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EMERGÊNCIA DO PATRIMÔNIO

II
DA COLETA À
ACUMULAÇÃO/PRESERVAÇÃO
A coleta, posse, classificação e valor de objetos são
universais.

Quando tais atividades foram relacionadas à


acumulação ou preservação públicas algo mudou.

Preservação e patrimônio surgem quando se passou a


estudar como conservar os edifícios, ruínas e artefatos.
PATRIMÔNIO COMO COLEÇÃO
A patrimonialização é um processo de formação de uma
coleção.

Sua origem é o sentimento de piedade, mas relacionado


a valores laicos.

A partir do culto moderno dos objetos antigos que se


tornou possivel o patrimônio.
Monumento: o que foi construído para
trazer a memória;

Monumento histórico: o que foi


EMERGE O ressignificado como dotado de valor de
artistico e histórico.
MONUMENTO
HISTÓRICO NO SÉCULO As noções de arte de história deram
novos valores e um novo sentido ao
XIX culto dos monumentos.

O culto moderno dos monumentos, ou


seja, o monumento histórico, se formou
graças à nação.
CONTEMPORÂNEOS DO
MONUMENTO HISTÓRICO
O Romantismo inaugurou o culto ao passado pela distância.

O Historicismo inaugurou a ideia de que cada época tem sua


singularidade.

A arte e a história tornaram o passado próximo.

O monumento histórico é tanto algo dotado de presença (objeto


de arte) como de uma narrativa (objeto histórico).
A ARTE DE VER/TOCAR O PASSADO
Os monumentos seriam dotados de forte presença afetiva e material.

Como formas sobreviventes de beleza, eles permitiam a presença do


passado no presente.

Seu valor estético, portanto, é um produtor de novidade.


A NARRATIVA DO PASSADO
VISTO/TOCADO
Os monumentos também são dotados de uma história.

Por meio deles se pode ver/tocar e narrar o passado.

Eles são a prova/documento do passado que narram.

São dotados por isso de valor de memória de caráter histórico.


Tem como antecendete principal o projeto do jurista
Jair Lins, de meados dos anos 1920: criação de um
inventário dos Monumentos Brasileiros.

LEI 25 DE 1937: Aquele projeto fora derrubado por


CRIA O SPHAN inconstitucionalidade: esbarrou no direito inalienável
de propriedade.

O lendário anti-projeto de Mário de Andrade foi


possivel graças a mudanças constitucionais.
O que? Bens movéis e imovéis –
indicaçação monumental.

Seleção definida pela


excepcionalidade do bem cultural.

Fatos memoráveis da história do Brasil.

1937: MODELO Marcado por valores histórico,


arqueológico, etnográfico,
MONUMENTAL- bibliográfico e artístico.

ARQUITETÔNCIO
A PROPRIEDADE PRIVADA E A
PROPRIEDADE PÚBLICA
O patrimônio só foi possivel por uma mudança constitucional.

A lei brasileira condiciona as formas de patrimônio que são


partilhadas como públicas.

Nos anos 1930 ocorreu uma mudança no direito de propriedade.


DE 1821 A 1934: A PLENITUDE DE PROPRIEDADE
Constituição de 1824: “Art. 179. A inviolabilidade dos
Direitos Civis, e Políticos dos Cidadãos Brazileiros, que tem
por base a liberdade, a segurança individual, e a
propriedade, é garantida pela Constituição do Império, pela
maneira seguinte:
XXII. É garantido o Direito de Propriedade em toda a sua
plenitude. Se o bem publico legalmente verificado exigir o
uso, e emprego da Propriedade do Cidadão, será elle
préviamente indemnisado do valor della. A Lei marcará os
casos, em que terá logar esta única excepção, e dará as
regras para se determinar a indemnização”.
DE 1934 A 1988: O INTERESSE SOCIAL OU
COLETIVO
Na Constituição, de 1934 surgiu a idéia de que o direito de propriedade não pode
ser exercido contra o interesse social ou coletivo.

A Constituição outorgada, de 1937, restringiu completamente o direito de


propriedade aos termos da Lei.
CONSTITUIÇÃO DE 1934
“Art 113 - A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade dos direitos concernentes à
liberdade, à subsistência, à segurança individual e à propriedade,
nos termos seguintes:
17) É garantido o direito de propriedade, que não poderá ser
exercido contra o interesse social ou coletivo, na forma que a lei
determinar. A desapropriação por necessidade ou utilidade pública
far-se-á nos termos da lei, mediante prévia e justa indenização. Em
caso de perigo iminente, como guerra ou comoção intestina, poderão
as autoridades competentes usar da propriedade particular até onde
o bem público o exija, ressalvado o direito à indenização ulterior.
CONSTITUIÇÃO DE 1988
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano
e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna,
conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
I - soberania nacional;
II - propriedade privada;
III - função social da propriedade;
(…)
VI - defesa do meio ambiente;
VII - redução das desigualdades regionais e sociais;
ARTIGO 216. CONSTITUIÇÃO FEDERAL 1988
Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados
individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória
dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:

I - as formas de expressão;

II - os modos de criar, fazer e viver;

III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;


IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às
manifestações artístico-culturais;

V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico,


paleontológico, ecológico e científico.

§ 1º O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o


patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e
desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação.
§ 2º Cabem à administração pública, na forma da lei, a gestão da documentação
governamental e as providências para franquear sua consulta a quantos dela necessitem.

§ 3º A lei estabelecerá incentivos para a produção e o conhecimento de bens e valores


culturais.

§ 4º Os danos e ameaças ao patrimônio cultural serão punidos, na forma da lei.

§ 5º Ficam tombados todos os documentos e os sítios detentores de reminiscências históricas


dos antigos quilombos.
DECRETO LEI 3.511, 4 AGOSTO 2000
Art. 1o Fica instituído o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial que constituem
patrimônio cultural brasileiro.
§ 1o Esse registro se fará em um dos seguintes livros:
I - Livro de Registro dos Saberes, onde serão inscritos conhecimentos e modos de fazer
enraizados no cotidiano das comunidades;
II - Livro de Registro das Celebrações, onde serão inscritos rituais e festas que marcam a
vivência coletiva do trabalho, da religiosidade, do entretenimento e de outras práticas da
vida social;
III - Livro de Registro das Formas de Expressão, onde serão inscritas manifestações
literárias, musicais, plásticas, cênicas e lúdicas;
CONFIGURAÇÃO DA CIDADANIA
Valores políticos do patrimônio se desenvolveram a partir da inserçao da
nação.

A ideia de posse coletiva e parte do exercício da cidadania abriu caminho


ao patrimônio.

Tornava visível e real a entidade imaginária que era a nação.

Eram provas materiais das narrativas nacionais


ONU
Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948.

Surge uma concepção de de direitos sociais, econômicos e culturais.

Prescreve-se a nacionalidade como a condição da cidadania.


Artigo 22°
Toda a pessoa, como membro da sociedade, tem direito à
segurança social; e pode legitimamente exigir a satisfação
dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis,
graças ao esforço nacional e à cooperação internacional, de
harmonia com a organização e os recursos de cada país.
MUDANÇAS SOCIAIS PÓS-1950
Surgimento de novos atores no cenário mundial: estados africanos e
asiáticos.

Reorganização de antigos (ou recentes) atores nos cenários nacionais:


comunidade subalternas ou excluídas:
a) negros.
b) indígenas.
c) nipo-brasileiros.
d) italo-brasileiros.
NOVAS CONCEPÇÕES CULTURAIS
Ocorreu um deslocamento no papel das nação.

Noção de direitos culturais e cidadania adquire um novo papel.

As concepções de excepcionalidade que estavam na origem do


patrimônio foram substituídas pela noção de autenticidade.
CIDADANIA
DIREITOS POLÍTICOS: primeira geração (a escolha na gestão do
governo e liberdades individuais).

DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAS E CULTURAIS: segunda geração


(valores de igualdade de oportunidade, de usos de serviços e de
expressão pública).

DIREITOS DE SOLIDARIEDADE: terceira geração (valores de


fraternidade em casos internos e externos).
PACTO INTERNACIONAL DOS DIREITOS
ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS (1976)
… direito ao trabalho, incluindo remuneração igual para homens e
mulheres; direito a formar sindicatos; direito de greve; direito à
previdência e assistência social; direitos da mulher durante a
maternidade; direitos da criança, incluindo proibição ao trabalho
infantil; direito a um padrão de vida razoável que inclua
alimentação, vestuário e moradia; direito a todos seres humanos de
estarem a salvo da fome; direito à saúde mental e física; direito à
educação; e direito a participar da vida cultural e científica do país.
PATRIMÔNIO ENTRE 1900-1964
Modelo eurocêntrico e branco.

Ligado aos valores históricos e artísticos nacionais.

Marcado pelas construções e coleções materiais.

Marcado pela excepcionalidade.


MODELO DE PATRIMÔNIO PÓS-1960

Monumento Patrimônio
APATRIMÔNIO CULTURAL
Não perde o significado original, mas se acrescenta de adjetivos:
genético, natural, histórico, cultural, imaterial, intangivel.

Após a guerra de 1945 o número de patrimônios duplica, mas sua


natureza é a mesma (monumeento construído).

Sofreu uma tripla expansão a partir de 1960.


VARIEDADE

Lugares

Tipos humanos e
comunidades

Tipos de materialidade
TIPOLÓGICA
GEOGRÁFICA

CRONOLÓGICA

PATRIMÔNIO CULTURAL
PATRIMÔNIO CULTURAL
CRONOLÓGICA: formas e coleções mais recentes no tempo.

TIPOLÓGICA: acento na diversidade cultural – novos tipos


de manifestação cultural não-materiais.

GEOGRÁFICA: acento na diversidade política – todos os


países e continentes.

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