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Resenhas - Régis Duprat - A nova edição do Guia Prático para a Educação Artística e Musical, de Villa-Lobos (p.

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RESENHAS

A nova edição do Guia Prático para a Educação Artística e Musical, de Villa-Lobos

Régis Duprat (ABM)

Nesteanode2009,celebra-seocinquentenário Na abertura da nova publicação, o leitor terá


do falecimento de Heitor Villa-Lobos (1887- acesso ao contexto e à história dessas medidas, ao
1959). A Academia Brasileira de Música – ABM ler a apresentação “Convergências e Urdiduras”,
e a Fundação Nacional de Arte – FUNARTE, na qual Ricardo Tacuchian, atual presidente da
duas entidades estreitamente vinculadas à música ABM, nos contempla, sucinta e claramente, com
brasileira, se consorciam para homenageá-lo em uma súmula sobre a história e a dinâmica dos
uma de suas grandes realizações, reeditando o eventos, personalidades e instituições envolvidas
Guia Prático para a Educação Artística e Musical no ato fundador do sistema educacional musical
– estudo folclórico-musical de Heitor Villa-Lobos; de então, suas vicissitudes e implicações; até os
[textos e pesquisa] por Manoel Aranha Corrêa dias de hoje, em que nova medida governamental
do Lago, Sérgio Barbosa, Maria Clara Barbosa (Lei n.o 11.769, de 2008) reconduz a educação
– Rio de Janeiro: ABM: FUNARTE, 2009, 112 musical ao ensino obrigatório nas escolas.
p.; que inclui bibliografia, “Separata” e texto em Naquele contexto, destacava-se a visão
português e inglês. sábia e consciente do grande educador Anísio
O “Guia Prático...”, de Villa-Lobos, resultou Teixeira, que apontava para a integração da
de uma atividade abrangente e sistemática arte na educação popular e para a integração de
iniciada em 1931, em decorrência da medida “um gênio da música na tarefa aparentemente
com a qual o Governo da República decretou modesta de ensinar crianças a cantar”, na citação
a implantação do Canto Orfeônico no sistema de Tacuchian.
educacional brasileiro. As implicações de natureza etno-histórico-
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musicológica que o “Guia Prático...” nos oferece a proposta de reedição do Guia Prático, projeto
residem fundamentalmente na concepção villa- tão ambicioso quanto o realizado no projeto
lobiana de utilizar todo um repertório musical original, já que agora envolvia ampla atualização
cultural, cultivado, até então, indiscriminadamente e correção geral de dados e informações de
pelas populações rurais e urbanas brasileiras. E o sucessivas edições anteriores.
fez valendo-se de coletâneas elaboradas até então Esse volume apresenta um histórico da
por diversos pesquisadores do folclore nacional, publicação entre 1932 e 1937 e as similaridades
expressão com que se designava, na época, o do Guia Prático com realizações contemporâneas
estudo das manifestações culturais populares em dessa mesma década, como as de Béla Bartók,
geral. Assim, foram reunidas no Guia Prático Carl Orff, Darius Milhaud e Paul Hindemith,
137 cantigas, entre as incluídas em coletâneas semelhantes e coincidentes tanto na cronologia
anteriores, como as de Guilherme Pereira de Melo, quanto na intenção pedagógica e no vínculo
Mário de Andrade, Frederico José de Santa-Anna folclórico.
Nery, Alexina de Magalhães Pinto, João Gomes A Separata ainda examina a estrutura do
Júnior e João Batista Julião, Branca de Carvalho Guia Prático, justificando a reordenação das peças
Vasconcelos e Arduíno Bolívar, e coletas no conjunto, agora de uma forma mais didática,
realizadas diretamente pela Superintendência de de complexidade crescente, tanto no número de
Educação Musical e Artística – SEMA; e ainda vozes (1 até 4 vozes) como nas alternativas para
as de Francisco Pereira da Costa, Elsie Houston e execução com a presença de acompanhamento
Alberto Figueiredo Pimentel. Esse é o repertório instrumental.
geral, não obstante os trabalhos de Alexina de Historia exaustivamente o problema das
Magalhães Pinto e de João Gomes Júnior e transcrições e versões, e sintetiza com clareza a
João Batista Julião constituírem mais da metade classificação dos arranjos, dissecando as fontes
dos títulos do Guia Prático. O conjunto dessas do Guia Prático. Esse guia do Guia Prático
pesquisas anteriores, que os autores da presente também aborda o problema das letras das peças,
edição denominam “fontes livrescas”, forma remontando às pesquisas de Sílvio Romero, Melo
um “Cancioneiro”, que, em boa parte, já havia Moraes Filho e Pereira da Costa, no século XIX,
inspirado composições de Villa-Lobos desde a assim como as variantes nos textos de Alexina de
década de 1910. Magalhães Pinto, João Gomes Júnior e Guilherme
O conjunto de cadernos é constituído por de Melo, que constituem ricas coletâneas
4 volumes de fácil manipulação (20x28cm), anteriormente publicadas e que foram utilizadas
cada um com cerca de 100 páginas, sendo 3 por Villa-Lobos para configurar o repertório de
com as partituras e um volume (a Separata) de cantigas do Guia Prático.
apresentação, estudos, tabelas, retrospectos, fac- Cabe lembrar que os 3 volumes de peças
símiles, índices e quadro sinótico; em suma, contêm anexas todas as letras e suas respectivas
como designam os próprios autores: um Guia do estrofes, incluindo as que não figuram
Guia Prático. nas partituras, cotejando-as com as fontes
Nessa Separata, os autores expõem todos os bibliográficas e, até, reparando falhas editoriais
problemas enfrentados no desafio que constituiu de edições anteriores.
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A realização das partituras mereceu Brasileira de Música e a FUNARTE, assim


tratamento editorial simplificado relativamente como os autores da presente edição, Manoel
às reprises (ritornelos), garantindo ao usuário Aranha Corrêa do Lago, Sérgio Barbosa e Maria
a viabilização de uma leitura simplificada e Clara Barbosa, nos brindam com um precioso
didática. Não foi omitida, na presente edição, a instrumento didático, de alto valor artístico; ele
preocupação fundamental com o professor, com atenderá à demanda que certamente se criará com
os alunos, com os intérpretes e também com os a benfazeja medida governamental, longamente
eventuais pesquisadores da música brasileira e da reivindicada por toda a categoria musical durante
obra de Villa-Lobos. tantos anos, com a reintegração do ensino musical
Com o Guia Prático para a Educação obrigatório no sistema educacional brasileiro pela
Artística e Musical de Villa-Lobos, a Academia Lei n.o 11.769, de 18 de agosto de 2008.

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