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DOENÇAS DA
CENOURA
Carlos Alberto Lopes
Ailton Reis
Embrapa
Brasília, DF
2016
Normalização bibliográfica
Antônia Veras de Souza
Fotos da capa
Giovani Olegario (superior esquerda)
Warley Nascimento (inferior esquerda)
Henrique Carvalho (direita)
1ª edição
1ª impressão (2016): 1.000 exemplares
2ª impressão (2018): 1.000 exemplares
Ailton Reis
Engenheiro-agrônomo, doutor em Fitopatologia, pesquisador da Embrapa Hortaliças,
Brasília, DF.
Doenças que afetam a fase repro- Para uma visão geral e sucinta, todas as
dutiva da planta. São de interesse espe- doenças descritas estão agrupadas na
cial na produção de sementes. Tabela 1, com os respectivos agentes etio-
lógicos, importância relativa e estação do
Informações sobre a etiologia e a
ano em que causam mais perdas. E na
epidemiologia de cada doença e distúr- Tabela 2 estão relacionados os agrotóxi-
bio fisiológico são detalhadas a seguir, cos registrados no Ministério da Agricul-
com ilustrações para ajudar na identifi- tura, Pecuária e Abastecimento (Mapa)
cação de sintomas e de causas ou con- indicados para as respectivas doenças,
dições que favorecem a sua ocorrência. caso seu uso seja necessário e permitido.
Tabela 1. Continuação.
Transmissão Maior
Doença Patógeno Importância(1)
semente frequência
Podridão negra Chalara elegans (Thielaviopsis Não Verão ++
basicola)
Podridão de Geotrichum candidum Não Verão +++
geotricum
Podridão de levedura Candida sp. Não Verão +
Podridão de fusário Fusarium spp. Não Verão +
Podridão de Sclerotium rolfsii Não Verão +
esclerócio
Podridão de Sclerotinia sclerotiorum Não Inverno +
esclerotínia
Podridão de rizopus Rhizopus sp. Não Verão ++
Importância relativa: +++ Muita importância; ++ Importância média; + Pouca importância. Obs. A importância
(1)
pode variar de acordo com fatores tais como local e época de plantio, cultivar, manejo da lavoura, microclimas, etc.
Nome IS
Princípio ativo Classe Doença/Agente etiológico CT/CA
comercial (dias)
Fungicidas
Tabela 2. Continuação.
Nome IS
Princípio ativo Classe Doença/Agente etiológico CT/CA
comercial (dias)
Contact Hidróxido de De contato Ad, Cc, MA, MC, QDF nd IV e III
cobre
Cupravit azul Oxicloreto de De contato Ad, MA, QDF 7 IV e IV
cobre
Cuprozeb Oxicloreto De contato Ad, Cc, MA, MC, QDF 7 IV e II
de cobre +
Mancozebe
Dacobre Clorotalonil + De contato Ad, MA, QDF nd II e II
Oxicloreto de
cobre
Daconil Clorotalonil De contato Ad, MA, QDF 7 II e II
Dacostar Clorotalonil De contato Ad, MA, QDF 7 I e II
Dithane NT Mancozebe De contato Ad, MA, QDF 7 I e II
Domark Tetraconazol Sistêmico Ad, MA, QDF 7 I e II
Fegatex Cloreto de De contato Ad, MA, QDF 3 I e III
benzalcônio
Folicur Tebuconazol Sistêmico Ad, MA, QDF 14 III e III
Fungitol Azul Oxicloreto de De contato Ad, Cc, MA, MC, QDF 7 IV e III
cobre
Garant Hidróxido de De contato Ad, Cc, MA, MC, QDF nd IV e II
cobre
Graster Famoxadona + Sistêmico e Ad, MA, QDF 7 I e II
Mancozebe protetor
Isatalonil Clorotalonil De contato Ad, MA, QDF 7 I e III
Mancozeb Mancozebe De contato Ad, Cc, MA, MC, QDF 7 III e II
Sipcam
Manzate Mancozebe De contato Ad, MA, QDF 7 I e II
Midas Famoxadona + De contato Ad, MA, QDF 7 I e II
Mancozebe
Mythus Pirimetanil De contato Ad, MA, QDF 14 III e II
Nativo Tebuconazol + Mesostêmico e Ad, MA, QDF 14 III e II
Trifloxistrobina sistêmico
Polyram Metiram De contato Ad, MA, QDF 7 III e III
Rovral Iprodiona De contato Ad, MA, QDF 14 II e III
Continua...
Nome IS
Princípio ativo Classe Doença/Agente etiológico CT/CA
comercial (dias)
Score Difeconazol Sistêmico Ad, MA, QDF 7 I e II
Sialex Procimidona Sistêmico Ad, MA, QDF 7 II e II
Starky Sulfato tribásico De contato Ad, MA, QDF nd I e II
de cobre
Strike Clorotalonil + De contato Ad, MA, QDF 7 I e II
Oxicloreto de
cobre
Sumiguard Procimidona Sistêmico Ad, MA, QDF 7 II e II
Sumilex Procimidona Sistêmico QDF 7 II e II
Triade Tebuconazol Sistêmico Ad, MA, QDF 14 III e II
Tutor Hidróxido de De contato Ad, MA, QDF 7 II e III
cobre
Vanox Clorotalonil De contato Ad, MA, QDF 7 II e II
Vantigo Azoxistrobina Sistêmico Ad, MA, QDF 7 IV e III
Inseticidas e nematicidas
Bunema Metam-sódico De contato Mi, Mj, Meloidoginose, nd II e I
NDG
Carboran Carbofuran Sistêmico Mi, Mj, Meloidoginose, 60 I e II
Fersol NDG
Cierto Fostiazato Sistêmico Mi, Meloidoginose, NDG 60 III e II
Furacarb Carbofuran Sistêmico M. javanica, 60 III e II
Meloidoginose, NDG
Furadan Carbofuran Sistêmico M. javanica, 60 III e II
Meloidoginose, NDG
Bactericidas
Kasumin Casugamicina Sistêmico ECC, Podr. mole, Canela 2 III e III
preta
Fegatex Cloreto de De contato ECC, Canela preta, Podr. 3 I e III
benzalcônio mole
Os nomes de doenças e de agentes etiológicos nesta tabela estão de acordo com o registro no Agrofit/Mapa, em
(1)
Amarelão ou Vermelhão
Agente etiológico: Carrot red leaf virus
(CtRLV) Figura 13. Folhas de cenoura amareladas e
arroxeadas por viroses.
O amarelão, também conhecido
Embora sintomas similares de
como “vermelhão”, “amarelo” ou “ver-
mudança de pigmentação das folhas
melho”, é uma enfermidade de difícil
possam ser causados por outros fato-
diagnóstico, pois sintomas similares
res, inclusive de origem viral, no Brasil
podem ter outra causa, como outros vírus
foi encontrado somente o Carrot red
e fatores nutricionais.
leaf virus (CtRLV), da família Luteo-
Muito destrutivas em outras hor- viridae, que também infecta coentro
taliças, as viroses não são consideradas e salsa. O vírus é transmitido com
muita eficiência pelo pulgão Cavariella pelo qual talvez ainda não tenham sido
aegopodii, que o adquire de outras encontrados no Brasil.1
plantações (Figura 14). A transmissão é Amarelecimento e vermelhão das
circulativa, ou seja, uma vez contami- folhas podem ser causados também
nado, o vírus permanece viável dentro por deficiência mineral, principalmente
do pulgão por muito tempo. de nitrogênio, magnésio e potássio, ou
por ataque de insetos e ácaros (seção
Foto: Carlos Alberto Lopes
bem drenados, e irrigação adequada- mais comum delas. É uma bactéria encon-
mente manejada são medidas importantes trada em muitos solos do mundo todo.
para o controle do tombamento. É uma das principais doenças em lavouras
O tratamento das sementes com fun- de batata, mas raramente encontrada em
gicidas ou com água quente pode eliminar plantações de cenoura.
os patógenos das sementes ou reduzir o seu Sua ocorrência em cultivos de
nível de infestação e/ou infecção. Quando cenoura está normalmente ligada a solos
permitido, o tratamento químico deve ser anteriormente cultivados com batata.
feito com fungicidas registrados para tal e Solos alcalinos e sujeitos a períodos
com os cuidados que eliminem os riscos de seca também favorecem a doença.
inerentes ao manuseio de produtos tóxicos. Os sintomas só aparecem nas raízes, onde
O tratamento com água quente deve ser são observadas lesões superficiais secas,
feito com temperatura e tempo ajustados corticosas, orientadas transversalmente ao
(50 °C/20 minutos), para não reduzir a taxa eixo da raiz, geralmente associadas a cica-
de germinação das sementes. trizes deixadas pelas raízes secundárias
A rotação de culturas com espécies (Figura 17). O diagnóstico dessa doença
vegetais não suscetíveis ao complexo de não é fácil, porque sintomas similares
fungos, como as gramíneas, reduz con- podem ser causados por outros fatores
sideravelmente a incidência do tomba- bióticos ou abióticos, alguns ainda de
mento. O desbaste das plantas, necessário causa desconhecida. Assim, o histórico da
para evitar a competição entre plantas área é importante para se conhecer a real
vizinhas e garantir bom desenvolvimento causa da doença.
das raízes, deve ser feito o mais cedo pos-
sível. Com isso, têm-se menos ferimentos
das raízes das plantas remanescentes em Foto: Carlos Alberto Lopes
Sarna comum
Agente etiológico: Streptomyces spp.
Figura 17. Lesões verrucosas em raiz de
Waksman & Henrici. cenoura causadas por sarna (Streptomyces
spp.).
A sarna comum é causada por uma
ou mais espécies de Streptomyces, sendo O controle da sarna comum é feito
aparentemente S. scabies (ou S. scabiei) a por meio de práticas culturais. A principal
medida é não plantar em solo que tenha Às vezes o tecido necrosado se destaca
sido recentemente cultivado com batata. da lesão, formando pequena cratera na
Além dessa, a manutenção da umidade superfície da raiz principal.
do solo durante todo o ciclo da cultura, Em regiões de clima temperado, em
a rotação de culturas e o plantio em solos especial da América do Norte, sintoma
ligeiramente ácidos são também eficazes. muito similar ao que tem sido observado
no Brasil é atribuído ao ataque de espécies
Mancha pestana (Cavity Spot) de Pythium, principalmente P. ultimum,
P. violae e P. sulcatum. Todavia, mesmo lá
Agente etiológico: Pythium spp. Pringsheim reconhece-se que o diagnóstico é difícil.
Há relatos de que seja uma doença com-
A mancha pestana tem sido obser- plexa, podendo ser causada por outros
vada no Brasil com certa frequência patógenos ou mesmo por fatores genéti-
em raízes recém-colhidas ou em pós- cos ou fisiológicos, como deficiência de
-colheita. Embora chame a atenção por cálcio ou excesso de potássio.
causar danos cosméticos consideráveis
Em praticamente todos os casos,
ao produto, ainda não teve sua causa
a anormalidade é notada com mais fre-
devidamente identificada no Brasil.
quência em solos úmidos e a associação
Os sintomas aparecem somente nas raí-
com Pythium spp. se dá sob temperatu-
zes, onde são observadas lesões superfi-
ras amenas. Assim, se a doença ocorrer
ciais escuras, orientadas transversalmente
em climas com temperaturas elevadas,
ao eixo da raiz, geralmente associadas acima de 25°C, deve-se colocar em
a cicatrizes formadas pelo desprendi- dúvida a associação da doença com esse
mento das raízes secundárias (Figura 18). gênero de oomiceto, embora possa haver
interação entre a temperatura e a espécie
Foto: Carlos Alberto Lopes
do patógeno.
A presença de microrganismos
patogênicos e saprófitas nas lesões, em
especial espécies de Fusarium, nor-
malmente tem levado a diagnósticos
incorretos, havendo a necessidade de
comprovar a patogenicidade dos agentes
isolados nas lesões por meio de metodo-
logia científica apropriada.
Figura 18. Mancha pestana causada por Embora de causa ainda não bem
complexo de fungos e oomicetos. definida, algumas medidas de controle
fato de que S. sclerotiorum possui ampla raiz principal e nas raízes secundárias
gama de espécies hospedeiras e também (Figura 21).
produz escleródios que permanecem no
solo por muitos anos. Assim, terrenos
Galhas
Agentes etiológicos: Meloidogyne
incognita (Kofoid & White) Chitwood e
M. javanica (Treub.) Chitwood
Figura 20. Raízes de cenoura deformadas por
O aparecimento de raízes com nematoide das galhas.
galhas e/ou “pipocas” causa grandes
Podridão de geotricum
Agente etiológico: Geotrichum candidum
Link
Figura 34. Podridão mole coberta de micélio Foto: Carlos Alberto Lopes
Deformações
Figura 50. Raízes de cenoura com diferentes tipos de deformações provocadas por
causas diversas.
Oídio
Agente etiológico: Erysiphe heraclei D.C.
(Oidium sp.)
transmitido pela semente, o oídio pode o oídio atacará as estruturas das hastes
atacar as umbelas e afetar a produção florais, o que reduzirá o tamanho da
de sementes e o seu vigor (Figura 53). umbela, resultando em queda de produ-
Como as plantas de cenoura para a pro- ção e sementes de baixo vigor.
dução de sementes são cultivadas em
condições controladas e/ou nas épocas Queima de alternária
mais secas do ano, elas são atacadas
com mais frequência pelo oídio. Isso Agentes etiológicos: Alternaria dauci
também ocorre pelo fato de o sistema (Kühn), A. radicina (Meier) Drechsler &
de irrigação na produção de sementes E.D. Eddy e A. alternata (Fr.) Keissl.
ser geralmente por gotejamento, não
havendo o impacto da gota de água Na produção de sementes de
sobre as estruturas do patógeno. cenoura, a queima das folhas decorre do
ataque de Alternaria dauci, A. radicina e
A. alternata. São patógenos frequente-
Foto: Jairo Vidal Vieira
Figura 55. Campo de cenoura em pequena Figura 56. Restos culturais de cenoura que
propriedade agrícola, que também requer podem ser contaminados por patógenos e
rotação de culturas. infestar o solo.
na colheita e a velocidade com que as raí- E para que tenham maior vida de prate-
zes se deterioram após a colheita. Assim, leira, as raízes devem estar secas antes de
a lavoura deve ser conduzida de acordo serem embaladas, operação que deve ser
com as boas práticas de cultivo, recomen- realizada em ambiente limpo e em invó-
dadas para a obtenção de um produto lucros livres de impurezas.
de boa aparência e isento de contami-
nações químicas e biológicas. Também Merece atenção especial a ade-
são importantes os cuidados para evitar quação da embalagem e a sua limpeza.
ferimentos durante a colheita (Figura 61), As caixas de colheita, transporte e comer-
transporte (Figura 62), lavagem, seleção e cialização devem ter superfície lisa, de
embalagem (Figura 63), que funcionam modo a evitar ferimentos nas raízes e a
como portas de entrada dos patógenos. facilitar a limpeza e a desinfestação.
Foto: Jairo Vidal Vieira
Figura 61. Colheita manual e colheita mecâ- Figura 63. Lavação e classificação de raízes
nica de cenoura. de cenoura.