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Apresentação: Teoria e Metodologia – 08/11/2018

BANN, Stephen. As Invenções da História. São Paulo: UEP. 1994.


Introdução: As Invenções da História
 Debate sobre os usos da história em dois polos: o currículo escolar e os ‘temas da
preservação’, indústria da herança.
 Os desenvolvimentos no método histórico têm sido o resultado de uma produtiva fertilização
cruzada entre correntes que anteriormente haviam sido mantidas afastadas.
 Incorporação da metodologia das ciências sociais na pesquisa histórica. A longo prazo, o
efeito deste passo foi ressuscitar, em vez de rejeitar, os instrumentos e conceitos tradicionais
da escritura histórica.
 O objetivo da metahistórica (Hayden White) tem sido o de chamar a atenção para os códigos
e convenções da historiografia, com a mensagem implícita de que estes também devem ter a
sua história.
 A “História Narrativa” deve ser considera como parte da mesma matriz cultural que a grande
casa de fazenda ou um jardim histórico, e submetida aos mesmos exames.
 Pensar de que forma certas formações de discurso, que desempenham um papel privilegiado
na mediação de nossa percepção do passado.
 A história narrativa de Ranke era, de fato, uma invenção, no sentido de que atraiu
consideráveis recursos estilísticos e reservas de força criativa para criar um novo idioma
histórico. A sua própria inventividade é o que o novo idioma partilhou, em seu contexto
histórico, com outras formas de representação, como o romance histórico, a pintura histórica
e o museu histórico.
 É somente reconhecendo e identificando os códigos através dos quais a história foi mediada,
e ligando-os aos atos criadores de indivíduos em determinadas circunstancias históricas, que
podemos ter a esperança de evitar uma separação definitiva entre o mundo circunscrito do
historiador profissional e a generalizada moda de espetáculo na qual todas as formas de
representação popular se arriscam a ser assimiladas.
 Usos contemporâneos da história. Abordagem no sentido de concentrar atenção sobre o que
poderia ser chamado de arqueologia da história: as estruturas e conexões que tornaram
possível, durante os dois últimos séculos, a emergência de um modelo integrado de
representação histórica.
 Fronteiras em mutação entre a história profissional e os protocolos das veneráveis profissões
do direito, da medicina e da teologia, sugerindo os modos pelos quais elas contribuíram para
definir o espaço disciplinar no qual a história emergiu.
 Conjunto de representação no século XIX, uma poética histórica.
 As invenções da história são decididamente plurais. Como um fenômeno unificado, as
diversas expressões e representações da imaginação histórica que pairam, uma após outra,
nessas páginas.
 O único modo de demonstrar uma origem unificada – o surgimento mítico de uma
preocupação histórica na era que originou e compilou a Revolução Francesa – é admitir a
pluralidade e heterogeneidade de suas formas derivadas.
 Distinção da ideia de “invenção” utilizada por Hobsbawm, no sentido de uma história
inventada, no sentido pejorativo, saída do nada para servir a propósitos apenas funcionais;
como uma história falsificada, “inventada”.
 A questão é que a experiência estilística poderia ser a única maneira de conceber e
compreender uma história que não está limitada pelos protocolos tradicionais, e, portanto, por
expectativas ou ordem preestabelecidas.
 Importância vital de uma historiografia contínua, autocrítica, que esteja atenta tanto à
plasticidade da imaginação histórica quanto à imensa variedade de formas nas quais ela pode
adquirir manifestação concreta.

Clio em parte: sobre antiquariado e fragmento histórico


 O historiador do século XIX possuía considerável força criativa, moldando seu discurso
segundo determinadas restrições.
 Barthes. Além da disponibilidade dos modos de discurso, existe realmente uma
desconcertante pluralidade de atitudes para com o passado que podem ser notavelmente
combinadas na experiência de um único indivíduo.
 Nietzsche: uso e abuso da história, três relações: a monumental, em relação à sua ação e luta;
a antiquária, com seu conservadorismo e respeito; crítica, com relação a seu sofrimento e
desejo de redenção. Tipos de atitude para com o passado.
 Incorporar as diferentes atitudes possíveis para com o passado, mais do que vê-las
simplesmente como estratégias linguísticas, mostra o caminho para uma nova elucidação dos
temas centrais da “preocupação histórica” no período moderno.
 Com frequência, o termo “antiquário” tem sido associado a uma espécie de fracasso em
atingir o nível da historiografia verdadeira, “científica”.
 A “atitude antiquária” é um relacionamento específico, vivo, com o passado e merece ser
tratado nestes termos.
 Clio como um símbolo ambivalente da escritura da história em toda a sua complexidade.
Contraste entre duas representações de Clio: Templo Malastestiano e Palais de la Légion
d’Honneur. Charles Sims e Jean Baudrillard.
 A história não é simplesmente um gênero literário. Ou, pelo menos desde o fim do século
XVIII, tem sido inconcebível classificar a escrita histórica como uma subdivisão da literatura.
A história implica uma atitude para com o passado e com o que quase poderia ser chamado
de uma “miragem” do passado.
 A história também é texto, e como texto, carrega uma autoridade quase equivalente à da lei.
 Ao diferenciar a atitude antiquária da monumental para com a história, Nietzsche inferiu a
possibilidade do que poderia ser chamado de uma abordagem não imediata do passado. O
antiquário, como ele expressou, “respira um ar bolorento”. Sua experiência do passado é,
nesta metáfora forçada, moldada diretamente sobre a experiência sensorial.
 Riegl estabelece o critério de “valor de época”, que é definido por sua imediata acessibilidade
à percepção: ele incorpora “um imediato efeito emocional que não depende de conhecimento
acadêmico nem de educação história para a sua satisfação”.
 Os antiquários têm sido vistos tradicionalmente como as “ovelhas negras” da família da
ciência histórica. Eles têm muito a nos dizer sobre o lado da história, que não é o da tábua
entalhada, mas, ao contrário, o do seio descoberto.
 A necessidade de Faussett em ornar seus achados fragmentários com estes rótulos evocativos,
provocando repulsa ou prazer, dizem-nos menos sobre os próprios objetos do que sobre sua
própria força de motivação.
 O que significa realmente ter uma “atitude”, ou alguma espécie de relacionamento, com o
passado? Elas envolvem, por um lado, um ordenamento hierárquico dos sentidos e os efeitos
de sentidos admitidamente inferiores, como tato, paladar e olfato, na companhia do órgão
superior da visão e, por outro lado, a construção de um sistema de “parte” e “todo”, de acordo
com o qual percepções limitadas, mas imediatas do “passado” podem ser integradas em uma
consciência global da história como uma dimensão à parte, mas acessível, da experiência.
 Conceituação do passado, em termos de espaço ordenado em perspectiva.
 Escrever impõe um regime comparável ao da pintura perspectiva, visto que o detalhe, ou
objeto, não é acessível em si mesmo, mas constitui um elemento integrado dentro do espaço
da perspectiva.
 Qual o status do objeto ou da relíquia histórica? Envolvimento é um conceito particularmente
apropriado para uma experiência dos sentidos, não sujeita ao ordenamento de um espaço
visualmente coerente.
 Os perigos do antiquário. Os historiadores foram colocados na situação de ter de justificar a
relevância sociocultural de suas atividades. A relevância da história para a sociedade não é
assumida como auto evidente. Parte da razão para a lacuna que se abriu entre a historiografia
especializada e a consciência social geral e o uso do passado reside no evidente repúdio à
dimensão que venho considerando.
 Correr o risco de fetichizar as partes, ao invés de um todo, e causando desequilíbrio. O
pavilhão é um testemunho eloquente mas permanece um espetáculo fragmentado, não
chegando a atingir a mais vaga ideia de integridade.
 Proust: exercício de imaginação histórica, que começa com o que pode ser tocado e
prossegue por meio do poder talismânico do nome histórico para a experiência da história
como uma alteridade imediata.
 Proust. A realidade não existe neste presente, mas em outro lugar, bem longe, que a pedra sob
a sua mão não é mais do que uma metáfora do Tempo; todas essas coisas são apenas palavras,
tudo é uma figura esplendida do discurso que significa outra coisa.
 Proust. O momento em que as coisas existem é determinado pela consciência que as reflete;
neste momento, elas tornam-se ideias e recebem sua forma; e sua forma, em sua
perpetuidade, desdobra um século dentro de outros.
 Proust devolve o fragmento histórico, por meio do nome histórico, ao texto, que é tanto um
registro quanto uma objetivação do sentimento. Ele torna inteligíveis os movimentos que são
necessários para atingir uma experiência completa da alteridade do passado.

O estranho no ninho: narrativa histórica e a imagem cinemática


 Estas imagens não podem ser satisfatoriamente analisadas separadamente das narrativas
constringentes às quais pertencem: existencialmente, na medida em que elas foram
produzidas por artistas determinados em circunstancias históricas especificas e,
culturalmente, na medida em que foram tomadas por historiadores e outros comentaristas
para servir de emblemas para as “verdades” da história.
 “Desastres de guerra”, de Goya.
 “A execução do imperador Maximiliano”, Manet.
 Onde está o “efeito testemunha”? Poder-se-ia ser tentado a dizer que está de algum modo
amarrado ao uso da fotografia por Manet. Manet fez uso da fotografia, com sua prova
irrefrangível do “isso aconteceu”. E ainda, Manet também parece ter usado a fotografia no
processo (puramente técnico) de transferir a imagem do esboço para a litografia.
 A fotografia ingressa nesta série de conexão em dois momentos críticos importantes: como
“prova”, antes de tudo, e secundariamente, como um meio de reprodução e redução.
 As fotografias dos anos 1860 não representam “os fatos como eles são narrados”, mas sim a
“cena vazia” da ação histórica, com as figuras presentes cuidadosamente posadas, caindo
quase inevitavelmente na postura de retardatários meditando sobre os horrores da guerra.
 Encarar a “invenção” da fotografia como um estágio crucial, determinante no que tem sido
chamado de “máquina de satisfação dos desejos” da cultura ocidental.
 O que é particularmente impressionante nos trabalhos de Manet é um elemento que sai do
domínio dos códigos e transgride códigos: um elemento que é, em termos semióticos, não
simbólico, mas indicial.
 A fotografia engendrou não apenas tipos de mecanismos que permitem um tempo de
exposição mais curto e uma imagem mais “instantânea”, mas também a possibilidade técnica
de ligar imagens individuais numa serie contínua reconhecível de tempo-espaço, por meio da
exploração da credulidade do olho humano.
 La Marseillaise (1937), Jean Renoir.
 O filme de história faz numerosas coisas de uma só vez. Ele sistematicamente tolda a
distinção entre o “tendo-estado-ali” da cena retratada e o “tendo-estado-ali” do processo de
filmagem. Mas ele também, pela própria natureza do processo ficcional, nos sujeita a um
processo de “preenchimento” para fins estritamente narrativos, que nós aceitamos como
totalmente legítimo.
 Nossa preocupação ainda é com a relação da imagem a uma narrativa histórica, e com o
modo característico pelo qual a imagem cinemática herda a transformação dinâmica da
relação da imagem com a realidade que foi ratificada, embora não causada, no século XIX,
pela invenção da fotografia.
 O que é relevante é o modo triunfante como Renoir acomoda a imaginação histórica,
permitindo que a imagem afirme tanto sua ausência quanto sua presença.

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