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Idemar Vizolli2
Professor Doutor da Universidade Federal do Tocantins
idemar@uft.edu.br - https://orcid.org/0000-0002-7341-7099
1
Mestrando do Programa de Pós-Graduação Profissional em Educação pela Universidade Federal do
Tocantins, acadêmico em História pela Faculdade Educacional da Lapa (FAEL) e coordenador da implantação
do Observatório de Determinantes Sociais em Saúde da Secretaria de Estado da Saúde do Tocantins.
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Doutorado em Educação pela UFPR - Universidade Federal do Paraná, Mestre em Educação pela UFSC,
professor adjunto da Universidade Federal do Tocantins, professor e orientador nos Programas de Mestrado
Acadêmico em Educação e Profissional em Matemática; Coordenador estadual da REAMEC - Rede
Amazônica de Educação em Ciências e Matemática - Doutorado. Coordenador estadual do PNAIC - Pacto
Nacional pela Alfabetização na Idade Certa - PNAIC (2016).
Palavras-chave: pesquisa - estranhamento - povos tradicionais - interculturalidade -
formação.
Abstract: The structure of this research work has also been built from personal and
subjective elements since its first moments: the identification of bibliographical and
theoretical frameworks, adjustments to its guidelines and documentary organization,
representing a process of deconstruction or even reconstruction to begin the research itself.
When addressing bodies and corporealities in the aspect of gender identity added to the
ethnic cut, in relation to Education / Curriculum, in the process of action research implied in
the field, there was a self-strangulation of knowledge, shock and confrontation long before
the estrangement or criticism of the documents or educational policies, which would come
to the end of the investigation. This caused the need to reframe or even displace a supposed
knowledge of an alleged researcher. In this article, the author dialogues the personal
conceptions and learnings regarding the listed research object (transgenderity among
indigenous people), with texts / authors presented in the discipline of Education, Diversity
and Interculturality, from the Professional Graduate Program in Education, at the
Universidade Federal do Tocantins and comments on how these and other readings
contributed to the process of preparing not only the research itself, but also to the formation
of the future researcher. The encounter with the themes of (inter) culturality, of (de)
coloniality provoked, in advance, the resignification of the space of research and of the
researcher. It is hoped that at the end of the article it will allow a critical reflection on how
much colonialism is present in doing the research.
Key-words: research - strangeness - traditional people - interculturality.
Resumen: La estructura de este trabajo de investigación también se ha construido a partir de
elementos personales y subjetivos desde sus primeros momentos: la identificación de marcos
bibliográficos y teóricos, ajustes a sus directrices y organización documental, que
representan un proceso de deconstrucción o incluso reconstrucción para comenzar La
investigación en sí. Al abordar los cuerpos y las corporealidades en el aspecto de la identidad
de género agregada al corte étnico, en relación con la Educación / Currículo, en el proceso
de investigación de acción implicado en el campo, hubo una auto extrañeza del
conocimiento, shock y confrontación mucho antes del alejamiento o crítica de los
documentos o políticas educativas, que llegarían al final de la investigación. Esto provocó la
necesidad de replantear o incluso alejarse de un supuesto conocimiento de un supuesto
investigador. En este artículo, el autor dialoga las concepciones personales y los aprendizajes
con respecto al objeto de investigación enumerado (transgénero entre los pueblos indígenas),
con textos / autores presentados en la disciplina de Educación, Diversidad e
Interculturalidad, del Programa de Posgrado Profesional en Educación, en la Universidade
Federal do Tocantins y comentarios sobre cómo estas y otras lecturas contribuyeron al
proceso de preparación no solo de la investigación en sí, sino también a la formación del
futuro investigador. El encuentro con los temas de (inter) culturalidad, de (de) colonialidad
provocó, de antemano, la resignificación del espacio de investigación y del investigador. Se
espera que al final del artículo permita una reflexión crítica sobre cuánto colonialismo está
presente en la investigación.
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Introdução
3
A imposição de se reconstituir no processo de tornar-se um pesquisador, frente à
situação encontrada e também frente à implicação necessária na pesquisa antropossocial,
em/para a prática educacional, ficou clara em se tratando de um fazer decolonial, muito em
decorrência da própria pobreza de conteúdo e argumentação para apreciação do objeto da
pesquisa em si.
A partir dos autores estudados, considerando a base epistemológica no campo da
Fenomenologia, com metodologias da etnopesquisa, da pesquisa-ação e pesquisa implicada,
ou seja, retratar o fenômeno como ele se apresenta, por uma narrativa com os sujeitos e não
sobre/de/para estes, isto é, descrever o fenômeno observado e vivido, no “próprio fazer
reflexivo” tal qual ele se apresenta aos nossos olhos (ROCHA, apud BICUDO &
ESPÓSITO, 1997).
Dente os autores apresentados na disciplina que trouxeram o enfoque da
interculturalidade e dos estudos decoloniais, importantes para o processo preliminar de
pesquisa (revisão bibliográfica, observação das necessidades prioritárias e outros
elementos), Candau, Boaventura Sousa Santos, Quijano, Fleuri, Antonio Bispo dos Santos,
mereceram destaque.
A importância de se observar a transgeneridade entre indígenas é de (se) confrontar
que independente da formação curricular de um educador ou de qualquer área de
conhecimento que se utilize da Educação em sua práxis, que tenham como orientação de sua
atividade profissional, o respeito às tradições de povos originários como também o respeito
à diversidade sexual (e em como lidar com a autodescoberta das sexualidades no
desenvolvimento infanto juvenil, em ambiente escolar), caberia possivelmente ao
profissional se dispor a deslocar-se de suas raízes/saberes/crenças, para conhecer e entender
este e outros fenômenos que fujam de sua formação técnica, para avaliar se poderia estar
perpetuando-se a catequese colonial em seu fazer.
Conclui-se ao final deste ensaio examinando e/ou explicando da importância e
relevância que o fenômeno do estranhamento suscitou para o autor e sua pesquisa e o que
impacta na (sua) prática profissional enquanto educador. E o quanto esse material, O
ESTRANHAR Outros Sujeitos deve ser problematizado.
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Setembro de 2014.
Corpos indígenas travestidos foram vistos pela primeira vez. Seios
siliconados/hormonizados, ausência de pelos cabelos longos, sobrancelhas feitas, quadris
arredondados e unhas longas pintadas, roupas femininas, comportamento da mulher indígena
comum _ em pares mãos e braços entrelaçados ao caminharem, quando não estão carregando
suas crias.
Este fato aconteceu numa ação pública de Saúde, na Ilha do Bananal, na Aldeia
Canoanã, realizada em conjunto entre a gestão do Tocantins, Mato Grosso, Ministério da
Saúde, Conselho Nacional de Mulheres Indígenas (CONAMI) e a Associação Brasileira de
Redução de Danos (ABORDA) com o tema: Redução de Danos ao Álcool e Drogas e
Prevenção às IST, em 2014. Nesta oportunidade foi realizada a primeira aplicação do teste
rápido em Fluido Oral para HIV no Estado.
Quatro corpos estranhados, quatro indígenas travestidas/transgenerificadas e muitas
perguntas sem respostas. Ao longo da permanência na aldeia afinar a escuta em conversas
com aqueles que se autodenominavam gays e outras figuras pertencentes à localidade, foi a
primeira busca de explicações, uma pequena amostra de informações peculiares que
suscitaram o desejo e a necessidade de saber mais.
Em Fernandes (2015) há o relato referente à escuta curiosa diante das narrativas e
um olhar de estranhamento dos/sobre os comportamentos e costumes até então
desconhecidos dos Javaé e Karajá da Ilha do Bananal. Este escrito parte do que foi
documentado durante a ação de saúde, destacando-se entre outras que:
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● as indígenas transgêneras participam das ritualísticas referentes ao
masculino, seu papel de gênero ainda é considerado pelo corpo biológico3.
Cabe aqui a inserção de uma pesquisa relevante para este trabalho, descreve a
FERNANDES (2016) identificou autores que por meio da etnografia (não imparcial),
partir dos escritos à época da invasão dos portugueses e demais europeus. Nestes escritos,
mesmo com o valoramento de condenação sobre as práticas sexuais por parte dos europeus,
São encontrados por Fernandes diversos relatos sobre os Tupinambá, Karajá, Javaé,
3
Os Javaé possuem a ritualística da Casa de Aruanã, com os ritos de passagem da fase de menino a homem.
Todos os homens da aldeia participam desse ritual, permanecendo dentro de uma oca construída para tal
finalidade, onde são incluídas também as indígenas travestis/transgêneras (Fernandes, 2015).
4
Destaque para grafia obtida na transcrição de Fernandes ao relato de Couto de Magalhães (1876). Xambioá
etnia pertencente ao território outrora goiano, hoje tocantinense.
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Com variedade expressiva de povos que revela a extensão territorial a que o
fenômeno foi encontrado, desde o alto Xingu às terras do centro oeste. Ao se observar a linha
do tempo em que os inúmeros relatos são registrados, e que o fenômeno das práticas sexuais
dos europeus de que a homossexualidade tenha surgido em decorrência dos contatos com os
não indígenas, fazendo os seus próprios descendentes gerações após gerações acreditassem
que assim se sucedeu. Pode-se observar quando se testemunha a narrativa: “Eles aceitam?”
quando leigos questionam sobre indígenas transgêneras nas aldeias, indicando o seu
investigação de Fernandes que registrou que os indígenas afirmam que seus pares passaram
a assumir uma identidade LGBT apenas e a partir do contato com os não-indígenas, sendo a
(2019, 191)
É possível observar na investigação feita pelo autor que os povos Karajá e Javaé,
Magalhães.
É possível observar na relação feita por FERNANDES dos relatores e seus escritos
que,
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A homossexualidade indígena aparece de múltiplas formas em diversas fontes
desde o início da colonização do Brasil. Autores como Gaspar de Carvajal (1540),
Padre Manuel da Nóbrega (1549), Padre Pero Correia (1551), Jean de Léry (1557),
Pero de Magalhães Gandavo (1576) e Gabriel Soares de Sousa (1587) fazem
referência à homossexualidade indígena [...] (Fernandes, 2016)
FERNANDES assinala não ter encontrado nenhum escrito entre os períodos entre
1639 e 1795, quando então passam a haver escritos de militares etnógrafos, já com
modificações do enquadramento europeu caracterizando histórica, cultural, econômica e
sociologicamente a transição das identidades nativas para o pensamento hegemônico.
Enquadramento este que assinala ainda que a homossexualidade é algo advindo do contato
(trocas interativas com modos e hábitos dos não-indígenas, incorporando-as), com funções
de barganha e interesses comerciais/sociais.
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Fig. 1 – Visualização do Parque Nacional do Araguaia e localização da Ilha do Bananal, com as principais
aldeias da região, como Canoanã que foi visitada - Tocantins. https://www.bing.com
[...] essa naturalização das diferenças está o fato de que o conservadorismo não é
tão somente um estilo de pensamento; mais do que isso, ele é um modo de vida,
um modo de estar no mundo que é típico da modernidade, muito embora, a rigor,
tal modo de vida está na contramão dos pressupostos iluministas. (VEIGA-NETO,
2002)
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(auto)descoberta de uma identidade de gênero trans seria fruto de uma formação e
conhecimentos intelectualizados e que tal coisa não seria pertencente a um contexto cultural
referentes a grupos “folclóricos”. Naquele momento estaríamos com um olhar de
regulamento do (trans)gênero no que afirma Butler,
5
Formato itálico de uso nosso por se tratar de outro idioma.
10
e cirúrgicos) ou simplesmente se travestir em concordância à imagem corporal desejada, só
seriam possíveis nos centros urbanos e nunca imaginada em uma aldeia.
A percepção de que o (pré)conceito torna o indivíduo dono e prisioneiro de uma
presunção e autoridades que o restringe, atreladas e contextualizadas. Segundo Arroyo,
(2014) que traz sobre o marcador social de raça, do qual se parte numa escala de cor, onde o
branco classificou a cor da pele como superior e ainda o é majoritariamente no inconsciente
coletivo, em relação às demais da escala cromática e cromossômica e que se estende aos
recortes e marcadores sociais que incluem o gênero.
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sexualidade indígena se descobre a necessidade de (res)situar a partir de ter como
pensamento básico a pesquisa com as indígenas e não sobre elas.
No dizer de SANTOS, buscar epistemologias alternativas, diferentes das que foram
tratadas nos últimos séculos que não consideravam reflexões políticas e culturais na
produção do conhecimento (Santos, 2009, p. 8).
A (auto)percepção e dissecação do (auto)estranhamento tem revelado que ali existia
um sujeito cristalizado que enquadrava esses outros sujeitos a partir do olhar
colonial/catequista, que classifica com base em modelos de um único regramento permitido
(monocultura). Aos corpos de machos e fêmeas, só cabem ser homens e mulheres, Adões e
Evas. “Que indagações trazem esses Outros Sujeitos para as teorias pedagógicas? Se os
educandos são Outros, a docência, os docentes poderão ser os mesmos? Questões desafiantes
para a educação popular e escolar.” (ARROYO, 1:26, 2014)
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Quiçá se consiga em breve, completarmos este ensaio com os resultados da pesquisa
junto às indígenas trans em sua comunidade e trazer à visibilidade suas próprias narrativas
As leituras e os estudos realizados na disciplina de Interculturalidade, que
abordaram a interculturalidade e o decolonialismo, deram a dimensão da seriedade de se
reconstituir e auto reconhecer-se como pesquisador tendo um olhar preconcebido sobre os
sujeitos. Diante disso se reafirma que, o enfoque de examinar com exatidão a questão do
estranhamento dos corpos e, considerá-lo parte da própria pesquisa denota desde já um
requisito para quem pretenda abordar a decolonialidade como tema guarda chuva.
Voltando-se especificamente para o tema elencado compreende-se junto a HALL,
que o processo de desfazimento do pensar a identidade de forma antiquada, somente com os
saberes que originalmente foram tecidos sobre corpo e gênero, já não podem mais sequer
serem admitidas que o seja assim (HALL, 3:104, 1995).
Dentre os estudos dos textos apresentados CANDAU fala a respeito de alguns
desafios do/para o contexto da educação intercultural, considerando um estudo crítico e
autocrítico sabendo que a desconstrução é um dos elementos tidos como desafiantes.
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Em RIBEIRO (2019) entendemos o conceito de “espaço” ou “lugar” de fala” que
configura o contramovimento para os discursos a partir de um posicionamento
hierarquicamente superior, muito em vista de ser naturalizado e irrefletido _ por entender-se
hegemônico, tido como verdade absoluta _. Ousaria-se dizer, a partir de RIBEIRO,
enraizado na cultura de povos colonizados, ou seja, etnocêntrico e monocultural valorando
o Outro geralmente, ainda com as justificativas da tutela colonial catequista/jesuítica. Essa
forma de ser que impede de enxergar o Outro como sujeito de si próprio e até de oportunizar
o espaço de protagonismo. “Ao persistirem na ideia de que são universais e falam por todos,
insistem em falar pelos outros, quando, na verdade, estão falando de si ao se julgarem
universais” (RIBEIRO, 1:31, 2019). Lugar de fala é o espaço discursivo daqueles que foram
os impedidos de falar ao longo da história.
Talvez a existência de corpos indígenas transgenerificados possam ser “a voz” mais
potente nesse momento, contra o colonialismo de suas/nossas vidas.
FLEURI (2006) ressalta um elemento importante que possivelmente se relaciona
com os estranhamentos diante dos Outros Sujeitos (como indígenas trans), o estereótipo.
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identificação não social ou culturalmente, mas biologicamente única ou predominantemente.
Já no caso da transgeneridade soma-se a (i)moralidade.
O que se quer ressaltar aqui como forma alternativa de prática de posturas/condutas,
é o fato destes autores acrescentarem, como SANTOS diz muito bem através das
Epistemologias do Sul, que são perspectivas de identificação da colonização que está
presente comumente no modo de ser, que é senso comum de grande parcela da sociedade
brasileira, como também, permanente no indivíduo apesar de haver ou não uma formação
técnico acadêmica.
Comentários finais
O HOMEM AS VIAGENS
Carlos Drumond de Andrade
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Com a pesquisa Encontrados Corpos Estranhos na Ilha do Bananal - A
Transgeneridade entre Javaé Karajá, longe se está de uma conclusão. Este ensaio propõe
uma viagem para dentro de si mesmo _ pessoa, indivíduo e profissional _ para refletir sobre
o que foi dito e lido ao longo da disciplina de Educação, Diversidade e Interculturalidade,
ministrada pelo Prof Dr. Idemar Vizzoli, nos Programa de Pós-Graduação Profissional em
Educação (PPPGE) da Universidade Federal do Tocantins6.
O aprofundamento do tema de pessoas transgêneras associado ao recorte étnico tem
possibilitado enxergar que a instrumentalização técnica é menos importante do que a
disponibilidade interna de entendimento e reconhecimento da diversidade do Outro, esta
deveria ser precedente ou concomitante aos enquadramentos da graduação acadêmica e
formação profissional.
Uma (res)significação da visão de mundo compreendendo sua pluralidade ao
enxergar que, se há um grupo autodenominado em uma letra L.G.B.T.Q.I.A+ ou
QUILOMBOLA ou POPULAÇÕES VULNERÁVEIS ou POPULAÇÃO NEGRA, etc.,
possivelmente esse batismo ou nome se deve ao fato de que violações eram/são cometidas,
fazendo com que os sujeitos saiam de seus espaços originários, invisíveis ao sistema social,
e se apresentem divulgando seus modos de ser, suas culturas, os direitos a que não alcançam
ou lhes são negados ao longo dos séculos de História. Os caminhos do descobrir-se frente
aos estranhamentos pessoais cotidianos é para ambos os lados da linha que SANTOS chama
de abissal. Quijano explica,
6
A disciplina é parte da grade curricular do Programa de Pós-Graduação em Educação, modalidade acadêmico,
embora o autor curse o programa de modalidade profissional, ambos da mesma universidade.
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Indígenas (TI), muito em decorrência de sua tradição oral e da participação coletiva nas
decisões locais, e de que o objeto de investigação se relacionava às indígenas trans. O
impacto gerado sobre estas pessoas desde então, já se fez sentir, quando as próprias se
manifestaram direta e indiretamente ao pesquisador de suas expectativas e necessidades de
se tornarem visíveis e de serem ouvidas. Notícias de agressões sofridas, a transfobia, é algo
que ocorreu e está atual nas terras indígenas fruto e desdobramento do colonialismo
sistemático das identidades outrora tradicionais.
Em suas narrativas é possível entendê-los, se se dispuser a escutá-los. A partir do
momento em que o espaço hegemônico e hierárquico de colonizador é ameaçado
(in)conscientemente, quando o choque do confronto daquilo que é negado à própria
consciência ocorre, emerge o estranhamento. Diversas reações podem advir do fenômeno do
estranhamento: ignorar, desdenhar, desqualificar, relativizar, agredir, proibir, ridicularizar,
debochar, calar, fingir, tolerar, distanciar, sorrir, perplexidade, ser “fofo” e... Matar!
Neste ensaio apenas alguns autores/pesquisadores foram comentados e diversos
outros, apontam caminhos alternativos acenando-nos possibilidades de outras relações e
construções sociais mais positivas e menos conflitivas para todos.
Os costumes quanto às sexualidades indígenas antes da invasão de seus territórios à
época do colonialismo: catequese/escravização/domesticação que foram estranhadas pela
sociedade européia, foram enquadradas ideologicamente, denominadas como valores sociais
e familiares num mundo líquido atual (parafraseando Baumam), legitimam posturas e
posicionamentos tão escravizadores quanto os do período colonial. É possível desconstruir
o colonialismo enraizado e naturalizado por séculos? Talvez e muito possivelmente não.
Talvez seja possível novos modos de ver/pensar/refletir/ouvir(se).
Finaliza-se transcrevendo aqui a questão que o incômodo causado diante daqueles
corpos estranhos _ indígenas travestidos _ provocou internamente e que ao invés de bater,
socar, chutar, agredir, se resolveu buscar respostas para si. O que está por trás desse
estranhamento em mim? E cada pergunta provocou a busca por suas causas até as suas
origens, histórias e vozes.
Isso ocorreu em/de uma sala de aula!
Referências
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