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RESUMO
INTRODUÇÃO
1
WOLTON, Dominique. Pensar a Comunicação. Algés: DIFEL, 1999, p. 28.
que norteou esta empreitada foi analisar de que maneira a mídia, a partir de um
padrão sensacionalista e interesseiro, busca convencer o público, criando discurso
de saber e poder, quando não tornando-se a esfera judiciária por comparação e
realizando (pré) julgamentos midiáticos. Trazer ao leitor os aspectos teórico-
discursivos das obras teóricas utilizadas, aplicadas à análise das mídias, tem por
finalidade saber como a realidade midiática se constrói a partir dos discursos que
divulga e o que justificam esses (pré) julgamentos. A questão aqui tratada já foi
discutida por outros autores, como a antropóloga Tereza Pires do Rio Caldeira 2, ou
mesmo pelo professor e juiz federal Artur Cesar de Souza 3. Outros teóricos da
comunicação como Ignácio Ramonet e Patrick Charaudeau também já
demonstraram de forma singular como, discursivamente falando, as mídias
influenciam a sociedade de maneira generalizada. Assim, utilizando-se de ampla
bibliografia que trata do gênero discurso e a respeito das relações de saber e poder,
tentou-se fundamentar por que o discurso midiático se constrói sobre uma elipse de
noticia-conceito-reforço-cristalização. O foco foi evidenciar mais detalhadamente o
sensacionalismo como manipulação midiática, e como ele fomenta uma forma de
(pré) julgamento no âmbito midiático. Procurou-se também identificar aqui como a
notícia sensacionalista reforça o conceito de crime constante, sociedade violenta,
cujo reforço é a repetição recorrente de notícias contendo crimes, pautas
jornalísticas tendenciosas à violência, que, por fim, cristalizam-se em ideias coletivas
de ineficácia dos poderes constituídos, de ausência do poder público na contenção e
redução da criminalidade.
METODOLOGIA
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Ação Penal nº 470, mais conhecida no Brasil como o caso do mensalão, “foi
o mais midiático desde a invenção da TV - no Brasil, e possivelmente no mundo,
superando mesmo o caso de O. J. Simpson, celebridade (...) acusada de assassinar
4
CHARAUDEAU, Patrick. Discurso das mídias. Tradução Angela S. M. Corrêa. 2ª ed. 1ª
reimpressão. São Paulo: Contexto, 2012.
a própria mulher”.5 A comparação feita por Paulo Moreira Leite não poderia ser mais
pertinente no âmbito deste trabalho. Atualmente, no Brasil, os casos de maior
repercussão midiática inevitavelmente passam por crimes de homicídio ou corrupção
política – quase alterando a famosa tríade: violência, futebol e erotismo. 6 Os meios
de comunicação entendem que estes temas têm forte apelo social, logo, não
hesitam em utilizá-los para aumentar sua audiência. Contudo, essa publicidade, ou
melhor, os efeitos dela na sociedade, são perniciosos. Pelo que foi dito até aqui,
verifica-se que a exposição demasiada cria no ambiente social uma tensão que,
invariavelmente culmina com um modelo comportamental social ditado pelos
rompantes da mídia; é o que fomenta o (pré) julgamento. Analisando a questão por
outro viés, o democrático, é sabido que a publicidade é extremamente positiva para
a sociedade quando aplicada aos atos estatais, por exemplo, ou, mais
especificamente ao poder judiciário, pois coloca em evidência o trabalho do
legislador e dos demais operadores do direito. Como garantia fundamental esculpida
no artigo 93, IX da Constituição, o princípio da publicidade segue uma lógica que
busca equilibrar as forças e evitar abusos por parte do Estado, já que, segundo lição
do professor e desembargador Jose Laurindo de Souza Netto, “a publicidade
constitui, pois, uma defesa contra todo o excesso de poder e um forte controle sobre
a atividade estatal”.7 Todavia, ainda segundo o citado desembargador, citando Paulo
Fernando Silveira, “o acompanhamento feito por algumas emissoras de televisão e
rádio das diligências policiais, envolvendo as prisões de suspeitos, fere direitos
fundamentais”.8 Esse paradoxo operacionalizado pela mídia se deve ao fato de que
ela tem usado de forma displicente e irresponsável o preceito constitucional da
liberdade de expressão. Contudo, deve-se buscar neste ato de publicidade a justiça
5
LEITE, Paulo Moreira. A outra história do mensalão: as contradições de um julgamento
político. São Paulo: Geração Editorial, 2013, p. 9.
6
FIGUEIREDO, Pedro de. LUZ, Cristina Rego da. Os novos jornais populares: análise de uma
tendência. Artigo. 2010, p. 11.
7
SOUZA NETTO, Jose Laurindo de. Processo penal: sistemas e princípios. Curitiba: Juruá, 2014,
p. 177.
8
Idem. p. 179.
e não tornar o fato um espetáculo de exposição em que o acusado sirva como
exemplo de castigo impingido pelo judiciário, bode expiatório a serviço da sociedade.
Pelo que se verifica, o judiciário, em certa medida, tem conseguido exercer de forma
eficiente sua função jurisdicional quando encontra na mídia uma parceira que
sempre está de olhos abertos, vigiando. Entretanto, os limites dessa parceria que,
enfatizamos, é algo subjetivo e não tem nenhuma formalidade, só existe quando a
mídia vê em tais condições, possibilidades de aumentar sua audiência. Operações
como a Lava-Jato; Carne Fraca e o Mensalão, bem como outras operações 9
deflagradas pela Polícia Federal que encamparam e encampam o noticiário atual,
têm se tornado o “filé mignon” da mídia. Novamente o entretenimento e o espetáculo
sensacionalista guiam a mídia nessa nova fase de sua empreitada. Essa “parceria”
com o judiciário pode até ser benéfica em algum ponto, como quando existe um
apoio da opinião pública e mídia em prol de evitar a obstrução da justiça por parte
dos acusados, como citou o Juiz Sérgio Moro ao periódico espanhol El País. 10 A
operação Lava-jato pode ser considerada um marco nesse atual cenário em que os
juízes se tornam protagonistas. O judiciário tem cada vez mais desempenhado o que
chamamos de ativismo judicial, cuja prática consiste em uma amplitude na ação dos
juízes, saindo um pouco do escopo estatal no qual ao juiz caberia “a solução de
litígios concretos e a interpretação das leis por meio da aplicação da norma geral a
cada caso particular”.11 O problema de se aprovarem leis ao arrepio do momento
sem analisar a sua constitucionalidade. Foi o que aconteceu neste caso, quando em
2006 um Habeas Corpus flexibilizou o cumprimento de pena considerando a
possível progressão do regime fechado para o aberto, pois se verificou que a Lei, da
maneira como fora redigida, feria o princípio da individualização da pena -
9
Lista de operações da Polícia Federal no Brasil. In: WIKIPÉDIA. Enciclopédia eletrônica. Disponível
em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_opera%C3%A7%C3%B5es_da_Pol%C3%ADcia_Federal_
do_Brasil>. Acesso em 14 mar. 2018
10
FERNANDEZ, Alícia. Opinião pública e imprensa evitaram obstrução da Lava Jato, diz Sérgio
Moro no México. El País, Cidade do México, 01 mar. 2018. Caderno Internacional. Disponível em: <
https://brasil.elpais.com/brasil/2018/02/27/internacional/1519769340_349820.html>. Acesso em 14
mar. 2018.
11
KOERNER, Andrei. Ativismo Judicial?: Jurisprudência constitucional e política no STF pós-
88. Novos estud. - CEBRAP [online]. 2013, p. 71.
procedimento reajustado e pacificado quando da aprovação da Lei nº 11.464 de
2007.12 Ou seja, a resposta ao apelo social, fomentado e orquestrado pela mídia, foi
motivo suficiente para aprovação rápida de uma Lei que, além de inconstitucional, foi
de encontro àquilo reconhecido como direito penal do inimigo, recrudescendo ainda
mais o Direito Penal.
CONCLUSÕES
13
FERRAJOLI, Luigi. Direito e razão – teoria do garantismo penal. Trad. Ana Paula Zome, Fauzi
Hassan Choukr, Jurez Tavares e Luiz Flávio Gomes. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. p. 476),
apud SOUZA, A. Op. cit. p. 249
Procurador Geral da República, Rodrigo Janot e outros atores sociais do momento,
tornou-se o objeto de desejo da mídia; Porém, é certo que esse comportamento
coloca em cheque muitos aspectos da ética, moral e, sem dúvida, aponta para um
modelo de informação onde reinam a incerteza, a velocidade, e, consequentemente,
apurações levianas, que mais desinformam do que informam. Como citou Zygmunt
Balmann14, o reino de liquidez com certeza é metáfora absoluta para definir a
sociedade moderna. O amor líquido, as relações líquidas e o esvaziamento parecem
ser os ditames da ocasião.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio
de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004.
FERRAJOLI, Luigi. Direito e razão – teoria do garantismo penal. Trad. Ana Paula
Zome, Fauzi Hassan Choukr, Jurez Tavares e Luiz Flávio Gomes. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2002. p. 476).
FIGUEIREDO, Pedro de. LUZ, Cristina Rego da. Os novos jornais populares:
análise de uma tendência. Artigo. 2010.
SOUZA, Artur Cesar de. A decisão do juiz e a influência da mídia. Revista dos
Tribunais, Curitiba, 2010.