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Direito Processual Penal

NOTA INTRODUTÓRIA

Os apontamentos de Direito Processual Penal (I Volume), Direito Penal (II


Volume) e os respectivos anexos (III Volume), começaram a ser elaborados durante a
preparação das aulas ministradas ao CFP no Grupo de Instrução de Aveiro durante
o ano lectivo de 2001/2002.
Estes apontamentos surgiram com a finalidade de tentar suprir algumas
dificuldades sentidas, tanto pelos instrutores, como pelos instruendos durante o
ensino e aprendizagem de uma matéria que, apesar de fundamental para qualquer
militar da GNR, possui por vezes contornos e matérias que não são de fácil
assimilação.
Estes livros não têm por função apresentar verdades inquestionáveis e
indiscutíveis sobre matérias de Direito Penal e Processual Penal. Apenas pretendem
servir de guia a instrutores e alunos, orientando o seu estudo. Muitas das matérias
apresentadas não são consensuais, encontrando-se na doutrina penal opiniões
divergentes ou mesmo contraditórias.
Para aproximar as matérias doutrinárias da prática do dia-a-dia são
apresentados cerca de 300 resumos de textos que em casos concretos tentam
aplicar o Direito Penal e Processual Penal (Acórdãos dos Tribunais de Relação, do
Supremo Tribunal de Justiça e do Tribunal Constitucional, Pareceres da
Procuradoria Geral da República, Informações e Recomendações da IGAI, NEPs,
Circulares e Determinações da GNR, etc).
No entanto, é importante que nenhum utilizador destes apontamentos se
esqueça de um pormenor fundamental: o Direito está em constante mutação, todos
os dias são publicados novos diplomas e a utilidade destes apontamentos está
dependente da sua permanente actualização por parte dos instrutores e dos
instruendos que os utilizem.
Quem trabalhou nestes apontamentos também não está imune ao
cometimento de erros ou imprecisões. Por isso, agradecemos a quem tiver acesso a
estes apontamentos, que nos aponte as suas lacunas para que as possamos sanar.

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Direito Processual Penal

Índice
1 - DEFINIÇÕES ..................................................................................................................................... 5
2 - TIPO DE INFRACÇÕES EXISTENTES NO ORDENAMENTO JURÍDICO PORTUGUÊS ........ 6
3 - PROCESSAMENTO E JULGAMENTO DAS CONTRAVENÇÕES E TRANSGRESSÕES ........ 9
3.1. - AUTO DE NOTÍCIA .................................................................................................................. 9
3.2. - AUTO DE DENÚNCIA ............................................................................................................. 9
3.3. - PAGAMENTO VOLUNTÁRIO ................................................................................................ 9
3.4. - INQUÉRITO PRÉVIO ............................................................................................................. 10
3.5. - GARANTIAS ........................................................................................................................... 10
3.6. - JULGAMENTO ........................................................................................................................ 10
3.7. - TESTEMUNHAS ..................................................................................................................... 10
3.8. - DETENÇÃO EM FLAGRANTE DELITO .............................................................................. 10
3.9. - PROCESSO SUMÁRIO (art.º 16º do DL 17/91 e arts 381º e seguintes do CPP) ................... 11
4. – DIREITO PROCESSUAL PENAL - ESTRUTURA DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL ..... 12
5. - OS SUJEITOS E OS PARTICIPANTES PROCESSUAIS............................................................. 12
5.1. - TRIBUNAIS ............................................................................................................................. 13
5.2. - MINISTÉRIO PÚBLICO ......................................................................................................... 13
5.3. - ARGUIDO ................................................................................................................................ 14
5.4. - ASSISTENTE ........................................................................................................................... 14
5.5. - PARTES CIVIS ........................................................................................................................ 15
6. - NOTÍCIA DO CRIME ..................................................................................................................... 16
6.1. - DENÚNCIA OBRIGATÓRIA ................................................................................................. 16
6.2. - DENÚNCIA FACULTATIVA ................................................................................................. 16
6.3. – FORMA DA DENÚNCIA ....................................................................................................... 16
6.4. - AUTO DE NOTÍCIA ................................................................................................................ 17
7. - NATUREZA DOS CRIMES - CRIMES PÚBLICOS, SEMI-PÚBLICOS E PARTICULARES .. 18
7.1. – CRIMES PÚBLICOS ............................................................................................................... 18
7.2. - CRIMES SEMI-PÚBLICOS .................................................................................................... 19
7.3. - CRIMES PARTICULARES ..................................................................................................... 20
8. - DIREITO DE QUEIXA E ACUSAÇÃO PARTICULAR .............................................................. 20
8.1. - TITULARES DO DIREITO DE QUEIXA (113º CP).............................................................. 21
8.3 - EXTINÇÃO DO DIREITO DE QUEIXA (115º CP) ................................................................ 21
8.4. - RENÚNCIA E DESISTÊNCIA DA QUEIXA (116º CP) ........................................................ 21
8.5. - DIREITO DE ACUSAÇÃO PARTICULAR – ART.º 117º CP ............................................... 22
9. – IDENTIFICAÇÃO .......................................................................................................................... 23
9.1. - APLICAÇÃO DA LEI 5/95 de 21 de FEV. – LEI DA IDENTIFICAÇÃO............................. 23
9.2. - IDENTIFICAÇÃO CIVIL E EMISSÃO DO BILHETE DE IDENTIDADE .......................... 24
9.3. - MILITARES DA GNR ............................................................................................................. 25
9.3.1. - PROVA DA SUA IDENTIDADE ......................................................................................... 25
9.5. - IDENTIFICAÇÃO DE MENORES - Lei Tutelar Educativa - LEI 166/99 de 14SET ........... 29
9.6. - IDENTIFICAÇÃO DE PESSOAS COLECTIVAS ................................................................. 29
10. - FORMAS DO PROCESSO ........................................................................................................... 29
11. - COMPETÊNCIAS DOS ÓRGÃOS DE POLÍCIA CRIMINAL................................................... 35
12. - ACTOS QUE PODEM E QUE NÃO PODEM SER DELEGADOS NOS OPC .......................... 37
12.1. – DELEGAÇÃO GENÉRICA NOS OPC PARA A REALIZAÇÃO DO INQUÉRITO ......... 37
12.2. - ACTOS QUE NÃO PODEM SER DELEGADOS NOS OPC .............................................. 40
13. - A CONDIÇÃO DE ARGUIDO ..................................................................................................... 41
13.1 - QUALIDADE E CONSTITUIÇÃO DE ARGUIDO ART.º 57º CPP .................................... 42
13.2. - CONSTITUIÇÃO DE ARGUIDO (ARTº 58º, Nº 2 e 3 do CPP) .......................................... 42
13.3. - DIREITOS E DEVERES DO ARGUIDO – ART.º 61º CPP ................................................. 42
13.4. - O DEFENSOR ........................................................................................................................ 43
14. - A PROVA ...................................................................................................................................... 44
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Direito Processual Penal

14.1. - DISPOSIÇÕES GERAIS ........................................................................................................ 45


14.1.1 - OBJECTO DA PROVA – ARTº 124º CPP .......................................................................... 45
15. - CONVOCAÇÃO E NOTIFICAÇÃO PARA ACTOS PROCESSUAIS ...................................... 55
15.1. - CONTAGEM DOS PRAZOS................................................................................................. 55
15.3. - CONVOCAÇÃO PARA ACTO PROCESSUAL - Artigo 112.° do CPP .............................. 56
15.4. - REGRAS GERAIS SOBRE NOTIFICAÇÕES - Artigo 113.° do CPP ................................. 56
15.5. - CASOS ESPECIAIS DE NOTIFICAÇÃO - Artigo 114.° do CPP ........................................ 59
15.6. - DIFICULDADES EM EFECTUAR NOTIFICAÇÃO OU CUMPRIR MANDADO – Art.º
115.° do CPP ...................................................................................................................................... 59
15.7. - FALTA INJUSTIFICADA DE COMPARECIMENTO - Artigo 116.° do CPP .................... 59
15.8. - JUSTIFICAÇÃO DA FALTA DE COMPARECIMENTO - Artigo 117.° do CPP............... 60
15.9. - MANDADO DE COMPARÊNCIA, NOTIFICAÇÃO E DETENÇÃO - Artigo 273.° do CPP
............................................................................................................................................................ 60
16. - UNIDADE DE CONTA PROCESSUAL ...................................................................................... 61
17. – DETENÇÃO ................................................................................................................................. 61
17.1. - FINALIDADES - Artigo 254.° do CPP.................................................................................. 62
17.2. - FLAGRANTE DELITO ......................................................................................................... 62
17.3. - DETENÇÃO FORA DE FLAGRANTE DELITO - Artigo 257.° do CPP ............................ 64
17.4. - MANDADOS DE DETENÇÃO - Artigo 258.° do CPP ........................................................ 64
17.5. - DEVER DE COMUNICAÇÃO - Artigo 259.° do CPP ......................................................... 65
17.6. - CONDIÇÕES GERAIS DE EFECTIVAÇÃO - Artigo 260.° do CPP ................................... 66
17.7. - LIBERTAÇÃO IMEDIATA DO DETIDO - Artigo 261.° CPP ........................................... 67
17.8. - USO DE ARMAS NAS DETENÇÕES .................................................................................. 67
17.9. - LIVRO DE REGISTO DE DETIDOS .................................................................................... 67
17.10. – CONDIÇÕES MATERIAIS DE DETENÇÃO EM RSTABELECIMENTOS POLICIAIS
............................................................................................................................................................ 68
17.11. - REGIMES DE EXCEPÇÃO ÀS REGRAS GERAIS DE DETENÇÃO (IMUNIDADES) 70
18. - REGIME JURÍDICO DAS CRIANÇAS E JOVENS .................... Erro! Marcador não definido.
18.1. - LEI DE PROTECÇÃO DE CRIANÇAS E JOVENS EM PERIGO (LPCJP) Erro! Marcador
não definido.
18.2. - LEI TUTELAR EDUCATIVA (LTE) - Lei nº 166/99 de 14 de Setembro .....Erro! Marcador
não definido.
18.3. - A INTERVENÇÃO DAS ENTIDADES POLICIAIS ............ Erro! Marcador não definido.
18.4. - FUNÇÕES DE PREVENÇÃO E INVESTIGAÇÃO A DESENVOLVER PELA GNR . Erro!
Marcador não definido.
18.5. - FACTORES ESSENCIAIS A TER EM CONTA PARA UMA CORRECTA ACTUAÇÃO
DA GNR .............................................................................................. Erro! Marcador não definido.
18.6. – INICIATIVAS DE PROTECÇÃO E DEFESA DE INTERESSES DOS MENORES .... Erro!
Marcador não definido.
19. - MEIOS DE OBTENÇÃO DE PROVA ......................................................................................... 93
19.1. - EXAMES ................................................................................................................................ 93
19.2. - REVISTAS E BUSCAS ......................................................................................................... 94
19.3. – APREENSÕES....................................................................................................................... 97
19.4. - ESCUTAS TELEFÓNICAS ................................................................................................. 101
20. – MEDIDAS DE COACÇÃO ........................................................................................................ 102
20.1. - TERMO DE IDENTIDADE E RESIDÊNCIA - Artigo 196.° do CPP ................................ 103
20.2. - CAUÇÃO - Artigo 197.° do CPP ......................................................................................... 103
20.3. - OBRIGAÇÃO DE APRESENTAÇÃO PERIÓDICA - Artigo 198.° do CPP ..................... 104
20.5. - PROIBIÇÃO DE PERMANÊNCIA, DE AUSÊNCIA E DE CONTACTOS - Artigo 200.° do
CPP ................................................................................................................................................... 104
20.6. - OBRIGAÇÃO DE PERMANÊNCIA NA HABITAÇÃO - Artigo 201.° do CPP ............... 105
20.7. - PRISÃO PREVENTIVA - Artigo 202.° do CPP .................................................................. 105
20.8. - VIOLAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES IMPOSTAS - Artigo 203.° do CPP ............................. 105
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Direito Processual Penal

21. – DROGA ....................................................................................................................................... 106


21.1. - TRÁFICO E CONSUMO DE ESTUPEFACIENTES E PSICOTRÓPICOS ...................... 106
21.2. – CONSUMO .......................................................................................................................... 108
22. – ELABORAÇÃO DE UM INQUÉRITO ..................................................................................... 111
22.1. - EXPEDIENTE A ENVIAR AO MP E QUE FAZ PARTE DO INQUÉRITO ................... 111
23. – OS MILITARES DA GNR EM TRIBUNAL ............................................................................. 113
23.1. – ORGANIZAÇÃO DOS TRIBUNAIS (Arts 209º a 214º da CRP) ...................................... 113
23.2. – CLASSIFICAÇÃO DOS TRIBUNAIS JUDICIAIS QUANTO À ESTRUTURA ............. 113
23.3. – DIVISÃO JUDICIAL DO TERRITÓRIO ........................................................................... 114
23.4. – COMPETÊNCIA FUNCIONAL ......................................................................................... 114
23.5. – O TRIBUNAL E OS JUÍZES ............................................................................................. 114
23.6. – O MINISTÉRIO PÚBLICO ................................................................................................. 114
23.7. – A AUDIÊNCIA DE JULGAMENTO.................................................................................. 114
23.8. – O MILITAR DA GNR EM AUDIÊNCIA DE JULGAMENTO ......................................... 116

4
Direito Processual Penal

1 - DEFINIÇÕES
DIREITO: conjunto de normas jurídicas destinadas a regular as relações entre os homens.
DIREITO PENAL: em sentido formal, é o conjunto de normas jurídicas que regulam os pressupostos e
as consequências de um comportamento punível ou sujeito a medidas de segurança.
«Daqui resulta que a designação de Direito Penal é incorrecta, deveria antes designar-se “Direito das Penas e das
Medidas de Segurança”. A designação de Direito Penal explica-se historicamente pelo facto de as medidas de segurança
só muito tardiamente terem sido introduzidas nos Códigos Penais. No nosso sistema penal as medidas de segurança foram
introduzidas pela Reforma Prisional de 1936, nomeadamente pelo DL 26643 de 28 de Maio de 1936».
O Direito Penal tem por função saber se um facto é ou não crime, quem - à luz da lei - é o autor, se o autor pode ou não
ser responsabilizado, se existem situações que diminuem ou eliminem a culpa do agente, se existem ou não razões que
justifiquem o facto cometido e que pena, em abstracto, é aplicável ao agente.

DIREITO PENAL SECUNDÁRIO: conjunto de preceitos que constam de leis especiais, distintas do
Código Penal.
Do Direito Penal fazem parte, além dos crimes e das contravenções, muitas normas não contidas no Código
Penal que cominam penas para determinados comportamentos ilícitos (por exemplo: lei da droga, lei sobre a
criminalidade informática, lei do branqueamento de capitais, etc). Os princípios e os conceitos previstos na
Parte Geral do Código Penal aplicam-se não só aos crimes previstos no Código penal, mas também aos crimes
previstos no Direito Penal secundário.
DIREITO PROCESSUAL PENAL: conjunto de normas que regulam a averiguação dos factos puníveis
e a efectivação do direito estadual de punir.
O Direito Processual Penal vigente está fundamentalmente contido no Código de Processo Penal aprovado pelo Decreto-
Lei nº 78/87, de 17 de Fevereiro, alterado pelos Decretos-Lei nºs 387-E/87 de 29 de Dezembro, 212/89 de 30 de Junho,
317/95 de 28 de Novembro, pelas Leis nº 59/98 de 25 de Agosto, 3/99, de 13 de Janeiro, 7/2000, de 27 de Maio, pelo Dec.-
Lei n.º 320-C/2000, de 15 de Dezembro, pelas Leis n.º 30-E/2000, de 20 de Dezembro, 52/2003, de 22 de Agosto e pelo
Dec.-Lei n.º 324/2003, de 27 de Dezembro.
O Direito Processual Penal tem por função determinar quem vai investigar, quem recolhe as provas, que provas são
admissíveis e quais as que são proibidas, quem deduz a acusação e em que termos, que tipo de processo é seguido, quem
julga, que tribunal aprecia o caso e qual a pena que em concreto deve ser aplicada.

AUTORIDADE JUDICIÁRIA: o Juiz, o Juiz de instrução e o Ministério Público, cada um


relativamente aos actos processuais que cabem na sua competência - alínea b) do nº 1 do art.º 1º do CPP.
ÓRGÃOS DE POLÍCIA CRIMINAL: todas as entidades e agentes policiais a quem caiba levar a cabo
quaisquer actos ordenados por uma autoridade judiciária ou determinados pelo Código de Processo
Penal - alínea c) do nº 1 do art.º 1º do CPP.
AUTORIDADE DE POLÍCIA CRIMINAL: os directores, oficiais (ver art.º 6º LOGNR), inspectores e
subinspectores de polícia e todos os funcionários policiais a quem as leis respectivas reconhecerem
aquela qualificação - alínea d) do nº 1 do art.º 1º do CPP.
Competências das APC previstas no processo penal: ordenar a comunicação de actos processuais (n.º 2 do
art.º 111º do CPP); emitir mandados de comparência (art.º 273º do CPP); ordenar a detenção fora de flagrante
delito (n.º 2 do art.º 257º do CPP); emitir mandados de detenção (art.º 258º do CPP); efectuar requerimentos
para a prática de certos actos de inquérito (n.ºs 2 e 3 do art.º 268º do CPP).
SUSPEITO: toda a pessoa relativamente à qual exista indício de que cometeu ou se prepara para
cometer um crime, ou que nele participou ou se prepara para participar - alínea e) do nº 1 do art.º 1º do
CPP.
TERRORISMO, CRIMINALIDADE VIOLENTA OU ALTAMENTE ORGANIZADA: todas as
condutas que integrem os crimes de Associação Criminosa (art.º 299º CP), Organizações Terroristas
(art.º 2º da Lei nº 52/2003 de 22 de Agosto), Outras organizações terroristas (art.º 3º da Lei nº 52/2003 de 22
de Agosto), e todas as condutas que dolosamente se dirigirem contra a vida, a integridade física ou a
liberdade das pessoas e forem puníveis com pena de prisão de máximo igual ou superior a cinco anos
(nº 2 do art.º 1º do CPP).
ARMA: qualquer instrumento, ainda que de aplicação definida, que seja utilizado como meio de
agressão ou que possa ser utilizado para esse fim (art.º 4º do DL 48/95 de 15 de Março).

5
Direito Processual Penal

2 - TIPO DE INFRACÇÕES EXISTENTES NO ORDENAMENTO JURÍDICO PORTUGUÊS


No ordenamento jurídico português encontram-se previstos três tipos de infracções: os CRIMES, as
CONTRAVENÇÕES ou TRANSGRESSÕES e as CONTRA-ORDENAÇÕES.
Os crimes e as contravenções ou transgressões são parte integrante do Direito Penal e podem ser
punidas com penas e/ou medidas de segurança. No entanto, as contra-ordenações encontram-se
excluídas do Direito Penal, fazendo parte integrante do Direito de Mera Ordenação Social, cujo regime
consta do Decreto-Lei 433/82 de 27 de Outubro (com as alterações introduzidas pelo DL 356/89, de 17 de
Outubro, pelo DL 244/95, de 14 de Setembro e pela Lei 109/01, de 24 de Dezembro).
As sanções aplicáveis às contra-ordenações são a coima (sanção principal de natureza pecuniária,
prevista no do art.º 1º do DL 433/82) e diversas sanções acessórias (indicadas no art.º 21º do mesmo Decreto-
Lei). Estas sanções não envolvem a reprovação ético-social que está ligada à pena e, portanto, não
“estigmatizam” o agente como acontece com a pena. Isto manifesta-se sobretudo em dois aspectos do
regime jurídico: por um lado, as sanções aplicáveis às contra-ordenações nunca são privativas da
liberdade e, por outro, o processo das contra-ordenações e a aplicação das coimas competem às
autoridades administrativas, sem prejuízo de as decisões dessas autoridades que aplicam coimas
poderem ser impugnadas judicialmente (arts. 33º, 35º e 59º do DL 433/82).
Pelo contrário, fazem parte do Direito Penal as normas respeitantes às contravenções, que
constituem uma categoria de infracções penais de menor gravidade, a que normalmente não está ligada
uma censura ético-social, com peso comparável à do crime. Essas normas não constam do Código
Penal actual, que apenas prevê uma espécie de factos puníveis (os crimes), mas sim do Código Penal
de 1886, que fazia a distinção entre crime (art.º 1º - CRIME: facto voluntário declarado punível pela lei
penal) e contravenções (art.º 3º - CONTRAVENÇÕES: facto voluntário punível, que unicamente consiste na
violação, ou na falta de observância das disposições preventivas das leis e regulamentos, independentemente de
toda a intenção maléfica).
O regime das contravenções está contido no Código Penal de 1886 e diverge do dos crimes em
diversos aspectos, por exemplo, as contravenções são sempre puníveis a título de negligência (art.º 4º
do CP de 1886), enquanto que nos crimes a punição da negligência é excepcional (art.º 13º do CP actual);
nas contravenções não é punível a cumplicidade (arts 25º e 3º do CP de 1886), nem a tentativa (art.º 11º,
nº 4 CP de 1886), enquanto que nos crimes são passíveis de punição (arts 27º e 22º do CP actual).
O Decreto-Lei 400/82 de 23 de Setembro, cujo art.º 1º aprovou o novo Código Penal (e que em
Julho de 2004 sofreu a sua 17ª alteração), revogou no seu art.º 6º o Código Penal de 1886, ressalvando,
porém, de tal revogação, as normas desse Código relativas ás contravenções, ou seja, o regime das
contravenções previsto no Código Penal de 1886 nunca foi revogado. Por isso, temos actualmente
no ordenamento jurídico-penal português vigente duas categorias de infracções penais: os crimes,
cujo regime consta do actual CP, e as contravenções, cujo regime consta do CP de 1886 e cujo
processamento é estabelecido pelo Decreto-Lei nº 17/91 de 10 de Janeiro.
Nos últimos anos tem-se assistido a um movimento de descriminalização (exclusão de condutas do
âmbito do Direito Penal) e a um alargamento do âmbito das contra-ordenações. Na década de 70 foi
criado o Direito de Mera Ordenação Social, pelo Decreto-Lei 232/79 de 24 de Julho, que, embora
concebido como uma lei-quadro, continha uma disposição (art.º 1º, nº 3) que transformava em contra-
ordenações todas as contravenções puníveis com multa. Em 1982, o Decreto-lei 232/79 veio a ser
revogado e substituído pelo Decreto-Lei 433/82 de 27 de Outubro, o qual (com as alterações que lhe
foram introduzidas pelos Decretos-Lei 356/89 de 17 de Outubro e 244/95 de 14 de Setembro e pela Lei nº
109/01 de 24 de Dezembro) consagra o actual regime do ilícito de mera ordenação social. Desde
então muitas contravenções têm sido transformadas em contra-ordenações Vejam-se, a título de
exemplo, o Decreto-Lei 28/84 de 20 de Janeiro, relativo a infracções anti-económicas e contra a saúde
pública; o Decreto-lei 376-A/89 de 25 de Outubro (alterado pelo DL 98/94 de 18 de Abril e entretanto
revogado pela Lei 15/01 de 5 de Junho), que transformou todas as contravenções fiscais aduaneiras em
contra-ordenações (art.º 2º), o Decreto-Lei 20-A/90 de 15 de Janeiro (alterado pelo DL 394/93 de 24 de
Novembro e pelo DL 140/95 de 14 de Junho e entretanto revogado pela Lei 15/01 de 5 de Junho) que
transformou várias infracções fiscais não aduaneiras em contra-ordenações; o Código da Estrada
aprovado pelo Decreto-Lei 114/94 de 3 de Maio (alterado pelos Decretos-Lei 2/98 de 3 de Janeiro e
265-A/01 de 28 de Setembro) onde deixaram igualmente de constar várias contravenções, etc.
6
Direito Processual Penal

ORDENAMENTO JURÍDICO PORTUGUÊS


TIPO DE INFRACÇÕES
[ Crimes; Contravenções / Transgressões; Contra-Ordenações ]
DIREITO DE MERA
DIREITO PENAL
ORDENAÇÃO SOCIAL
CRIME CONTRAVENÇÃO CONTRA-ORDENAÇÃO
[ Art.º 1 a) do CPP ] TRANSGRESSÃO [ Art.º 1 do DL 433/82 ]
[Art.º 3 do CP de 1886]
Definição: conjunto de Definição: facto voluntário punível, que Definição: constitui contra-
pressupostos de que depende unicamente consiste na violação, ou na ordenação todo o facto ilícito e
a aplicação ao agente de uma falta de observância das disposições censurável que preencha um tipo
pena ou medida de segurança preventivas das leis e regulamentos, legal no qual se comine uma coima
criminais. independentemente de toda a intenção
maléfica.
SANÇÕES PRINCIPAIS SANÇÕES PRINCIPAIS SANÇÕES PRINCIPAIS

- Prisão (art.º 41º CP) - Prisão (art.º 15º, nº 1 do DL - Coima


- Multa (art.º 47º CP) 17/91)
- Prisão e multa
(art.º 15º, nº 1 DL 17/91)
- Multa (art.º 4º, nº 1 DL 17/91)
SANÇÕES ACESSÓRIAS SANÇÕES ACESSÓRIAS SANÇÕES ACESSÓRIAS

- Inibição de um direito - Perda objectos - Perda objectos


(art.º 65º a 69º CP) - Inibição de um direito (art.º 21º do DL 433/82)
- Perda objectos - Inibição de um direito
(art.º 109º CP) (art.º 21º do DL 433/82)

ENTIDADE COMPETENTE ENTIDADE COMPETENTE ENTIDADE COMPETENTE


PARA O PROCESSAMENTO PARA O PROCESSAMENTO PARA O PROCESSAMENTO
Ministério Público Ministério Público Autoridade Administrativa
(art.º 48º e 263º do CPP) (art.º 5º do DL 17/91 ) competente
(art.º 33º do DL 433/82)
Ex. DGV; DGTT, DGF, DGA (...)

CRIME TRANSGRESSÃO

- A negligência só é punível quando prevista - A negligência é sempre punível


(art.º 13º do CP) (art.º 4º do CP de 1886)
- Punível por cumplicidade - A cumplicidade não é punível
(art.º 27º CP de 1982) (art.º 25 do CP de 1886)
- Punível por tentativa - A tentativa não é punível
(art.º 22º CP de 1982) (art.º 3.º e 11.º n.º 4 do CP de 1886)

Categorias de Sanções:
Sanção Principal – aplicada por si só (Ex: Pena de Prisão, Pena de Multa, Coima, etc.)
Sanção Acessória – Só aplicável juntamente com uma sanção principal (Ex: Inibição de um direito)

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Direito Processual Penal
JURISPRUDÊNCIA

Transportes públicos - Sua utilização sem título válido


I - O Decreto-Lei Nº 108/1978, de 24 de Maio, disciplina o regime de transportes colectivos de passageiros,
estabelecendo a sanção - pena de multa - para a sua utilização sem título válido.
II - O referido diploma não era nem é um regulamento do Código da Estrada, nomeadamente para efeitos do
artigo 135º, Nº 1, do Código Penal em vigor.
III - Não tendo, por isso, sido revogado pelo Decreto-Lei Nº 114/1994, de 3 de Maio, que aprovou o Novo
Código da Estrada.
IV - Daí que continue a cometer uma transgressão punível com a pena de multa todo aquele que utilizar um
transporte colectivo de passageiros sem estar munido de título válido.
Acórdão da Relação de Évora, de 1995.11.07, Boletim do Ministério da Justiça, 451, pág. 535.

I - A transgressão prevista no artigo 39º e artigo 43º, do Regulamento para a Exploração e Polícia dos
Caminhos de Ferro, aprovado pelo Decreto-Lei Nº 39780/1954, de 21 de Agosto de 1954 - viagem de comboio
sem que o passageiro esteja munido do respectivo título de transporte - inicia-se com a entrada daquele no
comboio, ocorre ainda a sua consumação quando tal situação é verificada pelo revisor, cessando essa mesma
consumação apenas no momento em que o transgressor termina a viagem, abandonando o comboio.
II - Se o passageiro sem bilhete inicia a viagem em Lisboa, é detectado pelo revisor na zona de Santarém e só
terminou a sua viagem no Porto, é o tribunal de Pequena Instância do Porto o competente para conhecer da
respectiva transgressão, face ao disposto no artigo 19º, Nº 1 e Nº 2, do Código de Processo Penal.
Acórdão do Supremo Tribunal da Justiça, de 2001.01.18, in Justiça e Cidadania, suplemento de O Primeiro de Janeiro, de 2001.03.30, pág.
29.

Para a verificação e punição de uma contra-ordenação não é necessário que exista dolo, bastando tão-só a
simples negligência.
Acórdão da Relação de Évora, de 1996.06.11, Boletim do Ministério da Justiça, 458, pág. 417.

I - As contra-ordenações constituem um tipo de ilícito novo e diferente dos crimes (e contravenções).


II - Assim quando uma contravenção deixa de ser punida como tal por a respectiva conduta passar a ser
punida como contra-ordenação, verifica-se uma despenalização da contravenção.
Acórdão da Relação de Évora, de 1995.01.17, Boletim do Ministério da Justiça, 443, pág. 464.

I - A contravenção é um ilícito de natureza penal, ao passo que a contra-ordenação é um ilícito de natureza


administrativa de mera ordenação social.
II - O actual Código da Estrada eliminou do seu âmbito as contravenções, apesar de continuar a prever e a
punir condutas que eram contravenção e que agora são contra-ordenações.
III - Contravenções e contra-ordenações não se equivalem, apesar de o conteúdo eventualmente ser idêntico,
pois são categorias típicas diferentes no fundamento e na finalidade.
IV - Certo é também que o Decreto-Lei Nº 114/1994, de 3 de Maio, não fixou qualquer regime transitório sobre
a passagem de contravenção - contra-ordenação no domínio rodoviário.
V - Daqui resulta que a conduta inicialmente prevista como contravenção não pode ser punida retroactivamente
como contra-ordenação, uma vez que esta ainda não existia à data daquela e na data do nascimento da
contra-ordenação deixou de subsistir a mesma conduta como contravenção.
Acórdão da Relação de Évora, de 1996.02.27, Boletim do Ministério da Justiça, 454, pág. 820.

Taxas de portagem - Falta de pagamento – Descriminalização


A transgressão tipificada no Nº 7 da base XVIII anexa ao Decreto-Lei Nº 315/1991, de 20 de Agosto, com a
redacção introduzida pelo Decreto-Lei Nº 193/1992, de 8 de Setembro, não foi descriminalizada pelo actual
Código da Estrada.
Acórdão da Relação de Lisboa, de 1996.01.24, Boletim do Ministério da Justiça, 453, pág. 552

Código da Estrada - Transgressão – Descriminalização


I - Visto que o actual Código da Estrada não contém nenhuma disposição a regular o estado do piso dos
pneumáticos, não há oposição entre o artigo 1º e artigo 4º do Decreto-Lei Nº 49020/1969, de 23 de Maio de
1969, e o Código da Estrada vigente, devendo continuar a serem aplicadas as disposições dos referidos
artigos.
II - Passando, porem, as contravenções tipificadas no citado Decreto-Lei Nº 49020/1969 a ter natureza de
contra-ordenação, por força do disposto no artigo 1º, Nº 1, alínea d), do Decreto-Lei Nº 199/1995, de 31 de
Julho, deverá considerar-se despenalizado o comportamento contravencional ocorrido na vigência da lei antiga,
o que implica a extinção do procedimento criminal.
Acórdão da Relação do Porto, de 25.10.1995, Boletim do Ministério da Justiça, 450, pág. 555

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Direito Processual Penal

3 - PROCESSAMENTO E JULGAMENTO DAS CONTRAVENÇÕES E TRANSGRESSÕES


DECRETO-LEI Nº 17/91 DE 10 DE JANEIRO

O DL 17/91 de 10 de Janeiro veio estabelecer um conjunto de normas que regulam de forma


autónoma, simples e proporcionada as questões processuais suscitadas pelas contravenções e
transgressões. Como foi atrás referido, este tipo de ilícito tem vindo gradualmente a ser substituído por
contra-ordenações, num processo que se tem evidenciado moroso. Actualmente encontramos as
contravenções e transgressões apenas em alguns diplomas legais, como, por exemplo, nos diplomas
relativos à pesca (ex: corte e apanha de plantas aquáticas sem parecer ou autorização da Direcção Geral de
Florestas - contravenção por infracção à alínea d) do art.º 47.º do Decreto-Lei n.º 44623/62 de 10Out; punido
pela alínea a) do art.º 70.º do mesmo diploma com pena de prisão de um a dez dias e multa de 2 Euros a 15
Euros) e nos diplomas relacionados com o título de transporte nos transportes públicos.
De forma figurada, quase que se pode considerar que o DL 17/91 constitui o “Código de Processo
Penal das Contravenções e Transgressões”, ou seja, enquanto que o processamento e julgamento dos
crimes (cujo regime consta do Código Penal) é feito com base no Código de Processo Penal, o
processamento e julgamento das contravenções e transgressões (cujo regime se encontra no Código
Penal de 1886) rege-se pelos preceitos constantes no DL 17/91.
No entanto, ao processamento e julgamento das contravenções e transgressões aplicam-se
subsidiariamente as disposições do Código de Processo Penal (art.º 2º do DL 17/91), ou seja,
quando alguma questão processual não se encontra prevista no DL 17/91 vai-se colmatar essa falta
recorrendo ao CPP (por exemplo, quando for necessário identificar alguém por ter cometido uma
contravenção, recorre-se ao art.º 250º do CPP para saber quais os procedimentos a adoptar).

3.1. - AUTO DE NOTÍCIA


Auto de notícia elaborado quando o autuante presencia ou verifica a infracção
• Levantado ou mandado levantar por qualquer autoridade, agente ou funcionário público
• Deve mencionar: Art.º 3º, nº 1
▪ Factos que constituem a infracção
▪ Dia, hora e local da infracção
▪ Circunstâncias em que foi cometida
▪ Nome, qualidade e residência do autuante que a presenciou
▪ Nomes, estado, profissão, residência ou outros sinais que as possam identificar, de
duas testemunhas (se as houver)
• Deve ser assinado: Art.º 3º, nº 2
▪ Pelo autuante (autoridade, agente de autoridade ou funcionário público)
▪ Pelas testemunhas (quando possível)
▪ Pelo infractor (se quiser assinar, caso contrário é lavrada certidão de recusa)
• Pode-se levantar um único auto de notícia por diferentes infracções:
▪ Cometidas na mesma ocasião Mesmo que cometidas por
Art.º 3º, nº 3
▪ Relacionadas umas com as outras diferentes agentes
• Faz fé em juízo até prova em contrário Art.º 6º
(autoridade judiciária pode proceder a diligências para a descoberta da verdade)
• A sua remessa a tribunal equivale a acusação Art.º 7º

3.2. - AUTO DE DENÚNCIA Art.º 3º, nº 4


– Elaborado quando o autuante tiver notícia por denúncia ou conhecimento próprio
– A elaboração obedece aos mesmos requisitos do Auto de Notícia

3.3. - PAGAMENTO VOLUNTÁRIO Art.º 4º


– Admitido (pelo valor mínimo) quando a infracção for punida apenas com multa
– Infractor é notificado do local de pagamento

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Direito Processual Penal

– Auto de notícia aguarda 15 dias no local do pagamento após o que é enviado a tribunal no
prazo de 5 dias
– Pode ser feito em qualquer altura até ao início da audiência de julgamento Art.º 10º

3.4. - INQUÉRITO PRÉVIO Art.º 5º


- Efectuado pelo autuante quando não tenha presenciado a infracção
- Após o inquérito
➔ notifica infractor para pagamento voluntário se infracção punível apenas com multa
(se não pagar – MP envia ao tribunal)
➔ remete ao Ministério Público nos restantes casos

3.5. - GARANTIAS Art.º 9º


- Não é obrigatória a constituição de arguido (ver arts 58º e seguintes do CPP)
- A existência de defensor (ver arts 62º e seguintes do CPP) só é obrigatória quando a
infracção for punível com prisão ou medida de segurança
- Não há lugar à constituição de assistente (ver arts 68º e seguintes do CPP) nem à dedução
de pedido cível.

3.6. - JULGAMENTO Art.º 11º


- Arguido é notificado com, pelo menos, 10 dias de antecedência:
▪ da data do julgamento
▪ do objecto de acusação
▪ de que deve apresentar a sua defesa
▪ de que pode requerer a presença do participante (a qual, neste caso, é obrigatória)
- Não é obrigatória a presença do arguido:
▪ se a infracção for punível apenas com pena de multa e
▪ for representado por advogado
- São subsidiariamente aplicáveis ao julgamento as disposições do CPP relativas ao processo
comum (nº 7 do art.º 13º).

3.7. - TESTEMUNHAS Art.º 12º


- De acusação – número não pode exceder 3 por cada infracção
- De defesa
▪ não pode, para cada infracção, exceder o que a acusação pode produzir
▪ vários acusados – cada um pode produzir testemunhas próprias até ao limite
definido
▪ podem ser apresentadas:
➔ no acto de notificação para o julgamento
➔ até 7 dias da data do julgamento
➔ no próprio julgamento por declaração verbal, antes do início da inquirição
das testemunhas de acusação

Art.º 15º
3.8. - DETENÇÃO EM FLAGRANTE DELITO
- Quando a infracção for punível com pena de prisão
- Detenção efectuada por qualquer autoridade judiciária ou entidade policial
- Apenas quando o infractor tiver mais de 18 anos
SE INFRACTOR NÃO TIVER COMPLETADO 18 ANOS
▪ autuante levanta auto nos termos do art.º 3, nº 1
▪ remete o auto ao MP para inquérito

10
Direito Processual Penal

- Autoridade ou entidade que efectua a detenção notifica verbalmente:


▪ 3 testemunhas da ocorrência para comparecem a tribunal
▪ o arguido de que pode apresentar 3 testemunhas
▪ as 3 testemunhas do arguido (se estiverem presentes) para comparecerem a tribunal
COMPARÊNCIA A TRIBUNAL
- Feita logo a seguir à detenção, se o tribunal estiver aberto e possa desde logo tomar
conhecimento do facto
- Se o tribunal não estiver aberto ou não puder tomar conhecimento:
▪ libertação do detido
▪ notificação do detido para comparecer em tribunal no 1º dia útil imediato
▪ remeter o auto de notícia ao MP

3.9. - PROCESSO SUMÁRIO (art.º 16º do DL 17/91 e arts 381º e seguintes do CPP)
- Requisitos para julgamento em processo sumário:
▪ detidos em flagrante delito
▪ por contravenção ou transgressão punidas com pena de prisão
▪ detenção efectuada por qualquer Autoridade Judiciária ou entidade policial
▪ audiência ter início no prazo máximo de 48 horas ou, no caso do art.º 19º, 5 dias
após a detenção

TRANSGRESSÕES E CONTRAVENÇÕES PUNIDAS COM MULTA


ELABORAR AUTO DE
PRESENCIADAS (ARTº 3º)
NOTÍCIA
OU
NOTIFICAR O INFRACTOR PAGAMENTO VOLUNTÁRIO: dentro do prazo de 15 dias - só se
VERIFICADAS
PARA PAGAMENTO envia a tribunal se for também punível com medida de segurança
PELO
FALTA DE PAGAMENTO VOLUNTÁRIO: enviar o auto de
AUTUANTE
(ARTº 4º) notícia a tribunal no prazo de 5 dias

ELABORAR AUTO DE
NÃO (ARTº 3º)
DENÚNCIA
PRESENCIADAS
REALIZAR O INQUÉRITO
OU NÃO (ARTº 5º)
PRÉVIO
VERIFICADAS
NOTIFICAR O INFRACTOR FALTA DE PAGAMENTO VOLUNTÁRIO DENTRO DO
PELO
PARA PAGAMENTO PRAZO: enviar o processo para tribunal
AUTUANTE
(ARTº 5º, Nº 1, alínea a) (ARTº 5º, Nº 1, alínea b)

TRANSGRESSÕES E CONTRAVENÇÕES PUNIDAS COM PRISÃO


▪ DETENÇÃO DO INFRACTOR (art.º 15º, nº 1)
▪ ELABORAR AUTO DE NOTÍCIA
▪ TRIBUNAL ABERTO:
- APRESENTAR DETIDO, AUTO DE NOTÍCIA, TESTEMUNHAS DE
MAIOR ACUSAÇÃO E DEFESA, PREVIAMENTE NOTIFICADAS, AO MP (nº 1 e 4)
EM ▪ TRIBUNAL FECHADO: (Nº 5)
- LIBERTAR DETIDO
DE
FLAGRANTE - NOTIFICAR DETIDO PARA COMPARECER EM TRIBUNAL NO 1º DIA ÚTIL
SEGUINTE
18 ANOS -NOTIFICAR TESTEMUNHAS DE ACUSAÇÃO E DEFESA PARA
DELITO
COMPARECEREM EM TRIBUNAL

ATÉ
(ARTº 15º) COMPLETAR - NÃO HÁ DETENÇÃO, MAS APENAS IDENTIFICAÇÃO DO INFRACTOR
18 ANOS - LEVANTAR AUTO E REMETER AO MP PARA INQUÉRITO ( Art.º 15º, nº 2)

 ELABORAR AUTO DE NOTÍCIA/DENÚNCIA (ARTº 3º)


FORA DE
FLAGRANTE  REALIZAR O INQUÉRITO PRÉVIO
DELITO  ENVIAR AUTO PARA O MP

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Direito Processual Penal

4. – DIREITO PROCESSUAL PENAL - ESTRUTURA DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL


“ O Código de Processo Penal é o sismógrafo dos Direitos Fundamentais de um Estado.”
Roxio

O Código de Processo Penal (CPP) constitui a base do Direito Processual Penal. Nele estão
contidas todas as normas jurídicas que se aplicam, de modo geral, ao processo criminal, regulando-o
nas várias fases, estipulando as formas a adoptar, os meios de prova admissíveis, disciplinando a
actividade dos órgãos de polícia criminal (OPC), do Ministério Público (MP) e dos juízes. Tudo isto
com a finalidade de se obter uma decisão final sobre um dado caso em concreto.
O CPP divide-se em duas partes:
Na 1ª Parte encontramos os assuntos referentes:
- Aos sujeitos do processo
- Aos actos processuais
- À prova
- Às medidas de coacção e garantia patrimonial
- Às relações com as autoridades estrangeiras e entidades judiciárias internacionais
A 2ª Parte refere-se:
- Às fases preliminares do processo
- Ao julgamento
- Aos processos especiais
- Aos recursos
- Às execuções
- À responsabilidade por taxa de justiça e de custas.
O CPP assume uma enorme relevância na actuação dos militares da GNR. Toda a nossa actuação,
procedimentos e respectivos limites em termos criminais se devem pautar pelos preceitos aí
consagrados: quais as provas admissíveis e proibidas, como podem ser obtidas, como tem lugar a
notícia dos crimes, quando se pode proceder a identificação e detenção de pessoas, quais as medidas
cautelares que podem ser tomadas por nossa iniciativa, etc.

5. - OS SUJEITOS E OS PARTICIPANTES PROCESSUAIS


No decurso do processo intervêm várias pessoas: as testemunhas que são inquiridas, os arguidos
que são interrogados, o Ministério Público que acusa e que durante o Inquérito profere decisões, os
juízes que tomam decisões em determinadas situações, os peritos que são chamados a emitir as suas
opiniões, os intérpretes que fazem traduções quando estas são necessárias, os órgãos de polícia
criminal que investigam e colaboram com o Ministério Público, etc.
Todos estes intervenientes são participantes processuais na medida em que participam ou
colaboram na realização de actos processuais.
Das várias pessoas que intervêm no processo, apenas algumas são consideradas sujeitos
processuais (também chamados participantes processuais especiais), ou seja, conduzem o processo e a
actividade que desenvolvem imprime, ou pode imprimir, o processo numa determinada direcção. Estas
pessoas têm uma função orientadora no processo visto que o dirigem neste ou naquele sentido. São
considerados sujeitos processuais: os tribunais, o MP, o arguido e o seu defensor, o assistente e as
partes civis.
Existem outras pessoas que intervêm no processo (e como tal são participantes processuais), mas
que não detêm poderes que traduzam uma actividade susceptível de determinar o processo em
qualquer sentido. A estas pessoas é dado o nome de participantes processuais normais. São exemplo
destes participantes: as testemunhas, os intérpretes, os peritos, etc.

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Direito Processual Penal

PARTICIPANTES PROCESSUAIS
SUJEITOS PROCESSUAIS PARTICIPANTES NORMAIS
(PARTICIPANTES ESPECIAIS) (MEROS PARTICIPANTES PROCESSUAIS)

- TRIBUNAIS (ARTº 8º a 47º CPP) - TESTEMUNHAS


- MP (ARTº 48º a 56º CPP)
- INTÉRPRETES
- ARGUIDO e DEFENSOR (ARTº 57º a 67º CPP)
- PERITOS
- ASSISTENTE (ARTº 68º a 70º CPP)
- PARTES CIVIS (ARTº 71º a 84º CPP)

5.1. - TRIBUNAIS
Os tribunais são órgãos de soberania e a sua função consiste em administrar a justiça (nº 1 do
art.º 202º da CRP). São os únicos órgãos competentes para decidirem os casos jurídico-penais que
sejam levados ao seu conhecimento, através dos processos, aplicando o Direito Penal. Os tribunais
administram a justiça penal de acordo com a lei e o direito (nº 1 do art.º 9º do CPP).

5.2. - MINISTÉRIO PÚBLICO


O MP é, nos termos do CPP, uma autoridade judiciária (nº 1 do art.º 1º) e constitui-se como um
serviço do Estado a quem compete:
▪ Representar o Estado
▪ Exercer a acção penal
▪ Defender a legalidade democrática
▪ Defender os interesses que a lei determinar
A função do MP no processo penal é, entre outras, a de colaborador dos tribunais na descoberta
da verdade e na realização do direito. Esta colaboração passa necessariamente por um conjunto de
actos que só o MP pode realizar e por isso se diz que o MP tem uma competência especial em relação
a certas matérias.
Com efeito, COMPETE EM ESPECIAL AO MP (nº 2 do art.º 53º CPP):
- Receber as denúncias, as queixas e as participações e apreciar o seguimento a dar-lhes (que
podem ser entregues a outras AJ ou a OPC - art.º 244º CPP, mas que estes remetem ao MP –
art.º 245º CPP);
- Dirigir o Inquérito (art.º 262º e seguintes do CPP);
- Deduzir acusação (a qual pode ter lugar após o Inquérito e constitui um juízo de
probabilidade de que, perante os indícios existentes, alguém cometeu um crime) e sustentá-la
efectivamente na Instrução (fase facultativa do processo – art.º 286º e seguintes do CPP) e no
Julgamento (art.º 311º e seguintes);
- Interpor recursos (petição feita a tribunal de nível superior ao que tomou a decisão), ainda que
no exclusivo interesse da defesa (a função do MP é averiguar a verdade, mesmo que isso
aproveite ao arguido);
- Promover a execução das penas e das medidas de segurança (após a sentença condenatória do
tribunal é o MP que providencia que as sanções sejam executadas);
- PROMOVER O PROCESSO (nos termos do art.º 48º e com as restrições impostas pelos arts 49º e
50º relativamente aos crimes dependentes de queixa e/ou acusação particular).
I - O Ministério Público é um órgão de justiça com um estatuto muito diverso das vulgares «partes» processuais, pelo que os seus representantes com
intervenção num dado processo não podem, manifestamente e sob pena de uma inadmissível perversão do sistema, serem indicados como testemunhas para
deporem no respectivo julgamento.
II - A indicação de dois Delegados do Procurador da República como testemunhas de defesa, «como subscritores de despachos proferidos no processo» é
incidente anómalo, sujeito a condenação em multa.
Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 1995.12.13, Colectânea de Jurisprudência, Supremo Tribunal de Justiça, III, pág.255

13
Direito Processual Penal

5.3. - ARGUIDO

A ideia comum que se tem do arguido corresponde à do sujeito que cometeu um dado crime. No
entanto, este conceito não abrange todas as situações que determinam a existência de um arguido num
processo.
Pode haver pessoas que são constituídas arguidas e que mais tarde se vem a verificar que não
cometeram qualquer crime. Os arguidos não são “criminosos”, mas apenas se encontram sob
investigação por suspeita da prática de crimes, que pode ou não vir a confirmar-se. Apesar de tudo,
convém lembrar que nem mesmo o pior dos criminosos pode alguma vez perder a dignidade humana.
A qualidade de arguido é importante pela concessão legal de direitos e deveres (art.º 61º CPP) e
pela posição processual que a pessoa passa a ocupar. Tal qualidade, desde que adquirida, conserva-se
durante o decurso do processo, independentemente das fases por este percorridas (art.º 57º CPP, nº 2).

5.4. - ASSISTENTE

O assistente traduz a necessidade, prevista por lei, de intervenção das pessoas que se tenham
como ofendidos por um dado crime. É uma figura corrente nas legislações penais dos países
mediterrâneos da Europa.
Enquanto que o MP colabora com o tribunal na descoberta da verdade, o assistente é um
colaborador do MP. A sua actividade encontra-se subordinada ao MP, no entanto, em determinadas
situações, pode ter um papel mais interventivo, sem estar dependente da actividade do MP,
nomeadamente:
- Intervir no Inquérito ou na Instrução, oferecendo provas e requerendo as diligências
necessárias – alínea a) do nº 2 do art.º 69º CPP.
- Deduzir acusação independentemente do MP e, no caso dos crimes particulares, ainda que o
MP tenha decidido não deduzir acusação - alínea b) do nº 2 do art.º 69º CPP.
- Interpor recurso das decisões que o afectem, ainda que o MP não o tenha feito - alínea c) do
nº 2 do art.º 69º CPP.

O assistente é sempre representado por um advogado e não pode ter mais do que um
representante (nº 1 do art.º 70º conjugado com a parte final do nº 2 do mesmo artigo). Havendo vários
assistentes são todos eles representados por um só advogado, o que só não acontecerá se os interesses
dos vários assistentes forem entre si incompatíveis (art.º 70º CPP).
Para além das pessoas a quem leis especiais confiram tal legitimidade, PODEM SER
ASSISTENTES:
▪ Os ofendidos, desde que maiores de 16 anos - alínea a) do nº 1 do art.º 68º CPP.
▪ As pessoas de cuja queixa ou acusação particular depender o processo - alínea b) do nº 1 do art.º
68º CPP.
▪ O cônjuge sobrevivo não separado judicialmente de pessoas e bens e, na falta deste, os
ascendentes, irmãos e seus descendentes, adoptante, adoptado e pessoa que com o ofendido tenha
vivido em condições análogas às dos cônjuges, desde que o ofendido tenha falecido sem renunciar
à queixa e quando as pessoas em cima referidas não tenham comparticipado no crime - alínea c) do
nº 1 do art.º 68º CPP.
▪ As pessoas em cima mencionadas e o representante legal do ofendido, se este for incapaz e aquelas
pessoas não tenham comparticipado no crime - alínea d) do nº 1 do art.º 68º CPP.
▪ Qualquer pessoa nos crimes de corrupção e peculato - alínea e) do nº 1 do art.º 68º CPP

14
Direito Processual Penal

5.5. - PARTES CIVIS


A expressão partes civis pressupõe a existência dos conceitos de pedido civil e de responsabilidade civil.
No processo penal (o qual se destina a averiguar a responsabilidade criminal de alguém) pode haver ou correr
paralelamente um pedido civil visando a responsabilidade civil de alguém. Sendo assim, no processo penal
podem coexistir duas situações distintas dirigidas, uma à responsabilidade penal e outra à responsabilidade civil.
A responsabilidade penal é a que resulta da prática de um acto ilícito qualificado como crime e traduz-se
numa sanção imposta coactivamente (ex: pena de prisão por ter cometido o crime de dano) e de forma
organizada, contra aquele que praticou um acto ilícito (crime).
A responsabilidade civil é a que resulta dos efeitos praticados por um acto ilícito de natureza civil e
traduz-se numa sanção, imposta coactivamente (ex. obrigação de indemnizar pelos estragos provocados pelo
dano causado) e de forma organizada, contra aquele que praticou um acto ilícito, assumindo esta quase sempre,
a forma de ressarcimento ou reparação do prejuízo causado. A reparação civil assume a forma de indemnização
civil.
Havendo dois tipos de responsabilidade podem ser ambos averiguados no âmbito do processo penal nos
termos do art.º 71º do CPP – PRINCÍPIO DA ADESÃO: o pedido de indemnização civil fundado na prática de
um crime é deduzido no processo penal respectivo, só o podendo ser em separado, perante o tribunal civil, nos
casos previstos na lei (ver art.º 72º do CPP – pedido em separado). As RAZÕES SUBJACENTES AO
PRINCÍPIO DA ADESÃO são, entre outras, as seguintes:
- Economia de tempo e de dinheiro por parte da vítima (o processo penal deveria, por norma, correr
mais rapidamente que o processo civil - o que nem sempre acontece - e é menos dispendioso).
- A prevenção geral e especial contra a criminalidade pode ser mais actuante, uma vez que à pena é
acrescida a sanção civil.
O princípio da obrigatoriedade da dedução do pedido de indemnização civil em processo penal, apenas é
válido, em toda a sua plenitude nos crimes públicos (embora com as limitações previstas no art.º 72º do CPP).
Para os crimes particulares e semi-públicos vigora o princípio da opção, mas se o ofendido ou o assistente
quiserem optar pelo processo civil, isso equivale a uma renúncia ao prosseguimento do processo penal.
Quem podem ser as partes civis?
Uma delas é o sujeito activo designado lesado. A outra é o sujeito passivo que tanto pode ser o arguido,
como o responsável meramente civil. O lesado nem sempre é o ofendido, por exemplo, num crime de homicídio
consumado em que o ofendido morre, o lesado poderá ser a sua viúva, que é a pessoa com legitimidade para
formular o pedido de ressarcimento dos danos morais e materiais sofridos.
O LESADO (art.º 74º do CPP) é sempre o autor do pedido cível e é toda aquela pessoa que sofreu danos
ocasionados pelo crime, tendo-se ou não constituído como assistente. Para haver lesado é necessário que haja
um dano, que esse dano tenha sido provocado por um crime e que o crime tenha sido a causa adequada à
produção do dano.
Exemplo: “A” empresta o seu carro a “B” que lhe tem um ódio de morte a “C”. Um dia em que “B” vai a descer a rua, “C” atira-lhe
com uma pedra ao veículo, fazendo com que “B” perca o controlo do carro, acabando por bater noutros veículos que se encontravam
estacionados. “B”, que sofre a ofensa corporal, é o ofendido, enquanto “A” e os outros proprietários dos veículos atingidos são os
lesados, pois sofrem danos ocasionados pelo crime.
O SUJEITO PASSIVO pode ser o arguido ou o responsável meramente civil. O arguido, na medida em
que sobre ele recaem fortes suspeitas, alicerçadas em provas, de que cometeu o crime que produz os danos é,
naturalmente, aquele que deverá ser responsabilizado civilmente. O responsável meramente civil encontra-se
contemplado no art.º 73º do CPP e a sua actividade desenvolve-se no âmbito puro da relação jurídica processual
civil, ou seja, é-lhe vedado desenvolver a sua actividade no âmbito da relação jurídica penal.
Se, por exemplo, Abel conduzindo a sua viatura de forma perigosa (art.º 291º do CP) embate na viatura de Bento provocando
danos na viatura, temos Abel como arguido que responde civil e criminalmente pelo facto que provocou, Bento que é o ofendido e lesado
e, eventualmente a Companhia Seguradora de Abel que é a responsável meramente civil (pessoa colectiva que está obrigada ao
ressarcimento do dano que é ocasionado pelo crime).
NOS TERMOS DO ARTº 75º DO CPP, LOGO QUE, NO DECURSO DO INQUÉRITO, SE TORNAR CONHECIMENTO
DA EXISTÊNCIA DE EVENTUAIS LESADOS, DEVEM ESTES SER INFORMADOS, PELA AUTORIDADE JUDICIÁRIA OU
PELOS OPC, DA POSSIBILIDADE DE DEDUZIREM PEDIDO DE INDEMNIZAÇÃO CIVIL EM PROCESSO PENAL E DAS
FORMALIDADES A OBSERVAR.
NOTAS: - No apêndice 4 do anexo A encontra-se um modelo de notificação nos termos do art.º 75º e seguintes.
- No processo sumaríssimo não é permitida a intervenção das partes civis (art.º 393º do CPP).

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Direito Processual Penal

6. - NOTÍCIA DO CRIME
Toda a notícia de crime deve ser comunicada ao MP, pois é este que tem a legitimidade para
promover o Processo (ver art.º 48º CPP). Nos termos do art.º 241º do CPP, o MP pode ter
conhecimento do crime por três formas:
▪ Conhecimento próprio (por exemplo, o MP presencia um crime);
▪ Por intermédio dos Órgãos de Polícia Criminal (na maioria dos casos);
▪ Por denúncia (alguém que vai comunicar o crime ao MP).

6.1. - DENÚNCIA OBRIGATÓRIA


Nos termos do art.º 242º do CPP a denúncia dos crimes é obrigatória, ainda que os agentes não
sejam conhecidos:
Para as entidades policiais, quanto a todos os crimes de que tomarem conhecimento
- Apesar de no art.º 1º do CPP se verificar uma preocupação conceitual em definir vários termos, não se
encontra aí contemplado o conceito de “entidade policial”. Se em termos da nossa instituição, isso não constitui
grande problema, pois todos os militares da GNR podem ser considerados entidades policiais, o mesmo não
acontece com outras instituições do nosso país. Existem elementos de outras forças ou serviços que não são
funcionários de investigação e subsequentemente não são entidades policiais, a par de outros elementos que não
sendo funcionários de investigação, são tidos como entidades policiais. Em termos leigos podemos definir como
ENTIDADE POLICIAL todo o funcionário que desenvolve uma actividade no âmbito de uma polícia e que
detém poderes de autoridade pública, ou seja, que pode actuar coercivamente, dando-lhe a lei esta capacidade,
para evitar a produção ou ampliação de danos sociais.
- A expressão “todos os crimes” deve-se entender como referente a todos os crimes públicos, já que
relativamente aos crimes semi-públicos e particulares temos as indicações do nº 3 do art.º 242º do CPP. No
entanto, é de ponderar, mesmo nestes tipos de crimes, se a nossa actuação (nomeadamente a informação ao MP
e instituições de apoio à vítima) não deve ir um pouco além do que é exigido por lei, de forma a evitar
acusações de passividade por parte da sociedade (“- A GNR sabia que isto podia acontecer e não fez nada”).
- Há ainda que ter em conta o disposto no nº 2 do art.º 66º da Lei Nº 147/99 de 1 de Setembro (Lei de protecção
de crianças e jovens em perigo) a qual refere que a comunicação de situações de perigo é obrigatória para
qualquer pessoa que tenha conhecimento de situações que ponham em risco a vida, a integridade física ou
psíquica ou a liberdade da criança ou do jovem (entendendo-se por criança ou jovem, a pessoa com menos de 18
anos ou a pessoa que solicite a continuação da intervenção iniciada antes de atingir os 18 anos – alínea a) do
art.º 5º do mesmo diploma).
▪ Para os funcionários, quanto a crimes de que tomarem conhecimento no exercício das suas
funções e por causa delas (o conceito de funcionário encontra-se no art.º 386º do CP).
Nota: Os militares que, no exercício de funções e por causa delas, tomarem conhecimento de crime estritamente
militar têm o dever de o participar à autoridade competente (art.º 122º do CJM).
Para cumprimento da denúncia obrigatória basta que uma das pessoas que são obrigadas a
efectuá-la o faça, ficando automaticamente todas as outras dispensadas de efectuar denúncia
relativamente aquele crime em particular (nº 2 do art.º 242º do CPP).
6.2. - DENÚNCIA FACULTATIVA
Para qualquer pessoa diferente das supra referidas a denúncia de crimes é facultativa, ou seja,
as pessoas só denunciam os crimes públicos (já que os semi-públicos e particulares se encontram
excluídos nos termos do art.º 244º do CPP) de que eventualmente tenham conhecimento, se assim o
desejarem. Optando por denunciar um crime, podem fazê-lo directamente ao MP ou a outra
Autoridade Judiciária ou então (o que normalmente acontece) aos OPC, sendo estes (AJ e OPC)
obrigados a transmitir a denúncia ao MP no mais curto prazo (art.º 245º do CPP).

6.3. – FORMA DA DENÚNCIA


A denúncia assume uma forma livre, podendo ser feita verbalmente ou por escrito (nº 1 do art.º
246º do CPP), no entanto, se for verbal deve ser reduzida a escrito e assinada pela entidade que a
recebe e pelo denunciante (nº 2 do art.º 246º do CPP). Se o denunciante não puder ou se recusar a
assinar a denúncia, o militar que elabora o auto de denúncia, declara no mesmo essa impossibilidade
ou recusa e os motivos que levaram a essa impossibilidade ou recusa (nos termos do nº 3 do art.º 95º
do CPP).
16
Direito Processual Penal

6.4. - AUTO DE NOTÍCIA

O auto de notícia não é mais do que uma denúncia, embora seja uma denúncia especial (há quem
lhe chame denúncia qualificada), pois é elaborado por uma AJ, OPC ou entidade policial com base
naquilo que essas mesmas entidades presenciaram. Ou seja, o auto de notícia é o relato de um
acontecimento observado por aquelas entidades (nº 1 do art.º 243º do CPP).
O auto de notícia deve mencionar:
 Factos que constituem o crime
 Dia, hora, local e circunstâncias em que o crime foi cometido
 Identificação dos agentes, ofendidos e testemunhas
 Meios de prova conhecidos
A entidade que elabora o auto de notícia tem que obrigatoriamente assiná-lo (nº 2 do art.º 243º do
CPP) e remetê-lo ao MP no mais curto espaço de tempo, valendo o auto como denúncia (nº 3 do art.º
243º do CPP). Em casos de conexão (mesmo agente cometer vários crimes, mesmo crime cometido
por vários agentes, etc), nos termos do art.º 24º e seguintes do CPP, pode levantar-se apenas um único
auto de notícia (nº 4 do art.º 243º do CPP).
Um auto de denúncia contém, na medida do possível, a indicação dos mesmos elementos de um
auto de notícia (nº 3 do art.º 246º do CPP).
Nota: No apêndice 1 do anexo A encontra-se um modelo de auto de notícia.

6.4.1. - REDACÇÃO DO AUTO DE NOTÍCIA


O auto de notícia/denúncia é um documento que se encontra padronizado na GNR (modelo
CEGRAF nº 82), no entanto, grande parte das unidades da GNR utilizam hoje em dia modelos
informatizados, os quais devem obedecer às disposições contidas no CPP. A parte fundamental de um
auto de notícia/denúncia é a “descrição dos factos”, onde nós, enquanto OPC, tentamos transmitir da
forma mais fidedigna e completa possível os acontecimentos ao MP.
Sendo a “discrição dos factos” um texto que relata acontecimentos, está, como qualquer texto,
dependente do seu autor. Cada pessoa tem a sua própria forma/estilo de escrever, mas o que nunca
poderá estar em causa é a veracidade e correcção dos factos transmitidos ao MP. Sendo assim
aconselha-se a que na elaboração do auto de notícia/denúncia, e especialmente na descrição dos factos,
se sigam os seguintes conselhos:
 Reproduzir os factos de forma tão fiel quanto possível;
 Fazer uma descrição essencialmente factual e que tente, se possível, responder às questões básicas:
Quem? O quê? Como? Quando? Onde? e Porquê?;
 As rasuras são terminantemente proibidas;
 Utilizar uma linguagem clara, precisa e concisa;
 As frases devem, na medida do possível, ser curtas e sintacticamente bem construídas;
 Evitar utilizar expressões como “eu”, “ele”, “nós”, etc, optando por utilizar a 3ª pessoa do singular;
 De preferência, identificar os intervenientes no texto pelos seus nomes processuais (autuante,
ofendido, queixoso, testemunha, arguido, etc);
 Descrever a situação de forma lógica e cronológica (do princípio para o fim), não andando a
“saltar” entre factos e acontecimentos;
 Evitar juízos valorativos, opinativos e conclusivos que possam comprometer a objectividade
factual (não usar expressões como “não teve o bom senso de…”; “teve o desplante…”; teve a
ousadia…”; etc;
 Deve-se fazer constar nos autos as palavras exactas ditas pelos intervenientes numa situação (auto
de notícia) ou pelo denunciante (auto de denúncia), não se podendo fazer qualquer tipo de
“censura”;
 Referir todos os factos de que se tiver conhecimento (o que para nós parece insignificante, poderá
ser de extrema importância para o MP);
17
Direito Processual Penal

 Nunca esquecer de:


 Mencionar os factos do crime;
 Referir o dia, hora, local e circunstâncias do crime;
 Identificar completamente os intervenientes (agentes, ofendidos, testemunhas, meios
de prova, etc);
 Descrever pormenorizadamente os objectos que possam constituir prova (cor,
tamanho, calibre, marca, modelo, etc);
 Assinar o auto;
 Remeter o auto ao MP no mais curto espaço de tempo.
(...) uma vez que os OPC têm como função o carrear para o processo todos os elementos que lhes advenham das declarações dos
arguidos, todas e quaisquer conversas informais que mantenham com eles não podem ser apreciadas pelo tribunal, nem mesmo através
da referência à sua existência, salvo para se apurar da existência de uma possível falta funcional daqueles, em virtude de tais conversas
passarem a ser dados de facto não carreados para os autos quando o deveriam ter sido e, como tal, incognoscíveis.
Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 29JAN92.

6.4.2. - “MODO DE ACTUAÇÃO”


No modelo CEGRAF nº 82 vem um campo denominado “Modo de actuação”. Nos autos de
notícia informatizados este campo foi esquecido, até porque existem divergências sobre qual o “modo
de actuação” que está em causa, se o modo de actuação dos OPC (descrição sucinta dos nossos
procedimentos, por exemplo: cessámos a infracção, procedemos à detenção do suspeito, constituímos
o agente arguido e sujeitámo-lo a TIR, etc) de forma a que o MP de uma maneira rápida possa
“fiscalizar” a nossa actuação no caso, se o modo de actuação dos agentes do crime (descrição sucinta
da forma como o agente cometeu o crime).
Não é realmente importante saber qual o modo de actuação que está em causa, desde que na
descrição dos factos se faça um relato completo e pormenorizado dos acontecimentos.

6.4.3. - NUIPC – NÚMERO ÚNICO DE IDENTIFICAÇÃO DE PROCESSO CRIMINAL


Todos os processos criminais têm um número próprio, diferente de todos os outros processos a
que se dá a designação de NUIPC. A existência deste número foi instituída pela Portaria Nº 1223-A/91
de 30 de Dezembro. O número é constituído da seguinte forma:
Nº sequencial do processo na subunidade ano nº aleatório (de 0 a 9) designação que foi dada à subunidade
0 0 0 0 0 / 0 0 . 0 . G B A V R
Por exemplo, o primeiro processo criminal do Destacamento Territorial de Aveiro em 2005 pode ter
como NUIPC: 00001/05.1.GBAVR

7. - NATUREZA DOS CRIMES - CRIMES PÚBLICOS, SEMI-PÚBLICOS E


PARTICULARES
O Ministério Público é a autoridade com legitimidade para promover o processo penal. Como
vimos, todas as notícias de crimes devem ser canalizadas para o MP, independentemente da entidade
que toma conhecimento dos crimes. No entanto, foi igualmente referido que a denúncia obrigatória só
se aplica aos crimes públicos e não aos semi-públicos e particulares.
Encontramo-nos assim perante uma classificação dos crimes quanto à sua natureza penal e, pelo
que é possível deduzir do que foi atrás referido, o MP não tem uma “liberdade” total para promover o
processo penal de todos os crimes, havendo algumas restrições à sua actuação.

7.1. – CRIMES PÚBLICOS


Existem crimes para os quais o MP tem legitimidade para promover o processo penal, sem a
intervenção de nenhuma outra pessoa ou entidade, os chamados CRIMES PÚBLICOS, que se encontram
consagrados no art.º 48º do CPP. Entretanto, este mesmo artigo afirma que a promoção do processo
pelo MP está sujeita às restrições constantes nos artigos 49º a 52º, e estas restrições estão relacionadas
com os crimes semi-públicos e particulares.

18
Direito Processual Penal

Os crimes públicos estão sujeitos aos princípios da obrigatoriedade e da oficialidade. O princípio


da obrigatoriedade (previsto no artigo 48.º do CPP), significa que o procedimento criminal depende
apenas e só do facto do MP ter conhecimento, de qualquer forma ou modo, do crime.
Estes crimes, não admitindo a desistência de queixa, dão sempre lugar à abertura de um inquérito
(artigos 48.º e 262.º, n.º 2 do CPP) - Princípio da Legalidade - tendo legitimidade para promover o
Processo Penal o MP, função em que é coadjuvado pelos OPC (artigos 48.º e 55.º, n.º 1 do CPP).
São crimes que pela sua gravidade e consequências atingem de tal maneira os valores da
comunidade que esta não pode ficar inactiva. Nestes crimes basta a notícia do crime para que o MP
desencadeie todo o processo, sendo obrigado também a deduzir acusação, caso recolha indícios
suficientes da prática do crime.
Em resumo, nos crimes públicos há sempre lugar a procedimento criminal, que é oficioso e
automático, independentemente da vontade do ofendido ou de quem o represente.

7.2. - CRIMES SEMI-PÚBLICOS

Crimes cujo procedimento criminal depende de queixa do ofendido ou de outras pessoas e de


que essas pessoas dêem conhecimento do facto ao MP (nº 1 do art.º 49º do CPP). Para que haja
procedimento judicial, a lei obriga a que o titular do direito de queixa, ou quem o represente, manifeste
expressamente o desejo de procedimento.
Neste tipo de crimes, a comunidade sente-se lesada, no entanto, põe acima dos valores
comunitários, os valores individuais que foram violados, pois entende que a reacção contra essa
infracção deverá depender da vítima/ofendido.
O ofendido ao queixar-se, sabe que vai haver uma investigação e que depois haverá um
julgamento, com toda a publicidade que lhe é característica e que é legal. Assim, a lei deixa, nestes
casos, o direito de denúncia ao particular, uma vez que o “dano” provocado pelo julgamento poderá ser
igual ou maior, com a publicidade que é dada ao acto criminal, do que o “dano” provocado pelo crime.
Normalmente nestes crimes estão em causa interesses próprios, mais relacionados com a esfera
íntima de cada um, do que com a esfera dos valores comunitários.
 A queixa considera-se feita quando dirigida a qualquer entidade que tenha por obrigação
transmiti-la ao MP - nº 2 do art.º 49º CPP.
 Os titulares do direito de queixa são os que constam no art.º 113º do CP, mas ela pode ser
apresentada (nº 3 do art.º 49º CPP):
• pelo próprio titular do direito
• por mandatário judicial
• por mandatário munido de poderes especiais
 Nos crimes em que para haver procedimento criminal é necessária a participação de qualquer
autoridade aplicam-se os mesmos princípios referentes à queixa - nº 4 do art.º 49º do CPP.

Nota: Existem crimes em que está definida a autoridade que tem legitimidade para apresentar a participação (ex:
Estado Português - art.º 319º, nº 2 e art.º 324º, nº 1 do CP) e outros que não especificam concretamente quem
são essas autoridades (ex: art.º 188º, nº 1, b) e 198º do CP).
Se, em consequência da entrada em vigor da lei nova, o crime que até aí revestia natureza pública passou a ser considerado semipúblico,
o Ministério Público manterá legitimidade para o procedimento criminal, independentemente de ter havido queixa formal por parte do titular
do respectivo direito, se o facto criminoso foi praticado e a acusação formulada na vigência da lei antiga.
Acórdão da Relação do Porto, de 1996.06.12, Boletim do Ministério da Justiça, 458, pág. 390

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Direito Processual Penal

7.3. - CRIMES PARTICULARES


Crimes cujo procedimento criminal depende de acusação particular do ofendido ou de outras
pessoas e que essas pessoas se (nº 1 do art.º 50º CPP):
- queixem (num 1º momento a pessoa queixa-se e tem que declarar que vai constituir assistente - art.º 246º do
CPP);
- constituam assistentes (num 2º momento, constitui-se assistente e para tal necessita de advogado para
assinar o requerimento. Têm de estar reunidos alguns dos pressupostos processuais, como a
personalidade, a legitimidade, etc., que existem logo na constituição de assistente, e ainda outros
que não existem a essa altura, como, por exemplo, o pagamento de uma taxa de justiça);
- deduzam acusação particular (este 3º momento surge muito à posteriori, depois de elaborado o inquérito,
o qual pode demorar alguns meses).

Nestes crimes o procedimento criminal ou judicial, para além de depender da vontade do titular
do direito de queixa ou de quem o represente, à semelhança do que acontece com os crimes de
natureza semi-pública, depende ainda de acusação particular.
Os crimes particulares correspondem normalmente a infracções de pequena gravidade, que não se
relacionando com bens jurídicos fundamentais da comunidade, apenas atingem a pessoa visada, não se
sentindo a comunidade em si própria muito lesada, pelo que não sente necessidade de reagir. Assim,
deixa-se ao particular, a iniciativa de dar conhecimento e depois, ele próprio, se quiser, após a
diligência do inquérito, deduzir acusação.
Nestes crimes não há lugar a detenção em flagrante delito, mas apenas à identificação do
infractor.
Os titulares do direito de acusação particular são os que constam no art.º 113º do CP (ver art.º
117º do Código Penal), mas ela pode ser apresentada (nº 3 do art.º 50º CPP):
• pelo próprio titular do direito;
• por mandatário judicial;
• por mandatário munido de poderes especiais.

Nota:
Normalmente é no final do próprio artigo ou capítulo que aparece a referência “o procedimento criminal
depende de queixa” (Ex: Art.º 156º ou Art.º 178º do CP). Da mesma forma para os crimes particulares (Ex: Arts.
207º e 188º do CP).

8. - DIREITO DE QUEIXA E ACUSAÇÃO PARTICULAR


O conceito de queixa está intimamente ligado aos crimes semi-públicos e particulares
(necessitando estes igualmente da existência de acusação particular), pois estes crimes só podem ser
processados pelo Ministério Público depois de o titular do direito de queixa ter manifestado a vontade
de a apresentar.
Confunde-se muitas vezes o conceito de queixa com o de denúncia, sendo , no entanto estes dois
conceitos distintos:
QUEIXA – consiste na vontade expressa, por parte do titular do direito de queixa, em desejar
procedimento criminal. Como foi dito, a queixa assume papel fundamental nos crimes particulares e
semi-públicos, pois dela depende o procedimento criminal.
DENÚNCIA – pode ser feita por qualquer pessoa que tenha conhecimento de um crime (sendo
obrigatória, no caso dos crimes públicos para os militares da GNR), não sendo necessário que seja o
ofendido ou alguém por conta deste (não é sequer necessário saber quem é o ofendido). A denúncia
assume relevância no caso dos crimes públicos.

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Direito Processual Penal

8.1. - TITULARES DO DIREITO DE QUEIXA (113º CP)


1) O OFENDIDO (salvo disposição em contrário) – titular dos interesses que a lei especialmente quis
proteger com a sua incriminação (nº 1).
 SE OFENDIDO MORRER (sem apresentar queixa e sem ter renunciado a ela) - (nº 2):
a) O cônjuge sobrevivo não separado judicialmente de pessoas e bens, aos descendentes e aos adoptados e aos
ascendentes e aos adoptantes;
b) Os irmãos e seus descendentes e à pessoa que com o ofendido vivesse em condições análogas às dos cônjuges
Nota: desde que não tenham comparticipado no crime, qualquer pessoa pode apresentar queixa independentemente das
restantes.

 SE OFENDIDO FOR MENOR DE 16 OU NÃO POSSUIR DISCERNIMENTO (nº 3):


- O representante legal;
- O cônjuge sobrevivo não separado judicialmente de pessoas e bens, aos descendentes e aos adoptados e aos
ascendentes e aos adoptantes;
- Os irmãos e seus descendentes e à pessoa que com o ofendido vivesse em condições análogas às dos cônjuges.
Nota: desde que não tenham comparticipado no crime
Notas:
- Existe uma hierarquia entre os titulares do direito de queixa previstos na alínea a) do n.º 2 do art.º 113º e os previstos ma alínea b),
mas não existe hierarquia dentro de cada uma das alíneas. Ou seja, os titulares do direito de queixa previstos na alínea b) só intervêm
no processo se os da alínea a) não quiserem ou não poderem intervir.
- Queixa de pessoa colectiva – sendo o ofendido uma pessoa colectiva, tem que se atender aos seus estatutos e à Lei para determinar se
o direito de queixa foi exercido por quem estatutariamente tinha os poderes para o exercer e se a vontade dessa pessoa foi regularmente
formada.

2) O MINISTÉRIO PÚBLICO
- Quando o direito de queixa não puder ser exercido porque a sua titularidade caberia apenas, no caso, ao
agente do crime e se especiais razões de interesse público o impuserem (113º, nº 5 do CP).
- Quando, nos casos previstos na lei, o interesse da vítima o impuser (113º, nº 6 do CP) – Exemplo: art.º
178º, nº 4 do CP.

8.2. - EXTENSÃO DOS EFEITOS DA QUEIXA (114º CP) - a apresentação da queixa contra um dos
comparticipantes no crime torna o procedimento criminal extensivo aos restantes.
8.3 - EXTINÇÃO DO DIREITO DE QUEIXA (115º CP)

 A contar da data em que o titular tiver conhecimento do facto e dos seus autores
6 MESES  A partir da morte do ofendido ou
 A partir da data em que o ofendido se tornou incapaz
Com esta limitação do prazo, pretende-se evitar que o ofendido, movido por ódio ou desejo de
vingança, possa prolongar, ilimitadamente, a ameaça da acção penal, mantendo indefinidamente o
constrangimento sobre o arguido, ou procurando mesmo obter daí vantagens (chantagem).
Tendo, por alteração legislativa, mudado a natureza de determinado crime, pois que de público passou a semi-público deve ao ofendido, que ainda se não haja
pronunciado quanto ao direito de queixa e quando tenham decorrido mais de 6 meses a partir da prática do ilícito, ser conferido igual prazo a partir da entrada
em vigor da lei nova.
Acórdão da Relação de Lisboa, de 12.03.1996, Boletim do Ministério da Justiça, 455, pág. 558.

- O não exercício de queixa contra um dos comparticipantes no crime aproveita os restantes (115º, nº 2 , CP).
- Sendo vários os titulares do direito de queixa o prazo conta-se autonomamente para cada um deles (115º, nº
3 do CP).
Nota: A contagem do prazo de 6 meses só se inicia depois do titular do direito de queixa ter conhecimento, cumulativamente, do facto e dos seus autores,
pelo que a descoberta, por exemplo, de um cúmplice não basta para determinar o início da contagem do prazo.

8.4. - RENÚNCIA E DESISTÊNCIA DA QUEIXA (116º CP)


O direito de queixa não pode ser exercido se o titular:
RENÚNCIA  a ele expressamente tiver renunciado (através de declaração inequívoca) ou
(acto unilateral)  tiver praticado factos donde a renúncia necessariamente se deduza (renúncia tácita).
➔ O queixoso pode desistir da queixa, até à publicação da sentença da 1.ª instância
- desde que não haja oposição do arguido – a desistência tem que ser expressa.
DESISTÊNCIA ➔ A desistência impede que a queixa seja renovada.
(acto bilateral) ➔ A desistência da queixa relativamente a um dos comparticipantes no crime aproveita aos restantes, desde que
estes não se oponham, nos casos em que os comparticipantes não possam ser perseguidos sem queixa.

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Direito Processual Penal

Homologação da desistência da queixa ou da acusação particular (art.º 51º do CPP)


❖ Nos casos previstos nos artigos 49.° e 50.°, a intervenção do MP no processo cessa com a homologação da
desistência da queixa ou da acusação particular (nº 1).
❖ Se o conhecimento da desistência tiver lugar durante o inquérito, a homologação cabe ao MP; se tiver lugar
durante a instrução ou o julgamento, ela cabe, respectivamente, ao juiz de instrução ou ao presidente do
tribunal (n.º 2)
❖ Logo que tomar conhecimento da desistência, a autoridade judiciária competente para a homologação
notifica o arguido para, em cinco dias, declarar, sem necessidade de fundamentação, se a ela se opõe. A
falta de declaração equivale a não oposição (n.º 3).

Nota: No caso de o procedimento depender de queixa ou de acusação particular, a prévia dedução do pedido
perante o tribunal civil pelas pessoas com direito de queixa ou de acusação vale como renúncia a este direito
(art.º 72.º, n.º 2 do CPP).
Compete ao Ministério Público homologar a desistência da queixa se esta se verificar antes da abertura da instrução ou antes do processo ser recebido no
tribunal para julgamento.
Acórdão da Relação de Coimbra, de 1996.11.06, Boletim do Ministério da Justiça, 461, pág. 533

8.5. - DIREITO DE ACUSAÇÃO PARTICULAR – ART.º 117º CP


O disposto nos artigos relativos à queixa é correspondentemente aplicável aos casos em que o
procedimento criminal depender de acusação particular.
Ou seja, tudo o que foi referido para a queixa:
➔ Titulares do direito (113º)
➔ Extensão dos efeitos (114º) Aplica-se à
➔ Extinção do direito (115º) ACUSAÇÃO PARTICULAR
➔ Renúncia e desistência 116º)

Circular Nº 6323 de 26 de Junho de 1997 da 3ª REP/GNR – Recebimento de queixas


 O OPC a que o cidadão se apresenta a queixar, participar ou denunciar deverá tomar conta da ocorrência, lavrando o necessário auto
e remetê-lo, se for caso disso, à entidade que for competente para proceder à investigação dos factos - 1.e.
 Todas as unidades e subunidades da Guarda, independentemente de se encontrarem sedeadas em áreas de responsabilidade
territorial de outra força de segurança, deverão receber qualquer queixa ou denúncia criminal que lhe seja apresentada, mesmo
quando a competência para a investigação couber a outro OPC - 2.a.
 O acto de recebimento de queixas implica (3.):
- Um correcto atendimento ao público;
- Exercício de uma acção pedagógica junto do queixoso;
- Transmissão de toda a informação pertinente às pessoas sobre a marcha do processo;
- Menção às pessoas das tarefas da GNR, MP e Tribunais;
- Explicação das possibilidades e restrições legais da GNR na sua actuação.

Despacho nº 8 de 17 de Janeiro de 1998 do Ministro da Administração Interna


1. Que no âmbito da GNR, sejam tomadas as providências convenientes no sentido de serem prontamente recebidas nos postos, as
queixas dos cidadãos, independentemente da sua natureza (criminal ou não) e da competência da Autoridade para as conhecer.
2. Nos casos em que, recebida a queixa, se verifique que a competência para o seu conhecimento pertence a entidade estranha à
Força, deverá aquela ser enviada com brevidade, à entidade competente, informando-se o cidadão queixoso.

Circular Nº 9520 de 24 de Novembro de 1998


- Os cidadãos deverão ser atendidos, imediatamente ou logo que possível, pelos efectivos que em cada momento estiverem
destacados para o efeito nos Postos;
- O atendimento deverá ocorrer num compartimento destinado a tal, se possível, distinto do compartimento de entrada, sendo feito
em local reservado quando os factos forem respeitantes à intimidade pessoal;
- Registar as participações respeitantes a crimes públicos de forma clara;
- Informar os denunciantes da faculdade de poderem ser efectuados exames, pessoais ou às suas coisas, bem como o local e horário
em que tais exames poderão ser efectuados;
- No caso de crimes semi-públicos, alertar os titulares do direito de queixa da necessidade de exercerem este direito de imediato ou
no prazo de 6 meses;
- No caso de crimes particulares, informar as pessoas da necessidade:
 de apresentação de queixa;
 de se constituírem posteriormente como assistentes do processo;
 do pagamento da taxa de justiça;
 da constituição de advogado (que pode ser requerido ao MP, caso não tenham possibilidades económicas de o constituir);
 da dedução, oportunamente, da competente acusação particular.

22
Direito Processual Penal

9. – IDENTIFICAÇÃO
l - Toda a pessoa tem direito a usar o seu nome, completo ou abreviado, e a opor-se a que outrem o use ilicitamente para sua identificação ou outros fins.
2- O titular do nome não pode, todavia, especialmente no exercício de uma actividade profissional, usá-lo de modo a prejudicar os interesses de quem
tiver nome total ou parcialmente idêntico.
Art.° 72.° do Código Civil - Direito ao nome

A todos são reconhecidos os direitos à identidade pessoal, ao desenvolvimento da personalidade, à capacidade civil, à cidadania, ao bom nome e
reputação, à imagem, à palavra, à reserva da intimidade da vida privada e familiar e à protecção legal contra quaisquer formas de discriminação.
Art.° 26.°, n.º l da CRP
…2. Ninguém pode ser total ou parcialmente privado da liberdade, a não ser em consequência de sentença judicial condenatória pela prática de acto
punido por lei com pena de prisão ou de aplicação judicial de medida de segurança.
3. Exceptua-se deste princípio a privação da liberdade, pelo tempo e nas condições que a lei determinar, nos casos seguintes:
…g) Detenção de suspeitos para efeitos de identificação, nos casos e pelo tempo estritamente necessários;
4. Toda a pessoa privada da liberdade deve ser informada imediatamente e de forma compreensível das razões da sua prisão ou detenção e dos seus
direitos.
Artº 27º da CRP

9.1. - APLICAÇÃO DA LEI 5/95 de 21 de FEV. – LEI DA IDENTIFICAÇÃO


No nosso país encontramo-nos numa situação que não reúne consensos sobre a identificação de
pessoas. Actualmente temos na nossa legislação a Lei n.º 33/99, de 18 de Maio, que regula a
identificação civil e a emissão do bilhete de identidade de cidadão nacional, a Lei 5/95, de 21 de
Fevereiro (a chamada Lei da Identificação) e o art.º 250º do CPP - Identificação de suspeito e pedido
de informações.
O problema fulcral reside no facto de saber se a Lei 5/95 ficou tacitamente revogada com a
entrada em vigor da nova redacção do art.º 250º do CPP (dada pela Lei nº 59/98 de 25 de Agosto). O
novo texto do art.º 250º do CPP passou a ser coincidente com o da Lei da Identificação, divergindo em
dois importantíssimos pontos:
• A lei da identificação prevê o período de 2 horas para identificação enquanto que o art.º 250º
CPP prevê, para o mesmo efeito, o período de 6 horas;
• A lei da identificação prevê que “nos casos de recusa de identificação, terá lugar um
procedimento de identificação” (art.º 3º), enquanto no art.º 250º do CPP tal situação não está
prevista, podendo os OPC ser levados a encarar a recusa de identificação como crime de
desobediência nos termos da alínea b) do nº 1 do art.º 348º do Código Penal.

Estas situações são encaradas de forma diferente por vários autores e verifica-se igualmente
alguma disparidade entre os entendimentos dados pelos diversos magistrados do MP. Existe quem
afirme que a Lei 5/95 se encontra revogada e quem afirme o contrário. Existem magistrados que
recomendam que não se ultrapasse as 2 horas para a identificação e outros que não vêm qualquer
problema em utilizar 6 horas no procedimento de identificação. Existem ainda, nalguns locais,
recomendações para, no caso de ilícitos de mera ordenação social (contra-ordenações), não se
ultrapassar as 2 horas para o procedimento de identificação e, nos casos de suspeita de cometimento de
ilícitos criminais, utilizar as 6 horas. Existem ainda locais em que não se vê qualquer inconveniente em
deter os indivíduos durante as 6 horas e se após este período não estiver identificado, libertá-lo e voltá-
lo a deter por mais 6 horas. Na falta de legislação que estabeleça concretamente qual o sistema a
adoptar é recomendável que nas várias comarcas se peçam indicações quanto a este assunto ao
magistrado do MP local.
A Lei 5/95 foi tacitamente revogada pela Lei n.º 59/98 de 25 Agosto que alterou o CPP.
Opinião defendida por:
- Manuel Lopes Maia Gonçalves, CPP anotado, 10ª edição, 1999, pág. 487.
- Fernando Gonçalves e Manuel Alves, Os tribunais, as polícias e o cidadão – o Processo Penal prático, 2ª
edição, Almedina, 2002, pág. 107.
- Outros defensores da revogação da Lei 5/95 afirmam que não teria qualquer lógica a continuação da
existência de um período de 2 horas para identificação, quando na Lei Tutelar Educativa (Lei n.º 166/99 de
14 de Setembro) se prevê na alínea b) do art.º 58º, um período mais alargado (3 horas) para a identificação
de menores.

23
Direito Processual Penal

A Lei 5/95 está em vigor simultaneamente com o art.º 250º do CPP.


Opinião defendida por:
- Manuel Simas Santos e Jorge Lopes de Sousa, Contra-Ordenações, Vislis Editores, 2001, págs. 291 e 292
- António Augusto Tolda Pinto, A Tramitação Processual Penal, Coimbra Editora, 2ª Edição, 2001, pág. 648
(para este autor a identificação prevista no art.º 250º CPP visa essencialmente fins de investigação criminal.
A identificação prevista na Lei 5/95 encontra-se predominantemente subordinada a fins de prevenção).

Recusa injustificada de identificação


- Quem se recusar a identificar incorre no crime de desobediência:
Acórdão do STJ, de 13 de Março de 1985, BMJ, n.º 345, pág. 235.
Acórdão da Relação de Lisboa, de 11 de Janeiro de 1984, CJ, IX, 1, Pág. 147.
Acórdão da Relação de Lisboa, de 4 de Novembro de 1987, CJ, XII, 5, pág. 148.
Acórdão do Tribunal Constitucional n.º 479/94 (Messias Bento e Bravo Serra).

- Quem se recusar a identificar deve ser conduzido ao Posto Policial. No caso de recusa em
acompanhar os OPC ao Posto Policial mais próximo, os militares da GNR devem fazer a cominação
do crime de desobediência previsto no art.º 348º do CP.
Cfr. Fernando Gonçalves e Manuel Alves, Os Tribunais, as polícias e o cidadão – Processo Penal prático, 2ª Edição, Almedina, 2002, pág. 113.

- Quem se recusar a identificar, apenas pode ser conduzido ao Posto Policial para identificação pelo
período previsto na Lei, pois esta é a única “sanção” que se encontra prevista na Lei.
Posição defendida por alguns docentes do Centro de Estudos Judiciários (CEJ).

- Quem se recusar a identificar, pode ser conduzido ao Posto Policial para identificação pelo período
previsto na Lei. Esgotado este tempo, se o indivíduo se continuar a recusar a identificar, deve ser
cominado o crime de desobediência.
Posição defendida por alguns autores e por alguns magistrados.

Ciente das dificuldades de delimitação do campo de aplicação dos dois regimes (Lei 5/95 e art.º 250º CPP), recomendou o IGAI (Inspecção Geral da
Administração Interna) que, por cautela, e até à entrada em vigor de nova legislação que ultrapasse tal ambiguidade, se tentasse não exceder o período de 2
horas.
Informação do IGAI de 8 de Abril de 1998

A Lei 5/95 estabelece:


 Art.º 2 - Obrigação de porte de documento de identificação – “os cidadãos maiores de 16 anos
devem ser portadores de documento de identificação sempre que se encontrem em lugares
públicos, abertos ao público ou sujeitos a vigilância policial”.
 Artigo 5.° - Normas processuais penais - O disposto no presente diploma não prejudica a aplicação
das providências previstas no âmbito do processo penal.

9.2. - IDENTIFICAÇÃO CIVIL E EMISSÃO DO BILHETE DE IDENTIDADE


Lei n.º 33/99 de 18 de Maio – Regula a identificação civil e a emissão do BI de cidadão nacional
➢ EFICÁCIA DO BILHETE DE IDENTIDADE - Artigo 3.º
O BI constitui documento bastante para provar a identidade civil do seu titular perante quaisquer autoridades, entidades
públicas ou privadas, sendo válido em todo o território nacional, sem prejuízo da eficácia reconhecida por normas
comunitárias e por tratados e acordos internacionais – nº 1.
O BI cujo prazo de validade estiver excedido não pode ser usado para comprovação da residência do seu titular.
➢ APRESENTAÇÃO DO BILHETE DE IDENTIDADE - Artigo 4.º
A apresentação do bilhete de identidade é obrigatória para os cidadãos nacionais quando exigida por legislação especial.
➢ EXTRAVIO, FURTO OU ROUBO DO BILHETE DE IDENTIDADE - Artigo 41.º
O extravio, furto ou roubo do bilhete de identidade deve ser comunicado aos serviços de identificação civil que o tenham
emitido – nº 1.
A entidade a quem for entregue qualquer bilhete de identidade extraviado ou furtado deve remetê-lo à Direcção de Serviços
de Identificação Civil – nº 2.
➢ CONFERÊNCIA DE IDENTIDADE - Artigo 42.º
A conferência de identidade que se mostre necessária a qualquer entidade, pública ou privada, efectua-se no momento da
exibição do bilhete de identidade, o qual é imediatamente RESTITUÍDO após a conferência – nº 1.
Nota: daqui pode-se deduzir que as pessoas devem entregar-nos o BI para a sua conferência, pois só se “restitui” uma coisa
depois de ela ter deixado de estar na posse do respectivo titular.

24
Direito Processual Penal

É vedado a qualquer entidade pública ou privada reter ou conservar em seu poder bilhete de identidade, salvo nos casos
expressamente previstos na lei ou mediante decisão de autoridade judiciária – nº 2.
Nota: Existem várias instituições públicas e privadas que não cumprem esta disposição, retendo, por exemplo, o BI na entrada em troca de um cartão de
visita, cartão de parqueamento, etc. Sobre este assunto observe-se o Ofício Circular nº 1/IGAP/2003, da IGAI, de 09MAI2003 e o Despacho da
Secretária de Estado da Administração pública de 17FEV03:
1. A Lei de identificação Civil em vigor (Lei n.º 33/99, de 18 de Maio) estabelece que “a conferência de identidade que se mostre necessária a qualquer
entidade (...), efectua-se no momento da exibição do bilhete de identidade, o qual é imediatamente restituído após a conferência”, esclarecendo ainda que “é
vedado a qualquer entidade pública ou privada reter ou conservar em seu poder bilhete de identidade, salvo nos casos expressamente previstos na lei ou
mediante decisão de autoridade judiciária (Artigo 42.º).
2. É, assim, ilegal a retenção do bilhete de identidade na portaria de serviços públicos, durante a permanência do visitante nas instalações e como forma de
controlar a seu acesso, ainda que autorizado pelo respectivo titular.
3. De acordo com a mesma Lei de Identificação Civil, é punido com uma coima quem, ilegitimamente, retiver ou conservar em seu poder bilhete de identidade
alheio (Artigo 49.º).
4. Nestes termos, devem todos os serviços públicos fazer cessar a prática de retenção ou conservação do bilhete de identidade nas respectivas portarias, nos
casos em que esta se verifique, e adoptar métodos alternativos para o controlo de visitantes.”

➢ RETENÇÃO OU CONSERVAÇÃO DE BILHETE DE IDENTIDADE - Artigo 49.º


(alterado pelo art.º 4º do Decreto-Lei nº 323/2001 de 17 de Dezembro)
 Quem, ilegitimamente, retiver ou conservar em seu poder bilhete de identidade alheio é punido
com coima de 249,40 Euros a 748,20 Euros – nº 1.
 A organização de processo de contra-ordenação compete à Direcção-Geral dos Registos e do
Notariado – nº 2.
 A decisão sobre a aplicação da respectiva coima compete ao Director-Geral dos Registos e do
Notariado – nº 2.
 A decisão que aplica uma coima é susceptível de recurso hierárquico – nº 3.

9.3. - MILITARES DA GNR

9.3.1. - PROVA DA SUA IDENTIDADE

 Código de Processo Penal


 Art.º 250º, nº 2 - Antes de procederem à identificação, os órgãos de polícia criminal devem
provar a sua qualidade, comunicar ao suspeito as circunstâncias que fundamentam a
obrigação de identificação e indicar os meios por que este se pode identificar.

 Lei 5/95
 Art.º 1º, nº 2 – os agentes só podem exigir a identificação depois de exibirem prova da
sua qualidade e de terem comunicado ao identificando os seus direitos, circunstâncias que
fundamentam a obrigação de identificação e os meios por que se pode identificar.

 Lei Orgânica da Guarda Nacional Republicana - Decreto-Lei nº 231/93, de 26 de Junho


 Artigo 24º, nº 2 - Os militares da Guarda que, nos termos da lei, ordenarem a identificação
de pessoas ou emitirem qualquer outra ordem ou mandato legítimo sem se encontrarem
uniformizados devem exibir previamente prova da sua qualidade.

 Estatuto dos Militares da Guarda Nacional Republicana - Decreto-Lei nº 265/93, de 31 de


Julho
 Art.º 14º, alínea n) – Constituem deveres do militar da Guarda comprovar a sua identidade e
situação sempre que solicitada.

 Circular nº 10030 da 3ª REP/CG de 11 de Novembro de 1993


 nº 3 – quer nas circunstâncias referidas no art.º 24º da LOGNR quer fora de tais
circunstâncias, sempre que solicitados, os militares da GNR farão prova da sua identidade
de forma franca, decidida e inequívoca mediante:
- declinação oral do seu posto, nome e local onde presta serviço;

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Direito Processual Penal

- exibição, em condições de poder ser reconhecido, do respectivo Bilhete de Identidade,


emitido pela Guarda.

 NEP/GNR – 1.02 de 7 de Agosto de 1999

 nº 3 - O militar da Guarda no cumprimento da missão, deve fazer-se sempre acompanhar do


BI, válido e actualizado, de modo a poder identificar-se como agente da força pública e de
autoridade (art.º 2º EMGNR).
 nº 2 – O BI substitui para todos os efeitos legais, em território nacional, o BI civil ou
qualquer outra forma de identificação civil (art.º 22º EMGNR).

9.3.2. - CAPACIDADE PARA IDENTIFICAR

 Código de Processo Penal


 Art.º 250º, nº 1 - Os órgãos de polícia criminal podem proceder à identificação de
qualquer pessoa encontrada em lugar público, aberto ao público ou sujeito a vigilância
policial, sempre que sobre ela recaiam fundadas suspeitas da prática de crimes, da
pendência de processo de extradição ou de expulsão, de que tenha penetrado ou
permaneça irregularmente no território nacional ou de haver contra si mandado de
detenção.
 Lei 5/95

 Art.º 1º, nº 1 – os agentes das forças ou serviços de segurança podem exigir a


identificação de qualquer pessoa que se encontre ou circule em lugar público, aberto ao
público ou sujeito a vigilância policial, sempre que sobre a mesma pessoa existam fundadas
suspeitas da prática de crimes contra a vida e a integridade das pessoas, a paz e a
humanidade, a ordem democrática, os valores e interesses da vida em sociedade e o Estado
ou tenha penetrado ou permaneça irregularmente no território nacional ou contra a qual
penda processo de extradição ou expulsão. (Nota: só prevê a identificação para suspeitos da prática
de determinado tipo de crimes).

 Lei Orgânica Da Guarda Nacional Republicana - Decreto-Lei nº 231/93, de 26 de Junho


 Artigo 26º, nº 1 – Aos OPC compete o exercício das funções que lhes são cometidas pelo
CPP, podendo, designadamente, ordenar a identificação de qualquer pessoa.
 Decreto-Lei n.º 433/82, de 27 de Outubro - Institui o ilícito de mera ordenação social
 Artigo 49.º - As autoridades administrativas competentes e as autoridades policiais podem
exigir ao agente de uma contra-ordenação a respectiva identificação.

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Direito Processual Penal

9.4. - IDENTIFICAÇÃO DE SUSPEITO E PEDIDO DE INFORMAÇÕES - Artigo 250.º do


CPP
 QUEM PODE SER IDENTIFICADO? - os OPC podem proceder à identificação de qualquer pessoa
encontrada em lugar público, aberto ao público ou sujeito a vigilância policial, sempre que sobre
ela recaiam fundadas suspeitas - nº 1:
➔ da prática de crimes;
➔ da pendência de processo de extradição ou de expulsão;
➔ de que tenha penetrado ou permaneça irregularmente no território nacional;
➔ de haver contra si mandado de detenção.
Nota: A figura de suspeito é diferente da de arguido. Por suspeito pode-se entender toda a pessoa relativamente à qual
exista indício de que cometeu ou se prepara para cometer um crime, ou que nele participou ou se prepara para participar. O
simples suspeito não é sujeito processual e como tal não é titular de direitos nem está sujeito a deveres processuais
especiais.

 DEVERES DOS OPC - antes de procederem à identificação, os órgãos de polícia criminal devem –
nº 2:
➔ provar a sua qualidade;
➔ comunicar ao suspeito as circunstâncias que fundamentam a obrigação de identificação;
➔ indicar os meios por que este se pode identificar.

 MEIOS DE IDENTIFICAÇÃO - o suspeito pode identificar-se mediante:


▪ a apresentação de um dos seguintes documentos - nº 3
➔ Bilhete de identidade; No caso de ser cidadão
➔ Passaporte. português

➔ Título de residência;
➔ Bilhete de identidade;
➔ Passaporte; Se for cidadão
estrangeiro
➔ Documento que substitua o passaporte.

▪ a apresentação de documento original, ou cópia autenticada, que contenha – nº 4:


 o seu nome completo,
 a sua assinatura,
 a sua fotografia.
▪ Comunicação com uma pessoa que apresente os seus documentos de identificação, nº 5, a);
▪ Deslocação, acompanhado pelos órgãos de polícia criminal, ao lugar onde se encontram os
seus documentos de identificação, nº 5, b);
▪ Reconhecimento da sua identidade por uma pessoa identificada que garanta a veracidade
dos dados pessoais indicados pelo identificando, nº 5, c).

IMPOSSIBILIDADE DE IDENTIFICAÇÃO - os OPC podem, nº 6:


 Conduzir o suspeito ao posto policial mais próximo;
 Compelir o suspeito a permanecer ali pelo tempo estritamente indispensável à identificação,
EM CASO ALGUM SUPERIOR A SEIS HORAS;
 Realizar, em caso de necessidade, provas dactiloscópicas, fotográficas ou de natureza
análoga e convidando o identificando a indicar residência onde possa ser encontrado e
receber comunicações.

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Direito Processual Penal

PROCEDIMENTOS ADICIONAIS
Os actos de identificação são sempre reduzidos a auto – nº 7;
As provas de identificação são destruídas na presença do identificando, a seu pedido, se a suspeita não se confirmar – nº 7.
 Os OPC podem pedir ao suspeito, e dele receber, sem prejuízo do disposto no artigo 59.º
(constituição de arguido de testemunha que se incrimina e constituição de arguido a pedido do
suspeito), informações relativas a um crime e, nomeadamente, à descoberta e à conservação de
meios de prova que poderiam perder-se antes da intervenção da autoridade judiciária – nº 8.
 Os OPC podem pedir a quaisquer pessoas susceptíveis de fornecerem informações úteis, e delas
receber, informações relativas a um crime e, nomeadamente, à descoberta e à conservação de
meios de prova que poderiam perder-se antes da intervenção da autoridade judiciária – nº 8.
 Será sempre facultada ao identificando a possibilidade de contactar com pessoa da sua
confiança – nº 9.
Informação/Proposta nº 16/97 do IGAI - Proposta de procedimento a adoptar pelas forças de segurança, nos casos de condução de
suspeitos ao posto ou esquadra para identificação - MAI, IGAI, Lisboa, 2 de Junho de 1997
Considerando que:
1 - Em diversos processos e acções desencadeadas pela IGAI, tem sido constatada a falta de clarificação e a existência de dúvidas acerca
da adopção do procedimento de identificação pelas forças de segurança…
3 - Tais dificuldades respeitam ao conhecimento do campo específico da intervenção policial em sede de identificação, sobretudo de
identificação de suspeitos, sua distinção da intervenção em sede de detenção e, particularmente, à percepção de que a possibilidade de
condução à esquadra para identificação não poderá constituir um expediente a utilizar genericamente em situações indefinidas, de
previsível ilicitude, mas em que, por não haver flagrante delito, não há lugar à detenção…
Propõe-se que sejam adoptadas as seguintes normas procedimentais, que deverão completar anteriores directivas constantes de
documento elaborado pelo Gabinete do Excelentíssimo Ministro referentes às circunstâncias que permitem a identificação de cidadãos:
1 - Só haverá lugar à condução à esquadra ou posto de um suspeito da prática de um crime, para identificação, se o mesmo não puder ou
não se quiser identificar no lugar onde for encontrado.
2 - A condução à esquadra ou posto tem em vista obter a identificação e não constitui uma «outra forma» de resolver situações dúbias,
nomeadamente, quando não é aplicável o regime de detenção.
3 - A ordem de identificação deve observar o formalismo do art. 1°. n.° 2 da Lei n.° 5/95, nomeadamente a prévia exibição da qualidade
dos agentes, a indicação das razões da ordem e a informação sobre os meios de identificação possíveis.
4 - No caso de condução à esquadra ou posto, a permanência do identificando deve reduzir-se ao período de tempo indispensável à
identificação; por uma questão de cautela e até à clarificação do regime, deve tentar não se exceder o período de duas horas.
5 - A permanência na esquadra ou posto deve ser objecto de registo em livro próprio, do qual conste a hora de entrada e de saída.
6 - Deve ser facultado ao identificando a comunicação com pessoa da sua confiança; se for menor a comunicação ao responsável é
obrigatória.
7 - Deve ser elaborado autonomamente um auto de identificação, dele constando os elementos de identificação recolhidos, as
circunstâncias e razões da identificação e condução à esquadra ou posto, o qual deve ser assinado pelo agente e pelo identificando.
8 - Deve ser entregue cópia do auto de identificação ao identificando e deve ser enviada outra cópia ao M.P.

Nota:
A maioria das pessoas encara a palavra “detenção” como sendo desproporcionada quando nos
referimos à identificação de cidadãos. No entanto, é a própria Constituição, na sua alínea g) do n.º 3 do
art.º 27º, que admite a detenção de suspeitos para identificação, nos casos previstos e pelo tempo
estritamente necessário.
Atenção:
- Os controlos de identidade não podem ser arbitrários, nem constituir uma prática generalizada da
actividade policial.
- Todos e quaisquer controlos de identidade têm de justificar-se por razões objectivas, sob pena da ordem
de identificação ser considerada ilegal, por violar o art.º 26º, n.º 1; art.º 27º, n.º 1 e art.º 44º, n.º 1 da CRP,
que consagram, respectivamente, os direitos fundamentais à intimidade da vida privada, à liberdade e o
direito de deslocação.
- O militar que seja autor de uma ordem ilegal pode incorrer em responsabilidade criminal (exemplo: crime
de sequestro), responsabilidade civil (sujeição ao pagamento de indemnizações) e responsabilidade
disciplinar.
- Uma ordem ilegal legitima o cidadão visado a exercer o direito de resistência previsto no art.º 21º da CRP.
- Nunca esquecer de reduzir a auto todas as situações de condução de suspeitos ao Posto para
identificação, respeitando o disposto no art.º 250º, nº 7 e no art.º 253º do CPP.
- É obrigatória a menção do dia, mês e ano da prática do acto, bem como, tratando-se de acto que afecte
liberdades fundamentais das pessoas, da hora da sua ocorrência, com referência ao momento do
respectivo início e conclusão. O lugar da prática do acto deve ser indicado – nº 6º do art.º 94º do CPP -
forma escrita dos actos.

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Direito Processual Penal

9.5. - IDENTIFICAÇÃO DE MENORES - Lei Tutelar Educativa - LEI 166/99 de 14SET


FORMALIDADES - Artigo 50.ºLTE
O procedimento de identificação de menor obedece às formalidades previstas no processo penal,
com as seguintes especialidades:
• IMPOSSIBILIDADE DE APRESENTAÇÃO DE DOCUMENTO - o OPC procura, de imediato,
comunicar com os pais, representante legal ou pessoa que tenha a guarda de facto do menor;
• O MENOR NÃO PODE PERMANECER EM POSTO POLICIAL, PARA EFEITO DE IDENTIFICAÇÃO,
POR MAIS DE TRÊS HORAS.

Nota:
Enquanto que tratando-se de maiores de idade, a obrigação de apresentação de provas de identificação cabe aos próprios;
no caso dos menores (12 a 16 anos), são os OPC que têm a responsabilidade de colher esses elementos, junto dos pais ou
tutores. Quanto aos menores de doze anos, não poderão em circunstância alguma ser detidos; sendo encaminhados para os
pais ou tutores, a quem se solicitará a identificação, participando-se, caso existam motivos que o justifiquem, para a
Comissão de Protecção de Crianças e Jovens.

9.6. - IDENTIFICAÇÃO DE PESSOAS COLECTIVAS


FORMALIDADES - Decreto Lei nº 42/89 de 3 de Fevereiro
A cada entidade inscrita no ficheiro central de pessoas colectivas é atribuído um número de identificação próprio,
designado “número de identificação de pessoa colectiva” (NIPC).
O NIPC é um número sequencial de nove dígitos, variando o primeiro dígito da esquerda entre os algarismos 5 e 9.
Cartão de Identificação
As entidades sujeitas a inscrição no ficheiro central de pessoas colectivas, nos termos do nº 1 do artº 29º, devem possuir
cartão de identificação válido.
O cartão de identificação deve conter a indicação do NIPC, do nome, firma ou denominação, do domicílio ou sede, da
caracterização jurídica e da actividade principal.

10. - FORMAS DO PROCESSO


O PROCESSO traduz-se num conjunto de actos pré-ordenados que têm um objectivo (a
reconstituição dos factos) e um fim que se manifesta na aplicação do direito e consequentemente na
realização da justiça.
Na nossa legislação penal o processo pode assumir várias formas e a natureza e gravidade do
crime são um dos factores que são considerados no estabelecimento da forma processual a ser seguida.
A FORMA do processo é o modo como o mesmo se exterioriza, podendo ser mais ou menos
“digna”, elevada ou complexa consoante a forma de processamento que for estabelecida. Facilmente se
percebe que o processamento de um crime por condução sob o efeito de álcool não necessita de ser
realizado da mesma forma que o processamento de um crime de homicídio.
O actual CPP admite duas formas de processo:
• forma comum
• forma especial.

A forma comum define-se de modo negativo, ou seja, é toda aquela que não for especial. Assim,
para se saber se um processo deve assumir a forma comum tem-se que, previamente, determinar se,
perante um dado crime, o processo pode assumir uma das três formas de processo especiais:
• sumário,
• sumaríssimo,
• abreviado.

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Direito Processual Penal

10.1. – PROCESSO COMUM - FASES DO PROCESSO

TRAMITAÇÃO PROCESSUAL (esquema simplificado)


FASE PRELIMINAR
NOTÍCIA DO CRIME – 241º CPP / MEDIDAS CAUTELARES DE POLÍCIA – 248º CPP
* auto de notícia – 243º CPP
* queixa – 49º CPP + 113º CP
* acusação particular – 50º CPP + 117º CP
* “pré-provas” – 249º CPP
* detenção – 254º e seguintes CPP

INQUÉRITO
(MP) 262º a 285º CPP

• Provas – 262º, 124º e seguintes CPP; nº 6, 32º CRP


• Medidas de coacção (MP+JIC) – 191º e seguintes CPP; 27º, 28º e 31º CRP
• Constituição de arguido (quando ainda não feita) – 58º e 59º CPP; 32º CRP
• Fecho:
* acusação – 283º CPP
* arquivamento – 277º CPP
* arquivamento dispensa de pena – 280º CPP
* suspensão provisória – 281º CPP
ACUSAÇÃO OU ARQUIVAMENTO OU SUSPENSÃO DO PROCESSO
(decisão sujeita a fiscalização hierárquica – art.º 278º, e judicial – através da instrução)

INSTRUÇÃO
(JIC) 286º a 310º CPP (FACULTATIVA – só existe se requerida e apenas em processo comum)

• Actos de instrução – 290º e seguintes CPP


• Debate instrutório – 297º e seguintes CPP
• Decisão instrutória (encerramento da instrução) – 306º e seguintes CPP
PRONÚNCIA (não recorrível) OU NÃO PRONÚNCIA (recorrível)

JULGAMENTO
311º a 398º CPP

• Preliminares
• Audiência
SENTENÇA (decisão do tribunal singular) OU ACÓRDÃO (sentença de tribunal colectivo)
- decisões podem ser absolutórias ou condenatórias -

RECURSOS
Ordinário, extraordinário, revisão - 399º a 466º CPP (só se solicitado)

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Direito Processual Penal

10.1.1. - INQUÉRITO (262º a 285º do CPP)

O inquérito é a primeira fase que o processo atravessa na forma comum. É uma fase obrigatória,
ou seja, qualquer processo crime na forma comum tem de percorrer obrigatoriamente a fase de
inquérito. Aliás, ressalvadas algumas excepções previstas na lei, a notícia de um crime dá sempre lugar
à abertura de inquérito (nº 2 do art.º 262º do CPP).

10.1.1.1. - FINALIDADE E ÂMBITO (262º, nº 1 do CPP):


O inquérito compreende o conjunto de diligências destinadas a:
 investigar a existência de um crime,
 determinar os agentes do crime e a sua responsabilidade,
 descobrir e recolher provas a fim de possibilitar que o MP decida capazmente sobre se
deduzirá ou não acusação.
Por outras palavras, o inquérito manifesta-se no conjunto de diligências destinadas a averiguar se
um dado facto é crime ou não, quem foi o autor do crime e qual o seu grau de responsabilidade no
cometimento do mesmo e recolher as provas necessárias que demonstrem de forma inequívoca, certa e
segura ou, pelo menos, indique que determinado indivíduo cometeu um crime. As diligências
efectuadas destinam-se a possibilitar uma decisão correcta do MP em ordem a acusar ou não o suspeito
do crime.
Apesar de se tentar realizar uma distinção entre inquérito e investigação, a verdade é que
materialmente estes dois conceitos acabam, em termos práticos, por ser a mesma coisa, divergindo
apenas no aspecto formal. Para os OPC o inquérito acaba por ser uma espécie de investigação
formalizada.

10.1.1.2. - DIRECÇÃO DO INQUÉRITO (263º do CPP):


Cabe ao MP, assistido pelos OPC que actuam sob a directa orientação do MP e na sua
dependência funcional.
Em termos práticos, a situação que se verifica actualmente, fruto da delegação genérica efectuada
nos termos do nº 4 do art.º 270º CPP pelo MP aos OPC, é haver uma certa “liberdade” na realização do
inquérito por parte dos OPC. O MP, ciente de que a maior parte das diligências efectuadas durante o
inquérito são de carácter técnico (e, portanto, mais no âmbito da investigação e das capacidades dos
OPC), acaba por não intervir muito durante o inquérito, limitando-se, de certa forma, a “supervisionar”
o trabalho de investigação desenvolvido pelos OPC.
O MP competente para a realização do inquérito é o que exercer funções no local em que o crime
tiver sido cometido. Enquanto este local não for conhecido inicia o processamento o MP do local em
que primeiro tiver havido notícia do crime. No entanto, qualquer magistrado ou agente do MP pode
proceder (mesmo não sendo na sua zona de acção), em caso de urgência ou de perigo de demora, a
actos de inquérito, nomeadamente de detenção, de interrogatório e de aquisição e conservação de
meios de prova (art.º 264º CPP).
É competente para conhecer de um crime o tribunal em cuja área se tiver verificado a consumação.
Para conhecer de crime que se consuma por actos sucessivos ou reiterados, ou por um só acto
susceptível de se prolongar no tempo, é competente o tribunal em cuja área se tiver praticado o último
acto ou tiver cessado a consumação. Se o crime não tiver chegado a consumar-se, é competente para
dele conhecer o tribunal em cuja área se tiver praticado o último acto de execução ou, em caso de
punibilidade dos actos preparatórios, o último acto de preparação (art.º 19º do CPP).
Com o encerramento do inquérito, o MP pode deduzir acusação, arquivar o inquérito ou suspender
provisoriamente o processo
No arquivamento do inquérito (artigos 277° e 280° do CPP), poderão ocorrer duas situações:
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Direito Processual Penal

❖ Arquivamento por falta de indícios suficientes da prática do crime ou pela não


determinação de quem foram o(s) agente(s) (art.º 277º do CPP) - embora tenha praticado os
actos de inquérito, o MP chegou à conclusão que não consegue determinar quem foi o agente
ou então faz a investigação e não consegue reunir os elementos suficientes da prática do crime.
Arquivado o inquérito nestes termos poderão acontecer duas situações:
- A pessoa cujos interesses foram violados constitui-se assistente e requer a abertura da instrução
criminal no prazo de vinte dias após a notificação do arquivamento (art.º 287º do CPP).
- Não havendo requerimento para a abertura da instrução criminal, os autos seguem para o superior
hierárquico do MP e este tem 30 dias para se pronunciar, podendo dizer ao seu subordinado que
prossiga as investigações, ou que deduza a acusação (art. 278° do CPP - intervenção hierárquica).
Sendo assim, em caso de arquivamento pode haver uma intervenção por parte do superior
hierárquico, ordenando ao Procurador do MP que prossiga as investigações (as diligências de
investigação com vista a apurar a prática do crime), ou indicando mesmo quais as diligências que
deve fazer.
❖ Arquivamento porque se verifica uma situação de dispensa ou de isenção de pena – art.º
280º do CPP.
Dispensa - Acontece nos casos em que o arguido confessa o crime, colabora com a justiça e a lei prevê
que ele seja dispensado de pena. É uma situação frequente nos crimes de tráfico de drogas (tenta-se
apanhar o “peixe graúdo” com a colaboração do “peixe miúdo”). Mas, para que haja arquivamento,
nestes casos, terá de haver a concordância do juiz de instrução criminal (art. 280º do CPP).
Isenção - Pode ocorrer, por exemplo, quando houver invocação do estado de necessidade ou em outras
situações previstas na lei, algumas das quais serão estudadas mais tarde. Também nestes casos se exige
a concordância do juiz de instrução criminal (art.º 280º do CPP).

De forma simplificada, pode-se então dizer que o arquivamento do Inquérito pode ocorrer nas
seguintes situações:
o Quando se chega à conclusão de que não houve crime;
o Quando houve crime, mas não se determinaram os seus agentes;
o Quando houve crime, mas o agente pode ser dispensado de pena (com a concordância do juiz de
instrução criminal);
o Quando houve crime, mas dada a invocação do estado de necessidade (ou outra situação
penalmente relevante) o agente é isento de pena (com a concordância do juiz de instrução
criminal).
Em qualquer das referidas situações, não deixou de haver previamente um inquérito, para verificar
se houve ou não houve crime.

10.1.2. - INSTRUÇÃO (286º a 310º do CPP)

Encerrado o Inquérito através do arquivamento ou da acusação pode haver lugar à instrução do


processo, ou seja, a instrução não surge obrigatoriamente de forma automática e só existirá se for
requerida no prazo de 20 dias a contar da notificação da acusação ou do arquivamento (287º do CPP):
 pelo arguido (relativamente aos factos de que foi acusado pelo MP ou pelo assistente)
 pelo assistente (relativamente a factos pelos quais o MP não acusou o arguido e quando o
procedimento criminal não depender de acusação particular)

10.1.2.1. - FINALIDADE E ÂMBITO - 286º do CPP


A Instrução visa a comprovação judicial da decisão de deduzir acusação ou de arquivar o
Inquérito em ordem a submeter ou não a causa a julgamento, ou seja, serve para comprovar
judicialmente se a decisão do MP (de arquivar ou acusar) foi correcta. Trata-se de uma fiscalização
judicial (feita por um juiz) da actuação do MP.
Pode-se dizer que o MP está sujeito a dois tipos diferentes de fiscalização:
 hierárquico (nos termos do art.º 278º CPP)
 judicial (através da instrução)

32
Direito Processual Penal

10.1.2.2. - DIRECÇÃO E NATUREZA DA INSTRUÇÃO – 288º do CPP


A instrução é dirigida por um juiz de instrução, o qual é assistido pelos OPC, actuando estes sob a
sua direcção e na sua dependência funcional.
A instrução tem três momentos:
OS ACTOS DE INSTRUÇÃO (290º a 296º do CPP) - são actos que o juiz repute de importantes e que
se traduzem no conjunto de diligências ordenadas e/ou autorizadas pelo juiz de instrução no sentido de,
posteriormente, poder realizar de forma correcta o debate instrutório. Os actos de instrução podem
ser realizados pelos OPC (290º do CPP) se o juiz de instrução assim o entender, à excepção daqueles
que, por lei, devam ser praticados pessoalmente pelo juiz (por exemplo, os referidos no art.º 268º, nº 1
e 270º, nº 2 do CPP).
DEBATE INSTRUTÓRIO (297º a 305º do CPP) – traduz-se numa discussão perante o juiz em que o
arguido, o MP e o assistente apresentam as suas razões e os factos tal como estes são encarados na
perspectiva de cada um. O debate processa-se oralmente e é contraditório, isto é assegura-se que o juiz
possa ouvir as razões invocadas por todos os intervenientes (298º do CPP). Durante o debate
instrutório podem-se realizar actos de instrução que o juiz entenda necessários para a descoberta da
verdade. O debate instrutório serve para se efectuar a produção de prova tal como no julgamento. Só
que, enquanto no julgamento a produção de prova visa possibilitar ao juiz uma decisão sobre o caso,
na instrução essa produção de prova tem como finalidade possibilitar ao juiz emitir uma decisão sobre
se o caso vai a julgamento ou não.
ENCERRAMENTO DA INSTRUÇÃO (306º a 310º do CPP) – tem lugar após o encerramento do debate
instrutório e é o momento em que o juiz profere o despacho de pronúncia ou não pronúncia, o qual
pode ser feito de imediato e verbalmente pelo juiz (sendo ditado para a acta) ou, se o caso for
complexo, o juiz proferirá o despacho no prazo de 10 dias a contar do encerramento do debate
instrutório.
O despacho de pronúncia ou não pronúncia trata-se de uma decisão que encerra um juízo de
probabilidade de condenação ou absolvição. Isto é, o juiz de instrução verifica se de facto há indícios
suficientes de que um crime foi cometido por alguém em concreto e de que existem os pressupostos
necessários para a aplicação de uma pena ou medida de segurança ao arguido. Se tal suceder o juiz
pronuncia o arguido pelos factos respectivos, ou seja, que existe uma forte probabilidade de, em
julgamento, o arguido vir a ser alvo de uma condenação. No caso contrário, o juiz não leva o caso a
julgamento, lavrando despacho de não pronúncia.

10.1.3. - JULGAMENTO (311º a 398º do CPP)

A audiência de julgamento é onde a prova é produzida perante o tribunal, e onde tal prova é
pesada através da apreciação que dela se fará em ordem a poder concluir-se pela culpabilidade ou não
dos arguidos acusados e pronunciados. A audiência em julgamento é pública salvo os casos em que o
presidente do tribunal decidir pela exclusão ou restrição dessa publicidade (321º do CPP) e é
contraditória na medida em que os sujeitos processuais deverão ser ouvidos (327º do CPP).
O arguido estará sempre presente na audiência, só sendo admitida a sua ausência nos casos
previstos no art.º 334º do CPP.
A audiência de julgamento termina com uma decisão sobre a causa. Isto é, o tribunal depois de
apreciar a prova produzida em tribunal e após ter conhecido as razões invocadas pelos diferentes
sujeitos processuais formula um juízo final expresso na sentença. Esta tomará o nome de acórdão
quando tomada por um tribunal colectivo. A sentença tanto pode ser condenatória como absolutória. A
primeira traduz-se na verificação de que um crime foi cometido e na prova de que tal crime é
imputável a alguém em concreto que, consequentemente, será sujeito a uma pena ou medida de
segurança. Por outro lado, a sentença absolutória resulta da verificação de que se não está perante um
crime ou havendo-o, de que a prova produzida não demonstra com clareza e segurança (ou não
demonstra de todo) que o arguido cometeu o crime.

33
Direito Processual Penal

10.2. - FORMAS ESPECIAIS DE PROCESSO


10.2.1. - SUMÁRIO (381º a 391º do CPP)
QUANDO TEM LUGAR (381º do CPP)
 Situações de flagrante delito
 Crime punível com pena de prisão
 Limite máximo da pena de prisão:
- não superior a 3 anos
- superior a 3 anos quando MP entender que não deve ser aplicada pena superior a 3 anos (nº 2)
 Detenção efectuada por autoridade judiciária ou entidade policial
 Audiência tiver início, no máximo, 48 horas após a detenção ou até ao 30º dia posterior se (386º do
CPP):
- arguido o solicitar para preparação da defesa
- tribunal achar necessário para se proceder a diligências de prova essenciais
APRESENTAÇÃO AO MP E JULGAMENTO (382º do CPP)
 No mais curto prazo possível
 MP interroga sumariamente e apresenta imediatamente detido ao tribunal
 MP determina tramitação sob outra forma processual (especial ou comum) se crê que os prazos do
processo sumário não podem ser cumpridos
 Não sendo possível processo sumário:
- libertação do arguido sujeitando-o a Termo de Identidade e Residência
- apresentação ao juiz para aplicação de medida de coacção ou garantia patrimonial

NOTIFICAÇÕES (383º do CPP)


 Notificar verbalmente no acto de detenção para comparecerem na audiência (se necessário):
- as testemunhas da ocorrência (nº não superior a 5)
- o ofendido
- testemunhas (se presentes) apresentadas pelo arguido

ADIAMENTO DA AUDIÊNCIA (386º do CPP)


 A audiência pode ser adiada até ao limite do 30.° dia posterior à detenção:
a) Se o arguido solicitar esse prazo para preparação da sua defesa;
b) Se o tribunal, oficiosamente ou a requerimento do MP, considerar necessário que se proceda a
quaisquer diligências de prova essenciais à descoberta da verdade e que possam previsivelmente
realizar-se dentro daquele prazo.

IMPOSSIBILIDADE DE AUDIÊNCIA IMEDIATA (387º do CPP)


Se audiência não tiver lugar em acto seguido à detenção, mas puder ser mantida a forma sumária:
 arguido pode ser libertado sendo sujeito a TIR
 arguido é obrigatoriamente libertado, sendo sujeito a TIR, se audiência não puder ter lugar 48
horas após a detenção
 notificar testemunhas e ofendido para se apresentarem aquando da audiência
 DETENÇÃO FORA DO HORÁRIO DE FUNCIONAMENTO DA SECRETARIA JUDICIAL (387º, nº 2 do CPP):
- sujeitar arguido a TIR
- notificar o arguido para comparecer a tribunal no 1º dia útil seguinte
- notificar o arguido de que, se faltar, incorre no crime de desobediência
- libertar o arguido
- notificar as testemunhas para comparecer em tribunal
No âmbito deste assunto, o Acórdão nº 2/2004 do Supremo Tribunal de Justiça, publicado no DR
I Série – A, de 12 de Maio de 2004 (páginas 3004 a 3008), fixou jurisprudência nos seguintes termos:

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Direito Processual Penal

“- Quando tenha havido libertação do arguido – detido em flagrante delito para ser presente a julgamento em
processo sumário – por virtude de a detenção ter ocorrido fora do horário de funcionamento normal dos
tribunais (art.º 387.º, n.º 2 do CPP), o início da audiência deverá ocorrer no 1.º dia útil seguinte àquele em que
foi detido, ainda que para além das quarenta e oito horas, mantendo-se, pois, a forma de processo sumário.”

10.2.2. - ABREVIADO (391º-A a 391º-E do CPP)

QUANDO TEM LUGAR (391º-A do CPP)


 Crime punível com pena de multa ou pena de prisão
 Limite máximo da pena de prisão:
- não superior a 5 anos
- superior a 5 anos quando MP entender que não deve ser aplicada pena superior a 5 anos (nº 2)
 Haver provas simples e evidentes da verificação do crime e de quem foi o seu agente.
 Não terem decorrido mais de 90 dias entre a data do crime e a data da acusação.
ESPECIALIDADES ESSENCIAIS
 A acusação pode ser deduzida “face ao auto de notícia ou realizado inquérito sumário” (391º-A, nº
1 do CPP), podendo “ a identificação do arguido e a narração dos factos ser efectuadas, no todo ou
em parte, por remissão para o auto de notícia ou para a denúncia” (391-B, nº 1 do CPP).
 O arguido pode requerer ao juiz de instrução a realização de debate instrutório (391º-C, nº 1 do
CPP).
 A sentença é logo proferida verbalmente e ditada para acta. (391º-E, nº 4 do CPP).
 Os prazos do processamento e do julgamento são mais curtos.

10.2.3. - SUMARÍSSIMO (392º a 398º do CPP)

QUANDO TEM LUGAR (392º do CPP)


 Crime punível com pena de prisão não superior a 3 anos ou só com pena de multa.
 MP requerer esta forma de processo ao tribunal.
 MP entender que no caso em concreto deve ser aplicada pena ou medida de segurança não
privativas da liberdade.

ESPECIALIDADES ESSENCIAIS
 Requerimento do MP depende da concordância do assistente no caso do crime ser particular (392º,
nº 2 do CPP).
 Requerimento do MP deve conter a indicação precisa das sanções que concretamente propõe (394º,
nº 2 do CPP).
 Juiz pode recusar o requerimento (395º do CPP) ou fixar sanção diferente, tendo de haver, neste
caso concordância do MP (395º, nº 2 do CPP).
 Arguido pode-se opor ao requerimento no prazo de 15 dias (396º, nº 1 , b do CPP).
 Juiz aplica a sanção por despacho, acrescentando condenação em custas, sendo a taxa de justiça
reduzida a um terço (397º, nº 1 do CPP).
 Despacho do juiz vale como sentença condenatória e transita imediatamente em julgado (397º, nº 2
do CPP), sendo nulo o despacho que aplique pena diferente da proposta ou fixada (397º, nº 3 do
CPP).
 Não é permitida a intervenção de partes civis (393º do CPP).

11. - COMPETÊNCIAS DOS ÓRGÃOS DE POLÍCIA CRIMINAL


No exercício da sua função, os tribunais e demais autoridades judiciárias têm direito a ser
coadjuvados por todas as outras autoridades e a colaboração solicitada prefere a qualquer outro serviço
(art.º 9º do CPP). Às entidades policiais, mais do que a quaisquer outras, é exigida esta colaboração.
Entre as competências dos OPC contam-se as seguintes:
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Direito Processual Penal

➔ Coadjuvar as autoridades judiciárias na realização do processo (art.º 55º, nº 1 do CPP),


actuando, no processo, sob a direcção das autoridades judiciárias e na sua dependência funcional
(arts 56º e 263º do CPP). Coadjuvam também os juízes, nomeadamente praticando actos de
instrução (arts 288º e 290º, n.º 2 do CPP). Nestes casos os poderes de direcção funcional pertencem
ao respectivo juiz.
No entanto, esta dependência funcional nunca deverá pôr em causa a cadeia hierárquica das
Polícias. Esta deverá ser acautelada de forma a assegurar a coesão e disciplina internas dos corpos
policiais. Estão fora da alçada dos poderes de direcção do MP todas as questões referentes a aspectos
orgânicos e ao funcionamento interno da hierarquia de cada corpo policial, tal como, questões de
táctica e estratégia policial. Ao MP cabe emanar instruções e directivas de âmbito geral sobre o
decurso da investigação e aos comandos dos OPC compete determinar procedimentos e meios para
alcançar os objectivos da investigação.
Os poderes de direcção do MP relativamente às polícias traduzem-se em exigir às polícias a
pronta comunicação da notícia do crime (art.º 243º n.º 3, 245º e 248º) e dos relatórios previstos na lei
sobre medidas cautelares e de polícia; em avocar o inquérito, a todo o tempo, e de o devolver, se
necessário, a outra entidade; em emitir directivas, ordens e instruções sobre o modo processual de
realização da investigação criminal; em apreciar o resultado das investigações, tomando as iniciativas
que se justificarem; e em fiscalizar, em qualquer altura, a forma como é realizada a investigação.
➔ Mesmo por iniciativa própria (art.º 55º, nº 2 do CPP):
 Colher notícia dos crimes
 Impedir, na medida do possível, as consequências dos crimes
 Descobrir os agentes dos crimes
 Levar a cabo os actos necessários e urgentes destinados assegurar os meios de prova
➔ Mesmo antes de receberem ordem da AJ competente praticar actos cautelares necessários e
urgentes para assegurar os meios de prova, nomeadamente (art.º 249º do CPP):
 Proceder a exames dos vestígios do crime
 Evitar a perda de vestígios pela entrada, trânsito e saída de pessoas do local do crime
 Assegurar a manutenção do estado das coisas e dos lugares
 Colher informações das pessoas que facilitem a descoberta dos agentes e a
reconstituição do crime
 Proceder a apreensões no decurso de revistas ou buscas
 Proceder a apreensões no caso de urgência ou perigo na demora da intervenção pela AJ
 Adoptar medidas cautelares necessárias à conservação ou manutenção dos objectos
apreendidos
 Assegurar novos meios de prova de que tiverem conhecimento, mesmo após intervenção
da Autoridade Judiciária, dando, no entanto, notícia imediata à AJ de todos os actos
praticados.
➔ Evitar que os vestígios se apaguem ou alterem antes de serem examinados, proibindo-se, se
necessário, a entrada ou o trânsito de pessoas estranhas no local ou quaisquer outros actos que
possam prejudicar a descoberta da verdade (art.º 171º, nº 2 do CPP).
➔ Determinar que alguma ou algumas pessoas se não afastem do local do exame e obrigar, mesmo
que recorrendo ao auxílio da força pública, as que pretendem afastar-se a que nele se conservem
enquanto o exame não terminar e a sua presença for indispensável (art.º 173º do CPP).
➔ As Autoridades de Polícia Criminal, quando delegadas pelo MP nos termos do art.º 270º nº 3, do
CPP possuem a faculdade de ordenar perícia, em caso de urgência ou perigo na demora,
nomeadamente perícias realizadas conjuntamente com o exame de vestígios (excepto autópsia
médico legal e prestação de esclarecimentos ou realização de nova perícia nos termos do art.º 158º
do CPP).

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Direito Processual Penal

➔ As Autoridades de Polícia Criminal possuem ainda outras competências previstas no processo


penal:
❖ ordenar a comunicação de actos processuais (n.º 2 do art.º 111º do CPP);
❖ emitir mandados de comparência (art.º 273º do CPP);
❖ ordenar a detenção fora de flagrante delito (n.º 2 do art.º 257º do CPP);
❖ emitir mandados de detenção (art.º 258º do CPP);
❖ efectuar requerimentos para a prática de certos actos de inquérito (n.ºs 2 e 3 do art.º 268º do CPP).

12. - ACTOS QUE PODEM E QUE NÃO PODEM SER DELEGADOS NOS OPC
As Autoridades judiciárias podem delegar nos OPC o encargo de procederem a diligências e
investigações.
O juiz pode, no âmbito dos actos de instrução, conferir a órgãos de polícia criminal o encargo de
procederem a quaisquer diligências e investigações relativas à instrução, salvo tratando-se do
interrogatório do arguido, da inquirição de testemunhas, de actos que por lei sejam cometidos em
exclusivo à competência do juiz e, nomeadamente, os referidos no artigo 268.°, n.° 1, e no artigo 270.°,
n.° 2 do CPP (ver art.º 290º, nº 2 do CPP).
Por sua vez, o Ministério Público pode conferir aos órgãos de polícia criminal o encargo de
procederem a quaisquer diligências e investigações relativas ao inquérito (nº 1, art.º 270º do CPP).
Esta delegação pode ser efectuada por despacho de natureza genérica que indique (nº 4, art.º 270º do
CPP):
 os tipos de crime ou
 os limites das penas aplicáveis aos crimes em investigação.
A articulação da actuação dos OPC com o exercício das competências do MP, no âmbito do CPP
de 1987, teve, como ponto de referência principal, o Despacho da Procuradoria Geral das República de
21 de Dezembro de 1987. Este Despacho definiu as linhas estruturantes de intervenção dos OPC nas
tarefas do processo e desempenhou um papel fundamental na transição do sistema resultante do CPP
de 1929 e legislação complementar, para o sistema introduzido pelo novo CPP. Decorridos vários anos
após a publicação do CPP em vigor, tornou-se necessária a revisão dos procedimentos consagrados no
referido Despacho, de forma a contemplar as alterações ocorridas entretanto no sistema penal e
processual penal português.
Entre essas alterações surgem, com particular relevo, as operadas com:
➔ a revisão do CPP, através da Lei nº 59/98, de 25 de Agosto, que consagrou
expressamente a delegação genérica de competências no seu nº 4 do art.º 270º do CPP;
➔ a Lei da Organização da Investigação Criminal – Lei nº 21/2000 de 10 de Agosto,
alterada pelo Decreto-Lei 305/2002, de 13 de Dezembro;
➔ o novo Estatuto da Polícia Judiciária – Decreto-Lei nº 275º-A/2000, de 9 de Novembro,
alterado pela Lei nº 103/2001, de 25 de Agosto.

12.1. – DELEGAÇÃO GENÉRICA NOS OPC PARA A REALIZAÇÃO DO INQUÉRITO


Surge assim o DESPACHO DE 08MAR02 DA PROCURADORIA GERAL DA REPÚBLICA que vem
estabelecer o seguinte:
 Os Magistrados do MP intervêm directamente nos inquéritos relativos a crimes puníveis com
pena de prisão superior a 5 anos; sem prejuízo da delegação genérica na PJ, de competências
para a Investigação ou da delegação da prática de específicos actos de investigação ou de inquérito;
 Os Magistrados do MP intervêm directamente nos inquéritos relativos a crimes puníveis com pena
de prisão inferior a 5 anos, em relação aos quais, pela qualidade dos agentes ou das vítimas, ou
pelas particulares circunstâncias que rodearem a sua prática, se justifique essa intervenção, sem
prejuízo da delegação da prática de específicos actos de investigação ou de inquérito nos OPC
respectivos.

37
Direito Processual Penal

 O Magistrado titular do inquérito, sempre que ocorrerem motivos ponderosos, pode, no despacho
que recair sobre a notícia do crime, revogar a delegação genérica que tenha sido feita em certo
OPC.
 Nos casos de delegação genérica de competência num OPC, enquanto a mesma se mantiver, os
magistrados devem abster-se de praticar, no processo ou seu translado, actos avulsos de
investigação.
 Delegação genérica na Polícia Judiciária da competência para:
 a investigação e para a prática dos actos processuais de inquérito derivados da mesma ou
que a integrem, relativamente aos crimes previstos no art.º 4º da Lei nº 21/2000, de 10 de
Agosto - Lei da Organização da Investigação Criminal (alterada pelo DL nº 305/2002 de 13
de Dezembro) e nº 2 do art.º 5º do Decreto-Lei nº 275-A/2000, de 9 de Novembro - Estatuto
da Polícia Judiciária (alterada pelo DL nº 304/2002 de 13 de Dezembro):
a) Homicídio doloso e ofensas dolosas à integridade física de que venha a resultar a morte;
b) Contra a liberdade e contra a autodeterminação sexual a que corresponda, em abstracto, pena superior a cinco anos de prisão,
desde que o agente não seja conhecido, ou sempre que sejam expressamente referidos ofendidos menores de 16 anos ou outros
incapazes;
c) Incêndio, explosão, exposição de pessoas a substâncias radioactivas e libertação de gases tóxicos ou asfixiantes, desde que, em
qualquer caso, o facto seja imputável a título de dolo;
d) Poluição com perigo comum;
e) Furto, roubo, dano, contrafacção ou receptação de coisa móvel que tenha valor científico, artístico ou histórico ou para o
património cultural que se encontre em colecções públicas ou privadas ou em local acessível ao público, que possua elevada
significação no desenvolvimento tecnológico ou económico ou que, pela sua natureza, seja substância altamente perigosa;
f) Falsificação de cartas de condução, livretes e títulos de propriedade de veículos automóveis de certificados de habilitações
literárias, de passaportes e de bilhetes de identidade;
g) Tráfico e viciação de veículos furtados ou roubados;
h) Contra a paz e a Humanidade;
i) Escravidão, sequestro e rapto ou tomada de reféns;
j) Organizações terroristas e terrorismo;
k) Contra a segurança do Estado, com excepção dos que respeitem ao processo eleitoral;
l) Participação em motim armado;
m) Captura ou atentado à segurança de transporte por ar, água, caminho de ferro ou rodovia a que corresponda, em abstracto, pena
igual ou superior a oito anos de prisão;
n) Executados com bombas, granadas, matérias ou engenhos explosivos, armas de fogo e objectos armadilhados, armas nucleares,
químicas ou radioactivas;
o) Roubo em instituições de crédito, repartições da Fazenda Pública e correios;
p) Associações criminosas;
q) Relativos ao tráfico de estupefacientes e de substâncias psicotrópicas, tipificados nos artigos 21º, 22º, 23º, 27º e 28º do Decreto-
Lei nº 15/93, de 22 de Janeiro, e dos demais previstos neste diploma que lhe sejam participados ou de que colha notícia;
r) Branqueamento de capitais, outros bens ou produtos;
s) Corrupção, peculato e participação económica em negócio e tráfico de influências;
t) Administração danosa em unidade económica do sector público e cooperativo;
u) Fraude na obtenção ou desvio de subsídio ou subvenção e ainda fraude na obtenção de crédito bonificado;
v) Infracções económico-financeiras cometidas de forma organizada ou com recurso à tecnologia informática;
w) Infracções económico-financeiras de dimensão internacional ou transnacional;
x) Informáticos;
y) Contrafacção de moeda, títulos de crédito, valores selados, selos e outros valores equiparados ou a respectiva passagem;
z) Relativos ao mercado de valores mobiliários;
aa) Insolvência dolosa;
bb) Abuso de liberdade de imprensa, quando cometido através de órgão de comunicação social de difusão nacional;
cc) Conexos com os crimes referidos nas alíneas s) a z);
dd) Ofensas, nas suas funções ou por causa delas, ao Presidente da República, ao Presidente da Assembleia da República, ao
Primeiro-Ministro, aos presidentes dos tribunais superiores e ao Procurador-Geral da República.
ee) Crimes tributários de valor superior a € 500 000, quando assumam especial complexidade, forma organizada ou carácter
transnacional;
ff) Tráfico de armas, quando praticado de forma organizada.

 a prática dos actos previstos e não excepcionados pelo nº 3 do art.º 270º do CPP, bem como
a competência para a prática, por parte das Autoridades de Polícia Criminal (referidas no n.º
1 do art.º 11º do Estatuto da PJ), dos actos processuais previstos nas alíneas a), b), c) e d) do
art.º 11º-A do mesmo Estatuto, na redacção resultante da Lei nº 103/2001, de 25 de Agosto
(alteração ao Estatuto da PJ). Estes actos estão sujeitos a apreciação pelo magistrado
responsável pelo processo, na primeira intervenção que nele tenha.

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Direito Processual Penal

 Deferimento na Polícia Judiciária, através de requerimento efectuado pelo magistrado


responsável pelo processo à Procuradoria Geral Distrital, da investigação de crimes não previstos
no art.º 4º da Lei da Organização da Investigação Criminal, quando, em face das circunstâncias
concretas, se preveja que a investigação requeira conhecimentos ou meios técnicos especiais e
mobilidade de actuação, em razão do alargamento espácio-temporal da actividade delituosa ou da
multiplicidade das vítimas ou dos suspeitos (III do Despacho e nº 2 do art.º 5º da Lei da
Organização da Investigação Criminal).
 Delegação genérica na GNR, na PSP e outros OPC para:
 a investigação e para a prática dos actos processuais da mesma derivados relativamente aos
crimes:
 que lhes forem denunciados, cuja competência não esteja reservada à PJ.
 cuja investigação lhes esteja cometida pelas respectivas leis orgânicas, sem prejuízo da
intervenção directa dos magistrados nos inquéritos quando tal se verificar necessário (crimes
puníveis com mais de 5 anos, ou menos de 5 anos, mas com circunstâncias particulares, etc).
 a investigação de crimes de natureza fiscal – aduaneiros (BF) – (nos crimes tributários de
valor superior a 500.000 Euros, quando assumam especial complexidade, forma organizada ou
carácter transnacional, a competência é da Polícia Judiciária -DL n.º 305/2002 de 13 Dezembro),
não aduaneiros e contra a segurança social (nos OPC específicos se previsto na legislação
respectiva);
 a investigação de crimes anti-económicos e contra a saúde pública (nos OPC específicos se
previsto na legislação respectiva);

 Delegação genérica no Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) para:


 a investigação de crimes de auxílio à emigração ilegal, associação de auxílio à emigração
ilegal, entrada e permanência ilegal, angariação de mão de obra ilegal e crimes conexos.
A delegação na GNR, PSP e SEF abrange os actos previstos no nº 3 do art.º 270º do CPP e
deve respeitar a competência reservada da PJ para a investigação dos crimes de:
u) Fraude na obtenção ou desvio de subsídio ou subvenção e ainda fraude na obtenção de crédito bonificado;
v) Infracções económico-financeiras cometidas de forma organizada ou com recurso à tecnologia informática;
w) Infracções económico-financeiras de dimensão internacional ou transnacional.

 Delegação na Polícia Judiciária Militar:


Nos termos do art.º 118º do CJM, a PJM é o OPC com competência específica nos processos por
crimes estritamente militares, competindo-lhe as funções que pelo CPP são atribuídas aos OPC e
actuando, no processo, sob a direcção das autoridades judiciárias e na sua dependência funcional. A
PJM tem ainda a competência reservada que lhe é atribuída pela respectiva lei orgânica.
É da competência específica da PJM a investigação dos crimes estritamente militares. A PJM
tem ainda competência reservada para a investigação de crimes cometidos no interior de unidades,
estabelecimentos e órgãos militares, sem prejuízo da competência conferida à GNR pela Lei da
Organização da Investigação Criminal ou pela respectiva Lei Orgânica para a investigação de crimes
comuns cometidos no interior dos seus estabelecimentos, unidades e órgãos. Os OPC devem
comunicar de imediato à PJM os factos de que tenham conhecimento relativos à preparação e
execução de crimes da competência da PJM, apenas podendo praticar, até à sua intervenção, os actos
cautelares e urgentes para obstar à sua consumação e assegurar os meios de prova (art.º 5.º do Decreto-
Lei n.º 200/2001, de 13 de Julho – Estatuto da Polícia Judiciária Militar, alterado pelo art.º 8º da Lei nº
100/2003 de 15 de Novembro - que aprovou o novo CJM).
Nota:
Nos termos do art.º 270º, nº 3 do CPP o MP pode, concretamente, delegar em Autoridades de Polícia
Criminal (conforme definidos na alínea d) do nº 1 do art.º 1º do CPP) a faculdade de ordenar perícia, em
caso de urgência ou perigo na demora, nomeadamente perícias realizadas conjuntamente com o exame
de vestígios (excepto autópsia médico legal e prestação de esclarecimentos ou realização de nova perícia nos
termos do art.º 158º do CPP).

39
Direito Processual Penal

 Comunicações:
 Os OPC devem transmitir ao MP, no mais curto prazo de tempo, a notícia de crime de que
tenham conhecimento ou lhes tenha sido denunciado (art.º 248º CPP).
 Quando a competência para a investigação pertencer a outro OPC (nomeadamente nas
situações de competência reservada da PJ):
 Enviar o original do auto de notícia ou de denúncia ao OPC competente;
 Enviar o duplicado ao MP, mencionando o destino dado ao original do auto.

DELEGAÇÃO DE COMPETÊNCIA NA GNR


 Cuja competência não esteja reservada à PJ ou outra entidade
INVESTIGAÇÃO DOS CRIMES QUE LHE policial.
FOREM DENUNCIADOS (original auto – PJ, SEF, PJM, etc.; duplicado – MP)
INVESTIGAÇÃO CRIMES CUJA  Se o magistrado titular do inquérito, não revogar a delegação
COMPETÊNCIA LHES ESTEJA COMETIDA genérica
PELA RESPECTIVA LEI ORGÂNICA  Se MP não intervir directamente no inquérito
Nota: Aguardar pela orientação do MP relativamente às
INVESTIGAÇÃO DE CRIMES diligências de investigação respeitantes aos crimes com prisão
ADUANEIROS (BF)
superior a 5 anos

CIRCULAR Nº 03/2002-P de 20 de Maio de 2002 da 3ª Rep/CG


 Em conformidade com o nº 4 do art.º 270º do CPP foi delegada genericamente na Guarda a investigação dos crimes que lhe sejam
denunciados e cuja competência não esteja reservada à PJ - nº 1.
 A GNR deve aguardar pela orientação do MP relativamente às diligências de investigação respeitantes aos crimes puníveis com pena
de prisão superior a 5 anos - nº 2.
 Nos crimes de competência reservada à PJ, remeter o Auto de Notícia/Denúncia à PJ e o duplicado ao MP, fazendo referência no
duplicado do destino dado ao original - nº 4.
 A BF executa os actos de inquérito relativos aos crimes aduaneiros (nota: nos crimes tributários de valor superior a 500.000 Euros,
quando assumam especial complexidade, forma organizada ou carácter transnacional, a competência é da Polícia Judiciária (DL n.º
305/2002 de 13 Dezembro) independentemente da moldura penal do crime (por força do art.º 41º, nº 1, a) da Lei nº 15/2001, de 5 de
Junho) – nº 5. O restante dispositivo da GNR elabora o Auto de Notícia, enviando o original para o Serviço de Inquéritos e Processos
por Contra-Ordenação do Grupo Fiscal implantado na ZA onde se verificou o crime, e o duplicado para o MP (mencionando o destino do
original) – nº 6.
 Os crimes tributários comuns, os crimes fiscais e os crimes contra a segurança social devem ser comunicados ao órgão da
administração tributária com competência para o inquérito, com conhecimento ao MP (art.º 35º e 41º da Lei 15/2001, de 5 Jun).
Havendo dúvidas sobre a entidade competente, enviar o Auto para o MP – nº 7.
 Os crimes de auxílio à emigração ilegal, associação de auxílio à emigração ilegal, entrada e permanência ilegal, angariação de mão de
obra ilegal e crimes conexos, devem ser comunicados à Direcção Regional do SEF da respectiva ZA (excepto distritos de Lisboa,
Santarém e Alentejo que devem ser comunicados à Direcção Central de Investigação, Pesquisa e Análise da Informação do SEF).
Mencionar ao MP o destino do Auto e em caso de dúvida quanto à entidade enviar ao MP – nº 8.
 Os escalões de comando, com particular acuidade ao nível de Destacamento, devem encetar contactos com as autoridades judiciárias
com jurisdição nas respectivas zonas de acção, tendo em vista a coordenação dos procedimentos inerentes à aplicação do Despacho
do sua Excelência o Procurador Geral da República – nº 9.
Refª: Art.º 270º nº 4 do CPP; Lei nº 21/2000, de 10 de Ago; Lei 15/01, de 15 Jun; DL 81/95, de 22 Abr; Despacho de 8Mar02 do PGR

12.2. - ACTOS QUE NÃO PODEM SER DELEGADOS NOS OPC

As autoridades Judiciárias não podem delegar nos OPC:


 os actos que têm que obrigatoriamente ser praticados pelo juiz de instrução (270º, nº 2 e 268º do
CPP):
 proceder ao 1º interrogatório judicial de arguido detido;
 aplicar medida de coacção ou garantia patrimonial (excepto TIR);
 buscas e apreensões em escritório de advogado, consultório médico e estabelecimento
bancário;
 conhecimento, em 1º lugar, do conteúdo da correspondência apreendida (ver art.º 179º, nº 3
e art.º 252º, nº 1 do CPP);
 declarar perda a favor do estado de bens apreendidos;
 praticar quaisquer outros actos reservados expressamente por lei ao juiz de instrução;

40
Direito Processual Penal

 os actos que tenham que ser ordenados ou autorizados pelo juiz de instrução (270º, nº 2 e 269º
do CPP):
 buscas domiciliárias;
 apreensões de correspondência (ver art.º 252º, nº 1 e art.º 179º, nº 3 do CPP);
 intercepção, gravação ou registo de conversações ou comunicações;
 praticar quaisquer outros actos que, por lei, dependam de ordem ou autorização do juiz;
 receber depoimentos ajuramentados - 270º, nº 2, a) do CPP;
 ordenar efectivação de perícia - 270º, nº 2, b) do CPP;
 ordenar perícia que envolva a realização de autópsia médico-legal, o pedido de esclarecimento
relativamente a perícia já efectuada e a realização de nova perícia, mesmo em caso de urgência ou
perigo na demora - 270º, nº 3;
 assistir a exame susceptível de ofender o pudor da pessoa - 270º, nº 2, c) do CPP;
 ordenar ou autorizar revistas ou buscas - 270º, nº 2, d) do CPP;
 outros actos que a lei expressamente determinar que sejam presididos pelo MP - 270º, nº 2, e) do
CPP;
 no âmbito da instrução não podem ser delegados pelo juiz nos OPC o interrogatório do arguido, a
inquirição de testemunhas, os actos que por lei sejam cometidos em exclusivo à competência do
juiz e, nomeadamente, os referidos no artigo 268.°, n.° 1, e no artigo 270.°, n.° 2 do CPP (ver art.º
290º, nº 2 do CPP).

13. - A CONDIÇÃO DE ARGUIDO


O arguido é um dos sujeitos processuais e é a pessoa sobre a qual recaem fortes suspeitas do
cometimento de um crime. Apesar do sentido desfavorável que esta palavra encerra, a verdade é que a
constituição de arguido visa sobretudo a protecção das pessoas que, até prova em contrário e até serem
condenadas em tribunal, são inocentes e que como tal devem ter os direitos e capacidades necessários
à sua defesa.
O conceito de arguido não deve ser confundido com os conceitos de suspeito, condenado ou
absolvido. O suspeito é toda a pessoa relativamente à qual exista um indício (não muito forte) de que
praticou um crime, ou se prepara para cometer um crime, ou nele participou ou se prepara para nele
participar. O condenado é a pessoa contra quem já foi proferida uma sentença de condenação. O
absolvido é a pessoa contra quem já foi proferida uma sentença de absolvição.

Desde o momento da sua constituição como arguido, este adquire um estatuto que lhe confere
direitos e deveres. Qualquer dúvida durante a tramitação processual deverá beneficiar sempre a
posição do arguido e não reverter em seu desfavor. São pois, inadmissíveis, sobretudo por parte dos
demais sujeitos processuais ou participantes no processo, quaisquer considerações ou insinuações que
ultrapassem o objecto do processo ou representem a antecipação de um juízo de culpa.
A qualidade de arguido, uma vez assumida, mantém-se durante o decurso de todo o processo (ver
nº 2 do art.º 57º do CPP).
Uma vez que o arguido é um sujeito processual, cujo estatuto comporta um conjunto de direitos e
deveres processuais, é necessário que tenha personalidade judiciária (art.º 5º do Código de Processo
Civil).
No processo penal a personalidade judiciária é a susceptibilidade de as pessoas poderem ser
objecto de imputação jurídico-penal. Têm assim personalidade judiciária, ou seja, poderão ser arguidos
as pessoas físicas maiores de 16 anos e as pessoas jurídicas colectivas (só relativamente a certos
crimes). Estes últimos podem ser susceptíveis de processo criminal através do seu representante legal
(aplica-se o art.º 21º do Código de Processo Civil, que estatui que as pessoas colectivas e as sociedades
são representadas por quem a lei designar, dado não existir nenhuma norma específica para o efeito no
CPP).
A qualidade de arguido, enquanto sujeito processual não se confunde com a responsabilidade
penal. Isto, porque se o autor do crime for, por exemplo, menor de 16 anos à data da prática dos factos,
poderá ser arguido, mas será insusceptível de imputação do crime que é objecto do processo.

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Direito Processual Penal

13.1 - QUALIDADE E CONSTITUIÇÃO DE ARGUIDO ART.º 57º CPP


ASSUME A QUALIDADE E É CONSTITUÍDO ARGUIDO TODO AQUELE :
 contra quem for deduzida acusação ou requerida instrução (57º CPP)
 contra o qual corra inquérito e seja chamado a prestar declarações perante qualquer AJ ou
OPC - art.º 58º, nº 1, a) do CPP
 a quem tenha de ser aplicada medida de coacção ou garantia patrimonial
- art.º 58º, nº 1, b) do CPP
 que, como suspeito, for detido nos termos do art.º 254º a 261º do CPP
- art.º 58º, nº 1, c) do CPP
 contra o qual for levantado auto de notícia que o dê como agente de um crime e o auto de
notícia lhe seja comunicado - art.º 58º, nº 1, d) do CPP
 que ao ser inquirido, surjam fundadas suspeitas de crime por ele cometido (a inquirição
deve cessar imediatamente) – art.º 59º, nº 1 do CPP
 que o pedir, quando sobre si recair suspeita de ter cometido um crime e estejam a ser
efectuadas diligências destinadas a comprovar a sua imputação – art.º 59º, nº 2 do CPP

13.2. - CONSTITUIÇÃO DE ARGUIDO (ARTº 58º, Nº 2 e 3 do CPP)


 OPERA-SE ATRAVÉS DE COMUNICAÇÃO ORAL OU POR ESCRITO AO VISADO
 A COMUNICAÇÃO É EFECTUADA POR UMA AUTORIDADE JUDICIÁRIA ou OPC
 DEVEM SER INDICADOS E EXPLICADOS AO ARGUIDO OS DIREITOS E DEVERES PROCESSUAIS
DO ARTº 61º do CPP
 É OBRIGATORIAMENTE ENTREGUE AO ARGUIDO, SEMPRE QUE POSSÍVEL NO PRÓPRIO
ACTO, DOCUMENTO ONDE CONSTEM:
- IDENTIFICAÇÃO DO PROCESSO
- IDENTIFICAÇÃO DO DEFENSOR (SE NOMEADO)
- DIREITOS E DEVERES REFERIDOS NO ARTº 61º do CPP
A OMISSÃO OU VIOLAÇÃO DESTAS FORMALIDADES IMPLICA QUE AS DECLARAÇÕES PRESTADAS
PELA PESSOA VISADA NÃO POSSAM SER UTILIZADAS CONTRA ELA
(ARTº 58º, Nº 4 do CPP)

13.3. - DIREITOS E DEVERES DO ARGUIDO – ART.º 61º CPP


DIREITOS DEVERES
 Estar presente nos actos processuais (direito de presença) ➔ Comparecer perante o juiz, MP ou OPC
 Ser ouvido sempre que sejam tomadas decisões que o afectem sempre que a lei o exigir e for devidamente
(direito de audiência) convocado (dever de comparência)
 Não responder a perguntas sobre os factos imputados e sobre o ➔ Responder com verdade às perguntas feitas
conteúdo das suas declarações (direito ao silêncio) sobre a sua identidade e, quando a lei o
 Escolher ou solicitar nomeação de defensor (direito a defensor) impuser, sobre os seus antecedentes criminais
 Ser assistido por defensor em todos os actos processuais ➔ Prestar termo de identidade e residência (196º
(direito à assistência do defensor) do CPP) logo que assuma a qualidade de
 Comunicar em privado com o defensor (sendo à vista quando arguido
razões de segurança o impuserem) – 61º , nº 2 ➔ Sujeitar-se a diligências de prova (exames,
periciais e a todas as que não forem proibidas por
 Intervir no inquérito e na instrução (direito de intervenção)
lei – art.º 125º) e a medidas de coacção e
 Oferecer provas e requerer diligências garantia patrimonial legalmente impostas
 Ser informado dos direitos que lhe assistem (direito de (apenas as que a lei contempla – art.º 191º)
informação)
 Recorrer das decisões desfavoráveis (direito de recurso)

NOTAS:
No apêndice 2 do anexo A encontra-se um modelo de constituição de arguido.
Os direitos em cima enumerados não são taxativos, existindo outros espalhados pelo CPP:
- Outros direitos ao arguido - art.º 140º, n.º 1; art.º 287º, n.º 1, alínea a); art.º 325º, n.º 1; art.º 332º, n.º 7; art.º 334º, n.º 2
do CPP.
- Outros direitos de que goza e que não resultam da sua qualidade de arguido - art.º 89º, art.º 176º n.º 1, art.º 220º do
CPP.

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Direito Processual Penal
MAI, GABINETE DO MINISTRO, DESPACHO N.º 10 717/2000 (2.ª série), de 26FEV98, publicado no DR – n.º 121 – de 25MAI2000
Considerando o disposto no artigo 32.º, n.º 3 da Constituição da República e o desenvolvimento dessa garantia constitucional
consignada no artigo 61.º do Código de Processo Penal;
Considerando ainda a norma do artigo 62.º do Estatuto da ordem dos Advogados, aprovado pelo Decreto-lei n.º 84/84, de 16 de
Março;
Considerando as disposições conjugadas dos artigos 254.º a 261.º e 58.º n.º 1 al. c), do Código de Processo Penal, em conjugação com o
artigo 58.º da Ordem dos Advogados:
Determino as seguintes regras a observar pelas forças de segurança relativamente aos contactos no interior dos postos e
esquadras:
1.ª O arguido detido em estabelecimento policial das forças de segurança tem o direito de comunicar, oralmente ou por escrito, com o
seu defensor. O detido deve ser autorizado a contactar telefonicamente com o seu defensor, facultando-se-lhe a utilização do telefone
do estabelecimento policial por um período limitado, quando inexista telefone público nas instalações do posto ou esquadra.
2.ª As autorizações para as visitas podem ser requeridas e concedidas verbalmente, sem prejuízo dos registos a que houver lugar.
3.ª A realização da visita do advogado deverá ser autorizada pelo agente da autoridade mais graduado que, no momento, se encontrar no
posto ou na esquadra e deverá ter lugar a qualquer hora do dia ou da noite, logo após a realização das diligências impostas pelo caso
concreto e a elaboração do respectivo expediente.
4.ª Enquanto os estabelecimentos policiais não estiverem dotados de salas próprias para o efeito, deverão ser dadas aos defensores todas
as facilidades para contactarem com os seus constituintes, em condições de dignidade e segurança. Em circunstâncias excepcionais,
designadamente face ao elevado número de detidos e à falta de condições materiais, deverão adoptar-se as medidas impostas pelo caso
concreto, sem prejuízo das normas de segurança e da boa ordem do estabelecimento policial.
5.ª Não será feito qualquer controlo do conteúdo dos textos escritos e demais documentos que o defensor leve consigo.
6.ª A visita do defensor terá lugar por forma que as conversas não sejam ouvidas pelo encarregado da vigilância.
7.ª As visitas podem ser interrompidas por manifestas razões de segurança.

Não são inconstitucionais as normas do artigo 61º, nº 3, alínea b), e artigo 141º, Nº 3, do Código de Processo Penal, na parte em que
impõe ao arguido o dever de responder com verdade às perguntas feitas no primeiro interrogatório judicial sobre os seus antecedentes
criminais.
Acórdão do Tribunal Constitucional, de 1998.05.13, Boletim do Ministério da Justiça, 477, pág. 58

a) Todo o interveniente em processo penal que não conheça ou não domine a língua portuguesa, para beneficiar de um processo
equitativo, tem direito à assistência gratuita de um intérprete ou tradutor idóneo em todos os actos do processo que necessitar
compreender (cfr. Art.º 92º, nº 2 e 3 do CPP);
b) Implicando a constituição de arguido a entrega, sempre que possível no próprio acto, do documento previsto no art.º 58º, nº 3 do CPP,
afigura-se bastante prudente que ao arguido que não conheça ou não domine a língua portuguesa, seja facultada, sem prejuízo do referido
em a) e dessa entrega, a tradução de tal documento para a língua utilizada por aquele.
Parecer da Procuradoria-Geral da República de 15 de Outubro de 2001

“- Todos os indivíduos privados da liberdade devem ser notificados, por escrito, dos direitos dos detidos, ficando uma cópia da
notificação, assinada pelos mesmos, junta às cópias do expediente, no Posto (expediente interno que não deve ser enviado a tribunal). A
folha de direitos deve ser notificada aos indivíduos detidos em cumprimento de mandados, aos indivíduos conduzidos ao Posto para
identificação e aos detidos pela prática de crimes, neste último caso cumulativamente com a notificação dos direitos e deveres
processuais (Art.º 58, nº 3, e 61º do CPP);

“- A condução de detidos a estabelecimentos hospitalares, em casos de ferimentos ou de doenças, é um DIREITO destes, mas também
um DEVER a que os mesmos se devem submeter, especialmente nos casos em que os ferimentos/doenças ocorram ou se verifiquem em
momento anterior à detenção. É entendimento que os detidos, nestes casos, devem ser conduzidos ao estabelecimento hospitalar mesmo
contra a sua vontade, resultando do disposto nos nºs 21.1 e 21.2 do Regulamento das Condições Materiais de Detenção em
Estabelecimentos Policiais, legitimidade bastante para que a Guarda promova a sua condução.”
Nota Nº 7309 de 2 de Setembro de 1999 da 3ª REP/CG – Assunto: Acções de fiscalização da IGAI - Recomendação

13.4. - O DEFENSOR
13.4.1. - CONSTITUIÇÃO DE ADVOGADO
• O arguido pode constituir advogado em qualquer altura do processo – art.º 62º, nº 1 CPP.
• Se o arguido não constituir advogado e a assistência for obrigatória, o juiz nomeia-lhe um
advogado ou advogado estagiário (que cessa funções se o arguido constituir advogado próprio)
– art.º 62º, nº 2 CPP. Esta nomeação pode ser feita:
a) Nos casos previstos no artigo 64.°, n.° 1, alínea c), pelo MP ou por autoridade de polícia
criminal;
b) Nos casos previstos nos artigos 64.°, n.° 3, e 143.°, n.° 2, pelo MP.
• Havendo mais do que um defensor constituído, as notificações são feitas ao indicado em 1º lugar
no acto de constituição - art.º 62º, nº 4 CPP.
• O defensor exerce os direitos do arguido, mas este pode retirar eficácia aos realizados pelo
advogado, desde que o faça por declaração expressa anterior à decisão que deva ser tomada em
relação ao referido acto - art.º 63º CPP.

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Direito Processual Penal

13.4.2. - OBRIGATORIEDADE DE ASSISTÊNCIA PELO DEFENSOR - art.º 64º CPP


 Em qualquer acto processual, sempre que o arguido for:
- surdo
- mudo
- analfabeto
- desconhecedor da língua portuguesa
- menor de 21 anos, ou
- se suscitar a questão da sua inimputabilidade ou imputabilidade diminuída.
Neste caso a nomeação de defensor pode ser feita pelo MP ou por Autoridade de Polícia Criminal
(art.º 6º LOGNR – são autoridades de polícia criminal os oficiais da GNR)
 No 1º INTERROGATÓRIO JUDICIAL (art.º 141º CPP) de arguido detido.
 No DEBATE INSTRUTÓRIO e na AUDIÊNCIA (excepto se não for possível a aplicação de prisão
ou medida de segurança de internamento).
 Nos RECURSOS ordinários e extraordinários.
 Nas situações em que ocorram DECLARAÇÕES PARA MEMÓRIA FUTURA por parte de uma
testemunha nos termos dos arts 271º (durante o Inquérito) e 294º (durante a Instrução) do CPP.
 Na audiência de julgamento realizada na AUSÊNCIA DO ARGUIDO.
 Se não tiver sido nomeado antes, é obrigatória a nomeação no despacho de encerramento do
Inquérito, QUANDO FOR DEDUZIDA ACUSAÇÃO contra o arguido – nº 3 do art.º 64º CPP.
 Em todos os CASOS QUE A LEI ESPECIFICAMENTE DETERMINAR a assistência por defensor.
Notas:
• O tribunal pode nomear defensor ao arguido (oficiosamente ou a pedido do arguido), sempre que
as circunstâncias do caso revelem a necessidade ou a conveniência de o arguido ser assistido - nº 2
do art.º 64º do CPP.
• O tribunal pode substituir o defensor nomeado, a requerimento do arguido – art.º 66º, nº 3 do CPP.
• O exercício da função de defensor é remunerado, sendo responsáveis pela retribuição, conforme o
caso, o arguido, o assistente, as partes civis ou os cofres do Ministério da Justiça – art.º 66º, nº 5.
• Segundo alguns autores não são considerados actos processuais os actos iniciais dos OPC, pois os
actos dos OPC são sempre obrigatoriamente validados pelas Autoridades Judiciárias, as quais
realizam os “verdadeiros” actos processuais (posição defendida pelo Procurador da República Adjunto e
Docente do Centro de Estudos Judiciários, Mestre Paulo Dá Mesquita no I Congresso de Processo Penal, ISCPSI –
Lisboa, Março de 2004).
• Os advogados têm direito, nos termos da lei, de comunicar, pessoalmente e reservadamente, com
os seus patrocinados, mesmo quando estes se achem presos ou detidos em estabelecimento civil ou
militar – Estatuto da Ordem dos Advogados.

14. - A PROVA
“ A Prova tem por função a demonstração da realidade dos factos.”- Art.º 341º do Código Civil
É através da produção da prova em julgamento que o tribunal vai formar a sua convicção sobre a
existência ou inexistência dos factos, das situações ou circunstâncias em que ocorreu o crime,
proferindo a sua decisão, a qual está cingida a critérios e regras gerais.
No que diz respeito à apreciação da prova, o ordenamento jurídico português segue o sistema
doutrinal da prova livre, ou seja, a apreciação da prova é deixada à livre convicção da entidade
julgadora, tendo em conta o material probatório que lhe é apresentado.
O sistema da prova livre contrapõe-se ao sistema da prova legal que assentava na ideia, de que,
deixando-se ao julgador, ao juiz, a valoração livre da prova, ele facilmente poderia incorrer em erro. A
imposição de normas e regras, baseadas nas regras gerais da vida e experiência, fixavam uma
hierarquia; hierarquizava-se o valor das provas, segundo a força que a lei atribuía a cada uma (por
exemplo, o depoimento do homem chegou, em tempos, a prevalecer sobre o da mulher e a confissão
do arguido era a “rainha das provas” - o que interessava era a confissão e não interessava o modo
como ela era obtida).
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Direito Processual Penal

Com os métodos científicos de prova, reduziu-se a margem de erro na apreciação da prova por
parte do tribunal.
14.1. - DISPOSIÇÕES GERAIS
14.1.1 - OBJECTO DA PROVA – ARTº 124º CPP
Constituem objecto de prova todos os factos juridicamente relevantes para a:
➢ Existência ou inexistência do crime
➢ Punibilidade ou não punibilidade do arguido
➢ Determinação da pena ou da medida de segurança aplicáveis
➢ Determinação da responsabilidade civil (quando tiver lugar pedido civil)
14.1.2. – PRINCÍPIO DA LEGALIDADE DA PROVA – ARTº 125º CPP
SÃO ADMISSÍVEIS TODAS AS PROVAS QUE NÃO FOREM PROIBIDAS POR LEI.
14.1.3. - MÉTODOS PROIBIDOS DE PROVA – ARTº 126º CPP
SÃO NULAS, não podendo ser utilizadas as provas obtidas mediante:
➢ Tortura
 Perturbação da liberdade de vontade ou decisão
➢ Coacção por qualquer meio cruel ou enganoso
 Perturbação da capacidade de memória ou de
➢ Ofensa da integridade física avaliação
ou moral das pessoas  Utilização da força
(mesmo que com o consentimento destas)  Promessa de vantagem legalmente inadmissível
(proibição absoluta quanto aos métodos de prova que colidam directamente com a dignidade ou integridade
física ou moral do homem)
➢ Intromissão na vida privada, no domicílio,
na correspondência ou nas telecomunicações
Sem consentimento do respectivo titular ou fora dos casos permitidos por lei
(exemplo: quando autorizadas pelo juiz)
(proibição relativa de métodos de obtenção de prova no domínio dos direitos disponíveis através do
consentimento – ver art.º 34º da CRP)
NOTA: AS PROVAS PODEM SER UTILIZADAS APENAS COM O FIM EXCLUSIVO DE LEVAR À
PUNIÇÃO DE QUEM AS OBTIVER DE FORMA ILEGAL (por exemplo os militares da GNR) – nº 4
14.1.4. - LIVRE APRECIAÇÃO DA PROVA – ARTº 127º CPP (Princípio da liberdade da valoração)
Salvo quando a lei dispuser de maneira diferente, a prova é apreciada segundo as regras da
EXPERIÊNCIA e a LIVRE CONVICÇÃO da entidade competente (normalmente, o juiz).
Esta apreciação é discricionária, mas nunca poderá ser arbitrária.
Toda e qualquer apreciação da prova por parte do tribunal terá de ser reduzida a critérios
objectivos (o tribunal tem que justificar a sua decisão). Por outro lado, na apreciação da prova deverá
constar uma exposição dos motivos que fundamentaram a decisão do tribunal (ver art. 374º, nº 2 do
CPP).
Se o tribunal não fundamentar a sentença (a qual se fundamenta obrigatoriamente nos factos
provados e não provados), esta é susceptível de recurso na medida em que está a ser violado um
princípio geral de direito. Este recurso pode versar sobre os factos de direito, tendo como objecto, quer
a contradição material, quer a violação das regras da vida e a da experiência (art. 127º CPP).
Os meios de prova, que a seguir serão estudados, são valorados pela entidade competente, tendo
em conta as seguintes particularidades:
- Prova Testemunhal (art.º 128º e seguintes do CPP)
É deixada à livre convicção do tribunal, face ao depoimento prestado, achar este credível ou não.
O Tribunal e a pessoa contra quem é feita a prova podem levantar objecções, podendo pôr em causa a
razão de ciência do depoimento. Pode ser posto em causa a maneira como foi adquirido esse
conhecimento através da chamada contradita ou pôr em causa o depoimento comparando-o com o
depoimento de outra testemunha, tendo neste caso lugar a chamada acareação (art.º 146º do CPP). De
qualquer forma, a prova testemunhal é sempre deixada à livre apreciação do tribunal.
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Direito Processual Penal

- Prova Pericial (art.º 151º e seguintes do CPP)


O valor da prova pericial encontra-se mencionado no art.º 163º do CPP. O juiz não pode pôr em
causa o parecer técnico, científico ou artístico dos peritos, podendo-o apenas criticar. Sempre que a
convicção do juiz divergir das conclusões dos peritos, tem que obrigatoriamente fundamentar a sua
divergência.
- Prova documental (art. 164º e seguintes do CPP)
»» O valor probatório dos documentos autênticos e autenticados encontra-se previsto no art.º 169º do
CPP. Por exemplo, uma escritura de venda (documento autêntico) vale aquilo que contém (atesta
publicamente que uma determinada habitação foi vendida). Pode-se, no entanto, pôr em causa, a
qualidade das declarações das partes que levaram à emissão daquele documento.
»» As sentenças, comprovam aquilo que cabe dentro do âmbito julgado, em que tudo aquilo, que não
tenha a ver com isso, portanto, a fundamentação da sentença, já poderá ser posto em causa pelo
tribunal.
»» Os Autos de Notícia fazem, normalmente, fé em juízo (veja-se por exemplo o, já estudado, art.º 6º
do DL 17/91), a menos que sejam impugnados pelo arguido contra quem o auto é levantado.
- Confissão do Arguido (art.º 344º do CPP)
»» A confissão do arguido deve ser integral, sem reservas e livre de toda e qualquer coacção. É ainda
exigido que não haja co-arguidos, que o crime não seja punível com uma pena superior a 5 anos e que
o tribunal se convença da livre declaração do arguido e da veracidade dos actos confessados pelo
arguido.
»» A confissão do arguido é processualmente relevante, sendo que esta, a nível dos seus efeitos, é
diferente, se tratar de efeitos processuais ou penais:
❖ Confissão para efeitos penais - o Tribunal aprecia-a e entende se deve valorá-la ou não e
poderá contribuir para um maior ou menor doseamento da pena.
❖ Confissão para efeitos processuais - esta confissão é entendida sob o ponto de vista
processual, tem relevância no decorrer do processo.
»» A confissão equivale a uma renúncia à produção da prova, quer por parte do arguido, quer por parte
do MP ou do assistente. A relevância traduz-se, no facto de que a confissão pode abreviar o
procedimento penal (traduz-se numa renúncia à produção da prova podendo logo passar-se às
chamadas alegações orais).
»» Desde que, se reúnam os vários requisitos e condicionalismos, o n.º 2 do art. 344º especifica as
implicações da confissão:
❖ Renúncia à produção da prova relativa aos factos imputados ao arguido;
❖ Passagem de imediato às alegações orais, e se, o arguido não for absolvido por outros
motivos, à determinação da sanção aplicável;
❖ Redução do imposto de justiça em metade.
»» O facto de um indivíduo confessar sem reservas um crime não implica que o mesmo se não
investigue. Surgem por vezes situações de pessoas que se “incriminam” para salvaguardar a liberdade
de outros, ou então porque são ameaçadas para confessarem crimes que não cometeram.
»» Nunca se deve confiar única e exclusivamente na confissão do arguido como meio de prova,
principalmente quando a confissão é feita em momento anterior ao julgamento. A experiência
demonstrou que os militares da GNR, quando um indivíduo confessa de imediato o cometimento de
um crime, negligenciam a obtenção de outros meios de prova. O que pode suceder é que em
julgamento o indivíduo, aconselhado pelo advogado de defesa ou por opção própria, não confirma as
declarações que efectuou durante a investigação, chegando por vezes a afirmar que foi “pressionado”
pelas entidades policiais a confessar o crime. Por estes e outros motivos, nunca se deve confiar na
confissão do arguido e deve-se durante a investigação tentar obter todos os meios de prova que nos
permitam alcançar a verdade dos factos, quer estes levem à condenação ou absolvição do arguido.
NOTA: Não valem em julgamento, nomeadamente para o efeito de formação da convicção do tribunal,
quaisquer provas que não tiverem sido produzidas ou examinadas em audiência – Art.º 355º, nº 1 do CPP.

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Direito Processual Penal

14.2. - MEIOS DE PROVA


 PROVA TESTEMUNHAL
 DECLARAÇÕES DO ARGUIDO, DO ASSISTENTE E DAS PARTES CIVIS
 PROVA POR ACAREAÇÃO
 PROVA POR RECONHECIMENTO
 RECONSTITUIÇÃO DO FACTO
 PROVA PERICIAL
 PROVA DOCUMENTAL

14.2.1. - PROVA TESTEMUNHAL


“As testemunhas são os olhos e os ouvidos da justiça. É por meio delas que o juiz vê e ouve os factos que aprecia.”
Bentham
➔ A testemunha é inquirida sobre FACTOS DE QUE POSSUA CONHECIMENTO DIRECTO e que
constituam objecto de prova – art.º 128º, nº 1 do CPP.
➔ Se o depoimento resultar do que se OUVIU DIZER A PESSOAS DETERMINADAS, o juiz pode chamar
estas pessoas a depor, senão não serve como prova (salvo se as referidas pessoas não puderem ser
inquiridas por morte, anomalia psíquica, etc) – art.º 129º, nº 1 do CPP.
➔ NÃO É ADMISSÍVEL como depoimento a REPRODUÇÃO DE VOZES ou RUMORES PÚBLICOS – art.º
130º, nº 1 do CPP.
➔ A manifestação de MERAS CONVICÇÕES PESSOAIS sobre factos ou a sua interpretação só são
admissíveis nos casos estritamente previstos na lei (quando impossíveis de separar sobre o
depoimento sobre factos concretos, quando baseadas na ciência, técnica ou arte e quando ocorrer
no estádio de determinação da sanção) – art.º 130º, nº 2 do CPP.
14.2.1.1. - CAPACIDADE E DEVER DE TESTEMUNHAR – ARTº 131º CPP
 QUALQUER PESSOA TEM CAPACIDADE PARA TESTEMUNHAR e só pode recusar-se nos casos
previstos na lei, A NÃO SER QUE SE ENCONTRE INTERDITA POR ANOMALIA PSÍQUICA.
Nota: a recusa em prestar depoimento é punida pelo nº 2 do art.º 360º do CP
 A autoridade judiciária pode verificar a aptidão física ou mental de qualquer testemunha de forma
a avaliar da sua credibilidade.
 Os menores de 16 anos quando deponham sobre crimes sexuais podem ser sujeitos a perícia sobre
a sua personalidade (nota: a inquirição de menores de 16 anos é feita apenas pelo juiz, nos termos
do art.º 349º do CPP).
Nota: Nos termos do art.º 356º, nº 7 do CPP os OPC que tiverem recebido declarações cuja leitura não for permitida, bem
como quaisquer pessoas que, a qualquer título, tiverem participado na sua recolha, não podem ser inquiridas como
testemunhas sobre o conteúdo daquelas.

14.2.1.2. - DEVERES GERAIS DA TESTEMUNHA – ARTº 132º CPP


 Apresentar-se, no local e hora determinadas, pela autoridade que legitimamente a convocou ou
notificou.
 Manter-se à disposição da autoridade até ser desobrigada.
 Prestar juramento quando ouvida pela autoridade judiciária.
 As testemunhas prestam o seguinte juramento: “JURO, POR MINHA HONRA, DIZER TODA A
VERDADE E SÓ A VERDADE.” – nº 1 do art.º 91º do CPP.
 A autoridade judiciária adverte previamente a testemunha das sanções em que incorre se recusar o
juramento ou a ele faltar - nº 3 do art.º 91º do CPP.
 A recusa em prestar juramento equivale à recusa a depor - nº 4 do art.º 91º do CPP.
 O juramento, uma vez prestado, não necessita de ser renovado na mesma fase de um processo - nº 5
do art.º 91º do CPP.
 Os menores de 16 anos não prestam juramento – alínea a) do nº 6 do art.º 91º do CPP.
 Obedecer às indicações que legitimamente lhe forem dadas quanto à forma de prestar depoimento.
 Responder com verdade às perguntas que lhe forem dirigidas.
 A falsidade de depoimento ou testemunho pode fazê-la incorrer nos crimes previstos nos artigos
359º e 360º do CP.
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Direito Processual Penal

Nota importante:
A TESTEMUNHA NÃO É OBRIGADA A RESPONDER A PERGUNTAS QUANDO ALEGAR QUE DAS SUAS
RESPOSTAS RESULTA A SUA RESPONSABILIZAÇÃO PENAL - nº 2 do art.º 132º do CPP.

Direitos da testemunha - direito de audiência, direito à correcção do tribunal, direito a indemnização


(Art.º 317º do CPP e Art.º 194º do CCJ) e direito a protecção (Lei nº 93/99 de 14 de Agosto).
14.2.1.3. - IMPEDIMENTOS, RECUSA E SEGREDO
Existem pessoas que, pela sua qualidade, pela relação que têm com o arguido ou pelas funções
que exercem, podem não testemunhar em processo penal ou, pelo menos, podem não testemunhar
sobre determinado tipo de assuntos que constituam segredo.

IMPEDIMENTOS – ARTº 133 do CPP


IMPEDIDOS DE DEPOR
COMO TESTEMUNHAS OBSERVAÇÕES
- No mesmo processo ou em processos conexos, enquanto mantiverem a
qualidade de arguidos.
 ARGUIDO E
- Em caso de separação de processos, os arguidos de um mesmo crime
CO-ARGUIDOS
ou de um crime conexo podem depor como testemunhas, se nisso
expressamente consentirem – nº 2 do art.º 133º do CPP
 ASSISTENTES - A partir do momento em que se constituírem assistentes.
 PARTES CIVIS - ARTº 71º a 84º do CPP

RECUSA DE PARENTES E AFINS – ARTº 134º do CPP


PODEM-SE RECUSAR A TESTEMUNHAR OBSERVAÇÕES
 DESCENDENTES E ASCENDENTES - Devem ser advertidos, sob pena de
 IRMÃOS DO nulidade do depoimento, da faculdade
 AFINS ATÉ AO 2º GRAU ARGUIDO de se puderem recusar a depor – nº 2.
 ADOPTANTES E ADOPTADOS
 CÔNJUGE
- Devem ser advertidos, sob pena de
 QUEM TIVER SIDO CÔNJUGE DO ARGUIDO nulidade do depoimento, da faculdade
OU de se puderem recusar a depor – nº 2.
- Apenas se podem recusar a prestar
 QUEM CONVIVER OU TIVER CONVIVIDO EM depoimento sobre factos ocorridos
CONDIÇÕES ANÁLOGAS ÀS DOS CÔNJUGES
durante o casamento ou coabitação.
No apêndice 7 do anexo A encontra-se um modelo de auto de inquirição de testemunha.

QUEM PODE RECUSAR-SE A TESTEMUNHAR


BISAVÓS
AVÓS PAIS DOS SOGROS
PAIS, ADOPTANTES E
SOGROS
PADRASTOS
IRMÃOS CÔNJUGE,
EX-CÔNJUGE,
e respectivos ARGUIDO e quem conviver ou tiver convivido
CUNHADOS
cônjuges em condições análogas
FILHOS, ADOPTADOS ENTEADOS
e respectivos cônjuges e respectivos cônjuges
NETOS FILHOS DOS ENTEADOS
e respectivos cônjuges e respectivos cônjuges
BISNETOS

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Direito Processual Penal
I - Nos termos do artigo 131º do Código de Processo Penal vigente, o dever de testemunhar alargou-se a pessoas que, não podendo testemunhar face ao
disposto no artigo 216º, § 2º, do Código de Processo Penal de 1929, podiam, no entanto, prestar declarações.
II - Porém, o artigo 134º, Nº 1, alínea a), do Código de Processo Penal de 1987 veio reconhecer aos ascendentes, entre outras categorias de pessoas, o direito
de recusa a depor como testemunhas, não restringindo esse direito com qualquer obrigação de prestar declarações, como fazia o Código de Processo Penal
de 1929, introduzido, assim, um limite ao princípio da verdade material.
III - A razão de ser da admissão da recusa a depor, quando a testemunha é ascendente do arguido, mantém-se, não havendo motivo para distinguir se os
demais arguidos ou algum deles é responsável apenas por factos seus.
IV - Com efeito, tal depoimento, ainda que não contenda com os factos comuns aos arguidos, pode afectar razões que estiveram na base da recusa, devendo,
por isso, ser admitida mesmo em relação à globalidade dos arguidos e não só relativamente ao arguido parente ou aos factos deste e dos arguidos em que a
participação se verificou.
Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 1996.01.17, Boletim do Ministério da Justiça, 453, pág. 313.

PESSOAS QUE PODEM ESCUSAR-SE A TESTEMUNHAR


 Ministros da religião
 Ministros de confissão religiosa
 Advogados
SEGREDO PROFISSIONAL  Médicos
ARTº 135º do CPP  Jornalistas
 Membros de instituições de crédito (excepção: art.º 2º da Lei 5/2002)
 Outras pessoas que a lei permitir ou impuser que guardem
segredo profissional.
SEGREDO DE FUNCIONÁRIO  Todos os funcionários sobre factos que constituam segredo de
ARTº 136º do CPP que tiverem conhecimento no exercício das suas funções.
 Todas as pessoas que possuam segredos cujo conhecimento
SEGREDO DE ESTADO possa provocar dano à segurança do Estado Português ou à
ARTº 137º do CPP defesa da ordem constitucional.

Nota:
Em consonância com o movimento internacional de reconhecimento dos direitos das
testemunhas, nomeadamente a Recomendação nº R (97) 13 do Conselho da Europa, a AR aprovou a
Lei nº 93/99 de 14 de Julho, a qual veio regulamentar a aplicação de medidas de protecção de
testemunhas em processo penal. O desenvolvimento e concretização dos mecanismos de protecção das
testemunhas foram, entretanto, regulamentados pelo Decreto-Lei nº 190/2003 de 22 de Agosto, o qual:
- Concretiza as regras de confidencialidade essenciais à efectiva protecção das testemunhas que
requeiram a reserva do conhecimento da identidade;
- Desenvolve os meios de efectivar as diferentes medidas pontuais de segurança previstas na lei;
- Desenvolve regras de funcionamento da comissão de programas especiais de segurança.
Processo Crime - Segredo bancário – Quebra
O interesse público na administração da justiça, consubstanciado no exercício por parte do Estado do direito de punir, sobrepõe-se inequivocamente ao
interesse privado do cidadão (eventualmente agente de crimes) em ver resguardado pelo segredo profissional a sua identificação, conta bancária e respectivos
movimentos.
Acórdão da Relação de Lisboa, de 1995.11.15, Boletim do Ministério da Justiça, 454, pág. 495.

14.2.1.4. - REGRAS DA INQUIRIÇÃO– ARTº 138º CPP


 O depoimento é um acto pessoal que não pode, em caso algum, ser feito por intermédio de
procurador.
 Não devem ser feitas perguntas sugestivas ou impertinentes às testemunhas.
 A inquirição deve começar por:
 Identificação da testemunha.
 Relações de parentesco e de interesse com:
• Arguido
• Ofendido
• Assistente
• Partes civis
• Outras testemunhas
 Circunstâncias relevantes para avaliação da credibilidade do depoimento.
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Direito Processual Penal

 Juramento, nos termos e dentro dos limites legais, se a isso for obrigada.
- As testemunhas prestam o seguinte juramento: «Juro, por minha honra, dizer toda a verdade e só
a verdade.» - art.º 91º, nº 1 do CPP.
- O juramento é prestado apenas perante a AJ competente, a qual adverte previamente quem o
dever prestar das sanções em que incorre se os recusar ou a eles faltar - art.º 91º, nº 3 do CPP.
- A recusa a prestar o juramento equivale à recusa a depor - art.º 91º, nº 4 do CPP.
Nota: As testemunhas não prestam juramento quando prestam declarações perante militares da
GNR, apenas o fazem perante as Autoridades Judiciárias.
 Quando conveniente, podem ser mostradas às testemunhas peças, documentos, instrumentos ou
quaisquer objectos apreendidos relacionados com o processo.
 A testemunha pode apresentar objectos ou documentos que possam servir como prova, os quais são
juntos ao processo ou guardados, fazendo-se menção da sua apresentação.
 A recusa sem justa causa, a prestar depoimento é punida criminalmente nos termos do Art.º 360º,
n.º 2 do Código Penal.

14.2.1.5. - NOTIFICAÇÃO DAS TESTEMUNHAS


CRIMES
 Nos crimes em que é possível a realização de processo sumário as entidades policiais que tiverem
procedido à detenção devem notificar verbalmente, no próprio acto, as testemunhas da ocorrência,
em número não superior a cinco, e o ofendido, se a sua presença for útil para comparecerem na
audiência – nº 1 do art.º 383º do CPP.
 No acto da detenção devem também ser verbalmente notificadas para se apresentarem na audiência
cinco testemunhas de defesa do arguido, se este após ser informado deste direito, as quiser
apresentar e elas se encontrarem no local - nº 2 do art.º 383º do CPP.
 A acusação contém, sob pena de nulidade o rol com o máximo de 20 testemunhas, com a
respectiva identificação, discriminando-se as que só devam depor sobre os aspectos referidos no
artigo 128.°, n.° 2, as quais não podem exceder o número de cinco – art.º 283º, nº 3, alínea d) do
CPP.
 O limite do número de testemunhas previsto na alínea d) do n.º 3 do art.º 283º do CPP pode ser
ultrapassado desde que tal se afigure necessário para a descoberta da verdade material,
designadamente quando tiver sido praticado algum dos crimes referidos no n.º 2 do artigo 215.º do
CPP ou se o processo se revelar de excepcional complexidade, devido ao número de arguidos ou
ofendidos ou ao carácter altamente organizado do crime - art.º 283º, nº 7 do CPP.

TRANSGRESSÕES
 São notificadas as que a acusação puder produzir, não podendo ser o seu número superior a três. O
número de testemunhas de defesa não pode exceder para cada infracção o que a acusação puder
produzir – art.º 12º do DL 17/91 de 10 de Janeiro.

14.2.2. - DECLARAÇÕES DO ARGUIDO, DO ASSISTENTE E DAS PARTES CIVIS


12.2.2.1. - DECLARAÇÕES DO ARGUIDO
• O interrogatório do arguido não pode, sob pena de nulidade, ser efectuado entre as 0 e as 6 horas,
salvo em acto seguido à detenção – art.º 103º, n.º 3 do CPP.
• Sempre que presta declarações o arguido deve estar livre na sua pessoa – art.º 140º , nº 1 CPP.
• As declarações do arguido estão sujeitas às mesmas regras do depoimento das testemunhas
(conforme disposto nos artigos 128º e 138º), salvo quando a lei dispuser de forma diferente - art.º
140º , nº 2 CPP.
• O ARGUIDO NÃO PRESTA JURAMENTO em caso algum - art.º 140º , nº 3 CPP.
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Direito Processual Penal

• Primeiro interrogatório judicial de arguido detido – art.º 141º do CPP


 O arguido detido que não deva ser de imediato julgado (por exemplo em processo
sumário) é interrogado pelo juiz de instrução no prazo máximo de 48 horas após a
detenção - nº 1.
 O interrogatório é feito exclusivamente pelo juiz.
 Estão presentes no interrogatório o MP, o defensor (presença obrigatória nos termos da
alínea a) do nº 1 do art.º 64º do CPP), e o funcionário de justiça, não sendo admitida a
presença de qualquer outra pessoa, a não ser por motivos de segurança - nº 2.
 O arguido é questionado sobre a sua identidade e antecedentes criminais, devendo ser
advertido de que a falta de resposta a estas perguntas ou a falsidade das mesmas o pode
fazer incorrer em responsabilidade criminal (ver art.º 359º, nº 2 do CP e art.º 342º do CPP)
- nº 3.
 O MP e o defensor abstêm-se de qualquer interferência durante o interrogatório e apenas
participam com autorização do juiz - nº 6.
Não são inconstitucionais as normas dos artigo 61º, Nº 3, alínea b), e artigo 141º, Nº 3, do Código de Processo Penal, na parte em que
importa ao arguido o dever de responder com verdade às perguntas feitas no primeiro interrogatório judicial sobre os seus antecedentes
criminais.
Acórdão do Tribunal Constitucional, de 1998.05.13, Boletim do Ministério da Justiça, 477, pág. 58
O primeiro interrogatório de arguido preso a realizar pelo juiz de instrução compreende não só os casos em que o arguido é preso pela
primeira vez no processo, mas todos os casos em que o é pela segunda, terceira e mais vezes, com o fundamento em novos elementos
probatórios recolhidos no decurso do processo e que determinaram de novo a sua prisão.
Acórdão da Relação de Évora, de 1996.04.16, Boletim do Ministério da Justiça, 456, pág. 520
O arguido deve ser interrogado pelo Juiz sempre que seja preso, ainda que, no âmbito do mesmo processo, e não apenas após a primeira
vez.
Acórdão da Relação de Évora, de 1996.04.16, Colectânea de Jurisprudência., 1996, 3º, pág. 284.

• Primeiro interrogatório não judicial de arguido detido – art.º 143º do CPP


 O arguido que não for ouvido pelo juiz em acto seguido à detenção é apresentado ao MP
por quem é ouvido sumariamente – nº 1.
 O interrogatório obedece às mesmas disposições do primeiro interrogatório judicial
(art.º 141º), mas a presença do defensor só é obrigatória se o arguido o solicitar (ou
quando for obrigatória nos termos da alínea c) do nº 1, do art.º 64º do CPP) – nº 2.
A existência deste interrogatório permite que o MP valide a detenção e as apreensões feitas pelos
OPC e determine a libertação do arguido, quando resulte do auto a desnecessidade de aplicação da
medida de coacção e a inviabilidade do processo sumário. Isto traduz-se numa redução, quer no tempo
de privação de liberdade, quer na acumulação de trabalho no JIC.
• Outros interrogatórios do arguido subsequentes ao primeiro interrogatório – art.º 144º CPP.
 São realizados pelo MP durante o Inquérito – nº 1.
➔ Podem ser realizados pelos OPC em quem o MP delegue a sua realização - nº 2.
 São realizados pelo juiz durante a Instrução e o Julgamento.
No apêndice 6 do anexo A encontra-se um modelo de auto de inquirição do arguido.

14.2.2.2. - DECLARAÇÕES DO ASSISTENTE E PARTES CIVIS – ARTº 145º do CPP


 Podem ser efectuadas a seu pedido, a requerimento do arguido ou quando a AJ o entender – nº 1.
 Estão sujeitos ao dever de verdade e responsabilidade penal pela sua violação (ver art.º 359º, nº 2
do CP – Falsidade de depoimento ou declaração) – nº 2.
 O assistente e as partes civis não prestam juramento – nº 4.
 Para efeitos de notificação devem indicar a sua residência, local de trabalho ou outro domicílio à
sua escolha – nº 5.
14.2.3. - PROVA POR ACAREAÇÃO – ARTº 146º CPP
A acareação consiste, basicamente, em colocar frente a frente sujeitos processuais que prestaram
declarações diferentes sobre o mesmo facto. Como não se consegue saber qual deles contou a verdade,
faz-se através da acareação uma “última” tentativa para chegar à verdade dos factos.

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Direito Processual Penal

Entre quem é efectuada?


 Co-arguidos
 Arguido e Assistente Sempre que houver contradição entre
 Testemunhas as suas declarações e a acareação se
 Testemunhas e Arguido afigurar útil à descoberta da verdade.
 Testemunhas e Assistente
 Entre as partes civis e os restantes intervenientes
Nota: A acareação pode ter lugar entre quaisquer pessoas que prestem declarações no processo, com excepção dos peritos.
➔ Quando tem lugar?
Oficiosamente ou a requerimento.
➔ Como se processa?
A entidade que preside à diligência (Juiz, MP, OPC delegado pelo MP) efectua os seguintes
procedimentos:
1.º Reproduz as declarações que foram efectuadas pelos acareados.
2.º Pergunta aos acareados se confirmam ou querem modificar as suas declarações.
3.º Se necessário, diz aos acareados para contestarem as declarações das outras pessoas
que estão presentes na acareação.
4.º Formula as perguntas que entender convenientes para o esclarecimento da verdade.

14.2.4. - PROVA POR RECONHECIMENTO


14.2.4.1. - RECONHECIMENTO DE PESSOAS – ARTº 147º CPP
Como proceder?
1.º Solicitar à pessoa que vai identificar a pessoa a reconhecer:
 Descrição da pessoa a identificar
 Identificação de todos os pormenores de que se recorda
2.º Perguntar-lhe se já tinha visto a pessoa a reconhecer antes e em que condições.
3.º Interrogá-la sobre outras circunstâncias que possam influir na credibilidade da identificação.
Se a identificação anterior não for cabal
4.º Afastar quem deve proceder à identificação.
5.º Chamar pelo menos duas pessoas que apresentem as maiores semelhanças possíveis (altura,
estrutura, idade, sexo, raça, cabelo, barba, etc), inclusive de vestuário, com a pessoa a identificar.
6.º Colocar as pessoas (no mínimo 3, a pessoa a identificar e mais duas) lado a lado.
7.º Chamar a pessoa que vai fazer a identificação e perguntar se conhece algum dos presentes e, em
caso afirmativo, qual.
Notas:
- Se houver o risco de intimidação ou perturbação, e o reconhecimento não tiver lugar em audiência, a
pessoa que vai fazer a identificação não deve ser vista pelo identificando – nº 3.
- O reconhecimento que não obedecer aos formalismos referidos no artigo não tem qualquer valor como
meio de prova – nº 4.
- Se várias pessoas tiverem que reconhecer o mesmo identificando, o reconhecimento é feito separadamente
por cada pessoa, impedindo-se a comunicação entre elas - art.º 149º, nº 2 do CPP.
- Se uma pessoa tiver que reconhecer vários identificandos, deve reconhecer uma pessoa de cada vez – art.º
149º, nº 2 do CPP
O reconhecimento do arguido pelo ofendido, sem que tenham sido cumpridas as formalidades do artigo 147º do Código de
Processo Penal, não constitui nulidade, mas vício de inexistência do próprio acto, que, assim, não produz qualquer efeito
jurídico.
Acórdão da Relação do Porto, de 2000.01.19, in Boletim do Ministério da Justiça, de 2000, Nº 493, pág. 420.

14.2.4.2. - RECONHECIMENTO DE OBJECTOS – ARTº 148º CPP


Como proceder?
1.º Solicitar à pessoa que vai identificar o objecto a reconhecer:
 Descrição do objecto a identificar
 Identificação de todos os pormenores do objecto de que se recorda
2.º Perguntar-lhe se já tinha visto o objecto a reconhecer antes e em que condições.
3.º Interrogá-la sobre outras circunstâncias que possam influir na credibilidade da identificação.
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Direito Processual Penal

Se a identificação anterior não for cabal


4.º Afastar quem deve proceder à identificação.
5.º Procurar dois objectos semelhantes ao objecto a identificar.
6.º Colocar os objectos (no mínimo 3, o objecto a identificar e mais dois) lado a lado.
7.º Chamar a pessoa que vai fazer a identificação e perguntar se conhece algum dos objectos
presentes e, em caso afirmativo, qual.
Notas:
- O reconhecimento que não obedecer aos formalismos referidos no artigo não tem qualquer valor
como meio de prova – nº 3.
- Se várias pessoas tiverem que reconhecer o mesmo objecto, o reconhecimento é feito
separadamente por cada pessoa, impedindo-se a comunicação entre elas - art.º 149º, nº 1 do CPP.
- Se uma pessoa tiver que reconhecer vários objectos, deve reconhecer um objecto de cada vez –
art.º 149º, nº 2 do CPP.

14.2.5. - RECONSTITUIÇÃO DO FACTO – ARTº 150º CPP


 É efectuada quando houver necessidade de verificar se um facto poderia ter ocorrido de certa forma
 Consiste na realização, tão fiel quanto possível, das condições em que se afirma ou se supõe ter
ocorrido um determinado facto e na repetição do modo de realização do mesmo.
Por exemplo:
- Verificar se o arguido poderia percorrer uma determinada distância num determinado tempo.
- Verificar se uma testemunha, no local em que se encontrava, conseguiria ou não ter observado, o que
afirma ter visto.
- Reconstituir, no local, o crime de forma a tentar descobrir quem o poderia e estaria em condições de o ter
cometido.
14.2.6. - PROVA PERICIAL – ARTº 151º a 163º CPP
 Tem lugar quando a percepção ou a apreciação dos factos exigirem especiais conhecimentos
técnicos, científicos ou artísticos – art.º 151º do CPP.
 Pode ser realizada (art.º 152º do CPP):
 em estabelecimento, laboratório ou serviço oficial apropriado.
 por perito nomeado que conste nas listas de peritos existentes em cada comarca.
 por pessoa de honorabilidade e de reconhecida competência na matéria em causa.
Podem ser peritos, por exemplo, os médicos legistas ou outros nomeados em cada comarca, os
funcionários do Laboratório de Polícia Científica, os lofoscopistas e dactiloscopistas, um
cientista em determinada área, um artista ou especialista em arte, etc.
 É ordenada por despacho da autoridade judiciária, contendo o nome dos peritos e a indicação
sumária do objecto da perícia e a indicação do dia, hora e local em que se efectivará (sendo estas
últimas combinadas com os peritos) – nº 1 do art.º 154º do CPP.
 O MP não pode delegar na GNR a efectivação de perícia – alínea b) do nº 2 do art.º 270º do CPP.
 O MP apenas pode delegar em Autoridades de Polícia Criminal (por exemplo, nos Oficias da
GNR), a faculdade de ordenar efectivação da perícia relativamente a determinados tipos de crime,
em caso de urgência ou perigo na demora, nomeadamente quando a perícia deva ser realizada
conjuntamente com o exame de vestígios, excepto quando (nº 3 do art.º 270º CPP):
 A perícia envolva a realização de autópsia médico-legal.
 No caso da ordenação de prestação de esclarecimentos complementares (art.º 158º).
 Nos casos em que seja pedida a realização de nova perícia nos termos do art.º 158º
(esclarecimentos e nova perícia).
 O despacho deve ser notificado ao MP (se não tiver sido este a ordenar a perícia), ao arguido, ao
assistente e às partes civis, no mínimo, 3 dias antes da perícia, salvo quando haja urgência ou
perigo na demora ou então a comunicação àqueles intervenientes (arguido, assistente e partes civis)
possa prejudicar as finalidades do Inquérito – nº 2 e 3 do art.º 154º do CPP.

53
Direito Processual Penal

 Finda a perícia, os peritos procedem à elaboração de um relatório, no qual mencionam e descrevem


as suas respostas e conclusões devidamente fundamentadas e que não podem ser contraditadas. A
autoridade judiciária, o arguido, o assistente, as partes civis e os consultores técnicos apenas
podem pedir esclarecimentos aos peritos – nº 1 do art.º 157º do CPP.
 Os peritos e os intérpretes prestam, em qualquer fase do processo, o seguinte compromisso:
«Comprometo-me, por minha honra, a desempenhar fielmente as funções que me são confiadas.»
O compromisso é prestado perante a autoridade judiciária competente, a qual adverte
previamente quem os dever prestar das sanções em que incorre se o recusa ou a ele faltar (crime
previsto no art.º 360º, nº 2 do CP) – art.º 91º do CPP.
14.2.7. - PROVA DOCUMENTAL – ARTº 164º a 170º CPP
 DOCUMENTO:
- declaração, sinal ou notação corporizada em escrito ou qualquer outro meio técnico nos termos
da lei penal - nº 1 do art.º 164º do CPP.
- a declaração corporizada em escrito, ou registada em disco, fita gravada ou qualquer outro meio técnico, inteligível
para a maior parte das pessoas, que, permitindo reconhecer o emitente é idónea para provar facto juridicamente
relevante, quer tal destino lhe seja dado no momento da sua emissão quer posteriormente; e bem assim o sinal
materialmente feito, dado ou posto numa coisa para provar facto juridicamente relevante e que permita reconhecer à
generalidade das pessoas o seu destino e prova de que ele resulta – alínea a) do art.º 255º do Código Penal.
 A prova por documento é admissível (art.º 164º, nº 1, CPP), sendo a sua junção feita oficiosamente
ou a requerimento, não podendo juntar-se documento que contiver declaração anónima, salvo se o
próprio documento for objecto ou elemento do crime - nº 2 do art.º 164º do CPP.
 O documento pode ser junto no decurso do Inquérito ou da Instrução e, não sendo isso possível, ser
junto ao processo até ao encerramento da audiência - nº 1 do art.º 165º do CPP.
 As reproduções fotográficas, cinematográficas, fonográficas ou por meio de processo electrónico e,
de um modo geral, quaisquer reproduções mecânicas só valem como prova dos factos ou coisas
reproduzidas se não forem ilícitas, nos termos da lei penal – n.º 1 do art.º 167 do CPP (por exemplo
não são lícitas a intercepção, gravação ou registo de conversações ou comunicações sem
autorização do juiz – alínea c) do nº 1 do art.º 269º do CPP).
 A prova documental é a que resulta de documento. Considera-se documento qualquer objecto
elaborado pelo homem com o fim de reproduzir ou representar uma pessoa , coisa ou facto -
art.º 362º do Código Civil.
 Nos termos do Art.º 363º do Código Civil são:
Autênticos - os documentos exarados, com formalidades legais, pelas autoridades públicas nos limites da
sua competência ou, dentro do círculo de actividade que lhe é atribuído, pelo notário ou outro oficial público
provido de fé pública e não estiver legalmente impedido de o lavrar. No documento autêntico (por exemplo:
escritura pública), há uma intervenção desde o início da autoridade pública competente para o efeito.

Particulares - Todos os restantes documentos. Estes documentos são considerados autenticados, quando
confirmados pelas partes, perante notário, nos termos prescritos nas leis notariais (art.º 363º, nº3 do Código Civil)
e reconhecidos quando o mesmo acontece em relação a letra e/ou assinatura (art.º 375º do Código Civil). Nestes
documentos a intervenção das autoridades públicas verifica-se à posteriori, ainda que, com intensidades distintas.

Notas:
CERTIFICAÇÃO DE DOCUMENTOS - O Decreto-Lei nº 28/2000 de 13 de Março conferiu a competência para a
conferência (certificação) de fotocópias às juntas de freguesia, aos Correios (CTT), às câmaras de comércio e indústria
(reconhecidas no DL 244/92, de 29 Dec), aos advogados e aos solicitadores. As fotocópias conferidas por estas entidades
têm o valor probatório dos originais (nº 5 do art.º 1º), desde que seja aposta ou inscrita no documento fotocopiado (nº 4 do
art.º 1º):
 A declaração de conformidade com o original;
 O local e a data da realização do acto;
 O nome e assinatura do autor da certificação;
 Carimbo profissional ou qualquer outra marca identificativa da entidade que procede à certificação.

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Direito Processual Penal

RECONHECIMENTO DE ASSINATURAS - O Decreto-Lei nº 237/2001 de 30 de Agosto veio conferir competência,


para efectuarem reconhecimentos e certificar ou fazer certificar traduções e documentos, às câmaras de comércio e
indústria, aos advogados e aos solicitadores. Nos termos do nº 1 do art.º 5º deste Decreto-Lei, estas entidades podem fazer
reconhecimentos com menções especiais, por semelhança, nos termos previstos no Código do Notariado. Os
reconhecimentos e as traduções efectuadas por estas entidades conferem aos documentos a mesma força probatória que
teriam se tais actos tivessem sido realizados com intervenção notarial (art.º 6º do DL 237/2001).

No Direito Civil a força probatória dos documentos autênticos, autenticados e reconhecidos é


equiparada entre todos. No entanto, o Direito Processual Penal apenas reconhece como provados os
factos materiais constantes de documento autêntico ou autenticado, enquanto a autenticidade do
documento ou a veracidade do seu conteúdo não forem postas em causa - art.º 169º do CPP.
Ao considerar os documentos autênticos ou autenticados como provados, o CPP limita o princípio
da livre apreciação da prova (art.º 127º CPP), a não ser que fundadamente se coloque em causa a
autenticidade e veracidade do seu conteúdo e, por esse motivo, se considere falso, sendo então
necessário produzir contra-prova.
Por seu lado os documentos particulares, simples e reconhecidos, bem como as notações técnicas
(alínea b) do art.º 255º do CP) vêem o seu valor probatório sujeito à livre apreciação da prova pelo
juiz.
São ainda consideradas documentos as reproduções mecânicas tais como fotográficas,
cinematográficas, fonográficas, vídeo ou produzidas por outro processo electrónico, mas, só valem
como prova se não forem ilícitas nos termos do nº 1 do art.º 167º do CPP (princípio da legalidade ou
legitimidade da prova). O art.º 199º do CP tipifica as condutas ilícitas no que respeita à gravação,
utilização fotográfica de imagens e vozes registadas nos mais diversos suportes. Não se consideram
ilícitas as reproduções mecânicas que obedecerem ao disposto relativamente aos meios de obtenção de
prova, nomeadamente no que respeita às escutas telefónicas, procedimentos operacionais (vigilâncias) e
meios técnicos de fixação de prova (fotográfica e vídeo) desde que usados nos termos da lei penal.

15. - CONVOCAÇÃO E NOTIFICAÇÃO PARA ACTOS PROCESSUAIS

15.1. - CONTAGEM DOS PRAZOS


Na contagem de prazos no Direito Processual Penal, aplicam-se subsidiariamente as regras do
Código do Processo Civil (Art.º 104º, nº 1 do CPP), pelo que, salvo se a lei prever especificamente o
contrário, os dias de determinado prazo contam-se sempre seguidos (art.º 144º do CPC).
ARTIGO 143.º do Código de Processo Civil - Quando se praticam os actos
1. Não se praticam actos processuais nos dias em que os tribunais estiverem encerrados, nem durante o período de férias
judiciais.
2. Exceptuam-se do disposto no número anterior as citações, notificações e os actos que se destinem a evitar dano
irreparável.
3. Os actos das partes que impliquem a recepção pelas secretarias judiciais de quaisquer articulados, requerimentos ou
documentos devem ser praticados durante as horas de expediente dos serviços.
4 - As partes podem praticar os actos processuais através de telecópia ou por correio electrónico, em qualquer dia e
independentemente da hora da abertura e do encerramento dos tribunais. *
* (alterado pelo Decreto-Lei n.º 183/2000, de 10 de Agosto)

ARTIGO 144.º do Código de Processo Civil - Regra da continuidade dos prazos


1. O prazo processual, estabelecido por lei ou fixado por despacho do juiz, é contínuo, suspendendo-se, no entanto, durante as
férias judiciais, salvo se a sua duração for igual ou superior a seis meses ou se tratar de actos a praticar em processos que a lei
considere urgentes.
2. Quando o prazo para a prática do acto processual terminar em dia em que os tribunais estiverem encerrados, transfere-se o seu
termo para o primeiro dia útil seguinte.
3. Para efeitos do disposto no número anterior, consideram-se encerrados os tribunais quando for concedida tolerância de ponto...

Já agora diga-se que não concordamos com o Ministério Público junto da comarca quando parece entender “precisamente
para poder justificar a sua posição” que o sábado de manhã é dia útil, só porque há turnos (entenda-se tribunais de turno)…
Acórdão n.º 2/2004 – Processo n.º 2710/2003 do Supremo Tribunal de Justiça, publicado no DR I Série-A, de 12 de Maio de
2004 (Página 3005)

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Direito Processual Penal

15.2. - COMUNICAÇÃO DOS ACTOS PROCESSUAIS - Artigo 111.° CPP


➔ Destina-se a transmitir:
a) Uma ordem de comparência perante os serviços de justiça;
b) Uma convocação para participar em diligência processual;
c) O conteúdo de acto realizado ou de despacho proferido no processo.

É feita:
 pela secretaria, oficiosamente ou precedendo despacho da autoridade judiciária ou de
polícia criminal competente;
➔ É executada:
 pelo funcionário de justiça que tiver o processo a seu cargo, ou por agente policial,
administrativo ou pertencente ao serviço postal que for designado para o efeito e se
encontrar devidamente credenciado.

➔ Entre serviços de justiça e entre as autoridades judiciárias e os OPC efectua-se mediante:


a) Mandado: quando se determinar a prática de acto processual a entidade com um âmbito de
funções situado dentro dos limites da competência territorial da entidade que proferir a ordem;
b) Carta: quando se tratar de acto a praticar fora daqueles limites, denominando-se precatória
quando a prática do acto em causa se contiver dentro dos limites do território nacional e
rogatória havendo que concretizar-se no estrangeiro;
c) Ofício, aviso, carta, telegrama, telex, telecópia, comunicação telefónica, correio electrónico ou
qualquer outro meio de telecomunicações: quando estiver em causa um pedido de notificação
ou qualquer outro tipo de transmissão de mensagens.
➔ A comunicação telefónica é sempre seguida de confirmação por qualquer meio escrito (nº 4).

15.3. - CONVOCAÇÃO PARA ACTO PROCESSUAL - Artigo 112.° do CPP


Pode ser feita:
➔ por QUALQUER MEIO destinado a dar-lhe conhecimento do facto (n.º 1);
➔ Quando feita por via telefónica (nº 2):
 A entidade que efectuar a convocação identifica-se;
 Dá conta do cargo que desempenha;
 Fornece os elementos que permitam ao chamado inteirar-se do acto para que é
convocado;
 Fornece os elementos necessários para que o notificado possa efectuar, caso queira,
a contraprova de que se trata de telefonema oficial e verdadeiro;
➔ Deve ser lavrada cota no auto referindo qual o meio utilizado (independentemente do meio que foi
utilizado) – n.º 1.

15.4. - REGRAS GERAIS SOBRE NOTIFICAÇÕES - Artigo 113.° do CPP


Com as alterações introduzidas pelo DL n.º 320-C/2000 de 15 de Dezembro e pela Portaria n.º
1178-A/2000 de 15 de Dezembro, numa tentativa de combate à morosidade processual, as notificações
passaram a ser feitas essencialmente por via postal simples e mediante contacto pessoal. Tendo em
conta que todo aquele que é constituído arguido está sujeito a termo de identidade e residência (art.º
196º, n.º 1 do CPP), devendo indicar a sua residência, local de trabalho ou outro domicílio à sua
escolha, não se justificava que o tribunal o notificasse pela via postal registada, dado que é ao arguido
que cabe requerer qualquer alteração da sua residência ou identidade.
Relativamente às testemunhas, também se entendeu que, desde que tenha havido notificação
verbal, se torna desnecessária qualquer notificação via postal, pois tal acarretaria não só mais
diligências a observar pelo tribunal, como também uma desresponsabilização por parte de quem tem o
dever de testemunhar.
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Direito Processual Penal

As notificações efectuam-se mediante (n.º 1):


a) CONTACTO PESSOAL com o notificando e no lugar em que este for encontrado;

b) VIA POSTAL REGISTADA, por meio de carta ou aviso registados;


 Notificações presumem-se feitas no 3º dia útil posterior ao do envio, devendo a
cominação aplicável constar do acto de notificação – nº 2.
 Se for impossível proceder ao depósito da carta na caixa de correio, o distribuidor do
serviço postal lavra nota do incidente, apõe-lhe a data e envia-a de imediato ao serviço ou
ao tribunal remetente – nº 4.
 O rosto do sobrescrito ou do aviso deve indicar, com precisão - nº 5:
 a natureza da correspondência;
 a identificação do tribunal ou do serviço remetente;
 as seguintes NORMAS DE PROCEDIMENTO (nº 6):
Destinatário recusa-se a assinar Agente dos serviços postais entrega a carta ou o aviso e
lavra nota do incidente, valendo o acto como notificação;
Destinatário recusa-se a receber a Agente dos serviços postais lavra nota do incidente,
carta ou o aviso valendo o acto como notificação;
A carta ou o aviso são entregues a pessoa que com ele habite ou a
Destinatário não encontrado pessoa indicada pelo destinatário que com ele trabalhe, fazendo os
serviços postais menção do facto com identificação da pessoa que
recebeu a carta ou o aviso;
Não for possível, pela ausência de Serviços postais cumprem o disposto nos respectivos
pessoa ou por outro qualquer regulamentos, mas sempre que deixem aviso indicarão
motivo, proceder nos termos expressamente a natureza da correspondência e a
anteriores identificação do tribunal ou do serviço remetente.

A Portaria nº 953/2003, de 9 de Setembro, dos Ministérios da Justiça e da Economia, numa tentativa


de uniformização das citações do processo penal com as do âmbito do processo civil, veio introduzir as
seguintes especificidades:
- Se o citando recusar a assinatura do aviso de recepção ou o recebimento da carta, o distribuidor do
serviço postal lavra nota do incidente na carta ou aviso de recepção e devolvê-lo-á ao tribunal
competente.
- A citação é repetida enviando-se nova carta com aviso de recepção.
- O distribuidor postal entrega a carta. Não sendo possível a entrega, deve proceder ao depósito da
carta na caixa do correio e:
 Preencher a declaração no verso do sobrescrito e apor a sua assinatura de forma legível;
 Preencher a declaração no aviso de recepção, certificando a data e o local exacto em que
depositou o expediente,
 Remeter de imediato ao tribunal o aviso de recepção devidamente preenchido.
- Não sendo possível o depósito da carta na caixa do correio por as dimensões da carta não o
permitirem, o distribuidor deixa aviso nos termos do nº 5 do art.º 236º do CPC.
Esta Portaria veio ainda aprovar os modelos oficiais de carta registada e de aviso de recepção para
citação pessoal, a efectuar por via pessoal, bem como os modelos a adoptar nas notificações via postal.
c) VIA POSTAL SIMPLES, por meio de carta ou aviso, nos casos expressamente previstos;
 Funcionário judicial lavra uma cota no processo com (nº 3):
 indicação da data da expedição da carta
 indicação do domicílio para a qual foi enviada;
 Distribuidor do serviço postal (nº 3):
 Deposita a carta na caixa de correio do notificando;
 Lavra uma declaração indicando a data e confirmando o local exacto do
depósito;

57
Direito Processual Penal

 Envia a declaração de imediato ao serviço ou ao tribunal remetente.


 Se for impossível proceder ao depósito da carta na caixa de correio, lavra
nota do incidente, apõe-lhe a data e envia-a de imediato ao serviço ou ao
tribunal remetente – nº 4.
 Considera-se a notificação efectuada no 5º dia posterior à data indicada na
declaração lavrada pelo distribuidor do serviço postal, cominação esta que deverá
constar do acto de notificação – nº 3.
I - A utilização de carta registada com aviso de recepção, em lugar da legalmente prevista simples carta registada, não pode fazer encurtar
o prazo que seria de considerar se a notificação tivesse sido efectuada de acordo com a lei - artigo 113º, Nº 1, alínea b), do Código de
Processo Penal, ou seja, por simples carta registada.
II - Utilizada, assim, indevidamente, a carta registada com aviso de recepção, a presunção prevista no Nº 2 do artigo 113º do Código de
Processo Penal será afastada sempre que se mostre, por meios idóneos, que a notificação ocorreu para além dos três dias aí referidos,
mas não se ocorreu antes, ou seja, esses três dias aí referidos, mas não encurtados, pois o dito nesse Nº 2 do referido artigo 113º não
permite que as notificações produzam efeitos antes do terceiro dia posterior ao do registo.
Acórdão da Relação de Évora, de 2000.01.18, in Boletim do Ministério da Justiça, de 2000, Nº 493, pág. 430.

d) EDITAIS E ANÚNCIOS, nos casos em que a lei expressamente o admitir (exemplos: art.º 51º, nº4
e art.º 335º do CPP)
 É feita mediante a afixação de um edital em cada um dos seguintes locais – nº 11:
 Na porta do tribunal;
 Na porta da última residência do arguido
 Nos lugares para o efeito destinados pela respectiva junta de freguesia.
 Sempre que tal for conveniente:
 É ordenada a publicação de anúncios em dois números seguidos:
 de um dos jornais de maior circulação na localidade da última residência do arguido ou
 de maior circulação nacional.
VALEM COMO NOTIFICAÇÃO
As convocações e comunicações feitas (salvo nos casos em que a lei exigir forma diferente) - nº 7:
a) Por autoridade judiciária ou de polícia criminal aos interessados presentes em acto processual
por ela presidida, desde que documentadas no auto;
b) Por via telefónica em caso de urgência, se respeitarem os requisitos constantes do n.° 2 do art.º
112º do CPP e se, além disso, no telefonema se avisar o notificando de que a convocação ou
comunicação vale como notificação e ao telefonema se seguir confirmação telegráfica, por
telex ou por telecópia.
NOTIFICAÇÃO FEITA A OUTRAS PESSOAS - nº 8
 O notificando pode indicar pessoa, com residência ou domicílio profissional situados na área de
competência territorial do tribunal, para o efeito de receber notificações.
 Neste caso, as notificações, levadas a cabo com observância do formalismo previsto no art.º
113º, consideram-se como tendo sido feitas ao próprio notificando.
NOTIFICAÇÕES DO ARGUIDO, DO ASSISTENTE E DAS PARTES CIVIS – nº 9
 Podem ser feitas ao respectivo defensor ou advogado.
 Ressalvam-se as notificações respeitantes:
 à acusação;
 à decisão instrutória;
 à designação de dia para julgamento;
 à sentença;
 as relativas à aplicação de medidas de coacção e de garantia patrimonial;
 as relativas à dedução do pedido de indemnização civil.
* devem igualmente ser notificadas ao advogado ou defensor nomeado;
* neste caso, o prazo para a prática de acto processual subsequente
conta-se a partir da data da notificação efectuada em último lugar.

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Direito Processual Penal

NOTIFICAÇÕES AO ADVOGADO OU AO DEFENSOR NOMEADO – nº 10


Quando outra forma não resultar da lei, são feitas por:
 Contacto pessoal
 Via postal registada
 Via postal simples
 Telecópia.
VÁRIOS ARGUIDOS OU ASSISTENTES – nº 12
 Nos casos expressamente previstos, havendo vários arguidos ou assistentes, quando o prazo para a
prática de actos subsequentes à notificação termine em dias diferentes, o acto pode ser praticado
por todos ou por cada um deles até ao termo do prazo que começou a correr em último lugar.

15.5. - CASOS ESPECIAIS DE NOTIFICAÇÃO - Artigo 114.° do CPP


 É requisitada ao director do estabelecimento prisional respectivo;
PRESOS  É efectuada na pessoa do notificando por funcionário para o efeito
designado
 Pode fazer-se mediante requisição ao respectivo serviço;
 A comparência do notificado não carece de autorização do superior
FUNCIONÁRIO OU
hierárquico;
AGENTE
 Quando a notificação não for requisitada ao respectivo serviço, o
ADMINISTRATIVO
notificado deve informar imediatamente da notificação o seu
superior e apresentar-lhe documento comprovativo da comparência.

15.6. - DIFICULDADES EM EFECTUAR NOTIFICAÇÃO OU CUMPRIR MANDADO – Art.º 115.° do


CPP
 Pode-se recorrer à colaboração da força pública, a qual é requisitada à autoridade mais próxima
do local onde deve intervir.
 Todos os agentes de manutenção da ordem pública devem prestar auxílio e colaboração
quando for pedida a sua intervenção e exibida a notificação ou o mandado respectivos.
 Se, apesar do auxílio e da colaboração não se tiver conseguido efectuar a notificação ou cumprir o
mandado, redige-se auto da ocorrência, no qual se indica especificadamente as diligências a que se
procedeu, e transmite-se sem demora à entidade notificante ou mandante.
15.7. - FALTA INJUSTIFICADA DE COMPARECIMENTO - Artigo 116.° do CPP
 Juiz condena o faltoso ao pagamento de uma soma entre 2 UC (178 Euros) e 10 UC (890 Euros) – nº 1.
 Juiz pode ordenar, oficiosamente ou a requerimento (nº 2):
 A detenção (ver art.º 27º, nº 3 da CRP) de quem tiver faltado injustificadamente pelo tempo
indispensável à realização da diligência;
 Condenar o faltoso ao pagamento das despesas ocasionadas pela sua não comparência,
nomeadamente das relacionadas com notificações, expediente e deslocação de pessoas.
 Tratando-se do arguido, pode ainda ser-lhe aplicada medida de prisão preventiva, se esta
for legalmente admissível – nº 2.
 Se a falta for cometida pelo Ministério Público – nº 3
 É dado conhecimento ao superior hierárquico.
 Se a falta for cometida por advogado constituído ou nomeado no processo – nº 3
 É dado conhecimento à Ordem dos Advogados.
A multa prevista no artigo 116º do Código de Processo Penal tem a natureza de sanção administrativa.
Acórdão da Relação de Lisboa, de 1995.11.28, Boletim do Ministério da Justiça, 454, pág. 494 .

Devem ser condenados em multa, nos termos do artigo 116º do Código de Processo Penal, o arguido e a testemunha que,
devidamente notificados pela Guarda Nacional Republicana para comparecerem a fim de serem ouvidos em inquérito,
faltarem e não justificarem as respectivas faltas.
Acórdão da Relação do Porto, de 1998.10.07, Boletim do Ministério da Justiça, 480, pág. 546,

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Direito Processual Penal

15.8. - JUSTIFICAÇÃO DA FALTA DE COMPARECIMENTO - Artigo 117.° do CPP


 Considera-se justificada a falta motivada por facto não imputável ao faltoso que o impeça de
comparecer no acto processual para que foi convocado ou notificado – nº 1.
 A impossibilidade de comparecimento deve ser comunicada (nº 2):
 Com cinco dias de antecedência, se for previsível;
* provas justificativas da impossibilidade são entregues com a comunicação – nº 3
 No dia e hora designados para a prática do acto, se for imprevisível.
* provas justificativas da impossibilidade podem ser apresentadas até ao 3º dia útil
seguinte – nº 3.
NÃO PODEM SER INDICADAS MAIS DE TRÊS TESTEMUNHAS (para justificar a falta) – nº 3.

 Da comunicação consta, sob pena de não justificação da falta, a indicação (nº 2):
 Do respectivo motivo;
 Local onde o faltoso pode ser encontrado;
 Duração previsível do impedimento.
 Se for alegada doença, o faltoso apresenta atestado médico especificando (nº 4):
 A impossibilidade ou grave inconveniência no comparecimento;
 Tempo provável de duração do impedimento (não diz a doença – segredo médico).
Nota: A autoridade judiciária pode (nº 4):
 Ordenar o comparecimento do médico que subscreveu o atestado;
 Fazer verificar por outro médico a veracidade da alegação da doença.

Perante o atestado médico apresentado para justificação de uma falta, o tribunal pode assumir uma destas posições; ou o
aceita como autêntico e justifica a falta ou tem dúvidas sobre essa autenticidade e investiga-a.
Acórdão da Relação de Coimbra de 1995.03.08, Boletim do Ministério da Justiça, 445, pág. 631.

 Se for impossível obter atestado médico, é admissível qualquer outro meio de prova (só práticas
médicas – exemplo: registo de entrada no hospital) – nº 5.
 Havendo impossibilidade de comparecimento, mas não de prestação de declarações ou de
depoimento, esta realizar-se-á no dia, hora e local que a autoridade judiciária designar, ouvido o
médico assistente, se necessário.
 A falsidade da justificação é punida, consoante os casos, nos termos (nº 7):
 Do artigo 260.° CP – Atestado falso.
 Do artigo 360.° CP – Falsidade de testemunho, perícia, interpretação ou tradução.

15.9. - MANDADO DE COMPARÊNCIA, NOTIFICAÇÃO E DETENÇÃO - Artigo 273.° do CPP


➔ Sempre que for necessário assegurar a presença de qualquer pessoa em acto de inquérito, o
Ministério Público ou a autoridade de polícia criminal em que tenha sido delegada a diligência
emitem mandado de comparência, do qual conste (nº 1):
 A identificação da pessoa;
 A indicação do dia, do local e da hora a que deve apresentar-se;
 A menção das sanções em que incorre no caso de falta injustificada (art.º 116º do
CPP).

➔ O mandado de comparência é notificado ao interessado com pelo menos três dias de


antecedência, salvo em caso de urgência devidamente fundamentado, em que pode ser deixado ao
notificando apenas o tempo necessário à comparência - nº 2.

➔ Juiz pode ordenar, oficiosamente ou a requerimento (nº 3 do art.º 273º conjugado com nº 2, art.º 116º):
 A detenção de quem tiver faltado injustificadamente pelo tempo indispensável à realização
da diligência;
60
Direito Processual Penal

 Condenar o faltoso ao pagamento das despesas ocasionadas pela sua não comparência,
nomeadamente das relacionadas com notificações, expediente e deslocação de pessoas.
 Tratando-se do arguido, pode ainda ser-lhe aplicada medida de prisão preventiva, se esta
for legalmente admissível – nº 2.

16. - UNIDADE DE CONTA PROCESSUAL


Decreto-Lei nº 212/89, de 30 de Junho (alterado pelo DL nº 323/01 de 17 de Dezembro)
 Entende-se por unidade de conta processual (UC):
 a quantia em dinheiro equivalente a um quarto da remuneração mínima mensal mais elevada,
 garantida, no momento da condenação,
 aos trabalhadores por conta de outrem,
 arredondada, quando necessário, para a unidade de euros mais próxima ou, se a proximidade
for igual, para a unidade de euros imediatamente inferior.
* Art.º 5º do DL nº 212/89, de 30 de Junho alterado pelo art.º 31º do DL nº 323/01 de 17 de Dezembro.
 Trienalmente, e com início em Janeiro de 1992, a UC considera-se automaticamente actualizada
nos termos referidos anteriormente a partir de 1 de Janeiro de 1992, devendo, para o efeito,
atender-se sempre à remuneração mínima que, sem arredondamento, tiver vigorado no dia 1 de
Outubro do ano anterior - Art.º 6º do DL nº 212/89, de 30 de Junho.
 A partir de 1 de Janeiro de 2004 a unidade de conta processual (UC) tem o valor de:

89 euros *
* Valor actualizado automaticamente e válido para o triénio 2004 a 2006, face ao art.º 6º, nº 1 do DL 212/89, de 30 de Junho, e das disposições
conjugadas do art.º 5º do DL 212/89, de 30 de Junho, na redacção introduzida pelo DL 323/2001, de 17 de Dezembro e art.º 1º do DL 320-C/2002, de 30
de Dezembro.

17. – DETENÇÃO
Nos termos do art.º 27º da CRP todos têm direito à liberdade e à segurança e ninguém pode ser
total ou parcialmente privado da liberdade, a não ser em consequência de sentença judicial
condenatória pela prática de acto punido por lei com pena de prisão ou de aplicação judicial de medida
de segurança. No entanto, exceptua-se deste princípio a privação da liberdade, pelo tempo e nas
condições que a lei determinar, nos casos seguintes (nº 3 do art.º 27º da CRP):
✓ Detenção em flagrante delito;
✓ Detenção ou prisão preventiva por fortes indícios de prática de crime doloso a que corresponda
pena de prisão cujo limite máximo seja superior a 3 anos;
✓ Prisão, detenção outra medida coactiva sujeita a controlo judicial de pessoa que tenha penetrado
ou permaneça irregularmente no território nacional ou contra a qual esteja em curso processo de
extradição ou de expulsão;
✓ Prisão disciplinar imposta a militares, com garantia de recurso para o tribunal competente;
✓ Sujeição de um menor a medidas de protecção, assistência ou educação em estabelecimento
adequado, decretadas pelo tribunal judicial competente;
✓ Detenção por decisão judicial em virtude de desobediência a decisão tomada por um tribunal ou
para assegurar a comparência perante autoridade judiciária competente;
✓ Detenção de suspeitos para efeitos de identificação, nos casos e pelo tempo estritamente
necessários;
✓ Internamento de portador de anomalia psíquica em estabelecimento terapêutico adequado,
decretado ou confirmado por autoridade judicial competente.

Importante: Toda a pessoa privada da liberdade deve ser informada imediatamente e de forma
compreensível das razões da sua prisão ou detenção e dos seus direitos – nº 4 do art.º 27º da CRP.
61
Direito Processual Penal

A detenção pode ocorrer em qualquer fase processual e pode ocorrer mesmo antes de
instaurado qualquer processo, como sucede com a detenção em flagrante delito. A detenção
caracteriza-se pela sua provisoriedade (é sempre precária) e pela sua finalidade específica.
O termos detenção e prisão são muitas vezes confundidos e utilizados de forma indiferenciada
pelas pessoas. Sendo uma falha desculpável ao cidadão comum, o mesmo não se poderá dizer quando
a confusão é feita por militares da GNR. De uma forma simples pode-se definir detenção e prisão da
seguinte forma:
Detenção – é a privação de liberdade do cidadão, levada a efeito por autoridade judiciária, autoridade
de polícia criminal, órgão de polícia criminal, ou por um cidadão comum, pela prática de um crime ou
transgressão punidos com pena de prisão, no período que vai desde a “voz de detenção” até o detido
ser presente à autoridade judiciária competente.
Prisão – é a privação da liberdade para cumprimento de uma pena de prisão ou prisão preventiva,
determinada por um juiz.
I - O termo detenção aplica-se aos casos em que a privação da liberdade haja que ser confirmada por subsequente intervenção judicial,
dado o seu carácter precário e condicional sujeita à condição resolutiva da homologação judicial. O seu tratamento insere-se no capítulo III
do título I do livro VI do Código de Processo Penal.
Acórdão da Relação de Lisboa, de 1998.01.06, Boletim do Ministério da Justiça, 473, pág. 549

2 - Conceito de detenção - considera-se detenção, para efeitos deste Regulamento, toda a privação da liberdade por um período inferior a quarenta e oito horas, bem como a
condição da pessoa sujeita ao procedimento de identificação obrigatória.
MAI, Gabinete do Ministro, Despacho n.º 8684/99 (2ª série), DR n.º 102, de 03MAI99 - Regulamento das Condições Materiais de Detenção em Estabelecimentos Policiais

17.1. - FINALIDADES - Artigo 254.° do CPP


 Para, no prazo máximo de quarenta e oito horas (nº 1, a):
 o detido ser apresentado a julgamento sob forma sumária;
 ser presente ao juiz competente para primeiro interrogatório judicial – ver artº
141º, nº 1 do CPP;
 para aplicação ou execução de uma medida de coacção (nº 1, a);
 Para assegurar a presença imediata ou, não sendo possível, no mais curto prazo, mas sem
nunca exceder vinte e quatro horas, do detido perante a autoridade judiciária em acto
processual (nº 1, b).
O arguido detido fora de flagrante delito para aplicação ou execução da medida de prisão
preventiva é sempre apresentado ao juiz, sendo correspondentemente aplicável o disposto no artigo
141.° do CPP - Primeiro interrogatório judicial (n.º 2).

17.2. - FLAGRANTE DELITO


Da análise da definição legal é costume distinguir-se, o flagrante delito, o quase flagrante delito e
a presunção legal de flagrante delito.

17.2.1. - CONCEITO - Artigo 256.° do CPP


 Todo o crime que se está cometendo (nº 1) - flagrante delito em sentido restrito: é a actualidade
do crime; verifica-se quando o criminoso é surpreendido na execução do crime; ou seja, quando o
agente é surpreendido a cometer o crime;
 Todo o crime que se acabou de cometer (segunda parte do nº 1) - quase flagrante delito: o agente
já não está a cometer, mas é «surpreendido logo no momento em que findou a execução, mas
sempre ainda no local da infracção em momento no qual a evidência da infracção e do seu autor
deriva directamente da própria surpresa» (ver Germano Marques da Silva, Curso de Processo Penal
II, Editorial Verbo);
 Casos em que o agente for, logo após o crime, perseguido por qualquer pessoa ou encontrado
com objectos ou sinais que mostrem claramente que acabou de o cometer ou nele participar (nº 2)
- Presunção legal de flagrante delito. Neste caso, o infractor não é detido no local da infracção,
nem tão pouco durante a execução ou logo que ela findou. O agente é perseguido por qualquer
pessoa, logo após o crime, ou é encontrado a seguir ao crime com sinais ou objectos que mostrem
claramente que cometeu o crime ou nele participou. O flagrante delito não é uma qualidade ou
62
Direito Processual Penal

requisito constitutivo do próprio crime. A actualidade e a presença de testemunhas na execução do


crime é que caracterizam o flagrante delito. Por isso é que se o crime foi presenciado, mas o agente
não foi imediatamente detido, não pode sê-lo ulteriormente com fundamento em flagrante delito.
 Em caso de crime permanente, o estado de flagrante delito só persiste enquanto se mantiverem
sinais que mostrem claramente que o crime está a ser cometido e o agente está nele a participar – nº
3. Este n.º 3 não tem antecedentes na legislação anterior. Em relação ao crime permanente, para
que se verifique o estado de flagrante delito, não basta, como resulta da norma, a actualidade do
crime, é necessário ainda a existência de sinais que mostrem claramente que o crime se está a
cometer e o agente está nele a participar.
17.2.2. - DETENÇÃO EM FLAGRANTE DELITO - Artigo 255.° do CPP

QUANDO?
 Em caso de flagrante delito, por crime punível com pena de prisão - nº 1.

QUEM PODE PROCEDER Á DETENÇÃO?


 Qualquer autoridade judiciária – nº 1 a);
 Qualquer entidade policial – nº 1 a);
 Qualquer pessoa, se uma das entidades referidas na alínea anterior não estiver presente nem
puder ser chamada em tempo útil – nº 1 b).
☻ Neste caso a pessoa que tiver procedido à detenção entrega imediatamente o detido a
uma autoridade judiciária ou entidade policial, a qual redige auto sumário da entrega e
procede de acordo com o estabelecido no artigo 259.° do CPP - Comunicação da
detenção (n.º 2).

COMO PROCEDER EM CASO DE O CRIME SER SEMI-PÚBLICO? – nº 3


 A detenção só se mantém quando, em acto a ela seguido, o titular do direito de queixa
exercer o respectivo direito.
 A autoridade judiciária ou a entidade policial levantam ou mandam levantar auto em que a
queixa fique registada.
Pensamos que a expressão "em acto a ela seguido", referida no artigo 255.º, n.º 3, do CPP e respeitante à ligação
temporal entre a detenção e a queixa do ofendido, tem de ser entendida como sendo o espaço de tempo mais célere
possível, de acordo com as circunstâncias concretas que no momento ocorrerem, não se devendo ir ao ponto de exigir
que a queixa ocorra no minuto ou na hora seguinte. Ou seja, se o ofendido por acaso está presente no momento da
detenção, a queixa deve ser expressada de imediato, mas se estiver em local desconhecido, há que dar à autoridade
policial o tempo necessário a uma expedita localização, sem que todavia se chegue a ultrapassar um limite de tempo tal
que seja incompatível com a noção que vulgarmente se tem de actos que estão temporalmente ligados.
Por isso, é de admitir que num furto ocorrido às 2h e 45m da madrugada, em que a polícia só têm, para localizar o
ofendido, o número da chapa de matrícula do veículo de onde a coisa foi furtada, se deva considerar que a queixa
ocorreu em acto seguido à detenção, quando os detidos são apresentados na manhã seguinte, logo no início dos
trabalhos do tribunal e com eles segue um auto em que tal queixa está devidamente formalizada.
Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa, proferido no âmbito do Rec. N.º 135/3/96, 3.ª Secção

Se o titular do direito de queixa não exercer o respectivo direito de queixa em "acto seguido" à
detenção deverá proceder-se à libertação imediata do detido (n.º 3 do art.º 255.º e última parte do n.º 1
do artigo 261.º) havendo, no entanto, lugar à identificação do infractor, à semelhança do procedimento
a adoptar perante os crimes particulares, garantindo-se, assim, ao ofendido, o eventual exercício dos
seus direitos de queixa, de indemnização e da perseguição penal.
COMO PROCEDER EM CASO DE O CRIME SER PARTICULAR? – nº 4
 Não há lugar a detenção em flagrante delito, mas apenas à identificação do infractor.
Alguns autores não entendem bem a razão por que se admite a detenção relativamente aos crimes
semi-públicos e não àqueles que dependam de acusação particular. Na sua opinião, seria mais razoável
que o tratamento fosse idêntico, tanto mais que também relativamente aos crimes semi-públicos o
queixoso pode desistir da queixa posteriormente e a distinção entre uns e outros não assenta na
gravidade do crime.
63
Direito Processual Penal

17.3. - DETENÇÃO FORA DE FLAGRANTE DELITO - Artigo 257.° do CPP


“ A excepção chateia a regra, porque quer ela própria ser regra.”
Dias Bravo

Esta forma de detenção deve ter um carácter residual, respeitando sempre escrupulosamente os
princípios da necessidade, proporcionalidade e adequação.

QUANDO PODE SER EFECTUADA?

 Por mandado do juiz – nº 1;


 Por mandado do Ministério Público - nº 1;
 Quando ordenadas, por iniciativa própria, pelas autoridades de polícia criminal – nº 2:
a) Se se tratar de caso em que é admissível a prisão preventiva;
b) Existirem elementos que tornem fundado o receio de fuga; e
c) Não for possível, dada a situação de urgência e de perigo na demora, esperar pela
intervenção da autoridade judiciária.
Ocorrerá perigo de fuga sempre que, face à contextualidade da situação ou caso submetido à apreciação do tribunal, seja legítimo
concluir, mediante a formulação de um juízo de experiência, que ocorre um real risco de fuga ou, pelo menos, que se verifica forte
probabilidade de aquela acontecer. Por outro lado, ocorrerá agravamento do perigo de fuga sempre que se verifiquem alterações na
contextualidade situacional por forma a poder-se concluir que o risco real de aquela acontecer aumentou.
Acórdão da Relação de Coimbra, de 07.10.1998, Boletim do Ministério da Justiça, 480, pág. 553.

DETENÇÃO – Circular nº 776 de 27 de Janeiro de 1997 da 3ª REP/GNR


▪ DEFINIÇÃO: Para efeitos técnico-operacionais, considera-se a “Detenção”, como acto executivo de
captura de qualquer pessoa e ainda o momento compreendido entre o mesmo e a sua manutenção
sob custódia da Guarda.
▪ A ORDEM DE DETENÇÃO deverá ser dada de forma firme e inequívoca, de modo a incutir na
pessoa a deter o seu imediato acatamento, advertindo-a, se necessário, que o seu não acatamento
consubstancia o crime de desobediência (art.º 348º, nº 2 do CP).
▪ Para a CONCRETIZAÇÃO DA DETENÇÃO, poderão as forças empenhadas ter de recorrer a formas
de coacção directa e ao uso da força para superar alguma resistência que venha a ser oferecida pelo
detido ou por terceiros (por exemplo: uso de algemas). O recurso a tais meios, deverá estar sujeito
aos princípios da necessidade e da proporcionalidade.
▪ LEITURA AO ARGUIDO DOS DIREITOS E DEVERES – far-se-á após a detenção, logo que a
mesma esteja consolidada e estejam reunidas as condições de segurança necessárias para o efeito.

17.4. - MANDADOS DE DETENÇÃO - Artigo 258.° do CPP


 São passados em triplicado – nº 1;
 Contêm, sob pena de nulidade – nº 1:
a) A assinatura da autoridade judiciária ou de polícia criminal competentes (no original,
duplicado e triplicado);
b) A identificação da pessoa a deter (o mais completo possível, ou pelo menos indicar o nome,
residência, e sinais característicos que possam facilitar o reconhecimento do detido);
c) A indicação do facto que motivou a detenção e das circunstâncias que legalmente a
fundamentam (que não se cumpre com a mera referência das normas aplicáveis).
 Ao detido é exibido o mandado de detenção e entregue uma das cópias – nº 3.
 Em caso de urgência e de perigo na demora é admissível a requisição da detenção por qualquer
meio de telecomunicação, seguindo-se-lhe imediatamente confirmação por mandado – nº 2.
☻ É exibida ao detido – nº 3:
▪ a ordem de detenção donde conste a requisição;
▪ a indicação da autoridade judiciária ou de polícia criminal que a fez;
▪ os demais requisitos referidos no n.° 1 do art.º 258º do CPP (assinatura,
identificação, facto e circunstâncias) e entregue a respectiva cópia.
64
Direito Processual Penal

Os 3 exemplares do mandado de detenção destinam-se normalmente ao detido (1), ao director


do estabelecimento prisional ou para acompanhar o detido (2) e para juntar ao processo (3).
O mandado de detenção deve ter sempre os factos concretos e o direito específico aplicável à
situação. A autenticidade do mandado deve ser assegurada pela aposição do selo branco com a
assinatura por cima do responsável.
Apesar de no nº 2 do art.º 257º do CPP se utilizar a designação “ordenar”, por força do nº 1 do
art.º 258º do CPP, é utilizada a designação “mandados de detenção” quer emanem do juiz, do MP, ou
de Autoridade de Polícia Criminal.
Se os mandados de detenção não contiverem cumulativamente os requisitos previstos nas
alíneas do nº. 1 do art.º 258º são nulos, dependendo de arguição. Por vezes, por “economia de
esforços”, só o original do mandado vai assinado, especialmente quando passados pelo juiz. Um
mandado de detenção incorrecto pode legitimar o direito de resistência à sua execução pelo visado nos
termos do art.º 21º da CRP, bem como permitirá recorrer a um habeas corpus (corpo livre) nos termos
do art.º 31º da CRP e art.º 220º do CPP.
Se o mandado de detenção for para cumprimento de prisão subsidiária de multa, deve atender-
se ao previsto no Código de Custas Judiciais e se o arguido pretender pagá-la, a entidade policial
recebe-a, contra entrega de recibo oposto no triplicado do mandado e nos 15 dias imediatos, remete ao
tribunal, a verba e mandado, donde proveio.
A lei não exige que os mandados de detenção contenham a indicação do dia e hora da realização do acto processual
(artigo 258º do Código de Processo Penal). O que importa salvaguardar é a exigência de duração mínima do tempo
de detenção (cfr. artigo 27º da Constituição e artigo 273º, artigo 116º, Nº 2 e artigo 254º, todos do Código de
Processo Penal, sendo o artigo 254º na redacção dada pela Lei Nº 59/1998, que entrou em vigor em 15 de Setembro
último, nos termos do artigo 6º, Nº 1, e artigo 10º, Nº 2, do mesmo diploma).
Acórdão da Relação de Lisboa, de 1998.10.13, Boletim do Ministério da Justiça, 480, pág. 531

I - Quem tiver sofrido prisão manifestamente ilegal tem direito a ser indemnizado pelo Estado.
II - O mandado de captura deve indicar o facto imputado ao detido, não bastando a indicação do nome da infracção e
lei que a pune.
III - Este entendimento não é, porém, seguido por toda a doutrina, havendo quem defenda o contrário.
IV - Preso o autor com um mandado de captura que apenas indicava o nome da infracção e a lei que a punia, não é
o mandado manifestamente ilegal.
Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 12.03.1998, Colectânea de Jurisprudência, STJ, 1998, I, pág. 131.

17.5. - DEVER DE COMUNICAÇÃO - Artigo 259.° do CPP


Sempre que qualquer entidade policial proceder a uma detenção, comunica-a de imediato:
a) Ao juiz do qual dimanar o mandado de detenção, se for para apresentar o detido para o
primeiro interrogatório judicial - alínea b) do artigo 254.° do CPP;
b) Ao Ministério Público, nos casos restantes.
COMUNICAÇÃO DO INCUMPRIMENTO DE MANDADO DE DETENÇÃO/CONDUÇÃO
- As diligências tendentes ao cumprimento dos mandados de condução a tribunal devem ser objecto de
comunicação imediata ao respectivo tribunal, sempre que o cumprimento do mandado não seja possível, nos
termos e graus de prioridade que vêm sendo aplicados na comunicação das detenções “normais”, isto é,
imediatamente via fax após a confirmação do seu incumprimento, pelas razões que a cada caso couberem.
- Dado que o cumprimento dos mandados de condução ocorre normalmente, no dia da condução ou na véspera
da audiência, por razões associadas ao êxito da localização e condução a tribunal, ganha por isso importância
acrescida a comunicação imediata ao tribunal quando o cumprimento do mandado não seja conseguido.
Mensagem da 3ª Rep/CG de 29 de Abril de 2004

MANDADO DE DETENÇÃO EUROPEU


A Lei nº 65/2003 de 23 de Agosto aprovou o regime jurídico do mandado de detenção europeu (em
cumprimento da Decisão Quadro nº 2002/584/JAI do Conselho, de 13 de Junho). Esta Lei introduziu algumas
especificidades em relação à comunicação da detenção, das quais se destacam:
- Competência para a execução do mandado - Art.º 15º - É competente para o processo judicial de execução
do mandado de detenção europeu o tribunal da relação da área do seu domicílio ou, se não o tiver, da área
onde se encontrar a pessoa procurada à data da emissão do mandado.

65
Direito Processual Penal

- Audição do Arguido - Art.º 18º, nº 1 - a entidade que proceder à detenção comunica-a de imediato, pela via
mais expedita e que permita o registo por escrito, ao Ministério Público junto do Tribunal da Relação
competente.
- Audição do arguido pelo tribunal de 1ª Instância - Art.º 19º, nº 1 - Sempre que o detido não possa, por
qualquer razão, ser ouvido pelo tribunal da relação é apresentado ao Ministério Público junto do Tribunal
de 1ª instância da sede do tribunal competente.
PROCESSOS DE EXPULSÃO ADMINISTRATIVA DE ESTRANGEIROS EM SITUAÇÃO IRREGULAR
- O auto de detenção e o detido, no âmbito de processos de expulsão administrativa de estrangeiros em situação
irregular, deverão ser apresentados directamente ao juiz competente para efeitos de validação e aplicação da
medida de coacção, no prazo máximo de 48 horas – apresentação que caberá à entidade policial que procedeu à
detenção, sempre que se revele inviável a entrega, em tempo útil, do detido ao Serviço de Estrangeiros e
Fronteiras.
- Em processo de aplicação da medida de expulsão, o acto de apresentação de detido ao juiz, nos termos e para
os efeitos previstos pelo art.º 117º, nº 1 do DL nº 244/98, de 8 de Agosto (alterado pela Lei nº 97/99, de 26 de
Julho e pelos Decretos-Lei nºs 4/2001, de 10 de Janeiro e 34/2003, de 25 de Fevereiro), não requer qualquer
intervenção mediadora do Ministério Público.
- Os tribunais competentes para procederem à audição do cidadão estrangeiro detido são os juízos de pequena
instância criminal; onde não existirem juízos de pequena instância criminal, serão competentes os tribunais de
comarca, e quando houver desdobramento destes em tribunais de competência específica, os juízos criminais.
Despacho do Procurador-Geral da República de 13 de Novembro de 2003, veiculado através da Circular nº 3/2003 da PGR
e Informação nº 46/04 do Gabinete do Procurador-Geral

COMUNICAÇÕES DE DETENÇÕES
1- O militar que efectue uma detenção, comunica-a pela via mais rápida à respectiva Unidade «Destacamento ou Posto»,
que em caso de necessidade lhe presta o devido apoio operacional, logístico ou administrativo, podendo em situações
excepcionais socorrer-se para o efeito de outras forças ou serviços de segurança.
2- O órgão que efectua a detenção, fará de imediato, pessoalmente ou por via telefónica a sua comunicação à Autoridade
Judiciária competente (Ministério Público).
3- O mesmo órgão enviará àquela entidade, comunicação via fax, conforme modelo existente na GNR.
4- Quando um órgão da Guarda que procedeu à detenção não possuir instalações adequadas para manter os detidos,
deverá socorrer-se pelo tempo estritamente necessário, de outras instalações da Guarda, ou em situações excepcionais, de
outras Forças de Segurança, ou dos Serviços Prisionais.
5- A entrega dos detidos nas condições dos números anteriores far-se-á mediante Guia de Entrega «existente em uso na
Guarda», assinada por um Graduado, sendo Oficial nos casos em que a custódia do detido seja confiada a entidades
exteriores à Guarda – (nota: ver apêndice 9 do Anexo A)
6- A responsabilidade sobre a legalidade da detenção e pela apresentação do detido às Autoridades Judiciárias
competentes incumbe sempre ao órgão captor.
Art.º 259.º do CPP e Circular nº 776 de 27 de Janeiro de 1997 da 3.ª Rep/CG/GNR
- A comunicação da detenção trata-se de um conceito cuja concretização depende de circunstâncias, de momento e local,
por vezes até de carácter físico: a disponibilização de meios técnicos, a adopção de medidas cautelares urgentes e prévias,
assistência, revista de segurança, etc. Talvez por isso o legislador não tenha traduzido num espaço de tempo certo e
determinado.
- O que se pode dizer é que tal comunicação deverá e terá que ser efectuada tão depressa quanto for possível.
- Não pretendendo porém furtar-me ao solicitado, sempre direi, dentro do espírito de mera indicação, que se me afigura
genericamente razoável como prazo máximo para a comunicação da detenção o correspondente a 1 hora.
- Afigura-se-me pois aceitável uma recomendação interna no sentido de a comunicação da detenção por fax/telefónica seja
sempre feita de imediato e nessa perspectiva se tente nunca exceder um período de uma hora.
Informação de 8 de Abril de 1998 da IGAI
No apêndice 8 anexo A encontra-se o modelo de Fax existente na GNR para comunicação imediata da detenção à Autoridade
Judiciária, o qual foi elaborado com base no Despacho Ministerial do MAI de 15/07/96, por proposta da IGAI.

17.6. - CONDIÇÕES GERAIS DE EFECTIVAÇÃO - Artigo 260.° do CPP


É correspondentemente aplicável à detenção o disposto:
 No artigo 192.°, n.° 2 do CPP – Não devem ser efectuadas detenções quando houver fundados
motivos para crer na existência de causas de isenção da responsabilidade ou de extinção do
procedimento criminal.
 No artigo 194.°, n.° 3 do CPP, segunda parte – A detenção deve ser, com consentimento do
arguido, de imediato comunicada a parente, a pessoa da sua confiança ou ao defensor indicado pelo
arguido.
 No artigo 194.°, n.° 4 do CPP - O consentimento referido na segunda parte do número anterior não
é exigido quando o arguido for menor de 18 anos.
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Direito Processual Penal

17.7. - LIBERTAÇÃO IMEDIATA DO DETIDO - Artigo 261.° CPP


 Qualquer entidade que tiver ordenado a detenção ou a quem o detido for presente procede à sua
imediata libertação logo que se tornar manifesto que (nº 1):
➔ a detenção foi efectuada por erro sobre a pessoa;
➔ a detenção foi efectuada fora dos casos em que era legalmente admissível;
➔ a medida se tornou desnecessária.
 Se a detenção foi efectuada por autoridade judiciária (nº 2):
➔ a libertação é precedida de despacho.
 Se a detenção foi efectuada por entidade que não seja autoridade judiciária (nº 2):
➔ faz relatório sumário da ocorrência;
➔ transmite-o de imediato ao Ministério Público;
Esgotado o prazo de 48 horas sem que seja possível apresentar o detido à autoridade judiciária, o
detido deve ser posto, imediatamente, em liberdade. Se o não for, para além do visado estar legitimado
a exercer o direito de resistência (previsto no art.º 21.º da CRP), pode usar ainda da providência do
Habeas Corpus (arts 31.º da CRP e 220.º do CPP).
A manutenção da detenção para além do prazo legal, pode fazer incorrer o seu autor (militares da
GNR) em responsabilidade criminal pela prática de um crime de sequestro (art.º 158.º do CP), além da
eventual responsabilidade civil e disciplinar.

17.8. - USO DE ARMAS NAS DETENÇÕES


O recurso a armas de fogo em acção policial encontra-se regulado no DL nº 457/99 de 5 de
Novembro. Sendo uma matéria leccionada no âmbito da disciplina de AET, será feita aqui apenas uma
breve referência a esta temática.
Só é permitido o recurso a armas de fogo em caso de absoluta necessidade, como medida
extrema, quando outros meios menos perigosos se mostrem ineficazes, e desde que proporcionado às
circunstâncias. Mesmo nessas situações, o militar da GNR deve esforçar-se por reduzir ao mínimo as
lesões e danos e respeitar e tentar preservar a vida humana.
É permitido o recurso à arma de fogo (art.º 3º do DL 457/99):
…b) Para efectuar a captura ou impedir a fuga de pessoa suspeita de haver cometido crime
punível com pena de prisão superior a 3 anos ou que faça uso ou disponha de armas de
fogo, armas brancas ou engenhos ou substâncias explosivas, radioactivas ou próprias para
a fabricação de gases tóxicos ou asfixiantes;
c) Para efectuar a prisão de pessoa evadida ou objecto de mandado de detenção ou para
impedir a fuga de pessoa regularmente presa ou detida.
O recurso a arma de fogo é imediatamente comunicado aos superiores hierárquicos,
comunicação sucedida, no mais curto prazo possível, de um relato escrito, se não tiver sido desde logo
utilizada essa via, mesmo que dessa utilização não tenha resultado qualquer dano pessoal ou material.

17.9. - LIVRO DE REGISTO DE DETIDOS


Circular Nº 11045 de 29 de Novembro de 1995 da 3ª REP/CG
Existe em todos os Postos da GNR um livro próprio destinado a registar todos os arguidos que na situação de detidos
passem pelos mesmos.
 O livro de registo de detidos apresenta uma dupla finalidade:
- Permitir um efectivo controlo e verificação da situação dos detidos, através da contagem dos prazos
em que permanecem nos Postos, os motivos da detenção, a entidade que a ordenou e à qual foram
entregues.
- Constituir um ficheiro de arguidos, que auxilie a investigação criminal em casos posteriores (é feita
recolha de impressões digitais como meio auxiliar de identificação) e permita simultaneamente um
levantamento estatístico dos casos.
 Para todos os detidos por motivo de falta injustificada de comparência mediante notificação (art.º 116º, nº 2
do CPP) apenas se preencherá integralmente o campo dos Elementos Relativos à Detenção e parcialmente o
Relativo à Identificação, por forma a não colidir com a situação excepcional dos detidos nestas
circunstâncias. Salvo em casos de fundada perigosidade ou manifesto receio de fuga, não deverão os detidos
no termos do art.º 116º ser encerrados nas prisões enquanto permaneçam nos quartéis da GNR.

67
Direito Processual Penal

Despacho nº 2/MAI/98, de 17JAN98 de Sua Ex.ª. o MAI


Estabelece a obrigatoriedade da existência de um livro de registo de detenções, em todas as esquadras e postos,
independentemente de neles existirem ou não zonas de detenção (a GNR já possuía um livro de registo de detidos,
praticamente desde a criação da Guarda e apenas teve que incluir dois novos itens no livro já existente, o qual tinha sido
actualizado pela última vez em 1992).
Nota nº 2196 de 10 de Março de 1998 da 3ª REP/CG
Por Despacho nº 2/MAI/98, de 17JAN98 de Sua Ex.ª. o MAI determinou que nas folhas do Livro de Registo de
Detidos sejam incluídos:
 Contactos do detido (com familiares, advogado, médico, etc); Com registo das
 Refeições que lhe foram servidas; horas
 Demais ocorrências que surjam durante o período de detenção
Importante: Os espaços em branco são trancados quando o detido deixar de estar à guarda da GNR.
Mensagem nº 1558 de 20 de Fevereiro de 2002 da 3ª REP/CG
Por Despacho de 01AGO01 do EXMº TGCG/GNR devem ser introduzidas nos livros de registo de detidos as seguintes
alterações:
 Eliminação do item “RAÇA”.
 Introdução da “Data/hora de notificação e da restituição à liberdade” – esta alteração reporta-se ao
disposto no art.º 387º do CPP.

17.10. – CONDIÇÕES MATERIAIS DE DETENÇÃO EM ESTABELECIMENTOS POLICIAIS


As condições em que os detidos eram mantidos nas instalações das forças policiais foram ao
longo dos anos visadas por críticas, quer dos cidadãos, quer mesmo de algumas organizações
internacionais ligadas à defesa dos direitos humanos. Para fazer face a este problema, foi em Maio de
1999 publicado um Despacho do MAI, o qual de seguida se transcreve.
MINISTÉRIO DA ADMINISTRAÇÃO INTERNA, Gabinete do Ministro, Despacho n.º 8684/99 (2ª série), Publicado no DR n.º 102, de 03MAI99
As condições em que os cidadãos detidos em Portugal permanecem à guarda das forças policiais, tendo sido, no passado, objecto frequente de críticas de instituições e
organizações internacionais e de defesa dos direitos humanos, têm observado, nos últimos anos, uma evolução reconhecidamente positiva que importa agora não deixar
degradar.
Os direitos dos cidadãos, independentemente do facto de sobre eles poder, eventualmente, pender a tutela da justiça, deverão ser, num Estado de direito democrático,
permanente preocupação não só dos governos como especialmente das forças e dos agentes policiais.
O Governo está em condições de consagrar um conjunto de normas que, no que à Guarda Nacional Republicana e à Polícia de Segurança Pública diz respeito, logrem não
só normalizar acções e procedimentos a adoptar para com os cidadãos detidos como adquirir em definitivo para o ordenamento jurídico os progressos aí alcançados nesta
matéria.
Assim:
Nos termos do disposto nos artigos 18.º, n.º 1, e 199.º, alínea d), da Constituição, e no artigo 2 º, nos 1 a 3, da Lei n.º 20/87, de 12 de Junho, aprovo o Regulamento das
Condições Materiais de Detenção em Estabelecimentos Policiais, anexo ao presente despacho.
O disposto no presente Regulamento entra imediatamente em vigor para todo o dispositivo da Guarda Nacional Republicana e da Polícia de Segurança Pública.
As obras de remodelação que se verifique serem necessárias para a adequação às disposições do Regulamento, das instalações de detenção existentes, serão objecto de
proposta a elaborar em 30 dias pela respectiva força de segurança e pelo Gabinete de Estudos e Planeamento de Instalações.
A Inspecção-Geral da Administração Interna promoverá a publicação do presente Regulamento.

Regulamento das Condições Materiais de Detenção em Estabelecimentos Policiais


CAPÍTULO I
Generalidades
1 - Âmbito de aplicação - O presente Regulamento aplica-se a todos os locais de detenção das forças de segurança e a todas as pessoas que, por qualquer motivo, se encontrem
detidas em estabelecimentos policiais, sem prejuízo do disposto na lei e regulamentos aplicáveis, quer à detenção, quer aos requisitos construtivos das edificações urbanas.
2 - Conceito de detenção - considera-se detenção, para efeitos deste Regulamento, toda a privação da liberdade por um período inferior a quarenta e oito horas, bem como a
condição da pessoa sujeita ao procedimento de identificação obrigatória.
CAPÍTULO II
Das condições gerais dos locais de detenção
3 - Características gerais:
3.1 - Todos os locais de detenção devem reunir boas condições de habitabilidade, possuir iluminação natural e artificial, isolamento contra o frio e o calor excessivos,
arejamento e condições de segurança.
3.2- As celas devem situar-se preferencialmente no rés-do-chão, próximo das áreas de permanência dos funcionários policiais, e não podem dar. directamente para corredores ou
espaços abertos ao público.
3.3 - Os locais de detenção devem situar-se, preferencialmente, nos postos policiais das sedes dos tribunais de comarca.
3.4 - Os locais de detenção actualmente existentes serão progressivamente objecto de obras de remodelação que se mostrem necessárias para corrigir as más condições de
salubridade ou de segurança, dando-se prioridade à recuperação das celas existentes nas sedes dos tribunais de comarca.
4 - Disposição interior das celas:
4.1 - As celas não poderão ter área inferior a 6 m2, 19 m2 ou 20 m2, consoante se destinem a alojar um, dois ou cinco detidos.
4.2 - O pé-direito livre mínimo não pode ser inferior a 2,40 m.
4.3 - As camas serão constituídas por um maciço com 2,40 X 0,70 X 0,30 m, em betão, com um estrado de madeira devidamente embutido, que servirá de base ao respectivo
colchão. Havendo vários maciços, um deles terá a altura máxima de 15 cm e será destinado preferencialmente a detidos que se encontrem sob influência de álcool ou de
estupefacientes.
4.4 - O afastamento mínimo entre duas camas contíguas será de 1 m.
4.5 - Serão asseguradas iluminação natural e ventilação conveniente, por janela basculante com 0,70 X 0,50 m, situada a uma altura acima do pavimento não inferior a 1,80 m,
protegida por rede metálica a fim de impedir a entrada de insectos e evitar o acesso directo pelo interior da cela e accionada do exterior.
4.6 - As janelas terão, ainda, uma grade exterior de protecção, constituída por barras verticais, distando entre si cerca de 5 cm e não acessível do interior da cela, não podendo
dar para a via pública.
4.7 - As portas das celas deverão ser em chapa de ferro com 2,00 X 0,80 X 0,037 m, de correr ou abrindo para o exterior, com um visor de portinhola com óculo de 180º, que
permita uma visão total do interior da cela, e munidas de dispositivo de segurança que permitam a rápida saída dos detidos em caso de sinistro.
4.8 - As celas devem ser apetrechadas com equipamento de alarme, dispondo, designadamente, de um dispositivo para emissão de sinal sonoro que permita ao detido o
chamamento do guarda vigilante em caso de necessidade de assistência.
4.9 - As instalações sanitárias devem ser de um nível adequado e estar localizadas de forma a permitir que cada detido possa satisfazer as suas necessidades físicas com

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Direito Processual Penal
privacidade e de um modo limpo e decente, sendo separadas do maciço da cama designadamente por uma baia de 0,90 m de altura.
4.9.1 - O equipamento mínimo das instalações sanitárias será constituído por lavatório, em aço inox incrustado num maciço de betão, com torneira temporizada, só tendo à vista
o botão accionador e a bica de água, e uma bacia de retrete, tipo turca, munida de fluxómetro embutido na parede, apenas sendo visível o botão de accionamento e a bica de
saída de água para a turca. A turca deverá ficar situada a um nível inferior ao pavimento de modo a funcionar como ralo de escoamento.
4.9.2 - As instalações sanitárias terão iluminação e renovação permanente de ar, asseguradas directamente do exterior da edificação.
4.9.3 - Em caso algum será prevista a utilização de aparelho de combustão, designadamente de esquentador a gás, nas instalações sanitárias.
4.9.4 - Existirá no exterior da cela uma torneira de segurança.
4.10 - Iluminação artificial - deverão ser observadas as normas técnicas admitidas nesta matéria. Não poderá ser instalada no espaço da cela nenhuma tomada de corrente, nem
nenhum comando de iluminação. Só deverá ser previsto um ponto luminoso, montado na parede contígua com a antecâmara, por cima da porta, protegido por uma grade
metálica, com acesso pela antecâmara e comandado a partir desta.
4.11 - Materiais e forma de aplicação:
4.11.1 - Os materiais a aplicar deverão ser resistentes ao fogo.
4.11.2 - Os maciços do lavatório, da cama e da baia de protecção terão todas as arestas e ângulos arredondados.
4.11.3 - As canalizações serão interiores.
4.11.4 - O pavimento da cela será em cimento que pode ser revestido com material cerâmico antiderrapante. As paredes e tectos serão rebocados, lisos e pintados com tinta
resistente, lavável, de cor clara e não facilmente inflamável.
5 - Limpeza das celas:
5.1 - As celas deverão ser mantidas cm boas condições de higiene e limpeza, para o que devem ser limpas diariamente.
5.2 - As celas deverão ser objecto de operações periódicas de desinfecção e desinfestação, com pulverização de produtos bactericidas.
5.3- Nos locais de detenção não poderão ser guardados quaisquer objectos que possam ser utilizados perigosamente pelos detidos, designadamente quando com eles possam
atentar contra a própria vida e ou a vida de outrem.
6 - Obras periódicas de conservação - as celas deverão ser reparadas e beneficiadas pelo menos uma vez em cada período de oito anos, com o fim de remediar as deficiências
provenientes do seu uso normal e de as manter em boas condições de utilização.
7 - Parecer prévio do Gabinete de Estudos e Planeamento de
Instalações:
7.1 - Estão sujeitos a parecer prévio vinculativo do Gabinete de Estudos e Planeamento de Instalações (GEPI):
a) Os projectos de todas as obras de construção de zonas de detenção;
b) Os projectos de obras de remodelação que impliquem alteração das estruturas das zonas de detenção.
7.2 - Não estão sujeitos ao procedimento previsto no número anterior as obras de simples conservação, restauro ou limpeza.
7.3 - O parecer do GEPI deverá ser emitido no prazo máximo de 30 dias.
8 - Inventário dos locais de detenção:
8.1 - Existirá uma lista oficial, por força de segurança, de todos os locais de detenção existentes nos estabelecimentos policiais, com a especificação da área, lotação e
localização de cada cela.
8.2 - A Guarda Nacional Republicana (GNR) e a Policia de Segurança Pública (PSP) remeterão cópia autenticada da respectiva lista à Procuradoria-Geral da República (PGR), à
Inspecção-Geral da Administração Interna (IGAI) e à Policia Judiciária (PJ).
9 - Vigilância dos estabelecimentos policiais:
9.1 - Sem prejuízo da intimidade da vida privada, deverão ser criados dispositivos de vigilância dos estabelecimentos policiais das zonas de detenção, para evitar tentativas de
evasão e melhor garantir a segurança dos funcionários policiais e dos detidos, designadamente impedindo os actos auto-agressivos e zelando pelo estado de saúde daqueles.
9.2 - A instalação de sistemas de vigilância áudio e vídeo do interior e exterior dos estabelecimentos policiais deve ser assinalada por meio de painel visível. As cassetes
gravadas serão conservadas por um período de 30 dias, findos os quais serão reutilizadas.
9.3 - As pessoas detidas devem ser objecto de vigilância regular e discreta pelo competente agente policial, intensificando-se as rondas sempre que os detidos apresentem sinais
de estar sob a influência de drogas, álcool, medicamentos ou num estado comocional recente.
CAPÍTULO III
Das condições de detenção
10 - Princípios gerais:
10.1 - Toda a pessoa detida é colocada sob a responsabilidade e protecção da polícia.
10.2 - Toda a pessoa detida deve ser tratada com humanidade e com respeito da dignidade inerente ao ser humano, sem qualquer discriminação, designadamente em razão da
nacionalidade, condição social, convicções políticas, religiosas ou outras.
10.3 - A pessoa detida deve beneficiar de um tratamento adequado à sua condição de pessoa não condenada e, sempre que possível, será separada das pessoas presas em
cumprimento de pena.
11-Alojamento:
11.1 - Sempre que possível e salvo contra-indicação devem os detidos ser alojados em compartimentos singulares.
11.2 - E garantida a completa separação dos detidos em função do sexo ou dos que sejam portadores de doença contagiosa.
11.3 - Se tal for exequível, os jovens, idosos e grávidas deverão ser guardados à vista, designadamente quando na cela permanecerem indivíduos presos a aguardar transporte
para o estabelecimento prisional.
11.4 - Sempre que o número de detidos exceda a lotação das celas deve o respectivo comandante diligenciar para que aqueles sejam transferidos para outros locais de detenção
mais próximos ou, não sendo tal possível, guardados à vista em condições de dignidade e segurança.
11.5 - Cada detido disporá de uma cama individual e roupa adequada para esta, mantida e substituída de modo a assegurar o seu bom estado de conservação e limpeza.
11.6 - Os cobertores disponíveis deverão ser em número suficiente, em função das condições térmicas existentes. Após cada utilização deverão ser objecto de desinfecção e
acondicionados em local adequado.
11.7 - Sem prejuízo das medidas de segurança que se mostrarem adequadas, as pessoas detidas em cumprimento de mandado de detenção para comparência a acto judicial
deverão, em princípio, ser guardadas à vista.
11.8 - As pessoas conduzidas ao estabelecimento policial para efeitos de identificação, ao abrigo dos artigos 250.º do Código de Processo Penal (CPP) e 3.º da Lei nº 5/95, de 21
de Fevereiro, não podem recolher às celas, devendo permanecer na área de atendimento ou numa sala destinada a esse fim, sem embargo das medidas de segurança que as
circunstâncias aconselhem. Logo que tenha decorrido o prazo legal de retenção a pessoa deve ser informada de que pode deixar o posto policial.
12 - Higiene pessoal - deve ser exigido a todos os detidos que se mantenham limpos e, para este fim, ser-lhes-ão fornecidos os artigos de higiene necessários à sua saúde e
limpeza e praticar, na medida do possível, exercício ao ar livre.
13 - Alimentação:
13.1 - Serão fornecidas aos detidos refeições convenientemente preparadas e apresentadas de acordo com as normas dietéticas e de higiene, no que concerne à quantidade e
qualidade das mesmas.
13.2 - Cada detido deve ter sempre acesso a água potável.
13.3 - São proibidos a posse e o uso de bebidas alcoólicas no interior dos estabelecimentos policiais.
13.4 - Dentro dos limites com a boa ordem do estabelecimento policial, os detidos podem, se o desejarem, mandar vir do exterior alimentação, a expensas próprias, quer através
da administração, quer através de familiares ou amigos.
13.5 - A administração suportará os encargos com a alimentação das pessoas detidas que aleguem insuficiência económica.
14 - Informação de direitos:
14.1 - Em cada posto policial deverá ser afixado, em lugar bem visível e nas zonas de detenção, um painel com informação sobre os direitos e deveres dos detidos,
transcrevendo-se integralmente o artigo 61.º do CPP. Existirá ainda um folheto informativo contendo, em várias línguas, indicação sumária dos direitos e deveres da pessoa
detida.
14.2- A informação dos direitos de constituir advogado e de comunicação com familiar ou pessoa da sua confiança, bem como a entrega do folheto informativo referido no
número anterior, deverão ficar documentadas, lavrando-se de termo de notificação e entrega.
14.3 - A informação referida no número anterior deverá ser efectuada numa língua que o detido compreenda, solicitando-se sempre a presença de intérprete quando for caso
disso.
14.4 - O detido deve ser autorizado a informar imediatamente a família sobre a sua situação e devem ser-lhes dadas todas as facilidades razoáveis para o efeito, permitindo-se a
utilização do telefone do próprio posto, quando inexista telefone público.
14.5 - Após a detenção, deve o detido ser auxiliado na medida do possível na resolução dos seus problemas pessoais urgentes.
14.6 - No auto de detenção deverão especificar-se as circunstâncias em que ocorreu a detenção e descrever-se qualquer ferimento apresentado pelo mesmo com indicação da
respectiva origem.
15 - Contacto do detido com o seu defensor - o detido deve ser autorizado a contactar telefonicamente com o seu defensor, facultando-se-lhe a utilização do telefone do posto
por um período limitado, quando inexista telefone público nas instalações do posto policial.

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Direito Processual Penal
16 - Livro de registo de detidos e boletim individual de detido:
16.1 - Em cada estabelecimento há um livro de registo,(1) de modelo aprovado superiormente, em que são consignados, relativamente a cada detido e pela ordem de entrada:
Identificação da pessoa detida;
Dia e hora da detenção e da apresentação à autoridade judiciária;
Local da detenção;
Identidade dos funcionários intervenientes na detenção;
Identificação do facto que motivou a detenção e das circunstâncias que legalmente a fundamentam.
16.2 - Sem prejuízo do livro referido no número anterior, será elaborado um boletim individual de detido,(2) de modelo a aprovar superiormente, destinado ao registo de todas
as circunstâncias e medidas relativas ao detido, designadamente o momento e a causa da privação de liberdade, o momento de informação dos direitos, marcas de ferimentos,
contactos com familiares, amigos ou advogado, incidentes ocorridos durante a detenção, momento da apresentação à autoridade judiciária e da libertação. Tal boletim deverá ser
assinado pelos agentes policiais intervenientes e pelo detido.
17 - Bens do detido:
17.1 - Sempre que por razões de segurança ou de saúde pública sejam retirados ao detido quaisquer objectos ou vestuário, será elaborado auto de depósito (3) que será registado,
numerado e identificado com o expediente relativo à detenção e assinado pelo detido e por quem dirigiu a diligência.
17.2 - As revistas deverão ser feitas em lugar reservado, sempre que possível por pessoa do mesmo sexo, sem prejuízo da adopção das medidas de segurança necessárias em
razão da perigosidade do detido. Todos os objectos do detido devem ser conservados em lugar seguro até à sua devolução, lavrando-se, então, o competente termo de entrega.
18 - Assistência aos familiares das pessoas detidas - o comandante do posto policial deve diligenciar. quando necessário, para que seja prestada assistência aos familiares a cargo
da pessoa detida, nomeadamente aos menores, promovendo, neste caso, que os serviços da segurança social assegurem a guarda dos menores deixados sem vigilância.
19 - Informação ao detido do falecimento ou de doença grave de familiar - todo o detido deve ser informado imediatamente do falecimento ou doença grave de um parente
próximo.
20 - Escolta a detidos:
20.1 - A condução dos detidos de e para o posto policial deve ser feita com discrição e obedecerá às regras de segurança, exigíveis em função dos riscos previsíveis.
20.2 - Na escolta aos detidos em visitas a familiares doentes ou participação em cerimónias fúnebres de familiares deverão adoptar-se as medidas indispensáveis para evitar
riscos de evasão ou acidente, conciliando. na medida do possível, a prudência e a atitudes humanas exigidas pelas circunstâncias.
21 - Doença ou falecimento do detido:
21.1- Sem prejuízo do direito de consultar médico da sua escolha, a expensas suas, deve o detido, com a brevidade possível e exigível pelas circunstâncias, designadamente se
exibir ferimentos ou em razão do seu estado de saúde, ser submetido a exame médico para diagnóstico de doenças ou anomalias físicas ou mentais que obriguem a providências
especiais imediatas.
21.2 - Os detidos doentes que necessitem de cuidados especializados devem ser transferidos para estabelecimento de saúde adequado ou ser-lhes assegurada a medicamentação
já anteriormente prescrita, adoptando-se todas as medidas para proteger a vida e a saúde da pessoa detida.
21.3 - O exame médico de uma pessoa detida deverá ser feito em local reservado. Salvo indicação em contrário do próprio médico, sem embargo da adopção das medidas de
segurança exigíveis pelas circunstâncias.
21.4 - Em caso de morte da pessoa detida deverá o comandante do posto policial comunicar imediatamente o facto ao Ministério Público, à IGAI, bem como ao familiar mais
próximo conhecido.
21.5 - O resultado da averiguação ou do inquérito administrativo será levado ao conhecimento do familiar mais próximo conhecido.

CAPÍTULO IV
Controlo administrativo
22 - Visitas de inspecção:
22.1 - Os locais de detenção das forças de segurança serão objecto de verificação sistemática por parte da Inspecção-Geral da Administração Interna.
22.2 - As visitas de inspecção serão efectuadas sem pré-aviso, a qualquer hora do dia ou da noite.
22.3 - O acesso aos locais de detenção deverá ser imediatamente facilitado, após identificação dos inspectores.
22.4 - Os inspectores poderão comunicar livremente em regime de absoluta confidencialidade com as pessoas detidas no momento da visita.
22.5 - Sempre que seja detectada alguma situação de detenção ilegal, deverão os inspectores diligenciar para que seja observado o disposto no artigo 261.º do CPP, promovendo
o controlo judiciário da detenção, sem prejuízo das medidas disciplinares que se impuserem.
23 - Dever de participação:
23.1 - O funcionário policial que seja testemunha de actos de violência ou de tratamento desumano ou degradante de pessoa detida deve fazê-los cessar e dar conhecimento
imediato ao superior hierárquico.
23.2 - Idêntica comunicação deverá ser feita, no menor prazo de tempo possível, à IGAI

17.11. - REGIMES DE EXCEPÇÃO ÀS REGRAS GERAIS DE DETENÇÃO (IMUNIDADES)


O termo “Imunidade” designa o estatuto de especial protecção concedida a quem ocupe
determinado cargo ou exerça certa função. As imunidades podem, assim, assumir tipos distintos e têm
por objecto pessoas, bens materiais, direitos e deveres.
As imunidades são concedidas a pessoas titulares de cargos próprios da organização política
dos Estados (chefes de Estado, membros do Parlamento e do Governo, juízes e titulares de outros
órgãos políticos) e visam garantir a independência dos que exercem essas altas funções e defender a
sua liberdade perante os outros poderes do Estado. Estas entidades podem gozar quer de
irresponsabilidade (a qual pode ser entendida como uma imunidade de fundo), quer de inviolabilidade
(considerada como uma imunidade processual). A irresponsabilidade implica que os titulares desses
órgãos possam não responder pelas opiniões expressas e atitudes assumidas por força do exercício das
suas funções. A inviolabilidade protege as pessoas que ocupem esses cargos contra procedimentos
pessoais que possam contra elas ser intentados em função de factos estranhos ao exercício das suas
funções. Não suprimem a infracção, mas apenas retardam a produção de efeitos do procedimento ou
mesmo a detenção da pessoa em causa.
As imunidades podem também ser concedidas a agentes da representação externa dos
Estados (imunidades diplomáticas). Neste caso, as imunidades dizem respeito ao Estado e não aos
seus agentes, pelo que o Estado pode sempre renunciar a elas (embora em determinadas condições),
independentemente da concordância desses mesmos agentes. No entanto, é óbvio que essas
imunidades se traduzem, para além da salvaguarda dos interesses do Estado, num estatuto de protecção
do diplomata, quer da sua pessoa, quer da função. As imunidades diplomáticas foram há muito
fundadas, quer pela teoria da extraterritorialidade (segundo a qual os agentes diplomáticos em
funções e os locais de funcionamento das missões deveriam ser considerados como estando fora do
70
Direito Processual Penal

território do Estado onde se encontram) e pela teoria do carácter representativo (a qual diz que os
diplomatas representam os Estados e os seus soberanos, pelo que devem ser tratados com a dignidade
que é devida aos seus representantes). Actualmente, é aceite a natureza funcional das imunidades, ou
seja, estas são limitadas aos interesses inerentes ao exercício da função. As imunidades diplomáticas
podem ser penais, jurisdicionais e fiscais, da mala diplomática e do edifício. Também os agentes
consulares gozam de algumas imunidades referidas à função e não à pessoa.

17.11.1. – ENTIDADES QUE GOZAM DE REGIMES DE EXCEPÇÃO

PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Art.º 130º da CRP - RESPONSABILIDADE CRIMINAL
1. Por crimes praticados no exercício das suas funções, o Presidente da República responde perante o
Supremo Tribunal de Justiça.
4. Por crimes estranhos ao exercício das suas funções o Presidente da República responde depois de
findo o mandato perante os tribunais comuns.
(Não pode em circunstância alguma ser detido).
OUTROS DIREITOS E REGALIAS
- Lei n.º 26/84, de 31 de Julho - concede algumas regalias aos Presidentes e ex-presidentes da República (não se aplicam aos ex-presidentes que apenas
tenham exercido interinamente o cargo, que dele tenham sido destituídos ou cuja perda tenha sido declarada pelo Tribunal Constitucional, salvo se por
impossibilidade física).
- Art.º 410º do Regulamento das Alfândegas (DL n.º 31730, de 15DEZ41, alterado pelo DL n.º 483-E/88, de 28DEZ88) - dispensado da revisão pessoal
(verificação dos objectos trazidos por passageiros tripulantes e outras pessoas que transitem pelo controlo aduaneiro, sobre si ou no seu vestuário) e de
revisão da bagagem (verificação dos volumes de bagagem trazidos por passageiros e tripulantes, bem como os que, vindo manifestados digam respeito a
móveis, roupas e outros objectos de uso doméstico).
- Art.º 139.º do CPP e art.º 624.º do Código de Processo Civil - para efeitos de inquirição como testemunhas ou para prestar declarações, goza da
prorrogativa de ser ouvido na sua residência e de depor primeiro por escrito se preferir.
- Art.º 625.º do Código do Processo Civil - pode usar do meio de declarar que não tem conhecimento dos factos sobre que foi pedido o seu depoimento ou
que não quer depor, não tendo lugar, neste caso, o depoimento.
- Artigo 24.º do DL n.º 319-A/76, de 3 de Maio - Regulamenta a eleição do Presidente da República - nenhum candidato poderá ser sujeito a prisão
preventiva, a não ser em caso de flagrante delito de crime punível com pena de prisão superior a três anos. Movido procedimento criminal contra algum
candidato e indicado este por despacho de pronúncia ou equivalente, o processo só poderá seguir após a proclamação dos resultados da eleição.

CONSELHO DE ESTADO (Art.º 141º a 146º da CRP - órgão político de consulta do Presidente da
República)
Artigos 14.º e 17.º da Lei 31/84, de 6 de Setembro
- Nenhum membro do Conselho de Estado pode ser detido ou preso sem autorização do conselho,
salvo por crime punível com pena de prisão superior a três anos e em flagrante delito.
- Movido procedimento criminal contra algum membro do Conselho de Estado e indiciado este
definitivamente por despacho de pronúncia ou equivalente, salvo no caso de crime punível com pena
de prisão superior a três anos, o Conselho decidirá se aquele deve ou não ser suspenso para efeito do
seguimento do processo.
Outros direitos e regalias
- Livre trânsito, considerado como livre circulação, no exercício das suas funções ou por causa delas, em locais públicos de acesso condicionado.
- Obtenção de qualquer entidade pública das publicações oficiais que considerem úteis para o exercício das suas funções.
- Passaporte especial, durante o período do exercício das respectivas funções.
- Cartão especial de identificação, de modelo anexo à presente lei, durante o período do exercício das respectivas funções.
- Uso, porte e manifesto gratuito de arma de defesa, independentemente de licença ou participação.
- Adiamento do serviço militar, mobilização civil e militar, ou serviço cívico.

DIPLOMATAS (e seus familiares)


Art.º 29º e Art.º 31º da Convenção de Viena (sobre Relações Diplomáticas e aprovadas para adesão,
pelo DL n.º 48295, de 27 de Março de 1968)
- Não podem ser objecto de qualquer forma de detenção os Diplomatas, ainda que em flagrante delito,
pela prática de qualquer crime.
- Gozam deste estatuto os membros da família dos diplomatas que com eles vivam, excepto se forem
nacionais do Estado acreditador.

71
Direito Processual Penal

Outros direitos, regalias e conceitos importantes


“Persona non grata” - o Estado acreditador pode recusar-se a reconhecer determinada pessoa como membro de uma missão diplomática (a pessoa poderá ser declarada “non
grata” ou não aceitável mesmo antes de chegar ao território do Estado acreditador) - Art.º 9.º do DL n.º 48295, de 27MAR68.
Correio - A correspondência oficial (toda a correspondência relativa à missão e suas funções) de uma missão diplomática é inviolável. A mala diplomática nunca poderá ser
aberta ou retirada. Os elementos que exercerem as funções de correio diplomático (que deverão estar munido de um documento oficial que indique a sua condição e o número
de volumes que constituem a mala diplomática) serão no desempenho das suas funções, protegido pelo Estado acreditador. Gozam de inviolabilidade pessoal e não poderão ser
objecto de qualquer forma de prisão ou detenção - Art.º 27.º do DL n.º 48295, de 27MAR68.
Instalações - Os locais da missão são invioláveis. Os agentes do Estado acreditador não poderão neles penetrar sem o consentimento do chefe da missão. O Estado acreditador
tem a obrigação especial de adoptar todas as medidas apropriadas para proteger os locais contra qualquer intrusão ou dano e evitar perturbações que afectem a tranquilidade da
missão ou ofensas à sua dignidade. Os locais da missão, o seu mobiliário e demais bens neles situados, assim como os meios de transporte da missão não poderão ser objecto de
busca, requisição, embargo ou medida de execução - Art.º 22.º do DL n.º 48295, de 27MAR68.
Arquivos e documentos - Os arquivos e documentos da missão são invioláveis, em qualquer momento e onde quer se encontrem - Art.º 24.º do DL n.º 48295, de 27MAR68.
Imunidades pessoais - A pessoa do agente diplomático é inviolável. Não poderá ser objecto de qualquer forma de detenção ou prisão. O Estado acreditador tratá-lo-á com o
devido respeito e adoptará todas as medidas adequadas para impedir qualquer ofensa à sua pessoa, liberdade ou dignidade - Art.º 29.º do DL n.º 48295, de 27MAR68)
Imunidade de jurisdição penal - O agente goza de imunidade de jurisdição penal do Estado acreditador. Não é obrigado a prestar depoimento como testemunha. Goza de
imunidade da jurisdição civil e administrativa, salvo raras excepções - Art.º 31.º do DL n.º 48295, de 27MAR68.
Inquirição - Os agentes diplomáticos de países estrangeiros gozam da prerrogativa de ser inquiridos na sua residência ou na sede dos respectivos serviços desde que tais países
concedam idêntica regalia aos representantes de Portugal e de depor primeiro por escrito, se preferirem - Art.º 624.º do Código de Processo Civil.
Residência particular - A residência particular dos agentes diplomáticos gozam da mesma inviolabilidade e protecção que os locais da missão - Art.º 30.º do DL n.º 48295, de
27MAR68.
Direitos aduaneiros e revisão de bagagem - Art.º 36.º do D.L. n.º 48295, de 27MAR68
- O Estado acreditador permite a entrada livre de pagamento de direitos aduaneiros, taxas e outros encargos conexos que não constituam despesas de armazenagem, transporte e
outras relativas a serviços análogos:
»» Dos objectos destinados ao uso oficial da missão;
»» Dos objectos destinados ao uso pessoal do agente diplomático ou dos membros da sua família que com ele vivam, incluindo os objectos destinados à sua instalação.
»» A bagagem pessoal do agente diplomático não está sujeita a inspecção, salvo se existirem motivos sérios para crer que a mesma contém objectos não previstos nas
isenções em cima referidas. Neste caso, a inspecção só poderá ser feita na presença do agente diplomático ou do seu representante autorizado.
Privilégios e imunidades dos membros da família do agente diplomático - Os membros da família de um agente diplomático que com ele vivam gozarão dos privilégios e
imunidades mencionadas nos Arts 29.º a 36.º, desde que não sejam da nacionalidade do Estado acreditador.
Privilégios e imunidades dos membros do pessoal administrativo e técnico da missão e membros de suas famílias que com eles vivam - Art.º 37.º do DL n.º 48295, de 27
MAR68
- Desde que não sejam nacionais do Estado acreditador, nem nele tenham residência permanente, gozam das regalias atrás indicadas, com ressalva de que a imunidade de
jurisdição civil e administrativa do Estado acreditador, mencionada no § 1.º do artigo 31.º não se estenderá aos actos por eles praticados fora do exercício das suas funções.
- Gozam dos privilégios mencionados no § 1.º do Art.º 36.º - isenção de direitos aduaneiros, taxas e outros encargos conexos, de objectos destinados ao uso oficial da
missão e objectos destinados ao uso pessoal do agente diplomático ou dos membros de sua família que com ele vivam (no que respeita aos objectos importados para a
primeira instalação).
- Os membros do pessoal de serviço da missão, que não sejam nacionais do Estado acreditador, nem nele tenham residência permanente, gozam de imunidades quanto aos
actos praticados no exercício das suas funções.
- Os criados particulares dos membros da missão, que não sejam nacionais do Estado acreditador, nem nele tenham residência permanente, estão isentos de privilégios e
imunidades só na medida reconhecida pelo referido Estado.
Privilégios e imunidades ao agente diplomático natural do estado acreditador - Art.º 38.º do DL n.º 48295, de 27MAR68
- A não ser na medida em que o Estado acreditador conceda outros privilégios e imunidades, o agente diplomático, que seja nacional do referido Estado ou nele tenha residência
permanente gozará da imunidade de jurisdição apenas quanto aos actos oficiais praticados no desempenho das suas funções.
- Os demais membros do pessoal da missão e os criados particulares que sejam nacionais do Estado acreditador ou nele tenham a sua residência permanente gozarão apenas dos
privilégios e imunidades que lhe forem reconhecidos pelo referido Estado.
Respeito pelas leis e regulamentos do estado acreditador - Art.º 41.º do DL n.º 48 295, de 27MAR68
- Sem prejuízo dos seus privilégios e imunidades, todas as pessoas que gozam destes privilégios e imunidades deverão respeitar as leis e regulamentos do Estado acreditador.
Têm também o dever de não se imiscuir nos assuntos internos do referido Estado.
- Todos os assuntos oficiais tratados com o Estado acreditador confiados à missão pelo Estado acreditante deverão sê-lo com o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Estado
acreditador ou por seu intermédio ou com outro Ministério em que se tenha convindo.
- Os locais da missão não devem ser utilizados de maneira incompatível com as funções da missão, tais como são enunciadas na presente Convenção, ou em outras normas de
direito internacional geral ou em acordos especiais em vigor entre o Estado acreditante e o Estado acreditador.
Proibição de exercer actividade extra diplomática - O agente diplomático não exercerá no Estado acreditador nenhuma actividade profissional ou comercial em proveito
próprio - Art.º 42.º do DL n.º 48295, de 27MAR68.
Conflito armado e ruptura das relações diplomáticas - Arts 44.º e 45.º do DL n.º 48295, de 27MAR68
- O Estado acreditador deverá, mesmo no caso de conflito armado, conceder facilidades para que as pessoas que gozem de privilégios e imunidades, e não sejam nacionais do
Estado acreditador, bem como os membros de suas famílias, seja qual for a sua nacionalidade, possam deixar o seu território o mais depressa possível.
- Se necessário, deverá colocar à sua disposição os meios de transporte indispensáveis para tais pessoas e seus bens.
- Em caso de ruptura das relações diplomáticas entre dois Estados, ou se uma missão é retirada definitiva ou temporariamente:
- O Estado acreditador está obrigado a respeitar e a proteger, mesmo em caso de conflito armado, os locais da missão, bem como os seus bens e arquivos;
- O Estado acreditante poderá confiar a guarda dos locais da missão, bem como dos seus bens e arquivos, a um terceiro Estado aceite pelo Estado acreditador;
- O Estado acreditante poderá confiar a protecção dos seus interesses e dos seus nacionais a um terceiro Estado aceite pelo Estado acreditador.
Membros da missão diplomática e respectivos familiares
São dispensados das revisões pessoal e de bagagem - Art.º 412.º do Regulamento das Alfândegas.
-
CORPO CONSULAR DL n.º 183/72, de 30 de Maio - aprovou a Convenção sobre relações Consulares, concluída em Viena em 24ABR63.
Correspondência oficial, mala consular e correio consular - Art.º 35.º do DL n.º 183/72
- O Estado receptor permitirá e protegerá a liberdade de comunicação do posto consular para todos os fins oficiais. O posto consular poderá empregar todos os meios de
comunicação apropriados inclusive correios diplomáticos ou consulares, malas diplomáticas e consulares e mensagens em código ou cifra. Não pode, porém instalar e utilizar
um posto emissor de rádio sem o consentimento do Estado receptor.
- A correspondência oficial do posto consular é inviolável. Pela expressão “correspondência oficial” entender-se-á qualquer correspondência relativa ao posto consular e às suas
funções.
- A mala consular não deverá ser aberta nem retida. No entanto, se houver motivos para crer que a mala contém outros objectos que não os permitidos, poderá ser pedido que a
mala seja aberta na presença de um representante autorizado do Estado que envia. Se as autoridades do referido Estado recusarem tal pedido, a mala será devolvida ao seu lugar
de origem.
- Os volumes que constituírem a mala consular deverão ser providos de sinais exteriores visíveis indicadores da sua natureza e só poderão conter correspondência e documentos
oficiais ou objectos destinados exclusivamente ao uso oficial.
- O correio consular deverá ser portador de um documento oficial que ateste a sua qualidade e precise o número de volumes que constituem a mala consular. A não ser que o
Estado receptor o consinta, o correio consular não poderá ser nacional do Estado receptor nem residente permanente no Estado receptor, salvo se for nacional do Estado que
envia. No desempenho das suas funções, este correio será protegido pelo Estado receptor. Gozará de inviolabilidade pessoal e não poderá ser objecto de nenhuma forma de
prisão ou detenção.
- O Estado que envia, as suas missões diplomáticas e os seus postos consulares poderão nomear correios consulares ad hoc. As imunidades do correio deixarão de ser aplicáveis
no momento em que este tiver entregue ao destinatário a mala pela qual é responsável.
- A mala consular poderá ser confiada ao comandante de um navio ou aeronave comercial, que deverá chegar a um ponto de entrada autorizado. Tal comandante deverá ser
portador de um documento oficial do qual conste o nº de volumes que constituem a mala, mas não será considerado correio consular. Mediante prévio acordo com as
autoridades locais competentes o posto consular poderá enviar um dos seus membros para tomar posse da mala, directa e livremente das mãos do comandante do navio ou
aeronave.

72
Direito Processual Penal
Inviolabilidades das instalações - Art.º 31.º do DL n.º 183/72
- As autoridades do Estado receptor não podem penetrar na parte das instalações consulares que o posto utiliza exclusivamente para as necessidades do seu trabalho, salvo com o
consentimento do chefe do posto consular, da pessoa por ele designada ou pelo chefe da missão diplomática do Estado que envia. Todavia o consentimento do chefe do posto
consular poderá ser presumido em caso de incêndio ou de outro sinistro que exija medidas de protecção imediatas.
- O Estado receptor terá a obrigação especial de tomar as medidas apropriadas para evitar que as instalações consulares sejam invadidas ou danificadas, assim como para
impedirem que a tranquilidade do posto seja perturbada ou se atente contra a sua dignidade.
Protecção dos funcionários - Art.º 40.º DL n.º 183/72
- O Estado receptor tratará os funcionários consulares com o respeito que lhes é devido e tomará as medidas adequadas para evitar qualquer atentado à sua liberdade ou
dignidade.
Inviolabilidade pessoal dos funcionários - Art.º 41.º do DL n.º 183/72
- Os funcionários consulares não podem ser presos ou detidos excepto em casos de crime grave ou em virtude de decisão da autoridade judicial competente.
- Excepto no caso previsto no parágrafo anterior do presente artigo, os funcionários consulares não poderão ser presos nem submetidos a qualquer outra forma de limitação à sua
liberdade pessoal, salvo em execução de uma decisão judicial definitiva.
- Quando um processo penal for instaurado contra um funcionário consular, este será obrigado a comparecer perante as autoridades competentes. Quando for necessário colocar
o funcionário consular em estado de detenção, o processo contra ele instaurado deverá iniciar-se sem a menos demora.
Notificação em caso de prisão ou instauração de processo - Art.º 42.º do DL n.º 183/72
- Em caso de prisão, de detenção de um membro do pessoal consular ou de instrução contra o mesmo de processo penal, o Estado receptor deverá notificar imediatamente o
chefe do posto consular. Se este último for o objecto de tais medidas, o Estado receptor levará o facto ao conhecimento do Estado que envia por via diplomática.
Imunidades de jurisdição - Art.º 43.º do DL n.º 183/72
- Os funcionários consulares e os empregados consulares não estão sujeitos à jurisdição das autoridades judiciárias administrativas do Estado receptor pelos actos realizados no
exercício das suas funções consulares. Isto não se aplica em caso de acção civil:
»» Resultante da conclusão de um contracto feito por um funcionário consular ou um empregado consular que não tenha cumprido expressa ou implicitamente como
mandatário do Estado que envia;
»» Intentada por um terceiro como consequência de danos causados por acidente de veículo, navio ou aeronave ocorrido no Estado receptor.
Obrigação de Testemunhar - Art.º 44.º do DL n.º 183/72
- Os membros do posto consular poderão ser chamados a depor como testemunhas no decorrer de processos judiciais ou administrativos. Os empregados consulares e os
membros do pessoal de serviço não devem recusar-se a depor como testemunhas, no entanto, os membros de um posto consular não podem ser obrigados a depor sobre factos
relacionados com o exercício das suas funções, nem a exibir correspondência ou documentos oficiais que a eles se refiram. Se um funcionário consular se recusar a testemunhar,
nenhuma medida coerciva ou qualquer outra sanção lhe poderá ser aplicada.
- A autoridade que requerer o testemunho deverá evitar que o funcionário consular seja perturbado no exercício das suas funções. Poderá tomar o depoimento do funcionário
consular no seu domicílio ou no posto consular, ou aceitar as suas declarações por escrito, sempre que seja possível.
Isenção de registo de estrangeiros e de autorização de residência - Art.º 46.º do DL n.º 183/72
- Os funcionários consulares e os empregados consulares e os membros das suas famílias que com eles vivam estão isentos de todas as obrigações, previstas nas leis e
regulamentos do Estado receptor e relativas ao registo de estrangeiros e à autorização de residência. Estas medidas não se aplicarão aos empregados consulares que não sejam
empregados permanentes do Estado que envia ou que exerçam no Estado receptor actividade privada de carácter lucrativo, nem tão pouco aos membros da família desses
empregados.
Isenção de direitos aduaneiros e de inspecção alfandegária
- As bagagens pessoais que acompanham os funcionários consulares e os membros dos seus familiares que com eles vivam estarão isentos de inspecção alfandegária. Só
poderão ser sujeitos à inspecção se houver sérias razões para se supor que contenham objectos diferentes dos objectos destinados ao uso pessoal, ou cuja importação ou
exportação seja interdita pelas leis e regulamentos do Estado receptor, ou submetida às suas leis e regulamentos de quarentena. Esta inspecção só pode ser feita na presença do
funcionário consular ou do membro da sua família, interessado - Art.º 50.º do DL n.º 183/72.
- Os membros do posto consular e respectivos familiares são dispensados das revisões pessoal e de bagagem - artigo 412.º do Regulamento das Alfândegas, aprovado pelo
decreto n.º 31 730, de 15DEZ41 (com nova redacção dada pelo Dec. N.º 462/76, de 22 de Outubro).
Início e fim dos privilégios e imunidades consulares - Art.º 53.º do DL n.º 183/72
- Todos os membros do posto consular beneficiarão dos privilégios e imunidades previstos na presente Convenção desde a sua entrada no território do Estado receptor para
chegar ao seu posto ou, se já se encontrarem nesse território, desde que assumam as suas funções no posto consular.
Funcionários consulares honorários e postos consulares por eles geridos - Art.º 58.º do DL n.º 183/72
- O artigo 42.º (Notificação em caso de prisão, detenção ou instauração de processo), art.º 44.º, n.º 3 (obrigação de testemunhar), e art.º 53.º (início e fim dos privilégios e
imunidades consulares) aplicam-se aos funcionários consulares honorários.
- Os privilégios e imunidades não serão concedidos aos membros da família do consular honorário ou de um empregado consular de um posto consular gerido por um
funcionário consular honorário.
Facilidades, privilégios e imunidades em processo penal – Art.º 63.º do DL n.º 183/72
- Quando um processo penal for instaurado contra um funcionário consular honorário, este é obrigado a comparecer perante as autoridades competentes. Todavia, o processo
deverá ser conduzido com as deferências devidas ao funcionário consular honorário em virtude da sua posição oficial e, salvo se o interessado estiver preso ou detido, de forma
a perturbar o menos possível o exercício das funções consulares. Quando for necessário deter preventivamente o funcionário consular honorário, o processo correspondente
deverá iniciar-se o mais breve possível.
Protecção dos funcionários consulares honorários - Art.º 64 do DL n.º 183/72
- O Estado receptor é obrigado a conceder ao funcionário consular honorário a protecção de que possa necessitar em razão da sua posição oficial.
Infracções cometidas por veículos de funcionários consulares de carreira
- Estão abrangidos pela Convenção Consular aprovada pelo Dec.-Lei n.º 183/72.
- O procedimento contra estes agentes deve resumir-se à elaboração de simples participação que segue, pelas vias hierárquicas para o Ministério dos Negócios Estrangeiros, não
estando isentos de pagamento de multas ou coimas, os funcionários consulares honorários.

ENTIDADES GOVERNAMENTAIS OU MILITARES ESTRANGEIRAS


- São dispensados das revisões pessoal e de bagagem, quando visitem o nosso país, em missão oficial de serviço, a convite dos órgãos do poder constituído - Art.º 412.º do
Regulamento das Alfândegas.

MEMBROS DO CONCELHO DA EUROPA


- As instalações e edifícios do Concelho são invioláveis. Os seus bens e haveres, onde quer que se encontrem e qualquer que seja o seu detentor, estão isentos de busca,
requisições, confisco, expropriação ou qualquer outra medida coerciva de carácter administrativo ou judicial - Artigo 4.º, do Decreto n.º 41/82, de 7 de Abril.
- Os representantes no Comité de Ministros gozam durante o exercício das suas funções e no decurso das suas viagens para o local de reunião ou respectivo regresso, dos
privilégios e imunidades seguintes (art.º 9.º do Decreto n.º 41/82, de 7 de Abri):
»» Imunidade de prisão ou detenção e de retenção de bagagem pessoal e imunidades de jurisdição pelos actos praticados na sua qualidade oficial, incluindo palavras e
escritos;
»» Inviolabilidade de quaisquer papéis e documentos;
»» Isenção para os próprios e seus cônjuges de todas as medidas restritivas relativas a imigração e de todas as formalidades de registo de estrangeiros, nos países por eles
visitados ou atravessados no exercício das suas funções;
»» No que respeita à sua bagagem pessoal as mesmas imunidades e facilidades que as concedidas aos membros das missões diplomáticas de categoria equivalente.
- Nenhuma restrição de natureza administrativa ou outra pode ser imposta à livre deslocação dos representantes na Assembleia Consultiva e dos seus suplentes que se dirijam
ou regressem do local de reunião da Assembleia. Os representantes na Assembleia Consultiva e os seus suplentes não poderão ser procurados, detidos ou perseguidos em virtude
das opiniões ou votos por eles emitidos no exercício das suas funções - art.º 14.º do Decreto n.º 41/82, de 7 de Abril.
- Durante as sessões na Assembleia Consultiva, os representantes na Assembleia e os seus suplentes, parlamentares ou não, beneficiam (art.º 15º do Decreto n.º 41/82, 7ABR):
»» No seu próprio território nacional, das imunidades reconhecidas aos membros do parlamento do seu País;
»» No território de qualquer outro Estado membro, de isenção de qualquer medidas de detenção ou de qualquer procedimento judicial.
»» De imunidade quando se dirijam ou regressem do local de reunião da Assembleia Consultiva. Esta imunidade não pode ser invocada em caso de flagrante delito e não
pode constituir obstáculo ao direito de a Assembleia levantar a imunidade de um representante ou de um suplente.
- Além dos privilégios e imunidades previstos no Art.º 18.º, o Secretário-Geral e o Secretário-Geral-Adjunto gozam, conjuntamente com os seus cônjuges e filhos menores:
»» dos privilégios, imunidades, isenções e facilidades reconhecidos pelo direito internacional aos enviados diplomáticos - Art.º 16.º do Decreto n.º 41/82, de 7 de Abril.
»» de imunidade de jurisdição relativamente aos actos, por eles praticados na sua qualidade oficial e nos limites das suas atribuições;
»» de isenção de qualquer imposto sobre as remunerações e emolumentos pagos pelo Concelho da Europa;
»» de não sujeição às disposições que limitam a imigração e às formalidades de registo de estrangeiros - art.º 18.º do Decreto n.º 41/82, de 7 de Abril.

73
Direito Processual Penal
Tribunal Europeu dos Direitos do Homem
- Os Juízes gozam, no exercício das suas funções e no decurso das viagens efectuadas nesse exercício, dos privilégios e imunidades seguintes (Art.º 2.º do Decreto n.º 40/82, de
05 de Abril):
»» Imunidade de prisão ou de detenção e de retenção da bagagem pessoal e imunidade de jurisdição pelos actos praticados na sua qualidade oficial, incluindo palavras e
escritos;
»» Isenção para eles e seus cônjuges de todas as medidas restritivas da sua liberdade de movimento: saída e entrada no País de residência e entrada e saída no País onde
exercem funções, bem como de qualquer formalidades de registo de estrangeiros, nos países visitados ou por eles atravessados no exercício das suas funções.
- No decurso das deslocações efectuadas no exercício das suas funções, são concedidas aos Juízes, em matéria aduaneira e de controlo de câmbios (art.º 3.º do Decreto n.º 40/82,
de 5 de Abril):
»» Por parte do seu próprio governo, as mesmas facilidades que as reconhecidas aos altos funcionários que se deslocam ao estrangeiro em missão oficial temporária;
»» Por parte dos governos dos outros Estados membros, as mesmas facilidades que as reconhecidas aos chefes de missão diplomática.

PROTOCOLO RELATIVO AOS PRIVILÉGIOS E IMUNIDADES DA COMUNIDADE EUROPEIA - Resolução da Assembleia da República n.º 22/85, de18 de
Setembro de 1985
- Os locais e as construções da Comunidade são invioláveis. Não podem ser objecto de busca, requisição, confisco ou expropriação. Os bens e haveres da Comunidade não
podem ser objecto de qualquer medida coerciva, administrativa ou judicial sem autorização do Tribunal de Justiça – art.º 1º.
- Os arquivos da Comunidade são invioláveis – art.º 2º.
- A comunidade, os seus haveres, rendimentos e outros bens estão isentos de quaisquer impostos directos – art.º 3º.
- As instituições da Comunidade beneficiam, no território de cada Estado membro, para as comunicações oficiais e para a transmissão de todos os seus documentos, do
tratamento concedido por esse Estado às missões diplomáticas. A correspondência oficial e as outras comunicações oficiais das instituições da Comunidade não podem ser
censuradas – art.º 5º.
- Os presidentes das instituições da Comunidade podem atribuir aos membros e agentes destas instituições livres-trânsitos cuja forma será estabelecida pelo Conselho e que
serão reconhecidos como títulos válidos de circulação pelas autoridades dos Estados membros. Esses livres trânsitos serão atribuídos aos funcionários e agentes, nas condições
estabelecidas pelos estatutos previstos no artigo 212.º do Tratado. A comissão pode concluir acordos tendo em vista o reconhecimento desses livres-trânsitos como títulos
válidos de circulação no território de Estados terceiros – art.º 6º.
- As deslocações dos membros da Assembleia que se dirijam para, ou regressem do local da reunião da Assembleia não ficam sujeitas a restrições administrativas ou de
qualquer outra natureza –art.º 7º.
- Os membros da Assembleia não podem ser procurados, detidos ou perseguidos pelas opiniões ou votos emitidos no exercício das suas funções – art.º 8º.
- Enquanto durarem as sessões da assembleia, os seus membros beneficiam (art.º 9º):
»» No seu território nacional, das imunidades reconhecidas aos membros do Parlamento do seu país;
»» No território de qualquer outro Estado membro, da não sujeição a qualquer medida de detenção e a qualquer procedimento judicial.
»» De imunidade, quando se dirigem para, ou regressem do local de reunião da Assembleia (a imunidade não pode ser invocada em caso de flagrante delito e não pode
também construir obstáculo ao direito de a Assembleia levantar a imunidade de um dos seus membros).
- Os representantes dos Estados membros que participam nos trabalhos das instituições da Comunidade, bem como os seus conselheiros e peritos, gozam, durante o exercício
das suas funções e durante as viagens com destino ou em proveniência do local da reunião, dos privilégios imunidades e facilidades usuais. Isto é igualmente aplicável aos
membros dos órgãos consultivos da Comunidade – art.º 10º.
- No território de cada Estado membro e independentemente da sua nacionalidade, os funcionários e agentes da Comunidade referidos no artigo 212.º do Tratado (art.º 11º):
»» Gozam de imunidade de jurisdição no que diz respeito aos actos por eles praticados na sua qualidade oficial, incluindo as suas palavras e escritos, e continuarão a
beneficiar desta imunidade após a cessação das suas funções;
»» Não estão sujeitos, bem como os cônjuges e membros da família a seu cargo, às disposições que limitam a imigração e às formalidades de registo de estrangeiros;
»» Gozam, no que respeita às regulamentações monetárias ou de câmbio, da facilidade usualmente reconhecidas aos funcionários das organizações internacionais;
»» Têm o direito de importar o mobiliário e bens pessoais, livres de direitos, do país da última residência ou do país de que são nacionais por ocasião do início de funções no
país em causa, e do direito de reexportar o mobiliário e bens pessoais, livres de direitos, aquando da cessação das suas funções no referido país, sem prejuízo, num ou
noutro caso, das condições julgadas necessárias pelo governo do país em que tal direito é exercido;
»» Têm o direito de importar, livre de direitos, o automóvel destinado a uso pessoal, adquirido no país da última residência ou no país de que são nacionais, nas condições do
mercado interno deste, e de reexportar, livre de direitos, sem prejuízo, num e noutro caso, das condições julgadas necessárias pelo governo do país em causa.
- Os funcionários e agentes da Comunidade ficam isentos de impostos nacionais que incidam sobre os vencimentos, salários e emolumentos pagos pela Comunidade – art.º 12º.
- O Estado membro no território do qual está situada a sede da Comunidade concede às missões dos Estados terceiros acreditados junto da Comunidade as imunidades
diplomáticas usuais – art.º 16º.
Banco Europeu de Investimentos
- Este Protocolo é igualmente aplicável ao Banco Europeu de Investimentos, aos membros dos seus órgãos ao seu pessoal e aos representantes dos Estados membros que
participem nos seus trabalhos, sem prejuízo do disposto no Protocolo relativo aos Estatutos do Banco.

DEPUTADOS
Art.º 157º da CRP - IMUNIDADES
3. Nenhum Deputado pode ser detido ou preso sem autorização da Assembleia da República, salvo
por crime doloso a que corresponda pena de prisão cujo limite máximo seja superior a três anos e
em flagrante delito.

Art.º 11º da Lei nº 7/93 de 1 de Março (alterado pela Lei n.º 45/99, de 16 de Junho, a Lei já havia sido
alterada pela Lei n.º 24/95 de 18 de Agosto) -INVIOLABILIDADE
1. Nenhum Deputado pode ser detido ou preso sem autorização da Assembleia da República, salvo
por crime doloso a que corresponda pena de prisão cujo limite máximo seja superior a 3 anos e em
flagrante delito.
Outros direitos e regalias
- O Presidente da Assembleia da República:
- é dispensado das revisões pessoal e de bagagem - Art.º 410.º do Regulamento das Alfândegas.
- goza da prorrogativa de depor primeiro por escrito se preferir - Art.º 624.º do Código de Processo Civil.
- responde perante o Plenário do Supremo Tribunal de Justiça - Art.º 34.º da lei n.º 34/87, de 16 Julho.
- Os deputados não respondem civil, criminal ou disciplinarmente pelos votos e opiniões que emitirem no exercício das suas funções - Art.º 10.º da Lei n.º
7/93, de 1 de Março.
- Os deputados não podem ser ouvidos como declarantes, nem como arguidos sem autorização da Assembleia, sendo obrigatória a decisão de autorização.
no segundo caso, quando houver fortes indícios de prática de crime doloso a que corresponda pena de prisão cujo limite máximo seja superior a três anos.
Movido procedimento criminal contra um Deputado e acusado este definitivamente, a Assembleia decide se o Deputado deve ou não ser suspenso para
efeito de seguimento do processo - Art.º 157º da CRP e Art.º 11.º da Lei n.º 7/93, de 1 de Março, alterado pela Lei n.º 45/99, de 16de Junho.
- Todas as entidades públicas estão sujeitas ao dever geral de cooperação com os Deputados no exercício das suas funções ou por causa delas - Art.º 12.º
da Lei n.º 7/93, de 1 de Março.
- A falta de Deputados por causa das reuniões ou missões da Assembleia a actos ou diligências oficiais a ela estranhos constitui motivo justificado de
adiamento destes, sem encargo, mas tal fundamento não pode ser invocado mais de uma vez em cada acto ou diligência - Art.º 15º da Lei n.º 7/93, de 1 de
Março, alterado pela Lei n.º 45/99, de 16 de Junho.
74
Direito Processual Penal
- Gozam da prorrogativa de serem inquiridos na sua residência ou na sede dos respectivos serviços - Art.º 624.º do Código de Processo Civil.
- Os deputados gozam ainda dos seguintes direitos e regalias (art.º 158.º da CRP e art.º 15.º da Lei n.º 7/93, de 1 de Março):
- Adiamento do serviço militar, do serviço cívico ou da mobilização civil.
- Livre trânsito, considerado como livre circulação em locais públicos de acesso condicionado, mediante exibição do cartão especial de identificação.
- Passaporte diplomático por legislatura, renovado em cada sessão legislativa.
- Cartão especial de identificação.
- Remunerações e subsídios que a lei prescrever.
- Direito de uso e porte de arma.
- Prioridade nas reservas de passagem nas empresas públicas de navegação aérea durante o funcionamento efectivo da Assembleia ou por motivos
relacionados com o desempenho do seu mandato.
- Art.º 30º da Lei n.º 7/93, de 1 de Março, alterada pela Lei n.º 24/95 de 18 de Agosto - cria o título de Deputado honorário que é atribuído por deliberação
do plenário, sob proposta fundamentada subscrita por um quarto dos deputados em exercício de funções, aos Deputados que, por relevantes serviços
prestados na defesa da instituição parlamentar, tenham contribuído decisivamente para a sua dignificação e prestígio. O Deputado honorário tem direito ao
correspondente cartão de identificação e goza das mesmas prerrogativas nos artigos Deputados, e outras a definir pelo Presidente da Assembleia da
República.
Art.º 10.º da Lei n.º 14/79, de 16 de Maio - nenhum candidato a Deputado pode ser sujeito a prisão preventiva a não ser em caso flagrante delito, por crime
punível com pena de prisão superior a três anos. Movido procedimento criminal contra algum candidato e indiciado este por despacho de pronúncia ou
equivalente, o processo só pode seguir após a proclamação dos resultados das eleições.
ASSEMBLEIAS LEGISLATIVAS REGIONAIS
Deputados da Região Autónoma da Madeira - Resolução da Assembleia Legislativa Regional n.º 1/93/M, de 18ABR93.
IRRESPONSABILIDADE - Os deputados não respondem civil, criminal ou disciplinarmente pelos votos e opiniões que emitirem no exercício das suas funções e no âmbito
destas - Art10.º.
INVIOLABILIDADE - Nenhum Deputado pode ser detido ou preso sem autorização da Assembleia, salvo por crime punível com superior a três anos maior e em flagrante
delito. Movido procedimento criminal contra algum Deputado e indiciado este por despacho de pronúncia ou equivalente salvo no caso de crime punível com pena maior, a
Assembleia deliberará se o Deputado ser ou não suspenso para efeito de seguimento do processo - Art.º 11º.
JURADOS, PERITOS OU TESTEMUNHAS - Os Deputados não podem, sem autorização da Assembleia, ser jurados, peritos ou testemunhas nem ser ouvidos como
declarantes nem como arguidos, excepto, neste último caso, quando presos em flagrante delito, ou quando suspeitos de crime a que corresponda pena superior a três anos. A
autorização, ou sua recusa, serão precedidas de audição do deputado - Art.º12.º.
DIREITOS E REGALIAS SOCIAIS (Art.º 12º):
a) Adiamento do serviço militar, do serviço cívico ou da mobilização civil;
b) Livre trânsito, considerado como livre circulação no exercício das suas funções ou por causa delas, em locais públicos de acesso condicionado;
c) Cartão especial de identificação;
d) Passaporte diplomático por legislatura, renovado em cada sessão legislativa;
e) Subsídios e outras regalias;
f) Seguros pessoais.

Deputados da Região Autónoma dos Açores - Decreto Regional n.º 1/81/A, de 23 de Março.
SUSPENÇÃO CONDICIONADA - O deputado poderá ser suspenso do seu mandato por decisão da Assembleia se for indiciado, por despacho de pronúncia ou equivalente, por
crime a que corresponda pena superior a três anos - Art.º 3º.
IMUNIDADES - Os Deputados gozam das imunidades estabelecidas no artigo 21.º do Estatuto Autónomo e estão dispensados de comparecer a actos ou diligências oficiais
estranhos à assembleia por causa de reuniões ou emissões desta. A falta de comparência, referida no número anterior, que impossibilite a realização do acto ou da diligência
oficial constitui motivo justificativo do adiamento desta sem quaisquer encargos, mas só pode ser invocada uma vez em relação a cada um destes actos ou diligências - Art.º 6º.
ESTATUTO AUTONÓMICO - Art.º 37.º da Lei n.º 34/87, de 16 de Julho
- Os Deputados não respondem civil, criminal ou disciplinarmente pelos votos e opiniões que emitirem no exercício das suas funções.
- Nenhum Deputado à Assembleia Regional pode ser detido ou preso sem autorização da Assembleia, salvo por crime punível com pena superior a três anos e em flagrante
delito.
- Movido procedimento criminal contra algum Deputado à Assembleia regional e indiciado este por despacho de pronúncia ou equivalente, a Assembleia decidirá se o Deputado
deve ou não ser suspenso para efeito de seguimento de processo.
Os Deputados gozam dos seguintes direitos e regalias (Art.º 22º da Lei n.º 39/80, de 5 de Agosto):
- Adiamento do serviço militar, do serviço cívico ou da mobilização civil;
- Livre trânsito em locais públicos de acesso condicionado no exercício das suas funções ou por causa delas;
- Cartão especial de identificação e passaporte especial;
- Subsídios determinados por decreto regional.

MEMBROS DO GOVERNO
Art.º 196º da CRP (ver também o art.º 35.º da Lei n.º 34/87, de 16 de Julho) - Efectivação da
responsabilidade criminal dos membros do Governo
1. Nenhum membro do Governo pode ser detido ou preso sem autorização da Assembleia da
República, salvo por crime doloso a que corresponda pena de prisão cujo limite máximo seja
superior a três anos e em flagrante delito.
2. Movido procedimento criminal contra algum membro do Governo, e acusado este definitivamente,
a Assembleia da República decidirá se o membro do Governo deve ou não ser suspenso para efeito
de seguimento do processo, sendo obrigatória a decisão de suspensão quando se trate de crime do
tipo referido no número anterior.

Outros direitos e regalias


- Gozam da prerrogativa de depor primeiro por escrito, se preferirem - Art.º 624.º do Código de Processo Civil.
- O Primeiro-Ministro é dispensado das revisões pessoal e de bagagem - Art.º 410.º do Reg. das Alfândegas.
- O Primeiro-Ministro responde perante o Plenário do Tribunal da Relação de Lisboa, com recurso para o supremo Tribunal de Justiça - Art.º 35.º da Lei
n.º 34/87 de 16 de Julho.
Membros do Governo da Região Autónoma da Madeira - Decreto Regional n.º 1/77/M, de 6 de Janeiro
Artigo 2.º
- O Presidente do Governo Regional não pode ser detido ou preso preventivamente sem autorização da Assembleia da República
- Nenhum Secretário do Governo Regional pode ser detido ou preso preventivamente sem autorização do Presidente do Governo Regional.
- Movido procedimento criminal contra algum membro do Governo Regional e indiciado este definitivamente por despacho de pronúncia ou equivalente, o Presidente do
Governo Regional decidirá, tratando-se de algum Secretário Regional, ou a Assembleia Regional delibera, tratando-se do Presidente do Governo Regional, se o membro do
Governo em questão deverá ou não ser suspenso para efeito de seguimento do processo

75
Direito Processual Penal
Artigo 3.º
- Enquanto empossados nas suas funções, o Presidente do Governo Regional não poderá ser testemunha sem autorização da Assembleia Regional.
- Enquanto empossados nas suas funções, os Secretários do Governo regional não poderão ser testemunhas sem autorização do Governo Regional.
Artigo 5.º
- Constituem direitos e regalias dos membros do Governo Regional:
- Adiamento do Serviço militar, mobilização civil ou serviço cívico, quando em substituição ou cumprimento do serviço militar;
- Dispensa do Serviço cívico e estudantil, no caso de exercício de mandato por período mínimo de um ano;
- Livre trânsito, considerado como livre circulação no exercício das suas funções ou por causa delas, em locais públicos de acesso condicionado;
- Passaporte especial;
- Cartão especial de identificação.

Membros do Governo da Região Autónoma dos Açores - Decreto. Regional n.º 8/77/A, de 17 de Maio
Artigo 1.º
- Os membros do Governo Regional não podem ser prejudicados na sua colocação, nos seus benefícios sociais ou no seu emprego permanente, por virtude do desempenho das
suas funções.
- Os membros do Governo Regional estão dispensados de todas as actividades profissionais públicas ou privadas durante o período do exercício do cargo.
- O desempenho das funções conta como tempo de serviço para todos os efeitos, salvo para aqueles que pressuponham o exercício efectivo da actividade profissional.
Artigo 2.º
- Os membros do Governo Regional têm direito a cartão especial de identificação e de livre trânsito considerado este como livre circulação, no exercício das suas funções ou por
causas delas, em locais públicos de acesso condicionado.
- Embora este Decreto Regional nada refira quanto a outros direitos e regalias, subentende-se que, por analogia, os membros do Governo Regional dos Açores gozam também
das prorrogativas concedidas aos membros do Governo Regional da Madeira pelo Decreto Regional n.º 1/77/M, de 06JAN.
- Art.º 39.º da Lei n.º 34/87, de 16JUL - Lei dos crimes de responsabilidade dos titulares de cargos políticos - movido procedimento judicial contra membro de Governo
Regional pela prática de qualquer crime, e indiciado esta por despacho de pronúncia ou equivalente, o processo só seguirá no caso de ao facto corresponder pena superior a três
anos, se o membro de Governo for suspenso do exercício das suas funções.

ÓRGÃOS DO PODER LOCAL


ELEITOS LOCAIS
ESTATUTO DOS ELEITOS LOCAIS - Lei nº 29/87, de 30 de Junho (Actualizado pela Lei n.º 50/99, de 24 de Junho)
Artigo 5.º Direitos
1 - Os eleitos locais têm direito, nos termos definidos nas alíneas seguintes;
g) A livre circulação em lugares públicos de acesso condicionado, quando em exercício das respectivas funções;
h) A passaporte especial quando em representação da autarquia (exclusivo dos presidentes das câmaras municipais e dos seus substitutos legais – nº 3);
i) A cartão especial de identificação;
j) A viatura municipal, quando em serviço da autarquia;
o) A solicitar o auxílio de quaisquer autoridades, sempre que o exijam os interesses da respectiva autarquia local;
p) A protecção conferida pela lei penal aos titulares de cargos públicos;
q) A apoio nos processos Judiciais que tenham como causa o exercício das respectivas funções;
r) A uso e porte de arma de defesa.
Artigo 15.º - Livre trânsito
Os eleitos locais têm direito à livre circulação em lugares públicos de acesso condicionado na área da sua autarquia, quando necessária ao efectivo
exercício das respectivas funções autárquicas ou por causa delas, mediante a apresentação do cartão de identificação a que se refere o artigo seguinte.
Lei n.º 11/96, de 18 de Abril
Artigo 11º - Legislação aplicável
Aplicam-se subsidiariamente aos eleitos para órgãos das juntas de freguesia, com as necessárias adaptações, as normas da Lei n.º 29/87, de 30 de Junho.

CANDIDATOS AOS ÓRGÃOS DO PODER LOCAL


(Art.º 6.º do DL. n.º 701-B/76, de 29 de Setembro)
- Nenhum candidato poderá ser sujeito a prisão preventiva, a não ser no caso de crime punível com pena maior.
- Movido procedimento criminal contra algum candidato e indiciado este por despacho de pronúncia ou equivalente, o processo só poderá seguir após a
proclamação dos resultados da eleição.

MEMBROS DAS ASSEMBLEIAS DE VOTO


DELEGADOS DAS LISTAS - Junto das mesas das Assembleias de voto (Art.º 41.º-A do Decreto-Lei n.º 701-B/76, de 29 de Setembro)
Os delegados das listas não podem ser detidos durante o funcionamento da assembleia de voto, a não ser por crime punível com pena de prisão superior a
três anos e em flagrante delito.

POLÍCIA DA ASSEMBLEIA DE VOTO


(Art.º 78.º do DL n.º 701.º-B/76, de 29 de Setembro, alterado pela Lei n.º 9/95, de 7 de Abril)
- Compete ao presidente da mesa, coadjuvado pelos vogais desta, assegurar a liberdade dos eleitores, manter a ordem e, em geral, regular a polícia na
assembleia, adoptando para esse efeito as providências necessárias.
- Não é admitida na assembleia de voto a presença de pessoas manifestamente embriagadas ou drogadas ou que sejam portadoras de qualquer arma ou
instrumento susceptível de como tal ser usado.

MEMBROS DAS MESAS DAS ASSEMBLEIAS OU DAS SECÇÕES DE VOTO (Presidente, Suplente e 3 vogais)
A Lei nada refere expressamente. No entanto, estes elementos deveriam estar em igualdade de condições com os “Delegados das listas” e, ainda neste
caso, não nos parece que seja a Polícia a ter de intervir por sua iniciativa, em relação a qualquer dos elementos da mesa que cometesse algum crime
porquanto, para o efeito e com competência legal, existiria qualquer dos restantes elementos que poderia e devia requisitar a comparência do Comandante
da Força Armada. Atendendo ao disposto no Art.º 78.º do D.L. n.º 701-B/76:
- “Constituída a mesa, ela não poderá ser alterada, salvo caso de força maior”.
- Polícia das Assembleias de voto - “compete ao presidente da mesa, coadjuvado pelos vogais da mesma...”

76
Direito Processual Penal

PROVEDOR DE JUSTIÇA
Imunidades - Art.º 8º, nº 2 da Lei nº 9/91 de 9 de Abril (alterada pela Lei 30/96, de 14 de Agosto)
(Lei 9/91 revogou a Lei nº 81/77 de 22 de Novembro)
O Provedor de Justiça não pode ser detido ou preso sem autorização da Assembleia da República,
salvo por crime punível com pena de prisão superior a três anos e em flagrante delito.
Outros direitos e regalias
Lei n.º 9/91, de 9 de Abril (Alterada pela Lei 30/96, de 14 de Agosto):
Artigo 8.º - Imunidades
- O Provedor de Justiça não responde civil ou criminalmente pelas recomendações, reparos ou opiniões que emita ou pelos actos que pratique no exercício das suas funções.
- Movido procedimento criminal contra o Provedor de Justiça, e acusado definitivamente, a Assembleia da República delibera se o Provedor de Justiça deve ou não ser suspenso
para efeito de seguimento do processo, salvo no caso de crime punível com a pena referida no número anterior.
Artigo 9.º - Honras, direitos e garantias
O Provedor de Justiça tem os direitos, honras, precedência, categoria, remunerações e regalias idênticas às de Ministro, incluindo as constantes da Lei n.º 4/85, de 9 de Abril,
designadamente dos seus artigos 12.º, n.ºs 1 e 2, e 24.º a 31.º.
Artigo 14.º - Identificação e livre trânsito
- O Provedor de Justiça tem direito a cartão especial de identificação passado pela secretaria da Assembleia da República e assinado pelo Presidente.
- O cartão de identificação é simultaneamente de livre trânsito e acesso a todos os locais de funcionamento da administração central, regional, local e institucional, serviços civis
e militares e demais entidades sujeitas ao controlo do provedor de Justiça.
Artigo 18.º - Garantia de autoridade
- O Provedor de Justiça, os Provedores Adjuntos de Justiça, os coordenadores e os assessores são considerados autoridades públicas, inclusive para efeitos penais.
Artigo 19.º - Auxílio das autoridades
- Todas as autoridades e agentes de autoridade devem prestar ao Provedor de Justiça o auxílio que lhes for solicitado para o bom desempenho das suas funções.
Artigo 21.º - Poderes
No exercício das suas funções, o Provedor de Justiça tem poderes para:
- Efectuar, com ou sem aviso, visitas de inspecção a todo e qualquer sector da actividade da administração central, regional e local, designadamente serviços públicos e
estabelecimentos prisionais civis e militares, ou a quaisquer entidades sujeitas ao seu controlo, ouvindo os respectivos órgãos e agentes e pedindo as informações, bem como a
exibição de documentos, que reputar convenientes;
- Proceder a todas as investigações e inquéritos que considere necessários ou convenientes, podendo adoptar, em matéria de recolha e produção de provas, todos os
procedimentos razoáveis, desde que não colidam com os direitos e interesses legítimos dos cidadãos;
- Procurar, em colaboração com os órgãos e serviços competentes, as soluções mais adequadas à tutela dos interesses legítimos dos cidadãos e ao aperfeiçoamento da acção
administrativa.
Artigo 29.º - Dever de cooperação
- Os órgãos e agentes das entidades públicas, civis militares, têm o dever de prestar todos os esclarecimentos e informações que lhes sejam solicitados pelo Provedor de Justiça.
- As entidades públicas, civis e militares, prestam ao Provedor de justiça toda a colaboração que por este lhes for solicitada, designadamente informações, efectuando inspecções
através dos serviços competentes e facultando documentos e processos para exame, remetendo-os ao provedor, se tal lhes for pedido.
- O disposto supra não prejudica as restrições legais respeitantes ao segredo de justiça nem a invocação de interesse superior do Estado, nos casos devidamente justificados pelos
órgãos competentes, em questões respeitantes à segurança, à defesa ou às relações internacionais.
- O Provedor de Justiça pode fixar por escrito prazo não inferior a 10 dias para satisfação de pedido que formule com nota de urgência.
- O Provedor de Justiça pode determinar a presença na Provedoria de Justiça, ou noutro qualquer local que indicar e que as circunstâncias justifiquem, de qualquer funcionário
ou agente de entidade pública, mediante requisição à entidade hierarquicamente competente, ou de qualquer titular de órgão sujeito ao seu controlo, a fim de lhes ser prestada a
cooperação devida.
- O incumprimento não justificado do dever de cooperação por parte de funcionário ou agente da administração pública central, regional e local, das Forças Armadas, de
Instituto Público, de empresa pública ou de capitais maioritariamente públicos ou concessionário de serviços públicos ou de exploração de bens de domínio público, constitui
crime de desobediência, sem prejuízo do procedimento disciplinar que no caso couber.
Artigo 30.º - Depoimentos
- O Provedor de Justiça pode solicitar a qualquer cidadão depoimentos ou informações sempre que os julgar necessários para apuramento de factos.
- Em caso de recusa de depoimento ou falta de comparência no dia e hora designados, o Provedor de Justiça pode notificar, mediante aviso postal registado, as pessoas que
devem ser ouvidas constituindo crime de desobediência qualificada a falta injustificada de comparência ou a recusa de depoimento.
Art.º 624.º do Código do Processo Civil - O Provedor de Justiça, goza de prerrogativa de depor, em inquirição, primeiro por escrito, se preferir.

MAGISTRADOS JUDICIAIS
Art.º 16º do EMJ - Lei nº 21/85 de 30 de Julho (alterada Lei 10/94 de 5 de Maio e pela Lei n.º 143/99, de 31 de Agosto) -
PRISÃO PREVENTIVA E BUSCA DOMICILIÁRIA
- Os magistrados judiciais não podem ser presos ou detidos antes de ser proferido despacho que designe dia para
julgamento relativamente a acusação contra si deduzida, salvo em flagrante delito por crime punível com pena de prisão
superior a 3 anos..
Outros direitos e regalias
- Os magistrados judiciais não podem ser responsabilizados pelas suas decisões - n.º 1 do art.º 5.º da Lei 21/85, de 30 de Julho e art.º 216.º da CRP.
- Só nos casos especialmente previstos na Lei os magistrados judiciais podem ser sujeitos em razão do exercício das suas funções, a responsabilidade civil, criminal ou
disciplinar (n.º 2).
Fora dos casos em que a falta constitua crime, a responsabilidade civil apenas pode ser efectividade mediante acção de regresso do Estado contra o respectivo magistrado, com
fundamento em dolo ou culpa grave - n.º 3 do art.º 5.º da Lei n.º 21/85, de 30 de Julho, alterado pela Lei n.º 143/99, de 31 de Agosto.
Os magistrados judiciais são nomeados vitaliciamente, não podendo ser transferidos, suspensos, promovidos aposentados, demitidos ou por qualquer forma mudados de situação
senão nos casos previstos no respectivo estatuto - Art.º 6.º da Lei n.º 21/85, de 30 de Julho.
Em caso de detenção ou prisão, o magistrado judicial é imediatamente apresentado à autoridade judiciária competente.
O cumprimento da prisão preventiva e das penas privativas da liberdade pelos magistrados judiciais ocorrerá em estabelecimento prisional comum, em regime de separação dos
restantes detidos.
Havendo necessidade de busca no domicílio pessoal ou profissional de qualquer magistrado judicial é a mesma, sob pena de nulidade, presidida pelo juiz competente, o qual
avisa previamente o Conselho Superior de Magistratura, para que um membro delegado por este Conselho possa estar presente - Art.º 16.º da Lei n.º 21/85, de 30 de Julho,
alterado pelas Leis n.º 10/94, de 5 de Maio e n.º143/99, de 31 de Agosto.
São direitos especiais dos magistrados judiciais (Art.º 17.º da Lei n.º 21/85, de 30 de Julho, alterada pelas Leis n.º 10/94, de 5 de Maio e n.º143/99, de 31 de Agosto):
- A entrada e livre trânsito em gares, cais de embarque e aeroportos mediante simples exibição do cartão de identidade;
- O uso, porte e manifesto gratuito da arma de defesa, independentemente de licença ou participação;
- A utilização gratuita de transportes colectivos públicos, terrestres e fluviais, de forma a estabelecer pelo Ministério da Justiça, dentro da área da circunscrição em
que exerçam funções e desta para a sua residência;
- Ter telefone em regime de confidencialidade, se para tanto for colhido o parecer favorável do Conselho Superior de Magistratura;
- O acesso, nos termos constitucionais e legais, a bibliotecas e bases de dados documentais públicas, designadamente a dos tribunais superiores, do Tribunal
Constitucional e da Procuradoria-Geral da República;

77
Direito Processual Penal
- A vigilância especial da sua pessoa, família e bens, a requisitar pelo Conselho Superior de Magistratura ou, em caso de urgência, pelo magistrado ao comando da força policial
da área da sua residência, sempre que poderosas razões de segurança o exijam;
- Quando em exercício de funções os juízes têm ainda direito, à entrada e livre trânsito nos navios ancorados nos portos, nas casas e recintos de espectáculos ou outras diversões,
nas associações de recreio e, em geral, em todos os lugares em que se realizem reuniões ou seja permitido o acesso ao público mediante o pagamento de uma taxa, realização de
certa despesa ou apresentação de bilhete que qualquer pessoa possa obter.
- Os Juízes dos Tribunais Superiores e os Membros do Conselho Superior de Magistratura gozam da prerrogativa de depor primeiro por escrito, se preferirem - Art.º 624.º do
Código de Processo Civil.

JUÍZES DO TRIBUNAL CONSTITUCIONAL


Art.º 26.º da Lei n.º 28/82, de 15 de Novembro, alterado pela Lei n.º 13-A/98, de 26 de Fevereiro:
- São aplicáveis aos Juízes do Tribunal Constitucional, com as necessárias adaptações, as normas que regulam a efectivação da responsabilidade civil e criminal dos Juízes do
Supremo Tribunal de Justiça, bem como as normas relativas à respectiva prisão preventiva.
- Movido procedimento criminal contra juiz do Tribunal Constitucional e acusado este por crime praticado no exercício das suas funções, o seguimento do processo depende de
deliberação da Assembleia da República.
- Deduzida acusação contra juiz do Tribunal Constitucional por crime estranho ao exercício das suas funções, o Tribunal decidirá se o juiz deve ou não der suspenso de funções
para o efeito de seguimento do processo, sendo obrigatória a decisão de suspensão quando se trate de crime doloso a que corresponda pena de prisão cujo limite máximo seja
superior a três anos.
- Art.º 30.º da Lei n.º 28/82, de 15 de Novembro - os Juízes do Tribunal Constitucional têm honras, direitos, categorias, tratamento, vencimentos e regalias iguais aos dos Juízes
do Supremo Tribunal de Justiça.
- Art.º 624.º do Código de Processo Civil - Gozam da prerrogativa de depor, em inquirição, primeiro por escrito, se preferirem.
- Art.º 33.º da Lei n.º 28/82, de 15 de Novembro, actualizado pela Lei n.º 13-A/98, de 26 de Fevereiro - os Juízes do Tribunal Constitucional têm direito a passaporte
diplomático.

MAGISTRADOS DO MINISTÉRIO PÚBLICO


Art.º 91º do EMP - Lei nº 47/86 de 15 de Out com as alterações introduzidas pela Lei nº 60/98 de 27 de Agosto
PRISÃO PREVENTIVA
Os Magistrados do Ministério Público não podem ser presos ou detidos antes de ser proferido
despacho que designa dia para julgamento relativamente a acusação contra si deduzida, salvo em
flagrante delito por crime punível com pena de prisão superior a três anos.
Outros direitos e regalias
Art.º 68.º da Lei n.º 47/86, de 15OUT, alterado pelo art.º 90.º da Lei n.º 60/98, de 27AGO:
- O Procurador-Geral da República tem categoria, tratamento e honras iguais aos do Presidente do Supremo Tribunal de Justiça, e usa o trajo profissional que a este compete.
- O Vice-Procurador-Geral da República tem tratamento e honras iguais aos dos Juízes do Supremo Tribunal de Justiça.
- Os Procuradores-Gerais-Adjuntos têm tratamento e honras iguais aos dos Juízes de relação.
- Os Procuradores da República e os Procuradores-Adjuntos têm categoria, tratamento e honras iguais aos dos Juízes dos tribunais junto dos quais exercem funções e usam o
trajo profissional que a estes compete.
- Em caso de detenção ou prisão, o Magistrado é imediatamente apresentado à autoridade judiciária competente.
- O cumprimento de prisão preventiva e de pena privativa da liberdade por magistrados do Ministério Público faz-se em estabelecimento prisional comum, em regime de
separação dos restantes detidos ou presos.
- Havendo necessidade de busca no domicílio pessoal ou profissional de magistrado do Ministério Público, esta é presidida, sob pena de nulidade, pelo juiz competente, que
avisará previamente o Conselho Superior do Ministério Público, a fim de que um membro designado por este Conselho possa estar presente. (Art.º 91.º da Lei n.º 60/98, de
27AGO)
Os Magistrados do Ministério Público têm especialmente direito (Art.º 85.º da Lei 47/86, de 15 de Outubro, alterado pelo art.º 107.º da Lei n.º 60/98, de 27 de Agosto):
- Ao uso, porte e manifesto gratuito de armas de defesa e à aquisição das respectivas munições, independentemente de licença ou participação:
- A entrada e livre trânsito em gares, cais de embarque e aeroportos, mediante simples exibição de cartão de identidade;
- Quando em funções, dentro da área de circunscrição, à entrada livre nos navios ancorados nos portos, nas casas e recintos de espectáculos ou de outras diversões,
nas sedes das associações de recreio e, em geral, em todos os lugares onde se realizem reuniões públicas ou onde seja permitido o acesso ao público mediante o
pagamento de uma taxa, a realização de certa despesa ou apresentação de bilhete que qualquer pessoa possa obter;
- A utilização gratuita de transportes colectivos públicos, terrestres e fluviais, de forma a estabelecer pelo Ministério da Justiça, dentro da área da circunscrição em
que exerçam funções ou quando em serviço entre aquela e a residência;
- A vigilância especial da sua pessoa, família e bens, a requisitar pelo Conselho Superior do Ministério Público ou pelo Procurador-geral distrital, por delegação
daquele, ou, em caso de urgência, pelo magistrado ao comando da força policial da área da sua residência, sempre que poderosas razões de segurança o exijam.
- O Procurador-Geral e o Vice-Procurador-Geral da República e os Membros do Conselho Superior do Ministério Público gozam da prerrogativa de depor primeiro por escrito,
se preferirem - Art.º 624.º do Código de Processo Civil.

JURADOS
Art.º 15º da Lei nº 387-A/87 de 29 de Dezembro
Os jurados não podem, durante o exercício da respectiva função, ser privados da liberdade sem culpa
formada, salvo no caso de detenção em flagrante delito por crime punível com prisão superior a três
anos.

MILITARES – São detidos em flagrante delito por crime punível com pena de prisão. Fora de
flagrante delito, a sua detenção deve ser requisitada aos seus superiores hierárquicos (nº 2 do art.º 124º
do CJM). Em qualquer situação deve-se sempre informar a instituição a que pertencem sobre a
detenção.

DETENÇÃO DE MILITARES - Circular 2152/OP CG/GNR


2- Do acto da detenção, do facto que a motivou e do local e data de apresentação do militar, deverá ser dado conhecimento pelo
meio mais rápido de transmissão, aos seus superiores hierárquicos.
3- A detenção de militares no activo ou na efectividade de serviço, fora de flagrante delito, deverá ser requisitada aos seus superiores
hierárquicos pela Autoridade Judicial ou Tribunal competente (ver nº 2 do art.º 124º do CJM).

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Direito Processual Penal

17.11.2. – ENTIDADES COM OUTROS DIREITOS E REGALIAS


Advogados
- No exercício da sua profissão, o advogado pode solicitar em qualquer tribunal ou repartição pública o
exame de processo, livros ou documentos que não tenham carácter reservado ou secreto, bem como
requerer verbalmente ou por escrito a passagem de certidões, sem necessidade de exibir procuração.
- Os advogados, quando no exercício da sua profissão, têm preferência para ser atendidos por
quaisquer funcionários a quem devam dirigir-se e têm direito de ingresso nas secretarias judiciais -
Artigo 63.º do Estatuto da Ordem dos Advogados - Decreto-Lei n.º 84/84, de 16 de Março.
- O bastonário da Ordem dos Advogados goza da prerrogativa de depor, em inquirição, primeiro por
escrito, se preferir - Art.º 624.º do Código de Processo Civil.
Oficiais Generais das Forças Armadas
- Gozam da prerrogativa de depor primeiro por escrito se preferirem – Art.º 624.º do Código de
Processo Civil).
REGIMES DE EXCEPÇÃO ÀS REGRAS GERAIS DE DETENÇÃO
PRESIDENTE DA REPÚBLICA
NUNCA PODEM SER DETIDOS
DIPLOMATAS (e familiares)
DEPUTADOS
MEMBROS DO GOVERNO
PROVEDOR DE JUSTIÇA NÃO PODEM SER DETIDOS SALVO POR CRIME PUNÍVEL COM PENA
MAGISTRADOS JUDICIAIS DE PRISÃO SUPERIOR A TRÊS ANOS E EM FLAGRANTE DELITO
MAGISTRADOS DO M P
JURADOS
- São sempre detidos em flagrante delito
- Fora de flagrante delito a detenção pode ser requisitada aos seus superiores
MILITARES hierárquicos
- Deve ser comunicada a efectivação da detenção, à instituição a que
pertencem.

17.11.3. – DETENÇÃO DE MENORES – Lei Tutelar Educativa (LTE) - Lei n.º 166/99 de 14 Set.
“Direito à liberdade e Segurança - Artigo 27º da CRP
3. Exceptua-se deste princípio a privação da liberdade, pelo tempo e nas condições que a lei
determinar nos casos seguintes:
e) Sujeição de um menor a medidas de protecção, assistência ou educação em estabelecimento
adequado, decretadas pelo tribunal judicial competente”.
A detenção de menores encontra-se regulada na Lei Tutelar Educativa (LTE). No entanto, esta lei aplica-se apenas a
jovens de idade compreendida entre os 12 e os 16 anos, pelo que, relativamente a factos praticados por menores de 12 anos,
a situação não pode ser avaliada à luz da LTE.
Os menores de 12 anos apenas podem ser alvo da intervenção para promoção dos direitos e protecção da criança e do
jovem, no âmbito da Lei de Protecção de Crianças e Jovens em Perigo (LPCJP), desde que verificada a situação de perigo,
nos termos do art.º 3º, nºs 1 e 2 da (LPCJP), podendo, em casos extremos, ter lugar o encaminhamento do menor para
instituições de acolhimento.
SITUAÇÕES QUE DÃO LUGAR A DETENÇÃO DE MENORES - Artigo 51.º da LTE
• A detenção do menor é efectuada: - n.1
 Em caso de flagrante delito, para, no mais curto prazo, sem nunca exceder 48 horas, ser
apresentado ao juiz, a fim de ser interrogado ou para sujeição de medida cautelar - a);
 Para assegurar a presença imediata ou, não sendo possível, no mais curto prazo, sem nunca
exceder 12 horas, perante o juiz, a fim de ser interrogado ou para aplicação ou execução de
medida cautelar, ou em acto processual presidido por autoridade judicial; (requer mandado
detenção) – b);
 Para sujeição, em regime ambulatório ou de internamento, a perícia psiquiatra ou sobre a
personalidade. (requer mandado detenção) - c).

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Direito Processual Penal

DETENÇÃO FORA DE FLAGRANTE DELITO - Artigo 51.º da LTE


• Tem apenas lugar quando a comparência do menor não poder ser assegurada pelos pais,
representante legal ou pessoa que tenha a sua guarda de facto e faz-se por mandado do Juiz, a
requerimento do Ministério Público durante o inquérito e, depois, mesmo oficiosamente. – n.º 2
SITUAÇÕES ESPECÍFICAS DE DETENÇÃO EM FLAGRANTE DELITO - Artigo 52.º da LTE
• O menor só pode ser detido em flagrante delito por facto qualificado como crime punível com
pena de prisão. – n.º 1
• A detenção só se mantém quando o menor tiver cometido: - n.º 2

 Um facto qualificado como crime contra as pessoas a que corresponda pena máxima,
abstractamente aplicável, de prisão superior a três anos, ou

 Dois ou mais factos, qualificados como crimes a que corresponda pena máxima, abstractamente
aplicável, de prisão superior a três anos, cujo procedimento não dependa de queixa ou de
acusação particular. (só nos crimes públicos)
Nota: Fora dos casos previstos para efeitos de detenção em flagrante delito, nos termos acima referidos, os
OPC’s procedem apenas a identificação do menor.
Alguns exemplos em que apenas há lugar a identificação do menor:

 Nos crimes puníveis só com pena de multa;

 Nos crimes particulares;

 Nos crimes semi-públicos (crimes contra as pessoas) a que corresponda pena máxima,
abstractamente aplicável, de prisão inferior a três anos;

 De um só crime público, (excepto nos crimes contra as pessoas) mesmo que ao facto
corresponda pena máxima, abstractamente aplicável, de prisão superior a três anos;

 De dois ou mais crimes públicos, (excepto nos crimes contra as pessoas) a que
corresponda pena máxima, abstractamente aplicável, de prisão inferior a três anos.
ENTIDADES QUE PROCEDEM À DETENÇÃO - Artigo 52.º da LTE
• Em caso de flagrante delito, procedem à detenção: (n.º 4)
 A autoridade judiciária ou qualquer entidade policial - a);
 Qualquer pessoa, entregando imediatamente o menor a autoridade judiciária ou entidade
policial, quando estas não poderem ser chamada em tempo útil – b).
COMUNICAÇÃO DA DETENÇÃO - Artigo 53.º da LTE
• Salvo quando haja risco de inviabilizar, a detenção fora de flagrante delito é precedida de
comunicação aos pais, representante legal ou pessoa que tenha a guarda de facto do menor; - n.º 1
• Excepto nos casos em que haja risco de inviabilizar, qualquer detenção é comunicada, no mais
curto prazo e pelo meio mais rápido (telefone, fax, etc), aos pais, representante legal ou pessoa que
tenha a guarda de facto do menor. – n.º 2
Nota: Devem ser consideradas as disposições gerais sobre detenções, ou seja a obrigatoriedade da comunicação
imediata da detenção do menor, não requerendo neste caso autorização do detido para o efeito, porque se trata
de menor de 18 anos, conforme o estipulado no artigo 194º n.ºs 3 e 4, por força do artigo 260º alínea b) todos do
CPP.
A QUEM CONFIAR O MENOR - Artigo 54º da LTE
• Quando não for possível apresentá-lo imediatamente ao juiz:
 O menor é confiado aos pais, ao representante legal, a quem tenha a sua guarda de facto ou a
instituição onde se encontre internado; - n.º 1
 Se a confiança do menor nos termos do número anterior não for suficiente para garantir a sua
presença perante o juiz ou para assegurar as finalidades da detenção, o menor é recolhido no
centro educativo mais próximo ou em instalações próprias e adequadas de entidade policial,
sendo-lhe, em qualquer caso, ministrados os cuidados e a assistência médica, psicológica e
social que forem aconselhados pela sua idade, sexo e condições individuais. – n.º 2
Nota: Quando o menor for recolhido em centro educativo ou instalações da entidade policial é apresentado ao
juiz no mais curto prazo, sem nunca exceder 48 horas.

80
Direito Processual Penal

18. - REGIME JURÍDICO DAS CRIANÇAS E JOVENS


A delinquência juvenil tem crescido em espiral nos últimos anos no nosso país, pelo que torna-se
cada vez mais necessária uma prevenção eficaz por parte das autoridades que, em coordenação com
uma política social virada para os problemas da juventude, procure fazer face a este fenómeno que se
desenvolve principalmente nas periferias das grandes cidades. Não é raro encontrar actualmente jovens
que praticam assiduamente furtos, roubos, que se constituem em “gangs” urbanos, que traficam droga,
etc, sendo muitas vezes explorados ou controlados por pessoas que se aproveitam da sua condição.
Sendo os jovens até aos 16 anos inimputáveis (artigo 19º Código Penal) e estando os jovens
maiores de 16 anos e menores de 21 anos abrangidos por normas fixadas em legislação especial (D.L.
n.º 401/82 de 23 de Set.) no âmbito criminal, de acordo com o artigo 9º do Código Penal, o combate à
criminalidade juvenil através da repressão é quase inconsequente. A aposta terá sempre que passar pela
prevenção, educação e protecção dos jovens que se encontrem em situações passíveis de os conduzir à
criminalidade.
Para fazer face a esta problemática foram criados em 1999 dois diplomas que devem ser,
obrigatoriamente, do conhecimento das entidades policiais, devido ao papel preponderante que estas
poderão desempenhar na resolução dos problemas de delinquência em que os “agentes” sejam crianças
ou jovens.
Os diplomas em causa são:
 LEI TUTELAR EDUCATIVA, aprovada pela lei nº 166/99 de 14 de Setembro, que define as
Medidas Tutelares Educativas e formas processuais de aplicação dessas medidas aos
menores pela prática de facto qualificado pela lei como crime;
 LEI DE PROTECÇÃO DE CRIANÇAS E JOVENS EM PERIGO, aprovada pela lei nº
147/99 de 1 de Setembro, alterada pela Lei n.º 31/2003 de 22 de Agosto, que estabelece a
promoção dos direitos e a protecção das crianças e dos jovens em perigo.
Estes dois diplomas vieram complementar a Organização Tutelar de Menores, aprovada pelo
Decreto-Lei nº 314/78 de 27 de Outubro (alterada pelos Decretos-Leis nºs 185/93 de 22 de Maio,
48/95 de 15 de Março, 58/95 de 31 de Março, 120/98 de 8 de Maio e pelas Leis nºs 133/99 de 28 de
Agosto, 166/99 de 14 de Setembro e 147/99 de 1 de Setembro, esta última já alterada pela lei 31/2003
de 22 de Agosto).
18.1. - LEI TUTELAR EDUCATIVA (LTE) – aprovada pela lei nº 166/99 de 14 de Setembro.
A Lei Tutelar Educativa (LTE) tem como âmbito a prática, por menor com idade compreendida
entre os 12 e os 16 anos, de facto qualificado pela lei como crime, definindo as medidas tutelares
educativas assim como as regras de aplicação das referidas medidas.
A LTE tem afinidades com o Código de Processo Penal, isto é, constitui, de certa forma, um
código de processo penal para os mais jovens.
Neste contexto os menores de 12 anos que pratiquem factos classificados como crimes ficam
abrangidos pela LEI DE PROTECÇÃO DE CRIANÇAS E JOVENS EM PERIGO, aprovada pela lei nº
147/99 de 1 de Setembro, alterada pela Lei n.º 31/2003 de 22 de Agosto.
As normas jurídicas em causa surgem no âmbito de uma necessidade premente de educação da
criança/jovem para o direito, de forma a responsabilizar o mesmo pela atitude delinquente, procurando
desta forma satisfazer as exigências comunitárias de segurança e paz social, não deixando no entanto
de estabelecer a protecção dos direitos das crianças, para as responsabilizar pela forma de estar na vida
em sociedade.
Dos princípios consignados, há a salientar a intervenção tutelar educativa que apenas tem lugar
quando ocorre uma situação desviante entre os pais e a criança ou jovem.
LEI TUTELAR EDUCATIVA (LTE)
O QUE ESTABELECE? – Artigos 1º e 5º da LTE
 Define as medidas Tutelares Educativas e formas processuais de aplicação dessas medidas ao
menor com idade compreendida entre os 12 e os 16 anos pela prática de facto qualificado pela lei
como crime.
 A execução das medidas tutelares pode prolongar-se até o jovem completar 21 anos.

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Direito Processual Penal

QUAL A FINALIDADE DAS MEDIDAS TUTELARES EDUCATIVAS? – Artigo 2º da LTE


 Visam a educação do menor para o direito e a sua inserção de forma digna e responsável na vida
da comunidade. – nº 1
QUAIS AS MEDIDAS TUTELARES EDUCATIVAS? – Artigo 4º da LTE
São medidas tutelares: - n.º 1
 Admoestação;
 A privação do direito de conduzir ciclomotores ou de obter permissão para os conduzir;
 A reparação ao ofendido;
 As prestações económicas ou realização de tarefas a favor da comunidade;
 A imposição de regras de conduta;
 A imposição de obrigações;
 A frequência de programas formativos;
 O acompanhamento educativo;
 O internamento em centro educativo:
 Medida institucional, todas as outras são não institucionais. – n.º 2
 Pode ser em regime aberto, semiaberto ou fechado. – n.º 3
QUAIS OS TRIBUNAIS COMPETENTES PARA APLICAÇÃO DAS MEDIDAS?
 O Tribunal de família e menores. (Artigo 28º da LTE)
 O Tribunal de comarca, fora das áreas de jurisdição do tribunal de família e menores. (Artigo 29º
da LTE)
 Em termos de competência territorial, a prioridade é a seguinte (Artigo 31º da LTE):
1.º O Tribunal de residência do menor, no momento em que for instaurado o processo; - n.º 1
2.º O Tribunal de residência dos titulares do poder paternal, quando é desconhecida a residência do
menor; - n.º 2
3.º O Tribunal da residência daquele a cuja guarda o menor estiver confiado, quando os titulares do
poder paternal tiverem diferentes residências; - n.º 3
4.º O Tribunal do local da prática dos factos ou do local onde o menor for encontrado, na
impossibilidade das anteriores situações. - n.º 4
QUAIS OS DIREITOS DO MENOR? – Artigo 45º da LTE
 A participação do menor em qualquer diligência processual, ainda que sob detenção ou guarda,
faz-se de modo que se sinta livre na sua pessoa e com o mínimo de constrangimento. - n.º 1
 Em qualquer fase do processo, o menor tem especialmente direito a (n.º 2):
 Ser ouvido pela autoridade judiciária (O Juiz, o juiz de instrução e o Ministério público – artigo
1º, b) do CPP), oficiosamente ou a requerimento;
 Não responder a perguntas feitas por qualquer entidade sobre os factos que lhe são imputados
ou sobre o conteúdo de declarações que o mesmo tenha prestado sobre tais factos;
 Não responder sobre a sua conduta, carácter ou personalidade;
 Ser assistido quando o solicite, por especialista em psiquiatria ou psicologia;
 Ser assistido por defensor em todos os actos processuais e comunicar com ele em privado,
quando detido;
 Ser acompanhado pelos pais, representante legal, pessoa que tiver a sua guarda de facto ou
defensor, podendo estes exercer tal direito em nome do menor;
 Oferecer provas ou requerer diligências;
 Ser informado dos direitos que lhe assistem, podendo os pais, representante legal, pessoa que
tiver a sua guarda de facto ou defensor exercer esse direito;
 Recorrer das decisões que lhe forem desfavoráveis, nos termos da lei
 O menor não presta juramento em caso algum. – n.º 3
Nota:
Também o artigo 91º n.º 6 do CPP estipula que os menores de 16 anos não prestam juramento como
testemunhas e compromisso no caso de peritos e intérpretes.

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NOMEAÇÃO DE DEFENSOR – Artigo 46º da LTE


 O menor, os pais o representante legal ou a pessoa que tenha a sua guarda de facto podem
constituir ou requerer a nomeação de defensor, em qualquer fase do processo. – n.º 1
 Não tendo sido anteriormente constituído ou nomeado, a autoridade judiciária nomeia defensor
no despacho em que determine a audição ou a detenção do menor. – n.º 2
Nota:
O artigo 64º n.º 1 c) do CPP, prevê a obrigatoriedade de assistência do defensor, na prática de qualquer
acto processual, em que participe menor de 21 anos.
AUDIÇÃO DO MENOR - Artigo 47º da LTE
 É sempre realizada pela autoridade judiciária, podendo esta designar um técnico de serviço social
ou outra pessoa especialmente habilitada para acompanhar o menor em acto processual e,
proporcionar-lhe apoio psicológico.

INIMPUTABILIDADE EM RAZÃO DE ANOMALIA PSÍQUICA - Artigo 49º da LTE


 Quando se verificar que o menor sofre de anomalia psíquica que o impede de compreender o
sentido da intervenção tutelar, o processo é arquivado;
 Quando o menor sofre de anomalia psíquica, o Ministério Público encaminha o menor para os
serviços de saúde mental, podendo providenciar o internamento compulsivo, se for caso disso;
 O despacho de arquivamento é notificado ao menor, aos pais, representante legal ou pessoa que
tenha a sua guarda de facto e ao ofendido.

MEDIDAS CAUTELARES - Artigo 57º da LTE


 São medidas cautelares:
 Entrega do menor aos pais, representante legal, pessoa que detenha a sua guarda de facto ou
pessoa idónea, com imposição de obrigações ao menor; - a)
 A guarda do menor em instituição pública ou privada; - b)
 A guarda do menor em centro educativo. – c)

APLICAÇÃO DAS MEDIDAS CAUTELARES - Artigo 59º da LTE


 São aplicadas por despacho do juiz, a requerimento do Ministério Público durante o inquérito e,
posteriormente, mesmo oficiosamente. – n.º 1
 A aplicação de medidas cautelares exige a audição prévia do Ministério Público, se não for o
requerente, do defensor e, sempre que possível, dos pais, representante legal ou pessoa que tenha a
guarda de facto do menor. – n.º 2
 O despacho do juiz que aplica as medidas cautelares é notificado ao menor e comunicado aos pais,
representante legal ou pessoa que tenha a sua guarda de facto. – n.º 3
QUEM PRESTA DECLARAÇÕES E ESTÁ SUJEITO A INQUIRIÇÕES? – Artigo 66º da LTE
 Os pais, o representante legal ou quem tenha a guarda de facto do menor (mas não são
ajuramentados). – n.º 1
 É permitida a inquirição do menor sobre factos relativos à personalidade e ao carácter, bem como
às suas condições pessoais e à sua conduta anterior e posterior. – n.º 2
 O ofendido e as testemunhas quando tenham idade inferior a 16 anos, são inquiridos pela
autoridade judiciária. – n.º 3
QUAIS OS REQUISITOS DA CONVOCAÇÃO DE MENORES? - Artigo 67º da LTE
 As testemunhas ou quaisquer outros participantes processuais com idade inferior a 18 anos são
convocados na sua pessoa e nas pessoas dos pais, representante legal ou quem tiver a sua guarda de
facto, podendo o juiz fazer recair sobre estes as sanções devidas por falta injustificada.
MEIOS DE OBTENÇÃO DE PROVA
ACAREAÇÃO - Artigo 70º da LTE
 A prova por acareação em que intervenha o menor é ordenada pela autoridade judiciária e tem
lugar na sua presença.
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Direito Processual Penal

INFORMAÇÃO E RELATÓRIO SOCIAL- Artigo 71º da LTE


 Podem utilizar-se como meios de obtenção da prova a informação e o relatório social. – n.º 1
 A informação e o relatório social têm por finalidade auxiliar a autoridade judiciária no
conhecimento da personalidade do menor, incluída a sua conduta e inserção sócio-económica,
educativa e familiar. – n.º 2
 A informação é ordenada pela autoridade judiciária e pode ser solicitada aos serviços de reinserção
social ou a outros serviços públicos ou entidades privadas, devendo ser apresentada no prazo de 15
dias. – n.º 3
 O relatório social é ordenado pela autoridade judiciária e solicitado aos serviços de reinserção
social, devendo ser apresentado no prazo máximo de 30 dias. (…)– n.º 4
DENÚNCIA DE CRIME PRATICADO POR MENOR (idade compreendida entre os 12 e os 16 anos)
DENÚNCIA FACULTATIVA – Artigo 72º da LTE
 Qualquer pessoa pode denunciar ao Ministério Público ou a órgão de polícia criminal facto
qualificado pela lei como crime. – n.º 1
 Se o facto for qualificado como crime cujo procedimento depende de queixa (semi-público), ou de
acusação particular (Particular), a legitimidade para a denúncia cabe ao ofendido. – n.º 2
 A denúncia não está sujeita a formalismo especial, mas deve, sempre que possível, indicar os meios
de prova. – n.º 3
 A denúncia apresentada a órgão de policia criminal é transmitida, no mais curto prazo, ao
Ministério Público. – n.º 4
DENÚNCIA OBRIGATÓRIA – Artigo 73º da LTE
 Tratando-se de crime público, a denúncia é obrigatória: - n.º 1
 Para os órgãos de polícia criminal, quanto a factos de que tomem conhecimento; - a)
 Para os funcionários, quanto a factos de que tomem conhecimento no exercício das suas
funções e por causa delas. – b)
 A denúncia ou a transmissão da denúncia feita por órgão de polícia criminal é, sempre que
possível, acompanhada de informação que puder obter sobre a conduta anterior do menor e sua
situação familiar, educativa e social. Se não puder acompanhar a denúncia, a informação é
apresentada no prazo máximo de oito dias. – n.º 2
DIRECÇÃO DO INQUÉRITO - Artigo 75º da LTE
 O inquérito é dirigido pelo Ministério Público, assistido por órgãos de polícia criminal e por
serviços de reinserção social. – n.º 1
 O inquérito compreende o conjunto de diligências que visam investigar a existência de facto
qualificado pela lei como crime e determinar a necessidade de educação do menor para o direito,
com vista à decisão sobre a aplicação de medida tutelar. – n.º 2
 O prazo para a conclusão do inquérito é de três meses, podendo, mediante despacho fundamentado,
ser prorrogado por mais três meses, em razão de especial complexidade. – n.º 4
SITUAÇÕES QUE PODEM DAR LUGAR AO ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO
ARQUIVAMENTO LIMINAR - Artigo 78º da LTE
 O Ministério Público procede ao arquivamento liminar do inquérito quando, sendo o facto
qualificado como crime punível com pena de prisão de máximo não superior a um ano e, perante
a informação (que acompanha a denúncia feita por órgão de polícia criminal – n.º 2 do art.º 73º da
LTE), se revelar desnecessária a aplicação de medida tutelar face à reduzida gravidade dos factos, à
conduta anterior e posterior do menor e à sua inserção familiar, educativa e social. - n.º 1
 O despacho de arquivamento é comunicado ao menor e aos pais, ao representante legal ou a pessoa
que tenha a sua guarda de facto. – n.º 3
 O despacho de arquivamento é também notificado ao ofendido. – n.º 4
ARQUIVAMENTO (outros casos) - Artigo 87º da LTE
 O Ministério Público arquiva o inquérito logo que conclua pela: - n.º 1

 Inexistência do facto; - a)

 Insuficiência de indícios da prática do facto; - b)
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 Desnecessidade de aplicação de medida tutelar, sendo o facto qualificado como crime punível
com pena de prisão de máximo não superior a três anos. - c)
 “O despacho de arquivamento é comunicado ao menor e aos pais, ao representante legal ou a
pessoa que tenha a sua guarda de facto”. – n.º 2
SITUAÇÕES DE RECURSO A MEDIDA COMPULSÓRIA - Artigo 103º da LTE
 Se se tornar necessário para assegurar a realização da audiência, o juiz emite mandados de detenção
do menor e determina as diligências necessárias para a realização da audiência no mais curto prazo
que não pode exceder doze horas. - n.º 1
 O recurso a medida compulsória (detenção fora de flagrante delito – n.º 2 do art.º 51º da LTE) tem
apenas lugar quando a comparência do menor não puder ser assegurada pelos pais, representante
legal ou pessoa que tenha a sua guarda de facto. – n.º 2
DIREITO SUBSIDIÁRIO E CASOS OMISSOS - Artigo 128º da LTE
 Aplica-se subsidiariamente às disposições deste titulo o Código de Processo Penal. - n.º 1
 Nos casos omissos observam-se as normas do processo civil que se harmonizem com o processo
tutelar. - n.º 2
COLABORAÇÃO DAS AUTORIDADES POLICIAIS COM O TRIBUNAL
APRESENTAÇÃO DO MENOR NO CENTRO EDUCATIVO PARA EXECUÇÃO DE MEDIDA DE
INTERNAMENTO - Artigo 151º da LTE
 O tribunal notifica o menor, os pais, o representante legal ou quem tenha a sua guarda de facto e o
defensor, da data e hora de admissão no centro educativo. – n.º 1
 No caso de a medida aplicada ser executada em centro educativo de regime aberto ou semiaberto, o
tribunal notifica igualmente os pais, o representante legal ou quem tenha a sua guarda de facto para
que o apresentem no centro educativo, na data e hora fixadas, dando conhecimento aos serviços de
reinserção social, a quem aqueles podem solicitar apoio. – n.º 2
 O tribunal emite mandado de condução, a cumprir por entidades policiais, no caso de a medida ser
de executar em centro educativo de regime fechado ou quando a apresentação do menor (em centro
educativo de regime aberto ou semi-aberto), não possa ou não tenha podido realizar-se por causa
imputável ao menor, aos pais, ao representante legal ou a quem tenha a sua guarda de facto. - n.º 3
 A menos que o tribunal o proíba, (no caso de mandado de condução a cumprir por entidades
policiais) não obsta a que o menor possa ser acompanhado por um dos pais, representante legal ou
quem tenha a sua guarda de facto, se as condições da viatura das entidades encarregadas da
apresentação o permitirem. – n.º 4
 No caso de o menor já se encontrar internado em centro educativo diferente do fixado para a
execução da medida, a sua condução ao novo centro cabe aos serviços de reinserção social, (sem
exclusão de recurso às entidades policiais, em último caso). – n.º 5
APRESENTAÇÃO DO MENOR NO CENTRO EDUCATIVO PARA EXECUÇÃO DE OUTROS
INTERNAMENTOS - Artigo 153º da LTE
 Nos casos específicos para:
 a execução da medida cautelar de guarda em centro educativo;
 internamento a fim da realização de perícia sobre a personalidade;
 cumprimento da detenção;
 internamento em fins-de-semana.
“O tribunal notifica o menor, os pais, o representante legal ou quem tenha a sua guarda de facto e
o defensor, da data e hora de admissão no centro educativo”. – n.º 1
 Nos casos de:
 internamento a fim da realização de perícia sobre a personalidade;
 internamento em fins-de-semana.
“O tribunal notifica igualmente os pais, o representante legal ou quem tenha a sua guarda de facto para
que o apresentem no centro educativo, na data e hora fixadas. Pode o tribunal emitir mandado de
condução, a cumprir por entidades policiais, quando a apresentação do menor não possa ou não tenha
podido realizar-se por causa imputável ao menor, aos pais, ao representante legal ou a quem tenha a sua
guarda de facto”. – n.º 2
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Direito Processual Penal

 O tribunal emite mandado de condução ao centro educativo, a cumprir pelas entidades policiais,
para a execução da detenção e da medida cautelar de guarda, podendo o menor, a menos que o
tribunal o proíba ser acompanhado por um dos pais, representante legal ou quem tenha a sua guarda
de facto, se as condições da viatura o permitirem. – n.º 3
AUSÊNCIA NÃO AUTORIZADA DO MENOR - Artigo 155º da LTE
 Considera-se ausência não autorizada a fuga e o não regresso ao centro, após uma saída autorizada.
– n.º 1
 Cabe ao tribunal determinar que a localização e recondução do menor ausente sem autorização seja
feita, se necessário, por entidades policiais, emitindo mandado de condução. – n.º 4

ALGUNS EXEMPLOS PRÁTICOS (atenção: situações não consensuais)


 Jovens com idade compreendida entre os 12 e os 16 anos, em flagrante delito na prática de:
 Furto Qualificado - é detido, porém a detenção não se mantém porque o crime não é contra
pessoas.
 Homicídio - é detido e mantido sob detenção até ser presente ao juiz.
 Roubo - O autor do crime é detido, porém a detenção não se mantém. O crime de roubo não é
entendido como um crime contra pessoas.

18.2. - LEI DE PROTECÇÃO DE CRIANÇAS E JOVENS EM PERIGO (LPCJP) aprovada pela Lei nº
147/99 de 1 de Setembro alterada pela Lei nº 31/2003 de 22 de Agosto.
Esta Lei trouxe novos princípios pelos quais se privilegia o interesse superior da criança ou do
jovem. Define também uma intervenção mínima e precoce das entidades públicas de forma a obviar o
perigo, responsabilizando os pais para as respostas ao perigo; só quando não é possível a intervenção
da família é que se avança para outras soluções jurídicas.
Estabelece o direito a privacidade da criança ou do jovem e da sua família evitando a difusão das
notícias sobre os factos em que estejam envolvidos através dos meios de comunicação, das polícias ou
do apoio social. Estabelece ainda o direito da criança ou do jovem ser informado, assim como a
audição obrigatória da criança a partir dos 12 anos de idade, a participação dos pais ou daquele que
detiver o poder paternal na resposta a encontrar relativamente ao perigo em causa, para efeito de
reintegração do menor.
A intervenção das autoridades públicas (lares de protecção de crianças e jovens e as comissões
de protecção) deve em primeiro ser efectuada de modo consensual com os pais ou quem detiver o
poder paternal, verificando-se a intervenção judiciária apenas nas situações em que não há
consentimento dos pais ou daquele que detém a guarda de facto da criança/jovem, ou quando esta se
opõe a intervenção da comissão de protecção.
Há legitimidade das entidades públicas, (Tribunal, Ministério Público e Polícias) em caso de
perigo de vida ou para a integridade física da criança ou jovem, mesmo sem consentimento do poder
paternal, para proceder à entrada, durante o dia (não esquecer o art.º 177º CPP – Busca Domiciliária),
em qualquer casa para retirar a criança ou o jovem do perigo em que se encontrar, requerendo sempre
esta acção uma coordenação com as autoridades judiciais.
LEI DE PROTECÇÃO DE CRIANÇAS E JOVENS EM PERIGO (LPCJP)
O QUE ESTABELECE? - Artigo 1º da LPCJP
▪ A promoção dos direitos e a protecção das crianças e dos jovens em perigo, por forma a garantir o
seu bem-estar e desenvolvimento integral.
QUAL O ÂMBITO DE APLICAÇÃO? - Artigo 2º da LPCJP
▪ Aplica-se às crianças e dos jovens em perigo que residam ou se encontrem em território nacional.
ATÉ QUE IDADE? - Artigo 5º da LPCJP
▪ Criança ou jovem - a pessoa com menos de 18 anos ou a pessoa com menos de 21 anos que solicite
a continuação da intervenção iniciada antes de atingir os 18 anos. – a)

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LEGITIMIDADE DE INTERVENÇÃO - Artigo 3º da LPCJP


QUANDO TÊM LUGAR A INTERVENÇÃO DAS AUTORIDADES E INSTITUIÇÕES? – nº 1
▪ Quando os pais, o representante legal ou quem tenha a guarda de facto da criança e do jovem ponha
em perigo a sua segurança, saúde, formação, educação ou desenvolvimento, ou quando esse perigo
resulte de acção ou omissão de terceiros ou da própria criança ou do jovem a que aqueles não se
oponham de modo adequado a removê-lo.
QUAIS AS SITUAÇÕES QUE INDICIAM PERIGO PARA A CRIANÇA OU O JOVEM? – nº 2
▪ Está abandonada ou vive entregue a si própria;
▪ Sofre maus tratos físicos ou psíquicos ou é vítima de abusos sexuais;
▪ Não recebe os cuidados ou a afeição adequados à sua idade e situação pessoal;
▪ É obrigada a actividades ou trabalhos excessivos ou inadequados à sua idade, dignidade e situação
pessoal ou prejudiciais à sua formação ou desenvolvimento;
▪ Está sujeita, de forma directa ou indirecta, a comportamentos que afectem gravemente a sua
segurança ou o seu equilíbrio emocional;
▪ Assume comportamentos ou se entrega a actividades ou consumos que afectem gravemente a sua
saúde, segurança, formação, educação ou desenvolvimento sem que os pais, o representante legal
ou quem tenha a guarda de facto se lhes oponham de modo adequado a remover essa situação.

QUAIS OS PRINCÍPIOS A TER EM CONTA NA INTERVENÇÃO? - Artigo 4º da LPCJP


▪ Interesse superior da criança e do jovem.
(atender prioritariamente aos interesses e direitos da criança e do jovem, sem prejuízo dos interesses
legítimos no âmbito da pluralidade social);
▪ Privacidade.
(respeito pela intimidade, direito à imagem e reserva da sua vida privada);
▪ Intervenção precoce.
(intervir logo que a situação de perigo seja conhecida);
▪ Intervenção mínima.
(apenas pelas entidades e instituições cuja acção seja indispensável);
▪ Proporcionalidade e actualidade.
(a intervenção deve ser a necessária e adequada à situação de perigo e só pode interferir na vida da
criança ou jovem e na da sua família na medida do que for estritamente necessário a essa finalidade);
▪ Responsabilidade parental.
(os pais devem assumir os seus deveres para com a criança e o jovem);
▪ Prevalência da família.
(deve ser dada prioridade às medidas que integrem a criança e o jovem na sua família ou que promovam a
sua adopção);
▪ Obrigatoriedade da informação.
(a criança e o jovem, os pais, o representante legal ou a pessoa que tenha a sua guarda de facto têm direito
a ser informados dos seus direitos);
▪ Audição obrigatória e participação.
(a criança e o jovem, em separado ou na companhia dos pais ou de pessoa por si escolhida, bem como os
pais, o representante legal ou a pessoa que tenha a sua guarda de facto, têm direito a ser ouvidos e a
participar nos actos levados a cabo pelas entidades e instituições);
▪ Subsidiariedade.
(a intervenção deve respeitar a ordem que a lei define: entidades competentes em matéria de infância e
juventude, comissões de protecção de crianças e jovens e por último os tribunais).

QUE ENTIDADES PODEM / DEVEM INTERVIR? - Artigo 6º da LPCJP


▪ Entidades com competência em matéria de infância e juventude (lares de infância e juventude), as
Comissões de Protecção de crianças e jovens (antigas Comissões de Protecção de menores) e os
tribunais. Também as entidades policiais, embora a legislação não seja explícita nesse sentido.

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QUAL A PRIORIDADE DE INTERVENÇÃO?


1. LARES DE INFÂNCIA E JUVENTUDE: - Artigo 7º da LPCJP
▪ A intervenção desta entidade é efectuada de modo consensual com os pais, representantes legais ou
com quem tenha a guarda de facto da criança ou do jovem.
2. COMISSÕES DE PROTECÇÃO DE CRIANÇAS E JOVENS: - Artigos 8º, 9º e 10º da LPCJP
▪ A intervenção das comissões de protecção de crianças e jovens tem lugar quando não seja possível
às entidades “Lares de infância e Juventude” actuar de forma adequada e suficiente a remover o
perigo em que se encontram.
▪ Esta intervenção depende, regra geral, do consentimento do encarregado de educação para crianças
com idade até 12 anos, ou da não oposição da criança ou jovem com idade igual ou superior a 12
anos.
3. AUTORIDADE JUDICIAL: - Artigo 11º da LPCJP
▪ A intervenção judicial tem lugar quando:
 Na ausência da comissão de protecção na área de residência da criança ou jovem, ou quando a
comissão não tenha competência para aplicar a medida de promoção e protecção adequada;
 Na falta de consentimento de quem de direito à intervenção da comissão de protecção ou
quando o acordo de promoção de direitos e de protecção não seja cumprido;
 A criança ou o jovem se oponham à intervenção da comissão de protecção, nos termos legais;
 A comissão de protecção não obtenha a disponibilidade dos meios necessários para aplicar ou
executar a medida que considere adequada, (por oposição de um serviço ou entidade);
 Decorridos seis meses após o conhecimento da situação pela comissão de protecção não tenha
sido proferida qualquer decisão;
 O Ministério Público considere que a decisão da comissão de protecção é ilegal ou inadequada
à promoção dos direitos ou à protecção da criança ou do jovem;
 O tribunal decida a apensação do processo da comissão de protecção ao processo judicial, por o
juiz entender que existe ou pode existir incompatibilidade nas medidas ou decisões da
comissão, (em caso de processos sucessivos relativamente à mesma criança - n.º 2 do art.º 81º
da LPCJP.)

TEM O DEVER DE COLABORAR COM AS COMISSÕES DE PROTECÇÃO - Artigo 13º da LPCJP


▪ As autoridades administrativas e entidades policiais, no exercício das suas atribuições.
▪ As pessoas singulares e colectivas , que para tal sejam solicitadas.

TIPOS DE COMISSÕES DE PROTECÇÃO DE CRIANÇAS E JOVENS


MODALIDADE ALARGADA( funcionamento não permanente) - Artigo 17º da LPCJP
▪ A comissão alargada deve ser composta por representantes do município, da segurança social, dos
serviços do Ministério da Educação (professor), dos serviços de saúde (médico), das instituições
particulares de solidariedade social ou outras organizações não governamentais, das associações de
pais, de outras associações ou organizações privadas, das associações de jovens, das forças de
segurança – GNR e/ou PSP, da assembleia municipal e técnicos com formação em serviço social,
psicologia, saúde ou direito.
MODALIDADE RESTRITA (funcionamento permanente) - Artigo 20º da LPCJP
▪ A comissão restrita é composta por um número ímpar, nunca inferior a cinco dos membros que
integram a comissão alargada.
▪ Esses membros em regra são o presidente da comissão de protecção, os representantes do município
ou das freguesias, da segurança social, de instituições particulares de solidariedade social ou de
organizações não governamentais.
▪ A comissão deve incluir, sempre que possível, pessoas com formação nas áreas de serviço social,
psicologia e direito, educação e saúde.
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Direito Processual Penal

QUE TIPOS DE MEDIDAS DE PROMOÇÃO E DE PROTECÇÃO EXISTEM? - Artigo 35º da LPCJP


▪ Apoio junto dos pais;
▪ Apoio junto de outro familiar;
▪ Confiança a pessoa idónea;
▪ Apoio para a autonomia de vida;
▪ Acolhimento familiar;
▪ Acolhimento em instituição;
▪ Confiança a pessoa seleccionada para a adopção ou a instituição com vista a futura adopção.
COMUNICAÇÃO DAS SITUAÇÕES DE PERIGO
ENTIDADES POLICIAIS E AS AUTORIDADES JUDICIÁRIAS - Artigo 64º da LPCJP
▪ comunicam às comissões de protecção as situações de crianças e jovens em perigo de que tenham
conhecimento no exercício das suas funções, sem deixar no entanto, no caso das autoridades
judiciárias, de adoptar as providências tutelares cíveis adequadas.
QUALQUER PESSOA - Artigo 66º da LPCJP
▪ Pode comunicar as situações de crianças e jovens em perigo de que tenha conhecimento, às
entidades com competência em matéria de infância ou juventude, às entidades policiais, as
comissões de protecção ou às autoridades judiciárias. - nº 1
▪ É obrigada a comunicar às entidades ou instituições competentes, sempre que tenha conhecimento
de situações que ponham em risco a vida, a integridade física ou psíquica ou a liberdade da criança
ou do jovem. - nº 2 (há uma certa contraposição com o disposto no art.º 244º do CPP – Denúncia
Facultativa)
▪ Sempre que os lares de infância, entidades policiais e autoridades judiciárias tomem conhecimento
de situações de crianças e jovens em perigo, procedem ao estudo sumário da situação e
proporcionam a protecção compatível com as suas atribuições, dando conhecimento da situação à
comissão de protecção sempre que entendam que a sua intervenção não é adequada ou suficiente. -
nº 3
CRIMES COMETIDOS CONTRA CRIANÇAS E JOVENS - Artigo 70º da LPCJP
▪ Sempre que os factos que tenham determinado a situação de perigo constituam crime, as entidades
com competência em matéria de infância e juventude e a Comissões de Protecção de crianças e
jovens devem comunicá-los ao Ministério Público ou às entidades policiais, não cessando no
entanto a intervenção daquelas.
COMPETÊNCIA PARA APLICAR AS MEDIDAS DE PROMOÇÃO E PROTECÇÃO - Artigo 79º da
LPCJP
▪ A Comissão de Protecção ou o Tribunal da área da residência da criança ou do jovem em que é
recebida a comunicação da situação ou instaurado o processo judicial. – n.º 1
PROCEDIMENTOS DE URGÊNCIA QUANDO EXISTA PERIGO ACTUAL OU IMINENTE PARA A
VIDA OU INTEGRIDADE FÍSICA DA CRIANÇA OU DO JOVEM (HAVENDO OPOSIÇÃO DOS
DETENTORES DO PODER PATERNAL OU DE QUEM TENHA A GUARDA DE FACTO) – Artigos 91º e
92º da LPCJP
▪ As entidades com competência em matéria de infância e juventude e as comissões de protecção
tomam as medidas adequadas para a protecção imediata da criança ou jovem e solicitam a
intervenção do tribunal ou das entidades policiais.
▪ As entidades policiais dão conhecimento, de imediato, ao Ministério Público das situações de
perigo de que tenham conhecimento.
▪ Enquanto não for possível a intervenção do tribunal, as autoridades policiais retiram a criança ou o
jovem do perigo em que se encontra e asseguram a sua protecção de emergência em casa de
acolhimento temporário, nas instalações das entidades com competência em matéria de infância e
juventude ou em outro local adequado.
▪ O Ministério Público, após conhecimento das situações de perigo, requer imediatamente ao tribunal
competente procedimento judicial urgente.

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Direito Processual Penal

▪ O tribunal, a requerimento do Ministério Público, profere decisão provisória, no prazo de quarenta e


oito horas, confirmando as providências tomadas para a imediata protecção da criança ou do jovem,
aplicando qualquer uma das medidas (de promoção ou protecção – art.º 35º), ou determinando o
que tiver por conveniente relativamente ao destino da criança ou do jovem.
▪ O tribunal procede às averiguações sumárias e indispensáveis e ordena as diligências necessárias
para assegurar a execução das suas decisões, podendo recorrer às entidades policiais e permitir às
pessoas a quem incumba do cumprimento das suas decisões a entrada, durante o dia, em qualquer
casa.

18.3. - A INTERVENÇÃO DAS ENTIDADES POLICIAIS


▪ A LTE e a LPCJP, de modo geral, pressupõem para às polícias o seguinte:
 Uma intervenção de forma preventiva, comunicando as situações de perigo à Comissão de
Protecção.
 Uma intervenção de forma coordenada com as entidades competentes em matéria de infância e
juventude.
 Uma intervenção efectiva em situações de perigo à solicitação do tribunal.
 Que a realização do inquérito seja obrigatória para o MP (a lei impõe que a sua realização não
seja delegada nos OPC).
 A obrigatoriedade de assistência em conjunto com os serviços de Reinserção Social, ao
Ministério Público, durante o Inquérito.
 A autonomia da decisão judicial em face dos meios de prova (por exemplo: buscas
domiciliárias fora das horas previstas no art.º 177º do CPP, violando as normas jurídicas
gerais, são meios de prova nulos).

18.4. - PREVENÇÃO E INVESTIGAÇÃO A DESENVOLVER PELAS ENTIDADES POLICIAIS


▪ Identificar as crianças e jovens quando suspeitos da prática de factos classificados como crime,
procedendo à sua detenção se for caso disso, comunicando a detenção aos pais, representante legal
ou pessoa que tenha a sua guarda de facto, no mais curto prazo e pelo meio mais rápido.
▪ Recolher o menor em instalações próprias, quando não seja possível confiá-lo ao poder paternal, em
situações que decorrem da impossibilidade na apresentação perante o tribunal.
▪ Fazer acompanhar a denúncia ou transmissão de denúncia feita de informação que retracte a
conduta anterior da criança ou jovem e a sua situação familiar, educacional e social.
▪ Elaborar relatório social – breve informação sobre o jovem, o que pratica, como costuma actuar, de
forma a permitir um conhecimento sobre a personalidade, conduta, situação sócio-económica,
educativa e familiar da criança ou jovem (servindo de base às decisões do MP na sua intervenção).
▪ Efectuar uma prevenção de proximidade em conjunto com as Autarquias Locais, Associações
ligadas a infância e juventude e Comissões de Protecção.
▪ Articular a actividade policial com o Ministério Público, divulgando-lhe os modos de actuação,
comportamentos e outras formas de desvios para a delinquência, ajudando a corrigir e a educar os
jovens.
▪ Identificar os grupos em que se inserem os jovens com problemas sociais.
▪ Analisar os modelos de comportamento dessas crianças ou jovens.
▪ Identificar os desvios para a delinquência por parte das crianças ou jovens.

OS OBJECTIVOS POLICIAIS PODEM SER OBTIDOS ATRAVÉS DE:


▪ Presença e visibilidade activa junto da comunidade;
▪ Policiamento de proximidade, actuando no sentido de prevenir o perigo;
▪ Capacidade de compreensão dos problemas relacionados com a protecção de crianças em perigo e
com a delinquência com crianças.

18.5. – PROCEDIMENTOS A RESPEITAR PELAS ENTIDADES POLICIAIS


▪ Comunicar às comissões de protecção as situações de crianças e jovens em perigo de que tenham
conhecimento no exercício das suas funções. – Artigo 64º da LPCJP.
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Direito Processual Penal

▪ Dar conhecimento de imediato ao Ministério público das situações de perigo de que tenham
conhecimento. – nº 2 do Artigo 91º da LPCJP.
▪ Na impossibilidade da imediata intervenção dos tribunais retirar a criança ou o jovem do perigo em
que se encontra e assegurar a sua protecção de emergência em casa de acolhimento temporário, nas
instalações de lares de infância e juventude ou em outro local adequado. – nº 3 do Artigo 91º da
LPCJP.
▪ Velar para que o menor; quando detido, seja obrigatoriamente assistido por defensor em todos os
actos processuais e possa comunicar com ele em privado. - al. e) n.º 3 do Artigo 45º da LTE e al. c),
nº 1 do Artigo 64º CPP.
▪ Não sendo o menor portador de documentos de identificação, comunicar de imediato com os pais,
representante legal ou pessoa que tenha a sua guarda de facto. – al. a) do Artigo 50º LTE
▪ O menor não pode permanecer no posto policial para identificação por mais de três horas. – al. b)
do Artigo 50º da LTE
▪ Para assegurar a presença imediata perante o juiz, a fim de o jovem ser interrogado ou, para
aplicação ou execução de medida cautelar, ou em acto processual presidido por autoridade judicial
(pressupõe que haja um mandado para que se efectue a detenção) nunca exceder o prazo de 12
horas. – alínea b) do nº 1 do Artigo 51º LTE. (pessoas maiores de 16 anos – 24 horas - b), nº 1, art.º
254º CPP)
▪ A denúncia ou transmissão de denúncia é, sempre que possível, acompanhada de informação sobre
a conduta anterior do menor e a sua situação familiar, educativa e social. Se não acompanhar a
denúncia deve ser apresentada no prazo máximo de 8 dias – nº 2, do Artigo 73º da LTE (ver
apêndice 26 do Anexo A).
▪ A audição do jovem cabe à autoridade judicial (em caso algum pode ser interrogado pelos OPC) –
Artigo 47º e 77º n.º 1 da LTE
▪ A acareação em que intervenha o jovem (Arguido), só pode ter lugar se efectuada pelo AJ e na sua
presença. - Artigo 70º da LTE
▪ Comunicar a detenção ao MP (art.º 259º CPP) e aos pais/representante legal – Artigo 53º da LTE

18.6. – INICIATIVAS DE PROTECÇÃO E DEFESA DE INTERESSES DOS MENORES


Como atrás foi referido, as crianças e jovens, nacionais ou estrangeiros, que se encontrem em
perigo (desde que residam ou se encontrem em território nacional – art.º 2º da LPCJP) devem receber
protecção ao abrigo dos procedimentos urgentes previstos nos arts 91º e 92º da LPCJP. O art.º 5º,
alínea a) define “criança ou jovem) e o art.º 3º define o que se entende por “situação de perigo”.

DETIDOS ACOMPANHADOS DE MENORES


Os estabelecimentos prisionais femininos recebem filhos de reclusas (detidas ou presas) com
idade não superior a 3 anos, enquanto que os estabelecimentos prisionais masculinos não recebem
menores (art.º 206º do DL nº 265/79, de 1 de Agosto, alterado pelo DL nº 49/80, de 22 de Março e
pelo DL nº 424/85 de 18 de Outubro – execução das medidas penais privativas da liberdade.
Ocorrem frequentemente situações em que os(as) detidos(as) apresentados(as) para efeito de 1º
interrogatório judicial se fazem acompanhar de crianças de muito tenra idade que acabam por
permanecer nas instalações dos tribunais enquanto decorre o interrogatório, inexistindo qualquer
mecanismo legal capaz de impedir que tal permanência ocorra. A alternativa aos inconvenientes a tal
permanência seria a de proceder, desde logo aquando da detenção, ao encaminhamento dos menores
para as denominadas Equipas de Acolhimento de Emergência, nos termos do art.º 91º da LPCJP.
No entanto, muitas vezes, findo o interrogatório judicial, os detidos(as) acabam por ser restituídos
à liberdade, pelo que as entidades policiais actuam com alguma condescendência nestas situações,
permitindo que, durante o tempo em que decorre o interrogatório, a criança acompanhe o(a)
progenitor(a) que acaba de ser detido, situação esta que se prolonga até que fique definida a situação
processual da detenção. Esta “condescendência” leva a que não chegue a registar-se qualquer
separação da criança e viabiliza mesmo, sendo o caso, que possa continuar a ser regularmente
amamentada.

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Direito Processual Penal

Para situações em que, face à interposição de medida de coacção de prisão preventiva ao detido,
se imponha dar destino à criança que o acompanhou a tribunal, perante a inexistência de qualquer
familiar ou terceira pessoa contactável (disponível e idónea), será obrigatoriamente accionado o
procedimento judicial urgente a que alude o art.º 91º da LPCJP.
Cabe as Equipas de Acolhimento de Emergência, em função da faixa etária, sexo e outros dados
referentes à criança, proceder à indicação do local adequado ao seu acolhimento, sendo, em função de
tal indicação, a criança para aí directamente encaminhada.
Sempre que os militares da GNR receberem mandados de detenção de indivíduos que, por
qualquer fonte, se souber que têm a seu cargo menores, deverão averiguar se a situação dos menores se
encontra salvaguardada.
O procedimento judicial urgente a instaurar nestas eventualidades, deve em tudo ser semelhante
ao adoptado, com as necessárias adaptações, à providência a instaurar perante a notícia da existência
de criança, por exemplo, abandonada em maternidade ou em qualquer outra situação de perigo actual
ou eminente para a vida ou integridade física.

PAIS QUE RECUSEM CUIDADOS DE SAÚDE AOS SEUS FILHOS


Por vezes surgem situações em que os pais, normalmente por motivos religiosos, se opõem a que
sejam ministrados cuidados de saúde aos seus filhos (por exemplo transfusões de sangue e
intervenções cirúrgicas). Estando militares da GNR destacados em alguns hospitais (por exemplo no
Centro Hospitalar de V.N. de Gaia) são por vezes confrontados pelo pessoal médico com este tipo de
situações.
Nestes casos deve ser imediatamente contactado o Ministério Público para que este instaure
procedimento judicial urgente, ao abrigo do previsto nos arts 91º e 92º da LPCJP.

DIVERGÊNCIAS ENTRE OS PROGENITORES


Neste caso, deverão ser instauradas providências cautelares cíveis de natureza urgente, sempre
que a divergência entre os progenitores do menor, possa comprometer de forma séria o bem estar da
criança ou, genericamente, os seus legítimos interesses. Será, designadamente o caso de um dos
progenitores se opor à permanência da criança junto do outro progenitor, ou o de uma viagem para o
estrangeiro que conte com a oposição de um dos pais.
No entanto, a situação será diferentes soluções consoante os pais sejam ou não casados.
Se os pais forem casados, independentemente de viverem juntos ou separados (neste caso sem
que tenha havido Regulação do Poder Paternal – RPP, ou com RPP em que tenha sido acordado o
exercício do poder paternal conjunto), o desacordo sobre questões de particular importância, como seja
a guarda, as viagens ao estrangeiro ou as intervenções médico-cirúrgicas, têm de ser resolvidas pelo
Tribunal – arts 1901, nº 2 e 1906, nº 1 do Código Civil. Se tiver havido RPP, com o exercício do poder
paternal atribuído apenas a um dos progenitores, sem limitações, a oposição ou desacordo do outro é
irrelevante até a situação ser alterada por decisão judicial.
Se os pais não forem casados, salvo se tiver havido RPP ou declaração na Conservatória do
Registo Civil nos termos do art.º 1911º, nº 3 do Código Civil, o poder paternal pertence a quem tem a
guarda do menor, mas há presunção de que esta guarda cabe à mãe e tal presunção só é ilidível
judicialmente – art.º 1911º, nº 1 e 2 do Código Civil.

SUBTRACÇÃO ILEGAL DO MENOR


Quando o menor é retirado ao progenitor que tem a sua guarda e sobre ele exerce poder paternal,
designadamente pelo outro progenitor, estamos perante a prática de um crime semi-público de
subtracção de menor, previsto no art.º 249º do CP e que será estudado mais tarde na disciplina de
Direito Penal.
Mesmo não havendo intervenção policial no sentido de recuperar a criança, deter o indivíduo para
o apresentar em julgamento sumário e entregar a criança a quem sobre ela exerce o poder paternal,
pode sempre ter lugar a instauração de providências cautelares cíveis.

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Direito Processual Penal

19. - MEIOS DE OBTENÇÃO DE PROVA


Teoria da raiz envenenada – se raiz da árvore estiver envenenada, toda a árvore ficará envenenada.
(se uma prova for obtida de forma ilegal e for considerada nula, todas as provas obtidas a partir dela serão nulas, a não ser que fosse
inevitável que a prova viesse a ser descoberta com a mesma certeza que se faz a condenação do arguido).

Os meios de obtenção de prova são os instrumentos de que se servem as autoridades judiciárias


para investigar e recolher meios de prova.
Distinguem-se dos meios de prova numa perspectiva lógica (os meios de prova possuem aptidão
para serem por si mesmos fonte de convencimento, ao contrário do que sucede com os meios de
obtenção da prova que apenas possibilitam a obtenção daqueles meios) e técnico-operativa (os meios
de obtenção da prova caracterizam-se pelo modo e também pelo momento da sua aquisição no
processo, em regra nas fases preliminares, sobretudo no Inquérito).
Em certas situações o próprio meio de obtenção da prova acaba por ser também um meio de
prova, é o que sucede muitas vezes com a revista e a busca.

19.1. - EXAMES
A finalidade do exame é fixar documentalmente ou permitir a observação directa pelo tribunal de
factos relevantes em matéria probatória. Sempre que a recolha ou fixação dos factos através de exame
exigir do seu autor conhecimentos especiais de índole científica, técnica ou artística, terá lugar uma
perícia e não um exame.
Durante o Inquérito e a Instrução, os exames são, normalmente, executados pelo OPC a quem
compete igualmente assegurar as providências cautelares necessárias a garantir a salvaguarda dos
meios de prova.
As pessoas, quando submetidas a exame, são objecto de observação que, no entanto, deve sempre
respeitar a sua dignidade pessoal.
Os exames podem ter lugar ainda antes de iniciado o procedimento, como providência cautelar em
relação aos meios de prova (arts 249º, 171º n.º 2 e 173º do CPP).
Nos exames inspeccionam-se os vestígios que possam ter ficado no local do crime, mas esta
inspecção não exige obrigatoriamente especiais conhecimentos técnicos, científicos ou artísticos. Os
vestígios são depois objecto de perícia e valorados directa e livremente pela autoridade judiciária.
Pressupostos - Artigo 171.º do CPP
 Logo que houver notícia da prática de crime, providencia-se para evitar, quando possível (nº 2):
 que os seus vestígios se apaguem ou alterem antes de serem examinados;
 proibir, se necessário, a entrada ou o trânsito de pessoas estranhas no local do crime;
 quaisquer outros actos que possam prejudicar a descoberta da verdade.
 Se os vestígios deixados pelo crime se encontrarem alterados ou tiverem desaparecido (nº 3):
 descrever o estado em que se encontram as pessoas, os lugares e as coisas em que possam
ter existido;
 procurar, quanto possível, reconstituí-los;
 descrever o modo, o tempo e as causas da alteração ou do desaparecimento.
 Enquanto não estiver presente no local a autoridade judiciária ou o órgão de polícia criminal
competentes, cabe a qualquer agente da autoridade tomar provisoriamente as providências
referidas no n.º 2, se de outro modo houver perigo iminente para obtenção da prova – nº 4.
Sujeição a exame - Artigo 172.º do CPP
 Autoridade judiciária competente pode compelir pessoas a sujeitarem-se a exame ou a facultar
coisa que deva ser examinada – nº 1.
 Os exames susceptíveis de ofender o pudor das pessoas devem respeitar a dignidade e, na medida
do possível, o pudor de quem a eles se submeter – nº 2.
 Ao exame só assistem (nº 2):
 quem a ele proceder;
 autoridade judiciária competente;
 pessoa da confiança do examinando, se não houver perigo na demora, e
devendo este ser informado de que possui essa faculdade.
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Direito Processual Penal

Pessoas no local do exame - Artigo 173.º do CPP


 A autoridade judiciária ou o OPC competentes podem determinar que alguma ou algumas pessoas se não
afastem do local do exame e obrigar, com o auxílio da força pública, se necessário, as que pretenderem
afastar-se a que nele se conservem enquanto o exame não terminar e a sua presença for indispensável –
nº 1.
 Enquanto não estiver presente no local a autoridade judiciária ou o órgão de polícia criminal competentes,
cabe a qualquer agente da autoridade determinar que as pessoas não se afastem do local de exame – nº 2.

19.2. - REVISTAS E BUSCAS


PRESSUPOSTOS - Artigo 174.º do CPP
 REVISTA – É ordenada quando houver indícios de que alguém oculta na sua pessoa quaisquer objectos
relacionados com um crime ou que possam servir de prova – nº 1.
 BUSCA – É ordenada quando houver indícios de se encontrar em lugar reservado ou não livremente
acessível ao público (nº 2):
 objectos relacionados com um crime ou que possam servir de prova;
 o arguido;
 pessoa que deva ser detida.
Nota - Podem ser efectuadas apreensões pelos OPC no decurso de revistas ou de buscas, nos termos previstos no artigo 249.º, n.º 2,
alínea c) – Art.º 178º, nº 4 do CPP

 As revistas e buscas são autorizadas ou ordenadas por despacho pela autoridade judiciária
competente, devendo esta, sempre que possível, presidir à diligência (nº 3), excepto as revistas e as
buscas efectuadas por órgão de polícia criminal nos casos (nº 4) – ver apêndice 11 do anexo A:
a) DE TERRORISMO, CRIMINALIDADE VIOLENTA OU ALTAMENTE ORGANIZADA (definição dada
pelo nº 2 do art.º 1º do CPP), quando haja fundados indícios da prática iminente de crime que ponha
em grave risco a vida ou a integridade de qualquer pessoa;
A realização da diligência é, sob pena de nulidade, imediatamente comunicada ao juiz de instrução
e por este apreciada em ordem à sua validação – art.º 174.º, n.º 5 do CPP

b) Em que os visados consintam, desde que o CONSENTIMENTO prestado fique, por qualquer forma,
DOCUMENTADO – ver apêndice 12 do anexo A;
I - Nas buscas efectuadas em processo penal e feitas com dispensa de autorização judicial prévia, o consentimento do visado pode ser prestado por escrito
por si assinado ou em que aponha a sua impressão digital, sem necessidade de reconhecimento notarial da sua identificação.
II - A falta de oportuna e posterior validação judicial da busca constitui nulidade processual que pode ser arguida até ao encerramento do inquérito ou do
debate instrutório, se a este houver lugar.
Acórdão da Relação de Lisboa, de 1995.02.21, Colectânea de Jurisprudência (B.G.F.S.N.), 1995, I, pág. 163.
I - Deve considerar-se proibida uma busca à casa da arguida, levada a efeito por agentes policiais, sem precedência de autorização da competente autoridade
judiciária nem consentimento da pessoa visada - artigo 174º, Nº 4, do Código de Processo Penal -, sendo irrelevante o consentimento dado pelo filho da
arguida.
Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 1995.02.08, Boletim do Ministério da Justiça, 444, pág. 358.

c) Aquando de DETENÇÃO EM FLAGRANTE por crime a que corresponda pena de prisão.


➔ Para além destes casos os OPC podem proceder, sem prévia autorização da autoridade judiciária
(art.º 251º CPP):
 À revista de suspeitos em caso de fuga iminente
 A buscas no lugar em que se encontrarem ou de detenção
(excepto busca domiciliária)
 À revista de pessoas que tenham de participar ou pretendam assistir a qualquer acto
processual, sempre que houver razões para crer que ocultam armas ou outros objectos com
os quais possam praticar actos de violência - art.º 251º, nº 1 b).
sempre que tiverem fundada razão para crer que neles se ocultam objectos relacionados com o
crime, susceptíveis de servirem a prova e que de outra forma poderiam perder-se art.º 251º, nº 1 a)

A realização da diligência é, sob pena de nulidade, imediatamente comunicada ao juiz de


instrução e por este apreciada em ordem à sua validação – art.º 251, n.º 2
Os OPC elaboram um relatório onde mencionam, de forma resumida, as investigações que
levaram a cabo, os resultados das mesmas, a descrição dos factos apurados e as provas
recolhidas, enviando o relatório ao MP ou JIC, conforme os casos – art.º 253.
Nota: Ver apêndice 13 do anexo A.
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Direito Processual Penal

REVISTAS E BUSCAS EM CRIMES RELATIVOS AO TRÁFICO DE DROGA


Para efeitos de aplicação das normas do processo penal, nomeadamente no que respeita às revistas e
buscas, os crimes relacionados com a droga, nomeadamente, artigo 21º - tráfico e outras actividades
ilícitas, artigo 22º - precursores, artigo 23º - conversão, transferência ou dissimulação de bens ou
produtos, artigo 24º - agravação, artigo 28º - associações criminosas são equiparados a terrorismo,
criminalidade violenta ou altamente organizada – nº 1 do art.º 51º do DL 15/93 – Lei da Droga.
As revistas e perícias efectuadas no âmbito da Lei do combate à droga, pressupõem a existência de
indícios de que alguém oculta ou transporta no seu corpo estupefacientes ou substâncias psicotrópicas
(art.º. 53º, n.º 1, do DL n.º 15/93, de 22 de Janeiro).
Para a realização da perícia, pode o visado ser conduzido a unidade hospitalar ou a outro
estabelecimento adequado e aí permanecer pelo tempo estritamente necessário à realização da mesma.
A realização da revista ou perícia depende do consentimento do visado ou de prévia autorização da
autoridade judiciária competente (JIC ou MP), devendo esta, sempre que possível, presidir à diligência.
Se, depois de advertido das consequências penais do seu acto, o visado se recusar a ser submetido a
revista ou a perícia, autorizada pela autoridade judiciária competente, poderá ser punido com pena de
prisão até 2 anos ou com pena de multa até 240 dias.
FORMALIDADES DA REVISTA - Artigo 175.º do CPP
 Antes de se proceder a revista - ENTREGAR AO VISADO CÓPIA DO DESPACHO (excepto
criminalidade violenta, consentimento do visado e detenção em flagrante - 174º, nº 4) que a
determinou, no qual se faz menção de que aquele pode indicar, para presenciar a diligência,
pessoa de sua confiança e que se apresente sem delonga – nº 1.
 A revista deve respeitar a dignidade pessoal e, na medida do possível, o pudor do visado – nº 2.
Podemos considerar essencialmente dois tipos de revista: a que se destina a garantir a segurança e a
integridade física dos militares da Guarda e de terceiros, designada por Revista Pessoal de Segurança e
a que se destina à obtenção de meios de prova no âmbito da legislação processual penal, designada
normalmente, apenas por Revista Pessoal.
Podemos considerar os seguintes tipos de revistas:
- Revistas como meio de obtenção de prova – efectuadas nos termos dos arts 174º e 251.º n.º1 alínea
a) do CPP e art.º 53.º do DL n.º 15/93;
- Revistas preventivas ou de segurança – efectuadas nos termos do art.º 251, n.º1 alínea b) do CPP,
no art.º 5º da Lei n.º 8/97 e no art.º 12º, n.º 2, da Lei n.º 16/04, de 11 de Maio.

Notas:
- Sempre que haja fundadas suspeitas, as forças de segurança podem realizar buscas e revistas
tendentes a detectar a introdução ou presença de armas e substâncias ou engenhos explosivos ou
pirotécnicos nos estabelecimentos de ensino ou recintos onde ocorram manifestações cívicas, políticas,
religiosas, artísticas, culturais ou desportivas - art.º 5º da Lei n.º 8/97, de 12 de Abril.
- As forças de segurança destacadas para um espectáculo desportivo, sempre que tal se mostre
necessário, podem proceder a revistas aos espectadores, por forma a evitar a existência no recinto de
objectos ou substâncias proibidos ou susceptíveis de possibilitar actos de violência - art.º 12º, n.º 2, da
Lei n.º 16/04, de 11 de Maio.
- Durante o EURO 2004 existiu uma Lei de vigência temporária (de 1 de Junho a 11 de Julho) – Lei
2/2004 de 12 de Maio, que no seu art.º 31º, permitia às forças e serviços de segurança a realização de
revistas de prevenção e segurança, mesmo sem se verificar suspeita de existência de crime.
FORMALIDADES DA BUSCA - Artigo 176.º do CPP
 Antes de se proceder a busca – ENTREGAR a quem tiver a disponibilidade do lugar em que a
diligência se realiza CÓPIA DO DESPACHO (excepto criminalidade violenta, consentimento do
visado e detenção em flagrante - 174º, nº 4) que a determinou, na qual se faz menção de que pode
assistir à diligência e fazer-se acompanhar ou substituir por pessoa da sua confiança e que se
apresente sem delonga - 176º, nº 1.
 Faltando as pessoas que tiverem a disponibilidade do lugar, a cópia é, sempre que possível,
entregue a um parente, a um vizinho, ao porteiro ou a alguém que o substitua – 176º, nº 2.
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Direito Processual Penal

 Juntamente com a busca ou durante ela pode proceder-se a revista de pessoas que se encontrem
no lugar, se quem ordenar ou efectuar a busca tiver razões para presumir indícios de que alguém
oculta na sua pessoa quaisquer objectos relacionados com um crime ou que possam servir de prova
(174.º, n.º 1) – 176º, nº 3.
 A autoridade judiciária ou o OPC competentes podem determinar que alguma ou algumas
pessoas se não afastem do local da busca (173º, nº 1) – 176º, nº 3 do CPP.
 Cabe a qualquer agente da autoridade determinar que as pessoas não se afastem do local de
busca (173º, nº 2) – 176º, nº 3.
II - Não constitui por isso detenção a disponibilidade do buscado para acompanhar os agentes encarregados das diligências, ainda que
isso implique limitação da liberdade durante o tempo indispensável ao cumprimento dessas diligências ordenadas no processo.
Acórdão da Relação de Lisboa, de 1998.01.06, Boletim do Ministério da Justiça, 473, pág. 549

BUSCA DOMICILIÁRIA - Artigo 177.º do CPP


 QUANDO PODE SER EFECTUADA?
- A busca em casa habitada ou numa sua dependência fechada só pode ser ordenada ou autorizada
pelo juiz e efectuada entre as 7 e as 21 horas, sob pena de nulidade – 177º, nº 1.
- Nos casos de criminalidade violenta ou busca com consentimento do visado - 174.º, n.º 4, alíneas
a) e b) - as buscas domiciliárias podem também ser ordenadas pelo Ministério Público ou ser
efectuadas por órgãos de polícia criminal, mas a realização da diligência é, sob pena de nulidade,
imediatamente comunicada ao juiz de instrução e por este apreciada em ordem à sua validação
(art.º 174.º, n.º 5) – 177º, nº 2.
Nota: Aqui surgem alguns problemas que consistem em determinar:
 se uma busca domiciliária autorizada pelo juiz e iniciada antes das 21 horas pode continuar para
além das 21 Horas.
 se uma busca domiciliária autorizada pelo próprio visado, pode continuar ou ter lugar após as 21
horas dado que é ele próprio que abdica do seu direito à reserva da sua vida privada.
 estando já previsto na CRP a possibilidade de em casos excepcionais se poder efectuar as buscas
durante a noite, será que as mesmas podem ser feitas, não prevendo ainda o CPP essa
possibilidade.
Havendo opiniões diferentes em relação a estas questões, aconselha-se a nunca se ultrapassar as 21
horas quando forem efectuadas buscas domiciliárias, para evitar possíveis situações de não validação
da prova pelo juiz. Mesmo com a concordância da Autoridade Judiciária, se forem efectuadas
apreensões em domicílios após as 21 horas, devem ser elaborados dois autos de apreensão. Um
relativo às apreensões efectuadas antes das 21H e o outro relativo às efectuadas após as 21H. Desta
forma evitar-se-á a possível nulidade das provas obtidas antes das 21H.
Assuntos a ponderar:
- Art.º 34º, nº 1 CRP – O domicílio é inviolável.
- Art.º 34º, nº 2 CRP – A entrada no domicílio contra a vontade do cidadão só pode ser ordenada
por autoridade judicial nos casos e segundo as formas previstos na lei.
- Art.º 34º, nº 3 CRP – Ninguém pode entrar durante a noite no domicílio de qualquer pessoa sem o
seu consentimento, salvo em situação de flagrante delito ou mediante autorização judicial em
casos de criminalidade especialmente violenta ou altamente organizada, incluindo o terrorismo e o
tráfico de pessoas, de armas e de estupefacientes, nos termos previstos na lei.
- Art.º 36º nº 1 CRP – A todos é reconhecido o direito à reserva da intimidade da vida privada.
- Será que o juiz pode autorizar a permanência após as 21 horas, quando o CPP diz de forma
taxativa que a busca deve ser efectuada entre as 7 e as 21 horas (embora o art.º 34º, nº 3 da CRP
permita algumas excepções).
- Até que ponto o consentimento do visado para a passagem de busca após as 21 horas põe em
causa o direito, constitucionalmente reconhecido, dos seus familiares e vizinhos à reserva da
intimidade da sua vida privada.
A busca domiciliária em casa habitada e as subsequentes apreensões podem ser realizadas, sem autorização da entidade judiciária
competente, por Órgão de Polícia Criminal desde que se verifique o consentimento de quem é o visado e não de quem tiver a disponibilidade
do lugar de habitação em que a busca seja efectuada.
Acórdão n.º 507/94 de 22Dez94 do Tribunal Constitucional.

I - A busca domiciliária não é um acto processual em sentido estrito mas sim um acto de inquérito, ou de instrução, consoante a fase em
que seja realizada.
II - Não está, portanto sujeita ao prazo estabelecido no Nº 1 do artigo 105º do Código de Processo Penal devendo ser efectuada no prazo
fixado por quem a ordenar ou autorizar, só tendo de obedecer a critérios de necessidade, decorrente da finalidade da fase processual em
que seja ordenada e a critérios de oportunidade.
Acórdão da Relação de Lisboa, de 1996.04.16, Colectânea de Jurisprudência, 1996, II, pág. 152.

96
Direito Processual Penal
I - A disciplina do artigo 176º e artigo 177º do Código de Processo Penal autoriza a realização de busca em casa habitada sem a presença ou a autorização do
dono, não estando aquele artigo 176º ferido de inconstitucionalidade, no cotejo com o artigo 34º da Constituição da República Portuguesa.
II - A falta de entrega de cópia do despacho que determinou a busca à pessoa que a esta assistir, inobservando o disposto no artigo 176º do Código de
Processo Penal, constitui, quando muito, nulidade suprível, sanada por falta da respectiva arguição até ao encerramento do debate instrutório.
III - A busca realizada na casa do arguido sem o seu consentimento constitui procedimento ressalvado no Nº 3 do artigo 126º do Código de Processo Penal,
quanto à regra da nulidade das provas obtidas mediante intromissão no domicílio sem o consentimento do respectivo titular.
Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 1995.11.08, Boletim do Ministério da Justiça, 451, pág. 238

BUSCA EM ESCRITÓRIO DE ADVOGADO OU EM CONSULTÓRIO MÉDICO – 177º, nº 3 do CPP


 É, sob pena de nulidade:
 Presidida pessoalmente pelo juiz;
 Avisada previamente, pelo juiz, ao presidente do conselho local da Ordem dos
Advogados ou da Ordem dos Médicos, para que o mesmo, ou um seu delegado,
possa estar presente.
BUSCA EM ESTABELECIMENTO OFICIAL DE SAÚDE – 177º, nº 4 do CPP
 É, sob pena de nulidade:
 Presidida pessoalmente pelo juiz;
 Avisada previamente, pelo juiz, ao presidente do conselho directivo ou de gestão do
estabelecimento, ou a quem legalmente o substituir, para que o mesmo, ou um seu
delegado, possa estar presente.

BUSCA NO DOMICÍLIO PESSOAL OU PROFISSIONAL DE MAGISTRADO JUDICIAL


- Havendo necessidade de busca no domicílio pessoal ou profissional de qualquer magistrado judicial é
a mesma, sob pena de nulidade, presidida pelo juiz competente, o qual avisa previamente o Conselho
Superior de Magistratura, para que um membro delegado por este Conselho possa estar presente - Art.º
16.º da Lei n.º 21/85, de 30 de Julho, alterada pelas Leis n.º 10/94, de 5 de Maio e n.º143/99, de 31 de
Agosto.
BUSCA NO DOMICÍLIO PESSOAL OU PROFISSIONAL DE MAGISTRADO DO MINISTÉRIO PÚBLICO
- Havendo necessidade de busca no domicílio pessoal ou profissional de magistrado do Ministério
Público, esta é presidida, sob pena de nulidade, pelo juiz competente, que avisará previamente o
Conselho Superior do Ministério Público, a fim de que um membro designado por este Conselho possa
estar presente - Art.º 91.º da Lei n.º 60/98, de 27 de Agosto.
19.3. – APREENSÕES
AUTENTICAÇÃO DE PEDIDOS JUDICIAIS
Embora raros, têm surgido alguns pedidos judiciais que se vieram a revelar serem falsos,
nomeadamente no âmbito de apreensões de veículos.
Normalmente a autenticação dos documentos judiciais é feita pela aposição do selo branco do
respectivo serviço. Sempre que surgirem dúvidas acerca da autenticidade formal dos pedidos judiciais
deverá ser solicitada à entidade emissora a sua autenticação. De modo a não sobrecarregar o
formalismo administrativo, poderá a confirmação ser feita por via telefónica ou por outro meio, junto
da entidade emissora. Este procedimento deverá ser obrigatoriamente adoptado quando o meio de
expedição não for o do correio normal, com a particularidade de que o número de telefone a usar para
confirmação não deverá ser o constante do documento, mas antes, consultado na lista telefónica
nacional, ou confirmado por qualquer outra via.
Parecer da Chefia do Serviço de Justiça/CG de 15 de Julho de 2004

OBJECTOS SUSCEPTÍVEIS DE APREENSÃO E PRESSUPOSTOS DESTA - Artigo 178.º do CPP

OBJECTOS SUSCEPTÍVEIS DE APREENSÃO - nº 1


- São apreendidos os objectos que (nº 1):
 tiverem servido ou estivessem destinados a servir a prática de um crime;
 constituírem o seu produto, lucro, preço ou recompensa;
 tiverem sido deixados pelo agente no local do crime;
 quaisquer outros susceptíveis de servir a prova.

97
Direito Processual Penal

DESTINO DOS OBJECTOS - nº 2


- Os objectos apreendidos são (de tudo se fazendo menção no auto):
 juntos ao processo, quando possível ou
 confiados à guarda do funcionário de justiça adstrito ao processo ou
 confiados à guarda de um depositário.
O depositário é de livre nomeação, excepto:
- Dinheiro e Jóias - CGD à ordem do Juiz (Art.º 14.º do Dec. 12487 de 14Out26);
- Penhores - Prestamistas (Art.º 12.º do Dec. 17766 de 17Dec29);
- Objectos do crime em exame - LPC e IML.
O depositário limita-se a guardar e conservar os objectos, não podendo fazer uso do apreendido, pois, a
utilização de coisa apreendida é punível nos termos do art.º 348 do CP.
Configurando uma situação de excepção, a apreensão de objectos deve cessar quando, para efeitos de prova, se mostre desnecessária.
Acórdão da Relação de Coimbra, de 1995.01.18, Boletim do Ministério da Justiça, 443, pág. 456

DESPACHO PARA AS APREENSÕES - nº 3


- As apreensões são:
 autorizadas,
por despacho da autoridade
 ordenadas ou
judiciária
 validadas

APREENSÕES SEM AUTORIZAÇÃO DA AUTORIDADE JUDICIÁRIA – nº 4


- Os OPC podem efectuar apreensões:
 no decurso de revistas ou de buscas;
 quando haja urgência ou perigo na demora;
nos termos previstos no artigo 249.º, n.º 2, alínea c) – 178º, nº 4 .
VALIDAÇÃO DAS APREENSÕES – nº 5
- As apreensões efectuadas por órgão de polícia criminal são sujeitas a validação pela autoridade
judiciária, no prazo máximo de 72 horas.

MODIFICAÇÃO OU REVOGAÇÃO DA APREENSÃO – nº 6


- Os titulares de bens ou direitos objecto de apreensão podem requerer ao juiz de instrução a
modificação ou revogação da medida. É correspondentemente aplicável o disposto no art.º 68.º, n.º 5.

PERDA DOS OBJECTOS A FAVOR DO ESTADO – nº 7


- Se os objectos apreendidos forem susceptíveis de ser declarados perdidos a favor do Estado e não
pertencerem ao arguido, a autoridade judiciária ordena a presença do interessado e ouve-o. A
autoridade judiciária prescinde da presença do interessado quando esta não for possível.

APREENSÃO DE CORRESPONDÊNCIA - Artigo 179.º do CPP


AUTORIZAÇÃO PELO JUIZ– nº 1
- Sob pena de nulidade, o juiz pode autorizar ou ordenar, por despacho, a apreensão, mesmo nas
estações de correios e de telecomunicações, de:
 Cartas;
 Encomendas;
 Valores;
 Telegramas;
 Qualquer outra correspondência.
QUANDO TIVER FUNDADAS RAZÕES PARA CRER QUE:
a) A correspondência foi expedida pelo suspeito ou lhe é dirigida, mesmo que sob nome
diverso ou através de pessoa diversa;
b) Está em causa crime punível com pena de prisão superior, no seu máximo, a três anos; e
c) A diligência se revelará de grande interesse para a descoberta da verdade ou para a
prova.
98
Direito Processual Penal

PROIBIÇÃO DE APREENSÃO da correspondência entre o arguido e o seu defensor – nº 2


- É proibida, sob pena de nulidade, a apreensão e qualquer outra forma de controlo da
correspondência entre o arguido e o seu defensor, salvo se o juiz tiver fundadas razões para crer que
aquela constitui objecto ou elemento de um crime.
PROCEDIMENTOS EM RELAÇÃO À CORRESPONDÊNCIA
 Os OPC que procedam à apreensão transmitem a correspondência intacta ao juiz que tiver
autorizado ou ordenado a diligência – 252º, nº 1.
 O juiz que tiver autorizado ou ordenado a diligência é a primeira pessoa a tomar
conhecimento do conteúdo da correspondência apreendida – 179º, nº 3 e 268º, nº 1 d):
 Se a considerar relevante para a prova, fá-la juntar ao processo – 179º, nº 3;
 Se a não considerar relevante para a prova restitui-a a quem de direito, não podendo ela
ser utilizada como meio de prova, e fica ligado por dever de segredo relativamente
àquilo de que tiver tomado conhecimento e não tiver interesse para a prova – 179º, nº 3.
 O juiz pode, no entanto, autorizar a sua abertura imediata pelos OPC, sempre que houver
perigo de demora – 252º, nº 2;
 Os OPC podem ordenar a suspensão da remessa de qualquer correspondência nas
estações de correios e de telecomunicações, sempre que tiverem fundadas razões para crer
que as encomendadas ou valores fechados podem conter informações úteis à investigação
de um crime ou conduzir à sua descoberta, e que podem perder-se em caso de demora. Se,
no prazo de 48 horas, a ordem não for convalidada por despacho fundamentado do juiz, a
correspondência é remetida ao destinatário – 252º, nº 3.
APREENSÃO EM ESCRITÓRIO DE ADVOGADO OU EM CONSULTÓRIO MÉDICO – Art.º 180.º
do CPP
 Tem que ser presidida pelo juiz, o qual avisa previamente o presidente do conselho local da Ordem
dos Advogados ou da Ordem dos Médicos, para que o mesmo ou um seu delegado possa estar
presente - artigo 180.º, nº 1 e 177.º, n.º 3.
 Se a apreensão for em estabelecimento oficial de saúde o aviso é feito ao presidente do conselho
directivo ou de gestão do estabelecimento ou quem legalmente o substituir - artigo 180.º, nº 1 e
177.º, n.º 4.
 Não é permitida, sob pena de nulidade, a apreensão de documentos abrangidos pelo segredo
profissional, ou abrangidos pelo segredo profissional médico, salvo se eles mesmo constituírem
objecto ou elemento de um crime – art.º 180º, nº 2.
 O juiz é o primeiro a tomar conhecimento do conteúdo das apreensões e decide o que é, e o que
não é relevante para a prova – art.º 180º, nº 3.
 No final das apreensões os OPC devem elaborar o auto de apreensão (relatório) – art.º 253º.
APREENSÃO EM ESTABELECIMENTO BANCÁRIO - Artigo 181.º do CPP
 O juiz procede à apreensão em bancos ou outras instituições de crédito de:
 documentos,
 títulos,
 valores,
 quantias,
 quaisquer outros objectos,
mesmo que em cofres individuais, quando tiver fundadas razões para crer que:
- eles estão relacionados com um crime e se revelarão de grande interesse para a descoberta da
verdade ou para a prova, mesmo que não pertençam ao arguido ou não estejam depositados em seu
nome – nº 1.
 O juiz pode examinar a correspondência e qualquer documentação bancárias para descoberta
dos objectos a apreender nos termos do número anterior. O exame é feito pessoalmente pelo juiz,
coadjuvado, quando necessário, por órgãos de polícia criminal e por técnicos qualificados,
ficando ligados por dever de segredo relativamente a tudo aquilo de que tiverem tomado
conhecimento e não tiver interesse para a prova – nº 2.
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Direito Processual Penal

SEGREDO PROFISSIONAL OU DE FUNCIONÁRIO E SEGREDO DE ESTADO – Artº 182.º do CPP


 As pessoas mencionadas nos art.º 135º a 137º:
 ministros da religião ou confissão religiosa,
 advogados, Apresentam à autoridade judiciária,
 médicos, quando esta o ordenar, os documentos
 jornalistas, ou quaisquer objectos que tiverem na
 membros de instituições de crédito, sua posse e devam ser apreendidos,
 outras pessoas a quem a lei permitir ou salvo se invocarem, por escrito, segredo
impuser que guardem segredo, profissional ou de funcionário ou
 funcionários, segredo de Estado – 182º, nº 1.
 pessoas que conheçam segredos de Estado.
 Se a recusa se fundar em segredo profissional ou de funcionário, a autoridade judiciária pode
investigar a legitimidade da escusa e eventualmente determinar a apreensão dos objectos ou
documentos com quebra de segredo profissional ou quebra do segredo de Estado – art.º 182º, nº 2,
art.º 135.º, n.ºs 2 e 3 e art.º 136.º, n.º 2).
 Se a recusa se fundar em segredo de Estado, deve este ser confirmado pelo Ministro da Justiça no
espaço de 30 dias. Decorrido este prazo sem a confirmação ter sido obtida, a apreensão deve ser
efectuada – art.º 182º, nº 3 e art.º 137.º, n.º 3.
CÓPIAS E CERTIDÕES - Artigo 183.º do CPP
 Aos autos pode ser junta cópia dos documentos apreendidos, restituindo-se nesse caso o
original – nº 1.
 Tornando-se necessário conservar o original, dele pode ser feita cópia ou extraída certidão e
entregue a quem legitimamente o detinha – nº 1.
 Na cópia e na certidão é feita menção expressa da apreensão – nº 1.
 DO AUTO DE APREENSÃO (ver apêndice 13 do anexo A) É ENTREGUE CÓPIA, SEMPRE QUE
SOLICITADA, a quem legitimamente detinha o documento ou o objecto apreendidos – nº 2.

APOSIÇÃO E LEVANTAMENTO DE SELOS - Artigo 184.º do CPP


 Sempre que possível, os objectos apreendidos são selados.
 Ao levantamento dos selos assistem, sendo possível, as mesmas pessoas que tiverem estado
presentes na sua aposição, as quais verificam se os selos não foram violados nem foi feita
qualquer alteração nos objectos apreendidos.
APREENSÃO DE COISAS PERECÍVEIS, PERIGOSAS OU DETERIORÁVEIS – Artº 185.º do CPP
 Se a apreensão respeitar a coisas perecíveis, perigosas ou deterioráveis a autoridade judiciária
pode ordenar, conforme os casos, a sua venda ou afectação a finalidade socialmente útil,
destruição, ou as medidas de conservação ou manutenção necessárias.

Nota:
Elaborar sempre auto discriminatório das apreensões efectuadas e entregar cópia, se solicitado, ao visado (Art.º
178.º e 183.º CPP). No Auto de Busca e Apreensão, deve fazer-se constar a qualidade e quantidade do objecto
apreendido (Art.º 94.º, 99.º e 100.º do CPP). Sempre que possível, o Auto de Busca deve ser elaborado no local e
no decurso da busca.

RESTITUIÇÃO DOS OBJECTOS APREENDIDOS - Artigo 186.º do CPP


 Logo que se tornar desnecessário manter a apreensão para efeito de prova, os objectos
apreendidos são restituídos a quem de direito – nº 1.
 Logo que transitar em julgado a sentença, os objectos apreendidos são restituídos a quem de
direito, salvo se tiverem sido declarados perdidos a favor do Estado – nº 2.
 Ressalva-se o caso em que a apreensão de objectos pertencentes ao arguido ou ao responsável civil
deva ser mantida a título de arresto preventivo, nos termos do artigo 228.º.
Os objectos apreendidos, as armas e outros objectos perigosos devem ser guardados em local adequado e de acesso reservado.
Despacho do MAI de 13 de Outubro de 1997

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Direito Processual Penal

19.4. - ESCUTAS TELEFÓNICAS


ADMISSIBILIDADE - Artigo 187.º do CPP
 A intercepção e a gravação de conversações ou comunicações telefónicas só podem ser ordenadas
ou autorizadas, por despacho do juiz, quanto a crimes – nº 1:
a) Puníveis com pena de prisão superior, no seu máximo, a três anos;
b) Relativos ao tráfico de estupefacientes;
c) Relativos a armas, engenhos, matérias explosivas e análogas;
d) De contrabando; ou
e) De injúria, de ameaça, de coacção, de devassa da vida privada e perturbação da paz e do
sossego, quando cometidos através de telefone, se houver razões para crer que a diligência se
revelará de grande interesse para a descoberta da verdade ou para a prova.
 A ordem ou autorização pode ser solicitada ao juiz dos lugares onde eventualmente se puder
efectivar a conversação ou comunicação telefónica ou juiz da sede da entidade competente para
a investigação criminal, tratando-se dos seguintes crimes – nº 2:
a) Terrorismo, criminalidade violenta ou altamente organizada;
b) Associações criminosas previstas no artigo 299.º do Código Penal;
c) Contra a paz e a humanidade previstos no título III do livro II do Código Penal;
d) Contra a segurança do Estado previstos no capítulo I do título V do livro II do CP;
e) Produção e tráfico de estupefacientes;
f) Falsificação de moeda ou títulos equiparados a moeda prevista nos artigos 262.º, 264.º, na
parte em que remete para o 262.º, e 267.º, na parte em que remete para os artigos 262.º e
264.º, do Código Penal;
g) Abrangidos por convenção sobre segurança da navegação aérea ou marítima.

 É proibida a intercepção e a gravação de conversações ou comunicações entre o arguido e o seu


defensor, salvo se o juiz tiver fundadas razões para crer que elas constituem objecto ou elemento
de crime.
FORMALIDADES DAS OPERAÇÕES - ARTIGO 188.º do CPP
 Da intercepção e gravação é lavrado auto – nº 1;
 O auto junto com as fitas gravadas ou elementos análogos é imediatamente levado ao
conhecimento do juiz que tiver ordenado ou autorizado as operações, com indicação das
passagens das gravações ou elementos análogos considerados relevantes para a prova – nº 1.
 O OPC que proceder à investigação pode tomar previamente conhecimento do conteúdo da
comunicação interceptada a fim de poder praticar os actos cautelares necessários e urgentes para
assegurar os meios de prova – nº 2.
 Se o juiz considerar os elementos recolhidos, ou alguns deles, relevantes para a prova, ordena a
sua transcrição em auto e fá-lo juntar ao processo – nº 3;
 Se o juiz considerar os elementos irrelevantes para a prova, ordena a sua destruição, ficando
todos os participantes nas operações ligados ao dever de segredo relativamente àquilo de que
tenham tomado conhecimento – nº 3.
 Na apreciação da prova, o juiz pode ser coadjuvado, quando entender conveniente, por OPC,
podendo nomear, se necessário, intérprete. À transcrição aplica-se, com as necessárias adaptações,
o disposto no artigo 101.º, n.ºs 2 e 3 (registo e transcrição) – nº 4.
 O arguido e o assistente, bem como as pessoas cujas conversações tiverem sido escutadas,
podem examinar o auto de transcrição, para se inteirarem da conformidade das gravações e
obterem, à sua custa, cópias dos elementos naquele referidos – nº 5.
NOTA:
Conhecimentos fortuitos (descoberta de factos relativos a outros crimes, que não os que estiveram na génese
das escutas telefónicas) - a orientação predominante é no sentido de admitir apenas a utilização dos
conhecimentos fortuitos que se reportem a um dos crimes, relativamente aos quais a escuta é legalmente
admissível (tudo o que respeita a crimes não constantes no art.º 187º do CPP não pode ser aproveitado).

101
Direito Processual Penal

NULIDADE - Artigo 189.º do CPP


 Todos os requisitos e condições referidos nos artigos 187.º (Admissibilidade) e 188.º
(Formalidades) são estabelecidos sob pena de nulidade.
EXTENSÃO - Artigo 190.º do CPP
 O disposto nos artigos 187.º, 188.º e 189.º é correspondentemente aplicável às conversações ou
comunicações transmitidas por qualquer meio técnico diferente do telefone, designadamente:
 correio electrónico,
 outras formas de transmissão de dados por via telemática,
 comunicações entre presentes.
Violação do segredo de telecomunicações. Factura detalhada de um posto telefónico
I - A facturação detalhada de um posto telefónico não se integra no conceito de "telecomunicação" definido no Nº 2 do artigo 1º da Lei Nº 88/1989, de 11-9;
consequentemente, não está abrangida pela protecção estabelecida no Nº 2 do artigo 32º da Constituição, ainda que identifique os contactos efectuados e a
respectiva duração, data e hora.
II - Assim, na fase de inquérito, a requisição da factura detalhada de um posto telefónico, não constitui acto da exclusiva competência do Juiz.
Acórdão da Relação de Lisboa, de 1999.01.13, Colectânea de Jurisprudência, 1999, I, pág. 135.

Nota:
A Lei 5/2002, de 11 de Janeiro estabeleceu um regime especial de recolha de prova, quebra de segredo
profissional e perda de bens a favor do Estado, relativamente aos crimes de:
a) Tráfico de estupefacientes, nos termos dos artigos 21º a 23º e 28º do DL nº 15/93, de 22 de Jan;
b) Terrorismo e organização terrorista;
c) Tráfico de armas;
d) Corrupção passiva e peculato;
e) Branqueamento de capitais;
f) Associação criminosa;
g) Contrabando;
h) Tráfico e viciação de veículos furtados;
i) Lenocínio e lenocínio e tráfico de menores;
j) Contrafacção de moeda e de títulos equiparados a moeda.
Lei 5/2002 de 11 de Janeiro - Artigo 6º - Registo de voz e de imagem
1. É admissível, quando necessário para a investigação de crimes referidos no artigo 1º, o registo de voz e de imagem, por
qualquer meio, sem consentimento do visado.
2. A produção destes registos depende de prévia autorização ou ordem do juiz, consoante os casos.
3. São aplicáveis aos registos obtidos, com as necessárias adaptações, as formalidades previstas no artigo 188º do Código
de Processo Penal.

20. – MEDIDAS DE COACÇÃO


As medidas de coacção e de garantia patrimonial, são meios processuais de limitação de liberdade
pessoal ou patrimonial dos arguidos e outros eventuais responsáveis por prestações patrimoniais, que
tem por fim acautelar a eficácia do procedimento, quer quanto ao seu desenvolvimento, quer quanto à
execução das decisões condenatórias.
Estas medidas visam, por exemplo, evitar que durante o processo o arguido se possa esquivar à
acção da justiça (fugindo ou procurando fugir), que o arguido dificulte a investigação (procurando
esconder ou destruir meios de prova; coagindo ou intimidando as testemunhas), que o arguido possa
continuar a sua actividade criminosa, que eventuais responsáveis não possam dispor do seu património
e não o possam alienar (com intuito de evitar o pagamento de eventuais indemnizações ou multas a
que venham a ser condenados).
As medidas de coacção só são aplicáveis ao arguido, enquanto que as medidas de garantia
patrimonial são aplicáveis, não só ao arguido, mas também a terceiros, responsáveis pelo pagamento
de dívidas patrimoniais derivadas do crime.
Como foi atrás estudado, o CPP prevê outras providências processuais cautelares e de coacção,
embora com finalidades diversas das denominadas medidas de coacção e de garantia patrimonial,
como sejam: as providências cautelares em matéria de prova (art.º 171º, 173º e 249º do CPP); medida
de coacção para identificação de suspeitos (n.º 6 do art.º 250º do CPP); medidas cautelares e de
coacção (ex: detenção – art.º 254º do CPP). Estas providências podem também limitar a liberdade das

102
Direito Processual Penal

pessoas, arguidos ou não, mas não têm como objectivos os indicados para as medidas de coacção e de
garantia patrimonial. Ou seja distinguem-se destas pela finalidade processual.
A aplicação de medidas de coacção ou garantia patrimonial durante o Inquérito compete
exclusivamente ao juiz de instrução (alínea b) do nº 1 do art.º 268º do CPP), à excepção do Termo de
Identidade e Residência, que com a alteração ao CPP verificada a Lei 59/98 de 25 de Agosto, passou a
poder ser efectuada pelos Órgãos de Polícia Criminal.

20.1. - TERMO DE IDENTIDADE E RESIDÊNCIA - Artigo 196.° do CPP


➔ A autoridade judiciária ou o OPC sujeitam a TIR lavrado no processo:
 TODO AQUELE QUE FOR CONSTITUÍDO ARGUIDO, (ainda que já tenha sido
identificado nos termos do art.º 250.° do CPP) - nº 1.
➔ Para o efeito de ser notificado mediante via postal simples, nos termos da alínea c) do n.º 1 do
artigo 113º do CPP, o arguido indica - nº 2:
 a sua residência;
 o local de trabalho;
 ou outro domicílio à sua escolha.
➔ Do TIR deve constar que foi dado conhecimento ao arguido (nº 3):
a) Da obrigação de comparecer perante a autoridade competente ou de se manter à
disposição dela sempre que a lei o obrigar ou para tal for devidamente notificado;
b) Da obrigação de não mudar de residência nem dela se ausentar por mais de cinco dias
sem comunicar a nova residência ou o lugar onde possa ser encontrado;
c) De que as posteriores notificações serão feitas por via postal simples para a morada
indicada no N.º 2, excepto se o arguido comunicar uma outra, através de requerimento
entregue ou remetido por via postal registada à secretaria onde os autos se encontrarem
a correr nesse momento;
d) De que o incumprimento do disposto nas alíneas anteriores legitima a sua representação
por defensor em todos os actos processuais nos quais tenha o direito ou o dever de estar
presente e bem assim a realização da audiência na sua ausência, nos termos do artigo
333º
➔ É sempre cumulável - com qualquer outra medida de coacção ou garantia patrimonial – nº 4.
a) Todo o interveniente em processo penal que não conheça ou não domine a língua portuguesa, para beneficiar de
um processo equitativo, tem direito à assistência gratuita de um intérprete ou tradutor idóneo em todos os actos
do processo que necessitar compreender (cfr. Art.º 92º, nº 2 e 3 do CPP);
b) Implicando a constituição de arguido a entrega, sempre que possível no próprio acto, do documento previsto no art.º
58º, nº 3 do CPP, afigura-se bastante prudente que ao arguido que não conheça ou não domine a língua portuguesa,
seja facultada, sem prejuízo do referido em a) e dessa entrega, a tradução de tal documento para a língua utilizada por
aquele;
c) Nas comarcas em que se encontrem disponíveis modelos de Termo de Identidade e Residência traduzidos pela
Procuradoria-Geral da República nada impede que tanto os OPC como o Ministério Público facultem, aos arguidos que
não conheçam ou dominem a língua portuguesa, tais modelos desde que lhes tenha sido assegurado aquele direito a
um intérprete ou tradutor idóneo e cumprido o disposto no art.º 58º, nº 3 do CPP;
d) No entanto, face às dúvidas suscitadas, sugere-se que, através das procuradorias-gerais distritais, seja dado
conhecimento aos magistrados de que a eventual utilização das traduções para língua estrangeira, obtidas junto da
Procuradoria-Geral da República, de Termos de Identidade e Residência só poderá ocorrer, tanto no caso dos OPC
como do Ministério Público, quando tenha sido nomeado intérprete idóneo e que tal utilização pressupõe, em
cumprimento da lei, a efectiva entrega ao arguido do Termo de Identidade e Residência em língua portuguesa.
Parecer da Procuradoria-Geral da República de 15 de Outubro de 2001

Nota: No apêndice 3 do anexo A encontra-se um modelo de notificação de TIR.

20.2. - CAUÇÃO - Artigo 197.° do CPP


➔ APLICÁVEL - se o crime imputado ao arguido for punível com pena de prisão nº 1.
➔ PODE SER SUBSTITUÍDA - por qualquer ou quaisquer outras medidas de coacção, excepto:
 prisão preventiva;
 obrigação de permanência na habitação nº 2

103
Direito Processual Penal

➔ Na fixação do montante da caução tomam-se em conta (nº 3):


 os fins de natureza cautelar a que se destina;
 a gravidade do crime imputado;
 o dano causado pelo crime;
 a condição sócio-económica do arguido.
A caução é uma medida de coacção que não deve ser confundida com a caução económica (art.º 227º)
que é uma medida de garantia patrimonial que é aplicada quando haja fundado receio de que faltem ou
diminuam substancialmente as garantias de pagamento da pena pecuniária, das custas do processo ou de
qualquer outra dívida para com o Estado relacionada com o crime (nº 2 do art.º 227º), da indemnização ou de
outras obrigações civis derivadas do crime (nº 3 do art.º 227º). A caução económica mantém-se distinta e
autónoma relativamente à caução e subsiste até à decisão final absolutória ou até à extinção das obrigações. Em
caso de condenação são pagas pelo seu valor, sucessivamente, a multa, a taxa de justiça, as custas do processo e
a indemnização e outras obrigações civis (nº 4 do art.º 227º).

20.3. - OBRIGAÇÃO DE APRESENTAÇÃO PERIÓDICA - Artigo 198.° do CPP


➔ APLICÁVEL - se o crime imputado for punível com pena de prisão de máximo superior a seis meses.
➔ CONSISTE - na obrigação do arguido se apresentar a uma entidade judiciária ou a um certo órgão de
polícia criminal em dias e horas pré-estabelecidos, tomando em conta as exigências profissionais do
arguido e o local em que habita.

20.4. - SUSPENSÃO DO EXERCÍCIO DE FUNÇÕES, DE PROFISSÃO E DE DIREITOS – Art.º 199.°


do CPP
➔ APLICÁVEL - se o crime imputado for punível com pena de prisão de máximo superior a dois anos – nº 1.
➔ CONSISTE - na suspensão do exercício (nº 1):
a) Da função pública;
b) De profissão ou actividade cujo exercício dependa de um título público ou de uma
autorização ou homologação da autoridade pública; ou
c) Do poder paternal, da tutela, da curatela, da administração de bens ou da emissão
de títulos de crédito,
sempre que a interdição do exercício respectivo possa vir a ser decretada como efeito do
crime imputado.
➔ É COMUNICADA - à autoridade administrativa, civil ou judiciária normalmente competente para decretar
a suspensão ou a interdição respectivas.
➔ É ACUMULÁVEL - se disso for caso, com qualquer outra medida legalmente cabida – nº 1.

20.5. - PROIBIÇÃO DE PERMANÊNCIA, DE AUSÊNCIA E DE CONTACTOS - Artigo 200.° do CPP


➔ APLICÁVEL - se houver fortes indícios de prática de crime doloso punível com pena de prisão de máximo
superior a três anos – nº 1.
➔ CONSISTE - Nas obrigações de, cumulativa ou separadamente (nº 2):
a) Não permanecer, ou não permanecer sem autorização, na área de uma determinada povoação,
freguesia ou concelho ou na residência onde o crime tenha sido cometido ou onde habitem os
ofendidos seus familiares ou outras pessoas sobre as quais possam ser cometidos novos
crimes;
b) Não se ausentar para o estrangeiro, ou não se ausentar sem autorização;
➢ implica a entrega à guarda do tribunal do passaporte que possuir e a comunicação às
autoridades competentes, com vista à não concessão ou não renovação de passaporte
e ao controlo das fronteiras – nº 3.
c) Não se ausentar da povoação, freguesia ou concelho do seu domicílio, ou não se ausentar sem
autorização, salvo para lugares predeterminados, nomeadamente para o lugar do trabalho;
d) Não contactar com determinadas pessoas ou não frequentar certos lugares ou certos meios.
➔ As autorizações podem, em caso de urgência, ser requeridas e concedidas verbalmente, lavrando-se cota no
processo – nº 2.
➔ É ACUMULÁVEL - com a obrigação de apresentação periódica (art.º 198º) – nº 4.

104
Direito Processual Penal

20.6. - OBRIGAÇÃO DE PERMANÊNCIA NA HABITAÇÃO - Artigo 201.° do CPP


➔ APLICÁVEL - se houver fortes indícios de prática de crime doloso punível com pena de prisão de máximo
superior a três anos – nº 1;
➔ CONSISTE - na obrigação de o arguido se não ausentar, ou de se não ausentar sem autorização, da
habitação própria ou de outra em que de momento resida – nº 1.
➔ FISCALIZAÇÃO DO CUMPRIMENTO DA OBRIGAÇÃO - podem ser utilizados meios técnicos de
controlo à distância, nos termos previstos na lei.
20.6.1. - MONITORIZAÇÃO ELECTRÓNICA DE ARGUIDOS
 Dezembro de 1996 – visita ao Reino Unido para observar experiência-piloto.
 Despacho do Ministério da Justiça de Outubro de 1997 – criação de grupo de trabalho sobre monitorização
electrónica.
 Introdução da Vigilância electrónica no sistema penal português com a revisão do CPP pela Lei nº 59/98 de 25 de
Agosto.
 Lei nº 122/99 de 20 Agosto – Regula a vigilância electrónica prevista no art.º 201º do CPP
 Resolução do Conselho de Ministros nº 1/2001 de 6 de Janeiro – Cria uma estrutura com o objectivo de desenvolver
as estratégias do implemento do sistema de monitorização electrónica de arguidos.
 Portaria nº 26/2001 de 15 de Janeiro – define as características técnicas a que deve obedecer o equipamento a utilizar
na vigilância electrónica.
 Celebração de contrato com a sociedade SVEP – Segurança e Vigilância Electrónica de Pessoas, em 25 de Outubro
de 2001, para fornecimento de serviços de monitorização.
 Pela Portaria nº 1462-B/2001, de 28 de Dezembro a monitorização passou a ser feita de forma experimental a partir
de 1 de Janeiro de 2002 nas comarcas de Almada, Amadora, Barreiro, Cascais, Lisboa, Loures, Moita, Montijo,
Oeiras, Seixal, Sintra.
 Sucessivas Portarias têm alargado a utilização da monitorização electrónica a um número cada vez maior de
comarcas (Almada, Amadora, Barcelos, Barreiro, Braga, Cascais, Espinho, Esposende, Fafe, Felgueiras, Gondomar,
Guimarães, Lisboa, Loures, Lousada, Mafra, Maia, Matosinhos, Moita, Montijo, Oeiras, Ovar, Paços de Ferreira,
Paredes, Penafiel, Porto, Póvoa do Varzim, Santa Maria da Feira, Santo Tirso, Seixal, Sesimbra, Setúbal, Sintra,
Valongo, Vila do Conde, Vila Franca de Xira, Vila Nova de Famalicão, Vila Nova de Gaia).
Na pena de prisão em que o arguido for condenado deve ser descontado o tempo em que o mesmo esteve sujeito à obrigação de permanência na sua
habitação.
Acórdão da Relação de Coimbra de 1995.04.05, Boletim do Ministério da Justiça, 446, pág. 367

A obrigação de permanência na habitação prevista no artigo 201º do Código de Processo Penal é uma medida afim da prisão preventiva, estando sujeita aos
prazos desta, impondo, por isso, a obrigatoriedade da sua reapreciação nos termos do artigo 213º daquele Código.
Acórdão da Relação do Porto, de 07.05.1997, Boletim do Ministério da Justiça, 467, pág. 633

20.7. - PRISÃO PREVENTIVA - Artigo 202.° do CPP


➔ APLICÁVEL - se o juiz considerar inadequadas ou insuficientes as outras medidas de coacção (nº 1):
a) Houver fortes indícios de prática de crime doloso punível com pena de prisão de máximo
superior a três anos; ou
b) Se tratar de pessoa que tiver penetrado ou permaneça irregularmente em território nacional, ou
contra a qual estiver em curso processo de extradição ou de expulsão.
➔ Se o arguido sofre de anomalia psíquica, o juiz pode impor, enquanto a anomalia persistir, que em vez da
prisão tenha lugar internamento preventivo em hospital psiquiátrico ou outro estabelecimento análogo
adequado – nº 2.
I - O crime de tráfico de estupefacientes é um crime grave contra a humanidade.
II - Combater o tráfico de estupefacientes é combater a degradação e destruição de seres humanos.
III - A gravidade de tal ilícito e a perigosidade dos seus autores recomenda a utilização de prisão preventiva como medida de coacção mais adequada.
Acórdão da Relação de Évora, de 1995.01.10, Boletim do Ministério da Justiça, 443, pág. 465.

O perigo (relevante) de continuação da actividade criminosa terá de ser aferido a partir de elementos factuais que o revelem ou o indiciem e não de mera
presunção (abstracta ou genérica), ou seja, terá de ser apreciado caso a caso em função da contextualidade de cada caso ou situação, pelo que não cabem
aqui juízos de mera possibilidade e só o risco real (efectivo) de continuação da actividade criminosa pode justificar a aplicação das medidas de coacção,
maxime da prisão preventiva.
Assim sendo, a mera possibilidade de continuação da actividade criminosa não constitui motivo suficiente para concretizar uma qualquer situação como
consubstanciadora de perigo de continuação da actividade criminosa.
Acórdão da Relação de Coimbra, de 1999.06.02, in Boletim do Ministério da Justiça, 1999, Nº 488, pág. 419.

20.8. - VIOLAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES IMPOSTAS - Artigo 203.° do CPP


➔ Juiz, tendo em conta a gravidade do crime imputado e os motivos da violação, pode impor outra ou outras
medidas de coacção previstas no CPP e admissíveis no caso.
I - Os requisitos ou condições gerais previstos no artigo 204º do Código de Processo Penal são alternativos, bastando que se verifique um deles para que a
medida de coacção possa ser aplicada, preenchidos que estejam os restantes requisitos específicos da aplicação da medida.
II - Assim, como corolário desses princípios, as medidas de coacção são necessariamente precárias, substituíveis ou revogáveis, única forma de a todo o
tempo se poderem ajustar à finalidade que visam.
Acórdão da Relação de Évora, de 04.02.1997, BMJ, 464, pág. 638.

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Direito Processual Penal

21. – DROGA
21.1. - TRÁFICO E CONSUMO DE ESTUPEFACIENTES E PSICOTRÓPICOS
DECRETO-LEI Nº 15/93 de 22 de Janeiro
A Polícia Judiciária é a entidade policial com competência para a investigação, e para a prática
dos actos processuais de inquérito derivados da mesma ou que a integrem, relativamente aos crimes
previstos no art.º 4º da Lei nº 21/2000, de 10 de Agosto (Lei da Organização da Investigação Criminal)
e nº 2 do art.º 5º do Decreto-Lei nº 275-A/2000, de 9 de Novembro alterado pela Lei nº 103/2001, de
25 de Agosto (Estatuto da Polícia Judiciária), nomeadamente:
q) Relativos ao tráfico de estupefacientes e de substâncias psicotrópicas, tipificados no artigo 21º,
artigo 22º, artigo 23º, artigo 27º e artigo 28º do Decreto-Lei Nº 15/1993, de 22 de Janeiro, e dos
demais previstos neste diploma que lhe sejam participados ou de que colha notícia;
A DCITE (Direcção Central de Investigação do Tráfico de Estupefacientes) da PJ é o órgão
responsável, a nível nacional, pela coordenação de esforços no combate ao tráfico da droga.

Crimes mais relevantes relacionados com o tráfico de droga


ARTIGO 21º TRÁFICO E OUTRAS ACTIVIDADES ILÍCITAS
 Sem autorização cultivar, produzir, fabricar, extrair, preparar, oferecer, puser a venda, vender, distribuir,
comprar, ceder ou por qualquer título receber, proporcionar a outrem, transportar, importar, exportar, fizer
transitar ou ilicitamente detiver, fora dos casos previstos no artigo 40º, plantas, substâncias ou preparações
compreendidas nas tabelas I a III - pena de prisão de 4 a 12 anos – nº 1.
 Em contrário de autorização concedida nos termos do capítulo II, ilicitamente ceder, introduzir ou
diligenciar por que outrem introduza no comércio plantas, substâncias ou preparações referidas no número
anterior - pena de prisão, de 5 a 15 anos – nº 2.
 Cultivar plantas, produzir ou fabricar substâncias ou preparações diversas das que constam do título de
autorização - pena de prisão, de 5 a 15 anos – nº 3.
 Se se tratar de substâncias ou preparações compreendidas na tabela IV - pena de prisão de 1 a 5 anos – nº 4.

ARTIGO 22º PRECURSORES


╬ Sem autorização, fabricar, importar, exportar, transportar ou distribuir equipamento, materiais ou
substâncias inscritas nas tabelas V e VI, sabendo que são ou vão ser utilizados no cultivo, produção ou
fabrico ilícitos de estupefacientes ou substâncias psicotrópicas - pena de prisão de 2 a 10 anos – nº 1.
╬ Sem autorização detiver, a qualquer título, equipamento, materiais ou substâncias inscritas nas tabelas V e
VI, sabendo que são ou vão ser utilizados no cultivo, produção ou fabrico ilícitos de estupefacientes ou
substâncias psicotrópicas - pena de prisão de um a cinco anos –nº 2.
╬ Quando o agente seja titular de autorização nos termos do capítulo II, é punido:
a) No caso do nº 1 com pena de prisão de 3 a 12 anos;
b) No caso do nº 2, com pena de prisão de 2 a 8 anos.

ARTIGO 23º CONVERSÃO, TRANSFERÊNCIA OU DISSIMULAÇÃO DE BENS OU PRODUTOS


 Quem, sabendo que os bens ou produtos são provenientes da prática, sob qualquer forma de
comparticipação, de infracção prevista no artigo 21º, artigo 22º, artigo 24º e artigo 25º (nº 1):
a) Converter, transferir, auxiliar ou facilitar alguma operação de conversão ou transferência desses bens
ou produtos, no todo ou em parte, directa ou indirectamente, com o fim de ocultar ou dissimular a
sua origem ilícita ou de auxiliar uma pessoa implicada na prática de qualquer dessas infracções a
eximir-se às consequências jurídicas dos seus actos é punido com pena de prisão de 4 a 12 anos;
(Lavagem de dinheiro)
b) Ocultar ou dissimular a verdadeira natureza, origem, localização, disposição, movimentação,
propriedade desses bens ou produtos ou de direitos a eles relativos é punido com pena de prisão de 2
a 10 anos;
c) O adquirir ou receber a qualquer título, utilizar, deter ou conservar é punido com pena de prisão de
um a cinco anos.
 A punição pelos crimes previstos no número anterior não excederá a aplicável às correspondentes infracções
do artigo 21º, artigo 22º, artigo 24º e artigo 25º - nº 2.
 A punição pelos crimes previstos no nº 1 tem lugar ainda que os factos referidos no artigo 21º, artigo 22º,
artigo 24º e artigo 25º, hajam sido praticados fora do território nacional – nº 3.
106
Direito Processual Penal

ARTIGO 24º AGRAVAÇÃO


╬ As penas previstas no artigo 21º, artigo 22º e artigo 23º, são aumentadas de um terço nos seus limites
mínimo e máximo se:
a) As substâncias ou preparações foram entregues ou se destinavam a menores ou diminuídos psíquicos;
b) As substâncias ou preparações foram distribuídas por grande número de pessoas;
c) O agente obteve ou procurava obter avultada compensação remuneratória;
d) O agente foi funcionário incumbido da prevenção ou repreensão dessas infracções;
e) O agente foi médico, farmacêutico ou qualquer outro técnico de saúde, funcionário dos serviços prisionais ou dos
serviços de reinserção social, trabalhador dos correios, telégrafos, telefones ou telecomunicações, docente,
educador ou trabalhador de estabelecimento de educação ou de trabalhador de serviços de instituições de acção
social e o facto for praticado no exercício da sua profissão;
f) O agente participar em outras actividades criminosas organizadas de âmbito internacional;
g) O agente participar em outras actividades ilegais facilitadas pela prática da infracção;
h) A infracção tiver sido cometida em instalações de serviço de tratamento de consumidores de droga, de reinserção
social, de serviços ou instituições de acção social, em estabelecimento prisional, unidade militar, estabelecimento
de educação, ou em outros locais onde os alunos ou estudantes se dediquem à prática de actividades educativas,
desportivas ou sociais, ou nas suas imediações;
i) O agente utilizar a colaboração, por qualquer forma, de menores ou de diminuídos psíquicos;
j) O agente actuar como membro de bando destinado à prática reiterada dos crimes previstos no artigo 21º e artigo
22º, com a colaboração de, pelo menos, outro membro do bando;
k) As substâncias ou preparações foram corrompidas, alteradas ou adulteradas, por manipulação ou mistura,
aumentando o perigo para a vida ou para a integridade física de outrem.

ARTIGO 28º ASSOCIAÇÕES CRIMINOSAS


 Promover, fundar ou financiar grupo, organização ou associação de duas ou mais pessoas que, actuando
concertadamente, vise praticar algum dos crimes previstos no artigo 21º e artigo 22º - pena de prisão de 10 a
25 anos – nº 1.
 Prestar colaboração, directa ou indirecta, aderir ou apoiar o grupo, organização ou associação referidos no
número anterior - pena de prisão de 5 a 15 anos – nº 2.
 Chefiar ou dirigir grupo, organização ou associação referidos no nº 1 - pena de 12 a 25 anos de prisão – nº 3.
 Se o grupo, organização ou associação tiver como finalidade ou actividade a conversão, transferência,
dissimulação ou receptação de bens ou produtos dos crimes previstos no artigo 21º e artigo 22º, o agente é
punido (nº 4):
a) Nos casos dos números 1 e 3, com pena de prisão de 2 a 10 anos;
b) No caso do número 2, com pena de prisão de um a oito anos.

Sendo os crimes mais importantes relacionados com a droga da competência exclusiva da PJ, à
GNR está reservada apenas a investigação de crimes como tráfico de menor gravidade (art.º 25º),
traficante-consumidor (art.º 26º), incitamento ao uso (art.º 29º), abandono de seringas (art.º 32º) e os
ilícitos contra-ordenacionais relacionados com o consumo, o qual foi descriminalizado.
Para melhor esclarecimento do papel que deve desempenhar cada um dos OPC no combate ao tráfico de
estupefacientes, convém fazer uma análise ao Plano de Cooperação e Coordenação das Forças e Serviços de
Segurança, o qual foi objecto de uma reunião das Unidades de Coordenação e Intervenção Conjunta no Combate
ao Tráfico de Droga (UCIC’s/Nacional). Desta reunião, resultou um relatório, o qual foi difundido em Agosto de
2003, e do qual importa reter os seguintes aspectos:

 Crimes previstos nos arts 21º, 22º, 23º, 27º (abuso do exercício da profissão) e 28º do DL 15/93 de 23 de
Fevereiro:
- Responsabilidade da coordenação – PJ
- Responsabilidade de acção – PJ
- Procedimentos – Os OPCs e Forças de Segurança devem comunicar à DCITE/PJ todas as informações
que obtenham, devendo fazê-lo de imediato quando tomem conhecimento da preparação, início de
execução ou execução de quaisquer infracções, sem prejuízo da imediata tomada de medidas adequadas
à preservação da prova.
 Crimes previstos nos arts 21º (quando ocorram situações de distribuição directa aos consumidores, a
qualquer título, das plantas, substâncias ou preparações), 26º (traficante-consumidor), 29º (incitamento ao
uso de estupefacientes ou substâncias psicotrópicas), 30º (tráfico e consumo em lugares públicos ou de
reunião), 32º (abandono de seringas), 33º (desobediência qualificada):

107
Direito Processual Penal

-Responsabilidade da coordenação – PJ
-Responsabilidade de acção – GNR e PSP
-Procedimentos
✓ A GNR e a PSP transmitem previamente à DCITE as acções planificadas a desencadear (tem que se
pronunciar no prazo de 24 horas; se nada disser pressupõe-se que não existe qualquer inconveniente
na actuação e que a DCITE não tem qualquer informação relevante para fornecer).
✓ A DCITE centraliza a informação e exerce a coordenação divulgando a informação pertinente para a
actuação da GNR e PSP.
✓ A GNR e a PSP remetem à DCITE todo os dados informativos, a cópia dos autos de notícia e a cópia
dos relatórios finais dos inquéritos que elaborem e as demais informações que por esta lhe sejam
solicitadas.
✓ A GNR e a PSP remetem de imediato à DCITE notícia de todas as acções inopinadas que tenham
lugar.
 Podem ser solicitadas informações à EUROPOL.
 O estabelecimento dos princípios relativamente à formação e preparação especializada no âmbito da
prevenção e investigação do tráfico de estupefacientes compete ao Instituto Superior de Polícia Judiciária e
Ciências Criminais.
21.2. – CONSUMO
O consumo da droga (ilícito contra-ordenacional) encontra-se regulado nos seguintes preceitos legais dos
quais se apresentam as partes mais relevantes:
• Lei Nº 30/2000 de 29 de Novembro - Define o regime jurídico aplicável ao consumo de estupefacientes e
substâncias psicotrópicas, bem como a protecção sanitária e social das pessoas que consomem tais substâncias
sem prescrição médica.
• Decreto-Lei N.º 130-A/2001 – Estabelece a organização, o processo e o regime de funcionamento da
Comissão para a dissuasão da toxicodependência, a que se refere o n.º1 do art.º 5º da Lei 30/2000 de 29 Nov.
• Portaria n.º 94/96 de 26 de Março. Estabelece os limites quantitativos máximos para cada dose média diária.
21.2.1. - LEI Nº 30/2000
Preâmbulo - Define o regime jurídico aplicável ao consumo de estupefacientes e substâncias psicotrópicas,
bem como a protecção sanitária e social das pessoas que consomem tais substâncias sem prescrição médica.
ARTIGO 2º CONSUMO
- O consumo, a aquisição e a detenção para consumo próprio de plantas, substâncias ou preparações
compreendidas nas tabelas referidas no artigo anterior constituem contra-ordenação – nº 1.
- Para efeitos da presente lei, a aquisição e a detenção para consumo próprio das substâncias referidas no
número anterior não poderão exceder a quantidade necessária para o consumo médio individual durante
o período de 10 dias – nº 2.
ARTIGO 3º TRATAMENTO ESPONTÂNEO
- Não é aplicável o disposto nesta lei quando o consumidor ou o seu representante legal (no caso dos menores,
interditos ou inabilitados) solicite a assistência de serviços de saúde públicos ou privados – nº 1.
- Qualquer médico pode assinalar aos serviços de saúde do Estado os casos de abuso de plantas, substâncias
estupefacientes ou psicotrópicas que constate no exercício da sua actividade profissional, quando entenda que
se justificam medidas de tratamento ou assistência no interesse do paciente, dos seus familiares ou da
comunidade, para as quais não disponha de meios – nº 2.
- Nos casos previstos nos números anteriores há garantia de sigilo, estando os médicos, técnicos e restante
pessoal de saúde que assistam o consumidor sujeitos ao dever de segredo profissional, não sendo obrigados a
depor em inquérito ou processo judicial ou a prestar informações sobre a natureza e evolução do processo
terapêutico ou sobre a identidade do consumidor – nº 3.
ARTIGO 4º APREENSÃO E IDENTIFICAÇÃO
- As autoridades policiais procederão à identificação do consumidor e, eventualmente, à sua revista e à
apreensão das plantas, substâncias ou preparações encontradas na posse do consumidor, que são perdidas a
favor do Estado, elaborando auto da ocorrência, o qual será remetido à comissão territorialmente competente
– nº 1.
- Quando não seja possível proceder à identificação do consumidor no local e no momento da ocorrência,
poderão as autoridades policiais, se tal se revelar necessário, deter o consumidor para garantir a sua
comparência perante a comissão, nas condições do regime legal da detenção para identificação – nº 2.
108
Direito Processual Penal

ARTIGO 5º COMPETÊNCIA PARA O PROCESSAMENTO, APLICAÇÃO E EXECUÇÃO


- O processamento das contra-ordenações e a aplicação das respectivas sanções competem a uma comissão
designada «comissão para a dissuasão da toxicodependência», especialmente criada para o efeito,
funcionando nas instalações dos governos civis – nº 1.
- A execução das coimas e das sanções alternativas compete ao governo civil – nº 2.
- Nos distritos de maior concentração de processos poderá ser constituída mais de uma comissão por portaria
do membro do Governo responsável pela coordenação da política da droga e da toxicodependência – nº 3.
- O apoio administrativo e o apoio técnico ao funcionamento das comissões competem, respectivamente, aos
governos civis e ao IPDT (Instituto Português da Droga e da Toxicodependência) – nº 4.
- Os encargos com os membros das comissões são suportados pelo IPDT – nº 5.
ARTIGO 16º COIMAS
- Se se tratar de plantas, substâncias ou preparações compreendidas nas tabela I-A, I-B, tabela II-A, II-B e II-C,
a coima compreende-se entre um mínimo de 24,94 Euros e um máximo equivalente ao salário mínimo
nacional – nº 1.
- Se se tratar de substâncias ou preparações compreendidas nas tabelas I-C, III e IV, a coima é de 24,94 a
149,64 Euros - nº 2.

21.2.2. - DECRETO-LEI Nº 130-A/2001


Preâmbulo
- A Lei Nº 30/2000, de 29 de Novembro, definiu o regime jurídico aplicável ao consumo de estupefacientes e
substâncias psicotrópicas, bem como a protecção sanitária e social das pessoas que consomem tais substâncias
sem prescrição médica.
- Nos termos dessa lei a competência para o processamento das contra-ordenações e aplicação das respectivas
sanções é atribuída a uma comissão especialmente criada para o efeito, designada «comissão para a dissuasão
da toxicodependência», devendo ser adoptadas todas as providências regulamentares necessárias à aplicação
do regime de tratamento e fiscalização nela previsto.
- Embora a Lei Nº 30/2000, de 29 de Novembro, determine que a organização, processo e regime de
funcionamento da comissão é definida por portaria de dois membros do Governo, a conveniência em incluir
num único diploma matérias que em rigor não se reconduzem integralmente a esse núcleo temático (como é o
caso, designadamente, da actuação das entidades policiais e dos governos civis no âmbito do processo de
contra-ordenação), tornando mais fácil a sua aplicação, leva a que se opte pela utilização da forma de decreto-
lei.
- Assim: Considerando o Nº 3 do artigo 7º da Lei Nº 30/2000, de 29 de Novembro, e nos termos da alínea a) do
Nº 1 do artigo 198º da Constituição, o Governo decreta o seguinte:
ARTIGO 9º CONHECIMENTO DA CONTRA-ORDENAÇÃO
- A autoridade policial que tome conhecimento da prática de contra-ordenação prevista na Lei Nº 30/2000, de
29 de Novembro, elabora auto de ocorrência, onde se menciona – nº 1:
- Os factos que constituem a contra-ordenação;
- O dia, a hora, o local e as circunstâncias em que a contra-ordenação foi cometida;
- Tudo o que puder averiguar acerca da identificação do agente da contra-ordenação e seu domicílio;
- As diligências efectuadas, bem como os meios de prova conhecidos, nomeadamente as testemunhas que
puderem depor sobre os factos.
- O auto de ocorrência é assinado pela entidade que o elaborou e enviado pelo meio mais célere à comissão
que se afigure territorialmente competente, de modo que seja recebido até 36 horas depois daquela ocorrência
– nº 2.
- As autoridades policiais providenciam em ordem a evitar o desaparecimento de provas e apreendem as
substâncias suspeitas, as quais constam do auto e são remetidas, no mais curto lapso de tempo, à comissão
competente, para serem depositadas no governo civil – nº 3.
- Quando não for possível identificar o indiciado e conhecer o seu domicílio no local e no momento da prática
do facto, as autoridades policiais podem proceder à sua detenção, a fim de o identificarem ou de
garantirem a comparência perante a comissão, nos termos do regime legal da detenção para identificação –
nº 4.
- No caso previsto no número anterior pode o indiciado contactar telefonicamente qualquer familiar e um
advogado por si escolhido –nº 5.

109
Direito Processual Penal

21.2.3. - Portaria n.º 94/96 de 26Mar

TABELA
Plantas substâncias ou preparações constantes das tabelas I a IV de Limite quantitativo
Tabela
consumo mais frequente máximo (1dia)
Heroína (diacetilmorfina) I-A (2) 0,1gr
Metadona I-A (2) 0,1 gr
Morfina I-A 0,2 gr
Ópio (suco) I-A (3-b) 1 gr
Cocaína (cloridrato) I-B (2) (4) 0,2 gr
Cocaína (éster metílico de benzoilecgonina) I-B (2) (4) 0,03 gr
Canabis (folhas e sumidades floridas ou frutificadas) I-C (3-c , d) 2,5 gr
Canabis (resina) I-C (3-c , d) 0,5 gr
Canabis (óleo) I-C (3-f) 0,25 gr
Fenciclidina (PCP) II-A (3-a) 0,01 gr
Lisergida (LSD) II-A 50 (micra)g
MDMA II-A (2) (3-g) 0,1 gr
Anfetamina II-B 0,1 gr
Tetraidrocanabinol II-B 0,05 gr

(1) Os limites quantitativos máximos para cada dose média individual diária são expressos em gramas, excepto quando
expressamente se indique unidade diferente.
(2) Os limites referidos foram estabelecidos com base em dados epidemiológicos referentes ao uso habitual.
(3) As quantidades indicadas referem-se:
a) Às doses diárias mencionadas nas farmacopeias oficiais;
b) Às doses equipotentes à da substância de abuso de referência;
c) À dose média diária com base na variação do conteúdo médio do TIIC existente nos produtos da Canabis;
d) A uma concentração média de 2% de A9TIIC;
e) A uma concentração média de 10% de A9TIIC;
f) A uma concentração média de 20% de A9TIIC;
g) Às doses médias habituais referidas na literatura que variam entre 80 mg e 160 mg (ca. 2 mg/kg) da substância
pura. No entanto pode aparecer misturada com impurezas (por exemplo, MDA, cafeína) ou ainda em
associação com heroína.
(4) Para a cocaína são especificados limites quantitativos diferentes, respectivamente para o cloridrato e para o éster
metílico de benzoilecgonina, uma vez que o potencial adictivo das duas formas químicas é muito diferente.

Recomendação nº 1/2004 do Gabinete do Inspector-Geral da Administração Interna


Que seja determinado a todo o dispositivo, com força obrigatória geral a prática da seguinte doutrina:
1. É ilegal a condução de cidadão aos postos policiais (esquadra ou posto) com a única finalidade de
identificação, ainda que se encontre em local público, aberto ao público ou sujeito a vigilância policial,
mesmo que nisso consinta quando não se verifiquem os pressupostos constantes da Lei 5/95 ou do
artigo 250 do Código de Processo Penal (sobre ele recaia fundada suspeita da prática de crimes,
pendência de processo de extradição ou de expulsão, entrada ou permanência ilegal em território
nacional, haver contra o mesmo mandado de detenção).
2. Não está prevista no nosso ordenamento jurídico a possibilidade de detenção para identificação
coactiva de suspeito da prática de mera contra-ordenação.
3. é ilegal a condução de consumidores de substâncias psicotrópicas aos postos policiais com a única
finalidade de elaboração de expediente, quando os factos configurarem inequivocamente a existência
de uma mera contra-ordenação.
4. A detenção do indivíduo, consumidor de substâncias psicotrópicas, que não seja possível identificar
no local e no momento da ocorrência, suspeito da prática da contra-ordenação p. e p. nos termos do artº
2º, 15º e 16º da Lei nº 30/2000, de 29 de Novembro, apenas pode ter lugar quando se revelar necessária
para garantir a comparência daquele perante a Comissão para a dissuasão da toxicodependência.

110
Direito Processual Penal

22. – ELABORAÇÃO DE UM INQUÉRITO


O Inquérito é a primeira fase de um processo criminal, no final do qual é deduzida a acusação do
arguido ou então é mandado arquivar o processo. O Ministério Público é a entidade responsável pela
direcção dos inquéritos de processos penais. Mas, como foi atrás referido, actualmente a elaboração de
grande parte dos inquéritos são delegados pelo MP nos órgãos de polícia criminal.
Os inquéritos são constituídos por várias peças processuais (fruto de diligências efectuadas durante
as investigações) e por um relatório que é elaborado no final de todas as diligências, no qual são
apresentados, de forma resumida todos os factos, diligências, meios de prova, resultados das
investigações, etc, efectuados durante a fase de inquérito.
No decurso das investigações que são efectuadas no âmbito da competência da Guarda, surge por
vezes a necessidade de recolher ou confirmar informações. Na maioria dos casos este tipo de acção
desenvolve-se no âmbito de um inquérito, contudo no desenvolvimento da actividade de segurança
interna, as autoridades de polícia podem, de harmonia com as respectivas competências específicas
efectuar vigilâncias policiais de pessoas, edifícios e estabelecimentos por período determinado (art.º
16º da Lei n.º 20/87 de 12JUN - Lei de Segurança Interna e art.º 29.º da Lei Orgânica da GNR).

22.1. - EXPEDIENTE A ENVIAR AO MP E QUE FAZ PARTE DO INQUÉRITO

Por exemplo, para um crime de furto (art.º 203º do CP) que nos tenha sido denunciado e cujo autor
seja conhecido, o Inquérito poderia ser constituído pelas seguintes peças processuais:
 Ofício de envio do relatório ao Tribunal (ver apêndice 14 do anexo A).
 Original de Auto de Denúncia (a elaborar logo que os factos nos sejam denunciados e cuja cópia
já havia sido remetida ao MP logo após ao denúncia do crime – ver apêndice 1 do anexo A).
 Original do Auto de Declarações do ofendido (elaborado com base nas declarações prestadas
pelo ofendido, após ter sido notificado para comparecer no Posto – ver apêndice 5 do anexo A ).
 Termo de Notificação do art.º 75º e segs. do CPP ao ofendido (notificação de que pode pedir
indemnização pelos eventuais prejuízos físicos, materiais, psicológicos, etc, que sofreu - ver
apêndice 4 do anexo A ).
 Folha para junção de documentos ao inquérito (folha simples através da qual fazemos juntada
ao processo de documentos. Por exemplo: orçamentos, facturas, despesas hospitalares, etc,
apresentadas pelo ofendido e das quais quer receber compensação por parte do arguido).
 Auto de Constituição de arguido (caso o indivíduo ainda não tenha sido constituído arguido
durante o processo - ver apêndice 2 do anexo A ).
 Termo de Identidade e residência (caso o indivíduo ainda não tenha prestado TIR durante o
processo - ver apêndice 3 do anexo A ).
Nota:
no caso de haver concurso de crimes (por exemplo, o arguido ter cometido 2 crimes de furto),
devemos fazer a constituição de arguido e sujeitar a TIR o arguido por cada um dos crimes por ele
cometidos (se cometeu 2 crimes de furto é constituído arguido e sujeito a TIR por cada um dos
crimes que cometeu).
 Auto de Interrogatório de Arguido (a elaborar no âmbito do inquérito realizado no Posto –
quando estiverem em causa crimes conexos, o arguido pode ser inquirido em auto único para os
vários processos, uma vez que ambos os processos se encontram conexos, elaborando-se assim um
único auto de interrogatório - ver apêndice 6 do anexo A ).
 Inquérito sócio económico a efectuar ao arguido (este inquérito sobre os bens do arguido é
muitas vezes pedido pelo MP para avaliar as posses do arguido, pelo que devemos tomar a
iniciativa de o fazer, evitando a execução deste trabalho mais tarde - ver apêndice 15 do anexo A ).

111
Direito Processual Penal

 Auto de Inquirição de testemunha (a elaborar no âmbito do inquérito, realizando-se um auto de


inquirição por cada testemunha que seja chamada ao Posto para testemunhar - ver apêndice 7 do
anexo A ).
 Auto de Apreensão / Exame e Avaliação (a elaborar logo que se efectivem as apreensões, por
exemplo, apreensão dos objectos do crime. Todos os objectos apreendidos devem ser
correctamente descritos, examinados e avaliados – a avaliação é feita pelos OPC ou por peritos).
 Guia de Entrega do material apreendido (através da qual é entregue ao tribunal o material
apreendido que seja relevante para o processo – material utilizado no crime, objectos que ainda
possam vir a ser sujeitos a exame, etc).
 Termo de Autorização de Busca pelo visado (por exemplo a casa do presumível autor do furto) a
elaborar nos termos da alínea b) do nº 4 do art.º 174º do CPP. É elaborado no sentido de nos
legitimar a realização da diligência, nos termos da legislação processual penal, não esquecendo
que esta diligência tem que ser depois validada pelo juiz – 177º, nº 2 CPP) - ver apêndice 12 do
anexo A .
Se o visado não consentir a busca, terá que ser pedido mandado de busca ao juiz, pelo que o
expediente que faria parte do inquérito seria:
 Ofício de solicitação dos Mandados de Busca (elaborado pelos OPC a solicitar os Mandados
de Busca ao juiz - ver apêndice 10 do anexo A ).
 Mandado de Busca (emitido pelo Tribunal e enviado ao Posto para cumprimento e que deve
ser sempre certificado no verso pelos OPC após a diligência e enviado à AJ - ver apêndice 11 do
anexo A ).
 Certidão do Mandado (a efectuar no verso do Mandado logo que efectivada a diligência; o
Mandado entregue ao visado, não necessita de ser certificado - ver apêndice 11 do anexo A ).
 Relatório de Busca e Apreensão (a efectuar logo que efectuada a busca e onde, são mencionados
os objectos apreendidos - ver apêndice 13 do anexo A ).
 Termo de Entrega (a efectuar logo que sejam recuperados artigos devidamente reconhecidos, no
sentido de expressar a entrega dos mesmos ao seu proprietário – é efectuado quando não existe
qualquer necessidade de manter os objectos apreendidos e estes são entregues aos respectivos
proprietários).
 Original do RELATÓRIO DE INQUÉRITO (que é elaborado no final de terem sido efectuadas todas
as diligências e que contém, de forma resumida mas completa, todos os factos relevantes para a
apreciação do crime pelo MP).
Uma estrutura possível do relatório poderia ser a seguinte:
 Motivos que levaram à elaboração do Inquérito
 A – Prova Testemunhal - Inquirições (quem foi inquirido – ofendidos, arguidos, testemunhas)
1- Resumo do Auto de Denúncia
2- Resumo das declarações do ofendido
3- Resumo das declarações do arguido
4- Resumo das declarações das testemunhas
 B – Prova Material - Apreensões
1- Apreensões efectuadas no local dos factos (por exemplo objectos utilizados no crime)
2- Entrega de material no tribunal (de objectos apreendidos que devam ficar à guarda do
tribunal)
3- Realização de buscas domiciliárias/outras apreensões (eventualmente efectuadas durante as
investigações)
4- Entrega do material a fiel depositário (por exemplo, ao dono dos objectos apreendidos)
 C – Prova Documental
 E – Conclusões (contendo os aspectos mais relevantes da investigação)
112
Direito Processual Penal

23. – OS MILITARES DA GNR EM TRIBUNAL


23.1. – ORGANIZAÇÃO DOS TRIBUNAIS (Arts 209º a 214º da CRP)
- TRIBUNAL CONSTITUCIONAL (Arts 221º a 224º da CRP)
- TRIBUNAIS JUDICIAIS (Arts 21º e 211º da CRP e Organização e funcionamento – Lei 3/99 de 13 de Janeiro,
alterada pela Lei 101/99, de 26 de Julho, e pelos Decretos-Leis nºs 323/2001, de 17 de Dezembro, 10/2003, de
18 de Janeiro e 38/2003, de 8 de Março)
❖ Supremo Tribunal de Justiça (Art.º 210º da CRP e Capítulo III da Lei 3/99)
❖ Tribunal da Relação / 2.ª Instância (Art.º 210º, nº 3 da CRP e Capítulo IV da Lei 3/99)
❖ Tribunal de Comarca / 1.ª Instância (Art.º 210º, nº 4 da CRP e Capítulo V da Lei 3/99)
o Competência genérica - Comarca
o Competência especializada (Art.º 78 da Lei 3/99 de 13JAN)

Instrução Criminal (Art.º 79/80 da Lei 3/99)

Família (Arts 81/82 da Lei 3/99)

Menores (Art.º 83/84 da Lei 3/99)

Trabalho (Art.º 85/86/87/88 da Lei 3/99)

Comércio (Art.º 89 da Lei 3/99)

Execução de Penas (Art.º 91 da Lei 3/99)

Marítimos (Art.º 90 da Lei 3/99)
o Competência específica (Art.º 96 da Lei 3/99 de 13JAN)
▪ Varas Cíveis (Art.º 97 da Lei 3/99)
▪ Varas criminais (Art.º 98 da Lei 3/99)
▪ Juízos Cíveis (Art.º 99 da Lei 3/99)
▪ Juízos Criminais (Art.º 100 da Lei 3/99)
▪ Juízos de Pequena Instância Cível (Art.º 101 da Lei 3/99)
▪ Juízos de Pequena Instância Criminal (Art.º 102 da Lei 3/99)

TRIBUNAIS ADMINISTRATIVOS E FISCAIS (Art.º 212º da CRP e Estatuto – Lei nº 13/2002, de 19 de


Fevereiro, alterada pelas Leis nº 4-A/2003, de 19 Fevereiro e nº 107-D/2003 de 31 de Dezembro; Código do
Procedimento – Lei 15/2002, de 22 de Fevereiro, alterada pela Lei nº 4-A/2003)
TRIBUNAL DE CONTAS
OUTROS TRIBUNAIS
o Arbitrais
o Militares (só em tempo de guerra – Art.º 213º da CRP e arts 128º a 137º do Código de Justiça Militar – Lei 100/2003, de 15
de Novembro)
▪ Supremo Tribunal Militar
▪ Tribunais Militares de 2ª Instância
▪ Tribunais Militares de 1ª Instância
o Julgados de Paz

23.2. – CLASSIFICAÇÃO DOS TRIBUNAIS JUDICIAIS QUANTO À ESTRUTURA


Tribunal Singular (Art.º 104 da Lei 3/99 de 13JAN)
- Composto por um juiz;
- Compete-lhe julgar os processos que não devam ser julgados pelo tribunal colectivo ou do júri.
Tribunal Colectivo (Art.º 106 da Lei 3/99 de 13JAN)
- Composto por três juízes;
- Compete-lhe julgar os processos a que se refere o art.º 14 do CPP; questões de facto que ultrapassem
a alçada dos Tribunais da Relação (15000 euros); quando a lei o determine.
Tribunal do Júri (Art.º 110 da Lei 3/99 de 13JAN)
- Composto pelo Presidente do Tribunal Colectivo (que preside), pelos restantes juízes e por jurados. O
número, recrutamento e selecção dos jurados é regulado por lei própria.
- Compete-lhe julgar os processos a que se refere o Art.º 13 do CPP, salvo se tiverem por objecto
crimes de terrorismo ou criminalidade altamente organizada. A intervenção do júri no julgamento é
definida pela lei do processo.

113
Direito Processual Penal

23.3. – DIVISÃO JUDICIAL DO TERRITÓRIO


 Distritos Judiciais (Évora, Lisboa, Coimbra e Porto)
 Círculos Judicias
 Comarcas
23.4. – COMPETÊNCIA FUNCIONAL
Atendendo, em face do desenvolvimento do processo, à fase em que este se encontra, são, regra
geral, competentes:
 para a Instrução - o Tribunal de Instrução Criminal;
 para o Julgamento - o Tribunal de 1ª Instância;
 para a fase de Recurso - o Tribunal da Relação (2.ª Instância) ou o STJ.

23.5. – O TRIBUNAL E OS JUÍZES


O Tribunal é um órgão de soberania, independente, que tem como função administrar a Justiça em
nome do povo (art. 209º da CRP). A sua característica principal é a independência dos restantes órgãos
de soberania, o que resulta directamente do princípio da separação de poderes.
O juiz, por sua vez, é um órgão judicial independente perante os restantes órgãos de soberania.
Concede-se aos tribunais plena liberdade, para que possam aplicar as leis e decidir, sem submissão
a quaisquer ordens da Assembleia da República, do Governo ou do Presidente da República.
Existe também independência do juiz perante a organização hierárquica judicial, não estando este
obrigado a aceitar ordens ou instruções de outros juízes a que deva obediência hierárquica. A
correcção de possíveis erros praticados pelo juiz encontra-se assegurada pelo recurso aos tribunais de
instâncias superiores.
Relacionado com a independência dos juízes, existe o carácter inamovível dos juízes, a sua
nomeação é vitalícia, só podendo ser transferidos, promovidos, suspensos ou colocados na inactividade
de acordo com o prescrito na lei.
Os juízes usufruem de irresponsabilidade judicial, o que se traduz no facto de não responderem
pelos seus julgamentos ou pelas suas decisões.

23.6. – O MINISTÉRIO PÚBLICO


Compete-lhe representar o estado, defender os interesses que a lei determinar, participar na
execução da política criminal definida pelos órgãos de soberania, exercer a acção penal orientada pelo
princípio da legalidade e defender a legalidade democrática.
O Ministério Público goza de estatuto próprio e de autonomia, nos termos da lei. Os agentes do
Ministério Público são magistrados responsáveis, hierarquicamente subordinados, e não podem ser
transferidos, suspensos, aposentados ou demitidos senão nos casos previstos na lei.
A nomeação, colocação, transferência e promoção dos agentes do Ministério público e o
exercício da acção disciplinar competem à Procuradoria-Geral da República (art.º 219º da CRP).
É característico de um sistema acusatório a existência de uma entidade investigadora e acusadora
e de uma entidade julgadora. A acção acusadora encontra-se atribuída ao Ministério Público. O MP é o
titular, não só da promoção do processo, como também o titular a quem compete deduzir a acusação
(existem apenas algumas excepções relacionadas com inquéritos que decorrem no âmbito da
Assembleia da República).
Com a criação do MP não se pretendeu apenas obter a separação entre a entidade
investigadora/acusadora e a entidade julgadora. Pretende-se também que os tribunais não fossem
sobrecarregados com pequenas queixas penais, muitas vezes mal fundamentadas, sem qualquer
consistência jurídica, as quais só por si não poderiam conduzir a qualquer condenação do arguido.

23.7. – A AUDIÊNCIA DE JULGAMENTO


23.7.1 – CONTINUIDADE DA AUDIÊNCIA
A audiência é contínua, decorrendo sem qualquer interrupção ou adiamento até ao seu
encerramento. No entanto, são admissíveis, na mesma audiência, as interrupções estritamente
necessárias, em especial para alimentação e repouso dos participantes. Se a audiência não puder ser
114
Direito Processual Penal

concluída no dia em que se tiver iniciado, é interrompida, para continuar no dia útil imediatamente
posterior (art.º 328º, nº 1 e 2 do CPP).
O adiamento da audiência só é admissível, em casos especificamente previstos no CPP. Em caso
de interrupção da audiência ou do seu adiamento por período não superior a oito dias, a audiência
retoma-se a partir do último acto processual praticado na audiência interrompida ou adiada. Retomada
a audiência, o tribunal, oficiosamente ou a requerimento, decide de imediato se alguns dos actos já
realizados devem ser repetidos. O adiamento não pode exceder 30 dias. Se não for possível retomar a
audiência neste prazo, perde eficácia a produção de prova já realizada. O anúncio público em audiência
do dia e da hora para continuação ou recomeço daquela vale como notificação das pessoas que
devam considerar-se presentes (art.º 328º, nºs 3 a 7 do CPP).

23.7.2 – ABERTURA DA AUDIÊNCIA E EXPOSIÇÕES INTRODUTÓRIAS


 Na hora a que deva realizar-se a audiência, o funcionário de justiça, de viva voz e publicamente,
começa por identificar o processo.
 Em seguida chama as pessoas que nele devam intervir.
 Se faltar alguma das pessoas que devam intervir na audiência, o funcionário de justiça faz nova
chamada, após o que comunica verbalmente ao presidente do tribunal o rol dos presentes e dos
faltosos.
 De seguida, o tribunal entra na sala e o presidente declara aberta a audiência de julgamento (art.º
329º do CPP).
Nota: A falta do assistente, de testemunhas, peritos ou consultores técnicos ou das partes civis não dá lugar ao
adiamento da audiência. Se o presidente decidir que a presença de alguma das referidas pessoas é indispensável à boa
decisão da causa e não for previsível a obtenção do seu comparecimento com a simples interrupção da audiência, são
inquiridas as pessoas presentes, mesmo que tal implique a alteração da ordem de produção de prova (ver art.º 341º),
sendo documentados os depoimentos ou esclarecimentos prestados (art.º 331º do CPP).
 Realizados os actos introdutórios, o presidente ordena a retirada da sala das pessoas que devam
testemunhar, podendo proceder de igual modo relativamente a outras pessoas que devam ser
ouvidas, e faz uma exposição sucinta sobre o objecto do processo.
 Em seguida o presidente dá a palavra, pela ordem indicada, ao MP, aos advogados do assistente,
do lesado e do responsável civil e ao defensor, para que cada um deles indique, se assim o desejar,
sumariamente e no prazo de 10 minutos, os factos que se propõem provar.
 O presidente regula activamente as exposições, com vista a evitar divagações, repetições ou
interrupções, bem como a que elas se transformem em alegações preliminares (art.º 339º do CPP).
23.7.3 – ORDEM DE PRODUÇÃO DA PROVA ARTIGO 341.°
A produção da prova deve respeitar a seguinte ordem (art.º 341º do CPP):
1º - Declarações do arguido;
2º - Apresentação dos meios de prova indicados pelo Ministério Público, pelo assistente e pelo
lesado;
3º - Apresentação dos meios de prova indicados pelo arguido e pelo responsável civil.

23.7.3 – INQUIRIÇÃO DAS TESTEMUNHAS


À produção da prova testemunhal na audiência são correspondentemente aplicáveis as disposições
gerais sobre aquele meio de prova. As testemunhas são inquiridas, uma após outra, pela ordem por que
foram indicadas, salvo se o presidente, por fundado motivo, dispuser de outra maneira.
No início da inquirição o presidente pergunta à testemunha pela sua identificação, pelas suas
relações pessoais, familiares e profissionais com os participantes e pelo seu interesse na causa, de tudo
se fazendo menção na acta.
Seguidamente a testemunha é inquirida da seguinte forma:
1º - É inquirida por quem a indicou.
2º - É sujeita a contra-interrogatório pela outra parte.
3º - Quando no contra-interrogatório forem suscitadas questões não levantadas no interrogatório directo
(1º), quem tiver indicado a testemunha pode reinquiri-la sobre aquelas questões.
4º - Pode seguir-se novo contra-interrogatório com o mesmo âmbito.

115
Direito Processual Penal

Os juízes e os jurados podem, a qualquer momento, formular à testemunha as perguntas que


entenderem necessárias para esclarecimento do depoimento prestado e para boa decisão da causa.
Durante a inquirição podem ser mostrados às testemunhas quaisquer pessoas, documentos ou
objectos relacionados com o tema da prova, bem como peças anteriores do processo (sem prejuízo do
disposto nos artigos 356° e 357°) – art.º 348º do CPP.
As testemunhas (assim como os peritos, o assistente e as partes civis) só podem abandonar o local
da audiência por ordem ou com autorização do presidente. A autorização é denegada sempre que
houver razões para crer que a presença das testemunhas pode ser útil à descoberta da verdade. O MP, o
defensor e os advogados do assistente e das partes civis são ouvidas pelo juiz antes de este dar a ordem
ou autorização para a dispensa das testemunhas – art.º 353º do CPP.

23.8. – O MILITAR DA GNR EM AUDIÊNCIA DE JULGAMENTO


23.8.1 - NOTIFICAÇÃO PARA COMPARECER EM TRIBUNAL
É feita pela secretaria do tribunal, oficiosamente ou sob a direcção do presidente, podendo, sempre
que for indispensável, solicitar a colaboração de outras entidades (art.º 317º do CPP). Nos termos do
art.º 114º do CPP, a notificação de militares da GNR pode fazer-se mediante requisição ao serviço a
que o militar pertence, mas a comparência do militar não carece de autorização do superior
hierárquico. Quando, porém, a notificação for feita por outro modo, o militar da GNR deve informar
imediatamente da notificação o seu superior e, após a audiência em tribunal, apresentar-lhe documento
comprovativo da comparência.

23.8.2 - PROCEDIMENTOS NORMAIS NUMA IDA A TRIBUNAL


As idas a Tribunal são frequentes para os militares da Guarda, fruto da sua actividade operacional.
Quer assumam a qualidade de testemunhas (regra geral), de ofendidos e até mesmo de arguidos, os
militares devem ter um conhecimento básico do funcionamento dos Tribunais por forma a evitar
situações de embaraço.
O militar da Guarda deve-se fazer acompanhar, quando for o caso disso, da respectiva notificação
e dirigir-se ao Juízo (secretaria) correspondente sendo, regra geral, informado pelo funcionário para se
deslocar para junto da sala onde vai ter lugar a audiência de julgamento;
Junto à sala de audiência há-de surgir um funcionário judicial que irá fazer uma primeira chamada,
a fim de confirmar se todos os intervenientes no processo estão presentes (ver 22.7.2 – Abertura da
audiência).
Após terminar a chamada, o funcionário informa os presentes:
A - Que todos os intervenientes estão presentes, pelo que estão reunidas as condições para
dar início à audiência, ou
B - Que falta(m) algum/alguns dos intervenientes, e que caso não se apresentem até à hora
marcada poderá (se o juiz assim o entender) o julgamento ser adiado.
Em caso de adiamento (B), deverá o militar deslocar-se novamente ao Juízo (secretaria) a fim de
certificar a notificação em como esteve presente na data e hora indicada, e também para que lhe seja
averbada a nova data marcada, devendo-a apresentar no seu local de serviço para conhecimento dos
seus superiores hierárquicos.
Em caso de se proceder ao início da audiência (A), normalmente um funcionário encaminha os
intervenientes para uma pequena sala de espera, onde aguardam que sejam chamados. Eventualmente,
todos os intervenientes poderão ser chamados para presenciar a abertura da audiência e após realizados
os actos introdutórios, o presidente ordenará a retirada da sala das pessoas que devam testemunhar,
podendo proceder de igual modo relativamente a outras pessoas que devam ser ouvidas, dirigindo-se
umas e outras para o local que o funcionário indicar (sala de espera).
Quando for chamado, o militar da Guarda é acompanhado pelo funcionário até à entrada da sala de
audiência pelo que deve proceder da seguinte forma:
- “Pedir Licença” ao Meritíssimo Senhor Doutor Juiz, para entrar na Sala;
- Dirigir-se para junto da cadeira indicada pelo funcionário judicial, e aí permanecer em pé numa
posição de respeito (sentido) voltado para a tribuna;
116
Direito Processual Penal

- Responder prontamente quando lhe for perguntado o seu nome completo, Posto e local onde
presta serviço (eventualmente pode-lhe também ser perguntado pelas suas relações pessoais,
familiares e profissionais com os participantes e pelo seu interesse na causa);
- Ainda na posição de pé é então submetido a juramento (no caso de ser testemunha), pelo que
após essa formalidade, o Juiz há-de dizer “Pode-se sentar” ;
- Durante a inquirição, e apesar de estar sentado, o militar deve manter uma postura digna e
correcta de forma a não pôr em risco a imagem da instituição que representa;
- Terminada a inquirição há-de ser dito ao militar que pode abandonar a sala de audiência, ou
que, caso entenda assistir ao resto da audiência se deve sentar nos bancos destinados a esse
efeito (o militar só pode abandonar o local da audiência após a ordem ou autorização do juiz –
art.º 353º do CPP);

23.8.3 – DIREITOS E DEVERES GERAIS DO MILITAR DA GNR ENQUANTO TESTEMUNHA


O militar da GNR, na qualidade de testemunha num processo judicial tem os mesmos direitos e
deveres do que qualquer outra testemunha.
DEVERES
Salvo quando a Lei dispuser de forma diferente, incumbem ao militar os deveres de (art.º 132º do
CPP) :
a) Se apresentar, no tempo e no lugar devidos, à autoridade por quem tiver sido legitimamente
convocado ou notificado, mantendo-se à sua disposição até ser por ela desobrigado. A falta
injustificada de apresentação é punida nos termos do art.º 116 do CPP, estando o regime de
justificação previsto no art.º 117 do CPP.
b) Prestar juramento, quando ouvido por autoridade judiciária. A recusa a prestar juramento é
equiparável (nos termos do art.º 91º, n.º 4 do CPP) à recusa a depor, a qual é punida
criminalmente nos termos do art.º 360, n.º 2 do Código Penal.
c) Obedecer às indicações que legitimamente lhe forem dadas quanto à forma de prestar
depoimento.
d) Responder com verdade às perguntas que lhe forem dirigidas. Além de um dever ético e moral, é
também um dever jurídico, sancionado penalmente nos termos do art.º 360, n.º 1 e 3 do CP.
Nota: Os órgãos de polícia criminal que tiverem recebido declarações cuja leitura não for permitida, bem como quaisquer
pessoas que, a qualquer título, tiverem participado na sua recolha, não podem ser inquiridas como testemunhas sobre o
conteúdo daquelas - art.º 356º, nº 7 do CPP.
DIREITOS
- O militar da GNR não é obrigado a responder a perguntas quando alegar que das respostas resulta a
sua responsabilização penal.
- Durante a inquirição ao militar da Guarda poderão ser feitas perguntas impertinentes (são as que não
interessam à causa), perguntas capciosas (são as que tendem a fazer com que uma testemunha
responda ao que convém ao inquiridor, sem que ela o quisesse dizer) e perguntas sugestivas (são as
que procuram insinuar à testemunha a resposta a dar). O n.º 2 do Art.º 138º do CPP determina que não
devem ser feitas este tipo de perguntas, nem quaisquer outras que possam prejudicar a espontaneidade
e a sinceridade das respostas. Por outro lado, o art.º 323º do CPP, determina que cabe ao presidente da
audiência “garantir o contraditório e impedir a formulação de perguntas legalmente inadmissíveis” e
“dirigir e moderar a discussão, proibindo, em especial, todos os expedientes manifestamente
impertinentes ou dilatórios”.
- Direito de audiência: O militar da GNR é chamado para colaborar com o tribunal no esclarecimento
dos factos em análise. O seu contributo para esse fim não pode ser deturpado, nomeadamente pela
fixação de limites mais estreitos ao depoimento do que o seu efectivo conhecimento, desde que
pertinente para o processo.
- Direito à correcção do Tribunal: A atitude deferente e correcta do tribunal e dos advogados significa,
apenas, a salvaguarda da consideração que a todos é devida. O desprezo ou as atitudes agressivas, a
que por vezes se assiste, para com as testemunhas em geral, ofendem a sua honorabilidade e é indigna

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Direito Processual Penal

dos órgãos de justiça. Em qualquer caso, compete ao tribunal a protecção da honra e consideração das
testemunhas, que são direitos de personalidade.
- Direito de indemnização: Quando os militares forem convocados em razão do exercício das suas
funções, o juiz arbitra, sem dependência de requerimento, uma quantia correspondente à dos montantes
das ajudas de custo e dos subsídios de viagem e de marcha que no caso forem devidos, que reverte,
como receita própria, para o serviço onde os militares prestam serviço. Para esse efeito, os serviços em
causa devem remeter ao tribunal as informações necessárias, até 5 dias após a realização da audiência.
Quando não houver lugar a esta aplicação, o juiz pode, a requerimento dos convocados que se
apresentarem à audiência, arbitrar-lhes uma quantia, calculada em função de tabelas aprovadas pelo
Ministério da Justiça, a título de compensação das despesas realizadas (art.º 317º do CPP).

23.8.4 – RELAÇÕES COM OUTROS SUJEITOS PROCESSUAIS

 Juízes
Não existem, normalmente, especificidades dignas de realce no relacionamento, em audiência de
julgamento, entre o agente policial como testemunha e os juízes. Contudo durante a inquirição deve ser
adoptada pelos militares, entre outras, uma postura corporal correcta e o uso do título respectivo
(Meritíssimo Sr. Doutor Juiz, V.ª Ex.ª, etc).
Enquanto testemunhas, os militares da GNR devem seguir as orientações dadas pelo juiz
presidente (nos julgamentos com tribunal colectivo), ou do juiz (nas situações de tribunal singular),
relativamente à forma de prestação do depoimento.
 Ministério Público
Regra geral, os agentes policiais são indicados como testemunhas pelo Ministério Público (MP).
Parte-se do princípio que quem apresentou a testemunha sabe o que ela conhece sobre os factos e que
esse conhecimento favorece o interesse da sua posição processual. Nesse sentido a relação entre o MP
e a testemunha (agente policial) é, normalmente, de colaboração e entendimento mútuo.
Convém por isso que o militar da Guarda prepare convenientemente o seu testemunho, e tenha
uma atenção redobrada às questões do MP, por forma a compreender a linha de raciocínio e a antecipar
o objectivo pretendido, ou seja, a produção de prova suficiente para o conhecimento da realidade dos
factos.
 Advogados de defesa
A primeira ideia que nos vem à cabeça quando pensamos numa situação de tribunal em que
intervenham um advogado de defesa e um agente policial, é a do primeiro a “espremer” ou “apertar” o
segundo. Embora nem sempre assim seja, é contra este tipo de situações que os agentes policiais têm
de estar preparados quando são chamados a depor em Tribunal.
É de toda a conveniência uma grande concentração e algum poder de antecipação do fim
efectivamente pretendido ou escondido na pergunta do advogado, por forma a que o agente, sem fugir
à verdade, não vá de encontro aos objectivos por ele pretendidos.
Tem que se compreender a posição e a função desempenhada pelo advogado de defesa, não
entendendo os seus “ataques” como algo pessoal, mas apenas como a sua tentativa de absolver o seu
cliente.

23.8.5 – PREPARAÇÃO E COMPORTAMENTO NA AUDIÊNCIA DE JULGAMENTO


Apesar de frequentemente chamados a depor como testemunhas, poucos agentes policiais se
sentem confortáveis no momento do seu depoimento em audiência de julgamento, perdendo muitas
vezes o controlo.
Uma vez que a investigação policial é crucial para a descoberta da verdade, poderemos dizer que o
sistema judiciário irá de alguma forma, apoiar-se muitas vezes no testemunho policial, por forma a
determinar se a prova irá ser ou não aceite pelo Tribunal.
Torna-se pois necessário que o militar da Guarda tenha em atenção os aspectos que a seguir serão
referidos.

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Direito Processual Penal

Preparação do depoimento
O militar deve preparar-se com afinco, tentando antecipar-se às prováveis fontes de argumentação
dos advogados, sendo fundamental que o agente resista à tentação de ignorar os aspectos essenciais.
Estudo prévio das peças processuais
Quando notificado para comparecer em Tribunal, o militar deverá “perder” algum tempo a
refrescar a memória através do estudo das peças processuais mais importantes: autos de
denúncia/notícia, relatórios intercalares, autos de busca e apreensão, cotas, relatórios de exames, etc.
Ou seja, as peças processuais que contenham matéria considerada relevante e que poderá ser
questionada em tribunal.
Confiança naquilo que se afirma
O testemunho não é persuasivo em Tribunal se a testemunha que o produz não estiver confiante
em relação ao que afirma, confiança que também se alcança através da referida preparação prévia.
“Anchoring”
Em tribunal os agentes de autoridade são objecto de uma grande pressão, pelo que importa
começar a controlar os nervos de forma a obter-se o domínio sobre a estratégia da defesa. São bastante
frequentes sintomas de stress como: batimento cardíaco descontrolado, formigueiro no estômago, boca
seca, mãos suadas, tiques nervosos, etc.
Estes condicionalismos podem ser ultrapassados através do chamado “anchoring”, o qual permite
aos militares ficarem mais confiantes, com maior auto-estima e mais calmos.
Uma das principais formas de utilizar a técnica de “anchoring” consiste em trazer à memória uma
prestação onde o militar tenha sido brilhante ou bem sucedido. Se for bem utilizada esta técnica, os
nervos poderão dar lugar a energia positiva, alcançando-se a calma, a confiança e a concentração
necessárias. Com toda a sua experiência e vivência de situações complicadas, o militar tem que se
mentalizar da sua capacidade para enfrentar qualquer obstáculo.
Comportamento adequado
Deve-se ter em atenção que quando está a testemunhar, o militar da GNR representa naquele
momento toda a instituição a que pertence e qualquer comportamento menos correcto durante a
audiência vai ser associado a todos os seus camaradas. Uma postura correcta e uma perfeita
concentração sobre o que está a ser perguntado são fundamentais para um bom desempenho e uma boa
imagem.
Comunicação não verbal
A comunicação não verbal tem um papel importante no que a mente humana, consciente ou
inconscientemente, escolhe para acreditar. Este tipo de comunicação inclui a linguagem corporal,
comunicação visual, tom de voz, apresentação pessoal, uso oportuno de palavras-chave,
espontaneidade nas respostas e mecanismos de defesa rigorosos aos contra interrogatórios e aos
engodos utilizados.
Linguagem corporal: A tendência para a utilização excessiva de gestos faciais (tiques), excessiva
gesticulação ou tamborilar os dedos enquanto se fala, não impressionam positivamente o tribunal e
podem prejudicar gravemente a credibilidade do que se afirma. Se o militar tem tendência para mexer
os dedos ou contorcer as mãos enquanto depõe, o melhor será mantê-las agarradas uma à outra, à
frente ou atrás, sendo a última a que denota uma atitude mais respeitosa.
Voz e tom de voz: O tom de voz alto e forte é normalmente melhor que um tom amedrontado. Uma voz
tímida e fraca não inspira confiança e pode por em questão a credibilidade do testemunho. As variações do
volume e a velocidade da voz podem contribuir para uma maior eficácia do testemunho.
Contacto visual: Deve-se tentar manter um contacto visual normal com os restantes interlocutores evitando
a utilização de olhares inquisidores. O olhar directo (“olhos nos olhos”) com os outros interlocutores pode ter
importância na credibilidade do testemunho. Em situação de contra-interrogatório não se deve olhar para a parte
que arrolou o militar como testemunha (regra geral, o MP) sob pena desse olhar ser interpretado como uma
forma de pedido de ajuda ou de falta de certeza no que está a dizer.

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Apresentação pessoal: Quando notificado para comparecer em audiência de julgamento, o militar da


Guarda deve dar cumprimento ao estipulado na Circular nº 1130/05 de 27ABR05 da 4º Rep/CG que regula a
utilização de uniformes pelos militares da GNR nas audiências formais nos Tribunais (com ou sem juízes
militares). Esta Circular estabelece que os militares da GNR que sejam convocados para comparecer em
Tribunal para participarem em audiências públicas de julgamento de processos relacionadas com o serviço,
como testemunhas, peritos ou arguidos, devem utilizar os seguintes uniformes:
➢ Uniforme nº 1, constituído por calças ou calções de serviço (calças/calções do Uniforme nº 2), camisa
azul de manga comprida, gravata azul, sapatos/botas de meio cano/botas altas, barrete GNR de serviço e
dólman nº 1 de serviço (dólman opcional);.
➢ Enquanto não entrar em vigor o novo Plano de Uniformes e tendo em conta que o dólman nº 1 de
serviço ainda não constitui peça de fardamento de aquisição obrigatória, admite-se que, em relação aos
militares que ainda não possuam aquela peça de fardamento, as idas a audiências sejam efectuadas com
o uniforme em cima referido sem o dólman nº 1 de serviço, devendo contudo sempre ser acautelada a
uniformidade na deslocação simultânea de mais do que um militar.
➢ Os militares da BT, do RI e do Serviço Marítimo da BF utilizarão, respectivamente, o barrete para
fiscalização de trânsito, a boina e o barrete para o Serviço Marítimo.
Nota: Excluem destas normas as situações em que os militares se desloquem a tribunal por motivos não
emergentes da qualidade de agentes de autoridade e aquando da apresentação de detidos na sequência de
detenções ou colaboração em actos processuais (escolta a detidos, segurança dos tribunais, etc).
Utilização de palavras-chave: Durante a inquirição as testemunhas têm tendência para utilizar palavras e
expressões que podem levar o tribunal a acreditar que uma determinada resposta não é definitiva ou exacta.
Expressões como “ Penso que ...” , “ Acredito que ...” , “ Julgo que ...”, “ Acho que ...”, “Estou em crer que..”,
“Provavelmente o que...” e outras similares, denotam incerteza e falta de convicção no que se afirma. A
utilização deste tipo de expressões são desde logo motivo para os advogados de defesa continuarem a insistir
naquele ponto, já que conhecem as implicações psicológicas para os diversos intervenientes processuais, que daí
advém.
Espontaneidade nas respostas: É extremamente negativo que os participantes na audiência se apercebam
que a testemunha que preta depoimento tem tudo decorado. Para além de desvalorizar o testemunho, o tribunal
vai pensar que, se o militar da GNR teve necessidade de memorizar a versão inicial, então é porque existia
alguma falha ou, mesmo, a fabricação artificial de provas.
Mecanismos de defesa aos contra-interrogatórios rigorosos e aos engodos utilizados: O principal objectivo
do contra-interrogatório é desacreditar o depoimento da testemunha ou favorecer o desenvolvimento do
julgamento no sentido que lhe é mais favorável. Convém por isso que os militares da Guarda quando forem
sujeitos a contra-interrogatório, tenham em consideração as seguintes sugestões:
- Ouvir as perguntas até ao fim antes de responder;
- Responder apenas se entender bem a pergunta;
- Insistir para que lhe seja colocada apenas uma pergunta de cada vez;
- Fazer uma pausa antes de iniciar a resposta;
- Restringir a resposta à pergunta que lhe foi colocada;
- Se não souber a resposta ou não se recordar, afirmá-lo sem constrangimentos;
- Utilizar linguagem simples, directa e precisa;
- Evitar “catalogar” negativamente o acusado ou emitir juízos de valor;
- Evitar fazer humor quando se está sob juramento;
- Não hesitar em demonstrar ou admitir um erro;
- Respeitar e compreender a todo o tempo o papel do advogado de defesa.
Nunca esquecer que não valem em julgamento, nomeadamente para o efeito de formação da
convicção do tribunal, quaisquer provas que não tiverem sido produzidas ou examinadas em
audiência (art.º 355º do CPP).

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