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OS APRENDIZADOS NAS VIAGENS DE BICICLETA: UM DIÁLOGO

EPISTEMOLÓGICO ENTRE MERLEAU-PONTY E TIM INGOLD.

Júlio Resende (IFMT-GPEA/UFMT): julio.resende@cba.ifmt.edu.br


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Nelson Quadros (FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO): nelson.quadros@fjp.gov.mg.br

Resumo : O objetivo deste artigo é reinterpretar as experiências dos cicloturistas em viagem de rota pela Estrada
Real, em Minas Gerais, por meio de um diálogo epistemológico entre a fenomenologia das diferentes, mas
dialogantes percepções entre o filósofo Merleau-Ponty e o antropólogo Tim Ingold. Foram realizadas vinte e oito
entrevistas com cicloturistas que pedalaram pelas montanhas mineiras e cidades históricas. Também foi feita
uma viagem de bicicleta de dezessete dias por estes caminhos para que as interpretações das experiências
estivessem intimamente relacionadas ao fenômeno investigado. Estas viagens proporcionaram intensos
aprendizados aos cicloturistas e apontam alternativas pedagógicas relevantes no marco de um currículo
diferenciado que exige novas ultrapassagens de liberdade e aprendizagem.
Palavras-chave: Cicloturismo. Fenomenologia da Percepção. Percepção Ambiental.

1 Apresentação

Tudo está em constante movimento. As árvores brotam, crescem e morrem. Os pássaros


aprendem a voar, constroem ninhos e ensinam seus filhotes a sobreviver. As crianças
brincam, os adolescentes namoram, os adultos trabalham e os velhos contam histórias. Os
municípios surgem, os bairros crescem e os gestores propõem soluções para seus problemas.
Os humanos também estão em constante movimento pelo mundo e se reconhecem como uma
metamorfose ambulante, assim como cantou Raul Seixas. Apesar deste fluxo indissociável do
mundo e das pessoas, persiste na sociedade contemporânea a ilusão da separatividade entre
humanos e natureza. Nas grandes cidades, as pessoas vivem em escritórios, salas de aula,
carros e ônibus. Quando podem, controlam o som, o cheiro e o clima destes ambientes. O
cotidiano acelerado, comandado pelo relógio industrial, dificulta na compreensão da re-
ligação entre o eu-outro-mundo. E educação bancária (FREIRE, 1978), por sua vez, cumpre
sua função de formar alunos com pouca autonomia, frágeis na criticidade e sem capacidade de
colaboração. Os trezes anos obrigatórios de sala de aula traumatizam a maior parte dos
estudantes, que saem dali com pouco conhecimento de si mesmo, baixa inteligência
emocional e uma corporeidade pouco desenvolvida.

Uma viagem de bicicleta pode proporcionar ao cicloturista uma forma peculiar de


conhecer lugares e pessoas. Ao percorrer diversos tipos de estradas, relevos, vegetações,

1
Orientador da Dissertação de Mestrado intitulada “Cicloturistas e suas Percepções Ambientais: Um estudo na
Estrada Real”, defendida em outubro de 2008.
climas e cidades, os eles percebem o ambiente diferentemente de qualquer outro tipo de
turista ou morador por causa das características do movimento peculiar à bicicleta. Trata-se de
uma rica experiência em que o mundo é percebido intensamente pelo sentir, ver, cheirar,
degustar e ouvir dos viajantes. Buscando superar a crise socioambiental e também a crise
deste modelo bancário de educação, este artigo aponta a riqueza de aprendizados nestas
viagens de bicicleta. Seu objetivo foi reinterpretar as experiências dos cicloturistas em viagem
de rota pela Estrada Real, em Minas Gerais, por meio de um diálogo epistemológico entre a
fenomenologia da percepção de Merleau-Ponty (1971) e a percepção ambiental de Tim Ingold
(2000).

O antropólogo inglês Tim Ingold (2000) traz relevantes contribuições à epistemologia


ecológica na medida em que seu trabalho proporciona avanços na superação da dicotomia
entre humano e natureza, principalmente a partir da integração de fundamentos da
antropologia, da filosofia, da psicologia e da biologia. A fenomenologia da percepção
pontyana foi um de suas principais referências para a construção de sua ecologia da vida e do
seu conceito de percepção ambiental. Para Merleau-Ponty (1971), não há separabilidade entre
as pessoas e o mundo, assim como corpo e mente. Sua fenomenologia retorna aos fenômenos
e aponta a primazia da percepção na co-emergência entre o mundo e as pessoas. A percepção
se dá, neste caso, por meio do engajamento intencional do corpo no mundo. Também em
concordância com esta fenomenologia, Ingold (2000) aponta a educação da atenção como a
forma como a cultura, indissociável da paisagem, segue seu dinamismo por meio das pessoas,
sempre em movimento constante em um mundo também em constante transformação. Ambos
enfatizam a interdependência do eu-outro-mundo e trazem contribuições relevantes à criação
de pedagogias que contribuam para a superação das crises civilizatórias.

2 Caminhos metodológicos

Este artigo é uma reinterpretação das experiências dos viajantes de bicicleta, que foram
sujeitos de pesquisa de uma dissertação de mestrado sobre os cicloturistas e suas experiências
nas montanhas mineiras (RESENDE, 2008). Esta pesquisa ressaltou os intensos aprendizados
dos viajante, bem como trouxe contribuições ao planejamento e organização do turismo nos
municípios que recebem estes tipos de turistas. De lá para cá, os estudos continuaram e se
aprofundaram com foco na educação ambiental, na filosofia, na fenomenologia e em
sociedades sustentáveis. Ao conhecer de forma mais madura as obras de Merleau-Ponty e Tim
Ingold, surgiu a inquietação para reinterpretar as experiências dos cicloturistas, mas agora em
diálogo com a filosofia, por meio fenomenologia da percepção, bem como com a
antropologia, por meio da percepção ambiental.

Para a dissertação, foram entrevistados 28 cicloturistas, que realizaram viagens de rota


pela Estrada Real, em Minas Gerais, Brasil. Suas experiências tiveram durações, distâncias e
destinos variados, mas todos eles experimentaram a percepção da paisagem a dez quilômetros
por hora por diversos dias seguidos. Alguns viajaram por mais de vinte dias. As perguntas
feitas a eles tiveram como objetivo conhecer suas motivações de viagem, seus aprendizado e
suas percepções sobre a paisagem e sobre eles mesmos. Todas as citações realizadas nesta
pesquisa foram devidamente autorizadas pelos entrevistados.

Numa perspectiva fenomenológica, o conhecimento científico não pode ser pensado


sem a subjetividade de que o produz. A percepção dos autores é parte integral desta
construção. Neste sentido, foi muito importante para a interpretação destas experiências, a
viagem realizada pelo autor, com duração de 17 dias, desde Ouro Preto, em Minas Gerais, a
Paraty, no Rio de Janeiros, pelos caminhos da Estrada Real. Foram percorridos mais 600
quilômetros. Ao longo do caminho, vários dias foram compartilhados com outros cicloturistas
que faziam a mesma rota. A vivência inesquecível nas montanhas e nas cidades históricas
foram fundamentais para a realização desta investigação científica.

3 A fenomenologia da Percepção de Merleau-Ponty

Sobre a fenomenologia, Merleau-Ponty (1971) considera que é o “[...] ensaio de uma


descrição direta de nossa experiência tal como ela é, sem nenhuma consideração com sua
gênese psicológica e com as explicações causais que o sábio, o historiador ou o sociólogo
podem fornecer dela [...]” Trata-se de uma filosofia que tem como foco os fenômenos e não
somente análises que podem ser feitas deles.

“O mundo está aí antes de qualquer análise que eu possa fazer dele e seria artificial
fazê-lo derivar de uma série de sínteses que religariam as sensações, depois os
aspectos perspectivos do objeto, ainda que umas e outras sejam justamente os
produtos da análise e não devam ser realizadas antes dela” (MERLEAU-PONTY,
1971, p. 8).

Descartes, por meio de seu método da dúvida, concluiu que pensava, logo existia
(cogito ergo sum). Ao colocar à prova o mundo que o cercava, os pensamentos se
apresentaram com a única possibilidade de garantia de sua facticidade. Haveria, assim, um
mundo interno, feito de pensamentos, em contraposição a mundo externo, feito de coisas e
pessoas. Entretanto, este mundo exterior, não seria diretamente acessível. Não haveria sentido
nas coisas por si próprias, mas apenas pensamentos sobre elas. O mundo, neste caso, seria o
que pensamos dele.

O Cogito desvalorizava a percepção do outro, me ensinava que o Eu não é acessível


senão a si mesmo, posto que me definia pelo pensamento que tenho de mim mesmo
e que estou evidentemente só em tê-lo, pelo menos neste sentido último
(MERLEAU-PONTY, 1971, p. 10).

A esta forma compreender a existência, Ponty chamou de visão intelectualista. Em


aparente oposição a esta compreensão, está o empirismo, ligado à ciência clássica. Por esta
perspectiva, o mundo e as coisas têm um sentido inerente, independentemente do humano. Ao
investigar uma pedra, o cientista descobre seu peso, sua composição mineral e até sua idade.
Para esta parte da ciência, as características da pedra existem independente da percepção. É
realmente muito convincente a ideia que uma maçã tem o mesmo peso e a mesma composição
biológica em qualquer lugar da Terra e que estas características podem ser mensuradas por
outros cientistas. No entanto, para os namorados, uma maçã pode significar amor, assim como
para os fãs de Woody Allen, pode representar Nova York. Esta abordagem subjetivista
contribui para mostrar que um fenômeno não pode ser compreendido de forma integral. A
ciência não seria, portanto, a visão de todos os ângulos e nem a visão de ângulo nenhum. Ela é
sempre um ponto de vista. Para Ponty, esta conclusão não diminui sua importância, apenas
relativiza suas verdades. Por ser feita por rigorosos métodos científicos, ela pode ser
verificada por muitas pessoas, o que a torna uma visão coletiva e compartilhada, que tem sua
relevância. O mesmo pode ser dito sobre a filosofia. Já a arte, diferentemente, pode trazer
verdades pessoais, na medida em que a criação apresenta mundos infinitos. Neste caso, uma
das relevâncias da arte seria exatamente propor novas interpretações.

O intelectualismo e o empirismo parecem apresentar concepções antagônicas. Segundo


Ponty (1971, p. 72) “[...] enquanto o corpo objetivo tornava-se um exterior sem interior, a
subjetividade tornava-se um interior sem exterior, um espectador imparcial.” De um lado, o
mundo subjetivo existiria apenas como ideias sobre as coisas. Por outro, o mundo objetivo
seria formado por objetos, com sentidos inerentes, independentemente de qualquer
interpretação. Para Ponty (1971, p.16), “[...] a mais importante aquisição da fenomenologia é
sem dúvida ter unido o extremo subjetivismo e o extremo objetivismo em suas noções do
mundo ou da racionalidade.” Não, por meio desta compreensão, como delinear separações
claras entre o ‘fora’ e o ‘dentro’. A percepção humana se dá por meio de um engajamento
intencional e corpóreo no mundo, que coloca as pessoas sempre situadas, tanto no espaço
quanto no tempo. Há uma coemergência entre ‘as ideias sobre o mundo’ e ‘o mundo sobre as
idéias’. O mundo surge com as pessoas. Não o mundo que estava aí antes do ser humano, mas
o mundo percebido. Assim, o cogito de Ponty (1971) permite a existência do outro, embora
indissociável do eu e do mundo. Em outras palavras, juntos, em movimento intencional,
situados, percebemos e, logo, existimos. Embora haja individualidade, não é possível traçar
linhas divisórias precisas entre as pessoas e a paisagem.

Na percepção, não pensamos no objeto e não nos pensamos como pensante, estamos no
objeto e nos confundimo-nos com este corpo. Nesta camada originária do sentir que se
encontra na condição de coincidir verdadeiramente com o ato da percepção e de abandonar
a atitude crítica, vivo a unidade do sujeito e a unidade intersensorial da coisa. (MERLEAU-
PONTY, 1971, p. 244).

A corporeidade também é fundamental para a fenomenologia da percepção e, portanto,


para uma investigação de cunho fenomenológico. “O corpo é o veículo do ser no mundo, e ter
um corpo é para uma pessoa viva juntar-se a um meio definido, confundir-se com alguns
projetos e engajar-se continuamente neles (MERLEAU-PONTY, 1971, p. 94)”. Não é
possível haver uma separação entre corpo e mente, pois esta se sustentaria apenas a partir de
uma visão objetiva, de quem observa o corpo exteriormente, ou partir de uma visão subjetiva,
que compreende a mente interiormente. O ato perceptivo é realizado por um corpo integral,
que sente, pensa e age no mundo. Segundo Ponty (1971, p. 158), “no corpo, aprendemos a
conhecer esse nó da essência e da existência que reencontraremos em geral na percepção.” O
ato perceptivo é, portanto, o que une o eu-outro-mundo, de um só golpe. “O corpo próprio
está no mundo como o coração no organismo: ele mantém continuamente em vida o
espetáculo visível, ele o anima e o nutre interiormente, forma com ele um sistema
(MERLEAU-PONTY, 1971, p. 210).”

4 A percepção ambiental de Tim Ingold

O antropólogo inglês Tim Ingold (2000) traz relevantes contribuições à epistemologia


ecológica, aprofundando o diálogo entre a fenomenologia da percepção, a psicologia
ecológica de Gibson (1979), a antropologia, a biologia, propondo assim a ecologia da vida. A
obra de Ponty é tomada por ele como referência na construção de seu conceito de percepção
ambiental. Seu trabalho foi também fortemente influenciado pela psicologia ecológica de
Gibson (1979), chamada de percepção visual. Para esse autor, percepção é um processo ativo
e exploratório de recolhimento de informação realizado pelo ser como um todo – mente e
corpo – no ambiente. Aquele que percebe é um agente que, propositadamente, procura
informação e significado no ambiente. Para que esse processo ocorra, é necessário olhar,
ouvir, degustar, tocar e cheirar. As informações existentes são inesgotáveis e as formas de
interpretá-las também. O modo como as pessoas percebem as coisas é influenciado pela
cultura e reflete-se na forma de agir. Para o autor, aprender não é transmissão de informação,
mas educação da atenção.

A fenomenologia, representada, sobremaneira, pelo trabalho de Merleau-Ponty (1971),


também considera o organismo no engajamento prático, no seu ambiente, como ponto de
partida. Ingold (2000) avançou em certos pontos mais do que o trabalho de Gibson (1979),
que considerava o ambiente como relativamente permanente, ou seja, suas possibilidades já
estariam dadas antes mesmo de os organismos viverem nele. Ao contrário, para a
fenomenologia, o mundo surge com suas possibilidades na medida em que surgem as pessoas.
Nesse sentido, não é possível pensar uma separação precisa entre eles.

O trabalho de Ingold (2000) é motivado pela questão sobre o porquê de pessoas


advindas de diferentes contextos, colocadas em um mesmo ambiente, diferenciarem-se no que
fazem com as possibilidades desse ambiente. Trata-se, portanto, de uma pergunta
antropológica. Esta constatação foi exemplificado por Boullón (2002) da seguinte forma:

[...] Um turista que, depois de uma nevada, passeia por uma trilha que cruza um
campo cultivado, e conforme avança vai descobrindo muitas coisas que chamam sua
atenção, como os reflexos da luz no chão ou as formas da neve nos galhos das
árvores próximas de uma área semeada. Sem dúvida, ele verá a paisagem de maneira
diferente de um camponês que cultivou essa terra, que só vê na neve um fator
adverso que arruinará sua colheita. É possível que, simultaneamente, um vendedor
ambulante ou um aldeão só percebam o frio e uma profunda sensação de incômodo e
de rejeição para com a neve que dificulta seu percurso (BOULLÓN, 2002, p. 120).

Para muitos antropólogos esse fato acontece por causa das variações culturais das
pessoas, mas, para o Ingold (2000), acontece por causa de variações de habilidades que são
desenvolvidas e incorporadas ao organismo humano por meio da prática e do treinamento em
um determinado ambiente. Habilidades são as capacidades de ação e percepção do indivíduo
como um todo – mente e corpo – situado em um ambiente de estrutura complexa. Elas são
tanto biológicas quanto culturais e não são transmitidas de geração em geração, mas são “re-
desenvolvidas” e incorporadas em cada organismo humano, em desenvolvimento, por meio da
prática de tarefas específicas. O estudo dessas habilidades necessita que o praticante seja
situado no contexto de um ativo engajamento com o seu ambiente. O autor entende que
organismo e ambiente se desenvolvem mútua e constantemente.

Ao fazer uma discussão sobre como o conhecimento é passado de geração em geração e


como é o funcionamento deste processo, Ingold (2000) argumenta que a simples transferência
de informação não é suficiente para que esse processo ocorra. Informação não é sinônimo de
conhecimento. A capacidade de aprender está relacionada à capacidade de situar tais
informações e de entender seus significados por meio da percepção do ambiente. O
desenvolvimento dessa capacidade é feito pelo contato direto com as coisas, seja ele pela
visão, tato, olfato, paladar ou audição. O conhecimento é passado de uma geração à outra por
meio de pistas que, segundo o autor, tratam-se de marcos que condensam um conjunto de
experiências em uma orientação única que abre o mundo para a percepção em profundidade.
Nesse sentido, pistas são chaves para a percepção e, quanto mais chaves uma pessoa tem,
maior sua percepção do mundo. É por meio da aquisição progressiva de tais chaves que as
pessoas aprendem a perceber o mundo a sua volta. Cumpre ressaltar que as chaves auxiliam
as pessoas a descobrirem o significado pessoal dos componentes do ambiente e não
decodificam a realidade para estas pessoas.

Na tentativa de colaborar para o entendimento desse processo de interdependência e


coemergência do ‘mundo exterior’ e do ‘mundo interior’, Ingold (2000) dedica parte de seu
trabalho ao estudo dos sentidos da visão e da audição, bem como sua relação com o
movimento humano. Ao revisar estudos realizados pela antropologia dos sentidos, este autor
afirma haver uma tradição no ocidente em estabelecer um forte contraste entre a visão e
audição. Segundo ele, o argumento utilizado é de que o som penetra e a visão isola, que o
mundo auditivo é dinâmico e o mundo visual estático, que ouvir é participar enquanto ver é
observar a distância. Sob essa perspectiva, visão e audição seriam opostos e trabalhariam
isoladamente. Outra tradição é o entendimento de que a visão é hegemônica no ocidente,
como se fosse privilegiada em relação aos outros sentidos.

A partir da complexidade perceptiva e da constante variação da imagem ambiental, os


nossos sentidos também são afetados de várias formas. Em um ambiente onde a capacidade de
mudança é muito grande, a visão, sem dúvida, é o sentido mais utilizado. (ADDISON, 2003,
p.38) Mais uma vez, Ingold (2000) constrói sua argumentação em outro sentido. Mas, antes
de expor seus argumentos, faz-se necessário explicar mais alguns aspectos do entendimento
de Gibson (1979) sobre percepção. Para esse autor, é preciso parar de pensar os sentidos como
meios da informação chegar à mente, pois, nesse caso, restaria a ela realizar apenas cálculos.
Boullón (2002, p. 154), por exemplo, é um dos autores que entendem a percepção dessa forma
e argumenta que o [...] humano percebe a paisagem por meio de seus sentidos e que, por este
canal, os estímulos, que eles captam, chegam ao cérebro [...] Na consciência, as sensações se
registram em forma de imagens que depois o pensamento assimila, dissipa, penetra, dissocia,
recompõe e elabora.

Portanto, sob esse ponto de vista, a mente trabalharia separadamente dos sentidos,
apenas registrando as informações captadas por eles no ambiente. Para Gibson (1979),
baseado em Ponty, percepção não se trata de uma mente funcionando como um computador
em um corpo. Percepção é direta e trata-se de uma atividade exploratória de um organismo no
ambiente. O autor diz ser errado pensar os olhos, as orelhas e as superfícies sensitivas da pele
como simples locais onde se situam células receptoras que estão conectadas ao cérebro. Ao
contrário, eles devem ser entendidos como partes integrais de um corpo que está
continuamente em movimento, ativamente explorando o ambiente em busca de sobrevivência
no mundo.

Gibson (1979) defende que os sentidos não funcionam separadamente. Os olhos, por
exemplo, assim como as orelhas, fazem parte da cabeça que, além de se movimentar, está
acoplada a um corpo que também se movimenta. Quando uma pessoa se vira para ouvir algo
que chamou sua atenção, obrigatoriamente os olhos se movimentam junto com a cabeça e
com o corpo, todos fazendo parte do mesmo processo de percepção. Portanto, olhar, escutar e
tocar não são atividades separadas, elas são diferentes partes da mesma atividade que é a do
organismo como um todo no seu ambiente.

Para Gibson (1979), visão, assim como audição e tato, ocorre ao longo do tempo porque
uma pessoa percebe um objeto passando os olhos por ele, como se fosse o toque das mãos. As
formas desse objeto são percebidas no decorrer de um movimento. Assim, visão passa a ser
também uma forma de participação e não um ato passivo como entendido pela antropologia
dos sentidos.
Uma vez expostos importantes aspectos do entendimento de Gibson, Ingold (2000)
utiliza a experiência de cegos e de surdos para a construção de sua argumentação. Segundo
ele, é preciso superar o entendimento de que a audição é temporal e a visão espacial. Embora
haja o argumento de que a audição é suspendida ao longo do tempo porque os sons emitidos
não podem mais ser ouvidos, o autor utiliza o exemplo do cego e da chuva dado por Hull
(apud INGOLD, 2000) para contradizer tal argumento. As gotas d’água, por serem percebidas
não de um único ponto, mas de todo o ambiente, revelam os detalhes da superfície em que
caem.

A experiência do cego se torna também espacial na medida em que a chuva produz


uma experiência acústica contínua. Ela “[...] proporciona ao cego o que o sol
proporciona a quem enxerga, banha o mundo em som assim como o sol o banha em
luz” (INGOLD, 2000, p.271, tradução do autor).

Ao pesquisar a experiência dos surdos, Ingold (2000) afirma que as pessoas também
ouvem com o corpo e com os olhos. Segundo o autor, elas sentem em toda a superfície do
corpo a vibração produzida pelos sons e conduzida através do ar. Essa forma de audição é
muito importante para a percepção dos cegos, mas também é utilizada por aqueles que
enxergam e, muitas vezes, passa despercebida.

Dando prosseguimento ao seu argumento, Ingold (2000) escreve sobre a capacidade de


intercâmbio entre a percepção visual e auditiva: Se a audição é um modo participativo de
engajamento com o ambiente [...] é porque as pessoas ouvem com os olhos e também com as
orelhas. É exatamente a incorporação da visão no processo da percepção auditiva que
transforma a audição de passiva em ativa. [...] É também a incorporação da audição no
processo da percepção visual que converte um passivo espectador em um ativo observador.
(INGOLD, 2000, p.277, tradução do autor).

Ingold (2000), concordando com Gibson, chega à conclusão de que os olhos e as


orelhas não funcionam como mecanismos separados para registrar as sensações, mas são
partes do corpo como um todo, no ambiente. Para o autor, a atividade de percepção consiste
no movimento desse corpo e a qualidade da experiência, seja luz ou som, é intrínseca ao
movimento dele, ao invés de ser entendida pela mente depois da informação ter chegado a ela.
Tanto para Ponty, quanto para Ingold, os sentidos não são, portanto, veículos da percepção e
não funcionam como captadores de informações da paisagem. Eles são indissociáveis entre
eles e também do ato perceptivo, que é tanto reflexivo quanto pré-reflexivo

5 A Educação ambiental nas viagens de bicicleta

Segundo Ponty (1971), a percepção se dá movimento intencional do corpo no mundo,


Um turista, em determinada região, percebe seu entorno por meio da influência dos meios de
transporte que utiliza para viajar. Neste estudo, buscou-se realizar uma discussão sobre os
aprendizados dos cicloturistas, por meio de suas experiências em viagem de bicicleta. Este
meio de transporte pode proporcionar uma forma especificamente intensa de perceber o
ambiente por causa das características de seu movimento como sua baixa velocidade, ausência
de barulho de motor e trabalho físico do corpo. Um cicloturista, ao percorrer os mais variados
tipos de vias, tem a oportunidade de degustar, ouvir, cheirar, ver e sentir intensamente a
paisagem. A experiência, aqui relatada pelos próprios viajantes, apresenta-se como uma
maneira peculiar de vivenciar o ambiente, interagir com as pessoas que nele habitam,
aprender sobre a região e descansar da vida cotidiana. A percepção das pessoas é também
diretamente influenciada pelo ambiente percebido. Uma grande cidade, uma serra ou uma
praia oferecem elementos e possibilidades diferentes para quem os percorre. Neste artigo,
trabalhou-se a percepção dos cicloturistas nas montanhas da Estrada Real, onde percorreram
suas serras, rios, matas e cerrados; suas pequenas cidades, distritos e vilas. Estas experiências
apontaram ricos aprendizados e novas possibilidades pedagógicas, em contraposição à
educação bancária. Segundo Carvalho e Steil (2009, p. 90):

Apropriando-se da contribuição de Gibson (1979), Ingold vai compreender a


aprendizagem como um processo ligado ao modo como habitamos o mundo, que se
realiza por meio da educação da atenção. Assim, a aprendizagem se torna
inseparável da vida da pessoa no mundo e se estende por a sua toda a vida em
interação com os seres que habitam a mesma paisagem.

Esta compreensão foi fortemente influenciada pela fenomenologia da percepção de


Ponty (1971), que defende a não separabilidade entre corpo e mente, bem como entre humano
e natureza. A percepção se dá pelo engajamento intencional no mundo por meio da
corporeidade. A viagem possibilita aos cicloturistas uma intensa interação com o ambiente e,
por isso, geram aprendizados intensos. A bicicleta não tem teto, janelas ou o barulho do motor
que os distanciem do seu entorno. Ela os obriga, de forma prazerosa, a sentir a neblina do
amanhecer, o calor do meio dia, a chuva da tarde e o frio da noite; a ver o relevo, a fauna, a
flora e as pessoas; a ouvir os rios, os pássaros, as músicas dos quintais e os centros das
cidades; a degustar a poeira da estrada, o suor do rosto, o pastel da venda, o feijão feito na
hora e a carne de panela bem temperada. Ao contrário da pedagogia bancária, não há, nestas
viagens, separação de saberes e muito menos quatro paredes cinzas que afastam o aprendiz do
mundo e seus sentidos.

Segundo o viajante Francisco Marcos 2, viajar de bicicleta é perceber o mundo de “[...]


um ângulo diferente, é ter um outro ponto de vista.” O fato da percepção se dar por meio do
movimento e da qualidade da experiência, assim como afirma Ingold (2000), explica o porquê
da bicicleta proporcionar uma forma de perceber diferenciada. O seu movimento é um mais
veloz que andar a pé e mais lento que veículos motorizados. O corpo precisa trabalhar em
constante diálogo com aspectos do ambiente, como o terreno, o relevo e clima. Nas descidas,
é possível observar a paisagem ao redor. Nas subidas, este corpo ampliado, ou seja, ciclista e
bicicleta, se tornam unidade e precisam de movimentos concentrados e precisos para ganhar
as serras. Nas retas, o coração desacelera com o vento no rosto. Nota-se, portanto, que a
percepção está intimamente ligada à forma como nos locomovemos pela paisagem.

A intensa interação entre os cicloturistas e o ambiente faz com que se divirtam,


descansem, conheçam lugares novos, estejam com os amigos e se aventurem. Algumas dessas
diferenças foram bem captadas na fala de um entrevistado. De acordo com o viajante João
Batista, “a percepção é bem diferente de um carro. Há uma interação com o ambiente. Eu
sinto o frio, o calor e o vento. Converso com as pessoas. Eu paro para ver o pássaro ou para
qualquer outra coisa interessante. De bicicleta, fico livre e focado no ambiente.”

A energia que movimenta a bicicleta é a do próprio viajante. Nas palavras de um


cicloturista entrevistado, “as distâncias são vencidas pelo próprio esforço.” Além de ser um
motivo de orgulho por parte dos cicloturistas, percorrer paisagens com o próprio esforço faz
com que a percepção aconteça de forma intensa. Uma serra não é somente percebida por um
mirante ou pela janela de um ônibus, mas na medida em que cada metro é percorrido
lentamente. De bicicleta, é preciso pedalar para se aproximar, subir, descer e distanciar-se
dela. Um terreno arenoso, por exemplo, necessita de um esforço maior do que uma estrada de

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Todos os entrevistados autorizaram a utilização de seus nomes verdadeiros. Mesmo assim, de acordo com a
orientação do Comitê de Ética da Plataforma Brasil, preferimos utilizar apelidos inventados para a apresentação
das opiniões aqui nesta investigação.
terra batida e faz com que o cicloturista perceba, nos músculos, as variedades de solo. A
paisagem, assim como afirma Ingold (2000), é incorporada pelas pessoas ao longo dos
percursos. As subidas não são apenas observadas no conforto do banco de um carro, mas
apreendidas pelo músculo. É por isso que estes viajantes são capazes de lembrar detalhes dos
caminhos percorridos anos depois das experiências. Já na sala de aula, os estudantes fazem
questão de esquecer as informações decoradas logo após o término da prova final.

Segundo um cicloturista entrevistado, a viagem nunca é monótona porque “a mudança


de paisagem acontece o tempo inteiro.” Em um mesmo dia, é possível pedalar por cidades,
matas, campos e fazendas. A velocidade média da bicicleta faz com que a paisagem se
apresente em um lento movimento que, segundo outro entrevistado, torna sua percepção mais
apurada, ao perceber “[...] as coisas com maior riqueza porque teve tempo de analisar nos
mínimos detalhes [...]” Dessa forma, ao mesmo tempo em que a paisagem muda
constantemente, suas características são percebidas em baixa velocidade.

Para Ingold (2000), a percepção se dá por meio da utilização dos sentidos de forma
indissociável e do movimento do corpo no ambiente. De bicicleta, o corpo, ativo por causa do
exercício físico constante, contribui para condicionar a percepção do viajante. Ao relatarem
suas percepções ambientais, os cicloturistas descreveram diversos momentos do
funcionamento do corpo ao longo das horas e horas que pedalaram. André relatou o seguinte:
“O esforço físico e a adrenalina ativam a sensibilidade do corpo em vários sentidos.

Quando você está trabalhando os músculos, você trabalha a percepção. Sente na pele o
tato. Se chover, molha. Se fizer sol, queima. Se fizer frio, sente o frio.” (HENRIQUE) Em
muitos momentos, a concentração do viajante se volta para a respiração com o intuito de
otimizar o esforço físico. Segundo Bruno, “[...] a respiração em cima da bicicleta ativa
funções cerebrais e deixa o corpo mais ativo [...]”, perceptivo. Henrique disse que “o olfato
fica mais aguçado por que o pulmão funciona a todo vapor [...]”, deixando entrar e sair mais
ar. Ronaldo percebe que, “com o pulmão mais aberto e o vento constante, o corpo inala muito
oxigênio e os odores são mais absorvidos, possibilitando sentir melhor os cheiros do
ambiente.”

A bicicleta, ao proporcionar ao cicloturista um movimento diferenciado com relação à


sua velocidade, faz com que o ambiente da viagem seja percebido de forma singular. Muitos
entrevistados fizeram essa correlação entre a velocidade e a percepção. Para eles, o
movimento proporcionado pela bicicleta faz com que o ambiente seja percebido de forma
intensa, o que pode ser exemplificado pelas palavras de Artur, ao dizer que [...] A baixa
velocidade da bicicleta proporciona uma maior percepção das coisas. A gente vê até a
borboleta voando do seu lado, ouve o barulho da água e dos pássaros. Ao trazer o conceito
antropológico de educação da atenção à fenomenologia, Ingold (2000) argumenta que as
habilidades são centrais para a compreensão de como as sociedades constroem seus olhares,
sentidos e relações com as paisagem. Para ele, habilidade são tanto culturais quanto
biológicas. Elas não são aprendidas apenas pela transferência de informações, mas re-
desenvolvidas. Enquanto na sala de aula a prioridade é a quantidade de conteúdo a decorar,
nestas viagens, re-desenvolve habilidades do ser engajado no mundo.

Durante a viagem, a velocidade da bicicleta se altera constantemente ao longo do


percurso porque os diferentes terrenos e relevos proporcionam mobilidades diferentes. Uma
íngreme descida de asfalto pode levar os cicloturistas a velocidades maiores que 70 km/h.
Segundo um cicloturista entrevistado, “quando a velocidade é alta, o vento é forte e a audição
fica quase nula. É preciso prestar muita atenção na estrada.” Outros cicloturistas relataram que
as descidas de serra são bons momentos para descansar, alinhar a coluna, deixar o vento bater
no peito, relaxar e admirar o entorno. A temporalidade é outro fator importante para a
compreensão da percepção fenomenológica de Ponty (1971). O tempo é indissociável do
espaço e, principalmente, de quem o percebe. Nas cidades, o relógio industrial comanda a
vida das pessoas e ajuda a criar a ilusão de um tempo natural, que existiria independente das
pessoas. Nestas viagens, a velocidade média a dez por hora, influencia a percepção e faz com
que os ciclistas compreendam o passar do tempo de forma diferente do cotidiano. A paisagem
passa junto com o tempo e parece que cada momento é experimentado com presença e
atenção plena, ou seja, com a intenção da mente junto ao corpo.

As montanhas fazem parte de toda a rota da Estrada Real e também da experiência dos
cicloturistas que pedalaram pela região. Muitos relataram que não há um só dia em que não
seja preciso subir uma serra. Para eles, as serras não são problemas, mas enriquecem a
viagem: “As pessoas me colocavam a serra (do espinhaço) como obstáculo, mas não vi a serra
dessa forma. A vontade de subir era grande. Eu poderia subir 3 vezes. Eu gosto de passear em
lugares bonitos. A serra é linda. Para mim, subir a Serra foi um presente de Deus.”
(ÂNGELO) Para Fátima, “o Espinhaço (Serra) é muito especial: os bichos, as samambaias, as
matinhas com borboletas, os macacos. Até o cheiro da canela de ema quando queima é
maravilhoso.”

As serras também possibilitam ampla visão do entorno. As bicicletas, diferentemente


dos carros ou dos ônibus, não precisam fazer com que os cicloturistas parem em mirantes para
apreciar com liberdade de movimento as vistas. Durante todo o ato de pedalar, é possível girar
o tronco ou a cabeça para apreciar detalhes da imensidão de montanhas. Os viajantes podem
também modificar levemente o traçado da bicicleta para observar melhor um lado ou outro da
paisagem. O aprendizado sobre o relevo é muito grande, assim como pode ser observado
pelas palavras de um viajante:

Eu estava em uma montanha chamada Morro Redondo. Dava para ver a Serra do
Caraça ao Sul, onde passei no dia anterior. À esquerda, dava para ver a Serra dos
Alves e Cabeça de boi, onde passaria perto, um dia depois. Dava para ver também a
montanha perto de Itambé (do Mato Dentro) em que passaria no mesmo dia.
(AROLDO)

O barulho do atrito do pneu nos terrenos é também uma forma de percebê-los. Cada tipo
de estrada proporciona um barulho diferente. Segundo Daniel, o cicloturista “[...] percebe
muito o chão: a poeira, a lama, a terra branca ou vermelha. Os barulhos são diferentes. O chão
é muito importante para o rendimento da viagem. É preciso estar muito atento a ele.”

Os cicloturistas relataram muitos encontros com animais, durante as viagens. Para eles,
a velocidade da bicicleta e sua baixa emissão de ruídos fazem com que os animais não tenham
tempo de fugir. Ao longo de uma trilha que percorreu na Serra do Cipó, Leonardo contou que
viu um esquilo e um macaco, animais que não veria de carro. Artur, o seu companheiro de
viagem, disse que “[...] nem sabia que existia esquilo na região [...]” e completou: “[...] a
facilidade de ver os animais é muito grande, e a de parar a bicicleta para observar também.”
Outro cicloturista relatou com entusiasmo que um dia viu um gato do mato preto e grande
que, segundo ele, parecia uma oncinha. Em um alto de serra, Uirá e Ricardo relataram que um
enxame de abelhas os atacou. Ser picado por abelhas é também uma intensa forma de
perceber o ambiente e sua fauna.

Enquanto os professores das salas de aulas da pedagogia bancária se mostram fatigados


e adoentados com a falência deste modelo de educação, muitos deles juntam parte de seus
salários para viajar no final de ano. O anúncio das férias é tão feliz para os estudantes quanto
para os mestres. Por meio das mais variadas formas de viajar, as pessoas estão encontrando
novos sentidos à vida. No movimento em paisagens distintas e sem a pressão do cotidiano, as
pessoas se abrem ao novo, comem comidas diferentes e dançam novas músicas. Diante destas
características existenciais das viagens, os cicloturistas se atiram na paisagem, vulneráveis ao
clima, percorrendo cidades, vilas, trilhas, campos rupestres e matas. Estes corpos, num
movimento intencional no mundo, com abertura ao novo, por meio das emoções, mas também
por meio de uma refinada interdependência entre os sentidos, percebem intensamente a
paisagem que os criam, mas que também é criada por eles, num só golpe perceptivo. Se por
um lado Ponty (1971) sedimentou um caminho filosófico à indissociabilidade entre eu-outro-
mundo, Ingold avançou nesta compreensão aprofundando o diálogo entre a antropologia, a
biologia, a psicologia e a geografia. Por certo, em busca da superação das crises na sociedade
e na educação, as viagens de bicicleta, sob a luz da fenomenologia, apontam alternativas
pedagógicas relevantes e merecem ser mais refletidas pelos pesquisadores, professores e
estudantes.

Referências

ADDISON, Ester Eloisa. A percepção ambiental da população do município de Florianópolis


em relação à cidade. 2003. 152 f. Dissertação de Mestrado (Engenharia de Produção) –
Universidade Federal De Santa Catarina, Florianópolis, 2003.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 6a edição. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.

BOULLÓN, Roberto C. Planejamento do espaço turístico. Bauru: EDUSC, 2002.

GIBSON, James J. The ecological approach to visual perception. Boston: Houghton


Mifflin, 1979.

INGOLD, Tim. The Perception of the Environment: essays in livelihood, dwelling and skill.
Abingdon: Routledge, 2000.

ISABEL, Carvalho; STEIL, Carlos. O habitus ecológico e a educação da atenção:


fundamentos antropológicos para a educação ambiental. In: Revista Educação e Realidade.
P. 81 a 94. Porto Alegre, 2009.

MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da percepção. Rio de Janeiro: Freitas Barros,


1971.

RESENDE, Júlio. Cicloturistas e suas percepções ambientais: um estudo na Estrada


Real. Defesa em: 22/10/08. 141 folhas. Dissertação – UNA Minas Gerais. Belo Horizonte,
2008.

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