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Nícolas Nemitz Moura - instrumento 1º ano

Resenha
Marcos Napolitano, História & Música, capítulo 1: A Constituição de uma forma musical e de
um campo de estudos

O autor se inicia mostrando as origens e os propósitos da música popular


Ocidental, sendo ela proveniente da urbanização, a música feita para dançar, resgatando
traços da música erudita e da folclórica. A música popular surgiu como meio de
aumentar o consumo da mesma pelas massas, entretanto criou a relação “erudito versus
popular” que é a base de discussão no texto desse capítulo. Essa dicotomia, como o
autor cita, nasceu em função das tensões sociais, entre as classes burguesas e as classes
baixas, algo que mostra que não até nas artes existe essa banalização daquilo que não se
remete à burguesia.

É apresentado um esboço de Richard Middleton sobre uma linha histórica da


música popular, entretanto fica difícil se traçar uma linha histórica totalmente
panorâmica em um espaço onde há tantas culturas divergentes entre si, diferentemente
da realidade europeia. O autor sugere que se deve buscar a superação das dicotomias
entre erudito e popular, mostrando padrões de classificação da música popular, que são
totalmente superficiais e não traduzem seu propósito e importância.

Mesmo com grande preconceito da elite, a música popular começa a ser levada a
sério e começa a mais pesquisada e desenvolvida, mesmo sendo grande alvo dos
críticos. Esse desgosto pelo gênero nas comunidades europeias se da ao fato de que na
Europa a música erudita tem grande apreço por todas as massas populares,
diferentemente da América. Então são citados diversos estilos de musica popular de
várias regiões diferentes, e essas começam a ser difundidas pelo mundo mais apreciadas
e são desenvolvidas ganhando maiores variedades rítmicas e timbrísticas, agradando
inclusive compositores da área erudita, o que leva a criação de mais estilos de música
popular.

Neste ponto a música popular já havia conquistado grande parcela da população


uma identidade própria com seus estilos e técnicas próprias, e ainda assim se utilizando
de elementos da música erudita. Então a música popular começou a ser usada como
meio comercial, devido ao fato de agradar grande parte da população por ser uma
música de mais fácil compreensão que a erudita, se tornando uma música de mercado, o
que fez com que Theodor Adorno produzisse a primeira reflexão a respeito disto.

O texto apresenta brevemente a visão de Adorno com relação à música popular


no mercado, e mostra que ele não era um simpatizante desta prática musical, dizia que
esta música seria um reflexo do capitalismo. Este é um posto de vista um tanto quanto
superficial, observando música popular num conceito geral, mas se analisarmos as obras
bem trabalhadas deste gênero notamos que há uma complexidade e sofisticação tanto
nesta quanto na música erudita.

Entretanto Adorno não se baseia em observações superficiais ou empíricas, dizia


que a produção desta “música de mercado” significava a morte da apreciação e, não o
ouvinte, mas sim da audição musical. Isto se deve ao fato de que eram produzidas
músicas que gerassem um gosto padronizado na sociedade e não mais um gosto
individual, e para isso criavam músicas de “fácil entendimento”, diferentemente das
obras eruditas que necessitavam ampla reflexão e análise para seu entendimento por
completo. Criava-se então “moldes” para músicas para que então se tornassem objetos
de venda.

É errôneo dizer que Adorno atacava a música popular comercial e defendia a


música erudita, pois dizia que a mesma seria também utilizada como um produto, mas
para a alta sociedade, sendo vista como um artigo de luxo reservada à burguesia. Mas
ainda assim podem-se notar opiniões hoje consideradas preconceituosas do autor com
relação à música popular, pois dizia que esta seria alienante, tornando a cultura um
complemento da ideologia do capitalismo monopolizante.

Após as teses de Adorno, outros estudiosos se deram suas posições a respeito do


tema. Isso gerou uma teoria de “subculturas”, para que então a música não fosse
analisada com base nas classes sociais dos ouvintes, mas sim no gosto generalizado de
grupos da população. Não se analisava mais os gostos a partir de posições
socioeconômicas, mas sim pela influência que a indústria e o comércio exercem sobre a
massa. Isso porque as pessoas eram então induzidas ou influenciadas a ter um gosto em
comum, independente de seu poder aquisitivo, pois a própria música de concerto havia
sido posta como algo elitizado, restrito as classes mais pobres.

Com o passar do tempo os valores da música popular e erudita se aproximaram


cada vez mais, com a ajuda de gravadoras que produziam LP’s de MPB, ou outros
gêneros, com seus cantores acompanhados por grandes orquestras, e cada vez buscava-
se mais a instituição de um som standard, que atinja a todos. Logo o a posição social do
indivíduo não era mais um parâmetro para se identificar os gostos musicais.

Este período após as teses de Adorno que é citado nesse capítulo do livro mostra
a tentativa de fugir dos preceitos do filósofo alemão buscando uma análise do ouvinte
de maneira mais imparcial e individualista, gerando também um problema que seria a
criação de uma metodologia extremamente complexa para buscar os gostos musicais de
parcelas da população. E no final do capítulo o autor cita uma situação presente até os
dias atuais e que contrapõe uma visão de algumas décadas atrás, onde temos uma
musica popular muito mais enraizada e estruturada com padrões e estilos, do que a
música erudita aqui produzida.

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