autora
STELLA LUIZA MOURA ARANHA CARNEIRO
1ª edição
SESES
rio de janeiro 2018
Conselho editorial roberto paes e gisele lima
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2018.
isbn: 978-85-5548-599-2.
Psicologia do testemunho 13
Teorias em Psicologia 39
Abordagens psicodinâmicas 39
Abordagens cognitivas 41
Abordagem comportamental 43
Abordagem motivacional 44
Abordagem sistêmica 46
Métodos autocompositivos 51
Negociação 51
Conciliação 52
Mediação 53
Diferenças entre mediação e conciliação 54
Personalidade 66
Características da personalidade 68
Prezados(as) alunos(as),
Bons estudos!
7
1
O papel do
psicólogo no
contexto jurídico e
sua relação com os
Direitos Humanos
O papel do psicólogo no contexto jurídico e
sua relação com os Direitos Humanos
OBJETIVOS
• Compreender a história da inserção da Psicologia junto ao Direito;
• Conhecer o percurso da Psicologia Jurídica no Brasil;
capítulo 1 • 10
• Identificar as atribuições do psicólogo jurídico determinadas pelo Conselho Federal
de Psicologia;
• Estudar a Declaração Universal dos Direitos Humanos;
• Compreender o trabalho do psicólogo em relação aos Direitos Humanos.
1 a Idade Média (adj. medieval) é um período da história da Europa entre os séculos V e XV. Inicia-se com a queda
do Império Romano do Ocidente e termina durante a transição para a Idade Moderna. Disponível em: <https://
pt.wikipedia.org/wiki/Idade_Média>. Acesso em: 11 mar. 2017.
2 individualismo é um conceito político, moral e social que exprime a afirmação e a liberdade do indivíduo frente
a um grupo, à sociedade ou ao Estado. Disponível em <https://pt.wikipedia.org/wiki/Individualismo>. Acesso em:
11 mar. 2017.
capítulo 1 • 11
Com a primazia do conhecimento biológico busca-se explicar aquilo que está
além da sociedade, podendo até explicar os comportamentos humanos. Assim,
aparecem estudos importantes como a Frenologia de Gall3 e a Antropologia
Criminal de Cesare Lombroso4, afirmando que a criminalidade era um fenômeno
hereditário. A Psiquiatria, estudo sobre a loucura, com Pinel5, no século XVIII,
ganha espírito iluminista, que ao longo do século XIX agrega o seu conhecimento
às teorias da degenerescência, que ligam a loucura individual à degeneração racial.
A este conceito de degeneração junta-se a explicação dos distúrbios morais,
os quais explicam os atos desviantes da norma social. Há uma disputa entre os
saberes médico e jurídico, segundo Foucault (1996). Há uma psiquiatrização do
crime porque a verdade jurídica obtém-se a partir do exame do criminoso, suas
motivações e intenções. Esse exame toma o lugar do testemunho do criminoso,
que passa a ser secundário ao conhecimento especializado. Surgem também,
diferentes formas para organizar a individualidade humana, como o exame, a
medida, a análise e a classificação.
Neste contexto científico surgem algumas ciências, entre elas, a Psicologia,
que apresenta fronteiras entre a Filosofia e a Biologia. A consciência do indivíduo
autônomo, dono do livre-arbítrio, não é uma totalidade fechada. Nela estão
presentes vários processos como sensação, percepção, vontade e emoção. São esses
processos que a Psicologia vai estudar. Wundt é um dos nomes mais conhecidos
da Psicologia, neste momento inicial da Psicologia científica, principalmente pela
criação do primeiro laboratório de Psicologia Experimental, em 1879, em Leipzig.
Essa data marca, oficialmente, o início da Psicologia como ciência, dentro das
características científicas exigidas naquela época.
3 frenologia (do grego: φρήν, phrēn, "mente"; e λόγος, logos, "lógica ou estudo") é uma teoria que reivindica ser
capaz de determinar o caráter, características da personalidade, e grau de criminalidade pela forma da cabeça (lendo
"caroços ou protuberâncias"). Desenvolvido por médico alemão Franz Joseph Gall por volta de 1800, e muito popular
no século XIX, está agora desacreditada e classificada como pseudociência. A frenologia, contudo, recebeu crédito
como protociência por contribuir para a ciência médica com as ideias de que o cérebro é o órgão da mente e áreas
específicas do cérebro estão relacionadas com determinadas funções do cérebro humano. Disponível em: <https://
pt.wikipedia.org/wiki/Frenologia>. Acesso em: 11 mar. 2017.
4 é creditado como sendo o criador da antropologia criminal e suas ideias inovadoras deram nascimento à Escola
Positiva de Direito Penal, mais precisamente a que se refere ao positivismo evolucionista, que tinha base na sua
interpretação em fatos e investigações científicas. Lombroso ansiou detectar as causas da criminalidade, e o fez por
meio de pesquisas científico-empíricas das características físicas, fisiológicas e psicológicas do indivíduo criminoso.
Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Cesare_Lombroso>. Acesso em: 11 mar. 2017.
5 considerado por muitos o pai da psiquiatria. Notabilizou-se por ter considerado que os seres humanos que
sofriam de perturbações mentais eram doentes e que ao contrário do que acontecia na época, deviam ser tratados
como doentes e não de forma violenta. Foi o primeiro médico a tentar descrever e classificar algumas perturbações
mentais, demência precoce ou esquizofrenia
capítulo 1 • 12
Portanto, você percebe que a Psicologia inicia sua trajetória científica a partir
de estudos experimentais dos processos psicológicos, também chamados de ele-
mentos da mente. Diferente da Psiquiatria, que estuda a loucura e suas ligações
com a razão, a Psicologia analisará os processos mentais comuns a todo ser hu-
mano, estabelecendo as condições ditas normais do seu funcionamento e outras
condições que determinam um aparecimento diferenciado.
Com o aprofundamento dos estudos realizados em laboratórios, foi possível
sair deste espaço, mantendo suas regras de funcionamento. Foram criados mais
testes psicológicos, que pela facilidade de aplicação quanto ao local e ao número
de pessoas, tornaram-se a técnica privilegiada de produção de saber e práticas
psicológicas. (JACÓ-VILELA, 1999)
É a partir dos testes psicológicos que a Psicologia se aproxima do Direito, sem
interferir nas funções realizadas pela Psiquiatria junto a essa ciência. A Psicologia
não estudará a loucura, mas a fidedignidade do testemunho, que apresenta em sua
essência questões ligadas à percepção, motivação, emoção, memória, aquisição de
hábitos e ao funcionamento da repressão.
Psicologia do testemunho
noite;
b) as mulheres percebem com mais exatidão os detalhes que os homens;
c) os acontecimentos iniciais e finais são melhor percebidos que os intermediários;
d) o testemunho sobre dados qualitativos é mais preciso do que sobre dados
quantitativos;
e) as pessoas diferem entre si quanto à duração das vivências no tempo.
capítulo 1 • 13
Decorrente de condições orgânicas, estado do observador, crenças, novas in-
formações, emoções dolorosas e repressão. O estado emocional interfere na
lembrança da memória da seguinte forma:
a) recuperação lacunar das informações (a mente elimina conteúdos que tra-
riam dor ou desconforto);
b) ampliação de atributos (recorda-se de algo ruim como pior do que realmente
foi e de algo de bom como extremamente melhor);
c) fixação das recordações nos aspectos desagradáveis dos acontecimentos;
MEMÓRIA
Outros fatores dizem respeito à expressão dos fatos que podem estar ligados à
falta de inteligência verbal, ao ambiente da sala de audiência, aos tipos de perguntas
e à linguagem usada pelo interrogador. Embora a testemunha não deva fazer juízos
de valor sobre os fatos, vários processos, na maioria inconscientes, interferem na
percepção, no armazenamento e na exteriorização das informações.
Esses diversos fatores, entre outros que não foram contemplados aqui, de
ordem psicológica, influenciam diretamente a qualidade do testemunho. Todo
evento presenciado passa pelo filtro interpretativo de cada pessoa e é composto por
seus conhecimentos prévios, sentimentos e expectativas. E as interferências não
param por aí. No processo de armazenamento dessas lembranças, também atuam
fatores de ordem interna e externa, como os comentários de outras pessoas sobre
o acontecimento, a mídia, novas informações. Por fim, na reconstrução do fato, a
testemunha tende a preencher eventuais lacunas com informações já existentes em
seu psiquismo e que podem não estar relacionadas à realidade dos acontecimentos.
Ao Direito interessa a realidade efetiva dos fatos, mas nem sempre ocorre
relação direta com a realidade psíquica das testemunhas. Um mesmo fato pode gerar
diferentes interpretações, porque cada indivíduo possui uma forma particular de
entender o mundo. O que a mente percebe e retém dos acontecimentos depende
de fatores internos e externos. Podemos considerar fatores internos o próprio
aparelho sensorial de cada pessoa e os conteúdos emocionais dos indivíduos, que,
capítulo 1 • 14
em grande parte, escapam à sua consciência. Os fatores externos, como o contexto
social e cultural, se combinam com aqueles fatores internos para formar a realidade
psíquica de cada um.
Estudos acerca dos sistemas de interrogatório, os fatos delitivos, a detecção
de falsos testemunhos, as amnésias simuladas e os testemunhos de crianças
impulsionaram a ascensão da então denominada Psicologia do Testemunho
(GARRIDO, 1994). É importante entender que esses fatos não invalidam a
utilização dos instrumentos de análise psicológica para favorecer a compreensão
da verdade perseguida pelo Direito. Embora a prova testemunhal seja o meio mais
inseguro, em muitos processos ela se constitui no principal fundamento da decisão
que resolve a controvérsia. Nesse sentido, é fundamental que os profissionais do
Direito entendam a extensão com que ocorrem as interferências emocionais sobre
o testemunho, aumentando as chances de melhor lidarem com as testemunhas e
obter delas um relato que seja mais próximo possível da realidade.
De acordo com o livro Avanços científicos em Psicologia do Testemunho
aplicados ao Reconhecimento Pessoal e aos Depoimentos Forenses, publicado em
2015 pelo Ministério da Justiça brasileiro, há mais de três décadas, a Psicologia
do Testemunho tem investigado sobre as implicações dos avanços científicos sobre
a memória humana para o testemunho e o reconhecimento. Porém no Brasil, o
diálogo desse campo do saber com o ramo do Direito tem sido bastante tímido.
Como possível resultado, ao contrário de vários outros países, nossa legislação
ainda não contempla este consolidado conhecimento científico advindo da
Psicologia do Testemunho.
capítulo 1 • 15
De acordo com Brito (2005), os psicodiagnósticos eram vistos como instru-
mentos que forneciam dados matematicamente comprováveis para a orientação
dos operadores do Direito. Inicialmente, a Psicologia era identificada como uma
prática voltada para a realização de exames e avaliações, buscando identificações
por meio de diagnósticos. Essa época, marcada pela inauguração do uso dos testes
psicológicos, fez o psicólogo ser visto como um “testólogo”, na primeira metade
do século XX . Atualmente, o psicólogo utiliza estratégias de avaliação psicológica,
com objetivos bem definidos, para encontrar respostas para solução de problemas.
A testagem pode ser um passo importante do processo, mas constitui apenas um
dos recursos de avaliação. (CUNHA, 2000)
No Estado de São Paulo, o psicólogo fez sua entrada informal no Tribunal
de Justiça por meio de trabalhos voluntários com famílias carentes, em 1979. A
entrada oficial se deu em 1985, quando ocorreu o primeiro concurso público para
admissão de psicólogos dentro de seus quadros (SHINE, 1998). Com a implan-
tação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em 1990, o Juizado de
Menores passou a ser denominado Juizado da Infância e Juventude. O trabalho do
psicólogo foi ampliado, envolvendo atividades na área pericial, acompanhamentos
e aplicação das medidas de proteção ou medidas socioeducativas. (TABAJASKI,
GAIGER ; RODRIGUES, 1998)
Essa expansão do campo de atuação do psicólogo gerou aumento do número
de profissionais em instituições judiciárias mediante a legalização dos cargos pelos
concursos públicos. São exemplos a criação do cargo de psicólogo nos Tribunais
de Justiça dos estados de Minas Gerais (1992), Rio Grande do Sul (1993) e Rio de
Janeiro (1998). (ROVINSKI, 2002)
Em relação à área acadêmica, cabe citar que a Universidade do Estado do
Rio de Janeiro (UERJ) foi pioneira em relação à Psicologia Jurídica. Foi criada,
em 1980, uma área de concentração dentro do curso de especialização em
Psicologia Clínica, denominada “Psicodiagnóstico para Fins Jurídicos”. Seis anos
mais tarde, passou por uma reformulação e tornou-se um curso independente do
Departamento de Clínica, fazendo parte do Departamento de Psicologia Social
(ALTOÉ, 2001), sendo denominado de Psicologia Jurídica.
Antes de finalizar este item, seria interessante abordar a questão da terminolo-
gia: Psicologia Jurídica, Psicologia Forense e Psicologia Judiciária. Para o Conselho
Federal de Psicologia, a partir de documentos como veremos no item a seguir,
o termo jurídico é utilizado sem a diferenciação entre outros termos, como ju-
diciário ou forense. Segundo a psicóloga Fátima França, uma das pioneiras da
capítulo 1 • 16
Psicologia Jurídica no Brasil, Psicologia Jurídica é uma das denominações para
nomear essa área da Psicologia que se relaciona com o sistema de justiça.
Na Argentina, denomina-se Psicologia Forense, embora haja muitos profissio-
nais argentinos filiados à Associação Ibero-Americana de Psicologia Jurídica, o que
permite inferir a adoção do termo Psicologia Jurídica. De acordo com publicação
do Colégio Oficial de Psicólogos de España Oficial de Espanha, o termo adotado
naquele país é Psicologia Jurídica, no entanto, a Associação Europeia de Psicologia
e Ley atribui a designação de Psicologia e Ley. Ainda de acordo com França (2004,
p.74):
capítulo 1 • 17
Atribuições do psicólogo jurídico no Brasil
Psicólogo Jurídico
Atua no âmbito da Justiça, nas instituições governamentais e não governamentais,
colaborando no planejamento e na execução de políticas de cidadania, Direitos
Humanos e prevenção da violência. Para tanto, sua atuação é centrada na orientação
do dado psicológico repassado não só para os juristas como também aos sujeitos que
carecem de tal intervenção. Contribui para formulação, revisões e interpretação das
leis.
Detalhamento das atribuições
1. Assessora na formulação, revisão e execução de leis.
2. Colabora na formulação e implantação das políticas de cidadania e direitos humanos.
3 Realiza pesquisa visando à construção e ampliação do conhecimento psicológico
aplicado ao campo do Direito.
4. Avalia as condições intelectuais e emocionais de crianças adolescentes e adultos
em conexão processos jurídicos, seja por deficiência mental e insanidade, testamentos
contestados, aceitação em lares adotivos, posse e guarda de crianças ou determina-
ção da responsabilidade legal por atos criminosos.
capítulo 1 • 18
5. Atua como perito judicial nas varas cíveis, criminais, justiça do trabalho, da família, da
criança e do adolescente, elaborando laudos, pareceres e perícias a serem anexados
aos processos.
6. Elabora petições que serão juntadas ao processo, sempre que solicitar alguma pro-
vidência, ou haja necessidade de comunicar-se com o juiz, durante a execução da
perícia.
7. Eventualmente participa de audiência para esclarecer aspectos técnicos em Psico-
logia que possam necessitar de maiores informações a leigos ou leitores do trabalho
pericial psicológico (juízes, curadores e advogados).
8. Elabora laudos, relatórios e pareceres, colaborando não só com a ordem jurídica
como com o indivíduo envolvido com a Justiça, por meio da avaliação das personali-
dades destes e fornecendo subsídios ao processo judicial quando solicitado por uma
autoridade competente, podendo utilizar-se de consulta aos processos e coletar dados
considerar necessários a elaboração do estudo psicológico.
9. Realiza atendimento psicológico pelo trabalho acessível e comprometido com
a busca de decisões próprias na organização familiar dos que recorrem a Varas de
Família para a resolução de questões.
10. Realiza atendimento a crianças envolvidas em situações que chegam às Instituições
de Direito, visando à preservação de sua saúde mental, bem como presta atendimento
e orientação a detentos e seus familiares.
11. Participa da elaboração e execução de programas socioeducativos destinados à
criança de rua, abandonadas ou infratoras.
12. Orienta a administração e os colegiados do sistema penitenciário, sob o ponto
de vista psicológico, nas tarefas educativas e profissionais que os internos possam
exercer nos estabelecimentos penais.
13. Assessora autoridades judiciais no encaminhamento à terapias psicológicas,
quando necessário.
14. Participa da elaboração e do processo de Execução Penal e assessorar a admi-
nistração dos estabelecimentos penais quanto a formulação da política penal e no
treinamento de pessoal para aplicá-la.
15. Atua em pesquisas e programas de prevenção à violência e desenvolve estudos
e pesquisas sobre a pesquisa criminal, construindo ou adaptando instrumentos de
investigação psicológica.
capítulo 1 • 19
observações, estudos de campo, dinâmicas de grupo, escuta, intervenções verbais)
que se configuram como métodos e técnicas psicológicas para a coleta de dados,
estudos e interpretações de informações a respeito das pessoas ou grupos atendidos.
É importante saber que as avaliações e seus documentos formam procedimentos
gerais da prática psicológica. Na área jurídica, os documentos elaborados pelo
psicólogo são considerados como “provas” processuais, isto é, elementos que
corroboram para a elucidação de controvérsias e para decisões judiciais.
A Resolução 007 de 2003, do Conselho Federal de Psicologia, instituiu o
Manual de Elaboração de Documentos produzidos pelo psicólogo. É claro que o
profissional ligado à área do Direito não terá de saber sobre a elaboração destes
documentos, no entanto é recomendado que tenha conhecimento da existência
destes documentos e sua utilização, para que possa, nos casos em que atua e se for
necessário, solicitar ao psicólogo o documento mais pertinente. Vamos estudar,
resumidamente, cada um destes documentos.
Declaração
Atestado psicológico
capítulo 1 • 20
Relatório psicológico
Parecer
6 é o direito que surge dos costumes de certa sociedade, não passando por um processo formal de criação de leis,
em que um poder legislativo cria leis, emendas constitucionais, medidas provisórias etc. Disponível em: <https://
pt.wikipedia.org/wiki/Direito_consuetudinário>. Acesso em: 15 ago. 2017.
capítulo 1 • 21
Os tratados e outras expressões do Direito, em geral, protegem, formalmente,
os direitos de indivíduos ou grupos contra ações ou abandono dos governos, que
interferem nos Direitos Humanos. De acordo com a ONUBR (2016), algumas
das características mais importantes dos Direitos Humanos são:
Os Direitos Humanos são fundados sobre o respeito pela dignidade e o valor de cada
pessoa.
Os Direitos Humanos são universais, o que quer dizer que são aplicados de forma igual
e sem discriminação a todas as pessoas.
Os Direitos Humanos são inalienáveis, e ninguém pode ser privado de seus direitos
humanos; eles podem ser limitados em situações específicas. Por exemplo, o direito
à liberdade pode ser restringido se uma pessoa é considerada culpada de um crime
diante de um tribunal e com o devido processo legal.
Os Direitos Humanos são indivisíveis, inter-relacionados e interdependentes, já que é
insuficiente respeitar alguns Direitos Humanos e outros não. Na prática, a violação de
um direito vai afetar o respeito por muitos outros.
Todos os Direitos Humanos devem, portanto, ser vistos como de igual importância,
sendo igualmente essencial respeitar a dignidade e o valor de cada pessoa.
capítulo 1 • 22
proporcionar um clima de confiança e de entendimento mútuo, buscando a paz e
a segurança internacional. Vamos ver alguns pontos estabelecidos neste documento
(FVHD, 2009):
capítulo 1 • 23
nas mais variadas áreas. O apelo aos direitos humanos é constante, não apenas em
países do chamado Terceiro Mundo, como o Brasil, mas também em sociedades
que atingiram alto grau de desenvolvimento. (OLIVEIRA, 2003)
capítulo 1 • 24
práticas tradicionais, a fim de adquirir a perspectiva da educação permanente feita
de diferentes modos e em diversos espaços sobre este tema.
capítulo 1 • 25
Assim, em razão da realidade que se apresenta percebemos que é para estas
pessoas, que vivem desprovidas de seus direitos e de possibilidades de ação, porque
se encontram em desinformação, que uma prática comprometida da Psicologia
deve ser realizada.
A profissão de psicólogo estabelece o direito à vida humana digna, que qualifica
os direitos e deveres do cidadão brasileiro. No entanto, isso só se concretiza a partir
da ação objetiva das pessoas. Nesse sentido, a Psicologia no contexto dos Direitos
Humanos não só assume um campo de atuação possível, mas também responde
a uma demanda real com a qual se comprometeu. Isso se dá em vista das reais
possibilidades de uma atuação concreta, legítima e necessária, com intervenções
diretivas.
De acordo com o Conselho Federal de Psicologia, se uma das missões da
Psicologia é proteger a integridade psíquica e emocional das pessoas e zelar pelo
respeito à subjetividade e singularidade das pessoas, então a Psicologia tem tudo a
ver. Como estamos percebendo, a Psicologia está completamente comprometida
com a defesa, promoção e garantia dos direitos humanos. Os psicólogos não
podem concordar com nenhuma forma de preconceito e discriminação.
O profissional da Psicologia, por meio do seu compromisso ético e o seu
conhecimento teórico está submetido a essas declarações de forma categórica,
pois seu público-alvo é o ser humano, independente de raça, religião, condição
econômica, gênero, idade, grau de instrução etc. O psicólogo deve ter muito
cuidado na sua atuação profissional, pois está imerso em uma cultura de exclusão
e categorização. E infelizmente, a sociedade vai transmitindo pelas gerações essa
cultura de “rótulos” (favelado, desempregado, bandidos, pobre etc.) que são
utilizados para excluir as pessoas.
Todo profissional, seja da Psicologia, da Assistência Social, do Direito, da
Saúde, da Educação, bem como todo cidadão tem o compromisso de esclarecer e
encaminhar casos de violação de direitos para que sejam apurados e julgados pelos
órgãos competentes.
capítulo 1 • 26
• Disque Direitos Humanos: Disque 100): O Disque Direitos Humanos
(Disque 100) é um serviço da Secretaria de Direitos Humanos para informação
e recebimento de denúncias de violação dos direitos humanos. O serviço tem
abrangência nacional, funciona 24 horas todos os dias e é gratuito. E-mail: direi-
toshumanos@sedh.gov.br. Site: www.direitoshumanos.gov.br;
• Câmara Federal Comissão de Direitos Humanos e Minorias: Site:
www.camara.gov.br;
• Senado Comissão de Direitos Humanos do Senado: e-mail: cdh@senado.
gov.br. Site: www.senado.gov.br.
ATIVIDADES
Psicologia e Direito, apesar de terem um mesmo objeto de interesse, divergem quanto
aos métodos de aproximação e compreensão do comportamento humano (ROVINSKI, 2007).
01. Avalie as seguintes afirmativas quanto às diferenças de paradigmas entre estas duas
disciplinas. Concurso de Provas e Títulos para Concessão do Título de Especialista em
Psicologia e seu respectivo registro – CFP-2010
I. O Direito necessita trabalhar com o conceito de livre-arbítrio, enquanto a Psicologia
estuda os determinismos da conduta.
II. Juristas necessitam trabalhar com graus de certeza sobre a previsibilidade de conduta
que a Psicologia não consegue oferecer.
III. O pluralismo das teorias psicológicas favorece a integração com o Direito, pois possibilita
diferentes opções de interpretação da conduta.
IV. Psicologia e Direito diferem em relação a seus propósitos, cabendo ao Direito a proteção
da ordem pública.
Assinale a resposta correta:
a) todas as afirmações.
b) apenas as afirmações I, II e III.
c) apenas as afirmações I, II e IV.
d) apenas as afirmações I e II.
e) nenhuma das afirmações.
capítulo 1 • 27
02. (FUNCAB) A Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948 preceitua, em seu Ar-
tigo 2o: “Todo o homem tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos
nesta declaração, sem distinção de qualquer espécie (…)”. Dessa forma, pode-se dizer que
não haverá discriminação baseada em diferenças de:
I. Raça
II. Sexo
III. Cor
Dos itens anteriormente mencionados,
a) I está correto, apenas.
b) II está correto, apenas.
c) III está correto, apenas.
d) I e III estão corretos, apenas.
e) I, II e III estão corretos.
Matéria “Psicologia e direitos humanos”
Entrevista com Pedro Paulo Gastalho de Bicalho (CRP 05/26077), conselheiro
presidente da Comissão Regional de Direitos Humanos do CRP-RJ e professor do
Instituto de Psicologia da UFRJ. Disponível em: <http://www.crprj.org.br/site/wp-content/
uploads/2016/05/jornal29-pedro-paulo1.pdf>. Acesso em: 10 jun. 2017.
04. Como isso afeta o cotidiano profissional dos psicólogos? Como o psicólogo que está
isolado em seu consultório, por exemplo, pode ver essa relação?
05. Como você vê o tratamento dado aos direitos humanos hoje em nossa sociedade? Que
tipos de violações ainda são cometidas?
06. Essa discussão sobre direitos humanos aparece nas universidades, na formação dos
psicólogos?
07. A partir da entrevista realizada com o psicólogo Pedro Paulo, reflita sobre a questão dos
direitos humanos na formação dos psicólogos nas universidades .
capítulo 1 • 28
LEITURA
BRITO, L. M. T. de. Anotações sobre a Psicologia Jurídica. Psicologia: ciência e profis-
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CURIOSIDADE
©© WIKIMEDIA.ORG
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capítulo 1 • 33
capítulo 1 • 34
2
Psicologia e Direito
Teorias em Psicologia:
uma visão abrangente
Aspectos psicológicos
dos métodos de
resolução ou gestão de
conflitos
Psicologia e Direito. Teorias em Psicologia:
uma visão abrangente. Aspectos psicológicos
dos métodos de resolução ou gestão de
conflitos
capítulo 2 • 36
OBJETIVOS
• Identificar as relações estabelecidas entre a Psicologia e o Direito;
• Estudar as teorias em Psicologia;
• Relacionar as diferentes abordagens teóricas;
• Identificar as perspectivas psicológicas do conflito;
• Compreender o processo de tomada de decisão;
• Estudar os métodos autocompositivos e suas características.
Psicologia e Direito
Como foi possível perceber, a Psicologia tem um longo passado, mas uma
curta história. É uma disciplina jovem, que possui muitas abordagens, fala
diferentes línguas, com divergentes compreensões entre suas escolas e referenciais
teóricos. No entanto, apesar das particularidades da Psicologia, ela e o Direito
possuem um destino comum: o comportamento humano. A Psicologia constrói o
seu conhecimento para compreender o comportamento humano. O Direito é um
conjunto de regras que busca regular este comportamento, através da prescrição
de condutas e formas de soluções de conflitos.
É importante que você compreenda que o comportamento humano é um
objeto de estudo apropriado por vários saberes ao mesmo tempo, a partir de
diferentes perspectivas, sem que estes saberes se esgotem, pois todos convergem
para a pessoa e, de certa forma, se complementam e são transversais. Não há uma
hierarquia entre os saberes. É preciso interligar os conhecimentos e fazer conexões,
não esquecendo que a ciência na Pós-modernidade se produz a partir de ligações
e, não pelo isolamento.
Vamos estudar um quadro comparativo entre algumas características da
Lei, do Direito e da Justiça e algumas características da Psicologia, exposto por
Trindade (2004, p. 28).
capítulo 2 • 37
CARACTERÍSTICAS DA LEI, DO CARACTERÍSTICAS DA PSICOLOGIA
DIREITO E DA JUSTIÇA
Formalismo: ritos e procedimentos Informal
Racionalista Empirista
Interpessoalidade Intrapessoalidade
Axiológico e valorativo Compreensivo
Subjetivismo Objetivismo Objetivismo Subjetivismo
Verdade processual Verdade científica
Hierarquia Flexibilidade
O todo é hermético O todo é diferente da soma das partes
Caráter sancionatório Ausência de sanção
Mundo externo Mundo externo e mundo interno
Desconsideração da fantasia, imaginação
Fantasia, imaginação e desejo
e desejo
Interrogatório e depoimento Entrevista e testagem
Esse mesmo autor (TRINDADE, 2004), afirma que, além das diferenças
estabelecidas entre as duas ciências, existem questões de base, que muitas vezes
podem dificultar o encontro da Psicologia com o Direito. Vamos observar a nova
tabela (p. 28-9).
capítulo 2 • 38
Apesar das dificuldades existentes entre as duas ciências, percebemos que a
Psicologia é importante não apenas para o Direito, mas também, para a Justiça. A
aproximação entre o Direito e a Psicologia, assim como a criação de um território
transdisciplinar, segundo Trindade (2004) é uma questão de Justiça.
Teorias em Psicologia
Abordagens psicodinâmicas
capítulo 2 • 39
Estes aspectos sugerem que os comportamentos considerados inaceitáveis po-
dem ser consequência das forças do inconsciente, as quais o indivíduo não tem
percepção. Outra contribuição teórica de Freud foi o modelo de aparelho psíqui-
co, que é composto por: Id, Ego e Superego.
capítulo 2 • 40
Nesta abordagem temos Carl Gustav Jung, que idealizou a Psicologia Analítica,
e que trouxe o importante conceito de símbolo. Podemos conceituar símbolo
como algo natural, espontâneo, que significa sempre mais do que o seu significa-
do imediato e óbvio. As pessoas costumam carregar os seus símbolos e estar atento
a esta situação é uma forma de conhecer as pessoas e o valor que estes têm para
elas. Por exemplo, determinados bens podem ter simbologia muito diferente do
que a sua real significação. É fácil ver estas situações em partilhas de bens em que
determinados objetos tornam-se difíceis de resolução entre as partes.
Um último nome a ser citado, nesta abordagem, seria Alfred Adler, que apoiava
sua teoria na importância do meio ambiente como o aspecto mais fundamental
da vida. Sendo assim, o ser humano era dirigido pela luta pela superioridade. O
indivíduo saudável era aquele que lutava construtivamente pela superioridade,
com forte interesse social e cooperação. Esse teórico destacou, também, que os
problemas psicológicos não devem ser tratados de forma isolada, pensando o
indivíduo como um ser integral: mente, corpo e espírito.
Abordagens cognitivas
capítulo 2 • 41
Continuando nesta abordagem, ao nos depararmos com eventos, o psiquismo
“dispara” esquemas de pensamento que parecem funcionar como caminhos
predefinidos pelos quais o pensamento do indivíduo caminha, sem experimentar
outras vias. Essa tarefa permite grande economia de energia psíquica e favorece certo
grau de agilidade na resolução de questões: chamamos esta situação de pensamentos
automáticos. Por exemplo, ao percebermos o sinal vermelho, automaticamente
acionamos o freio. Seria difícil se a cada mudança de cor do sinal, os motoristas
tivessem de gastar um tempo pensando o que deveriam de fazer. Os esquemas
rígidos de pensamento fazem as pessoas se tornarem incapazes de enxergar outros
pontos de vista e negam-se a tomar conhecimento de novos conceitos.
A seguir, apresentamos para você o fenômeno da cognição como um todo:
SITUAÇÕES
CONHECIMENTO RACIOCÍNIOS
REPRESENTAÇÕES
CONSTRUÇÃO DE
CONHECIMENTOS
ATIVIDADES DE ATIVIDADES DE
RESOLUÇÃO
EXECUÇÃO EXECUÇÃO
DE PROBLEMAS
AUTOMATIZADAS NÃO-AUTOMATIZADAS
SEQUÊNCIA
DE AÇÕES
AVALIAÇÃO
capítulo 2 • 42
comportamentos bons ou maus. Pensamentos automáticos e esquemas rígidos de
pensamentos são encontrados em grande quantidade e variedade no nosso cotidia-
no, em ambientes de trabalho, nas relações familiares e na vida social. Os esque-
mas rígidos de pensamento estão presentes em qualquer idade, mas acentuam-se
com o passar dos anos, tornando o relacionamento com as pessoas mais difícil.
Encontramos associado ao conceito de crenças, a dissonância cognitiva,
proposta por Leon Festinger. Para este estudioso, a dissonância cognitiva se
manifesta através de uma incoerência entre o que a pessoa diz e o que ela faz.
Temos como exemplos, pessoas que dizem que querem se separar, mas não querem
abrir mão de algumas facilidades que o casamento proporciona; e, funcionários
que querem sair da empresa recebendo uma indenização, mas não querem se
afastar dos amigos de trabalho.
Abordagem comportamental
capítulo 2 • 43
influenciado por fatores filogenéticos9, ontogenéticos10 e culturais, tendo como
parâmetro teórico o Selecionismo de Charles Darwin11 (NOTA). Na teoria de
Skinner os fatores culturais atuam como modificadores do comportamento, em
uma relação funcional do indivíduo com o ambiente através do comportamen-
to verbal.
O condicionamento é observável em situações de conflito, onde podemos
encontrar determinadas palavras ou gestos de um litigante desencadeando palavras
ou gestos condicionados no outro. Muitas vezes, uma pessoa não chega a um
acordo porque estão condicionadas ao passado. O poder do condicionamento está
manifestado em vários momentos da vida. Condicionar, na verdade, consiste em
criar esquemas rígidos de pensamento e produzir pensamentos automáticos, para
poupar o trabalho do psiquismo.
Abordagem motivacional
capítulo 2 • 44
impulsionam o ser humano. Segundo McClelland, todas as pessoas são afetadas
pelos três tipos de motivação, mas em diferentes níveis de intensidade. São elas:
CONEXÃO
Para que você compreenda melhor a teoria de Maslow, sugerimos que acesse o link:
<https://www.significados.com.br/piramide-de-maslow>. Acesso em: jun. 2018.
capítulo 2 • 45
moralidade,
criatividade,
espontaneidade,
solução de problemas,
ausência de preconceito,
Realização pessoal aceitação dos fatos
auto-estima,
confiança, conquista,
Estima respeito dos outros, respeito aos outros
Abordagem sistêmica
12 ser pragmático é ter objetivos bem definidos, é fugir do improviso, é ter base no conceito de que as ideias e atos
só são verdadeiros se servirem para a solução imediata de seus problemas.
capítulo 2 • 46
Todo sistema é composto de subsistemas, que são organizações internas com o
objetivo de aumentar a eficiência do sistema e ajudar na sua estabilidade. Os sub-
sistemas compõem-se dos mesmos elementos que constituem os sistemas. Os sub-
sistemas são especializações internas indispensáveis para os sistemas, cada um com
objetivos, metas, independência e cultura particulares. Os elementos, no sistema,
apresentam alianças e coalizões. As alianças são aquelas realizadas pelas identida-
des de interesses, simpatias e afetos entre as pessoas. As coalizões ocorrem quando
as pessoas se unem por oposição a outras. Um advogado, por exemplo, deve estar
atento às alianças e coalizões dos seus clientes nos seus subsistemas, porque elas
afetam diretamente o comportamento das pessoas.
O sistema, para lidar com os desafios, desenvolve padrões de funcionamento.
Dois tipos de mudanças podem ocorrer de forma contínua: mudanças no
ambiente externo, novas culturas e tecnologias parecem ao mesmo tempo que a
existente, fazendo surgir adaptações; mudanças no ambiente interno, os elementos
que fazem parte do sistema mudam, novos elementos são incorporados e outros
saem, provocando transformações dentro do sistema. Quando o funcionamento
do sistema é satisfatório, afirmamos que o sistema é funcional; quando isso não
ocorre, as respostas do sistema não atendem aos padrões esperados, o sistema
é disfuncional.
As fronteiras são as delimitações que os subsistemas estabelecem entre si,
dentro de um sistema e entre os sistemas em relação aos outros sistemas. As
fronteiras permitem que os elementos de um subsistema percebam o seu limite
em relação ao seu espaço e ao do outro. Quando um sistema ou os subsistemas não
funcionam bem, as fronteiras refletem esta situação, tornando-se menos nítidas,
rígidas, emaranhadas, inadequadamente impermeáveis ou excessivamente fluidas.
A visão sistêmica é muito importante porque poderemos encontrar situações,
entre as pessoas, em que o conflito no trabalho é consequência ou antecede o
conflito familiar. A família pode esgotar o indivíduo, fazendo-o ter conflitos no
trabalho e vice-versa.
capítulo 2 • 47
de forma vantajosa a ideia de causa. Nascemos em conflito com o meio e crescer
pressupõe na resolução de inúmeros problemas.
O conflito está em nós, em nossas células, em nossos genes, em nosso
desenvolvimento e nossa evolução. Desde cedo necessitamos de interações para nos
tornarmos humanos. Depois, nos convertemos em seres de grande complexidade
por meio da cultura e nos tornamos, muitas vezes, imprevisíveis. Sendo assim, os
conflitos podem desempenhar muitas funções: promover mudanças, exteriorizar
emoções, colocar as pessoas em interação etc.
Graficamente, Redorta (2007) expressa a função do conflito da seguinte forma:
A ação está ligada ao primeiro nível do conflito. Uma pessoa pode estar
equivocada na sua forma de pensar, mas este erro é irrelevante enquanto não se
converter em ação e, mais tarde, em interação social.
Em um segundo nível, encontramos na forma da estrutura do conflito, as
crenças e valores que fazem parte das pessoas. Nossos valores e crenças afetam a
forma como vamos tomar nossas decisões e decidir sobre ações alternativas. Na
análise do discurso das partes em conflito, devemos examinar quais são os valores
que elas estão reforçando ou não.
capítulo 2 • 48
Por último, em um plano superior e mais difícil de observar, encontramos os
mitos e ritos que formam o nível simbólico dos conflitos. Um mito é algo inal-
cançável por definição. Em troca, a função do rito é manter o mito vivo. Os ritos
são repetitivos e, em muitos casos, dependendo da importância do mito, tendem à
solenidade. Sob a perspectiva do conflito, os mitos e os ritos ativam, a longo prazo,
as aspirações das partes, seus objetivos, que vão, por exemplo, desde recuperar a
liberdade pondo fim a um casamento ou abandonar um trabalho para buscar uma
vida melhor no campo.
A aparição de um conflito com uma estrutura determinada de comportamentos,
discursos e símbolos deve ser contextualizada em elementos de referência para que
nos permitam interpretar a forma que adota o conflito. Também é fundamental
observar e refletir sobre o significado que o conflito tem para cada uma das partes.
capítulo 2 • 49
considerar como predição das consequências de situações futuras e o cálculo dessas
consequências que acarretam estas possíveis ações.
Quando uma pessoa negocia em situações de conflito, está influenciada pela
sua condição de ser humano, sua postura frente à vida, às informações, ao contexto,
a seus valores, sua cultura e seus preconceitos e “pré-juízos”. Com todos esses
fatores influenciando na tomada de decisões, a pessoa deve ser capaz de aumentar
o peso dos fatores objetivos para decidir, com base em fatores mais racionais,
minimizando os riscos das influências dos aspectos emocionais.
Frente à situação de tomar uma decisão, as pessoas podem adotar as
seguintes atitudes:
• Evitar a decisão: propondo ou recorrendo aos outros para que decidam por
ela. É a reação mais perigosa para a pessoa que a assume.
• Apegar-se ao passado: toma suas decisões em função do que ocorreu no
passado.
• Confiar na intuição.
• Realizar um processo mental: analisa mentalmente os dados disponíveis
e elege a alternativa que considera a melhor, sem recorrer a nenhum método ou
instrumento formal que auxilie este processo mental.
• Agir informalmente: toma notas, faz consultas, reúne informações,
mas segue confiando em suas habilidades intuitivas ou na sua experiência para
selecionar a alternativa que julga a mais apropriada.
• Desenvolver um processo lógico e formal: utiliza diferentes instrumentos
de análise, combinando com habilidades intuitivas, técnicas e conceituais, com a
finalidade de chegar à uma decisão que ofereça a maior probabilidade de êxito.
capítulo 2 • 50
detalhada. Outros, entram numa negociação com base puramente intuitiva, sem
nenhuma informação consistente.
• O contexto, o ambiente organizacional, cultural, social, político e
econômico, também são fatores importantes na tomada de decisão.
• Finalmente, os preconceitos, em relação à situação, formam o último
elemento neste processo. Tomar decisões com base em preconceitos nem sempre é
negativo, principalmente em situações rotineiras.
Métodos autocompositivos
Negociação
capítulo 2 • 51
3. As partes devem ter possibilidade de comunicar entre si – para que
exista a busca de um acordo, é necessário ter oportunidade de comunicar o
que se oferece e o que se aceita.
Conciliação
capítulo 2 • 52
Analisadas a dimensão do conflito e as partes nele envolvidas, a conciliação
pode apresentar-se como o método eficaz para a sua rápida solução, que, em
geral, se desenvolve em apenas quatro etapas: (a) na primeira delas, o conciliador
esclarece às partes acerca do procedimento e as implicações legais do alcance
do acordo; (b) na segunda, as partes manifestam suas posições e o conciliador,
ouvindo-as e questionando-as sobre os fatos, deverá identificar os pontos
convergentes e divergentes da controvérsia, criando atalhos para a terceira etapa;
(c) na terceira, são criadas as opções para a solução da lide, inclusive, se for o caso,
com informações técnicas ou sugestões de terceiros, visando ao consenso ou ao
fechamento do acordo; (d) na quarta e última, a redação do acordo/transação e
sua assinatura.
A conciliação atualmente é (ou ao menos deveria ser) um processo consensual
breve, envolvendo contextos conflituosos menos complexos, no qual as partes ou
os interessados são auxiliados por um terceiro, neutro à questão, ou por um painel
de pessoas sem interesse na causa, por meio de técnicas adequadas, a chegar a uma
solução ou acordo.
Assim, a utilização de técnicas adequadas na conciliação, como as ferramentas
da mediação, pressupõe na essência que os profissionais não se afastem dos
princípios norteadores do disposto no Código de Ética da Resolução 125 do
Conselho Nacional de Justiça, de 29 de novembro de 2010.
Mediação
capítulo 2 • 53
O mediador, na mediação, atua exclusivamente como mediador. O que
isso quer dizer? Na mediação, o mediador está eticamente impedido de exercer
sua profissão de origem, inclusive no que diz respeito a prestar esclarecimentos
técnicos às partes. Caso estas informações sejam necessárias, os mediandos devem
ser orientados a procurarem um especialista naquela área.
O mediador é imparcial em relação aos mediandos e ao tema que está sendo
tratado. Isso é fundamental para o estabelecimento da confiança das partes no
mediador e na mediação. Uma outra questão importante na técnica da mediação
é a competência do mediador, que deve ser capacitado para que desta forma possa
conduzir a mediação de forma satisfatória, zelando para manter a autonomia das
partes e o protagonismo das mesmas.
capítulo 2 • 54
Verificamos, de acordo com as diferenças demonstradas, anteriormente, que
a conciliação pressupõe uma participação ativa do conciliador para a resolução do
conflito, podendo ele sugerir soluções , enquanto na mediação, a intervenção do
mediador mostra-se mais passiva, na medida em que nessa ele atua como mero
facilitador da negociação e as partes agem de forma conjunta para solucionar a
controvérsia, devendo, por isso, o mediador deixar de externar sua opinião ou
posicionamento sobre o assunto, pois isso poderia significar que estaria agindo
de forma a dar razão a uma das partes, o que poderia comprometer severamente
a mediação.
Segundo o Guia de Mediação e Conciliação (2015) são estabelecidos diversos
pontos de distinção entre a mediação e a conciliação, sugerindo‑se que:
capítulo 2 • 55
ATIVIDADES
01. Sigmund Freud propôs três componentes básicos estruturais da psique. A parte do
aparelho psíquico que está em contato com a realidade externa e tem a tarefa de garantir a
saúde, segurança e sanidade da personalidade é o: (TRT-MG- Analista judiciário – Psicologia
– 2009)
a) Ego.
b) Id.
c) Superego.
d) Alterego.
e) Consciente pessoal.
02. Há uma cultura do litígio enraizada na sociedade, cuja tendência é resolver os conflitos
de forma adversarial. Nessas circunstâncias, os denominados meios alternativos de resolução
de conflitos apresentam especial importância, com destaque para a mediação, na medida
em que possuem os seguintes objetivos, exceto: (Tribunal de Justiça do Estado do Rio de
Janeiro (TJ-RJ) – Analista Judiciário – 2014)
a) aliviar o congestionamento do judiciário.
b) promover a pacificação social.
c) democratizar o acesso à justiça.
d) promover a autocomposição da solução de controvérsias.
e) garantir a legitimidade dos ritos judiciais.
03. Leia o interessante texto, sobre a Psicologia Cognitiva. Disponível em: <http://criativ.
pro.br/abordagem-cognitiva/>. Acesso em: 25 mar. 2017.
Após a leitura do texto, analise, quanto às inteligências múltiplas, quais delas são
importantes para aqueles que seguem uma carreira relacionada às Ciências Sociais.
LEITURA
Não deixe de ler a entrevista com as psicólogas Marilene Marodin, Rafaela Duso e
Lisiane Lindenmeyer Kalil sobre Psicologia e Mediação. Disponível em: <http://www.crprs.
org.br/upload/others/file/294fcb07ef9277c4b48c99809e111c33.pdf>. Acesso em: 23
maio. 2017.
capítulo 2 • 56
Artigos
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Humano. Disponível em: <https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/
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tos familiares: reflexões com base na experiência do serviço de mediação familiar em Santa
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MULTIMÍDIA
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capítulo 2 • 57
CURIOSIDADE
Curiosidades sobre alguns autores das teorias da personalidade:
4 fatos fascinantes sobre Carl Jung
Muitas pessoas estão familiarizadas com Jung por sua famosa amizade e eventual
separação de Sigmund Freud, que considerava o relacionamento como de pai e filho. Jung
discordou fortemente da ênfase de Freud sobre o sexo e outras partes de suas teorias,
e a relação logo se deteriorou. No entanto, os dois pioneiros concordam em uma coisa:
um indivíduo deve analisar o funcionamento interno da mente, incluindo os seus sonhos
e fantasias.
Jung fundou a psicologia analítica, que enfatiza a importância de explorar ambos os
processos conscientes e inconscientes. De acordo com uma de suas teorias, todos os
humanos compartilham um inconsciente coletivo. Ao contrário do inconsciente pessoal, que
é feito de memórias pessoais e personalidade de cada indivíduo, o inconsciente coletivo
detém as experiências de nossos antepassados. Prova disso pode ser vista, de acordo com
Jung, na mitologia, que compartilha temas semelhantes entre culturas.
A seguir estão quatro outras curiosidades sobre Jung que talvez você não sabia.
1. Jung cunhou os termos introvertido e extrovertido.
Jung acreditava que existem duas principais atitudes que as pessoas usam para se
aproximar do mundo, que ele chamou de introversão e extroversão. As pessoas não são
apenas introvertidas ou extrovertidas. Todos nós somos geralmente uma mistura de ambos,
mas um tipo é mais dominante do que o outro.
Ele conheceu uma jovem de quinze anos e meio, que produziu estados de sonambulismo
e fenômenos espíritas. Convidado a participar, Jung juntou-se as sessões, e pelos
próximos dois anos, meticulosamente tomou notas, até que, no final, a médium,
sentindo seus “poderes” falhando, começou a fazer fraude, e Jung partiu.
capítulo 2 • 58
De acordo com o The Guardian, este trabalho “lançou as bases para duas ideias-chave
em seu pensamento. Em primeiro lugar, que o inconsciente contém ‘partes de personalida-
des’, chamadas complexos. Uma maneira pela qual elas podem revelar-se é por fenômenos
ocultos. Em segundo lugar, a maioria do trabalho de desenvolvimento da personalidade é
feita no nível inconsciente.”.
Inspirado por seu trabalho, Isabel Myers e sua mãe Katharine Cook Briggs criaram o
Inventário tipológico de Myers-Briggs com base em ideias de Jung. Elas desenvolveram a
medida de personalidade na década de 1940. O Myers-Briggs é composto por 16 tipos de
personalidade. Os participantes respondem a 125 perguntas e são, então, colocados em uma
destas categorias.
4. Jung escreveu o que o New York Times chamou de “O Santo Graal
do Inconsciente”.
Jung passou 16 anos escrevendo e ilustrando o seu Liber Novus, que agora é conhecido
como o Livro Vermelho. Nele, Jung investiga profundamente seu próprio inconsciente.
Escondido em um cofre de banco suíço, a cópia original permaneceu inédita até 2009.
Antes de sua publicação, o Livro Vermelho só tinha sido visto por um punhado de pessoas.
Segundo a NPR, “O estudioso junguiano Dr. Sonu Shamdasani levou três anos para conven-
cer a família de Jung a trazer o livro para fora do esconderijo. Foram necessários mais 13
anos para traduzi-lo”.
capítulo 2 • 59
Leia o fascinante artigo do New York Times sobre o Livro Vermelho e a longa e complexa
jornada para publicação aqui. E você pode ler um trecho do livro no NPR.
Disponível em: <http://psicoativo.com/2016/07/4-fatos-fascinantes-
sobre-carl-jung.html>. Acesso em: 5 nov. 2017.
capítulo 2 • 60
Em 1937, Maslow se mudou para Brooklyn, o seu local de nascimento, e começou a
ensinar Psicologia na faculdade de Brooklyn, uma posição que manteve durante 14 anos.
Foi nessa época que algumas de suas melhores obras foram produzidas. Ele ficou conhecido
como o líder da escola da psicologia humanista, que ele se referia como a "terceira força".
Na década de 1960 após entrar em contato com a obra de Peter Drucker e Douglas Mc-
Gregor, Maslow envolveu-se com a área de Gestão de negócios. Passou então a relacionar
as teorias de motivação e personalidade com os estudos de gestão.
No fim da década de 1960, foi honrado como "Humanista do ano" pela Associação Ame-
ricana de Psicologia, que o elegeu presidente. Em 1969, Maslow aceitou a bolsa residente da
Fundação Laughlin, e mudou-se para Menlo Park, Califórnia. Atualizou seu livro Motivação e
Personalidade, que ele tinha escrito pela primeira vez em 1954. Também escreveu mais dois
livros: Rumo a uma Psicologia do Ser e Além da natureza humana.
Maslow retornou a Nova York onde morreu em 8 de junho de 1970, vítima de um ataque
cardíaco, quando passeava próximo à sua residência.
Disponível em: <http://abrahammaslow190808.blogspot.com.br/2013/04/quem-foi-
abraham-maslow.html>. Acesso em: jun. 2018.
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2. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2012.
capítulo 2 • 62
3
Personalidade:
definições,
características e
transtornos.
Psicopatologia
aplicada ao Direito
Personalidade: definições, características
e transtornos. Psicopatologia aplicada ao
Direito
A Psicologia científica apresenta embasamento teórico da personalidade.
Popularmente, a personalidade é atribuída sendo boa ou ruim porém, na
Psicologia, ela deve estar alheia a esse juízo de valor, tornando-se o estudo
das características que diferenciam os indivíduos. Na tentativa de agrupar e
diferenciar as características da personalidade, pode-se dizer que os determinantes
inconscientes do comportamento e os determinantes conscientes são fatores
centrais entre algumas teorias da personalidade, porém considera-se também, a
hereditariedade, a base biológica e os aspectos sociais do indivíduo como aspectos
relevantes na determinação da personalidade dele.
A personalidade pode ser definida como o conjunto de características que
determinam os padrões pessoais e sociais de uma pessoa. Sua formação é um
processo gradual, complexo e único para cada indivíduo. No que diz respeito
ao senso comum, o termo personalidade é usado para descrever características
marcantes de uma pessoa, como “essa pessoa é extrovertida ou aquela menina é
tímida”. No entanto, o conceito de personalidade está relacionado às mudanças de
habilidades, atitudes, crenças, emoções, desejos, e ao modo constante e particular
do indivíduo perceber, pensar, sentir e agir, além da interferência de fatores
culturais e sociais nessas características.
Neste capítulo, estudaremos, também, a Psicopatologia e sua aplicação no
Direito. É importante, em primeiro lugar, sabermos qual é o estudo que esta dis-
ciplina faz, e qual a sua importância para a área jurídica. A Psicopatologia pode
ser definida como um estudo descritivo13 dos fenômenos psíquicos considerados
anormais, da forma como se apresentam à experiência imediata. Estuda os gestos,
o comportamento e as expressões destas pessoas, além de relatos e autodescrições
feitas pelas mesmas. É diferente da Psiquiatria, porque é uma ciência normativa
que estuda e classifica os fenômenos mentais, não tendo como objetivo a clínica
médica aplicada, assim como o tratamento e a assistência aos portadores de trans-
tornos mentais.
13 Realiza-se o estudo, a análise, o registro e a interpretação dos fatos do mundo físico sem a interferência do
pesquisador. Disponível em: <http://posgraduando.com/diferencas-pesquisa-descritiva-exploratoria-explicativa/>.
Acesso em: 2 abr. 2017.
capítulo 3 • 64
A Psicopatologia está ligada a diversas disciplinas: às Psicologias, às Psiquiatrias
e à Psicanálise. Em relação à Psicologia liga-se com a Psicologia Clínica (dedicada
ao diagnóstico e estudo da personalidade), a Psicologia Geral (noções de sub-
jetividade, intencionalidade, representação, atos voluntários) e a Neurociência14,
entre outras áreas. A Psicopatologia considera o indivíduo em sua globalidade, está
sempre atenta para os padrões de normalidade em que o indivíduo questionado
está inserido, não se deixando guiar “cegamente” pelos sintomas15. Considerar
um sintoma isolado é fazer o objetivo principal de compreender o indivíduo
ser esquecido.
OBJETIVOS
• Estudar as diferentes definições de personalidade;
• Reconhecer características formadoras da personalidade;
• Identificar os transtornos de personalidade;
• Compreender os conceitos de saúde mental e transtorno mental;
• Identificar alguns transtornos mentais;
• Analisar a Lei Antimanicomial.
O comportamento humano
capítulo 3 • 65
você deve desenvolver uma observação destes desprovida de preconceitos e construir
certa distância emocional, que permita envolver-se sem se deixar dominar ou ser
absorvido pelo outro.
Os comportamentos acontecem em um esquema de referência de valores. A
pessoa que carrega uma carga de preconceitos, no momento da observação ou
do relacionamento com o outro, terá uma percepção distorcida daquilo que está
acontecendo e não realizará seu trabalho com objetividade. É importante que
todo acadêmico ou profissional da área do Direito cuide de seus preconceitos
e pensamentos automáticos16, flexibilizando seus esquemas17 de pensamentos e
compreendendo seus próprios mecanismos de defesa (NOTA).
Os comportamentos sofrem modificações cognitivas e comportamentais
no decorrer do tempo. Estas mudanças, muitas vezes, acarretam comentários
como “não acredito que Fulano pudesse se comportar daquele jeito...”. Devemos
sempre pensar o comportamento humano como um complexo formado pelas
características do indivíduo, seu ambiente, sua cultura, suas experiências e as
influências das situações vividas a cada momento em sua vida.
Personalidade
capítulo 3 • 66
selecionados da memória, ou seja, uma realidade psíquica que pode ou não ter
maior proximidade com aquilo que realmente aconteceu.
Diferentes autores conceituam a personalidade, procurando cada um enfatizar
um ou outro elemento de sua constituição. Vamos a algumas conceituações. Para
Skinner, citado por Fadiman; Frager (1986), a personalidade seria um conjunto de
padrões comportamentais. De acordo com Beck (BECK; FREEMAN, 1993), o
conceito de personalidade seria uma organização, relativamente estável, composta
de sistemas e moldes. Segundo Kaplan e Sadock (1993), a personalidade
seria uma totalidade relativamente estável e previsível de traços emocionais
e comportamentais, que identificam a pessoa no seu cotidiano, sob condições
normais.
Para Freud, segundo Araújo (2010), a personalidade humana é dividida
em três grandes superestruturas, estas compreendem os seguintes complexos
psicológicos: Ego, Id e Superego. O Ego é a parte da personalidade que toma as
decisões a respeito de que impulsos do Id deverão ser satisfeitos e de que modo.
O Id é a parte inicial da personalidade, é a partir dela em que o Ego e o Superego
se desenvolvem, ele é responsável pela concretização dos impulsos biológicos mais
básicos inerentes a pessoa humana. Porquanto o Superego é a parte cognitiva da
personalidade que está encarregada de julgar e distinguir o que é certo e errado; de
uma maneira geral, ele é a reprodução dos valores e costumes internacionalizados
pelo individuo.
Finalizando, Allport, citado por Campbell; Hall; Lindsey (2000), considera
a personalidade como uma organização dinâmica dos sistemas psicofísicos do
indivíduo, que determinam seus ajustamentos ao ambiente. A personalidade,
neste sentido, adapta-se às exigências e transformações do meio, buscando certa
estabilidade que é fundamental para o convívio social.
Existem diversas conceituações não científicas de personalidade. Algumas de-
las procuram conceituar personalidade a partir da relação do tipo físico com o
comportamento, por exemplo, as pessoas gordas são alegres e as magras são sérias.
Estas situações apresentam como resultado a indução de prejulgamentos e a cria-
ção de estereótipos19 . São desprovidas de sentido, deixando de levar em conta
uma série de fatores, como as influências do meio, as histórias de vida das pessoas
e o ambiente em que estão inseridas.
19 é a imagem preconcebida de determinada pessoa, coisa ou situação. São usados principalmente para definir e
limitar pessoas ou grupo de pessoas na sociedade. Sua aceitação é ampla e culturalmente difundida, sendo um grande
motivador de preconceito e discriminação. Disponível em <https://pt.wikipedia.org/wiki/Estere%C3%B3tipo>
capítulo 3 • 67
A personalidade se manifesta a partir do comportamento das pessoas em re-
lação a uma situação ou em relação às pessoas presentes ou não, reais ou ilusórias.
Para compreendermos o comportamento das pessoas, não podemos desconsiderar
os fatores cognitivos, comportamentais e ambientais e suas inter-relações, além
das influências da cultura e da história de vida de cada um, inserido em um deter-
minado contexto.
Resumindo, a partir do que estudamos até agora, podemos conceituar
personalidade, segundo Fiorelli, Fiorelli, Malhadas Junior (2015) como “uma
condição estável e duradoura dos comportamentos da pessoa, embora não
permanente.” (p. 179)
Características da personalidade
capítulo 3 • 68
já sabemos serem aspectos habituais dos comportamentos dos indivíduos. Elas são
apenas exemplificativas e não temos a pretensão de esgotar um assunto tão amplo.
Escolhemos apenas quatro características, considerando a importância que
apresentam para a relação cliente-profissional. Recomendamos, para maior apro-
fundamento deste tema, a leitura do capítulo 6 do Livro Psicologia aplicada ao
Direito de Fiorelli; Fiorelli; Malhadas Junior (2017).
capítulo 3 • 69
científica para classificarmos os quadros clínicos e realizarmos hipóteses diagnós-
ticas sobre o estado de saúde mental das pessoas. Em nossa aula, escolhemos a
Classificação Internacional de Doenças (CID-10)20, lembrando que essa esco-
lha não quer dizer que os outros sistemas classificatórios apresentem menor va-
lor científico.
Durante muito tempo, o comportamento “anormal” era considerado
produto de doença mental. Algumas teorias diziam que o cérebro de uma pessoa
“anormal” era diferente. Existiram épocas em que o comportamento “anormal” foi
considerado obra de demônios e de bruxarias. Algumas correntes da Psiquiatria
defendem que o conceito de doença mental é um mito. De acordo com Szasz. A
maioria das pessoas possui ideias preconcebidas do que seja um comportamento
anormal. No entanto, temos de entender quais são os padrões que nos levam a
concluir sobre a anormalidade. A divergência de opiniões sobre a anormalidade é
o resultado dos diferentes padrões que as pessoas usam para chegar a esta definição.
Em geral, temos as normas sociais, estatísticas e pessoais.
Em relação às normas sociais, podemos dizer que elas regem nosso
comportamento. Precisamos destas regras para estabelecer os padrões de
convívio, punir os comportamentos que se desviam destes padrões e reforçar
os comportamentos desejáveis. Nesse caso, a pessoa “anormal” não conseguiria
satisfazer as normas de conduta em seu meio. As leis estabelecem objetivamente
as normas de conduta. Sendo assim, uma pessoa com formação jurídica definiria
o sujeito “anormal”, como aquele que infringe as leis. Por exemplo, o cidadão
que trafica, rouba, furta, violenta, assassina alguém, de acordo com estas normas,
seria considerado anormal porque descumpre a lei. No entanto, caso um
homem ande pelas ruas vestido de noiva, falando sozinho, não pode ser preso
por causa desta atitude, mas seu comportamento seria apenas estranho para os
padrões sociais.
Quando falamos de normas estatísticas, estamos considerando como
“anormais” aqueles comportamentos que, quantitativamente, divergem da média
das pessoas em um local. A forma de estabelecermos qual é o comportamento
“normal” e o “anormal” é dada pela determinação do comportamento médio das
pessoas, a partir de uma amostra de sujeitos deste local. As normas devem estar bem
definidas, mas caso isso não ocorra, teremos dificuldades nesta identificação. Além
20 A Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (também conhecida como
Classificação Internacional de Doenças – CID 10) é publicada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e visa
padronizar a codificação de doenças e outros problemas relacionados à saúde. Disponível em: <https://pt.wikipedia.
org/wiki/Classifica%C3%A7%C3%A3o_Estat%C3%ADstica_Internacional_de_Doen%C3%A7as_e_Problemas_
Relacionados_com_a_Sa%C3%BAde>. Acesso em: 1 abr. 2017.
capítulo 3 • 70
disso, existem os casos especiais, por exemplo, um profissional da área de saúde
que precisa constantemente lavar suas mãos, dentro de um critério estabelecido
pela média, estaria realizando um comportamento “anormal”, no entanto, dentro
de sua atividade profissional, esta classificação não ocorreria.
Em relação às normas pessoais, a autoavaliação e a autolinguagem das pessoas
poderão ser indicadores de que a pessoa está fora dos padrões da “normalidade”. As
normas pessoais, ao mesmo tempo que são as mais simples, são as mais complexas
porque dependem do grau de sensibilidade das pessoas para perceberem seus
estados emocionais. Thomas Szasz (1961), professor de Psiquiatria e autor de
vários livros nesta área, defendia a ideia de que o conceito de doença mental é mito.
Para ele, a ideia de difusão e rotulação da doença mental atendia muito mais aos
interesses mercadológicos da Psiquiatria do que a uma realidade psicopatológica.
capítulo 3 • 71
O termo “transtorno mental” utilizado no lugar de doença, é um critério ado-
tado pelo CID-10, no qual se entende que o problema ou o conflito social sem
o comprometimento do funcionamento do indivíduo não deve ser considerado
transtorno mental (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 1993, p. 5).
Segundo esta Organização (OMS,1993), o funcionamento do indivíduo apresen-
ta comprometimento quando:
• Funções mentais superiores21 apresentam-se comprometidas dificultando
ou acarretando problemas no comportamento do indivíduo;
• As atividades de vida diárias, geralmente necessárias para a integração do
indivíduo com o ambiente, estão comprometidas, de alguma forma.
Transtornos mentais
capítulo 3 • 72
Alterações da personalidade
encontrar soluções estratégicas para enfrentar e superar as adversidades. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/
wiki/Resili%C3%AAncia_(psicologia)>. Acesso em: 4 abr. 2017.
capítulo 3 • 73
O indivíduo interpreta de maneira errada ou distorce as
ações de outras pessoas. Está sempre percebendo com
desconfiança o comportamento das pessoas, mesmo que
estes sejam amistosos ou neutros. Costuma guardar rancor,
TRANSTORNO DE não perdoa injúrias ou ofensas e, desta forma, é comum bus-
PERSONALIDADE car a via judicial para conseguir suas reparações. Há uma
PARANOIDE desconfiança sistemática e excessiva em relação às pes-
soas. Quando busca auxílio para a solução de seus conflitos,
relaciona várias pessoas que poderiam estar apresentando
comportamentos de perseguição, calúnias, e, até mesmo,
criando planos para prejudicá-lo.
Há uma grande diferença entre o seu comportamento e as
normas e regras da sociedade. São pessoas que estão, com
frequência , com problemas com a lei, violando os direitos
dos outros e agindo com deslealdade. É muito observador,
TRANSTORNO DE e alguns apresentam a habilidade de identificar as pessoas
PERSONALIDADE que servirão aos seus propósitos. Os argumentos em rela-
ANTISSOCIAL ção à moral não fazem sentido porque as pessoas que os
seguem são “bobos” e merecem ser prejudicados. Segundo
Fiorelli; Fiorelli; Malhadas Júnior (2015), são pessoas com
baixa tolerância à frustração, racionalizam as situações e
não aprendem com a punição.
São pessoas que são incapazes de tomar decisões, ter ini-
TRANSTORNO DE ciativa e assumir responsabilidades. Quando é obrigado a
PERSONALIDADE decidir, toma muito cuidado, faz muitas perguntas e pede
DEPENDENTE muitos conselhos, podendo se tornar alvo de pessoas sem
escrúpulos.
Esses indivíduos apresentam como característica o isola-
TRANSTORNO DE mento. É uma pessoa fria, arredia e não retribui qualquer ma-
PERSONALIDADE nifestação de afeto. Em relação à justiça, é um cliente difícil
ESQUIZOIDE porque pode fazer concessões apenas pelo fato de não ter
disposição para se relacionar com as pessoas.
capítulo 3 • 74
A pessoa apresenta-se de forma sedutora, buscando sem-
TRANSTORNO DE pre a aprovação e elogios dos outros. Suas emoções são
PERSONALIDADE expressas de forma exagerada e inadequada. Quando não é
HISTRIÔNICA o centro das atenções, sente-se desconfortável. Tem relacio-
namentos interpessoais exagerados, que não a gratificam.
É uma pessoa muito detalhista e preocupada com tudo que
TRANSTORNO DE a cerca. Apresenta rigidez, obstinação, excesso de escrúpu-
PERSONALIDADE los, e um forte senso de defesa de seus direitos. Não tem
ANANCÁSTICA muitos amigos ou colegas de trabalho, porque suas atitudes
o fazem parecer superior e desagradável aos outros.
Transtorno de ansiedade
Estes transtornos são aqueles que se acham mais interligados com o estresse. Em
muitas ocasiões, a combinação de manifestações psicológicas e orgânicas aumenta
a tensão e a instabilidade emocional da pessoa, interferindo em seu desempenho.
Alguns sintomas podem ser exemplificados, segundo Fiorelli; Fiorelli; e, Malhadas
Júnior, como:
• Expectativa do pior, frente a qualquer notícia;
• Sensação de tensão, irritação e impossibilidade para relaxar, podendo levar
a dificuldades com o sono;
• Dificuldade de concentração nas atividades, associada a alterações
na memória.
Transtorno obsessivo-compulsivo
Este transtorno tem sido objeto de vários filmes por causa dos famosos rituais
aos quais as pessoas se veem submetidas. Podemos definir a obsessão como uma per-
sistência patológica de um pensamento ou sentimento irresistível, sempre associado
capítulo 3 • 75
à ansiedade e que não pode ser eliminado da consciência pelo esforço da lógica
(FIORELLI; FIORELLI; MALHADAS JUNIOR, 2015, p. 239). O indivíduo
procura afastar este pensamento ou sentimento, sem sucesso. A obsessão pode vir
associada a uma compulsão, que seria considerada como aquele comportamento
ritualístico que envolve a repetição de um comportamento estereotipado. Seu obje-
tivo é proteger o indivíduo da possibilidade de ocorrência de um evento improvável.
Podemos exemplificar estas duas situações pela situação em que uma pessoa cria a
ideia de que os objetos em seu trabalho estão contaminados. A cada manuseio de
um objeto tem de ir ao banheiro lavar as mãos, caso contrário poderá contrair uma
doença grave. No trabalho, esta situação envolverá uma baixa produtividade e na
família estas atitudes poderão limitar a liberdade das pessoas.
Este transtorno, que ocorre após um evento traumático, acarreta uma série
de consequências para as pessoas, nem sempre atribuídas pelo trauma, porque
surgem de forma tardia em relação a este fato. Podemos encontrar como exemplos:
• Paralisação brusca das atividades, com períodos de afastamentos acarretados
pelo estado físico ou emocional;
• Alterações comportamentais que afetam o relacionamento com as pessoas;
• Dificuldade de reiniciar suas tarefas, em razão das alterações
comportamentais;
• Incapacidade de realizar certas tarefas que antes eram realizadas
com facilidade.
Mania
capítulo 3 • 76
Depressão
capítulo 3 • 77
Lei 10.216 de 6 de abril de 2001 – Lei antimanicomial
Você sabia que o portador de transtornos mentais tem uma lei especial que o
protege? Em 1987, surgiu o Movimento da Luta Antimanicomial, fruto de um
Encontro Nacional de Trabalhadores da Saúde Mental. Seu lema era “por uma
sociedade sem manicômios”. Nesta época, várias denúncias foram realizadas em
relação a abusos e violações dos direitos dos portadores de transtornos mentais,
principalmente, dentro das instituições psiquiátricas.
A luta era pelo fim da internação e a criação de tratamentos alternativos. Um
dos resultados desse movimento foi a criação da lei 10.216, em 2001, também
conhecida como lei antimanicomial ou lei Paulo Delgado. Esta legislação determi-
nou o fechamento progressivo dos hospitais psiquiátricos e a instalação de serviços
substitutivos.
A partir deste momento, o Brasil vem eliminando, gradativamente, as inter-
nações e substituindo-as pelos serviços dos Centros de Atenção Psicossociais, re-
sidências terapêuticas, programas de redução de danos, Centros de Convivência,
oficinas de geração de renda, entre outros programas. Para que você conheça um
pouco mais, disponibilizamos a lei nos links selecionados deste capítulo.
ATIVIDADES
01. Os conceitos centrais no pensamento freudiano para entender como funciona a psique
humana são
a) imaginação, superação de si e traumas. d) sonhos, traumas e anomalias.
b) consciência e traumas reais. e) Ego, Id e Superego.
c) consciência e realidade latente.
02. A lei 10.216, denominada Lei da Reforma da Assistência Psiquiátrica, dispõe que a
internação psiquiátrica deve
a) em todas as suas formas, ser determinada por profissional de saúde mental não médico.
b) em todas as suas formas, ser determinada por juiz de direito.
c) em todas as suas formas, ser determinada por psiquiatra.
d) em todas as suas formas, ser determinada pela autoridade policial.
e) em todas as suas formas, ser determinada pela autoridade administrativa.
capítulo 3 • 78
MULTIMÍDIA
Não deixe de assistir ao vídeo sobre Id, Ego e Superego para aprofundar os seus
conhecimentos em relação a esta teoria sobre a formação da personalidade. Disponível em:
<http://psicoativo.com/2015/12/o-que-e-ego-para-freud.html>. Acesso em: jun. 2008
Assista ao vídeo do Dr. Thomas Szasz sobre a Psiquiatria. É realmente uma conferência
que nos fará pensar sobre as questões relacionadas aos transtornos mentais e seus
tratamentos. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=uE0mysIHvvg>. Acesso
em: 2 abr. 2017.
LEITURA
Artigos
ARAUJO, M. E. da S. As teorias da personalidade: uma abordagem ampla e ontológica.
In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIII, n. 78, jul 2010. Disponível em: <http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=8046>. Acesso
em: mar 2017.
DELGADO, P. G. G. Saúde Mental e Direitos humanos. Disponível em: <http://pepsic.
bvsalud.org/pdf/arbp/v63n2/12.pdf>. Acesso em: 4 abr. 2017.
MARCIANO, Carlos Eduardo. O transtorno mental ou psicológico nas relações
de trabalho e o dever de indenizar por parte do empregador. In: Âmbito Jurídico,
Rio Grande, XVIII, n. 139, ago 2015. Disponível em: <http://www.ambitojuridico.com.br/
site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=15810&revista_caderno=25>. Acesso em:
abr. 2017.
NARCISO, L. S. Habilidades pessoais e interpessoais do advogado no contexto
interpessoal. Disponível em: <http://webartigos.com/artigos/habilidades-pessoais-e-
interpessoais-do-advogado-no-contexto-interpessoal/115348>. Acesso em: 28 mar. 2017.
SOUZA, C. A. C. de; MORETTO, C. P.; CORNELLIS, F. Transtorno de personalidade
antissocial: pena ou medida de segurança? Disponível em: <http://www.polbr.med.br/
ano06/artigo0806.php>. Acesso em: 28 mar. 2017.
SCHWARTZMAN, R. S. Psiquiatria, psicanálise e psicopatologia. Psicol. cienc. prof.
v. 17 n. 2 Brasília, 1997. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttex-
t&pid=S1414-98931997000200005>. Acesso em : 1 abr. 2017.
capítulo 3 • 79
CONEXÃO
Visite a página do Laboratório de Estudos sobre a personalidade da Universidade de
São Paulo. Disponível em: <http://www.ip.usp.br/portal/index.php?option=com_conten-
t&view=article&id=2194%3Alep-links-de-interesse&catid=353&Itemid=199&lang=pt>.
Acesso em: jun. 2018.
Visite a página do Professor Universitário Paulo Gabriel Godinho Delgado, sociólogo, pós-
graduado em ciências políticas, deputado federal por seis mandatos a partir da Constituinte
iniciada em 1987. Disponível em: <http://www.paulodelgado.com.br/lei-n%C2%BA-10-
216-de-6-de-abril-de-2001/>. Acesso em: 4 abr. 2017.
CURIOSIDADE
Identidade versus Personalidade
Muito se fala e se confundem os conceitos de personalidade e identidade, mas quais são
as principais semelhanças e diferenças?
Ao longo do tempo, os conceitos de personalidade e de identidade, confundem-se pelo
senso comum, porem ambas são conceitos muito diferentes, entre si.
Personalidade: O conceito de personalidade é complexo, podemos encontrar varias de-
finições, originadas em várias teorias ou mesmo várias “escolas de pensamento”. Não existe
uma definição exata e completa, tendo em conta as várias teorias e as várias perspecti-
vas existentes.
De forma generalista e resumida, personalidade é uma organização interna e dinâmica
do sistema psicológico, com todos os seus componentes. Esta mesma organização define
padrões relativamente coerentes de comportamentos, atitudes, pensamentos, sentimentos
e emoções. Esse padrão embora alterável constrói-se e reconstrói-se de forma gradual. Os
elementos e componentes que a vão constituindo, inicialmente é mais um elemento, mas
posteriormente contribui para a integração do próximo componente ou experiência.
capítulo 3 • 80
A personalidade é:
• Uma organização, um todo, funcionando como um conjunto e não como um conjun-
to de partes individuais;
• Dinâmica, embora geralmente não se altere radicalmente, está longe de ser consi-
derada estática ou mesmo imutável;
• Psicológica, mas intimamente relacionada com o corpo e os seus processos;
• O “filtro” entre a pessoa e o mundo, definindo a forma como se relaciona com o
mundo interno e externo;
• Um constructo analítico e abstrato, não existindo fisicamente, expressando-se
unicamente em padrões de comportamento, pensamento e emoções.
A identidade é
• O conjunto total das nossas características próprias que nos fazem únicos e exclu-
sivos, diferentes de todos os outros seres humanos e todos os outros animais;
• O que nos faz únicos e exclusivos do resto das pessoas são muito mais que ca-
racterísticas psicológicas. A identidade é o conjunto de características psicológicas, físicas,
culturais etc. Não existe identidade perfeita, mas sim identidade mais ou menos adaptada ao
meio envolvente;
• A identidade é o que nos define quem somos, bem como a nossa missão. Ela diz
aos outros e a nós, quem somos e para onde vamos. Identidade é única e absoluta em si
mesmo. Não tem sentido encontrar duas pessoas com identidades semelhantes, podemos
encontrar pessoas que partilham a mesma cultura, de personalidades semelhantes, fisica-
mente semelhantes etc., mas não a identidade;
• Em termos de comparação, a personalidade é um conjunto de elementos e compo-
nentes psicológicos, enquanto a identidade é o conjunto de elementos, sendo a personalida-
de um deles;
• Existem instrumentos que avaliam a personalidade, mas não que avaliam
a identidade.
E você, conhecia a diferença?
Disponível em: <http://www.psicologiafree.com/curiosidades/identidade-vs-
personalidade/>. Acesso em: 5 nov. 2017.
capítulo 3 • 81
O Holocausto Manicomial 2: trechos da história velada do Juquery
©© CLAUDIO EDINGER
23 A mesma realidade exposta no primeiro texto da série que retratava a história do hospital psiquiátrico de
Barbacena/MG. Ver: O holocausto manicomial.
24 SONIM, Navarro Daniel; FARIAS, Walter. O Capa-Branca – de funcionário a paciente de um dos maiores
hospitais psiquiátricos do Brasil. São Paulo: Editora Terceiro Nome, 2014. “No livro O Capa-Branca, o jornalista
Daniel Navarro Sonim reuniu, a partir de manuscritos e entrevistas, as experiências de vida de Walter Farias, ex-
funcionário que se transformou em paciente, na década de 1970, do Complexo Psiquiátrico do Juquery. Aprovado
no concurso público para atendente de enfermagem, Walter é designado para cuidar de pacientes acamados ou que
perambulam, alheios à realidade, pelos corredores das clínicas do Hospital Psiquiátrico. A vida do protagonista de O
Capa-Branca começa a tomar outro rumo depois da repentina transferência para o Manicômio Judiciário, onde ele
convive com pacientes que cometeram crimes. A rotina no manicômio abala sua sanidade e o obriga a abandonar
seu trabalho. Dali em diante, ele tem que se internar. Ao se tornar mais um paciente do Juquery, passa a sentir na
pele os horrores daquele lugar”.
capítulo 3 • 82
Em 1922, foi inaugurado um pavilhão de menores, chegando ao número de 3.520 crian-
ças em 1957. Entre 1957 e 1958, o número de pacientes passou de 7.099 para 11.009;
e, neste último ano, atingiu a marca de 14.000 internados. Em 1981, o complexo contava
com 4.200 pacientes entre o Juquery e o Manicômio Judiciário, instalados na mesma área25.
Sobre as “terapias” utilizadas no hospital, além da Malarioterapia, outras terapias foram
aplicadas, como as injeções de substâncias químicas como o protinjetol, o sulfurpiretógeno, o
“Dmelcos”, injeções de leite, cálcio etc. Foi a terapia biológica mais utilizada no Juquery, mas
foi perdendo força com o uso das demais terapias biológicas e finalmente com o advento
dos psicofármacos e dos antibióticos (…). No final da década de 1930, o choque cardiazó-
lico foi introduzido. Este inaugurou as “terapias convulsivantes” que pretendiam curar casos
de esquizofrenia e de diversas psicoses. Inicialmente essa forma terapêutica era ministrada
por injeções de cânfora e, por provocar uma crise convulsiva mais forte, foi substituída pela
injeção de cardiazol26.
Nas festividades (?) dos cem anos do hospital (final dos anos 1990), o perfil dos internos
do Juquery não era muito diferente do da inauguração. Dos 1.670 pacientes, apenas 25%
eram “doentes mentais”. Internados há muitas décadas os pacientes eram ociosos, deslocan-
do-se apenas para comer, dormir e, esporadicamente, tomar banho de sol. As queixas de má
alimentação e falta de higiene ainda eram constantes. Estes cem anos ferem, envergonham
e criam dívida com a história da humanidade. Eles têm a marca e a identidade do sofrimento
humano27.
Ressaltamos que no início dos anos 2000 (antes da promulgação da Lei Antimanico-
mial), o Brasil detinha o título de país com o maior parque manicomial do mundo28, com
quase 100 mil pacientes confinados. Nesse período, o Juquery somava um histórico de
25 CREMESP – Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo.
26 TARELOW, Gustavo Querodia. Humores, choques e laboratórios: o Juquery administrado por Pacheco e
Silva (1923-1937). Disponível em: <http://www.anpuhsp.org.br/sp/downloads/CD%20XX%20Encontro/PDF/
Autores%20e%20Artigos/Gustavo%20Querodia%20Tarelow.pdf>. Acesso em: jun. 2018.
27 Dados fornecidos por Isabel Cristina Lopes, psicóloga e fundadora da Associação SOS Saúde Mental. Na
época ela concedeu uma entrevista revelando os bastidores do Juquery. Disponível em: <http://www.crpsp.org.br/
PORTAL/comunicacao/jornal_crp/113/frames/fr_denuncia.aspx_>. Acesso em: jun. 2018.
28 Números inflacionados, sobretudo, durante a ditadura militar. Com as mudanças efetivadas na sociedade
brasileira a partir do golpe militar de 1964, a assistência à saúde foi caracterizada por uma política de privatização
maciça. No campo da assistência psiquiátrica, fomentou-se o surgimento das “clínicas de repouso”, denominação
dada aos hospitais psiquiátricos de então, além de métodos de busca e internamento de pessoas. Desse modo,
passa a prosperar a recém-criada e rentável “indústria da loucura”. Nos anos seguintes, o número de hospitais
psiquiátricos e leitos contratados aumentou. Além disso, com o desenvolvimento da industrialização no Brasil após
1964 e com a intensificação do modelo tecnocrata e capitalista de produção, adotado pela ditadura militar, se
favorece o crescimento de uma forte indústria farmacêutica, que fomenta a necessidade de um “mercado interno
compensador”. Assim, em 1964, tínhamos 74 manicômios e no final da ditadura os números subiram para 395.
(COSTA, Augusto César de Farias. Direito, Saúde Mental e Reforma Psiquiátrica. In: Ministério da Saúde, Secretaria
de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Departamento de Gestão da Educação na Saúde; ARANHA, Márcio
Iorio (Org.). Direito sanitário e saúde pública. Coletânea de textos. v. I. Brasília: Ministério da Saúde, 2003).
capítulo 3 • 83
120 mil pacientes e só num período de 10 anos – entre as décadas de 1970 e 1980 – che-
gou a abrigar entre 16 e 20 mil pacientes.
Enquanto o Brasil “comemorava” os 100 anos (de torturas e mortes) do funcionamento
do Juquery, a Declaração Universal dos Direitos Humanos fazia 50 anos. No ato em que se
festejava que todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos;
que todo indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal; e que ninguém
será submetido à tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes.
Contraditoriamente, muitos aplaudiam a perpetuação do genocídio e desejavam, certamente,
votos de muitos anos de vigência da barbárie manicomial.
Em 2005, houve um incêndio que atingiu o setor administrativo do hospital, a biblioteca e
destruiu praticamente todos os registros de internação. Afirmam ex-funcionários que nesses
livros constavam uma média de 33.977 óbitos. No meio destes, estavam dois mil menores,
dentre eles: adolescentes, crianças e natimortos29. O incêndio impediu uma série de investi-
gações e comprovações documentais do genocídio que ali ocorreu.
Atualmente, o hospital vive um processo de desativação que já dura uma década. Vários
já foram transferidos para residenciais terapêuticos e instituições no interior com melhores
condições de acolhimento, mas ainda não há uma política eficiente que atenda as diretrizes
da Reforma Antimanicomial (lei 10.216/01). Os que continuam lá internados são pessoas
“cronificadas” que estão há mais de 30 anos e não possuem condições para reinserção so-
cial, devido à ausência dos familiares30.
No mundo dos cadáveres adiados, o que se pode depreender é que a “morte” de cada
“malvivente” surte efeitos farmacêuticos sobre os bem-viventes31. E é importante que se diga
o óbvio: o Estado diariamente psiquiatriza o perigo público, enjaula e joga a chave fora.
Thayara Castelo Branco é Advogada. Mestre e Doutoranda em Ciências Criminais pela
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), com área de pesquisa em
Violência, crime e Segurança Pública.
29 Não se sabe ao certo a origem dessas crianças no hospital. Mas acredita-se, como ocorreu em Barbacena, que
elas são frutos da violência sexual interna e dos casos de mulheres que já chegavam grávidas no local. Há inclusive
um caso muito significativo: duas crianças de dez dias, registradas como filhos de internas, que morreram no mesmo
dia e sem atestado de óbito. Disponível em: <http://www.crpsp.org.br/PORTAL/comunicacao/jornal_crp/113/
frames/fr_denuncia.aspx_>. Acesso em: jun. 2018.
30 Informações da Secretaria de Saúde de São Paulo.
31 Informações da Secretaria de Saúde de São Paulo.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BECK, A; FREEMAN, A. Terapia cognitiva dos transtornos de personalidade. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1993.
BRASIL. LEI 10.216, DE 6 DE ABRIL DE 2001.Dispõe sobre a proteção e os direitos das
pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde
mental. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10216.htm>. Acesso
em: 4 abr. 2017.
CAMPBELL, J. B.; HALL, C. S.; LINDZEY, G. Teorias da personalidade. 4. ed. Porto Alegre: Artmed,
2000.
FADIMAN, J; FRAGER, R. Teorias da Personalidade. São Paulo: Harbra, 1986.
FIORELLI, J. O.; FIORELLI, M. R.; MALHADAS JUNIOR, M. J. O. Psicologia aplicada ao Direito. São
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FIORELLI, J. O.; MALHADAS JUNIOR, M. J. O.; MORAES, D. L. de. Psicologia na Mediação. São
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JESUS, F. de. Psicologia aplicada à Justiça. São Paulo: AB Editora, 2001.
KAPLAN, H.; SADOCK, B. J. Compêndio de Psiquiatria. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 1993.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Classificação estatística internacional de doenças e
problemas relacionados à saúde. 10. ed. São Paulo: Edusp, 2007.
capítulo 3 • 85
capítulo 3 • 86
4
Psicologia e
violência: crianças,
adolescentes,
mulheres e idosos.
Psicologia e Direito
Penal
Psicologia e violência: crianças, adolescentes,
mulheres e idosos. Psicologia e Direito Penal
A palavra “violência” tem origem na palavra latina vis, que significa força,
exercer a superioridade física sobre alguém, constranger. Segundo a Organização
Mundial de Saúde (OMS, 2002, p. 5) “violência é o uso da força física ou do
poder real ou em ameaça contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um
grupo ou comunidade, que resulte ou tenha qualquer possibilidade de resultar
em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação”.
Esse conceito, como você pode observar, expressa diferentes tipos e categorias
de violência, tomando como base as suas manifestações, isto é, dirigidas da pessoa
contra si mesma (autoinfligida), violência interpessoal e violência coletiva. A
violência é um fenômeno pluricausal, sendo sua ocorrência e origem impossíveis
de serem explicadas ou compreendidas a partir de um só fator. Para que se
possa entender a violência não podemos nos esquecer dos aspectos individuais,
psicológicos, biológicos, familiares, além dos fatores econômicos, sociais e culturais.
O Direito trata da conduta humana, entretanto, todos nós sabemos que a
norma jurídica não é suficiente, muitas vezes, para inibir, comportamentos
delituosos. Até os dias atuais, há uma inquietude, nas diversas áreas do saber, em
relação ao crime e ao criminoso. Esses fenômenos abrangem amplo repertório
teórico, que necessita de variada abordagem interdisciplinar, na tentativa de
fomentar políticas públicas que possam levar à prevenção da prática criminosa.
Sabemos que nenhuma ciência atingiu, ainda, um grau de previsibilidade eficaz
no que diz respeito ao comportamento humano, mas os estudos continuam.
OBJETIVOS
• Estudar a violência contra crianças e adolescentes;
• Identificar os diferentes tipos de violência contra os idosos;
• Analisar a violência contra a mulher;
• Entender a importância da Psicologia para o Direito Penal;
• Estudar algumas questões do Direito Penal Contemporâneo;
• Identificar o trabalho do psicólogo no Sistema Penitenciário.
capítulo 4 • 88
Violência contra crianças e adolescentes
capítulo 4 • 89
O grau de saúde psicológica de crianças e adolescentes, vítimas de violência,
pode ser identificado pelo fator de resiliência, segundo Cruz e Maciel (2009). Este
fator é caracterizado como um processo dinâmico que envolve a capacidade de o
indivíduo em enfrentar os estresses oriundos da violência e as adversidades deste
contexto. A ocorrência dos maus-tratos ou mesmo a suspeita de ocorrência implica
a necessidade de medidas que levem à proteção da criança ou do adolescente.
De acordo com o artigo 13 e 56, I do Estatuto da Criança e do Adolescente
(1990) constata-se que o Conselho Tutelar é mencionado explicitamente como
destinatário da denúncia de maus-tratos, sendo esta obrigatória. No entanto, jun-
to ao Conselho Tutelar, como autoridades competentes para recebimento da de-
núncia de suspeita ou confirmação de maus tratos, o Poder Judiciário, o Ministério
Público e a Polícia Civil ou Militar. Segundo Elias (1994, p. 215), “autoridade
competente, no caso, tanto pode ser o Juiz da Infância e da Juventude quanto o
Ministério Público e o Conselho Tutelar. É válida, também, a comunicação feita à
autoridade policial. Importa, sobretudo que o atentado à criança ou ao adolescen-
te seja esclarecido, e os responsáveis, devidamente punidos".
Assim, cada órgão competente para recebimento da denúncia de maus-tratos
deve realizar sua atuação: o Juiz da Infância e Juventude analisa as situações de
risco e aplica as medidas protetivas e o Juiz Criminal (Juizado Especial Criminal
– JECrim e Juízo Comum) julga as infrações penais. O Ministério Público, que
fiscaliza o Conselho Tutelar, tem legitimidade para tomar medidas judiciais com
relação à suspensão ou destituição do poder familiar e para aplicação de medidas
protetivas à vítima e sua família. Além disso, é incumbido de propor a ação penal
pública incondicionada32 e a condicionada33 na representação nos casos em que a
legislação permite, para punição do agressor. Isto é, defende os direitos fundamen-
tais da criança e do adolescente previstos no art. 201, VIII do ECA (1990).
A autoridade policial investiga a conduta de maus-tratos, caso estes tenham
resultado em infração à norma penal, preparando elementos para que o Ministério
Público possa interpor a ação correspondente. O Conselho Tutelar aplica medidas
de proteção à criança e ao adolescente vítima (Art. 136, I e Art. 101 do ECA) bem
32 é a iniciada mediante denúncia do Ministério Público nas infrações penais que interferem diretamente no
interesse público. É a regra no processo penal. Portanto, independe de representação ou requisição. Disponível em:
<http://www.direitonet.com.br/dicionario/exibir/982/Acao-Penal-Publica>. Acesso em: 14 abr. 2017.
33 é a intentada mediante denúncia do Ministério Público nas infrações penais que interferem diretamente no
interesse público, mas, por esbarrar na esfera privada do ofendido, dependerá de representação deste, ou, se o
ofendido for o Presidente da República, por exemplo, de requisição do Ministro da Justiça. Com isso, a representação
e a requisição constituem condições de procedibilidade da ação penal. Disponível em: <http://www.direitonet.com.
br/dicionario/exibir/982/Acao-Penal-Publica>. Acesso em: 14 abr. 2017.
capítulo 4 • 90
como medidas aos pais (Art. 136, II e o Art. 129 do ECA); também comunica ao
Ministério Público o fato que constitua infração administrativa ou penal contra
criança ou adolescente (Art. 136, IV do ECA).
Mas vale ressaltar que o destinatário primeiro da denúncia é o Conselho
Tutelar do Município onde reside a vítima. Assim, mesmo que esta venha a
receber atendimento em outra cidade, a denúncia deve ser realizada na cidade
de origem onde ocorreram os maus-tratos. O artigo 70 do ECA direciona-se no
mesmo sentido: “É dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou violação de
direitos da criança e do adolescente”.
Apesar desta determinação geral, o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990)
aponta alguns responsáveis específicos pela notificação dos maus-tratos, que assim
são listados devido à sua atuação perante a sociedade e seu dever profissional de as-
segurar o tratamento digno à criança e ao adolescente. Assim, o artigo 56, inciso I,
aponta aos dirigentes de estabelecimentos de Ensino Fundamental o dever de
informar ao Conselho Tutelar os casos de maus-tratos envolvendo seus alunos.
Além do artigo citado (artigo 56, inciso I), o artigo 245 do ECA individualiza: o
médico, o professor e o responsável por estabelecimento de atenção à saúde e de
Ensino Fundamental, pré-escola ou creche como responsáveis pela denúncia. No
entanto, denunciar é exercício de cidadania, sendo colocado para todos este dever,
que decorre da proteção integral, fundamento que embasa todo o ECA (1990).
Em abril de 2017, tivemos a sanção da lei 13.431, que estabelece o sistema de
garantia de direitos da criança e do adolescente vítima ou testemunha de violência.
Apresenta como uma de suas inovações a escuta especializada e o depoimento
especial, de forma a garantir às crianças e aos adolescentes certa proteção física e
emocional no momento de seu depoimento. Segue adiante, o fragmento da lei que
diz respeito a estes aspectos.
TÍTULO III
DA ESCUTA ESPECIALIZADA E DO DEPOIMENTO ESPECIAL
Art. 7º. Escuta especializada é o procedimento de entrevista sobre situação de violên-
cia com criança ou adolescente perante órgão da rede de proteção, limitado o relato
estritamente ao necessário para o cumprimento de sua finalidade.
Art. 8º. Depoimento especial é o procedimento de oitiva de criança ou adolescente
vítima ou testemunha de violência perante autoridade policial ou judiciária.
capítulo 4 • 91
Art. 9º. A criança ou o adolescente será resguardado de qualquer contato, ainda que
visual, com o suposto autor ou acusado, ou com outra pessoa que represente ameaça,
coação ou constrangimento.
Art. 10º. A escuta especializada e o depoimento especial serão realizados em local
apropriado e acolhedor, com infraestrutura e espaço físico que garantam a privacidade
da criança ou do adolescente vítima ou testemunha de violência.
Art. 11º. O depoimento especial reger-se-á por protocolos e, sempre que possível, será
realizado uma única vez, em sede de produção antecipada de prova judicial, garantida
a ampla defesa do investigado.
§ 1º. O depoimento especial seguirá o rito cautelar de antecipação de prova:
I. Quando a criança ou o adolescente tiver menos de 7 (sete) anos.
II. Em caso de violência sexual.
§ 2º. Não será admitida a tomada de novo depoimento especial, salvo quando justifi-
cada a sua imprescindibilidade pela autoridade competente e houver a concordância
da vítima ou da testemunha, ou de seu representante legal.
Art. 12. O depoimento especial será colhido conforme o seguinte procedimento:
I. Os profissionais especializados esclarecerão à criança ou ao adolescente sobre a
tomada do depoimento especial, informando-lhe os seus direitos e os procedimentos
a serem adotados e planejando sua participação, sendo vedada a leitura da denúncia
ou de outras peças processuais.
II. É assegurada à criança ou ao adolescente a livre narrativa sobre a situação de
violência, podendo o profissional especializado intervir quando necessário, utilizando
técnicas que permitam a elucidação dos fatos.
III. No curso do processo judicial, o depoimento especial será transmitido em tempo
real para a sala de audiência, preservado o sigilo.
IV. Findo o procedimento previsto no inciso II deste artigo, o juiz, após consultar o
Ministério Público, o defensor e os assistentes técnicos, avaliará a pertinência de
perguntas complementares, organizadas em bloco.
V. O profissional especializado poderá adaptar as perguntas à linguagem de melhor
compreensão da criança ou do adolescente.
VI. O depoimento especial será gravado em áudio e vídeo.
§ 1º. À vítima ou testemunha de violência é garantido o direito de prestar depoimento
diretamente ao juiz, se assim o entender.
§ 2º. O juiz tomará todas as medidas apropriadas para a preservação da intimidade e
da privacidade da vítima ou testemunha.
§ 3º. O profissional especializado comunicará ao juiz se verificar que a presença, na
sala de audiência, do autor da violência pode prejudicar o depoimento especial ou
colocar o depoente em situação de risco, caso em que, fazendo constar em termo, será
autorizado o afastamento do imputado.
capítulo 4 • 92
§ 4º. Nas hipóteses em que houver risco à vida ou à integridade física da vítima ou
testemunha, o juiz tomará as medidas de proteção cabíveis, inclusive a restrição do
disposto nos incisos III e VI deste artigo.
§ 5º. As condições de preservação e de segurança da mídia relativa ao depoimento
da criança ou do adolescente serão objeto de regulamentação, de forma a garantir o
direito à intimidade e à privacidade da vítima ou testemunha.
§ 6º.O depoimento especial tramitará em segredo de justiça
34 a farmacêutica cearense Maria da Penha Maia Fernandes é o marco recente mais importante da história das
lutas feministas brasileiras. Em 1983, enquanto dormia, recebeu um tiro do então marido, Marco Antônio Heredia
Viveiros, que a deixou paraplégica. Depois de se recuperar, foi mantida em cárcere privado, sofreu outras agressões
e nova tentativa de assassinato, também pelo marido, por eletrocução. Procurou a Justiça e conseguiu deixar a casa,
com as três filhas. Depois de um longo processo de luta, em 2006, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou
a lei no 11.340, conhecida por lei Maria da Penha, que coíbe a violência doméstica contra mulheres. Disponível em:
<http://www.compromissoeatitude.org.br/quem-e-maria-da-penha-maia-fernandes/>. Acesso em: 14 abr. 2017.
capítulo 4 • 93
violência moral e violência psicológica. Segundo o artigo 7o da lei nº 11.340/2006
são formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras:
I. A violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou
saúde corporal.
II. A violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano
emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno
desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos,
crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação,
isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem,
ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que
lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação.
III. A violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar,
a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça,
coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a
sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao
matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno
ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos.
IV. A violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção,
subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho,
documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os
destinados a satisfazer suas necessidades.
V. A violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia,
difamação ou injúria.
capítulo 4 • 94
A lei Maria da Penha (2006) estabelece no Título V – Da equipe de atendimento
multidisciplinar, a criação da equipe multidisciplinar que no artigo 30 propõe:
capítulo 4 • 95
ou verbal. É dever do Estado e uma necessidade da sociedade enfrentar todas as
formas de violência contra as mulheres. Proibir, punir e erradicar todas as formas
de violência deve ser preceito fundamental de um país que luta por uma sociedade
justa e igualitária entre mulheres e homens.
capítulo 4 • 96
da pessoa, expondo a mesma a um constrangimento; e, por fim, o abandono, que
significa a ausência de pessoa responsável pelo idoso e seus cuidados.
Os abusos mais frequentes contra idosos, segundo Garcia; Cruz (2009) são
abuso físico, negligência, sonegação de alimentos, falta de cuidado com o idoso,
isolamento, confinamento, falta de atenção, intimidação, abuso verbal ou psico-
lógico e abuso financeiro.
O psicólogo pode atuar junto aos Conselhos de Idosos, em Delegacias
Especializadas e no Ministério Público. Quando ocorre qualquer tipo de abuso
contra um idoso, o procedimento inicial é o Registro do Boletim de Ocorrência
para a averiguação dos fatos, instauração do inquérito policial e encaminhamento
para o Ministério Público. Nos casos de denúncia de abuso contra o idoso, em
geral ocorre investigação policial e é acionado o Conselho do Idoso do Município.
O papel do psicólogo será o de mediador e conciliador entre os membros
da família, visto que, 90% dos casos de abuso contra o idoso ocorrem no meio
familiar (GARCIA; CRUZ, 2009). Se for necessário, o psicólogo poderá realizar
avaliações psicológicas e acompanhar o idoso e seus familiares em audiência. A
obrigação do Estado e da sociedade é garantir à pessoa idosa a sua liberdade, o
respeito e a dignidade como pessoa humana e sujeito de direitos garantidos pela
Constituição (1988) e pela lei (10.741/2003).
capítulo 4 • 97
Modalidades de crime
Imputabilidade e inimputabilidade
capítulo 4 • 98
É isento de pena o agente que, por doença mental* ou desenvolvimento mental incom-
pleto** ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Parágrafo único. A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude
de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retarda-
do não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se
de acordo com esse entendimento.
* A expressão doença mental “abrange todas as moléstias que causam alterações mórbidas à saúde mental”,
como esquizofrenia, transtorno bipolar do humor, paranoia, epilepsia, demência senil etc. Disponível em:
<http://www.institutomillenium.org.br/artigos/imputabilidade/>. Acesso em: 30 abr. 2017.
** Desenvolvimento mental incompleto é a ausência de maturidade psicológica para compreender as regras da
civilização; essa incompreensão é transitória, podendo o indivíduo vir a superá-la. A doutrina tem considerado
que os menores de 18 anos, os indígenas não integrados à sociedade e os surdos-mudos que não receberam
a instrução adequada têm seu desenvolvimento mental ainda incompleto. Disponível em: <http://www.
institutomillenium.org.br/artigos/imputabilidade/>. Acesso em: 30 abr. 2017.
Artigo 149. Quando houver dúvida sobre a integridade mental do acusado, o juiz
ordenará, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, do defensor, do curador,
do ascendente, descendente, irmão ou cônjuge do acusado, seja este submetido a
exame médico legal.
capítulo 4 • 99
§ 1º. A internação ou tratamento ambulatorial, será por tempo indeterminado,
perdurando enquanto for não for averiguada, mediante perícia médica, a cessação da
periculosidade. O prazo mínimo deverá ser de 1 (um) a 3 (três) anos.
CONEXÃO
Para saber mais sobre esse tema, leia o texto Imputabilidade, de Alexandre Magno
Fernandes Moreira, disponível em: <http://www.institutomillenium.org.br/artigos/
imputabilidade/>. Acesso em: 30 abr. 2017.
Noções de criminologia
A criminologia é uma ciência que tem sua origem na segunda metade do sé-
culo 19, cujo marco é Cesare Lombroso37. Entretanto, a moderna criminologia é
muito mais abrangente em relação ao comportamento criminoso, destacando que
o crime é um problema da sociedade, nasce nela e é nela que deverão ser encon-
tradas as soluções. O entendimento para tal afirmação é que criminoso e vítima
fazem parte da sociedade. Há várias formas de controle social: formal, represen-
tado pelas instituições estatais e vão desde a investigação até a execução da pena;
informal, representado pelo controle da sociedade, que muitas vezes pede mais
repressão e um maior controle formal.
A criminologia teve crescimento surpreendente nas últimas três décadas.
Desenvolveram-se muitas teorias novas, algumas das quais implicaram a revisão
de teorias tradicionais, outras apresentaram novas teorias e outras, ainda, foram
37 a principal ideia de Lombroso foi parcialmente inspirada pelos estudos genéticos e evolutivos no final do século
9o, e propõe que certos criminosos têm evidências físicas de um "atavismo" (reaparição de características que foram
apresentadas somente em ascendentes distantes) de tipo hereditário, reminiscente de estágios mais primitivos da
evolução humana. Estas anomalias, denominadas de estigmas por Lombroso, poderiam ser expressas em termos
de formas anormais ou dimensões do crânio e mandíbula, assimetrias na face etc., mas também de outras partes
do corpo. Posteriormente, estas associações foram consideradas altamente inconsistentes ou completamente
inexistentes e as teorias com base na causa ambiental da criminalidade se tornaram dominantes. Disponível em:
<http://www.cerebromente.org.br/n01/frenolog/lombroso_port.htm>. Acesso em: 4 maio 2017.
capítulo 4 • 100
mais além, recorrendo à integração de todas elas. Embora a criminologia ainda
se encontre dominada pela sociologia, a sua natureza tornou-se cada vez mais
interdisciplinar. Biólogos, psicólogos, economistas e outros profissionais
desempenham papel de destaque na investigação do crime.
A comprovação desta afirmativa é o fato de os criminologistas estudarem ago-
ra o impacto de vários fatores sobre o crime. Alguns destes fatores são de natureza
biológica, como é o caso da herança genética e das lesões cerebrais; outros são
de natureza psicológica, por exemplo, a inteligência ou determinados traços da
personalidade; há os que dizem respeito a características do meio social imediato
do indivíduo, incluindo a família, a escola, os conhecidos e o ambiente de traba-
lho; outros, ainda, destacam a situações com as quais se deparam os indivíduos;
finalmente, há os que se estão relacionados com o ambiente social entendido num
sentido mais amplo, como no caso das especificidades das comunidades.
MULTIMÍDIA
Assista ao filme: Como nascem os anjos, de Murilo Sales, que retrata as questões
conflituosas do crime.
Comportamento criminoso
De acordo com Guido Arturo Palomba, psiquiatra forense, podemos ter cinco
tipos de criminosos:
capítulo 4 • 101
São aqueles incapazes de readquirir existência honesta.
Cometem todo tipo de delito como assaltos, tráfico de
3. OS HABITUAIS drogas e assassinatos em série. Esses últimos são co-
nhecidos como “assassinos de aluguel ou justiceiros. O
criminoso habitual é o que tem como profissão o crime”.
Introdução à vitimologia
capítulo 4 • 102
A vitimologia é, atualmente, um campo de estudo orientado para a ação ou
formulação de políticas públicas. Não deve ser estudada apenas relacionada ao
Direito Penal, mas devemos associá-la aos Direitos Humanos. Assim, a vitimolo-
gia passa a ser, também, o estudo das consequências dos abusos contra os direitos
humanos, cometidos por cidadãos ou agentes do governo.
Justiça restaurativa
capítulo 4 • 103
Conselho Federal de Psicologia (Disponível em: <http://www.crprs.org.br/upload/
noticia/arquivo2945.pdf>. Acesso em: jun. 2018) em relação a essa decisão.
Este é um tema importante e polêmico porque envolve conceitos como jus-
tiça, castigo, punição e liberdade. Há muita discussão sobre o papel que o psicó-
logo quer e pode ocupar no sistema prisional. Muitos são os desafios colocados
à Psicologia nessa área. Os profissionais, nestes locais, tentam desenvolver seus
trabalhos, lidando com as contradições do mesmo. O trabalho do psicólogo deve
estar voltado para a criação de estratégias de sobrevivência nesta instituição total38
– Sistema Penitenciário.
A função do psicólogo na prisão é participar de Comissões Técnicas de
Classificação (CTCs) e realizar exames criminológicos (EC) e é determinada pela
Lei de Execução Penal (LEP). As CTCs são compostas por profissionais técnicos
e agentes penitenciários. Esta participação do psicólogo nestas Comissões é muito
discutida porque quanto ao EC exigido do psicólogo, o que se pretende é inferir
sobre a periculosidade do sujeito, tendendo a naturalizar as determinações do
crime, ocultando os processos de produção social da criminalidade.
As atribuições do profissional, em todas as práticas do sistema prisional devem
ser realizadas e fundamentadas no respeito e na promoção dos direitos humanos;
na participação nos processos de construção da cidadania, desconstruindo o
conceito de que o crime está relacionado unicamente à patologia ou à história
individual; enfatizar os dispositivos sociais que promovem o processo de
criminalização; elaborar estratégias de fortalecimento dos laços sociais, com
uma ampla participação dos sujeitos, por meio de projetos interdisciplinares que
resgatem a cidadania e a inserção na sociedade extramuros.
Dessa forma, a partir destas premissas, o trabalho possível do psicólogo nesta
Instituição, dependendo de sua organização e postura frente ao processo de en-
carceramento será: acompanhamento psicológico dos presos, possibilitando para
eles atendimentos individuais e em grupos em que se abordem o fato de estar pre-
so, questões familiares e dificuldades surgidas no cárcere. O psicólogo trabalhará
de forma a amenizar o sofrimento pelos quais essas pessoas passam, ajudando a
elaborar a condição de encarcerado, independentemente de serem inocentes ou
culpados. Outra área importante de trabalho é na elaboração de políticas públicas
para atender as necessidades deste setor.
38 é aquela que controla ou busca controlar a vida dos indivíduos a ela submetidos substituindo todas as
possibilidades de interação social por "alternativas" internas. O conjunto de efeitos causados pelas instituições totais
nos seres humanos é chamado de institucionalização. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Instituição_
total>. Acesso em: 4 maio 2017
capítulo 4 • 104
ATIVIDADES
01. O Estatuto do Idoso define a violência contra o idoso como sendo: (Defensoria Pública
do Estado do Amazonas-2013)
a) o atentado contra a pessoa do idoso, nos termos da lei penal.
b) a prática dos crimes contra a vida, de lesões corporais, de periclitação da vida e da saúde
e contra a liberdade individual do idoso.
c) o crime que envolver violência doméstica e familiar contra o idoso.
d) o atentado contra os direitos fundamentais do idoso.
e) e) a ação ou omissão praticada em local público ou privado que lhe cause morte, dano
ou sofrimento físico ou psicológico.
03. Assinale a alternativa correta sobre a espécie de violência que a Lei Federal no 11.340,
de 7 de agosto de 2006 (lei Maria da Penha) indica, em termos expressos e precisos, como
qualquer conduta contra a mulher que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima,
que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento, que vise degradar ou controlar suas
ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça. (AGERBA – Técnico em
regulação-2017)
a) Violência psicológica d) Violência uxória
b) Violência moral e) Violência extracorporal
c) Violência imaterial
capítulo 4 • 105
04. Na busca por novas formas de resoluções de conflitos acerca de condutas criminaliza-
das, face ao notório insucesso e à crise do tradicional modelo de Justiça Penal, vem emer-
gindo a Justiça Restaurativa, que se destaca por ser alternativa condizente com o respeito
aos Direitos Humanos e à dignidade da pessoa humana para dirimir conflitos tanto na esfera
Penal quanto no âmbito da Infância e Juventude. Em relação à Justiça Restaurativa, avalie se
as assertivas a seguir são falsas (F) ou verdadeiras (V) e assinale a opção correta.
( ) Sistema retributivo com base no delito como ofensa à seguridade social.
( ) Identificada como justiça penal social inclusiva.
( ) Revitalização da vítima em processo dialogado e fundado no princípio consensual.
( ) Modelo retributivo, de resposta imposta verticalmente e concretizada pela aplicação
de pena pelo Estado ao autor da conduta criminalizada.
a) F – V – V – F d) V – F – F – V
b) V – V – V – V e) V – F – V – F
c) V – F – V – V
05. Este vídeo retrata uma das violências mais comuns contra o idoso, o abuso financeiro.
Assista ao vídeo, pesquise sobre o assunto e descreva de que modo esta situação pode ser
denunciada, em sua cidade. Disponível em:
<http://g1.globo.com/pe/petrolina-regiao/grtv-2edicao/videos/v/um-dos-abusos
-mais-cometidos-contra-idosos-e-o-abuso-financeiro/5485093/>. Acesso em: jun. 2018.
A partir da leitura do artigo, sobre a pesquisa realizada em São Paulo, responda as se-
guintes questões:
07. Em relação às mulheres negras – entre este grupo, o número de mortes aumentou 54%
em dez anos, passando de 1.864, em 2003, para 2.875, em 2013. Na mesma época, a quan-
tidade de homicídios de mulheres brancas caiu 9,8%, de 1.747 para 1576.
capítulo 4 • 106
08. 2. O que os dados desta pesquisa ressaltaram em relação ao local e ao autor da violência
contra a mulher?
10. Qual é a opinião dos juristas ouvidos pela reportagem, em relação à queda da violência
contra a mulher, na cidade de São Paulo?
11. Quatro juristas ouvidos pela reportagem atribuem a queda nos dois índices à
conscientização das mulheres e às punições aos agressores – garantidas nos últimos dez
anos pela lei Maria da Penha –, mas destacam ainda o pouco valor da palavra da vítima como
prova para as autoridades judiciais.
LEITURA
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ordenamento jurídico brasileiro, detalhando os direitos sociais, políticos e econômicos.
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Lei nº 13.431, de 4 de abril de 2017 - Estabelece o sistema de garantia de direitos
da criança e do adolescente vítima ou testemunha de violência e altera a Lei no
capítulo 4 • 108
8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente). Disponível
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capítulo 4 • 109
Pesquisa
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capítulo 4 • 111
capítulo 4 • 112
5
Psicologia e
direito de família.
Psicologia, infância
e juventude
Psicologia e direito de família. Psicologia,
infância e juventude
capítulo 5 • 114
OBJETIVOS
• Entender a parentalidade nos processos de dissolução do vínculo conjugal litigioso;
• Estudar a guarda compartilhada;
• Analisar a alienação parental e suas consequências;
• Estudar os documentos legais de proteção à criança e ao adolescente;
• Compreender as medidas protetivas para crianças e adolescentes;
• Analisar as questões relativas ao adolescente e o ato infracional.
Os casais que chegam com litígios, nas Varas de Família, são vistos como casais
parentais, que devem resolver seus conflitos sem prejudicar o interesse dos filhos.
Mas, de certa forma, isso é impossível porque estão sob forte pressão emocional
e são relegados a um segundo plano, enquanto ex-casal. Os sentimentos não
elaborados são intensificados pelas disputas judiciais. Quando existem crianças
envolvidas no litígio é importante perguntar, qual o lugar que esta criança ocupa
na disputa. Até que ponto é ela, realmente, o foco do processo?
A comunicação familiar fica prejudicada. Cada membro desenvolve um tipo
de contato com o outro que não favorece o entendimento. A comunicação não
verbal, ao lado da verbal, torna-se um importante elemento a ser observado sobre
a estrutura psíquica do grupo familiar. Mas, quem poderia fazer este trabalho
no Judiciário? O psicólogo. Entretanto, as pessoas quando procuram o Judiciário
estão querendo um auxílio legal e, não, psicológico. O psicólogo, muitas vezes,
é visto como um obstáculo para as partes, porque pode prolongar a decisão do
juiz. As pessoas querem uma decisão pronta do juiz, e, ao contrário, o psicólogo
trabalha para fazê-las achar esta solução. O psicólogo busca, com a família, a
melhor solução emocional, que satisfaça a todos e ajude a família a elaborar os
seus conflitos.
capítulo 5 • 115
A guarda dos filhos na dissolução do vínculo conjugal
capítulo 5 • 116
Código Civil, 2002) permanecem sob corresponsabilidade igualitária e conjunta
de ambos os pais, nas decisões que lhes dizem respeito. Nesse tipo de guarda,
não há um guardião único e um guardião secundário. Não há divisões rígidas de
papéis, mas o compartilhamento de tarefas referentes à manutenção, aos cuidados
e à segurança dos filhos. Nenhuma atitude pode ser tomada sem o consentimento
de ambos, que estão sempre cientes dos acontecimentos escolares, médicos e
sociais. Os períodos de convivência, em geral, não são mais restritos, para que os
filhos possam aproveitar a presença de seus genitores.
A desigualdade que vinha acontecendo com o modelo tradicional de
guarda, ou unilateral, é desfeita pela guarda compartilhada. Há uma priorização
das necessidades dos filhos e, não mais, das necessidades do ex-casal. Há a
preservação dos laços afetivos e a construção de uma intimidade entre pais e
filhos, principalmente, desfazendo a ideia de visitação. Filhos não visitam pais,
convivem com eles. Da mesma forma quando conviviam juntos, as relações de
convivência continuam existindo, agora em função dos filhos, para a manutenção
dos vínculos parentais.
Desde 2008, o Código Civil (2002) previa que mesmo não havendo acordo
entre os pais, a guarda compartilhada deveria ser aplicada sempre que possível.
Porém, na maioria das demandas judiciais esta modalidade de guarda vinha sendo
aplicada apenas quando havia bom diálogo entre os genitores. E é neste ponto
que a lei 13.058 (2014) inovou, excluindo a locução “sempre que possível”, para
que a aplicação da guarda compartilhada ocorra como regra, ainda que não haja
consenso. Entretanto, a aplicação da guarda compartilhada não se trata de regra
absoluta pois, nos termos do parágrafo 2o do Art. 1.584 (Código Civil, 2002), os
pais devem estar aptos ao exercício do poder familiar.
Neste novo momento da guarda compartilhada, o melhor interesse da criança
não poderá ser esquecido, uma vez que para além dos preceitos constitucionais,
ficou mantida a regra do inciso II do Art. 1.584 do Código Civil (2002), sobre
a fixação da guarda que deverá ocorrer “em atenção a necessidades específicas do
filho, ou em razão da distribuição de tempo necessário ao convívio deste com o
pai e com a mãe”.
Concluindo, a guarda compartilhada deverá ser em regra aplicada, mas
nunca sem a necessária avaliação do contexto familiar, com foco nas necessidades
específicas da criança, bem como na aptidão dos pais.
Quanto à regulamentação da convivência entre pais e filhos na guarda
compartilhada, a lei (13.058/2014) inovou ao inserir o termo “tempo de convívio”
capítulo 5 • 117
e ao delinear que este “deve ser dividido de forma equilibrada com a mãe e com
o pai, sempre tendo em vista as condições fáticas e os interesses dos filhos”. Dessa
forma, a proporcionalidade do tempo de convivência (este equilíbrio não significa
a divisão de metade do tempo com cada genitor), deverá ocorrer com a análise do
caso concreto, vislumbrando o melhor interesse dos filhos.
Para finalizarmos as questões ligadas à guarda, quando é citada a
proporcionalidade de tempo de convivência, devemos ter muito claro que a lei
não está falando de alternância de tempo. Existe certa falta de informação sobre
a guarda compartilhada, que muitas vezes, nesta questão, é confundida com a
guarda alternada, que nem faz parte de nosso ordenamento jurídico. A guarda
alternada caracteriza-se pelo exercício da guarda, alternadamente, seguindo um
período predeterminado, que pode ser anual, semestral, mensal, semanal, ou até
mesmo diário. No período em que a criança estiver com um genitor, este detém
todas as responsabilidades, decisões e atitudes em relação ao filho.
A guarda alternada, segundo Bonfim (2005), citado por Silva (2009), pode
trazer os seguintes malefícios para os filhos: não há constância da moradia, podendo
os objetos pessoais da criança serem esquecidos em uma das casas, causando
discussões entre os pais; a formação da criança fica prejudicada, não sabendo qual
a orientação que deve seguir em temas importantes da sua formação; e, pode
ser prejudicial à saúde e formação psicológica da criança, tornando confusos os
seus referenciais.
Alienação parental
Mesmo após a separação ter ocorrido, muitos autores segundo Buosi (2012),
afirmam que os pais continuam utilizando seus filhos para pedir dinheiro,
transmitir recados e, muitas vezes, ameaças ao outro. Quando um dos pais, por
problemas não resolvidos na conjugalidade (relação entre o casal), usa os filhos
como uma forma de causar sofrimento e afastá-los do outro genitor, que também
os amam, acarreta problemas sérios no desenvolvimento psicológico dos filhos e
do ex-cônjuge afastado.
O Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), em seus artigos 3o, 4o e
130, determina que crianças e adolescentes não devem ser submetidos a qualquer
tipo de tortura, seja psicológica ou física, por quem quer que seja, principalmente
por aqueles que têm o dever de protegê-los. Apesar dessa determinação, um dos
genitores pode iniciar um jogo de manipulações e retaliações capazes de implantar
capítulo 5 • 118
falsas memórias nos filhos, a ponto de estes acusarem o genitor de várias formas de
abuso, inclusive sexual, e apresentar sentimentos de raiva e hostilidade, negando a
possibilidade de convívio com o mesmo.
A imagem do genitor alienado fica destruída e desmoralizada perante os filhos,
que passam a ser utilizados como instrumentos de raiva e agressividade do genitor
alienador. É estabelecida a crença de que aquele genitor, alienado, faz mal aos
filhos, não os amam, fazendo os filhos quererem cada vez mais mantê-lo afastado
de seu convívio.
A partir dessas situações pode ocorrer o aparecimento da Síndrome de
Alienação Parental, termo proposto por Robert Gardner, em 1985, que a
conceitua da seguinte forma: a Síndrome de Alienação Parental (SAP) é um
distúrbio da infância que aparece quase exclusivamente no contexto de disputas
de custódia de crianças. Sua manifestação preliminar é a campanha denegritória
contra um dos genitores, uma campanha feita pela própria criança e que não tenha
nenhuma justificação. Resulta da combinação das instruções de um genitor (o que
faz a “lavagem cerebral, programação, doutrinação”) e contribuições da própria
criança para caluniar o genitor-alvo. Quando o abuso e/ou a negligência parentais
verdadeiros estão presentes, a animosidade da criança pode ser justificada, e assim
a explicação de Síndrome de Alienação Parental para a hostilidade da criança não
é aplicável (2002).
Como podemos observar, a alienação parental é um tipo de tortura psicológica,
pouco conhecida pela sociedade e maioria dos profissionais da área do Direito e
da Psicologia. Quando a essa síndrome está instalada, este é o momento em que
a criança passa a odiar o genitor alienado por influência do genitor alienador, que
passa a ser um estranho para ela. O alienador, com esta conduta, passa a ser o
modelo, mesmo que patológico e mal adaptado, que os filhos têm. Os filhos não
têm condições de perceber e passam a destruir os vínculos que existiam entre eles
e o alienado.
A agressividade que era direcionada ao genitor alienado passa a ser generali-
zada para toda a família deste, tais como os avós, os tios e os primos. O processo
de alienação pode acontecer de duas formas, segundo Silva (2009): a primeira, é
a obstrução do contato com os filhos; a segunda, é constituída pela denúncia de
falsos abusos, tanto sexual quanto emocional.
Não se pode considerar que esteja ocorrendo a alienação parental quando
um dos genitores ainda está mantendo um relacionamento positivo com seus fi-
lhos, mesmo com o outro genitor tentando alienar a criança. É importante os
capítulo 5 • 119
profissionais prestarem atenção para não enquadrarem determinados comporta-
mentos como síndrome e prejudicar a análise da situação entre os envolvidos.
Existem críticas acerca do termo Síndrome de Alienação Parental, por parte
dos especialistas em saúde mental e dos operadores do Direito. O principal argu-
mento para a discordância sobre a existência da síndrome é o de que ela não foi
reconhecida por nenhuma associação profissional e científica e, além de tudo, não
está incluída nem no DSM-V39 nem no CID-1040. Outros estudiosos negam a
SAP porque relatam que o psiquiatra Richard Gardner não alcançou os requisitos
científicos e metodológicos para a comprovação da existência da síndrome.
É importante que as críticas sejam analisadas, mas não há como negar
a existência desta ocorrência, que é investigada em inúmeros estudos que
demonstram crianças que rejeitam um de seus genitores, sem motivos plausíveis,
desde antes da definição da síndrome descrita por Gardner. No Brasil, temos a lei
no 12.318, de 26 de agosto de 2010, que dispõe sobre a alienação parental e altera
o Art. 236 da lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (ECA) e que foi criada para
proteger direitos fundamentais de crianças e adolescentes.
De acordo com a lei (12.318/2010), a alienação fere o direito fundamental da
criança ou do adolescente de convivência familiar saudável, prejudica a realização
de afeto nas relações com genitor e com o grupo familiar, constitui abuso moral
contra a criança ou o adolescente e descumprimento dos deveres inerentes à
autoridade parental ou decorrentes de tutela ou guarda. Esta lei tipifica as atitudes
do alienador causador da alienação parental, reconhecendo esta atitude como abuso
moral e emocional, sobretudo em face da criança e do adolescente. Outro fator
preponderante advindo dessa lei está que ela dá ensejo aos alienados à interposição
de ações de indenizações, na qual o alienador poderá ser responsabilizado civil e
criminalmente pelos atos e comportamentos praticados, dificultando a prática do
ato ilícito e imoral cometido pelo alienador, prevalecendo o direito e a justiça.
39 Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais 5a edição ou DSM-5 é um manual diagnóstico
e estatístico feito pela Associação Americana de Psiquiatria para definir como é feito o diagnóstico de transtornos
mentais. Usado por psicólogos, médicos e terapeutas ocupacionais. A versão atualizada saiu em maio de 2013 e
substitui o DSM-IV criado em 1994 e revisado em 2000. Desde o DSM-I, criado em 1952, esse manual tem sido uma
das bases de diagnósticos de saúde mental mais usados no mundo.
40 a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde, frequentemente
designada pela sigla CID ou ICD (do inglês International Statistical Classification of Diseases and Related Health
Problems) fornece códigos relativos à classificação de doenças e grande variedade de sinais, sintomas, aspectos
anormais, queixas, circunstâncias sociais e causas externas para ferimentos ou doenças. A cada estado de saúde é
atribuída uma categoria única à qual corresponde um código, que contém até 6 caracteres. Tais categorias podem
incluir um conjunto de doenças semelhantes
capítulo 5 • 120
Conclui-se, portanto, que a lei 12.318/2010 surgiu como uma importante
vitória àqueles que estão impedidos há anos de manter contato com os seus filhos,
sendo este o único meio de efetivar a convivência entre eles, e, também, fazen-
do a observação, de que as “punições” têm caráter bem mais pedagógico do que
sancionatórios propriamente ditos, zelando sempre por um dos institutos mais
importantes da vida do ser humano, que é a base de uma família sólida.
A visão da infância e adolescência como objeto, que não se resumia somente aos
pobres, mesmo nas famílias abastadas, havia uma noção de objeto. O abandono de
bebês recém-nascidos ou de crianças era uma prática comum nos séculos 17 e 18
no Brasil colonial. Meninas e meninos eram abandonados em calçadas, praias ou
terrenos baldios, falecendo por falta de alimento, pelo frio, ou passando a conviver
com todos os males que as cidades em desenvolvimento já tinham (ratos, lixo...).
Em alguns centros urbanos, no século 18, até 25% dos bebês eram abandonados
e cerca de 70-80% faleciam antes de completar sete anos.
A Roda dos Expostos foi uma solução encontrada pela Igreja Católica para esta
situação. Copiando modelos do que já havia ocorrido na Europa, foram inseridas
as primeiras rodas no Rio de Janeiro, 1738 e em São Paulo, no ano de 1896, com
o objetivo de dar uma solução aos seguintes problemas:
• Recém-nascidos já órfãos de mães (altas taxas de mortalidade materna
no parto);
• Impedir a prática do infanticídio;
• “Salvar” a reputação de jovens (brancas), que mantinham em segredo
a gravidez e precisavam depositar seus filhos em algum lugar com o benefício
do anonimato.
capítulo 5 • 121
que ganhou o seu nome (Código Mello Mattos – Decreto no 17.943-A, de 12 de
outubro de 1927). Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decre-
to/1910-1929/d17943a.htm>. Acesso em: 7 maio 2017.
Em 1979, surge o Código de Menores, lei no 6.697 de 10 de outubro de
1979. Um dos aspectos mais importantes, que devem ser frisados quando trata-
mos do Código de Menores (1979), é que a Doutrina da Situação Irregular, que
se encontrava implícita no Código Mello Matos de 1927, vem a ser oficializada no
Código de 1979, por meio de seu artigo 2º:
capítulo 5 • 122
Entretanto, os direitos fundamentais de crianças e adolescentes passaram a
ser assegurados pela Constituição Federal (1988) e pelo Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA 1990). O ECA é identificado como a Lei Federal no 8.069
de 13 de julho de 1990, cujo pilar é a doutrina de proteção integral, diferente
da Doutrina do Código de Menores, que era chamada de Doutrina da Situação
Irregular. Com base nesse documento (ECA, 1990), crianças e adolescentes passa-
ram a ser considerados cidadãos detentores de direitos.
Sendo assim, na formulação das políticas e no controle das ações ligadas às
crianças e aos adolescentes, não apenas o Estado, mas a sociedade e a família são
convocadas para participação ativa e responsável. Na defesa dos direitos de crianças
e adolescentes, o ECA (1990) afirma que eles devem ser protegidos de qualquer
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
As crianças e os adolescentes precisam ser tratados com dignidade e respeito.
Medidas de proteção
capítulo 5 • 123
e tratamento a alcoólatras e toxicômanos; encaminhamento a tratamento psi-
cológico ou psiquiátrico; encaminhamento a cursos ou programas de orienta-
ção; obrigação de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua frequência e
aproveitamento escolar; obrigação de encaminhar a criança ou o adolescente a
tratamento especializado; advertência; perda da guarda; suspensão ou destituição
do poder familiar. E, ainda, conforme o Art. 130, “verificada a hipótese de maus-
tratos, opressão ou abuso sexual impostos pelos pais ou responsável, a autoridade
judiciária poderá determinar, como medida cautelar, o afastamento do agressor
da moradia comum”.
A aplicação das medidas protetivas, a que se refere o artigo 129, é atribuição
do Conselho Tutelar, “órgão permanente e autônomo, não jurisdicional, encar-
regado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do
adolescente.” (Art. 131 do ECA,1990)
As atribuições do Conselho Tutelar seriam:
• Atender as crianças e os adolescentes quando tiverem seus direitos ameaça-
dos ou violados: por ação ou omissão do Estado ou da sociedade; por falta, omis-
são ou abuso dos pais ou responsável; ou no caso de ato infracional;
• Atender e aconselhar pais e ou responsáveis;
• Promover a execução de suas decisões podendo requisitar serviços públicos
em várias áreas; representar junto à autoridade judiciária nos casos de descumpri-
mento não justificado de suas deliberações;
• Expedir notificações;
• Requisitar certidões de nascimento e óbito, entre outros documentos.
capítulo 5 • 124
Adoção e abrigamento
Os artigos relativos à adoção estão contidos no ECA (1990) a partir dos arti-
gos 39 a 52. Algumas questões tratadas a partir deste tema são:
• O adotando deve contar, no máximo, com 18 anos à data do pedido, salvo
se já estiver sob a guarda ou tutela dos adotantes;
• Guarda: obriga a prestação de assistência material, moral e educacional à
criança e ao adolescente, conferindo ao seu detentor o direito de opor-se a tercei-
ros, inclusive os pais;
• Tutela: pressupõe a prévia decretação da perda do pátrio poder ou suspen-
são do pátrio poder e implica o dever de guarda;
• A adoção atribui a condição de filho ao adotado, com mesmos direitos e
deveres, inclusive sucessórios, desliga do vínculo com os pais e parentes, salvo
impedimentos matrimoniais;
• Podem adotar maiores de 21 anos, independente do estado civil;
• O adotante tem de ser, pelo menos, 16 anos mais velho do que o adotado.
• A adoção depende do consentimento dos pais ou do representante legal
do adotando;
• Consentimento dispensado: pais desconhecidos ou destituídos de pá-
trio poder;
• Adotando maior de 12 anos de idade será necessário o seu consentimento.
Art. 19
1º Toda criança ou todo adolescente que estiver inserido em programa de acolhimento
familiar ou institucional terá sua situação reavaliada, no máximo, a cada 6 (seis)
meses, devendo a autoridade judiciária competente, com base em relatório elaborado
por equipe interprofissional ou multidisciplinar, decidir de forma fundamentada pela
possibilidade de reintegração familiar ou colocação em família substituta (...).
2º A permanência da criança e do adolescente em programa de acolhimento institu-
cional não se prolongará por mais de 2 (dois) anos, salvo comprovada necessidade
que atenda ao seu superior interesse, devidamente fundamentada pela autoridade
judiciária.
capítulo 5 • 125
3º A manutenção ou reintegração de criança ou adolescente à sua família terá pre-
ferência em relação a qualquer outra providência, caso em que será esta incluída em
programas de orientação e auxílio (...).
capítulo 5 • 126
Este Código determinava que, até os 14 anos, as crianças e os adolescentes eram
considerados inimputáveis (ou seja, considerados incapazes para responder pela
conduta delituosa por não compreender a ilicitude do ato praticado). É necessário
pontuar que em alguns casos, os menores de 14 anos respondiam como os maiores
de 14 anos por meio da “Teoria da Ação com Discernimento”, ou seja, a imputação
de responsabilidade penal ao menor de 14 anos, em função de uma “pesquisa da sua
consciência” em relação à prática da ação criminosa. Nos casos desses menores, eles
eram enviados à Casa de Correção até os 17 anos. Entre os 14 e os 17 anos os infra-
tores sofriam a chamada “pena de cumplicidade” (2/3 do que cabia ao adulto infra-
tor) e os maiores de 17 e menores de 21 anos gozavam de atenuante da menoridade.
No Código Penal da República, de 1890, até 9 anos eram considerados inim-
putáveis. Entre os 9 e 14 anos se não tivessem discernimento eram tidos como
inimputáveis e com discernimento eram recolhidos para estabelecimentos disci-
plinares industriais até os 17 anos. A pena de cumplicidade continuava existindo
dos 14 aos 17 anos. A lei 4.242/1921 eliminou o critério do discernimento e fixou
em 14 anos a inimputabilidade.
Com o surgimento do Código Mello Mattos (1927) veio a classificação
menorista. Os menores de 18 anos classificados como abandonados e/ou
delinquentes; os delinquentes, com idade superior a 14 anos, não eram submetidos
a processo penal, mas a um processo especial de apuração de sua infração. A
medida de internação ao delinquente era imposta por todo o tempo necessário à
sua educação (3 a 7 anos de duração). Por fim, a partir do Código Penal de 1940
(Código Penal Atual), a responsabilidade penal é estabelecida aos 18 anos.
O Código de Menores (1979) trouxe a preocupação com os jovens-adultos
(entre 18 e 21 anos) que, mesmo atingindo a maioridade, não podiam ser inseridos
na sociedade. Esses jovens permaneciam sob a jurisdição dos juízes de menores,
portanto, sujeitos ainda às previsões do Código de Menores. Com a Constituição
Federal de 1988, temos: “Art. 228 – São penalmente inimputáveis os menores de
dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial”.
Em 1990, foi sancionado o Estatuto da Criança e Adolescente em que define
o ato Infracional, no artigo 103, como a conduta descrita como crime ou con-
travenção penal praticado por crianças e adolescentes. A inimputabilidade in-
fantojuvenil (Art. 104 ECA) esclarece que os menores de 18 anos estão sujeitos a
medidas socioeducativas, considerando a idade do adolescente (12 anos completos
até 18 anos incompletos) a data do fato. No caso do ato Infracional praticado por
criança, ou seja, até 12 anos de idade incompletos, o ECA (1990) as excluiu da
capítulo 5 • 127
aplicação de Medida Socioeducativa. Para isso, o artigo 105, deste Estatuto (ECA,
1990), determina que sejam aplicadas as medidas de proteção do artigo 101.
Para que fiquem claras as diferenças entre o Código de menores (1979) e o
Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), estude com atenção o quadro a seguir:
CÓDIGO DE ESTATUTO
ASPECTO MENORES (1979) (ECA,1990)
DOUTRINÁRIO Situação irregular Proteção integral
Co-gestão com
INSTITUCIONAL Estatal
sociedade civil
Medidas socioeducativas
capítulo 5 • 128
As Medidas Socioeducativas (artigos 112 a 125, ECA, 1990) são medidas com
caráter pedagógico, visando à reintegração do jovem em conflito com a lei à vida
social, assim como caráter sancionatório, como resposta à sociedade pela lesão
provocada pelo adolescente.
A aplicação das medidas socioeducativas deve estar de acordo com as ca-
racterísticas da infração, circunstâncias sociofamiliares e disponibilidade de pro-
gramas. Elas apresentam aspectos coercitivos e educativos, estabelecendo uma
gradação de acordo com a gravidade do delito cometido e/ou sua reiteração. Dessa
forma, o objetivo é garantir o acesso do adolescente às oportunidades de superar
sua condição de exclusão. É uma tentativa de formar valores positivos e de parti-
cipação na vida social. Como ficou claro, no quadro comparativo entre o Código
de Menores (1979) e o ECA (1990), o trabalho a ser realizado é em rede com a
família e a comunidade participando, mesmo nos casos de privação de liberdade.
Para conhecer estas medidas, vamos apresentá-las resumidamente, esperando
que você aprofunde os seus estudos na leitura do material indicado neste capítulo.
capítulo 5 • 129
Com este tema terminamos o nosso livro lembrando a você a importância do
trabalho do psicólogo, nas áreas destacadas neste trabalho, destacando que, seja
em qualquer área que o psicólogo trabalhe no Judiciário, sua postura será sempre
a de, por meio de suas competências, se tornar acessível a todos que venham ne-
cessitar desta prática.
ATIVIDADES
01. A lei no 11.698/2008 institui e disciplina a Guarda Compartilhada. Assim, para a
aplicação desta modalidade de guarda é necessário que: (TRT – 6a Região (PE) – Analista
Judiciário – Psicologia-2012)
a) seja definida judicialmente a residência dos filhos com um dos genitores e o pagamento
de pensão alimentícia ao outro.
b) ocorra obrigatoriamente a alternância da morada dos filhos entre os domicílios do pai e
da mãe em horários e dias previamente estabelecidos judicialmente.
c) haja a responsabilização conjunta e o exercício de direitos e deveres do pai e da mãe
que não vivam sob o mesmo teto, concernentes ao poder familiar dos filhos comuns.
d) o juiz fique adstrito à orientação técnico-profissional ou de equipe interdisciplinar que
analisará no caso concreto e definirá qual é o melhor interesse da criança.
e) um dos genitores assuma os filhos em comum e o outro fiscalize o exercício
dessas funções.
02. As medidas que podem ser aplicadas pela autoridade competente ao adolescente que
pratique ato infracional não incluem a:(CESPE-OAB-2007)
a) obrigação de reparar o dano.
b) liberdade assistida.
c) inserção em regime de semiliberdade.
d) prestação de trabalhos forçados.
03. Ao romper definitivamente com a doutrina da situação irregular, até então admitida pelo
Código de Menores (lei 6.697, de 10/10/79), a lei 8.069/90 (ECA) estabeleceu como dire-
triz básica e única no atendimento de crianças e adolescentes(MP/ES_2005)
a) a doutrina da proteção integral à criança e ao adolescente.
b) a doutrina de direitos e garantias fundamentais da criança e do adolescente.
c) a doutrina da proteção especial à criança e ao adolescente.
d) a Declaração dos Direitos da Criança.
e) o princípio da dignidade da pessoa humana.
capítulo 5 • 130
04. A partir do texto Oito perguntas sobre alienação parental: a construção do desamor,
escolha uma das questões discutidas e faça uma pesquisa sobre o tema escolhido. Isso
ajudará no desenvolvimento do entendimento e aprofundamento sobre o tema. Disponível
em: <http://justificando.cartacapital.com.br/2015/04/01/8-perguntas-sobre-alienacao-
parental-a-construcao-do-desamor/>. Acesso em: 15 abr. 2017.
LEITURA
Artigos
MENDES, M. J.; NASCIMENTO, H. M. do. Reflexos da Psicologia no Direito com
enfoque na atuação do psicólogo jurídico no instituto da guarda compartilhada.
Disponível em: <https://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=13773>. Acesso em: 11
abr. 2017.
MOREIRA, M. Síndrome da alienação parental: o Direito e a Psicologia. Disponível
em: <http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/8794/Sindrome-da-alienacao-parental-
o-direito-e-a-psicologia>. Acesso em: 11 abr. 2017.
PENNA, P. D. M. A perícia psicológica e o Direito de Família. Disponível em: <http://
www.ibdfam.org.br/_img/artigos/A%20per%C3%ADcia%20psicol%C3%B3gica%20
e%20o%20Direito%20de%20Fam%C3%ADlia.pdf>. Acesso em: 11 abr. 2017.
Diplomas legais
Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do
Adolescente e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/leis/L8069.htm>. Acesso em: 15 abr. 2017.
Lei 11.698 de 13 de junho de 2008. Altera os artigos 1.583 e 1.584 da lei no 10.406, de
10 de janeiro de 2002 – Código Civil, para instituir e disciplinar a guarda compartilhada.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11698.
htm>. Acesso em: 15 abr. 2017.
Lei no 13.058 de 22 de dezembro de 2014. Altera os artigos 1.583, 1.584, 1.585 e 1.634
da lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil, para estabelecer o significado
capítulo 5 • 131
da expressão “guarda compartilhada” e dispor sobre sua aplicação. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l13058.htm>. Acesso
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Código Mello Mattos. Decreto no 17.943-A, de 12 de outubro de 1927. Disponível em:
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7 maio 2017.
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Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA. Lei 8.069 de 13 de julho de 1990. Dis-
ponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069.htm>. Acesso em: jun. 2018.
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vil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l12010.htm>. Acesso em: jun. 2018.
Entrevista
Leia a entrevista: Pesquisa IBGE e a guarda compartilhada. Disponível em: <http://
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CONEXÃO
Instituto Brasileiro de Direito de Família. IBDFAM. Disponível em: <http://www.ibdfam.
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Associação de pais separados – APASE. Disponível em: <http://www.apase.org.br/>.
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Agência de Notícias dos Direitos da Infância. ANDI. Disponível em: <http://www.andi.
org.br/>. Acesso em: jun. 2018.
Centro de Referências de Estudos e Ação da Criança. CECRIA. Disponível em: <http://
www.cecria.org.br/>. Acesso em: jun. 2018.
capítulo 5 • 132
MULTIMÍDIA
A morte inventada. Vídeo sobre a alienação parental. Disponível em: <https://www.
youtube.com/watch?v=HctTgwNNpSY>. Acesso em: 15 abr. 2017.
CURIOSIDADE
Leis de proteção: primeiro foi para os animais, depois para as crianças!
Hoje, é para nós um dado adquirido a
©© WIKIMEDIA.ORG
capítulo 5 • 133
para o tribunal. Como consequência, a mãe adotiva foi condenada pelos maus-tratos. A crian-
ça, depois de ir viver em uma instituição, cresceu, casou, teve duas filhas e viveu até os 92
anos de idade.
Observamos com a história de Mary Ellen, o quanto a criança era desprotegida em rela-
ção aos maus-tratos e outras situações que retiravam dela a sua humanidade e o direito de
ser um sujeito de direitos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRITO, L. M. T. de. Se- pa- ran- do. Um estudo sobre a atuação do psicólogo nas Varas de
Família. 3. ed. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1993.
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Juruá, 2012.
CEZAR-FERREIRA, V. A. da M.; MACEDO, R. M. S. de. Guarda compartilhada. Uma visão
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COIMBRA, C. M. B.; AYRES, L. S. M.; NASCIMENTO, M. L. do. (Orgs.) Pivetes. Encontros entre a
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PEREIRA, R. da C. Direito de família. Uma abordagem psicanalítica. 2. ed. Belo Horizonte: Del
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PRADO, M. do C. C. de A. (Coord.) O mosaico da violência. A perversão na vida cotidiana. São Paulo:
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SILVA, D. M. P. da. Guarda compartilhada e síndrome de alienação parental: o que é isso?
Campinas: Ipê, 2009.
capítulo 5 • 134
GABARITO
Capítulo 1
01. A 02. E
03. Em primeiro lugar, entendo direitos humanos como uma prática, não como objeto a ser
alcançado. Por isso, a prática dos psicólogos também deve ser calcada pelo que entendemos
como direitos humanos. Acho que o grande problema dessa relação entre Psicologia e direi-
tos humanos é o fato de que a Psicologia, historicamente, foi concebida como uma prática
intimista, entendendo o sujeito como sujeito individual – um individual que não é atravessado
pelas condições políticas, históricas e sociais do contexto em que vive. A Psicologia foi mon-
tada assim porque, no século XIX, quando quis ser ciência, o modelo de ciência advinha das
ciências físico-naturais, com base no positivismo e em uma relação de causa-efeito entre as
coisas. E a Psicologia teve que ser assim para se intitular como ciência. Mas isso, infelizmen-
te, continua; essa ainda é a Psicologia hegemônica que se produz nesse país: uma Psicologia
individual, do sujeito individuado. Situações que estão, segundo esses teóricos, para além do
sujeito, não dizem respeito à Psicologia. A Psicologia é sempre a do interior, do intimista, e,
claro, para essa Psicologia, a temática dos direitos humanos é uma temática política, e as
temáticas políticas não dizem respeito à Psicologia. Então, o nosso grande desafio, ao pro-
movermos a discussão entre Psicologia e direitos humanos, é também promover a discussão
de que esse sujeito sobre o qual a Psicologia se debruça não é um sujeito individualizdo, é um
sujeito atravessado pelas condições históricas, sociais e políticas nas quais vive.
04. Para esse psicólogo que está no consultório – que, na verdade, é apenas uma forma de
ser psicólogo –, a grande questão é entender o sujeito que ele atende como esse sujeito do
contexto. Então, na verdade, quando ele traz o fato de ele ter sido afetado pelas chuvas que
caíram no Rio de Janeiro, é preciso entender que essas chuvas também fazem parte desse
próprio sujeito. É uma questão legítima a se trabalhar
05. Acho que a grande discussão hoje não é de quais são os nossos direitos, mas de quem
são esses humanos. Essa é a discussão prioritária na sociedade. Quais são os nossos direi-
tos é fácil: pegamos a Declaração de 1948, os pactos dos quais o Brasil é signatário, a Con-
venção Nacional sobre Tortura. Temos vários instrumentos legais e jurídicos que falam sobre
esses direitos. Acho que o nó está em entender quem são esses humanos para os quais
esses direitos são voltados; é ampliar essa noção para uma concepção de direitos humanos
capítulo 5 • 135
onde caibam mais humanos – ou onde caibam todos os humanos – e colocar em discussão
que políticas estão sendo produzidas que tornam alguns humanos e outros não humanos. Por
isso, a Psicologia precisa encarar de frente essa temática.
06. De uma forma muito tímida. Não existe uma cadeira sobre direitos humanos – e que bom
que não exista, porque essa discussão precisa estar em todas as disciplinas. Na verdade,
nossa discussão hoje na academia é que a questão política não é tratada. Entende-se uma
Psicologia que não é política – a política e o contexto social em que vivemos não fazem parte
do ensino da Psicologia. Claro que já foi muito pior; hoje essa discussão já é mais presente,
mas ainda falta muito a avançar. Esse entendimento de que as discussões políticas também
são discussões de Psicologia ainda está na minoria
07. O aluno deve responder que a formação dos psicólogos nas universidades sobre os
direitos humanos é realizada de uma forma muito tímida. Entende-se uma Psicologia que
não é política – a política e o contexto social em que vivemos não fazem parte do ensino da
Psicologia ou são colocados de modo a não expressar a realidade em que vivemos.
Capítulo 2
01. A 02. E
Capítulo 3
01. E 02. C
Capítulo 4
Capítulo 5
capítulo 5 • 136