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história da arte
ensaios contemporâneos
[ 2 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
UNIVERSIDADE DO ESTADO
DO RIO DE JANEIRO
Reitor
Ricardo Vieiralves de Castro
Vice-reitora
Maria Christina Paixão Maioli
EDITORA DA UNIVERSIDADE DO
ESTADO DO RIO DE JANEIRO
Conselho Editorial
história da arte
ensaios contemporâneos
Marcelo Campos | Maria Berbara | Roberto Conduru | Vera Beatriz Siqueira
organização
Rio de Janeiro
2011
[ 4 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
EdUERJ
Editora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Rua São Francisco Xavier, 524 – Maracanã
CEP 20550-013 – Rio de Janeiro – RJ
Tel./Fax: (55)(21) 2334-0720 / 2334-0721
www.eduerj.uerj.br
eduerj@uerj.br
CATALOGAÇÃO NA FONTE
UERJ/REDE SIRIUS/NPROTEC
H673
História da arte: ensaios contemporâneos / Organização,
Marcelo Campos, Maria Berbara, Roberto Conduru, Vera
Beatriz Siqueira. – Rio de Janeiro: EdUERJ, 2011.
452 p.
ISBN 978-85-7511-188-8
CDU 7
Introdução [ 5 ]
Sumário
Introdução 9
Marcelo Campos, Maria Berbara, Roberto Conduru
e Vera Beatriz Siqueira
Arte e religião 89
Sobre as irmandades de clérigos em Portugal e na América
portuguesa: o trânsito de modelos artísticos entre as duas
margens do Atlântico 91
André L. Tavares Pereira
[ 6 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
Verbetes 321
Apropriação 323 Arte e taoísmo 357
Fernanda Pequeno Bony Braga
Arquitetura 326 Arte e transexualismo 359
Antônio Barros Raphael Fonseca
Arte e América Latina 328 Assemblage 361
Elena O’Neill Rafael Souza
Arte e arquivo 331 Caricatura 363
Adelaine Evaristo da Silva Fernanda Marinho
Arte e China contemporânea 333 Colagem 365
Felipe Abdala Mariana Gomes Paulse
Arte e corpo 335 Desenho 369
Renata Reinhoffer França Inês de Araújo
Arte e Egito 338 Escultura 372
Evelyne Azevedo Leidiane Carvalho
Arte e budismo 340 Fim e hipertrofia da arte 374
Bony Braga Camilla Rocha Campos
Arte e historiografia 342 Forma, informe, informal 376
Igor Valente Carla Hermann
Arte e indumentária 344 Fotografia 379
Larissa Carvalho Elena O’Neill
Arte e islão 346 Imitação 382
Evelyne Azevedo Gilton Monteiro
Arte e mercado 348 Intervenções artísticas
Camilla Rocha Campos afro-brasileiras 384
Mônica Linhares
Arte e Mesoamérica 350
Antônio Barros Monumentos: África e Brasil 386
Mônica Linhares
Arte e psicologia 352
Renata Reinhoffer França Paisagem 388
Carla Hermann
Arte e política na China 355
Bony Braga Perspectiva 390
Leidiane Carvalho
[ 8 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
Introdução
Essas novas tendências na história da arte vêm sendo, ao longo dos últimos
anos, discutidas e incorporadas às ações de ensino, pesquisa e extensão do Instituto
de Artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (ART/UERJ). Desde 2005,
na linha de pesquisa História e Crítica de Arte do Programa de Pós-graduação
em Artes (PPGARTES), são desenvolvidos projetos de pesquisa que partem da
dissolução das tradicionais fronteiras disciplinares entre estes três campos do saber
– história, crítica e teoria – para problematizar, de modos variados, a formulação de
um pensamento histórico-crítico sobre o fenômeno artístico.
A partir de 2006, no âmbito do Departamento de Teoria e História da Arte
(DTHA), vêm sendo formulados novos princípios, métodos e critérios para as
disciplinas de história da arte dos currículos dos cursos de graduação em artes da
UERJ: artes visuais (bacharelado e licenciatura) e história da arte (bacharelado).
Tal orientação teórico-crítica se expressa nas ementas – com seus objetivos –, que,
implantadas em 2009, se estruturam a partir de entradas conceituais, agrupadas em
seis conjuntos: arte e cultura material; arte, pensamento e forma; arte e religião; arte e
política; arte e sistema de arte; e arte e vitalidade. As seções deste livro, ideado também
como suporte à atividade docente, relacionam-se de forma direta a essas seis seções.
Esse processo editorial faz parte de um projeto apoiado pelo DTHA e pela
EdUERJ, financiado pela Faperj, realizado, a partir de 2008, sob a coordenação
de uma equipe composta pelos seguintes docentes do DTHA e do PPGARTES-
ART/UERJ: Marcelo Campos, Maria Berbara, Roberto Conduru (coordenador)
e Vera Beatriz Siqueira. Essa equipe, por sua vez, convidou outros pesquisadores,
atuantes no campo da história da arte e/ou em campos de fronteira, para integrar
o projeto: Jérôme Souty, então atuando como professor visitante no Instituto de
Medicina Social (IMS) da UERJ; Paulo Knauss, do Laboratório de História Oral
e Iconografia do Departamento de História da Universidade Federal Fluminense
(UFF); Rafael Cardoso, da Escola Superior de Desenho Industrial da UERJ; Stefania
Caliandro, então atuando como professora visitante no DTHA/UERJ; e Sonia
Gomes Pereira, professora titular da Escola de Belas Artes da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ). A ação dessa equipe no processo de realização do projeto
sustentou-se em um ponto de partida comum, a permeabilidade das esferas da arte
e da cultura, e em um pressuposto teórico básico – a aproximação da história da arte
com a crítica e com o olhar sobre a cultura, por meio da confluência com as áreas
de antropologia, desenho industrial, letras e semiologia, com as ideias de recepção
estética e crítica e com a reflexão sobre o sistema cultural. Apoiou-se, por fim, em
um compromisso com a atuação crítica que transcenda os limites tradicionais do
ensino e da pesquisa acadêmica.
De acordo com as premissas expostas acima, este livro propõe a apresentação de
uma história da arte multifocal, entendida como um campo múltiplo e aberto quanto
a seus objetos e questões, bem como a seus diálogos com outros campos disciplinares.
Introdução [ 13 ]
O texto divide-se em seis seções no interior das quais são apresentados ensaios de
diferentes tamanhos produzidos por pesquisadores brasileiros e estrangeiros que vêm
se destacando na área de história da arte e/ou em campos de fronteira. Tanto no que
tange às suas formações quanto em relação aos temas aos quais se têm dedicado, os
autores constituem um grupo heterogêneo, cujo campo de atuação engloba a história
das artes plásticas ou visuais (pintura, escultura, desenho), o desenho industrial, a
arquitetura, o paisagismo e o urbanismo, e ainda articulações com outros campos de
conhecimento – antropologia, cultura visual, letras, semiologia –, estudando obras,
artistas, instituições, ideias e práticas artísticas, no Brasil e no exterior. Dentre os
pressupostos editoriais do volume destacam-se as seguintes diretrizes: não se ater
nem se centrar, exclusivamente, na arte do Ocidente; produzir cruzamentos espaciais
e temporais; não produzir narrativas totalizantes; problematizar o ato de historiar e
as histórias da arte existentes (princípios, objetos, métodos, processos e produtos).
O livro é deliberadamente assimétrico, permitindo que as seções de ensaios
variem de acordo com necessidades e potencialidades de conteúdo, de modo a evitar
seriações uniformes e totalizações. Assim, corrobora, em sua própria estrutura, seu
sentido aberto a outros ensaios. Talvez essa assimetria possa qualificar, igualmente,
os próprios cruzamentos temporais e espaciais desenvolvidos nos diferidos ensaios.
Algumas vezes, são desafios enfrentados pelos pesquisadores que, até então, não haviam
lidado com esse problema em suas investigações, mas que se sentem instigados a fazê-lo
e produzem nexos históricos e culturais novos e inspiradores. Outras, são ainda um
sítio a se chegar, um horizonte distante, porém imantado pela vontade de contribuir,
a partir de nosso lugar cultural e histórico, para uma possível história da arte global.
A noção de ensaio, ressalte-se, é importante na medida em que pressupõe
a ideia de experimentação e se opõe a sistemas e métodos restritivos, fechados.
O termo contemporâneo, por sua vez, não está, em absoluto, vinculado a uma
preferência estética, a uma determinada noção de estilo ou a um período histórico
predeterminado, mas, contrariamente, sinaliza o reconhecimento de que a
experiência atual da arte, compreendida em sua vitalidade essencial, constitui o
fundamento de toda a compreensão da arte e da cultura, recente ou tradicional.
O livro inclui, ainda, uma seção com verbetes redigidos por estudantes e egressos
dos cursos de graduação e pós-graduação da UERJ, cujos temas foram especificados
a partir dos conteúdos dos ensaios e das necessidades de esclarecimento nocional.
Realizados por encomenda dos organizadores do livro ou propostos pelos próprios
autores, os verbetes formam um quadro bastante heterogêneo. Por vezes, referem-
se a determinado contexto cultural, dialogando com as presenças e ausências
dos textos. Em outras ocasiões, relacionam-se a conceitos, a meios artísticos ou a
problemas plásticos relevantes para a história da arte hoje. Dessa forma, em sua
assumida assimetria, produzem outras ordens de cruzamento, propondo olhares
transversos sobre os demais textos.
[ 14 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
Referências
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The Miegunyah Press, 2009.
ARGAN, Giulio Carlo. Arte e crítica de Arte. Lisboa: Editorial Estampa, 1988.
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RIBEIRO, Carlos Flexa. História crítica da arte. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1962.
VENTURI, Lionello. História da crítica de arte. Lisboa: Martins Fontes, 1984 [1936].
Arte e cultura material [ 15 ]
Cezar Bartholomeu
UERJ
por exemplo.
[ 18 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
Diferença que, para alguns, pode ser explicada pelo não pertencimento dessas obras ao sistema
2
de arte, pois seriam, para usar expressão em desuso, objetos da baixa cultura.
Arte e cultura material [ 19 ]
Razões que explicam sua disseminação no Japão e principalmente no gosto da Europa modernista.
3
[ 20 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
a sociedade para mais liberdade e, paradoxalmente, exerce sobre ela controle rígido.
Há algo a ser dito sobre o fato de essa obra constar da coleção do principal museu francês de arte
5
oriental: sua recuperação para o mundo da arte passa pelo confronto do objeto japonês com o
gosto europeu da modernidade, o que se evidencia por sua influência nas obras de Monet, Degas
e Van Gogh.
Arte e cultura material [ 21 ]
Takahashi, pintor e gravador, resume a atitude do artista, que poderíamos relacionar à de Hokusai:
“Um amigo me enviou uma litografia europeia por volta de 1850, e, quando a olhamos, percebemos
que representava um maravilhoso modo de expressão. Imediatamente decidimos aprender
essas técnicas, mas não havia ninguém para nos ensinar nem material para se estudar; portanto,
trabalhamos dia e noite para descobri-las por nós mesmos” (Miki, 1997, tradução minha).
[ 22 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
Os ventos são, em geral, representados como homens alados com roupas e cabelos desarrumados.
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Boreas é a principal figura mitológica dos oito ventos, junto a Zéfiro, e ambos constam das mitologias
com histórias próprias, enquanto os dois outros ventos correspondentes aos pontos cardeais
constam de lendas e elementos artísticos e decorativos de caráter cosmológico, como é o caso da
Torre dos ventos. Boreas é representado por um homem velho e barbado que anuncia o vento com
uma corneta; é o vento que sopra do norte tanto no inverno quanto no verão. Caecius, o vento
nordeste, é representado como um homem barbado que carrega um escudo do qual derrama
granizo. Apeliotes, que literalmente traduzido significa vindo do sol, é o vento leste, primaveril,
simbolizado por um homem jovem que traz nas mãos frutas e grãos. Notus, o vento sul, é um homem
jovem que carrega uma urna da qual se derramam chuvas. Lips, o vento sudoeste, é representado
por um homem jovem que sopra uma nau. Zephyros é nome do vento oeste, um vento temperado
e gentil a quem, em geral, são atribuídas as colheitas. Está simbolizado no friso por homem jovem
e nu que joga flores. Euros, o vento sudeste, é um homem velho e barbado que traz escondido em
sua capa um furacão. Sciron, o vento nordeste, é representado por um homem idoso que carrega
um caldeirão, o que supostamente se interpreta como o vento que marca o fim do inverno.
[ 24 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
“O disco possui gravação com mapa celestial em projeção estereográfica, mostrando todas as
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estrelas e constelações, do polo norte celestial até o sul do Trópico de Capricórnio. Entre estes há
um círculo com a constelação zodiacal, com buracos nos quais se posicionavam, a cada dois dias,
imagens do sol segundo a época do ano” (Noble e Price, 1968, pp. 351-2, tradução minha).
Marcus Vitruvius Pollio (c. 80-70 a.C. – c. 15 a.C.), romano, é a grande fonte de informação sobre a
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arquitetura clássica. Ele menciona a torre no livro VI de De arquitetura. Marcus Terentius Varro (116
a.C. – 27 a.C.), romano, descreve a torre brevemente no terceiro livro do De re rustica.
10
Há indicação, a partir do exame do mármore da torre em trabalho de campo, que uma das portas
ficava fechada, enquanto a outra ficava aberta o tempo todo, dia e noite, o que fornece uma primeira
dimensão do uso da ágora e do papel da torre.
11
A análise da torre deve retornar a duas questões importantes sobre o problema de uma cultura
material e sua visada. Em primeiro lugar, qualquer análise se afirma a partir da qualidade e da
sofisticação do trabalho de campo, que deve considerar, nas marcas, a historicidade do artefato
– desvelando as modificações de seu uso. Depois, é preciso considerar como a Torre dos Ventos,
como artefato, problematiza alguns conceitos estruturantes da história da arte: não é obra, mas um
aglutinado de sucessivas construções que se acumulam, tendo como modelo o palimpsesto; não
possui estilo, pois não se constitui como unicidade; e, sobretudo, não possui autoria, não sendo
apropriado falar diretamente de intenção e criação como dispositivos.
Arte e cultura material [ 25 ]
Descritos exaustivamente no artigo de Henry S. Robinson (1943), em que vemos um uso exemplar
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do conceito de cultura material no âmbito de uma análise arqueológica. Percebe-se uma nítida
diferença em relação ao caráter interpretativo da escrita.
Os detalhes de uma pesquisa de campo que reconstituiu, a partir dos indícios, o mecanismo específico
13
Nesse momento histórico, a rosa dos ventos se transformou para conter oito direções, tal como
14
Devemos nos lembrar, quanto à pertinência da inclusão das figuras míticas, da relação entre verdade
15
e mito nessa Grécia romana. Podemos tomar como modelo duas fontes: Euhemerus de Messina e
Aristóteles. Para Euhemerus, existem deuses eternos e existem outros, os heróis, que se tornam
deuses. Seu ponto de vista indica uma tentativa de reinterpretar racionalmente a religião grega,
esvaziada por sua falta de sistematização e pelo uso político de seus elementos. Para Euhemerus,
o mito define uma verdade histórica sagrada e pode ser interpretado como tal. Nesse sentido, o
mito possui relação extremamente positiva com a verdade. Isso pode ser lido em acordo com a
concepção aristotélica descrita na Poética: o mito expresso pela arte revela uma verdade devida,
ainda que não aquela ocorrida.
[ 28 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
Referências
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DIDI-HUBERMAN, Georges. Devant le temps. Paris: Les Éditions de Minuit, 2000.
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PANOFSKY, Erwin. Perspective as a symbolic form. Nova Iorque: Zone Books, 1991.
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ROBINSON, Henry S. “The Tower of the Winds and the Roman market-place”.
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SPIVEY, Nigel. Greek art. Londres: Phaidon, 1997.
Arte e cultura material [ 29 ]
Obras-arquivos: o efêmero, a
memória, a transversalidade
Para aludir a outro exemplo pouco explícito, sem dar o devido tratamento
da análise, lembro a série de Leila Danziger iniciada em 2004, Diários públicos.
A artista plástica carioca coleciona jornais e emprega um método extrativo
para apagar as palavras do noticiário, conservando algumas de suas imagens
originais. Com carimbos, Danziger grava frases e por vezes versos de Paul
Celan, Drummond, Cecília Meireles, Orides Fontela. O tempo instantâneo
e efêmero das notícias começa a flutuar suspenso nos Diários de Danziger,
atingido pelo gesto súbito que extrai as palavras não desejadas. A velocidade
com que os momentos são substituídos no noticiário é aniquilada pela
remoção que apaga o impresso. Ao mesmo tempo que abre as possibilidades
expressivas do arquivo-jornal e estabelece diálogos com o campo de uma
escritura exterior e distante das artes plásticas – a literatura –, o trabalho
de Danziger explicita a vocação própria dos dispositivos cotidianos das
comunicações: o esquecimento.
Esse interesse em criar espaçamentos, divisões, partilhas no interior de
dispositivos e sistemas de conhecimento – sejam da arte, das comunicações
ou do saber em geral – não é recente. Nos anos 1960, os artistas do Fluxus
conceberam a arte como um imenso armazém, colecionando objetos
cotidianos de toda sorte. No Brasil, ao final dos anos 1950, os artistas
neoconcretos problematizavam o quadro e a pintura. Quase dez anos
mais tarde, o evento Apocalipopótese reuniria vários artistas no Aterro do
Flamengo sinalizando a crise do mecanismo da exposição em espaços de
galeria. O colapso da obra como presença plena, a inclusão do contexto
como elemento da obra, a ampliação das bases da percepção para abranger
o corpo, a dúvida sobre a essência da arte, a suspeita sobre a ontologia física
dos suportes, tudo isso conduziria os artistas ao questionamento do objeto
de arte. Em consequência, surgiriam não só as ações e as intervenções, mas
também os restos deixados como documentos que virtualmente seriam
guardados: papéis, fotocópias, registros mecânicos em imagens, fragmentos
materiais, objetos. O que teria sido feito do volume residual do papel cortado
e abandonado sobre o chão após a ação de Lygia Clark, Caminhando (1963)?
Dar vida aos resíduos faria parte da nova poética do arquivo. O cinema, a
fotografia e o vídeo auxiliariam – enquanto suporte técnico e material e do
lugar de um observador-testemunho – na documentação daquelas ações
transitórias. Potencializando o lugar do outro da criação, a sobra sinalizava
uma sobrevida. Os resultados em imagem das ações realizadas começariam
em breve a aparecer de dois modos diferentes: como simples registro para
[ 32 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
Para um breve entendimento da história dos museus, ver “Apontamentos sobre a história dos
16
Ao escrever sobre a noção de saber em Foucault, Gilles Deleuze (1991) utiliza as formulações
17
da linguística de Hjelmslev, conteúdo e expressão, cada qual com sua forma e sua substância.
O significado e o significante são noções da linguística estrutural rejeitadas nas formulações de
Deleuze. Assim o filósofo traduz a noção de saber para Foucault: formações históricas constituídas
de conteúdos – as visibilidades (a prisão é a forma do conteúdo, e o prisioneiro, a substância
do conteúdo) – e de expressões – as dizibilidades (o direito penal é a forma da expressão, e a
delinquência, a substância da expressão). Assim, Deleuze esclarece que, enquanto o direito penal
como forma de expressão define um campo de dizibilidades (os enunciados de delinquência), a
prisão como forma do conteúdo define um local de visibilidade (a arquitetura panóptica, local de
onde é possível ver tudo sem ser visto).
Arte e cultura material [ 35 ]
Referências
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invenção da vida moderna. São Paulo: Cosac Naify, 2001.
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LE GOFF, Jacques. “Documento/monumento”. Enciclopédia Einaudi: memória – história.
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SUANO, Marlene. O que é museu. São Paulo: Brasiliense, 1991. (Coleção Primeiros
Passos).
A constatação de Duchamp:
o estatuto do objeto no limiar
da imaterialidade
Rafael Cardoso
UERJ
Ver também, entre outros, as contribuições mais recentes de Singerman (2002, pp. 96-121) e Nixon
19
“For the Fountain, with its shiny white porcelain curves and countercurves, has a sensuous presence
21
that elicits one’s normal visual response to works of art: a response that tends to promote an analytic
examination. [...] But the Fountain thwarts this analytic impulse. Faced with a ready-made object,
we can make no attempt at formal decoding”.
“To scrutinize the act of aesthetic transformation itself”.
22
Pouco importa, aliás, se o objeto em exposição é o exato exemplar originalmente escolhido por
23
Duchamp, como ficou demonstrado nos objets trouvés, assemblages e ready-mades que o artista
reconstruiu ou reconstituiu ao longo dos anos.
[ 40 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
ampliado que envolve todo o sistema no qual estão inseridos obra, artista
e usuários. Para muitos, ainda é estranho ouvir falar de espectadores ou
visitantes de exposições artísticas como usuários. O gesto de Duchamp é
responsável por nada menos do que isso: a ação revolucionária de retirar o
visitante de sua posição mais ou menos passiva como espectador e lançá-lo
à nova condição de participante. Confrontado com o objet trouvé, e mais
ainda com o ready-made, o espectador é obrigado não somente a completar
o sentido do enunciado artístico – o que é o caso com qualquer obra de arte
exposta, mediante processos de recepção e cognição –, mas a atribuir esse
sentido por si mesmo, o que é bastante mais complexo. Trata-se de uma arte
pensada para uma sociedade fragmentada, plural e ligeiramente absurda, de
acordo com os padrões herdados do mundo pré-industrial.
Henry Ford foi o primeiro da linhagem de bilionários, que ainda hoje cativa a imaginação mundial.
26
Principal porta-voz do capitalismo norte-americano em sua época, foi recebido com honras e regalias
tanto na Rússia bolchevique quanto na Alemanha nazista. No Brasil, seu nome e seus escritos foram
divulgados por Monteiro Lobato, seu grande admirador. Talvez a homenagem máxima, enviesada,
tenha vindo no romance Admirável mundo novo, de Aldous Huxley. No futuro distópico de Huxley,
o calendário é datado “in the year of our Ford”, parodiando a expressão inglesa in the year of our
Lord (no ano de Nosso Senhor).
Arte e cultura material [ 43 ]
de natureza pecuniária, mas paga quem quer e pode. Além disso, dificilmente
uma será encontrada no lixão de sua cidade.
Essa abertura múltipla da WW Stool para uma série de usos e
significados obriga-nos a repensar seriamente a noção desgastada de função,
termo empregado quase sempre de modo abreviado durante o século XX
para designar a função operacional imediata, ou o funcionamento, de
um artefato qualquer. Permeiam a cultura do design modernista ditames
funcionalistas, como “uma cadeira é para sentar”. E quando não o é?
E quando os garçons do bar, impacientes com os últimos boêmios que
continuam firmes e fortes às duas horas da manhã, colocam as cadeiras
sobre as mesas, viradas de cabeça para baixo? Nesse momento, a cadeira
não é para sentar; é um signo comunicando que está na hora de ir embora
antes que lhes expulsem.
E, se uma cadeira é para sentar, será o inverso verdadeiro? Se alguém
senta sobre uma mesa, ela se torna cadeira? A pergunta pode parecer capciosa
ou imbecil, mas encerra questões epistemológicas importantes sobre a inter-
relação entre artefato, significado e usuário. A correspondência estrita
entre uma forma determinada e um determinado uso, como a cadeira e o
sentar, acaba por bitolar o pensamento. Ao pensar a ação de sentar como
experiência e não como artefato específico, o projetista se liberta de estruturas
preexistentes e ganha a possibilidade de criar soluções realmente novas. Se
a tarefa é projetar uma cadeira, é impossível escapar da morfologia: encosto,
assento, pernas. Se a tarefa é projetar uma situação de sentar, o leque se
amplia para incluir pufes, banquetas, bancos, sofás, almofadas, futons e até
mesas, sem nem entrar nos híbridos possíveis.
Podemos dizer de um aparelho como um relógio ou um motor que ele
funciona ou não funciona, mas um relógio parado e um motor quebrado são
o quê? Pelo paradigma antigo, eles são apenas lixo. Deverão ser descartados
e substituídos. Claramente, esse é um pensamento insustentável no
panorama atual. Para um funcionalista da velha escola, a função da hélice
seria de ajudar o avião a voar; porém, o que acontece quando a hélice está
exposta numa feira aeroviária, sem o avião, ou – o que seria mais provável
hoje – num museu? Se seguirmos um pensamento sistêmico, de fluxo de
significados, coisas acontecem! Coisas que podemos entender como arte,
como fetichismo, ou como a ressignificação de artefatos, para os que preferem
designações mais antropológicas. Essa abertura para uma nova conceituação
do mundo material que nos cerca conduz a possibilidades quase infinitas de
Arte e cultura material [ 47 ]
Em meio a tudo isso, onde ficam os artefatos que sempre foram parceiros e
testemunho de nossa humanidade? Repensar a relação entre arte, design e
artesanato é urgente, sob risco de nunca terminarmos a partida de xadrez
iniciada pela constatação de Duchamp.
Referências
BATCHELOR, Ray. Henry Ford, mass production, modernism and design. Manchester:
Manchester University Press, 1994.
CARDOSO, Rafael. “Do fetichismo dos objetos à semântica do produto, e além”.
Desígnio, set. 2007, n. 7-8, pp. 18-23.
------. “Craft versus design: moving beyond a tired dichotomy”. In ADAMSON, Glenn
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[ 50 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
Arte, pensamento e forma [ 51 ]
Guilherme Bueno
MAC de Niterói (RJ)
Forma e sensação
Não raro, boa parte da história da arte do século XX ficou conhecida
como uma espécie de era do formalismo. Em linhas gerais, seus princípios já
se tornaram de domínio comum: o discurso centrado na lógica de redução
compositiva de uma obra a seus elementos estruturais, seguindo a máxima
do pintor Maurice Denis, segundo a qual uma pintura, antes de representar
qualquer coisa, é um conjunto de manchas dispostas numa certa ordem. Tal
raciocínio teria sido apropriado posteriormente por diferentes intelectuais
para construir uma narrativa totalizante que encontraria seu ápice na arte
abstrata, dentro da qual haveria alternâncias morfológicas, que, no entanto,
manteriam irredutível a premissa da autorreflexão dos meios – o sentido de
bidimensionalidade na pintura, de volume na escultura e daí por diante.
Se tal retrospecto crítico das teorias das formas guarda certa verdade,
convém reler suas práticas, a fim de compreender a razão pela qual esse
modelo assumiu tamanha importância. As origens dele, conforme o
conhecemos recentemente, remontam a uma dupla tensão da crítica de arte
francesa no século XIX. Por um lado, há a cogitação de uma experiência
da arte que pode abdicar da interpretação temática – o entendimento
da representação de uma cena qualquer – em prol de um mergulho nas
profundezas das sensações. Essa seria a visão de Baudelaire, derivada de
posições lançadas por Delacroix em seus diários. Por outro, passados alguns
anos, a mesma defesa de uma abordagem da experiência não contaminada
flertaria com pretensões cientificistas na crítica de Zola, que, na voz de seu
alter-ego, o candidato a escritor e crítico Sandoz do romance L’Oeuvre,
declara a necessidade de um relacionamento com a arte livre dos excessos
de sentimentos românticos sofridos por sua geração.
[ 54 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
Nos dois casos, para além da briga com o discurso oficial da academia,
coloca-se um problema fundador: saber lidar com o universo sensível quando
este se encontra desamparado em um mundo secular. Questão adicional:
mediar sua relação numa sociedade desejosa de firmar-se democraticamente,
o que significa detectar os códigos formativos do sujeito moderno. Isso
corresponde a um desenho no qual a individualidade – do artista e do
espectador – e a universalidade – das condições de juízo – não se cancelam
mutuamente. Tal equacionamento entre público e privado havia sido
sistematizado outrora por Locke e por Kant e, no campo da arte, foi testado
desde o início por Diderot, Schiller e outros. Esse programa não se furta,
entretanto, a conviver desde suas origens com as contradições reconhecíveis
nas abordagens de Baudelaire e Zola, visto que o último procura executar
uma manobra evolutiva em relação ao predecessor: o caráter subjetivo se
torna passível de ser decantado, passando da interiorização individual para
a socialização positiva do rigor naturalista. Ainda assim, há algo não menos
importante a assinalar na crítica formalista do século XIX: a relação com a
arte, vista como protótipo de superação da natureza – a arte se desprende da
mímesis, de seu vínculo com um mundo condenado às aparências acidentais
–, e o descortinar da essência, que se apresenta como restituição de uma
experiência original e autêntica. A crença na manifestação inata da forma
como princípio judicativo conciliava várias demandas: ao poder tanto
anteceder quanto concluir a história, essa tecnologia do sensível alinharia
extremos, fazendo deles partes de um mesmo processo. A forma é vista como
uma energia primordial replicada trans-historicamente.
***
A forma internacional
Junto a essas manobras podemos ainda reconhecer outros aspectos do
formalismo enquanto estratégia discursiva moderna. Ele é um dos inúmeros
esforços modernos de construção de uma cultura internacionalista
que atravessa tempos e espaços diferentes, colocando-se como chave
para superação do discurso das escolas nacionais e como alternativa ao
universalismo ainda regido pelos cânones derivados do classicismo. Ao
menos em suas intenções gerais (o que depois se mostraria diferente),
a relação entre formalismo e internacionalismo tencionava a fundação
de uma cultura sem centro como instrumento para o alcance de uma
modernidade plena.
Ressalte-se, contudo, que o internacionalismo formalista não existe
sozinho. Foi antes uma das numerosas modalidades de diversos projetos que
viram nesse ato de ultrapassagem de fronteiras a chave para a implantação de
suas poéticas, entre os quais poderíamos lembrar o funcionalismo, o dadaísmo
e o surrealismo. No entanto, apesar de enormes divergências, há em comum
[ 56 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
Formalismo e imagem
Paradoxalmente, essa operação se mostra, no século XX, cada vez mais
atrelada à imagem e dependente dela, ainda que tente suprimi-la a todo
momento. Seu procedimento discursivo é o de uma narrativa tecida pela
conjugação de imagens, uma textualidade visual. Vale notar o quanto se lança
mão de diagramas, montagens e sequências para demonstrar seus teoremas,
compondo uma espécie de esperanto ótico.
Arte, pensamento e forma [ 57 ]
***
Referências
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modernidade, seja quando, em sua versão oficial, ele ainda subsiste como operador estético, seja na
leitura, redescoberta nos anos 1960, do “artista como produtor”, de Walter Benjamin. O problema
do artista e da autoria, que recai no da formulação da proposição e da linguagem, além de sua
recepção e delimitação (ou supressão) dos limites entre artista/propositor x público, propositor x
objeto da proposição, suscita ainda um paralelo à hipótese da “morte do autor”, tal como formulada
por Barthes, visto que rompe com o solipsismo, a autonomia e a onisciência do discurso.
[ 62 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
Roberto Conduru
UERJ
[...]
A linha não existe.
Mas, quando feita pela mão do
homem é desenho.
Obedece como um rio
conspirando com as margens. É pensamento pensando.
E pensa e risca e divide
e desvela justiça entremeio
entremeando espaços opostos:
mapa do seu destino [...] (2001, p. 75).
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Arte, pensamento e forma [ 71 ]
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[ 72 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
Stefania Caliandro
Universidade de Roma
Continua Arnheim: “Termo pelo qual designo o tipo de imagem criada por lentes, através de
5
projeção ótica”. Seu texto começa assim: “A perspectiva invertida é um fato secundário. Ocorre
de vez em quando em períodos da história da arte que não são submetidos à tirania da perspectiva
dominante” (1989, pp. 167-94).
[ 74 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
O olhar dirige-se em primeiro lugar aos ícones russos dos séculos XIV,
XV e, em parte, XVI, que transgridem a unidade espacial da perspectiva
renascentista e são, no entanto, segundo Florensky, superiores em valor
artístico aos que se adaptam a essas regras. O autor reconhece um
princípio de policentrismo, segundo o qual os diversos elementos do ícone
respondem cada um a seu próprio centro perspético, mais do que a um
ponto de vista único. De maneira parecida, as linhas de contorno que se
destacam pelo uso de cores diferentes e, em geral, os traços do desenho
colocados em ênfase, assim como a ausência de uma única fonte luminosa
e a iluminação contraditória das partes, contribuem com uma estruturação
por planos, cientemente assumida pelas obras (Florensky, 1992, pp. 67-72).
A reflexão se faz, em seguida, mais abrangente, incluindo, por exemplo,
a produção egípcia e babilônica, mostrando, então, como também outras
culturas não se submeteram ao ilusionismo preconizado pela pintura
pompeiana que a pintura italiana, de Giotto ao renascimento, iria impor.
De todo modo, a conclusão de Florensky desmente qualquer pretensão de
realidade ou de justeza – senão simbólica – da perspectiva clássica: o espaço
representado e o espaço que o representa são ambos bidimensionais, mas
incomensuráveis entre si, pois sua curvatura é diferente e varia de ponto a
ponto. Toda tentativa de superpô-los, curvando um dos dois espaços, ou,
ao contrário, achatando o espaço curvo do objeto percebido, comportaria
inexoravelmente rupturas e dobras de um dos planos. Como aponta
Florensky, “a representação é sempre antes diferente do que semelhante
ao original” (1992, p. 109, tradução minha).
Florensky se vale de todos os seus conhecimentos para demonstrar, com
recursos matemáticos, os limites da perspectiva clássica, que pressupõe: a
concepção de um espaço euclidiano, isto é, isótropo, homogêneo, infinito
e ilimitado – na acepção da geometria de Riemann – e de curvatura zero;
uma ótica kantiana determinando um ponto excepcional e único no espaço
infinito; e uma visão de um olho só, através de um ponto de vista fixo, imóvel
e imutável, excluindo todos os processos psicofisiológicos em que o visível
pode ser influenciado pelos espaços tátil, auditivo, gustativo, olfativo, do
sentimento orgânico geral etc. (Florensky, 1992, pp. 110-4).
Erwin Panofsky relançou, poucos anos mais tarde, essa correspondência
entre o espaço perspético do renascimento e o espaço geométrico euclidiano.
Uma construção homogênea, métrica e quase mensurável atuaria nas criações
daquela época, uma vez que, segundo esse historiador da arte, a respeito
Arte, pensamento e forma [ 75 ]
Cf. o longo trecho de Philosophie der symbolischen Formen (1925), de Ernst Cassirer, citado por
6
O autor do Código Huygens, tratado norte-italiano de meados do século XVI, parece ter sido
7
contradizem uma utilização fiel. Isso é evidente não apenas nas primeiras
obras, nas quais essa construção do espaço ainda estava sendo desenvolvida
– como no Banquete de Herodes (1423), de Donatello, com dois pontos
de fuga diferenciados, um para o chão e a cena em primeiro plano, outro
para a arquitetura e a parte superior do baixo-relevo –, mas também na
maioria das representações perspéticas seguintes. Até Paolo Uccello, um
dos mais fervorosos pintores de figuras em escorço, parece ter desenhado
dois pontos de fuga na luneta de Natividade (aproximadamente 1450),
cujo péssimo estado de conservação impede, infelizmente, uma adequada
compreensão a seu respeito. Ele se serviu também desse expediente em
O dilúvio universal (aproximadamente 1445), em que a construção em
dois pontos de fuga diferencia a temporalidade das duas cenas – durante
e depois do dilúvio – no interior da mesma representação (Kemp,
2005, pp. 47-9). Os artistas, de fato, não hesitavam em reunir diversos
sistemas de profundidade espacial e amalgamá-los para transmitir uma
impressão perceptiva eficaz. Assunção de São João Evangelista, esculpida
em baixo-relevo por Donatello, ou o afresco no teto da Camera degli
Sposi, de Mantegna, são outras ilustrações desse fenômeno: a ferramenta
geométrica se hibridava com outras soluções em que diversas perspectivas
– frontais, descentradas, de baixo para cima, mais ou menos acentuadas
etc. – compartilhavam o espaço, desde já plural, da imagem.
Em geral, as criações do renascimento e da época clássica manifestam
praticamente uma arquitetura espacial por imbricação e entrelaçamento
de várias formas perspéticas. Um espaço concebido como contínuo
ou homogêneo, conforme o definia Panofsky, não se encontra senão
excepcionalmente. Embora esse espaço tenha sido estudado e até planejado
do ponto de vista teórico, quase nunca foi implementado. Seria um erro
pensar que isso resulte de uma economia de meios práticos ou de uma
falta de precisão na aplicação do modelo. Em primeiro lugar, porque
a intuição estética prepondera sempre sobre a realização maquinal do
sistema geométrico. Secundariamente, porque há tratados apoiando a
hibridação do modelo. Leonardo, como mencionado acima, colocava
em questão a perspectiva linear e justapunha, a essa solução, a ideia de
uma representação espacial modificando-se na medida em que a visão
se aproxime das extremidades do campo ou, ainda, uma perspectiva
atmosférica fluidificando linhas e contornos e alterando os tons das cores
para significar a distância. Mas é interessante olhar também os desenhos
[ 78 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
menschlicher Proportion (Quatro livros sobre a proporção humana), terminados por volta de 1523 e
publicados postumamente em 1528, concernem à estereometria do corpo humano com relação
a seus movimentos no espaço.
Lodovico Cardi, dito Cigoli, A Madona da Imaculada Conceição, 1510-1512, Capela Paolina ou
9
O termo é central na abordagem de Fernande Saint-Martin (1994), definida também como semiologia
10
topológica. Ela retoma esse termo da psicologia de Jean Piaget com o intuito de pesquisar as relações
espaciais elementares entre as partes, isto é, as relações que se estabelecem entre quantificações
não métricas, denominadas por ela de coloremas, assim como suas ordens em sequência ou por
englobamento (pp. 12 e ss., especialmente 14-5).
[ 80 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
Segundo o estudo, essa representação aparece nos desenhos de meninos por volta de cinco anos
13
arte ornamental estudada por Alois Riegl. Segundo a autora, essa perspectiva
em entrelaçamentos reapareceu finalmente na arte contemporânea – “sem ter
sido reconhecida” –, na pintura de Jackson Pollock.14 A fim de compreender
melhor tanto essa forma perspética quanto a aplicação possível da tipologia
proposta, considero oportuno entrar no mérito de dois exemplos sugeridos
por Saint-Martin, incluindo assim considerações espaciais sobre a criação
não ocidental e a aborígine no quadro de um estudo atento às diversidades
e ao multiculturalismo da arte.
A pintura corporal kadiwéu (ou cadiueu), intercalando de maneira
aparentemente assimétrica motivos geométricos e trançados curvilíneos
ornados de volutas e gavinhas, dinamiza as faces das mulheres em que
ela é aplicada, com uma ondulação entre abstração e decoração que
simultaneamente esconde e exalta a figuração própria do rosto e do corpo
feminino. Nesse sentido, provavelmente a produção kadiwéu é mencionada
como um caso de perspectiva arabesca ou em entrelaçamentos na tipologia de
Saint-Martin, que remete expressamente à análise realizada por Claude Lévi-
Strauss em Tristes trópicos (1966). Nesse ensaio, o antropólogo franco-belga
detalhava alguns aspectos sociais da arte corporal em sua função de máscara.
Acrescentava também a reflexão sobre a possível não correspondência
entre a estabilidade perceptiva da obra final e o processo dinâmico de sua
criação. Desenhos de pintura corporal, simples e equilibrados na configuração
resultante, são fruto de uma imbricação progressiva e assimétrica das partes,
desvendável apenas nas irregularidades dos pormenores. O conhecimento
da técnica construtiva da imagem modifica então a percepção do trabalho
pictórico, contribuindo com a flutuação dos planos e o entrelaçamento dos
elementos colocados na obra.
É preciso lembrar, todavia, que Lévi-Strauss pesquisou muito sobre os
índios sul-americanos e que, em um ensaio anterior, inserira a análise da arte
corporal kadiwéu em um discurso mais amplo sobre algumas formas de criação
indígena.15 No belo e rico artigo “O desdobramento da representação nas
artes da Ásia e da América” (1958), republicado mais tarde em Antropologia
estrutural, a questão da espacialidade torna-se central. O desdobramento,
tanto figurativo quanto socialmente significante, de uma cabeça pintada em
Uma vez que a referência não é mencionada no texto, provavelmente Saint-Martin não conhecia
14
as reflexões espaciais de Louis Marin sobre o dripping em all over de Pollock. Todavia, a análise do
semiótico francês parece desenvolver-se de acordo com essa interpretação, aprofundando, por
outro lado, ulteriores pontos relevantes (cf. Marin, 2004).
Em Tristes trópicos, ele mesmo faz referência ao escrito precedente.
15
Arte, pensamento e forma [ 83 ]
Essa maneira de representar espacialmente a figura foi achada nas criações indígenas do noroeste
16
americano e, segundo Lévi-Strauss, encontra afinidades com a produção da China arcaica, da Sibéria,
dos maori na Nova Zelândia e de outras culturas.
Ainda que a versão portuguesa do ensaio de Lévi-Strauss traduza ocasionalmente split representation
17
como “representação da divisão”, prefiro manter o termo inglês, conforme fez Lévi-Strauss, e
indicar entre parênteses a acepção que ele sugeriu.
[ 84 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
A tese de Franz Boas é retomada e, em parte, discutida por Lévi-Strauss (1958, p. 302).
18
Arte, pensamento e forma [ 85 ]
do valor religioso dos monumentos e das obras realizadas, mas, sobretudo, do grande número de
povos que, ao longo dos séculos, contribuíram com sua produção.
No século XI, o matemático e astrônomo Al-Khwarizmi, originário do Khwarizm (atual Uzbequistão),
20
chamado a trabalhar em Bagdá, publicou Kitab al-Jabr, tratado de álgebra pelo qual ele é considerado
o fundador da disciplina. Nessa mesma época, começaram a aparecer as primeiras decorações
geométricas islâmicas (cf. Boujibar, 2007, pp. 141-8, especialmente 148).
[ 86 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
Retorno à diferença entre espaço do quadro e espaço no quadro, proposta por Louis Marin (2004),
21
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[ 88 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
Arte e religião [ 89 ]
arte e religião
[ 90 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
Arte e religião [ 91 ]
Referimo-nos, especificamente, aos livros de compromisso das irmandades de São Pedro dos
1
Considerações finais
A escolha pelo tema das irmandades de São Pedro, como esperamos
ter ficado claro ao longo da visão geral que acabamos de propor, teve
como finalidade possibilitar o desenvolvimento de uma investigação que
necessariamente pudesse estender-se sobre pontos diferentes do mapa
[ 94 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
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Arte e religião [ 97 ]
Jens Baumgarten
Unifesp
emigração para Medina no ano 622. Duas batalhas, no ano 624 em Bar e em
625 em Uhud, ganharam, porém, importância crescente para o entendimento
do conceito de mártir. Os mortos foram entendidos como “mártires do campo
de batalha” (Horsch, 2007, p. 100; Neuwirth, 2004, pp. 258-81; Donner,
1991, pp. 31-69). Se a morte de um combatente na sociedade tribal tinha
o significado de um sacrilégio que exigia a vingança de sangue, no islã a
morte foi reinterpretada como um ato de honra a ser recompensado no
além-mundo. A figura do mártir se refere também à tradição paleocristã
com sua concepção de testemunho de fé paciente e sereno, transferindo esse
conceito ao combatente autossacrificado, que se inseriu na cultura árabe
pré-islâmica. Diferente do que acontece no cristianismo, porém, o mártir
não tinha a função de se purificar por meio da expiação e, assim, conciliar
a comunidade. Na primeira fase do islã, o mártir serviu como modelo de
comportamento, sem, no entanto, ter sido adorado em formas rituais ou de
culto. As representações mais impressionantes são encontradas a partir dos
séculos XV e XVI em miniaturas turcas.
Essa observação leva ao segundo aspecto do problema aqui tratado: a
relação entre os conceitos de imagem no cristianismo e no islã. Na perspectiva da
literatura eurocêntrica, a posição do islã parece por vezes consensualmente contra
as imagens. Do mesmo modo, as posições dentro do cristianismo experimentam
uma ambivalência entre diferentes fases, havendo períodos em que dominavam
ou a iconofobia ou a iconofilia. Referem-se todas as três religiões monoteístas
ao segundo mandamento, que aparentemente proíbe a produção de imagens.
Porém, no judaísmo, e a partir de tais discussões, os conflitos são muito mais
complexos: trata-se então da relação entre imagens materiais e imaginárias,
imagens figurativas e abstratas, imagens sagradas e profanas (Besançon, 2009,
pp. 63-146). Durante o Império Bizantino, em simultâneo a diversas polêmicas,
ocorreu no islamismo o iconoclasmo, seguido de defesas teológicas representadas
principalmente na figura de João Damasceno.2
Em um procedimento comum às religiões monoteístas, os jurídicos
criavam os conceitos em relação às imagens fundamentados em três
princípios: a proibição da adoração de ídolos, o caráter da impureza e a
ideia da insubstituição da criação divina. Como Silvia Naef atesta, o tema
da proibição das imagens não recebeu no islamismo a mesma atenção e
importância que no cristianismo, com suas discussões polêmicas. A questão
Cf. a vasta literatura sobre o iconoclasmo bizantino, como Brubaker (2001). No Ocidente, as
2
discussões podem ser encontrados nos chamados “Carolini ibri” (Besançon, 2009, p. 151).
[ 100 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
das imagens foi discutida no contexto de outros temas, não tendo sido
concebidos tratados enfocando apenas as imagens. Porém, os hadithos, que
ditavam normas para as vestimentas, o comportamento e a oração, tratavam
implicitamente das imagens. Al-Ghasâli (1058-1111), por exemplo, se ocupa
das imagens no capítulo sobre a “decência de um bom muçulmano” (Naef,
2007, pp. 25-6).
Sobretudo nos primeiros séculos dos conflitos com o cristianismo,
os líderes políticos e religiosos não apelavam à destruição de imagens
figurativas, mas dos símbolos polêmicos, como a cruz, ou daqueles que
representavam dogmas proibidos pelo Alcorão, como a Trindade. Esses
deveriam ser destruídos. Essa animosidade em relação às imagens resultou
em consequências para o uso destas. Imagens figurativas foram banidas
de locais sagrados, como mesquitas e salas de orações, e também de locais
públicos. A argumentação se fundamenta na afirmação da impureza da
imagem figurativa. O caráter sagrado de um local é definido pela ausência de
objetos impuros (Naef, 2000, pp. 289-307). Ao contrário do que ocorreu no
cristianismo até o início dos debates da Reforma protestante e da chamada
Contrarreforma, o islã distinguia a imagem de culto da imagem profana,
sem fazer, porém, referência à produção artística. Assim, representações
gráficas foram banidas dos espaços sagrados, podendo ocorrer, contudo, em
contextos profanos.
Novamente nesse caso, os objetos encontrados nos primeiros séculos
não se explicam por uma simples oposição. Os califas omíadas construíram
mesquitas em Jerusalém, a Cúpula da Rocha em 691-692, e a Mesquita de
Damasco em 706 e 714-715. Ambos os edifícios foram decorados apenas
com ornamentos abstratos, apesar de seus artistas terem recebido sua
formação nas técnicas e padrões da arte bizantina. No mesmo período,
também se encomendaram os palácios no deserto da Síria, que possuem
uma decoração rica em afrescos representando não apenas flora e fauna,
mas também figuras humanas.
À primeira vista, a suposição de uma distinção rígida parece comprovar-se.
No entanto, as pesquisas de Oleg Grabar (1977) demonstram que justamente
a situação da concorrência de um sistema iconográfico consistente e evidente
forçou o islã em suas representações sagradas e públicas a se limitar a
representações abstratas, o que se justificou posteriormente nos hadithos. Isso
significa que a ausência simultânea de imagens figurativas e de uma postura
iconofóbica veio a exigir uma explicação teológica nos séculos posteriores.
Arte e religião [ 101 ]
Cf. Monssen (1981; 1982a; 1982b; 1983a; 1983b). Sobre a história da arquitetura da Antiguidade tardia
4
e da Idade Média, cf. Brandenburg (1998). A descrição mais recente da restauração pode ser lida no
volume organizado por Brandenburg e Pál (2000), sobretudo no texto de Insolera (2000), sobre a
tradição da iconografia dos mártires. Há também os textos recentes de Burschel (2003), Poletto (1989)
e Baumgarten (2004, 2007).
Arte e religião [ 103 ]
Cf. sobretudo Smith (2002) e Baumgarten (2004). Além de Inácio de Loyola, a literatura científica
6
Bellarmino (1586, t. 3, liv. II, cap. 7, p. 216): “Homo quidquid cognoscit sive sensu, sive intellectu, per
7
essere di somma necessità, è stata ancora instituita la materia loro tale che sia commume e pronta
al bisogno di ciascumo [seguem exemplos de diferentes sacramentos como o batismo]; così per lo
bisogno umiversale delle imagini, pare ch’ogni materia loro sia applicata”. Cf. também Prodi (1965).
Göttler demonstra a importância prática que isso tinha para Paleotti, especialmente para os
9
programas decorativos de distintas igrejas bolonhesas, entre elas S. Paolo e S. Maria dei Servi.
Com relação à doutrina do sacrifício da missa e o dogma sobre o purgatório, cf. Göttler (1994, pp.
161-2).
10
Sobre a doutrina do sacramento da Eucaristia, cf. Feld (1976, pp. 121-2). Em relação à Eucaristia na
doutrina tridentina, cf. Wohlmuth (1975). Sobre a relação entre sacramento e imagem na doutrina
tridentina, Wohlmuth demonstra que a teologia ocidental em sua tradição católica, no que se refere à
teologia dos sacramentos, aproxima-se, em que pese sua iconofilia básica, da posição dos iconoclastas
bizantinos, para os quais o sacramento, e em especial a Eucaristia, vale muito mais do que qualquer
ícone. Por outro lado, os protestantes, no que se refere ao ceticismo básico ante as imagens e à
teologia dos sacramentos, aproximam-se dos iconófilos, “porque tampouco as imagens são mais do que
imagens”. Os ortodoxos veneram os ícones muito mais do que os sacramentos. Cf. Wohlmuth (1989,
p. 117). Sobre a recepção da doutrina da Eucaristia de Orígenes durante o concílio e na época pós-
tridentina, consultar Lies (1985, pp. 101 e ss). Bellarmino destaca sobretudo o caráter representativo
da Eucaristia, que, para ele, representa a expressão sensível da graça divina (Lies, 1985). Já Michalski
(1988), em sua análise do conceito de repraesentatio, procura estabelecer conexões com a teoria
da arte para instituir nos debates sobre o símbolo uma comparação das categorias iconográficas e
das categorias análogas com o símbolo das controvérsias cristãs sobre a Eucaristia. Ver ainda Stock
(1990) e Wohlmuth (1990, pp. 87-104).
Arte e religião [ 105 ]
suas encenações, em grande parte, ritos católicos. Não é possível partir aqui apenas de uma
recepção geral, mas do fato de sua integração localizar-se concretamente na devoção pós-
tridentina das imagens e dos mártires. Peter Reichel (1991) definiu a exaltação do herói nacional
na realidade profana, na qualidade de mártir sagrado, como uma cópia de seu simbolismo
católico pós-tridentino e como “aparência bela”. Reichel acentua que, em vista do fato de tais
celebrações e encenações terem ocorrido até o final da Segunda Guerra Mundial e de os nazistas
vincularem seus conceitos de vida a visões apocalípticas, isto é, escatológicas, aqueles somente “as
desvalorizaram pateticamente”. Os nazistas elevaram seu episódio sagrado e nacional ao caráter
alegórico-híbrido. Aqui procede questionar ainda em que medida, juntamente a essas referências
concretas, a concepção pós-tridentina específica da teologia das imagens poderia ter influído na
teologia política, por exemplo, de Carl Schmitt. Uma publicação recente sobre essa relação, porém
com outro foco, é a de Levy (2004).
[ 106 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
kennzeichnet [...], war eine zutiefst im germanischen religiösen Empfinden verkerte weihevolle
Handlung. [...] Die Klagelosigkeit dieser heldischen Feier und die Idee von der ‘ewigen Wache’
unterstrichen die nordische Auffassung, deren Ideal nicht die faule und feige Ruhe in einem Jenseits
mit Halleluja und Palmwedeln ist”.
Arte e religião [ 107 ]
Cabe ver também esses debates do iconoclasmo em um contexto mais abrangente: o catálogo organizado
14
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[ 112 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
Jérôme Souty
UERJ
A sociologia da arte mostrou que as escolhas estéticas, longe de serem puramente subjetivas e
16
desinteressadas, variam conforme o pertencimento social. Pierre Bourdieu (1979), por exemplo,
demonstrou que a aplicação do julgamento estético, através da aquisição progressiva de um habitus
específico de classe, representa o ápice do exercício da distinção social. Mesmo os artistas ocidentais
contemporâneos, independentemente de suas tentativas de subversão, sempre são convidados a
entrar no sistema de arte – que conta seus atores, instituições, lugares, regras, carreiras, mercado –,
sob o risco de ficarem no anonimato ou de serem pouco conhecidos.
O Paleolítico, que corresponde ao período no qual o homem foi caçador-coletor, foi o primeiro e
17
mais longo período da pré-história. Ele se iniciou há cerca de 3 milhões de anos, com a aparição
do homem, e se encerrou há cerca de 10 mil anos. O homo sapiens apareceu há cerca de
100 mil anos.
[ 114 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
***
Qual o contexto em que surgiram essas pinturas e gravuras rupestres?
E qual é a significação da arte pré-histórica?
1) Será que o homem pré-histórico foi um esteta tão sensível às belezas
do mundo que tentou reproduzi-las no fundo de sua caverna? A tese da arte
pela arte, defendida no fim do século XIX, foi rapidamente abandonada. Não é
possível, apenas por uma perspectiva estética, dar sentido ao fato de os homens
do Paleolítico terem escolhido lugares tão obscuros e de difícil acesso para
realizarem suas pinturas, cuja execução implicava a necessidade de se arrastar
por dezenas de metros, em plena escuridão, para se chegar ao fundo das grutas...
2) No começo do século XX, por influência do desenvolvimento da
etnografia, começou-se a formular uma teoria da arte enquanto expressão
de rituais mágicos, destinados a favorecer a caça ou a fecundidade. A
presença significativa de animais pintados nas paredes poderia indicar uma
espécie de magia da caça. Ao desenhar, os homens pré-históricos estariam
pressupondo que poderiam influenciar ações da vida concreta. Assim, um
animal representado com uma ferida – supostamente feita pelo caçador
– poderia influenciar o sucesso real de seu abate; a pintura de uma fêmea
grávida sugeria a possibilidade de carne em abundância.19 A despeito dessa
teoria, estudos mais recentes mostraram que os animais representados nas
cavernas eram pouco caçados e a caça às principais presas, como javalis,
aves, lebres, raposas e peixes, ao contrário, era pouco representada.
3) Nos anos 1950 e 1960, segundo a tese estruturalista, a arte parietal
atestaria um sistema cultural e mitológico sofisticado: nas grutas, animais
e signos geométricos seriam organizados segundo grandes princípios de
oposição, representariam simbolicamente uma visão de mundo dividida entre
masculino e feminino (o “casal primordial” cavalo-bisão ou cavalo-touro).
Porém, essa teoria, formalista demais, só se sustenta no caso de algumas
cavernas específicas. Posteriormente, a análise simbólica também buscou uma
De maneira similar, as pequenas estátuas humanas chamadas “Vênus” representariam matronas
19
Por exemplo, no Saara, alguns mitos atuais, em particular os dos berberes, como o do herói
21
civilizador, que copula com elefantes, têm eco na arte rupestre pré-histórica. Nas rochas do deserto
Messak, ao sul da Líbia, estão representados humanoides com cabeça de cachorro, personagens
também presentes nas mitologias dos nômades tuaregues da região. Na Austrália, as imagens
pintadas em vários sítios rupestres incluem seres estanhos, a temática das duas irmãs ancestrais e
da serpente arco-íris, ainda hoje frequentes na mitologia aborígine.
Arte e religião [ 117 ]
***
Austrália, conta como os primeiros animais saíram de uma gruta nos primórdios do mundo.
Ver Schaan (2008) e Pereira (2003). Os primeiros grupos humanos adentraram a Amazônia há
23
11.200 anos. Vestígios arqueológicos dessas populações foram encontrados na Serra dos Carajás
(sul do Pará) e em Monte Alegre (baixo Amazonas). Além da Amazônia, o Brasil conta com um
conjunto de pinturas rupestres na Região Nordeste, nos cerrados goianos e na bacia do alto São
Francisco (MG).
Autores importantes e diferentes, como James Frazer, Lucien Lévi-Bruhl, Emile Durkheim, Marcel
24
Mauss, Bronislaw Malinowski, Erwing Goffman, Victor Turner, Gregory Bateson, Richard Schechner
[ 118 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
O contexto afro-brasileiro
Os rituais se referem às regras fixadas pela tradição e/ou pelo uso e
pelo hábito. Portanto, corroboram a ordem preexistente implicada em sua
execução. Contudo, os rituais dispõem também de uma capacidade sincrética
e inovadora: antes de serem estáticos, são sujeitos a uma improvisação parcial.
Assim, as práticas rituais, em suas dimensões artísticas, se reconfiguram em
permanência.
No Brasil, as atuais religiões de ascendência africana, bastante difundidas
em diversas partes do país, inscrevem-se no contexto da modernidade urbana
contemporânea. A profunda capacidade de adaptação, a “plasticidade” dessas
religiões sincréticas, foi uma das razões de sua resistência e sobrevivência
em condições tão hostis quanto a destruição das famílias, a escravidão e o
trabalho forçado, a interdição dos cultos e dos rituais festivos africanos.25 O
termo candomblé é às vezes empregado de maneira genérica para designar o
conjunto dos cultos afro-brasileiros, mesmo se ele representa somente uma
variação regional.26 O candomblé, que se tornou uma religião em meados
do século XIX na cidade de Salvador e por seus arredores, é uma crença
politeísta marcada pelo transe de possessão pelas divindades orixás ou
voduns, originárias da África. O exemplo desse culto nos permite observar,
agora in situ, a articulação entre artes e rituais:
a) A prática do candomblé é indissociável de uma estética cotidiana: gestual,
postura e técnicas corporais, savoir-faire ligados a uma cultura material;
b) Uma série impressionante de práticas artísticas vem à tona durante
os rituais religiosos: músicas – em particular as percussões – e cantos,
e Michael Houseman, realizaram análises valiosas acerca dos rituais. As mesmas não podem ser
aqui sintetizadas devido à dimensão deste pequeno ensaio.
Apesar das interdições, as divindades africanas foram celebradas desde a chegada dos primeiros
25
escravos, particularmente por via dos batuques (danças festivas) e no contexto das confrarias
de escravos.
Entre as variações regionais, distinguem-se o tambor de minas (Maranhão), o xangô
26
(Pernambuco) e o batuque (Rio Grande do Sul). Além disso, a umbanda nasce no século XX
nas grandes cidades do sudeste, resultante de uma mistura de elementos africanos, católicos,
espíritas e indígenas.
Arte e religião [ 119 ]
***
Altares; vasos, pedras ou objetos-suportes dos orixás, chamados assentamentos; objetos-símbolos
27
A noção de arte sagrada remete a um quadro religioso que incorpora um pensamento teológico
28
a aprendizagem de técnicas corporais, a sensibilidade à música e ao ritmo de seu orixá etc. (Rouget,
1990; Verger, 1999).
Arte e religião [ 121 ]
***
Além disso, uma miríade de artistas e artesãos populares, muitos deles localizados na cidade de
30
Salvador, alimentam o mercado turístico com iconografias afro-brasileiras (e são desprezados pelas
elites artísticas).
[ 122 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
Considerações finais
Tentei rapidamente evocar, em dois contextos religiosos muito
diferentes, o ritual em sua dimensão artística. Talvez seja possível concluir
evocando a introdução de uma dimensão ritual na arte contemporânea
por via do contato não contemplativo, da ênfase colocada na interação
com o público, das situações abertas permitindo intervenções externas,
da desaparição relativa da dicotomia criador/receptor, do espectador
transformado em participador etc. Nas artes plásticas e visuais, nas
instalações, nas artes teatrais e performáticas, nos happenings e nas
intervenções urbanas, alguns dispositivos artísticos contemporâneos,
mesmo se não se confundem com o ritual, laçam pontos de contato, criam
conexões possíveis com a performance ritual. Isso se processa em particular
Cf. Thompson (1983) e Conduru (2007).
31
Arte e religião [ 123 ]
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À sorte eleito,
O antiste Laocoon com sacra pompa
A Neptuno imolava um touro ingente.
De Tenedos (refiro horrorizado)
Juntas, direito à praia, eis duas serpes
De espiras cento ao pélago se deitam:
Acima os peitos e as sanguíneas cristas
Entonam; sulca o resto o mar tranquilo,
E se encurva engrossando o imenso tergo.
Soa espumoso o páramo salgado:
Já tomam terra; e, em sangue e fogo tintos
Fulmíneos olhos, com vibradas línguas
Vinham lambendo as sibiliantes bocas.
Tudo exangue se espalha. O par medonho
Marchando a Laocoon, primeiro os corpos
Dos dois filhinhos seus abrange e enreda,
Morde-os e come as descozidas carnes:
E ao pai, que armado acorre, ei-las saltando
Atam-no em largas voltas; e enroscadas
Duas vezes à cintura, ao colo duas,
O enlaçam todo os escamosos dorsos,
E por cima os pescoços lhes sobejam.
De baba e atro veneno untada a faixa,
Ele em trincar e nós com as mãos forceja,
E de horrendo bramido aturde os ares:
Qual muge a rês ferida ao fugir d’ara,
Da cerviz sacudindo o golpe incerto.
Vão-se os dragões serpeando ao santuário,
Arte e religião [ 127 ]
O estudioso constrói seu argumento ao longo de todo o livro, enumerando diversas fontes literárias
33
contexto desse magnífico poema que glorifica o povo romano e suas origens,
a morte de Laocoonte constitui o sacrifício necessário à fundação de Roma.
Na iconografia antiga, por outro lado, o vínculo entre Laocoonte e o
touro sacrificial é, com frequência, fortemente enfatizado. Em uma miniatura
num manuscrito da obra virgiliana de princípios de século V d.C. (Codex
Vaticanus Latinus 3225, fólio 18v), o episódio laocoontiano é representado
em dois momentos: à esquerda, o sacerdote, imberbe, prepara-se para imolar
o touro branco diante de um altar sacrificial; à direita, o mesmo sacerdote,
agora com barba e usando uma esvoaçante capa, é atacado pelas duas
serpentes – também representadas duplamente, aparecendo à esquerda
no mar – juntamente com seus filhos. Laocoonte, note-se, apoia-se no
mesmo altar sobre o qual pretendia sacrificar o touro, destacando-se assim
o paralelismo metafórico entre as duas vítimas.
Apesar de variações relativas à forma de figurar a morte de Laocoonte
em fontes antigas, a presença do touro e/ou do altar sacrificial reaparece
em imagens produzidas em contextos históricos muito distantes, como em
duas pinturas pompeianas a fresco do século I d.C., nas quais Laocoonte
aparece, sendo atacado pelas serpentes, próximo a um altar sacrificial e
um touro branco.34 Essas alusões sacrificiais permaneceriam presentes em
representações medievais e renascentistas do Laocoonte que precederam a
descoberta do célebre grupo escultórico, como a miniatura do Codex Vat.
Lat. 2761, a do Codex Riccardiano 492, ou a xilogravura na edição da Eneida
publicada por Johannes Grüniger em 1502 (Estrasburgo) (cf. Förster, 1906).
Abandonando agora o contexto greco-romano e observando algumas
obras produzidas durante o Quatrocentos italiano, descobre-se a presença
do mesmo altar sacrificial em obras religiosas, como na tela Virgem e menino
com santos, de Filippino Lippi.35 O trono no qual a Virgem está sentada,
entre São Martinho e Santa Catarina de Alexandria, é, na verdade, um
altar pagão, adornado com uma cabeça de bode, uma guirlanda e uma
batalha de centauros marinhos. A alusão não poderia ser mais clara: Maria
e Jesus ocupam o espaço tradicionalmente reservado às vítimas sacrificiais,
identificando-se, portanto, com elas. Nessas duas tradições – greco-romana
e cristã, durante o renascimento –, a presença da ara corrobora a concepção
do personagem central – Laocoonte ou Cristo – como uma vítima sacrificial.
Uma das pinturas é preservada in situ, na assim chamada Casa di Menandro, e a segunda, da Casa
34
British Museum, a citação antiga não forma, como em tantos outros exemplos
da arte renascentista, uma representação isolada, destacada da cena central,
mas funde-se a ela: Cristo e Laocoonte se tornam um.
Entre esses dois momentos – a exumação do Laocoonte, em 1506,
e a criação do Cristo michelangeano, nos anos 1530 –, o navegador
espanhol Hernan Cortés, que aportara em Hispaniola em 1504, recebeu
a missão de desbravar e conquistar o interior do atual México. Em 1518,
desembarcou na península de Yucatán, então território maia, e nos meses
seguintes realizou uma série de alianças táticas com tribos autóctones.
Graças, por um lado, a circunstâncias políticas locais e, por outro, à sua
enorme inteligência diplomática e militar, Cortés conseguiu realizar o
impensável: após meses iniciais, durante os quais intenções hostis foram
suavizadas, de parte a parte, por discursos de tom diplomático, os espanhóis
estrangularam a capital do reino asteca, aprisionaram Montezuma, seu rei,
em seu próprio castelo e, finalmente, reduziram a cinzas Tenotchtitlán,
a cidade prateada comparada por viajantes como Thevet, entre outros,
a Veneza e Constantinopla.36 Parte do tesouro de Montezuma foi levado
por Cortés à Europa e dado como presente ao imperador Carlos V; Dürer,
em sua viagem aos Países Baixos, teve a oportunidade de vê-lo no palácio
de Bruxelas e registrar em seu diário todo o seu assombro e admiração por
aqueles objetos tão belos quanto estranhos.
***
como vemos na passagem de Ziletti que se refere a Cortés como “descobridor da Nova Espanha
e da grande cidade do México, agora chamada Nova Veneza por causa de sua localização, edifícios
e riqueza” (apud Gómara, 1566, pp. VII-VIII).
[ 132 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
episódio narrado por Tito Lívio (Ab urbe condita, VII, 6). Conta-se que,
em 362 a.C., o solo cedeu em pleno foro romano, abrindo-se uma enorme
cratera que não se fechava apesar de renovados esforços para cobri-la
de terra. Os sacerdotes afirmaram que, para fechar a cratera e garantir
a continuidade da república romana, seria preciso oferecer em sacrifício,
naquele mesmo local, aquilo que de mais valioso possuísse o povo romano.
Ouvindo isso, Marcus Curtius, um jovem soldado romano, afirma em voz
alta que nenhuma virtude é mais romana do que as armas e o valor militar.
Ele, então, devota-se solenemente à morte, monta um cavalo de guerra
e, armado, atira-se ao precipício. A lenda encontra paralelos nas histórias
de outros heróis romanos como Publius Decius Mus, Mucius Scaevola
e Horatius Cocles. Cícero e Sêneca os citam como modelos de conduta
moral, e Valerius Maximus os inclui em sua famosa coleção de exempla, os
Factorum et dictorum memorabilium libri novem.
Esses paradigmas de devotio romana possuem características comuns:
em primeiro lugar, o herói precisa ser virtuoso; geralmente, trata-se de um
guerreiro nobre e valente. Além disso, seu sacrifício precisa ser voluntário;
normalmente, ocorre em um contexto de guerra ou catástrofe natural ou
sobrenatural. Todos esses elementos, à primeira vista, são identificáveis
com a morte sacrificial de Cristo e dos mártires cristãos, paralelismo que
não passou despercebido aos primeiros escritores cristãos.39 A ideia de que
uma pessoa pague para salvar a comunidade, deixando-se morrer para que
se restabeleça um perdido estado de equilíbrio, é comum tanto ao martírio
cristão quanto ao autossacrifício romano. Uma morte abnegada é um sinal
de força e virtude válido em ambos os universos simbólicos.
Apesar dessas semelhanças, Santo Agostinho (1963, pp. 214-5), entre
outras vozes, procura diferenciar os sacrifícios pagãos dos cristãos: os
últimos, afirma, suportam martírios infligidos por outros; sua morte é aceita
passivamente, não escolhida ativamente. Além disso, o herói romano morre
para salvar a cidade terrena, enquanto mártires cristãos são sacrificados
pelo reino celestial. O conceito de sacrifício romano, como dito acima,
conectava-se efetivamente menos à religião do que ao patriotismo, que era,
para os romanos, um dever moral da maior ordem. Os primeiros cristãos,
por outro lado, ignoravam o apelo patriótico a favor da Cidade de Deus;
como apontado por Tertuliano, “nada lhes é mais indiferente do que a coisa
pública” (1984, p. 173).
sacrifício asteca – isto é, a ideia de que o sacrifício servia para alimentar os deuses e assegurar o
funcionamento ordenado e equilibrado do cosmos – provavelmente não exaure a complexidade
do fenômeno. Cf. os estudos de Davies (1981, cap. 9) e, mais recentemente, de Graulich (2005).
[ 136 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
Referências
ANDREAE, Bernard. Laocoonte e a fundação de Roma. Mainz: Philipp von Zabern, 1988.
CONDIVI, Ascanio. Vita de Michelangelo Buonarroti. Berlim: Frey, 1887.
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preussischen Kunstsammlungen, 1906, v. 27, pp. 149-78.
GÓMARA, Francisco López de. La terza parte delle historie dell’Indie, nella quale
particolarmente si tratta dello scoprimento della província di Iucatan detta Nuova
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MUSURILLO, H. (org.). Acts of the Christian martyrs. Oxford: Oxford University Press,
1972. (Oxford Early Christian Texts).
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VERNANT, Jean-Pierre. “Théorie générale du sacrifice et mise a mort dans la υσία
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Genebra: Fundação Hardt, 1981, pp. 1-39.
VIRGÍLIO. Eneida. Trad. Manuel Odorico Mendes. Rio de Janeiro/ São Paulo/ Porto
Alegre: W. M. Jackson, 1948.
A gravura e a religiosidade
popular: A chegada da prostituta
no céu, de J. Borges
Referências
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selon Aby Warburg. Paris: Minuit, 2002.
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FERREIRA, Clodo (org.). J. Borges por J. Borges. Gravura e cordel do Brasil. Brasília: Ed.
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[ 142 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
Arte e política [ 143 ]
arte e política
[ 144 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
Arte e política [ 145 ]
Ana Magalhães
USP
passa a ser utilizado nas abordagens de gênero para tratar da construção do olhar na pintura de
um modo crítico e justamente situá-la dentro de uma cultura predominantemente masculina. Para
uma leitura de gênero de tal termo, veja-se Pollock (1992).
Desde a década de 1870, Degas vinha trabalhando com composições de figuras femininas em sua
2
toilette. A esse respeito, cf. os textos “Combing the hair” e “Women bathing”, de Kendall (1996,
pp. 218-20, 230-1).
Arte e política [ 147 ]
direito de expressar opiniões sobre estilo, pois, em sua condição feminina, elas
não tinham a menor ideia do que era estilo. Cassatt, enfurecida, se retirou
e, em seu ateliê, deu início à composição de Menina arrumando o cabelo.
Quando a tela foi mostrada na exposição impressionista de 1886, Degas
teria sido o primeiro a elogiá-la e a reconhecer-lhe o estilo. Ele se tornaria
o primeiro proprietário da tela e após sua morte, em 1917, por ocasião das
vendas de seu espólio, ela chegou a ser atribuída a ele.3
A anedota reforça o papel de Cassatt como pintora feminista e o de
Degas como um misógino. De um lado, a pintora mulher, que prova que
pode pintar como um homem; de outro, o pintor homem, que reconhece
o estilo de sua colaboradora quando ela se aproxima de seu próprio estilo,
masculino. Entretanto, se analisarmos a obra atentamente, veremos que tais
categorias se dissolvem. Degas jamais poderia ter pintado Menina arrumando
o cabelo, uma vez que a composição de Cassatt opera a desconstrução do
olhar masculino. A figura é tomada em três quartos de frente, o que nos
permite ver claramente sua feição. Trata-se, de fato, não de uma mulher,
mas de uma menina, cuja fisionomia não se adequa a um padrão de beleza
da época. No caso das representações de Degas, de mulheres em sua toilette,
dificilmente é possível distinguir fisionomias e feições. O que Degas cria são
figuras sem rosto ou de rostos obscurecidos – ou porque as figuras são vistas
à distância, ou porque nos dão as costas. O voyeurismo, nas figuras de Degas,
é justamente acentuado pelo modo como suas figuras são representadas: elas
se nos apresentam como alheias à presença de seus espectadores, nós; não
se sabem observadas. Já na composição de Cassatt, a proximidade entre a
figura e o espectador é muito grande. Aliás, esta é uma das características
das composições de Cassatt: o ângulo aproximado e fechado sobre a figura
sugere a presença, inclusive, da pintora no momento de execução da obra,
tal como assinalado por Griselda Pollock. Esse recurso é responsável por criar
um incômodo para o espectador, que se reflete frequentemente no olhar e
na posição desconcertante das figuras.
Como nas figuras de Degas, há de certo modo um gesto exagerado: se
observamos a posição dos dois braços da figura, percebemos que eles formam
com a trança do cabelo uma linha sinuosa que perpassa a figura da cabeça
ao tronco, compensado pela linha do ombro direito com a inclinação da
cabeça para trás. Tais recursos corroborariam a ideia de estilo na pintura,
Cf. Pollock (1998). A anedota é tão conhecida que é contada em publicações de grande divulgação
3
Para uma análise dessa obra e sua relação com a fotografia pornográfica, cf. Magalhães (2007).
4
Arte e política [ 149 ]
Cf. Simioni (2002, 2008). O segundo é o único estudo do país a partir de uma interpretação de
5
Referências
COSTA, João Angyone. A inquietação das abelhas. Rio de Janeiro: Pimenta de Mello
& Cia., 1927.
GETLEIN, Frank. Mary Cassatt: paintings and prints. Nova Iorque: Abbeville Press, 1980.
ITAÚ CULTURAL. “Georgina Albuquerque”. Enciclopédia Itaú Cultural (disponível
em http://www.itaucultural.org.br).
KENDALL, Richard. “Combing the hair”. “Women bathing”. Degas: beyond
impressionism. Catálogo. Londres: National Gallery of Art Publications, 1996,
pp. 218-20, 230-1.
MAGALHÃES, Ana Gonçalves. “Ticiano, Manet, Degas: notas sobre o nu feminino na
pintura”. Revista de História da Arte e Arqueologia, jan.-jun. 2007, n. 7, pp. 53-61.
NOCHLIN, Linda. Bathers, bodies, beauty. Cambridge/ Massachusetts: Harvard
University Press, 2006.
POLLOCK, Griselda. “The gaze and the look: women with binoculars – a question of
difference”. In --- e KENDALL, Richard (orgs.). Dealing with Degas: representations
of women and the politics of vision. Nova Iorque: Universe, 1992, pp. 106-30.
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SIMIONI, Ana Paula. “Entre convenções e discretas ousadias: Georgina de Albuquerque
e a pintura histórica feminina no Brasil”. Revista Brasileira de Ciências Sociais,
out. 2002, v. 17, n. 50, pp. 143-59.
------. Profissão artista: pintoras e escultoras acadêmicas brasileiras. São Paulo: EDUSP, 2008.
STOTT, Annette. “Floral femininity: a pictorial definition”. American Art, 1992, pp.
61-77.
Em livro recente, Nochlin (2006) reuniu uma série de ensaios para a discussão do motivo da banhista
8
Paisagem e poder:
algumas reflexões sobre o
mito da autonomia da arte
no Ocidente e no Oriente
Claudia Valladão de Mattos
Unicamp
no século XVII, o sistema de arte, e, particularmente, da pintura, era regido por uma classificação
hierárquica dos gêneros. De acordo com tal hierarquia, a pintura histórica seria a mais importante
e mais valorizada, seguida pelo retrato, pela pintura de gênero ou de cenas do cotidiano, pela
pintura de paisagem e, por fim, pelas naturezas-mortas. Essa hierarquia de gêneros baseava-se em
uma fundamentação das artes visuais no conceito de mímesis e derivada de Aristóteles, que, em
sua Poética, considerava a imitação das coisas do mundo o fim último de todas as artes. Sobre a
hierarquia de gêneros, ver Félibien (1967) e Aristóteles (2003).
Arte e política [ 153 ]
pintura de paisagem, Tom Mitchell traça uma analogia com o esquema proposto por Lacan para
descrever o local do trauma, acompanhando a certa distância a divisão proposta por Lacan entre
os campos do “real”, do “simbólico” e do “imaginário” (2002, pp. x-xi).
Essa característica midiática da paisagem torna-se transparente na arte da jardinagem, em que o
12
artista manipula os elementos naturais da mesma forma que um pintor pinta seu quadro.
[ 156 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
Exemplo 2: Brasil
A pintura de paisagem realizada no Brasil ao longo do século XIX tem
sido analisada basicamente por suas relações com a produção europeia, seja
por seu vínculo com os chamados artistas viajantes, seja pela comparação com
modelos europeus trazidos por imigrantes ao país. Muito pouco foi feito até
agora para compreender a pintura de paisagem aqui produzida em sua relação
com os contextos sociais e políticos específicos da época de sua criação. No
entanto, sem essa abordagem empobrecemos muito nossa análise. Em primeiro
lugar, porque, “em projetos de colonização do ‘novo mundo’”, como ocorreu
na história do Brasil, “a arte da paisagem é uma encenação cenográfica do
Arte e política [ 157 ]
Uma análise detalhada dessa obra e de seu contexto de produção e recepção pode ser encontrada
13
em Mattos (2008).
[ 158 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
Exemplo 3: China
O terceiro e último exemplo oferecido aqui tem um peso especial em
nosso argumento a favor da tese de um comprometimento inevitável da
pintura de paisagem com os contextos sociais e políticos nos quais ela foi
praticada. Como foi discutido no início deste ensaio, há algumas décadas a
arte do extremo Oriente, principalmente a chinesa e a japonesa, conquistou
a primazia com relação ao Ocidente na invenção de um conceito de arte
autônoma, sem compromisso com a representação de um tema. Traçando
uma comparação entre essas duas tradições representacionais, o historiador
da arte Norman Bryson definiria, a arte chinesa como performática em sua
essência, em contraposição ao esforço de ocultamento do gesto do artista,
próprio da tradição artística ocidental:
Se a China e a Europa possuem as duas tradições mais antigas de
representação pictórica, essas tradições, no entanto, se bifurcam, desde o
início, no ponto da dêixis. A pintura na China é baseada na constatação
e, de fato, no cultivo das marcas dêiticas. [...] A temporalidade da
pintura representacional no Ocidente é raramente o tempo dêitico
da pintura enquanto processo, tal tempo é usurpado e cancelado pelo
tempo indeterminado do evento [representado] (1983, pp. 89-92).14
Norman Bryson (1983) toma emprestado da linguística o termo “dêitico”, que se refere aos
14
signos verbais que carregam consigo um indicador de sua posição espacial ou temporal, relativa
ao conteúdo ao qual ele se refere, como “aqui”, “agora”, “perto”, “longe”, “ontem”, “hoje” etc.
Uma pintura dêitica, nesse sentido, seria aquela que revela em sua superfície a presença corpórea
tanto do artista quanto do observador.
Arte e política [ 159 ]
Referências
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Casa da Moeda, 2003.
BORDO, Jonathan. “Picture and witness at the site of the wilderness”. In MITCHELL,
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Chicago Press, 2002.
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CLUNAS, Craig. Pictures and visuality in early modern China. Londres: Reaktion Books, 1997.
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et modernes. Farnborough: Gregg Press, 1967, v. 5.
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Félix-Émile Taunay”. In TAVARES, Ana, DAZZI, Camila e VALLE, Arthur (orgs.).
Oitocentos. Arte brasileira do Império e da Primeira República. Rio de Janeiro: Escola de
Belas Artes da UFRJ, 2008, pp. 493-9.
MIGLIACCIO, Luciano. A arte do século XIX. catálogo da Mostra do Redescobrimento.
São Paulo: Fundação Bienal, 2000.
MITCHELL, W. J. T. (org.). Landscape and power. 2 ed. Chicago/ Londres: The University
of Chicago Press, 2002.
SNYDER, Joel. “Territorial photography”. In MITCHELL, W. J. T. (org.). Landscape and
power. 2 ed. Chicago/ Londres: The University of Chicago Press, 2002.
Arte e política [ 161 ]
A aragem da utopia
Arquipélago
Diz-se correntemente que um arquipélago se encontra sempre separado
por aquilo que o une. A intencionalidade metodológica deste texto encontra
similitudes nessa metáfora. Quer, antes de mais nada, conter uma espécie de
condição experimental próxima da produção artística – sou artista plástico
e não quero nem posso desligar-me dessa condição, mesmo no âmbito
da escrita. É, aliás, uma condição que prezo muito, por conter em si uma
especificidade territorial que, por ser interna, lhe proporciona pontos de vista
diferenciados das restantes análises – chamemos-lhes satélites ou exteriores
–, vindas das várias e importantes contribuições das disciplinas teóricas.
A ideia de arquipélago é, acima de tudo, nos tempos que correm, uma
ideia com conteúdos politizados. A globalização assim o determinou. Todos
fazemos, de uma forma ou de outra, parte de alguma ilha nesse mar imenso
que é a totalização global. Diz, acertando e indo ao encontro de nossos
argumentos, no catálogo da Tate triennial, seu comissário, Nicolas Bourriad15:
“O arquipélago é um exemplo da relação existente entre o singular e o
todo. É uma entidade abstrata; sua unidade deriva de uma decisão sem a
qual nada terá significado senão a de um grupo de ilhas unidas por nenhum
nome comum” (2009).16
Nicolas Bourriaud foi-nos habituando ao longo dos anos a uma larga produção de conceitos
15
mais ou menos mass midiáticos que depois se transformam em leitmotivs para a corporização de
exposições e que, de imediato, têm seguidores por todos os lugares. Não é o meu caso. Contudo,
a honestidade intelectual determina um grau de distanciamento que permite a leitura crítica dos
textos sem preconceitos. O texto em que é apresentado o novo conceito de altermodernidade tem
componentes de análise da realidade contemporânea que me parecem ser de grande utilidade. Daí
sua utilização neste texto.
“An archipelago is an example of the relationship between the one and the many. It is an abstract
16
entity; its unity proceeds from a decision without which nothing would be signified save a scattering
of islands united by no common name”.
[ 162 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
Num texto publicado no final dos anos 1990: On art, death and postmodernity, and what they do to
17
each other, Zygmunt Bauman (2000) interroga-se, a partir de Hannah Arendt, sobre o caráter perene
da obra de arte e refere que esse só se revela retrospectivamente, em uma obra que mantenha a
capacidade de suscitar emoções estéticas num espectador distinto daquele ao qual o autor poderia
estar se dirigindo em sua época.
Giorgio Agamben (2009) escreve, num pequeno ensaio intitulado “What is the contemporary?”:
18
“Those who are truly contemporary, who truly belong to their time, are those who neither perfectly
coincide with it nor adjust themselves to its demands. They are thus in this sense irrelevant [inattuale].
But precisely because of this condition, precisely through this disconnection and this anachronism,
they are more capable than others of perceiving and grasping their own time”.
Arte e política [ 163 ]
pouvoirs d’État qu’elle tend à subvertir et à détruire et est, en ce sens, par définition ‘antijuridique,
même quand il est juste’ (Romano 2, 222) elle ne saurait aussi apparaître telle qu’au regard du droit
positif de l’État auquell s’oppose, mais cela n’empêche pás que du point de vue bien différent par
lequel elle se présent elle-même, elle est un mouvement ordonné et réglementé par son propre
droit. Cela signifie aussi qu’elle est un système que l’on doit classer dans la categorie dês systèmes
juridiques originaires, au sens maintenant bien connu que l’on attribue à cette expression. En ce
sens, et en nous limitant à la sphère que nous avons évoquée, on peut donc parler d’un droit de la
revolution”.
[ 164 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
Giardini
A mais recente Bienal de Veneza (2009) vem colocar, uma vez mais,
questões que têm a ver com o relacionamento complexo que as obras de
arte mantêm com o contexto político que as envolve. Isso ocorre a diversos
níveis que não só aquele comumente apelidado de arte política, pois dessa
rotulação não nos interessa sequer aqui falar. Interessa-nos, antes, aquelas
obras que, de forma humilde, renunciam, quase paradoxalmente, ao bright
side majoritariamente ambicionado. É um distanciamento que as mantém
alheias às luzes intensas que emanam das chamadas propostas críticas e,
naturalmente, consensualmente aceitas. A opção as situa num território de
dissensão e, por isso, elas não utilizam a arma de arremesso político como
base de lançamento para reconhecimento e legitimação internos – porque no
fundo as opções majoritárias na arte contemporânea têm sempre um cunho
crítico ou não seria esse, talvez, o domínio mais estranhamente consensual
de nosso tempo. Ser consensualmente crítico, ou, dito de forma mais crua,
pura e simplesmente não o ser. Aquilo a que Jacques Rancière se refere de
forma muito clara como a produção de estereótipos como modelo crítico
para os estereótipos a criticar.
Uma das questões que mais nos interessam neste momento tem a ver
com o tempo. Não por acaso, o curator da Bienalle, Daniel Birnbaun, escreveu
um pequeno mas precioso livro intitulado Chronology. Nele, teoriza sobre
o problema do tempo em diferentes perspectivas, desde a permanência
deste presente cada vez mais efêmero e ao mesmo tempo perpétuo até
a problematização da temporalidade na produção videográfica, na arte
contemporânea, em obras de artistas fundamentais como Stan Douglas,
[ 166 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
Eija-Liisa Ahtila e Doug Aitken. Contudo, o que nos interessa aqui é falar
de um momento que se propõe como uma temporalidade de exceção no
rodopio que é a visita a uma bienal. Esse momento é corporizado na obra
Giardini, de Steve McQueen.
No exterior do pavilhão inglês, um pequeno placard informa que a visita
só se efetua em horas certas, quer dizer, não se pode entrar e sair a qualquer
momento, como é comum nas exposições. Essa é a primeira exceção com que
somos confrontados: se queremos ver a obra, temos de esperar; e o que, a
princípio, se apresenta como consequência operativa da instalação específica
aí montada transfigura-se, no entanto, numa primeira abordagem politizada
do fenômeno do tempo: é deliberadamente exigida a paragem. No interior
negro do pavilhão, existe uma espécie de plateia que confronta o espectador
com outra exigência temporal: o estar sentado e, naturalmente, parado.
A obra propriamente dita apresenta-se em dupla projeção e desenrola-
se ao longo de 38 minutos. Uma das críticas mais populistas que se ouve a
respeito dos eventos de arte contemporânea é a de que não há tempo para
tudo, são muitos vídeos exigindo nossa atenção, tempo demais para cada
um deles etc. Uma parafernália de argumentos coincidentes com a ideia
de que nosso tempo não dá hipótese ao tempo. Ora, é no interior dessa
problemática que a obra de Steve McQueen se ergue como possibilidade
política de resistência a esse estado de coisas. A temporalidade tranquila
que exala de Giardini corporiza uma opção tão dramaticamente oposta à
velocidade contemporânea que funciona perceptivamente como estimulante,
quer dizer, provoca uma espécie de incômodo no espectador, que se encontra
fechado numa sala escura acompanhando imagens com outro tempo distinto
da realidade exterior ao pavilhão. Aí fora, quase em frente, uma das obras
mais faladas: a dupla de pavilhões nórdico e dinamarquês com a curadoria da
dupla de artistas Elmgreen & Dragset representa a oposição quase absoluta
a Giardini: ao tempo impõe-se o espaço, à reflexão impõe-se a anedota, à
complexidade impõe-se a superficialidade. Voltemos, porém, ao vídeo de
Steve McQueen. Em grande percentagem, estamos perante uma sucessão
de imagens paradas, planos longos – quase diríamos fotográficos –, onde
apenas de quando em quando se introduzem sub-repticiamente elementos
que aí vêm alterar o clima de paragem em que se encontram envolvidos,
sempre acompanhados de uma excelente banda sonora que, de algum modo,
também se distancia do frenesi contemporâneo. Ora, um olhar mais atento
e analítico à palavra paragem apreende de imediato a existência em seu
Arte e política [ 167 ]
interior de duas outras quase opostas: para – age (m). Conduzem, é certo,
a uma ideia de paradoxal convivência, e é exatamente na construção do
oximoro que queremos situar Giardini.
Nosso tempo consome o tempo de forma rápida e impiedosa e, talvez
por essa razão, cada vez temos menos tempo para ter tempo. A alteração que
está sendo produzida na temporalidade contemporânea pela catadupa de
imagens em que estamos literalmente mergulhados produziu uma inversão
conceitual que merece atenção: o estar parado potencia a ação. Essa espécie
de passividade radical é amplamente experienciada no recurso videográfico
da contemplação das imagens.20
Ao tornar necessário o tempo como fator determinante para o agir,
estamos possibilitando uma nova forma de observar: a contemplação
ativa – uma possibilidade de inserir o fator atenção no âmbito do consumo
das imagens, isto é, transformar a deriva superficial da dromologia nesse
investimento estranho ao nosso tempo que é a paragem.
Na paragem, sentimos a aragem da utopia. Resta-nos agir, ou seja,
contemplar.
Busan
Em 2008, estive envolvido em mais uma bienal, realizada na cidade
coreana de Busan. A ampla longitude do artworld potencia, e nossos dias, a
institucionalização de um circuito de bienais que se afastam cada vez mais
de qualquer estatuto canônico e, em vez disso, pretendem ser intervenientes
ativos de uma nova forma de bienal. Tal objetivo passa quase sempre pela
procura de temáticas e pessoas que possam favorecer a ideia de diferença
a que se encontram vinculadas. Todavia, é preciso não esquecer que sua
profusão produziu, também, relacionamentos pragmáticos distantes da
ideia romântica da produção artística. As organizações mantêm os pés bem
assentes na terra e introduzem em sua mecânica operativa os mecanismos
totalitários da economia liberal, quer dizer, a diferença como conceito
filosófico transfigura-se rapidamente em noção econômica mais comumente
designada por nicho. A diferenciação neoliberal assim o obriga, trazendo
As imagens produzidas pela comunicação se sucedem de forma cada vez mais veloz. Pensemos na
20
imposição da MTV para a realização dos videoclipes: o tempo máximo de cada plano é de cinco
segundos. Uma das respostas possíveis passa pelo recurso a uma contemplação, digamos, estratégica,
para podermos nos distanciar da noção tão criticada durante toda a modernidade. A contemplação
que aqui se propõe passa pelo ajuste temporal à ação de pensar e, como todos sabemos, esse ato
reflexivo leva tempo.
[ 168 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
“El movimiento general de exudación (de dilapidación) de la matéria viva lo anima y él no podría
21
detenerlo. Incluso, en su apogeo, su soberania del mundo vivo lo identifica con este movimiento; ella
lo consagra de manera privilegiada, a la operacion gloriosa, al consumo inútil”.
Arte e política [ 169 ]
também analisada por Giorgio Agamben (2007) num texto recente que
remete diretamente a uma ideia possível de resistência à imposição totalitária
da economia neoliberal. O filósofo italiano refere que a arte tem, em alguns
momentos, a possibilidade de adquirir um significado político: “A arte é
em si própria constitutivamente política, por ser uma operação que torna
inoperantes e contempla os sentidos e os gestos habituais dos homens e,
dessa forma, os abre a um novo possível uso”. Essa ideia de inoperância é
extremamente importante para a produção artística, pois, por si só, introduz
a possibilidade de “desativar suas funções comunicativas e informativas para
abri-la a novo possível uso”.
Temos então uma dupla condição para a existência da obra de arte.
Por um lado, há a desativação dos mecanismos econômicos ditos positivos,
ou seja, todo aquele universo de intencionalidade – e a arte não quer ser
intencional – que fomenta a existência de produtividade e que “faz avançar
o mundo”. Dito de outra forma, mais simples e direta: sua integração nos
territórios de desenvolvimento econômico neoliberal. Por outro lado, a
aparente inércia em que se mantém ao desligar-se de tal contenda torna
internalizada toda a operação que condiciona qualquer intencionalidade
de poder agir ou fazer na recusa de uma operatividade que lhe seria sempre
exterior e impositiva. Contudo, essa aparente inércia é enganosa, pois é aí
nesse lugar de paragem – e já vimos que a paragem não equivale a estagnação
– que se fomentam as possibilidades em aberto para que a obra possa existir
numa ambicionada condição de exílio voluntário e, em contrapartida,
como sabemos, tornada impossível. A obra de arte torna-se, assim, o campo
experimental privilegiado para a consecução dessa utópica condição que
Derrida tão afincadamente procurou: possibilidade da impossibilidade.
Infâmia
– Bem-vindo sejas, meu filho. Estava pensando nos benefícios da
revolução. Tenho a impressão de que há mais movimentos, mais
atividades no bairro. Ouço as pessoas rirem e se interpelarem com
graça, como se para elas a vida tivesse se tornado uma coisa agradável.
Alivia-me constatar em cada dia que a felicidade já não é apanágio
dos poderosos (Cossery, 2000).
evidência, pois essa funciona como um marcador contextual que desvia o olhar daquilo que deve,
supostamente, permanecer oculto.
[ 172 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
15. É melhor não fazer nada a contribuir para a criação das estruturas
formais que permitem tornar visível aquilo que o Império já reconhece
como existente.23
Referências
AGAMBEN, Giorgio. État d’exception – homo sacer. Paris: Seuil, 2003.
------. “Arte, inoperatividade, política”. Crítica do contemporâneo, conferências
internacionais. Porto: Fundação de Serralves, 2007.
------. “What is the contemporary?”. What is an apparatus? Califórnia: Stanford
University, 2009.
Badiou, Alain. “Fiftheen thesis”. Lacanian Ink, 2004, n. 23.
“14. Since it is sure of its ability to control the entire domain of the visible and the audible via
23
the laws governing commercial circulation and democratic communication, Empire no longer
censures anything. All art, and all thought, is ruined when we accept this permission to consume,
to communicate and to enjoy. We should become the pitiless censors of ourselves.
15. It is better to do nothing than to contribute to the invention of formal ways of rendering visible
that which Empire already recognizes as existent”.
Arte e política [ 173 ]
Arte e política
Paulo Knauss
UFF
Ponto de partida
Os laços entre arte e política são profundos. Primeiramente, porque
os Estados e seus governantes têm um papel importante na construção dos
sistemas de arte. Ao longo da história, o mecenato do Estado foi decisivo
para o desenvolvimento das artes. Por meio de suas encomendas, o Estado
definiu a participação das artes na vida política, seja em contextos palacianos
aristocráticos de corte ou em contextos de afirmação da esfera pública. Assim,
coube também às artes representar as formas de governo. Até os dias de hoje,
reconhecemos o Egito dos faraós da antiguidade pelas suas pirâmides e seus
monumentos, como a Esfinge. Do mesmo modo, o Partenon nos oferece a
imagem da Grécia clássica, assim como o fórum romano permite configurar
uma ideia do que era a Roma antiga. A história das monarquias europeias, por
sua vez, pode ser contada em grande medida pela história dos palácios reais.
Na França, as diferentes partes do palácio do Louvre identificam diferentes
reinados, assim como o Palácio de Fontainebleau representa o governo de
Francisco I. Na Espanha, o Palácio do Escorial representa o período da
dinastia dos Habsburgos, assim como o Palácio de Madri encarna a época dos
Bourbon. Em Portugal, os palácios de Sintra representam diferentes épocas
da monarquia portuguesa, assim como o Palácio de Mafra é a imagem do
governo de D. João V, e o Palácio de Queluz, a da época da “viradeira” do
reinado de D. Maria I. As grandes obras públicas certamente ofereceram
um amplo campo de ação de artistas. A arquitetura era representada nessas
grandes construções – resultado do encontro de inúmeras artes –, que
também eram enriquecidas por atividades artísticas que povoavam a vida
palaciana. Desse modo, as formas artísticas dos governos com frequência
definiram estilos plásticos que permitem reconhecer as características das
Arte e política [ 175 ]
obras de arte de seu tempo. Por sua vez, o gosto oficial influenciou igualmente
os parâmetros da vida das elites políticas, que reproduziam em escala menor
o gosto dominante do Estado.
Mas no contexto da política também há muita divergência e
concorrência de poder. Por isso, frequentemente as artes também serviram
para exibir as tensões entre grupos políticos. No século XVII, o luxo
excessivo e as formas artísticas inovadoras da arquitetura externa e de
interior, assim como a dos jardins, do palácio privado de Vaux-le-Vicomte
foram interpretados pelo rei francês como um sinal de rivalidade política,
levando seu proprietário, o ministro Nicolas Fouquet, à desgraça política.
Esse evento marca a nova era do reinado do rei Sol, após a morte do
cardeal Mazarino, quando o rei extingue o cargo de primeiro-ministro e
assume diretamente o controle do governo. O monarca acaba convocando
os artistas de Vaux-le-Vicomte para realizar a construção do Palácio de
Versalhes, que entraria para a história como o símbolo do reinado de Luís
XIV. Já no contexto pós-Revolução Francesa, Napoleão mandou erigir, na
ponte da Concórdia, em Paris, estátuas em homenagens a generais mortos
nas campanhas de guerras promovidas pelo seu governo, substituídas
posteriormente no contexto da Restauração por estátuas de personagens da
história da monarquia. É nesse mesmo contexto de disputas políticas que
um grupo de artistas neoclássicos, marcados pelo ostracismo em sua terra
natal, foi organizado e deu origem à chamada Missão Artística Francesa,
que chegou ao Rio de Janeiro em 1816 renovando a cena artística do Brasil
e afirmando a estética neoclássica da monarquia nos trópicos. Importa frisar
que os movimentos da política frequentemente resultam na promoção das
artes, entrelaçando a vida política e a artística.
No entanto, os vínculos entre arte e política estabelecem também
referências para o pensamento da política e fundam, em certa medida,
a disciplina da história da arte. Voltaire, no contexto de sua filosofia da
história, tomava as artes como medida da razão de Estado e da afirmação
da civilização.
Historiografia
A interrogação sobre as relações entre arte e política aponta também
para duas outras direções possíveis. A primeira conduz a problematizar
a autonomia da historiografia da arte colocando em questão o campo
disciplinar da história da arte. A segunda coloca em questão a própria
[ 176 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
de obras artísticas muitas vezes ilustra essa situação em que a crítica de arte
se baseia em disputas de ordem extra-artísticas.
A história da famosa Vênus de Milo, pertencente ao acervo do Museu
do Louvre, o mais importante museu de arte francês, caracteriza bem
como política e crítica de arte se entrelaçam.24 A escultura foi descoberta
em 1820, na ilha de Milos, na Grécia, pelo oficial de marinha francês
Olivier Voutier. Depois disso, foi levada para a França, onde foi exposta
sem os fragmentos dos braços e de parte do soco. A discussão sobre os
fragmentos foi decisiva para revelar o valor artístico da obra. A qualidade
do trabalho escultórico dos braços e a inscrição do soco definiriam a peça
como do período helenístico, genericamente caracterizado pela crítica
especializada como período de decadência da arte grega antiga. Ao
contrário, sem esses elementos complementares, era possível considerar a
peça como uma obra-prima da época clássica, vista como período de maior
valor artístico. Casualmente, os fragmentos desapareceram e deixaram o
debate em aberto.
A questão ganhou destaque ao ser envolvida numa querela de amplas
consequências para a historiografia. Como, em 1817, o príncipe Ludwig
da Bavária havia comprado o teatro de Milos, ele se sentiu no direito de
reivindicar a posse da estátua que foi exposta na França, pois seria parte do
complexo. Os franceses, por sua vez, argumentaram que a estátua nada tinha
a ver com o teatro. Na sequência, os críticos germânicos promoveram certo
ceticismo em relação ao verdadeiro valor da estátua, caracterizando-a como
do período helenístico, e não como do período clássico, como pretendiam
os franceses. Dois nomes proeminentes da historiografia da arte na época
se confrontaram: do lado alemão, Adolf Furtwängler; e, do lado francês,
Salomon Reinach. Ainda que o soco perdido tenha reaparecido em 1900,
confirmando a data e a autoria da obra, a querela entre os especialistas não
terminou. O resultado foi um avanço grande na erudição sobre a arte grega
da antiguidade. Contudo, a discussão pública rendeu na medida em que
envolvia uma disputa entre os dois países sobre a proeminência no campo
da cultura. A França não tinha nenhuma obra-prima em suas coleções
do período clássico da arte grega da antiguidade, enquanto a Inglaterra
tinha os mármores de Elgin e os frisos do Partenon, o Vaticano tinha o
Apolo Belvedere e a Alemanha, os achados arqueológicos de Micenas. Os
usos do passado da arte ultrapassavam, com isso, o espaço da disciplina
Usos da imagem
Ao tratar da história da imagem antes da era da arte, Hans Belting (1996)
chama a atenção para o fato de que nem sempre o estatuto do objeto artístico
foi o mesmo. Assim, a rigor, a ideia de arte que se estende até nossos dias
pode ser definida como uma construção posterior à Idade Média e que se
associa à criação individual, ou autoral, e a uma dada teoria do belo. A era
da arte, segundo Belting, está enraizada nas consequências do movimento
iconoclasta do período das reformas religiosas, responsáveis pela destruição
de inúmeras imagens e pela produção de novas imagens para completar as
coleções destruídas. Em seu desdobramento, isso significa admitir que a
história da arte não pode se basear na naturalização do objeto artístico. Além
disso, é preciso admitir que a ideia de arte se relaciona aos usos da imagem.
Os usos da imagem, porém, são muito diversificados e envolvem
também seus usos artísticos, o que confere um estatuto especial à imagem,
distinguindo-a de outras formas de arte. Há uma construção social que está
baseada na afirmação de um sistema de artes, que define as características
do circuito da criação, produção, exposição, fruição e recepção do objeto
artístico, conduzindo à sua institucionalização. Isso implica um jogo de
posições no sistema de artes que se relaciona com a ordem política da
sociedade. Há um entrelaçamento entre ordem política e sistema das artes.
De todo modo, os usos da imagem estão submetidos aos seus padrões
de visualidade, ou “regimes escópicos”, para usar a expressão de Martin Jay
(1999, pp. 66-9), que caracterizam as diversas sociedades. Isso equivale a
dizer que em torno de imagens se afirmam formas de controle social que
têm a visualidade como referência. O controle social implica não apenas
restrições e interdições, mas também formas de promoção de imagens. A
censura e a propaganda caminham muito perto uma da outra. Sempre que
há imagens censuradas ou proibidas, há imagens a serem difundidas.
Um bom exemplo pode ser acompanhado no estudo original de Nazli
Aytuna que interroga os efeitos da interdição ao uso de imagens nos cartazes
de propaganda eleitoral na Turquia. É preciso considerar que o cartaz político
aparece tardiamente na vida turca, sendo contemporâneo da implantação da
democracia representativa em 1946, e representa a passagem ao pluralismo
político que substituiu a velha ordem autoritária. Apesar da afirmação
[ 180 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
Referências
ARGAN, Giulio Carlo e FAGIOLO, Maurizio. Guia de história da arte. Lisboa: Estampa,
1994.
AYTUNA, Nazli. “L’interdiction des images das les affiches électorales turques (1950-
1979)”. In DELPORTE, Christian et al. Quelle est la place des images en histoire?
Paris: Nouveau Monde, 2008, pp. 350-7.
BELTING, Hans. Likeness and presence: a history of image before the era of art. Chicago/
Londres: The University of Chicago Press, 1996.
BERTRAND DORLÉAC, Laurence. Histoire de l’art – Paris, 1940-1944: ordre national,
traditions et modernités. Paris: Publications de la Sorbonne, 1986.
BREDEKAMP, Horst. Kunst als Medium sozialer Konflikte: Bilderkämpfe von der Spätantike
bis zur Hussitenrevolution. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1975.
BURCKHARDT, Jakob. Reflexiones sobre la historia universal. México: Fundo de Cultura
Econômico, 1983.
------. A cultura do renascimento na Itália: um ensaio. São Paulo: Companhia das Letras,
1991.
CURTIS, Gregory. Disarmed: the story of the Venus of Milo. Nova Iorque: Vintage Books,
2004.
GAMBONI, Dario. The destruction of art: iconoclasm and vandalism since French
Revolution. Londres: Reaktion Books, 1997.
JAY, Martin. “Scopic regimes of modernity”. In MIRZOEFF, Nicholas (org.). The visual
culture reader. Londres/ Nova Iorque: Routledge, 1999, pp. 66-9.
JEWSIEWICKI, Bogumil. “Corps interdits: la représentation christique de Lumumba
comme rédempteur du peuple zaïrois”. Cahiers d’Etudes Africaines, 1996, pp.
113-42.
READ, Herbert. Arte e alienação. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1983.
Arte e política [ 183 ]
de San Juan de Teotihuacan. Foi a maior cidade conhecida da época da América pré-colombiana,
exercendo influência em grande parte da Mesoamérica. O primeiro povoado dessa região data de
600 a.C. Para os astecas, a cidade era um local lendário, onde havia sido criado o Quinto Sol, ou
Quinto Mundo, época actual.
Alejandro Mackinlay comprou as Tablas de la Conquista de Mexico em Londres, em meados do
26
século XIX, e mais tarde as doou para a fundação do primeiro Museu Público da Argentina, atual
Museu de Ciências Naturais. Desde 1898, integram o patrimônio do Museu de Belas Artes de
Buenos Aires.
[ 186 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
baseiam na crônica do século XVI escrita por Bernal Díaz del Castillo e foram
confeccionadas pelo mexicano Miguel Gonzáles, ao final do século XVII e
início do XVIII, com uma técnica chinesa de incrustação de madrepérola
(nácar) que lhes dá um brilho e uma luminosidade particulares.27 Desde o
século XIX, integram o acervo do museu. A sequência mais surpreendente
é a da relação política entre Cortés e Montezuma. Como escreveu Todorov:
“[...] como explicar que Cortés, liderando algumas centenas de homens,
tenha conseguido tomar o reino de Montezuma, que dispunha de várias
centenas de milhares de guerreiros?” (1996, p. 51). As explicações são muitas
e ambíguas. De acordo com Bernal Días: “Achamos que Montezuma estava
arrependido [do começo das hostilidades] [...] Mas na verdade Montezuma
procurava apaziguar seus súditos e pedia que cessassem seus ataques”.
Montezuma, diante dos inimigos, prefere não usar seu poder, como se não
tivesse certeza de querer vencer, escreve Gomarra, capelão e biógrafo de
Cortés (apud Todorov, 1996, p. 54).
As Tablas da Conquista do México são representações que seguem
tecnicamente não só as hibridações culturais entre Oriente e Ocidente,
mas também a forma narrativa dos códices produzidos entre os povos da
Mesoamérica desde o século VIII d.C.28 Essa representação em narrativa, seja
ideográfica ou pictográfica, nos informa tanto sobre as relações mitológicas
quanto as políticas ao longo da história. A forma narrativa dos códices,
no entanto, foi também conhecida na Grécia desde a era antiga tardia,
tendo se desenvolvido significativamente na Idade Média latina. A pintura
moderna herda em muitos aspectos essa narrativa, que depois, no período do
renascimento, toma a forma da representação naturalista (Byington, 2009).
É possível reconhecer uma impressionante representação pictórica das
relações sociais enquanto relações políticas modernas no quadro A ronda
noturna, de Rembrandt, no qual estão figurados 18 cidadãos de Amsterdã. O
quadro é um retrato de grupo e os guerreiros são personagens determinados,
que pertencem à unidade da guarda cívica do capitão Frans Banning Cocq,
senhor de Purmerland, e de seu tenente Willen van Ruytemburg, senhor de
México por meio do comércio com a Ásia. A frota espanhola do Galeão de Manila, ou Nau
da China, percorria a rota Acapulco-Manilha entre 1565 e 1815. Trazia para a América sedas,
marfim, jade, porcelana e biombos chineses e japoneses, difundindo na América a técnica do
encochado.
Grande parte dos códices encontrados pelos conquistadores da Mesoamérica foi destruída.
28
Apenas três chegaram à atualidade: o códice de Madri, o de Dresden e o de Paris. Por meio desses
documentos, é possível conhecer a história e a mitologia desses povos.
Arte e política [ 187 ]
Bürger (2008) esclarece que a concepção de obra que Adorno está empregando é aquela identificada
29
como orgânica, em que não há mediação entre a unidade do geral e do particular (arte simbólica).
Na obra não orgânica (alegórica), como no caso das obras da vanguarda, defende, trata-se de uma
unidade mediada, que, se for produzida, só o será pelo receptor.
Arte e política [ 189 ]
É importante ressaltar, diz Bürger, que se está falando do status da obra na sociedade, o que não
30
inclui o conteúdo da obra. O conteúdo das obras está sujeito, nesse caso, a um processo histórico
que culmina com o esteticismo, em que a obra é conteúdo de si mesma.
[ 190 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
história da herança da visualidade russa não sob o filão do éthos popular, mas buscando o significado
primário dos símbolos e signos. Estudando o cubo-futurismo, retirou dali a combinação de módulos
formais geométricos, chegando à formulação do suprematismo: identidade entre ideia e percepção,
fenomenização do espaço simbólico em um espaço geométrico, propondo uma abstração absoluta
(Argan, 1992, p. 324).
Arte e política [ 191 ]
A crítica institucional, referindo-se mais diretamente aos espaços de exposição, reforça o fato
33
de que o espaço moderno é ideológico, mas disfarçado de neutro. Esse espaço neutro seria a
representação simbólica da dissociação entre o espaço da arte e o espaço mundano, reforçando o
imperativo idealista da arte e da instituição, que se definiam como desinteressadas.
Arte e política [ 193 ]
concebeu o que talvez seja seu projeto mais instigante e que tem a
instituição artística sob a mira de seu discurso crítico. O Museu de Arte
Contemporânea Africana é um projeto desenvolvido em uma série de
instalações que inclui salas representando partes de um museu ficcional,
como o Restaurante, a Arquitetura, o Salão. Cada uma de suas 12 partes
é apresentada separadamente e em cada exposição Gaba focaliza uma área
do museu enquanto espaço de negócios. São sempre lugares de troca, seja
financeira, intelectual, cultural ou social. Desconstrói, assim, a hierarquia
espacial dos museus, em que, pretensamente, a sala de exposições seria o
espaço central. Usa esses espaços para propor sempre alternativas radicais
ao uso costumeiro dos espaços do museu. Na Documenta 11 (mostra que
acontece a cada cinco anos na cidade de Kassel, na Alemanha), conforme
relata em entrevista a Lisette Lagnado (2006, p. 176), o museu era constituído
pelo painel Espaço Humanista, que dispunha de bicicletas para aluguel, cuja
renda seria remetida ao Benim. Conforme explica o artista, o museu abrangia
ainda outros setores, como a biblioteca e a loja. Em 2005, Gaba apresentou
dez partes desse museu fictício em Londres, espalhando as salas em várias
galerias e museus. Na sala chamada “A arquitetura”, os visitantes podiam
construir seus museus imaginários usando blocos de madeira. Nessa ocasião,
Gaba ocupou uma segunda galeria na Tate, com a instalação Glue me piece,
inspirada pelo Prêmio Nobel da paz.
Referências
AGAMBEN, Giorgio. Homo sacer: o poder soberano e a vida nua. Belo Horizonte: UFMG,
2002.
------. Estado de exceção. Trad. Iraci D. Poleti. São Paulo: Boitempo, 2004.
ALIAGA, Juan Vicente. “Polifonías discordantes: sobre la significación de las
micropolíticas en las práticas artísticas y culturales”. Concinnitas – Revista do
Instituto de Artes da Uerj, jul. 2007, ano 8, v. 1, n. 10.
[ 198 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
Dária Jaremtchuk
USP
O trabalho se compunha de duas partes: a primeira, formada por 11 fotografias que ele havia
1
realizado dentro de museus, incluindo o próprio Prado, dispostas ao lado das obras da coleção
do museu; já a segunda, formada por 15 imagens, inauguraria a nova ala do Prado aberta em maio
daquele mesmo ano.
Arte e sistema de arte [ 207 ]
Para isso, diz ele, “utilizo uma câmera de grandes dimensões situada
no alto com um negativo de 8 x 10. Enfoco e espero para ver quem chega.
Reconheço em seguida o que quero” (apud Trenas, 2007).
Tal como no conjunto de imagens de Plaza, os trabalhos de Struth
instauram uma experiência com o espaço da arte, recolocando um olhar sobre
os códigos de recepção e os fluxos perceptivos. O próprio fotógrafo declara:
Quando comecei a expor em museus, me indaguei sobre a diferença
que existe entre os lugares que acolhem as pessoas, como aeroportos
ou centros de arte. Me perguntei como obras de arte sobrevivem como
tais, sem que lhes seja arrancada parte dessa aura que têm precisamente
pela quantidade de gente que as observa (apud Trenas, 2007).
MAC/USP.
As mostras para jovens artistas remontam aos primórdios do surgimento do MAC/USP. Em 1963,
3
foi criada a mostra Jovem Desenho Nacional, que se intercalava anualmente com a Jovem Gravura
Nacional. Em 1967, ambas deram lugar à Jovem Arte Contemporânea (JAC). Sua última edição
ocorreu em 1974.
[ 210 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
coordenação do professor Laonte Klawa, dividiram o espaço de 1.000 m2 das exposições temporárias
em 84 lotes. Foram recebidas 210 inscrições. Cf. Jaremtchuk (1999).
Arte e sistema de arte [ 211 ]
Referências
BAUMAN, Zygmunt. Globalização: as consequências humanas. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 1999.
BOLETIM INFORMATIVO. São Paulo, 1o jul. 1972, n. 173.
------. São Paulo, 13 set. 1972, n. 180.
CHEVRIER, Jean-François. La fotografía entre las bellas artes y los medios de comunicación.
Barcelona: Gustavo Gili, 2006.
FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas. São
Paulo: Martins Fontes, 1999.
JAREMTCHUK, Dária. Jovem arte contemporânea no MAC da USP (dissertação).
ECA/ USP, 1999.
PLAZA, Julio. Câmara obscura. Exposição. 3-5 set. 1977. Espaço B, MAC/ USP.
TRENAS, Mila. “El fotógrafo Thomas Struth, primer artista vivo que entra con sus
obras en el Museo del Prado”. El Mundo, 6 fev. 2007 (disponível em http://www.
elmundo.es/elmundo/2007/02/06/cultura/1170785434.html).
ZANINI, Walter. Carta de 3 de novembro de 1972 a Hélio Oiticica em Nova Iorque,
1972.
------. Depoimento concedido à pesquisadora em São Paulo, 12 abr. 1999.
[ 214 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
Localização e deslocamento
da obra de arte no contexto
de exposição
Para exemplificar essa afirmação, podemos citar o trabalho Spiral jetty, de Robert Smithson, que
6
atualmente existe apenas em registros fotográficos. A elevação do nível da água, que passou a
cobri-lo e, consequentemente, ocultá-lo, é um dado que passa a compor a existência da obra no
seu próprio tempo após o momento de conclusão estabelecido pelo artista. No Brasil, do evento
em que as 14 Trouxas ensanguentadas (T.E.) de Artur Barrio foram encontradas no Parque Municipal
de Belo Horizonte, só existe a documentação fotográfica. O trabalho, realizado em 20 de abril
de 1970, é reconstituído hoje pelo conjunto de fotografias acompanhadas de um relato no qual o
artista descreve a preparação, a colocação das trouxas, a chegada das pessoas que as descobriram
e as intervenções da polícia e do corpo de bombeiros no local.
A publicação recente dos livros de Douglas Crimp (1993) e Brian O’Doherty (1999) em português
7
ocorre com um certo atraso. As ideias de Crimp sobre a hegemonia de um modelo expositivo
implantado pelo Museu de Arte Moderna de Nova Iorque e as de O’Doherty sobre o papel do
espaço da galeria na valorização das qualidades plásticas da obra exposta antecedem a criação
de instituições e a realização de eventos internacionais que ampliam o repertório de situações
institucionais paradigmáticas. Embora possa parecer uma obra recente, esse livro de Crimp está
apoiado em seu trabalho crítico sobre o mesmo tema publicado anteriormente, do qual destacamos
“The postmodern museum” (1987).
Naturalmente, essa ressalva deve ser avaliada caso a caso.
8
Arte e sistema de arte [ 217 ]
1
Partindo do princípio de que o processo de significação desencadeado
na situação em que a obra de arte é exposta ao público tem como um de seus
componentes sua localização, é necessário distinguir diferentes maneiras de
caracterizar o contexto espacial de um fenômeno artístico. Esse contexto
espacial para a obra pode ser configurado a partir de diferentes fatores:
o espaço expositivo no qual é vista, a procedência geográfica de seu autor ou o
espaço institucional a que esse e sua obra pertencem no sistema da cultura.
Esses fatores não são mutuamente excludentes e podem ser combinados em
gradações variáveis conforme o enfoque da interpretação.
O local em que a obra é exposta sobredetermina, em uma dimensão
sensorial, sua interpretação. O desenho de uma exposição tem por objetivo
criar hierarquias, produzir destaques, relacionar, subordinar, contrastar ou
romper com as expectativas de associação da obra a um local predeterminado
na história da arte. Esses efeitos de sentido constituem a imagem da instituição
na qual a obra é exposta e o discurso curatorial em que sua pertinência é
contextualizada. O conjunto de valores imperantes na instituição expositora
não é, necessariamente, afirmativo de uma abordagem tradicionalmente
consolidada pela história da arte. Sua missão pode ser expor o paradoxo, gerar
polêmica ou criar um posicionamento divergente em relação à abordagem
das demais instituições.
As decisões tomadas para caracterizar o ambiente em que a obra é
exposta são estratégias para produzir efeitos de sentido. A configuração do
lugar determina o modo pelo qual os valores institucionais são transmitidos
a quem vê a obra. A aparência do lugar gera e reflete uma identidade
institucional. Isso pode ser constatado na visitação tanto às coleções
permanentes dos museus quanto a mostras temporárias. A identidade de
uma instituição é marcada por meio de seus elementos físicos, ainda que esses
não tenham como finalidade produzir uma unidade estilística homogênea.
A coleção dos museus Castro Maya, no Rio de Janeiro, ao mesmo
tempo em que reflete o ecletismo e o cosmopolitismo do gosto modernista
no Brasil, relaciona-se a um modo de colecionar existente há vários séculos,
típico da nascente burguesia da Europa ocidental no século XV. Distribuída
[ 218 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
2
Em 1996, a Pinacoteca do Estado de São Paulo realizou, no Palácio
do Planalto, em Brasília, a exposição Expressões do Corpo. Tratava-se de
uma mostra de esculturas de Auguste Rodin (1840-1917), Bruno Giorgi
(1905-1993), Ernesto de Fiori (1884-1945), Victor Brecheret (1894-1955)
e Francisco Leopoldo e Silva (1879-1948). O evento comemorava a recente
incorporação de sete esculturas de Rodin ao acervo da Pinacoteca.16 O
Palácio do Planalto é um dos prédios mais representativos da arquitetura
modernista de Oscar Niemeyer e faz parte do conjunto arquitetônico da
Praça dos Três Poderes. No conjunto de obras expostas com ênfase no corpo
humano, que, segundo o autor do projeto, deveria “servir como mote para
uma discussão mais ampla sobre a escultura brasileira” (Araújo, 1995), a
decoração dos elementos da montagem contrastava com a arquitetura do
Palácio, arrojada e sem adornos. Na montagem, cada uma das esculturas foi
colocada sobre pedestal branco com frisos nas bordas. Além de introduzir
na amplidão do saguão do Palácio uma escala diferenciada, os pedestais e
painéis se destacavam no percurso de visitação. Os elementos utilizados
na montagem das esculturas na sede da instituição em São Paulo foram
O termo museografia é utilizado aqui para que possamos tratar o modo específico com qual um
15
Associação dos Amigos da Pinacoteca e o Banco Safra na aquisição de cinco esculturas de Auguste
Rodin para o acervo da Pinacoteca do Estado, apoiado pela Lei de Incentivo à Cultura do Ministério
da Cultura, fato importante e pioneiro na compra de obras para o acervo do museu”.
[ 220 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
Realizadas sob encomenda de Rodin, são, segundo Pinet, as imagens de “um mundo inanimado, pois
17
Tiradentes (Bruno Giorgi, 1986), A justiça (Alfredo Ceschiatti, 1961), Herma de Israel Pinheiro (Honório
Peçanha, s. d.), Cabeça do presidente JK (José Alves Pedroza, 1960) e A pomba (Marianne Peretti).
Arte e sistema de arte [ 221 ]
3
A configuração neutra do ambiente expositivo é um recurso para
minimizar e até mesmo anular a tensão produzida pela presença das obras
de arte e seus respectivos vínculos aos contextos em que foram produzidas.
O universalismo proclamado pelo pensamento modernista, se considerarmos
a longa história da produção de bens artísticos pela humanidade, é uma
tendência recente e que parece estar próxima do fim na medida em que as
recentes discussões em torno da relação global/local têm se multiplicado no
campo da arte.
A escultura de Bruno Giorgi é o local preferido pelos turistas para compor o cenário de suas
19
fotografias na Praça dos Três Poderes. Como uma imagem-símbolo de Brasília, Os guerreiros são
reproduzidos em vários materiais e formatos por artesãos locais e adquiridos em lojas de souvenir
espalhadas pela cidade.
O primeiro museu da cidade de São Paulo.
20
[ 222 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
Após a montagem no MoMA, a exposição também foi realizada no Detroit Institute of the Arts e
21
no Dallas Museum of Art, ambos nos Estados Unidos. Entretanto, o foco de todas as críticas é a
exposição realizada no MoMA.
Organizado por William Rubin, diretor da exposição, o catálogo possui textos de Kirk Varnedoe,
22
4
Quando analisamos a dimensão espacial nas exposições, consideramos
não apenas a configuração do espaço em que as obras são vistas, os
enquadramentos da visão, mas também a relação entre os territórios
geopolíticos de onde procedem. Nesse aspecto, consideramos que, tanto
nas exposições permanentes dos acervos dos museus e suas expografias
paradigmáticas quanto nas exposições temporárias, os vínculos dos objetos
de arte com os contextos de procedência não são totalmente apagados.23
Talvez esse aspecto se torne mais evidente quando analisamos as exposições
temporárias nas quais ao contexto original de produção da obra é acrescido
outro, que pode até mesmo suplantá-lo: o local institucional ao qual a obra
Ainda que o objetivo central tenha sido demonstrar a existência de “afinidades” entre a pintura Still
23
life of masks, realizada por Emil Nolde em 1911, e a cabeça humana transformada em troféu pelos
índios munduruku do Brasil, da coleção do Museum für Völkerkunde, em Berlim, o parentesco
entre os objetos era apenas formal.
[ 224 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
A lenta acumulação de ex-votos nos templos da Grécia antiga pelos devotos é considerada a
24
origem dos acervos de obras de arte. Como atividade integrada a um sistema no qual as coleções
estavam sob os cuidados do guardião do templo, responsável pelo inventário e pela manutenção
de um conjunto de objetos heterogêneo, esses acervos continham obras executadas pelos mais
importantes artistas da Grécia. Os inventários, realizados por um hieropei responsável pelos
tesouros do templo, continham, entre outras informações, dados sobre a nacionalidade do doador
(Bazin, 1967, p. 12).
Foi por meio da conquista da Grécia no século II a.C. que os romanos adquiriram o gosto por
25
obras de arte. O espólio da guerra, depois de ser exposto à multidão em procissões triunfais, era
distribuído pelos templos ou comercializado entre ricos colecionadores. As coleções privadas
incluíam: cópias ou originais de esculturas gregas, objetos de ouro ou prata, marfim ou casco
de tartaruga, móveis de bronze, cedro, cipreste, arbovitae ou maple, tapetes orientais tecidos
com fios de ouro, e baixos-relevos. Os templos, abarrotados de objetos, transformavam-se em
lojas de curiosidades. O segundo marco importante na formação das coleções foi a realização
das Cruzadas.
Arte e sistema de arte [ 225 ]
5
Embora seja imprescindível admitir que há uma história da arte
eurocêntrica, a realização de exposições temporárias ou permanentes nos
museus tem tornado evidente que não há um conjunto homogêneo de
cânones artísticos ou um paralelismo universal entre as tendências artísticas.
A apropriação de qualidades estéticas atribuídas a obras do passado ou a
objetos produzidos por outras culturas, bem como a busca por exemplos a
serem admirados ou motivos que, copiados, serviriam para a renovação de
estilos artísticos, não é exclusiva da arte do século XX em diante. Ainda
que seja atribuída à Idade Média a preferência por colecionar tudo o que
estivesse relacionado às vidas de Cristo, da Virgem Maria e dos santos,
encontra-se também nesse período um grande interesse em guardar
objetos remanescentes da antiguidade ou provenientes do Oriente.
Esses objetos eram preservados devido a qualidades que o homem medieval
admirava, mas não se considerava capaz de imitar. Dos altares medievais
na Europa ocidental, acredita-se que apenas a quarta parte tenha sido
originalmente executada por artífices contratados pelas ordens religiosas
que os possuíam (Bazin, 1967). A maioria das peças pode ter sido levada
do Oriente bizantino, árabe ou chinês.
O ecletismo das coleções que contêm objetos provenientes de regiões
distantes, valorizados por seu exotismo, foi impulsionado pelas relações de
comércio e dominação entre os povos. Como exemplo, a partir da tomada de
Utilizamos a expressão “objeto de arte” como tradução do termo francês objet d’art, que
26
designa uma obra de arte de valor material intrínseco superior às qualidades estéticas. Pode
ser atribuído a qualquer tipo de artigo decorativo e precioso, mas geralmente denota objetos
relativamente pequenos, como porcelanas, bibelôs e pratarias, encontrados, sobretudo, em
coleções particulares.
Museu tem sua origem nos termos museion, em grego, e museum, em latim. Na Grécia, museion
27
Afirma-se que nove décimos do tesouro da Basílica de San Marco, em Veneza, são formados pelo
28
espólio da última Cruzada, composto de objetos preciosos acumulados pelos imperadores bizantinos
desde a Antiguidade. Oficialmente, Veneza nasceu Bizantina e assim permaneceu por séculos. Era
considerada a mais típica cidade oriental no Ocidente.
No inventário de Lourenço, “o magnífico”, feito em 1492, encontrava-se a prova da discrepância
29
nos valores atribuídos aos objetos: trinta florins por uma pintura de Jan van Eyck (São Jerônimo),
três florins por uma escultura de Desiderio as Sattiagrano e 6 mil florins por um chifre de unicórnio.
Obviamente, tratava-se de um objeto forjado por um comerciante inescrupuloso a partir de um
dente de narval. É nessa mesma coleção que o termo museu é pela primeira vez atribuído a uma
coleção: museo dei codici e cimeli artistici. Na ocasião, a palavra denominava o acervo de livros e
gemas (Bazin, 1967, p. 44).
Arte e sistema de arte [ 227 ]
pela limpeza – dois – e pelo público em geral – três. Devido ao grande número de copistas que passou
a frequentar o Louvre, sua admissão passou a ser limitada mediante a exigência de apresentação de
uma licença, limitada ao número de cem, que expirava em seis meses (Bazin, 1967).
Seu primeiro diretor, Alexandre Lenoir, definia-o como “o único lugar onde é possível estudar o
32
A primeira foi realizada em Londres, em 1851, e denominada The Great Exhibition of the Works of
33
Industry of All Nations. Para sua realização, foi construído o Palácio de Cristal (The Crystal Palace),
projeto de Joseph Paxton que se tornou um marco das amplas construções em ferro e vidro do
século XIX.
Arte e sistema de arte [ 229 ]
das nações ditas avançadas e o exotismo e a barbárie do mundo não europeu” (Pesavento, 1997,
p. 110), apesar de terem sido amplamente admiradas nesse evento as porcelanas da China e os
objetos laqueados do Japão.
É necessário esclarecer que, no século XIX, o termo indústria tinha, conforme afirma Pesavento,
35
um sentido mais amplo do que o que lhe é atribuído na atualidade: “Os critérios da época associam
à palavra toda e qualquer forma de atividade humana, independente do grau de beneficiamento,
do emprego de tecnologia ou das relações sociais subjacentes. Assim, a agricultura ou a criação de
gado são classificadas como indústrias, e atividades meramente extrativas ou de coleta simples de
materiais da natureza também o são” (1997, p. 105).
Embora essas tenham dificultado sua construção, não foram suficientemente contundentes a ponto
36
continentes, cada um associado a um rio: a Europa é representada pelo Danúbio (o rio mais longo
próximo a Roma), a Ásia, pelo Ganges, a África, pelo Nilo, e a América, pelo Rio da Prata (com
um duplo sentido, indicando as riquezas que proporcionaria à Europa por meio da exploração de
metais preciosos).
[ 230 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
6
O modelo de exposição que se organiza a partir de representações
nacionais, típico das exposições universais, foi adotado pela Bienal de
Veneza. Criado em 1895, esse evento paradigmático para a história das
exposições internacionais de arte, cuja influência sobre a concepção da
Bienal de São Paulo é evidente, apoia-se na autonomia de cada nação para
indicar os artistas mais representativos de sua produção contemporânea.39
Seu surgimento coincide com o momento em que o cosmopolitismo que
caracterizava o século XIX dava lugar ao universalismo que predominou
no pensamento moderno da primeira metade do século XX.40
O pressuposto universalista não substituiu, entretanto, a hierarquia
dos valores artísticos estabelecida pela tradição da Europa ocidental, que,
após a Segunda Grande Guerra, passa a ser também defendida pelos Estados
38
Ao mesmo tempo que o evento ostentava uma visão simplista, considerando provavelmente
apenas os Estados Unidos, a representação desse país no evento incluiu também uma grande
dose de exotismo com a presença de Buffalo Bill em pessoa, acompanhado de outros índios
de sua tribo, cowboys, cavalos selvagens, búfalos, cervos e coiotes, para o entretenimento do
público.
Sejam esses artistas os autores da produção de destaque do momento em que a bienal é realizada
39
ou, até mesmo, os que tenham realizado obras a serem homenageadas à luz de sua influência sobre
os caminhos da atividade artística nacional na atualidade.
Sobre essa mudança, Argan define o contexto no qual surge o expressionismo como tendência que
40
7
A partir da afirmação de que a relação hierárquica no sistema de arte
é necessária, surgem dois argumentos contrários ao desmembramento
do campo da arte em territórios funcionais. O primeiro tem relação com
uma visão evolucionista e linear na qual a qualidade artística é atributo
inquestionavelmente superior de um objeto. Apesar de seu uso, ele pode
passar a ser visto, acima de tudo, como obra de arte.
A outra posição denuncia a existência de liberdade e tolerância
ilimitadas no sistema de arte, gerando a situação na qual todas as tendências
são equitativamente acolhidas. Sem a orientação hierárquica, o pluralismo
conduz a uma ineficácia generalizada. Nessa perspectiva, é como se existisse
um estado superior, herdeiro do universalismo modernista, em que tudo o
que se produz está livre das coerções de linguagens e das convenções dos
códigos. Deslocada de contextos históricos ou políticos, a arte se desvincula
do compromisso com uma temporalidade histórica específica e passa a tratar
o tempo como um tema e todas as épocas precedentes como se fossem
igualmente acessíveis. Indiferente ao momento histórico em que vive e à
historicidade das condições que marcam o sistema de arte de seu tempo,
o artista abraça o pluralismo como um novo estágio. A ingenuidade dessa
atitude, segundo Hal Foster (1982), gera um problema. Ao ignorar diferenças
de valor e contexto, o artista, na busca desesperada por um lugar no mercado
de arte, produz uma obra inofensiva.
[ 232 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
8
Em 1989, no bicentenário da Revolução Francesa, a exposição Magiciens
de la Terre foi organizada para substituir a Bienal de Paris, tornando-se o
mais recente paradigma internacional para a exibição de obras de arte em
um sistema globalizado. Idealizada por Jean-Hubert Martin,41 foi considerada
“a primeira apresentação de artes visuais verdadeiramente internacional”.42
41
Desde 1988, Jean-Hubert Martin era diretor do Museu de Arte Moderna do Centro Georges
Pompidou, em Paris.
Essa afirmação de Eleanor Heartney, embora apoiada em um sincero entusiasmo pela iniciativa de
42
Martin, que evitou a fórmula recorrente de nomear uma exposição “internacional” a partir apenas
de um conjunto de obras de artistas europeus, norte-americanos e japoneses, não está baseada
em uma análise aprofundada de outros eventos internacionais, como a Bienal de São Paulo.
Arte e sistema de arte [ 233 ]
Teria sido essa uma ocasião para evocar a visão pluralista da Europa
cosmopolita, representada na exposição universal de 1889 em Paris? Há
cem anos, a exposição universal foi realizada para demonstrar, também, a
amplitude da visão eurocêntrica.
O trabalho dos curadores43 pode ser visto de dois modos: ao percorrer
um país para selecionar obras que demonstrassem a hipótese de Martin, era
necessário querer ver algo além daquilo que as representações oficiais dos
países preferem oferecer a um evento de grande visibilidade internacional.
Entretanto, para atingir o resultado pretendido, era preciso realizar
apenas as escolhas que garantiriam a reiteração do tema, ou seja, que
arte é magia. Em defesa desse argumento, Martin estabelece a diferença
entre sua proposta curatorial e a abordagem formalista da exposição de
William Rubin:
Parece-me importante enfatizar os aspectos funcionais no lugar dos
aspectos formais da espiritualidade. Afinal, as práticas de magia
são funcionais. Os objetos que têm uma função espiritual para a
mentalidade humana, que existem em todas as sociedades, são os
que interessam em nossa exposição. Afinal, a obra de arte não pode
simplesmente ser reduzida a uma experiência retiniana. Ela possui
uma aura que provoca essas experiências mentais (apud Buchloh,
1989, p. 155, tradução minha).
objetos de várias culturas de acordo com minha própria história e minha própria sensibilidade”
(1989, p. 153).
Essa possibilidade havia sido aberta anteriormente, na medida em que o sistema de arte passou a
45
espíritos – Iwa –, que podem ter uma grande variedade de formas humanas ou não humanas.
Para a exposição Trópicos – visões a partir do centro do globo, os curadores Alfons Hug, Viola
47
König e Peter Junge afirmaram ter adotado critérios estéticos e não científicos. Por isso, a exposição
realizada no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) de Brasília parecia resgatar mais do espírito da
exposição de William Rubin do que o da de Jean-Hubert Martin. Os grupos temáticos – Natureza,
Antepassados e Imagens Humanas, Poder e Conflito, Cores, e Instrumentos Musicais – dificilmente
poderiam ter origem em parâmetros estéticos universais. Além disso, a expografia não fornecia ao
visitante qualquer tipo de informação para que os objetos fossem relacionados a um contexto artístico
amplo, internacional, além das fronteiras do Museu Etnográfico de Berlim, instituição à qual pertencem.
Sobre essa perspectiva, Martin declarou que “colaborou com muitos antropólogos e etnógrafos na
48
preparação dessa exposição. Essa colaboração provou ser muito fértil, já que nos ajudou a abordar o
papel do artista individual nas várias sociedades tanto quanto a entender as atividades especializadas
dos artistas e as funções de suas linguagens formais e visuais. A propósito, nossa exposição acontece
no momento em que muitos antropólogos começam a se perguntar por que eles tradicionalmente
privilegiaram mito e linguagem em vez de objetos visuais” (apud Buchloh, 1989, p. 153, tradução
minha).
[ 236 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
O MoCHA, como era chamado, foi um museu alternativo inaugurado no SoHo, em Nova Iorque,
49
durante a ascensão do multiculturalismo em 1985, como uma vitrine para a arte da América Latina
e para a arte realizada pela comunidade de artistas latinos atuante nos Estados Unidos. Tendo sido
auspiciada pela associação Friends of Puerto Rico, suas atividades promoviam, sobretudo, os artistas
de ascendência latina que residiam nos Estados Unidos.
Nos museus de referência, embora as coleções incluíssem artistas que pertenciam a grupos
50
9
Uma das consequências de Magiciens de la Terre foi, segundo um ponto
de vista eurocêntrico, a multiplicação de eventos internacionais, sobretudo
bienais, que passaram a ser realizados em países que não ocupam posição
hegemônica no sistema de arte. Um desses eventos é a Bienal de Dacar, no
Senegal, criada em 1992. De acordo com a autocrítica feita por seu diretor,
Yacouba Konaté, curadores internacionais, membros de uma comunidade
artística que não é nem senegalesa nem africana, selecionam obras tendo
em vista a aprovação de seus colegas europeus. Desse modo, a partir de
uma pré-validação eurocêntrica, a Bienal de Dacar tem representado uma
etapa na trajetória de artistas africanos em direção aos mercados europeus
e norte-americanos.
Talvez tenhamos que reiterar aqui um questionamento anterior: qual é
o verdadeiro local de um objeto? Se as máscaras africanas são matéria-prima
para a investigação formal das esculturas cubistas de Pablo Picasso, hoje
as obras de Willie Cole ironicamente levam ao circuito da arte um certo
modo de apropriar-se de objetos produzidos em escala industrial para criar
formas semelhantes às de objetos de culto das sociedades primitivas. Isso só
é possível porque a inserção de objetos mágicos nos museus de arte já não
causa surpresa e é até mesmo esperada quando a instituição assume algum
tipo de posição crítica frente à hegemonia eurocêntrica. As esculturas feitas
a partir de sapatos de mulher assemelham-se a pequenos totens com títulos
que, graciosamente, evocam a função da arte da antiguidade.51
A cultura ocidental modernista apropriou-se de um conjunto de
valores estéticos que pertenciam a tradições artísticas excluídas do cânone
acadêmico. Gravuras japonesas, imagens populares, motivos da arte popular e
ídolos africanos encontram-se entre os muitos objetos cujas soluções formais
foram incorporadas ao repertório “universal” europeu. No século XIX, os
tesouros levados do Egito por Napoleão rapidamente se tornaram fonte de
inspiração para o estilo império, ao qual também foram agregados elementos
ornamentais copiados dos monumentos da antiguidade clássica, que era
muito apreciada na França pós-revolucionária.
Além disso, existe desde o início do século XIX um tipo de primitivismo
na obra de Gustave Courbet (1828-1885), que buscava, ao abandonar as
Como exemplo podemos citar Black patent leather Venus with scarification (1993) e Pink leather
51
Venus (1993). Os títulos, aparentemente descritivos, explicitam a relação “natural” que se estabelece
entre qualquer objeto associado à moda feminina e a reiteração de um ideal clássico de beleza
eurocêntrica – o da Vênus.
[ 238 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
Esse aspecto é questionado por Claude Lévi-Strauss: “Os arranjos internos procuraram
53
sistematicamente a ruptura, quando todas as obras pediam uma apresentação que as colocasse
em harmonia com o edifício; harmonias diferentes segundo os gêneros e os períodos, é certo, mas
que, com um pouco de tato e gosto, poder-se-ia obter” (1988, p. 159).
Parte da coleção desse museu foi para o Centro Georges Pompidou, que recebeu apenas as
54
obras de artistas nascidos após 1870. Esse critério de distribuição, meramente cronológico, não
favorece as obras de alguns artistas, que, embora nascidos após 1870, não podem ser plenamente
compreendidos sem uma ampla visão de seus antecedentes. Por outro lado, há artistas na coleção
do Musée d’Orsay cujas obras são imprescindíveis para a compreensão da relação entre arte e
cultura popular que se consolida no século XX.
O prédio projetado pelo arquiteto Jean Nouvel deverá ter 8.600 m2.
55
10
Inicialmente, quando consideramos a multiplicidade de contextos para
a experiência artística na atualidade, admitimos que a passagem de uma
perspectiva cosmopolita para outra, universalista, nas proposições artísticas
da passagem do século XIX para o XX tem sido superada por uma nova visão
pluralista, definida por Hal Foster como a que dá origem a um estado no qual
tudo é igualmente sem importância. Acontece um estado de abolição das
relações hierárquicas que, materializadas na realização de eventos públicos,
haviam fundamentado um modo de ver no qual as obras de arte eram
apreciadas a partir de sua localização numa escala de valores hegemônicos –
um modo de ver, portanto, universalizante. Consequentemente, na medida
em que a definição da arte na modernidade, segundo um conjunto de
pressupostos plásticos universalizantes, passa a compreender gradualmente
Essas incluem o pagamento de 520 milhões de dólares pelo uso do nome Louvre por 30 anos,
57
747 milhões de dólares pagos desde o início de 2007 pelo empréstimo de obras e consultoria
administrativa para a gestão do museu em Abu Dhabi e a doação de 32,5 milhões para a remodelação
do Pavilhão de Flore (Riding, 2007).
Ao ser reaberto, em 2010, terá o nome de Sheik Zayed bin Sultan al-Nahayan, fundador e governante
58
que assombram governos e administrações de grandes museus dos Estados Unidos e da Europa.
Arte e sistema de arte [ 241 ]
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Academia e tradição artística
Sabemos que a antiga Academia Imperial de Belas Artes reuniu um acervo considerável
60
desde sua abertura em 1826. Em 1937, grande parte dessa coleção passou a constituir o
Museu Nacional de Belas Artes. Uma pequena parte – em geral material didático e exercícios
escolares – permaneceu na então chamada Escola Nacional de Belas Artes, em suas salas de
aula e ateliês. Após a transferência da Escola para a Cidade Universitária na Ilha do Fundão
em 1975, esse acervo foi reunido, dando origem ao Museu D. João VI, da EBA da UFRJ, em
1979. Desde 2005, coordeno o projeto de revitalização do Museu D. João VI, apoiado pela
Petrobras, responsável, basicamente, pela inserção do inventário informatizado do museu no
site http://www.museu.eba.ufrj.br, pela higienização de todo o acervo, pela recuperação de
boa parte do acervo de pinturas e pela nova concepção das reservas técnicas que possibilitam
o acesso do público.
Arte e sistema de arte [ 245 ]
O conceito de barroco foi introduzido a partir do final do século XIX, sobretudo com a obra de
63
Heinrich Wölfflin. O de maneirismo é bem posterior, tendo surgido em meados do século XX,
especialmente com os estudos de Walter Friedlaender. Somente a partir do romantismo é que os
movimentos se autodenominaram de imediato. A escrita de Baudelaire, no Salão de 1846, é uma
evidência disso: “Quem diz romantismo, diz arte moderna, isto é, intimidade, espiritualidade, cor,
aspiração pelo infinito, expressas por todos os meios de que dispõem as artes” (apud Lichtenstein,
2006, p. 96).
“Muito surpreso ficaria Bernini se lhe dissessem que ele se afastara do classicismo; foi barroco sem
64
ter consciência disso! Só Borromini, Guarini, Caravaggio e Pietro da Cortona tiveram a vontade de
transgredir normas” (Bazin, 1989, p. 49).
Arte e sistema de arte [ 247 ]
antiga e tornou-se uma mistura conflitual entre a romanidade e o mundo bárbaro”. O Renascimento
entra nesse conflito francamente a favor da romanidade e querendo exorcizar o mundo bárbaro.
“Tratava-se de retomar a evolução da civilização, para eles interrompida durante longos séculos,
entre Constantino e a Toscana do século XIII” (Bazin, 1989, pp. 32-3).
[ 248 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
evidenciando a progressiva incorporação de um espectro mais amplo não apenas de artistas italianos,
mas também dos estrangeiros. Karl van Mander, por exemplo, escreveu numerosas obras de caráter
enciclopédico tratando dos artistas da Itália e do resto da Europa; as informações biográficas sobre
a maioria dos pintores do Norte nos foram transmitidas exclusivamente por ele. Joachim Sandrart
concebeu uma verdadeira enciclopédia da arte: bastante eclético, admitia todos os estilos; em sua
obra, há biografias de artistas da antiguidade e de seus contemporâneos, aparecendo inclusive
o espanhol Murillo. O isolamento da Espanha nesse quadro cultural é surpreendente. O pintor
Francisco Pacheco escreveu L’arte de la pintura, em que trata de Rubens e de Velásquez, seu genro,
em 1649, mas a obra não teve grande repercussão fora da Espanha e Velásquez permaneceu
desconhecido no resto da Europa até o século XIX.
Arte e sistema de arte [ 249 ]
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João VI da Escola de Belas Artes da UFRJ”. Anais do XXVII Colóquio do Comitê
Brasileiro de História da Arte. Salvador: CBHA, 2008a, pp. 350-61.
67
Luciano Migliaccio (2005), em seu posfácio à edição brasileira do livro de Longhi, chama a
atenção para o fato de esse texto iconoclasta ser uma obra da juventude, que revela, sobretudo,
uma grande insatisfação com a situação da crítica e da história da arte na Itália da época. Invoca,
inclusive, o fato de Longhi não tê-lo publicado em vida. Contudo, a grande circulação do texto
ainda mimeografado revela a força dessa polêmica e – para o que nos interessa diretamente
neste ensaio – a permanência do conceito de tradição histórica da arte europeia no início do
século XX.
Arte e sistema de arte [ 253 ]
Máscaras
Era assim, como um apaixonado pelos objetos de arte, que Castro
Maya queria ser reconhecido. Preferia ser chamado de amante das artes
que de colecionador. Isso demonstra a insuficiência poética desse termo,
capaz de aproximar o interesse científico do colecionador naturalista do
cálculo financeiro do proprietário de antiguidades, o caráter metódico e
compulsivo de um colecionador de selos do juízo valorativo de um amante
das artes. Descartá-lo significaria apagar os traços mundanos deixados pelo
valor de mercado das obras. Entretanto, recuperando Simmel e a particular
interpretação que Alfred Gell faz de sua Filosofia do dinheiro, o elevado custo
de um objeto artístico é elemento compositivo de seu valor, não apenas em
sentido bruto, mas, sobretudo, por anexar mais uma ordem de resistência
ao desejo (2005, p. 49).
Outras dificuldades vêm se anexar, como a originalidade da obra,
especialmente no caso de objetos antigos. No atual Museu da Chácara do
Céu, antiga residência do colecionador Castro Maya, vemos em sua sala de
jantar, diante de uma ampla janela que dá para o jardim, um torso grego
feminino cujo atestado de autenticidade afirma tratar-se de escultura advinda
do mesmo sítio arqueológico no qual se encontrou a escultura da Vitória de
Samotrácia. Também o material usado – mármore branco com veios verdes
– e a evocação da semelhança estilística com trabalhos do escultor Scopas
da Macedônia são citados para garantir a origem e atestar a antiguidade da
peça. Somados esses dados, começa a se delinear sua significação na coleção.
De seu assento à cabeceira da mesa, podia apreciar o torso como a passagem
entre o interior e o exterior: o ponto de fuga de sua experiência singular, a
abertura para o universo antecedente da natureza e da história.
É também uma figura feminina, uma espécie de Vênus moderna, que
aparece no retrato que Renoir faz do marchand Ambroise Vollard por volta
de 1908. Nessa tela, Vollard apoia seus cotovelos sobre uma mesa e contempla
demoradamente uma pequena escultura feminina. A tela apresenta uma
espécie de inversão ideal do retrato do colecionador por Il Parmigianino. A
natureza deixa o fundo e se transforma no motivo vegetal e animal da toalha,
do vaso e dos tecidos sobre a mesa. O fundo se torna abstrato: apenas duas
áreas delimitadas de vermelho e laranja, que parecem concentrar os tons que
se dividem a partir do motivo central da toalha no primeiro plano e reforçam
a oposição entre as duas figuras. Do lado vermelho está o colecionador, com
todos os atributos masculinos e contemporâneos: terno, gravata, barba,
Arte e sistema de arte [ 259 ]
Origens
Alfred Gell propõe discutir a arte como parte de um sistema técnico ou
tecnológico, o que amplia muito a noção de sistema de arte que costumamos
adotar, geralmente restrita ao ambiente mais profissionalizado das instituições
e do próprio gosto. Para ele, o valor estético atribuído ao objeto artístico
não difere do valor moral, na medida em que supõe a fé no esteticismo
universalmente válido. Instituições culturais como museus, teatros, livrarias
e galerias de arte seriam equivalentes recentes das igrejas e santuários. O
mundo moderno teria sacralizado a arte e transformado a estética em uma
sorte de teologia. A relação histórica entre coleções e encantamento parece
corroborar esse argumento, sempre tão antipático – ou indiscreto – aos nossos
olhos de amantes das artes.
Schlosser aponta como, na Idade Média, muitas igrejas se converteram
em verdadeiros museus de antiguidades, reunindo objetos preciosos, pedras
talhadas, relicários e, eventualmente, até ídolos pagãos, aos quais se associava
caráter sagrado e simbólico. Na Espanha, por exemplo, a descrição de
Ambrosio de Morales da Câmara Santa da Catedral de Oviedo destaca,
[ 262 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
Álbum de família
Em sua história particular, os museus tiveram de colocar atrás de si os
gabinetes de curiosidades, os templos das musas, as igrejas medievais, a
caverna, o Museum de Bruchion, enfim, construir seus antepassados numa
relação de superação e continuidade. A cultura contemporânea, porém,
Arte e sistema de arte [ 267 ]
não se mostra apta a colocar atrás de si, como etapa encerrada, os museus.
Não consegue produzir nada de diferente e, ao mesmo tempo, não pode se
assemelhar aos espaços que tanto critica.
Uma das estratégias atuais é recuperar as fontes esquecidas do próprio
projeto museológico, como a caverna de culto que reaparece no curioso
projeto da Cathedral d’images, em Baux de Provence, na França. As minas do
Vale do Inferno inspiraram Albert Plécy, jornalista e pesquisador da fotografia,
a criar seu peculiar museu, cuja programação alterna, desde sua fundação
em 1977, projeções de imagens de até 100 m² sobre as paredes regulares
de pedra ou o piso da antiga mina de bauxita, combinadas com música e
sonorização. A ideia é produzir, a partir da obra de um artista ou de um tema
selecionado, um ambiente de “imagem total” a partir de mais de cinquenta
fontes de projeção. Não gratuitamente, o nome da instituição evoca o
sentido sagrado, de introspecção e maravilhamento – o que é reforçado
pelos temas abordados, como “A Idade Média”, “A Índia eterna”, “As mais
belas natividades”, “Balada africana”, “Os deuses de pedra”, “Retratos da
China”, ou simplesmente pela escolha de artistas individuais célebres em
todo o mundo, como Michelangelo, Van Gogh, Cézanne, Picasso.
Outra estratégia seria recuperar o sentido lúdico e variado dos gabinetes
de curiosidades. Há cerca de vinte anos, David Wilson fundou na Califórnia
o Museum of Jurassic Technology. Sua ideia era criar um museu diferente,
muitas vezes chamado pelos críticos de pós-moderno, capaz de desafiar nossas
crenças e mesmo nossa razão. Sua proposta era retomar a concepção do
museu como a casa das musas, espaço eclético de apresentação das coleções
de história natural, arte, antropologia e ciência, que pretende – na contramão
dos pressupostos didáticos dos museus – estimular sensações de conforto e
relaxamento diante dos afazeres cotidianos.
Apenas para exemplificar as curiosas histórias que o museu apresenta,
uma de suas vitrines exibe a história fabulosa da formiga de ferrão da
República dos Camarões. Vez por outra, uma das formigas é contaminada
por um esporo de fungo que se aloja na cabeça da formiga como um chifre
de unicórnio. Confusa, a formiga sobe pelas plantas até uma determinada
altura onde se prende até morrer. Dias depois, o esporo cai para contaminar
outra formiga. Lawrence Weschler, autor do livro sobre o museu, Mr. Wilson’s
cabinet of wonder, indagou seu fundador sobre as razões de sua atração pela
saga bizarra da formiga. Ele respondeu se tratar de um duplo metafórico de
sua própria existência, moldada pela compulsão irrefreável de realizar coisas
[ 268 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
espaços nobres do antigo palácio real com seus infláveis de aço e alumínio
pintados, aspiradores de pó, esculturas da Pantera Cor-de-rosa ou de Michael
Jackson com seu macaco Bubbles. Assume, assim, a paródia para falar da
própria situação institucional da arte.
É alguém que adota como estratégia central o espelhamento irônico
das qualidades estéticas grandiloquentes de Versalhes, essencial para que
o mundo de ídolos e objetos pop se revista de significado. Faz seu próprio
busto dialogar com aquele de Luís XIV feito pelo artista barroco italiano
Bernini, em 1665. Nesse, o rei francês é uma verdadeira força da natureza.
Seu rosto clássico, de traços fortes, contrasta com os longos cabelos
cacheados e com o movimento intenso de suas vestes. Tudo é imponência
e dinamismo. Puro êxtase. No busto de bronze de Koons, os trajes antigos e
a peruca, ao contrário, chamam a atenção para a sua própria artificialidade
e, consequentemente, para o quanto de artifício e imagem espetacular possui
o palácio. Por um lado, revela aquilo que tão ciosamente os dirigentes de
Versalhes tentaram encobrir: sua artificialidade, sua proximidade com a
cultura pop. Por outro, indica uma espécie de salvação por meio do desafio
das próprias noções de arte e artista. Luís XIV e Michael Jackson, Maria
Antonieta e a Pantera Cor-de-rosa, todos passam a fazer parte desse álbum
de família de Jeff Koons, tornam-se seus antepassados eleitos, suas máscaras.
Entretanto, quando vemos alguns exemplos recentes de museus, temos
de repensar seu papel e nos confrontar com outro problema crucial: como
se contrapor a ou se confrontar com os museus se sua forma não é fixa, se
ele parece ora se diluir, ora se refazer a um só tempo? É o caso da luta dos
indígenas brasileiros para recuperar o Museu do Índio de Brasília, cujo projeto
de Oscar Niemeyer se inspirava na casa circular yanomami, com uma praça
central. Segundo Berta Ribeiro, que elaborou o projeto conceitual do museu,
o espaço foi projetado em 1987 para render tributo aos artesãos indígenas
e apresentar sua contribuição à cultura brasileira e universal. O acervo,
rejeitando práticas espoliativas, seria formado por objetos confeccionados
pelos índios hoje. Um jardim botânico seria erguido nos espaços exteriores
para mostrar as formas de relação, classificação e manejo dos recursos
naturais pelos povos indígenas. Seria, portanto, uma inversão da tradicional
função do museu etnográfico: um distanciamento da exibição do exótico
e uma tentativa de enaltecimento da herança pluriétnica e policultural da
América Latina. Todavia, acabou sendo inaugurado como Museu de Arte
Moderna, com uma exposição do artista venezuelano Armando Reverón.
[ 270 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
Referências
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do Instituto de Artes da Uerj, jul. 2005, ano 6, v. 1, n. 8.
[ 272 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
Viviane Matesco
UFF
reduz a traços decorativos de fauna e flora locais, como defendido por uma historiografia de cunho
nacionalista.
Arte e sistema de arte [ 275 ]
A National Academy of Design era uma contrainiciativa de artistas para competir com a American
69
produzia ativamente para atender às demandas das sociedades de consumo, produtora de sinais
que nada tinham a ver com linguagem; por isso a arte latino-americana ficaria na posição de mera
receptora. Áreas abertas (Venezuela, Brasil, Uruguai, Argentina e parte do Chile) e áreas fechadas
(áreas ancestrais mexicana e andina), tempo de entrega e arte de resistência tornaram-se temas
obrigatórios nos meios intelectuais na década de 1970.
[ 278 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
Referências
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Arte e vitalidade [ 279 ]
arte e vitalidade
[ 280 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
Arte e vitalidade [ 281 ]
Corpos invisíveis,
corpos que importam
Alexandre Santos
UFRGS
pelo belo Harmódio, o qual, por sua vez, foi cortejado por Hiparco, filho
do último tirano, Psístrato. Harmódio não apenas despreza a investida de
Hiparco, mas ainda arquiteta um plano juntamente com Aristógiton para
matá-lo. Condenados por Psístrato, os heróis são punidos em praça pública:
Harmódio é condenado à morte e sacrificado, enquanto Aristógiton recebe
a pena do martírio. O sacrifício desses homens é considerado o embrião do
movimento que levou à instauração da democracia em Atenas. O amor
homoerótico aqui se relaciona à ética da fidelidade masculina na Grécia
clássica, assim como ao culto do heroísmo, princípios imprescindíveis para
a organização das cidades-estado.
Na Grécia antiga, são muitos os mitos relacionados ao heroísmo
militar, em que temos constantemente a presença do amor homoerótico.
Aquiles e seu amor por Pátroclo, relatado por Homero e representado em
vasos cerâmicos, parece ser uma das referências mais evidentes. Por outro
lado, o famoso batalhão sagrado de Tebas, formado por 150 erastas e 150
erômenos, demonstra que o companheirismo militar também era uma forma
de extensão da pederastia como ingrediente que reforçava as alianças de
coragem e bravura, necessárias ao sucesso dos empreendimentos militares.
O mesmo se pode dizer do severo exército espartano. É por isso que o mais
importante pintor do neoclássico francês, Jacques Louis David, representa
uma cena de guerra envolvendo os heróis de Esparta em Leônidas nas
Termópilas (1814). Essa tela apresenta um teor homoerótico não explícito,
tributário dos cânones gregos de representação e bastante recorrente em
David, considerado um pioneiro – e, justamente por isso, alvo de críticas
em sua época – na transposição da nudez masculina, herdada da escultura
clássica, para o plano bidimensional da pintura. As críticas endereçadas a
David muito provavelmente referem-se ao caráter real de sua representação,
distanciado dos cânones frios trazidos pela nudez escultórica clássica.
Cabe ressaltar que, em O banquete, Platão refere-se a dois tipos de amor,
trazendo para sua especulação filosófica os costumes universais do mundo
grego em relação ao tema. Trata-se do Eros vulgar, pressuposto das relações
heterossexuais, e do Eros celeste, que preside as relações entre erastas e
erômenos. Se ao primeiro tipo de amor cabe a exaltação do sexo, do prazer
e da união carnal com fins de procriação, caberia ao segundo ocupar um
lugar especial ao qual corresponderiam preponderantemente virtudes da
alma em detrimento do corpo, assim como o alcance do bem moral e da
pureza. Essa noção contribuiu para destituir a representação do corpo de seu
Arte e vitalidade [ 285 ]
um deus. Além disso, Adriano faz erigir esculturas, templos e também uma cidade em memória
de seu amado: Antinópolis.
Arte e vitalidade [ 287 ]
“Beijo gay em Berlim ainda opõe artistas e políticos”. Folha de São Paulo, 27 de junho de 2008.
2
[ 292 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
Cf. Tamagne (2001, pp. 236-53). Essas iniciativas constituíram o embrião da chamada queer theory,
4
grupo de intelectuais norte-americanos interessados nos estudos de gênero, entre os quais a crítica
literária e ensaísta Eve Kosofsky Sedwick e a filósofa da Universidade da Califórnia Judith Butler,
ambas teóricas influentes do chamado pós-feminismo.
Arte e vitalidade [ 293 ]
que ela qualifica como corpos que importam?” (2000, p. 264). Sem dúvida,
sua inserção mais efetiva na arte e na história da arte já significa um passo
fundamental para responder essa pergunta.
Referências
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[ 296 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
Marcelo Campos
UERJ
têm brincos classicamente indígenas. Por todo o corpo, são escritas frases
e declarações em primeira pessoa: “Olá, eu sou Jimmie Durham, eu quero
explicar algumas coisas básicas sobre mim mesmo...”. Assim, Durham vai
apresentando seu próprio corpo – abdômen, pênis, rosto – em frases críticas
e irônicas, como “Os pênis indígenas geralmente são grandes e coloridos”.
Classifica-se a si mesmo como fetiche, dividindo o corpo como o de um
animal a ser esquartejado. Durham, com isso, trabalha “com signos sociais
como discursos que devem ser superados” (Campos, 1999, p. 34). Critica
o preconceito diante da ancestralidade dos sujeitos, que muitas vezes são
classificados pela característica da pele e por seus objetos identitários e
exóticos, colocando-os como outsiders, como inimigos, principalmente
por não pertencerem às linhagens de sangue da corte, à posse dos meios
de produção da burguesia ou aos recônditos do clero – três vínculos que
definiram a história da arte até o século XIX.
O autor sempre ocupa o lugar de um morto. Benjamin, Foucault e
Agamben se dedicaram a nos fornecer pistas sobre esse hiato entre narrativa
e narrador, autoria individual e domínio público. A narrativa quer ser perfeita
a ponto de apagar de vez a autoria e o narrador que se coloca sempre às
margens do texto, manipulando fatos e dados que o precedem. No pós-
estruturalismo, aprendemos a dizer: “Eu”. O sujeito-autor, tão excluído
do discurso a favor de universalismos, autonomias da linguagem, hoje se
coloca como ser subjetivo, culturalmente inscrito. James Clifford relata a
experiência da etnógrafa Marjorie Shostak, que se dedicou a pesquisar a
condição feminina numa comunidade de caçadores-coletores. Nisa, sua
informante, lembrava e explicava a própria vida, perfazendo os fatos sociais,
coletivos. Shostak, atenta à pertinência de manter a autonomia textual de
sua personagem, vai construindo a duração de um ciclo de vida: casamento,
sexo, maternidade, perda, envelhecimento. Porém, somente quando Shostak
se dedica ao registro do trabalho de campo é que encontramos as chaves
para diversas explicações incompletas na teoria. O livro, segundo Clifford,
parte de um novo interesse do pós-estruturalismo em “revalorizar aspectos
subjetivos, mais precisamente intersubjetivos” (2002, p. 76).
Nessa construção da intersubjetividade entre Shostak e a comunidade
Ikung, numa observação a princípio distraída, a consonância entre
representação e autorrepresentação se deu. Shostak percebeu que uma
menina de 12 anos olhava insistentemente seu próprio rosto no retrovisor
do Land Rover da equipe de trabalho. A antropóloga, então, usou um modo
[ 304 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
Referências
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[ 306 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
Todavia, os autores salientam que somente a partir do renascimento, quando o pintor e/ou escultor
6
logra romper com a tradição do anonimato e ganha reconhecimento público e status diferenciado,
a biografia do artista se consagra enquanto gênero narrativo independente.
Arte e vitalidade [ 311 ]
Kris e Kurz também fazem menção a escritos mais recentes, que datam
dos séculos XVI-XVIII e que se servem dos mesmos artifícios para exaltar
a mestria de alguns artistas do renascimento, como o relato de Vasari
sobre passantes que confundiam o retrato do papa Paulo III, que havia
sido colocado por Ticiano para secar em uma janela, com o próprio papa,
e o saudavam. Outro exemplo é o relato de Zuccaro sobre um cardeal que
entregou caneta e tinta para a imagem do papa Leão X pintada por Rafael,
visando obter sua assinatura, ou ainda a história contada por Aretino do
cordeiro carregado por São João Batista em um quadro de autoria de Ticiano
que provocou balidos alegres de uma ovelha.
Se é evidente que essas historietas, tais como as fábulas criadas por
Boltanski, são inverídicas e hoje nos fazem rir, seu valor como figura retórica,
como instrumento de persuasão, não deve ser menosprezado. Elas revelam
que, nas mais diferentes sociedades, a narrativa biográfica é um recurso eficaz
e poderoso de legitimação do artista.
É por outro viés que Maurice Merleau-Ponty aborda o tema da relação
entre a vida e a obra de um artista em “A dúvida de Cézanne”. Nele, o
filósofo francês nos leva a refletir sobre a impossibilidade de associarmos de
forma direta e unívoca dados biográficos, da ordem do pessoal, ao fracasso
ou ao sucesso estético de uma obra de arte, contestando as análises que
viam Cézanne como um “gênio abortado” (Émile Zola) ou como um pintor
que se entregara “ao caos das sensações (Émile Bernard), tal qual Frenhofer,
personagem da Obra prima ignorada, de Balzac. “Não teria sido o fato de
terem dado muito importância à psicologia, ao conhecimento pessoal de
Cézanne, que levou Zola e Émile Bernard a acreditarem no fracasso do
amigo?”, pergunta-se Merleau-Ponty (1975, pp. 303-16).
Cabe ressaltar que, em seus últimos anos de vida, Cézanne viu
seu isolamento e sua rotina alterarem-se em função da visita de vários
[ 312 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
Podemos citar como exemplo, entre outros títulos publicados nas primeiras décadas do século XX,
7
os artigos de Bernard (1904), Rivière e Schnerb (1907), Borély (1926), Denis (1920) e Camoin,
(1920), além dos livros de Larguier (1925), Gasquet (1926) e Vollard (1914), primeiro marchand
de Cézanne. Todos os autores, em seus textos, falam sobre suas visitas a Cézanne e descrevem
suas impressões sobre o homem e o artista. Ressalte-se ainda que a obra de Cézanne foi objeto de
diversas interpretações psicanalíticas, destacando-se, nesse campo, os estudos de Sidney Geist,
Theodore Reff e Meyer Schapiro.
Arte e vitalidade [ 313 ]
Tarsila, ao contrário, teve a seu favor “o fato de ter sido uma mulher
bonita. [...] Se isso jamais interferiu diretamente na avaliação que os
contemporâneos fizeram do seu talento, auxiliou-a sem dúvida a cumprir
seu destino” (pp. 269-72).
Sérgio Miceli, por sua vez, considera que
[ 314 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
Em seu texto, Miceli refere-se ainda ao amor platônico de Anita por seu amigo Mário e analisa
8
alguns de seus quadros dentro desse prisma. Já Tadeu Chiarelli critica enfaticamente a hipótese de
que a suposta fraqueza emocional de Anita foi a causa de seu retrocesso no campo das artes. Para
Chiarelli, Anita sofreu do mesmo descaso com que a história da arte oficial do século XX tratou
“os artistas que, apenas circunstancialmente, tangenciaram o projeto moderno no decorrer de
suas trajetórias e/ou que se engajaram por breve período nas correntes que contestavam tanto a
tradição quanto a própria modernidade” (1999, p. 158). O autor entende o abandono de posições
estéticas mais radicais como uma “atitude comum a outros artistas internacionais igualmente ligados
às vanguardas, como Picasso, Derain, Sironi e outros”.
Arte e vitalidade [ 315 ]
deve ser entendida como atividade múltipla e não como “a voz de uma só
e mesma pessoa [...] a revelar a sua confidência” (p. 63).
Mesmo obras como a de Proust, escritor que parece “colocar sua vida
em seu romance”, demandam análises que ultrapassem a figura do autor
enquanto criador absoluto, gênio solitário, e a visão da arte enquanto
expressão de uma personalidade singular cujos passos e pensamentos
podem ser acompanhados e desmembrados. Na opinião de Barthes, Proust,
ao contrário do que muitos pensam, logrou desorganizar a lógica ilusória
da biografia, lógica essa que segue “a ordem puramente matemática
da passagem dos anos”, subtraindo o tempo rememorado da “falsa
permanência da biografia”. Se, em seus textos, numerosos elementos de sua
vida pessoal são ainda conservados, eles estão, afirma Barthes, desviados:
“Como se vê, o que passa para a obra é, de fato, a vida do autor, mas uma
vida desorientada. [...] Proust entendeu (e aí está o gênio) que ele não tinha
que contar sua vida, mas que sua vida tinha, entretanto, a significação de
uma obra de arte” (pp. 354-5).9
A hipótese de Barthes será rapidamente contestada por intelectuais do
porte de Michel Foucault, que, em conferência proferida em 1969, busca
distanciar-se da escola estruturalista francesa que nega o sujeito, defendendo
a importância de uma análise histórica dos discursos e de suas modalidades
de existência (modos de circulação, valorização, atribuição etc.), não mais
centrada em seu valor expressivo ou formal (Foucault, 1992). A seu ver, não
se pode decretar a morte do autor ou do sujeito, embora entenda que desde
Mallarmé “o desaparecimento do autor é um acontecimento constante”.
Foucault não propõe um retorno à hipótese de um sujeito originário,
portador de sentidos próprios e desgarrado das condições histórico-sociais
de sua existência. Interessa-lhe, ao contrário, refletir sobre a constituição
e as transformações da “função autor” no contexto da cultura europeia do
período moderno, assim como investigar as condições que possibilitaram a
um determinado indivíduo desempenhar essa função momentaneamente.
Esse debate, inicialmente voltado para o domínio dos estudos literários,
reverberará rapidamente no campo das artes visuais, talvez em função de
questões colocadas por trabalhos como o de Boltanski e de outros artistas
comprometidos com uma investigação conceitual da arte e do “sistema de
arte”. Como vimos, o nome do autor parecia desvanecer-se em obras que
De modo similar à leitura de Merleau-Ponty sobre Cézanne, Barthes considera que Proust “fez da
9
sua própria vida uma obra de que o livro foi como o modelo”.
Arte e vitalidade [ 317 ]
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Arte e vitalidade [ 319 ]
verbetes
[ 322 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
Verbetes [ 323 ]
Apropriação
Fernanda Pequeno
Esse legado foi tamanho que, nos anos 1950, Robert Rauschenberg
realizou suas Combine paintings, que são assemblages realizadas pelo acúmulo
de diversos materiais de diferentes procedências. Enquanto isso, seus colegas
da pop art, desejando estabelecer uma comunicação direta com o público,
utilizaram elementos retirados da cultura de massa e da vida cotidiana.
Para tal, apropriaram-se usualmente de imagens da publicidade e do mundo
comercial, como fez Andy Warhol, e de histórias em quadrinhos, como fez
Liechtenstein.
No Brasil, Hélio Oiticica desenvolveu sua Mesa de bilhar, d’après O café
noturno de Van Gogh em 1966 e a apresentou na mostra Opinião 66, no Museu
de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Além do referido ambiente, o artista
carioca utilizou o princípio da apropriação em seus bólides, caracterizados
por ele como transobjetos: objetos e materiais de uso cotidiano – cubas de
vidro, bacias, garrafas, latas, luminárias, caixas d’água – deslocados para o
campo da arte. Ainda no país, o mecanismo foi largamente aplicado por
Nelson Leirner, Farnese de Andrade e outros.
Ao enviar seu ready-made para a Exposição dos Independentes (Nova
Iorque, 1917), e embora não esperasse a aceitação do mictório como obra e
desejasse polemizar, Duchamp não poderia prever o amplo alcance que sua
manobra alcançaria. Dessa maneira, não foi em vão os editores da revista
October lançarem o livro O efeito Duchamp (Buskirk e Nixon, 1996),1 nem o
teórico Thierry de Duve (1989) indagar, anteriormente, sobre as ressonâncias
do ready-made. Assim, as modificações causadas pelo procedimento da
apropriação foram extremamente profundas, já que essa, enquanto operação
artística, coloca indagações quanto à originalidade, à autenticidade e à
autoria da obra de arte, questionando, a um só tempo, a instituição-arte e a
própria dificuldade enfrentada na tentativa de definição do que viria a ser
a própria arte.
Referências
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Press, 1996.
DE DUVE, Thierry. Resonances du readymade. Nîmes: Jacqueline Chambon, 1989.
WOLLHEIM, Richard. A pintura como arte. São Paulo: Cosac Naify, 2002.
O livro foi editado na tentativa de mapear o legado de Marcel Duchamp e sua recepção por parte
1
dos artistas a partir dos anos 1950. Incluindo ensaios e entrevistas de Benjamin Buchloh, Hal Foster
e outros, investiga, inclusive, o efeito Duchamp na arte conceitual.
[ 326 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
Arquitetura
Antônio Barros
Elena O’Neill
Torres-García, em La recuperación del objeto, faz uma autocrítica e questiona uma excessiva influência
2
pintura, da escola e da experiência – tenha sido o elemento anímico, simbólico e religioso, e não a
questão construtiva (apud Exposição Imaginarios prehispánicos..., 2006, p. 118).
[ 330 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
Referências
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Verbetes [ 331 ]
Arte e arquivo
Felipe Abdala
Arte e corpo
***
Arte e Egito
Evelyne Azevedo
Arte e budismo
Bony Braga
Arte e historiografia
Igor Valente
Arte e indumentária
Larissa Carvalho
Arte e islão
Evelyne Azevedo
Arte e mercado
Referências
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[ 350 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
Arte e Mesoamérica
Antônio Barros
Arte e psicologia
Na teoria das catástrofes de René Thom (2004), o processo de invenção (destruição criadora) nada
5
mais é do que o nascimento ou a aparição de uma nova forma, isto é, um processo de morfogênese,
criação ou ruptura de uma forma preexistente e, portanto, uma zona de descontinuidade qualitativa
do processo morfogenético que dá origem a uma catástrofe do tipo dobra (destruição ou criação
de uma forma), caracterizando um salto qualitativo no movimento.
[ 354 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
Referências
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Verbetes [ 355 ]
Bony Braga
“Que o senhor aja como senhor, que o vassalo aja como vassalo, que o
pai aja como pai e que o filho aja como filho”, diz um adágio confucionista.
O pensamento da China antiga fundava-se em um apreço profundo à ideia
de ordem, o que podemos constatar por algumas sentenças do Livro dos ritos:
O desejo não pode ser seguido, a vontade não pode ser plena, a alegria
não pode ser extrema [...] o caminho, a virtude, a benevolência e a
justiça, sem o espírito ritual, não serão concluídos [...] as relações
entre o senhor e o vassalo, o superior e o inferior, o pai e o filho, os
irmãos mais velhos e os irmãos mais novos, sem o espírito ritual, não
estarão estabelecidas (tradução minha).
Arte e taoísmo
Bony Braga
Arte e transexualismo
Raphael Fonseca
Referências
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Verbetes [ 361 ]
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Verbetes [ 363 ]
Caricatura
Fernanda Marinho
Colagem
materiais faz com que se instaure uma dubiedade entre o que está dentro e
o que está fora, o que é figura e o que é fundo, onde há profundidade e onde
há planaridade. Outros trabalhos de Picasso que discutem a representação
falseando-a são os pastiches. Através de desenhos, reúnem corpos formados
por linhas algumas vezes sem qualquer sombreado, com rostos realistas à
la Ingres, estabelecendo uma relação irônica com a história da arte e com a
tradição. Picasso não misturava colagens de papéis de parede ou dos jornais
– ainda sem imagens – nesses pastiches. Ele separava, em sua produção, o
uso de objetos do cotidiano e o uso de referências da história da arte. Por
mais que os papiers collés problematizassem a representação e o estatuto da
arte ao inserir elementos não pictóricos no campo plástico, e por mais que
o pastiche ironizasse os modos de representação, imitando-os, falseando-
os, ainda se preservava certa separação entre a arte feita com elementos do
mundo e o pastiche feito com obras de arte.
Diferentemente de Picasso, contemporaneamente, destacamos as
colagens da série Releitura da Bíblia (1984-1990), do artista argentino León
Ferrari (1920), que põem em diálogo imagens da história da arte com outras,
veiculadas em jornais e em outros impressos. Nos trabalhos de Ferrari, essas
instâncias se combinam, têm o mesmo valor no espaço plástico: o de imagem
reproduzida e constantemente veiculada pelas mídias. Nesse sentido, são
tomadas como parte do real tanto quanto o papel de parede de Picasso. Suas
colagens reúnem, por exemplo, a imagem de um helicóptero da Guerra do
Vietnã e a reprodução de A visão de São Bernardo, de Perugino (Helicóptero,
1988); ou a imagem do Criador de A criação do sol, da lua e das plantas, de
Michelangelo, sobre a imagem do Vaticano (Incircuncisos, 1988); ou as de
anjos apocalípticos sobre a imagem da bomba atômica (Apocalipse, 1988); ou,
ainda, a Anunciação, de Fra Angelico, sobre a imagem da seção “Fecundação”
da parte de ginecologia em um livro de ciências (Fecundação, 1988). Ao
empregar reproduções de obras do renascimento e misturá-las com outras
imagens, Ferrari provoca ruídos formais e conteudísticos. A distinção entre
elas é marcada pela escala, pela organização dos próprios elementos e/ou pelas
variadas especificidades cromáticas dos recortes. Os elementos da colagem se
caracterizam pela precariedade em que se unem, sem que se harmonizem ao
todo. Nos trabalhos de Ferrari, também se estabelece uma relação dialética
entre os componentes da colagem, como visto em Picasso; além disso,
problematiza-se a compreensão geral dessas imagens na cultura de massa de
modo a construir internamente a significação da obra por meio das analogias
[ 368 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
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O Fumacê do descarrego é obra do Coletivo Rradial, composto por Vogler, Ronald Duarte e Luis
6
de origem Ashanti. O crocodilo vive na água e anda na terra, demonstrando uma capacidade de
adaptação às circunstâncias. Ao partilhar o mesmo estômago, torna-se signo da tolerância e da
diversidade (Price, 1975, p. 31).
[ 386 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
Mônica Linhares
“ A artista plástica Susane Wenger (também chamada Aduni Olorisá) é austríaca residente em
8
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Opa Oraniã – atribuído ao túmulo de Oraniã. “Nenhum túmulo foi encontrado nas proximidades
10
do obelisco de granito com seis metros de altura e 125 cravos tacheados em forma de um tridente
[...] Pode ser bem mais antigo do que a época que lhe põem as tradições” (Silva, 1992, p. 444).
[ 388 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
Paisagem
Carla Hermann
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[ 390 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
Perspectiva
Leidiane Carvalho
nítidos e seus contornos, mais difusos. Nessa mesma época, encontra-se outro
modo de representação perspéctica, que se opõe à linearidade albertiana.
Pintores como Tiziano optam por uma perspectiva cromática que constrói os
corpos pela modulação tonal e a relação figura e fundo também do mesmo
modo, dirigindo o olhar do observador pelo equilíbrio das cores e não pela
configuração de linhas na tela. Fica evidente que, numa mesma época, pontos
de vista convivem e produzem a riqueza de suas representações artísticas.
A perspectiva como usada durante o renascimento tornou-se
paradigmática para a história da arte e as expressões artísticas posteriores.
Desde então, apropriações, negações, desconstruções e reconstruções dela
ocorrem ao longo dos séculos, entrelaçando-se com outros pontos de vista
que se formam e se renovam.
[ 392 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
Pintura
Gilton Monteiro
Retrato
Raphael Fonseca
Tadeu Lopes
Tradição clássica
Fernanda Marinho
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Bibliografia geral [ 419 ]
A Aleixo, Ricardo 70
Alemanha 29, 42, 178, 188, 194, 209,
Abdala, Felipe 7, 333 226, 228
Abreu, Estela Santos 198, 408 Alexandre, O Grande 23
Abstração Al-Ghasâli 100
Geométrica 79 Ali 85, 86, 101, 187, 190, 211, 260
Lírica 377 Aliaga, José Vicente 295
Academia Aliaga, Juan 298
de San Carlos 274 Ali, Husain ibn 101
Imperial de Belas Artes 157, 244, Al-Khwarizmi 85
245, 250, 253, 416 Alloway, Lawrence 362
Achebe, Chinua Almeida, D. Tomás de 92, 93
Arrow of God 397 Alphonsus, Luiz 29
Adamson, Glenn 49, 406 Altamira 114
Ades, Daw 275 Alves, Ephraim Ferreira 198, 406
Adorno, Theodor W. Alÿs, Francis
Afrescos de Pompeia 363 When faith moves mountains 169
A pesagem do falo 286 Amaral, Aracy 313
África Amaral, Tarsila do
do Norte 114 Autorretrato com casaco vermelho 314
do Sul 114, 116, 196, 429 América
Afrodescendência 66, 385, 406, 427 do Norte 155, 156
Agamben, Giorgio 162, 163, 170, 188, Espanhola 273
196, 303 Latina 7, 169, 191, 236, 269, 273,
Agucchi, Giovanni Battista 363 275, 276, 277, 278, 328, 401, 403,
Ahtila, Eija-Liisa 406, 413
Where is where? 162 Mesoamérica 7, 185, 186, 350
Aitken, Doug 166 Portuguesa 91, 93
Albano, Francesco 251 American Academy 275
Alberro, Alexander 61, 405 American Art-Union 275
Albers, Josef 64, 336 Análise formalista 376
Alberti, Leon Battista 326, 364, 390, 399 Andrade, Carlos Drummond de 70
Albuquerque, Georgina de Andrade, Farnese de 325, 362
Maracá 150 Andrade, Lúcia 302
Moça no jardim 150 Andrade, Oswald de 191, 314
Sessão do Conselho de Estado 150 Andreae, Bernard 128
Alcorão 100, 108
[ 422 ] História da ARTE – ensaios CONTEMPORÂNEos0
H 246, 247, 251, 252, 271, 281, 291, 294,
295, 297, 299, 303, 304, 305, 308, 309,
Haacke, Hans 313, 314, 335, 342, 343, 365, 366, 367,
A liberdade será patrocinada agora 374, 375, 391, 396, 400, 402, 403
somente em moedinhas 348 Ocidental 359
Haar, Leopoldo 63 Ocidental moderna 359
Habermas, Jurgen 189 Historicismo 10
Hafez, Mohammed M. 107, 110, 411 Historiografia da arte 11, 157, 159, 175,
Hals, Frans 187, 189, 245, 246 178, 180, 282, 293
Harmódio e Aristógiton 283 Hitler, Adolf 105
Harvey, David 41 Hobsbaum, Eric 187, 199, 411
Hattstein, Markus 85 Hokusai, Katsushika
Hauser, Arnold 11 Ejiri na província de Suruga (Sunshu
Heartney, Eleanor 232 Ejiri) 20
Hegel, Georg Willhelm Friedrich 383, Ukiyo-e 19, 20, 21
392 Holanda 187, 193, 304
Heidegger, Martin 336 Holman Conwill, Kinshasha 236
Heinich, Nathalie 309, 318, 411 Homem vitruviano 9, 326
Henri-Pierre, Jeudy 49, 412 Homero 26, 284
Hermann, Carla 7, 376, 388 Horsch, Silvia 99, 110, 411
Heródoto 338 Houseman, Michael 118, 124, 411
Herói Houzel, Didier 352, 354, 411
Agamemnom 337 Hug, Alfons 235
Aquiles 128, 284 Humboldt, Alexandre van 187
Aristógiton 283, 284 Huxley, Aldous 42
Cícero, Marcus Tullius 133
Cocles, Horatius 133 I
Curtius, Marcus 6, 125, 132, 133, 136
Harmódio 283, 284 I-ching 68
Laocoonte 23, 125, 126, 127, 128, Ícone 74, 104, 241, 289
129, 130, 131, 135, 136, 137, 399, 402 Iconografia 25, 101, 102, 129, 130, 134,
Mus, Publius Decius 133 135, 136, 287, 291, 338, 341, 356
Scaevola, Mucius 133 Idade Média 97, 102, 132, 138, 139, 179,
Sêneca, Lucio Aneu 133 186, 224, 225, 247, 261, 267, 309,
Ulisses 127 315, 346
Hesse, Eva 298 Identidade
He, Xie 357 Cultural 235, 277
Hieróglifos 338, 339 Institucional 217, 221
Hildebrand, Adolf von 55 Latino-americana 328
Hiparco 284 Igreja
Hiper-realismo 400 Católica 24, 106, 368
Hirschhorn, Thomas 197 da Madre de Deus (Recife, Brasil)
Hirst, Damien 92
Bezerro de ouro 373 de Guadalupe (Espanha) 262
História de Santo Stefano Rotondo (Roma,
da arte 10, 11, 12, 13, 14, 18, 19, 24, 32, Itália) 102
53, 69, 70, 72, 73, 78, 79, 97, 114, 120, de São Pedro dos Clérigos (Mariana,
140, 145, 150, 152, 153, 175, 176, 177, Brasil) 92
179, 182, 183, 193, 195, 205, 206, 207, Militante 96, 105, 106
209, 215, 217, 222, 223, 225, 242, 245, Paleocristã 99
Índice remissivo [ 433 ]
Q Rennó, Rosângela
Arquivo Universal e Biblioteca 30
Quincy, Quatremère de 263 Renoir, Pierre-Auguste 150, 258, 259,
260
R
República do Congo 181
Rafael Sanzio Retórica 230, 256, 309, 311, 399
Escola de Atenas 264 Retratística 187, 372, 394, 395
Rainha Retrato
D. Maria I 174 de Estado 394
Elizabeth I 394 de grupo 186, 187
Maria Antonieta 269 Revolução
Ramalho, José Cardoso 91 Francesa 32, 175, 232
Rancière, Jacques 163, 165 Mexicana 351
Rapto de Ganímedes 287 Ribeiro, Berta 269
Rauschenberg, Robert 325, 362, 365 Ribeiro, Carlos Flexa 12
Ray, Man 44, 291, 301, 379, 381 Ribeiro, Maria Eurydice de Barros 138
Read, Herbert 177 Ribera, José de 206, 359
Ready-made 325 Riedweg, Walter 30
Ready-mades 33, 36, 39, 44, 181, 324, 331, Riegl, Alois 82, 187
362, 400 Rio de Janeiro (Brasil) 10, 12, 13, 29, 32, 3
Reff, Theodore 312 5, 70, 71, 87, 91, 96, 123, 124,
Rei 137, 151, 157, 158, 160, 175, 182,
Carlos IV 394 198, 199, 211, 213, 217, 218, 245,
Carlos IX 227 250, 253, 257, 271, 278, 292, 295,
D. João V 96, 174 305, 317, 318, 325, 349, 386, 387,
D. João VI 244, 245, 252, 253, 402, 397, 401, 402, 403, 405, 406, 407,
416, 418 408, 409, 410, 411, 414, 416, 417,
Don Pelayo 262 418, 419
Francisco I 174 Riscadura
Luís XIV 175, 176, 269, 359 Afro-brasileira 66, 68
Luís XVIII 187 Rivera, Diego 351
Montezuma 131, 186 Robia, Lucca della 226
Reichel, Peter 111, 417 Rocha, Camilla 348, 374
Reinach, Salomon 178 Rococó 246, 359
Religião Rodchenko, Aleksandr 191
Afro-brasileira 67, 68 Rojas, Rolando 351
Cristã 132, 136 Rolnik, Suely 197, 198, 408
Grega 24, 27 Roma (Itália) 10, 23, 69, 78, 87, 92, 93,
Ioruba 386 101, 102, 104, 109, 110, 117, 128,
Rembrandt van Rijn 129, 130, 137, 174, 224, 229, 247,
A ronda noturna 186, 187 248, 252, 265, 285, 286, 394, 402,
Renascença 10, 160, 218, 282, 410 403, 405, 411, 413
Renascimento 74, 75, 76, 77, 129, 134, Romano, Gian Cristoforo 265
136, 152, 153, 176, 177, 182, 186, Romano, Giulio 249
188, 198, 218, 245, 246, 247, 248, Romantismo 188, 246
249, 251, 266, 270, 286, 310, 311, Rosenberg, Harold 33, 35, 330, 417
326, 351, 367, 368, 369, 383, 391, Rosler, Martha
395, 399 The bowery in two inadequate descrip-
Reni, Guido 249 tive systems 195
Índice remissivo [ 441 ]
X
Xiismo 101
Xintô 21
Y
Yu-Chin, Tseng
Who’s listening n. 5 197
Z
Zaidi, Muntazer al 336
Sobre os autores
Alexandre Santos
Doutor em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS, 2006). Docente do curso de graduação e do Programa de Pós-
Graduação em Artes Visuais da UFRGS. Desenvolve pesquisas nas áreas de arte
contemporânea, história da fotografia, arte e gênero na contemporaneidade.
Ana Magalhães
Doutora em Artes pela Universidade de São Paulo (USP, 2000). Professora da
Divisão de Pesquisa em Arte, Teoria e Crítica do Museu de Arte Contemporânea
da USP. Desenvolve pesquisas nas áreas de acervos estrangeiros no Brasil,
fotografia contemporânea e arte moderna.
Cezar Bartholomeu
Doutor em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ,
2008), com PDEE realizado na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais
EHESS Paris, França. Professor da Escola de Belas Artes da UFRJ. Artista
e pesquisador, desenvolve estudos prioritariamente no campo das imagens
técnicas, com destaque para os temas: fotografia, arte contemporânea, arte
conceitual, estética, teoria da imagem e teoria da arte, em particular as teorias
e a história da fotografia.
Dária Jaremtchuk
Doutora em Artes pela Universidade de São Paulo (USP, 2004). Professora
de história das artes da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP
e do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da mesma universidade.
Desenvolve pesquisas na área de história da arte, atuando principalmente
nos seguintes temas: arte contemporânea, arte conceitual e arte brasileira
contemporânea.
Guilherme Bueno
Doutor em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ,
2005). Diretor do Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC).
Desenvolve pesquisas a partir dos temas: arte contemporânea no Brasil, arte
contemporânea, arte moderna, historiografia e arte moderna, teorias da arte e
formalismo.
Sobre os autores [ 447 ]
Jens Baumgarten
Doutor em História da Arte pela Universidade de Hamburgo (2002), com
pós-doutoramento pela Universidade Nacional Autônoma do México (2003),
pela Universidade de Dresden (2003), pela Universidade da Basileia (2004)
e pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp, 2005). Professor da
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Desenvolve pesquisas em história
da arte e cultura visual, com destaque para a arte no Brasil colonial.
Marcelo Campos
Doutor em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ,
2005). Professor dos cursos de graduação (artes visuais – bacharelado e
licenciatura; história da arte – bacharelado) em Artes do Instituto de Artes
da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Desenvolve pesquisas
a partir dos temas: arte contemporânea, arte no Brasil, antropologia da arte,
hibridismos culturais, história e teoria da arte e curadoria.
Maria Berbara
Doutora em História da Arte pela Universidade de Hamburgo (1998), com pós-
doutoramento pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de
São Paulo (USP, 2004) e pela Universidade de Leiden, Holanda (2007). Professora
dos cursos de graduação (artes visuais – bacharelado e licenciatura; história da
arte – bacharelado) e do Programa de Pós-Graduação em Artes do Instituto de
Artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Desenvolve pesquisas
na área de Renascimento italiano e ibérico e tradição clássica.
Paulo Knauss
Doutor em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF, 1998), com
pós-doutoramento pela Universidade de Estrasburgo, França (2006). Professor
do Departamento de História e do Laboratório de História Oral e Imagem da
UFF. Desenvolve pesquisas na área de história sobre as relações entre memória
e patrimônio cultural, explorando os campos da história da arte, história da
imagem, história oral, história urbana e historiografia.
Rafael Cardoso
Doutor em História da Arte pelo Courtauld Institute of Art, Universidade de
Londres (1995). Escritor e historiador da arte, atua como professor visitante
da Escola Superior de Desenho Industrial da Universidade do Estado do Rio
de Janeiro (UERJ) e do Programa de Pós-Graduação em Artes do Instituto
de Artes da mesma universidade. Desenvolve pesquisas na área de história da
arte e do design, com destaque para os temas: memória gráfica brasileira, artes
gráficas e visuais na modernidade brasileira e história do design no Brasil.
Ricardo Basbaum
Doutor em Artes pela Universidade de São Paulo (USP, 2008). Artista e
pesquisador, atua como professor dos cursos de graduação (artes visuais –
bacharelado e licenciatura; história da arte – bacharelado) e do Programa de
Pós-Graduação em Artes do Instituto de Artes da Universidade do Estado do
Rio de Janeiro (UERJ). Desenvolve pesquisas na área de artes visuais, com
ênfase em produção e crítica da arte contemporânea.
Sobre os autores [ 449 ]
Roberto Conduru
Doutor em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF, 2000).
Professor dos cursos de graduação (artes visuais – bacharelado e licenciatura;
história da arte – bacharelado) e do Programa de Pós-Graduação em Artes
do Instituto de Artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ),
bem como do Programa de Pós-Graduação em Educação, da Faculdade de
Educação da mesma universidade. Desenvolve pesquisas na área de história da
arte, com destaque para os seguintes temas: arte, cultura e afrodescendência no
Brasil; arte no Brasil; arte moderna e contemporânea; e arquitetura moderna
e contemporânea.
Stefania Caliandro
Doutora em Ciências da Linguagem: Arte e Literaturas, pela Escola de Altos
Estudos em Ciências Sociais, Paris (1999), com pós-doutoramento pela
Universidade de Aarhus, Dinamarca (1999), pela Universidade Católica
de Leuven, Bélgica (2003) e pela Universidade de Friburgo, Suíça (2007).
Colaboradora no Departamento de História e Conservação do Patrimônio
Artístico e Arqueológico da Universidade de Roma. Desenvolve pesquisas na
área de arte e semiótica estética, com destaque para os temas: teoria da arte,
arte contemporânea, metadiscurso crítico, fruição e percepção estética, sentido
e mediação cultural e espacialidade da arte.
Viviane Matesco
Doutora em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ,
2008). Professora da Universidade Federal Fluminense (UFF). Desenvolve
pesquisas em história e crítica da arte, com destaque para os temas: a questão
do corpo na arte e arte moderna e contemporânea brasileira.
Formato 18 x 26
Tipologia: GoudyOlSt BT (texto) Humanst521 BT (títulos)
Papel: Couchê Matte 90g/m2 (miolo)
Supremo 250 g/m2 (capa)
CTP, impressão e acabamento: Editora Vozes