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RESENHA

EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: ELEMENTOS PARA PENSAR O ENSINO-


APRENDIZAGEM CONTEMPORÂNEO

Camilla Barreto Rodrigues Cochia1


Simone de Souza2

MILL, Daniel; MACIEL, Cristiano. Educação a distância: elementos para pensar o ensino-aprendizagem
contemporâneo.

A1 Educação a Distância2 (EaD) vem se nomenclaturas utilizadas para caracterizar as


expandindo e se consolidando no Brasil e no modalidades de ensino presencial e a distância.
mundo e se apresenta como uma oportunidade Com muita propriedade, questionam a oposição
para atender à demanda por uma educação entre EaD e educação presencial, salientando que
superior de qualidade. Nesse contexto, o livro a educação de qualidade independe das noções de
Educação a Distância: elementos para pensar o espaço e tempo – a que se refere essa dicotomia
ensino-aprendizagem contemporâneo, organizado distância versus presença. Destacam também
por Daniel Mill e Cristiano Maciel, aborda a como aproveitar as inúmeras possibilidades de
questão da Educação a Distância (EaD) em aplicação das tecnologias da informação e
dezesseis artigos escritos acerca de temáticas comunicação de forma a mudar substancialmente
fundamentais para a sua compreensão. o processo educativo.
No primeiro texto, Daniel Mill enfatiza o No texto de Hermano do Carmo, este
dinamismo e a complexidade da EaD e aponta assinala que atualmente a busca incessante pelo
para as lacunas teóricas e para suas possíveis conhecimento e a capacidade de aprendizado ao
superações, refletindo sobre as NTICs, que longo da vida são condições necessárias para o
possibilitam o acesso à educação, desenvolvimento humano e, portanto, impactam
redimensionando as noções de espaço e tempo; a diretamente a área da educação. Nesse contexto,
aprendizagem e os discentes enquanto atores marcado pelas NTICs, pelo acesso à informação e
ativos e centrais nesse processo; o ensino e o pelas mudanças rápidas e contínuas, indaga sobre
papel dos docentes que atuam como mediadores o papel que cabe à educação a distância e à
na construção do conhecimento discente e a aprendizagem durante a vida como instrumento de
gestão, que deve adotar estratégias inovadoras e educação para a cidadania.
criativas para superar os desafios. Uma das questões que desperta o interesse
Em seguida, Lílian do Valle e Estrella de pesquisadores e gestores da educação, em
Bohadana se propõem a compreender as geral, e da EaD, especificamente, é a avaliação.
Maria Urbana da Silva e Delarim Martins Gomes
1 consideram que esta deve ser vista como
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação
da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Mestre em dimensão integrante do currículo, uma atividade
Administração pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), valorativa, investigativa, contínua e processual. A
Especialista em Educação a Distância pela UEM, Docente no avaliação deve servir, portanto, como instrumento
Centro Universitário de Maringá (Cesumar). E-mail: para acompanhar a prática docente e a formação
cochia@gmail.com
do discente, principalmente quando se trata do
2
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação aluno de EaD, que é adulto e precisa reconhecer
para a Ciência e Matemática da Universidade Estadual de no que aprende algo que satisfaz suas
Maringá (UEM), Mestre em Educação para a Ciência e
Matemática (UEM), Especialista em Educação a Distância e necessidades e seus interesses.
em Supervisão Educacional, Pedagoga. E-mail: Alinhado à discussão acerca do currículo e
simoneejordao@hotmail.com da avaliação está o tema discutido por Daniel
148 Resenha: Educação a Distância: elementos para pensar o ensino-aprendizagem contemporâneo

Mill, Luis Roberto de Camargo Ribeiro e Marcia Em face da complexidade que tem sido
Rozenfeld Gomes de Oliveira. Os autores apresentada e enfatizada ao longo do texto,
problematizam a atual realidade do trabalho sobretudo no que diz respeito à atuação dos
docente, que em decorrência das mudanças professores na EaD, Marco Silva reflete sobre o
vivenciadas pela sociedade e dos impactos do processo de Formar profissionais para docência
avanço tecnológico, deve ser revisado, em em cursos na internet. O autor pondera que a
especial na EaD. Fica evidente que no âmbito formação do professor deve, necessariamente,
dessa modalidade de ensino, em que há a acompanhar a evolução tecnológica,
participação de vários atores – professores, tutores particularmente no que tange aos meios de
e alunos – as palavras-chave são interação, comunicação e às formas de obtenção e
coletividade, dialogicidade e colaboração. O disseminação de informação para que o processo
professor, nesse contexto, se posiciona como um de aprendizagem aconteça de forma coletiva,
parceiro que orienta o aluno na busca pelo colaborativa e significativa, aproveitando as
conhecimento, o que implica novos saberes e potencialidades disponibilizadas pelas tecnologias
novas atitudes docentes. aplicadas à educação.
Edméa Santos dá continuidade à reflexão Em seguida, Marco Silva inicia suas
acerca dos saberes da docência online e os reflexões com breves comentários sobre a
desafios da cibercultura e discute a experiência regulamentação da EaD no Brasil e paralelamente
dos professores-tutores que atuam nos cursos de introduz as inovações provocadas pela internet,
Pedagogia e licenciatura da Universidade Estadual especialmente a Web 1.0 e 2.0, delineadoras de
do Rio de Janeiro (UERJ), no Consórcio Cederj. um contexto “sociotécnico” e aponta a
A autora ressalta que os saberes da docência necessidade de formação específica para
online são dinâmicos, vivos e sua construção é professores que pretendem atuar na Educação
permeada e altamente influenciada pela Online (EOL). Para o autor, a cibercultura e
cibercultura, exigindo dos atores que atuam na sociedade da informação permitem a transição da
EaD habilidades e competências para atuar em EaD ( modelo fechado, linear, controlado pelo
rede e utilizar as novas ferramentas professor, de aprendizagem transmissiva e
proporcionadas pela tecnologia da informação e solitário para o aluno) para a Educação Online
comunicação para organizar o processo de ensino (baseada em relações de colaboração entre alunos
e aprendizagem de modo que se trabalhe coletiva e professores, uso de múltiplas interfaces
e colaborativamente. tecnológicas, interação em rede). Contexto que
Soma-se a essa discussão a análise das apresenta muitas tensões entre aqueles que
particularidades da sala de aula virtual. Daniel resistem às mudanças e os favoráveis a ela. A
Mill e Nara Dias Brito discutem se a gestão da leitura dessas considerações exige cautela na
sala de aula virtual é diferente da presencial. Na comparação entre EaD e EOL, visto que ambas
perspectiva dos autores, a sala de aula virtual na são modalidades a distância sujeitas a relações
EaD, conhecida como Ambiente Virtual de diferenciadas entre seus atores, o que torna
Aprendizagem (AVA), depende das NTICs e, por perigoso atribuir rótulos para uma ou outra. O
isso, é constituída por espaços, tempos e grande mérito está na preocupação com a
organização pedagógica diferentes da sala de aula formação docente para novos tempos e espaços de
presencial. Os resultados de suas pesquisas aprendizagem.
indicam que, enquanto na modalidade presencial o Glauber Santiago, Daniel Mill e Alberto
trabalho e a responsabilidade pela sala de aula são Oliveira constroem sua narrativa em torno das
do professor, que domina o planejamento, o tecnologias que possibilitam a mobilidade
tempo e a interação, por exemplo, na EaD a educacional por meio de materiais audiovisuais
responsabilidade é compartilhada pelos diversos (vídeos) disponibilizados em dispositivos portáteis
atores envolvidos no processo de ensino e ou móveis tais como celulares, aparelhos MP4 e
aprendizagem, destacando-se os professores superiores. Nesse cenário, descrevem a primeira
(formadores/autores), os tutores e a equipe de experiência desenvolvida no âmbito da UAB-
apoio, como os projetistas educacionais, entre UFSCar no curso de Licenciatura em Educação
outros, cujo trabalho impacta diretamente na Musical em que foram implementados materiais
qualidade e efetividade do processo de ensinar e didáticos para mídias móveis, vivenciados e
aprender. avaliados pelos alunos desse curso. Os dados

Rev. Teoria e Prática da Educação, v. 16, n. 1, p. 147-149, Janeiro/Abril 2013


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derivados dessas experiências foram organizados Ensino Fundamental e aos docentes que lidam
em gráficos e tabelas, dos quais se depreendem as com crianças brasileiras no Japão. Para tal
análises dos autores. Importante destacar o empreendimento, as parcerias institucionais foram
atrelamento da EaD às TICs e a eficácia essenciais, bem como a formação adequada de
educacional associada ao maior número de recursos humanos para o uso das TICs.
alternativas de mídias oferecidas aos alunos. O texto de Jonilto Souza e Maria de Fátima
Prosseguindo com as reflexões, Carlos Bruno-Faria é minucioso na discussão da ideia de
Freitas, Kátia Alonso e Cristiano Maciel inovação associada à gestão na EaD. Os autores
colaboram para o entendimento de que a analisam as produções científicas nacionais e
introdução das TICs no universo educacional não internacionais, de 2005 a 2009, que versam sobre
significa o fim do livro impresso. Nesse sentido, essa temática e apresentam quadros importantes
refletem sobre o papel da biblioteca na EaD, que salientam o crescente interesse de
discutem os conceitos de informação e pesquisadores, além de pontuarem a
conhecimento, retomam brevemente a função complexidade e a dinamicidade dos sistemas de
histórica do espaço da biblioteca e assinalam a EaD.
importância do bibliotecário. Postulamque a EaD Uma experiência para cursos de extensão
impulsiona novos olhares e redimensionamento de em educação musical viabilizada a distância é
funções, bem como movimenta inovações na apresentada por André Corrêa, Fernando Rossit,
organização de informações, tornando o Glauber Santiago e Terence Santos. O mérito
bibliotecário um profissional reconhecidamente desse texto reside na proposição de um curso
importante na equipe multidisciplinar da EaD. preparatório destinado a um público leigo em
Daniel Mill e Viviane Batista, em seu texto relação à teoria e percepção musical e ao AVA,
alertam sobre o perfil do estudante de graduação futuros candidatos à prova presencial de aptidão
em EaD e as condições objetivas determinantes de musical para ingresso na Universidade Federal de
seus estudos, analisados segundo dados coletados São Carlos (UFSCar); projeto ousado, que após
entre alunos e alunas da UFSCar por meio de avaliado pelos próprios usuários, indicou a
questionário e entrevistas, revelam o percentual necessidade de uma equipe polidocente e
de estudantes que trabalham, suas estratégias de multidisciplinar para o planejamento e a execução
organização de estudos, as dificuldades do processo.
encontradas por eles ao se dedicarem aos estudos O último texto, escrito por Rogério Costa,
e para conciliá-los com o lazer, a família e o poderia ter sido o primeiro capítulo do livro por
trabalho. Elencam também os principais apresentar a EaD em três dimensões: didático-
motivadores das dificuldades do curso e pedagógica; organizativa e tecnológica. O autor é
apresentam uma tabela com as sugestões dos incisivo em marcar a dimensão didático-
estudantes sobre as estratégias de organização de pedagógica como promovedora do sucesso ou
estudos em EaD. O texto é rico em informações insucesso da aprendizagem na modalidade a
para o entendimento do aluno virtual distinto do distância, o que não significa menosprezar as
aluno presencial. outras duas dimensões, mas sim olhar
Apoiando-se em sua experiência de conjuntamente para todas elas, o que, nas palavras
docência na modalidade presencial e a distância, dos autores, “[...] permitirá formar para a
Zulmira Medeiros escreve sobre as relações sociedade do século XXI com as tecnologias”.
pedagógicas estabelecidas nos diferentes espaços Esta obra se destaca pela possibilidade de
e meios de interação. As especificidades relatadas fomentar discussões e fundamentar a atuação de
não comparam as duas modalidades, mas pontuam gestores, docentes, discentes e demais atores
teoricamente e pela descrição de experiências envolvidos no processo de ensino e aprendizagem
práticas as potencialidades advindas da na modalidade a distância. Pelo seu caráter
incorporação das tecnologias no trabalho abrangente, mas não necessariamente superficial,
pedagógico e da importância de se “constituir o livro transita entre teoria e prática em uma
convivências multiculturais”. dinâmica enriquecedora para quem quer
Kátia Alonso e Daisuke Onuki, sustentadas compreender a complexidade da EaD e buscar
pelas memórias da Universidade Federal do Mato indicações de caminhos para futuras pesquisas.
Grosso, uma das pioneiras em EaD, apresentam
um projeto destinado a professores que atuam no

Rev. Teoria e Prática da Educação, v. 16, n. 1, p. 147-149, Janeiro/Abril 2013

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