Detalhes de três estátuas de Diótima de Mantineia, uma antiga, uma moderna, e uma contemporânea.
Tendo tido a honra de conviver com mulheres que foram mestras e aprendizes, amigas e
amantes de Deleuze e Guattari não podemos nos furtar à pergunta de até onde a escrita
infinitiva e supostamente não-subjetiva de seus autores quando desvinculadas de suas práticas
cotidianas e clínicas acabaram por obscurecer a importância que estes davam à escuta
compassiva de quem os rodeava. Onde está a cozinha imantada de canções de cura às refeições
de La Borde entre conceitos como “máquinas de guerra” e “aparelhos de captura”?
Conseguiríamos sustentar as menores ecologias e lógicas dos sentidos através das engrenagens
coreopolíticas hegemônicas? Como estratificaríamos devires desejantes quando a parturiência
noética está relegada a mera metáfora maquínica? Quem honraria as preciosas relações íntimas
destas mulheres e homens sem cartografar-lhes como calculismo o amor? É possível mostrar
como a economia da dádiva e o sincero serviço de caridade e solidariedade formam o cerne da
filosofia diferencial contra o horror de sua subjetividade? Quais estratégias temos de
salvaguardar esta humilde obra colaborativa e aberta das representações frias que combate
como a capitalização dos afetos na obsolescência programada de conceitos, a fetichização
mercantilista da arte de pensar, e a criação artificial de paradoxos entre práticas e poéticas?
Este seria um livro de mil mãos de todo gênero preparando, sem pressa alguma, um
banquete esquizoanalítico de frutos vegetarianos da terra que ainda serviremos para
comemorar a feliz maiêutica criativa do ecoceno num brinde àquelas pessoas que realmente nos
amando ampararam esta missão através das eras e dos cotidianos, cada qual com suas solitudes
e laços dignificantes, como um bulbo de gengibre florescendo em água fresca ao sol e ao vento.
5500a.c. - Filosofia Como Prática De Transcriação
Diótima norteou a ascensão pela escadaria do amor desde a paixão instintiva por objetos
específicos, compreensão das sensualidades estéticas pela objetividade, respeito às relações
entre entendimentos pelas subjetividade, institucionalização de códigos-de-conduta pela
jurisprudência, métodos empíricos de laboratorialidade pela ciência, até a caridade solidária ao
bem-estar-social pela compaixão universal. Quando Sócrates, soldado ungido do Oráculo de
Delfos como mais sábio entre os gregos, dizia que só sabia que nada sabia não estaria ele
humildemente postulando os limites para a produção do saber filosófico quando destituído de
poder financeiro junto à escala social de amorosidade? Se limitando aos estudos acerca das
paixões humanas, relações sociais, e psicologias das subjetivações enquanto isentando-se das
funções institucionais da ágora, da jurisprudência de valores éticos nas produções tecnológicas
e do grande arcabouço do inconsciente coletivo de sua época. Não estaria ele com belas
retóricas em poesias, mesmo que compactuando com a cultura da paideia grega, incitando a
juventude aristocrática ao hedonismo ocioso de suas obrigações para com os necessitados?
Seriam as traduções metafóricas dos deuses, como a deste sofista, uma impiedade com a
religião civil? Aristóteles teria sido, neste sentido, o primeiro esquizoanalista?
Quanto da pederastia própria da paideia grega, masculina e feminina, influi nas atuais
práticas culturais hegemônicas de idolatria da juventude e hábitos de infantilização erótica bem
como na violência histérica dos pensamentos contra-hegemônicos? Como salvaguardar a
herança da filosofia e esquizoanálise dos crimes cometidos pelas pessoas que as descobriram
sem somarmos ao ocultamento seletivo de agenciamentos de compensação histórica? Como se
entranham dispositivos de busca continuada de soluções práticas minoritárias e as questões que
estas levantam quanto a uma meta-historiografia do amor partindo da cartografia das
influências desta escola de pensamento até as práticas contemporâneas que estas sustentam?
111 - Uma Bioética Das Morais Minoritárias
(Quem A Ecologia Pensa Que Somos?)
Diótima nos apresenta uma sabedoria inspirada-pela-fé que diverge dos seculares
desenvolvimentos que sofreu a filosofia no platonismo. Negamos, porém, a leitura que Mary
Ellen Waithe nos apresenta em “História Das Filósofas Mulheres” de uma sacerdotisa, educada
sob intensa severidade por décadas, que após apresentar a escadaria amorosa a um Sócrates
soldado se reduziria à auto-preservação egoísta e ao hedonismo sem observar as obrigações da
caridade cósmica de seu sacro ofício. E cremos que Platão, apresentando-nos o mesmo Sócrates
convertido em pensador e arriscando sua vida ao clamar sua mestra em meio a aristocratas
pederastas, não aceitaria como honra digna da boa-morte ser alvo de elogios que o levariam a se
tornar meio de impiedade contra um templo da religião grega pela redução do nome sagrado
Afrodite à sua face venal Pandêmia desconsiderando sua face compassiva e racional Urânia.
Negar o papel que os Mistérios de Elêusis tinham na formação básica dos cidadãos
gregos, em especial de sacerdotes como Diótima, além de reduzir os cultos dionisíaco-apolíneos
à mera embriaguez e repetição mecânica de rituais, oculta sua importância como antecessora
das vestais artes romanas de sustento compassivo, cuidados salutares, higiene confortante, e
modéstia de costumes que vieram a fundamentar a síntese universal (católica) cristã das
diferentes éticas culturais femininas naquele da salvaguarda e proteção da mãe nutridora (alma
mater) que culminaram nas práticas de amor filial e respeito pelos estudos das lógicas
(ecologia), da jurisprudência das leis (economia), e das estratégias de comunhão (ecumenismo)
da casa comum (eco), desde os lares até o planeta passando pelas instituições públicas da
religião civil. Haveria a nascente igreja, para desvencilhar a nascente pedagogia do legado
pederasta, buscado se apresentar como a singela educadora Maria, filha da professora Ana, mãe
de Jesus e não como sua sacerdotisa envolta em mistérios? Paulo de Tarso, judeu cidadão
romano, ao relembrar no Areópago a Deus Incognoscível de perfeito amor que, através de
monoteísmo e monogamia, podia gerar uma engenharia de confiabilidade ontológica para
distintos cultos numa religião centralizadora daquela civil, temendo o apagamento das minorias
que ampararam a missão de seu mestre da historiografia oficial bem como a continuação da
perversa cultura do sacrifício de pessoas, animais, e do meio-ambiente saudava em suas
epístolas ao sacerdócio de, entre outros, Gaio, Apolo, Priscila, Zenas, Joana, junto às minorias.
354 - O Que Não É Teologia?
(Da Dobra Biblioteconômica)
Diótima, mesmo no próprio corpus platônico tida como a fundadora do diálogo como
forma poética, surge no simpósio dialogando irritada com o maniqueísmo de Sócrates que, não
o permitindo ver gradações de opostos complementares, o levou à impiedade de elucubrar que
o amor seria mau. A apresentação não num monólogo explanativo mas sim numa conversa
entre duas personagens de conhecimentos diversos acerca acerca de um tema tem a vantagem
pedagógica de apresentar, além da conceitualização do problema, impressões subjetivas acerca
da experiência emocional de estudá-lo e da tentativa de comunicá-lo que podem vir a ser de
valia na busca por soluções práticas e teóricas. Se a perseguição a Jesus, judeu ungido a
sacerdote zoroástrico avestano ao nascer, e a falta de abertura social para ouvir suas críticas o
levaram em última instância à irritação com os mercadores do Templo e à sua execução, o
tranquilo comedimento socrático em utilizar as diversas técnicas da escadaria amorosa para
inquirir seus concidadãos tampouco o livra da sentença à morte. Como este temerário paradoxo
de impossibilidade da ação amorosa serviu de cerne à batalha ideológica dos cismas da igreja
levando a incontáveis levantes terroristas, à instauração dogmática de inúmeras inquisições
genocidas, ao ocultamento de importantes pesquisas minoritárias como a de gnósticos e cátaros
para a manutenção doutrinária, e à separação política entre civilizações através da distinção
cultural identitária? Quais as consequências dos históricos ataques ao sacerdócio estético e à
filosofia da inspiração-pela-fé diotímica, porém, na fundação da teologia cristã como missão de
redução-de-danos humanitária inclusiva pacificadora, ecumênica e sustentável?
Mesmo que grande parte dos cristãos não tivessem encontrado força e amparo em suas
situações locais, por séculos, para seguir este ideal em sua completude ainda encontraremos a
influência de Diótima, com sua história já ocultada, entre as práticas ascéticas das mães e pais
do deserto bem como nas doutrinas congregacionais e monásticas, beneditinas e franciscanas.
Sua influência se expandiu através de obras de redução de danos, serviço caritativo, e
hospitalidade através de inúmeras culturas tentando sempre diminuir as consequências
nefastas das guerras, inclusive cruzadas e jihads. Para manter sua coerência metodológica a
esquizoanálise foucaultiano-agambeniana não precisaria para prosseguir sua pesquisa de
encontro aos concílios ecumênicos, respeitando as origens árabes de Jesus de Belém, gerar uma
taxonomia dos papéis dos conceitos islâmicos na formação de nossas noções e instituições
contemporâneas? Quais metodologias e tecnologias existem para lidar com o ocultamento
histórico da cultura árabe pré-islâmica, a análise semiótica e traduções neutras da proposta do
profeta Maomé incluindo sua crítica do cristianismo como idolatria deificante do profeta Jesus,
até a negação e cooptação da ciência árabe como a historiografia e governança intercultural de
Ibn Arabi? Em paralelo, como a escadaria amorosa poderia ser aplicada para o entendimento
das motivações que levaram o profeta Maomé a, já casado com Aixa, desposar diversas viúvas
(tantas idosas)? Como as linguísticas das aves poéticas das minoritárias formas de amar deste
outro monoteísmo ainda mais estrito se mantiveram em sua cultura de poligamia controlada?
1001 - Um Cânone Literário Menor
Diótima conviveu com sibilas e pítias que, sendo desde o nascimento cultivadas para a
manutenção de suas virgindades, eram mantidas em isolamento (provavelmente por leprosos) e
educadas sob tortura e ausência de contato físico tal que, sob situações de extremo sofrimento
físico e psíquico, proferiam sentenças oraculares em surtos histéricos que eram analisados pelos
oficiantes de seus ímpios cultos. Ela, no entanto, não aparece na história assim, mas
apresentando uma sentença de extrema síntese e eloquente erudição à praça pública a um velho
soldado, gesto de liberdade ímpar mesmo às aristocratas gregas. Safo, poeta contemporânea
sua, em seu “Hino A Afrodite” implora, porém, que lhe seja tirado o fardo de um tal sacerdócio.
Haveria um treino ainda mais doloroso para as cultuantes que buscavam versar à retórica como
o dos escribas escravos ou um monitoramento ainda mais severo por erros que o dos copistas?
Catherine Clément, talvez para defender a incipiente pauta humanitária, não ousa
mostrar em “Ópera, Ou A Derrota Das Mulheres” e “O Feminino E O Sagrado” o papel que as
próprias minorias e suas cooptações tiveram na produção de sua própria derrota simbólica
quando aparelha o sacrifício dos mais desprivilegiados. E ainda vemos nas novelas camp a
mesma tensão dos libretos operáticos onde as minorias são retratadas de forma humilhante ou
erótica, sofrendo ou fazendo sofrer, escravizadas ou escravizando, ímpias alpinistas sociais
hedonistas ou piedosas subempregadas miseráveis, parceiras do crime ou salvas por outras
minorias ainda mais frágeis, levando a matar e morrendo por amor. No campo da inspiração
pela fé não-hegemônica das religiões institucionais as mitologias e contos de fadas apenas
marcaram estes arquétipos ainda mais fundo no inconsciente coletivo. Temia Safo que a tarefa
épica como defensora do belo viver a impedisse de cuidar de si apenas? Como não permitir que
isto gere justificativas ao ocultamento platônico da poesia lírica, da qual o corpus sáfico forma
dos primeiros exemplares? Que histórias nos conta Diótima, griot impedida, nas suas escassas
entrelinhas sobre as incontáveis sacerdotisas aprisionadas por micropolíticas como Sherazade
em “As Mil E Uma Noites”? Quais respostas suas poderiam ter florescido dentre os degraus da
escadaria amorosa sobre as estratégias de redução de danos do erotismo e estético usados na
manutenção da escravidão, do estupro, e da pederastia na paideia cultural? Como desenvolver
uma engenharia de confiabilidade que sustente futuras arqueologias intercivilizacionais de
saberes minoritários conforme ao pacto pacificador do movimento interfé mundial?
1175 - Caosmoética: Novas Estéticas Dos Paradigmas
Diótima em seu papel de sacerdotisa do Templo De Afrodite, para não reduzi-lo a um
prostíbulo pseudo-sagrado, precisava servir de exemplo de conduta de um culto de fé estética, o
que a demandava manter uma postura de excelência constante representando os mais íntegros
valores sacramentais. Algo como uma freira cristã hospitaleira, uma monja budista, uma gueixa
versada em todas artes, uma professora das ciências sustentáveis, uma estrategista da
pacificação humanitária, uma lavradora das histórias antigas, e uma esposa fiel ao mesmo
tempo. Se levarmos em consideração minimamente as invasões arianas ao vale Sarasvati onde a
cultura da mulher virtuosa de exímia técnica artística também ocorria, como apresentados por
Flávia Bianchini, podemos supor que Diótima teria um elevado grau de proteção,
endossamento, e mesmo imunidade na sociedade grega de sua época, o que deveria custar-lhe
uma imensa responsabilidade cosmoética em relação aos demais cultos da religião civil e
instituições laicas. Levando em conta que em sua época a violação, o rapto, a pederastia, a orgia,
e a drogadição ainda não tinham sido regulamentadas e ocorriam de modo quase corriqueiro
quão imensas dificuldades não enfrentou uma teoria como a escadaria amorosa para poder ser
exposta a um soldado de campanha reformado? O que a greve de sexo da “Lisístrata” de
Aristófanes poderia nos revelar se a tomássemos sob a jurisprudência da religião civil grega?
Enquanto sua contemporânea secular Lady Godiva atravessava a cidade nua sobre o
cavalo de guerra de seu marido até que este se voltasse à paz, Hildegard Von Bingen como
cristã fervorosa, entre intensos surtos extáticos, compunha a jornada musical em textos
iluminados “Scivias” que seguem a escadaria amorosa como prescrita pela igreja para a vida
monástica sacerdotal, à qual escolheu livremente. Sendo uma estudiosa do catolicismo, quanto
da história de Roma começar com o rapto das mulheres sabinas pelos primeiros patriarcas, da
extradição e ostracismo que impediram o casamento do então sacerdote flamen dies de Júpiter
Júlio César com Cornélia Cinila, e de como este último convertido à guerra obrigou
Vercingetorix a sacrificar mulheres e crianças gaulesas à fome espetacular para ver se o comovia
à paz, em vão, no cerco de Alésia influenciaram sua visão de Jesus como exemplo de rei e
marido a serem honrados? Dados os constantes abusos da gramática sacerdotal e lógica
filosófica pela retórica política como a escolástica (nomeada em honra de uma teóloga) católica
conseguiu manter concomitantemente missões pacificadoras de justiça social, harmonização
familiar, museologia artística, pedagogia familiar, e engenharia de confiabilidade cosmológica
da ciência? Como Diótima pode nos ajudar a valorizar ações minoritárias à hegemonia sem
sobrecarregarmo-nos?
1321 - Clínica E Estadística
Diótima era respeitada à época do simpósio porque evitou por dez anos uma peste
quando os cidadãos atenienses ofereceram sacrifícios sinceros em seu templo num período logo
após o genocídio da comunidade de Pitágoras e Theano. Segundo os cidadãos de Crotona
perpetradores do ataque, embora a escola educasse a comunidade com minorias aceitas em suas
aulas abertas, ela também estava a instaurar um culto à harmonia através da matemática dos
afetos em rituais de mistérios acusmáticos e numéricos iniciáticos sem consentimento geral da
religião-civil e viria a impor suas doutrinas trazidas do exterior, como o não-sacrifício animal
vegetariano, de forma não-democrática a todos os cidadãos em direta impiedade ao culto de
Pallas Athenas; além disto ocultavam as fontes, como as órficas e herméticas, de suas práticas e
nomes divinos desonrando a própria religião civil. Como a escadaria amorosa do culto estético
a Afrodite defendeu as doutrinas órficas e herméticas que tinha em comum com os pitagóricos?
A teologia católica encontrou similar equilíbrio quando foi aceita secularmente como
filosofia escolástica. Seus estudos semióticos de como a simbologia cristã provinha uma
engenharia de confiabilidade pedagógica para a amabilidade individual e comunitária serem
aceitas pela religiosidade civil da laicidade do Sacro Império Romano, embora tenha gerado
inúmeras dificuldades, era inadiável para a regulamentação da metodologia científica. A
hermenêutica bíblica amparou desde como a queda do paraíso no fruto da árvore do bem e do
mal se tornou a metodologia pedagógica do respeito às incontáveis gerações de mortos que
experimentaram plantas tóxicas para a evolução da dieta humana até a replicação do exemplo
crístico de amor na institucionalização de códigos de condutas sociais, eclesiais e laicos. Sem a
segurança social e liberdade de expressão, como na aceitação da nomeação de fenômenos como
deuses, propiciadas pela ontologia intercultural da religião civil romana sob a tutela da
doutrina amorosa cristã nós não teríamos pesquisas, então minoritárias, como a filosofia da
escadaria amorosa que baseou à alquimia de Maria Judia e Avicena, cujos benefícios somente à
medicina são incalculáveis. Tampouco teríamos a curadoria interfé de combate à idolatria do
Museu Do Vaticano ou a “Comédia” de Dante Alighieri que, inspirada pela “Epístola Do
Perdão” do árabe ateu Al Ma’arri entre tantas obras de incontáveis pagãos, além de um
panorama historiográfico ímpar nos legou talvez o primeiro estudo sociopsicológico das
relações amorosas. As demandas glocais civilizacionais à ciência por regulamentação bioética
dos limites experimentais, à filosofia amorosa por uma ética comportamental civilizatória, e à
museologia cultural por uma jurisprudência curatorial ecumênica regenerativa ecologicamente
e sustentável economicamente que mal conseguiam acompanhar a velocidade de descobertas
por seus incontáveis polímatas, como Fílon de Alexandria e Al-Kindhi, colocou suas instituições
controladoras após as grandes navegações num desafio exponencial de escalabilidade e
assimilação das inúmeras pesquisas minoritárias. Quais as melhores tecnologias disponíveis
para o resgate da importantíssima herança destas, sejam medicinas naturais indígenas, preces
tribais, oráculos xamânicos, artesanatos pagãos, ou cânticos griot “Iabás” sobre as dificuldades
de amar para as minorias?
Produtos criativos como os contos-de-fada e a ficção, tidos como inocentes, nos mostram
um pouco das imensas dificuldades da engenharia de confiabilidade e compliance cultural
econômico encontrados já que histórias pessoais podem trazer mentiras, críticas injustas a
vizinhos, interferências comunicativas, ou a divulgação de tecnologias perigosas à ordem
comum de modo distinto em cada lugar. Buscando resolver tais questões de diplomacia
operacional cognitiva na urgente área da alquimia os Templários e a Fraternidade Rosacruz
instauraram procedimentos e organizações de segurança experimental e laboratorial através de
estudos acerca da recursividade poética entre produções materiais e imateriais que permitiram
a fundação da Franco-Maçonaria e posterior implementação de sua constituição reguladora de
ritos religiosos não-hegemônicos. Como as comunidades miscigenadas, entre guerras coloniais
e sem acesso a esta história, a viveram em seus cotidianos? Como tal institucionalização
permitiu a salvaguarda de cultos de origens minoritárias, o movimento interfé internacional, e
missões estéticas antropológicas como a de Claudia Andujar no Alto Xingu, a da Biblioteca
Hermética pela Embaixada Do Livre-Pensamento, e a da Small Films em campos de
refugiados?
1723 - Uma Historiografia Universal Minoritária
Diótima conviveu com e serviu a famílias heteronormativas, homossexuais,
transgêneros, e mesmo com pederastas em sua vida. Contrapondo a escadaria amorosa de sua
argonáutica política, os pirronistas fundaram a historiografia da filosofia. De modo similar a
franco-maçonaria veio a desenvolver na sua escadaria de graus de instrução iniciática uma
historiografia das crenças minoritárias e práticas rituais para o estudo empírico de metodologias
de enredamento das mais diversas missões cristãs que levaram regulamentações nacionais,
através da diplomacia internacional, a lidar com questões de jurisprudência intersticial e
engenharia de confiabilidade liminares gerando laboratórios científicos e pedagógicas câmaras
de curiosidades naturais onde obras de taxonomia interlinguística como a “Virga Aurea” de
James Bonaventura e de historiografia universal como a de Emma Willard podiam ser
dispostas. Não foram xintoísmo, espiritismo, mormonismo, umbanda, e associação das primeira
nações empreendimentos nesta missão junto às minorias sem acesso à informação?
Peter Pál Pelbart mostrou em “Nau Do Tempo Rei”, através das correlações
foucaultianas da formação da capitania de navegação desde a administração do tempo
eclesiástico e disciplina clínica, como o método historiográfico esquizoanalítico criou instâncias
de resiliência à precarização do trabalho entre as dinâmicas de forças de libertação responsável
e engenharia de confiabilidade não-intrusiva. Tais técnicas podem ajudar a diplomacia sikh
entre islâmicos e hindus e outras questões interfé sem apelar à apropriação cultural de minorias
da indústria criativa neoliberal? Este foco nas metodologias menores, em tempos nos quais a
civilização chinesa após uma revolução cultural começava a abrir seus saberes ao ocidente,
somado a seu ocultamento da metodologia historiográfica universal dialética hegeliana e suas
raízes analíticas, qual a obra científica e literária de Johannes Von Goethe, não veio a dificultar
muitas de suas missões? Mas quais estratégias há para estudos não-hegemônicos sem incorrer
em ressentimentos contra-produtivos e ao mesmo tempo notando como as estratificações de
poder geradoras dos preconceitos fundamentaram a falsa necessidade do hedonista sadismo
cultural burguês em negação às estratégias kantianas para uma paz eterna? Como agenciar estas
tecnologias abstratas para as pôr a serviço da diplomacia interfé, como a sikh entre islâmicos e
hindus, sem apelar à apropriação cultural de minorias da indústria criativa neoliberal?
Bia Labate em sua pesquisa sobre a bioética do uso ritual do enteógeno ayahuasca
inquire constantemente sobre a necessidade de uma engenharia de confiabilidade para dietas
alternativas, apropriação cultural de condutas, e terapias alternativas na redução de danos e
administração de riscos. Não seria este modelo dietético experimental, usado em obras estéticas
como a de Orlan e Stelarc, no atravessamento entre gêneros de Paul Preciado, ou nas
tecnologias gynpunk de Paula Pin uma metodologia para regulamentação de condutas
experimentais? Isto não ajudaria incontáveis Christiane F’s a equilibrarem seus amores entre
paixões e razões?
1929 - Semiótica: Os Sentidos Da Economia Lógica
Diótima, qual uma sofista, unia devir heraclítico e ontologia parmenídica, instaurando a
forma comunicativa da filosofia da retórica política. Zeno, postulando este paradoxo da
infinitesimalidade da não-contradição, responsabilizou-nos da necessidade empírica da biologia
molecular médica e da doutrina cristã à base amorosa do julgamento. A filosofia, embora pareça
platônico-aristotélica, só amplia suas escolas às quais abarca. Buscar uní-las numa só estética
seria uma tarefa sofística comparável à “Defesa De Helena” por Górgias. O que a igreja, embora
parecendo hegemônica à civilização ocidental em incontáveis cisões internas, e seus modernos
concílios ecumênicos para melhorias de suas obras caritativas tem a auxiliar nesta pesquisa?
Robert Sepehrs em “1666: Salvação Pelo Pecado” mostrou como a mitologia, qual a ideia
do luciférico, levou à negação da pesquisa arquetípica. Se a interpretação dos sonhos de Carl
Gustav Jung, reavivando o problema ecológico de William Blake, reposicionou os aspectos
políticos das teorias de Helena Blavatsky para oferecer técnicas compassivas para se lidar com o
inconsciente racial e de gênero, como poderíamos pensar uma relação das três ecologias
guattarianas com sua analítica para estudar como Maria Orsich e tantas outras foram
escravizadas como pitonisas pelo nazismo para uso oracular no misticismo de Thule? Há espaço
para deuses astronautas e um Maomé (paz seja com ele) ruivo numa sequência de “Moonchild”
que acompanhasse Blanche Barton e Starhawk aos limites das mulheres que correm com lobos
ou um lobo só? Qual o papel que o fascismo de Mircea Eliade e Emil Cioran tiveram na
recepção do neopaganismo Rodnoveri? E como o shintoísmo, quando este se tornou a religião
do totalitarismo japonês, ajudou a criar tanto novas religiões ecumênicas naquelas terras como
yokais eletrodomésticos? Como reunir os tradicionalismos de René Guénon, G. K. Chesterton, e
C. S. Lewis sob este prisma com o respeito relacional de Martin Buber e a economia da fé
weberiana de Rodney Stark após a descoberta de Nag Hammadi? Isto para nem começar a falar
das mulheres em “New Thinking Allowed” com suas teses pós-apométricas sobre reiki, Ellen
Wheeler e as Plêiades, as famílias poliamorosas das comunidades intencionais, ou as indústrias
alimentícias Korin da Johrei. As questões poligâmicas que a interfé trazem podem se valer das
relações entre Iabás da Umbanda? A teopoética de Marie Steiner e da euritmia antroposófica
não poderiam nos ensinar algo com sua engenharia de confiabilidade que ajudasse neste
caminho rumo às três ecosofias entre sinergia fulleriana, metodologia científica natural
moriniana, e cuidados integrais wylberianas para encararmos o Homo-Deus de Yuval Harari?
Agnés Varda sublinhou em sua carreira como diretora de filmes o papel das sutilezas e
cotidianidades na novela vaga das imagens-tempo. Defendeu assim, meio que sem-querer,
modos de vida minoritários e aquelas mulheres de todos que não foram vagabundas. Como as
tensões entre as assumidas limitações etnológicas perante as experiências em comunidades
minoritárias apresentadas por Jean-Marie G. Le Clézio em “Índio Branco”, em concordância às
“Mitologias” de Roland Barthes, tentaram expandir um tal pensamento? Como este foi recebido
na mídia hegemônica? Panóptico, ctulhuceno. Quando o diário de Anne Frank a fez superstar,
diriam as múltiplas vozes narrantes em off, apresentar-se-iam fotos de famílias interétnicas,
mulheres que não foram pinups de revistas masculinas, o marido feio da autora de “O Segundo
Sexo” desenha as empregadas domésticas de Hedy Lamarr vestidas como Minnie Mouse,
técnicas desenvolvidas por Marie Curie usadas para testar cosméticos em animais na revista
Marie Claire, cartomantes lendo as mãos das esposas dos irmãos Villas-Bôas, Mãe Menininha
do Gantois no orfanato da Mãe Dulce planeja contra o racismo que suas crianças viriam a sofrer,
Zibia Gasparetto orando numa reunião de Evangelho No Lar em plena Mansão Do Caminho,
Asimov se entrega à Matrix pelos direitos robóticos de ciborgues e zumbis, divórcios como
cicatrizes não-escondíveis, relações entre os meridianos da medicina chinesa e a arquitetura da
Cidade Proibida; tudo com trilha sonora da cristã ortodoxa Alice Coltrane junto à Arkestra e seu
som neokemet. Quantas lindas histórias de amores funcionais saudáveis ainda são proibidas?
O Conselho Mundial De Museus (ICOM) definiu ecomuseu como uma iniciativa social
com participação das comunidades circunvizinhas na salvaguarda de valores, materiais e
imateriais, glocais em conformidade aos Objetivos De Desenvolvimento Sustentável (ODS) da
ONU. Paulo Freire mostrou, em “Pedagogia Do Oprimido”, como a educação inclusiva além
de reduzir danos e administrar riscos em situações limites também amparam a salvaguarda de
patrimônio, material e imaterial e geram novos mercados, mas para tanto demandava a
segurança de bem-estar geral e valorização da produção minoritária cotidiana. O “Whole Earth
Catalogue”, a “Cidade Escola Aprendiz”, a “Afrika Operndorf”, a “Ópera Amazônica”, e o
“Teatro Das Origens” mostraram algumas dificuldades superadas pelas metodologias
freireanas no campo da produção estética ecomuseológica site-specific colaborativa em
situações de risco, dado a escassez de recursos e as variações de vocabulário ou mesmo de uso
da linguagem para não incorrer-se em paternalismo, nepotismo, corporativismo, ou mera
apropriação cultural ou de força de trabalho. Se iniciativas de base como estas ainda não
encontram ressonância social para suas estruturações como imaginar uma rede de makerspaces
como quer a Cryptorave?
Não seria a sociopsicologia tri-ecológica guattariana com suas práticas de clínica crítica
caosmótica a proposta curatorial menos pior que temos para a sinergia cibernética dos sistemas
complexos junto ao inconsciente maquínico da redução de danos e administração de riscos ao
atual panorama de um ponto-de-vista holístico? Mas não é o discurso hegemônico corrente na
curadoria internacional justamente a defesa das minorias através de suas linguísticas
minoritárias? Como uma defensora da beleza e das artes hoje em dia poderia se comunicar com
instâncias como as estratégias macropolíticas e macroeconômicas de modo a instituir uma
pedagogia do oprimido junto aos que temos em conta de opressores? Não seria necessário
estabelecer uma base ontológica de padrões comunicacionais e de conduta interfé e laica? Não
precisamos urgentemente para isto tudo de um galpão com dezenas de milhares de pessoas
num festival de tecnologias humanas também para podermos falar realmente de Campus
Party?
1995 - Internets, Macropolíticas, E Entranhamentos
Diótima não escreveu livros que nos tenham ficado. Ou ela seguia à risca a doutrina
anti-escriturária exposta por Platão para proteger a memória salutar ou seus textos foram
ocultados. O mesmo ocorreu com Jesus, embora dele tenhamos uma série de relatos
contemporâneos convergentes em aspectos relevantes acerca de seu estilo literário parabolar. A
história da igreja contém a constante busca por uma engenharia de confiabilidade tanto para os
relatos que sustentam sua fé, as práticas e condutas de seus, e a preservação de seus arquivos.
Pierre Teilhard De Chardin percebeu como questões complexas como a física quântica
adentravam na noosfera mas a rede mundial de computadores, ao trazer à tona a usina do
inconsciente deleuziano com suas raízes no engenho colonial freudiano, sublevou tensões
ecossistêmicas ao palco tecnológico ainda maiores. Quando Jimmy Wales fundou a Wikipédia
seu plano de expandir a salvaguarda colaborativa de patrimônio dentro da internet usando
metodologias e licenças open-source acabou por encontrar estratégias claras e precisas para os
problemas de convivialidade relatados por Gabriel Tarde em “Monadologia E Sociologia”, mas
que soluções há para a crise de identidade glocal como apresentada por Gilbert Simondon em
“Individuação, Comunicação E Informação”? Teriam estas para lidar com o que Peter Sloterdijk
em “Regras Para O Parque Humano” chamou de co-imunidade de, no mínimo, encontrar uma
harmonia entre as sinergias macropolíticas apresentadas por Buckminster Fuller em “Manual
De Operação Para A Espaçonave Terra”, as cibernéticas-de-segundo-nível da “Sociodinâmica
Cultural” de Norbert Wiener, e o “Método Da Método” de Edgar Morin. Como traduzir a
metodologia da Wikipédia a uma curadoria ecomuseológica open-source, colaborativa e aberta?
Quando a Geocities, ao ser comprada pela Yahoo!, tirou todos os sites que hospedava do
ar quantas curadorias valiosas perdemos? Mesmo que você não tenha interesse em ufologia
aplicada à estética, vitalismo cosmista russo, psicomagia Barbie, taxonomia dos clãs vampiros e
changeling, fanzines, graphic novels de Frida Kahlo no hip-hop latino e filipino, cristianismo
vegano ou outros tópicos alternativos encontrados lá o quanto não perdemos de modelos
distintos de navegação informacional e uso da linguagem da internet neste gesto? Mesmo para
evitar os muitos riscos de cultos extremos e fanáticos, não seria melhor saber como pensam tais
comunidades? Como desenvolvedores da cultura-livre e curadores que se dizem defensores das
minorias e da contra-cultura não perceberam a precedência que este gesto significou para a
censura monetária da produção estética? Após isto, como fazer da internet de novo o melhor
campo de experimentação virtual regulada sob jurisprudência intelectual de que dispomos?
O amor minoritário é pop. Imaginamos uma exposição feita como uma passarela de
moda que verse sobre mendigas, escravas contemporâneas, empregadas domésticas, e operárias
porque é isto o que somos quando amamos pra valer. Uma capela interfé pra começar onde a
comunidade decide a feitura e normas de uso do espaço. Tudo bem organizadinho como se
preparado pela Marie Kondo para a produção ser feita pelos próprios visitantes. Paisagismo
visionário da Allyson Grey. Academia de ginástica que gera energia elétrica para exposição
toda. Canções de amor em todas as línguas se misturam por todo o perímetro. Teses e mais
teses sobre o amor, como a de Ligiana Costa sobre mucamas e velhas nas óperas, convivem com
romances cor-de-rosa Sabrina e revistas jovens Capricho. Colagens de Marie Curie sobre
revistas Marie Claire. Com o valor de “Corpo-Terra” de Ana Mendieta quantas de empregadas
poderia-se encomendar? Creche para adultos. Um calendário seguindo as práticas de “Para
Criaturas Pequeninas Como Nós” de Sasha Sagan. CEO’s como anjos vestindo cópias Prada
feitas com lixo num baile do MET dançando euritmia antroposófica. Anna Wintour servindo
sopa na madrugada sem câmeras depois de apresentarmos as roupas da Adbusters para ela.
Cursos de doulagem e maiêutica. Uma “Igreja E Sinagoga” de Marie Von Steinbach sendo
dançada pela Wuppertal Tanzcompany de Pina Bausch. Contos infantis budistas, como
contados por Noor Inayat Khan, sendo lidos somente para adultos maiores de dezoito anos.
Uma sala em vigília de preces contínua pelos desvalidos. Testes interativos para checagem de
privilégios. Lavanderias onde se pode lavar roupas para outrem. Começar um TED de
moradores de rua. Residências artísticas em ONG’s de assistência social. Um vídeo em
homenagem a casais não-convencionais como Lady J. e Genesis P. Orridge. Intervenções
urbanas da Frente 3 De Fevereiro clamando amor entre as raças. Privadas para limpeza pública.
Um Mapa dos Iconoclasistas sobre iniciativas mundiais amorosas para Diótima como a
“Nuestra Señora De La Rebeldía” deles. Um plano de pagamentos transparente para os
visitantes e participantes dos programas. Qual o lugar do sexo num espaço público pós-
pornográfico como este? Quando sonhar o amor deixou de ser pop?
2012 - Devir-Crente, Devir-Devir, Devir-Científico
Diótima, percebendo o papel intersticial do amor, o crê sempre perfeito mesmo que
paradoxalmente incompleto e pleno, rico e pobre além de, mostrando que somente a perfeição
de Deus poderia doar amor através da graça enquanto nós só conseguimos seguir buscando
aprender a amar, talvez ter sido a primeira teóloga monoteísta. O temor da religião civil
ateniense de sua hegemonia explicaria a impiedade e corrupção à juventude aferida a Sócrates.
A igreja se baseia na prática do seu pontificado, ponte entre extremos, pelo qual ainda é tida
como perigosa dentro da política institucional e ecologia teórica internacional.
Retomando a história da medicina feminina desde Hipátia, Ita Wegman produziu junto
à Sociedade Antroposófica, sob estrita disciplina inspirada-pela-fé, grande parte das
metodologias hospitalares ainda usadas hoje além de ajudar na objetificação da linguagem
médica. A pedagogia Waldorf, na qual ela também participou ativamente, deixou um legado
contra-hegemônico de sensibilização sensorial e simbólica para a abertura de diálogo de acordo
com as capacidades de cada indivíduo. Mas como não incorrer na patologização generalizada
de condutas não-normativas? Wilhelm Reich, em “A Função Do Orgasmo” defende que a
sexualidade encontre um papel saudável na vida social em conformidade à convivialidade
respeitosa às leis sociais, como dispostas pelo hassídico em “Eu E Tu” para combater-se a
mecanização dos afetos e o controle mercantil-industrial dos relacionamentos e condutas pelo
condicionamiento, como propostas por Ivan Pavlov e B. F. Skinner. Isto permitiu a Alexander e
Ann Shulgin, em “Pihkal: Uma História De Amor Química”, a relatarem décadas de auto-
experimentação com substâncias químicas no cerne de seu casamento. Destarte, que mesmo a
CIA e o FBI permitiram Ram Dass e Timothy Leary traduziram “O Livro Dos Mortos
Tibetanos” para a “Experiência Psicodélica” sob uso de LSD em universidades públicas dos
EUA. O que falta para a realização de experimentações amorosas ecológicas públicas às mídias
seria somente vontade pública e administrativa a partir do financiamento estável?
2013 - Da Musicologia Estocástica
Diótima, embora tendo sido das últimas sacerdotisas da religião civil grega, conseguiu
não obstante estabelecer as bases epistemológicas e noéticas da filosofia da ciência como uma
engenharia de confiabilidade mútua entre amar e saber (filia e sofia) mas ainda sentiu a
necessidade e apresentar ao amor como a poesia de nascer e parir a si e outros à graça da
perfeição de Deus. A igreja manteve um delicado equilíbrio entre promover as artes mais
avançadas de cada época e a manutenção dos cânones tradicionais. Que do amar e do saber
perdemos na ausência do não-utilitário artístico? Não é a contemplação estética uma face da fé?
Paul D. Miller, em seu “Sound Unbound” nos mostrou que a remixologia não pode se
reduzir a um mercantilismo sem destruir todo seu ecossistema. Cada sample traz em si os
esforços de seus trabalhadores que nos permitem o privilégio de fazermos a colagem que
estamos fazendo em consonância com os princípios da Creative Commons de que uma citação
requer uma amorosa e compassiva responsabilidade, ou como se diz na moda que sejam
sempre homenagens. Cédrik Fermont com sua gravadora Syrphé acaba de mapear quase mil
projetos musicais contemporâneos independentes da África e Ásia. Lá podemos encontrar uns
tantos Scriabin’s místicos com placas de circuit-bending, Satie’s transgêneros, grupos
inspirados-pela-fé desde o que se chama minimalismo-sacro até o maximalismo em suas mais
distintas vertentes. Tem soundwalks em songlines. São Ustvolskaya’s desenhando Schoenberg's
e Stravinsky's como action paintings de Matisse, trocentas Nina Simone’s de excelência sem
alcançar o diploma tão almejado por aquela. Há Mercedes Sosa’s liderando alinhamentos
intertribais e Xenakis de arquiteturas de terracota. Existe todo uma ecologia de novos terapeutas
ASMR mas o que realmente reina é um clamor ruidoso de mais e mais Merzbow’s tentando
reviver a “Freedom Now Suite”. Isto nos fez pensar sobre outros tribalismos da música
mundial. O que aconteceu com o rock de Shakira? Devemos temer por Ana Tijoux? Como nos
esquecemos de que canções de amor sincera ainda não foram proibidas? A musa noise Marli se
tornou gospel como crítica ruidosa por não haver mais louvores como os de Aretha Franklin?
Por que Matthew Barney não gravou um disco com Björk? Quando o movimento Feminatronic
vai compor com presas grávidas? Roberta Miranda ainda regerá uma orquestra lírica de
caminhões? O mathpop e o spectral progrock surgirão enfim? That’s what we call ‘girl talk’.
O movimento interfé, como a Joint Learning Initiative For Faith & Local Communities
(JLIF&LC), ao buscar uma síntese gradual de variantes protocolares institucionais organizadas
pela ontologia pragmática da Organização Das Nações Unidas e demais padrões internacionais
acaba por se deparar com os problemas da teologia política da religiosidade civil global
contemporânea, que as conversas ao redor do fogo no Fórum Social Mundial (FSM) não
consegue ao menos assumir que exista. Isto o reduz a uma espécie de Anistia Internacional de
inspirações-pela-fé minoritárias, em especial tradições indígenas ecológicas espetaculares.
Isto impede que a população mundial apta e desejosa de participar na busca por
conectar soluções aos que precisam o faça enquanto milhões de chineses sentem as dificuldades
de retorno das religiosidades ao seu cotidiano, a Legião Da Boa Vontade (LBV) precisa de um
aumento exponencial de servidores em suas missões ecumênicas, jazzistas não podem assumir
seu kemetismo mas Rosacruzes AMORC sim, milhões tomam LSD lendo a transcriação de Ram
Dass do “Livro Dos Mortos Tibetanos” como “A Experiência Psicodélica”, tantas jovens tatuam
Joana Darc e Pallas Athenas, a Ecumenical Accompaniment Programme In Palestine And Israel
(EAPPI) segue atravessando criancinhas de um lado a outro da fronteira, o Dreamspell é
acusado por populações mayas como apropriação cultural porque deuses não são astronautas,
comunidades do Unitarismo Universal buscam instaurar calendários multifé em seus
municípios, Ramadans vegetarianos são executados, centros de meditação e prece vinte e
quatro horas criam metodologias de acolhimento aos desvalidos, a Biblioteca Hermética Ritman
abre uma Embaixada Do Livre-Pensamento, Takaya Blaney clama por justiça tribal imediata
para Blackrock, transhumanismo adentra as grandes religiões instituídas com associações, etc.
Que interface poderia abrir diálogo entre o movimento interfé e a cultura laica mundial
de modo a amparar os necessitados neste cenário de acordo com os mais altos padrões de
conduta ética, institucional, e de justiça social? Como participar desta dentro do que
conseguimos realizar daquilo que sabemos de nosso atual degrau na escadaria amorosa?
2018 - Capturas Do Aparelho Revolucionário
Diótima, explicando que sua sucinta exposição do amor era apenas uma rasa introdução
menor, convocou Sócrates a receber os ensinamentos iniciáticos propriamente mas, ao que tudo
indica, o filósofo não se iniciou nos mistérios maiores como sacerdote nem tampouco se
entendeu com o mistério menor do casamento. Por situações como a dele a igreja achou por
bem pregar a hierarquização ascética escolástica e limitar os casamentos à monogamia vitalícia.
Mas como negar que havia monges budistas anteriores aos monastérios cristãos?
Davi Kopenawa mostrou, em “A Queda Do Céu”, como o culto aos ancestrais e mortos
com a piedade filial que lhe corresponde teve um papel fundante na organização
sociopsicológica desde aldeias até dinastias. Rosa Luxemburgo em “Dialética Da
Espontaneidade E Organização” como este instinto hierárquico implicou também na formação
de assembléias comunitárias e sindicatos. Não há nas ’unions’ também um ímpeto
monogâmico? E como o classismo trabalhista alteraram as relações íntimas em suas
necessidades interdisciplinares? Não seria justo termos um kuarup interétnico anual?
Como não permitir que nosso ativismo por amor se torne insalubre para nós ou outrem?
Como não virar uma força gentrificadora ou mais um gaslighting com as pautas minoritárias?
Existe alguma forma de ativismo amoroso ecologicamente regenerativo sustentável?
2019 - Dialéxica: O Trançado E O Hiperdimensional
Diótima, nos dando o paradoxo entre o amor perfeito teórico junto às especificidades
das práticas amorosas para a geração de governanças pacificadoras, fundou nossas categorias
atuais de afeição e relacionamentos mutualistas. Toda idéia de arte e pensamento como
imitação de um modelo ideal que temos já se encontrava neste saber. O belo-amar (eros)
distinguido na escadaria entre paixão (pathos), família (storge), amizade (filia) e caridade
(kairós) surge também nos textos bíblicos como os quatro arcanjos.
Diótima finda seu discurso a Sócrates lhe perguntando se uma vida amorosa seria
ignóbil. Não é a sua vida a tentativa de responder esta pergunta? Sendo esta também a cruz da
igreja, não estamos como civilização cristã com a responsabilidade de respondê-la com nossas
vidas também? Isto tudo ainda nem arranha a superfície do porque somos crentes e laicas. Mil e
um cristos não seriam o bastante para explicar o papel que Jesus teve somente em nossas vidas.
Para finalizar vos pedimos que ore e medite por Diótima, seus pais, familiares, amparadores,
por todas minorias que sofrem, e pelos que ainda não encontraram o amor. Deus vos guarde.
13.800.000.000.a.c. - Abecedário Diótima
A de Agenda Amorosa Afetiva Ativa Agenciadora Artística Arquetípica Atualizante.
E de Ética Empírica Erótica Emotiva Estética Ecológica Econômica Ecumênica Escalonar Em Excelência.
L de Legado Laico Lógico Linguístico Literário Lúdico Libertador Limite Licensiada Legalmente.
Q de Qualia Quasi-Quântico.
U de Univocidade Unificante.
X de Xenofilia Xamânica