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SOCIOLOGIA
Introdução Histórica
Até agora nossa discussão girou em torno dos fenômenos e dos pensadores que
surgiram durante a Idade Média (século V – XV), bem como naqueles que se manifestaram
no período de transição entre ela e a Idade Moderna (XV – XVIII), mais conhecido como
Renascimento (século XVI). Nesse momento, entretanto, entraremos de vez na discussão
sobre a modernidade, seus adventos, maravilhas, promessas, mazelas, injustiças e catástrofes.
Posto isso, o foco desta aula serão os movimentos sociais que se desenvolveram no século
XIX, ou melhor, os movimentos operários de cunho anarquista. Mas, antes de
começarmos a discutir tal tema, é preciso ter noção daquilo que representou esse período da
história, para tanto, exploraremos o significado das revoluções industriais e como elas
criaram um campo fértil à explosão de movimentos sociais. Dois importantes e inéditos
fenômenos que emergiram nesse período são: a urbanização e o crescimento das indústrias.
Com respeito ao primeiro evento, podemos dizer que ele aconteceu de diversas formas
em cada país da Europa, mas, a título de exemplo, estudaremos o caso da Inglaterra 1 que
impôs a boa parte de sua população o êxodo rural e intensificou o processo de urbanização
através do complexo e violento processo dos cercamentos. Os ingleses também
revolucionaram completamente o seu sistema produtivo através do uso capitalista de
máquinas, principalmente a partir da segunda metade do século XVIII, ou seja, depois da
década de de 1750, quando historicamente se desenvolveu a primeira revolução industrial.
Tal transformação trouxe à tona a descoberta da máquina a vapor que revolucionou a
produção industrial e mudou para sempre a vida social europeia. Além disso, o processo
de crescimento das embrionárias cidades do século XVI foi intensificado, criando-se novos
centros urbanos repletos de fábricas e costurados por linhas férreas – responsáveis pelo
transporte das manufaturas e das matérias primas para o sistema industrial e comercial.
Embora as cidades daquela época não chegassem aos números gigantescos dos centros
urbanos do século XXI, cujos habitantes giram em torno da casa dos milhões e até bilhões,
uma cidade com cerca de 200 mil pessoas representava, durante o século XVIII, uma
verdadeira revolução, tendo em vista que a população dos antigos feudos e das cidades-estado
dificilmente chegavam próximos da casa das dezenas de milhares – seja pela mortalidade alta,
1 A Inglaterra é um exemplo emblemático, pois ela foi pioneira nos processos de revolução industrial, a França
em contraponto, depois da Revolução Francesa de 1879, permaneceu demasiado ruralizada, em vez de
intensificar o processo de urbanização e industrialização.
1
seja pela própria pequenez dos feudos (nanicos se comparados a menor das cidades da era
burguesa). O que precisamos frisar é o incrível e veloz crescimento populacional que
nunca havia sido presenciado até então.
Contudo, como ressaltamos no começo da nossa aula, o crescimento das cidades e as
invenções produzidas em meio à revolução industrial não contribuíram apenas para o
crescimento das cidades e das indústrias, mas também colaboraram para a intensificação de
um fenômeno social que nos assombra até hoje: a desigualdade social. Os planejadores
europeus das cidades modernas sabiam que maioria da população que ocupava as cidades
estava em condições de pobreza, ou melhor, só tinham uma única alternativa para sobreviver:
vender sua força de trabalho. Pensando nisso e dotados de um perigoso preconceito ou
medo de classe, tais planejadores (arquitetos, engenheiros civis, projetistas, entre outros
profissionais da área da construção civil), segregaram os bairros das cidades, de forma que
ficassem bem distantes uns dos outros. Foram elaborados bairros específicos ao padrão de
vida dos ricos, outros mais dedicados a satisfazerem as necessidades da classe média e as
construções mais simples e precárias (na maioria das vezes, dotadas unicamente de dois
cômodos) foram deixadas às pessoas em condição de pobreza, pois, segundo esses projetistas,
a miscigenação dos trabalhadores nos bairros ricos e nos de classe média poderiam
intensificar os índices de violência, causando distúrbios sociais2.
Nesse momento, desenvolveu-se um campo fértil para a eclosão das ideias liberais as
quais permearam o imaginário daquela época, profetizando a importância do livre mercado e
da liberdade comercial, entre outros princípios considerados naturais, pelo liberalismo, ao
espírito humano. Todavia, o século XIX não era o mar de rosas de liberdade, tal como
pintados por muitos pensadores liberais. Até 1860, todos as construções ferroviárias já
haviam sido controladas pela empresa inglesa North-Eastern Railway, o sistema
econômico bancário pela família inglesa Rothschilds e grande parte do complexo
industrial por familiais como as do francês Saint-Simon (1760 – 1825). Com efeito, essas
famílias monopolizadoras se desprezavam mutuamente, apenas desejavam manter os seus
impérios particulares, abominando a ideia de um dia precisarem recorrer ao auxílio umas das
outras3. Como se não bastasse o fenômeno do monopólio na vida social, outra mazela terrível
da época era a mentalidade administrativa dos capitalistas que só conhecia dois métodos de
2 A história nos mostrou que essa medida segregacionista e preconceituosa é que intensificou a violência e os
conflitos sociais, impulsionando os processos de poderes paralelos, tais como: crime organizado e máfias.
3 A burguesia foi muito bem capaz de se unir durante o período de necessidade da revolução, mas, depois que o
novo momento histórico consolidou-se, a necessidade de união praticamente desapareceu e as diferentes espécies
de burguesia (bancária, industrial, rural, etc..) preferiram voltarem-se a si mesmas, criando e fortalecendo seus
impérios.
2
comando: a burocracia e o regime de trabalho análogo a escravidão4. Além disso,
perdurava na burguesia a crença inquestionável na manutenção dos salários mais baixos
possíveis, a fim de se manter o balanço lucrativo das suas empresas. Os industriais
argumentavam que a condição difícil e disciplinada da vida do operário era um mal necessário
para se alcançar futuramente a condição prospera do burguês. Entretanto, todos eles sabiam
que para o bom funcionamento do sistema econômico capitalista era necessário um grande
número de pessoas que nasceriam trabalhadores fabris e morreriam assim. Na realidade,
existia a necessidade social (ou contradição social) de a burguesia em autoafirmar a sua
posição social, ao manter na miséria uma massa de trabalhadores.
Em resumo, a situação que se evidenciava na vida do trabalhador do século
XVIII era a insegurança. Devido as imensas reservas de mercado5, os trabalhadores não
sabiam por quanto tempo trabalhariam numa empresa ou se conseguiriam emprego
noutra, caso fossem demitidos. Além disso, devido aos baixíssimos salários recebidos, os
proletários eram obrigados a empregarem suas esposas e seus filhos para incrementar a renda
e, ainda assim, não havia garantias de que deixaria de passar fome. Nessa situação, eram raros
aqueles que sobreviviam mais de 40 anos, salvo uma minoria de proletários que viviam até
cerca de 50 anos, pois trabalhavam em funções especializadas (e menos braçais) nas fábricas
modernas.
Frente a essa situação, pouco a pouco, o século XIX inflama-se em indignação que se
manifesta, primeiramente, em um ódio imediato contra as máquinas introduzidas nas fábricas,
sendo consideradas como as culpadas pelas condições miseráveis e opressivas do regime de
trabalho industrial. Esse movimento ficou conhecido como Ludismo, em homenagem a um
dos grandes lideres do movimento operário inglês Ned Ludd, que em 1811 organizou os
operários para destruírem as máquinas das indústrias inglesas. Em seguida, em 1838,
acompanhados pelas trade unios (primeiros sindicatos trabalhistas da história) surge um
movimento de trabalhadores que escrevem a People’s charter [carta do povo], elaborada
por William Lovett e Feargus, na qual foram compiladas as seguintes reivindicações:
sufrágio universal masculino, voto secreto através da cédula, eleições anuais, igualdade entre
os direitos eleitorais, participação de representantes da classe operária no parlamento e que os
parlamentos fossem remunerados. As reivindicações cartistas não foram aceitas pelos
4 Um bom filme que retrata essa realidade é o filme clássico Modern times [Tempos modernos] de Charles
Chaplin (1889 – 1977).
5 Reserva de mercado foi um fenômeno que se desenvolveu a partir dos cercamentos. Como foi explicados nas
aulas sobre Marx, o violento processo dos cercamentos proletarizou milhares de pequenos trabalhadores rurais,
causando um verdadeiro exercito de trabalhadores sem ter outra escolha para sobreviver senão vender sua força
de trabalho. Isso garantiu aos burgueses industriais pagar baixos salários e estender exorbitantemente a jornada
de trabalho, argumentando que quem não se adequasse seria demitido e haveria uma fila enorme de
desempregados esperando para ocupar sua vaga.
3
governantes, no entanto, eles conseguiram mudanças efetivas, tais como: a primeira lei de
proteção ao trabalho infantil (1833), a lei que garantia a liberdade de imprensa (1836), a
reforma do código penal (1837), a regulamentação do trabalho feminino e infantil e a lei da
jornada de trabalho de 10 horas. A partir de então, vão se formando organizações de
trabalhadores, constituídas pelos mais hábeis e inteligentes operários 6, responsáveis pela
melhoria da condição de trabalho na indústria. Formam-se os famosos sindicatos
trabalhistas. Desse período em diante as organizações sindicais fortalecem-se criando suas
próprias sustentações teóricas, dentre elas destacam-se as inúmeras expressões de
Anarquismo.
Anarquismos
7As manifestações camponesas são geralmente as mais violentas e perigosas na época e ainda hoje, pois atacam
um dos elementos mais importantes da manutenção do poder: o monopólio sobre a terra. No Brasil, como na
maioria dos países onde ela acontece, geralmente são reprimidas de forma demasiadamente violenta pelo poder
vigente.
5
importante é assumir a responsabilidade pelos seus atos em função de construir uma nova
realidade.
8 Marx demonstra em sua obra Miséria da filosofia que o aumento dos salários afeta menos os preços das
mercadorias produzidas em empresas que possuem mais máquinas do que trabalhadores assalariados e, por conta
da concorrência, os preços tendem a se equilibrar. Assim as greves e coalizões trabalhistas não levam ao aumento
dos preços das mercadorias de forma geral e permanente, muito menos geral a escassez de produtos.
7
humano.
A conquista da sociedade coletivista aconteceria por meio da revolução das
massas, organizada pelos intelectuais anarquistas, mas estes não seriam chefes do
movimento, ou qualquer outro tipo de autoridade, apenas seriam guias para a
consolidação do movimento revolucionário, em outras palavras, estariam lá para colocar
“fogo na fogueira”. Quando finalmente a revolução constituir o coletivismo, as pessoas
seriam obrigadas a realizar um trabalho manual em prol do coletivo e seria
recompensado em função da sua contribuição, portanto, a remuneração baseava-se no
trabalho e não mais na necessidade9. Por fim, o Estado seria destruído de uma vez por todas
e em seu lugar surgiriam uma espécie de federação de inúmeros livres coletivos autônomos.
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Referências Bibliográficas
COSTA, C. T. Introdução e Ingênua Lucidez. In: ______. O que é Anarquismo. São Paulo:
Brasiliense, 2004. p. 7 – 29.
Referências Filmográficas
Referência de Músicas
Central, Facção. Há Mil Anos Luz Da Paz. Álbum: Direto do campo de extermínio. São
Paulo: Face da Morte Produções, 2003.
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