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B4 SALVADOR SEGUNDA-FEIRA 24/2/2014

Editor-coordenador
Geraldo Bastos (interino) ECONOMIA
economia@grupoatarde.com.br
CUSTO DE VIDA Para economistas, inflação será
maior nos meses da Copa www.atarde.com.br/economia

Fotos Raul Spinassé/Ag. A TARDE

De vendedora
ambulante a
dona de
restaurante

Enseada do Paraguaçu é uma


pequena vila de pescadores e
marisqueiras. Localizada a
poucos metros do Estaleiro
Enseada do Paraguaçu (EEP), a
comunidade quilombola tem
cerca de 500 habitantes. Pelo
menos 200 deles trabalham
no EPP.
Muitos negócios no local
giram hoje em torno do em-
preendimento. A comercian-
te Ivonete Antônia de Souza
Santos, 44 anos, é um bom
exemplo disso. Antes do es-
taleiro ela vendia salgados
nas ruas e praias de Enseada.
Com a implantação do pro-
jeto viu uma oportunidade de
mudar e crescer.
Juntou dinheiro e abriu um
restaurante de comida a qui-
lo. Agora está ampliando.
Construindo um segundo pa-
vimento. Antes, trabalhava
com a nora. Agora tem quatro
empregados. Planos para o
Robert foi futuro? “Quero consolidar
contratado meu negócio e virar uma em-
INFRAESTRUTURA Megaempreendimento naval fica pronto em março do ano que vem. pelo estaleiro presária de verdade”, diz.
depois de Antonio Adelson do Rosá-
Odebrecht, OAS, UTC Engenharia e a Kawasaki estão investindo R$ 2,6 bilhões no projeto participar do rio, 50 anos, tem uma frota de
programa vans em São Roque . Ele co-

ESTALEIRO EMPREGA 7,2 MIL E


Acreditar meçou com 8 veículos. Com o
estaleiro, ampliou para 13 e
agora são 24. ”Hoje temos 30
funcionários . Quase todos es-

INTENSIFICA OBRAS NA BAHIA


tão a serviço do empreendi-
mento. A chegada do estaleiro
vai trazer ainda mais opor-
tunidades e riqueza para a re-
gião”, afirma.

GERALDO BASTOS As obras civis do cais I, por cina vai transformar chapas e carteira assinada pela pri- Treinamento
OS SÓCIOS exemplo, foram concluídas perfis metálicos em blocos meira vez. O secretário extraordinário
A indústria naval, que duran- DO ESTALEIRO na semana passada. O local utilizados na montagem dos "É muito bom", conta ele, da Indústria Naval e Portuá-
te anos andou adormecida na tem capacidade para receber navios. A obra será concluída que começou a trabalha no ria, Carlos Costa, diz que a im-
Bahia, está impulsionando a
BAIANO embarcações com até 210 me- em outubro. empreendimento no início plantação de um empreendi-
economia do Recôncavo e tros de comprimento. É ali No dique seco serão fabri- de janeiro. "Sempre trabalhei mento do porte do estaleiro
abrindo as portas do mercado ODEBRECHT O que vai atracar hoje um navio cados cascos de navios e pla- como pedreiro, construindo cria oportunidades de cres-
de trabalho formal para mi- conglomerado baiano chinês trazendo a viga prin- taformas. Ali trabalha Alex praças, escolas e outros pré- cimento social e econômico
lhares de pessoas. Para se ter atua nos setores de cipal do Goliath – um super- Santos de Souza, 33 anos. Ele dios. Aqui estou tendo a opor- para todo o Recôncavo.
uma ideia, as obras de cons- infraestrutura, guindaste de oito mil tone- é ajudante de armador, mora tunidade de aprender, cres- Ele aponta o principal di-
trução do Estaleiro Enseada construção, química e ladas e com a altura de um no distrito de Cações, e teve a cer. Quero dar uma vida me- ferencial competitivo do es-
do Paraguaçu (EEP), em Ma- petroquímica, energia, prédio de 40 andares. A ca- lhor para a minha filha". taleiro baiano: “O que faz a
ragojipe, empregam hoje cer- mineração, açúcar e pacidade de içamento é de Robert Silva de Araújo, 27 diferença neste segmento
ca de 7,2 mil trabalhadores. etanol. Conta com 1.800 toneladas. Outros com- anos, que mora em Nazaré não é preço e sim tecnologia.
Detalhe: 70% deles são baia- mais de 175 mil ponentes do guindaste estão das Farinhas, chegou ao es- O EPP foi buscar um parceiro
nos. E mais: o projeto esti- colaboradores em todo sendo fabricados na Finlân- ENCOMENDAS taleiro há três meses depois tecnológico (a Kawasaki) que
mulou o surgimento e a am- o mundo e fatura cerca dia e na Coreia e chegam à de participar do programa tem 120 anos de experiência
pliação de novos negócios em de R$ 100 bilhões/ano Bahia até abril. O estaleiro já recebeu a Acreditar. O projeto capacita neste segmento. É um dife-
vários segmentos, como A construção da oficina 6 e encomenda de seis a mão de obra local através de rencial importante”, afirma.
transporte, alimentação e na do dique seco também se- navios-sonda de cursos gratuitos. São indica- Sobre a formação da mão
área imobiliária. OAS A construtora guem a todo vapor. O primei- exploração de petróleo. As dos para as vagas somente os de obra, Costa afirma que o
O EEP começou a ser cons- baiana tornou-se uma ro tem 74 mil m² e é a maior unidades fazem parte de alunos bem avaliados. "Quero governo baiano “vai imple-
truído em meados de 2012. O das líderes do setor de edificação do estaleiro. "É o um contrato com a Sete mostrar meu valor, aprender mentar um programa de trei-
megaempreendimento naval infraestrutura, com coração do empreendimen- Brasil. O valor: e ficar aqui por muito tempo. namento neste setor sem pre-
ocupa uma área de 1,6 milhão atuação no Brasil e em to", afirma Guimarães. A ofi- US$ 4,8 bilhões É o meu sonho”. cedentes no país”.
de metros quadrados. Ode- mais 20 países da
brecht, OAS, UTC Engenharia América Latina e
e a japonesa Kawasaki estão África. Possui hoje
investindo no projeto R$ 2,6
bilhões. A determinação é
mais de 100 mil
funcionários
Municípios da
que tudo fique pronto em região sofrem
março do ano que vem.
"O estaleiro está com 55% UTC ENGENHARIA
com estrada
de suas obras concluídas", diz
o coordenador da área de pla-
Fundada em 1974, atua precária
nos segmentos de
nejamento do EEP, o enge- produção e
nheiro Douglas Guimarães, processamento de
que acompanhou a reporta- petróleo e gás, A rodovia BA-514 – que liga a
gem de A TARDE durante vi- petroquímica, geração BA-001 (estrada Bom Despa-
sita ao empreendimento. de energia, siderurgia, cho-Nazaré) ao município de
O ritmo das obras no local papel e celulose, Salinas da Margarida e dá
impressiona: operários e en- metalurgia, construção acesso ao Estaleiro Enseada
genheiros ocupam várias e manutenção do Paraguaçu – virou pó. A
frentes de trabalho – constru- industrial estrada não suportou o trá-
ção de cais, do dique seco e das fego pesado de caminhões,
oficinas. As máquinas de úl- carretas e caçambas. Além de
tima geração não param. Para KAWASAKI Grupo buracos, o trecho não conta
completar uma frota de 510 japonês foi fundado com sinalização (horizontal e
caminhões circulam todos os em 1878, como um vertical) e acostamentos.
dias pelo local, transportando estaleiro. Atua hoje em Para desviar de buracos,
materiais como ferro, madei- vários segmentos carros, caminhões e até ôni-
ra, areia, dentre outros. como construção e bus trafegam muitas vezes na
O projeto está avançando. transportes contramão. Para piorar, a
poeira diminui a visibilidade
na pista, aumentando assim o
risco de acidentes.
Em nota, o Departamento
de Infraestrutura de Trans-
portes da Bahia (Derba), res-
ponsável pela conservação do
estrada, diz que “está execu-
tando os serviços de manu-
tenção do trecho em questão
e que o processo de licitação
para sua restauração já está
em andamento”.
Com a estrada ruim, o EEP
tem investido no transporte hi-
droviário. Hoje, cerca de dois
mil funcionários da empresa,
que moram em Maragojipe e
Saubara, são transportados por
Vista da oficina 6: a maior edificação do estaleiro Construção do EEP mobiliza milhares de operários e máquinas de última geração barcos até o canteiro de obras.

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