orixá cultuado,


os participantes entoam cantos de louvor e fazem diversas oferendas a essa divin-
dade. Algumas cerimônias, especialmente quando há oferenda de animais sacrifi-
cados, são restritas aos iniciados.
Tanto os devotos de orixás como os simpatizantes do Candomblé recorrem
aos terreiros em busca de proteção, de saúde, de prosperidade, de paz e de ajuda
para a resolução de problemas existenciais, como o desemprego e as desilusões
amorosas. Muitas pessoas procuram os terreiros para enviar ou desfazer um “tra-
balho de demanda” (magia para prejudicar).
No Candomblé, a consulta aos orixás é feita principalmente por meio da lei-
tura de jogos divinatórios, como os búzios. A resolução do problema apresentado
exige a utilização de ebós, oferendas, orações e rituais africanos, de acordo com a
complexidade de cada caso.

Os terreiros
Nessa espécie de templo, o dia-a-dia dos mortais mistura-se com os rituais
dos orixás. Em muitos casos, a divisão dos espaços de um terreiro lembra os egbes
– antigas habitações coletivas dos clãs dos povos de língua iorubá. Nos quartos-
de-santo ficam os pejis (altares) e os assentamentos (as representações com objetos
e símbolos dos orixás). O espaço do santuário, no qual se fixa o axé, a força do
sobrenatural, é extremamente sagrado. Alguns orixás possuem quartos dentro da
casa, enquanto outros, apenas na área externa. As festas que reúnem os fiéis e as
divindades do Candomblé são promovidas no barracão.

Orixás e sincretismo no Candomblé


Essas divindades estão ligadas à força da natureza e possuem um equivalen-
te entre os santos do catolicismo.
Oxalá, deus da criação, equilibrado e tolerante, mantém sincretismo com
Nosso Senhor do Bonfim.
Oxóssi, deus da caça, pode representar São Jorge ou São Sebastião.
Ogum, deus da guerra e do ferro, equivale a Santo Antônio ou São Jorge.
Omolu ou Obaluaê, deus das doenças, é relacionado a São Lázaro e São
Roque.
Xangô, deus do fogo e do trovão, corresponde a São Jerônimo ou São Pedro.
Iansã, deusa dos ventos e das tempestades, relaciona-se com Santa Bárbara.
Oxum, deusa das águas doces, da fecundidade e do amor, equivale a Nossa
Senhora da Conceição ou Nossa Senhora das Candeias.
Oxumaré, deus da chuva e do arco-íris, representa São Bartolomeu.
Ossaim, deus da folhas e ervas medicinais, corresponde a São Benedito.
Nanã, deusa da lama e do fundo dos rios, representa Nossa Senhora Santana.

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Cultura Religiosa

Wikipédia.
Iemanjá, deusa dos mares e oceanos, corresponde a Nos-
sa Senhora da Conceição ou Nossa Senhora da Glória.
Exu, que aparece nas experiências do candomblé, não é
um orixá, mas um intermediário entre este e os seres humanos.

Liderança religiosa
O processo ritualístico do candomblé é comandado por
um pai-de-santo, chamado de babalorixá, ou por uma mãe-de-
santo, chamada yalorixá. A função dos dois, além de incor-
porar o seu orixá, é dar licença aos seus seguidores para que
levem diante dele seus pedidos e desejos.

A Umbanda
A Umbanda surgiu na década de 1920, no Rio de Janeiro.
Iemanjá. Com o passar dos anos, foi se propagando pelo Brasil e tomando
conotação de “religião universal” (GAARDER, 2000, p. 298).
A preocupação dos umbandistas não é manter ou preservar as raízes africa-
nas, mas sim pensar suas raízes como brasileiras. É afro, mas afro-brasileira. As-
sim, encontramos nesta religião uma característica importante a ser ressaltada:
[...] a Umbanda também pode ser dita religião brasileira porque é resultante de um en-
contro histórico único, que só se deu no Brasil: o encontro cultural de diversas crenças e
tradições religiosas africanas com as formas populares de Catolicismo, mais o sincretismo
hindu-cristão trazido pelo Espiritismo Kardecista de origem européia. Eis aí a Umbanda,
um sincretismo religioso originalmente brasileiro. (GAARDER, 2000, p. 299).
Na Umbanda, a divindade maior é adorada sob vários nomes, especialmente
Zambi, que é tido como perfeito e não criado ou concebido. Notem o sincretismo.
Logo a seguir, vem o Orixá-maior, chamado de Oxalá, identificado com Jesus
Cristo e que está no comando dos orixás (semelhante aos anjos no catolicismo
romano) e dos santos (espíritos evoluídos e desencarnados, semelhantemente ao
pensamento Kardecista).
Os orixás e os santos têm como função comandar as linhas (faixas de vibração espiritual
correspondentes a cada elemento da natureza, semelhantes à vivência religiosa indigenis-
ta) e os chefes de falange (entidades espirituais evoluídas que servem como guias a um
conjunto de espíritos de menor evolução em relação aos orixás e que vibram na mesma
linha espiritual; são também conhecidos como entidades). Os espíritos de menos evolução
guiados pelos chefes de falange são como guias espirituais, espécie de mensageiros dos
orixás e santos, que se manifestam como caboclo (espírito dos índios), pretos velhos (es-
píritos de escravos africanos) e crianças, a fim de trazerem aos homens ainda encarnados
as mensagens dos orixás. (STEFFEN, 2000, p. 62).
Os terreiros são organizados em sete linhas tradicionais: de Oxalá, de Ieman-
já, de Oxóssi, de Xangô, do Oriente ou das crianças, africanas ou das almas e de
Ogum. Na Umbanda, a consulta é feita por meio de um médium, e os “trabalhos”
são realizados pelo espírito que está incorporado nele durante os rituais.

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Movimentos religiosos no Brasil

A liderança religiosa
O pai-de-santo e a mãe-de-santo são quem comandam os rituais. Eles fazem
parte da chamada hierarquia espiritual.
O pai/mãe-de-santo, ao incorporar seu orixá/guia, deixa-se levar pela incorporação, permitin-
do que ele se manifeste dentro de suas qualidades específicas. Fazem parte de suas funções:
incorporar o espírito protetor, identificar os espíritos que baixam, riscar o ponto, explicar a
doutrina, dar os passes, curar as doenças e adivinhar pelos búzios. (STEFFEN, 2000, p. 64).
Assim temos uma idéia de como funciona a Umbanda e os seus rituais. É
claro que existem muitos pontos que podem ser aprofundados, mas nossa intenção
aqui é a de resumir as características mais importantes.

Espiritismo
Os alunos sempre pedem para que falemos sobre o Espiritismo, pois princi-
palmente no Brasil encontramos muitas pessoas adeptas a essa religião. Aliás, a
pergunta é: o espiritismo é uma religião? Muitos espíritas fazem questão de dizer
que espiritismo não é religião, mas ciência.

Origem do Espiritismo
O Espiritismo surgiu na França com Leon Hippolyte Denizard Rivail, co-
nhecido como Allan Kardec (1804 – 1869). Foi ele quem “sistematizou uma série
de conhecimentos religiosos e deflagrou um movimento que se definia, ao mesmo
tempo como ciência, filosofia e religião”. (STEFFEN, 2000, p. 38).

Wikipédia.
Allan Kardec foi quem trouxe em sua sistematização os milenares
conhecimentos evolucionistas. Retoma a reencarnação e a Lei do Car-
ma, como no Hinduísmo. Também fala sobre a pluralidade dos mundos,
isto é, a existência de vários planos habitados, já que a Terra não é o
único mundo habitado, mas um planeta material e distante da perfeição.
Esses pensamentos distanciaram o Espiritismo do Cristianismo, já que
são contrários ao pensamento cristão.

Como o Espiritismo entende o ser humano


A visão do Espiritismo sobre o ser humano é tridimensional. Os Allan Kardec.
elementos são os seguintes:
o corpo: sem valor em si mesmo, é a parte menos nobre do ser humano e só adquire
valor na medida em que possibilita uma relação com o planeta Terra;
o espírito ou alma: de criação divina, é o princípio inteligível responsável pelo pensa-
mento, vontade e senso moral; é portador do livre-arbítrio, ou seja, da capacidade de escolher
quais atos executar (os atos bons privilegiam a caridade, enquanto os maus, a materialidade).
A união do espírito com o corpo se dá a partir da concepção, iniciando assim a possibilidade
de decidir por atos que permitirão ou não a evolução da dimensão espiritual;

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Cultura Religiosa

o perispírito: é a condensação de um fluido universal, normalmente invisível, que pos-


sibilita e explica as aparições nas sessões espíritas. É como se fosse um envoltório do espí-
rito, necessário para a união das duas dimensões anteriores e razão pela qual o perispírito
não é só material e nem só espiritual. (STEFFEN, 2000, p. 40).

Como o Espiritismo entende o mundo


O mundo é concebido em dois planos: o material, onde habitam os espíritos
encarnados ou aqueles a quem chamamos de seres humanos vivos; e o espiritual,
onde habitam os espíritos desencarnados.
A comunicação entre os dois planos só é possível graças ao médium, que tem
a função de intermediar e interpretar os espíritos por meio de diferentes aptidões,
que o tornam capaz de captar e transmitir as mensagens recebidas. Os sinais podem
ser emitidos de várias maneiras como: com efeitos físicos – batidas, levitação, trans-
porte de objetos; auditivos – sons; artísticos – pintura, desenho, poesia, romance,
musicais; e psicográficos – captação da escrita desenvolvida por um espírito desen-
carnado.
Finalmente, Espiritismo é um assunto atual. As novelas vêm há muito tempo
discutindo vários assuntos sobre fenômenos espíritas. Freqüentemente, vemos ou
ouvimos falar das experiências de “quase-morte”. Muitas pessoas que já estiveram
próximas da morte afirmam que a sua alma deixou o corpo. São as experiências
extracorporais. O exemplo mais citado é o de pessoas que, deitadas na mesa de ope-
ração, foram puxadas para um estado espiritual, voltando depois para o corpo.
As religiões que vimos neste capítulo são interessantes de serem estudas e
pesquisadas. Encontramos milhares de brasileiros adeptos a elas. Nossa questão
aqui não é dizer se é certo ou errado praticar o Candombé, a Umbanda ou o Espi-
ritismo. Apenas é bom ressaltar que é difícil praticar o Catolicismo, por exemplo,
e ao mesmo tempo optar por estes rituais. As concepções de origem, sentido da
vida e destino são muito diferentes.

1. Você já observou a diversidade de movimentos religiosos que encontramos no Brasil? Faça uma
relação dos que você conhece.

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Movimentos religiosos no Brasil

2. Como você analisa a questão do sincretismo religioso?

3. No seu entender, Espiritismo é ciência ou religião? Explique.

Existe um livro interessante e de linguagem fácil sobre o assunto desta aula:


ZICMAN, Renée; MOREIRA, Alberto. Misticismo e novas religiões. Petrópolis: Vozes, 1994.

Como você avalia os movimentos afro-brasileiros e de que forma você detecta traços da Um-
banda e do Candomblé na cidade onde mora?

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Cultura Religiosa

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O Cristianismo I

A
maior de todas as grandes Religiões. Jesus surpreendeu com sua mensa-
gem, uma proposta de vida nova para seus seguidores. Uma esperança
ligada não somente a esta vida, mas também à eternidade. É difícil falar do
Cristianismo sem vivê-lo. Quem o vê de fora muitas vezes não compreende o quan-
to ele pode mudar a vida de alguém. Isso porque ser cristão exige fé acima de tudo.
Neste texto você vai ler um pouco sobre a história do Cristianismo. Mas, apesar de
todos os dados históricos, é fundamental entender a essência desta religião.

Conhecer Jesus é fundamental


Note como são interessantes as anotações do historiador Huston

Wikipédia.
Smith, um dos grandes estudiosos das religiões. Retiramos estas frases
do seu livro As religiões do mundo (1991).
Jesus convidou o povo a ver as coisas de um modo diferente, certo
de que, se elas o fizessem, seu comportamento mudaria de acordo
com a nova visão.
Jesus usou particularidades que faziam parte do mundo das
pessoas: grão de mostarda e solo rochoso, servos e senhores,
casamentos e vinhos. Essas particularidades deram aos seus en-
sinamentos um toque de realidade; ele estava falando de coisas
que realmente faziam parte do mundo de seus ouvintes.
Jesus Cristo.
Nós vimos a sua glória. Existe no mundo, escreveu Dostoié-
vski, somente uma figura de beleza absoluta: Cristo. Essa figura infinita-
mente bela é um milagre infinito.
Toda a sua vida foi de humildade, doação de si e de um amor totalmente
altruísta. A prova suprema de sua humildade é a impossibilidade de des-
cobrirmos exatamente o que Jesus pensava de si mesmo.
Jesus gostava das pessoas e elas, por sua vez, gostavam dele. Elas o ama-
vam; amavam-no intensamente, e eram muitas.
Chegou um momento em que eles sentiram que, olhando para Jesus,
olhavam para algo semelhante a Deus em forma humana. Nós vimos a
sua Glória [...] cheio de graça e verdade. (João 1.14). 1 Ágape: é o amor fraternal
entre os cristãos, ordena-
do por Jesus no Novo Testa-
mento, que se expressava de
três maneiras práticas: na
doação de esmolas – daí ága-

O amor ágape1 pe ser traduzido por caridade


–, em reuniões da igreja e
saudações cristãs – demons-
Uma das primeiras observações sobre os cristãos feitas por um estranho é tradas pelo ósculo (beijo) –,
e nas refeições nas quais os
“Veja como esses cristãos amam-se uns aos outros”. Uma parte integrante dessa crentes participavam.

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atenção mútua era a ausência total de barreiras sociais; tratava-se de uma con-
fraria de iguais, como definiu uma estudiosa do Novo Testamento. Ali estavam
homens e mulheres que não só diziam que todos eram iguais aos olhos de Deus,
mas também viviam de acordo com essa afirmação.
Ficar triste na presença de Jesus era uma impossibilidade existencial. Essa
era uma qualidade dos cristãos. Também, as palavras de Jesus foram claras: “que a
minha alegria esteja convosco e a vossa alegria seja completa”. (João 15.11).
Os estranhos ficavam perplexos. Aqueles cristãos, espalhados aqui e ali, não
eram numerosos, não eram ricos nem poderosos. Na verdade, enfrentavam mais ad-
versidades do que o indivíduo médio. Porém, em meio às provações, haviam encontra-
do uma paz interior que se expressava numa alegria que parecia exuberante.
O único poder capaz de realizar transformações como essa que descreve-
mos é o amor. O amor só cria raízes nas crianças quando chega até elas. É um
fenômeno reativo e, literalmente, uma resposta. Deus amou primeiro. Não é difícil
imaginar a mudança que teria se processado nos primeiros cristãos ao se desco-
brirem amados por Deus. O amor que as pessoas aprenderam com Cristo envolvia
pecadores e marginais, samaritanos e inimigos.
Completamente convencidos disso, os discípulos saíram para conquistar um
mundo que, acreditavam, Deus já conquistara para eles.

A história
No início do século I, quando surge o Cristianismo, toda a região do mar
Mediterrâneo está sob o poder de Roma. A história dessa religião está ligada à his-
tória do Império Romano e à do povo hebreu. Aliás, para se conhecer a história do
Cristianismo é necessário também um bom conhecimento do Judaísmo. Os profetas
do Antigo Testamento já anunciaram, muitos anos antes, a vinda do Messias, de um
libertador. A Palestina, Terra Prometida por Deus aos hebreus, sofreu, ao longo dos
anos, um enfraquecimento político e social. O povo, que havia passado por anos de
prosperidade e de unidade sob os reinados de Davi e Salomão, estava abalado pelas
disputas internas entre diversas tribos. Após a morte do Rei Salomão, em 931 a.C.,
a Palestina foi dividida em reino do norte (Israel) e do sul (Judá) e sofreu sucessivas
invasões até cair em poder dos romanos, por volta de 60 a.C.

O nascimento de Jesus
Os evangelhos relatam que Jesus foi concebido pela força do Espírito
Santo e foi dado à luz por Maria, uma jovem virgem pertencente à tribo de
Judá e à descendência de Davi. O menino-Deus dos cristãos nasceu na cidade
de Belém quando Herodes governava a Judéia (antigo reino de Judá). Ele cres-
ceu em Nazaré, pequena cidade da região da Galiléia, na atmosfera simples de
uma casa de carpinteiro. Não encontramos nos evangelhos um relato sobre a
juventude de Jesus. O último relato acontece no templo, em Jerusalém, quando
Jesus, aos 12 anos, é encontrado conversando com os doutores da lei. Depois

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O Cristianismo I

disso o evangelho resume: “E crescia Jesus em sabedoria e graça diante de


Deus e dos homens”.

A pregação
Jesus começa a pregar após ser batizado por João Batista. A sua pregação
é o anúncio de um novo reino. Ele chama o povo ao arrependimento e anuncia o
perdão de Deus. Arrependimento significa transformação. É mudança de vida. O
cristão que se arrepende dos seus pecados muda a sua forma de viver. Vive para o
próximo, vive pela fé em Deus – o Criador, e ama como Deus ama o seu povo.
O objetivo dos evangelhos não era a veracidade histórica, e sim a procla-
mação de uma mensagem. Eles explicam o sentido da morte de Jesus, do seu
sacrifício e da sua ressurreição. Os evangelhos mostram que Jesus de fato tinha
autoridade divina e que de fato ressuscitou. A fé cristã não pode ser justificada por
meios científicos, nem refutada com base nesses métodos.

Jesus – o mestre
Jesus era chamado rabi – “mestre” ou “professor”. Não foi por acaso que ele
reuniu multidões de pessoas. Suas parábolas2 e sermões eram preciosos. Falava
por meio de máximas, por meio de conversas com os discípulos ou com pessoas
que encontrava. Leia, posteriormente, a conversa que Jesus teve com o jovem rico.
Ela está no evangelho de Mateus, capítulo 19, versículos 16 a 26. Outro método de
pregar era por meio de sermões. O mais interessante é o Sermão da Montanha.
As parábolas se constituíram numa das melhores formas de ensinar. As 2 Analogias, comparações
por meio das quais se apre-
sentava um fato do cotidiano
histórias de Jesus sempre foram usadas para dar um sentido às perguntas dos com significado celeste.

discípulos e dos demais seguidores. Para que vocês tenham uma


idéia dos ensinos de Jesus, há três parábolas encontradas na Bí-

Wikipédia.
blia Sagrada, no Novo Testamento, livro de Mateus, que resumem
de modo magistral o seu ensino a respeito do amor de Deus para
com a humanidade, do amor que seus seguidores têm a ponto de
perdoar seus ofensores e do amor que olha para o lado e os move
a assistir quem dele necessita.

A morte de Jesus
A ação de Jesus, sua mensagem, a maneira de lidar com as
pessoas, seus milagres, a quebra de muitas tradições, também cria-
ram sentimento de ódio nos seus opositores. As críticas de Jesus
não eram baseadas em questões econômicas ou políticas; sua preo-
cupação maior e fundamental estava na autenticidade das relações
humanas e na sinceridade de propósitos com as quais as pessoas A morte de Jesus.

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esperavam cultuar a Deus. Por isso criticou o templo, os sacerdotes, os mestres de


lei, os escribas. Poucas pessoas compreenderam a essência da sua mensagem. Por
isso, também foi levado a morrer numa cruz. Foi considerado um desordeiro, um
perigo para a sociedade e para os interesses dos governantes e religiosos.
O que precisamos compreender é que a morte de Jesus, para os cristãos, era
algo anunciado pelos profetas no Antigo Testamento. Ele é visto como verdadeiro
homem, mas também como verdadeiro Deus. Segundo a Bíblia, Jesus assumiu a
forma de homem para sofrer e morrer, pagando a culpa pelos pecados de toda a
humanidade. Ao que crer nele, é assegurado o perdão de pecados, a ressurreição
do seu corpo para a vida eterna.

A ressurreição
Este é o ponto-chave, a mensagem cristã. Jesus morreu, mas ressuscitou
dentre os mortos. Um simples homem não faria isso. É algo racionalmente impos-
sível para qualquer ser mortal, mas não para Deus. Deus mostra à humanidade que
é maior do que a morte. Jesus venceu a morte e está na presença do Pai. A ressur-
reição é que dá legitimidade ao Cristianismo. Sem ela, a vida e a obra de Jesus não
fariam sentido. Por isso os cristãos anunciam que “Cristo vive”.
Uma das piores coisas do mundo é perder alguém que se ama. A morte é
cruel, é dura. Ela ceifa a vida de pessoas idosas, de meia-idade, de jovens e de
crianças por meio de doenças incuráveis como o câncer ou a aids, infartos, aci-
dentes e assim por diante.
Ela liquida com sonhos de trabalho, estudo, namoro, casamento, viagens etc.
Deus não a criou. Ela é conseqüência direta da desobediência dos primeiros
homens, Adão e Eva. É o salário do pecado (Romanos 6.23). E como cada ser hu-
mano tem cometido pecados por meio de pensamentos, desejos, palavras e ações,
todos, dia mais, dia menos, morrerão.
Para muitos, a morte é o fim de todas as coisas. Contudo, a Bíblia Sagrada
diz que tudo não termina com ela, que existe a ressurreição. A ressurreição de
Lázaro (João 11.1-46) é prova disso.
Certa vez, este amigo de Jesus, Lázaro, estava doente. Suas irmãs, Maria e
Marta, imediatamente mandam avisá-lo, dizendo: “Está enfermo aquele a quem
amas”. Jesus não sai imediatamente do lugar em que se encontrava para auxiliá-lo.
Lázaro morre e é sepultado.
Quatro dias depois de ter sido sepultado, Jesus chega à Betânia. Marta vem
ao seu encontro e lhe diz: “Se estivesse aqui, meu irmão não teria morrido”. Jesus
retrucou dizendo que ele iria ressuscitar. Maria o crê, só que para o fim dos tem-
pos, no último dia. Jesus, porém, afirma: “Eu sou a ressurreição e a vida, quem
crê em mim, ainda que morra, viverá”. O que Jesus estava dizendo era que ele era
Senhor sobre a morte, e que ele ressuscitaria a seu amigo Lázaro. De fato, aquilo
que parecia impossível aos olhos de todos, aconteceu: Lázaro ressuscitou depois
de quatro dias de sepultamento.
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O Cristianismo I

Jesus ressuscitou, segundo os evangelhos, muitas pessoas. Entre elas cita-


mos Lázaro, o filho de uma viúva da cidade de Naim, e a filha de Jairo. Ele próprio
ressuscitou ao terceiro dia e prometeu que no último dia todos ressuscitarão.
Todos os cristãos sabem que irão morrer. O que eles não sabem é quando
isso acontecerá. Talvez dentro em breve, repentinamente. Talvez depois de doença
prolongada, ou depois de atingirem uma idade avançada. Vivendo pouco ou mui-
to, eles crêem que ressuscitarão e isso os consola. Para eles, esta é a mensagem
central da Igreja Cristã: existe ressurreição porque Cristo ressuscitou. Ele, Jesus,
vive; portanto, eles também viverão. E é esta a mensagem que tem consolado cris-
tãos de todas as idades quando precisam se despedir de alguém que amam.
Nossa sugestão é que você faça uma leitura de um dos evangelhos. É o re-
lato fiel do nascimento, vida e morte de Jesus. A fé do cristão está baseada nestes
relatos. A Igreja Cristã acredita que estes textos são revelados por Deus. Por isso
também são inquestionáveis. Pegue uma Bíblia, abra no Novo Testamento e esco-
lha entre os evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas ou João.
Não podemos esquecer que a história do cristianismo é uma continuação da
História do povo judeu. Jesus é o Messias prometido pelos profetas já no Antigo
Testamento e suas características fecham com os textos de Isaías, por exemplo.

1. Como você entende a questão do nascimento de Jesus, gerado pelo Espírito Santo?

2. Qual a importância da ressurreição de Jesus para o Cristianismo?

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Cultura Religiosa

3. Após a leitura do texto, procure discutir com os colegas e amigos o sentido da morte de Jesus.

Recomendo, para um conhecimento maior do tema, a leitura de um dos Evangelhos que conta
a história de Jesus. Pode ser os Evangelhos de Mateus, Marcos ou Lucas.
BÍBLIA. Português. Bíblia Sagrada. Revisada e atualizada. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil,
1999.

O que você entende ser importante na mensagem do Cristianismo? Que tipo de aplicação práti-
ca é possível fazer para uma vida mais feliz?

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O Cristianismo I

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O Cristianismo II

V
amos fazer neste texto uma reflexão maior sobre o Cristianismo e como a fé cristã pode ser co-
locada em prática. Praticamente todo o texto foi trabalhado por um colega nosso da disciplina
de Cultura Religiosa, o professor Egon Seibert, que escreve do coração.

A Bíblia – livro sagrado do Cristianismo

Istock Photo.
A palavra Bíblia significa conjunto de livros, o que ela na verdade é, sendo que se divide em
dois grandes blocos, o Antigo (AT) e o Novo (NT) Testamentos. A palavra testamento lembra aliança
ou acordo, estabelecidos entre Deus e os seres humanos. No caso do AT, o mesmo refere-se a Abraão,
que recebeu a promessa de vir a ser uma grande nação, de onde viria o Messias, o Redentor de to-
dos os homens. Também lembra a libertação da escravidão do Egito através do sangue do cordeiro.
Quanto ao NT, é lembrado o cumprimento da promessa de que o Messias veio na pessoa de Jesus, que
ele salva os homens da morte eterna com o derramar do seu sangue – o sangue da nova aliança – e
envia seus mensageiros ao mundo para pregar seu evangelho. Para facilitar a sua leitura, a Bíblia foi
dividida em capítulos e versículos. (SEIBERT, 2002).

Antigo Testamento
É formado por 39 livros, escritos em hebraico e aramaico pelos profetas, de mais ou menos 1260
até 400 a.C.

Livros
Livros da Lei (Pentateuco);
Históricos – Josué até Ester;

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Poéticos – Jó até Cantares de Salomão;


Profetas maiores – Isaías até Daniel;
Profetas menores – Oséias até Malaquias.

Conteúdo do Antigo Testamento


Destacamos:
Criação do mundo em seis dias;
Queda em pecado pelos primeiros homens;
Promessa do Messias, Redentor;
Formação e história do povo de Israel;
Profecias sobre Jesus: Gênesis 3.15, 12.2; Isaías 7.14, 53.4-11; Miquéias 5.2;
Salmo 16.10.

Novo Testamento
É formado por 27 livros, escrito em grego pelos evangelistas e apóstolos
entre 50 até 100 d.C.

Conteúdo do Novo Testamento


Destacamos:
quatro evangelhos que narram vida, ensinos, milagres, sofrimento, mor-
te, ressurreição e ascensão de Jesus;
atos dos Apóstolos: iniciando pela ascensão, narra o Pentecostes, a for-
mação da Igreja Cristã, o seu desenvolvimento, as suas atividades e as
perseguições que Jesus sofreu;
cartas: Paulo (13), Pedro, Judas, Tiago; Hebreus (não se sabe o autor), João;
profecia: Livro de Apocalipse – Revelação.
A Bíblia contém duas grandes doutrinas, a Lei e o Evangelho. Veja as suas
diferenças no quadro abaixo:

A Lei O Evangelho

Ensina o que nós devemos fazer ou Ensina o que Deus fez e ainda faz
deixar de fazer. pela nossa salvação.
Manifesta o nosso pecado e a ira de Manifesta o nosso Salvador e a graça
Deus. de Deus.
Exige, ameaça e condena eterna-
Promete, dá e sela o perdão, vida e
mente quem não cumpre os manda-
Salvação e crê em Jesus.
mentos.

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O Cristianismo II

A Lei O Evangelho

Provoca a ira no homem e o afasta de Chama e atrai para Cristo, opera a


Deus. fé.

Deve ser pregada aos impenitentes. Anuncia-se aos atemorizados.

A lei serve como freio (impedindo


O Evangelho é a boa-nova da graça
que o mal tome conta do mundo), es-
do amor de Deus em Cristo Jesus
pelho (revelando os erros humanos),
(João 3.16), e motiva o cristão à prá-
e norma (mostrando ao ser humano
tica das ações que agradam.
como agir).

Esse é o livro sagrado do Cristianismo, a Bíblia. Os cristãos a lêem e nela


meditam porque a aceitam como a palavra de Deus. Eles a crêem porque:
ela diz de si mesma que é a palavra de Deus (2Timóteo 3.16: “Toda a
Escritura é inspirada por Deus”);
ela não se contradiz, pois sempre apresenta o mesmo remédio para a en-
fermidade chamada pecado: a fé em Cristo;
suas profecias se cumpriram e cumprem. Exemplos: queda em pecado
– conseqüências; dilúvio; cativeiro e desterro de Israel; a vinda do Salva-
dor Jesus; destruição de Jerusalém (Tito, ano 60); perseguições; fim dos
tempos – Marcos 13.31: “Passarão céus e terra, mas as minhas palavras
não passarão”;
ela dá uma explicação às perguntas como: donde vim, para onde vou, por
que vivo? (Efésios 2.8-10);
seu estudo convence da verdade, de que Jesus é o caminho que conduz à
vida eterna (João 14.6). Lema da Ulbra: Ueritas uos liberabit! (João 8.31-
32): “Se vós permanecerdes na minha palavra, conhecereis a verdade, e a
verdade vos libertará.” (SEIBERT, 2002).

Ensinos de Jesus e a sua prática entre os cristãos


sobre o amor para com o que retorna arrependido
A Parábola do filho pródigo (Lucas 15.11-32)
Para muitos, em vez de O filho pródigo, a parábola deveria receber o título
de O pai que espera ou O pai amoroso, porque na verdade retrata o amor de Deus
Pai para com aqueles que se afastam dele e retornam arrependidos.
A parábola nos apresenta três personagens que queremos analisar: 1 De acordo com os costu-
mes de então, um terço
dos bens do pai. Depois de
1.ª O filho mais moço: pede ao pai a sua parte da herança1 que este não tinha recebê-la não teria mais di-
reitos sobre aquilo que o pai
obrigação nenhuma de lhe dar. viesse a adquirir.

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Cultura Religiosa

O jovem parte e gasta tudo de maneira dissoluta, extravagante e imoral.


Quando o dinheiro acaba, por coincidência surge grande fome. Procu-
ra empregos e o que lhe sobra é tornar-se porqueiro. Aceita o emprego
porque imagina que ali pudesse alimentar-se com alfarrobas – vagens
gigantes, que eram dadas para os porcos comer. Ninguém, no entanto, lhe
dá alguma coisa.
Caindo em si lembra-se da casa do pai, na qual a situação dos escravos
era melhor que a sua. Resolve voltar, pedir-lhe desculpas e suplicar-lhe
que o aceite de volta como escravo.
2.ª O pai: algo interessante Jesus registra – o Pai estava aguardando a volta
do filho. Ao vê-lo na estrada o reconhece e vai ao seu encontro. Compa-
dece-se dele, abraça-o e beija.
O filho reconhece sua situação: não tinha nenhum direito, nada para exi-
gir. Só uma súplica: aceita-me como um dos teus escravos.
Aí vem a surpresa: o pai reintegra o filho na família – melhor roupa, anel
no dedo, sandálias nos pés, novilho cevado, música, danças, festa. Por
quê? Este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado.
3.ª O irmão mais velho: este volta do campo depois de uma jornada de trabalho.
Ouve o som da música, gritos de alegria. Intrigado, pergunta o que estava
acontecendo. Ao saber do que se tratava, uma reação estranha para aquele
momento: indignado, não quer entrar nem participar da festa. O pai o procu-
ra e o irmão mais velho quer repreender o pai: estou a tanto tempo contigo e
nem um cabrito preparas para festejar comigo. Mas este teu filho (não é seu
irmão), que foi embora e gastou tudo, volta e é recebido com festas? Até o
novilho cevado (engordado na estrebaria) é abatido para festejar?
O pai então o chama à realidade: tudo isso aqui é teu. Nada perdeste; a
herança continua sendo tua. Mas era preciso que nos alegrássemos, pois
este teu irmão estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado.
O ensino dessa parábola:
Jesus, na presente parábola, narra de uma maneira bem clara que Deus é o Pai que recebe o
pecador que o busca em arrependimento sincero. Os que retornam, por piores que tenham
sido as suas ações do ponto de vista humano, serão por ele recebidos (Quem vem a mim,
de modo algum o lançarei fora). Ele, porém, aponta para as atitudes, por vezes hipócritas,
de quem se julga de sua família e que se dá o direito de discriminar quem errou e que,
arrependido, deseja voltar a este convívio. Ao invés de lamentar que alguém volta arre-
pendido e é aceito por Deus em sua família, cristãos deveriam alegrar-se, pois o que Deus
mais deseja é que todos se arrependam dos seus pecados e vivam. (SEIBERT, 2002).

Sobre o perdão ao próximo


O credor incompassivo, sem misericórdia
(Mateus 18.21-35)
Jesus é colocado diante de uma questão intrigante: quantas vezes alguém
deve perdoar ao seu próximo? Alguns admitiam até sete vezes. Jesus, porém diz
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O Cristianismo II

que devem ser 70 vezes 7, com o que deseja mostrar que seus seguidores perdoam
sempre. É neste contexto que ele conta a parábola do credor incompassivo para
ensinar a sua vontade a respeito do perdão.
Na parábola, Jesus fala sobre um rei ajusta contas com os seus servos. Um
deles lhe deve 10 mil talentos, o equivalente a 480 mil quilos de ouro. Isso hoje
representaria no mínimo um valor de 5,5 bilhões de reais. Como o devedor não
tem como que pagar, o rei manda que seja vendido tudo o que ele tem, bem como
ele próprio e seus familiares. Desesperado, este se lança aos pés do rei e suplica
por misericórdia. E não é que o rei o atende e perdoa?
Depois de tamanha generosidade, o perdoado sai aliviado da presença do
rei e encontra um conservo seu que lhe devia 100 denários. Um talento, 48 quilos
de ouro, equivalia a 10 mil denários. Cada denário por sua vez correspondia a
4,8 gramas de ouro, o que resultaria num valor de cerca de mais ou menos R$
5.500,00. Que diferença. O que podia se esperar? Que o que fora perdoado tam-
bém perdoasse. E aí a surpresa: ele lança seu companheiro na prisão de onde só
sairia depois de haver pago a dívida.
Os amigos deste por sua vez o delatam ao rei que agora, irado, o chama de servo
malvado e o lança na prisão, entregando-o aos verdugos (carrascos ou algozes).
Através desta parábola, Jesus quer ensinar que a nossa dívida (de pecados,
de erros) diante de Deus é tão grande que não podemos resgatá-la. É verdade,
muitos o querem fazer. No entanto, segundo Jesus isso é impossível. Eis porque o
apóstolo Paulo ensinou que é por graça que se é salvo (Efésios 2.8-9).
O que fazer com os nossos pecados? Apelar para o amor de Deus que, por cau-
sa de Cristo, nos perdoa. O apóstolo João recomenda em 1João 1.9: “Se confessarmos
os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar e purificar de toda a injustiça.”
Assim como Deus nos perdoa devemos também perdoar aqueles que pecam
contra nós, que nos ofendem. É fácil? Não é não. Mas esta é a vontade de Deus e
seu amor, somente ele pode mover-nos a agir em amor.
Alguns motivos que podem levar alguém a não perdoar:
falta de humildade diante de Deus;
desejo de vingança (o outro precisa pagar – muitos casais estragam sua
vida por esta causa);
desconhecimento da enormidade do amor divino, que sempre está pronto
a perdoar.
Recomendamos que leiam na Bíblia, Efésios 4.31-5.2, através do site da So-
ciedade Bíblica do Brasil. (SEIBERT, 2002).

Sobre o amor ao próximo


O bom samaritano (Lucas 10.25-37)
Um intérprete da lei perguntou certo dia a Jesus o que deveria fazer para
herdar a vida eterna. Jesus lhe disse: o que está escrito na lei? Ele respondeu:
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ama a Deus de todo o coração, alma e entendimento e ama ao próximo como a ti


mesmo. Jesus, por sua vez, falou: faze isto e viverás. Como que se desculpando, o
intérprete da lei perguntou: quem é o meu próximo? Foi aí que Jesus lhe contou a
parábola do bom samaritano.
Um homem fora assaltado, deixado semimorto na estrada. Na estrada de
Jerusalém a Jericó passam pelo assaltado um sacerdote e um levita. Nenhum o
assiste. Finalmente Jesus diz que também veio um samaritano, inimigo de Israel.
E este cuida do homem ferido, leva-o até um pequeno hotel onde paga o atendi-
mento que lhe é prestado e promete voltar para pagar todo o tratamento.
É então que Jesus pergunta quem foi o próximo do que fora assaltado? E o
intérprete da lei, muito contrariado, precisa reconhecer que fora o que usara de mi-
sericórdia com ele. Diante disso, Jesus lhe diz: vai e procede tu de igual modo.
O amor ao próximo foi uma das características dos cristãos da Igreja Pri-
mitiva. Havia entre eles, especialmente em Jerusalém, muitos pobres. A Igreja,
através de ofertas voluntárias, sustentava seus pobres. Especialmente as viúvas
recebiam seu rancho semanal.
De repente surge um problema. As viúvas de origem grega senten-se preju-
dicadas. Começam a receber menor auxílio que as de origem judaica. Reclamam.
Pedro então convoca as lideranças e ordena que sejam eleitos sete diáconos, sete
homens fiéis que cuidem da distribuição do alimento entre os pobres. Ele e os
demais apóstolos iriam dedicar-se ao que foram incumbidos pelo Senhor Jesus: o
ofício da oração e da pregação do Evangelho.
A diaconia é o serviço amoroso que o cristão presta ao seu próximo em
resposta ao amor de Deus. Ela lida com as conseqüências e causas do pecado:
doenças, sofrimentos, pobreza, miséria, ganância, preguiça, exploração, luto, soli-
dão, violência (assaltos, estupros, homicídios), guerra, catástrofes naturais, fome,
vícios, insensibilidade, solidão, morte.
Sugestões de como se pode demonstrar amor ao próximo:
visitando doentes em seus lares e hospitais (câncer, aids, lepra);
visitando idosos (nossos avós ou pais) para conversar, passear (asilos,
casas-lares, creches, orfanatos);
visitando os que sofrem (enlutados, órfãos);
visitando os presos;
auxiliando os pobres (alimentos, roupas, remédio, estudo, emprego);
encaminhando dependentes de drogas ou de álcool às instituições espe-
cializadas;
olhando pelos portadores de deficiências físicas (hospitais), mentais
(APAE), visuais (doação de córneas), auditivas etc;
lutando contra a poluição, preservando a natureza (lixo, inseticida, bio-
degradáveis), rios, ar, florestas, solo;

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O Cristianismo II

lutando pela justiça social e contra qualquer tipo de discriminação (igual-


dade no trato com a lei);
lutando pelo direito à vida (contra o aborto);
apoiando o pacifismo (não à violência, à guerra);
lutando contra a corrupção – não sendo corruptor nem corrupto;
ajudando e orientando migrantes e desempregados;
organizando palestras sobre higiene, saúde, drogas, em associações de
bairros;
participando da vida política do país.
O cristão busca inspiração em Jesus e no seu amor. Ele ensinou no Evange-
lho de João 15.12: Amai-vos como eu vos amei. No Evangelho de Mateus 25.31-46
é mostrado que os que creram e produziram os frutos terão a vida eterna.
No livro O Homem e o Sagrado, o professor Jonas Dietrich descreve a pessoa de Jesus e o
seu ensino. Diz: “No ensino de Jesus, encontramos a expressão mais íntima de seu extra-
ordinário sentimento de amor para com todas as pessoas. Este amor (ágape) é, sem dúvida,
a lição mais dura e desafiadora que Deus, na pessoa de Jesus, deixou como exemplo aos
seus discípulos, para que estes atuassem como instrumentos retransmissores deste senti-
mento às demais pessoas em palavras, pensamentos e atos”. (SEIBERT, 2002).

Muitos acham entediante fazer a leitura da Bíblia. Tem gente que tem até
vergonha de carregar a Bíblia. Mas por outro lado, podemos encontrar neste livro
temas interessantes para o nosso dia-a-dia. Lá nós encontramos a palavra de Deus.
Aliás, como afirmam os cristãos, a Bíblia é a palavra de Deus. Lá nós encontra-
mos aquilo que Deus deseja para cada um. Não conheço nenhum livro que tenha
uma mensagem tão bonita como esta.

1. Leia na Bíblia Sagrada o Salmo 23 e relate o que descobriu nesta poesia.

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2. Leia também o texto de Provérbios, capítulo 1, e escreva sobre o sentido do texto em, no máximo,
dez linhas.

3. O que a Parábola do Filho Pródigo nos ensina para a vida? Lucas 15.11-32.

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O Cristianismo II

Ler pelo menos uma das parábolas de Jesus e refletir: como aplicar esta parábola no século XXI.

Como é possível a experiência de perdoar o próximo e amá-lo, mesmo depois de saber que aqui
incluímos também os nossos inimigos?

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A Reforma do século XVI

N
o século XVI, causas religiosas, políticas, econômicas e sociais deram origem à Reforma Lu-
terana. Com isso, chegamos à segunda grande divisão do Cristianismo e o fim da hegemonia
da Igreja Católica no Ocidente. O personagem principal desta história chama-se Martin Lu-
ther (Martinho Lutero – 1483-1546). Doutor em Teologia, Lutero estudou a Bíblia e lutou para retor-
nar à essência do Cristianismo. Notou os desvios do catolicismo e chamou a Igreja à reforma. Queria
reformar a sua própria Igreja, a Igreja Católica Apostólica Romana. As resistências, as discussões
teológicas e a sua excomunhão levaram ao surgimento de um novo movimento: o Luteranismo.

Introdução
Nos séculos XV e XVI, a Europa viveu um período de intensas mudanças políticas, científicas e
culturais, que marcaram a transição da Idade Média para a Era Moderna. O sistema feudal estava em
crise, as cidades floresciam e a burguesia ganhava força como classe social. O movimento renascen-
tista, iniciado no século XIV, influenciava a arte e o pensamento europeus. A invenção da Imprensa
por Gutenberg, em 1450, possibilitava a popularização de textos clássicos e da Bíblia, cujos estudos
e a leitura, até então, eram restritos ao clero. A Inquisição, comandada pela Igreja Católica Romana,
condenava à fogueira todos aqueles que ameaçavam sua doutrina ou seu poder político. Portugueses,
espanhóis e ingleses davam início às grandes navegações, já que a tomada de Constantinopla pelos
turco-otomanos, em 1453, havia fechado o caminho mais curto para as Índias, onde mercadores euro-
peus buscavam especiarias – esse fato foi marcante para o descobrimento da América, em 1492, por
Cristóvão Colombo, e do Brasil, em 1500, por Pedro Álvares Cabral.
O período foi marcado também pelo fortalecimento das monarquias nacionais, o que suscitava uma
oposição cada vez mais forte às ingerências da Igreja Católica na vida política e civil dos europeus.
Este é o quadro que encontramos na época de Lutero, por volta de 1500. É um resumo histórico
de uma época que nos leva a horas de leitura agradável, notando a mudança de mentalidade de um
mundo oprimido pela estagnação da história.

Lutero
Wikipédia.

Pode ser que você não tenha lido nada sobre ele, mas vai des-
cobrir na sua história que a vida e as coisas não são mero acaso. Ele
acreditava que por trás de suas ações, dos seus escritos e das suas
decisões, Deus estava presente e o conduziu à Reforma de 1517.
Aqui vai um breve resumo da sua história.

Martinho Lutero.

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O meio familiar e a educação


Lutero nasceu no dia 10 de novembro de 1483 em Eisleben, uma pequena
cidade da Alemanha. Seus pais eram de origem camponesa e eram religiosos tra-
dicionais. Seu pai adquiriu, pouco a pouco, certo bem-estar por seu trabalho na
extração mineira. Não havia na família nem sacerdotes nem monges. Segundo
depoimentos do próprio Lutero, sua educação foi severa e algumas vezes foi cas-
tigado fisicamente a ponto de fugir de seu pai. Disse ainda que numa determinada
vez, por ter pegado uma noz indevidamente, apanhou de sua mãe até sangrar.
Sua formação escolar ocorreu em três etapas:
de 1488 a 1497, freqüentou a escola municipal de Masfeld. Ali aprendeu
os rudimentos do latim, o canto e, com toda a certeza, as expressões prin-
cipais da fé cristã: os dez mandamentos, o pai-nosso, a ave-maria, o cre-
do. Os métodos empregados na escola eram os tradicionais, fundados em
particular na memorização e sem excluir o uso freqüente de pancadas;
de 1498 a 1501, foi aluno em Eisenach. Ali freqüentou a “escola do Trí-
vio”, uma escola que ensinava as três disciplinas fundamentais: a gramá-
tica, a retórica e a dialética;
em 1501, Lutero iniciou seus estudos universitários em Erfurt, uma das
principais universidades alemãs da época. A Faculdade de Direito, à qual
o pai de Lutero o encaminhou, tinha uma boa reputação. Como era de
costume, diferente das Universidades hoje, ele começou estudando du-
rante três anos na Faculdade de Artes. Nesse ciclo, se formou nas dis-
ciplinas tradicionais: gramática, dialética e retórica, que constituíam o
trívio; geometria, aritmética, música e astronomia (quadrívio). Teve que
participar também de cursos de ética e de metafísica. A familiaridade
de Lutero com a lógica aristotélica e seus conhecimentos da ética e da
metafísica, do mesmo Aristóteles, remontam ao ensino recebido durante
esses anos. Em 1502 tornou-se bacharel, o que lhe permitiu ensinar aos
principiantes a gramática, a retórica e a lógica. A 7 de janeiro de 1505
recebeu o grau de mestre. Durante esse tempo, participou de cursos e
ministrou outros. Era igualmente incumbido de tomar parte em debates
acadêmicos, exercício tradicional das universidades na época.

O monge
Como Lutero tornou-se monge se estava estudando Direito?
Lutero mesmo conta a sua história, mais tarde, numa das conversas à mesa.
Referiu-se ao temporal que o surpreendera a 2 de julho de 1505 perto de Stotter-
nheim. Aterrorizado por um raio que quase o fulminara, o jovem homem excla-
mara: “Ajuda-me, Santa Ana, que me tornarei monge”. De volta a Erfurt, o estu-
dante despediu-se de seus amigos e submergiu, a 17 de julho de 1505, no convento
dos agostinianos da cidade.

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A Reforma do século XVI

Existem outros dados que podem explicar a ida de Lutero ao convento. Me-
lanchton relatou acerca da morte súbita de um amigo pouco antes do aconteci-
mento. Outra fonte diz que Lutero teria sido ferido nos meses precedentes por um
golpe de espada.
A verdade é que havia por trás dos fatos um sentimento de culpa, um medo
da severidade de Deus, como alguém que diariamente cobra das pessoas pelos
seus pecados. Numa de suas prédicas, em 1534, ele relata:
Fui monge por quinze anos, sem contar o que tinha vivido antes. Li com zelo todos os
seus livros e fiz tudo quanto estava ao meu alcance. Em nenhum momento consegui
achar consolo em meu batismo; ao contrário, pensava continuamente: Ó, quando final-
mente poderás tornar-se piedoso e fazer o suficiente, para teres um Deus misericor-
dioso? Através de pensamentos como esse, fui incitado em direção à mongeria, tendo
me atormentado e supliciado através do jejum, do frio e da vida severa. (LUTERO,
1995).

O sacerdote
Entrando para o convento e seguindo a tradição dos monges agostinianos,
Lutero tornou-se um sacerdote. Em 27 de fevereiro de 1507, Lutero foi consagrado
diácono, e em 3 de abril ordenado sacerdote. No dia 2 de maio celebrou sua pri-
meira missa na presença de seu pai. Na parte central da celebração, no momento
do ofertório, Lutero foi tomado por uma angústia súbita. “Quem é aquele com
quem tu falas?”. Teria dito ele para si mesmo, segundo seu testemunho de 1540.
“A partir desse momento li a missa com um intenso pavor.” Ao que parece, tratou-
se do temor de aproximar-se de maneira direta da majestade de Deus. A angústia
continuou por um tempo. Lutero sentia o peso de uma imagem de Cristo esboçada
essencialmente como juiz.

Os estudos para o ensino de Teologia


Estudar Teologia foi o caminho para Lutero encontrar respostas às suas
angústias. Foi também o caminho para descobertas importantes e para a Re-
forma de 1517.
Começou seus estudos em 1507. De outubro de 1508 ao outono de 1509,
mudou-se para Wittenberg, a fim de aí prosseguir seus estudos e assumir
cursos na faculdade de Artes.
Em março de 1509, tornou-se bacharel em Bíblia na Faculdade de Wit-
tenberg.
Em outubro de 1512, obteve o grau de Doutor e começou a ensinar. Pas-
sou a comentar a Bíblia para os estudantes da Faculdade de Teologia de
Wittenberg.
Entre 1513 a 1518, seu ensino abordou sucessivamente os Salmos, de-
pois as Epístolas aos Romanos, aos Gálatas e aos Hebreus.
Depois de 1509, utilizou-se uma nova tradução de Aristóteles. Havia
um cuidado especial no ensino do grego e do hebraico, sobretudo a
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Cultura Religiosa

partir de 1517-1518, quando foram fundadas novas cátedras para essas


disciplinas.
A partir de 1511, foi-lhe confiada a pregação em seu convento. Pouco
depois tornou-se subprior e regente de estudos. Vigário de distrito após
1515, passou a ser o responsável por 10 a 20 conventos em Meissen e na
Turíngia.

A crise interior
A entrada na vida monástica não acalmou Lutero. Não encontrava paz inte-
rior, vivia angustiado. Num de seus relatos ele mesmo diz:
Eu me martirizava com a oração, o jejum, as vigílias, o frio. [...] Que procurava com isso,
senão a Deus? Ele sabe com quanto zelo observei minha regra (monástica) e que vida
severa eu levava [...] Pois eu não confiava em Cristo, antes o tomava por nada além de
um juiz severo e terrível, tal como se costuma pintá-lo assentado sobre o arco-íris. (LIE-
NHARD, 1998).

A chave para o problema de Lutero foi encontrada com muito estudo das
Escrituras (Bíblia). Compreendeu que a justiça de Deus, da qual nos fala o Evan-
gelho, não é aquela de Deus juiz, mas a aceitação do ser humano pecador por
Deus, a dádiva de Cristo concedida por Deus ao ser humano. É unido a Cristo na
fé que o ser humano poderá viver, ou seja, subsistir diante de Deus. Foi na carta
do Apóstolo Paulo aos Romanos que Lutero encontrou um versículo desafiador
que diz: “O Justo viverá por fé”. A justiça de Deus, que é dada pela fé, que está
assentada tão-só em Deus e em sua misericórdia.

O conflito com a Igreja tradicional


O nome de Lutero começou a aparecer na Igreja a partir de 1517, quando ele
atacou pela primeira vez a questão das indulgências. Para ele, elas desferiam um
duro golpe na sinceridade da penitência.

O que eram as indulgências?


Eram entendidas como a remissão, pela Igreja, de uma pena que tinha sido
imposta ao penitente, depois que ele tinha confessado sua falta e recebido a absol-
vição. Isso, por sua vez, baseava-se na idéia de que um ato pecador compreendia
não apenas uma falta, mas também uma pena que o pecador devia cumprir sobre
a terra ou no purgatório.
A prática das indulgências existia desde o século XI. No início, só abrangiam as penas im-
postas pela Igreja na vida terrena. Posteriormente foram estendidas àquelas do purgatório,
abrangendo aí também aquelas que se referiam às pessoas já falecidas. As indulgências
ajudavam a enriquecer o tesouro da Igreja e veio com o tempo atender às necessidades finan-
ceiras do papado. A indulgência contra a qual Lutero iria se levantar tinha sido promulgada
em 1506 e renovada em 1517. As somas recolhidas estavam destinadas a financiar a cons-
trução da basílica de São Pedro em Roma. Uma percentagem cabia ao arcebispo Alberto de
Mogúncia, que organizava na Alemanha a venda das indulgências, empregando os serviços
de Tetzel. A aquisição de uma indulgência custava 1 florim para o artesão e 25 florins para

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A Reforma do século XVI

os reis, príncipes e bispos. Para se ter uma idéia, o custo de subsistência de uma pessoa im-
portava em 1 florim para uma semana. (LIENHARD, 1998).

Para Lutero, o cristão precisava de um arrependimento verdadeiro. A in-


dulgência não poderia dispensá-lo, pois em caso contrário o cristão tornar-se-ia
vítima de uma falsa segurança.
Por isso, quando escreve as 95 teses, de 31 de outubro de 1517, Lutero es-
creve: “Ao dizer: fazei penitência, [...] nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo quis
que toda a vida dos fiéis fosse penitência” (tese número 1). “Seja excomungado e
maldito quem falar contra a verdade das indulgências apostólicas” (tese 71), mas
não se deveria aí depositar sua confiança (teses 32, 49, 52), e, sim, “ensinar aos
cristãos que, dando ao pobre ou emprestando ao necessitado, procedem melhor do
que se comprassem indulgências” (tese 43). Lutero chegou à base da doutrina das
indulgências, ao definir o tesouro da Igreja. Não estariam em questão os méritos
excedentes de Cristo e dos santos, mas “o verdadeiro tesouro da Igreja é o Santís-
simo Evangelho da glória e da graça de Deus”.
Resumindo, indulgência era um documento que vendia perdão dos pecados.
As pessoas poderiam comprar perdão para si ou para qualquer outra pessoa, ami-
go, familiar, mesmo que já estivessem mortos. Foi a gota d’água para que Lutero
publicasse, no dia 31 de outubro de 1517, as 95 teses, que falam sobre os abusos
da Igreja. Ele deseja uma reforma, uma revisão das posições teológicas da mesma.
Para Lutero, qualquer cristão verdadeiramente arrependido tem direito à remissão
plena de pena e culpa, mesmo sem carta de indulgência.
Lutero não tinha uma idéia clara da repercussão que teriam as suas teses e
o eco que isso causaria, mas tinha uma convicção: não estava falando nada que
fosse contra os princípios bíblicos. Ele mesmo diz:
Em primeiro lugar, protesto que absolutamente nada quero dizer ou sustentar senão o que
é e pode ser sustentado primeiramente nas Sagradas Escrituras e a partir delas, depois em
e a partir dos Pais da Igreja aceitos e até agora conservados pela Igreja Romana e, por fim,
a partir dos cânones e das decretais pontifícias. (LUTERO, 1995).

Sempre gostei de ler sobre Lutero. Especialmente porque sempre achei seus
textos atuais, por parecer que está falando dos problemas da nossa época. Interes-
sante é que Lutero sempre encontrou respostas para suas aflições nas Escrituras
Sagradas. Era a sua fonte de vida, fonte de inspiração. Lutero mostrou que aí está
um manual seguro de orientação para a vida.

1. Como você analisa a presença de Deus na trajetória de Lutero?

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2. Na sua visão, a idéia de Lutero era ser um novo Papa ou seu desejo era somente corrigir erros
teológicos da Igreja a qual ele pertencia?

3. Qual foi a importância da Reforma para a evolução do pensamento humano?

A indicação de leitura são as obras de Lutero já traduzidas para o português. Já existem nove
livros traduzidos com as principais idéias do reformador.
LUTERO, Martinho. Obras Selecionadas. Porto Alegre: Concórdia, 1995.

Numa reflexão mais aprofundada é possível considerar a Reforma Luterana como uma obra
atual. Quais os aspectos possíveis de se aplicar no nosso cotidiano?

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A Reforma Luterana –
pensamento

H
oje, quando falamos em Reforma Luterana, buscamos entender alguns as-
petos importantes que nos reportam para o século XXI. Quando falamos
em causas da ruptura com o catolicismo, podemos aventar várias pos-
sibilidades. Seriam causas econômicas, políticas, nacionalismo, individualismo
renascentista e uma preocupação crescente pelos abusos eclesiásticos. Tudo isso
se percebe. Mas o fato é que a causa básica foi a religiosa. Lutero tinha a intenção
única de reformar a sua querida Igreja, que era a Igreja Católica Apostólica Roma-
na. Como não foi compreendido e acabou excomungado, a solução foi seguir com
os seus simpatizantes para um outro caminho. Surge assim o Luteranismo. Lutero
não desejava esse nome. Ele mesmo disse: “peço que deixem de lado o meu nome
e não se chamem luteranos, mas cristãos”. (LUTERO, 1995).

A base de Lutero
Todos os fundamentos doutrinários de Lutero são bíblicos. Estudioso da
Bíblia e professor de Teologia, ele estava convicto de que a palavra de Deus era
fonte para a vida. É com base neste conjunto de livros que ele busca força para
contrapor todos os abusos cometidos pela Igreja de sua época. Foi da Bíblia,
no livro de Romanos, que Lutero entende a justificação pela fé: “Visto que a
justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: o justo
viverá por fé” (Romanos 1.17). Significa que o homem é justificado por Deus
pela fé e não pelas obras. Isso se opõe à idéia de que o povo precisava comprar
as indulgências para ser salvo.
O grande diferencial apontado por ele nos textos é a insistência nas palavras de ordem:
“apenas Deus; apenas as escrituras e apenas a Graça”. Esta última só é conseguida me-
diante a conscientização e fé nas duas anteriores. A justificação pela fé move e alicerça
o Protestantismo. Porém, esta graça nos vem de graça, nos é dada de forma gratuita por
Deus, sem intermediários ou simonias. “Para recebermos a salvação pela graça que vem
apenas por meio do Senhor Jesus é preciso que haja uma sinceridade e absoluta confiança
em Deus e na Sagrada Escritura”. (MARQUES, 2005, p. 203).

Na dieta1 de Worms, em março de 1521, Lutero foi convidado a se retratar. 1 Dieta: Assembléia Legis-
lativa que reunia todas as
Pediu um prazo para dar a resposta e quando voltou “falou como um profeta de forças políticas da Alemanha,
convocada pelo imperador,
Deus: se não lhe provassem pela Escritura Sagrada que tinha escrito algo contrá- com a finalidade de discutir
assuntos de interesse civil e
rio à doutrina cristã, não se retrataria”. (STEYER, 2000, p. 130). religioso.

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Pensamento de Lutero
Além do sucesso da Reforma do século XVI, Lutero foi um incansável es-
critor. Depois de ser excomungado, em 26 de maio de 1521, ele foi “seqüestrado”
por um amigo seu, Frederico, o sábio. Assim:
Durante aproximadamente dez meses no Castelo de Wartburgo, escreveu diversas obras
teológicas, destacando-se, porém, a sua tradução do Novo Testamento do original grego
para o alemão. Uma obra mestra, pois graças ao seu talento e conhecimento lingüístico,
conseguiu unificar os cerca de duzentos dialetos existentes numa única língua padrão.
(STEYER, 2000, p. 130).

A Igreja tenta silenciar Lutero


Apesar da alegria de muita gente em ter visto Lutero atacar o comércio de
indulgências, naturalmente, outras pessoas o odiaram. Principalmente os amigos
dominicanos de Tetzel, um dos grandes interessados em arrecadar dinheiro. Os
mesmos começaram a espalhar mentiras sobre Lutero. Ao ouvir essas mentiras, o
imperador Maximiliano I escreveu para o papa instando com ele para que fizesse
alguma coisa a respeito de Lutero.
A situação começou a ficar difícil para o monge. Para piorar, ele acabara
de pregar um sermão vigoroso sobre a excomunhão, afirmando que uma pessoa
excomungada iria para o Céu caso conservasse a fé no coração. Se o povo acre-
ditasse nisso, a Igreja perderia a sua mais potente arma. Assim, o papa Leão X
tomou providências e convocou Lutero para apresentar-se em Roma, a fim de ser
examinado. Em seguida, o papa modificou esta ordem e disse ao cardeal Caetano
que prendesse Lutero. Posteriormente, o papa deu instruções no sentido de que,
se Lutero se arrependesse de seus ataques, fosse liberado; caso contrário, a Igreja
devia puni-lo com a excomunhão.
Pelo menos Lutero tinha um protetor. Tratava-se do eleitor Frederico, o sá-
bio, da Saxônia. Frederico tinha em alta estima o seu professor de religião. Muitos
dos seus oficiais, incluindo o pregador da corte, George Spalatin, estavam do lado
dele e de Frederico. O eleitor estava decidido a fazer com que Lutero tivesse um
julgamento justo, o que não aconteceria se seus inimigos conseguissem pôr as
mãos nele. Assim sendo, Frederico, engenhosamente, tornou ineficazes todas as
suas tentativas de retirar Lutero de sua proteção.
Em outubro de 1518, Lutero teve três encontros com o cardeal Caetano. O car-
deal tinha ordens expressas de Roma para não entrar em debate público com Lutero.
Ele seria simplesmente solicitado a retratar-se, ou seja, desdizer o que havia declarado
oralmente ou por escrito. Se fizesse isso, seria perdoado e voltaria a ser novamente um
“verdadeiro filho da Igreja”. Caso contrário, outras medidas seriam tomadas.
Lutero tomou uma postura humilde diante de Caetano, mas mesmo assim
não chegaram a um acordo. Lutero disse que não iria se retratar, a menos que al-
guém mostrasse, pela Bíblia, que ele estava errado. Caetano não podia fazer isso.
Por fim, o cardeal zangou-se e ordenou que Lutero se retirasse e só se apresentasse
novamente quando estivesse pronto a se retratar.
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A Reforma Luterana – pensamento

Dias depois, Lutero viu a cópia de um anúncio feito pelo papa, no qual era
chamado de herege, ou seja, aquele que acredita ou ensina doutrina falsa. O papa o
tinha declarado culpado sem nem mesmo ouvir as suas razões. Caetano escreveu
a Frederico chamando Lutero de herege e pedindo que ele fosse mandado a Roma
ou forçado a abandonar a Saxônia. Lutero defendeu-se das acusações de Caetano
e disse que apelaria para um concílio geral da Igreja.
Frederico estava numa enrascada. Não sabia se entregava Lutero ou não. Vol-
tou-se para os seus professores universitários à procura de conselho. Praticamente
todos eles estavam ao lado de Lutero. Frederico queria cumprir o seu dever cristão.
Se Lutero estivesse certo, ele cometeria um pecado contra Deus por entregá-lo
aos seus inimigos. Se estivesse errado, então certamente haveria homens bastante
instruídos na Igreja para demonstrar os erros dele. Mas isso só poderia ser feito se
dessem a Lutero uma boa chance para explicar e defender as suas idéias.
Conversando com o papa, Frederico conseguiu fazer com que um represen-
tante seu visitasse a Saxônia e conversasse com Lutero. O homem escolhido foi
Charles Von Miltitz. Ele era da Saxônia e parente de Frederico. Enquanto atra-
vessava a Alemanha, Miltitz foi descobrindo que muita gente estava ao lado de
Lutero e que Frederico não o entregaria. Após conversar com Lutero, Miltitz disse
que faria um relatório favorável ao papa. Lutero prometeu que pararia de pregar
contra as indulgências se seus inimigos parassem de atacá-lo. Também permitiu
que um bispo alemão examinasse seus ensinos e apontasse neles quaisquer erros.
Os dois homens se despediram em paz. Com o relatório entregue em Roma, o
papa perdoou Lutero e lhe deu as boas vindas de reingresso na Igreja. Ele esta-
va ansioso para acabar de vez com as dificuldades na Alemanha, porque outros
problemas lhe ocupavam a mente. Inesperadamente, porém, morreu o imperador
Maximiliano. As questões eclesiásticas foram esquecidas por um pouco, enquanto
um novo imperador tinha sido escolhido. Deus estava dando a Lutero um pouco
mais de tempo.

A excomunhão de Lutero
Lutero havia concordado em permanecer em silêncio se os seus oponentes
também o fizessem. Mas eles não cumpriram a parte deles no acordo.
O primeiro debate sobre as teses de Lutero foi marcado para a cidade de
Leipzig. O doutor Carlstadt, de Wittenberg, e o doutor Eck, de Ingolstadt, seriam
os debatedores. Este último, naturalmente, estava disposto a atacar e acabar com
Lutero, que foi junto com Carlstadt na esperança de que pudesse ter uma chance
de tomar parte no debate e defender-se contra as acusações de Eck. Em junho de
1519, Lutero cavalgou as 40 milhas (cerca de 65 quilômetros) até Leipzig, junto
com vários outros professores de Wittenberg. Duzentos estudantes com espadas e
alabardas foram juntos para protegê-lo.
O debate foi realizado no castelo do duque George. Segundo as regras, um
dos contendores devia levantar-se e falar durante meia hora. Em seguida, seria a
vez do outro. Estas notas seriam enviadas a várias Universidades para avaliação.
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Cultura Religiosa

Durante a primeira semana, Eck disputou com Carlstadt. Confiando em sua


memória extraordinária, Eck não fazia uso de notas nem de livros. Carlstadt, pelo
contrário, consultava uma pilha de livros à medida que falava. Isso era cansativo
para a audiência, mas os argumentos de Carlstadt pareceram mais consistentes
quando os registros foram mais tarde lidos e julgados. Notando isso, Eck solicitou
que as regras do debate fossem alteradas, de modo que nenhum livro pudesse se
consultado durante a discussão. A audiência apoiou a idéia. Daí para frente, Carls-
tadt começou a perder terreno no debate.
Lutero assumiu o lugar de Carlstadt em 4 de julho de 1519. O ponto princi-
pal da discussão era: “Como e quando o papa tornou-se o cabeça da igreja cris-
tã?” Eck insistia em que Cristo mesmo fez de Pedro o primeiro papa. Lutero, até
historicamente, mostrava que depois de Cristo passaram-se centenas de anos sem
que houvesse papa algum. Pedia a Eck, acima de tudo, argumentos da escritura.
Eck fazia referência aos escritos dos pais da Igreja Primitiva e às leis e decretos
dos concílios. Lutero disse: “com todo o respeito devido aos pais, prefiro ater-me
às sagradas escrituras”.
Ao ver que Lutero estava levando a melhor no debate, Eck comparou-o a
João Huss. Huss tinha sido queimado como herege em 1415, mas os seus segui-
dores mantinham vivas as suas idéias. O povo desta parte da Saxônia odiava os
hussitas porque eles tinham freqüentemente invadido terras saxônicas e destruído
muitas propriedades. Quando Lutero replicou que algumas das idéias de Huss
eram corretas, muitos da audiência ficaram contra ele. Depois de mais algum de-
bate sobre a penitência, indulgências e purgatório, a discussão chegou ao fim. Os
partidários de Eck achavam que ele tinha ganho o debate e, depois disso, o papa
passou a considerá-lo um paladino na luta contra as falsas doutrinas. Os amigos
de Lutero, por sua vez, estavam igualmente orgulhosos do seu campeão; afinal, ele
não tinha arrefecido diante do grande João Eck.
Este debate levou Lutero a compreender o quanto ele tinha se afastado
dos ensinos de Roma. Para ele, a Bíblia era infinitamente mais importante do
que todos os escritos dos pais eclesiásticos. Na Escritura era Deus quem fala-
va, não os homens. Viesse o que viesse, a consciência de Lutero estava cativa
à palavra de Deus.
Em 1520, Lutero escreveu vários tratados importantes. Ele disse que o papa
não estava acima dos governantes terrenos. Disse também que qualquer cristão,
estudando cuidadosamente, poderia compreender a Escritura tão bem quanto o
papa e censurou ainda as vidas dissolutas de muitos dos líderes da Igreja.

Algumas controvérsias teológicas


A Igreja Católica Romana ensina que há sete sacramentos. Lutero afir-
mou que na realidade há apenas três – Batismo, Ceia do Senhor e Pe-
nitência – e ele não estava muito certo acerca deste último. A Igreja
ensinava que o único caminho para Deus era por meio de mediação do

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A Reforma Luterana – pensamento

sacerdote. Lutero disse que todos os homens são sacerdotes e podem ir


diretamente a Deus.
A Igreja Romana ensinava que na Ceia do Senhor o pão e o vinho são
transformados pelo sacerdote no corpo e sangue de Cristo. O sacerdote,
pois, “sacrifica” o corpo e o sangue de Cristo pelos pecados do povo. Lu-
tero negou isso e mostrou, com base na Bíblia, que a morte de Cristo na
cruz pagou por todos os pecados uma vez e para sempre, e que seu corpo
não necessita ser sacrificado novamente. A escritura também deixa claro
que no sacramento do altar, o pão e o vinho permanecem, mas o crente
recebe com eles também o verdadeiro corpo e sangue de Jesus. Lutero
argumentava que ao povo devia ser dado não apenas o pão, mas também
o vinho, porque foi desta maneira que Jesus ministrou a Santa Ceia aos
seus discípulos.
Lutero mostrou como um cristão devia ser “um senhor livre, não sujeito
a ninguém” e, ao mesmo tempo, “servo de todos, a todos sujeito”. Em
nos dando o Céu como presente, Deus nos libertou de todos os temores.
Em agradecimento a Deus por esta liberdade, o Cristão não pode deixar
de servir aos outros por meio de obras de amor e benevolência.

A bula papal
Enquanto Lutero escrevia, Eck encontrava-se a caminho de Roma. Lá che-
gando, fez um relatório sobre o debate de Leipzig. A cúria, ou corte da Igreja,
realizou então uma reunião especial. Com a ajuda de Eck e Caetano, redigiram
uma lista de 41 erros cometidos por Lutero. Foi, então, enviada a ele uma bula ou
carta papal, exigindo que se retratasse dos seus falsos ensinos dentro de 60 dias,
caso contrário, seria excomungado.
Se o papa pensava que essa bula amedrontaria Lutero e o reduziria ao silên-
cio, estava enganado. Muita gente estava alegre porque Lutero teve a coragem de
pôr a descoberto as coisas que estavam erradas no seio da Igreja. Frederico, o Sá-
bio, tinha decidido proteger Lutero. Mais importante que tudo, Lutero não podia
parar de proclamar ousadamente a verdade do evangelho.
Eck foi encarregado da perigosa tarefa de anunciar a bula papal na Alema-
nha. O povo rasgou os seus cartazes e o ameaçou, de modo que se deu por satis-
feito em retornar vivo a Ingolstadt.
Alguns dos inimigos de Lutero queimaram seus livros em praça pública. Quan-
do Lutero soube disso, fez ele próprio também a sua fogueira. No dia 10 de dezembro
de 1520 – fim do prazo dado pelo papa para que ele se retratasse, distribuiu o anúncio
de sua própria queima de livros. Fora dos muros de Wittenberg, Lutero queimou os li-
vros de direito canônico e dos escritos dos padres. Aproveitou também para queimar
a bula papal. O rompimento de Lutero com a Igreja tinha acontecido finalmente.

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Cultura Religiosa

Declarado herege
Em janeiro de 1521, o papa declarou Lutero herege e o excomungou. Isso
significava que ele, à semelhança de um galho morto, solto da árvore, estava des-
vinculado da Igreja. Seus livros foram queimados e os seus seguidores foram
exortados a abandoná-lo.
Aleander, o mensageiro do papa na Alemanha, tentou conseguir que o novo
imperador, Carlos V, declarasse Lutero um fora-da-lei. Se isso fosse feito, ele seria
caçado e morto como um animal.
Lutero foi convidado para ir à cidade de Worms. Lá aconteceria uma Dieta,
uma espécie de Concílio, onde ele seria examinado e interrogado, mas não lhe
seria permitido argumentar ou explicar seus ensinos. O imperador enviou a ele um
salvo-conduto, uma carta prometendo que estaria em segurança.
No dia 17 de abril de 1521, Lutero foi levado ao palácio do bispo, onde o
imperador e a Dieta estavam reunidos. O recinto estava lotado. Ao longo das pare-
des havia soldados espanhóis e alemães em formação. Havia príncipes, eleitores,
bispos e cavaleiros por todos os lados. Todos sabiam o que estava por trás desta
reunião. O poder do papa tinha sido desafiado. Se o papa quisesse manter sua au-
toridade, Lutero devia confessar que estava errado.
O inquiridor lançou uma pergunta dupla a Lutero: “Dr. Lutero, o senhor ad-
mite que escreveu estes livros e que estava errado no que escreveu?” Um a um, os
títulos dos 25 livros que estavam empilhados sobre uma pequena mesa foram lidos
em voz alta. Então Lutero respondeu à primeira pergunta: “Sim, estes livros são
meus; eu os escrevi, e escrevi ainda outros”. Quanto à pergunta sobre a retratação,
Lutero disse: “Esta pergunta diz respeito a Deus, à sua palavra e à salvação de al-
mas. Peço que me dêem algum tempo para pensar no assunto”. (LUTERO, 1995).
O imperador deu-lhe um dia para pensar e responder.
No outro dia sua resposta foi clara e simples: “A menos que me conven-
çam, pela escritura ou por razões claras, de que estou errado, eu permaneço
constrangido pelas escrituras. Não posso me retratar. Deus me ajude. Amém”
(LUTERO, 1995).
Um grande rumor de vozes eclodiu na sala. O imperador abandonou a sala e
a reunião foi encerrada. Enquanto muitos dos amigos de Lutero o aplaudiam, seus
inimigos pediam para que ele fosse queimado como herege. Houve outras tentati-
vas de convencer Lutero a retratar-se, mas sempre em vão. Sua resposta era sempre
a mesma: convençam-me pela Escritura. No dia 26 de abril, Lutero e seus três ami-
gos deixaram Worms e retornaram a Wittenberg. A qualquer momento poderiam
dar fim a sua vida, mas ele colocava-se inteiramente nas mãos do seu Criador.

O exílio
Um mês depois, no dia 26 de maio de 1521, o imperador Carlos V assinou
o Edito de Worms. Este documento fazia de Lutero um fora-da-lei, um proscrito.
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A Reforma Luterana – pensamento

Ninguém devia ter qualquer negócio com ele. Todo cidadão estava no dever de
capturá-lo e entregá-lo às autoridades. Ele podia ser morto se avistado. Mas um
amigo seu, Frederico, seqüestrou Lutero e o escondeu no castelo de Wartburgo até
que as coisas se acalmassem.
No castelo, Lutero aproveitou para trabalhar. Escreveu livros, panfletos e
cartas que eram levados a uma impressora; as cópias logo começaram a ser es-
palhadas por toda a Alemanha. O povo lia com alegria, pois isso significava que
Lutero ainda estava vivo e escrevia para eles. Deu início ao trabalho de tradução
do Novo Testamento grego para o alemão. Em 11 semanas o trabalho estava con-
cluído. Agora, muito mais gente poderia vir ao conhecimento de Jesus por meio da
Bíblia, como tinha acontecido com ele próprio. Escreveu também um catecismo
com dicas para a melhor vivência cristã.

A volta
A Câmara Municipal de Wittenberg enviou uma carta a Lutero para que
ele voltasse do exílio. Havia acontecido algumas confusões, principalmente por
parte de homens que queriam adiantar o processo de reforma e impostores que se
diziam profetas do Senhor. De volta ao seu próprio púlpito, Lutero pregou uma
série de contundentes sermões ao seu povo, urgindo com os moradores da cidade
a que fossem pacientes e deixassem a palavra de Deus operar nos corações dos
homens. “Quando tivermos conquistado os corações dos homens, os males mor-
rerão por si mesmos”. Nunca devemos usar a força. A vida inteira do cristão deve
ser de fé e amor, disse ele aos seus ouvintes.
Nunca foi intenção de Lutero fundar uma nova Igreja. Seu estudo da Bíblia
o convenceu de que muita coisa ensinada pela Igreja do seu tempo era de invenção
humana. Lutero desejava que a Igreja parasse de ensinar esses erros e retornasse à
doutrina pura, conforme ensinada por Cristo e seus apóstolos.

O casamento de Lutero
O celibato obrigatório fora introduzido por Gregório VII, em 1075. É de
origem pagã. A Escritura Sagrada, tanto do Antigo como do Novo Testamento,
ordena o casamento para os sacerdotes. “É necessário que o bispo seja irrepreensí-
vel, esposo de uma só mulher. E que governe a sua própria casa, criando os filhos
sob a disciplina, com todo o respeito” (1Timóteo 3.2).
Lutero casou-se com Catarina von Bora, ex-freira. Catarina entrou no con-
vento contra a sua vontade. Sem vocação, abandonou a vida religiosa e, aos 26
anos, casou-se com Lutero, que tinha 42 anos.
Tiveram seis filhos: João, Elisabeth, Madalena, Martin, Paulo e Margarete.
Foi um lar feliz, com muito respeito, amor, muita música e canto. Mas foi de lágri-
mas também, quando o casal perde a pequenina Elisabeth, com menos de um ano
de idade e mais tarde a outra filha, Madalena, com apenas 13 anos de idade.
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Cultura Religiosa

A morte de Lutero
E um dia teria de acontecer. O importante é que Lutero fez a sua parte. Era
hora de descansar, depois de longos anos de trabalho, como diz o texto:
A longa vida monástica entre jejuns e vigílias, as múltiplas horas de estudo, aulas, confe-
rências, entrevistas, as penosas viagens realizadas, a enorme produção literária e, sobretu-
do, a responsabilidade da liderança espiritual da Reforma, bem como a ameaça constante
do espectro do Edito de Worms, abalaram a sua saúde física. Assim, aos 62 anos de idade,
Lutero veio a falecer. (STEYER, 2000, p. 137).

E continua o texto:
Na madrugada de 18 de fevereiro de 1546, assistido pelo seu confessor, doutor Justo Jo-
nas, e pelo capelão Célio, de Masfeld, confessou sua fé em Cristo Jesus. Recitou por três
vezes o versículo bíblico de João 3.16: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que
deu o seu filho unigênito (Jesus Cristo), para que todo aquele que nele crê não pereça, mas
tenha a vida eterna”, e com as palavras do Salmo 31.5 “Nas tuas mãos entrego o meu es-
pírito; tu me remiste, Senhor, Deus da Verdade”, entregou sua alma nas mãos do criador.
(STEYER, 2000, p. 138).

Seu corpo foi sepultado ao lado do púlpito da Catedral de Wittenberg, do alto


do qual por tantos anos anunciara o evangelho do amor de Deus em Cristo Jesus.

A paz de Augsburgo
A paz assinada em Augsburgo, no ano de 1555, concretiza o reconhecimento
oficial da Reforma por parte do Sacro Império Romano Germânico.
Carlos V convoca uma dieta para a cidade de Augsburgo (Alemanha). Presidida por Fer-
nando, o irmão de Carlos V, a dieta caracterizou-se pelo bom senso, pois se procurou
achar um modus vivendi. Assim, foi assinada a Paz de Augsburgo, na data histórica de
25 de setembro de 1555, que concedia direitos iguais tanto a católicos como a luteranos.
(STEYER, 2000, p. 140).

Foi uma batalha. Não com armas. Talvez o modelo de batalha que o mundo
deveria adotar, substituindo as armas. Lutero usou apenas a palavra, mas seu ar-
gumento foi forte.
Foram 38 anos de longos debates, desde o momento em que Lutero afixou
as 95 teses na porta da Igreja de Wittenberg até a assinatura da paz de Augsburgo.
Isso que a idéia inicial era apenas a simples intenção de conter o abuso da venda
de indulgências. Como diz o texto: “Trinta e oito anos que alteraram o curso da
história, pois devolveu ao homem a mais nobre das liberdades, a liberdade da
consciência”. (STEYER, 2000, p. 140).

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A Reforma Luterana – pensamento

1. Qual foi a base utilizada por Lutero nas discussões da Reforma?

2. Você já conhecia a história da Reforma? O que mais chamou a sua atenção no decurso do texto?

3. Qual é a diferença em dizer que “o homem é salvo pelas obras” ou “que o homem é salvo pela fé”?

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Cultura Religiosa

Nossa sugestão é a leitura do livro:


LIENHARD, Marc. Martim Lutero: tempo, vida e mensagem. São Leopoldo: Sinodal, 1998.

Reflita sobre a situação social, econômica e política na época da Reforma e relacione questões
ainda não resolvidas na nossa sociedade atual.

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A Igreja Luterana
e a Educação

Lutero e a Educação

M
uitos alunos perguntam qual a relação entre a disciplina de Cultura Religiosa e a Univer-
sidade Luterana. Outros querem saber se realmente é importante esse tipo de conteúdo no
contexto social em que vivemos hoje. Respondemos dizendo que a Ulbra é uma instituição
confessional. Surgiu de uma comunidade luterana e tem um papel muito importante na educação do
jovem hoje. A Universidade tem uma filosofia luterana de educação. O aluno que estuda nessa insti-
tuição durante vários anos e consegue a colação de grau será inquirido por amigos e familiares sobre
essa filosofia. Por isso, é importante que pelo menos quatro créditos sejam destinados ao conhecimen-
to da Universidade e de sua filosofia religiosa, com propostas definidas de educação.
Mas para entender essa preocupação pela educação, é necessário um retorno às origens. Va-
mos voltar mais uma vez ao século XVI e ver que Martinho Lutero teve uma preocupação constante
com a educação do povo alemão, principalmente das crianças e dos jovens. O reformador não estava
preocupado somente com a existência de escolas e boas universidades, mas também com a qualidade
de ensino. Para entender bem esse aspecto, é preciso reler alguns textos nessa área e tirar, em ordem
cronológica, as principais idéias de Lutero quanto à educação.
Por volta de 1500, a Igreja Cristã ainda se resumia em Católica Apostólica Romana e Igreja
Ortodoxa, resultado do Cisma de 1054. A Reforma Luterana estava longe de acontecer. Martinho Lu-
tero era um jovem de 17 anos e nem sabia que um dia entraria para alguma ordem religiosa e seguiria
a vida monástica. Ele estava concluindo a escola secundária e o desejo do pai era fazer de seu filho
um grande doutor em Direito. Foi para isso que Lutero entrou na Universidade de Erfurt, uma das
melhores da Alemanha, com aproximadamente dois mil alunos. Sua preparação foi suada, incluindo
leituras dos escritos de romanos famosos e de grandes pensadores gregos. Mas valeu a pena, pois em
setembro de 1502, Lutero recebeu o diploma de bacharel em Artes.
A Reforma aconteceu em 1517. Mas já em 1501, Lutero teve o primeiro contato com a Bíblia.
Em 1505, recebeu o título de mestre em Artes e, no mesmo ano, decidiu ser monge, entrando, assim,
para a ordem dos agostinianos em Erfurt. Sua decisão é surpreendente, difícil de explicar. As razões
estão em algumas crenças populares, no seu medo de Deus e em alguns fatos ocorridos anteriormen-
te. Em 1507, como sacerdote, Lutero reza a primeira missa. Em 1508, torna-se pastor em Wittenberg
e um ano depois inicia suas lições sobre a Bíblia. Em 1510, vai a Roma e se decepciona com o que vê?
Em 1512, recebe o título de doutor em Teologia. Em 1513, expõe os livro de Salmos; em 1515, o livro
de Romanos e em 1516, o livro de Gálatas. Em 1517, Lutero dá início à Reforma, com a publicação
das 95 teses.
Lutero viveu num sistema de educação bem diferente do atual. Ele entrou na escola com quatro
anos e meio. Os meninos aprendiam a ler e falar a língua latina. Os sacerdotes ou estudantes universi-
tários que os ensinavam eram muito rigorosos. Se um menino se comportasse mal ou não soubesse a

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Cultura Religiosa

lição, seu nome era escrito numa lousa chamada de “lista do lobo”. Semanalmente
o professor apagava a lista, depois de dar uma varada no aluno cujo nome consta-
va na lousa. Certa vez, Martinho teve uma semana nada fácil – seu nome apareceu
quinze vezes na “lista do lobo”.
Outro fato interessante aconteceu em Eisenach, na Escola da Igreja de São
Jorge, quando Lutero estava fazendo sua preparação para a universidade. Ele gos-
tava especialmente do diretor, o mestre João Trebonius, que tratava seus alunos
com amor e respeito. Um escritor conta que sempre que Mestre Trebonius entrava
na classe, esse tirava o chapéu e fazia uma inclinação de cabeça para os estudan-
tes. Quando perguntaram-lhe por que fazia isso, respondeu: “Entre estes jovens
discípulos, sentam-se alguns a quem Deus pode fazer nossos futuros líderes e ho-
mens eminentes. Ainda que não os conheçamos agora, é perfeitamente adequado
que os honremos”. (LIENHARD, 1998).
Histórias como essas fazem-nos pensar que essa convivência nas escolas e
universidades tenha dado ao reformador um gosto saboroso pela educação. Para
ele, aí estava o segredo para a liberdade do Homem. Sua preocupação com os
jovens alemães sempre foi muito forte e sua crítica ao modelo educacional de
muitas instituições, principalmente universidades, era procedente. Vamos ver, em
seguida, alguns de seus artigos publicados, os quais questionavam e chamavam a
atenção dos governantes para a importância da educação.
Em 1520, Lutero propõe a reforma nas universidades como parte de um
programa de reforma geral e da sociedade política. Com o tema À nobreza cristã
da nação alemã, acerca da melhoria do estamento cristão, o reformador coloca as
Escrituras Sagradas em primeiro lugar como objeto de estudo, tanto nas escolas
superiores, como nas inferiores. Para entendê-la, era preciso estudar as línguas
e as artes liberais. Aproveitou para criticar os religiosos que pregavam a Palavra
sem conhecer a língua original (o hebraico e o grego). Para ele, a partir do desco-
nhecimento, muitos textos da Bíblia eram mal interpretados.
Em 1522, acontece a publicação do Novo Testamento na língua alemã. Foi o
resultado da preocupação didática de oferecer ao povo, na própria língua, os tex-
tos que fundamentavam os argumentos para que a Reforma continuasse. Em 1534,
toda a Bíblia já havia sido traduzida e distribuída ao povo, graças ao conhecimen-
to do Doutor Martinho Lutero. Podemos lembrar aqui que Lutero foi beneficiado
com o surgimento da imprensa, pouco antes de 1500. Graças a isso, foi possível
espalhar com rapidez entre o povo todo o seu trabalho.
Em 1524, mostrando preocupação e zelo pela educação, Lutero escreve a
Carta aberta aos conselhos de todas as cidades da Alemanha para que criem e
mantenham escolas cristãs. Também argumenta em favor dos estudos clássicos
com vistas à formação de lideranças para a Igreja e o Estado. Caracteriza a edu-
cação como obra do amor cristão, que atende às necessidades individuais e cole-
tivas dos seres humanos. Lutero constatou que em todas as partes da Alemanha
as escolas estavam no abandono, as universidades eram pouco freqüentadas e os
conventos estavam em declínio. Então, convocou os pais e todas as autoridades
para aconselhar a juventude (isso como solução para todos). O argumento princi-
pal foi o seguinte:
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A Igreja Luterana e a Educação

Se anualmente é preciso levantar grandes somas para armas, estradas, pontes, diques e
inúmeras outras obras semelhantes para que uma cidade possa viver em paz e segurança
temporal, por que não levantar igual soma para a pobre juventude necessitada, sustentan-
do um ou dois homens competentes como professores? (LUTERO, 1995).

O reformador põe mais lenha na fogueira e faz um desafio. Para ele, cada
cidadão deveria pensar na quantidade de dinheiro que gastou com indulgências,
missas, vigílias, doações, espólios testamentários, missas anuais por falecimento,
ordens mendicantes, fraternidades, peregrinações e toda confusão de outras tan-
tas práticas desse tipo. Para Lutero, agora que todos estavam livres dessa ladroeira
e doações para o futuro, eles deveriam doar, por agradecimento e para a glória de
Deus, parte disso para a escola, para educar as pobres crianças.
Mas a maior crítica foi quanto à falta de escolas cristãs. Nelas é que os jo-
vens encontrariam a verdadeira educação e os valores adequados para a vida. A
tese era de que a universidade até então não colaborava praticamente em nada;
pelo contrário, corrompia a nobre juventude. Lutero chega ao ponto de perguntar o
que se aprendeu até o momento nas universidades e conventos e afirma que houve
quem estudasse 20, 40 anos e não soubesse nem latim nem alemão, quer dizer,
muitos não dominavam nem a própria língua.
O vergonhoso era a necessidade de estimular os pais a educar os filhos e a
juventude, buscando o melhor para eles. Vergonhoso, porque a própria natureza os
deveria incentivar em vários sentidos. Para ilustração desse pensamento, Lutero
falou o seguinte:
Não existe animal irracional que não cuide de seus filhotes e não lhes ensine o que lhes
convêm, com exceção da avestruz, que é tão rigorosa com seus filhotes como se não fos-
sem seus, deixando os ovos abandonados no chão. Em primeiro lugar, há pais que sequer
são leais e conscientes para educarem seus filhos, ainda que tivessem condições para
tanto. Como as avestruzes, também eles endurecem-se contra seus filhos, contentando-se
com o fato de terem se livrado dos ovos e de terem gerado filhos; além disso, nada mais
fazem. (LUTERO, 1995).

Mas se as crianças deveriam viver na cidade entre o povo, como poderia a


razão, e em especial o amor cristão, tolerar que elas crescessem sem educação?
Para Lutero, as crianças sem educação essencial seriam veneno para as outras
crianças, de sorte que, por fim, se arruinaria uma cidade inteira.
Também era de concordância do reformador que a maioria das pessoas mais
velhas, por não terem sido ensinadas, não tinham aptidão e não sabiam educar
crianças; isso porque para ensinar bem era necessário gente especializada. E mes-
mo que os pais fossem aptos e quisessem assumir essa tarefa, não teriam tempo
nem espaço, em face de outras atividades e dos serviços domésticos. Aí surgiu a
necessidade de se manterem educadores comunitários para as crianças, a não ser
que cada qual quisesse manter um em particular. Isso, porém, seria oneroso de-
mais para um simples cidadão e, uma vez mais, muitos excelentes alunos seriam
prejudicados por serem pobres.
Interessante é a visão futurista de Lutero. Ele afirma a importância da edu-
cação para o progresso de uma cidade, dizendo que esse progresso não depende
apenas do acúmulo de grandes tesouros, da construção de muros, de casas boni-
tas, de muitos canhões e da fabricação de muitas armaduras. Antes de tudo isso,
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Cultura Religiosa

o melhor e mais rico progresso para uma cidade é quando possui homens bem
instruídos, muitos cidadãos ajuizados, honestos e bem-educados. Assim, eles po-
deriam acumular, preservar e usar corretamente riquezas e todo tipo de bens.
Para terminar, podemos ver ainda o modelo de educação proposto por Lu-
tero. Ele cita a educação na cidade de Roma. Lá, os meninos eram educados de
tal maneira que aos 15, 18 ou 20 anos dominavam perfeitamente o latim, o grego
e toda sorte de artes liberais. As artes liberais eram o conjunto das sete discipli-
nas que constituíam pré-requisitos para a formação específica. Ao lado do estudo
das línguas, que compreendia gramática, dialética e retórica, exigia-se aritmética,
música, geometria e astronomia. A partir dessa educação, Roma tinha gente apta
e preparada para todas as atividades. Depois dos estudos concluídos, os jovens
passavam diretamente para o serviço militar e para o serviço público. Disso resul-
tavam homens sensatos e ajuizados, com conhecimento e experiência.
Por fim, Lutero tinha plena consciência de que Deus proveu o seu povo com
riqueza de artes, pessoas doutas e livres e que isso precisava ser aproveitado. Eis
a responsabilidade da universidade, hoje.
A seguir, veremos alguns pontos importantes sobre o Luteranismo pós-Reforma
e sobre as Igrejas Luteranas hoje. Depois de falar sobre a Igreja Luterana, é importante
ligar a primeira parte deste capítulo com a Universidade Luterana do Brasil.

O Luteranismo pós-reforma
Muitos países aderiram ao movimento iniciado por Martinho Lutero: boa
parte da Alemanha, a Finlândia, a Suécia, a Noruega, a Dinamarca, a Boêmia, a
Morávia, hoje República Tcheca; com características próprias, a Inglaterra, a Es-
cócia, a Holanda, a Suíça; e, em parte, a França, a Áustria e a Hungria.
A Reforma Luterana provocou a Contra-reforma, também chamada de Re-
forma Católica. O Concílio de Trento (1546-1563) procurou pôr ordem na casa. Há
quem admita que, provocando a Contra-reforma, Lutero tenha salvado a própria
Igreja Católica.
Em decorrência da Reforma, surgiu na Europa uma nova ordem social ca-
racterizada pelo pluralismo confessional, respeito à consciência, ética, desenvol-
vimento social e progresso científico. A sociedade, vendo-se livre da tutela papal,
avançou o sinal e emancipou-se de Deus, o Criador.
Lutero contribuiu para a sociedade moderna, mas não imaginou nem quis
uma sociedade como esta que se apresentava como ateísta, agnóstica, amoral,
sem-vergonha, exploradora, corrupta e violenta. Mesmo assim, ainda existia es-
perança e tempo para lutar. O reformador acreditava, e isso é bom ser lembrado,
que o Evangelho continuava eficaz para transformar homens egoístas em cristãos
altruístas e, assim, a Igreja permaneceria para sempre. Porque o homem acreditou
nessas idéias é que a Igreja Luterana continua viva ainda hoje em todo o mundo,
na tentativa de transformar o próprio Homem em nova criatura.

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A Igreja Luterana e a Educação

Martinho Lutero, padre da Igreja Católica, doutor em Teologia e catedráti-


co, não tinha nenhuma intenção de fundar uma nova Igreja. Sua preocupação era
chamar a atenção de seus superiores para os erros doutrinários que eles vinham
cometendo e reformar internamente a sua Igreja. Queria uma Igreja que voltasse
à verdade bíblica e seguisse os fundamentos da Igreja Cristã Primitiva e à mensa-
gem salvadora de Jesus Cristo, pregando o amor e perdoando o próximo.
Também não era sua intenção fundar uma Igreja com seu nome. Quanto a
isso, ele mesmo diz, em 1522, na exortação contra tumulto e rebelião:
Peço que deixem de lado o meu nome e não se chamem luteranos, mas cristãos. O que é
Lutero? Pois não é minha doutrina, tampouco fui crucificado por quem quer que seja. São
Paulo não admitia que os cristãos se chamassem paulinos ou petrinos, mas cristãos. Como
poderia eu, miserável saco de vermes, encorajar os filhos de Cristo a chamarem-se pelo
meu nome amaldiçoado? Não, meus amigos, vamos acabar com os nomes de partidos e
chamar-nos cristãos, pois é de Cristo a nossa doutrina. Os papistas, sim, têm nome de par-
tido, com toda a razão, pois não se contentam com a doutrina e o nome de Cristo. Querem
ser papistas também. Pois deixe-os serem do papa, que é mestre deles. Eu não sou nem
pretendo ser mestre. Compartilho, com a comunidade cristã, a única doutrina comum de
Cristo, que é somente ele – o Mestre. (LUTERO, 1995).

Mesmo não querendo dividir a Igreja, isso acabou acontecendo. Os líderes


da Igreja Católica Romana do século XVI achavam que ela nunca poderia errar.
Por conseguinte, concluíram que Lutero devia ser um falso mestre e não lhe de-
ram ouvidos. Seus inimigos espalharam mentiras acerca dele, o papa o excomun-
gou e, pelo Edito de Worms, o imperador Carlos V declarou-o proscrito. Fora da
própria Igreja, Lutero só viu uma maneira de continuar com a Reforma: criar uma
nova comunidade religiosa.
Hoje, a Igreja Luterana encontra-se espalhada por todos os cinco continen-
tes. Espalhou-se pela Europa, caminhou para os Estados Unidos e mais tarde para
outros países, chegando à América Latina e ao Brasil no final do século XIX.
No Brasil, encontramos duas denominações luteranas. A Igreja Evangélica
Luterana do Brasil (IELB) e a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil
(IECLB). São igrejas com poucas diferenças teológicas. Estão separadas porque
surgiram de missões diferentes. A IECLB é resultado da fusão de alguns sínodos
e do trabalho de missionários vindos da Alemanha, em 1824, para atender às
necessidades espirituais dos imigrantes. A IELB surgiu com o esforço de missio-
nários mandados pelo Sínodo de Missouri, dos Estados Unidos, em 1900. Apesar
de não terem a mesma administração, essas igrejas trabalham juntas em alguns
setores, como é o caso da literatura.

A Igreja Evangélica Luterana do Brasil


(IELB)
A Igreja Evangélica Luterana do Brasil é originária do trabalho missionário
desenvolvido a partir de 1900 pelo Sínodo Evangélico Luterano de Missouri-Ohio
e outros estados, conhecido, desde 1847, como The Lutheran Church – Missouri
Synod. Já completou cem anos de trabalho missionário no Brasil.
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Cultura Religiosa

Este sínodo foi fundado em 1847. Formou-se sob a direção

Wikipédia.
do pastor Carl Ferdinand Wilhelm Walther, que, em 1838, havia
emigrado da Alemanha para os Estados Unidos por razões de
consciência. Em 1817, o rei da Prússia, Frederico Guilherme III,
no intuito de pôr fim ao que definia como querela religiosa, de-
cretara a união da Igreja Luterana com a Igreja Reformada, fun-
dada por Zwinglio e Calvino, formando a Igreja Evangélica Uni-
da. Muitos luteranos, revoltados com essa ingerência do trono na
vida da Igreja e inconformados com a teologia racionalista que lhe
dava sustentação, decidiram abandonar a pátria e emigrar para os
Estados Unidos. Aí esperavam desfrutar da liberdade de consci-
ência e culto, privilégios garantidos pela constituição democrática
daquele país. Unidos, grupos de imigrantes luteranos formaram a
Ulrico Zwinglio. Igreja Luterana – Sínodo de Missouri, com a qual a IELB hoje se
identifica.
Wikipédia.

O trabalho no Brasil começou com uma resolução em fins de


abril de 1899, na convenção daquele sínodo. Uma das moções re-
comendava o início da missão daquele sínodo na América do Sul,
especialmente no Brasil e na Argentina. Alguns anos antes, um pas-
tor que já estava no Brasil escreveu para os luteranos nos Estados
Unidos, pedindo ajuda. Era o pastor Johann F. Brutschin, enviado
ao Brasil em 1867. O navio em que estava naufragou na costa do
Rio Grande do Sul. Os passageiros se salvaram, perdendo, no en-
tanto, toda a bagagem. Brutschin primeiro serviu como pastor assis-
tente em São Leopoldo/RS. Em 1868, tornou-se pastor da paróquia
João Calvino. de Dois Irmãos/RS. Também chegou a ser membro da diretoria do
Sínodo Rio-grandense, que reunia imigrantes evangélicos alemães.
Este sínodo, mais tarde, reuniu-se com outros grupos sinodais para formar a atual
Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil (IECLB). Mas o desejo de um
sínodo levou Brutschin a desligar-se do Sínodo Rio-grandense. Mais tarde – por
meio de correspondência à revista oficial do Sínodo de Missouri, Der Lutheraner
– ele descobriu e gostou da posição doutrinária expressa nos textos, pedindo, as-
sim, filiação àquela denominação.
O primeiro missionário enviado ao Brasil foi o pastor C. J. Broders,
com um bom currículo, inclusive com passagem como capelão do exército
americano na guerra contra a Espanha, trabalhando em Cuba. No Brasil,
depois de muita pesquisa, esse pastor descobriu que na colônia de São Pe-
dro, no Rio Grande do Sul, havia várias famílias desejosas de fundar uma
congregação luterana. Broders rumou a São Pedro, fundando ali a primeira
congregação missuriana no Brasil, denominada Comunidade Evangélica Lu-
terana São João. O primeiro núcleo congregacional foi organizado em 1.º de
julho de 1900, com 17 famílias.
Aos poucos, foram surgindo novas congregações e pontos de missão. O tra-
balho foi crescendo graças à presença de imigrantes alemães, que solicitavam

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A Igreja Luterana e a Educação

atendimento de pastores evangélicos – a mesma doutrina espiritual deixada para


trás no país de origem.
No dia 24 de junho de 1904, foi fundado oficialmente o 15.º Distrito do Sí-
nodo de Missouri, hoje Igreja Evangélica Luterana do Brasil. Até aquela data, este
sínodo já atuava em três áreas no Rio Grande do Sul: no sul, com as congregações
de São Pedro, Santa Eulália, Santa Coleta, Bom Jesus e Morro Redondo; em Porto
Alegre, com as congregações de Estância Velha, São Leopoldo e Dois Irmãos; no
centro-oeste, com as congregações de Jaguari, Rincão dos Vales e Rincão São
Pedro.
Graças a esse trabalho, hoje a Igreja Evangélica Luterana do Brasil tem
comunidades espalhadas por todo o país e algumas missões no exterior. É uma
Igreja independente administrativamente. Sua administração central fica em Por-
to Alegre. Possui um seminário para a formação teológica de seus pastores: em
São Leopoldo/RS, hoje ligado à Universidade Luterana do Brasil. As decisões da
Igreja são tomadas em convenção nacional com os seus pastores e os representan-
tes das congregações.

Principais doutrinas da IELB


A IELB é um conjunto de cristãos que confessa o nome de Cristo conforme
o claro ensino da Bíblia. Essa Igreja afirma que a Sagrada Escritura é a palavra de
Deus. Palavra verdadeira e infalível; clara, simples e completa. Tudo o que Deus
queria que os homens conhecessem para a sua salvação está escrito na Bíblia. Não
há necessidade de novas revelações. Por isso, a Escritura é a única fonte e norma
para todos os ensinos da Igreja Cristã. As doutrinas básicas da Igreja Evangélica
Luterana são as seguintes:

Deus
A igreja crê, ensina e confessa que o conhecimento natural que o Homem
possui a respeito de Deus é imperfeito e insuficiente para a sua salvação. Conhe-
cimento correto e salvífico o Homem adquire somente pela Escritura Sagrada, na
qual Deus se revela como o Deus verdadeiro: Pai, Filho e Espírito Santo. Assim
ele se revelou e quer ser adorado. Qualquer outro culto é idolatria e abominação
ao Senhor (Romanos 1.19-20; 2.14-15; Deuteronômio 6.4; Mateus 28.19; João 5.23;
1Coríntios 8.4-8).

Homem
A Igreja crê, ensina e confessa que o Homem foi criado por Deus conforme a
imagem divina, a qual consistia em bem-aventurado conhecimento de Deus, per-
feita justiça e santidade. Esta imagem se perdeu com a queda em pecado. Agora,
o Homem nasce com o pecado original, isto é, o pecado que herdamos de Adão,
a completa corrupção de toda a natureza humana, privada da justiça original,
inclinada para todo o mal e sujeita à condenação (Gênesis 1.17, 2.7, 3.1-16; Salmo
51.5-12; Romanos 5.12; Salmo 143.3; Isaías 64.6).

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Cultura Religiosa

Pecado
A Igreja crê, ensina e confessa que toda e qualquer transgressão da santa lei de
Deus é pecado. Cada pensamento, palavra ou ato contrário à vontade de Deus é peca-
do. O pecado é a causa de toda a miséria neste mundo. O Homem é responsável diante
de Deus e terá de prestar contas de sua vida, sendo que Deus julgará a todos (Ezequiel
18.23-30; Romanos 8.7; 1João 3.4; Gênesis 8.4; Hebreus 9.27; Romanos 6.23).

Evangelho
A Igreja crê, ensina e confessa que Deus, em seu infinito amor, não aban-
donou os homens em sua ruína, mas resolveu salvá-los pela obediência, paixão
e morte de seu Filho unigênito, Jesus Cristo. O Evangelho é a boa notícia dessa
salvação. Nele, Deus oferece perdão dos pecados, vida e salvação a todos os ho-
mens. Todo o pecador arrependido que confia nas promessas do Evangelho tem
o que estas palavras lhe dizem e prometem: “perdão dos pecados, vida e eterna
salvação” (João 3.16; Romanos 1.16; Gálatas 3.5; 2Coríntios 5.19).

Salvador
A Igreja crê, ensina e confessa que Jesus Cristo é verdadeiro Deus e verda-
deiro Homem. Como Filho de Deus, gerado do Pai desde a eternidade, é, em todos
os sentidos, igual ao Pai e ao Espírito Santo. Como verdadeiro Homem, nasceu da
Virgem Maria. Nasceu sem pecado e é, em todos os sentidos, verdadeiro homem.
Como nosso substituto, cumpriu a lei de Deus, padeceu por nossos pecados e, por
seu sacrifício e morte, consumou a obra de reconciliação. Desceu ao inferno para
mostrar sua vitória sobre todos os nossos inimigos. Pela ressurreição dos mortos,
Deus declarou ter aceito o sacrifício de Jesus. Jesus Cristo é o único Salvador da
humanidade. Fora dele, não há salvação. Jesus voltará, visível ao mundo para jul-
gar os vivos e os mortos (João 1.1; Mateus 1.18-25; 1Pedro 2.22; 2Coríntios 5.19;
1João 2.2; Colossenses 2.15; Romano 1.14; Atos 10.42).

Conversão
A Igreja crê, ensina e confessa que a conversão de um pecador compreende
contrição e fé. A conversão não é mera reforma moral ou a resolução solene de cor-
rigir a vida, mas é a completa mudança de toda a vida do Homem, é o renascimento
espiritual do pecador, é uma transformação milagrosa, efetuada pelo poder do Es-
pírito Santo e operada pelos meios da graça: a palavra de Deus e os sacramentos.
Sendo espiritualmente cego, morto e inimigo de Deus, o Homem não se inclina a
Deus nem pode se dispor à graça ou aceitá-la. Por isso, a conversão é um ato exclu-
sivo de Deus, no qual o Homem pode resistir. A Bíblia lembra que o Homem é salvo
unicamente pela graça de Deus mediante a fé em Cristo e que Deus quer a salvação
de todos. O que é salvo, é salvo pela graça. O que se perde, perde-se por culpa própria
(Jeremias 31.18; João 1.12-13; Romanos 10.17; Atos 11.21; Efésios 2.1-5).


A Igreja crê, ensina e confessa que a fé salvadora não é simples assentimento
aos ensinos da Escritura, mas é a confiança de um pecador arrependido no perdão
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A Igreja Luterana e a Educação

de Cristo. Tal fé não é um ato de obediência ou decisão da vontade humana, mas um


ato da graça divina. Mesmo sendo um ato divino, não é o Espírito Santo quem crê
em nós. Nós é que cremos. A pessoa que não tiver esta confiança em Cristo não pode
ser salva; permanece sob a escravidão de Satanás, sob a ira divina e caminha para a
condenação infernal. Aquele que está em Cristo é nova criatura e busca, sob a ação
do Espírito Santo, estreita comunhão com o Salvador. Por contrição e arrependimento
diários, afoga as inclinações pecaminosas de sua carne e, pela graça de Cristo, ergue-
se diariamente para uma nova vida com Jesus. Luta diariamente com muitas fra-
quezas, mas busca a perfeição em Cristo, a qual gozará na eternidade em toda a sua
plenitude (Tiago 2.19; Isaías 55.6-7; Marcos 1.15; João 1.12; 1Coríntios 12.2; Romanos
10.7; Atos 16.31; João 3.36; Filipenses 3.14; Efécios 4.15-16; Romanos 12.1-3).

Ministério
A Igreja crê, ensina e confessa que o ministério pastoral é um ofício ordena-
do por Deus para administrar publicamente a palavra de Deus e os sacramentos.
Os ministros não constituem uma classe especial de pessoas, como os sacerdotes
do Antigo Testamento. Sendo todos os cristãos sacerdotes reais, ninguém tem
o direito de se sobrepor aos outros. Por isso, só o chamado de uma comunidade
torna alguém um ministro. O ministro exerce publicamente as funções que todos
os cristãos exercem em particular (Atos 6.2; 1Pedro 2.9; Tito 1.5-7; Atos 20.17-28;
1Coríntios 14.34-40; 1Timóteo 2.11).

Batismo
A Igreja crê, ensina e confessa que o sacramento do santo batismo foi
ordenado por Jesus como meio da graça pelo qual o Espírito Santo opera a
remissão dos pecados, livra da morte e dá a vida eterna a quantos crêem. Pelo
batismo, as crianças recebem a fé e se tornam filhos de Deus; aos adultos, o
batismo sela o perdão dos pecados. Enquanto alguém permanece na fé, des-
fruta das bênçãos do batismo. O batismo deve ser administrado uma vez só,
em nome do Deus Triúno: Pai, Filho e Espírito Santo (Mateus 28.19; Tito 3.5;
Marcos 10.14; Marcos 7.4, 16.16; Atos 22.16).

Santa Ceia
A Igreja crê, ensina e confessa que na Santa Ceia o Senhor Jesus Cristo, de
acordo com sua palavra, nos dá o seu corpo e sangue para remissão dos pecados. Os
elementos materiais, pão e vinho, não se transformam em corpo e sangue. Mas por
ordem e promessa de Deus, recebemos na Santa Ceia, com e sob o pão e o vinho, o
verdadeiro corpo e sangue de Cristo. Os que crêem, o recebem para fortalecimento
de sua fé. Os que participam sem arrependimento e fé, recebem igualmente o verda-
deiro corpo e sangue de Cristo, mas para juízo. A Santa Ceia é a mesa do Senhor, na
qual recebemos conforto e consolo. Ela nos dá o perdão dos pecados e nos fortalece
na esperança da ressurreição (Mateus 26.26-28; Marcos 14.24; 1Coríntios 11.24-29).
Por fim, a Igreja crê, confessa e ensina que Deus determinou um dia no qual
julgará o mundo com justiça, mas ninguém sabe quando será. Nesse dia, Jesus
voltará visível e glorioso. Céu e Terra se desfarão. Todos os mortos ressuscitarão.
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Cultura Religiosa

Todos serão julgados por Jesus. Aos incrédulos, Jesus dirá: “apartai-vos de mim,
para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus seguidores”. Aos fiéis, que terão
um corpo glorioso, dirá: “vinde, benditos de meu Pai, e entrai no gozo de vosso
Senhor que vos está preparado desde a fundação do mundo”. Então serão criados
os novos céus e a nova terra, nos quais habitará a justiça (João 5.28-29; Atos 10.
42; 1Coríntios 15.51-52; Romanos 8.18; Mateus 10.28; Isaías 66.24; Jó 19.25-27;
Mateus 26.31-46; 2Pedro 3.10-13; Apocalipse 21.1-8.).

A Universidade Luterana do Brasil (Ulbra)


Em janeiro de 1988, o Presidente da República, senhor José Sarney, autori-
zou pelo Decreto 95.623 a criação da Universidade Luterana do Brasil, a partir das
Faculdades Canoenses, pela via da autorização.
A idéia de fundar uma universidade luterana era antiga. Na assembléia geral
extraordinária de 13 de agosto de 1972, o então presidente da Igreja Evangélica
Luterana do Brasil, pastor Elmer Reimnitz, que havia sido pastor da Comunidade
Evangélica Luterana “São Paulo”, de Canoas, de 1954 a 1962, apresentou à Comu-
nidade um plano de criação de diversas faculdades, que resultariam em uma uni-
versidade luterana. Este empreendimento seria uma ação conjunta entre a IELB e
a Celsp. Só que a idéia não foi levada adiante.
O pastor Ruben Becker, com muita luta, conseguiu levar o projeto adiante
a partir das escolas de primeiro e segundo graus. A universidade é fruto da Re-
forma, das missões vindas ao Brasil e da Comunidade Evangélica Luterana São
Paulo, de Canoas/RS, vinculada à Igreja Evangélica Luterana do Brasil.
Neste contexto todo, encontramo-nos hoje. O papel da universidade é de
responsabilidade perante a sociedade. Foi possível observar que Lutero via a edu-
cação como serviço que pais e autoridades, pastores e mestres prestam a Deus.
Educar as novas gerações é cooperar, voluntariamente ou não, com o regime ou
governo secular de Deus sobre o mundo. Educá-los cristamente é, ademais, par-
ticipar voluntária e espontaneamente no governo espiritual de Deus, que visa à
redenção da humanidade.
A diferença da educação cristã é que nela existe a esperança de uma renova-
ção da sociedade humana pelo amor decorrente da fé. A universidade luterana, de
certa maneira, precisa recuperar a ética do amor e da solidariedade cristã.
A filosofia de trabalho que tem orientado a atuação da comunidade se acha
muito bem expressa nos estatutos da Fundação Luterana. De acordo com os arti-
gos 8.º e 9.º, que tratam, respectivamente, do fundamento doutrinário e das fina-
lidades, todo o trabalho é regido pela doutrina luterana, que se fundamenta nos
livros canônicos da Escritura Sagrada e se acha exposta nos documentos confes-
sionais da Igreja Evangélica Luterana, reunidos no Livro de Concórdia, de 1580.

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A Igreja Luterana e a Educação

A Fundação tem por finalidade a educação em todos os níveis, graus e áreas,


o aprimoramento e divulgação da cultura brasileira, a expansão da pesquisa nos
domínios da ciência e da técnica, a comunicação social, a promoção do bem-estar
social, a divulgação da mensagem cristã. A universidade deve ser o campo de en-
saio de novas formas de convívio social em termos de liberdade, respeito mútuo
e cooperação. Deve ser uma alavanca para o desenvolvimento, tanto da região
como do país. Deve ser um mercado de soluções para problemas que afligem a
sociedade em nosso tempo.
Entre os objetivos da Ulbra, podemos citar, nos termos da Lei 5.540/68, a
pesquisa, o desenvolvimento das ciências, das letras e das artes, a formação de
profissionais de nível universitário, bem como a difusão e a preservação da cultu-
ra. A universidade é, ela própria, expressão e repositório de cultura. Na formação
cristã do aluno, ela procurará habilitá-lo à compreensão de si mesmo e do mundo,
à atuação responsável na sociedade, ao trabalho como forma de realização pessoal
e como meio de produção dos bens necessários à vida e ao lazer, como fruto da
livre expressão do ser humano.
Quanto ao saber científico, a universidade tem por alvo reunir, selecionar,
organizar e testar todo o conhecimento que possa ter significado para a vida em
sociedade. Visto ser o conhecimento relativo à experiência que lhe deu origem, a
universidade procura relacionar o saber científico com as condições originárias,
com vistas a revisá-lo, sempre que possível, mediante processos experimentais.
Esta Universidade busca seguir a proposta educacional de Lutero e, com
muita seriedade, quer encontrar alternativas para educar bem o cidadão. A disci-
plina de Cultura Religiosa cumpre a função de mostrar um caminho mais seguro
para a vida em sociedade e de definir o perfil de comportamento ético àqueles que
aqui se formam. A idéia é preparar educadores e líderes capazes de, futuramente,
conduzir outros com a mesma segurança.
Lutero sabia muito bem qual o ser humano que importa formar: o cristão que
é livre de tudo e de todos pela fé em Deus, mas que, por isso mesmo, é servo de
todos pelo amor. Tendo abraçado pela fé o Deus que é amor e como amor se revela
em Jesus Cristo, o ser humano é transformado à imagem deste Deus e não pode
senão tornar-se um ser amoroso, que ama, generosa e gratuitamente, assim como
é amado. Da mesma forma, a educação se faz no contexto da ética do amor.
Por fim, podemos dizer que o papel da Universidade é colaborar com a
sociedade na formação de homens sensatos, ajuizados e excelentes, munidos de
conhecimento e experiência. Como disse Lutero:
Deus proveu o seu povo com riqueza de artes, pessoas doutas e livres. É hora de aproveitar
tudo isso, ceifar e recolher o melhor que pudermos e de ajuntar tesouros, para preservar
algo para o futuro destes anos dourados. (LUTERO, 1995, . 324).

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Cultura Religiosa

1. Para você, qual é a importância das escolas confessionais na formação de crianças e jovens?

2. Como você analisa o sistema educacional proposto por Lutero, para os nossos dias?

3. Como você vê a posição de Lutero em querer que a nova Igreja não usasse o seu nome para
identificar os fiéis?

Busquem na internet sites denominados Luteranos e identifiquem a relação com a presença


dessas denominações no país e a Reforma Luterana do século XVI.
Sugestões:
www.ulbra.br
www.ielb.com.br

Se você fosse um educador, qual idéia de Lutero usaria para qualificar as escolas brasileiras?

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Questões
fundamentais de Ética

É
necessário entender Ética, uma palavra muito usada nos dias de hoje, mas pouco praticada.
Com a finalidade de entendermos as questões fundamentais de Ética Aplicada veremos, num
primeiro momento, as bases antropológicas da Ética; definição e objetivos da Ética; e os aspectos
que distinguem a Ética Social da Ética Religiosa.

Questões básicas
Bases antropológicas da Ética
Como a Ética está voltada exclusivamente ao ser humano, vamos ver quais os primeiros proble-
mas encontrados em conseqüência da diversidade. Ética é um problema exclusivamente antropológico
porque somente o ser humano tem a necessidade de tomar decisões éticas, visto que suas ações, na
relação com a natureza e a sociedade, não são neutras, mas sempre possuem reflexos que podem ser
positivos ou negativos, benéficos ou maléficos, certos ou errados. Assim, veremos algumas caracterís-
ticas principais do ser humano que têm vinculação direta com suas decisões e ações éticas:
cada ser humano é uma pessoa, isto é, um indivíduo, um ser único, diferente de qualquer outro, e isso vem a
ser uma grande dificuldade para entendê-lo. Nisso está o problema central de todas as questões éticas;

o ser humano é racional, pensa por si próprio e de maneira autônoma. Por isso, não pensa segundo padrões
preestabelecidos, mas de acordo com suas próprias idéias. A estrutura racional do ser humano está subdividida
em três aspectos básicos:

a) cognitivo, ou seja, ele realiza aprendizados: o Homem não nasce sabendo, mas precisa aprender tudo na vida,
inclusive a viver de modo ético;

b) volitivo, ou seja, cada ser humano tem uma vontade própria, pois há no íntimo de cada pessoa um núcleo
exclusivamente seu que o determina a agir dessa ou daquela maneira, segundo suas próprias motivações ou
interesses;

c) afetivo, ou seja, há em cada ser humano sentimentos e sensibilidade próprios. O sentir é universal, mas a forma
de sentir é única e especial em cada indivíduo. Os sentimentos humanos são muito complexos e variam de
pessoa para pessoa, o que torna as questões éticas muito difíceis de serem entendidas e solucionadas. (HAAG,
2000, p. 190-191).

Por outro lado, há uma teleologia em todas as ações humanas; tudo é feito visando um deter-
minado fim, que pode ser consciente ou inconsciente. Mesmo podendo estar equivocado, cada ser
humano, ao agir, pensa que está fazendo o melhor possível. O que vale para a Ética é a consciência
social, e não o que o indivíduo pensa ser bom apenas para si.

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Cultura Religiosa

O ser humano é egocêntrico; cada um tem o seu “eu”, que lhe dá as carac-
terísticas pessoais. Contudo, cada ser humano, a partir do seu “eu”, torna-se um
egoísta, ou seja, sempre pensa, em primeiro lugar, em si, buscando a satisfação de
seus próprios interesses e necessidades, não abrindo mão de nada que julga ser seu
e não dando a mínima importância às necessidades alheias. O egoísmo é a mola
propulsora de todos os problemas éticos.
O ser humano é também um ser social. Precisa de outros para viver e con-
viver. Ele é um ser de pluralidade. Ao mesmo tempo em que é uma pessoa indi-
vidual, é também um ser de relações sociais. Os problemas éticos surgem a partir
do momento em que o indivíduo não supera seus egoísmos e vaidades, fazendo
prevalecer os interesses pessoais em detrimento dos da coletividade.
Diante dessas características, o homem é o único ser que tem a necessidade
de equilibrar suas relações com o outro e com a natureza, determinando normas
de convivência para dar parâmetros à conduta, o que se denomina moral.
Aqui parte-se do pressuposto de que o Homem é um ser surpreendente, extraordinário,
porém, contraditório. Distingue-se dos animais por sua faculdade racional. Isto pode ser
visto como uma vantagem, mas, por outro lado, apresenta uma grande desvantagem. Com
a razão, o Homem está aberto para infinitas possibilidades, mas também está condicio-
nado a limites muito estreitos. Com a razão, o Homem abre-se ao conhecimento de uma
variedade muito grande de conteúdos, mas não pode conhecer todas as coisas e nem sem-
pre conhece suficientemente a si mesmo e aos outros. Com a razão, busca o infinito, mas
está rigorosamente limitado ao seu mundo finito. A Ética parte dessas tensões humanas e
busca uma solução para as mesmas. Contudo, por ser humana, a Ética necessita conviver
com as contingências e precariedades da vida humana, mas sempre se esforçando para
superá-las e resolvê-las. (HAAG, 2000, p. 192).

Conceito de Ética
A partir do que foi visto anteriormente, podemos chegar a algumas defini-
ções de Ética. Vejamos três apresentas pelo professor Nereu:
1.° a Ética pode ser definida como um saber íntimo e aprofundado dos princípios que
orientam a conduta das pessoas de uma coletividade, de acordo com as normas morais
vigentes, com o objetivo de alcançar o bem comum;
2.° a Ética tem como objetivo despertar a consciência de cada ser humano para que suas
ações visem ao bem comum. Ele deve buscar um convívio estável, equilibrado e de
mútua aceitação, tendo como base os princípios sociais e os valores espirituais. Por
isso, cada pessoa precisa saber quais são as ações que, de fato, são boas ou más, certas
ou erradas;
3.° para que isso se efetive, a pessoa precisa aprender a tomar decisões segundo uma cons-
ciência ética bem orientada, ou seja, precisa ter um conhecimento mais profundo das
ações que são moralmente válidas e socialmente corretas. Por isso, a Ética não é nor-
mativa, mas pedagógica ou educativa. (HAAG, 2000, p. 192-193).

Podemos dizer aqui que Ética e Moral têm sentidos distintos. A Moral se
relaciona com as ações do indivíduo, com a conduta real, enquanto a Ética é
formada por princípios ou juízos que originam essas ações. A Ética faz a ava-
liação teórica da Moral dos indivíduos, ocupando-se com tudo o que é consi-

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Questões fundamentais de Ética

derado moralmente bom. Ela estuda o modo como os indivíduos se relacionam


moralmente na sociedade. Portanto, a Ética se ocupa com o estudo dos fins da
moral do homem no meio de seu contexto social. Ela analisa, por exemplo, se
um homem, ao agir moralmente, agiu bem ou mal diante dos demais semelhan-
tes, tendo como referência os valores do contexto social (religiosos, filosóficos,
entre outros).
A ética tem o compromisso de ser, acima de tudo, humana. Eis, porque, via de regra, ela
se identifica com o humanismo, que, como expressa o termo, centraliza-se no Homem e
busca sua afirmação. O humanismo se subdivide em dois ramos principais: o natural e
o cristão. O primeiro parte do pressuposto de que ele é um ser imanente à natureza e ao
mundo, e por isso, sua afirmação se dará a partir do desenvolvimento de suas capacida-
des e potencialidades naturais, ou seja, humanas (racionais) e sociais (políticas). O se-
gundo considera que ele é um ser que transcende ao mundo e, por isso, sua afirmação está
na relação com Deus através de Cristo e seu Evangelho. A partir daí, o Homem deverá
desenvolver seus dons espirituais mediante os quais efetivará os ideais éticos que se iden-
tificam com a esperança e a fé numa vida eterna após a morte. (HAAG, 2000, p. 193).

Ética Social e Ética Religiosa


Como nossa disciplina é Cultura Religiosa, vamos naturalmente fazer uma
distinção entre Ética Social e Religiosa. Até porque entendemos que a Ética Reli-
giosa oferece ótimos subsídios para as relações humanas saudáveis.
Pode-se dizer que a Ética Social distingue-se da Ética Religiosa em três
aspectos fundamentais, quanto ao que cada uma delas coloca como pressuposto.
Primeiro os princípios:
na Ética Social, os princípios que fundamentam a ação do indivíduo são extraídos da
própria convivência humana, a partir das idéias filosóficas que traduzem os anseios e as
expectativas da sociedade. Por isso, diz-se que é uma Ética situacionista, razão porque
estes princípios são flexíveis e se adaptam às mudanças históricas. Na Ética Religiosa,
os princípios que orientam a conduta da pessoa são extraídos das doutrinas que funda-
mentam a religião, sendo, portanto, uma ética perenealista e não-situacionista, razão
porque seus princípios são mais rígidos e dificilmente admitem mudanças históricas.
(HAAG, 2000, p. 194).

Em segundo lugar, distingue-se quanto aos meios:


para efetivar seus princípios, os meios de que a Ética Social dispõe estão baseados no
próprio sistema cultural, sobre o qual atuam as mais diversas instituições sociais, como
as famílias, as escolas, as igrejas, as empresas, os meios de comunicação, os partidos
políticos etc., onde cada uma dessas instituições tem seus interesses e ideologias. Já a
religião, para efetivar seus princípios doutrinários, dispõe do que está fundamentado na
lei moral divina, buscando, a partir dela, determinar o que é o melhor para a sociedade
humana. (HAAG, 2000, p. 194).

Em terceiro lugar, distingue-se quanto aos fins:


a finalidade última da Ética Social é atingir o bem comum, ou seja, aquilo que é o
melhor para toda a sociedade. Por isso, ela é uma ética imanente, ou seja, restrita aos
limites humanos, temporais e sociais. A ética religiosa tem como fim último atingir o
bem maior que existe, o bem supremo, Deus, que, para a religião, é princípio e fim de
toda a existência do Homem e do mundo. Por isso, ela é uma ética transcendente, isto
é, projeta o Homem para além deste mundo material, buscando um sentido eterno para
sua vida. (HAAG, 2000, p. 194).
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Cultura Religiosa

O fundamento da Ética Religiosa


Se a característica mais importante que fundamenta a Ética Social é a liber-
dade, o princípio mais importante que fundamenta a Ética Cristã é o amor. Mas
o amor é um termo muito mal-entendido e usado erroneamente muitas vezes. As
pessoas têm dificuldade de definir a palavra amor. Isso porque ela possui vários
sentidos. Vamos definir aqui qual o tipo de amor que realmente serve para fun-
damentar a ética cristã. As definições a seguir são extraídas do grego. No Novo
Testamento, a palavra amor aparece de três formas distintas:
A primeira definição está na palavra eros:
eros, do qual se derivou o termo português erótico (amor sexual). Essa forma de amor
é marcada por atração e intimidade física, e está sujeita às instabilidades emotivas das
pessoas, pois manifesta-se através de paixões, às vezes, incontroláveis. Por isso, o amor
meramente erótico tem se tornado uma forma de amor bestial e desumano, na qual o
parceiro sexual não passa de um objeto de prazer egoísta. O amor eros, sem dúvida
nenhuma, nunca poderá ser o fundamento da ética cristã, mas infelizmente é tolerado
na ética social. (HAAG, 2000, p. 195).

A segunda definição nós encontramos no termo filos:


filos, do qual temos em português o termo filantropia (caridade). O amor de tipo filos é
aquele que se dá entre pais e filhos, irmãos e irmãs, e entre parentes ou pessoas unidas
por laços afetivos sem que entre elas exista relação sexual (amor eros). Contudo, o
amor filos está sujeito ao egoísmo humano, pois “amamos” preferencialmente as pesso-
as que nos são afetivamente mais íntimas e excluímos as demais. Assim, este também
não serve de fundamento para a ética cristã. (HAAG, 2000, p. 195).

E a terceira definição, para nós a mais importante, está representada pela


palavra ágape:
ágape é uma forma toda especial de amor, que transcende aos dois tipos anteriores e
aponta para o amor divino (amor de Deus), que naturalmente não se encontra no ser
humano a não ser que tenha sido comunicado ao homem da parte de Deus pelo vínculo
da fé. Ao receber Dele esse amor, o homem passa a estar apto a relacionar-se como seu
semelhante. O amor ágape tem como característica uma forma de amor na qual as pes-
soas estabelecem entre si uma relação de intimidade espiritual, ou seja, amam-se sem
qualquer busca de interesse ou vantagem pessoal, mas buscando o bem da pessoa ama-
da. Por isso, o amor ágape é aquela forma de amor em que o perdão está acima de tudo,
e se é capaz de aceitar aqueles com quem não simpatizamos. Essa forma de amor foi
magistralmente sintetizada por Cristo quando, na cruz, perdoou a seus algozes orando
a Deus, dizendo: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”; ou quando Cristo
ensinou uma prática ética na qual afirma: “se te baterem numa face, oferece também a
outra”. Tudo isso Cristo sintetizou na expressão: “Amai-vos uns aos outros como eu vos
amei”. (HAAG, 2000, p. 196).

Sabemos que o amor ágape não é fácil de ser entendido e, menos ainda, de
ser praticado. Olhe para você e imagine-se praticando este tipo de amor. Busque
situações concretas na sua vida, em que o perdão foi necessário, e você teve difi-
culdades para praticá-lo. Essa forma de amor é a única válida para a fundamenta-
ção da ética cristã. Quando trabalharmos a questão ética, buscaremos sempre esta
definição de amor para fundamentar nossas ações.
O primeiro passo para avaliarmos com clareza se o nosso procedimento
moral é correto é buscar entender a Ética. Mas não só entender. Precisamos usar

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Questões fundamentais de Ética

a ética como instrumento de avaliação da moral. Não existem normas definidas


para isso. Lembre que neste sentido a ética é educativa, é pedagógica.

1. Você consegue distinguir Ética de Moral? Como?

2. Suas ações morais são sempre éticas? Explique.

3. Como você avalia a Ética fundamentada no amor ágape?

Para estudo sugiro uma atividade prática. Uma análise mais aprofundada das nossas ações mo-
rais e o que nos leva a proceder dessa ou daquela maneira.
Dica de leitura:
FORELL, George W. Ética da decisão. São Leopoldo: Sinodal, 1983.

A partir da leitura do texto, como a idéia de que o egoísmo é a mola propulsora de todos os
problemas éticos pode levar você a uma mudança de ação?

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Cultura Religiosa

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Princípios de Ética

Q
ueremos, nesta aula, fazer mais algumas reflexões sobre ética, buscando subsídios para en-
tender o assunto. Pela diversidade do pensamento humano, também é difícil chegar a con-
clusões definitivas sobre ética, por isso, a reflexão e a introspecção são fatores importantes.
O que podemos fazer para transformar a sociedade? De quem é a responsabilidade de estabelecer um
convívio estável?

Algumas questões
A mentira é sempre errada?
Quando eu desejo fazer algo, mas a sociedade diz que está errado, como posso decidir o que
fazer?
Por que é errado tentar uma expansão da consciência por meio das drogas, por exemplo?
Quem realmente possui a autoridade para estabelecer o que é certo e errado?
É a consciência individual um guia seguro para a vida?
É o ato egoísta, embora repleto de satisfação pessoal, que determina o que é certo e errado?
Os valores são relativos ou absolutos? (HONER, 1973, p. 100).

Ética – algumas reflexões de ordem geral


Cada religião, à sua maneira, segue o que denominamos de filosofia de vida, os princípios ideais
que normatizam o seu modo específico de pensar.
Por vezes, no entanto, parece difícil conciliar os ideais com a realidade. No campo religioso, o
problema assume proporções ainda maiores, pois somos inclinados a pensar que tanto o movimento
religioso como seus seguidores são perfeitos e não se desviam nunca de sua pregação. Não raro, para
indicar nossa indignação, usamos expressões como: isso é uma imoralidade! Ou isso é antiético!

Ética e Moral
As palavras ética e moral, embora usadas indiferentemente, possuem significados distintos.
A moral se relaciona às ações, isto é, à conduta real.
A ética são os princípios ou juízos que originam essas ações.
Nessa dimensão, a ética e a moral são como a teoria e a prática. A ética é a teoria moral ou a
filosofia moral.

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Todo mundo tem uma moral, pois todos praticam ações que podem ser examinadas etica-
mente. Mas nem todo mundo já levou em consideração a ética. (HELLERN; NOTAKER;
GAARDNER, 2000).

Ética descritiva e ética normativa


A ética descritiva retrata as noções éticas predominantes nas diversas culturas. Utiliza
métodos científicos fundamentados na objetividade, sem julgar o que é certo e errado no que
foi observado. Normalmente a ética descritiva pode ser observada nas pesquisas de opinião
que são feitas com as pessoas no intuito de identificar seus pontos de vista sobre assuntos
como sexualidade, aborto, impostos, roubos, violência e outros.

Perigo: a ética descritiva pode gerar uma “moralidade estatística”, ou


seja, a noção de que aquilo que a maioria faz deve estar certo.

A ética normativa procura mostrar quais ações são certas e quais são eticamente
inaceitáveis. Ela repousa sobre determinados valores e fornece normas para as ações.
Sua busca não é pelo que é, mas pelo que deve ser. Nesse sentido, os Dez Mandamentos
são um exemplo de ética normativa.

Valores
Quais valores fornecem as normas para nossas ações? Qual valor é mais
importante para cada um de nós?
Dinheiro?
Carro?
Lazer?
Saúde?
Liberdade?
Amizade?
Amor?

Não esquecer: alguns valores são apenas meios para se alcançar outros
valores. Considere como exemplo o dinheiro: ele não tem valor intrínseco,
mas pode ser usado para se obter alguma outra coisa.

Fato 1: ao tomarmos nossas decisões cotidianamente, estamos sempre prio-


rizando valores, mesmo sem ter consciência.
Fato 2: ao priorizar valores, é comum que nossos interesses entrem em con-
flito com interesses alheios. Nossa boa sorte não pode ser o infortúnio alheio. O
ato de se preocupar apenas com a própria sorte é chamado de egoísmo ético.

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Princípios de Ética

A natureza dos valores (alternativas teóricas)


e a justificação para os julgamentos valorativos
(alternativas metódicas) – uma visão filosófica
Teoria emotiva
Método de justificação: sentimento e envolvimento
Os defensores da teoria emotiva, também identificados como subjetivistas,
dizem que todos os valores são relativos e individuais. O que determina o que tem
ou não algum valor repousa simplesmente no fato do indivíduo gostar ou aprovar
alguma coisa. A única justificação para um julgamento valorativo assenta-se em
como um indivíduo sente ou o quanto ele envolve-se com uma determinada situ-
ação. Dessa forma, diferentes pessoas valorizam diferentes coisas e cada um tem
direito a sua opinião.
Nesta categoria, enquadram-se tanto os existencialistas quanto os lingüis-
tas, pois defendem a relatividade dos valores individuais.
Para a teoria emotiva, a justificativa das ações repousa exclusivamente nos
sentimentos pessoais.

Teoria do relativismo cultural


Método de justificação: autoridade social
Conforme essa perspectiva, o que é certo e errado está determinado pela
cultura particular na qual o fato ou a circunstância ocorre.
O relativismo cultural justifica, assim, os julgamentos valorativos pelo apelo
à autoridade social de uma cultura particular. Assim, o certo e o errado é o que
uma determinada sociedade sanciona.
Nessa perspectiva, podemos enquadrar Freud (o certo e o errado são idéias
que introjetamos a partir da sociedade e de nossos pais), bem como a psicologia
comportamentalista ou behaviorista, que condiciona o comportamento dos indi-
víduos aos valores sociais.

Teoria absolutista
Método de justificação: razão e/ou autoridade divina
Conforme essa visão (também identificada como objetivista), o que tem va-
lor independe do que o indivíduo gosta ou pensa, bem como independe do que
uma sociedade sanciona.
Essa perspectiva se opõe ao relativismo. Assevera que as leis morais são
universais e eternamente verdadeiras, independentemente de qualquer coisa.

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Cultura Religiosa

Nessa perspectiva, enquadra-se a lei moral dos Dez Mandamentos, cujos


valores são universais e repousam sobre a autoridade de Deus.

Teoria do relativismo objetivo


Método de justificação: evidência empírica
O amor é tido como um alto valor; quebrar uma promessa por razões ego-
ístas é considerado errado. Conforme a teoria do relativismo objetivo, o amor é
considerado um alto valor não pelo fato de ser uma regra moral absoluta, e a con-
servação das promessas não é um princípio universal estabelecido pela razão. Para
a teoria, o que está em jogo é a produção das melhores conseqüências e satisfação
humana a serem obtidas com uma determinada atitude.
A teoria é denominada de “relativa” por defender que todos os valores
dependem da satisfação humana. Ao mesmo tempo, é considerada “objetiva”
por insistir no teste das conseqüências a serem obtidas – a produção do máxi-
mo de satisfação.
Enquadram-se nessa teoria o utilitarismo, o pragmatismo e as correntes psi-
cológicas defendidas por Erich Fromm, Abraham Maslow e Carl Rogers.

Teoria da escolha racional


Método de justificação: escolha livre, imparcial e informada
A teoria da escolha racional nega a tese do relativismo cultural, sustentando
que um determinado modo de vida é claramente melhor que outro se a escolha for
determinada por um processo racional. É verdade que, em última análise, é o indi-
víduo quem faz a escolha do que é certo e errado a partir do que sente ou prefere.
No entanto, o mesmo indivíduo, por ser racional, deve reconhecer que os sentimen-
tos são fidedignos somente se forem livres, imparciais e frutos das informações.

Consciência
O Livro das religiões assim se expressa:
Consciência é a capacidade que temos de reagir ao certo e ao errado. Podemos dizer que
a consciência é um cão-de-guarda normativo. Se infringimos uma de nossas normas, a
consciência começa a rosnar. Em casos mais flagrantes, seu peso pode nos derrubar; ou ela
pode nos forçar a recuar, modificar nossas ações, pedir desculpas a alguém. (HELLERN;
NOTAKER; GAARDNER, 2000, p. 267).

O fato: podemos fugir ou nos esconder de tudo e de todos, mas não de


nossa consciência.

A problemática:

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Princípios de Ética

De onde a consciência vem?


Todos têm a mesma consciência?
Há, pelo menos, três formas de responder à primeira pergunta.
É inata no ser humano: assim pensa o Cristianismo, por exemplo.

É imposta pelo ambiente externo: o ser humano é moldado pelas condições culturais
externas, como pensam a psicologia e as ciências sociais.

É inata no ser humano, mas recebe informações externas: nessa dimensão ela equiva-
leria a um tribunal. Julga e decide o que é certo e errado a partir de alguma informação
externa sobre o que é certo e o que é errado. Ela pune as pessoas quando rompem as
normas, mas não determina absolutamente essas normas (STEFFEN, 2002).

O direito positivo e o senso de justiça


Toda sociedade se baseia numa determinada ética, manifestada num código
de leis. Violar as leis implica na quebra da harmonia social.
Ainda assim, podemos observar que nem sempre o que cada um pensa sobre
o certo e o errado corresponde às leis sociais. A título de exemplificação, relem-
bremos a questão do aborto, da eutanásia, do pagamento dos impostos, em parti-
cular do imposto sobre a renda, do trabalho de menores, da compra de produtos
contrabandeados. Ou ainda, de profissionais que se recusam a cumprir determina-
da função em razão de sua consciência.
Relembrar: em 2002, um tratorista baiano, empregado de uma empresa contratada para
cumprir mandato judicial que determinava a derrubada de casas erguidas numa área in-
vadida, recusou-se, por questão de consciência pessoal, de mover o trator para cima das
mesmas e foi preso em flagrante por desobediência à ordem judicial. (STEFFEN, 2002).

Tecnicamente, denominamos de desobediência civil quando uma pessoa ou


um grupo passa a desafiar e infringir o direito positivo (o sistema jurídico acorda-
do) de maneira plenamente intencional (senso de justiça).

Responsabilidade
A questão da ética centra-se no senso de responsabilidade: por quem e pelo
que nos sentimos responsáveis?
A título de reflexão, podemos vislumbrar duas possibilidades, que se com-
pletam, de pensar a responsabilidade:
responsabilidade individual: o indivíduo é responsável por si e pelo que
o rodeia;
responsabilidade coletiva: a sociedade é responsável pelas ações que o
indivíduo não consegue fazer por si só.

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Cultura Religiosa

Perigo: ninguém assumir, nem o indivíduo nem a sociedade, a responsabili-


dade pelo que está acontecendo. Chama-se esse comportamento de diluição de
responsabilidade.
Alternativa: assumir mutuamente, indivíduo e sociedade, suas responsabi-
lidades. Chama-se esse comportamento de trabalhar pela solidariedade.

O livre-arbítrio
O pressuposto: admitir que as pessoas possuem alternativas entre as quais
podem escolher livremente.
Há duas correntes que conduzem a discussão do tema:
o determinismo: nossas escolhas são determinadas pelos elementos ex-
ternos, herdados dos pais ou do ambiente no qual vivemos. Nesse caso,
a sensação de livre-arbítrio é ilusória. Não raro ouve-se que é preciso
pensar a discussão sobre a violência; antes de responsabilizar seus pra-
ticantes é preciso mudar as condições econômico-sociais. Há, nesse mo-
mento, a discussão sobre a diminuição da idade para responsabilizar ju-
dicialmente os praticantes de delitos contra a pessoa e o patrimônio;
o indeterminismo: nossas escolhas são fruto de vontade individual. Nos
tornamos aquilo que escolhemos ser.
Aqui encontramos alguns pontos importantes para reflexão. Até que ponto
sou responsável por uma ação moral que passe pela boa avaliação da ética? A ver-
dade é que não podemos esperar pelos outros. As ações partem de nós mesmos. A
nossa consciência, com certeza, já está nos perturbando. A ética serve para a vida
pessoal do indivíduo e, conseqüentemente, vai ser aplicada na vida profissional.
À medida que aguçamos nossa consciência, melhoramos também os nossos rela-
cionamentos.

Uma pausa para coisas do cotidiano que contribuem


para uma perspectiva ética
Ética e mochila escolar
(TIBA, 1998)
É quando o discípulo está pronto que o mestre aparece. É um velho ditado hindu. Muitas
vezes o mestre não é uma pessoa, mas um episódio do cotidiano.
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Princípios de Ética

A Psicologia Educacional está presente nos pequenos atos, que podem pas-
sar despercebidos.
Venha comigo observar, à porta de uma escola qualquer, a hora da chega-
da das crianças com as respectivas mães.
Observe: quem carrega a mochila escolar?
Na maioria das vezes é a mãe. Essa mãe, por hipersolicitude e num ges-
to de amor, carrega a mochila do filho para poupá-lo desse esforço. Há mãe
exagerada: leva três mochilas nas costas, segura ou carrega o filho menor,
enquanto vai cuidando para que os outros filhos não fiquem se matando pelo
caminho.
E, quando chegam ao portão da escola, o que acontece? O filho foge para
dentro da escola e a mãe tem de correr atrás dele para entregar-lhe a mochila
e, já com os lábios estendidos, dar-lhe um beijinho de despedida...
Por que um filho, nessa despedida, não beija sua mãe?
Qualquer ser humano, ao se separar de alguém, pelo menos por educação
se despede dele. Os enamorados beijam-se tão demoradamente que é impossí-
vel saber se estão se despedindo, “ficando”, ou até mesmo se chegando...
Somente quando não usufruímos a companhia é que “saímos de fininho”,
isto é, sem nos despedirmos dela. Portanto, se um filho não beija sua mãe é
porque não usufruiu prazerosamente sua companhia. Significa também que o
filho não reconheceu a ajuda que a mãe lhe deu.
Ajudar é muito nobre e um gesto de amor, ao qual mãe nenhuma se furta.
Mas, se não ficar claro que a mãe o está ajudando, o filho pode entender que é
responsabilidade dela carregar sua mochila.
Assim se perpetua que quem vai à escola é ele, mas quem deve carregar a
mochila é a mãe. Para que carregar sua mochila se, até então, isso é obrigação
da mãe?
Essa é uma das melhores maneiras de um filho não adquirir responsabili-
dade pela própria vida. Mas o pior é quando o filho acredita que é obrigação dos
pais carregar as “mochilas da vida” e que a ele só cabe viver o prazer. O filho se
deforma transformando-se em “folgado”, enquanto os pais se “sufocam”.
Assim vai se organizando uma falta de ética em que o respeito a quem o ajuda
passa a não existir e a responsabilidade pelos próprios compromissos a se diluir.
Quem não respeita a própria mãe não tem por que respeitar outras
pessoas: pai, professores, autoridades sociais ou qualquer ser vivente, seja
mendigo, seja índio... Quem não se responsabiliza pelos próprios atos não
tem por que se preocupar com o que faz ou deixa de fazer...
Tudo isso pode ocorrer se carregar a mochila do filho for extensão social
do que a mãe faz dentro de casa, isto é, se ela carrega também a casa toda...
Carregar a mochila do filho é um erro de amor. Cometido por amor, pode ser
até aceitável, mas não se justifica. O maior amor é criá-lo e educá-lo para a
vida. E a vida exige qualidade, ética, liberdade e responsabilidade.
Ainda bem que nossa psique é plástica e os comportamentos podem ser
mudados a qualquer momento, desde que estejamos realmente mobilizados
para isso.
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Cultura Religiosa

Na primeira oportunidade esta mãe deveria fazer o esforço “sobrematerno”, que é maior que
o sobre-humano, para não carregar a mochila do filho. Vai ser uma briga interna muito grande
contra a sensação de estar sendo má, incompetente e omissa... Mas a mãe tem de saber que o que
sempre fez, pensando estar ajudando, na realidade prejudicou o filho e tem que acreditar que pode
mudar. Portanto, essa mudança de atitude tem a finalidade de educar saudavelmente o filho, por-
que só o amor não é suficiente para uma boa educação.
O filho tem de sentir todo o peso de sua mochila. Cabe à mãe oferecer ajuda.
Se ele, por birra, já que nunca carregou peso algum, recusar a ajuda, ótimo! A mãe não deve
sentir-se inútil. Pelo contrário, deve usufruir o filho, que está começando a assumir a própria res-
ponsabilidade, e curtir essa felicidade.
A mãe não deve incomodar-se com os olhares indignados de outras mães, querendo dizer:
“Que mãe desnaturada, que deixa o filho soterrado sob a mochila”.
A mãe precisa devolver os olhares dizendo quão cegas e submissas elas estão sendo aos pró-
prios filhos, que logo irão chamá-las de “escravas”, e perceber nelas já uma pontinha de inveja por
alguém estar conseguindo o que elas sempre desejaram...
É bem provável que já no dia seguinte essa mãe encontre algumas parceiras, para sua felici-
dade.
Chegará uma hora em que o próprio filho, não agüentando mais carregar a mochila, dirá, com
aquele ar de súplica que desmonta qualquer coluna vertebral materna:
“Manhêêê, me ajuda?”
Esta é a hora sagrada que Deus arrumou para a mãe tentar reparar as falhas educativas
anteriores. Portanto, não a deve perder de forma alguma. Carregar todo o peso da mochila
outra vez, jamais! Mesmo que tenha de lutar com todas as forças contra o “determinismo do
instinto materno”.
É chegada a hora de efetivamente ajudar o filho no que ele precisa. Portanto, nesse exato
momento cabe à mãe abrir a mochila, que ele mesmo deve, ou deveria, ter arrumado, e deixá-lo
pegar o que consegue carregar.
Se ele quiser levar a mochila com menos cadernos, ótimo! Se quiser carregar alguns ca-
dernos, ótimo também! Mesmo que seja pouco, se o filho começar a carregar alguma coisa,
já é ótimo.
Até agora o que ele aprendeu é que levar a mochila é obrigação da mãe. Portanto, vamos deva-
gar, até ele reaprender que essa obrigação é dele, e a sua mãe só o está ajudando. Se de pequenino o
filho carrega alguns cadernos, à medida que vai crescendo pode levar mais cadernos, até chegar o
dia em que conseguirá carregar toda a mochila.
Educar é preparar o filho para a alegria da liberdade sem depender de ninguém para “carregar
suas mochilas”.
Nesse novo processo, o mais importante é que o filho, ao chegar ao portão da escola,
sente na própria pele a ajuda de sua mãe, medida e quantificada pelo peso da mochila que
deixou de carregar.
Nessa hora, seu coraçãozinho se enche de gratidão, e vem espontaneamente o tão desejado

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Princípios de Ética

beijo do qual ela tanto correu atrás.


É um sentimento de reconhecimento do esforço que sua mãe sempre fez e ao qual ele nunca
deu valor. Esse reconhecimento dá ao filho o sinal da existência da mãe. Se existe, a mãe deve ser
respeitada. Assim, o filho, carregando a própria mochila, sendo auxiliado pela mãe nessa pesada
tarefa, cria dentro de si respeito pela pessoa que o ajuda.
Essa gratidão entra em seu quadro de valores e penetra fundo em seu modo de ser.
Quem tem respeito à própria mãe também respeita seus semelhantes. É dessa maneira que
um filho pequeno adquire a ética que vai torná-lo um cidadão na sociedade.

Destaques
1. Quem não se responsabiliza pelos próprios atos não tem por que se preocupar com o que
faz ou deixa de fazer...
2. A vida exige qualidade, ética, liberdade e responsabilidade. Ainda bem que nossa psique
é plástica e os comportamentos podem ser mudados a qualquer momento, desde que este-
jamos realmente mobilizados para isso.
3. Só o amor não é suficiente para uma boa educação.
4. Quem tem respeito à própria mãe também respeita seus semelhantes. É dessa maneira que
um filho pequeno adquire a ética que vai torná-lo um cidadão na sociedade.

1. Faça uma relação dos seus valores e classifique-os por prioridade. Depois, discuta com os cole-
gas suas escolhas.

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Cultura Religiosa

2. Como está a sua consciência? Ela o “cutuca” quando você faz uma ação eticamente inaceitável?
Explique.

3. Quem é responsável por estabelecer um convívio estável: a sociedade ou o indivíduo? Escreva


sobre isso.

Faça a sua reflexão sobre os seus valores. Qual seria a melhor ordem de valores para melhorar
as condições de vida de cada um?

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Ética – uma
perspectiva cristã

P
or que a Ética Social é diferente da Ética Religiosa? A resposta está na fonte. Na ética social
está a mão do homem, enquanto na religiosa está a mão de Deus. É por isso que as pessoas não
gostam do debate sobre determinados assuntos. A ética religiosa é rígida, nada foi mudado nela.
Alguns dizem que é antiquada, pois as pessoas mudaram e o mundo está diferente. Mas, ele mudou
para melhor? Continuamos com muitos problemas e o homem parece não encontrar solução definitiva
para nenhum deles.

Ética – uma abordagem


Religiosa e distinção da Social
Ética Social Ética Religiosa
Princípios: extraídos da convivência humana, a partir das
Princípios: extraídos das doutrinas que fundamentam
idéias filosóficas que traduzem os anseios e as expectativas
a religião. São perenalistas por serem mais rígidos e
da sociedade. São situacionistas por serem flexíveis e se
dificilmente admitem mudanças históricas. Resultam do
adaptarem às mudanças históricas. Resultam do anseio pela
amor.
liberdade.

Meios: partem do próprio sistema cultural sobre o qual


Meios: a lei moral que busca determinar o que é melhor para
atuam as diversas instituições sociais (família, escola, igreja,
o ser humano.
empresas, meios de comunicação, partidos políticos etc.).

Fins: atingir o bem superior. Por isso, é transcendente, ou


Fins: atingir o bem comum. Por isso, é imanente, ou seja,
seja, projeta o ser humano para além deste mundo material,
restrita aos limites humanos, temporais e sociais.
buscando um sentido eterno para sua vida.

(KUCHENBECKER, 2000, p. 194).

Ética – uma perspectiva religiosa cristã


Como todos os pensamentos religiosos, o Cristianismo também possui sua perspectiva ética. É
verdade que a diversidade do pensamento cristão faz-nos perceber que não há um único modo cristão
de entender o tema.
Respeitadas as diferenças de compreensão, de uma forma geral a abordagem religiosa cristã
da ética não pode fugir de sua centralidade: o Cristo, retratado no Novo Testamento, parte do texto
sagrado dos cristãos.

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Cultura Religiosa

Cristocentrismo: Jesus Cristo e sua ação de salvação são os centros da


discussão e fonte de orientação ética e de poder de transformação.
Fundamentação novo-testamentária: a Bíblia é a fonte e norma, tanto do
ensino como das práticas cristãs. (STEFFEN, 2002).

Ética religiosa cristã: algumas críticas


Em razão das afirmações do item anterior, o Cristianismo elaborou críticas
a sistemas éticos que fogem dos seus pressupostos, como vemos a seguir:
Princípio Crítica Cristã
Os outros não entram em consideração. Os outros são
Hedonismo: o prazer é o critério maior. O
excluídos por suas deficiências numa sociedade que
bem é o que dá prazer e o mal é o que causa
não perdoa a imperfeição. Mas é bom lembrar que são
a dor.
todos seres humanos, criaturas de Deus.
Individualista: busca-se o prazer individual.
Quem julgar sua ação digna de um bem maior para
Universalista: o bem maior para o maior
um número de pessoas encontra sua justificativa
número de pessoas.
para executá-la.

Naturalismo: a natureza é o princípio


válido para todos em todos os tempos. A Como ficam os fracos e doentes, raças tidas com baixo
sobrevivência é o bem maior a ser buscado e nível de evolução? Vale a lei do mais forte?
o que a dificulta deve ser eliminado.

Relativismo: como cada situação é única,


Defender a inexistência de verdades absolutas torna-se
não há princípio experimental que defina o
uma verdade absoluta.
que é bom e mau.

Esteticismo: o que entra em consideração O que importa é o aqui e o agora.


não é o ato em si, mas o resultado dele Auto-realização individual ou grupal sem medir o ato
obtido. Os sentidos e emoções são utilizados em si.
para dar significado à vida e transformar A existência aqui e agora se sobrepõe a qualquer
insignificância em beleza. outro valor.

Idealismo: é a busca de um ideal fora do


Se o senso moral está na consciência, onde está a
ser humano e da Natureza.
Consciência?
Intuicionismo: todos têm um conhecimento
Se o senso de dever se sobrepõe por meio do
intuitivo do que é certo e errado.
raciocínio, os mais capazes estabelecem os melhores
Racionalismo: o certo e o errado dependem
deveres.
do uso exato do raciocínio.

(FORELL, 1983, p. 40).

Ética Religiosa cristã: crítica interna


Há duas posturas comumente praticadas dentro do Cristianismo. Uma mais
negativa (legalista) e outra mais positiva (pedagógica).

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Ética – uma perspectiva cristã

Legalista: a lei de Deus é vista de forma inflexível, e deve ser cumprida em


sua plenitude. Caso a pessoa não a cumpra, o infrator só é redimido do erro
mediante punição e penitência. É prática coercitiva e baseada no medo.
Pedagógica: a lei de Deus é um método educativo que visa orientar a
conduta humana dentro de princípios, movidos pelo amor e pelo desejo
de proteger o indivíduo dos perigos morais. Pressupõe livre aceitação
dos princípios cristãos, sem coerção. (STEFFEN, 2002).

Ética Religiosa cristã e o Amor


Os significados que o Amor apresenta na linguagem comum são múltiplos e
quase sempre mal compreendidos, em razão de pouco se pensar sobre este termo.
Acreditamos que Amor é um sentimento e como tal não se explica. A história da
Filosofia, no entanto, tem demonstrado diferente: pode-se pensar o Amor mas,
atualmente, nos desacostumamos a isso.
O Cristianismo, regra geral, afirma que o amor é o fundamento maior de
seu princípio ético. Para defini-lo como fundamento ético, essa religião costuma
diferenciar o tema a partir de três concepções.

Amor Sentido

Toda e qualquer relação humana resultante da funcionalidade das


sensações (sentidos físicos). Nesse sentido entende-se amor como
força unificadora e harmonizadora, tanto sexual como política,
resultante dos sentidos físicos. Quando os sentidos funcionam
em sua normalidade biológica, é possível falar em sensualidade.
Quando essa normalidade é quebrada, ficando fora de controle, fala-
Eros se em paixão.
Normalmente, esse modo de amor identifica-se com a sexualidade,
tendo em vista que, ao sermos despertados para alguém, nossa
sensualidade descontrola-se e, se correspondida, somos conduzidos
à paixão que culmina no completo descontrole dos sentidos, a
sexualidade.
Não se identifica com a base cristã para a Ética.

Toda e qualquer relação humana resultante de atitudes concordantes


e afetos positivos (solicitude, cuidado, piedade etc.). O termo é
semelhante com a noção de afeição e amizade. Nesse sentido,
Filia é possível dizer que a dimensão desse amor se dá por escolha, é
seletivo, e por concordância ou, se preferirmos, por concórdia, o
que implica abrir mão de juízos valorativos condenatórios.
Não se identifica com a base cristã para a Ética.

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Cultura Religiosa

Amor Sentido

Toda e qualquer relação humana resultante da ação de Deus e que se


estende a todo o “próximo”. Ela se caracteriza pela aceitação mútua.
Nesse sentido é possível falar que ágape é a disposição à igualdade
verificada quando Deus, na criação, tornou o ser humano igual a Ele
Ágape e quando, na redenção, Ele mesmo torna-se, em Cristo, Ser Humano
para resgatar nossa dignidade pela compreensão e perdão. Essa é a
ação de Deus em nós e que se estende, por nós, a todo o “próximo”.
Nós amamos porque Ele nos amou primeiro.
Essa é a base cristã para a Ética.

Ética Religiosa cristã


e Moral Religiosa – os Dez Mandamentos
Para os cristãos, os Dez Mandamentos, mais do que um manual de com-
portamento humano e social, apontam uma sugestão de cumprimento de papéis
ou funções para o bom exercício do Amor (ágape) enquanto aceitação mútua que
compreende e perdoa.
Costuma-se dividir os Dez Mandamentos em dois grupos:
a) Amar a Deus
“Eu sou o Senhor, teu Deus. Não terás outros deuses diante de mim”.
Confiança em Deus acima de todas as coisas.
“Não tomarás em vão o nome do Senhor teu Deus, porque o Senhor
não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão”. Em nome de
Deus não amaldiçoar, jurar, praticar a feitiçaria, mentir ou enganar,
mas invocá-Lo em todas as necessidades, orar, louvar e agradecer.
“Santificarás o dia do descanso”. Não desprezar a pregação e a pala-
vra de Deus, mas considerá-la santa, gostar de ouvi-la e estudá-la.
b) Amar o próximo
“Honrarás a teu pai e a tua mãe, para que te vás bem e vivas muito
tempo sobre a Terra”. Não desprezar e nem irritar pais e superiores,
mas honrá-los, servi-los, obedecer-lhes, amá-los e querer-lhes bem.
“Não matarás”. Não causar dano ou mal algum ao corpo do próximo,
mas ajudá-lo e favorecê-lo em todas as necessidades.
“Não cometerás adultério”. Levar uma vida casta e decente em pala-
vras e ações, cada um amando e honrando seu parceiro.

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Ética – uma perspectiva cristã

“Não furtarás”. Não tirar do próximo o dinheiro ou seus bens e nem


apoderar-se deles por meio de mercadorias falsificadas ou negócios
fraudulentos, mas ajudá-lo a melhorar e conservar seus bens e seu
meio de vida.
“Não dirás falso testemunho contra o teu próximo”. Não mentir com
falsidade, trair, caluniar ou difamar o próximo, mas desculpá-lo, falar
bem dele e interpretar tudo da melhor maneira.
“Não cobiçarás a casa do teu próximo”. Não pretender adquirir, com
astúcia, a herança ou a casa do próximo, nem se apoderar dela sob a
aparência de direito, mas ajudar-lhe e servi-lo para conservá-la.
“Não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem os seus empregados,
nem o seu gado, nem coisa alguma que lhe pertença”. Não apartar,
desviar ou aliciar a mulher do próximo, os seus empregados ou o seu
gado; mas aconselhá-los para que fiquem e cumpram o seu dever.

Ética Social cristã


Os cristãos estão cientes que hoje a maioria dos cidadãos, dentro de suas
liberdades individuais, não fazem parte do Cristianismo. Apesar disso, eles enten-
dem que seu modo de perceber o universo e o ser humano pode contribuir para
relações sociais mais harmônicas e igualitárias.
A base cristã para essa percepção encontra-se no fato de todos os seres
humanos serem filhos criados e amados por Deus, em Cristo Jesus, que podem
viver digna e harmoniosamente, com justiça, em paz, com solidariedade e perdão,
dentro de ordens adequadas ao grupo de convivência.
Emergem dessa intenção dois modos, convergentes, de aplicar a Ética Social
cristã:
ama a teu próximo como a ti mesmo: embora nem sempre vivamos de
acordo com essa regra, a maioria das pessoas concorda que deveríamos
fazê-lo;
trata os outros como gostarias de ser tratado: é o princípio da reciproci-
dade (STEFFEN, 2002).
Acredito que aqui encontramos ótimos fundamentos para a Ética. Você pode
refletir em todas estas situações e chegar às conclusões necessárias para a mudança
de comportamento, ou pode continuar igual. Talvez os seus princípios já estejam bem
definidos e não haja necessidade de reflexão. Mas considero a humildade uma virtude.
Acreditamos que nossa mudança pode ser contínua. Agora, atenção: cuide para não
sair por aí pensando que é o melhor, que está por cima. Lembre que na ética cristã o ser
humano não está sozinho, pois Deus está com ele nas suas decisões e nas suas ações.

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Cultura Religiosa

1. Se você tivesse que optar entre Ética Social ou Ética Cristã, qual seria sua escolha? Justifique.

2. Discuta com seus colegas, ou mesmo em casa com sua família, o princípio do amor ágape. Es-
creva o que você entendeu sobre isso.

3. Sobre os Dez Mandamentos, a lei de Deus, é possível cumpri-los na íntegra no mundo em que
vivemos? Justifique.

Indico um livro interessante que trata sobre Ética e envolve as nossas decisões diárias.
FORELL, George W. Ética da decisão. São Leopoldo: Sinodal, 1983.

A partir da leitura do texto, o que você pode fazer para aplicar a Ética nas suas ações? Qual
modelo utilizar? Faça seu parecer descritivo.
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Ética – assuntos práticos

V
amos trabalhar na prática alguns assuntos-chave do nosso meio. São problemas éticos que
encontramos diariamente e estão sempre expostos para discussão. É difícil chegarmos a uma
definição para estes problemas. Não cabe aqui definir o que é certo e errado. Precisamos re-
fletir sobre as causas e conseqüências das ações humanas e, através da ética, procurar canalizar as
nossas ações para o bem.

A ordem da vida: a Ética nas questões da vida


A Ética e a Ciência na origem da vida
A coisa mais valiosa e insubstituível que o ser humano possui é a vida. O que é vida? É muito difícil definir vida,
devido à sua natureza abstrata. Vida não é o ar que respiramos, pois sob o ponto de vista biológico, respirar, co-
mer e tantas outras coisas das quais necessitamos para viver são apenas meios ou condições de nos mantermos
vivos. Mas o ser humano é composto por duas dimensões distintas, porém, unidas entre si, ou seja, ele é matéria
e espírito. Sobre a vida material, física e biológica, já possuímos inúmeras informações. O mais difícil é definir o
que é vida no sentido espiritual, porque pouco ou nada conhecemos sobre este aspecto de nossa natureza íntima.
E o pouco que conhecemos sobre a dimensão abstrata e espiritual da vida sofre grandes restrições por parte da
cultura moderna, muito positivista e empirista. (HAAG, 2000, p. 197).

O importante é destacar aqui que, do ponto de vista da ética religiosa, a vida é um dom ou pre-
sente de Deus. E como todo presente que se recebe, a vida deve ser bem cuidada, porque, como se
entende no senso comum, não se devolve e nem se joga fora um presente recebido pelo simples fato
de que isto indicaria menosprezo e ofensa à pessoa que deu o presente.

A bioética
Um dos mais novos campos que está se abrindo para a Filosofia e a Teologia é a reflexão em torno da ética da
vida (bioética), em virtude das mais recentes pesquisas da ciência genética. Enquanto a ciência se ocupa com um
objeto específico, a ética preocupa-se com aspectos gerais que afetam o homem e a sociedade, no que diz respeito
aos aspectos positivos ou negativos das ações da ciência sobre a vida. E estas questões interessam tanto à Filosofia
quanto à Teologia. À Filosofia interessa em virtude de que se ocupa com a moral a partir do enfoque racional, e
à Teologia, porque aborda a mesma questão a partir da fé. Apesar das diferenças, ambos os enfoques convergem
para o mesmo ponto: a defesa da vida como bem maior do homem. (HAGG, 2000, p. 198).

Constatamos aqui uma preocupação. Até que ponto a religião pode barrar o progresso da ciên-
cia? Pensamos que nem é bom fazer isso. Desde que os princípios utilizados para a pesquisa sejam
bons. Devemos inclusive apoiar o avanço científico. Deus dotou o homem de capacidade para des-
vendar muito dos mistérios deste mundo. Mas é importante salientar que a nossa opção é sempre pela
preservação da vida humana.

A eugenia
Este termo deriva da língua grega e é composto pelo prefixo eu, que significa “novo”, e pelo termo genos, que
significa “vida”. Portanto, o termo “eugenia” significa “nova vida”. A eugenia está relacionada com as mais re-
centes pesquisas no campo da Biologia e da Genética. A Ciência da Genética está fazendo progressos gigantescos
nas pesquisas que dizem respeito a melhorias e transformações nos genes humanos e animais que são respon-

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Cultura Religiosa

sáveis por doenças somáticas e defeitos físicos. Eliminando-se tais genes causadores de
problemas, teremos, como conseqüência, pessoas mais sadias, isto é, livres de doenças
hereditárias e imunes a doenças maléficas que possam ser adquiridas posteriormente. Não
há a mínima dúvida de que tais contribuições da ciência sempre são bem-vindas. Mas,
infelizmente, sabe-se também que o uso e a aplicação de tais conhecimentos podem ser
voltados não para o benefício do homem e da sociedade, mas para interesses egoístas,
como a dominação e a exploração econômica. (HAAG, 2000, p. 199).

Temos recentes notícias de avanços nestas pesquisas. O projeto genoma, por


exemplo, que busca mapear o DNA, está num processo bem avançado.
Também não deve demorar para que cientistas anunciem a clonagem hu-
mana. E então, a partir dos interesses humanos, surgem as dúvidas: tem a ciência
esse direito de reproduzir em série os seres humanos? Quem será o modelo ou
protótipo ideal? Do ponto de vista filosófico podemos perguntar: poderá a clona-
gem reproduzir também as idéias e a moral da pessoa? Surge a pergunta teológica:
a clonagem reproduzirá também os pecados da pessoa? A fé e as virtudes são
transmitidas junto com a clonagem?
É claro que não vamos responder as questões. Mas estão aí para analisarmos
a complexidade dessa discussão.

Bebê de proveta
O termo técnico mais adequado é inseminação artificial in vitro, ou seja, a fecundação
(união do óvulo com o espermatozóide) é feita num tubo de ensaio em laboratório e depois
o embrião é introduzido no útero da mulher. Esta é uma técnica que resolve os casos em
que a gravidez não ocorre por problemas circunstanciais que impedem a fecundação. É
relativamente simples e não envolve maiores problemas éticos. A questão mais importante
é que a inseminação artificial não resolve problemas congênitos de infecundidade, tendo-
se, por isso, que utilizar outros meios, como a “barriga de aluguel”, na qual surgem vários
problemas éticos. (HAAG, 2000, p. 200).

Vejam que hoje este assunto não é mais novidade. As pessoas que buscam
esta técnica estão buscando a solução para um problema antes sem solução. Claro
que aí surgem outras indagações. Questiona-se de um lado se isso não poderia ser
resolvido com a adoção, já que encontramos milhares de pessoas abandonadas no
mundo. Mas é apenas uma reflexão.

Barriga de aluguel (mãe substituta)


Barriga de aluguel é um termo genérico para designar a figura da “mãe substituta” na
gestação de um ser humano. Barriga de aluguel consiste na seguinte situação: por impos-
sibilidade de uma mulher poder gerar seu próprio filho, ela “aluga” o útero de outra, que se
dispõe a gerar o óvulo fecundado daquela que não pode ter seu próprio filho. Uma clínica
especializada faz a fecundação in vitro e instala o embrião na mãe substituta. A mãe ge-
nética assiste e acompanha a mãe substituta, garantindo-lhe todos os recursos para que a
criança se desenvolva dentro da normalidade e nasça sadia e forte. (HAAG, 2000).

Podemos analisar o problema do ponto de vista legal usando os Códigos


Civil e Penal. Estes apenas permitem que bens materiais sejam objeto de compra
e venda. Pessoas não podem ser alvo de valor comercial, como no caso de adoção
de crianças, exploração de menores para a prostituição, emprego de mão-de-obra
escrava, entre outros. Além disso, temos todos os outros problemas relacionados à
mãe geradora da criança, os problemas psicossomáticos, a consciência.
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Ética – assuntos práticos

Eutanásia
O termo “eutanásia” deriva da língua grega e é composta pelo prefixo eu (boa) e do subs-
tantivo tánatos (morte), que, portanto, significa “boa morte”, ou uma morte sem sofrimen-
to. Há dois tipos de eutanásia: a ativa e a passiva. A eutanásia ativa caracteriza-se pelo
uso de meios diretos para interromper a vida e antecipar a morte. Essa forma é legalmente
condenada. Nenhum médico poderá praticar tal intervenção, pois no juramento de Hi-
pócrates (primeiro médico), há um compromisso de salvar vidas, e não de condenar à
morte. A dúvida ética repousa sobre a eutanásia passiva, ou seja, a intervenção que se faz
desligando os aparelhos que mantêm viva a pessoa que está clinicamente morta (morte
cerebral), não havendo mais, neste caso, a mínima chance de vida. A questão é a seguinte:
pode-se, nesse caso, como gesto de piedade, livrar a pessoa dessa situação, e, quem sabe,
livrar também os familiares de uma situação deprimente? (HAAG, 2000, p 202).

Apesar das mais diversas opiniões, a decisão nunca deverá ser tomada de
forma isolada e arbitrária. De acordo com a ética religiosa, Deus é o doador da
vida e só a ele pertence o direito de determinar o seu fim. Por isso, ninguém, nem
mesmo um profissional da saúde, pode decidir de forma arbitrária e praticar a
eutanásia. Toda e qualquer decisão em termos de eutanásia passiva deverá passar
por um conselho de ética, que a maioria dos hospitais possui, composta por uma
equipe multidisciplinar. É importante que os familiares sejam ouvidos, e deverá
sair daí uma decisão clara, transparente, convicta, unânime e consciente quanto
ao que será feito em favor da pessoa clinicamente morta.

A Ética da corporeidade
A sexualidade humana
O ser humano, tal qual os animais e as plantas, é um ser sexuado. A diferença é que o
ser humano não age por instintos, porém seu comportamento sexual está submetido à di-
mensão racional (cognitiva, volitiva e afetiva) e espiritual (moral e religiosa). Os animais
têm o comportamento sexual determinado pelos instintos para a preservação da espécie
e não possuem a mínima consciência do que tal ato representa. O ser humano, mesmo
tendo instintos muito elementares, não é determinado por eles, mas pela sua dimensão
racional, e, por isso, pode e deve ter consciência do que o ato sexual representa para si,
para seu parceiro e para a sociedade. O ser humano precisa ter consciência das múltiplas
implicações, boas ou más, certas ou erradas, positivas ou negativas que tal ato tem sobre
si, sobre a outra pessoa, sobre a sociedade e diante da vontade de Deus. Além disso, há
que se considerar também que o ato sexual não é apenas uma relação de amor do tipo eros,
mas envolve também o amor do tipo filos (afetivo) e do tipo ágape (espiritual). Equivoca-
damente, há os que entendem que sexo é uma necessidade fisiológica. O ato sexual é um
ato físico, mas nem por isso é uma necessidade fisiológica. Os aspectos mais significativos
na relação sexual humana estão relacionados com os aspectos afetivos e espirituais que tal
relação envolve. As pessoas não se unem por causa do sexo, mas porque querem ter um(a)
companheiro(a), um(a) amigo(a), alguém em quem possam confiar e com quem possam
compartilhar os bons e os maus momentos da vida. O sexo apenas complementa essa re-
lação afetiva e espiritual. (HAAG, 2000, p. 205).

Por isso é importante discutir este tema com muita seriedade. Aula de sexu-
alidade nas escolas não deve ensinar somente o funcionamento dos órgãos repro-
dutores, mas principalmente a responsabilidade e o controle que as pessoas devem
ter sobre o sexo. Principalmente porque pode causar problemas maiores como: a

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Cultura Religiosa

gravidez indesejada e doenças sexualmente transmitidas, como a aids, por exem-


plo, pois ainda não existe remédio para a cura total. Os pais devem conversar com
os filhos sobre isso, um papo franco e aberto, sem tabus.
Vemos um problema sério na questão da sexualidade nos dias atuais: passamos muito ra-
pidamente de um extremo ao outro, ou seja, de um período em que sexo era um tabu, algo
proibido e condenado, para um período no qual, por causa do excesso de restrição, passou-
se para o excesso de permissividade. Um erro não justifica o outro. É preciso encontrar
o equilíbrio para o bem do próprio ser humano, que recebeu de Deus este maravilhoso
presente: a sexualidade dentro da dimensão afetiva e espiritual, privilégio do qual plantas
e animais não desfrutam. (HAAG, 2000, p. 207).

A prostituição
A partir da visão da ética social, entende-se que o ser humano tem plena liberdade de fazer
as opções que melhor lhe couberem. Hoje se pensa que se alguém escolheu a prostituição
como modo de vida, ninguém tem nada a ver com isso, pois ninguém deve intrometer-se
na vida alheia. Porém, a partir da visão da ética religiosa, o princípio que vigora não é a
liberdade, mas o amor ágape. Então, a pergunta que se faz a partir desse ponto de vista
da ética religiosa é: as pessoas têm, de fato, liberdade de usar seu corpo como objeto
econômico? É certo alguém “comprar” o corpo de uma outra pessoa para satisfazer suas
necessidades sexuais? (HAAG, 2000, p. 208).

O ser humano não é coisa, não é produto, não é mercadoria. Ele tem alma,
sentimentos e coração. Neste nível, o que deve falar mais alto e valer muito mais é
o amor mútuo. Quando alguém chega ao ponto de “vender” o seu corpo é porque
algo muito grave está acontecendo com ele e com a sociedade. Tal pessoa precisa
ser tratada com amor e não ser explorada na sua necessidade ou fraqueza. Pesqui-
sas nos mostram que a grande maioria das pessoas que vivem na prostituição está
nesse meio não por opção livre, mas por questões econômicas, familiares, psí-
quicas, afetivas e educacionais. Assim, também, a grande maioria delas gostaria
de mudar de vida e viver como pessoas normais, dentro de um ambiente familiar
harmonioso.
O que estas pessoas mais gostariam de ter na vida é o amor e uma chance que nunca
tiveram: serem respeitadas. Muitas delas se sentem rejeitadas e inferiorizadas pelo fato
de viverem em tais condições subumanas: sem carinho, sem afeto e sem dignidade, pois
todos vêem nelas um objeto que se compra, e não uma pessoa que reclama por melhores
oportunidades na vida, que reclama para ser alguém. (HAAG, 2000, p.208).

Uso e dependência de drogas


Este é mais um dos problemas preocupantes na nossa sociedade. Quantos
pais perdem filhos para a droga?
Um dos problemas humanos e sociais de maior gravidade é o problema que envolve o uso
e a dependência de drogas, que traz conseqüências físicas e psíquicas a curtíssimo prazo e,
geralmente, irreversíveis. A pergunta inquietante que surge é: o que faz com que pessoas
optem pelas drogas, sabendo que se autodestruirão? Será que são livres para tomar uma
decisão que implica renúncia à vida? (HAAG, 2000, p. 209).

Não podemos sair condenando os jovens por este comportamento. Eles pre-
cisam de ajuda. Aliás, precisam de amor. Não fizeram uma opção simples e livre.

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Ética – assuntos práticos

Há causas mais profundas de ordem psíquica e afetiva que os influenciam a entrar


no “mundo” das drogas. Muitos buscam nas drogas uma forma de se punir ou de
fugir de algum problema que têm medo de enfrentar. Há o caso daqueles que que-
rem chamar a atenção dos pais, como forma de reclamar atenção e afeto. Há casos
em que a pessoa é levada às drogas pela curiosidade ou como forma de desafiar o
perigo, tentando mostrar que é forte, mas isso também revela um tipo de insegu-
rança e falta de afeto ou atenção.
Mas é importante dizer que quando falamos em droga, não falamos somente
em drogas ilícitas, como a maconha, a cocaína, o crack, entre outros. Falamos
também das lícitas, como o cigarro e a bebida. A bebida que está aí. A televisão
está cheia de propagandas convencendo as pessoas a beber. Os jovens adolescen-
tes já não vão mais a uma festa sem a cerveja. Não tem graça. Aí é que muitos se
iniciam no mundo das drogas. A droga atinge todas as faixas etárias, não esqueça.
Não são somente os jovens.

A ordem familiar: a Ética na família


A família: sua constituição
O que é família hoje? Um grupo de pessoas vivendo debaixo de um mesmo
teto? Um casal legalmente unido com direito a ter e criar seus próprios filhos?
Uma relação de pessoas que têm uma base econômica estável? Um casal que jurou
ser fiel um ao outro até que a morte os separe? Então vamos ver:
Para a ética social, a família é constituída a partir do momento em que duas pessoas de-
cidem viver juntas. Mas, na maioria das vezes, a motivação dessa união está baseada na
idéia de que o casamento dá a tão sonhada liberdade de praticar livremente o sexo sem as
inconvenientes restrições morais e sociais. Percebe-se em tais situações que o que moti-
vou essa união foram apenas os interesses egoístas de cada um, sem se considerar a pes-
soa humana do outro. Quando isso acontece, não se pode dizer que aí há uma família. O
vínculo familiar pressupõe uma ligação honrosa e digna com a pessoa do outro, e não que
o outro seja um objeto de uso que, quando não serve mais, torna-se descartável. (HAAG,
2000, p. 211).

Mas aqui é importante analisar a família também a partir da Ética Religiosa.


Vejam que encontramos uma conotação diferente da ética social:
Para a ética religiosa, a constituição da família não se dá a partir da vontade humana,
mas a partir da vontade divina. Pois, para a religião, homem e mulher são criaturas de
Deus e ele mesmo os uniu e abençoou para completarem-se física e psicologicamente na
vida a dois. Por isso, na visão da religião, a família é constituída e fundamentada sob a
vontade divina, que é expressa nas doutrinas que fundamentam a religião, na qual homem
e mulher não são vistos como objetos de mero prazer sexual, mas como pessoas criadas
conforme a imagem e semelhança de Deus, a fim de viverem de modo digno, fraterno e
humano. (HAAG, 2000, p. 212).

A família deve dar condições para que o ser humano tenha um desenvolvi-
mento como pessoa e ser social num ambiente que lhe permita isso. A família é,

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Cultura Religiosa

como já diziam há vários séculos os latinos, “a célula-mãe da sociedade”. Tudo


depende da família. É no seio familiar que os filhos são educados para a vida.
A ação ética de cada um vai depender muito do que foi aprendido e vivido entre
pais e irmãos.

Casamento, divórcio, recasamento


O casamento, bem como a família e o lar, atravessam juntos a mesma crise de valores éti-
cos do mundo contemporâneo, marcado pelo individualismo, liberalismo e pragmatismo
hedonista. A partir da visão da ética social, o casamento não passa de um contrato formal
entre duas pessoas, que, “se não derem certo”, desfarão a “empresa” e tentarão novamente
com um outro “sócio”, como se o casamento fosse uma S.A. (Sociedade Anônima). A ética
religiosa, mesmo tendo sido taxada de arcaica, tem se posicionado como voz discordante
das “novas tendências” do mundo moderno e tem insistido na visão de que o casamento
é de origem divina e, portanto, deve fundamentar-se sobre os princípios éticos do amor
ágape. Casamento não é loteria, mas um projeto de vida que assumimos perante Deus e a
sociedade, devendo, por isso, ser encarado com responsabilidade, porque as pessoas não
são objetos dos quais podemos dispor para fazer experiências temporárias. Casamento
não é um contrato, mas um projeto de vida para o qual deve haver a bênção de Deus.
(HAAG, 2000, p. 213).

A família parece estar em crise. O casamento está em crise. É o que dizem


as pessoas. Mas a crise é ética e moral, ou seja, houve a perda dos valores funda-
mentais pela pessoa, como por exemplo, o amor e o respeito ao próximo.
O divórcio, conforme a ética protestante, não é uma regra, mas uma exceção. O princípio
que a ética protestante defende é o da indissolubilidade do matrimônio, pois a Bíblia (nor-
ma de fé e vida) diz: “o que Deus uniu, não o separe o Homem”. Porém, como é inevitável
que aconteçam problemas e desentendimentos entre casais, a ética protestante postula os
seguintes procedimentos frente a tais problemas:
que o casal esgote todas as possibilidades na busca da solução para superarem seus pro-
blemas e permanecerem unidos;
mesmo que resolvam separar-se, façam a experiência por breve tempo, dando prioridade
para a reconciliação;
só em último caso recorram ao rompimento definitivo e que, então, primeiro legalizem
a situação anterior para só depois disso começarem vida nova, cumprindo as formalidades
legais e o que determina a lei de Deus. (HAAG, 2000, p. 215).

É importante ainda citar o recasamento, ou seja, o recomeço de uma nova


vida conjugal, mesmo sendo admitido pela ética protestante, deve ser feito com
muito cuidado. O catolicismo, não admitindo o divórcio como forma legal de se-
paração, também não admite haver uma forma legal para o recasamento. Já o pro-
testantismo admite a legalização do divórcio nos casos previstos anteriormente
e, por isso, também nestes casos, admite a legalização do novo casamento, bem
como a bênção religiosa para uma nova união matrimonial (pois, caso contrário,
condenar-se-ia ao adultério ou ao concubinato a parte inocente). É de direito e da
natureza humana que pessoas jovens, mesmo divorciadas em situações legítimas,
sejam amparadas (e não condenadas) pela religião, a fim de terem uma vida digna,
honesta e cristã.

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Ética – assuntos práticos

A ordem de justiça:
a Ética nas questões legais
A pena de morte
Definimos a pena de morte como a punição máxima aplicada a um infrator,
eliminando a pessoa do convívio social e tirando-lhe a vida com a aplicação da
pena capital.
Aqui se levantam muitas questões de ordem legal e religiosa. No Brasil, no
período do Império, havia a pena de morte, mas ela foi abolida por causa de um
erro judiciário no qual se tirou a vida de um inocente. A partir de lá, não se tem
mais na lei brasileira a prática legalizada da pena de morte. Já foram feitas várias
tentativas para a reimplantação no Código Penal do artigo que faculta o uso de tal
lei. Os debates em torno do assunto bipolarizam-se de tal maneira que há argu-
mentos a favor e contra.
Argumentos a favor:
diante do medo da punição com morte, haveria diminuição da violência
e da criminalidade;
o Estado não teria tantos gastos com a manutenção de presídios (verda-
deiras universidades do crime).
Argumentos contrários:
possibilidade de erro judiciário e, com ele, a condenação de um inocente;
uso político e ideológico da pena, sendo, nesse caso, uma arma na mão
de maus governantes que se voltam contra o próprio cidadão;
estatísticas em países em que há a pena de morte revelam que ela foi
aplicada, na maior parte das vezes, contra pobres, negros e índios. Foram
raros os casos de ricos e/ou brancos a serem condenados;
a pena de morte não diminuiu a criminalidade, apenas a refreou num
primeiro momento;
é falso o argumento econômico, porque os gastos para evitar erro judicial são
muito altos e maiores do que os gastos com a manutenção dos presídios.
Do ponto de vista da Ética Religiosa, o assunto também é controverso, pois
há teólogos que, baseados em textos bíblicos, defendem a pena de morte, e outros
que são contra ela, porque entende que só Deus tem autoridade de punir com a
morte, por ser ele o autor da vida.
Pessoalmente, sou contra a pena de morte, visto que ela seria usada como um instrumento
que apenas atingiria os efeitos, ficando as causas do problema sem serem atingidas. As
ondas de corrupção que afetam governantes e autoridades no Brasil não lhes dão idonei-

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Cultura Religiosa

dade moral para serem os depositários fiéis de uma lei tão severa e drástica. Num país no
qual apenas “ladrões de galinha” vão para a cadeia e os criminosos de “colarinho branco”
ficam impunes, fica desautorizada a validade da implantação da lei da pena de morte.
(HAAG, 2000, p. 221).

O aborto
É um assunto que merece atenção especial e é difícil de discutir, pois envol-
ve culpa, consciência. Mas todos os casos devem ser tratados com muito cuidado.
Vejo que aqui, a questão do amor cristão é fundamental para chegarmos a alguma
conclusão.
A lei brasileira considera crime a prática do aborto, sendo, portanto, sujeito a sanções pe-
nais. Mas há uma disseminação de clínicas que fazem a prática clandestina do aborto, sem
a devida coibição das autoridades. A lei brasileira admite duas exceções: 1.º) em caso de
risco de vida para a mãe; 2.º) se a gravidez foi proveniente de estupro. Em ambos os casos,
o médico fica autorizado a fazer o aborto, desde que seja realizado até o terceiro mês de
gravidez. (HAAG, 2000, p. 222).

Os problemas morais que provêm da prática do aborto, segundo a ética re-


ligiosa, dizem respeito a questões que envolvem a concepção teológica de vida.
Como já vimos antes, a vida é considerada um presente de Deus e ninguém tem
o direito de atentar contra a vida de quem quer que seja, especialmente de um ser
indefeso dentro de um útero.
A ética cristã, mesmo que o aborto venha a ser legalizado, sempre orientaria o cristão a
não se valer de tal lei, porque nem tudo o que é legal é, automaticamente, moral. A moral
do cristão, em tudo, sempre será orientada pela vontade de Deus. Porque esse mundo,
com suas paixões e concupiscências, passará, mas a vontade de Deus permanecerá para
sempre. (HAAG, 2000, p. 223).

A ordem civil: a Ética na política


O ser humano, entre todos os seres da natureza, é o único que desenvolve formas organi-
zadas de vida social. Os animais, nas suas mais diferentes espécies, mesmo vivendo em
grupos, não possuem uma forma organizada de vida. Nas espécies animais, as relações
grupais são determinadas pelos instintos, a fim de garantir a reprodução e a sobrevivência
da espécie. Por isso, cada espécie possui um padrão próprio de vida grupal. Há regras
naturais que determinam a função e o comportamento de cada “membro” que compõe a
espécie. (HAAG, 2000, p. 224).

A política
Este é um termo muito desgastado hoje e, por isso, para muitos, tem um significado pe-
jorativo. Porém, tanto o significado semântico como o filosófico do termo “política” é
muito significativo. Ele provém da palavra pólis, que significa cidade-estado. Cada ci-
dade da Grécia formava um Estado independente que estava unido numa confederação
de cidades, formando, assim, a nação grega. Cada cidade-estado era autônoma e, por
isso, tinha vida e cultura próprias. Cada uma possuía suas próprias leis. E as leis de cada
cidade eram feitas a partir da discussão pública dos problemas que a afetavam. Todos os
cidadãos livres tinham vez e voz nas assembléias públicas onde eram tomadas as decisões
“políticas”, ou seja, aquilo que dizia respeito à pólis. Daí provém o termo política, ou seja,
a discussão e a administração das coisas públicas, cujo objetivo é a manutenção do bem
comum. Não havia nada mais importante para o homem grego do que a pólis, pois era o
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Ética – assuntos práticos

lugar onde vivia. E este era o maior bem comum que todos possuíam. Por isso, na Grécia
antiga, política era uma atividade que envolvia todos os cidadãos de uma cidade-estado.
(HAAG, 2000, p. 225).

Religião e política
Dizem que são dois assuntos que não se discute. O tema é vasto realmente,
e neste texto é impossível aprofundar o assunto. Mas o importante é que o meio
acadêmico discuta estas questões e busque sempre alternativas para uma socie-
dade mais equilibrada. Política é uma atividade que deve envolver a todos, e não
apenas àqueles que vêem na “politicagem” um meio de obter vantagens em tudo,
infelizmente às custas do bem comum.

O luteranismo, a política e a economia


Não poderíamos terminar o texto sem falar em Lutero. Pela sua clareza
em seus escritos e pela forma de pensar, inspirado pela Bíblia, Lutero deixa um
modelo claro de sociedade com fundamentos sólidos:
O reformador Martinho Lutero, em seus escritos, fez questão de distinguir a ordem po-
lítica da ordem religiosa, ou seja, fez a separação entre Igreja e Estado. O poder eclesi-
ástico é distinto e separado do poder civil. Ambos cumprem funções diferentes, embora
devam ser convergentes para o mesmo fim: a realização da vontade de Deus na promoção
do bem-estar espiritual e material do Homem. À Igreja cumpre a função de cuidar do
bem-estar espiritual, e ao Estado cumpre a função de cuidar do bem-estar social e ma-
terial do Homem. Igreja e Estado deveriam, segundo Lutero, ser independentes um do
outro, ou seja, um não se metendo nos negócios do outro. Porém, por outro lado, Igreja
e Estado não poderiam estar divorciados um do outro, por terem um objetivo comum: o
bem-estar do Homem criado à semelhança de Deus. (HAAG, 2000, p. 229).

São todos os temas muito interessantes. Levam-nos a horas de reflexão e


estudo. Não podemos fugir deles, pois encontraremos nesta reflexão fôlego para
preservar a vida. Sei que muitos pensam ser utopia pensar em um mundo melhor.
Mas se não sonhamos, buscamos tornar estes sonhos realidade.

1. Dos temas apresentados, de qual você mais gostou? Justifique.

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Cultura Religiosa

2. Como você pode utilizar essa reflexão para a sua vida pessoal?

3. Converse e busque o diálogo desses temas com os seus colegas e sua família.

Minha sugestão é a leitura de alguns textos de Lutero sobre estas abordagens. É um livro em
que o reformador fala sobre Economia, Política e educação:
LUTERO, Martinho. Obras selecionadas. Porto Alegre: Concórdia, 1995. v. 7.

Sobre a prática das ações morais na sua vida, em que casos, dos citados acima, você se deu
conta que pode haver uma reflexão maior e que possa ajudá-lo?

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Referências
BÍBLIA. Bíblia Sagrada. Tradução de: Almeida. Revista e atualizada. São Paulo: Sociedade Bíblica
de Brasil, 1999.
BÍBLIA. Português. Bíblia Sagrada. Edição revisada e atualizada. São Paulo: Sociedade Bíblica do
Brasil, 1991.
BÍBLIA. Português. Bíblia Sagrada. Revista e atualizada. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil,
1999.
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HONER, Stanley M. Invitation to philosophy. California: Wadsworth Publishing Company, 1973.
KUCHENBECKER, Valter. O homem e o sagrado. 5. ed. Canoas: Editora da Ulbra, 2000.
LIENHARD, Marc. Martim Lutero: Tempo, vida e mensagem. São Leopoldo: Sinodal, 1998.
LUTERO, Martinho. Obras selecionadas. Porto Alegre: Concórdia, 1995. v. 7.
MARQUES, Leonardo Arantes. História das religiões e a dialética do sagrado. São Paulo: Editora
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PIAZZA, Waldomiro. Religiões da humanidade. São Paulo: Editora Loyola, 1991.
ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.
RUDNICK, M. L. Ética cristã para hoje. Rio de Janeiro: Juerp, 1991.
SEIBERT, Egon. O Cristianismo. Texto inédito, mas usado nas aulas de Cultura Religiosa da Uni-
versidade Luterana do Brasil, 2002.
SMITH, Huston. As religiões do mundo. São Paulo: Cultrix, 1991.
STEFFEN, Ronaldo. As grandes religiões do mundo. In: KUCHENBECKER, Valter. O homem e o
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STEFFEN, Ronaldo. Reflexões sobre Ética. Canoas: Editora da Ulbra, 2002.

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Cultura Religiosa

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ZICMAN, Renée; MOREIRA, Alberto. Misticismo e novas religiões. Petrópolis: Vozes, 1994.

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Hino Nacional
Poema de Joaquim Osório Duque Estrada
Música de Francisco Manoel da Silva

Parte I Parte II

Ouviram do Ipiranga as margens plácidas Deitado eternamente em berço esplêndido,


De um povo heróico o brado retumbante, Ao som do mar e à luz do céu profundo,
E o sol da liberdade, em raios fúlgidos, Fulguras, ó Brasil, florão da América,
Brilhou no céu da pátria nesse instante. Iluminado ao sol do Novo Mundo!

Se o penhor dessa igualdade Do que a terra, mais garrida,


Conseguimos conquistar com braço forte, Teus risonhos, lindos campos têm mais flores;
Em teu seio, ó liberdade, “Nossos bosques têm mais vida”,
Desafia o nosso peito a própria morte! “Nossa vida” no teu seio “mais amores.”

Ó Pátria amada, Ó Pátria amada,


Idolatrada, Idolatrada,
Salve! Salve! Salve! Salve!

Brasil, um sonho intenso, um raio vívido Brasil, de amor eterno seja símbolo
De amor e de esperança à terra desce, O lábaro que ostentas estrelado,
Se em teu formoso céu, risonho e límpido, E diga o verde-louro dessa flâmula
A imagem do Cruzeiro resplandece. – “Paz no futuro e glória no passado.”

Gigante pela própria natureza, Mas, se ergues da justiça a clava forte,


És belo, és forte, impávido colosso, Verás que um filho teu não foge à luta,
E o teu futuro espelha essa grandeza. Nem teme, quem te adora, a própria morte.

Terra adorada, Terra adorada,


Entre outras mil, Entre outras mil,
És tu, Brasil, És tu, Brasil,
Ó Pátria amada! Ó Pátria amada!

Dos filhos deste solo és mãe gentil, Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada, Pátria amada,
Brasil! Brasil!

Atualizado ortograficamente em conformidade com a Lei 5.765, de 1971, e com o artigo 3.º da Convenção Ortográfica
celebrada entre Brasil e Portugal em 29/12/1943.

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