Você está na página 1de 3

file:///C:/Users/DRJOSI~1/AppData/Local/Temp/online-39.

html

Tribunal de Justiça do Estado da Bahia


PODER JUDICIÁRIO
CAMAÇARI
1ª VARA DO SISTEMA DOS JUIZADOS - CAMAÇARI - PROJUDI

Centro Administrativo, s/n, anexo F. Clemente Mariani, Centro - CAMAÇARI


camacari-1vsj@tjba.jus.br - Tel.: 71 3621-8700

Processo Nº: 0006019-94.2017.8.05.0039

Parte Autora:
MARIA DAS GRACAS DE OLIVEIRA

Parte ré:
CAIXA CONSORCIOS S A

SENTENÇA

Vistos etc.

Dispensado o relatório, de acordo com o disposto no art. 38 da Lei 9.099/95.

Afirma a parte autora que celebrou junto a Acionada contrato consorcial e, posteriormente
percebeu a inclusão de serviço de SEGURO DE VIDA supostamente não autorizado. Pleiteia
a restituição dos valores atinentes ao serviço não contratado, assim como a condenação do
Acionado a condenação por danos morais.

Sem preliminares, passo a adentrar no mérito.

Do contexto probatório observa-se que de fato, nas faturas há a cobrança de serviço


intitulado como SEGURO DE VIDA.

Dessa forma, entendo que as alegações da parte Autora hão de ser tidas como verossímeis,
na medida em que não foram elididas por prova idônea. Ademais, restou demonstrado que
o serviço prestado pela Acionada não foi aquele contratado pela Autora, principalmente no
que tange às informações prestadas pela mesma.

A hipótese dos autos deve ser analisada sob a ótica do Código de Defesa do Consumidor,
vez que as partes subsumem-se nas figuras de consumidor e fornecedor.

Compulsando os autos, tenho que razão assiste a parte autora. Trata-se de evidente venda
casada, porque não possibilita ao consumidor a adquirir tão somente o serviço de natureza
consorcial.

A venda casada é considerada abusiva e constitui prática vedada no ordenamento jurídico


(CDC, art. 39, I), pois condicionar o fornecimento de produto ou de serviço a outro implica
constranger o consumidor a contratar ou adquirir o produto/serviço que está embutido
naquele que efetivamente almeja.

No caso, o fornecedor impôs a contratação de seguros adjeta à compra do produto, situação


própria dos contratos de adesão celebrados entre consumidores tomadores do empréstimo e
a instituições financeiras.

Assinado eletronicamente por: JOSIMARIO


SALOMAO VILAS
DE ALMEIDA
BOAS FRANCA;
SANTOS;
Código de validação do documento: 5f1e8458
61cb3304 aa ser
ser validado
validado no
no sítio
sítio do
do PROJUDI
PROJUDI -- TJBA.
TJBA.
1 de 3 07/12/2017 07:31
file:///C:/Users/DRJOSI~1/AppData/Local/Temp/online-39.html

Nessa senda, configurada a prática abusiva pela Acionada, que violou direitos básicos do
consumidor, pelo que deve ser rechaçado. Assim, ainda que insista a Acionada em afirmar
que agiu de forma legítima a conduta mostrou-se inteiramente irregular, pelos
fundamentos já explicitados.

O que resta patente é que a Acionada incorreu em prática abusiva, nos termos do art. 39,
incisos III e IV do CDC, violando direitos do consumidor.

Outrossim, dúvidas não subsistem de que a demandada praticou ato ilícito e, por este
motivo, tem obrigação de indenizar, como preceitua o artigo 186 do Código Civil e artigo
5º, inciso X, da Constituição Federal de 1988 considerando que, por ação voluntária
negligente, violou direito e causou dano a outrem, ainda que exclusivamente moral.

De qualquer forma, verifica-se que existe uma relação de consumo e, por isso, resta
patente a incidência do Código de Defesa do Consumidor ,visto que o(a) autor(a) se
utilizaria de serviço prestado pela ré como destinatário final. Por seu turno, o artigo 3º,
parágrafo segundo, afirma que fornecedor é toda pessoa que presta serviço mediante
remuneração.

Prescreve a lei 8.078/90, artigo 14, que:

¿Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da


existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores
por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações
insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.

§ 1º. O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o


consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as
circunstâncias relevantes, entre as quais:

I - o modo de seu fornecimento;

II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;

III - a época em que foi fornecido.

§ 2º. O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas técnicas.

§ 3º. O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:

I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;

II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

§ 4º. A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada


mediante a verificação de culpa.¿

Diante do supracitado dispositivo legal, a responsabilidade do Requerido é objetiva, ou


seja, independe de culpa e só pode ser afastada por culpa exclusiva do usuário do serviço
ou de terceiro, o que não restou provado nos autos.

Ao prestar serviços defeituosos, não fornecendo ao consumidor a segurança necessária para


impedir que sejam vítimas de práticas abusivas, os requeridos fizeram surgir um dano
moral decorrente da violação da honra do(a) requerente que deve ser reparado, ainda que
não tenha agido com culpa. Ademais, ressalto que incumbia ao Acionado a prova de que a
requerente contratou os produtos descritos na proemial, o que não foi feito.

Se o dano moral se constitui em dor, vexame, tristeza, humilhação, constrangimento, o


simples fato de o autor ter sido vítima de prática abusiva e cobrado por produto não
contratado, é suficiente e bastante para ensejar o dever de indenizar. Desnecessário, por
isso, que se prove qualquer outro fato, haja vista que não se pode pretender que alguém
prove a tristeza ou dor que passou. Caracterizada, assim, a existência de dano moral e,
consequentemente, a obrigação de indenizar.

Assinado eletronicamente por: JOSIMARIO


SALOMAO VILAS
DE ALMEIDA
BOAS FRANCA;
SANTOS;
Código de validação do documento: 5f1e8458
61cb3304 aa ser
ser validado
validado no
no sítio
sítio do
do PROJUDI
PROJUDI -- TJBA.
TJBA.
2 de 3 07/12/2017 07:31
file:///C:/Users/DRJOSI~1/AppData/Local/Temp/online-39.html

Registre-se que inexistem critérios legais para se fixar o valor da indenização pelos danos
morais. Portanto, e segundo entendimento doutrinário e jurisprudencial, deve o magistrado
considerar que a quantia a ser paga tem que representar, para quem a recebe, uma
compensação pelo vexame e humilhação sofridos. Ao mesmo tempo, deve se constituir em
uma sanção ao violador, desestimulando-o a repetir a conduta ilícita. Não se pode olvidar,
entretanto, as condições sociais das partes, nem permitir-se que a indenização percebida se
transforme em um enriquecimento ilícito.

Analisando estas circunstâncias, mormente as condições sociais das partes, verifica-se que a
quantia não pode ser tão diminuta ao ponto de se tornar inexpressiva para o suplicado,
empresa de grande porte, fazendo com que valha a pena repetir a conduta e continue
lesando outros consumidores. Digno de nota, também, é que o requerente em nada
contribuiu para o cometimento do fato. Destarte, arbitro a verba indenizatória em valor
equivalente à R$ 4.000,00 (quatro mil reais).
No tocante ao pleito de devolução, em dobro, entendo que merece prosperar ante a
violação ao preceito legal do art. 42 do CDC.

Ante o exposto, JULGO PROCEDENTES EM PARTE os pedidos contidos na exordial para


CONDENAR A ACIONADA a restituir, em dobro, os valores efetivamente pagos sob a rubrica
SEGURO DE VIDA, a qual deverá ser devidamente atualizada monetariamente, a partir do
efetivo pagamento, assim como condenar a parte Acionada a pagar Autora, a quantia de R$
4.000,00 (quatro mil reais), a título de danos morais, corrigido monetariamente pelo INPC e
acrescido de 1% a.m., a contar da data de prolação da sentença, conforme Súmula 362 do
STJ.

Sem custas e honorários advocatícios.

Caso a acionada não efetue o pagamento no prazo de 15 (quinze) dias contados do trânsito
em julgado, deverá ser acrescida multa no percentual de 10% (dez por cento) sobre o valor
da condenação, conforme dispõe o §1º do art. 523 do CPC.

Havendo recurso tempestivo e acompanhado das custas devidas, independente de


intimação (art. 42, §2 da Lei n. 9.099/95), recebo-o, desde já, no efeito devolutivo,
intimando-se a outra parte para contrarrazões no prazo de 10 (dez) dias. Após,
remetam-se à Turma Recursal.

P.R.I.

CAMAÇARI, 16 de Outubro de 2017.

MELISSA MAYORAL PEDROSO COELHO LUKINE MARTINS

Juíza de Direito
Documento Assinado Eletronicamente

Assinado eletronicamente por: MELISSA MAYORAL PEDROSO COELHO LUKINE MARTINS


Código de validação do documento: 5eb2cbc8 a ser validado no sítio do PROJUDI - TJBA.

Assinado eletronicamente por: JOSIMARIO


SALOMAO VILAS
DE ALMEIDA
BOAS FRANCA;
SANTOS;
Código de validação do documento: 5f1e8458
61cb3304 aa ser
ser validado
validado no
no sítio
sítio do
do PROJUDI
PROJUDI -- TJBA.
TJBA.
3 de 3 07/12/2017 07:31

Você também pode gostar