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MONTEIRO, D. A. B.; MIRON, L. I. G.; SHIGAKI, J. S.; ECHEVESTE, M. E. S. Avaliação da percepção de valor em 37
Empreendimentos Habitacionais de Interesse Social: perspectivas de técnicos e de usuários. Ambiente Construído,
Porto Alegre,v. 15, n. 4, p. 37-54, out./dez. 2015.
ISSN 1678-8621 Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído.
http://dx.doi.org/10.1590/s1678-86212015000400038
Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 15, n. 4, p. 37-54, out./dez. 2015.
Introdução
Segundo Woodruff e Gardial (1996), O modelo de Cadeia de Meios-fim tem como
pesquisadores da área de marketing, as avaliações principais objetivos identificar os valores dos
tradicionais de produtos tendem a focar na usuários e o potencial que determinados produtos
percepção dos usuários sobre os atributos físicos (meios) têm para atender a esses valores (fins) por
do produto, o que resulta em um entendimento do meio de seus atributos (GUTMAN, 1982). Para
valor percebido superficial e pouco claro. Khalifa (2004), a estrutura teórica desse modelo
Problema similar ocorre no contexto habitacional preenche uma lacuna na literatura de valor
quando as avaliações pós-ocupacionais tendem a percebido ao esclarecer por que os usuários
enfatizar apenas os atributos do produto habitação conferem diferentes pesos em suas avaliações de
em vez de características mais abstratas presentes alternativas de produtos. Woodruff e Gardial
na percepção dos usuários, influenciadas por (1996) argumentam que o modelo de Cadeia de
componentes emocionais, como os valores Meios-fim pode ser considerado em diferentes
pessoais ou objetivos esperados desses indivíduos momentos da relação do usuário como o produto,
em relação à habitação (BONATTO, 2010; por meio do valor percebido antes da aquisição
BRITO; FORMOSO; ROCHA, 2012). Diante (valor desejado), assim como do valor percebido
disso, algumas pesquisas vêm demonstrando a durante o uso de um produto (valor recebido).
importância de que esses níveis mais abstratos
Entre a principal contribuição do uso do modelo de
sejam considerados nas avaliações tanto para a
Cadeia de Meios-fim está a possibilidade de
percepção dos usuários quanto para a dos técnicos
entender como significados concretos do produto
responsáveis pelo desenvolvimento de
ganham relevância para os usuários por meio das
empreendimentos habitacionais (MIRON, 2008; relações com significados mais abstratos presentes
BONATTO, 2010; TILLMANN et al., 2011). em sua percepção (REYNOLDS; GENGLER;
Nesse sentido, as pesquisas de Coolen e Hoekstra HOWARD, 1995). Segundo Reynolds e Olson
(2001), Jusan (2010) e Zinas (2013a, 2013b) têm (2008), esse modelo atua conectando os atributos
apresentado contribuições para a compreensão e concretos de um produto aos valores pessoais dos
mensuração do comportamento de escolha e usuários por meio de uma cadeia cognitiva que
preferências dos usuários em relação ao produto possui seis níveis de abstração:
habitação. De acordo com Zinas, Bin e Jusan
(a) atributos concretos;
(2010), o comportamento de escolha dos usuários
em relação ao produto habitação geralmente está (b) abstratos;
associado a esses fatores abstratos e emocionais, os (c) consequências funcionais;
quais podem ser revelados por meio de estudos
que envolvam o valor percebido. Tais pesquisas (d) psicossociais;
têm investigado o uso do modelo Means-end (e) valores instrumentais; e
Chain (Cadeia de Meios-fim), desenvolvido por
Gutman (1982) a partir de suas aplicações nos (f) terminais.
campos da psicologia e marketing. Diante do potencial de contribuição desse modelo
Considerando o contexto dos pesquisadores da para a compreensão e estruturação dos níveis mais
área de marketing, do ponto de vista dos usuários, abstratos presentes na percepção dos usuários, o
produtos e serviços são meios para um fim, e, modelo de Cadeia de Meios-fim tem sido utilizado
portanto, a entrega de valor deveria ser baseada em como fundamentação teórica para algumas
uma compreensão mais precisa do que é percebido pesquisas com foco na avaliação de
como valor pelos usuários (WOODRUFF; empreendimentos habitacionais de interesse social
GARDIAL, 1996). Para Woodruff e Gardial (EHIS) brasileiros (MIRON, 2008; MIRON;
(1996), o julgamento de valor percebido envolve FORMOSO, 2009; BONATTO, 2010). Tais
relações complexas entre o produto que é pesquisas têm apresentado contribuições para o
oferecido (bens e serviços), com as consequências entendimento do valor percebido pelos
resultantes na situação de uso desse produto, e os beneficiários dessa tipologia de produto ao
objetivos que os usuários desejam alcançar por explorar por meio do modelo de Cadeia de Meios-
meio desse produto (os quais estão associados aos fim a percepção de valor dos técnicos (de
valores pessoais desses usuários). Tais relações prefeituras e de instituição de financiamento
podem ser desdobradas e representadas em uma habitacional) durante o desenvolvimento dos
estrutura conceitual de valor percebido, a qual é empreendimentos habitacionais (valor desejado) e
fundamentada no modelo Cadeia de Meios-fim a percepção dos usuários após sua ocupação (valor
(GUTMAN, 1982). recebido).
Em contraponto, a análise dessas pesquisas usuários sobre seu próprio comportamento em uma
também permitiu evidenciar algumas limitações estrutura de associações de conceitos.
relacionadas ao método, sobretudo dos
A partir do exposto, este artigo tem como objetivo
instrumentos de coleta e análise de dados
propor uma análise que combina as percepções de
empregados nesses estudos, os quais resultaram
valor das esferas de desenvolvimento (técnicos da
em um entendimento do valor percebido pelo
Prefeitura Municipal de Porto Alegre) e ocupação
usuário ainda limitado aos níveis de atributos e (usuários) de empreendimentos habitacionais
consequências de uso do produto habitação. As utilizando o mapeamento hierárquico de valor. A
pesquisas mencionadas utilizaram fundamentação
presente pesquisa busca avançar em relação às
teórica baseada na hierarquia de valor percebido e
contribuições já feitas possibilitando a
no modelo de Cadeia de Meios-fim. Contudo, as
identificação e explicitação dos níveis mais
mesmas pesquisas utilizaram métodos abstratos presentes na percepção dos usuários e
tradicionalmente empregados em avaliações dos técnicos, permitindo a aproximação entre as
(questionários e técnicas estatísticas), o que acabou
diferentes perspectivas envolvidas no
resultando na dificuldade de explicitação dos
desenvolvimento e ocupação do produto habitação,
níveis mais abstratos da hierarquia, como os
o que pode indicar oportunidades de melhorias
objetivos e valores pessoais dos usuários. Além
para o monitoramento de empreendimentos
disso, a análise dessas pesquisas evidenciou que os existentes e para o desenvolvimento de futuros
técnicos entrevistados demonstravam ter uma EHIS.
visão um tanto genérica e limitada aos objetivos
dos programas habitacionais brasileiros.
Metodologia
Silva (2014) identificou que tanto os conceitos
como as técnicas de mensuração tradicionalmente Estratégia de pesquisa
utilizados nas avaliações pós-ocupação tendem a
estar focados nos níveis de atributos e Para este estudo adotou-se a estratégia de pesquisa
consequências. A partir disso, a presente pesquisa construtiva (ou design science research). A
parte do pressuposto de que técnicas de pesquisa pesquisa construtiva é definida como uma
mais adequadas para a hierarquia de valor investigação capaz de produzir construções
percebido poderiam facilitar a coleta, análise e inovadoras, como modelos, planos, estruturas
disseminação de resultados. Entre as técnicas de organizacionais, produtos comerciais, projetos de
pesquisa existentes, a laddering tem sido sistema de informação, ou uma combinação desses
amplamente aplicada em pesquisas do ambiente (LUKKA, 2003). Para Kasanen, Lukka e Siitonen
construído (COOLEN; HOEKSTRA, 2001; (1993), essas construções inovadoras têm como
ZINAS; JUSAN, 2012; BRITO; FORMOSO; intuito resolver problemas de relevância teórica e
ROCHA, 2012; ZINAS, 2013b). Ao comparar os prática do mundo real e contribuir para a disciplina
resultados da aplicação das técnicas de na qual é aplicada. A Figura 1(a) apresenta as
questionário e laddering nas mesmas populações, a características da pesquisa construtiva, enquanto a
pesquisa de Silva (2014) permitiu evidenciar que Figura 1(b) apresenta um comparativo dessas
as relações entre percepções e valores pessoais características com a presente pesquisa, mostrando
eram mais claramente capturadas e explicitadas que o estudo é adequado a esses princípios.
pela técnica laddering. A técnica de pesquisa A avaliação da percepção de valor das esferas de
laddering é constituída por entrevistas em desenvolvimento (técnicos) e ocupação (usuários)
profundidade (coleta), identificação de ladders do produto habitação implica um problema do
(análise) e a representação dos dados em mundo real e de relevância prática no contexto da
Mapeamento Hierárquico de Valor (MHV) provisão habitacional, uma vez que busca obter
(interpretação) na abordagem do modelo de Cadeia informações que possibilitem entender de forma
de Meios-fim (REYNOLDS; GUTMAN, 1988). mais precisa o valor que está sendo entregue para o
Para Gutman (1991), os principais objetivos da usuário dessa tipologia de produto em comparação
laddering estão em analisar o conteúdo discursivo com a expectativa de valor por parte dos técnicos
e descrever e organizar a estrutura cognitiva dos das instituições públicas envolvidas em seu
desenvolvimento.
apresentam fotos do empreendimento obtidas do de valor dos usuários de EHIS (MIRON, 2008;
acervo pessoal dos pesquisadores. MIRON; FORMOSO, 2009; BONATTO, 2010).
De forma complementar, também foram realizadas
Questionário reuniões com técnicos da PMPA envolvidos no
desenvolvimento do EHIS (3 arquitetos, 2
Para avaliação da percepção de valor dos usuários engenheiros civis e 4 assistentes sociais do
do EHIS A.J. Renner foi construído um Departamento Municipal de Habitação - Demhab).
questionário específico. O questionário foi Nessas reuniões com os técnicos foram geradas
estruturado com base em questionários utilizados discussões sobre novos itens a serem considerados
em estudos anteriores que abordaram a percepção no questionário para a realização da avaliação.
Figura 2 - (a) Representação da implantação do EHIS A. J. Renner; (b) tipologias habitacionais; e (c) e
(d) fotos
(a)
(c) (d)
Fonte: (a) e (b) adaptado da PMPA (PREFEITURA..., 2013) e (c) e (d) acervo pessoal dos autores (2014).
Figura 3 - Mapeamento de valor com base na percepção dos técnicos da PMPA (arquitetos, engenheiros,
assistentes sociais e pesquisadores) envolvidos no processo de desenvolvimento do empreendimento
A análise do questionário dos estudos anteriores e A seção 1 teve como objetivo identificar dados
as reuniões com os técnicos auxiliaram na para controle do pesquisador, como nome, data e
identificação dos atributos do produto (base do número do questionário. A seção 2 teve como
modelo), consequências de uso esperadas (nível objetivo identificar as cinco melhores
intermediário do modelo) e objetivo do programa características do empreendimento onde o usuário
(topo do modelo). Tais informações possibilitaram reside e entender o porquê das escolhas e
a estruturação de uma hierarquia de valor com base preferências a partir de uma entrevista em
na percepção dos técnicos da PMPA (valor profundidade (laddering). Essa seção busca
desejado), conforme a Figura 3. explicitar como os usuários percebem o produto
A partir da estrutura dessa hierarquia de valor EHIS e permite aos pesquisadores que seja
desejado pelos técnicos (Figura 3) foi realizada por meio de MHV uma análise
comparativa entre o valor desejado (percepção dos
desenvolvido um questionário específico utilizado
técnicos da PMPA) e o valor recebido (percepção
para a avaliação realizada nesta pesquisa. O
dos usuários dos EHIS). As seções 3 e 4 tiveram
questionário foi estruturado a partir de sete grandes
como objetivo avaliar o nível de satisfação dos
seções:
usuários em relação ao produto EHIS (projetos e
(a) identificação do pesquisador; serviços). Para medir o percentual de satisfação
(b) laddering; dos usuários com o produto EHIS foram utilizadas
perguntas fechadas e uma escala de cinco níveis,
(c) avaliação de satisfação com os projetos; de muito insatisfeito a muito satisfeito, com um
(d) serviços relacionados aos projetos; ponto neutro. Os itens questionados nessa seção
foram organizados com base nos atributos do
(e) perfil dos usuários; produto (unidade habitacional, empreendimento,
(f) permanência/evasão; e entorno) e nas consequências de uso identificados
no mapa de hierarquia de valor desejado pelos
(g) intenção de permanência das famílias
técnicos da PMPA (Figura 3), de forma a permitir
beneficiárias no empreendimento.
que fossem verificados os níveis de satisfação dos
usuários com o EHIS. A seção 5 teve como feira) por uma equipe de seis pessoas, organizadas
objetivo identificar o perfil dos moradores dos em três duplas. A saída de campo ocorreu às
empreendimentos avaliados. A seção 6 teve como 13h30min, e o retorno, às 17h30min. O tempo
objetivo identificar se a família residente na aproximado de coleta foi de 3 h (14h às 17h),
unidade habitacional pertencia ao cadastro original sendo 20 min para cada questionário. Para a coleta
de reassentamento do programa, enquanto a seção de dados com os usuários utilizou-se a técnica Soft
7 teve como objetivo identificar a intenção de Laddering. Para Grunert, Grunert e Sorensen
permanência dos usuários nos empreendimentos (1995), a Soft Laddering apresenta características
avaliados, assim como o principal motivo para de uma entrevista em profundidade, pois permite o
permaner nele ou não. Essas duas últimas seções discurso livre por parte do entrevistado, e desta
buscaram identificar os percentuais de maneira o entrevistador conduz a entrevista quase
permanência das famílias, indicador considerado sem restrições, permitindo que se obtenha o maior
relevante pelos técnicos da PMPA na análise dos número de dados possível para que seja feita a
resultados do programa. construção das escalas.
Figura 4 - Representação da implantação do EHIS A.J. Renner com a demarcação das unidades
habitacionais com base no tamanho da amostra necessário
Especificamente para a análise dos dados obtidos quanto mais espessas forem, maior a relação entre
por meio das questões fechadas do questionário os elementos, ou seja, mais percebidos os
foram utilizadas técnicas estatísticas descritivas. elementos pelos usuários.
Para validação do questionário para avaliação foi
Tendo em vista que em um primeiro momento o
utilizado o cálculo do Alpha de Cronbach (HAIR
MHV pode se apresentar de forma confusa, devido
JUNIOR et al., 2009). Para análise dos dados
ao grande número de relações entre os elementos,
obtidos por meio das questões abertas (técnica na etapa (d) foi estipulado um ponto de corte.
laddering) foram seguidas as etapas recomendadas Reynolds e Gutman (1988) recomendam que esse
por Reynolds e Gutman (1988):
ponto represente o número mínimo de vezes que
(a) análise de conteúdo; determinada relação deva ocorrer para que seja
(b) construção da matriz de implicação; considerada relevante no mapeamento. Para
Reynolds e Gutman (1988), o ponto de corte ideal
(c) construção do mapa hierárquico de valor; e é aquele que consegue representar cerca de dois
(d) determinação das orientações de percepções terços de todas as relações da matriz de
dominantes por meio de um ponto de corte implicação. Nesta pesquisa o ponto de corte
respectivamente. utilizado foi 7, o qual representou 79% do total de
relações do MHV.
Para Reynolds e Gutman (1988), a etapa (a)
consiste na análise e padronização dos termos Por fim, foi gerado um MHV com sobreposição
identificados por meio da técnica laddering das percepções de valor de técnicos e usuários,
(REYNOLDS; GUTMAN, 1988). Segundo com a inserção dos resultados de satisfação dos
Veludo-de-Oliveira e Ikeda (2008), é na fase de usuários (sobre atributos e consequências do
análise que são realizadas as classificações das produto EHIS). Os principais resultados desta
orações resultantes da técnica laddering em: (A) pesquisa são discutidos na sequência.
atributos de um produto; (C) consequências de uso
de um produto; e (V) valores pessoais dos Resultados da avaliação
indivíduos, ou cadeias A-C-V. Nesse sentido,
visando obter resultados mais confiáveis, foram Análise dos resultados
realizadas reuniões entre os pesquisadores Perfil do usuário
envolvidos nas análises de dados nas quais foram
apresentadas e discutidas as cadeias resultantes da A Figura 5 apresenta o perfil do responsável pela
técnica, ocasionando sucessivos refinamentos. A residência por meio do sexo, grau de escolaridade
partir dessa classificação, as ladders foram e idade. No que tange ao sexo, 70% dos
sequencialmente adicionadas na ferramenta responsáveis correspondem ao feminino, enquanto
LadderUX. 30% correspondem ao sexo masculino. Quanto à
escolaridade, destaca-se o número de responsáveis
Na etapa (b) foi construída a matriz de implicação
com 1º grau incompleto, correspondendo a 43%, e
a partir da inserção das ladders de cada responde
em relação à idade, 51% são adultos jovens. A
na fase anterior. Segundo Reynolds e Gutman
Figura 5 apresenta uma comparação entre a
(1988), a matriz representa a quantidade de
situação anterior (2006) e uma posterior (2014) ao
conexões entre os elementos, ou seja, quantas
reassentamento para a atual área de moradia para a
vezes cada elemento leva ao alcance de um
condição de ocupação/trabalho e da renda média
atributo, consequência ou valor. Essas conexões
atual. No tocante à ocupação antes do
são representadas a partir de relações diretas e
reassentamento, 68% estavam trabalhando, sendo
indiretas entre os elementos, as quais formam
60% com emprego formal e 8% assalariados com
coordenadas para a construção do MHV
emprego informal. Na situação posterior ao
(REYNOLDS; GUTMAN, 1988).
reassentamento, 62% estavam trabalhando, sendo
Na etapa (c) foi elaborado o MHV. Segundo os apenas 30% com emprego formal. Um ponto
mesmos autores, o MHV corresponde a um importante para redução de responsáveis
diagrama na forma de árvore que presenta trabalhando é o aumento do número de
graficamente as conexões ou associações entre os aposentados, de 5% para 27%. Quanto à renda
atributos, consequências e valores levantados a média familiar, predominam as faixas que recebem
partir das questões abertas do questionário. Essas entre R$ 501,00 e R$ 1.000,00 (38%), e entre R$
associações são representadas por meio de linhas, e 1.001,00 e R$ 1.500,00 (24%).
6%
43%
70%
16% 22%
60% - Assalariado com emprego formal 30% - Assalariado com emprego formal 3% - Até R$ 500,00
8% - Assalariado com emprego informal 5% - Assalariado com emprego informal 38% - R$ 501,00 a R$ 1.000,00
5% - Aposentado/pensionista 27% - Aposentado/pensionista 24% - R$ 1.001,00 a R$ 1.500,00
5% - Não trabalhavam, nem estudavam. 5% - Não trabalham, nem estudam. 16% - R$ 1.501,00 a 2.000,00
8% - Desempregado 11% - Autônomo 19% - mais de R$ 2.000,00
3% - Estudante 11% - Desempregado
11% - Dona de casa 3% - Estudante
8% - Dona de casa
Fonte: Monteiro (2015).
empreendimento (11%), o entorno urbano (3%) e o a Figura 8(b) apresenta os motivos para a não
projeto social (3%). De modo geral, é possível permanência no empreendimento (41%), dos quais
observar que o principal motivo para permanência se destacam os problemas de adaptação à unidade
tende a estar relacionado ao entorno urbano, habitacional (60%) e os problemas de
enquanto a não permanência tende a estar relacionamento com os vizinhos (26,7%). No que
relacionada à unidade habitacional. se refere à adequação dos espaços aos usos, os
A Figura 8(a) apresenta, de forma complementar, motivos estão vinculados à necessidade de mais
as consequências relativas ao uso do produto espaço na unidade habitacional, principalmente em
relação ao pátio. Quanto ao relacionamento com os
relacionado à intenção de permanência no
vizinhos, os motivos estão vinculados a problemas
empreendimento (59%). Entre as consequências de
que já existiam na antiga área de moradia, como
uso relacionadas aos motivos para permanência
destacam-se a segurança do empreendimento maus hábitos de higiene ou rivalidade entre
(31,8%) e a familiaridade com o lugar (27,3%). Já famílias.
41%
89% 59%
Loteamento (L)
Entorno (E)
Serviços de Infraestrutura
Serviços de Infraestrutura
Urbana (SI)
Urbana (SI)
Satisfação com o produto EHIS (projetos e comportamento, ao identificar não apenas o que
serviços) mas também o motivo por que determinados
elementos são mais importantes para formação de
A partir dos resultados demonstrados na Tabela 1 é
valor do que outros (VELUDO-DE-OLIVEIRA;
possível perceber índices de satisfação positivos
IKEDA, 2008).
em relação aos projetos e serviços que compõem o
produto EHIS. Entre os destaques estão os altos A cadeia empreendimento – qualidade da
índices de satisfação com os serviços relacionados infraestrutura e serviços urbanos – fato de não ter
à infraestrutura urbana. Essa situação demonstra mais alagamentos – condição de saúde –
um panorama similar ao apontado por Miron igualdade de direitos resulta na combinação mais
(2008), no qual a infraestrutura urbana foi o forte no MHV. Essa cadeia cognitiva reforça os
principal benefício percebido pelos moradores de resultados apontados no estudo de Miron (2008),
três EHIS do Piec. Destaca-se também a satisfação no qual os usuários perceberam a infraestrutura
com o entorno urbano, relacionada principalmente como o principal benefício. Uma possível
à familiaridade dos moradores com o local, e explicação para tal fato seriam as condições
conforme apontando no resultado de retenção, precárias de moradia anterior ao reassentamento,
89% são originários do cadastro do programa. Os carentes de infraestrutura e serviços básicos de
aspectos negativos, por sua vez, condizem, em sua saneamento, como coleta de lixo, fornecimento de
maioria, com a unidade habitacional. Entre esses água e energia elétrica.
aspectos destacam-se o conforto ambiental A cadeia empreendimento – relação com a
(59,9%), a qualidade construtiva (48,6%) e o vizinhança – segurança – tranquilidade –
espaço físico do pátio da unidade habitacional liberdade resulta na segunda combinação mais
(54,1%). forte no MHV. Essa cadeia reforça o entendimento
de que a relação de proximidade entre os vizinhos
Mapeamento hierárquico de valor resulta no aumento da sensação de segurança no
percebido pelos usuários empreendimento. Esse fato pode ser explicado em
virtude do sistema de vigilância cidadã entre os
Por meio da técnica laddering e da ferramenta próprios vizinhos, como descrito por Jacobs
LadderUX foi possível estruturar o mapeamento de (2000). A sensação de segurança representa um
valor percebido pelos usuários do empreendimento importante benefício percebido pelos usuários,
avaliado. O mapeamento atua de forma uma vez que afeta diretamente o “direito de ir e
complementar às técnicas empregadas vir” dos usuários dentro do empreendimento.
anteriormente com base na área ambiente
Figura 8 - Motivos para permanecer e não permanecer no EHIS (consequências relativas ao uso)
Motivo para permanecer no EHIS x Motivo para não permanecer no EHIS
(a) Unid. Loteam. Entorn. Proj (b) Unid. Loteam Entorn. Proj.
Hab. Soc. Hab. . Soc.
35,0% 31,8% 70,0%
60,0%
30,0% 27,3% 60,0%
25,0% 50,0%
20,0% 40,0%
0,0%
Boa relação com a…
0,0%
Problemas com os vizinhos
Valorização imobiliária
Problemas de adaptação
Localização
Fato de ter endereço
Condição de saúde
Tranquilidade do lugar
Segurança do loteamento
A cadeia entorno urbano – qualidade e uso dos o qual influência em aspectos de permanência
equipamentos urbanos – sociabilidade – desses usuários no empreendimento investigado,
familiaridade – felicidade resulta na terceira conforme evidenciado nesta pesquisa.
combinação mais forte no MHV. Segundo a
percepção dos usuários, as melhorias dos Comparação entre o valor desejado
equipamentos urbanos são decorrentes da (técnicos) e o percebido (usuários)
valorização da área, principalmente em virtude da
implantação da Arena do Grêmio (estádio de um Os resultados da avaliação do empreendimento
time de futebol de Porto Alegre). Algumas praças referentes à técnica laddering e às questões de
da área e o parque (Mascarenhas de Moraes) satisfação são mostrados de forma combinada na
ganharam novos equipamentos, impulsionando a Figura 10, na qual as percepções de técnicos e
sociabilidade e a familiaridade entre os moradores usuários são sobrepostas em um único MHV.
da área com os visitantes de outras áreas da cidade. Comparando a hierarquia de valor desejado,
definida com base na percepção dos técnicos da
A cadeia unidade habitacional – sentimento de
PMPA, com a hierarquia de valor percebido, com
posse – pertencimento ao local resulta na
base na percepção dos usuários, ficam evidentes as
combinação mais fraca no MHV. Com base na
novas relações identificadas a partir dos resultados
percepção dos usuários é possível inferir que os
da avaliação. Tais relações foram possibilitadas a
elementos relacionados à unidade habitacional
partir da inserção da técnica laddering ao
representam os benefícios menos percebidos pelos
questionário e permitem as inferências
usuários no empreendimento. Pode-se observar por
apresentadas a seguir.
meio desta cadeia cognitiva que o sentimento de
posse relacionado à unidade habitacional gera o
valor instrumental de sentimento de pertencimento,
representa uma importante oportunidade para o JUSAN, M. B. M. Means End Chain, Person
monitoramento dos resultados dos EHIS. Esse tipo Environment Congruence and Mass Housing
de avaliação possibilita parâmetros comparativos Design. Open House International, v. 35, n. 3, p.
para: 76-86, 2010.
(a) identificar quais benefícios pretendidos KASANEN, E.; LUKKA, K.; SIITONEN, A. The
(desejados) estão sendo alcançados; Constructive Research approach in Management
Accounting. Journal of Management
(b) identificar quais benefícios não estão sendo
Accounting Research, v. 5, p. 243-264, fall 1993.
efetivamente atingidos após a ocupação do produto
EHIS; e KHALIFA, A. S. Customer Value: a review of
(c) identificar benefícios importantes que não recent literature and an integrative configuration.
Management Decision, v. 42, n. 5, p. 645-666,
estão sendo considerados no desenvolvimento dos
2004.
empreendimentos.
Dessa forma, esse tipo de avaliação pode auxiliar LEITE, F. L. Contribuições para o
no refinamento do processo de desenvolvimento de gerenciamento de requisitos do cliente em
EHIS para uma possível maior geração de valor empreendimentos do Programa de
Arrendamento Residencial. Porto Alegre, 2005.
aos usuários, principais beneficiários dos
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programas habitacionais brasileiros.
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Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2005.
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