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Autor
Douglas Moacir Flor
2009
Esse material é parte integrante do Curso de Atualização do IESDE BRASIL S/A,
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© 2006 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor
dos direitos autorais.
ISBN: 85-7638-421-3
CDD 291
O fenômeno religioso..............................................................................................................17
Religião e Arte............................................................................................................................................17
Religião e Moral.........................................................................................................................................22
Religião e Ciência.......................................................................................................................................22
Religião e Filosofia.....................................................................................................................................23
Religião e Economia...................................................................................................................................23
Religião e Educação...................................................................................................................................24
O Cristianismo I......................................................................................................................79
Conhecer Jesus é fundamental....................................................................................................................79
O amor ágape.............................................................................................................................................79
A história.....................................................................................................................................................80
Jesus – o mestre..........................................................................................................................................81
Princípios de Ética................................................................................................................131
Algumas questões.....................................................................................................................................131
Ética – algumas reflexões de ordem geral ...............................................................................................131
Ética e Moral.............................................................................................................................................131
Consciência . ............................................................................................................................................134
O direito positivo e o senso de justiça .....................................................................................................135
Responsabilidade......................................................................................................................................135
O livre-arbítrio..........................................................................................................................................136
Referências............................................................................................................................157
E
stamos iniciando uma caminhada. Há mais de 15 anos trabalho com a disciplina de Cultura
Religiosa. O começo sempre é difícil. Existe uma resistência natural do aluno em estudar os
conteúdos. O “pré-conceito” fica claro quando se define a disciplina como aula de religião.
Outros ainda pensam em catequese. Mas não será este o nosso objetivo. Apenas quero caminhar com
vocês no sentido de construir uma reflexão madura sobre a vivência e o comportamento religioso das
pessoas e a influência que exercem sobre a vida de cada um de nós.
Ao final de cada semestre, fico surpreso com a reação dos alunos. A maioria considera a disci-
plina muito interessante. É claro, que alguns resistentes ficam indiferentes, pois não tiveram a cora-
gem de abrir o coração e aceitar conceitos essenciais para se viver uma boa vida.
Trabalho em uma Universidade Confessional, isso significa que a mesma está ligada a uma
Instituição Religiosa. Mas nem por isso queremos impor o que pensamos. Vamos apenas debater. Se
puder ajudá-los com essa reflexão, com certeza o farei.
Você irá encontrar neste livro um panorama das maiores religiões do mundo. Notará a plurali-
dade religiosa e terá uma idéia da riqueza de pensamento e valores das religiões estudadas. Também
iremos estudar mais detalhadamente o Cristianismo e a Reforma Luterana, pois são movimentos que
influenciaram diretamente na existência da Universidade Luterana do Brasil. Por fim, estudaremos
ética. Particularmente, a ética cristã e os valores que ela pode acrescentar na vida de cada um de nós.
Nesta caminhada, muitos dos textos têm a participação de professores de Cultura Religiosa que
nesses 15 anos estão ao meu lado. Citamos aqui Ronaldo Steffen, Jonas Dietrich, Valter Kuchenbecker,
Egon Seibert, Ricardo Rieth, Valter Steyer, Thomas Heimann, Nereu Haag e Bruno Muller. Além desses,
não podemos deixar de citar o Capelão Geral da Universidade Luterana do Brasil, pastor Gerhard Grasel
e o Diretor do curso de Teologia da Ulbra, pastor Leopoldo Heimann. São pessoas que têm ajudado não
somente a construir esta trajetória em Cultura Religiosa, como têm colaborado com o aprofundamento da
reflexão e ajudado muitas pessoas.
Douglas Moacir Flor
Resumo
V
ocê já deve ter passado por alguma experiência religiosa. Se não passou,
alguém ao seu lado já deve ter contado algo que o levou a refletir sobre o
assunto. Aqui, vamos ver que a experiência religiosa é mais rica do que se
imagina, além de ser universal.
A religião está presente no cotidiano por meio de diferentes manifestações.
Pode-se, sem entrar em detalhes por ora, mencionar algumas áreas, alguns even-
tos e algumas práticas pessoais e sociais marcadas por idéias, ritos e símbolos
consagrados ao campo religioso.
Vamos utilizar alguns pontos trabalhados pelo colega Ronaldo Steffen
(2003), estudioso do assunto e professor de Cultura Religiosa, publicado no site
da universidade.
De uma forma bem simples, podemos reportar o leitor a algumas práticas
familiares ligadas à tradição religiosa como o casamento, batismo, morte e vela-
mento. São cerimônias religiosas tão tradicionais que muitas pessoas, sem que se
dêem conta, se envolvem. O que dizer de pessoas doentes ou com problemas mais
sérios que buscam ajuda divina como alternativa para a cura?
No esporte, estamos acostumados, marcadamente no futebol, com a cena de
uma oração conjunta antes da entrada no campo. Numa decisão por pênaltis, por
exemplo, é comum a imagem de jogadores ajoelhados, rezando ou beijando sua
santinha.
No campo musical não são raras as menções que se faz a personagens reli-
giosos e até mesmo a sentimentos de ordem religiosa; no campo das artes somos
conduzidos a milhares de imagens notadamente carregadas de simbolismo reli-
gioso dos mais diversos matizes. A literatura não tem deixado por menos e tem
sido o mercado que mais cresce em termos de editoria nos últimos anos. O cinema
tem sido pródigo nas temáticas de ordem religiosa. As novelas, fenômeno brasilei-
ro que ganha o mundo, jamais têm deixado de lado alguma alusão, personagem e
até mesmo a temática central ligados a fatos eminentemente religiosos. Mestrando em Educação
pela Universidade Luterana do
Brasil. Graduado em Teologia
A nossa alimentação está em grande parte determinada por elementos de or- pelo Seminário Concórdia –
Instituição da Igreja Luterana
dem religiosa; o modo de expressar nossas idéias por meio da linguagem é, igual- do Brasil – e em Jornalismo
mente, em grande parte determinada por formas religiosas. O turismo religioso é pela Unisinos. Professor de
Cultura Religio-sa e Jornalis-
hoje um grande filão na arrecadação de divisas para um município. A Educação mo na Ulbra.
é fortemente marcada pelos valores que ela prega, quase sempre idênticos aos
de ordem religiosa. A área da saúde, o trato com a dor, a vida e a morte foram e
ainda são construídos com suporte religioso. Nosso calendário, suas datas festivas
e grandes eventos têm sua origem no meio eclesiástico. As diversas áreas do co-
nhecimento humano, de uma ou de outra maneira, têm-se ocupado com a temática
religiosa, como a Filosofia, a Psicologia, a Sociologia, a Antropologia, a História,
a Medicina, a Física, a Arqueologia, a Geografia e assim por diante.
A palavra religião
Afinal, o que é religião? No texto a seguir temos uma definição que poderá
ajudá-lo a entender o sentido.
Etimologicamente, o termo religião surge na história da humanidade através dos autores
clássicos, como Cícero, Lactânio e Agostinho, respectivamente, nas palavras re-legere,
que significa reler, re-ligare, que significa religar, e re-eligere, que significa reeleger. To-
dos os conceitos nos dão a idéia de voltar a uma situação anterior, ou seja, ligar novamente
a criatura com o criador. É exatamente esta tentativa de religar com o Ser Superior, através
de um conjunto de crenças, normas, ritos ou costumes, que dá origem às diversas religiões
o fenômeno religioso propriamente dito. (KUCHENBECKER, 2000, p. 18).
Conhecimento religioso
Istock Photo.
Batismo.
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Cultura religiosa – um tema controverso
John Fries.
Peregrinos no rio Ganges.
Istock Photo.
Monge budista.
Ilona M. Lachowski Loewen.
Celebração judaica.
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Cultura Religiosa
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Cultura religiosa – um tema controverso
Tolerância religiosa
Steve Evans/Wikipedia.
Muçulmanas vestidas com a burca.
Sincretismo religioso
No Brasil, é muito interessante falar sobre religião. Isto porque temos aqui
uma pluralidade religiosa bem interessante. Além disso, encontramos o que cha-
mamos de sincretismo religioso. Isso acontece quando misturamos elementos de
várias religiões numa só. Sincretismo é o termo que os historiadores denomi-
nam de fusão ou associação de religiões, ritos, crenças e personagens cultuais.
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Cultura Religiosa
Quem sabe você conhece alguém que se identifica com este personagem.
É comum a gente encontrar situações como esta. Nas aulas de Cultura Religiosa,
quando perguntamos se nossos alunos têm alguma religião, muitos respondem:
sou católico apostólico romano, não praticante. Isto significa que eles são católicos
por tradição, mas não vão à igreja aos domingos. Muitos são católicos, mas não
deixam de ir ao terreiro ou ao centro espírita.
É importante ressaltar aqui a questão da tolerância. Religião sem o devido
respeito perde o sentido. Não é possível pregar algo e praticar outra coisa. Por
outro lado, a experiência religiosa é importante na vida de todo o ser humano. Se
você ainda não passou por isso, busque entender um pouco mais do assunto. Leia,
reflita sempre.
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Cultura religiosa – um tema controverso
Busque em jornais e revistas textos que o reporte a algum assunto relacionado à cultura religio-
sa e reflita sobre ele. Se possível, discuta com seus colegas.
Recomendamos a leitura do primeiro capítulo do livro:
KUCHENBECKER, Valter. O homem e o sagrado. Canoas: Editora da Ulbra, 2000.
Você já passou por alguma experiência religiosa? Relate uma experiência que o tenha reportado
ao mundo religioso.
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Cultura Religiosa
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O fenômeno religioso
É
possível perceber a religião como um fenômeno religioso. Mesmo que nos dias atuais, a ciência
cada vez mais ocupe o lugar da religião, são muitos os fatores que nos reportam à importância
da religião na vida dos povos em todo o mundo. No passado, a religião era o centro do universo.
Assim, é possível concordar que:
[...] apesar desta mudança de prioridade, o homem sempre e em todos os tempos tem demonstrado a sua preocupa-
ção com o divino. Existe no ser humano uma consciência natural que o impulsiona nesta direção. Tal preocupação
tem se manifestado de formas diferentes através das diferentes culturas e civilizações. Esta busca e necessidade de
relacionar-se com o Ser Superior, o Eterno e o Divino chamamos de fenômeno religioso. No entanto, este fenômeno
precisa ser corretamente orientado e conduzido pelo próprio Criador. Caso contrário, levará o homem a falsos deu-
ses. (KUCHENBECKER, 2000, p. 15).
Essa assertiva remete a uma dimensão em que é possível perceber-se a religião como fenômeno
humano, tais como os classificados abaixo e expostos pelo Professor Martinho Lutero Hoffmann, em
material não-publicado.
Religião e Arte
A religião, enquanto fenômeno humano, tem provocado as mais belas obras artísticas. Isso pode
ser observado em qualquer religião desde os tempos mais antigos até os mais modernos.
No antigo Egito, citamos as pirâmides, o templo de Karnac, a esfinge de Gizé e uma quantidade
enorme de estátuas.
Corel/IESDE.
Esfinge.
Na Grécia Clássica, o Pathernon, as estátuas de Fídias e toda uma série de mitos que até hoje
influenciam as artes e até mesmo as ciências.
Istock Photo.
Pathernon.
Wikipédia.
Catedral gótica.
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O fenômeno religioso
Wikipédia.
Vitrais.
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Cultura Religiosa
Wikipédia.
Pietá de Michelângelo.
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O fenômeno religioso
A música alemã, por sua vez, se torna a mais importante por seus inúmeros
gênios, entre os quais avultam Mozart, Beethoven, Buxtehude, Brahms e, princi-
palmente, os 200 compositores da família Bach, um em especial que deu o supre-
mo nome da história musical: Johann Sebastian Bach (1685-1750).
Wikipédia.
Jardim japonês.
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Cultura Religiosa
Religião e Moral
A Moral vem a ser, num mundo que se vive em sociedade, um de seus pila-
res imprescindíveis. A convivência de muitas pessoas dentro de um mesmo espa-
ço físico exige regras e leis, deveres e obrigações, direitos e privilégios e, mais que
tudo, virtudes e valores. A Moral nos diz o que é certo e o que é errado. Mas o que
diz à Moral se algo é certo ou errado, ou qual a hierarquia dos valores e virtudes,
é, na maioria das vezes, a religião que as pessoas aceitam. Há, evidentemente,
religião sem moral e moral sem religião, mas, na grande maioria dos casos, moral
e religião mantêm um casamento mais do que fechado.
Quando isso acontece, é a religião que dita as normas e ainda fornece toda
a motivação para que as normas sejam plenamente cumpridas.
Religião e Ciência
Se Religião, Arte e Moral formam um trio quase perfeito, Reli-
Wikipédia.
Religião e Filosofia
Religião e Filosofia são duas retas paralelas que ora divergem, ora se encon-
tram, ora se complementam, ora se anulam.
Pode-se afirmar que o surgimento da Filosofia no Ocidente foi um ataque
aos mitos gregos. Tales de Mileto (625/4-558/6 a.C.) procura uma explicação fora
deles e diz que a origem de tudo é a água. Anaximandro (610/9 -547/6 a.C.) põe no
lugar da água o indeterminado, e Anaxímenes (588-528/5 a.C.), o ar. Xenófanes de
Cólofon (Jônia, Ásia Menor, 570-528 a.C.) critica a antropomorfização de Deus na
poesia de Homero e Hesíodo. Demócrito de Abdera (Trácia, 460-370 a.C.) é o pai
do atomismo, afirmando que tudo é formado por substâncias indivisíveis, as quais
se combinam ou se separam, formando ou desfazendo uma pessoa ou um objeto.
Os sofistas, primeiros professores profissionais da história, tornam tudo relativo
segundo a famosa frase de Protágoras: “O homem é a medida de todas as coisas;
do ser enquanto existe e do não-ser enquanto não existe”.
Sócrates (470-399 a.C.), reagindo ao relativismo sofista, introduz a teoria
das idéias inatas, às quais se poderia chegar pela maiêutica (partejamento de
idéias). Com as idéias inatas, se pressupunha uma vida anterior, abrindo, assim,
caminho para a religião. Platão (428-347 a.C.), aluno de Sócrates, continua na
mesma trilha ao propor o mundo das idéias como a autêntica realidade (mito da
caverna, corpo prisão da alma).
A Idade Média, marcada profundamente pela religião cristã, desenvolve a
tese de que a Filosofia é a serva da Teologia (ciência da religião). Vale notar que
os eruditos cristãos primeiramente usaram as categorias platônicas e acabaram
contaminando-se com um modo platônico de ver as coisas, mas em seguida se
apropriaram das concepções aristotélicas, sendo igualmente influenciados por
elas (amor ordenado, provas racionais da existência de Deus etc.).
Por outro lado, há quem visualize religião (ou teologia) e Filosofia não como
concorrentes, mas como dois métodos diferentes, não opostos, para tratar e com-
preender uma mesma realidade. Martin Heidegger (1889-1976), por exemplo, foi
sepultado como católico romano. Edmund Husserl (1859-1938), expoente do feno-
menalismo, converteu-se à Igreja Luterana.
Em tempo: não se deve confundir religião e teologia. Embora sejam concei-
tos afins, não são a mesma coisa. Religião é um conjunto de crenças que formam
um sistema coeso. Teologia é a reflexão crítica e sistemática sobre os dados ofere-
cidos pela religião. Em outras palavras: teologia é a ciência, e religião é o objeto
ou a matéria dessa ciência.
Religião e Economia
Toda crença, tão logo se institucionalize, passa a ter uma economia interna.
Precisa manter suas propriedades (escolas, templos, creches, asilos, seminários
etc.) e pagar seus funcionários. Para tanto, se utiliza de vários expedientes: co-
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Cultura Religiosa
Religião e Educação
Por ser a Religião um conjunto de ensinamentos (note-se o termo), segue-se
Wikipédia.
que ela, para sobreviver, precisa apelar para a Educação. Não é por outro motivo
que os primeiros professores foram todos pessoas ligadas a um culto específico.
No entanto, o que se quer discutir aqui é se a religião consegue lançar os olhos
para a Educação como um todo. Num primeiro exame, observa-se que a religião
contribuiu com muito pouco ou mesmo nada nessa direção.
Na China, país de cultura milenar, a Educação esbarrava nos milhares de
ideogramas que um aluno precisava memorizar, pois era necessário tempo e di-
nheiro. Ao que tudo indica, não havia nenhum plano de Educação abrangente. No
primeiro projeto educacional conhecido, o confuciano (século VI a.C.), a ênfase
Confúcio.
não era popular, mas elitista, já que Confúcio queria restabelecer o império, o
transformado quase numa obra de ficção por causa do ínfimo poder exercido pelo
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O fenômeno religioso
1. Em grupos formados com quatro pessoas, refletir e listar sobre a influência da religião na vida
diária da sua cidade.
2. Num segundo momento, os grupos apresentam suas respostas e abrem o debate com o grande
grupo.
A dica de estudo é prática. Busquem o diálogo. Pesquisem na internet sites que mostrem a rela-
ção entre arte e religião.
Ouçam músicas que tenham sido inspiradas pela religião. Pode ser música clássica, gospel ou
mesmo popular. Muitos jovens, das mais diversas religiões, costumam compor músicas e gravá-
las em CD.
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Cultura Religiosa
Com quais aspectos desta aula você se identificou? Escreva o relato sobre uma visita a algum
museu, o ouvir de uma música etc., que o tenha reportado à religião.
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As grandes religiões I
V
amos partir para uma longa viagem. A idéia é dar a volta ao mundo e estudar as grandes re-
ligiões. Se fôssemos numerar todas as religiões existentes no mundo, possivelmente teríamos
milhares. Portanto, vamos falar das principais, pois a partir dessas é que surgiram todas as
outras. Cada uma das grandes religiões produziu milhares de seitas ou grupos menores que foram se
subdividindo durante os séculos. Todas produziram uma grande riqueza cultural e valores fundamen-
tais para a preservação do ser humano.
Hinduísmo
É uma religião intrigante em muitos aspectos. Não tem um fundador, apenas um livro sagrado
ou regras singulares que nos ajudam a entender facilmente suas crenças e suas tradições. Nasceu
há cerca de 4 mil anos, na Índia. É difícil falar dela como uma religião só. O Hinduísmo tem uma
infinidade de ramos e divindades. A religião hindu passou por constantes transformações ao longo
dos séculos – resultado das sucessivas invasões que marcaram a história deste povo. Apesar da di-
versidade de deuses e formas de encontrar o caminho, um aspecto é comum entre todos: a vida na
Terra é parte de um ciclo de nascimentos, mortes e renascimentos, do qual é preciso se libertar. A
reencarnação, determinada pela Lei do Carma, talvez explique a resignação e a satisfação pela vida
que levam, mesmo diante de costumes tão diferentes dos nossos e da “pobreza” (do nosso ponto de
vista) em que vivem.
Origem
Não há uma precisão histórica sobre o início do Hinduísmo. Ele é resultado de um processo
gradual, provém das religiões primitivas tribais da Índia e toma forma com a invasão deste país, por
volta de 1500 a.C., pelos arianos indo-europeus. Seu sistema religioso está organizado em torno de
quatro escritos sagrados, conhecidos como Vedas.
As tradições religiosas eram inicialmente transmitidas oralmente. A partir de 800 a.C. é que
surgem os primeiros escritos. O Rig-Veda é o livro principal. Aos Vedas são acrescentados dois outros
livros: os Brahmanas e o Upanishads. As três obras contêm todo o Dharma, as obrigações da casta,
uma espécie de lei.
A melhor definição é que
[...] projeta-se como a religião eterna e se caracteriza por sua imensa diversidade e pela capacidade excepcional
que vem demonstrando através da história de abranger novos modos de pensamento e expressão religiosa. (GA-
ARDER, 2000, p. 40).
Por outro lado, encontramos algumas pistas que nos levam a entender o processo de construção
e consolidação do Hinduísmo:
[...] A invasão dos árias levou à Índia um politeísmo já organizado, como mitos e cultos próprios, de caráter natu-
ralista [...] Para assegurar o predomínio de sua casta, os sacerdotes arianos elaboraram uma doutrina sincretista,
em que o conceito de brahman, de alguma forma equivalente ao mana dos melanésios, era elevado a uma ordem
superior, absolutizada, que por vezes se identificava com a própria divindade (donde o deus Brahma, personifica-
do). Desta forma, valorizavam a sua mediação sacerdotal, pois pelos ritos sagrados podiam produzir e manipular
o brahman (conceito mágico). (PIAZZA, 1991, p. 246).
O povo hindu
Precisamos pensar nas pessoas, no povo hindu, e como a religião funciona no
dia-a-dia. Olhando o Hinduísmo como um todo – sua grande literatura, seus rituais
complexos, sua difundida cultura popular, sua arte opulenta – podemos resumir
tudo numa única frase: “Você pode ter aquilo que deseja.” (SMITH, 1991, p. 30).
Pense no que as pessoas buscam na vida: prazer, sucesso mundano (rique-
za, fama e poder), serviço e libertação. Os hindus não proíbem nenhuma dessas
buscas. Para eles tudo tem o seu momento na vida e se você desejar essas coisas
deve buscá-las. Por outro lado também sabem que nem todas as buscas vão trazer
os resultados esperados.
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As grandes religiões I
Divindades
O Hinduísmo possui uma tríade de grandes deuses – Brahma, o criador,
Shiva, o destruidor, e Vishnu, o conservador. Além desses, os hindus possuem
milhões de divindades, chamadas de divindades dos lares. É a religião no mundo
com o maior número de deuses.
A única regra universalmente aceita pelo hindu é a de seguir as normas de
sua casta, na expectativa de um futuro feliz para si mesmo.
Brahma, o criador
Nascido de uma flor-de-lótus que brotava do umbigo de Vishnu, Brahma é
o criador, o responsável pela construção do Universo. Ele é casado com Sarasvati,
a deusa do conhecimento. Embora seja central na mitologia hindu, Brahma não
é muito cultuado porque já realizou sua tarefa e só voltará na próxima criação do
mundo.
Shiva, o destruidor
Esse possui dois aspectos principais, aterrorizante e benevolente, aparece
sob muitas formas e recebe mais de mil nomes. O primeiro é Rudra, um deus
violento, o deus das tempestades. Durante a dinastia Gupta, Shiva era ao mesmo
tempo o deus do amor e da destruição. Suas manifestações podem ser divididas
em cinco categorias: o jovem asceta, o dançarino cósmico, o senhor da destruição,
o demônio Brairava e o marido amoroso. Ele é representado vestido ou nu, com o
cabelo longo preso em um coque ou usando uma coroa.
Vishnu, o protetor
Conhecido como deus preservador, Vishnu representa a força criadora que une
todo o universo e possibilita a luz e a vida. Ele incorpora o amor divino e controla o
destino humano. Pode ser reconhecido pela sua cor azul-escura e pelos quatro braços,
que sugerem sua capacidade de alcançar os quatro cantos do mundo. Vishnu é muito
popular, principalmente sob a forma de avatares – suas diversas encarnações.
Reencarnação
Os hindus acreditam na reencarnação ou transmigração das almas. É um pro-
cesso de infinitas encarnações com o fim de ser absorvido o espírito pelo absoluto
Brahma. Isto significa que as almas nunca morrem, desde que façam parte do indes-
trutível tudo, Brahma. A alma de um homem de baixa posição social poderá renascer
como uma cobra ou até como um objeto não pertencente ao plano humano, depen-
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Cultura Religiosa
dendo da segunda crença, a Lei do Carma. Entendem que o homem é hoje resultado
de suas ações anteriores a esta vida.
Os hindus dividem o povo em castas. O grupo de maior valor era formado
pelos Brâmanes ou líderes religiosos, também chamados de videntes. Logo abaixo
aparecem os príncipes ou administradores, depois os agricultores ou vassalos se-
guidos dos servos. Fora das castas estão os párias, ou intocáveis, uma espécie de
mendigos e miseráveis. Desta forma, para eles, é impossível questionar, duvidar
ou aspirar a qualquer posição social nessa existência.
Uma das explicações para a questão das castas é que os arianos (invasores
europeus) mantinham ligação com algumas religiões, como a grega, a romana e a
germânica. Eles davam importância significativa ao sacrifício e faziam diversas
oferendas a seu panteão de deuses, a fim de conquistar favores e manter sob con-
trole as forças sobrenaturais. As crenças e os ritos, já existentes na região, foram
incorporados ao sistema religioso dos invasores e originaram novos cultos. Aí está
um exemplo de sincretismo religioso, como também aconteceu no Brasil com as
religiões africanas.
Animais sagrados
Ouvimos muitas histórias sobre animais sagrados na Índia, especialmente
sobre a vaca. Realmente existe o culto aos animais. A vaca é um animal sagra-
do, simbolicamente vista como Alimentadora Sagrada. Não pode ser morta sob
nehuma circunstância. A pessoa que toca a vaca fica ritualmente limpa, por isso o
leite e todos os seus derivados, como a manteiga, são utilizados em cerimônias de
purificação. Até seus excrementos são sagrados e podem ser usados como agentes
de purificação. Também são considerados sagrados animais como a cobra, o cro-
codilo e o macaco. Normalmente os hindus não gostam de tirar a vida dos animais
e muito menos comer sua carne, o que tornou a maioria dos fiéis vegetarianos.
Para concluir, é importante ressaltar que extraímos apenas algumas partes
importantes que nos dão uma idéia da religião. Mas entender em que os hindus
acreditam é difícil, como nos conta o historiador:
É difícil descrever o Hinduísmo. É preciso vivenciar. Os sábios hindus parecem mais sá-
bios do que nós; têm mais força, mais alegria. Parecem ser mais livres no sentido de não
se confinarem à ordem natural. Parecem serenos, até mesmo radiantes. Pacifistas por na-
tureza, seu amor flui para o mundo, para todos sem distinção. O contato com eles fortalece
e purifica. (SMITH, 1991, p. 41).
Budismo
Um príncipe hindu rico, possuidor de todos os bens necessários para uma
vida agradável, sem problemas e pertencente a uma das maiores castas. Bem que
Siddartha Gautama poderia desfrutar tudo isso e viver sua vida com sua esposa,
sua filha recém-nascida, nos palácios de seu pai. Mas faltava alguma coisa. Os
problemas existenciais o levaram a abandonar tudo em busca de uma solução para
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As grandes religiões I
As quatro verdades
Buda desenvolveu o seu pensamento em torno de quatro verdades, como
mostra Steffen (2000, p. 42):
a primeira verdade é que o sofrimento é universal;
a quarta verdade vai mostrar o caminho (os oito caminhos) para aniquilar a ambição.
Os oito caminhos
Fé justa
Resolução justa
Palavra justa
Conduta justa
Esforço justo
Pensamento justo
Meditação justa
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Cultura Religiosa
Os dez preceitos
O Budismo é rico em preceitos, cuidados a serem adotados para uma vida
equilibrada. Quem seguir determinadas regras vai encontrar benefícios no ca-
minho com a finalidade de chegar à salvação. Os dez preceitos incluem desde
ordenamentos para não se destruir a vida até a abster-se da promiscuidade, enfa-
tizando a necessidade de só possuir o que for dado como presente, afastar-se da
mentira, não beber álcool, fazer refeições apenas depois do surgimento da lua,
além de regulamentar o uso de ornamentos e metais preciosos. Quando Gautama
morreu, por volta dos 80 anos, o movimento já estava institucionalizado.
No livro O homem e o sagrado, o autor do texto que fala sobre o Budismo,
Professor Ronaldo Steffen, faz uma referência interessante de Buda. Diz ele:
Buda era um humanista. Embora afirmasse a existência de uma multidão infinita de deu-
ses e espíritos menores, era seu parecer que essas divindades não tornavam os seres huma-
nos melhores, pois eram seres finitos e sujeitos a todas as fraquezas da natureza humana.
Não acreditava num ser supremo nem em rituais puramente cerimoniais. Também não via
importância no ato de orar e na existência de sacerdotes. Ensinava seus seguidores a de-
penderem de si mesmos, mas permanecendo benevolentes e amorosos com a humanidade.
Aceitava, no entanto, a crença da transmigração das almas e a lei do carma. Acreditava
que os erros do passado poderiam ser superados por uma vida exemplar e que a alma nada
mais era do que a inter-relação de cinco energias, que se desintegravam quando o ser físico
morria. (STEFFEN, 2000, p. 43).
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As grandes religiões I
O Budismo pode ser analisado a partir de suas duas maiores escolas de pen-
samento: a Hinayana, predominantemente monástica e não-teísta, e a Mahayana,
que ensina que o universo é habitado por numerosos espíritos e deuses ansiosos
por ajudarem os homens em suas necessidades.
As duas religiões têm algumas características bem definidas. Mas é bom
lembrar que o Hinduísmo é uma dissensão do Budismo. Buda não concordava
com a situação de resignação, principalmente dos párias. Para ele, a vida não tinha
sentido se fosse compreendida dessa maneira. Ao mesmo tempo fica claro que
para Buda não há a necessidade de um deus que supra todas as necessidades do
homem, pois o ser humano, por suas próprias forças, pode encontrar o caminho e
chegar ao nirvana.
2. Quais as lições que podemos tirar dos hindus para a nossa vida?
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Cultura Religiosa
4. Quando falamos em reencarnação, qual religião da atualidade está relacionada a este pensa-
mento e como isso acontece?
Como você encararia a vida se tivesse que viver como os hindus e eles dissessem que você per-
tencesse aos párias?
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As grandes religiões II
Confucionismo
V
amos caminhar por terras orientais. Uma volta pela China é o nosso compromisso neste mo-
mento. Vocês já devem ter observado que a China está despontando em todo o mundo pelo
seu crescimento econômico e aos poucos vem sendo reconhecida como uma grande potência
mundial. Talvez, o que você não saiba é que, “até 1911, a China foi uma potência imperial, onde o
imperador reinava acima de tudo. O imperador era considerado o representante do país diante do su-
premo deus Céu”. (GAARDER, 2000, p. 77).
O que havia por traz de tudo isso era uma ideologia confucionista. O conjunto de pensamentos,
regras e rituais sociais confucionistas, foi desenvolvido pelo filósofo K’ung-Fu-Tzu (551-479 a.C.). No
Brasil, o conhecemos como Confúcio. Além disso, Confúcio formulou normas para a vida religiosa,
para os sacrifícios e os rituais. Segundo Gaarder,
o confucionismo era, na verdade, uma religião estatal praticada pela elite e pelas classes dominantes, a qual, no
entanto, nunca se disseminou muito entre as massas, as camadas mais amplas da população. Da mesma forma
que o imperador, em seu palácio em Pequim, ficava remotamente afastado das pessoas comuns, o Céu era remoto
e impessoal para a grande massa dos chineses pobres, trabalhadores e camponeses. A religião dos pobres era a
adoração dos espíritos, particularmente dos antepassados, religiosidade carregada de magia e traços de outras
religiões. (GAARDER, 2000, p. 77).
A carreira de Confúcio não foi um sucesso. Sua ambição era bem maior. Alguns biógrafos che-
garam a criar a lenda de que, por volta dos 50 anos, Confúcio realizou uma brilhante administração
durante cinco anos, avançando rapidamente de ministro de Obras Públicas para ministro da Justiça
e primeiro-ministro, e fazendo de Lu uma província modelo. “A verdade é que os governantes da
época tinham medo da franqueza e da integridade de Confúcio, tanto medo que nunca o designariam
para qualquer posição de poder” (SMITH, 1991, p. 156).
Os escritos
Confúcio compilou alguns materiais, os quais foram utilizados em sua fi-
losofia de vida. Dentre os materiais, encontramos: Shih Ching (Livro de poesias),
Li Chi (Livro dos ritos), I Ching (Livro das transformações), Shu Ching (Livro de
história) e Ch’um Ch’íu (os anais da primavera e do outono).
A filosofia de Confúcio
A questão central na filosofia de Confúcio está no termo li. Significa cortesia,
reverência, ritos e cerimônias e o posicionamento ideal na vida pública e privada.
“O chinês mais moderno entende por ‘li’ uma ordem social ideal, com tudo
em seu devido lugar e com todas as pessoas prestando respeito e reverência aos
outros na hierarquia social”. (STEFFEN, 2000, p. 48).
De uma certa forma, a idéia era estabelecer a ordem e acabar com a queda
do respeito desencadeada pela ordem feudal. Confúcio acreditava que, se cada um
soubesse o seu lugar, poderia haver um comportamento de reciprocidade como
um guia de vida. É aqui que vai surgir o dito “não faças aos outros o que não
queres que te façam”.
Político fracassado, Confúcio foi, sem dúvida, um dos maiores professores
do mundo. Preparado para ensinar história, poesia, governança, propriedade, ma-
temática, música, adivinhação e esportes, ele foi, à moda de Sócrates, um homem
Universidade. Seu método de ensino também era socrático. Sempre informal, ele
não fazia preleções; preferia conversar sobre os problemas propostos pelos seus
alunos, citando leitura e fazendo perguntas. Ele se apresentava aos alunos como
um companheiro de viagem, comprometido com a tarefa de se tornar plenamente
humano, mas modesto. Quanto ao ponto a que chegou no cumprimento dessa ta-
refa, ele mesmo cita:
Há quatro coisas no Caminho da pessoa profunda, nenhuma das quais fui capaz de
fazer. Servir ao meu pai, como esperaria que um filho me servisse. Servir ao meu go-
vernante, como esperaria que meus ministros me servissem. Servir ao meu irmão mais
velho, como esperaria que meus irmãos mais novos os servissem. Ser o primeiro a tratar
os amigos como esperaria que eles me tratassem. Essas coisas não fui capaz de fazer.
(CONFÚCIO).
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As grandes religiões II
Alguns provérbios
Verdadeiro filósofo não será aquele que, mesmo sendo reconhecido, ja-
mais guarda ressentimento?
Não faças aos outros o que não queres que te façam.
Não me entristece que os outros não me conheçam. Entristece-me não
conhecer os outros.
Não esperes resultados rápidos nem procures pequenas vantagens. Se
buscares resultados rápidos, não alcançarás a meta final. Se te deixares
desviar por pequenas vantagens, nunca realizarás grandes feitos.
As pessoas mais nobres primeiro praticam o que pregam e depois pregam
de acordo com a sua prática. Se quando olhas dentro do teu coração não
vês nada de errado, por que te preocupas? O que há para temeres?
Quando conheces uma coisa, reconhecer que tu a conheces; e quando
não a conheces, saber que tu não sabes – isso é conhecimento.
Ir longe demais é tão mau quanto ficar aquém.
Quando vês um homem digno, pensa quando poderás emulá-lo.
Quando vês um homem desprezível, examina o teu próprio caráter.
Riqueza e posição, eis o que as pessoas desejam; mas se não as consegui-
rem da maneira correta, nunca as possuirão.
Sê bondoso com todos, mas íntimo apenas dos virtuosos.
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Cultura Religiosa
Pano de fundo
É claro que os provérbios, por si só, não explicam o sucesso de Confúcio. É
necessário compreender o que havia de errado na sociedade em que ele vivia.
A Antiga China não era nem mais nem menos turbulenta do que as outras
terras. Do oitavo ao terceiro século a.C., porém, a China testemunhou o colapso
da dinastia Chou, que foi um governo de paz e ordem. Baronatos rivais ficaram
em liberdade para fazer o que bem entendiam, criando uma situação idêntica à
da Palestina no período dos juízes: “Naqueles dias não havia rei em Israel; cada
homem fazia o que parecia certo a seus próprios olhos”.
A guerra quase contínua desse período começou dentro dos padrões do ca-
valheirismo. O carro de guerra era sua arma, a cortesia era o seu código e os atos
de generosidade conferiam honra. Diante da invasão, o barão arrogante enviaria
um comboio de provisões ao exército invasor. Ou, para provar que seus homens
estavam além do medo e da intimidação, ele enviaria, como mensageiro, soldados
que cortariam a própria garganta diante do invasor. Tal como na era de Homero,
guerreiros de exércitos inimigos se reconheciam, trocavam desdenhosos cumpri-
mentos do alto de seus carros de guerra, bebiam juntos e às vezes trocavam armas
antes de entrar em combate.
Na época de Confúcio, porém, a guerra interminável degenerava; de cava-
lheiresca, tornara-se o terror desenfreado do período dos Estados combatentes. O
horror chegou ao auge no século seguinte à morte de Confúcio. Os combatentes
entre carros de guerra deram lugar à cavalaria, com seus ataques de surpresa e
reides súbitos. Em vez do ato nobre de manter os prisioneiros até receber o resgate,
os conquistadores promoviam execuções em massa. Populações inteiras, captura-
das nos azares da guerra, eram decapitadas, incluindo velhos, mulheres e crian-
ças. Lemos descrições de chacinas de 60 mil, 80 mil e até de 400 mil pessoas.
Há relatos de vencidos atirados em caldeirões de água fervente e seus familiares
forçados a beber aquela “sopa” humana.
A pergunta, nessa época, era: por que continuamos nos destruindo? Talvez aí
esteja a resposta para compreendermos o poder do Confucionismo. Confúcio viveu
numa época em que a coesão social havia se deteriorado até o ponto crítico.
Confúcio insistia que o amor ocupa um lugar importante na vida; mas tam-
bém que o amor deve ser apoiado por estruturas sociais e por um etos coleti-
vo. Bater exclusivamente na tecla do amor é o mesmo que pregar os fins sem os
meios. Quando perguntaram à Confúcio certa vez, “devemos amar nossos inimi-
gos, aqueles que nos causam mal?”. Ele respondeu: “De modo algum. Respondei
ao ódio com a justiça e ao amor com a benevolência. Caso contrário, estaríeis
desperdiçando vossa benevolência.”
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As grandes religiões II
Respeito às tradições
O que chama a atenção nas religiões orientais é o respeito que todos culti-
vam pelos mais velhos. A idade não é um peso, mas uma bênção. A experiência é
importante para os mais novos, que a buscam nas pessoas de maior vivência. As-
sim também são conservadas as tradições, transmitidas pelos mais velhos. Sobre
a socialização, o próprio Confúcio ensinou:
Deve ser transmitida dos velhos para os jovens, enquanto os hábitos e as idéias devem
ser conservados como uma teia ininterrupta de memória entre os portadores da tradição,
geração após geração. [...] Quando a continuidade das tradições de civilidade se rompe,
a comunidade é ameaçada. A menos que essa ruptura seja consertada, a comunidade se
esfacelará em [...] guerras de facções. Isso porque, quando a continuidade é interrompida,
a herança cultural não está sendo transmitida. A nova geração se defronta com a tarefa de
redescobrir, reinventar e reaprender, por tentativa e erro, a maior parte daquilo que precisa
saber. [...] Essa não é tarefa para uma única geração (CONFÚCIO).
A tradição deliberada
A tradição deliberada segue, no esquema de Confúcio, cinco termos chaves:
Jen: Etimologicamente uma combinação dos caracteres correspondentes
a “ser humano” e “dois”, designa o relacionamento ideal que deve existir
entre as pessoas. Traduzido das mais variadas formas (bondade, fraterni-
dade, benevolência e amor), talvez a melhor maneira de transmitir a idéia
seja pela expressão: “sensibilidade do coração humano”. Jen envolve
simultaneamente um sentimento de compaixão pelos outros e de respeito
por si mesmo, um sentimento indivisível da dignidade da vida humana,
onde quer que ela apareça.
Chun Tzu: Se jen é o relacionamento ideal entre seres humanos, chun tzu
refere-se ao termo ideal nesses relacionamentos. Esse conceito tem sido
traduzido como homem superior e o melhor da humanidade. Talvez pessoa
amadurecida seja uma tradução tão fiel quanto qualquer outra. É o oposto
de pessoa estreita, da pessoa mesquinha, da pessoa de espírito pequeno. So-
mente quando aqueles que formam a sociedade se transformarem em chun
tzus é que o mundo poderá caminhar na direção da paz.
Se houver honra no coração, haverá beleza no caráter.
Se houver beleza no caráter, haverá harmonia no lar.
Se houver harmonia no lar, haverá ordem no país.
Se houver ordem no país, haverá paz no mundo.
Li: O terceiro conceito, li, tem dois significados. Seu primeiro significado
é propriedade, a maneira pela qual as coisas devem ser feitas. As pessoas
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Cultura Religiosa
Governar é manter-se reto. Se tu, senhor, dirigires teu povo em linha reta,
qual de teus súditos se arriscará a sair dessa linha?
Xintoísmo
Corel/IESDE.
Templo xintoísta.
Não vamos nos ater muito a esta religião. Apenas para cultura geral vamos te-
cer algumas considerações sobre o Xintoísmo, que tem uma influência muito grande
sobre a cultura japonesa. A partir desta religião é que poderemos entender um pouco
mais a força desse povo, sua seriedade, seus compromissos e sua devoção.
O Kojiki diz que as ilhas japonesas foram criadas por Izanami e Izanagi,
que também habitaram a terra como numerosas divindades, das quais os japone-
ses são descendentes. A família real é descendente de Jimmu Tenno ( cerca de
660 a.C.), o primeiro imperador humano, neto de Ni-ni-go, neto de Amaterasu, a
divindade feminina Sol. No Shinto, Amaterasu é reconhecida como a primeira no
panteão das divindades, mas não é a única. É apenas uma entre muitos. O Xinto-
ísmo primitivo via o Japão como a terra dos deuses, o que explica o caráter nacio-
nalista da religião. Acreditam que todos os japoneses têm origem divina, mas em
especial o imperador, que é descendente da própria deusa do sol.
A partir de 500 d.C., o Xintoísmo enfrentou dura competição com o Budis-
mo, e as duas religiões acabaram por influenciar uma à outra. Não é raro, no Ja-
pão, o uso alternando de várias religiões. É tanto que o país é chamado por muitos
de laboratório religioso. Diferente de outras religiões, como o Cristianismo e o Is-
lamismo, o Xintoísmo não tem um fundador. É tipicamente uma religião nacional.
Não conta com nenhum credo ou código de ética expressamente formulado. A sua
essência está na cerimônia e no ritual, que mantêm o contato com o divino.
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Cultura Religiosa
O Shinto, “o caminho dos deuses”, pode ser descrito como um modo ideal
de comportamento. O seu sistema ético inclui os seguintes preceitos:
lealdade ao imperador;
gratidão;
coragem diante da morte;
o serviço aos outros está acima dos interesses próprios;
verdade;
polidez até mesmo com os inimigos;
controle das manifestações de sentimentos e honra, que significa o ato de
preferir a morte do que a desgraça.
Os acontecimentos da Segunda Guerra Mundial nos mostram um pouco
desses conceitos quando os pilotos japoneses foram capazes de jogar seus próprios
aviões para atingir o alvo e acabar com o inimigo.
Principais idéias
O mito da origem japonesa parece ser uma resposta animista primitiva à
natureza. A multiplicidade de deuses japoneses pode ser atribuída a condições
civis primitivas, quando a nação era habitada por um grande número de clãs inde-
pendentes, cada um com seus próprios deuses e práticas religiosas.
As idéias confucionistas introduziram o culto aos ancestrais, segundo o qual,
quando as pessoas morrem, adquirem poderes sobrenaturais. Acredita-se que os mor-
tos são instrumentos de ajuda e proteção aos vivos, razão que leva os vivos a honrá-
los e reverenciá-los, tanto nos rituais fúnebres como nos santuários domésticos.
As cerimônias religiosas ajudam a evitar acidentes, promovem a cooperação
e o contato com os Kamis, e geram o contentamento e a paz para o indivíduo e a
sociedade. As cerimônias são feitas tanto no próprio lar, como nas grandes festas
anuais do templo – Morada dos Kamis. Quatro elementos estão sempre presentes
nestas cerimônias:
purificação;
sacrifício;
oração; e
refeição sagrada.
Taoísmo
É interessante observar que toda a filosofia chinesa está voltada para o so-
cial. Os problemas éticos, sociais e políticos estão no centro das discussões da
maioria das religiões orientais. É basicamente a preocupação constante com o
bem estar das pessoas. É a opção pelo ser e não pelo ter. Se as idéias de Confúcio
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As grandes religiões II
são estimulantes para governantes sérios, o Taoísmo apresenta uma visão trans-
cendente das preocupações com a vida. Apresenta uma visão diferente da vida. É
uma cultura oposta ao que estamos acostumados a viver no ocidente. Aqui apre-
sentaremos um resumo do Taoísmo. Serão recomendadas leituras complementa-
res para quem tiver interesse maior em conhecer melhor as idéias de Lao-tsé – o
grande e velho mestre.
O Velho Mestre
A origem do Taoísmo é apresentada com o nome de um homem chamado
Lao-tsé. Supostamente nascido por volta de 604 a.C., as histórias sobre a vida
deste homem são muito variadas. Alguns historiadores não têm nem certeza se ele
realmente existiu. Algumas lendas são fantásticas, como aquela que diz “ter sido
ele concebido por uma estrela cadente, permaneceu no ventre materno por 82 anos
e já nasceu velho, sábio e com os cabelos brancos.” (SMITH, 1991, p. 193).
Lao-tsé se traduz como “o velho”, “o velho amigo”, ou “o grande e velho
mestre”. Era contemporâneo de Confúcio. Um historiador chinês relata que
Wikipédia.
Confúcio ficou intrigado com o que ouvira a respeito de Lao-tsé e, certa vez,
o visitou. Sua descrição sugere que aquele estranho homem o desconcertou,
enchendo-o, porém, de respeito.
Eu sei que um pássaro pode voar; sei que um peixe pode nadar, sei que os animais
podem correr. Criaturas que correm podem ser apanhadas em redes; as que nadam,
em armadilhas de vime; as que voam, atingidas por flechas. Mas o dragão está
além do meu conhecimento; ele sobe ao céu nas nuvens e no vento. Hoje vi Lao-tsé,
e ele é como o dragão. (Confúcio).
Lao-tsé.
O Tao Te King
Uma boa idéia do início do Taoísmo, como conta a tradição, é o que lemos
no texto de Huston Smith, que assim coloca:
A história tradicional conta que Lao-tsé, entristecido com o seu povo pela relutância em
cultivar a bondade natural que ele pregava e buscando maior solidão para os seus últimos
anos de vida, montou nas costas de um búfalo e galopou para o oeste, na direção do atual
Tibete. No passo de Hankao, uma sentinela, percebendo o caráter incomum daquele via-
jante, tentou convencê-lo a retornar. Não obtendo êxito, pediu ao velho que, ao menos,
deixasse um registro de suas crenças para a civilização que estava abandonada. Lao-tsé,
concordando com o pedido, recolheu-se durante três dias e retornou com um magro volu-
me de 5.000 caracteres intitulado Tao Te King, ou O Caminho e o seu Poder. O livro pode
ser lido em meia hora ou durante toda a vida, e continua a ser, até os dias de hoje, o texto
básico do pensamento Taoísta. Um livrinho de apenas 25 páginas e 81 capítulos. (SMITH,
1991, p. 194).
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As grandes religiões II
A pessoa precisa deixar o Tao fluir para dentro e para fora de si mesma,
até toda a sua vida se tornar uma dança na qual não há febres nem desequi-
líbrios. Wu wei é a vida vivida acima da tensão:
Encha a tigela até a borda
E ela vai derramar
Fique sempre afiando a faca
E ela vai cegar
Wu wei é a materialização da maleabilidade, da simplicidade, da liber-
dade – uma espécie de pura eficácia na qual não se desperdiçam movimen-
tos em discussões ou exibições externas.
A pessoa pode caminhar tão bem que nunca deixa pegadas
Falar tão bem que a língua nunca comete deslizes,
Calcular tão bem que não precisa de ábaco. (cap. 27)
Uma eficácia dessa ordem obviamente exige uma capacidade extraordi-
nária, o que é transmitido pela lenda taoísta do pescador: com um simples fio,
ele conseguia puxar para a terra peixes enormes, porque o fio havia sido fabri-
cado com tanta perfeição que não tinha um “ponto fraco”. A capacidade tao-
ísta raramente é notada porque, vista de fora, wu wei – nunca forçando, nunca
sob tensão – parece não exigir praticamente nenhum esforço. O segredo está
na maneira pela qual ele busca os espaços vazios na vida e na natureza, e se
move por meio deles.
A água era o paralelo mais próximo ao Tao do mundo natural. Era tam-
bém o protótipo do wu wei. Os chineses observavam a maneira pela qual a
água se adapta ao ambiente e procura os lugares mais baixos. Por isso:
O bem supremo é como a água,
Que alimenta todas as coisas sem esforço.
Ela se contenta com os lugares baixos, que as pessoas desdenham.
Por isso, ela é como o Tao. (cap. 8)
Mas a água, apesar de se acomodar, tem um poder que não é conhecido
pelas coisas duras e quebradiças. A água abre caminho além das fronteiras e
por baixo dos muros divisórios. Seu fluxo suave acaba dissolvendo as rochas
e levando embora as orgulhosas montanhas que pensamos eternas.
Nada no mundo
É tão suave e maleável como a água
No entanto, para dissolver o duro e inflexível
Nada a suplanta.
O suave supera o duro;
O gentil supera o rígido.
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Cultura Religiosa
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As grandes religiões II
Yin/yang
O Taoísmo segue seu princípio da relatividade até seu limite lógico, colo-
cando a vida e a morte como ciclos complementares no ritmo do Tao.
Há o globo,
O alicerce de minha existência física
Ele me gasta com trabalho e deveres,
Dá-me repouso na velhice,
E me dá paz na morte.
Pois quem me deu o que necessitei na vida
Também me dará o que necessito na morte. (Chuang Tzu)
Assim nós terminamos esta caminhada por estas religiões sapienciais. Na-
turalmente, cada uma tem um vasto material para ser lido e analisado. A nossa
idéia é dar apenas um panorama para que você compreenda que existem pensa-
mentos muito diferentes daquilo que estamos acostumados a ver no Brasil. Aliás,
no nosso país quase não encontramos movimentos ligados a estas três religiões.
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Cultura Religiosa
Conclusão
Foram abordadas três religiões que nos apresentam valores interessantes. É
difícil aplicarmos estes valores no nosso dia-a-dia porque se diferenciam do nosso
modo de vida. Na confusão em que vivemos, é difícil fazer comparações com a
tranqüilidade dos orientais.
1. Após a leitura dos textos, procure identificar o que difere as religiões abordadas do nosso pen-
samento ocidental.
2. Você considera possível aplicar os valores aqui encontrados na nossa vida? De que forma?
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Nossa indicação de estudos é a leitura dos capítulos que falam sobre estas três
religiões no livro:
PIAZZA, Valdomiro. Religiões da humanidade. São Paulo: Loyola, 1991.
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As grandes religiões III
V
amos trabalhar duas grandes religiões do mundo. São religiões importantes no contexto in-
ternacional. Ao mesmo tempo, são duas religiões que dividem o mesmo espaço e têm como
cidade santa Jerusalém. Não é e nunca foi fácil manter a paz nesta cidade, já que ela é povoada
também por religiosos fundamentalistas, o que torna a tolerância um exercício de difícil execução.
Wikipédia.
Jerusalém.
Judaísmo
Hoje é fundamental você saber um pouco mais sobre o Judaísmo. Os judeus estão espalhados
pelo mundo. São importantes na história da humanidade e colaboraram muito para o desenvolvimen-
to de todos os lugares em que passaram. Foram perseguidos em muitas situações, mas na dispersão
sempre levaram a sua fé na certeza da existência de um Deus forte, que os acompanha, assim como
acompanhou o povo com Moisés na fuga do Egito em direção à Terra Prometida. É uma religião inti-
mamente ligada à história. Aqui, religião e nacionalismo se misturam, assim como acontece também
no Islamismo. Queremos levar você a alguns estudos. O principal dele é entender hoje os conflitos
entre judeus e palestinos, matéria apresentada diariamente pelos meios de comunicação de todo o
mundo. Embarque agora nessa leitura.
Wikipédia.
Muro das Lamentações.
História
A história do povo judaico começa por volta de 1700 a.C., com Abraão, que
parte de Ur da Caldéia, na Babilônia, para Canaã, e depois para o Egito. Abraão
gerou Isaac este gerou Jacó, que teve 12 filhos homens que deram origem às 12
tribos que constituíram a descendência de Abraão. Jacó se estabeleceu no Egito,
onde seu filho José era o primeiro-ministro do Faraó. Após a morte de José, o
povo descendente de Jacó e seus filhos foram oprimidos e escravizados. A liber-
tação se dá através de Moisés, líder escolhido por Deus para livrar o seu povo.
Foram 40 anos de caminhada pelo deserto até a chegada ao Monte Sinai, neste
local recebem os Dez Mandamentos (Decálogo) e as leis cerimoniais e civis a
serem observadas (Torá).
Recomendamos aqui uma leitura interessante. Na Bíblia você encontra a his-
tória completa no Êxodo1. É um panorama bem interessante sobre o povo judeu.
De 1200 a 1000 a.C., ocorre, em Canaã, o estabelecimento das tribos nôma-
des hebraicas, numa espécie de ocupação da terra prometida.
Entre 1000 a 587 a.C., ocorre a fase da monarquia, destacando-se os reis Davi, Salomão e o
profeta Samuel. A época é difícil, pois o povo, encantado com as constantes vitórias e con-
quistas contra os povos vizinhos, esquece com facilidade o Deus que os protegera e criara
até então. É então que surgem os profetas, com a finalidade de recordar o povo da aliança
feita com Deus. Os profetas denunciam os desvios dos reis e do povo, anunciando juízos
divinos, numa tentativa de fazê-los retornar à fé. Neste período também é estabelecida a
existência de dois reinos entre os descendentes de Jacó: o reino do Norte ou Israel, com ca-
pital em Samaria, e o reino do Sul, com capital em Jerusalém. O reino do Norte, já em 722
a.C., deixa de existir ao cair sob o poder dos assírios. (KUCHENBECKER, 2000).
Seguindo o curso da história, vamos para 539 a.C., quando ocorreu o cha-
1 Segundo livro da Bíblia,
no Antigo Testamento. mado cativeiro babilônico. Depois, de 587 a 539 a.C., o reino do Sul caiu em poder
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As grandes religiões III
Pontos principais
Deus criou e governa todos os seres.
Deus é uno.
Deus não tem corpo.
Deus é eterno.
Deus deve ser o único a ser adorado.
Todas as palavras dos profetas são verdadeiras.
Moisés é o maior dos profetas.
Toda a Torá (conjunto de leis) é a que foi dada a Moisés.
Esta lei não pode ser alterada.
Deus conhece todas as ações e todos os pensamentos dos homens.
Deus recompensa os que observam os seus mandamentos e pune os que
os transgridem.
Deus fará vir o Messias.
Deus fará reviver os mortos. (STEFFEN, 2000).
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Quatro tendências
Wikipédia.
Judeu ortodoxo.
Costumes
Os judeus têm costumes muito antigos relativos ao ciclo da vida. São os
seguintes:
Circuncisão – é feita oito dias após o nascimento. Somente os meninos
são circuncidados, de acordo com a Torá: “Deveis circuncidar a pele do
prepúcio, e este será o sinal da aliança entre nós”. A cerimônia é acom-
panhada pelos padrinhos. Junto são feitas orações numa cerimônia de
alegria e celebração.
Bar-Mizvá – aos treze anos, o menino judeu passa a ser um Bar-Mitzvá.
A expressão significa “filho do mandamento”. A cerimônia acontece na
sinagoga (templo judaico) no primeiro sábado após o seu 13.º aniver-
sário. Antes, ele recebe aulas com um rabino para aprender as leis e os
costumes judaicos. Também aprende um trecho da Torá, que será lido no
sábado. A partir daí, o menino passa a ser membro da congregação, com
todas as responsabilidades.
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As grandes religiões III
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Bar-Mitzvá.
Festas judaicas
As festas judaicas estão ligadas ao calendário judaico e são fundamentadas
em acontecimentos históricos. O calendário se apóia no ano lunar e tem 12 meses
de 29 ou 30 dias, com 354 dias ao todo. Acrescenta-se um mês extra sete vezes
durante cada ciclo de dezenove anos, para alinhar o ano lunar pelo ano solar.
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Cultura Religiosa
Desta forma, as datas festivas mudam a cada ano. O tempo é contado em relação
à criação do mundo, a qual, segundo o nosso calendário, ocorreu em 3761 a.C.
O Ano-novo (Rosh Hashaná, em hebraico): é celebrado em setembro ou
outubro, diferente do ano-novo cristão, os judeus comemoram a passa-
gem do ano judaico. É o momento de refletir sobre a vida, sobre as ações
e uma oportunidade para melhorar o que não saiu muito bem. Nesta pas-
sagem de ano é feita uma grande refeição preparada em casa, com diver-
sos pratos simbólicos. Não faltam as orações de arrependimento. A festa
de ano-novo também comemora Deus como Criador e Rei.
O Dia do Perdão, Iom Kipur (Dia da Expiação): termina o período de
dez dias de arrependimento iniciado no ano-novo. O Dia da Expiação
era o único dia do ano em que o sumo sacerdote entrava no Santo dos
Santos, o recinto mais sagrado do templo. Isso se dava após o sacri-
fício de um carneiro, como sinal de expiação pelos pecados do povo.
Hoje, o sacrifício já não é mais feito. Os pecados são confessados na
sinagoga e o indivíduo pede perdão a Deus depois de ter se reconcilia-
do com seus semelhantes.
A Festa dos Tabernáculos, Sukot (festa das tendas): acontece poucos dias
depois do Dia do Perdão. A festa acontece em memória das tendas nos
quais os judeus moraram durante a peregrinação no deserto e do cuidado
que Deus dedicou a eles. Para comemorar a data, os judeus constróem
cabanas de folhas no jardim da casa ou próximo à sinagoga. No último
dia se conclui o ciclo anual da leitura da Torá, e um novo ciclo se inicia,
recomeçando a leitura a partir do Gênesis.
A Festa da Inauguração (Chanuká): é comemorada em novembro ou de-
zembro, durante um período de oito dias. A festa acontece em come-
moração a uma grande vitória dos judeus ocorrida em 165 a.C., quando
inauguraram novamente o Templo de Jerusalém, depois que os invasores
sírios os haviam profanado e proibido o culto judaico.
A Páscoa: em hebraico é chamada Pessach, que significa “passar por
cima”. É uma referência ao relato da Torá sobre o anjo do Senhor que,
ao levar a décima praga ao Egito, “passou por cima” das casas dos isra-
elitas e, desse modo, só os primogênitos egípcios morreram. Esta festa
é comemorada em março ou abril e comemora o êxodo os judeus da
escravidão do Egito. Como ritual, antes da festa, os judeus devem fazer
uma limpeza na casa, usam um serviço especial de pratos para a comida
e não podem comer nem beber nada que contenha grãos ou farinha fer-
mentada. Os pratos feitos para a refeição da Páscoa têm um significado
simbólico. São mergulhados ramos de salsa numa tigela com água sal-
gada, simbolizando as lágrimas dos judeus no Egito. As ervas amargas
lembram a infelicidade da escravidão sob o domínio do faraó.
Festa das Semanas (Slavuot): a Festa de Pentecostes. Comemorada em
maio ou junho. É a lembrança do momento em que a Torá foi dada ao
povo no Monte Sinai.
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As grandes religiões III
Islamismo
Primeiras considerações
A fé islâmica é a que está mais próxima do Ocidente, tanto em termos geográficos como
ideológicos. Isto porque em termos religiosos pertence à família das religiões abraâmicas
e, em termos filosóficos, baseia-se nos gregos. Mesmo assim é a religião mais difícil de ser
compreendida pelos ocidentais.
Em certas épocas e lugares, cristãos, muçulmanos e judeus conviveram harmoniosamente
– basta pensar na Espanha Moura. Mas durante boa parte dos últimos 14 séculos, o Islã e
a Europa estiveram em guerra e as pessoas raramente formam uma imagem justa de seus
inimigos.
O termo maometismo não é aceito pelos muçulmanos. Além de inexato é ofensivo. Isso
porque para eles Maomé não criou essa religião; Deus a criou. Maomé foi apenas o porta-
voz de Deus. Além disso, é ofensivo porque transmite a impressão de que o Islã se con-
centra num homem e não em Deus.
Derivado da raiz s-l-m, que basicamente significa “paz”. Num sentido secundário, “entre-
ga”, sua plena conotação é “a paz que vem quando a pessoa entrega sua vida nas mãos de
Deus”. (SMITH, 1991, p. 261).
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Cultura Religiosa
Pano de fundo
Se perguntarmos como surgiu o Islamismo, eles vão responder que não foi
com Maomé na Arábia do século VI, mas com Deus. “No princípio Deus...”, diz o
livro de Gênesis. O Alcorão concorda. A única diferença está no uso da palavra Alá.
Alá é formado pela união do artigo definido al (que significa o) com Alah (Deus).
Literalmente, Alá significa “o Deus”. Não um Deus, porque existe apenas um.
Deus criou o mundo e, depois, os seres humanos. O nome do primeiro ho-
mem era Adão. A descendência de Adão chegou a Noé, que teve um filho cha-
mado Sem. É daqui que provém a palavra “semita”; literalmente, semita é do
descendente de Sem. Abraão desposou Sara. Como Sara não teve filhos, Abraão,
querendo continuar sua linhagem, tomou Agar como segunda esposa. Agar deu-
lhe um filho, Ismael. Depois, Sara concebeu e teve um filho, chamado Isaac. Sara
então exigiu que Abraão banisse Ismael e Agar da tribo. Chegamos aqui à pri-
meira divergência entre os corânicos e bíblicos. Segundo o Alcorão, Ismael foi
para o local onde se ergueria Meca. Seus descendentes, florescendo na Arábia,
tornaram-se muçulmanos; enquanto os descendentes de Isaac, que permaneceram
na Palestina, eram hebreus e se tornaram judeus.
Maomé
Nasceu na influente tribo de Meka, os Koreisch, aproximadamente em 570
d.C. e recebeu o nome de Maomé, “altamente louvado”.
A vida foi marcada por tragédias. Perdeu o pai poucos dias antes de nascer;
perdeu a mãe quando tinha oito anos. Foi adotado por um tio que, em declínio,
forçou o jovem a trabalhar duro cuidando dos rebanhos da casa. Mesmo assim foi
recebido calorosamente pela nova família.
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As grandes religiões III
A missão
Numa época carregada de sobrenaturalismo, em que os milagres eram acei-
tos como as ferramentas características do santo mais comum, Maomé se recusou
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Cultura Religiosa
Yatrib logo passaria a ser conhecida como Medinat al-Nabi, a cidade do profeta e,
por contração, simplesmente Medina, “a cidade”.
Em Medina assumiu o papel de administrador. O pregador desprezado tor-
nou-se um político magistral; o profeta foi transformado em estadista. O povo via
nele um mestre a quem era tão difícil não amar quanto não obedecer. Ele possuía
“o dom de influenciar os homens, e também a nobreza de só influenciá-los para o
caminho do bem”. Ele conseguiu despertar nos cidadãos um espírito de coopera-
ção, desconhecido na história da cidade. Sua reputação se espalhou e as pessoas
começaram a vir de todas as partes da Arábia para ver o homem que tinha reali-
zado aquele milagre.
A caminho da famosa Caaba (o templo cúbico que se diz ter sido construído
por Abraão e que Maomé reconsagrou a Alá e adotou como foco central do Isla-
mismo) ele aceitou a conversão em massa de praticamente toda a cidade de Meca.
E então voltou para Medina.
Wikipédia.
Caaba.
Dez anos depois, em 632 (ou 10 d.H., “depois da Hégira”), Maomé morreu
tendo praticamente toda a Arábia sob o seu controle.
A combinação incomparável de influência secular e religiosa intitula Ma-
omé a ser considerada a pessoa mais influente da história humana. A explicação
dos muçulmanos para esse veredicto é simples: toda a obra de Maomé, dizem eles,
foi obra de Deus.
O milagre permanente
Maomé não foi apenas pastor, mercador, eremita, exilado, soldado, legis-
lador, profeta-sacerdote-rei e místico; foi também um órfão, o marido durante
muitos anos de uma mulher bem mais velha do que ele, o pai que sofreu a morte
de muitos dos seus filhos, um viúvo e finalmente um marido com várias esposas,
algumas bem mais jovens do que ele. Em todos estes papéis, ele foi exemplar.
Dizem os muçulmanos em gratidão: “que a paz esteja sobre ele”. Mas o
centro terreno da fé dos muçulmanos é o Alcorão.
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Cultura Religiosa
O Alcorão
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Alcorão.
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As grandes religiões III
Conceitos teológicos
Com poucas exceções, os conceitos teológicos básicos do Islamismo são
praticamente idênticos aos do Judaísmo e do Cristianismo, seus predecessores.
Deus é imaterial e, portanto, invisível. Os muçulmanos temem Alá. O
bem e o mal têm importância. As escolhas têm conseqüências, e des-
denhá-las seria tão desastroso quanto escalar uma montanha de olhos
vendados. A crença no Alcorão ocupa lugar tão decisivo por ser análoga
à avaliação do monte Everest pelo alpinista: sua majestade é evidente,
mas também são evidentes os perigos que apresenta. Qualquer erro seria
desastroso.
O mundo foi criado por um ato deliberado da vontade de Alá. Ele criou
céus e terra.
Ele criou o homem, lemos na Sura 16:4, e a primeira coisa que observa-
mos nessa criação é a sua constituição perfeita.
A idéia de entrega (rendição, capitulação) está tão carregada de conota-
ções militares que precisamos fazer um esforço consciente para perceber
que ela também significa uma absoluta e sincera doação de nós mesmos.
Para eles, ser um escravo de Alá significa libertar-se de outras formas de
escravidão. Abraão é decididamente a figura mais importante do Alco-
rão: ele passou no teste último de estar pronto a sacrificar o filho, se isso
lhe fosse pedido.
Toda vida é individual; não existe uma vida universal. Deus é, Ele pró-
prio, um indivíduo; Ele é o indivíduo mais singular. “Ó Filho de Adão, tu
morrerás sozinho, entrarás sozinho em teu túmulo e sozinho serás ressus-
citado, e será contigo, contigo sozinho, que se fará o ajuste de contas.”
“Quem cometer delitos, comete-os apenas por sua própria responsabilida-
de. Quem se desvia carrega consigo toda a responsabilidade por seu des-
norteamento”. (Sura 4:111 e Sura 10:103). O Alcorão apresenta a vida
como uma oportunidade breve, mas imensamente preciosa, que oferece
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Cultura Religiosa
Os cinco pilares
São como uma ordem aos islâmicos. Seguem esses pilares diariamente por
toda a vida. São eles:
caminho da retidão – Deus é um só e Maomé o profeta;
praticar as orações;
praticar a caridade. As pessoas que têm muito devem ajudar a aliviar o
fardo dos menos afortunados;
observar o mês de Ramadã. O jejum: jejuar obriga a pessoa a pensar;
ensina a autodisciplina; faz relembrar nossa fragilidade e dependência;
sensibiliza a compaixão;
a peregrinação.
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Peregrino em Meca.
Existem outras coisas que eles não podem fazer: jogar, roubar, mentir, co-
mer carne de porco, ingerir álcool e praticar a promiscuidade sexual.
A economia
Enquanto as necessidades básicas do corpo não forem satisfeitas, os inte-
resses mais elevados não conseguem florescer. O Islã não faz objeção ao lucro,
à concorrência econômica ou à ousadia empresarial. Vêem o Alcorão como um
manual de administração de empresas. A herança deve ser partilhada por todos
os herdeiros, filhas tanto quanto filhos. Um versículo do Alcorão proíbe a cobran-
ças de juros.
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As grandes religiões III
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O Islamismo santificou o casamento, transformando-o como úni-
co lugar legal para a prática do ato sexual. O Alcorão exige que
uma mulher dê seu livre consentimento antes de se casar; nem
mesmo um sultão poderá se casar sem a aprovação expressa de
sua noiva. (SMITH, 1991, p. 237).
Relações raciais
O Islã enfatiza a igualdade racial.
Abraão é um modelo para eles. Ele desposou Hagar, uma mulher Mulher islâmica.
de raça negra que é vista no Islã como a segunda esposa de Abraão e não
como uma concubina.
O uso da força
O Alcorão ensina a perdoar e a retribuir o mal com o bem quando as
circunstâncias o permitirem. “Afastai-vos o mal com algo melhor”, mas
isso é diferente de não resistir ao mal.
Quando se estende o princípio de justiça para a vida coletiva, temos, por
exemplo, a jihad, o conceito muçulmano de Guerra Santa, cujos mártires
têm assegurado o paraíso.
“Defendei-vos contra vossos inimigos, mas não o ataqueis primeiro:
Deus não ama o agressor”. (Sura 2:190).
O Islamismo, embora em certos momentos tenha sido difundido pela
espada, difundiu-se principalmente pela persuasão e pelo exemplo.
Eles negam que o registro de intolerância e agressão do Islã seja maior
que as outras grandes religiões.
Jihad significa, literalmente, esforço. (SMITH, 1991, p. 245).
Divisão
A principal divisão histórica foi entre os sunitas (tradicionalistas, de Sun-
nah – tradição), que compreedem 87% de todos os muçulmanos e os xiitas (lite-
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Cultura Religiosa
ralmente partidários de Ali, o genro de Maomé) que deveria ter sido o sucessor
direto de Maomé, mas foi preterido três vezes e, quando finalmente indicado líder
muçulmano, foi assassinado.
Xiitas – Irã, Iraque.
Sunitas – Oriente Médio, Turquia e África, Paquistão e Bangladesh, Malá-
sia, Indonésia, onde há mais muçulmanos do que em todo mundo árabe.
Há indicativos de que o Islã está despertando de muitos séculos de estag-
nação, exacerbada sem dúvida pela colonização. Contando com mais de 900 mi-
lhões de fiéis numa população global de seis bilhões, hoje em dia uma pessoa em
cada cinco ou seis pertence a esta religião.
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As grandes religiões III
3. Faça uma relação de valores que mais lhe agradaram neste texto.
1. Lendo o material apresentado, quais os preceitos do Judaísmo você conseguiria seguir sem
mudar seu estilo de vida?
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Cultura Religiosa
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Movimentos
religiosos no Brasil
E
ncontramos milhares de religiões no mundo todo. Cada uma das grandes religiões propor-
cionou material para a formação de novos movimentos religiosos que vêm crescendo a cada
ano. Vamos analisar neste texto como esses movimentos se formam e ainda algumas religiões
presentes no Brasil.
Nova espiritualidade
Com a evolução tecnológica e científica do último século e com explicações não religiosas para
o curso dos eventos, pode-se pensar que o homem tenha deixado a religião de lado e buscado novas
alternativas para a sua vida. É bom lembrar que estamos num processo de secularização. Com isso,
notamos que também os conceitos éticos ensinados pelas religiões não afetam mais as questões so-
ciais. Mas será que as religiões estão mesmo perdendo a força?
Talvez isso esteja acontecendo com as religiões tradicionais. Mas a cada ano novas seitas e
novos movimentos vêm surgindo, e, como no Brasil há liberdade de culto religioso, nada impede que
se invente uma nova religião a cada dia. Por outro lado, os problemas sociais e as necessidades do ser
humano fazem com que ele ainda recorra à religião.
Hoje, as igrejas cristãs têm de lutar não só contra a discriminação, mas também contra uma
série de diferentes tendências religiosas, entre elas algo que pode ser chamado de esoterismo. (GA-
ARDER, 1989, p. 253).
É verdade também que as pessoas preferem falar sobre nova “espiritualidade”. É a palavra da
moda, fugindo especialmente das igrejas tradicionais. Gaarder (1989, p. 254), falando sobre isso, ex-
plica que o conceito de nova espiritualidade é muito abrangente, pois compreende:
novas campanhas missionárias de religiões antigas como o Hinduísmo e o Budismo;
novas seitas cristãs;
novas seitas religiosas não cristãs, que adotam idéias de uma ou de mais de uma das princi-
pais religiões do mundo;
antigas noções esotéricas;
novo “conhecimento”, que com freqüência é uma mistura de ciência moderna com antigos
conceitos religiosos.
Como se caracterizam
os movimentos religiosos
Cada movimento religioso tem a sua característica. Cada um busca modifi-
car o seu ritual, adaptando-o ao gosto dos seus fiéis e também atendendo às suas
necessidades. Mas encontramos em alguns autores características que nos ajudam
a analisar estes movimentos.
Normalmente, foram fundados por alguém com forte personalidade, que
teve uma revelação da divindade e se sente chamado a liderar uma igreja. Pode
ser uma “figura messiânica” a quem as pessoas recorrem em épocas de crises es-
piritual, cultural ou política. Mas também pode ser, como em vários movimentos,
inspirados pelo Hinduísmo, um “guru” (mestre religioso) que exige a completa
obediência e devoção de seus discípulos. O guru em si não é necessariamente
divino, mas representa o divino e, portanto, pode receber oferendas de seus segui-
dores (GAARDER, 1993, p. 256).
Outras características comuns aos novos movimentos religiosos é que eles
sempre se dizem universais e aplicáveis para todos. Aparecem como a solução de
todos os problemas e oferecem uma vida próspera aos seus fiéis. Ao mesmo tempo,
é muito comum que sejam usados os nomes de grandes líderes religiosos para apro-
fundar ou melhorar a sua propaganda. Assim usam, sem nenhum medo, o nome de
Jesus, Moisés, Maomé e Buda e os tomam como precursores. Normalmente, os no-
vos movimentos não repudiam as outras religiões, mas as consideram antiquadas.
Normalmente, eles exageram na busca pela experiência interior do indiví-
duo e ignoram os dogmas e as leis das religiões tradicionais. “A experiência inte-
rior, segundo eles, propicia uma liberdade total, que promove a tranqüilidade, a
harmonia e a felicidade.” (GAARDER, 1993, p. 256). O problema está no fato de
que o indivíduo pode encontrar a si mesmo, muitas vezes sem a necessidade da
presença de Deus, contrariando assim a maioria das religiões. Portanto, sempre
lembrem-se de que precisamos buscar o equilíbrio nas práticas religiosas e não
chegar ao fanatismo religioso.
Religiões africanas
O tráfico de escravos
O fato negativo é que por mais de três séculos milhares de pessoas morreram nas mãos
de homens gananciosos. Os povos da África foram arrancados de suas nações e levados à
escravidão nos países da América.
A captura de negros
Vemos também que os mouros eram os intermediários entre os portugueses
e os grandes fornecedores de escravos. Todavia, com o decorrer do tempo, as nego-
ciações passaram a ser feitas diretamente com os régulos (chefes tribais) nas aldeias.
Os negros eram quase sempre caçados pelos próprios mercadores, mediante o pa-
gamento de um tributo aos régulos. Eles eram arrastados até o litoral e embarcados
em navios negreiros. Antes de cruzarem os mares em direção aos novos domínios,
eram marcados com ferro em brasa no ombro, no peito ou na coxa. Muitos não so-
brevivam à viagem devido às péssimas condições da travessia. Calcula-se que de 3
a 5 milhões de africanos tenham morrido confinados em cubículos nos portos, nos
porões dos navios e nas guerras tribais ocasionadas pelo comércio escravagista. O
tráfico negreiro durou três séculos. Nesse período, cerca de 10 a 15 milhões de afri-
canos chegaram à América. Estima-se que de 500 a 7 mil deles foram levados para
a América do Norte. Os demais foram trazidos para as Américas do Sul e Central.
Chegada ao Brasil
Os portugueses tinham autorização para escravizar índios. Mesmo sendo
um fato negativo, muitos o fizeram. Mas, como o tráfico de negros mostrou-se
altamente lucrativo, eles deram preferência à escravização de africanos. O lucro
chegava a 600%. Todos ganhavam: a burguesia européia, que montou entrepostos
de escravos na costa africana; a Coroa Portuguesa, que cobrava altos impostos dos
senhores de engenho, não só pela importação de escravos, como também pela ex-
portação do açúcar produzido pela mão-de-obra negra; e os próprios colonizado-
res, que tinham à disposição trabalhadores escravos, que podiam ser negociados
como mercadoria.
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Cultura Religiosa
Religiões afro-brasileiras
Apesar de lamentarmos profundamente o tráfico de escravos, foi por meio
dele que recebemos no país uma riqueza enorme de cultura. A fusão de crenças e
costumes africanos, católicos e indígenas deu origem a uma nova cultura religio-
sa, representada principalmente pela Umbanda e pelo Candomblé.
Na época da escravidão, os cultos africanos foram condenados e perseguidos
pela Igreja Católica. As práticas, quase sempre clandestinas, e a natureza secreta de
alguns rituais deixaram poucos registros dos costumes religiosos dos negros afri-
canos no Brasil. A documentação sobre esses rituais, produzida por autoridades,
desqualificou e reduziu a religiosidade negra à mera feitiçaria. Ainda hoje, quando
o número de praticantes e simpatizantes chega a 70 milhões de pessoas, segundo a
Federação Nacional de Tradição e Cultura Afro-brasileira, os cultos afro-brasilei-
ros enfrentam preconceitos, críticas e ataques de alguns segmentos da sociedade.
O Candomblé
Essa é a religião afro-brasileira mais influente no país. A base de sua prática
é a reverência e o culto aos orixás. Olorum é considerado o ser supremo, o prin-
cípio das coisas. Os orixás, emanações de Olorum, originaram-se dos ancestrais
dos clãs africanos, divinizados há mais de 5 mil anos. Embora sejam associados
aos santos cristãos, possuem características humanas como a vaidade, a raiva, a
força e o ciúme.
As diferentes origens dos escravos explicam a multiplicidade de manifes-
tações do Candomblé pelo território brasileiro. Em cada canto do país, pratica-se
um tipo de culto, mas preserva-se certa unidade em torno da liturgia e das crenças
originais, trazidas pelos africanos.
Rituais e pedidos
Os cultos do Candomblé são realizados no terreiro, também denominados
“roça” ou “casa-de-santo”, usado simultaneamente como templo e moradia. Du-
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Movimentos religiosos no Brasil
Os terreiros
Nessa espécie de templo, o dia-a-dia dos mortais mistura-se com os rituais
dos orixás. Em muitos casos, a divisão dos espaços de um terreiro lembra os egbes
– antigas habitações coletivas dos clãs dos povos de língua iorubá. Nos quartos-
de-santo ficam os pejis (altares) e os assentamentos (as representações com objetos
e símbolos dos orixás). O espaço do santuário, no qual se fixa o axé, a força do
sobrenatural, é extremamente sagrado. Alguns orixás possuem quartos dentro da
casa, enquanto outros, apenas na área externa. As festas que reúnem os fiéis e as
divindades do Candomblé são promovidas no barracão.
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Cultura Religiosa
Wikipédia.
Iemanjá, deusa dos mares e oceanos, corresponde a Nos-
sa Senhora da Conceição ou Nossa Senhora da Glória.
Exu, que aparece nas experiências do candomblé, não é
um orixá, mas um intermediário entre este e os seres humanos.
Liderança religiosa
O processo ritualístico do candomblé é comandado por
um pai-de-santo, chamado de babalorixá, ou por uma mãe-de-
santo, chamada yalorixá. A função dos dois, além de incor-
porar o seu orixá, é dar licença aos seus seguidores para que
levem diante dele seus pedidos e desejos.
A Umbanda
A Umbanda surgiu na década de 1920, no Rio de Janeiro.
Iemanjá. Com o passar dos anos, foi se propagando pelo Brasil e tomando
conotação de “religião universal” (GAARDER, 2000, p. 298).
A preocupação dos umbandistas não é manter ou preservar as raízes africa-
nas, mas sim pensar suas raízes como brasileiras. É afro, mas afro-brasileira. As-
sim, encontramos nesta religião uma característica importante a ser ressaltada:
[...] a Umbanda também pode ser dita religião brasileira porque é resultante de um en-
contro histórico único, que só se deu no Brasil: o encontro cultural de diversas crenças e
tradições religiosas africanas com as formas populares de Catolicismo, mais o sincretismo
hindu-cristão trazido pelo Espiritismo Kardecista de origem européia. Eis aí a Umbanda,
um sincretismo religioso originalmente brasileiro. (GAARDER, 2000, p. 299).
Na Umbanda, a divindade maior é adorada sob vários nomes, especialmente
Zambi, que é tido como perfeito e não criado ou concebido. Notem o sincretismo.
Logo a seguir, vem o Orixá-maior, chamado de Oxalá, identificado com Jesus
Cristo e que está no comando dos orixás (semelhante aos anjos no catolicismo
romano) e dos santos (espíritos evoluídos e desencarnados, semelhantemente ao
pensamento Kardecista).
Os orixás e os santos têm como função comandar as linhas (faixas de vibração espiritual
correspondentes a cada elemento da natureza, semelhantes à vivência religiosa indigenis-
ta) e os chefes de falange (entidades espirituais evoluídas que servem como guias a um
conjunto de espíritos de menor evolução em relação aos orixás e que vibram na mesma
linha espiritual; são também conhecidos como entidades). Os espíritos de menos evolução
guiados pelos chefes de falange são como guias espirituais, espécie de mensageiros dos
orixás e santos, que se manifestam como caboclo (espírito dos índios), pretos velhos (es-
píritos de escravos africanos) e crianças, a fim de trazerem aos homens ainda encarnados
as mensagens dos orixás. (STEFFEN, 2000, p. 62).
Os terreiros são organizados em sete linhas tradicionais: de Oxalá, de Ieman-
já, de Oxóssi, de Xangô, do Oriente ou das crianças, africanas ou das almas e de
Ogum. Na Umbanda, a consulta é feita por meio de um médium, e os “trabalhos”
são realizados pelo espírito que está incorporado nele durante os rituais.
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Movimentos religiosos no Brasil
A liderança religiosa
O pai-de-santo e a mãe-de-santo são quem comandam os rituais. Eles fazem
parte da chamada hierarquia espiritual.
O pai/mãe-de-santo, ao incorporar seu orixá/guia, deixa-se levar pela incorporação, permitin-
do que ele se manifeste dentro de suas qualidades específicas. Fazem parte de suas funções:
incorporar o espírito protetor, identificar os espíritos que baixam, riscar o ponto, explicar a
doutrina, dar os passes, curar as doenças e adivinhar pelos búzios. (STEFFEN, 2000, p. 64).
Assim temos uma idéia de como funciona a Umbanda e os seus rituais. É
claro que existem muitos pontos que podem ser aprofundados, mas nossa intenção
aqui é a de resumir as características mais importantes.
Espiritismo
Os alunos sempre pedem para que falemos sobre o Espiritismo, pois princi-
palmente no Brasil encontramos muitas pessoas adeptas a essa religião. Aliás, a
pergunta é: o espiritismo é uma religião? Muitos espíritas fazem questão de dizer
que espiritismo não é religião, mas ciência.
Origem do Espiritismo
O Espiritismo surgiu na França com Leon Hippolyte Denizard Rivail, co-
nhecido como Allan Kardec (1804 – 1869). Foi ele quem “sistematizou uma série
de conhecimentos religiosos e deflagrou um movimento que se definia, ao mesmo
tempo como ciência, filosofia e religião”. (STEFFEN, 2000, p. 38).
Wikipédia.
Allan Kardec foi quem trouxe em sua sistematização os milenares
conhecimentos evolucionistas. Retoma a reencarnação e a Lei do Car-
ma, como no Hinduísmo. Também fala sobre a pluralidade dos mundos,
isto é, a existência de vários planos habitados, já que a Terra não é o
único mundo habitado, mas um planeta material e distante da perfeição.
Esses pensamentos distanciaram o Espiritismo do Cristianismo, já que
são contrários ao pensamento cristão.
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Cultura Religiosa
1. Você já observou a diversidade de movimentos religiosos que encontramos no Brasil? Faça uma
relação dos que você conhece.
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Movimentos religiosos no Brasil
Como você avalia os movimentos afro-brasileiros e de que forma você detecta traços da Um-
banda e do Candomblé na cidade onde mora?
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Cultura Religiosa
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O Cristianismo I
A
maior de todas as grandes Religiões. Jesus surpreendeu com sua mensa-
gem, uma proposta de vida nova para seus seguidores. Uma esperança
ligada não somente a esta vida, mas também à eternidade. É difícil falar do
Cristianismo sem vivê-lo. Quem o vê de fora muitas vezes não compreende o quan-
to ele pode mudar a vida de alguém. Isso porque ser cristão exige fé acima de tudo.
Neste texto você vai ler um pouco sobre a história do Cristianismo. Mas, apesar de
todos os dados históricos, é fundamental entender a essência desta religião.
Wikipédia.
Smith, um dos grandes estudiosos das religiões. Retiramos estas frases
do seu livro As religiões do mundo (1991).
Jesus convidou o povo a ver as coisas de um modo diferente, certo
de que, se elas o fizessem, seu comportamento mudaria de acordo
com a nova visão.
Jesus usou particularidades que faziam parte do mundo das
pessoas: grão de mostarda e solo rochoso, servos e senhores,
casamentos e vinhos. Essas particularidades deram aos seus en-
sinamentos um toque de realidade; ele estava falando de coisas
que realmente faziam parte do mundo de seus ouvintes.
Jesus Cristo.
Nós vimos a sua glória. Existe no mundo, escreveu Dostoié-
vski, somente uma figura de beleza absoluta: Cristo. Essa figura infinita-
mente bela é um milagre infinito.
Toda a sua vida foi de humildade, doação de si e de um amor totalmente
altruísta. A prova suprema de sua humildade é a impossibilidade de des-
cobrirmos exatamente o que Jesus pensava de si mesmo.
Jesus gostava das pessoas e elas, por sua vez, gostavam dele. Elas o ama-
vam; amavam-no intensamente, e eram muitas.
Chegou um momento em que eles sentiram que, olhando para Jesus,
olhavam para algo semelhante a Deus em forma humana. Nós vimos a
sua Glória [...] cheio de graça e verdade. (João 1.14). 1 Ágape: é o amor fraternal
entre os cristãos, ordena-
do por Jesus no Novo Testa-
mento, que se expressava de
três maneiras práticas: na
doação de esmolas – daí ága-
atenção mútua era a ausência total de barreiras sociais; tratava-se de uma con-
fraria de iguais, como definiu uma estudiosa do Novo Testamento. Ali estavam
homens e mulheres que não só diziam que todos eram iguais aos olhos de Deus,
mas também viviam de acordo com essa afirmação.
Ficar triste na presença de Jesus era uma impossibilidade existencial. Essa
era uma qualidade dos cristãos. Também, as palavras de Jesus foram claras: “que a
minha alegria esteja convosco e a vossa alegria seja completa”. (João 15.11).
Os estranhos ficavam perplexos. Aqueles cristãos, espalhados aqui e ali, não
eram numerosos, não eram ricos nem poderosos. Na verdade, enfrentavam mais ad-
versidades do que o indivíduo médio. Porém, em meio às provações, haviam encontra-
do uma paz interior que se expressava numa alegria que parecia exuberante.
O único poder capaz de realizar transformações como essa que descreve-
mos é o amor. O amor só cria raízes nas crianças quando chega até elas. É um
fenômeno reativo e, literalmente, uma resposta. Deus amou primeiro. Não é difícil
imaginar a mudança que teria se processado nos primeiros cristãos ao se desco-
brirem amados por Deus. O amor que as pessoas aprenderam com Cristo envolvia
pecadores e marginais, samaritanos e inimigos.
Completamente convencidos disso, os discípulos saíram para conquistar um
mundo que, acreditavam, Deus já conquistara para eles.
A história
No início do século I, quando surge o Cristianismo, toda a região do mar
Mediterrâneo está sob o poder de Roma. A história dessa religião está ligada à his-
tória do Império Romano e à do povo hebreu. Aliás, para se conhecer a história do
Cristianismo é necessário também um bom conhecimento do Judaísmo. Os profetas
do Antigo Testamento já anunciaram, muitos anos antes, a vinda do Messias, de um
libertador. A Palestina, Terra Prometida por Deus aos hebreus, sofreu, ao longo dos
anos, um enfraquecimento político e social. O povo, que havia passado por anos de
prosperidade e de unidade sob os reinados de Davi e Salomão, estava abalado pelas
disputas internas entre diversas tribos. Após a morte do Rei Salomão, em 931 a.C.,
a Palestina foi dividida em reino do norte (Israel) e do sul (Judá) e sofreu sucessivas
invasões até cair em poder dos romanos, por volta de 60 a.C.
O nascimento de Jesus
Os evangelhos relatam que Jesus foi concebido pela força do Espírito
Santo e foi dado à luz por Maria, uma jovem virgem pertencente à tribo de
Judá e à descendência de Davi. O menino-Deus dos cristãos nasceu na cidade
de Belém quando Herodes governava a Judéia (antigo reino de Judá). Ele cres-
ceu em Nazaré, pequena cidade da região da Galiléia, na atmosfera simples de
uma casa de carpinteiro. Não encontramos nos evangelhos um relato sobre a
juventude de Jesus. O último relato acontece no templo, em Jerusalém, quando
Jesus, aos 12 anos, é encontrado conversando com os doutores da lei. Depois
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O Cristianismo I
A pregação
Jesus começa a pregar após ser batizado por João Batista. A sua pregação
é o anúncio de um novo reino. Ele chama o povo ao arrependimento e anuncia o
perdão de Deus. Arrependimento significa transformação. É mudança de vida. O
cristão que se arrepende dos seus pecados muda a sua forma de viver. Vive para o
próximo, vive pela fé em Deus – o Criador, e ama como Deus ama o seu povo.
O objetivo dos evangelhos não era a veracidade histórica, e sim a procla-
mação de uma mensagem. Eles explicam o sentido da morte de Jesus, do seu
sacrifício e da sua ressurreição. Os evangelhos mostram que Jesus de fato tinha
autoridade divina e que de fato ressuscitou. A fé cristã não pode ser justificada por
meios científicos, nem refutada com base nesses métodos.
Jesus – o mestre
Jesus era chamado rabi – “mestre” ou “professor”. Não foi por acaso que ele
reuniu multidões de pessoas. Suas parábolas2 e sermões eram preciosos. Falava
por meio de máximas, por meio de conversas com os discípulos ou com pessoas
que encontrava. Leia, posteriormente, a conversa que Jesus teve com o jovem rico.
Ela está no evangelho de Mateus, capítulo 19, versículos 16 a 26. Outro método de
pregar era por meio de sermões. O mais interessante é o Sermão da Montanha.
As parábolas se constituíram numa das melhores formas de ensinar. As 2 Analogias, comparações
por meio das quais se apre-
sentava um fato do cotidiano
histórias de Jesus sempre foram usadas para dar um sentido às perguntas dos com significado celeste.
Wikipédia.
blia Sagrada, no Novo Testamento, livro de Mateus, que resumem
de modo magistral o seu ensino a respeito do amor de Deus para
com a humanidade, do amor que seus seguidores têm a ponto de
perdoar seus ofensores e do amor que olha para o lado e os move
a assistir quem dele necessita.
A morte de Jesus
A ação de Jesus, sua mensagem, a maneira de lidar com as
pessoas, seus milagres, a quebra de muitas tradições, também cria-
ram sentimento de ódio nos seus opositores. As críticas de Jesus
não eram baseadas em questões econômicas ou políticas; sua preo-
cupação maior e fundamental estava na autenticidade das relações
humanas e na sinceridade de propósitos com as quais as pessoas A morte de Jesus.
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Cultura Religiosa
A ressurreição
Este é o ponto-chave, a mensagem cristã. Jesus morreu, mas ressuscitou
dentre os mortos. Um simples homem não faria isso. É algo racionalmente impos-
sível para qualquer ser mortal, mas não para Deus. Deus mostra à humanidade que
é maior do que a morte. Jesus venceu a morte e está na presença do Pai. A ressur-
reição é que dá legitimidade ao Cristianismo. Sem ela, a vida e a obra de Jesus não
fariam sentido. Por isso os cristãos anunciam que “Cristo vive”.
Uma das piores coisas do mundo é perder alguém que se ama. A morte é
cruel, é dura. Ela ceifa a vida de pessoas idosas, de meia-idade, de jovens e de
crianças por meio de doenças incuráveis como o câncer ou a aids, infartos, aci-
dentes e assim por diante.
Ela liquida com sonhos de trabalho, estudo, namoro, casamento, viagens etc.
Deus não a criou. Ela é conseqüência direta da desobediência dos primeiros
homens, Adão e Eva. É o salário do pecado (Romanos 6.23). E como cada ser hu-
mano tem cometido pecados por meio de pensamentos, desejos, palavras e ações,
todos, dia mais, dia menos, morrerão.
Para muitos, a morte é o fim de todas as coisas. Contudo, a Bíblia Sagrada
diz que tudo não termina com ela, que existe a ressurreição. A ressurreição de
Lázaro (João 11.1-46) é prova disso.
Certa vez, este amigo de Jesus, Lázaro, estava doente. Suas irmãs, Maria e
Marta, imediatamente mandam avisá-lo, dizendo: “Está enfermo aquele a quem
amas”. Jesus não sai imediatamente do lugar em que se encontrava para auxiliá-lo.
Lázaro morre e é sepultado.
Quatro dias depois de ter sido sepultado, Jesus chega à Betânia. Marta vem
ao seu encontro e lhe diz: “Se estivesse aqui, meu irmão não teria morrido”. Jesus
retrucou dizendo que ele iria ressuscitar. Maria o crê, só que para o fim dos tem-
pos, no último dia. Jesus, porém, afirma: “Eu sou a ressurreição e a vida, quem
crê em mim, ainda que morra, viverá”. O que Jesus estava dizendo era que ele era
Senhor sobre a morte, e que ele ressuscitaria a seu amigo Lázaro. De fato, aquilo
que parecia impossível aos olhos de todos, aconteceu: Lázaro ressuscitou depois
de quatro dias de sepultamento.
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O Cristianismo I
1. Como você entende a questão do nascimento de Jesus, gerado pelo Espírito Santo?
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Cultura Religiosa
3. Após a leitura do texto, procure discutir com os colegas e amigos o sentido da morte de Jesus.
Recomendo, para um conhecimento maior do tema, a leitura de um dos Evangelhos que conta
a história de Jesus. Pode ser os Evangelhos de Mateus, Marcos ou Lucas.
BÍBLIA. Português. Bíblia Sagrada. Revisada e atualizada. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil,
1999.
O que você entende ser importante na mensagem do Cristianismo? Que tipo de aplicação práti-
ca é possível fazer para uma vida mais feliz?
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O Cristianismo I
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Cultura Religiosa
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O Cristianismo II
V
amos fazer neste texto uma reflexão maior sobre o Cristianismo e como a fé cristã pode ser co-
locada em prática. Praticamente todo o texto foi trabalhado por um colega nosso da disciplina
de Cultura Religiosa, o professor Egon Seibert, que escreve do coração.
Istock Photo.
A palavra Bíblia significa conjunto de livros, o que ela na verdade é, sendo que se divide em
dois grandes blocos, o Antigo (AT) e o Novo (NT) Testamentos. A palavra testamento lembra aliança
ou acordo, estabelecidos entre Deus e os seres humanos. No caso do AT, o mesmo refere-se a Abraão,
que recebeu a promessa de vir a ser uma grande nação, de onde viria o Messias, o Redentor de to-
dos os homens. Também lembra a libertação da escravidão do Egito através do sangue do cordeiro.
Quanto ao NT, é lembrado o cumprimento da promessa de que o Messias veio na pessoa de Jesus, que
ele salva os homens da morte eterna com o derramar do seu sangue – o sangue da nova aliança – e
envia seus mensageiros ao mundo para pregar seu evangelho. Para facilitar a sua leitura, a Bíblia foi
dividida em capítulos e versículos. (SEIBERT, 2002).
Antigo Testamento
É formado por 39 livros, escritos em hebraico e aramaico pelos profetas, de mais ou menos 1260
até 400 a.C.
Livros
Livros da Lei (Pentateuco);
Históricos – Josué até Ester;
Novo Testamento
É formado por 27 livros, escrito em grego pelos evangelistas e apóstolos
entre 50 até 100 d.C.
A Lei O Evangelho
Ensina o que nós devemos fazer ou Ensina o que Deus fez e ainda faz
deixar de fazer. pela nossa salvação.
Manifesta o nosso pecado e a ira de Manifesta o nosso Salvador e a graça
Deus. de Deus.
Exige, ameaça e condena eterna-
Promete, dá e sela o perdão, vida e
mente quem não cumpre os manda-
Salvação e crê em Jesus.
mentos.
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O Cristianismo II
A Lei O Evangelho
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Cultura Religiosa
que devem ser 70 vezes 7, com o que deseja mostrar que seus seguidores perdoam
sempre. É neste contexto que ele conta a parábola do credor incompassivo para
ensinar a sua vontade a respeito do perdão.
Na parábola, Jesus fala sobre um rei ajusta contas com os seus servos. Um
deles lhe deve 10 mil talentos, o equivalente a 480 mil quilos de ouro. Isso hoje
representaria no mínimo um valor de 5,5 bilhões de reais. Como o devedor não
tem como que pagar, o rei manda que seja vendido tudo o que ele tem, bem como
ele próprio e seus familiares. Desesperado, este se lança aos pés do rei e suplica
por misericórdia. E não é que o rei o atende e perdoa?
Depois de tamanha generosidade, o perdoado sai aliviado da presença do
rei e encontra um conservo seu que lhe devia 100 denários. Um talento, 48 quilos
de ouro, equivalia a 10 mil denários. Cada denário por sua vez correspondia a
4,8 gramas de ouro, o que resultaria num valor de cerca de mais ou menos R$
5.500,00. Que diferença. O que podia se esperar? Que o que fora perdoado tam-
bém perdoasse. E aí a surpresa: ele lança seu companheiro na prisão de onde só
sairia depois de haver pago a dívida.
Os amigos deste por sua vez o delatam ao rei que agora, irado, o chama de servo
malvado e o lança na prisão, entregando-o aos verdugos (carrascos ou algozes).
Através desta parábola, Jesus quer ensinar que a nossa dívida (de pecados,
de erros) diante de Deus é tão grande que não podemos resgatá-la. É verdade,
muitos o querem fazer. No entanto, segundo Jesus isso é impossível. Eis porque o
apóstolo Paulo ensinou que é por graça que se é salvo (Efésios 2.8-9).
O que fazer com os nossos pecados? Apelar para o amor de Deus que, por cau-
sa de Cristo, nos perdoa. O apóstolo João recomenda em 1João 1.9: “Se confessarmos
os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar e purificar de toda a injustiça.”
Assim como Deus nos perdoa devemos também perdoar aqueles que pecam
contra nós, que nos ofendem. É fácil? Não é não. Mas esta é a vontade de Deus e
seu amor, somente ele pode mover-nos a agir em amor.
Alguns motivos que podem levar alguém a não perdoar:
falta de humildade diante de Deus;
desejo de vingança (o outro precisa pagar – muitos casais estragam sua
vida por esta causa);
desconhecimento da enormidade do amor divino, que sempre está pronto
a perdoar.
Recomendamos que leiam na Bíblia, Efésios 4.31-5.2, através do site da So-
ciedade Bíblica do Brasil. (SEIBERT, 2002).
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O Cristianismo II
Muitos acham entediante fazer a leitura da Bíblia. Tem gente que tem até
vergonha de carregar a Bíblia. Mas por outro lado, podemos encontrar neste livro
temas interessantes para o nosso dia-a-dia. Lá nós encontramos a palavra de Deus.
Aliás, como afirmam os cristãos, a Bíblia é a palavra de Deus. Lá nós encontra-
mos aquilo que Deus deseja para cada um. Não conheço nenhum livro que tenha
uma mensagem tão bonita como esta.
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Cultura Religiosa
2. Leia também o texto de Provérbios, capítulo 1, e escreva sobre o sentido do texto em, no máximo,
dez linhas.
3. O que a Parábola do Filho Pródigo nos ensina para a vida? Lucas 15.11-32.
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O Cristianismo II
Ler pelo menos uma das parábolas de Jesus e refletir: como aplicar esta parábola no século XXI.
Como é possível a experiência de perdoar o próximo e amá-lo, mesmo depois de saber que aqui
incluímos também os nossos inimigos?
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Cultura Religiosa
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A Reforma do século XVI
N
o século XVI, causas religiosas, políticas, econômicas e sociais deram origem à Reforma Lu-
terana. Com isso, chegamos à segunda grande divisão do Cristianismo e o fim da hegemonia
da Igreja Católica no Ocidente. O personagem principal desta história chama-se Martin Lu-
ther (Martinho Lutero – 1483-1546). Doutor em Teologia, Lutero estudou a Bíblia e lutou para retor-
nar à essência do Cristianismo. Notou os desvios do catolicismo e chamou a Igreja à reforma. Queria
reformar a sua própria Igreja, a Igreja Católica Apostólica Romana. As resistências, as discussões
teológicas e a sua excomunhão levaram ao surgimento de um novo movimento: o Luteranismo.
Introdução
Nos séculos XV e XVI, a Europa viveu um período de intensas mudanças políticas, científicas e
culturais, que marcaram a transição da Idade Média para a Era Moderna. O sistema feudal estava em
crise, as cidades floresciam e a burguesia ganhava força como classe social. O movimento renascen-
tista, iniciado no século XIV, influenciava a arte e o pensamento europeus. A invenção da Imprensa
por Gutenberg, em 1450, possibilitava a popularização de textos clássicos e da Bíblia, cujos estudos
e a leitura, até então, eram restritos ao clero. A Inquisição, comandada pela Igreja Católica Romana,
condenava à fogueira todos aqueles que ameaçavam sua doutrina ou seu poder político. Portugueses,
espanhóis e ingleses davam início às grandes navegações, já que a tomada de Constantinopla pelos
turco-otomanos, em 1453, havia fechado o caminho mais curto para as Índias, onde mercadores euro-
peus buscavam especiarias – esse fato foi marcante para o descobrimento da América, em 1492, por
Cristóvão Colombo, e do Brasil, em 1500, por Pedro Álvares Cabral.
O período foi marcado também pelo fortalecimento das monarquias nacionais, o que suscitava uma
oposição cada vez mais forte às ingerências da Igreja Católica na vida política e civil dos europeus.
Este é o quadro que encontramos na época de Lutero, por volta de 1500. É um resumo histórico
de uma época que nos leva a horas de leitura agradável, notando a mudança de mentalidade de um
mundo oprimido pela estagnação da história.
Lutero
Wikipédia.
Pode ser que você não tenha lido nada sobre ele, mas vai des-
cobrir na sua história que a vida e as coisas não são mero acaso. Ele
acreditava que por trás de suas ações, dos seus escritos e das suas
decisões, Deus estava presente e o conduziu à Reforma de 1517.
Aqui vai um breve resumo da sua história.
Martinho Lutero.
O monge
Como Lutero tornou-se monge se estava estudando Direito?
Lutero mesmo conta a sua história, mais tarde, numa das conversas à mesa.
Referiu-se ao temporal que o surpreendera a 2 de julho de 1505 perto de Stotter-
nheim. Aterrorizado por um raio que quase o fulminara, o jovem homem excla-
mara: “Ajuda-me, Santa Ana, que me tornarei monge”. De volta a Erfurt, o estu-
dante despediu-se de seus amigos e submergiu, a 17 de julho de 1505, no convento
dos agostinianos da cidade.
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A Reforma do século XVI
Existem outros dados que podem explicar a ida de Lutero ao convento. Me-
lanchton relatou acerca da morte súbita de um amigo pouco antes do aconteci-
mento. Outra fonte diz que Lutero teria sido ferido nos meses precedentes por um
golpe de espada.
A verdade é que havia por trás dos fatos um sentimento de culpa, um medo
da severidade de Deus, como alguém que diariamente cobra das pessoas pelos
seus pecados. Numa de suas prédicas, em 1534, ele relata:
Fui monge por quinze anos, sem contar o que tinha vivido antes. Li com zelo todos os
seus livros e fiz tudo quanto estava ao meu alcance. Em nenhum momento consegui
achar consolo em meu batismo; ao contrário, pensava continuamente: Ó, quando final-
mente poderás tornar-se piedoso e fazer o suficiente, para teres um Deus misericor-
dioso? Através de pensamentos como esse, fui incitado em direção à mongeria, tendo
me atormentado e supliciado através do jejum, do frio e da vida severa. (LUTERO,
1995).
O sacerdote
Entrando para o convento e seguindo a tradição dos monges agostinianos,
Lutero tornou-se um sacerdote. Em 27 de fevereiro de 1507, Lutero foi consagrado
diácono, e em 3 de abril ordenado sacerdote. No dia 2 de maio celebrou sua pri-
meira missa na presença de seu pai. Na parte central da celebração, no momento
do ofertório, Lutero foi tomado por uma angústia súbita. “Quem é aquele com
quem tu falas?”. Teria dito ele para si mesmo, segundo seu testemunho de 1540.
“A partir desse momento li a missa com um intenso pavor.” Ao que parece, tratou-
se do temor de aproximar-se de maneira direta da majestade de Deus. A angústia
continuou por um tempo. Lutero sentia o peso de uma imagem de Cristo esboçada
essencialmente como juiz.
A crise interior
A entrada na vida monástica não acalmou Lutero. Não encontrava paz inte-
rior, vivia angustiado. Num de seus relatos ele mesmo diz:
Eu me martirizava com a oração, o jejum, as vigílias, o frio. [...] Que procurava com isso,
senão a Deus? Ele sabe com quanto zelo observei minha regra (monástica) e que vida
severa eu levava [...] Pois eu não confiava em Cristo, antes o tomava por nada além de
um juiz severo e terrível, tal como se costuma pintá-lo assentado sobre o arco-íris. (LIE-
NHARD, 1998).
A chave para o problema de Lutero foi encontrada com muito estudo das
Escrituras (Bíblia). Compreendeu que a justiça de Deus, da qual nos fala o Evan-
gelho, não é aquela de Deus juiz, mas a aceitação do ser humano pecador por
Deus, a dádiva de Cristo concedida por Deus ao ser humano. É unido a Cristo na
fé que o ser humano poderá viver, ou seja, subsistir diante de Deus. Foi na carta
do Apóstolo Paulo aos Romanos que Lutero encontrou um versículo desafiador
que diz: “O Justo viverá por fé”. A justiça de Deus, que é dada pela fé, que está
assentada tão-só em Deus e em sua misericórdia.
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A Reforma do século XVI
os reis, príncipes e bispos. Para se ter uma idéia, o custo de subsistência de uma pessoa im-
portava em 1 florim para uma semana. (LIENHARD, 1998).
Sempre gostei de ler sobre Lutero. Especialmente porque sempre achei seus
textos atuais, por parecer que está falando dos problemas da nossa época. Interes-
sante é que Lutero sempre encontrou respostas para suas aflições nas Escrituras
Sagradas. Era a sua fonte de vida, fonte de inspiração. Lutero mostrou que aí está
um manual seguro de orientação para a vida.
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Cultura Religiosa
2. Na sua visão, a idéia de Lutero era ser um novo Papa ou seu desejo era somente corrigir erros
teológicos da Igreja a qual ele pertencia?
A indicação de leitura são as obras de Lutero já traduzidas para o português. Já existem nove
livros traduzidos com as principais idéias do reformador.
LUTERO, Martinho. Obras Selecionadas. Porto Alegre: Concórdia, 1995.
Numa reflexão mais aprofundada é possível considerar a Reforma Luterana como uma obra
atual. Quais os aspectos possíveis de se aplicar no nosso cotidiano?
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A Reforma Luterana –
pensamento
H
oje, quando falamos em Reforma Luterana, buscamos entender alguns as-
petos importantes que nos reportam para o século XXI. Quando falamos
em causas da ruptura com o catolicismo, podemos aventar várias pos-
sibilidades. Seriam causas econômicas, políticas, nacionalismo, individualismo
renascentista e uma preocupação crescente pelos abusos eclesiásticos. Tudo isso
se percebe. Mas o fato é que a causa básica foi a religiosa. Lutero tinha a intenção
única de reformar a sua querida Igreja, que era a Igreja Católica Apostólica Roma-
na. Como não foi compreendido e acabou excomungado, a solução foi seguir com
os seus simpatizantes para um outro caminho. Surge assim o Luteranismo. Lutero
não desejava esse nome. Ele mesmo disse: “peço que deixem de lado o meu nome
e não se chamem luteranos, mas cristãos”. (LUTERO, 1995).
A base de Lutero
Todos os fundamentos doutrinários de Lutero são bíblicos. Estudioso da
Bíblia e professor de Teologia, ele estava convicto de que a palavra de Deus era
fonte para a vida. É com base neste conjunto de livros que ele busca força para
contrapor todos os abusos cometidos pela Igreja de sua época. Foi da Bíblia,
no livro de Romanos, que Lutero entende a justificação pela fé: “Visto que a
justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: o justo
viverá por fé” (Romanos 1.17). Significa que o homem é justificado por Deus
pela fé e não pelas obras. Isso se opõe à idéia de que o povo precisava comprar
as indulgências para ser salvo.
O grande diferencial apontado por ele nos textos é a insistência nas palavras de ordem:
“apenas Deus; apenas as escrituras e apenas a Graça”. Esta última só é conseguida me-
diante a conscientização e fé nas duas anteriores. A justificação pela fé move e alicerça
o Protestantismo. Porém, esta graça nos vem de graça, nos é dada de forma gratuita por
Deus, sem intermediários ou simonias. “Para recebermos a salvação pela graça que vem
apenas por meio do Senhor Jesus é preciso que haja uma sinceridade e absoluta confiança
em Deus e na Sagrada Escritura”. (MARQUES, 2005, p. 203).
Na dieta1 de Worms, em março de 1521, Lutero foi convidado a se retratar. 1 Dieta: Assembléia Legis-
lativa que reunia todas as
Pediu um prazo para dar a resposta e quando voltou “falou como um profeta de forças políticas da Alemanha,
convocada pelo imperador,
Deus: se não lhe provassem pela Escritura Sagrada que tinha escrito algo contrá- com a finalidade de discutir
assuntos de interesse civil e
rio à doutrina cristã, não se retrataria”. (STEYER, 2000, p. 130). religioso.
Pensamento de Lutero
Além do sucesso da Reforma do século XVI, Lutero foi um incansável es-
critor. Depois de ser excomungado, em 26 de maio de 1521, ele foi “seqüestrado”
por um amigo seu, Frederico, o sábio. Assim:
Durante aproximadamente dez meses no Castelo de Wartburgo, escreveu diversas obras
teológicas, destacando-se, porém, a sua tradução do Novo Testamento do original grego
para o alemão. Uma obra mestra, pois graças ao seu talento e conhecimento lingüístico,
conseguiu unificar os cerca de duzentos dialetos existentes numa única língua padrão.
(STEYER, 2000, p. 130).
Dias depois, Lutero viu a cópia de um anúncio feito pelo papa, no qual era
chamado de herege, ou seja, aquele que acredita ou ensina doutrina falsa. O papa o
tinha declarado culpado sem nem mesmo ouvir as suas razões. Caetano escreveu
a Frederico chamando Lutero de herege e pedindo que ele fosse mandado a Roma
ou forçado a abandonar a Saxônia. Lutero defendeu-se das acusações de Caetano
e disse que apelaria para um concílio geral da Igreja.
Frederico estava numa enrascada. Não sabia se entregava Lutero ou não. Vol-
tou-se para os seus professores universitários à procura de conselho. Praticamente
todos eles estavam ao lado de Lutero. Frederico queria cumprir o seu dever cristão.
Se Lutero estivesse certo, ele cometeria um pecado contra Deus por entregá-lo
aos seus inimigos. Se estivesse errado, então certamente haveria homens bastante
instruídos na Igreja para demonstrar os erros dele. Mas isso só poderia ser feito se
dessem a Lutero uma boa chance para explicar e defender as suas idéias.
Conversando com o papa, Frederico conseguiu fazer com que um represen-
tante seu visitasse a Saxônia e conversasse com Lutero. O homem escolhido foi
Charles Von Miltitz. Ele era da Saxônia e parente de Frederico. Enquanto atra-
vessava a Alemanha, Miltitz foi descobrindo que muita gente estava ao lado de
Lutero e que Frederico não o entregaria. Após conversar com Lutero, Miltitz disse
que faria um relatório favorável ao papa. Lutero prometeu que pararia de pregar
contra as indulgências se seus inimigos parassem de atacá-lo. Também permitiu
que um bispo alemão examinasse seus ensinos e apontasse neles quaisquer erros.
Os dois homens se despediram em paz. Com o relatório entregue em Roma, o
papa perdoou Lutero e lhe deu as boas vindas de reingresso na Igreja. Ele esta-
va ansioso para acabar de vez com as dificuldades na Alemanha, porque outros
problemas lhe ocupavam a mente. Inesperadamente, porém, morreu o imperador
Maximiliano. As questões eclesiásticas foram esquecidas por um pouco, enquanto
um novo imperador tinha sido escolhido. Deus estava dando a Lutero um pouco
mais de tempo.
A excomunhão de Lutero
Lutero havia concordado em permanecer em silêncio se os seus oponentes
também o fizessem. Mas eles não cumpriram a parte deles no acordo.
O primeiro debate sobre as teses de Lutero foi marcado para a cidade de
Leipzig. O doutor Carlstadt, de Wittenberg, e o doutor Eck, de Ingolstadt, seriam
os debatedores. Este último, naturalmente, estava disposto a atacar e acabar com
Lutero, que foi junto com Carlstadt na esperança de que pudesse ter uma chance
de tomar parte no debate e defender-se contra as acusações de Eck. Em junho de
1519, Lutero cavalgou as 40 milhas (cerca de 65 quilômetros) até Leipzig, junto
com vários outros professores de Wittenberg. Duzentos estudantes com espadas e
alabardas foram juntos para protegê-lo.
O debate foi realizado no castelo do duque George. Segundo as regras, um
dos contendores devia levantar-se e falar durante meia hora. Em seguida, seria a
vez do outro. Estas notas seriam enviadas a várias Universidades para avaliação.
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Cultura Religiosa
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A Reforma Luterana – pensamento
A bula papal
Enquanto Lutero escrevia, Eck encontrava-se a caminho de Roma. Lá che-
gando, fez um relatório sobre o debate de Leipzig. A cúria, ou corte da Igreja,
realizou então uma reunião especial. Com a ajuda de Eck e Caetano, redigiram
uma lista de 41 erros cometidos por Lutero. Foi, então, enviada a ele uma bula ou
carta papal, exigindo que se retratasse dos seus falsos ensinos dentro de 60 dias,
caso contrário, seria excomungado.
Se o papa pensava que essa bula amedrontaria Lutero e o reduziria ao silên-
cio, estava enganado. Muita gente estava alegre porque Lutero teve a coragem de
pôr a descoberto as coisas que estavam erradas no seio da Igreja. Frederico, o Sá-
bio, tinha decidido proteger Lutero. Mais importante que tudo, Lutero não podia
parar de proclamar ousadamente a verdade do evangelho.
Eck foi encarregado da perigosa tarefa de anunciar a bula papal na Alema-
nha. O povo rasgou os seus cartazes e o ameaçou, de modo que se deu por satis-
feito em retornar vivo a Ingolstadt.
Alguns dos inimigos de Lutero queimaram seus livros em praça pública. Quan-
do Lutero soube disso, fez ele próprio também a sua fogueira. No dia 10 de dezembro
de 1520 – fim do prazo dado pelo papa para que ele se retratasse, distribuiu o anúncio
de sua própria queima de livros. Fora dos muros de Wittenberg, Lutero queimou os li-
vros de direito canônico e dos escritos dos padres. Aproveitou também para queimar
a bula papal. O rompimento de Lutero com a Igreja tinha acontecido finalmente.
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Cultura Religiosa
Declarado herege
Em janeiro de 1521, o papa declarou Lutero herege e o excomungou. Isso
significava que ele, à semelhança de um galho morto, solto da árvore, estava des-
vinculado da Igreja. Seus livros foram queimados e os seus seguidores foram
exortados a abandoná-lo.
Aleander, o mensageiro do papa na Alemanha, tentou conseguir que o novo
imperador, Carlos V, declarasse Lutero um fora-da-lei. Se isso fosse feito, ele seria
caçado e morto como um animal.
Lutero foi convidado para ir à cidade de Worms. Lá aconteceria uma Dieta,
uma espécie de Concílio, onde ele seria examinado e interrogado, mas não lhe
seria permitido argumentar ou explicar seus ensinos. O imperador enviou a ele um
salvo-conduto, uma carta prometendo que estaria em segurança.
No dia 17 de abril de 1521, Lutero foi levado ao palácio do bispo, onde o
imperador e a Dieta estavam reunidos. O recinto estava lotado. Ao longo das pare-
des havia soldados espanhóis e alemães em formação. Havia príncipes, eleitores,
bispos e cavaleiros por todos os lados. Todos sabiam o que estava por trás desta
reunião. O poder do papa tinha sido desafiado. Se o papa quisesse manter sua au-
toridade, Lutero devia confessar que estava errado.
O inquiridor lançou uma pergunta dupla a Lutero: “Dr. Lutero, o senhor ad-
mite que escreveu estes livros e que estava errado no que escreveu?” Um a um, os
títulos dos 25 livros que estavam empilhados sobre uma pequena mesa foram lidos
em voz alta. Então Lutero respondeu à primeira pergunta: “Sim, estes livros são
meus; eu os escrevi, e escrevi ainda outros”. Quanto à pergunta sobre a retratação,
Lutero disse: “Esta pergunta diz respeito a Deus, à sua palavra e à salvação de al-
mas. Peço que me dêem algum tempo para pensar no assunto”. (LUTERO, 1995).
O imperador deu-lhe um dia para pensar e responder.
No outro dia sua resposta foi clara e simples: “A menos que me conven-
çam, pela escritura ou por razões claras, de que estou errado, eu permaneço
constrangido pelas escrituras. Não posso me retratar. Deus me ajude. Amém”
(LUTERO, 1995).
Um grande rumor de vozes eclodiu na sala. O imperador abandonou a sala e
a reunião foi encerrada. Enquanto muitos dos amigos de Lutero o aplaudiam, seus
inimigos pediam para que ele fosse queimado como herege. Houve outras tentati-
vas de convencer Lutero a retratar-se, mas sempre em vão. Sua resposta era sempre
a mesma: convençam-me pela Escritura. No dia 26 de abril, Lutero e seus três ami-
gos deixaram Worms e retornaram a Wittenberg. A qualquer momento poderiam
dar fim a sua vida, mas ele colocava-se inteiramente nas mãos do seu Criador.
O exílio
Um mês depois, no dia 26 de maio de 1521, o imperador Carlos V assinou
o Edito de Worms. Este documento fazia de Lutero um fora-da-lei, um proscrito.
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A Reforma Luterana – pensamento
Ninguém devia ter qualquer negócio com ele. Todo cidadão estava no dever de
capturá-lo e entregá-lo às autoridades. Ele podia ser morto se avistado. Mas um
amigo seu, Frederico, seqüestrou Lutero e o escondeu no castelo de Wartburgo até
que as coisas se acalmassem.
No castelo, Lutero aproveitou para trabalhar. Escreveu livros, panfletos e
cartas que eram levados a uma impressora; as cópias logo começaram a ser es-
palhadas por toda a Alemanha. O povo lia com alegria, pois isso significava que
Lutero ainda estava vivo e escrevia para eles. Deu início ao trabalho de tradução
do Novo Testamento grego para o alemão. Em 11 semanas o trabalho estava con-
cluído. Agora, muito mais gente poderia vir ao conhecimento de Jesus por meio da
Bíblia, como tinha acontecido com ele próprio. Escreveu também um catecismo
com dicas para a melhor vivência cristã.
A volta
A Câmara Municipal de Wittenberg enviou uma carta a Lutero para que
ele voltasse do exílio. Havia acontecido algumas confusões, principalmente por
parte de homens que queriam adiantar o processo de reforma e impostores que se
diziam profetas do Senhor. De volta ao seu próprio púlpito, Lutero pregou uma
série de contundentes sermões ao seu povo, urgindo com os moradores da cidade
a que fossem pacientes e deixassem a palavra de Deus operar nos corações dos
homens. “Quando tivermos conquistado os corações dos homens, os males mor-
rerão por si mesmos”. Nunca devemos usar a força. A vida inteira do cristão deve
ser de fé e amor, disse ele aos seus ouvintes.
Nunca foi intenção de Lutero fundar uma nova Igreja. Seu estudo da Bíblia
o convenceu de que muita coisa ensinada pela Igreja do seu tempo era de invenção
humana. Lutero desejava que a Igreja parasse de ensinar esses erros e retornasse à
doutrina pura, conforme ensinada por Cristo e seus apóstolos.
O casamento de Lutero
O celibato obrigatório fora introduzido por Gregório VII, em 1075. É de
origem pagã. A Escritura Sagrada, tanto do Antigo como do Novo Testamento,
ordena o casamento para os sacerdotes. “É necessário que o bispo seja irrepreensí-
vel, esposo de uma só mulher. E que governe a sua própria casa, criando os filhos
sob a disciplina, com todo o respeito” (1Timóteo 3.2).
Lutero casou-se com Catarina von Bora, ex-freira. Catarina entrou no con-
vento contra a sua vontade. Sem vocação, abandonou a vida religiosa e, aos 26
anos, casou-se com Lutero, que tinha 42 anos.
Tiveram seis filhos: João, Elisabeth, Madalena, Martin, Paulo e Margarete.
Foi um lar feliz, com muito respeito, amor, muita música e canto. Mas foi de lágri-
mas também, quando o casal perde a pequenina Elisabeth, com menos de um ano
de idade e mais tarde a outra filha, Madalena, com apenas 13 anos de idade.
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Cultura Religiosa
A morte de Lutero
E um dia teria de acontecer. O importante é que Lutero fez a sua parte. Era
hora de descansar, depois de longos anos de trabalho, como diz o texto:
A longa vida monástica entre jejuns e vigílias, as múltiplas horas de estudo, aulas, confe-
rências, entrevistas, as penosas viagens realizadas, a enorme produção literária e, sobretu-
do, a responsabilidade da liderança espiritual da Reforma, bem como a ameaça constante
do espectro do Edito de Worms, abalaram a sua saúde física. Assim, aos 62 anos de idade,
Lutero veio a falecer. (STEYER, 2000, p. 137).
E continua o texto:
Na madrugada de 18 de fevereiro de 1546, assistido pelo seu confessor, doutor Justo Jo-
nas, e pelo capelão Célio, de Masfeld, confessou sua fé em Cristo Jesus. Recitou por três
vezes o versículo bíblico de João 3.16: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que
deu o seu filho unigênito (Jesus Cristo), para que todo aquele que nele crê não pereça, mas
tenha a vida eterna”, e com as palavras do Salmo 31.5 “Nas tuas mãos entrego o meu es-
pírito; tu me remiste, Senhor, Deus da Verdade”, entregou sua alma nas mãos do criador.
(STEYER, 2000, p. 138).
A paz de Augsburgo
A paz assinada em Augsburgo, no ano de 1555, concretiza o reconhecimento
oficial da Reforma por parte do Sacro Império Romano Germânico.
Carlos V convoca uma dieta para a cidade de Augsburgo (Alemanha). Presidida por Fer-
nando, o irmão de Carlos V, a dieta caracterizou-se pelo bom senso, pois se procurou
achar um modus vivendi. Assim, foi assinada a Paz de Augsburgo, na data histórica de
25 de setembro de 1555, que concedia direitos iguais tanto a católicos como a luteranos.
(STEYER, 2000, p. 140).
Foi uma batalha. Não com armas. Talvez o modelo de batalha que o mundo
deveria adotar, substituindo as armas. Lutero usou apenas a palavra, mas seu ar-
gumento foi forte.
Foram 38 anos de longos debates, desde o momento em que Lutero afixou
as 95 teses na porta da Igreja de Wittenberg até a assinatura da paz de Augsburgo.
Isso que a idéia inicial era apenas a simples intenção de conter o abuso da venda
de indulgências. Como diz o texto: “Trinta e oito anos que alteraram o curso da
história, pois devolveu ao homem a mais nobre das liberdades, a liberdade da
consciência”. (STEYER, 2000, p. 140).
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A Reforma Luterana – pensamento
2. Você já conhecia a história da Reforma? O que mais chamou a sua atenção no decurso do texto?
3. Qual é a diferença em dizer que “o homem é salvo pelas obras” ou “que o homem é salvo pela fé”?
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Cultura Religiosa
Reflita sobre a situação social, econômica e política na época da Reforma e relacione questões
ainda não resolvidas na nossa sociedade atual.
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A Igreja Luterana
e a Educação
Lutero e a Educação
M
uitos alunos perguntam qual a relação entre a disciplina de Cultura Religiosa e a Univer-
sidade Luterana. Outros querem saber se realmente é importante esse tipo de conteúdo no
contexto social em que vivemos hoje. Respondemos dizendo que a Ulbra é uma instituição
confessional. Surgiu de uma comunidade luterana e tem um papel muito importante na educação do
jovem hoje. A Universidade tem uma filosofia luterana de educação. O aluno que estuda nessa insti-
tuição durante vários anos e consegue a colação de grau será inquirido por amigos e familiares sobre
essa filosofia. Por isso, é importante que pelo menos quatro créditos sejam destinados ao conhecimen-
to da Universidade e de sua filosofia religiosa, com propostas definidas de educação.
Mas para entender essa preocupação pela educação, é necessário um retorno às origens. Va-
mos voltar mais uma vez ao século XVI e ver que Martinho Lutero teve uma preocupação constante
com a educação do povo alemão, principalmente das crianças e dos jovens. O reformador não estava
preocupado somente com a existência de escolas e boas universidades, mas também com a qualidade
de ensino. Para entender bem esse aspecto, é preciso reler alguns textos nessa área e tirar, em ordem
cronológica, as principais idéias de Lutero quanto à educação.
Por volta de 1500, a Igreja Cristã ainda se resumia em Católica Apostólica Romana e Igreja
Ortodoxa, resultado do Cisma de 1054. A Reforma Luterana estava longe de acontecer. Martinho Lu-
tero era um jovem de 17 anos e nem sabia que um dia entraria para alguma ordem religiosa e seguiria
a vida monástica. Ele estava concluindo a escola secundária e o desejo do pai era fazer de seu filho
um grande doutor em Direito. Foi para isso que Lutero entrou na Universidade de Erfurt, uma das
melhores da Alemanha, com aproximadamente dois mil alunos. Sua preparação foi suada, incluindo
leituras dos escritos de romanos famosos e de grandes pensadores gregos. Mas valeu a pena, pois em
setembro de 1502, Lutero recebeu o diploma de bacharel em Artes.
A Reforma aconteceu em 1517. Mas já em 1501, Lutero teve o primeiro contato com a Bíblia.
Em 1505, recebeu o título de mestre em Artes e, no mesmo ano, decidiu ser monge, entrando, assim,
para a ordem dos agostinianos em Erfurt. Sua decisão é surpreendente, difícil de explicar. As razões
estão em algumas crenças populares, no seu medo de Deus e em alguns fatos ocorridos anteriormen-
te. Em 1507, como sacerdote, Lutero reza a primeira missa. Em 1508, torna-se pastor em Wittenberg
e um ano depois inicia suas lições sobre a Bíblia. Em 1510, vai a Roma e se decepciona com o que vê?
Em 1512, recebe o título de doutor em Teologia. Em 1513, expõe os livro de Salmos; em 1515, o livro
de Romanos e em 1516, o livro de Gálatas. Em 1517, Lutero dá início à Reforma, com a publicação
das 95 teses.
Lutero viveu num sistema de educação bem diferente do atual. Ele entrou na escola com quatro
anos e meio. Os meninos aprendiam a ler e falar a língua latina. Os sacerdotes ou estudantes universi-
tários que os ensinavam eram muito rigorosos. Se um menino se comportasse mal ou não soubesse a
lição, seu nome era escrito numa lousa chamada de “lista do lobo”. Semanalmente
o professor apagava a lista, depois de dar uma varada no aluno cujo nome consta-
va na lousa. Certa vez, Martinho teve uma semana nada fácil – seu nome apareceu
quinze vezes na “lista do lobo”.
Outro fato interessante aconteceu em Eisenach, na Escola da Igreja de São
Jorge, quando Lutero estava fazendo sua preparação para a universidade. Ele gos-
tava especialmente do diretor, o mestre João Trebonius, que tratava seus alunos
com amor e respeito. Um escritor conta que sempre que Mestre Trebonius entrava
na classe, esse tirava o chapéu e fazia uma inclinação de cabeça para os estudan-
tes. Quando perguntaram-lhe por que fazia isso, respondeu: “Entre estes jovens
discípulos, sentam-se alguns a quem Deus pode fazer nossos futuros líderes e ho-
mens eminentes. Ainda que não os conheçamos agora, é perfeitamente adequado
que os honremos”. (LIENHARD, 1998).
Histórias como essas fazem-nos pensar que essa convivência nas escolas e
universidades tenha dado ao reformador um gosto saboroso pela educação. Para
ele, aí estava o segredo para a liberdade do Homem. Sua preocupação com os
jovens alemães sempre foi muito forte e sua crítica ao modelo educacional de
muitas instituições, principalmente universidades, era procedente. Vamos ver, em
seguida, alguns de seus artigos publicados, os quais questionavam e chamavam a
atenção dos governantes para a importância da educação.
Em 1520, Lutero propõe a reforma nas universidades como parte de um
programa de reforma geral e da sociedade política. Com o tema À nobreza cristã
da nação alemã, acerca da melhoria do estamento cristão, o reformador coloca as
Escrituras Sagradas em primeiro lugar como objeto de estudo, tanto nas escolas
superiores, como nas inferiores. Para entendê-la, era preciso estudar as línguas
e as artes liberais. Aproveitou para criticar os religiosos que pregavam a Palavra
sem conhecer a língua original (o hebraico e o grego). Para ele, a partir do desco-
nhecimento, muitos textos da Bíblia eram mal interpretados.
Em 1522, acontece a publicação do Novo Testamento na língua alemã. Foi o
resultado da preocupação didática de oferecer ao povo, na própria língua, os tex-
tos que fundamentavam os argumentos para que a Reforma continuasse. Em 1534,
toda a Bíblia já havia sido traduzida e distribuída ao povo, graças ao conhecimen-
to do Doutor Martinho Lutero. Podemos lembrar aqui que Lutero foi beneficiado
com o surgimento da imprensa, pouco antes de 1500. Graças a isso, foi possível
espalhar com rapidez entre o povo todo o seu trabalho.
Em 1524, mostrando preocupação e zelo pela educação, Lutero escreve a
Carta aberta aos conselhos de todas as cidades da Alemanha para que criem e
mantenham escolas cristãs. Também argumenta em favor dos estudos clássicos
com vistas à formação de lideranças para a Igreja e o Estado. Caracteriza a edu-
cação como obra do amor cristão, que atende às necessidades individuais e cole-
tivas dos seres humanos. Lutero constatou que em todas as partes da Alemanha
as escolas estavam no abandono, as universidades eram pouco freqüentadas e os
conventos estavam em declínio. Então, convocou os pais e todas as autoridades
para aconselhar a juventude (isso como solução para todos). O argumento princi-
pal foi o seguinte:
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A Igreja Luterana e a Educação
Se anualmente é preciso levantar grandes somas para armas, estradas, pontes, diques e
inúmeras outras obras semelhantes para que uma cidade possa viver em paz e segurança
temporal, por que não levantar igual soma para a pobre juventude necessitada, sustentan-
do um ou dois homens competentes como professores? (LUTERO, 1995).
O reformador põe mais lenha na fogueira e faz um desafio. Para ele, cada
cidadão deveria pensar na quantidade de dinheiro que gastou com indulgências,
missas, vigílias, doações, espólios testamentários, missas anuais por falecimento,
ordens mendicantes, fraternidades, peregrinações e toda confusão de outras tan-
tas práticas desse tipo. Para Lutero, agora que todos estavam livres dessa ladroeira
e doações para o futuro, eles deveriam doar, por agradecimento e para a glória de
Deus, parte disso para a escola, para educar as pobres crianças.
Mas a maior crítica foi quanto à falta de escolas cristãs. Nelas é que os jo-
vens encontrariam a verdadeira educação e os valores adequados para a vida. A
tese era de que a universidade até então não colaborava praticamente em nada;
pelo contrário, corrompia a nobre juventude. Lutero chega ao ponto de perguntar o
que se aprendeu até o momento nas universidades e conventos e afirma que houve
quem estudasse 20, 40 anos e não soubesse nem latim nem alemão, quer dizer,
muitos não dominavam nem a própria língua.
O vergonhoso era a necessidade de estimular os pais a educar os filhos e a
juventude, buscando o melhor para eles. Vergonhoso, porque a própria natureza os
deveria incentivar em vários sentidos. Para ilustração desse pensamento, Lutero
falou o seguinte:
Não existe animal irracional que não cuide de seus filhotes e não lhes ensine o que lhes
convêm, com exceção da avestruz, que é tão rigorosa com seus filhotes como se não fos-
sem seus, deixando os ovos abandonados no chão. Em primeiro lugar, há pais que sequer
são leais e conscientes para educarem seus filhos, ainda que tivessem condições para
tanto. Como as avestruzes, também eles endurecem-se contra seus filhos, contentando-se
com o fato de terem se livrado dos ovos e de terem gerado filhos; além disso, nada mais
fazem. (LUTERO, 1995).
o melhor e mais rico progresso para uma cidade é quando possui homens bem
instruídos, muitos cidadãos ajuizados, honestos e bem-educados. Assim, eles po-
deriam acumular, preservar e usar corretamente riquezas e todo tipo de bens.
Para terminar, podemos ver ainda o modelo de educação proposto por Lu-
tero. Ele cita a educação na cidade de Roma. Lá, os meninos eram educados de
tal maneira que aos 15, 18 ou 20 anos dominavam perfeitamente o latim, o grego
e toda sorte de artes liberais. As artes liberais eram o conjunto das sete discipli-
nas que constituíam pré-requisitos para a formação específica. Ao lado do estudo
das línguas, que compreendia gramática, dialética e retórica, exigia-se aritmética,
música, geometria e astronomia. A partir dessa educação, Roma tinha gente apta
e preparada para todas as atividades. Depois dos estudos concluídos, os jovens
passavam diretamente para o serviço militar e para o serviço público. Disso resul-
tavam homens sensatos e ajuizados, com conhecimento e experiência.
Por fim, Lutero tinha plena consciência de que Deus proveu o seu povo com
riqueza de artes, pessoas doutas e livres e que isso precisava ser aproveitado. Eis
a responsabilidade da universidade, hoje.
A seguir, veremos alguns pontos importantes sobre o Luteranismo pós-Reforma
e sobre as Igrejas Luteranas hoje. Depois de falar sobre a Igreja Luterana, é importante
ligar a primeira parte deste capítulo com a Universidade Luterana do Brasil.
O Luteranismo pós-reforma
Muitos países aderiram ao movimento iniciado por Martinho Lutero: boa
parte da Alemanha, a Finlândia, a Suécia, a Noruega, a Dinamarca, a Boêmia, a
Morávia, hoje República Tcheca; com características próprias, a Inglaterra, a Es-
cócia, a Holanda, a Suíça; e, em parte, a França, a Áustria e a Hungria.
A Reforma Luterana provocou a Contra-reforma, também chamada de Re-
forma Católica. O Concílio de Trento (1546-1563) procurou pôr ordem na casa. Há
quem admita que, provocando a Contra-reforma, Lutero tenha salvado a própria
Igreja Católica.
Em decorrência da Reforma, surgiu na Europa uma nova ordem social ca-
racterizada pelo pluralismo confessional, respeito à consciência, ética, desenvol-
vimento social e progresso científico. A sociedade, vendo-se livre da tutela papal,
avançou o sinal e emancipou-se de Deus, o Criador.
Lutero contribuiu para a sociedade moderna, mas não imaginou nem quis
uma sociedade como esta que se apresentava como ateísta, agnóstica, amoral,
sem-vergonha, exploradora, corrupta e violenta. Mesmo assim, ainda existia es-
perança e tempo para lutar. O reformador acreditava, e isso é bom ser lembrado,
que o Evangelho continuava eficaz para transformar homens egoístas em cristãos
altruístas e, assim, a Igreja permaneceria para sempre. Porque o homem acreditou
nessas idéias é que a Igreja Luterana continua viva ainda hoje em todo o mundo,
na tentativa de transformar o próprio Homem em nova criatura.
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A Igreja Luterana e a Educação
Wikipédia.
do pastor Carl Ferdinand Wilhelm Walther, que, em 1838, havia
emigrado da Alemanha para os Estados Unidos por razões de
consciência. Em 1817, o rei da Prússia, Frederico Guilherme III,
no intuito de pôr fim ao que definia como querela religiosa, de-
cretara a união da Igreja Luterana com a Igreja Reformada, fun-
dada por Zwinglio e Calvino, formando a Igreja Evangélica Uni-
da. Muitos luteranos, revoltados com essa ingerência do trono na
vida da Igreja e inconformados com a teologia racionalista que lhe
dava sustentação, decidiram abandonar a pátria e emigrar para os
Estados Unidos. Aí esperavam desfrutar da liberdade de consci-
ência e culto, privilégios garantidos pela constituição democrática
daquele país. Unidos, grupos de imigrantes luteranos formaram a
Ulrico Zwinglio. Igreja Luterana – Sínodo de Missouri, com a qual a IELB hoje se
identifica.
Wikipédia.
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A Igreja Luterana e a Educação
Deus
A igreja crê, ensina e confessa que o conhecimento natural que o Homem
possui a respeito de Deus é imperfeito e insuficiente para a sua salvação. Conhe-
cimento correto e salvífico o Homem adquire somente pela Escritura Sagrada, na
qual Deus se revela como o Deus verdadeiro: Pai, Filho e Espírito Santo. Assim
ele se revelou e quer ser adorado. Qualquer outro culto é idolatria e abominação
ao Senhor (Romanos 1.19-20; 2.14-15; Deuteronômio 6.4; Mateus 28.19; João 5.23;
1Coríntios 8.4-8).
Homem
A Igreja crê, ensina e confessa que o Homem foi criado por Deus conforme a
imagem divina, a qual consistia em bem-aventurado conhecimento de Deus, per-
feita justiça e santidade. Esta imagem se perdeu com a queda em pecado. Agora,
o Homem nasce com o pecado original, isto é, o pecado que herdamos de Adão,
a completa corrupção de toda a natureza humana, privada da justiça original,
inclinada para todo o mal e sujeita à condenação (Gênesis 1.17, 2.7, 3.1-16; Salmo
51.5-12; Romanos 5.12; Salmo 143.3; Isaías 64.6).
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Cultura Religiosa
Pecado
A Igreja crê, ensina e confessa que toda e qualquer transgressão da santa lei de
Deus é pecado. Cada pensamento, palavra ou ato contrário à vontade de Deus é peca-
do. O pecado é a causa de toda a miséria neste mundo. O Homem é responsável diante
de Deus e terá de prestar contas de sua vida, sendo que Deus julgará a todos (Ezequiel
18.23-30; Romanos 8.7; 1João 3.4; Gênesis 8.4; Hebreus 9.27; Romanos 6.23).
Evangelho
A Igreja crê, ensina e confessa que Deus, em seu infinito amor, não aban-
donou os homens em sua ruína, mas resolveu salvá-los pela obediência, paixão
e morte de seu Filho unigênito, Jesus Cristo. O Evangelho é a boa notícia dessa
salvação. Nele, Deus oferece perdão dos pecados, vida e salvação a todos os ho-
mens. Todo o pecador arrependido que confia nas promessas do Evangelho tem
o que estas palavras lhe dizem e prometem: “perdão dos pecados, vida e eterna
salvação” (João 3.16; Romanos 1.16; Gálatas 3.5; 2Coríntios 5.19).
Salvador
A Igreja crê, ensina e confessa que Jesus Cristo é verdadeiro Deus e verda-
deiro Homem. Como Filho de Deus, gerado do Pai desde a eternidade, é, em todos
os sentidos, igual ao Pai e ao Espírito Santo. Como verdadeiro Homem, nasceu da
Virgem Maria. Nasceu sem pecado e é, em todos os sentidos, verdadeiro homem.
Como nosso substituto, cumpriu a lei de Deus, padeceu por nossos pecados e, por
seu sacrifício e morte, consumou a obra de reconciliação. Desceu ao inferno para
mostrar sua vitória sobre todos os nossos inimigos. Pela ressurreição dos mortos,
Deus declarou ter aceito o sacrifício de Jesus. Jesus Cristo é o único Salvador da
humanidade. Fora dele, não há salvação. Jesus voltará, visível ao mundo para jul-
gar os vivos e os mortos (João 1.1; Mateus 1.18-25; 1Pedro 2.22; 2Coríntios 5.19;
1João 2.2; Colossenses 2.15; Romano 1.14; Atos 10.42).
Conversão
A Igreja crê, ensina e confessa que a conversão de um pecador compreende
contrição e fé. A conversão não é mera reforma moral ou a resolução solene de cor-
rigir a vida, mas é a completa mudança de toda a vida do Homem, é o renascimento
espiritual do pecador, é uma transformação milagrosa, efetuada pelo poder do Es-
pírito Santo e operada pelos meios da graça: a palavra de Deus e os sacramentos.
Sendo espiritualmente cego, morto e inimigo de Deus, o Homem não se inclina a
Deus nem pode se dispor à graça ou aceitá-la. Por isso, a conversão é um ato exclu-
sivo de Deus, no qual o Homem pode resistir. A Bíblia lembra que o Homem é salvo
unicamente pela graça de Deus mediante a fé em Cristo e que Deus quer a salvação
de todos. O que é salvo, é salvo pela graça. O que se perde, perde-se por culpa própria
(Jeremias 31.18; João 1.12-13; Romanos 10.17; Atos 11.21; Efésios 2.1-5).
Fé
A Igreja crê, ensina e confessa que a fé salvadora não é simples assentimento
aos ensinos da Escritura, mas é a confiança de um pecador arrependido no perdão
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A Igreja Luterana e a Educação
Ministério
A Igreja crê, ensina e confessa que o ministério pastoral é um ofício ordena-
do por Deus para administrar publicamente a palavra de Deus e os sacramentos.
Os ministros não constituem uma classe especial de pessoas, como os sacerdotes
do Antigo Testamento. Sendo todos os cristãos sacerdotes reais, ninguém tem
o direito de se sobrepor aos outros. Por isso, só o chamado de uma comunidade
torna alguém um ministro. O ministro exerce publicamente as funções que todos
os cristãos exercem em particular (Atos 6.2; 1Pedro 2.9; Tito 1.5-7; Atos 20.17-28;
1Coríntios 14.34-40; 1Timóteo 2.11).
Batismo
A Igreja crê, ensina e confessa que o sacramento do santo batismo foi
ordenado por Jesus como meio da graça pelo qual o Espírito Santo opera a
remissão dos pecados, livra da morte e dá a vida eterna a quantos crêem. Pelo
batismo, as crianças recebem a fé e se tornam filhos de Deus; aos adultos, o
batismo sela o perdão dos pecados. Enquanto alguém permanece na fé, des-
fruta das bênçãos do batismo. O batismo deve ser administrado uma vez só,
em nome do Deus Triúno: Pai, Filho e Espírito Santo (Mateus 28.19; Tito 3.5;
Marcos 10.14; Marcos 7.4, 16.16; Atos 22.16).
Santa Ceia
A Igreja crê, ensina e confessa que na Santa Ceia o Senhor Jesus Cristo, de
acordo com sua palavra, nos dá o seu corpo e sangue para remissão dos pecados. Os
elementos materiais, pão e vinho, não se transformam em corpo e sangue. Mas por
ordem e promessa de Deus, recebemos na Santa Ceia, com e sob o pão e o vinho, o
verdadeiro corpo e sangue de Cristo. Os que crêem, o recebem para fortalecimento
de sua fé. Os que participam sem arrependimento e fé, recebem igualmente o verda-
deiro corpo e sangue de Cristo, mas para juízo. A Santa Ceia é a mesa do Senhor, na
qual recebemos conforto e consolo. Ela nos dá o perdão dos pecados e nos fortalece
na esperança da ressurreição (Mateus 26.26-28; Marcos 14.24; 1Coríntios 11.24-29).
Por fim, a Igreja crê, confessa e ensina que Deus determinou um dia no qual
julgará o mundo com justiça, mas ninguém sabe quando será. Nesse dia, Jesus
voltará visível e glorioso. Céu e Terra se desfarão. Todos os mortos ressuscitarão.
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Cultura Religiosa
Todos serão julgados por Jesus. Aos incrédulos, Jesus dirá: “apartai-vos de mim,
para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus seguidores”. Aos fiéis, que terão
um corpo glorioso, dirá: “vinde, benditos de meu Pai, e entrai no gozo de vosso
Senhor que vos está preparado desde a fundação do mundo”. Então serão criados
os novos céus e a nova terra, nos quais habitará a justiça (João 5.28-29; Atos 10.
42; 1Coríntios 15.51-52; Romanos 8.18; Mateus 10.28; Isaías 66.24; Jó 19.25-27;
Mateus 26.31-46; 2Pedro 3.10-13; Apocalipse 21.1-8.).
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A Igreja Luterana e a Educação
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Cultura Religiosa
1. Para você, qual é a importância das escolas confessionais na formação de crianças e jovens?
2. Como você analisa o sistema educacional proposto por Lutero, para os nossos dias?
3. Como você vê a posição de Lutero em querer que a nova Igreja não usasse o seu nome para
identificar os fiéis?
Se você fosse um educador, qual idéia de Lutero usaria para qualificar as escolas brasileiras?
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Questões
fundamentais de Ética
É
necessário entender Ética, uma palavra muito usada nos dias de hoje, mas pouco praticada.
Com a finalidade de entendermos as questões fundamentais de Ética Aplicada veremos, num
primeiro momento, as bases antropológicas da Ética; definição e objetivos da Ética; e os aspectos
que distinguem a Ética Social da Ética Religiosa.
Questões básicas
Bases antropológicas da Ética
Como a Ética está voltada exclusivamente ao ser humano, vamos ver quais os primeiros proble-
mas encontrados em conseqüência da diversidade. Ética é um problema exclusivamente antropológico
porque somente o ser humano tem a necessidade de tomar decisões éticas, visto que suas ações, na
relação com a natureza e a sociedade, não são neutras, mas sempre possuem reflexos que podem ser
positivos ou negativos, benéficos ou maléficos, certos ou errados. Assim, veremos algumas caracterís-
ticas principais do ser humano que têm vinculação direta com suas decisões e ações éticas:
cada ser humano é uma pessoa, isto é, um indivíduo, um ser único, diferente de qualquer outro, e isso vem a
ser uma grande dificuldade para entendê-lo. Nisso está o problema central de todas as questões éticas;
o ser humano é racional, pensa por si próprio e de maneira autônoma. Por isso, não pensa segundo padrões
preestabelecidos, mas de acordo com suas próprias idéias. A estrutura racional do ser humano está subdividida
em três aspectos básicos:
a) cognitivo, ou seja, ele realiza aprendizados: o Homem não nasce sabendo, mas precisa aprender tudo na vida,
inclusive a viver de modo ético;
b) volitivo, ou seja, cada ser humano tem uma vontade própria, pois há no íntimo de cada pessoa um núcleo
exclusivamente seu que o determina a agir dessa ou daquela maneira, segundo suas próprias motivações ou
interesses;
c) afetivo, ou seja, há em cada ser humano sentimentos e sensibilidade próprios. O sentir é universal, mas a forma
de sentir é única e especial em cada indivíduo. Os sentimentos humanos são muito complexos e variam de
pessoa para pessoa, o que torna as questões éticas muito difíceis de serem entendidas e solucionadas. (HAAG,
2000, p. 190-191).
Por outro lado, há uma teleologia em todas as ações humanas; tudo é feito visando um deter-
minado fim, que pode ser consciente ou inconsciente. Mesmo podendo estar equivocado, cada ser
humano, ao agir, pensa que está fazendo o melhor possível. O que vale para a Ética é a consciência
social, e não o que o indivíduo pensa ser bom apenas para si.
O ser humano é egocêntrico; cada um tem o seu “eu”, que lhe dá as carac-
terísticas pessoais. Contudo, cada ser humano, a partir do seu “eu”, torna-se um
egoísta, ou seja, sempre pensa, em primeiro lugar, em si, buscando a satisfação de
seus próprios interesses e necessidades, não abrindo mão de nada que julga ser seu
e não dando a mínima importância às necessidades alheias. O egoísmo é a mola
propulsora de todos os problemas éticos.
O ser humano é também um ser social. Precisa de outros para viver e con-
viver. Ele é um ser de pluralidade. Ao mesmo tempo em que é uma pessoa indi-
vidual, é também um ser de relações sociais. Os problemas éticos surgem a partir
do momento em que o indivíduo não supera seus egoísmos e vaidades, fazendo
prevalecer os interesses pessoais em detrimento dos da coletividade.
Diante dessas características, o homem é o único ser que tem a necessidade
de equilibrar suas relações com o outro e com a natureza, determinando normas
de convivência para dar parâmetros à conduta, o que se denomina moral.
Aqui parte-se do pressuposto de que o Homem é um ser surpreendente, extraordinário,
porém, contraditório. Distingue-se dos animais por sua faculdade racional. Isto pode ser
visto como uma vantagem, mas, por outro lado, apresenta uma grande desvantagem. Com
a razão, o Homem está aberto para infinitas possibilidades, mas também está condicio-
nado a limites muito estreitos. Com a razão, o Homem abre-se ao conhecimento de uma
variedade muito grande de conteúdos, mas não pode conhecer todas as coisas e nem sem-
pre conhece suficientemente a si mesmo e aos outros. Com a razão, busca o infinito, mas
está rigorosamente limitado ao seu mundo finito. A Ética parte dessas tensões humanas e
busca uma solução para as mesmas. Contudo, por ser humana, a Ética necessita conviver
com as contingências e precariedades da vida humana, mas sempre se esforçando para
superá-las e resolvê-las. (HAAG, 2000, p. 192).
Conceito de Ética
A partir do que foi visto anteriormente, podemos chegar a algumas defini-
ções de Ética. Vejamos três apresentas pelo professor Nereu:
1.° a Ética pode ser definida como um saber íntimo e aprofundado dos princípios que
orientam a conduta das pessoas de uma coletividade, de acordo com as normas morais
vigentes, com o objetivo de alcançar o bem comum;
2.° a Ética tem como objetivo despertar a consciência de cada ser humano para que suas
ações visem ao bem comum. Ele deve buscar um convívio estável, equilibrado e de
mútua aceitação, tendo como base os princípios sociais e os valores espirituais. Por
isso, cada pessoa precisa saber quais são as ações que, de fato, são boas ou más, certas
ou erradas;
3.° para que isso se efetive, a pessoa precisa aprender a tomar decisões segundo uma cons-
ciência ética bem orientada, ou seja, precisa ter um conhecimento mais profundo das
ações que são moralmente válidas e socialmente corretas. Por isso, a Ética não é nor-
mativa, mas pedagógica ou educativa. (HAAG, 2000, p. 192-193).
Podemos dizer aqui que Ética e Moral têm sentidos distintos. A Moral se
relaciona com as ações do indivíduo, com a conduta real, enquanto a Ética é
formada por princípios ou juízos que originam essas ações. A Ética faz a ava-
liação teórica da Moral dos indivíduos, ocupando-se com tudo o que é consi-
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Questões fundamentais de Ética
Sabemos que o amor ágape não é fácil de ser entendido e, menos ainda, de
ser praticado. Olhe para você e imagine-se praticando este tipo de amor. Busque
situações concretas na sua vida, em que o perdão foi necessário, e você teve difi-
culdades para praticá-lo. Essa forma de amor é a única válida para a fundamenta-
ção da ética cristã. Quando trabalharmos a questão ética, buscaremos sempre esta
definição de amor para fundamentar nossas ações.
O primeiro passo para avaliarmos com clareza se o nosso procedimento
moral é correto é buscar entender a Ética. Mas não só entender. Precisamos usar
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Questões fundamentais de Ética
Para estudo sugiro uma atividade prática. Uma análise mais aprofundada das nossas ações mo-
rais e o que nos leva a proceder dessa ou daquela maneira.
Dica de leitura:
FORELL, George W. Ética da decisão. São Leopoldo: Sinodal, 1983.
A partir da leitura do texto, como a idéia de que o egoísmo é a mola propulsora de todos os
problemas éticos pode levar você a uma mudança de ação?
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Cultura Religiosa
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Princípios de Ética
Q
ueremos, nesta aula, fazer mais algumas reflexões sobre ética, buscando subsídios para en-
tender o assunto. Pela diversidade do pensamento humano, também é difícil chegar a con-
clusões definitivas sobre ética, por isso, a reflexão e a introspecção são fatores importantes.
O que podemos fazer para transformar a sociedade? De quem é a responsabilidade de estabelecer um
convívio estável?
Algumas questões
A mentira é sempre errada?
Quando eu desejo fazer algo, mas a sociedade diz que está errado, como posso decidir o que
fazer?
Por que é errado tentar uma expansão da consciência por meio das drogas, por exemplo?
Quem realmente possui a autoridade para estabelecer o que é certo e errado?
É a consciência individual um guia seguro para a vida?
É o ato egoísta, embora repleto de satisfação pessoal, que determina o que é certo e errado?
Os valores são relativos ou absolutos? (HONER, 1973, p. 100).
Ética e Moral
As palavras ética e moral, embora usadas indiferentemente, possuem significados distintos.
A moral se relaciona às ações, isto é, à conduta real.
A ética são os princípios ou juízos que originam essas ações.
Nessa dimensão, a ética e a moral são como a teoria e a prática. A ética é a teoria moral ou a
filosofia moral.
Todo mundo tem uma moral, pois todos praticam ações que podem ser examinadas etica-
mente. Mas nem todo mundo já levou em consideração a ética. (HELLERN; NOTAKER;
GAARDNER, 2000).
A ética normativa procura mostrar quais ações são certas e quais são eticamente
inaceitáveis. Ela repousa sobre determinados valores e fornece normas para as ações.
Sua busca não é pelo que é, mas pelo que deve ser. Nesse sentido, os Dez Mandamentos
são um exemplo de ética normativa.
Valores
Quais valores fornecem as normas para nossas ações? Qual valor é mais
importante para cada um de nós?
Dinheiro?
Carro?
Lazer?
Saúde?
Liberdade?
Amizade?
Amor?
Não esquecer: alguns valores são apenas meios para se alcançar outros
valores. Considere como exemplo o dinheiro: ele não tem valor intrínseco,
mas pode ser usado para se obter alguma outra coisa.
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Princípios de Ética
Teoria absolutista
Método de justificação: razão e/ou autoridade divina
Conforme essa visão (também identificada como objetivista), o que tem va-
lor independe do que o indivíduo gosta ou pensa, bem como independe do que
uma sociedade sanciona.
Essa perspectiva se opõe ao relativismo. Assevera que as leis morais são
universais e eternamente verdadeiras, independentemente de qualquer coisa.
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Cultura Religiosa
Consciência
O Livro das religiões assim se expressa:
Consciência é a capacidade que temos de reagir ao certo e ao errado. Podemos dizer que
a consciência é um cão-de-guarda normativo. Se infringimos uma de nossas normas, a
consciência começa a rosnar. Em casos mais flagrantes, seu peso pode nos derrubar; ou ela
pode nos forçar a recuar, modificar nossas ações, pedir desculpas a alguém. (HELLERN;
NOTAKER; GAARDNER, 2000, p. 267).
A problemática:
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Princípios de Ética
É imposta pelo ambiente externo: o ser humano é moldado pelas condições culturais
externas, como pensam a psicologia e as ciências sociais.
É inata no ser humano, mas recebe informações externas: nessa dimensão ela equiva-
leria a um tribunal. Julga e decide o que é certo e errado a partir de alguma informação
externa sobre o que é certo e o que é errado. Ela pune as pessoas quando rompem as
normas, mas não determina absolutamente essas normas (STEFFEN, 2002).
Responsabilidade
A questão da ética centra-se no senso de responsabilidade: por quem e pelo
que nos sentimos responsáveis?
A título de reflexão, podemos vislumbrar duas possibilidades, que se com-
pletam, de pensar a responsabilidade:
responsabilidade individual: o indivíduo é responsável por si e pelo que
o rodeia;
responsabilidade coletiva: a sociedade é responsável pelas ações que o
indivíduo não consegue fazer por si só.
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Cultura Religiosa
O livre-arbítrio
O pressuposto: admitir que as pessoas possuem alternativas entre as quais
podem escolher livremente.
Há duas correntes que conduzem a discussão do tema:
o determinismo: nossas escolhas são determinadas pelos elementos ex-
ternos, herdados dos pais ou do ambiente no qual vivemos. Nesse caso,
a sensação de livre-arbítrio é ilusória. Não raro ouve-se que é preciso
pensar a discussão sobre a violência; antes de responsabilizar seus pra-
ticantes é preciso mudar as condições econômico-sociais. Há, nesse mo-
mento, a discussão sobre a diminuição da idade para responsabilizar ju-
dicialmente os praticantes de delitos contra a pessoa e o patrimônio;
o indeterminismo: nossas escolhas são fruto de vontade individual. Nos
tornamos aquilo que escolhemos ser.
Aqui encontramos alguns pontos importantes para reflexão. Até que ponto
sou responsável por uma ação moral que passe pela boa avaliação da ética? A ver-
dade é que não podemos esperar pelos outros. As ações partem de nós mesmos. A
nossa consciência, com certeza, já está nos perturbando. A ética serve para a vida
pessoal do indivíduo e, conseqüentemente, vai ser aplicada na vida profissional.
À medida que aguçamos nossa consciência, melhoramos também os nossos rela-
cionamentos.
A Psicologia Educacional está presente nos pequenos atos, que podem pas-
sar despercebidos.
Venha comigo observar, à porta de uma escola qualquer, a hora da chega-
da das crianças com as respectivas mães.
Observe: quem carrega a mochila escolar?
Na maioria das vezes é a mãe. Essa mãe, por hipersolicitude e num ges-
to de amor, carrega a mochila do filho para poupá-lo desse esforço. Há mãe
exagerada: leva três mochilas nas costas, segura ou carrega o filho menor,
enquanto vai cuidando para que os outros filhos não fiquem se matando pelo
caminho.
E, quando chegam ao portão da escola, o que acontece? O filho foge para
dentro da escola e a mãe tem de correr atrás dele para entregar-lhe a mochila
e, já com os lábios estendidos, dar-lhe um beijinho de despedida...
Por que um filho, nessa despedida, não beija sua mãe?
Qualquer ser humano, ao se separar de alguém, pelo menos por educação
se despede dele. Os enamorados beijam-se tão demoradamente que é impossí-
vel saber se estão se despedindo, “ficando”, ou até mesmo se chegando...
Somente quando não usufruímos a companhia é que “saímos de fininho”,
isto é, sem nos despedirmos dela. Portanto, se um filho não beija sua mãe é
porque não usufruiu prazerosamente sua companhia. Significa também que o
filho não reconheceu a ajuda que a mãe lhe deu.
Ajudar é muito nobre e um gesto de amor, ao qual mãe nenhuma se furta.
Mas, se não ficar claro que a mãe o está ajudando, o filho pode entender que é
responsabilidade dela carregar sua mochila.
Assim se perpetua que quem vai à escola é ele, mas quem deve carregar a
mochila é a mãe. Para que carregar sua mochila se, até então, isso é obrigação
da mãe?
Essa é uma das melhores maneiras de um filho não adquirir responsabili-
dade pela própria vida. Mas o pior é quando o filho acredita que é obrigação dos
pais carregar as “mochilas da vida” e que a ele só cabe viver o prazer. O filho se
deforma transformando-se em “folgado”, enquanto os pais se “sufocam”.
Assim vai se organizando uma falta de ética em que o respeito a quem o ajuda
passa a não existir e a responsabilidade pelos próprios compromissos a se diluir.
Quem não respeita a própria mãe não tem por que respeitar outras
pessoas: pai, professores, autoridades sociais ou qualquer ser vivente, seja
mendigo, seja índio... Quem não se responsabiliza pelos próprios atos não
tem por que se preocupar com o que faz ou deixa de fazer...
Tudo isso pode ocorrer se carregar a mochila do filho for extensão social
do que a mãe faz dentro de casa, isto é, se ela carrega também a casa toda...
Carregar a mochila do filho é um erro de amor. Cometido por amor, pode ser
até aceitável, mas não se justifica. O maior amor é criá-lo e educá-lo para a
vida. E a vida exige qualidade, ética, liberdade e responsabilidade.
Ainda bem que nossa psique é plástica e os comportamentos podem ser
mudados a qualquer momento, desde que estejamos realmente mobilizados
para isso.
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Cultura Religiosa
Na primeira oportunidade esta mãe deveria fazer o esforço “sobrematerno”, que é maior que
o sobre-humano, para não carregar a mochila do filho. Vai ser uma briga interna muito grande
contra a sensação de estar sendo má, incompetente e omissa... Mas a mãe tem de saber que o que
sempre fez, pensando estar ajudando, na realidade prejudicou o filho e tem que acreditar que pode
mudar. Portanto, essa mudança de atitude tem a finalidade de educar saudavelmente o filho, por-
que só o amor não é suficiente para uma boa educação.
O filho tem de sentir todo o peso de sua mochila. Cabe à mãe oferecer ajuda.
Se ele, por birra, já que nunca carregou peso algum, recusar a ajuda, ótimo! A mãe não deve
sentir-se inútil. Pelo contrário, deve usufruir o filho, que está começando a assumir a própria res-
ponsabilidade, e curtir essa felicidade.
A mãe não deve incomodar-se com os olhares indignados de outras mães, querendo dizer:
“Que mãe desnaturada, que deixa o filho soterrado sob a mochila”.
A mãe precisa devolver os olhares dizendo quão cegas e submissas elas estão sendo aos pró-
prios filhos, que logo irão chamá-las de “escravas”, e perceber nelas já uma pontinha de inveja por
alguém estar conseguindo o que elas sempre desejaram...
É bem provável que já no dia seguinte essa mãe encontre algumas parceiras, para sua felici-
dade.
Chegará uma hora em que o próprio filho, não agüentando mais carregar a mochila, dirá, com
aquele ar de súplica que desmonta qualquer coluna vertebral materna:
“Manhêêê, me ajuda?”
Esta é a hora sagrada que Deus arrumou para a mãe tentar reparar as falhas educativas
anteriores. Portanto, não a deve perder de forma alguma. Carregar todo o peso da mochila
outra vez, jamais! Mesmo que tenha de lutar com todas as forças contra o “determinismo do
instinto materno”.
É chegada a hora de efetivamente ajudar o filho no que ele precisa. Portanto, nesse exato
momento cabe à mãe abrir a mochila, que ele mesmo deve, ou deveria, ter arrumado, e deixá-lo
pegar o que consegue carregar.
Se ele quiser levar a mochila com menos cadernos, ótimo! Se quiser carregar alguns ca-
dernos, ótimo também! Mesmo que seja pouco, se o filho começar a carregar alguma coisa,
já é ótimo.
Até agora o que ele aprendeu é que levar a mochila é obrigação da mãe. Portanto, vamos deva-
gar, até ele reaprender que essa obrigação é dele, e a sua mãe só o está ajudando. Se de pequenino o
filho carrega alguns cadernos, à medida que vai crescendo pode levar mais cadernos, até chegar o
dia em que conseguirá carregar toda a mochila.
Educar é preparar o filho para a alegria da liberdade sem depender de ninguém para “carregar
suas mochilas”.
Nesse novo processo, o mais importante é que o filho, ao chegar ao portão da escola,
sente na própria pele a ajuda de sua mãe, medida e quantificada pelo peso da mochila que
deixou de carregar.
Nessa hora, seu coraçãozinho se enche de gratidão, e vem espontaneamente o tão desejado
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Princípios de Ética
Destaques
1. Quem não se responsabiliza pelos próprios atos não tem por que se preocupar com o que
faz ou deixa de fazer...
2. A vida exige qualidade, ética, liberdade e responsabilidade. Ainda bem que nossa psique
é plástica e os comportamentos podem ser mudados a qualquer momento, desde que este-
jamos realmente mobilizados para isso.
3. Só o amor não é suficiente para uma boa educação.
4. Quem tem respeito à própria mãe também respeita seus semelhantes. É dessa maneira que
um filho pequeno adquire a ética que vai torná-lo um cidadão na sociedade.
1. Faça uma relação dos seus valores e classifique-os por prioridade. Depois, discuta com os cole-
gas suas escolhas.
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Cultura Religiosa
2. Como está a sua consciência? Ela o “cutuca” quando você faz uma ação eticamente inaceitável?
Explique.
Faça a sua reflexão sobre os seus valores. Qual seria a melhor ordem de valores para melhorar
as condições de vida de cada um?
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Ética – uma
perspectiva cristã
P
or que a Ética Social é diferente da Ética Religiosa? A resposta está na fonte. Na ética social
está a mão do homem, enquanto na religiosa está a mão de Deus. É por isso que as pessoas não
gostam do debate sobre determinados assuntos. A ética religiosa é rígida, nada foi mudado nela.
Alguns dizem que é antiquada, pois as pessoas mudaram e o mundo está diferente. Mas, ele mudou
para melhor? Continuamos com muitos problemas e o homem parece não encontrar solução definitiva
para nenhum deles.
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Ética – uma perspectiva cristã
Amor Sentido
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Amor Sentido
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Ética – uma perspectiva cristã
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Cultura Religiosa
1. Se você tivesse que optar entre Ética Social ou Ética Cristã, qual seria sua escolha? Justifique.
2. Discuta com seus colegas, ou mesmo em casa com sua família, o princípio do amor ágape. Es-
creva o que você entendeu sobre isso.
3. Sobre os Dez Mandamentos, a lei de Deus, é possível cumpri-los na íntegra no mundo em que
vivemos? Justifique.
Indico um livro interessante que trata sobre Ética e envolve as nossas decisões diárias.
FORELL, George W. Ética da decisão. São Leopoldo: Sinodal, 1983.
A partir da leitura do texto, o que você pode fazer para aplicar a Ética nas suas ações? Qual
modelo utilizar? Faça seu parecer descritivo.
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Ética – assuntos práticos
V
amos trabalhar na prática alguns assuntos-chave do nosso meio. São problemas éticos que
encontramos diariamente e estão sempre expostos para discussão. É difícil chegarmos a uma
definição para estes problemas. Não cabe aqui definir o que é certo e errado. Precisamos re-
fletir sobre as causas e conseqüências das ações humanas e, através da ética, procurar canalizar as
nossas ações para o bem.
O importante é destacar aqui que, do ponto de vista da ética religiosa, a vida é um dom ou pre-
sente de Deus. E como todo presente que se recebe, a vida deve ser bem cuidada, porque, como se
entende no senso comum, não se devolve e nem se joga fora um presente recebido pelo simples fato
de que isto indicaria menosprezo e ofensa à pessoa que deu o presente.
A bioética
Um dos mais novos campos que está se abrindo para a Filosofia e a Teologia é a reflexão em torno da ética da
vida (bioética), em virtude das mais recentes pesquisas da ciência genética. Enquanto a ciência se ocupa com um
objeto específico, a ética preocupa-se com aspectos gerais que afetam o homem e a sociedade, no que diz respeito
aos aspectos positivos ou negativos das ações da ciência sobre a vida. E estas questões interessam tanto à Filosofia
quanto à Teologia. À Filosofia interessa em virtude de que se ocupa com a moral a partir do enfoque racional, e
à Teologia, porque aborda a mesma questão a partir da fé. Apesar das diferenças, ambos os enfoques convergem
para o mesmo ponto: a defesa da vida como bem maior do homem. (HAGG, 2000, p. 198).
Constatamos aqui uma preocupação. Até que ponto a religião pode barrar o progresso da ciên-
cia? Pensamos que nem é bom fazer isso. Desde que os princípios utilizados para a pesquisa sejam
bons. Devemos inclusive apoiar o avanço científico. Deus dotou o homem de capacidade para des-
vendar muito dos mistérios deste mundo. Mas é importante salientar que a nossa opção é sempre pela
preservação da vida humana.
A eugenia
Este termo deriva da língua grega e é composto pelo prefixo eu, que significa “novo”, e pelo termo genos, que
significa “vida”. Portanto, o termo “eugenia” significa “nova vida”. A eugenia está relacionada com as mais re-
centes pesquisas no campo da Biologia e da Genética. A Ciência da Genética está fazendo progressos gigantescos
nas pesquisas que dizem respeito a melhorias e transformações nos genes humanos e animais que são respon-
sáveis por doenças somáticas e defeitos físicos. Eliminando-se tais genes causadores de
problemas, teremos, como conseqüência, pessoas mais sadias, isto é, livres de doenças
hereditárias e imunes a doenças maléficas que possam ser adquiridas posteriormente. Não
há a mínima dúvida de que tais contribuições da ciência sempre são bem-vindas. Mas,
infelizmente, sabe-se também que o uso e a aplicação de tais conhecimentos podem ser
voltados não para o benefício do homem e da sociedade, mas para interesses egoístas,
como a dominação e a exploração econômica. (HAAG, 2000, p. 199).
Bebê de proveta
O termo técnico mais adequado é inseminação artificial in vitro, ou seja, a fecundação
(união do óvulo com o espermatozóide) é feita num tubo de ensaio em laboratório e depois
o embrião é introduzido no útero da mulher. Esta é uma técnica que resolve os casos em
que a gravidez não ocorre por problemas circunstanciais que impedem a fecundação. É
relativamente simples e não envolve maiores problemas éticos. A questão mais importante
é que a inseminação artificial não resolve problemas congênitos de infecundidade, tendo-
se, por isso, que utilizar outros meios, como a “barriga de aluguel”, na qual surgem vários
problemas éticos. (HAAG, 2000, p. 200).
Vejam que hoje este assunto não é mais novidade. As pessoas que buscam
esta técnica estão buscando a solução para um problema antes sem solução. Claro
que aí surgem outras indagações. Questiona-se de um lado se isso não poderia ser
resolvido com a adoção, já que encontramos milhares de pessoas abandonadas no
mundo. Mas é apenas uma reflexão.
Eutanásia
O termo “eutanásia” deriva da língua grega e é composta pelo prefixo eu (boa) e do subs-
tantivo tánatos (morte), que, portanto, significa “boa morte”, ou uma morte sem sofrimen-
to. Há dois tipos de eutanásia: a ativa e a passiva. A eutanásia ativa caracteriza-se pelo
uso de meios diretos para interromper a vida e antecipar a morte. Essa forma é legalmente
condenada. Nenhum médico poderá praticar tal intervenção, pois no juramento de Hi-
pócrates (primeiro médico), há um compromisso de salvar vidas, e não de condenar à
morte. A dúvida ética repousa sobre a eutanásia passiva, ou seja, a intervenção que se faz
desligando os aparelhos que mantêm viva a pessoa que está clinicamente morta (morte
cerebral), não havendo mais, neste caso, a mínima chance de vida. A questão é a seguinte:
pode-se, nesse caso, como gesto de piedade, livrar a pessoa dessa situação, e, quem sabe,
livrar também os familiares de uma situação deprimente? (HAAG, 2000, p 202).
Apesar das mais diversas opiniões, a decisão nunca deverá ser tomada de
forma isolada e arbitrária. De acordo com a ética religiosa, Deus é o doador da
vida e só a ele pertence o direito de determinar o seu fim. Por isso, ninguém, nem
mesmo um profissional da saúde, pode decidir de forma arbitrária e praticar a
eutanásia. Toda e qualquer decisão em termos de eutanásia passiva deverá passar
por um conselho de ética, que a maioria dos hospitais possui, composta por uma
equipe multidisciplinar. É importante que os familiares sejam ouvidos, e deverá
sair daí uma decisão clara, transparente, convicta, unânime e consciente quanto
ao que será feito em favor da pessoa clinicamente morta.
A Ética da corporeidade
A sexualidade humana
O ser humano, tal qual os animais e as plantas, é um ser sexuado. A diferença é que o
ser humano não age por instintos, porém seu comportamento sexual está submetido à di-
mensão racional (cognitiva, volitiva e afetiva) e espiritual (moral e religiosa). Os animais
têm o comportamento sexual determinado pelos instintos para a preservação da espécie
e não possuem a mínima consciência do que tal ato representa. O ser humano, mesmo
tendo instintos muito elementares, não é determinado por eles, mas pela sua dimensão
racional, e, por isso, pode e deve ter consciência do que o ato sexual representa para si,
para seu parceiro e para a sociedade. O ser humano precisa ter consciência das múltiplas
implicações, boas ou más, certas ou erradas, positivas ou negativas que tal ato tem sobre
si, sobre a outra pessoa, sobre a sociedade e diante da vontade de Deus. Além disso, há
que se considerar também que o ato sexual não é apenas uma relação de amor do tipo eros,
mas envolve também o amor do tipo filos (afetivo) e do tipo ágape (espiritual). Equivoca-
damente, há os que entendem que sexo é uma necessidade fisiológica. O ato sexual é um
ato físico, mas nem por isso é uma necessidade fisiológica. Os aspectos mais significativos
na relação sexual humana estão relacionados com os aspectos afetivos e espirituais que tal
relação envolve. As pessoas não se unem por causa do sexo, mas porque querem ter um(a)
companheiro(a), um(a) amigo(a), alguém em quem possam confiar e com quem possam
compartilhar os bons e os maus momentos da vida. O sexo apenas complementa essa re-
lação afetiva e espiritual. (HAAG, 2000, p. 205).
Por isso é importante discutir este tema com muita seriedade. Aula de sexu-
alidade nas escolas não deve ensinar somente o funcionamento dos órgãos repro-
dutores, mas principalmente a responsabilidade e o controle que as pessoas devem
ter sobre o sexo. Principalmente porque pode causar problemas maiores como: a
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Cultura Religiosa
A prostituição
A partir da visão da ética social, entende-se que o ser humano tem plena liberdade de fazer
as opções que melhor lhe couberem. Hoje se pensa que se alguém escolheu a prostituição
como modo de vida, ninguém tem nada a ver com isso, pois ninguém deve intrometer-se
na vida alheia. Porém, a partir da visão da ética religiosa, o princípio que vigora não é a
liberdade, mas o amor ágape. Então, a pergunta que se faz a partir desse ponto de vista
da ética religiosa é: as pessoas têm, de fato, liberdade de usar seu corpo como objeto
econômico? É certo alguém “comprar” o corpo de uma outra pessoa para satisfazer suas
necessidades sexuais? (HAAG, 2000, p. 208).
O ser humano não é coisa, não é produto, não é mercadoria. Ele tem alma,
sentimentos e coração. Neste nível, o que deve falar mais alto e valer muito mais é
o amor mútuo. Quando alguém chega ao ponto de “vender” o seu corpo é porque
algo muito grave está acontecendo com ele e com a sociedade. Tal pessoa precisa
ser tratada com amor e não ser explorada na sua necessidade ou fraqueza. Pesqui-
sas nos mostram que a grande maioria das pessoas que vivem na prostituição está
nesse meio não por opção livre, mas por questões econômicas, familiares, psí-
quicas, afetivas e educacionais. Assim, também, a grande maioria delas gostaria
de mudar de vida e viver como pessoas normais, dentro de um ambiente familiar
harmonioso.
O que estas pessoas mais gostariam de ter na vida é o amor e uma chance que nunca
tiveram: serem respeitadas. Muitas delas se sentem rejeitadas e inferiorizadas pelo fato
de viverem em tais condições subumanas: sem carinho, sem afeto e sem dignidade, pois
todos vêem nelas um objeto que se compra, e não uma pessoa que reclama por melhores
oportunidades na vida, que reclama para ser alguém. (HAAG, 2000, p.208).
Não podemos sair condenando os jovens por este comportamento. Eles pre-
cisam de ajuda. Aliás, precisam de amor. Não fizeram uma opção simples e livre.
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Ética – assuntos práticos
A família deve dar condições para que o ser humano tenha um desenvolvi-
mento como pessoa e ser social num ambiente que lhe permita isso. A família é,
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Cultura Religiosa
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Ética – assuntos práticos
A ordem de justiça:
a Ética nas questões legais
A pena de morte
Definimos a pena de morte como a punição máxima aplicada a um infrator,
eliminando a pessoa do convívio social e tirando-lhe a vida com a aplicação da
pena capital.
Aqui se levantam muitas questões de ordem legal e religiosa. No Brasil, no
período do Império, havia a pena de morte, mas ela foi abolida por causa de um
erro judiciário no qual se tirou a vida de um inocente. A partir de lá, não se tem
mais na lei brasileira a prática legalizada da pena de morte. Já foram feitas várias
tentativas para a reimplantação no Código Penal do artigo que faculta o uso de tal
lei. Os debates em torno do assunto bipolarizam-se de tal maneira que há argu-
mentos a favor e contra.
Argumentos a favor:
diante do medo da punição com morte, haveria diminuição da violência
e da criminalidade;
o Estado não teria tantos gastos com a manutenção de presídios (verda-
deiras universidades do crime).
Argumentos contrários:
possibilidade de erro judiciário e, com ele, a condenação de um inocente;
uso político e ideológico da pena, sendo, nesse caso, uma arma na mão
de maus governantes que se voltam contra o próprio cidadão;
estatísticas em países em que há a pena de morte revelam que ela foi
aplicada, na maior parte das vezes, contra pobres, negros e índios. Foram
raros os casos de ricos e/ou brancos a serem condenados;
a pena de morte não diminuiu a criminalidade, apenas a refreou num
primeiro momento;
é falso o argumento econômico, porque os gastos para evitar erro judicial são
muito altos e maiores do que os gastos com a manutenção dos presídios.
Do ponto de vista da Ética Religiosa, o assunto também é controverso, pois
há teólogos que, baseados em textos bíblicos, defendem a pena de morte, e outros
que são contra ela, porque entende que só Deus tem autoridade de punir com a
morte, por ser ele o autor da vida.
Pessoalmente, sou contra a pena de morte, visto que ela seria usada como um instrumento
que apenas atingiria os efeitos, ficando as causas do problema sem serem atingidas. As
ondas de corrupção que afetam governantes e autoridades no Brasil não lhes dão idonei-
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Cultura Religiosa
dade moral para serem os depositários fiéis de uma lei tão severa e drástica. Num país no
qual apenas “ladrões de galinha” vão para a cadeia e os criminosos de “colarinho branco”
ficam impunes, fica desautorizada a validade da implantação da lei da pena de morte.
(HAAG, 2000, p. 221).
O aborto
É um assunto que merece atenção especial e é difícil de discutir, pois envol-
ve culpa, consciência. Mas todos os casos devem ser tratados com muito cuidado.
Vejo que aqui, a questão do amor cristão é fundamental para chegarmos a alguma
conclusão.
A lei brasileira considera crime a prática do aborto, sendo, portanto, sujeito a sanções pe-
nais. Mas há uma disseminação de clínicas que fazem a prática clandestina do aborto, sem
a devida coibição das autoridades. A lei brasileira admite duas exceções: 1.º) em caso de
risco de vida para a mãe; 2.º) se a gravidez foi proveniente de estupro. Em ambos os casos,
o médico fica autorizado a fazer o aborto, desde que seja realizado até o terceiro mês de
gravidez. (HAAG, 2000, p. 222).
A política
Este é um termo muito desgastado hoje e, por isso, para muitos, tem um significado pe-
jorativo. Porém, tanto o significado semântico como o filosófico do termo “política” é
muito significativo. Ele provém da palavra pólis, que significa cidade-estado. Cada ci-
dade da Grécia formava um Estado independente que estava unido numa confederação
de cidades, formando, assim, a nação grega. Cada cidade-estado era autônoma e, por
isso, tinha vida e cultura próprias. Cada uma possuía suas próprias leis. E as leis de cada
cidade eram feitas a partir da discussão pública dos problemas que a afetavam. Todos os
cidadãos livres tinham vez e voz nas assembléias públicas onde eram tomadas as decisões
“políticas”, ou seja, aquilo que dizia respeito à pólis. Daí provém o termo política, ou seja,
a discussão e a administração das coisas públicas, cujo objetivo é a manutenção do bem
comum. Não havia nada mais importante para o homem grego do que a pólis, pois era o
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Ética – assuntos práticos
lugar onde vivia. E este era o maior bem comum que todos possuíam. Por isso, na Grécia
antiga, política era uma atividade que envolvia todos os cidadãos de uma cidade-estado.
(HAAG, 2000, p. 225).
Religião e política
Dizem que são dois assuntos que não se discute. O tema é vasto realmente,
e neste texto é impossível aprofundar o assunto. Mas o importante é que o meio
acadêmico discuta estas questões e busque sempre alternativas para uma socie-
dade mais equilibrada. Política é uma atividade que deve envolver a todos, e não
apenas àqueles que vêem na “politicagem” um meio de obter vantagens em tudo,
infelizmente às custas do bem comum.
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Cultura Religiosa
2. Como você pode utilizar essa reflexão para a sua vida pessoal?
3. Converse e busque o diálogo desses temas com os seus colegas e sua família.
Minha sugestão é a leitura de alguns textos de Lutero sobre estas abordagens. É um livro em
que o reformador fala sobre Economia, Política e educação:
LUTERO, Martinho. Obras selecionadas. Porto Alegre: Concórdia, 1995. v. 7.
Sobre a prática das ações morais na sua vida, em que casos, dos citados acima, você se deu
conta que pode haver uma reflexão maior e que possa ajudá-lo?
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Hino Nacional
Poema de Joaquim Osório Duque Estrada
Música de Francisco Manoel da Silva
Parte I Parte II
Brasil, um sonho intenso, um raio vívido Brasil, de amor eterno seja símbolo
De amor e de esperança à terra desce, O lábaro que ostentas estrelado,
Se em teu formoso céu, risonho e límpido, E diga o verde-louro dessa flâmula
A imagem do Cruzeiro resplandece. – “Paz no futuro e glória no passado.”
Dos filhos deste solo és mãe gentil, Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada, Pátria amada,
Brasil! Brasil!
Atualizado ortograficamente em conformidade com a Lei 5.765, de 1971, e com o artigo 3.º da Convenção Ortográfica
celebrada entre Brasil e Portugal em 29/12/1943.