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A Imaculada Conceição

Autor: Anônimo
Fonte: A Catholic Response Inc. (http://users.binary.net/polycarp)
Tradução: Carlos Martins Nabeto

- "Pois Ele olhou para a humildade da Sua serva; eis que doravante todas as
gerações me chamarão de bem-aventurada. O Poderoso fez em mim maravilhas; Santo é o
Seu nome" (Lucas 1,48-49).

* * *

A doutrina da Imaculada Conceição é uma das doutrinas mais difíceis para os não-
católicos aceitarem. Muitas vezes, é mal-compreendida. Às vezes é confundida com a
concepção virginal de Jesus. Alguns enxergam isso como glorificar Maria ao nível de
uma deusa. Outros acreditam que isso contradiz a Bíblia. Outros ainda, afirmam que
é uma doutrina humana, já que foi o Papa Pio IX quem a definiu em 1854.

De acordo com o Catecismo da Igreja Católica (CIC):

- "Ao longo dos séculos, a Igreja tomou consciência de que Maria, "cheia de graça"
por Deus (Lucas 1,28), foi redimida desde a concepção. E isso que confessa o dogma
da Imaculada Conceição, proclamado em 1854 pelo papa Pio IX: 'A beatíssima Virgem
Maria, no primeiro instante de sua Conceição, por singular graça e privilégio de
Deus onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano
foi preservada imune de toda mancha do pecado original'" (CIC 491).

Deus nos chama para sermos Seus filhos adotivos e compartilhadores da vida eterna
(cf. Romanos 8,12-25). A graça é a ajuda gratuita e imerecida que Deus nos dá para
responder ao Seu chamado (cf. CIC 1996; 1Coríntios 15,10). Em particular, a graça
santificadora é um presente de Deus que aperfeiçoa a nossa alma, para que possamos
viver com Ele e agir por Seu amor (cf. CIC 2000; Tito 3,7). Por outro lado, o
pecado é a nossa rejeição a Deus e ao Seu chamado, por desobediência voluntária
(cf. CIC 386; Romanos 6,11-23), enquanto o pecado original é a nossa perda original
da graça santificadora, devido ao pecado de Adão (cf. CIC 396-421; Romanos 5,12-
21). A Imaculada Conceição de Maria é um presente especial de Deus, por preservá-la
do pecado e da concupiscência (a inclinação para o pecado) originais. Maria teve
sempre graça santificadora. Por graça de Deus, ela permaneceu livre de todos os
pecados pessoais, por toda a sua vida (cf. CIC 493).

Alguns cristãos podem afirmar que esta doutrina faz de Maria uma deusa. De alguma
forma, essas pessoas confundem "impecabilidade" com "divindade". Adão e Eva eram
criaturas humanas, mas sem pecado antes da Queda. Ironicamente, o pecado de Adão
foi uma tentativa de se tornar um deus (cf. Gênesis 3,5). Também os Anjos do céu
são criaturas sem pecado (cf. 2Pedro 2,4). Assim, igualmente, o dom de Maria não a
torna divina, mas permite que responda sempre ao chamado de Deus.

Outros alegam que Maria, se verdadeiramente sem pecado, não precisaria de um


Salvador. No entanto, em seu "Magnificat", Maria admite que Deus era seu Salvador
(cf. Lucas 1,47). Pois bem: conforme a doutrina [da Imaculada Conceição], Maria foi
salva por antecipação e não por perdão. Nós somos salvos por perdão porque pecamos.
Por outro lado, antecipando os méritos de Cristo, Deus salvou Maria antes que ela
caísse na lama do pecado. Por exemplo: uma criança pode ser salva de se afogar
depois de ter caído numa piscina; mas ele também pode ser salvo do afogamento se
agarrado antes de cair na piscina. Nossa redenção é "remédio de cura", mas a
redenção dela era como uma "vacina": Ela sempre esteve imune do pecado, até mesmo
do pecado venial (cf. CIC 493). Este é o tipo mais perfeito de redenção.

S ome pode citar Romanos 3:23, "todos pecaram" [RSV] contra esta doutrina. Agora
"todos" não precisam incluir absolutamente todos. Obviamente Jesus (1 Pedro 2:22)
não está incluído. Também Romanos 3:24, puderem sugerir que absolutamente todo
mundo vai ser justificada, incluindo incrédulos, para o inferno seria vazio. Na
mesma passagem, São Paulo escreve que "ninguém é justo, não, nem um"[Romanos 3:10].
No entanto, em outros lugares Noé, Daniel, Jó (Ezequiel 14: 14,20), Zacarias e
Isabel (Lucas 1: 6) são considerados justos. São Paulo não pretende "absolutamente
todo mundo", mas está enfatizando a universalidade do pecado para judeus e gentios.
Embora esse versículo se aplique a nós, ele não se aplica a Jesus ou Maria. Em uma
questão relacionada, Maria faz uma "oferta pelo pecado" em Lucas 2:24 para cumprir
a Lei. Este dever não prova sua pecaminosidade, mas sua obediência. Da mesma forma,
Jesus foi submetido ao "batismo de arrependimento" de João, mesmo sem pecado.

O texto principal da Bíblia que sugere essa doutrina é a saudação do anjo Gabriel a
Maria:

"Salve, cheio de graça (kecharitomene), o Senhor está com você!" [Lucas 1:28,
RSVCE]

A palavra grega kecharitomene é o particípio passivo perfeito do verbo grego


charitoo , que significa graça ou favor. O tempo perfeito denota completude ou
plenitude. Pode ser traduzido como "completamente agraciado" ou "totalmente
favorecido". São Jerônimo no século IV a traduziu para o latim como gratia plena ou
"cheia de graça". Até algumas Bíblias protestantes a tornam "altamente favorecida"
(NVI e KJV). Neste verso, Gabriel não se refere a ela como "Ave Maria", mas como
"Ave Ave,Gabriel usa esse particípio como nome ou título para Maria. Em Atos 6: 8,
Santo Estêvão é considerado "cheio de graça", de acordo com o RSV, mas essa frase é
usada como uma descrição e não como um título. Maria é chamada "Cheia de Graça",
que inclui a graça santificadora. A graça se opõe ao pecado (Romanos 5:21). Este
versículo pode não provar a doutrina da Imaculada Conceição, mas seria uma saudação
estranha caso contrário. Em outros lugares da Bíblia, Elizabeth, sob a inspiração
do Espírito Santo, declara a Maria:

"Bendito seja você entre as mulheres e abençoado é o fruto do seu ventre!" [Lucas
1:42, RSV; veja também 48]

Nesse paralelo poético, a bênção de Maria de Deus é comparada à bênção que repousa
sobre seu Filho - o fruto de seu ventre. Jesus foi abençoado em Sua humanidade por
não ter pecado (Hebreus 4:15), mesmo no ventre dela. Maria foi abençoada por Deus
como a mãe de Seu Filho e em sua libertação do pecado.

A doutrina da Imaculada Conceição se desenvolveu lentamente ao longo dos séculos.


Algumas verdades divinamente reveladas levam tempo para serem totalmente
compreendidas. Seu desenvolvimento remonta às palavras de Deus para a serpente:

- "E porei inimizade entre ti (=serpente) e a mulher, e entre a tua semente e a sua
semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar" (Gênesis 3,15).

Este versículo é visto como a promessa do Redentor. "Esta" e "a sua semente"
referem-se a Cristo. "Mulher" e "sua" podem se referir a Eva, mas elas se aplicam
melhor a Maria (cf. João 19,26). A cena da Anunciação de Lucas (cf. Lucas 1,26-
38.42) parece fazer contraste com a cena da serpente e Eva (cf. Gênesis 3,1-7):
Maria x Eva; Gabriel x Satanás (cf. Apocalipse 12,9) como serpente; fruto do ventre
[de Maria] x fruto da árvore [do conhecimento do bem e do mal]. Em Romanos 5,14 e
1Coríntios 15,44-49, São Paulo enxerga Jesus Cristo como o Novo Adão. Da mesma
forma, São Justino Mártir, em 155 d.C., enxergou Maria como a Nova Eva:

- "Eva, que era virgem e imaculada, tendo concebido a palavra da serpente, produziu
desobediência e morte; mas a Virgem Maria recebeu fé e alegria (...) E por ela Ele
(=Jesus) nasceu" (Diálogo com Trifão 100).
Santo Irineu, em 190 d.C., escreveu:

- "[Assim como] Eva foi (...) a causa da morte (...); assim também Maria (...)
tornou-se a causa da salvação, tanto para ela quanto para toda a raça humana. (...)
O nó da desobediência de Eva foi solto pela obediência de Maria. Pelo que a virgem
Eva atou rapidamente através da incredulidade, a virgem Maria libertou pela fé"
(Contra as Heresias 3,22,4).

Jesus Cristo, como Novo Adão, corrigiu o pecado de Adão por Sua Cruz, enquanto
Maria, como Nova Eva, desfez a desobediência de Eva ao dizer "sim" a Deus (cf.
Lucas 1,38).

Por volta de 360 d.C., Efrém o Sírio foi o primeiro a escrever claramente sobre a
impecabilidade de Maria. Ele viu Maria como uma réplica de Eva antes da Queda: ela
"era tão inocente quanto Eva antes de sua Queda, uma virgem mais distante de toda
mancha de pecado, mais santa que os Serafins".

Os Padres da Igreja do Oriente também chamavam Maria de "Toda-Santa" (Panagia) e a


proclamavam "livre de qualquer mancha do pecado, como se tivesse sido criada pelo
Espírito Santo e formada como uma nova criatura" (cf. CIC 493). Infelizmente,
algumas pessoas foram longe demais, como os hereges pelagianos que tentaram usar
Maria para provar a NOSSA "concepção sem pecado". E isso causou reações negativas.

No Oriente, a festa da concepção de Maria já era comemorada no século VII. No


século XII, Maria foi claramente reconhecida como Eva antes da Queda: estava sem
pecado mesmo nos primeiros momentos de sua existência, ou seja, na sua concepção. A
estranha saudação de Gabriel (cf. Lucas 1,28) passava então a fazer mais sentido.
São Bernardo e São Tomás de Aquino tinham objeções teológicas, mas no século 14,
John Duns Scotus resolveu tais objeções. Por fim, em 1854, o Papa Pio IX confirmou
formalmente essa crença antiga numa linguagem exata.

Maria é sem pecado por um dom especial e imerecido de Deus, não por poder próprio.
Embora tenhamos livre-arbítrio, a concupiscência nos inclina ao pecado (cf. Romanos
7,15-25), enquanto que o dom [especial] de Maria a inclina para Deus. Como nós, ela
precisava de redenção, mas Deus Todo-Poderoso a redimiu na concepção, pelos méritos
esperados de seu Filho. Ela não precisava ser sem pecado para Jesus ser sem pecado.
Logo sua mãe [=avó de Jesus] não precisava também ser sem pecado e assim por
diante. Deus Pai simplesmente concedeu a Maria este privilégio singular: o de ser a
mãe do Seu Filho unigênito (cf. João 1,14.18). Nada é impossível para Deus (cf.
Lucas 1,37), O qual não está limitado pelo tempo. Como o monge britânico Eadmer
argumentou:

- "Deus poderia fazê-lo; Deus deveria fazê-lo; assim Deus o fez!"

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