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Prefácio
Figura 5. Correlação de
derrames no distrito mi-
neiro de Entre Rios, Santa
Catarina. Os derrames de
basalto 4 e 5 são minerali-
zados a geodos de ametista.
Extraído de Hartmann et
al. (2014b).
Figura 2. (a) Geodo de ametista, com fratura alimentadora dos fluidos que geraram o geodo situada na base
8 do geodo; Mina do Museu, Ametista do Sul. (b) Gráfico temperatura versus pressão de água, com indicação 9
do campo em que foram formados os geodos de ametista em ambiente hidrotermal.
anomalias gama-espectrométricas nos sílica gossans, os guias prospectivos dos depósitos hidroter-
mais. A maioria dos morros presentes no Grupo Serra Geral contém sílica gossans (Fig. 6) no topo
dos depósitos hidrotermais de ametista (Pertille et al., 2013; Baggio et al., 2014c) e também cobre
nativo (Baggio et al., 2014a). A presença de banhados ricos em argila sobre os sílica gossans apresenta
fósseis microscópicos que representam a evolução da vida nos últimos 10.000 anos (Gadens-Marcon
et al., 2014).
Além dos depósitos de ametista, ágata e ocorrência de cobre nativo, a deposição de zeólitas
na zona amigdaloidal dos derrames basálticos (Bergmann, 2014) representa uma nova abordagem
de aproveitamento na agricultura (Fig. 7) assim como a rochagem dos rejeitos da exploração dos
depósitos de ametista. A exploração dos depósitos hidrotermais do Grupo Serra Geral geram riqueza
em várias regiões (Hartmann & Silva, 2010) e suas características geológicas amplamente estudadas
servem como modelo para a prospecção de novos depósitos em outras áreas da província vulcânica
(Hartmann et al., 2014c).
Conclusões
A unicidade da evolução do Grupo Serra Geral dentre as províncias basálticas continentais
foi o clima árido de seu ambiente e a sua posição acima do grande aquífero Guarani. O ambiente geo-
lógico gerador de gemas e minérios foi descrito de maneira abrangente, incluindo desde a geração dos
magmas no manto, sua ascensão no manto e crosta e efusão na superfície. Muitos processos geológi-
Figura 6. Presença de sílica gossan (indicado por flechas) com contorno hexagonal em topo de coxi- cos ocorreram nesse ambiente, incluindo a geração de cobre nativo e também de geodos de ametista e
lha no pampa de Quaraí, Rio Grande do Sul. A presença de mata nativa abaixo do gossan sugere ágata em hidrotermalismo de baixa temperatura. O calor do esfriamento dos sills gerou a quebra de
a presença de uma fratura horizontal, característica das mineralizações de geodos de ametista em querogênio nas camadas sedimentares, com liberação de metano e sua oxidação em derrames espessos
outros distritos. Extraído de Hartmann et al. (2014c). de basalto. Esse basalto refundiu e gerou paralavas, com possibilidade de depósitos de ouro, EGP e
rubi. Basaltos amigdaloidais podem ser utilizados para a fertilização de solos. Sílica gossans marcam
a superfície acima de jazidas hidrotermais e registram na lama a evolução da vida e da atmosfera nos
últimos 10.000 anos, inclusive a diminuição da umidade em tempos recentes.
Agradecimentos
O presente estudo foi realizado no âmbito do arranjo produtivo de gemas e joias do Rio
Grande do Sul, com o apoio financeiro de vários projetos, inclusive um projeto de excelência PRO-
NEX-FAPERGS/CNPq sobre minerais estratégicos e um projeto CNPq-Vale de exploração mineral
no Grupo Serra Geral, além de dois projetos de Edital Universal/CNPq coordenados por Léo Hart-
mann. Os estudos apresentados também receberam apoio do Serviço Geológico do Brasil (CPRM),
SUREG-Porto Alegre, e do Departamento Nacional de Produção Mineral (Superintendência de
Campo Grande, Mato Grosso do Sul).
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10 Figura 7. Zeolitas heulandita e mordenita (fibrosa) em amígdalas de basalto, lavra Bairro Fátima, 11
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12 páginas 203-232. térios geológicos e indicação de áreas preferen- 13
ciais para a investigação da presença de jazidas
Evolução da vida e da atmosfera durante o dos sedimentos provenientes do primeiro tipo descrito por Hartmann (2008), o qual não consegue
sustentar a rica vegetação nativa da região de Ametista do Sul por permanecer longo tempo saturado
Holoceno em alagados de altitude associados em água nas épocas chuvosas, formando banhados efêmeros. O segundo tipo, por sua vez, é recoberto
por banhados perenes e não foi amostrado.
à sílica gossan no Distrito Mineiro de
Ametista do Sul
Gabrielli Teresa Gadens-Marcon1,2,4, Margot Guerra-Sommer2, João Graciano Mendonça-Filho3
& Léo Afraneo Hartmann2
1
Unidade Litoral Norte, Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS)
2
Instituto de Geociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
3
Instituto de Geociências, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFGRS)
4
e-mail: gabigadens@yahoo.com.br
Introdução
É sabido que o clima do Holoceno, estimado em 11.500 anos antes do presente (AP) até o
Recente, sustentou o crescimento e desenvolvimento da sociedade moderna. Isto porque o Holoceno
afigura-se como o período interglacial quente mais estável de todos os demais períodos anteriores do
ciclo glacial do Quaternário. Portanto, não há dúvida de que as condições uniformes desse período
promoveram o rápido crescimento da agricultura e da civilização que se seguiu ao final da última
idade do gelo (PRESS et al., 2006). FIGURA 1 – a1) Mapa com a localização de Ametista do Sul; a2) Legendas do Mapa; b) Modelo de
Pesquisas revelam que vastas regiões da Terra experimentaram mudanças quase síncronas um morro mineralizado (vista lateral) contendo os alagados associados à gossan (na superfície apical) e os
das temperaturas glaciais para interglaciais durante curtos intervalos de tempo e que a circulação geodos de ametista (internamente) no Distrito Mineiro de Ametista do Sul (adaptado de HARTMANN et
atmosférica pode se reorganizar de modo muito rápido, invertendo o sistema do clima de um estado al., 2010)
para outro num intervalo menor que o tempo de vida de uma pessoa (PRESS et al., 2006). Isso
aumenta a expectativa de que as mudanças climáticas globais em curso, induzidas ou não pela ação A presença desses pequenos banhados naturais associados a sílica gossan em Ametista do
humana, possam envolver inversões abruptas para um novo e desconhecido estado climático, para o Sul oferecem uma oportunidade ímpar de investigação, pois fornecem dados inéditos sobre o Ho-
qual nossa civilização está mal preparada. loceno da Região do Alto Uruguai no Estado do Rio Grande do Sul. A caracterização quantitativa
Os resultados das pesquisas realizadas em Ametista do Sul representam uma tentativa iné- e qualitativa da matéria orgânica sedimentar proveniente dessas áreas úmidas do planalto noroeste
dita de correlação entre as mudanças climáticas de escala global que ocorreram durante o Holoceno, do RS contribui para a identificação de processos naturais e antrópicos que atuaram na evolução dos
especialmente os “eventos Bond” (BOND et al., 1997, 2001), com os dados paleoclimáticos obtidos ambientes estudados, bem como de paleoambientes afins do passado geológico, oferecendo subsídios
para a região do Alto Uruguai. Os “eventos Bond” tiveram um impacto significativo sobre o clima importantes ao estabelecimento de modelos comparativos.
global (KOBASHI et al., 2007; THOMAS et al., 2007) e têm sido utilizados para correlacionar as A datação radiocarbônica realizada desde a base dos testemunhos, aliada ao estudo da su-
alterações na intensidade da circulação termohalina atlântica com as flutuações na temperatura da cessão ecológica das áreas alagadas associadas à sílica gossan permitiram conhecer temporalmente os
superfície do mar e com anomalias de precipitação registradas na América do Sul (CRUZ et al., fatores que condicionaram a evolução ambiental da área subsequente à gênese do geodos. O contexto
2005; STRÍKES et al., 2011; SALLUM et al.,2012) e em outros continentes. de ambiente isolado e sujeito predominantemente ao regime hidrológico pluvial tornou esse tipo de
O município de Ametista do Sul está localizado na porção noroeste do planalto sul-rio-grandense, depósito sedimentar altamente sensível à precipitação e permitiu estimar as variações pluviométricas
região do Alto Uruguai (Figura 1, a). Essa região, por sua vez, está localizada no sul do Brasil, pró- desde o Holoceno inferior até o Recente para aquela região.
xima à divisa entre os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, sendo constituída por rochas A matéria orgânica preservada em depósitos provenientes de ambientes estritamente con-
basálticas da Formação Serra Geral e mundialmente conhecida por suas riquezas minerais, tais como tinentais constitui excelente arquivo de mudanças nas condições deposicionais, ambientais, ecológicas
os geodos contendo ametista. e climáticas sob as quais esses depósitos se originaram, e diversas ferramentas de investigação costu-
De acordo com um modelo proposto por Hartmann (2008), Duarte et al. (2009), Hart- mam ser utilizadas para acessar tais informações.
mann et al. (2010) e Pertille et al. (2013), estruturas denominadas sílica gossan seriam o registro da O presente trabalho utilizou a análise de palinofácies e de geoquímica orgânica em sedi-
passagem de fluídos hidrotermais sob alta pressão através de fraturas no basalto. A ação desses fluidos mentos continentais que nunca estiveram sob influência marinha. Os dados gerados foram comple-
teria formado os geodos de ametista dentro dos morros e resultado na presença de banhados logo mentados por análise sedimentológica e datação radiocarbônica a fim promover o refinamento dos
14 acima das jazidas (Figura 1, b). Há dois tipos principais de sílica gossan na região de Ametista do resultados. A integração de tais métodos de investigação permitiu tecer inferências paleoambientais, 15
Sul, ambos com jazidas de ametista abaixo. No presente estudo, as análises concentraram-se na coleta paleoecológicas e paleoclimáticas inéditas para os sedimentos holocênicos provenientes do planalto
noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, baseadas em dados de alta resolução e confiabilidade. nos trabalhos de Tyson (1995), Mendonça-Filho (1999) e Mendonça-Filho et al. (2010, 2011). A
A análise de palinofácies compreende a caracterização qualitativa e quantitativa da matéria orgânica análise palinofaciológica convencional reconhece três grupos principais de MOP: Grupo Fitoclasto,
particulada contida nos sedimentos e nas rochas sedimentares (TYSON, 1995), onde cada partícula Grupo Palinomorfo e Grupo Produto Amorfo (= MOA) (Figura 2).
orgânica individual comporta-se como uma partícula sedimentar. Por isso, as análises palinofacioló- O equipamento utilizado para a determinação de COT (Carbono Orgânico total) é o
gicas baseiam-se na abundância relativa de tais partículas (MENEZES et al., 2008), uma vez que, analisador SC 144DR da LECO, que quantifica, simultaneamente, o conteúdo de carbono e enxofre
de acordo com Tissot & Welte (1984), a matéria orgânica representa a menor porção da fração sedi- através de um detector de infravermelho.
mentar e deriva direta ou indiretamente da parte orgânica dos organismos. A análise de palinofácies A análise granulométrica foi embasada na técnica de peneiramento e pipetagem com inter-
costuma ser correlacionada com outros métodos de investigação, especialmente com as análises geo- valos de classe de 1 e ¼ de (phi) respectivamente, da escala de Wentworth (1922). Ao final dessa
químicas de quantificação do carbono orgânico total (COT), que fornecem parâmetros importantes mesma rotina obtém-se a classificação das amostras segundo o diagrama de Shepard (1954).
na determinação do conteúdo orgânico presente em sedimentos e rochas sedimentares. A datação radiocarbônica utilizou a técnica radiométrica AMS (Accelerator Mass Spec-
Na expectativa de que esta investigação ultrapasse os limites acadêmicos e contribua de trometry) e foi realizada pelo Beta Analytic Radiocarbon Dating Laboratory (Miami, Florida, EU).
alguma forma para o desenvolvimento regional, aspira-se que a divulgação dos resultados obtidos
permita a elaboração de modelos de predição ambiental que possam servir ao monitoramento dos Resultados e discussão
ecossistemas locais continuamente impactados pelas atividades humanas, contribuindo assim com o
planejamento ambiental sustentável de médio e longo prazo para a região do Alto Uruguai. As análises palinofaciológicas realizadas no testemunhos T1 - Mina do Museu e T2 -
Mina Modelo, revelaram uma ampla dominância do Grupo Fitoclasto, tanto de partículas lenhosas
Metodologia como não lenhosas (Figura 3). O Grupo Palinomorfo foi o segundo em dominância e abrangeu
esporomorfos terrestres e algálicos, esses últimos de origem exclusivamente dulciaquícola (Figura 4).
No presente estudo foram selecionados dois banhados efêmeros, que correspondem ao pri- O Grupo Produto Amorfo, por sua vez, foi pouco expressivo e derivou, em grande parte, de tecidos
meiro tipo de sílica gossan descrito por Hartmann (2008). Esses banhados são circundados por vege- vegetais em estado avançado de degradação (Figura 3).
tação nativa e permanecem saturados em água durante os períodos chuvosos, mas secam em épocas de
estiagem prolongada. Ambos os corpos d’água estão localizados no topo dos morros e logo abaixo deles
existem duas minas de extração de Ametista, denominadas Mina do Museu e Mina Modelo.
Os pontos de coleta foram selecionados inicialmente com o auxílio de mapas gerados por
satélite (e.g. Google Earth) e com base no isolamento em relação à vegetação arbórea nativa circun-
dante. A entrevista com moradores locais foi imprescindível para a confirmação da natureza espontâ-
nea da vegetação circundante e das áreas de clareira selecionadas (correspondentes à sílica gossan). As
expedições de campo contaram com o apoio da Cooperativa de Garimpeiros do Médio Alto Uruguai
(COGAMAI) e da Prefeitura Municipal de Ametista do Sul. Para a coleta dos testemunhos de
sondagem foram utilizados tubos de PVC de 7 cm de diâmetro e de 1,5 a 2 metros de comprimento.
Os testemunhos de sondagem foram identificados como T1 - Mina do Museu e T2 - Mina Modelo,
de acordo com o nome po-
pularmente dado às minas de
extração de ametista localiza-
das logo abaixo do lugar onde
os mesmos foram extraídos.
Após a coleta, os testemunhos
de sondagem foram embala-
dos e transportados até o De-
partamento de Paleontologia FIGURA 3 – Grupo Amorfo e Grupo Fitoclasto. A, B, C e D: Produto Amorfo, sobre luz branca (A e C) e
e estratigrafia da Universidade sob luz fluorescente (B e D); E, F, G e H: Cutículas, sobre luz branca (E e G) e sob luz fluorescente (F e H);
Federal do Rio Grande do Sul I e J: Membrana, sobre luz branca (I) e sob luz fluorescente ( J); K e L: fitoclastos não opacos, estruturado
(UFRGS). perfurado (L); M: fitoclasto opaco.
O processamento
químico das amostras, a con- A análise de palinofácies foi particularmente útil nas interpretações de eventos de precipi-
fecção das lâminas organo- tação e de sucessão vegetacional para os alagados de altitude de Ametista do Sul. A alta percentagem
palinológicas e a contagem e FIGURA 2 – Classificação geral da matéria orgânica particulada de elementos algálicos no registro sedimentar desses corpos d’água e a expressiva variação observada
16 classificação da matéria orgâ- (baseada em Tyson, 1995; Mendonça-Filho, 1999 e Mendonça-Filho em suas freqüências ao longo dos testemunhos foram decisivas para as interpretações de cunho pa- 17
nica particulada embasaram-se et al., 2010, 2011) leoambiental, paleoclimático e paleoecológico estabelecidas nesse estudo.
Os dados palinofaciológicos, inferidos através da observação dos esporos e grãos de polen dos alagados teria sido consequência, portanto, de tais eventos. No início de sua sedimentação esses
revelaram que a diversidade e a abundância da vegetação em Ametista do Sul aumentaram em dire- banhados não eram intermitentes, pois havia umidade suficiente para que permanecessem saturados
ção ao Recente, possivelmente em virtude do processo de sucessão ecológica que se desencadeou no de água.
topo dos morros desde o início do Holoceno. Em ambos os alagados, a pluviosidade permaneceu relativamente alta até aproximadamen-
Entre os elementos algálicos, de maneira geral, Botryoccocus predominou amplamente te 7000 anos AP. A partir daí começaram a ocorrer alterações no padrão de umidade que foram se
nos intervalos basais, tendendo a decrescer progressivamente em direção ao topo em ambos os teste- intensificando progressivamente até o Recente (Figura 5) e resultando nos banhados efêmeros que
munhos (T1 e T2), bem como o grupo “outras algas”, assim identificado em virtude da sua ocorrência integram atualmente a paisagem local.
esporádica e percentualmente baixa em todas as amostras. O gênero incertae sedis, Pseudoschizaea, O T1 - Mina do Museu, por ser mais raso, teve um ciclo mais curto (7963 anos AP), en-
por sua vez, demonstrou comportamento ligeiramente diferente das demais algas, atingindo altas fre- quanto o T2 - Mina Modelo, por ser um pouco mais profundo, teve um ciclo mais longo (9542 anos
quências nas mesmas amostras que os esporos de pteridófitas. Em virtude disso, a estimativa do nível AP). Em virtude disso, a principal diferença entre o registro desses dois banhados está nas camadas
de água do alagado foi construída com base na freqüência de Botryococcus e “outras algas” (Figura do topo, pois, enquanto o T2 - Mina Modelo registra a continuidade dos eventos de precipitação
5). para o Recente, embora menos intensos e mais desregulados em relação ao passado, o T1 - Mina do
Museu registra o estabelecimento de uma fase crescente e contínua de grande estiagem em direção ao
Recente.
Os resultados obtidos demonstraram que os alagados de altitude de Ametista do Sul atu-
aram como um tanque de captação de água meteórica e por isso forneceram dados confiáveis sobre
eventos de aumento e diminuição da precipitação, revelando-se excelentes registros da pluviosidade
pretérita, à semelhança de espeleotemas e outros dados proxy de alta resolução.
Figura 3: A ) fotomicrografia dos agregados criptocristalinos de quartzo (QC) e dos agregados fibrosos
orientados (CA)(LP, 25X). B) detalhe dos agregados fibrosos de calcedônia (LP, 50X). (modif. de Michelin
et al., 2013).
Os valores para o Fe2O3 e para o Al2O3 de uma forma geral nas amostras analisadas
Figura 4: A) Fragmento de geodo mostrando as áreas analisadas; B) fotomicrografia ao MEV destacando a podem ser considerados como relativamente elevados quando comparados com os outros óxidos
transição entre a ágata (AG) e o quartzo macrocristalino (QM) (aumento de 170X); observar a diferença (Tab. 1). Merino et al. (1995) reportaram que a Si+4 pode ser substituída em diferentes graus e em
textural marcante entre as fases; C) resultado da análise ao EDS para o quartzo macrocristalino. D) resul- diferentes sítios da ágata por elementos tais como o Al+3 e o Fe+3 nas fibras que estão se desenvol-
tado da análise ao EDS para a ágata. (AG=ágata e QM=quartzo macrocristalino). (modif. de Michelin et vendo. Consequentemente há um déficit na carga, e os íons monovalentes como o K+1 e o Na+1
al., 2013). podem entrar na estrutura para compensar o balanço de carga. As amostras do DMSJ mostram que
aos maiores teores relativos de Al2O3 também são associados os valores mais elevados de K2O e
Os resultados químicos obtidos para as amostras de ágata do DMSJ encontram-se na Na2O, como por exemplo, a amostra 16 (ver Tab. 1).
tabela 1. A ágata do DMSJ é um polimorfo de sílica microcristalino com até 98% de SiO2 e o Alguns autores (Götze et al. 2001) propõem que o teor de Al2O3 é um indicador da
restante de sua composição corresponde a elementos traços e terras raras (Michelin et al.,2013). O temperatura de formação da ágata embora outros autores (Moxon, 2002; Lee, 2008) não tenham
teor de SiO2 varia de 92,52 a 97,95 (% peso), valores que de uma maneira geral são coerentes com o observado esta associação. No caso das ágatas do DMSJ, somente a amostra 16 (Tab. 1) que apre-
apresentado na literatura (Frondel, 1962; Paralı et al., 2011 ). senta o maior teor de Al2O3 e a menor temperatura de cristalização (1,05%peso e 23OC, respec-
Os valores de LOI (perda ao fogo) obtidos variam de 0,4 a 4,9 % peso. Amostras de ága- tivamente) poderia indicar algum tipo de associação. Em relação ao Fe2O3, pode-se fazer uma re-
ta de procedências e idades distintas também apresentam variação considerável nos teores de LOI lação com o pigmento da ágata. Diferentes teores deste óxido apresentam variações nas tonalidades
(Frondel, 1962; Hatipoğlu et al., 2011; Paralı et al., 2011). Além disso, as amostras de ágata dos de ágata (branco, diversos tons de cinza e azul escuro). Percebe-se que quanto mais escura for a cor
diferentes geodos do DMSJ de uma maneira geral mostram variações significativas nos conteúdos da ágata, maior será a concentração de ferro. A amostra 16 (Tab. 1) tem cor branca, leitosa e o teor
de Al, Fe, Cu, Ni e Ba, entre outros elementos. em Fe é relativamente baixo (0,91 % peso). Já a mostra 29, com maior teor em Fe (3,44 % peso),
Ao observar a correlação entre os teores de SiO2 e o LOI (Tab. 1) percebe-se que as ágatas com tem cor azul escura, caracterizando a chamada ágata Umbu do DMSJ.
menor teor em SiO2 apresentam não só os maiores valores para LOI, mas também as maiores Em função das diferenças composicionais e texturais marcantes apresentadas pelas amos-
26 concentrações de impurezas sob a forma de elementos maiores e traços conforme sugerido por tras analisadas, foram realizadas determinações de temperatura com base na assinatura isotópica do 27
Constantina & Moxon (2010) e verificado nos resultados da tabela 1 (ver amostras 16, 3A e 3C). oxigênio ( 18O) para as diferentes fases de preenchimento (ágata e quartzo macrocristalino). Os
valores variam de 24,0 a 30,51 ‰. Com base neste valor, a temperatura de cristalização da ágata Frondel, C.1962. The system of mineralogy Merino, E., Wang, Y. & Deloule, E. 1995.
do DMSJ varia de 23º a 65º C. A temperatura de 23º C é muito baixa, superficial, porém valores of Dana, J. D. 7th. ed. New York: John Wiley, Genesis of agates in flood basalts: twisting of
similares foram obtidos Götze et al. (2001). Estes autores também utilizaram isótopos de oxigênio 334p. chalcedony fibers and trace - elements geo-
para o cálculo da temperatura e analisaram exemplares de ágata da Namíbia coletadas em ambien- chemistry. American Journal of Science, 295:
te vulcânico análogo ao DMSJ. Götze, J., Tichomirowa, M., Fuchs, H., Pilot, J. 1156-1176.
Ao observar os valores obtidos para o intervalo de temperaturas entre 23º e 65º C, & Sharp, Z. D. 2001b. Geochemistry of Aga-
verifica-se uma correlação interessante, pois, aos maiores valores de temperatura correspondem as tes: A Trace Element and Stable Isotope Study: Michelin, C.R.L; Mizusaki, A.M.P; Ferrei-
amostras com maior teor de SiO2 e menor valor de LOI. Também há uma relação com os valores Chemical Geology, 175: 523-541. ra, V.; Brum, T.M.M; Hartmann, L.A. 2013.
para o óxido de ferro (0,82 a 3,44% peso); maiores teores de Fe2O3 estão associadas às maiores Ágata associada ao magmatismo do Cretáceo
temperaturas de cristalização. Além disso, mudanças na coloração da ágata também são observa- Hatipoğlu, M., David, Ajò & Kırıkoğlu, M.S. da Bacia do Paraná, sul do Brasil. Pesquisas em
das, ou seja, nas amostras de coloração azul escura, os teores de Fe2O3 são mais elevados, conforme 2011. Cathodoluminescence (CL) features of Geociências. 40 (2): 129 – 139.
anteriormente citado. the Anatolian agates, hydrothermally deposited
Com o objetivo de comparar as temperaturas de cristalização da ágata e da fase de in different volcanic hosts from Turkey. Journal Moxon,T. 2002. Agate: a study of ageing. Euro-
quartzo macrocristalino, foram realizadas análises de isótopos estáveis de O em três amostras of Luminescence, 131: 1131-1139 pean Journal Minerology. 14: 1109 – 1118.
desta última fase. A composição isotópica do quartzo macrocristalino varia de +24,00 a +22,25 ‰. Paralı, L., Garcia Guinea, J., Kibar, R., Cetin, A.
Calculando a temperatura com base neste parâmetro, obtiveram-se temperaturas de 50 e 51º C, Heemann R. 2005. Modelagem estrutural e tri- & Can, N. 2011. Luminescence behaviour and
compatíveis com o intervalo obtido para as amostras de ágata (23º a 65o C). dimensional para a prospecção e avaliação dos Raman characterization of dendritic agate in
A amostra 16, além de ter baixa temperatura de cristalização (23º C) e relativamente alto teor de depósitos de ágata do distrito mineiro de Salto the Dereyalak village (Eskişehir), Turkey. Jour-
Al2O3 (Tab. 1), apresenta concentrações mais elevadas de Ba, Rb, Sr, CaO e K2O. Estes altos do Jacuí (RS). 150 f. Tese (doutorado) - Univer- nal of Luminescence, 131(11): 2317-2324
teores confirmam a presença de carbonatos associados, conforme observado não só macroscopica- sidade Federal do Rio Grande do Sul. Escola
mente como também ao microscópio eletrônico de varredura. de Engenharia. UFRGS, Programa de Pós- Santos, E.L.; Maciel, L.C. e Filho, J.A.Z. 1998.
Graduação em Engenharia Minas, Metalúrgica Distritos Mineiros do Estado do Rio Grande
Conclusões e de Materiais, Porto Alegre, RS. do Sul. DNPM. 1º Distrito/ Programa Nacio-
nal de Distritos Mineiros. 35p.
O principal portador da mineralização de ágata, em termos de volume de geodos extra- Heemann, R. 1997. Geologia, controles e guias
ídos, é um derrame de basalto vesicular, alterado, sotoposto a este derrame observa-se um derrame prospectivos para depósitos de ágata na região Strieder, A.J., Heemann, R. 2006. Structural
de composição dacítica onde eventualmente ocorrem alguns geodos. do Salto do Jacuí. Dissertação (Mestrado em constraints on Paraná basalt volcanism and
No DMSJ, a ágata é o polimorfo da silica dominante nos geodos, mas secundariamente engenharia), Programa de Pós - Graduação em their implications on agate geode mineraliza-
observa-se opala, quartzo microcristalino, quartzo macrocristalino e calcedônia. engenharia de Minas, Metalurgia e dos Mate- tion (Salto do Jacuí, RS, Brazil). Pesquisas em
As amostras analisadas no DMSJ podem ser caracterizadas por diferenças na cristalinidade, com- riais. Universidade Federal do Rio Grande do Geociências 33: 37-50.
posições químicas e temperatura de cristalização, o que indica que, mesmo se tratando de ágatas Sul, Porto Alegre, 1997.
provenientes de uma mesma região, ocorrem variações no seu processo de cristalização. Estas Valley J.W., Kitchen N, Kohn M.J., Niendorf
variações refletem-se nas diferentes formas de preenchimentos dos geodos, além de estruturas e Hurlbut Jr., C. S. & Switzer G.S. 1980. Ge- C.R. & Spicuzza M.J. 1995. UWG-2, a garnet
colorações que são apresentadas pela ágata do DMSJ. mologia. Barcelona, Editora Omega, S.A. 251p standard for oxygen isotope ratios: strategies for
Flörke et al., 1982 high precision and accuracy with laser heating.
Agradecimentos Geochimica et Cosmochimica Acta, 59: 5223-
Lee, D. R., 2008. Characterisation of silica mi- 5231.
A primeira autora agradece ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e nerals in a banded agate: implications for agate
Tecnológico (CNPq) pela bolsa de doutorado concedida durante a realização desta pesquisa. genesis and growth mechanisms. Disponível em:
http://www.geos.ed.ac.uk/homes/50789516/
Referências Bibliográficas agate.pdf. Acessado em: 21 ago. 2011
Constantina, C. & Moxon, T. 2010. Agates das fases silicosas dos geodos mineralizados a
from Gurasada, southern Apuseni Mountains ametista (Região do Alto Uruguai, RS, Brasil).
Romenia: an XRD and termogravimetric study. Porto Alegre, 159p. Tese de Doutorado, Pro-
Carpathian Journal of Earth and Environmen- grama de Pós-graduação em Geociências, Ins-
tal Sciences, 5 (02): 89-99. tituto de Geociências, Universidade Federal do
28 Rio Grande do Sul. 29
Fischer, A.C. 2004. Petrografia e geoquímica
Microtomografia Computadorizada de materiais. Tal técnica fornece um mapa preciso da atenuação de raios-X em uma amostra, indepen-
dente da existência de uma subestrutura de diferentes fases bem definidas (Gasperi et al. 2004).
Raios-X: Definições e Aplicações De acordo com Calvert & Veevers (1962) e Bouma (1964), o princípio físico de fun-
cionamento da técnica consiste em medir as variações de densidade do material, utilizando um
Carlos Edmundo de Abreu e Lima Ipar1 conjunto de projeções bidimensionais de um objeto para reconstruir sua estrutura tridimensional
Jaqueline Fernanda Lando1 através de um algoritmo matemático. Como os raios-X passam através do objeto que é escaneado,
Juliano Tonezer da Silva1 o sinal é atenuado por espalhamento e absorção em um detector. A equação básica para atenuação
1
Centro Tecnológico de Pedras, Gemas e Joias do Rio Grande do Sul, Universidade de Passo Fundo. de um feixe monoenergético por um material homogêneo é dada pela lei de Lambert-Beer, repre-
E-mail: ctpedras@upf.br. sentada na equação 1:
I=I0 e-μx (1)
Introdução
Onde I0 e I representam a intensidade de raios-X incidentes e transmitidos, respectiva-
O Centro Tecnológico de Pedras, Gemas e Joias do Rio Grande do Sul (CTPGJRS), mente, µ é o coeficiente de atenuação linear para o material que está sendo escaneado, e x é a espes-
em parceria com a Universidade de Passo Fundo e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, sura da amostra que o feixe irá percorrer no material. Como a maioria dos objetos escaneados são
está desenvolvendo o projeto Implantação do Núcleo de Competência em Análise, Identificação compostos por um número diferente de materiais, o resultado final da atenuação pode ser expresso
e Certificação de Minerais, financiado pela Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia. Este conforme a equação 2:
projeto tem como objetivo principal instalar um Laboratório de Análise e Identificação e minerais
junto ao CT Pedras, sendo que serão adquiridos diversos equipamentos para este fim. Dentre eles, (2)
destaca-se um Microtomógrafo de Raios-X que pode ser visualizado na Figura 1.
Interferências
Geet et al. (2000) e Geet & Swennen (2001) explicam que mesmo com o aperfeiço-
amento dos equipamentos, a técnica não está livre de interferência. Um problema que afeta a
capacidade de um tomógrafo de representar exatamente o material analisado é o ruído.
A semelhança nos coeficientes de atenuação dos materiais dificulta a diferenciação entre
determinadas partes da amostra. No processamento computacional do valor do pixel pode ocorrer
um erro na forma de variação estatística e esta variação limita a resolução da densidade final. (Geet
et al. 2000 e Geet & Swennen; 2001).
Outros erros de objetos podem ser gerados na imagem devido a fatores diversos. Os
erros de objetos em listas e anéis normalmente são originados por problemas nos detectores. Caso
os detectores não sejam equivalentes ou inter-calibrados com precisão, por exemplo, a projeção
posterior para cada anel de dados seria diferente, produzindo anéis múltiplos (Geet et al. 2000 e Figura 4 – Estruturas morfológicas de pérolas. Fonte: Revista Gems e Geology(edição verão/2010).
Geet & Swennen, 2001).
32 O mau alinhamento do tubo e do detector causa erro de posicionamento dos valores Na Figura 4 podem ser observadas na parte superior do quadro as pérolas cultivadas de 33
calculados, o que também pode gerar erros nos objetos, como o borramento das bordas ou listas. A água doce sem núcleo, na parte central, pérolas cultivadas de água salgada com núcleo, e na parte
inferior, pérolas naturais e pérolas cultivadas Keshi sem núcleo (H.A.Hanni, 2010). para análise e caracterização de materiais . As análises foram feitas utilizando o equipamento µ-CT
Neste sentido, o estudo demonstrou que a microtomografia é uma poderosa técnica para 1074, da Skyscan. Uma análise típica leva em média 35 minutos para obtenção das imagens tomo-
visualização interna da estrutura da pérola, fornecendo assim evidencias diagnósticas para diferen- gráficas e outros 35 minutos para a reconstrução de seções transversais.
ciar as naturais das cultivadas. A vantagem desde método está principalmente na visão de terceira
dimensão de alta resolução quando comparado com as radiografias tradicionais, que fornecem Considerações Finais
imagens condensadas bidimensionais.
Em outro trabalho efetuado por Beline et al. (2011), teve como objetivo aplicar no Brasil Este capítulo apresentou uma revisão da literatura sobre a técnica de µ-CT, que se mos-
a técnica de µ-CT na caracterização anatômica de madeiras e seus produtos, através da análise tra uma excelente tecnologia para obter imagens em 3D de objetos. Os trabalhos encontrados na
da estrutura anatômica microscópica do lenho de folhosa (Amburana cearensis, cerejeira) e de literatura indicam que, para diversos materiais, a técnica de µ-CT torna-se muito útil para avaliar
conífera (Pinus sp., pinus). Para o estudo foram selecionadas amostras de madeira de Cerejeira e propriedades estruturais qualitativas e quantitativas, com a vantagem se ser um ensaio não destru-
Pinus, coletadas na Xiloteca do Departamento de Ciências Florestais da USP, Piracicaba, SP. Das tivo.
amostras de madeira das duas espécies, foram cortados corpos de prova cilíndricos de aproximada- Também, foi possível compreender que os parâmetros aplicados na aquisição dos dados
mente Ø20mm x 20 mm (diâmetro x altura) (Figura 6 - A). Para a obtenção das imagens tomo- na amostra podem interferir incisivamente na geração ou eliminação de artefatos captados pelo
gráficas da madeira foi utilizado um Microtomógrafo de Raios X, marca SkyScan, modelo 1172, equipamento. Portanto, é necessário conhecimento suficiente da técnica e do equipamento para
do Laboratório de Técnicas Nucleares da Embrapa Instrumentação Agropecuária/CNPDIA, em obtenção de boas imagens nas diferentes amostras.
São Carlos, SP. O equipamento de µ-CT que está sendo adquirido pelo CTPGJRS, possui um grande
potencial de utilização em diversas áreas do conhecimento, sendo que se espera através de testes e
pesquisas a serem efetuadas comprovar a sua utilizada para análises e identificação de minerais.
Agradecimentos
À Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado do Rio Grande do Sul e à
Universidade de Passo Fundo, pelos recursos financeiros destinados a execução deste projeto, de
acordo com o convênio SCIT 31/2012, Processo: 430-2500/12-2, no âmbito do edital 001/2012,
do programa de apoio aos polos tecnológicos.
Referências Bibliográficas
BOUMA A.H. Notes on X-ray Interpreta- Determinação Computacional da Permeabi-
A B tion of Marine sediments. Marine geology,
2:278-309. 1964.
lidade de Rochas Reservatório. In: Congresso
Nacional de Engenharia Mecânica, 3, Anais.
2002
VINÍCIUS .R .D .CASTRO. Microtomogra-
Figura 6 – A: Corpo de prova de madeira de Pinus sp. utilizado na obtenção de imagens da estrutura fia de Raios X (microCT) Aplicada na Carac- GEET M.V., SWENNEN R., Wevers M..
anatômica por µ-CT; B: Imagem da seção transversal da estrutura anatômica da madeira, por µ-CT
terização Anatômica da Madeira de Folhosa e Quantitative analysis of reservoir rocks by
e indicação das linhas de referência para a projeção dos planos longitudinais. Fonte: (CASTRO.V.R
de Conífera.Floresta e ambiente.2011. microfocus X-ray computerized tomography.
2011).
Sedimentary Geology.2000.
CALVERT S.E. & VEEVERS J.J. Minor
Os principais resultados encontrados por Beline et al. (2011), foram, as imagens da es- structures of unconsolidated marine sediments GEET M.V. & SWENNEN R.Quantitative
trutura anatômica do plano transversal e longitudinais radial e tangencial da madeira de Cerejeira revealed by X-radiography. Sedimentology. 3D-fracture analysis by means of microfocus
e Pinus obtidas através da análise por µ-CT, sendo que estas possibilitam realizar a sua caracteri- 1962 X-ray computer tomography (μCT): an exam-
zação macro e microscópica. A movimentação das linhas de referência perpendiculares entre si, ao ple from coal. Geophysical Research Letters.
longo da altura da amostra de madeira, permite a reconstrução da disposição e do alinhamento dos FELDKAMP, DAVIS, E KRESS . O algorit- 2001.
seus elementos anatômicos em 2D e 3D. mo de Feldkamp, ( J. Opt. Soe. Sou. A 1,
A aplicação da µ-CT possibilitou a obtenção de imagens da estrutura anatômica macro 612-619 (1984). KETCHAM, R.A. Three-dimensional grain
e microscópica do lenho de Amburana cearensis e de Pinus sp., permitindo a sua caracterização, fabric measurements using high-resolution X-
34 descrição e comparação com a da literatura especializada. GASPERI H.C., FERNANDES C.P., PHI- ray computed tomography. Journal of Structu- 35
O trabalho efetuado por Mazali et al. (2003), foi sobre a µ-CT como grande potencial LIPPI P.C., RODRIGUES C.R. O. 2004. ral Geology.2005.
KETCHAM, R.A. & ITURRINO, G.J. Non-
destructive high-resolution visualization and
MICHAEL KRZEMNICKI e H.A HANNI.
Microtomografia computadorizada distingue
Aplicações do novo laboratório de
measurement of anisotropic effective porosi-
ty in complex lithologies using high-resolu-
pérolas naturais das com núcleo e sem núcleo.
Revista gems e geology.2010.
gemologia do Centro Tecnológico de
tion X-ray computed tomography. Journal of
Hydrology.2004.
KETCHAM, R.A. Three-dimensional grain
fabric measurements using high-resolution X-
Pedras, Gemas e Joias do Rio Grande do Sul
ray computed tomography. Journal of Structu- Pedro Luiz Juchem1, Carlos Edmundo de Abreu e Lima Ipar2
ral Geology.2005.
MEES F., SWENNEN R., GEET M.V., JA- 1
Laboratório de Gemologia – Instituto de Geociências, UFRGS e Pós-graduação em
COBS P. Aplications of x-ray computed to- SARKAR, P.S.; SINHA, A.; KASHYAP, Y.; Design (Tecnologia) – PGDesign/UFRGS – labogem@ufrgs.br
mography in geosciences. London, Geological MORE, M.R.; GODWAL, B.K. Develop- 2
Centro Tecnológico de Pedras, Gemas e Joias do RS – UPF – ipar@upf.br
Society Special Publications.2003. ment and characterization of a 3D cone beam
tomography system. Nuclear Instruments and Introdução
LANDIS, E.N.; NAGI, E.N.; KEANE, D.T. Methods in Physics Research.2009.
Microstructure and fracture in three dimen- O Brasil é conhecido por abrigar uma das maiores e mais importantes Províncias Ge-
sions.2005. UGO LEANDRO BELINI. Microtomografia mológicas do planeta. Nosso país se destaca pela qualidade, variedade e dimensões dos minerais
de Raios X (microCT) Aplicada na Caracteri- gemológicos produzidos e também pela extensão territorial das áreas de ocorrência, pois quase
LIMA I., ASSIS J.T., LOPES R.T.Three-di- zação Anatômica da Madeira de Folhosa e de todos os estados produzem algum tipo de gema (Svisero & Franco, 1991). O Brasil é também um
mensional conic beam X-ray microtomography Conífera.Floresta e ambiente.2011. dos maiores fornecedores de gemas de cor para o mercado intenacional, respondendo por cerca 1/3
in bone quality. Spectrochimica acta part B, do volume de gemas produzidas no planeta e desse volume, cerca de 80% é exportado, tanto em
64:1173-1179. 2009. SKYSCAN. Disponível em: < http://www.skys- bruto como lapidado (IBGM, 2008). Nesse cenário, o Rio Grande do Sul aparece como segundo
can.be/home.htm>. Acesso em 16/12/2013. maior produtor de gemas do país, ficando atrás somente de Minas Gerais, se destacando pela ex-
MAZALI. Microtomografia de raios-X, gran- pressiva produção de ágata e de ametista ( Juchem et al., 2009).
de potencial análise e caracterização de mate- SHIMADZU . Disponível em: < http://www. A região do COREDE (Conselho Regional de Desenvolvimento) do Alto da Serra
riais.Sociedade Brasileira de Química.2003. shimadzu.com.br/ >. Acesso em 16/12/2013. do Botucaraí está localizada no norte do Rio Grande do Sul e é resultante do agrupamento de
dezesseis municípios: Alto Alegre, Barros Cassal, Campos Borges, Espumoso, Fontoura Xavier,
Gramado Xavier, Ibirapuitã, Itapuca, Jacuizinho, Lagoão, Mormaço, Nicolau Vergueiro, São José
do Herval, Soledade, Tio Hugo e Victor Graeff. Nessa região, vários municípios produzem ágata,
ametista, ônix, cornalina e opala ( Juchem et al., 2009 ) e o município de Soledade consolidou-
se como um grande centro estadual de beneficiamento, comercialização e exportação de pedras
preciosas. Estima-se que existam em Soledade mais de 180 empresas de micro e pequeno porte
ativas no setor de gemas, destacando-se também que cerca de 35 a 38% do PIB do município
provém da comercialização de gemas. Esse desenvolvimento econômico na área de gemas, levou
esse município a abrigar importantes instituições ligadas a esse setor econômico, como a sede do
SINDIPEDRAS (Sindicato das Indústrias de Joalherias, Mineração, Lapidação, Beneficiamento,
Transformação de Pedras Preciosas do Rio Grande do Sul), uma Agência de Aperfeiçoamento
Profissional do SENAI-RS (onde são ministrados cursos de lapidação e de joalheria) e a sede do
Centro Tecnológico de Pedras, Gemas e Joias do Rio Grande do Sul (CTPGJRS). Esse Centro
está ligado à Universidade de Passo Fundo (UPF) e atua em parceria com a Universidade Federal
do Rio Grande do Sul (UFRGS), com o apoio do Ministério da Ciência e Tecnologia e do Mu-
nicípio de Soledade. No CTPGJRS são realizadas diversas pesquisas para melhorar a qualidade
produtiva do setor de gemas de Soledade e dos municípios da região do Alto da Serra do Botuca-
raí, porém com benefícios que se estendem por todos os municípios produtores de gemas do RS.
Um dos gargalos identificado para o desenvolvimento do Setor de Pedras, Gemas e Joias
da região encontra-se na identificação e certificação de gemas e metais preciosos, o que só pode ser
executado por testes e avaliações feitas por pessoal qualificado e com equipamentos adequados. No
RS, a única instituição capacitada para este tipo de análise e identificação é a Universidade Federal
36 do Rio Grande do Sul (UFRGS), através do seu Laboratório de Gemologia (LABOGEM) e 37
departamentos auxiliares do Instituto de Geociências ( Juchem et al., 2010). Contudo, a logísti-
ca entre Soledade e Porto Alegre acabam dificultando o acesso da comunidade em geral a esses volume por ele ocupado. É uma propriedade característica de cada material, pois está relacionada
procedimentos e análises. Assim, o CTPGJRS passou a desenvolver um projeto de implantação com o arranjo dos átomos que o compõe (Webster, 1983). Uma técnica muito utilizada para medir
de um Núcleo de Competência em Análise, Identificação e Certificação de Minerais da Região a densidade em gemologia é a balança hidrostática, onde é obtido o peso da gema no ar e quando
do Alto da Serra do Botucaraí. Através da aquisição de equipamentos de alta tecnologia e treina- mergulhada em água destilada (Fig. 1). A densidade (d) é obtida aplicando-se a fórmula: d =
mento de pessoal qualificado, esse Núcleo de Análises objetiva auxiliar o setor produtivo na correta Mar/V, onde Mar é o peso da gema no ar e o volume V é a diferença entre os dois pesos (Mar -
identificação dos materiais gemológicos utilizados na indústria e comércio, aumentando assim o Mag), onde Mag é o peso da gema imersa em água destilada.
valor agregado aos seus produtos, assim como o desenvolvimento de novas pesquisas e aplicações O CTPGJRS possui uma balança analítica eletrônica marca BEL MARK, série N, com
tecnológicas que possam contribuir com o desenvolvimento da região. Nesse sentido, está sendo precisão de 0,1mg e que pode ser transformada em uma balança hidrostática para obter medidas
instalado atualmente um Laboratório de Gemologia, com equipamentos básicos para a identifica- de densidade em materiais gemológicos.
ção e certificação de gemas.
Esse Laboratório de Gemologia certamente será um marco no desenvolvimento do setor
de gemas da região, pois permitirá a correta identificação e classificação dos materiais gemológicos
que circulam na indústria e no comércio de Soledade e municípios vizinhos. Com o grande desen-
volvimento da indústria de beneficiamento e do comércio de gemas que ocorreu em Soledade nas
últimas décadas, houve também um acréscimo expressivo no aporte de materiais vindos de outros Figura 1 – Esquema
locais do Brasil, bem como de outros países. Isso fez com que as lojas de Soledade, tanto as de de uma balança
pequeno como as de grande porte, passassem a oferecer aos consumidores materiais gemológicos hidrostática,
extremamente diversos. Esses materiais, tanto bruto como lapidados, ou inclusive já transformados mostrando como
em joias, são trazidos na maioria das vezes por fornecedores comerciais que não tem conhecimen- uma gema é pesada
tos técnicos sobre o que estão comercializando, e na maioria das vezes sequer sabem a procedência dentro de um recipiente
dos mesmos. No entanto, muitos desses materiais não são gemas naturais, mas gemas sintéticos ou com água destilada.
imitações feitas de vidro, plástico ou resinas, sem que no entanto os lojistas tenham conhecimento Extraído de Schumann
disso. Com o funcionamento do Laboratório de Gemologia no CTPGJRS, os comerciantes po- (2006).
derão conhecer e certificar seus produtos, oferecendo assim à comunidade, turistas e importadores,
gemas e joias diferenciadas, pois saberão se estão comercializando gemas naturais ou produtos
sintéticos.
2. Polariscópio
O Laboratório de Gemologia
O polariscópio (Fig. 2a) é um equipamento utilizado para determinar se uma gema é
Quando um mineral é lapidado, muitas de suas propriedades diagnósticas são destruídas ópticamente isótropa ou anisótropa (Read, 1978). A luz branca passa por um polarizador (um
ou mascaradas, dificultando e, na maioria das vezes, impedindo a sua identificação. Uma gema polímero que faz com que a energia que compõe essa luz vibre somente em uma direção); ao
lapidada não pode ser submetida a nenhum tipo de análise destrutiva (como dureza, testes quími- encontrar outro polarizador (analisador), cujo plano de polarização está a 90º do primeiro, é total-
cos) porque qualquer dano causado pode diminuir sensivelmente o valor desses materiais. O valor mente barrada. Assim, olhando-se através dos dois polarizadores perpendiculares, se observa um
comercial que é agregado a uma gema lapidada, por si só já justifica a não realização de qualquer
teste que possa danificar a pedra e assim afetar seu valor. Além disso, é comum que as gemas
sejam acompanhadas de valor afetivo, o que torna ainda mais trágica a possibilidade de danificar
esses materiais com algum teste analítico. Por isso, a identificação de gemas lapidados consiste em
determinar as propriedades físicas e ópticas desses materiais utilizando técnicas analíticas não des-
trutivas, algumas relativamente simples e outras mais sofisticadas, mas todas envolvendo uma série
de equipamentos específicos e ainda pouco conhecidos do público em geral.
Apresentamos a seguir os principais equipamentos adquiridos para o Laboratório de
Gemologia do CTPGJRS e os princípios físicos básicos de seu funcionamento e que são utilizados
para a realização de exames de rotina em gemas lapidadas.
1. Peso e densidade Figura 2. Como funciona um polariscópio. a) polarizador e analisador com planos de polarização (setas)
A unidade de medida de peso utilizada para gemas é o quilate (carat, em inglês; símbolo perpendiculares entre si; b) observação através de dois polarizadores com planos de polarização a 90º e
= ct), que corresponde a 200 mg (1ct=200mg). O quilate pode ser dividido em 100 pontos, para se c) a um ângulo diferente de 90º; d) comportamento de uma gema anisótropa e de uma gema isótropa ao
38 referir no comércio ao peso de gemas muito pequenas. polariscópio; a gema anisótropa repete a posição de extinção a cada 90º, enquanto que a gema isótropa 39
A densidade é uma medida que expressa a razão entre a massa (peso) de um material e o fica sempre extinta.
campo totalmente escuro (Fig. 2b). Se os dois polarizadores não estão perpendiculares, parte da luz 4. Refratômetro - medidas de índices de refração
consegue atravessar (Fig. 2c).
Se entre o polarizador e o analisador for colocada uma gema anisótropa (ex. esmeralda, Quando um feixe de luz que se propaga no ar atinge uma superfície que separa dois
ametista), a luz proveniente do polarizador ao atravessar o cristal se desdobra em dois raios de luz meios transparentes com densidades diferentes, por exemplo, ar e água (Fig. 4a), ou ar e uma gema,
polarizados e perpendiculares entre si, permitindo que parte da luz atravesse o analisador. Girando- parte dessa luz é refletida e parte dela penetra no outro meio onde é transmitida com uma velo-
se essa gema, a cada 90º haverá uma posição em que não haverá nenhuma passagem de luz e o cidade diferente da inicial. Essa variação de velocidade provoca um desvio na trajetória do feixe
mineral fica escuro (extinto). Essa situação se repete portanto, quatro vezes em um giro de 360º de luz que é chamado de refração, e pode ser visto ao mergulharmos um objeto em um copo com
da gema (Fig. 2c). Se entre os dois polarizadores for colocada uma gema isótropa (ex. diamante, água (Fig. 4a). O quanto a luz desvia de sua trajetória é medido pelo índice de refração, que é uma
granada, vidro), a luz proveniente do polarizador ao atravessar o cristal se mantém sempre pola- propriedade constante para cada espécie mineral, sendo por isso uma das principais características
rizada na mesma direção e, ao chegar no analisador é barrada. Girando-se essa gema de 360º, ela diagnósticas utilizadas na identificação de gemas lapidadas (Webster, 1983; Schumann, 2006). O
permanecerá sempre escura (extinta), sem passagem de luz (Fig. 2d). índice de refração das gemas é medido com o refratômetro gemológico (Fig. 4b), cujos resultados
são utilizados também para determinar outras propriedades importantes relacionadas à luz, como
3. Dicroscópio - cor e pleocroísmo o caráter e sinal óptico e a birrefringência.
A cor é uma das características mais importantes das gemas, pois está ligada diretamente Figura 4. Refratômetro
à sua beleza e define as variedades gemológicas da maioria dos minerais. Quando a luz incide em gemológico. a) refração da luz
uma gema, parte é refletida, parte é transmitida através da pedra e outra parte é absorvida (Read, observada através do desvio
1978). A cor de uma gema corresponde ao somatório dos comprimentos de onda (cores) que não da imagem de um pincel mer-
foram absorvidos. Se nenhum comprimento de onda é absorvido, ela é incolor; se toda a luz é ab- gulhado em água; b) refratô-
sorvida, ela é preta; e se todos os comprimentos de onda são refletidos com a mesma intensidade, a metro KRÜSS do CTPGJRS,
pedra é branca. indicando em
Certos minerais coloridos apresentam uma absorção seletiva de cores, de acordo com a 1) plataforma com uma base de
direção em que a luz se propaga, exibindo assim cores ou tonalidades de cor diferentes conforme a vidro ao centro onde é colocada
direção em que são observados (Fig. 3a). Essa propriedade é denominada de pleocroísmo e geral- a gema para medir os índices
mente não é possível de ser observada a olho nu, porque o nosso cérebro soma os comprimentos de refração; 2) ocular para
de onda transmitidos e os interpreta como uma cor só. O pleocroísmo pode ser identificado nas 5. Filtros de absorção de cor visualizar a escala de medidas
gemas através do dicroscópio, constituído de um pequeno cilindro, onde em uma extremidade absorção seletiva da luz; de índices de refração.
estão colocados lado a lado dois polarizadores com planos de polarização da luz perpendiculares
entre si, e no outro extremo uma lente (Fig. 3b). Ao se observar uma gema pleocróica através deste Os filtros de absorção cor são utilizados como um método auxiliar na identificação de
aparelho, obtém-se lado a lado as diferentes cores que são transmitidas em cada uma das direções algumas gemas e consistem em películas de vidro ou resinas, que tem a propriedade de absorver
preferenciais dessa gema, pois cada um dos polaróides só deixa passar uma cor, correspondente à determinados compri¬mentos de onda da luz, isto é, determinadas cores. O exame por meio dos
luz cuja energia vibra na mesma direção daquele polaróide (Fig. 3c); filtros (Fig. 5) se baseia na observação da diferença entre a cor que apresenta uma gema quando
observada a olho nu e a sua cor residual quando vista através do filtro (Read, 1978). Isso pode ser
utilizado para diferenciar a esmeralda natural da sintética, de vidro verde e de turmalina verde; e a
água-marinha de suas imitações comuns, como vidro sintético, espinélio sintético e topázio azul.
Figura 3. Pleocroísmo e dicroscópio. a) Um mineral indicando as direções (setas) em que pode transmitir
diferentes cores; b) um dicroscópio e seu esquema de funcionamento, mostrando no detalhe os polaróides Figura 5 – Alguns tipos de filtros de absorção de cor. a) Filtro de Chelsea; b) Filtro de Göttinger para
com planos de polarização perpendiculares entre si; c) exemplo de variação de cor (pleocroísmo) observado esmeralda (1) e para água-marinha (2) e gemas que em geral são examinadas com os filtros: 3 – esme-
40 com o dicroscópio em uma gema lapidada. ralda natural; 4 – esmeralda sintética; 5 – vidro sintético verde; 6 – água-marinha; 7 - vidro sintético 41
azul; 8 – espinélio sintético azul.
6. Lâmpada ultravioleta - Fluorescência
A fluorescência é o fenômeno de emissão de luz por um mineral, quando este é irra-
diado com luz ultravioleta. O fenômeno ocorre devido à presença de determinados elementos
químicos na estrutura cristalina dos minerais que reagem a esse tipo de radiação, emitindo luz
(Hurlbut&Kammerling, 1991) Alguns minerais gemológicos não são fluorescentes e outros podem
ou não ser fluorescentes. Assim, a fluorescência pode auxiliar na identificação de certas gemas, mas
deve ser utilizada com cautela, pois geralmente não serve isoladamente como uma prova definitiva,
já que pequenas variações na composição química podem mudar os efeitos de fluorescência dos
minerais.
Figura 6 – Luz ultravioleta. a) equipamento KRÜSS adquirido pelo CTPGJRS, constituído por uma Além do microscópio gemológico, foi adquirido também uma lupa gemológica bino-
câmara metálico onde estão inseridas lâmpadas que emitem luz ultravioleta e uma base de fundo preto cular marca KRÜSS. Nesse equipamento, a gema a ser examinada pode ser seja fixa à base com
onde são colocadas as gemas pra serem analisadas. b) lote de cristais brutos de diamante exibindo diferen- uma pinça especial que permite que a pedra seja rotacionada em diferentes ângulos, o que facilita
tes intensidades de fluorescência em tons de azul e verde amarelado. a análise detalhada da qualidade da sua lapidação, como proporções, simetria, linhas de polimento
e defeitos como piques e arranhões. Na lupa, é possível também fazer uma análise preliminar das
7. Microscópio gemológico de imersão inclusões que existem na gema, o que auxilia no reconhecimento de sínteses e imitações. Acom-
panha esse conjunto uma câmara fotográfica que pode ser acoplada a ambos os equipamentos
A análise microscópica de gemas tem como objetivo a identificação e descrição de suas (lupa binocular e microscópio gemológico), permitindo a obtenção de fotomicrografias digitais
inclusões, que são todas as irregularidades físicas e ópticas que podem existir no interior das pedras. das características estudadas nas gemas. Essas fotografias podem servir de registro e comprovação
As inclusões podem ser sólidas (minerais ou substâncias sólidas não cristalizadas), inclusões fluidas das propriedades das pedras, em documentos de certificação da gemas. Além disso, as fotografias
(cavidades com resíduos do fluido que originou o mineral), fraturas, linhas de crescimento dos também podem ser utilizadas em trabalhos de pesquisa que serão desenvolvidos no Laboratório
minerais, clivagem, etc. (Fig. 7). A identificação das inclusões é o método mais utilizado e ainda o de Gemologia e publicados em revistas de divulgação científica.
mais seguro para determinar se uma gema é natural ou sintética, uma vez que as demais proprie- Além desses equipamentos básicos, o CTPGJRS tem acesso para utilização do Micros-
dades físicas e ópticas desses materiais podem ser semelhantes (Webster, 1983). No microscópio cópio Eletrônico de Varredura marca SHIMADZU, modelo Vega 3, instalado no Parque Científi-
gemológico (Fig. 8), as gemas são examinadas imersas em líquidos especiais, com índice de refração co e Tecnológico do Planalto Médio, em Passo Fundo. Esse microscópio, que permite ampliações
semelhante ao da pedra. Tal procedimento tem como objetivo impedir (ou dificultar ao máximo) a de um objeto em até 1 (um) milhão de vezes é uma ferramenta importante na caracterização de
reflexão da luz na superfície da pedra, permitindo uma melhor observação do interior da mesma, a materiais gemológicos, além de permitir estudos da qualidade de soldagem de estruturas metáli-
fim de facilitar a identificação e descrição de suas características internas. cas utilizadas em joalheria. Na análise de gemas, é possível obter-se informações sobre a textura
e a topografia da amostra, identificar inclusões sólidas e, acomplando-se um espectrômetro para
detectar os raios X produzidos pela amostra quando excitada com o feixe eletrônico, é possível
realizar análises dos elementos químicos presentes na amostra.
Além disso, o Núcleo de Competência em Análise, Identificação e Certificação de Mi-
nerais da Região do Alto da Serra do Botucaraí está adquirindo um Microtomógrafo de Raios-X
marca SHIMADZU, modelo InspeXio SMX-90CT, que permite a criação de seções transversais
de um objeto em 3 dimensões, visualizando detalhes da sua estrutura. É um equipamento impor-
tante que tem inúmeras aplicações na área de geologia e de mineralogia e que poderá ser utilizado,
Figura 7. Inclusões em gemas vistas ao microscópio gemológico. a)inclusão fluida trifásica (cavidade irre- por exemplo, para estudar com mais detalhe a micro porosidade da ágata e assim entender melhor
gular preenchida com líquido, dois cristais e duas bolhas de ar) em esmeralda colombiana; b)ametista do as reações e a circulação dos líquidos corantes durante os processos de tingimento dessa gema.
42 RS com zonação de crescimento marcada por variação de cor e por agregados de cristais pretos de goethita; Destaca-se que este será o primeiro equipamento desse tipo que será instalado no RS, sendo que 43
c)linhas curvas de crescimento em uma safira sintética. Modificado de Juchem et al.(2010). o mais próximo está em Curitiba, no Instituto de Geociências da Universidade Federal do Paraná
(UFPR), que já foi utilizado em algumas pesquisas desenvolvidas pelo CTPGJRS e pelo Curso de
Pós-Graduação em Design da UFRGS.
Análise multi-técnicas de opala do
Referências Bibliográficas
Rio Grande do Sul
Ruth Hinrichs1,2*, Daniel da Rosa Madruga 1,2
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tituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos 4
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CHER, A. C., LICCARDO, A., CHODUR, IV - Parte A - Gemas e Rochas Ornamentais.
N. L. 2009 Potencial Gemológico Da Região DNPM. p. 9-16 Junto com os depósitos de ágata e ametista das rochas vulcânicas do Grupo Serra Geral
Sul Do Brasil. In: I Seminário sobre Design e no Rio Grande do Sul ocorrem também depósitos de opala com interesse econômico na região
Gemologia de Pedras, Gemas e Joias do Rio WEBSTER, R., 1983 Gems. Butter Worths, central do RS. Embora esse mineral seja ainda pouco conhecido no mercado de gemas do País,
Grande do Sul. Anais. Art. 22. Soledade, RS. England. 1003 p. nos últimos anos passou a ser explorado de forma mais sistemática, representando uma nova fonte
de renda para os garimpeiros e comerciantes locais. A opala tem sido extraída esporadicamente na
JUCHEM, P. L., BRUM, T. M. RIPOLL, V. região entre os municípios de Soledade e Salto do Jacuí. As amostras deste estudo são provenientes
2010 O Laboratório de Gemologia da Uni- dos municípios de Salto do Jacuí e Fortaleza dos Valos, indicados no mapa da figura 1.
versidade Federal do Rio Grande do Sul. In:
HARTMANN, L. A.; SILVA, J. T. Tecnologias
para o setor de Gemas e Joias. Porto Alegre,
Editora da UFRGS, p 133-147.
44 45
Figura 1 - Localização de proveniência das amostras de opala deste estudo
A opala frequentemente está associada a depósitos de ágata em geodos e em fraturas nas A opala foi considerada inicialmente como uma substância amorfa, mas com o avanço
rochas vulcânicas, ou cimentando brechas, ou depositada ao longo de estruturas de fluxo dessas das técnicas de caracterização, principalmente pela a difração de raios X (DRX) foi possível mos-
rochas. Na figura 2 estão exemplificados os modos de ocorrência da opala do RS. trar que a estrutura da opala varia desde amorfo, até -cristobalita quase perfeita. Jones & Segnit
[2] classificaram e nomearam três fases de sílica hidratada de baixa temperatura: opala amorfa
(opala-A); -cristobalita com empilhamento acentuado de -tridimita (opala-CT); e -cristoba-
lita ordenada com empilhamento mais restrito de -tridimita (opala-C). A opala do RS é do tipo
microcristalina, com uma variação significativa no grau de cristalinidade, sendo identificadas opala
do tipo cristobalita (opala-C) e do tipo cristobalita-tridimita (opala-CT).
Este trabalho apresenta resultados da caracterização composicional e cristalográfica de
amostras de opala do RS, dos tipos C e CT. Foram utilizadas apenas técnicas analíticas compatí-
veis com a preciosidade das amostras e nenhum preparo adicional (moagem ou metalização) foi
necessário, preservando as gemas em todas as análises.
Metodologia
Amostras brutas de opala foram embutidas em resina, desbastadas e polidas apenas na
superfície exposta, com acabamento equivalente às facetas lapidadas de uma gema. Na figura 4 es-
tão mostradas as amostras analisadas neste trabalho: na figura 4a a opala-C, translúcida e azulada,
e na figura 4b a opala-CT, transparente e com tonalidade amarelo ouro.
Figura 2 - a) opala amarela associada à ágata preenchendo um geodo, b) opala branca leitosa em fraturas
da rocha hospedeira; c) opala preta e amarelo alaranjada (no detalhe) cimentando uma brecha; d) opala
branca leitosa depositada em feições de fluxo da rocha vulcânica. Modificado de [1].
Figura 4 - Fotografias com iluminação natural de a) opala-C do Salto do Jacuí (RS); b) opala-CT de
Fortaleza dos Valos (RS). Modificado de [3].
Para análise das fases minerais foram utilizadas duas técnicas: i) difração de raios X
(DRX), na geometria de Seemann-Bohlin, em que a incidência dos raios X é mantida em um
ângulo rasante e o detector é movimentado por um ângulo . Os difratogramas foram
obtidos em um equipamento da marca Shimadzu (modelo XRD6000) com tubo de cobre (40 kV
e 35 mA), utilizando ângulo de incidência de 1º e com varredura em 2 de 15 a 45 º, com passo de
0,02º; ii) espectroscopia micro-Raman, realizada com um equipamento montado no Laboratório
de Microanálise do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (IF-UFR-
GS). O espectrômetro consiste de um laser de He-Ne (Coherent), focalizado por um microcópio
Figura 3 - Petrografia de veios de opala em calcedônia: a) lâmina delgada em luz natural; óptico (Zeiss), filtrado por um filtro notch (Iridian), dispersado por um monocromador (Acton
46 b) idem em luz polarizada, exibindo o caráter isótropo da opala e a calcedônia constituída por Research) e detectado por uma câmera CCD refrigerada com nitrogênio líquido (Princeton). Os 47
esferulitos de quartzo microcristalino fibroso. Modificado de [1]. espectros de baixo deslocamento foram identificados por comparação com os espectros do reposi-
tário de dados mineralógicos e informações espectroscópicas da Sociedade Americana de Minera- As análises por espectroscopia micro-Raman, apesar de abrangerem apenas alguns mi-
logia (Minsocam), denominado RRUFF [4]. crômetros quadrados, foram compatíveis com a difração de raios X, que analisa a superfície de
Para a análise dos elementos maiores foi utilizado um espectrômetro de raios X por dis- toda a gema (~1 cm2). Na amostra de opala-C foi detectado apenas cristobalita, enquanto que na
persão em energia (EDS marca Thermo Noran) acoplado a um microscópio eletrônico de varredura amostra opala-CT foram encontradas as fases cristobalita e tridimita em todos os pontos analisa-
(MEV) capaz de operar com a amostra em baixo vácuo ( Jeol JIB 4500 dual beam), para possibilitar dos, como também está descrito na literatura [5]. Os resultados estão exemplificados na figura 6a,
a análise sem metalizar a superfície da gema isolante. Esta análise foi realizada no Laboratório de onde os espectros Raman das respectivas amostras estão comparados com padrões de cristobalita
Conformação Nanométrica do IF-UFRGS. Para a análise qualitativa de elementos-traço foi utili- e tridimita obtidos do repositário RRUFF [4].
zada um EDS (marca e2V Sirius) acoplado à linha de emissão de raios X induzidos por partículas Além das fases minerais a espectroscopia Raman permite determinar a presença de água
(PIXE) do implantador Tandetron (HV) do Laboratório de Implantação Iônica do IF- UFRGS, no interior das amostras de opala. A molécula de água apresenta apenas uma tênue banda vibra-
equipado com um detetor EDS do tipo Si-Li, com um filtro de Mylar® para evitar os picos de cional na região entre 3000 e 3600 cm-1. Os espectros obtidos são ruidosos apesar do longo tempo
soma provocados pelo excesso de raios X característicos do silício da opala. de aquisição (900 s), porém distingue-se que a opala-CT tem um teor de água mais alto que a
Os resultados de dureza foram obtidos com o ultra-microdurômetro (Shimadzu DUH211) do opala-C, como pode ser constatado pela intensidade maior da banda da hidroxila no espectro
Laboratório de Microanálise do IF- UFRGS, utilizando o método dinâmico de medida com um Raman da opala-CT mostrado na figura 6b.
indentador to tipo Berkovich, e o ciclo de carga até 100 mN.
Resultados
Na figura 5 estão mostrados os difratogramas com incidência rasante obtidas da superfí-
cie polida de uma opala-C e de uma opala-CT, mostrando que as fases de cristobalita (*) e tridimita
(!) podem ser reconhecidos no padrão de difração da opala-CT, enquanto que a opala-C apresenta
apenas os picos relacionados com a cristobalita.
Figura 6 - Espectros micro-Raman das amostras de opala: a) região de baixo deslocamento Raman,
comparando a opala-C (linha vermelha), a opala-CT (linha azul) e os padrões de cristobalita (cinza
escuro) e tridimita (cinza claro) do RRUFF; b) região de alto deslocamento Raman, onde se encontram
as vibrações da hidroxila (3000-3600 cm-1).
A análise elementar por espectrometria de raios X característicos foi realizada por feixe
de elétrons e por feixe de íons, porque as duas técnicas são complementares em seus resultados. Os
espectros obtidos no MEV (elétrons) com um EDS com janela ultra-fina, permitiram a análise dos
elementos maiores, inclusive os elementos leves (carbono, oxigênio, alumínio, silício). Os espectros
obtidos no PIXE (íons) foram coletados com um EDS de janela de berílio e um filtro adicional,
de forma que o espectro só permite analisar elementos a partir do número atômico 17. Os espec-
tros EDS/MEV e PIXE das duas amostras de opala foram agrupados na figura 7 para permitir
a observação da complementaridade das técnicas. As duas análises foram realizadas com o feixe
desfocado, analisando uma região de aproximadamente 3 mm de diâmetro.
Os espectros EDS da opala-C estão mostrados na figura 7a (linha bordô) e da opla-CT
na figura 7b (linha azul marinho). A presença de alumínio é constatada nos espectros das duas
amostras de opala e a quantificação mostrou teores em torno de 0,75(±0,12) % de Al2O3. Percebe-
se uma mínima alteração no espectro da opala-C na região do potássio (K-K ), porém a análise
com feixe de elétrons tem o background muito alto nesta região e a técnica não tem sensibilidade
para traços. A presença de carbono em ambos os espectros EDS é atribuída à contaminação com
48 Figura 5 - Difratogramas de amostras polidas de opala-C (linha vermelha) e de opala-CT (linha vapores orgânicos provenientes da bomba de vácuo, tendo em vista que esta análise foi realizada 49
azul), com indicação das posições dos picos de difração de cristobalita (*) e tridimita(!). em baixo vácuo.
O espectro obtido com PIXE da opala-C está mostrado na figura 7a (linha vermelha) e Os resultados obtidos no microdurômetro mostram que a opala-C apresenta dureza
o da opala-CT na figura 7b (linha azul). Nos dois espectros o retângulo hachurado mostra a região maior que a opala-CT. Os ciclos de carga e descarga das duas amostras de opala e de uma amostra
afetada pelo filtro de Mylar®, que absorve completamente os raios X característicos de alumínio e padrão estão mostrados na figura 9a. Uma imagem de alta magnificação da indentação de 100 mN
reduz o sinal de silício. Na região acima de 2,5 keV, porém, o PIXE mostra a sua sensibilidade para mostra que a mesma tem dimensão de aproximadamente 3 micrômetros (figura 9b). O esquema
traços, evidenciando os raios X característicos de potássio e cálcio, cujos teores são de aproximada- do indentador Berkovich mostra a simetria trigonal da ponteira de indentação, polida em um
mente 0,05% de acordo com a literatura [5]. diamante com qualidade gema (figura 9c).
Figura 7 - Espectros EDS obtidos no MEV e no PIXE das amostras de opala: a) opala-C (EDS linha
bordô, PIXE linha vermelha); b) opala-CT (EDS linha azul marinho, PIXE linha azul), mostrando
as posições dos picos de raios X característicos dos elementos carbono, oxigênio, alumínio, silício, potássio,
cálcio e ferro. Figura 9 - a) Ciclos de carga e descarga representativos para sílica fundida e amostras de opala; b)
micrografia de uma indentação em opala, com carga de 100 mN; c) esquema do indentador Berkovich.
A análise de inclusões com feixe de elétrons focalizado mostra que os teores de alumínio Adaptado de [7].
não estão uniformemente distribuídos, mas se encontram preferencialmente em micro-regiões,
como pode ser visto na figura 8, que mostra a micrografia de elétrons retro-espalhados (figura 8a) Os valores de microdureza estão mostrados na tabela 1, junto com o valor de um padrão
e os espectros de raios X característicos obtidos dentro e fora de uma inclusão na opala-CT (figura de sílica fundida, cuja dureza está de acordo com o valor fornecido pelo fabricante. Os valores de
8b). Enquanto o espectro do ponto 1, localizado dentro da inclusão, mostra um pico significativo de dureza Mohs calculados de acordo com Broz [8] a partir dos valores de micro-dureza dinâmica
alumínio, este elemento não aparece no espectro do ponto 2, fora da inclusão. Quando o espectro medidos na opala são de 4,5-5,0, um pouco abaixo dos valores de dureza encontrados na literatura
da inclusão é mostrado em escala logarítmica (figura 8c), percebe-se a presença de baixos teores de especializada (5,5-6,0) [9].
titânio e ferro.
2. GRAVAÇÃO A LASER
3. METODOLOGIA
A pedreira onde foi
coletada a amostra de arenito
estudada encontra-se no Dis-
trito de Lomba Grande, muni-
cípio de Novo Hamburgo, RS.
Segundo informações prestadas
pelo Geólogo Enio Godinho,
responsável técnico pela lavra, a
pedreira está localizada nas co-
ordenadas -29°44’10’’ (Latitude)
e -50°57’55’’ (Longitude) a uma
altitude de aproximadamente
130 m (Figura 4).
Essa pedreira produz
arenito de qualidade relativa- Figura 5 – Arquivos gerados no Corel Draw X5® para qualificação da interação laser/material em
mente superior àquele das de- traços com diferentes velocidades para arquivos do tipo .plt (teste A), formas arredondadas de diferentes
mais lavras da região (a rocha é dimensões para arquivo do tipo .plt (teste B) e para diferentes tons de cinza para arquivos do tipo .jpg
mais compacta), em função do (teste C).
efeito térmico provocado pelo
contato do arenito com lavas ba- Figura 4 - Mapa do RS com a localização da pedreira onde foi Com os testes concluídos, iniciou-se a etapa de análise dos resultados. Com o intuito de
sálticas da Formação Serra Geral coletada a amostra de arenito (ponto em vermelho). se fazer conhecer as particularidades e o comportamento específico do arenito, frente à aplicação
que derramaram sobre a Forma- da tecnologia de gravação a laser, foram realizadas análises visuais e táteis.
ção Botucatu, o que provocou
uma maior cimentação dessas rochas sedimentares. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para a realização dos testes de gravação a laser foi utilizado o equipamento Mira 3007,
da empresa Automatisa Sistemas Ltda®, pertencente ao Laboratório de Design e Seleção de Ma- A interação entre a gravação a laser e o material mostra que há contraste suficiente entre
teriais (LdSM)/UFRGS, onde o meio ativo para a geração da radiação é gasoso, do tipo CO2. A a textura gerada pelo laser e a rocha, produzindo a fixação da imagem no arenito. Para o teste A,
movimentação do feixe se dá por sistema galvanométrico e a área de trabalho da máquina possuiu elegeu-se o traço feito na velocidade 0,07m/min como o mais legível. A partir disso, realizou-se
uma limitação devido ao tipo de lente acoplada. Neste trabalho foi utilizada a lente de 30cm x 30cm o teste B, novamente com a velocidade 0,07m/min, resultando em uma gravação satisfatória das
(300cm²) e potência de 30W. formas arredondadas. Partiu-se então para o teste C, novamente utilizando-se a velocidade ante-
56 Foram realizados três testes, a partir da criação de desenhos com formas retas, no pro- riormente escolhida. Para uma diferenciação perceptível na graduação de cores, deve-se utilizar a 57
grama CorelDRAW X5®, a fim de testar-se diferentes graus de detalhamento. No teste A, traços saturação 100% preto e 40% de cinza (Figura 6).
Na gravação realizada, com esse desenho e com o parâmetro escolhido, velocidade de
0,07m/min, tanto para o arquivo com extensão .plt, quanto para .jpg, pode-se observar que não se
obteve um resultado visualmente bem definido. Por isso, optou-se por gravar o mesmo desenho
com as quatro velocidades testadas no teste A, com o objetivo de buscar-se um resultado estético
superior ao do primeiro teste final (Figura 8).
Tabela 1: Amostras de ágata com linhas gravadas, espaçadas entre si, dispostas em ordem decrescente de
Figura 4 - Testes de gravação a laser de espaçamento entre linhas: (A) linhas com 1,5 milímetro de espaçamento, com unidade de medida em milímetros (mm).
espaçamento, com a representação gráfica do desenho gravado, à direita e (B) linhas com espaçamento de
0,1 mm, com a respectiva representação gráfica do espaçamento entre as mesmas. O processo criativo no desenvolvimento de desenhos futuros para a utilização do pro-
cesso de gravação a laser em ágata deverá conter os espaçamentos entre as linhas mostradas nas
Entre a simplicidade e a complexidade das formas desenvolvidas para a aplicação do descrições da Tabela 1. A média do distanciamento adicional da linha a ser traçada deverá ser
processo de gravação a laser, analisou-se qual o melhor desenho e parâmetro a ser aplicado. Após levada em consideração, evitando, assim, a presença de proximidade entre as fraturas de expansão
as delimitações dos métodos desenvolvidos para a aplicação deste processo, parte-se para a etapa de térmica. Para os espaçamentos de 1,5; 1,2; 0,15 e 0,1 mm o distanciamento extra que deverá ser
caracterização por microscopia eletrônica de varredura – MEV, e padronização desta tecnologia no adicionado será de 0,1 mm. Já os com distanciamento de 0,9; 0,6; 0,3 e 0,2 mm o espaçamento
material gemológico. delimitado na análise é de 0,2 mm.
Com as análises e delimitações dos melhores parâmetros de traçados para a utilização do
Resultados e Discussões processo de gravação a laser na ágata, partiu-se para o desenvolvimento de desenhos para a aplica-
bilidade da gravação na produção de uma peça joalheira. Para o processo de criação no desenvolvi-
As imagens eletrônicas obtidas por MEV, das linhas gravadas com espaçamentos, possi- mento destes desenhos aplicou-se os ensinamentos que autores na atualidade transmitem em suas
bilitam identificar e delimitar a zona de influência da interação do feixe laser na ágata. Os espaça- bibliografias (BACK, 1983; BAXTER, 2000; BOMFIM, 1995; LÖBACH 2001; OSTROWER,
mentos entre as linhas foram analisados em pontos diferentes do segmento de cada linha, a fim de 1977), acompanhando a velocidade e exigências do mercado. O designer vem, ao longo dos anos,
obter-se uma quantificação da variação, tanto da espessura da linha, como do espaçamento entre apresentando um papel fundamental no processo de criação de produtos. A atividade de desenvol-
segmentos de reta vizinhos (Figura 5). vimento de um novo produto não é tarefa simples, requerendo pesquisa, planejamento cuidadoso
e uma visão global, abrangendo conhecimentos de mercado, processos de fabricação, de arte e de
Figura 5 – Análise representativa de gravação de linhas espaçadas: (A) amostra de ágata gravada com
espaçamento entre linhas de 1,5 mm; (B) e (C) imagens representativas de microscopia eletrônica de var-
redura da amostra (A) identificando as medidas das espessuras das linhas.
Todos os resultados podem ser visualizados na Tabela 1, que contem: número da amostra
64 gravada a laser; espaçamento criado no software de desenho vetorial bidimensional entre as linhas 65
gravadas; medida da distância entre as linhas observadas por MEV (sem fraturas); medida da dis- Figura 6 - Ambientação com imagens do material gemológico ágata (ZENZ, 2005; SGARBI, 2000).
estilo. Para auxiliar a criação dos desenhos a serem gravados a laser, foram selecionadas algumas gravação a laser, aliando-se aos materiais gemológicos no desenvolvimento de produtos com me-
imagens relacionadas ao contexto do material gemológico para a construção de uma ambientação lhor qualidade e diferencial são um dos fatores que esta pesquisa buscou alcançar. A padronização
através de imagens visuais (Figura 6). A escolha do tema destas imagens é para referenciar a beleza e a caracterização deste processo visam a auxiliar as indústrias e os profissionais da área de design
do próprio material, na qual a inspiração, a ágata e a utilização da tecnologia unem-se para o de- no que tange à fabricação de produtos inovadores e com maior valor agregado.
senvolvimento de um pingente. As formas gráficas criadas no software de desenho vetorial bidimensional para a aplica-
Com a interpretação do sentido das imagens da ambientação, através da rápida visualiza- bilidade do processo de gravação a laser foram fielmente reproduzidas nas superfícies dos materiais
ção e compreensão de significados, é produzida mentalmente uma nova composição gráfica. Deste gemológicos, quando aplicadas a estas os parâmetros definidos nesta pesquisa. O espaçamento en-
ponto, parte-se para a criação de desenhos rápidos e para a geração de ideias. Para a criação, foram tre linhas gravadas a laser é fator limitante para a criação, pois define o distanciamento ideal entre
levadas em consideração todas as análises e resultados satisfatórios dos testes feitos anteriormente os traços para que não ocorra interferência entre as linhas e sobreposição das mesmas. O estudo da
(Figura 7A). Para a fabricação do pingente, foi utilizada, juntamente com a ágata, uma base de interação entre laser e materiais é ainda um vasto campo a ser explorado. Esta pesquisa disponibi-
prata (Ag 925) e um colar em couro. Para estas criações, as amostras de ágata foram selecionadas liza resultados inovadores em relação à gravação por laser do tipo CO2 em ágata, disponibilizando
com o intuito de descartar peças com a presença de quartzo macrocristalino, que não tem bom a padronização dos parâmetros ideais para o equipamento e para o desenvolvimento e criação de
resultado de gravação para esta tecnologia. Na Figura 7B e C visualizam-se a peça finalizada com produtos.
a padronização do processo de gravação a laser na ágata, exemplificando os detalhes do desenho
gravado. Agradecimentos
Esta pesquisa teve apoio financeiro do MCT/CNPq – Universal – 014/2008, intitulado:
Tecnologia de gravação e corte a laser, como ferramenta de inovação para o design de gemas e
joias. Este trabalho foi realizado com o apoio da CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior e desenvolveu-se no Laboratório de Design e Seleção de Materiais
- LdSM, que localiza-se na Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
onde foram utilizados os equipamentos de gravação a laser e microscopia eletrônica de varredura
– MEV.
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Figura 7 – Joia criada: (A) desenho criado seguindo a padronização adequada para a utilização de gra- prático para o projeto de novos produtos. São sas aplicadas ao arranjo produtivo de gemas e
vação a laser em arquivo do tipo PLT com espaçamentos e distanciamentos extras, em milímetros; (B) Paulo: Edgard Blucher. joias do Rio Grande do Sul. 1ed. Porto Alegre:
pingente em ágata gravado a laser; e (C) detalhe da gravação.VVV Instituto de Geociências.
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disponibilidade do material gemológico no Rio Grande do Sul, o baixo desenvolvimento tecnoló- senvolvimento de projetos. João Pessoa: Edito-
gico aplicado e a carência de design são observados nos produtos desenvolvidos pelas indústrias do ra Universitária / UFPB. Duarte, L. C., Kindlein Junior, W., Silva, F.P.,
estado. Apesar de toda riqueza mineral, o beneficiamento é muito pouco elaborado e pouco inova- Stürmer, P.G.S., Tessmann, C.S., Silveira, F. L.,
dor, pois as possibilidades são limitadas do ponto de vista tecnológico dentro de cada empresa. Para Cidade, M. K. Caracterização e Padronização Cidade, M. K., Gomes, L. E. (2010 b). Técnicas
o desenvolvimento dos produtos em ágata, design e tecnologia são utilizados eventualmente para do Processo de Gravação a Laser em Ága- inovadoras e materiais naturais em joalheria no
a agregação de valor, resultando em uma produtividade baixa e pouco qualificada. As indústrias ta Aplicado ao Design de Joias. 2012, 172fls. Laboratório de Design e Seleção de Materiais
carecem introduzir produtos inovadores e qualificados para atender ao mercado comprador e estar Dissertação (Mestrado em Design), Programa In: Tecnologias para o setor de gemas, joias e
à frente no cenário mundial. de Pós-Graduação em Design, Universidade mineração. Porto Alegre: IGEO/UFRGS.
66 Os processos a laser têm evoluído progressivamente com o passar dos anos, substituindo Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 67
ou adequando-se aos métodos convencionais utilizados nos processos de produção de produtos. A 2012. Duarte, L. C.; Rocha, T. L. A. C.; Roldo, L.;
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Juchem, P. L.; Strieder, A. J.; Hartmann, L. A.; des: Prototyping and Low-volume Production. encontrados nas cavernas. Com o passar do tempo, o uso de elementos visuais, com intenção à
Brum, T. M. M.; Pulz, G. M.; Duarte, L. C. United Kingdom: Thames & Hudson. repetição, possibilitou ao homem a consciência da criação de ritmos visuais, os quais deram origem
(2007). Geologia e mineralogia das gemas do à decoração (MANZINI, 1993). Posteriormente, o interesse pela ornamentação aliado às tecno-
rio grande do sul. In: Roberto Lannuzzi, José Zenz, Johann. Agates. Haltern: Bode Verlang, logias de cada época fez crescer inúmeras possibilidades de aplicação desta arte. Arts and Crafts,
Carlos Frantz. (Org.). 50 Anos de Geologia. Germany, 2005. Art Nouveau e Art Deco, são exemplos de movimentos, na história da Arte, os quais impactaram
Porto Alegre: Editora Comunicação e Identi- o desenvolvimento da ornamentação de superfícies. Logo, embora haja momentos (tendência da
dade. Zhou, B. H.; Mahdavian, S. M. (2004). Ex- moda) de repulsa à ornamentação, o ser humano sempre retorna a tal prática.
perimental and theoretical analyses of cutting De modo geral, o projeto de texturas para aplicação em distintas superfícies é denomi-
Löbach, B. (2001). Design Industrial: bases nonmetallic materials by low power CO2-laser; nado design de superfície, e tais texturas podem ser táteis ou visuais (RÜTHSCHILLING, 2006).
para a configuração dos produtos industriais. Journal of Materials Processing Technology, O termo design de superfície foi incorporado no Brasil na década de 80 por Renata Rubim e o
São Paulo: Edgard Blucher. 146: 188–192. entendimento desta prática vem sendo aprimorado (RUBIN, 2004).
Moura, M. (2005). Design, Arte e Tecnologia. Atualmente pode-se citar inúmeros exemplos de objetos planos ou tridimensionais, assim como
São Paulo: Edições Rosari. artefatos materiais e virtuais que recebem design de superfície, dentre eles interfaces digitais, em-
balagens, tecidos, papéis, tecelagem, cerâmicas, edificações, corpo humano, joias, acessórios, uten-
sílios, adornos, etc. De acordo com Rüthschilling (2008), o design de superfície complementa
outras especialidades do design, como por exemplo, o design de louças e de moda. Entretanto,
segundo essa autora, esta abordagem ampla se refere ao Brasil, pois a origem americana do design
de superfície remete ao design têxtil.
Para decorar superfícies, os designers seguem alguns princípios na construção de tex-
turas ou padrões gráficos: conceito de módulo, sistema de repetição, linguagem visual e compo-
sição, pois geralmente os elementos visuais se repetem harmonicamente ao longo da superfície
(RÜTHSCHILLING, 2008). O módulo é a unidade que possui os elementos visuais básicos e ao
ser repetido (colocado lado a lado), configura uma padronagem; por exemplo, um ladrilho pode
ser um módulo e o conjunto de ladrilhos postos lado a lado forma um padrão visual e conforme
estes objetos são reorganizados, novas padronagens podem surgir. Assim, dentre diversas técnicas
desenvolvidas para replicação de desenhos, pode-se citar o estêncil o qual é utilizado para aplicar
desenhos em superfícies a partir de um suporte bidimensional vazado, isto é, uma matriz vazada,
uma vez que na parte perfurada a tinta entra em contato com o objeto a ser pintado (iDicionário
Aulete). Esta técnica é comumente empregada na geração de graffiti em muros, sendo uma ati-
vidade artística, mas pode ser aplicada em inúmeras superfícies. Além disso, essa matriz possui a
característica de permitir a aplicação diversas vezes do mesmo desenho em diversos locais.
68 A tradição da ornamentação de gemas ou uso de gemas “naturalmente decoradas” é lon- 69
gínqua, tendo em vista exemplares encontrados na região do Iraque com 5.000 anos a.C (IBGM,
2009). As primeiras gemas esculpidas artesanalmente surgem com motivos simbólicos, a partir ral, dentre os quais pode-se citar métodos de irradiação, tingimento, tratamento térmico, difusão,
das ferramentas disponíveis da época, como por exemplo, os intaglios (talhe em baixo relevo), que fosqueamento, gravação a laser, usinagem e lapidação.
promoviam grafismos nas gemas, tanto na parte superior de uma gema opaca a translúcida, como Segundo Schumann (2006), inclusões nos materiais gemológicos são comuns e elas po-
a ágata cornalina, quanto na parte inferior de uma gema transparente, como a ametista (IBGM, dem ser um corpo estranho ou uma espécie de irregularidade na rede interna da gema, geradas
2009). Logo, essa técnica de design de superfície beneficia a gema, de modo que é criada uma iden- por distintos motivos. Estes efeitos podem surgir ao mesmo tempo em que o mineral é formado
tidade visual a partir da organização de elementos visuais. ou podem ser anteriores à sua formação, ou surgirem depois da sua cristalização através da pe-
Assim, ressalta-se a importância do design de superfície nos materiais gemológicos, po- netração de líquidos em fraturas. Assim, não somente materiais sólidos contidos em um mineral
rém esta temática é conhecida por tratamento ou beneficiamento de gemas, em específico, trata- são inclusões, mas líquidos e gases também são considerados inclusões, bem como zoneamento
mento de superfície de gemas (IBGM, 2009). Deste modo, segundo o IBGM (2009), a expressão de cor. O conjunto de inclusões pode desvalorizar, bem como valorizar uma gema, conforme sua
tratamento de superfície significa o processo de preparação, acabamento ou recobrimento de su- estética e a aplicação dada a ela, além de auxiliar na identificação de minerais-gema, diferenciar
perfícies de gemas, com a finalidade de combater a corrosão, modificar propriedades mecânicas e gemas naturais das sintéticas e sugerir a proveniência desses materiais. No quartzo são encontrados
destacar a estética. Para desvincular estas atividades “não estéticas” é utilizado, neste trabalho, o diversos tipos de inclusões, dentre elas os minerais goethita e rutilo (Figura 1), bem como ouro,
termo design de superfície de gemas, não sendo utilizada a expressão “melhoramento de gemas” por pirita, turmalina, dentre inúmeras outras. As agulhas de rutilo, também encontradas no coríndon
ser inadequada, pois a ideia de melhorar é relativa. (e.g.safira e rubi), são formadas dentro do mineral quando ele esfria (SCHUMANN, 2006). O
Sendo assim, o atual design de superfície de gemas consiste na ornamentação do material quartzo rutilado, como se denomina o quartzo com inclusões de rutilo, ao contrário da maioria das
gemológico através de distintas tecnologias e sua finalidade é valorizar o material, desenvolvido em outras inclusões, é muito apreciado pela sua beleza. Embora o rutilo, em alguns casos, se assemelhe
laboratório ou extraído na natureza, transformando-o em algo belo para apreciação e utilização ao ouro, pela sua cor e seu brilho metálico, trata-se de outro mineral de fórmula química TiO2.
humana. De modo geral, as possibilidades de manipulação da superfície das gemas são: adicionar
grafismos ou texturas visuais, alterar a cor, gerar texturas táteis ou relevos, ressaltar texturas naturais
(zoneamentos de cor, manchas, inclusões...), dentre outras possíveis; já as possibilidades tecnoló-
gicas de manipulação da superfície das gemas são: gravação a laser, usinagem, lapidação, fosquea-
mento, ultra-som, etc. Os estudos de Pichler et al. (2013) com gravação a laser em serpentinito e
de Cidade (2012) com gravação a laser em ágata, além do colar com citrino com texturas de fruta
criado por Baldassare Peixoto e Rosângela Mattana (IBGM, 2009) e das gravuras em ônix (glíp-
tica) expostas em Schumann (2006), são exemplos contemporâneos de possibilidades de trabalhar
o design de superfície em distintas gemas, e assim, manter a tradição de valorizar os materiais da
natureza.
A natureza oferece abundância de minerais para serem explorados como gemas e há
uma forte demanda por estes materiais ao redor do mundo. O Brasil, por exemplo, é reconhecido
internacionalmente por abrigar uma das principais províncias gemológicas do planeta, resultando
em uma diversidade de gemas de excelente qualidade. Avalia-se que o país seja responsável pela
produção de cerca de um terço do volume das gemas de cor, excluindo o rubi e a safira (IBGM, s/d;
MACIEL, FERNANDES, 2004). Deste modo, para fortalecer a economia brasileira, as gemas de-
vem ser beneficiadas e convertidas em produtos ainda na região de origem, principalmente quando
o objetivo é a exportação, fortalecendo a identidade de território. Mas infelizmente, muitas vezes Figura 1: À esquerda, quartzo com inclusões de cristais aciculares radiados de goethita e à direita, quartzo
ocorre o contrário, pois o Brasil importa com alto valor agregado produtos cuja matéria-prima é com inclusões aciculares de rutilo (quartzo rutilado).
sua e que foram beneficiados no exterior. Isso precisa ser revertido, a fim de fortalecer a economia
das áreas produtoras de materiais gemológicos. O ouro é um dos metais mais valiosos e a atividade garimpeira desse metal no Brasil
O Brasil é um grande exportador de materiais gemológicos, e dentre eles se destaca o remonta o século XVIII (NEVES, ATENCIO, 2013). O beneficiamento com ouro valoriza qual-
quartzo. De acordo com Frondel (1962), quartzo é a denominação dada aos minerais de com- quer material, recebendo o status de joia, pois este metal não enferruja, é durável, maleável, não
posição química SiO2; trata-se de um material inorgânico, de ocorrência natural, com estrutura se desvaloriza, possui alta densidade atômica; além de representar luxo, poder, beleza e vaidade
cristalina específica. O quartzo tem uma série de variedades, como citrino, cristal-de-rocha, aventu- (HELLER, 2012). A camada de ouro quando muito fina é transparente, como por exemplo as fi-
rina, prasiolita, ametista, quartzo esfumaçado, olho-de-tigre, olho-de-falcão, quartzo olho-de-gato, nas camadas deste metal colocadas nos capacetes dos astronautas e nas janelas dos pilotos de avião,
quartzo róseo, etc. (SCHUMANN, 2006). Entretanto, quando se menciona quartzo, lembra-se para a proteção das nocivas radiações solares.
mais do quartzo incolor, variedade cristal-de-rocha, e por isso, nesta pesquisa, optou-se por deno- Objetiva-se nesta pesquisa valorizar um cabochão de quartzo incolor, utilizando técnica
minar o quartzo incolor somente como quartzo. Segundo Anderson (1984), o quartzo é encontrado de metalização com ouro, de modo que o efeito óptico obtido simule o efeito do quartzo rutilado.
em grande quantidade na crosta terrestre, e por isso é um dos minerais mais comuns. Sua versão Este modelo foi desenvolvido para este estudo, porém a técnica não está restrita a este grafis-
70 incolor pode ser confundida com vidro e outras gemas incolores, por isso não é tão valorizado no mo, podendo ser adaptados inúmeros efeitos gráficos que podem ser aplicados em outras gemas. 71
mercado de gemas e joias. No entanto, há inúmeras possibilidades de beneficiamento deste mine- A experiência foi realizada em três partes: observação e desenho do rutilo em software; corte e
aplicação do estêncil na gema; e metalização do material. Em sequência, a superfície do cabochão Com relação aos três vetores expostos (Figura 3), a proposta (a) foi desenhada a partir
foi analisada com microscopia eletrônica de varredura (MEV) para verificar a qualidade visual do da vetorização “automática” de fotografias de inclusões de rutilo; no entanto, a imagem resultan-
desenho resultante. te é complexa e possui elementos muito finos para o corte a laser. Assim, passou-se para outro
método na proposta (b), desenhando-se um módulo constituído de um retângulo de 1mm por
Métodos 30mm, o qual foi replicado vinte e cinco vezes. Estes módulos foram rotacionados em diferentes
ângulos e dispostos em diversas posições (repetição aleatória), de modo que se sobrepusessem e se
Para o procedimento experimental, primeiro observaram-se gemas naturais de quartzo assemelhassem às desejadas inclusões. Entretanto, o desenho continua complexo e com módicos
rutilado, a fim de perceber a estética deste tipo de inclusão. A seguir, estudou-se a possibilidade de espaços entre os retângulos, dificultando a técnica de corte. Na proposta (c), os mesmos retângulos,
simular tal efeito com o uso de ouro, em um cabochão de quartzo sem inclusões aparentes, com di- em quantidade menor (quatorze), foram rotacionados em diferentes ângulos e posicionados es-
mensões de 15x10x25mm (LxAxP), com 32,2ct. Este cabochão tem formato oval, com base plana e paçadamente. Logo, os retângulos foram “soldados” e salvos como somente contornos, isto é, sem
possui um entalhe, constituído de um desnivelamento na parte inferior, supostamente para encaixe preenchimento da forma, sendo que apenas as linhas perimetrais do desenho foram guardadas.
em anel (Figura 2). Posteriormente foi utilizado o equipamento de corte e gravação a laser Mira® (Automa-
tisa Laser Draw) do Laboratório de Design e Seleção de Materiais (LdSM/UFRGS) – utilizando
a lente de 10cm x 10cm e potência de 60w, 100% da potência do equipamento – para a confecção
do estêncil. Neste equipamento foi recortado um papel-adesivo (duplo), comumente utilizado para
rotular CD, com velocidade limitante 500m/min e velocidade desejada 21m/min. Este estêncil
segue o formato do cabochão, porém é maior que a gema e nele foi desenhada uma borda extra
para facilitar sua manipulação, pois logo após o corte o estêncil vazado se torna frágil (Figura 4).
Figura 2: Quartzo lapidado em cabochão com formato oval, frente e verso (15x10x25mm).
Figura 4: Estênceis de papel adesivo (duplo) cortado a laser, à esquerda; e à direita, já vazado e pronto
para o uso, sobre fundo preto.
Por fim, foram obtidas imagens de microscopia eletrônica de varredura (MEV), em equi-
pamento da marca Hitachi®, modelo TM 3000, com potência de 15Kv, do LdSM/UFRGS, para
verificar a superfície resultante do cabochão. Foram obtidas imagens do tipo BSE (backscaterred
electron) com magnificação da ordem de 40x e de 4000x.
Resultados e Discussões
O equipamento de corte a laser possibilitou a reprodução, com grande precisão, do dese-
nho vetorizado, com o tempo de corte do estêncil de 1s500ms, segundo o software do equipamento.
A dupla camada de adesivo permitiu maior resistência e maior espessura para a deposição de emul-
são acrílica, uma vez que quanto mais espessa for a deposição da emulsão, mais fácil é a sua retirada.
Deste modo, sugere-se ainda o uso do adesivo vinílico, inclusive o de recorte em plotter que cola Figura 8: Imagens do tipo BSE obtidas no microscópio eletrônico de varredura, onde em a) tem-se o
pelo lado oposto. contraste entre a porção metalizada (cinza claro) e o quartzo (cinza escuro), além da visualização de
O resultado da metalização com ouro foi satisfatório, porém o equipamento de metaliza- arranhões promovidos pela pinça (seta) e em b) detalhe da interface entre a metalização e o quartzo, onde
ção não é o mais indicado, haja vista que o pó depositado sai com facilidade ao toque. Entretanto ocorreu o arranque da camada de ouro quando da retirada do estêncil (seta).
este problema pode ser solucionado com um tratamento de superfície, impermeabilizando o ma-
terial ou utilizando equipamentos para metalização que são utilizados comumente na indústria de Conclusões
gemas. Considera-se o tempo de 30 segundos de deposição do ouro satisfatório, sendo neste caso
o tempo mínimo para se obter um efeito perceptível, pois a camada resultante de ouro foi fina e O beneficiamento de gemas pelo design de superfície cria nova identidade ao objeto e
74 transparente. Ressalta-se que antes da retirada da máscara de emulsão, o contraste entre o efeito consequentemente agrega maior valor ao produto. Embora o rutilo não seja uma inclusão de ouro, 75
fosco da emulsão e o dourado da metalização foi avaliado, ou seja, pode-se deixar a máscara de mesmo sendo semelhante, o uso do ouro cumpre a função decorativa e compensa a artificialidade
da técnica proposta, por ser um metal nobre.
A técnica de estêncil mostrou-se versátil para aplicação no quartzo, pois o experimento
Design e Tecnologia: estudo de viabilidade
realizado mostrou-se promissor, e assim, com o auxílio do corte a laser, inúmeros e complexos
desenhos podem ser gerados rapidamente de modo preciso. O uso do papel adesivo e da emulsão
da reutilização de rejeitos de Quartzo Rosa
acrílica deve ser melhorado, assim como o tempo de metalização, pois com o aumento da espessura
da camada de ouro, a transparência diminuirá e consequentemente aumentará o contraste e o bri-
com uso de corte por jato d’agua
lho metálico. Marina Wilm; Rafael Cardoso Bisinella; Rosimeri Pichler; Wilson Kindlein Júnior;
Por fim, sugerem-se estudos da deposição do ouro em diferentes gemas e com diferentes Pedro Luiz Juchem; Lauren da Cunha Duarte.
grafismos.
Programa de Pós-graduação em Design - UFRGS
Agradecimentos marinawilm2@gmail.com; rafaelcb18@gmail.com; rosi.pichler@gmail.com;
kindlein@portoweb.com.br; labogem@ufrgs.br; lauren.duarte@ufrgs.br
Os autores agradecem os laboratórios LdSM (Laboratório de Design e Seleção de Ma-
teriais) e LAMEF (Laboratório de Metalurgia Física) da Universidade Federal do Rio Grande Introdução
do Sul – UFRGS pela disponibilização de equipamentos e ajuda prestada; e à CAPES pela bolsa
de mestrado concedida ao primeiro autor da pesquisa. Ao CNPq pela Bolsa de Produtividade em Com o crescimento da preocupação com relação ao fim dos recursos naturais e todas
Pesquisa, da segunda autora. as questões ambientais e sociais relacionados ao consumo exacerbado, como o volume de lixo
gerado na sociedade, impulsionou a busca por soluções que minimizem esses impactos, como por
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rejeitados ainda no processo de fabricação, a um novo ciclo de manufatura. Assim, a necessidade de
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do Rio Grande do Sul, uma empresa forneceu os rejeitos de quartzo rosa para esta pesquisa. Tal
empresa atua na cidade desde 1989 na lapidação de pedras, sendo suas principais matérias-primas:
o Cristal de Rocha, a Ametista, o Quartzo Rosa, a Sodalita, o Quartzo Verde, a Ágata, entre outras.
Dentre os produtos oferecidos pela empresa, destaca-se para este trabalho a confecção do porta ve-
las em quartzo rosa, disponibilizado no estado bruto, rolado ou polido (APL PEDRAS, GEMAS
E JOIAS, 2013; BAGATINI PEDRAS, 2013). A confecção do produto inicia com o corte de
uma das extremidades do quartzo na serra diamantada circular, fazendo-se assim a base do porta
velas. Em seguida, a peça é perfurada com a serra copo diamantada com circunferência de 36mm,
executando uma perfuração cilíndrica. Posteriormente, a peça é encaminhada para empresas tercei-
rizadas que realizam o acabamento nas peças que serão comercializadas polidas e deste processo,
tem-se a geração do rejeito, resultante do corte com a serra copo para perfuração do produto. O
rejeito possui espessura de 36 milímetros de diâmetro e sua altura varia entre 6 e 12 centímetros,
de acordo com o corte realizado no geodo. A empresa mantém os rejeitos estocados nos fundos da Figura 2 – a: serra diamantada fatiando o cilindro de Quartzo; b: equipamento Lapidart multiuso.
empresa, formando ‘montanhas’ do material (Figura 1, letra b).
tou que ocorressem trincas nos cantos, salientando que para o procedimento é necessário manter
a pedra lubrificada com água. Os cortes foram realizados em quatro diferentes espessuras (0,5 cm;
1,0 cm; 1,5 cm e 2,0 cm) buscando avaliar a qualidade estética da peça cortada e a ocorrência ou
não de fraturas. Para a realização de todos os testes foram cortadas duas amostras de cada espessura
do cilindro.
2. Teste de perfuração
A fábrica especializada em perfuração de gemas (onde foi realizada a perfuração) utiliza
furadeiras de bancada com brocas diamantadas para diâmetros de 0,2cm a 1,5cm e uma máquina
Figura 1 – a: produto porta velas bruto; b e c: estoques de rejeitos cilíndricos de ultrassom para diâmetros de 0,1cm. A amostra de 0,5cm foi perfurada em diâmetro bastante
de quartzo rosa oriundos da produção de porta velas. utilizado em acessórios de joalheria (0,2cm de diâmetro) e um cilindro de 6cm de altura foi perfu-
rado em furo passante com diâmetro igual a 1,2cm fim de testar a qualidade e resistência da peça
O material quartzo rosa comercializado bruto é vendido pelo preço de R$ 6,00 o quilo. com relação à fraturas após a perfuração.
Se o material passa por algum processo de beneficiamento, como o polimento, o preço de venda é
acrescido de R$ 2,00 a R$ 3,00 o quilo. Por mês a empresa comercializa em média 1.000 unidades 3. Teste de polimento da fatia
do produto porta velas, gerando uma grande quantidade de sobra do processo. Os cilindros, prove-
nientes da perfuração do quartzo para obtenção do produto porta velas, são raramente comerciali- Foram polidas duas amostras de cada espessura (totalizando oito amostras) no equipa-
zados, e quando ocorre a venda, estes são vendido por R$ 2,00 o quilo. mento do fabricante BQZ (Figura 3). A máquina é composta por lixa e polimento a feltro de lã
com uso de abrasivo tripoli; tal teste realizou-se no Centro Tecnológico de Pedras, Gemas e Joias
Metodologia do Rio Grande do Sul (Figura 3b). O lixamento é realizado de forma manual por um operador,
iniciando com gramatura grossa de 80 grãos/pol2, e finalizando com gramaturas de 200 a 400
1. Teste de fatiamento grãos/pol2. Depois, para dar o brilho, a gema é posicionada contra um feltro de lã com aplicação
de uma pasta de pó abrasivo tripoli e água.
Realizou-se um teste de corte em fatias do cilindro na Sede do SENAI em Soledade.
A máquina utilizada possui uma serra diamantada de 600mm de diâmetro, com lubrificação à
biodiesel. O cilindro foi preso em uma morsa e o corte foi calibrado em uma espessura de 5mm e
realizado no tempo estimado de corte de 6 a 10 minutos. Tal teste resultou em um corte irregular,
devido ao tamanho da serra (Figura 2a) que oscilava muito na direção perpendicular ao seu eixo.
Um novo teste de fatiamento foi realizado no Centro Tecnológico de Pedras, Gemas e
Joias do Rio Grande do Sul, utilizando um equipamento Multi-machine Lapidart de fabricação
brasileira, cujas especificações técnicas são: 1755rpm, 60Hz Hp e 0,25 Cv (Figura 2b). Equipado
com serra e rebolo diamantado, utiliza a força produzida pelo motor e lubrificação à base de água. O
procedimento de corte iniciou-se com a marcação do cilindro com uma fita adesiva, para delimitar
78 o corte da serra. A gema é levada até a serra sendo girada manualmente, retirando primeiramente as Figura 3 – a: equipamento com lixa e polimento a feltro de lã com abrasivo tripoli do fabricante BQZ; 79
laterais, de modo que o miolo seja cortado no final. Tal procedimento foi mais satisfatório pois evi- b: detalhe do lixamento e polimento no feltro de lã.
As fatias foram polidas a fim de obter melhor acabamento da pré-forma, a ser obtida na próxima
etapa de corte por jato d´água. O tempo estimado de polimento das fatias é de 10 a 15 minutos
por fatia.
Figura 5 – a: amostra com 0,5 cm; b: amostra com 1,0 cm; c: amostra com 1,5 cm; d: amostra com 2,0 cm.
Figura 4 – a: máquina de corte por jato d’água abrasivo; b: detalhe de corte executado no cilindro.
As amostras foram testadas com base na execução de forma complexa, e avaliadas base-
ando-se na presença ou não de fraturas e na qualidade das peças após o corte. O tempo de corte das
formas nas fatias foi em média de 2 minutos.
Resultados e discussões
1. Teste de fatiamento
Com relação à etapa de fatiamento foram testados três métodos diferentes a fim de obter
o melhor resultado. O teste realizado na máquina equipada com serra diamantada de 600mm não
foi satisfatório uma vez que a serra, por ser muito grande (ideal para fatiar grandes geodos), vibra Quadro 1 – classificação das amostras quanto a qualidade estética e presença de fraturas durante o processo
e oscila ao redor do seu eixo conferindo um corte impreciso, facilmente perceptível em pequenas de fatiamento.
peças. O segundo teste realizou-se no equipamento GA-JETSCREAM II JETTEK WATER
JET, no CT Pedras e também não apresentou boa precisão. Isso ocorre devido ao corte à jato d’ Como pode ser observado na figura 5 e, de acordo com o quadro 1, todas as amostras
água abrasivo iniciar e terminar com diferentes diâmetros devido à dispersão do fluxo de líquido do mantiveram a sua qualidade estética após o fatiamento e nenhuma fraturou durante o processo
jato. realizado no equipamento Lapidart, podendo ser encaminhadas a próxima etapa que é o polimen-
Por fim, foi realizado fatiamento no equipamento multiuso da Lapidart. Primeiramente, to.
uma fita foi adicionada ao cilindro a fim de servir de referencia para o corte da serra, realizado
quando o operador pressiona o mineral contra a serra diamantada. Devido à fragilidade do Quartzo 2. Teste de polimento da fatia
e sua facilidade de sofrer fratura conchoidal, o cilindro teve que ser serrado primeiramente pelas
80 laterais e girado até que o último corte fosse feito no miolo do cilindro, evitando trincas e rebarbas No teste de polimento na máquina da Lapidart, a principal dificuldade foi polir cantos 81
que possam facilitar o fraturamento do material. vivos e há a impossibilidade de realizar esse procedimento em peças vazadas. Por isso, o contorno
interno das amostras cortadas à jato d’ água abrasivo não foi polido. ficasse imperceptível e mantendo seu relevo interno proporcional.
Os cilindros utilizados para os testes foram comprados já polidos, no entanto, após o Justamente por se tratar de um corte resfriado, nenhuma das chapas quebrou ou trincou
seu fatiamento as faces precisaram ser lixadas e polidas novamente, o que levou em média, 10 a 15 durante o processo de corte, que durou em média 1min50s, e a qualidade estética foi mantida,
minutos por fatia. Todo o processo deve ser realizado com o resfriamento das amostras, visto que como mostra o quadro 2 abaixo e a figura 8:
facilmente elas podem fraturar, o que acabou de ocorrer com uma das amostras (com 1,5 cm de
espessura) que ao ser lixada acabou trincando, conforme ilustra a figura 6.
Figura 6 – a: amostra de 1,5 cm de espessura fraturada após lixamento; b: amostras foscas e c: amostras
polidas.
3. Teste de perfuração
O teste de perfuração foi realizado em uma empresa que não disponibilizou mais infor-
mações a cerca desse processo. No entanto, é possível afirmar que a amostra mais fina (0,5cm) foi Quadro 2 – classificação das amostras quanto a qualidade estética e presença de fraturas durante o processo
perfurada sem que a qualidade estética da peça fosse prejudicada (ver figura 7) ou a peça fraturasse, de corte à jato d’ água abrasivo.
visto que a perfuração é realizada em etapas a fim de permitir o melhor resfriamento da peça.
Pode-se concluir então, que peças mais espessas provavelmente não sofreriam fraturas,
visto que a espessura delas é fundamental para uma perfuração mais segura, o que pode ser ob-
servado na figura 7, mostrando um cilindro com 6cm de altura que resistiu a um furo passante de
diâmetro 1,2cm.
Figura 8 – a: amostras cortadas por processo de corte à jato d’ água abrasivo e b: amostras cortadas por
processo de corte à jato d’ água abrasivo parte negativa (amostra vazada) e positiva (mapa).
Figura 7 – à esquerda: cilindro com 6cm de altura com furo passante de diâmetro 1,2cm e à direita: amos-
tra de espessura 0,5cm com furo de 0,2cm de diâmetro. Conclusões
4. Teste de corte à jato d’ água abrasivo Por meio desta pesquisa houve a reincorporação de um novo ciclo de manufatura do
material Quartzo Rosa, rejeito oriundo da etapa final de produção industrial de uma empresa
82 O teste de corte à jato d’ água com abrasivo realizou-se sem maiores dificuldades visto beneficiadora de minerais. Com isso, é possível propor soluções estratégicas de inovação, uma vez 83
que as amostras eram relativamente finas, fazendo com que o efeito de dispersão do jato d’ água que grande parte desse rejeito permanece descartado e sem utilização comercial.
O beneficiamento da pré-forma obtida é viável desde que ocorra o investimento em má-
quinas de corte a água ou contratação de serviços terceirizados na região de Soledade. No entanto,
Percurso de um projeto de coleção de joias
dentro dos parâmetros testados no maquinário disponível, faz-se necessárias algumas observações
além das especificações técnicas dos equipamentos, buscando otimizar o processo de beneficiamen-
de referências étnicas gaúchas
to do rejeito a fim de obter a pré-forma sugerida: Carlos Gustavo Hoelzel - carlos.gustavo@ufsm.br
- Durante todos os processos deve-se priorizar o resfriamento da peça a fim de impedir o Tatiana Eder da Rocha Lago - tatianalago.design@gmail.com
seu superaquecimento, principalmente na etapa de lixamento, onde há muito atrito entre o mineral
e a lixa;
- O processo mais adequado para o fatiamento do cilindro foi realizado no equipamento Introdução
multiuso da Lapidart;
- A melhor forma de fatiar o cilindro é deixando a parte do miolo por último, evitando O projeto JOIAS RS é uma parceria entre o Centro de Artes e Letras, da Universidade
assim o surgimento de fraturas e, com isso, a perda da peça; Federal de Santa Maria (UFSM), e Centro Tecnológico de Pedras Gemas e Joias do Rio Grande
- Desde que se respeite as especificações do corte a jato d’ água com abrasivo (peça posta do Sul (CTPedras), da Universidade de Passo Fundo (UPF). Contou-se também com a colabora-
a mínima distância possível do bico do jato e com espessura menor do que 4 cm), é possível obter ção de entidades do setor e diversos pedristas do município de Soledade/RS e região do entorno. A
cortes complexos sem que haja qualquer dano nas peças, visto que este tipo de corte é realizado a iniciativa estratégica foi incentivada e financiada pelo do governo do estado do Rio Grande do Sul,
frio. por meio da Agência Gaúcha de Desenvolvimento e Promoção do Investimento (AGDI). Esse in-
Com relação às novas sugestões de uso desse rejeito, dependendo do uso deste seria inte- centivo estava alinhado à necessidade de conferir ao Arranjo de Produção Local (APL) de Pedras,
ressante fazer ensaios tecnológicos de resistência ao choque e à pressão. Caso ele seja utilizado para Gemas e Joias, da cidade polo Soledade, produtos de impacto sócioeconômico positivo com conse-
lapidação (cabochão), não seriam necessários esses ensaios, uma vez que apesar de ser um agregado quente geração de mais emprego e renda, além de estabelecer uma cultura de inovação por meio de
de cristais (o que teoricamente deixaria o material mais frágil, quebradiço), nesse caso como são mi- um círculo virtuoso de criação de novos produtos aliados à cultura e a sustentabilidade ambiental
cro cristais de quartzo intercrescidos (cresceram juntos, durante a sua formação), isso não interfere e também viabilizado pelos temas étnicos. Para tanto, todo o design foi orientado metodologi-
na sua resistência, podendo até aumentá-la. Entretanto, o que poderia causar problemas na hora de camente à referenciais contemporâneos de tendências mais integrados fortemente com a cultura
lapidar são as fraturas nas amostras e essas são visíveis em amostra de mão e por isso poderiam ser material regional. Além de processos formais de metodologia, a abordagem de design participativo
descartadas pelo lapidário. e estudo de variáveis sócioculturais embasaram os requisitos semânticos de projeto. Os resultados
Por fim, resta afirmar que a partir da realização deste trabalho pode-se concluir que a estabelecidos inicialmente no projeto foram todos alcançados. Destaca-se que a validação dos pro-
reutilização do rejeito de produção, o quartzo rosa é viável, uma vez que é possível obter-se uma dutos, que foram as joias e catalogo, deu-se por pares, por apresentação em exposições dentro e fora
pré-forma a partir do cilindro inicial deste material, utilizando-se das tecnologias disponíveis na do RS bem como a prototipação de todas as propostas e testes de produção para os equipamentos
região. usuais em joalheria artesanal e semiseriada. Por outro lado, os resultados estratégicos e econômicos
ainda requerem aperfeiçoamento de toda a cadeia de design, produção, comercialização e ciclo de
Agradecimentos vida do produto. Concluiu-se essencialmente que, para além do produto, o designer deve ocupar-se
também da orientação das estratégias de negócio com as equipes, principalmente reconhecendo
Os autores agradecem ao SENAI em Soledade, ao Centro Tecnológico de Pedras, Ge- a cultura de produção e fornecendo subsídio para ciclos de projetos futuros. Desta forma, para
mas e Joias do Rio Grande do Sul, por disponibilizar os equipamentos necessários para a realização compreender mais especificamente o design envolvido no projeto, inicia-se contextualizando a
deste trabalho; ao LdSM (Laboratório de Design e Seleção de Materiais) da Universidades Federal joalheria e o grupo de designers que desenvolveu o referido projeto.
do Rio Grande do Sul pela ajuda prestada e à CAPES que concede bolsa aos autores Marina Wilm
e Rafael Bisinella. Metodologia
Referências Bibliográficas O design de joias tem sido trabalhado pelo grupo de pesquisa e design contemporâneo
da UFSM, GPDesign, com especial interesse no domínio das técnicas de criação e produção deste
tipo de produto. Para esse projeto especificamente foi adotada uma estratégia de criação com forte
APL PEDRAS, GEMAS E JOIAS. Arran- JUCHEM, P. L. et al. Potencial gemológico estudo em tendências a partir de Caldas (2004) e análise contextual de Hoelzel (2004) permitindo
jo Produtivo Local de Pedras, Gemas e Joias. da região sul do Brasil. In: I Seminário sobre o uso de referências nativas da cultura material riograndense sem, contudo, deixar de situar-se no
Disponível em: <http://www.portalgemas.com. design e gemologia de pedras, gemas e joias do contexto das tendências mundiais, particularmente vindas da área de moda. Por outro lado, o cui-
br/o-apl/>. Acesso em: 07 jul. 2013. Rio Grande do Sul. Anais. Soledade, 2009. dado com o processo produtivo que teve que ser realizado em diferentes lugares e com tecnologias
acessíveis aos produtores, levou a equipe a um trabalho em duas fases. Primeiro, foi desenvolvido
BAGATINI PEDRAS. Empresa. Disponível KRUCKEN, L. Design e território: valori- uma experiência fortemente centrada na tecnologia que seria disponibilizada ao projeto mas com
em: <http://www.bagatinipedras.com.br/inde- zação de identidades e produtos locais. São um produto de um trabalho de graduação em design da UFSM, com recursos próprios, mas numa
84 xok.php?menu=empresa>. Acesso em: 07 jul. Paulo:Studio Nobel, 2009. planta de produção igual a que seria utilizada no JOIAS RS 2013. O objetivo era o uso do processo 85
2013. para correção de falhas e evitar retrabalhos. Dessa forma esquematizou-se o seguinte modelo que
orientou o trabalho de conclusão de curso intitulado “OS PROCESSOS PRODUTIVOS NO Esse modelo foi fortemente baseado em Munari (1998) e Olver (2003). Outros autores
DESIGN DE JOIAS: COLEÇÃO FUNDADORES” de Diego Giordani Resta com orientação também foram estudados como Baxter e outros que não especificamente são designers mas escre-
de Carlos Hoelzel: vem na área. Optou-se por simplificar as fases e dedicar-se mais ao processo criativo e à forma de
execução das soluções formais. Ainda, fez-se a comparação de resultados obtidos em prototipações
rápidas e prototipação digital com recursos de software e hardware específicos da área. Todo o
processo dividiu-se entre o Laboratório de Joalheria da UFSM e o CTPedras – Soledade. Os
resultados alcançados serviram para orientar o design do projeto JOIAS RS 2013.
Resultados
A partir do design da “Coleção Fundadores” identificou-se que s estudos realizados du-
rante a fase de coleta de informações foram de vital importância para o entendimento da produção
joalheira, bem como, o papel que o designer de joias assume durante as diferentes etapas deste pro-
cesso. Primeiramente foram estudadas as tipologias características existente na joalheria e também
os processos produtivos. Depois foram verificadas as tecnologias disponíveis e suas possibilidades
para a produção, particularmente as disponíveis no Centro de Tecnológico de Pedras, Gemas e
Joias do Rio Grande do Sul, assim como os materiais e suas características. Identificou-se também
que a interação do designer com o meio produtivo é fator decisivo na proposta de forma e tipologia
da joia, concluindo que nessa área do design é imprescindível o conhecimento prévio da tecnologia
de produção e a “experiência de bancada”, fatores esses que permitiram a definição de requisitos de
qualidade estética e técnica. Assim, todos os designers1 que convidados a participares do projeto
JOIAS RS 2013, tinham como requisito a experiência de bancada. Por outro lado, no caso da “Co-
leção Fundadores”, especificamente no processo criativo, o tema desenvolvido apresentou o desafio
de uma modelagem mais complexa, tendo de repetir ciclos de geração para atingir o resultado
com a qualidade desejada. Novamente a interação entre tecnologias e processo de design permitiu,
em tempo, chegar ao resultado satisfatório enquanto produto comercialmente viável. Outro fator
importante foi o intercambio entre a modelagem analógica e digital para resolução de problemas
formais e de produção. Modelos em papel, em cera e digitais conviveram durante o processo sendo
que os primeiros auxiliaram na decisão de dimensão, forma e composição, enquanto os digitais
foram fundamentais para a discussão do processo produtivo antes da prototipação e permitindo
também um trabalho de produção à distância, bem como a realização de ajustes aos desenhos
para que os mesmo pudessem ser confeccionados. Tudo feito sempre com o acompanhamento
do designer em todas as fases de desenvolvimento. Quando não houve esse acompanhamento os
resultados levavam a retrabalhos. A Figura a seguir demonstra a diversas fases que depois também
foram utilizadas no JOIAS RS.
A experiência tecnicamente bem sucedida deu a base metodológica para a os demais
projetos entre as duas instituições. Sendo assim, o projeto JOIAS RS 2013 seguiu os mesmos
procedimentos com o diferencial de que a criação deu-se com designers em Santa Maria – RS,
Porto Alegre – RS, Soledade RS, Curitiba – PR, e New York – EUA. Para tanto foram usadas
TIC (tecnologia de informação e comunicação) semelhantes às utilizadas em ensino à distância,
que permitiram a interação dos criadores na fase de concepção. De forma muito didática, foram
utilizados constantemente modelos analógicos que eram fotografados e discutidos em rede, ana-
lisados e aperfeiçoados até o fechamento de um modelo virtual, que era prototipado e aprovados
1
Coordenador do projeto Juliano Tonezer da Silva; Coordenação de Design Carlos Gustavo Martins
Hoelzel; Gestão da criação e modelagem virtual 3D Tatiana Lago; Renderização Diego Testa,
Tatiana Lago; Criação Carla Medianeira Silva Nogueira, Diego Testa, Eliana Paula Calegari,
86 Tatiana Lago; Assistência de criação Caroline Müller , Daiane Brondani, Lilia Temp Monteiro; 87
Figura 1. Modelo de Processo Projetual da Coleção Fundadores. (TESTA, 2011) Apoio técnico Edmundo Abreu e Lima.
pelos designers da equipe e coordenação do projeto. Há que ressaltar que essa equipe contava com Figura 3 - Pulseira Baia
experiente em design e joalheria teve contribuição de outras áreas de conhecimento pois na forma- Uma metáfora das baias de um dos maiores companheiros
ção acadêmica desses atores do processo também estavam engenharia de produção, artes visuais, do homem do campo. Metal com banho de ouro, ágata
tecnologia de materiais e computação gráfica. cortadas por jato d’água.
Quanto ao desafio criativo, o grupo enfrentou um trabalho de uma joalheria contempo-
rânea com forte referência identitária gaúcha mas globalizada nas tendência vigentes. Esse proble-
ma foi também um diferencial que permitiu um desenho mais original quando as peças eram me-
nos icônicas. Também foi eleborado no projeto uma catálogo e manual técnico de referência para
os produtores interessados em reproduzir as joias. A seguir algumas renderizações das propostas e
suas referências poéticas inspiradoras.
Resíduo Industrial
O resíduo industrial utilizado
provém da rolagem de pedras preciosas,
oriundo da cidade de Soledade no estado do
Rio Grande do Sul. Observando-se a Figu-
ra 1 e os resultados apresentados na Tabela
1, identifica-se que o resíduo em estudo é
Cal hidratada
Figura 3.
A cal utilizada é do tipo CH-III, Curva de
proveniente da cidade de Colombo/PR. Em compactação
sua composição química apresenta ≤ 13% obtida para
de anidrido carbônico quando em fábrica, e a mistura
≤ 15% quando no depósito, ≤ 15% de óxido resíduo-cal.
não hidratado calculado, e ≤ 88% de óxi-
dos totais na base de não voláteis (CaO +
MgO). No que diz respeito as suas carac- Avaliação da resistência a compressão simples (RCS)
terísticas físicas ≥ 15% de material retido
na peneira nº 200, uma retenção de água ≥ Tabela 1. Percentual em massa dos compostos Na Figura 4 são apresentadas as principais etapas adotadas na preparação das amostras
70%, uma plasticidade ≥ 110% e incorpo- presentes no resíduo industrial. para os ensaios de compressão simples. Tais amostras foram preparadas em cilindros bipartidos,
ração de areia ≥ 2,2%. Sendo esses valores com diâmetro e altura iguais respectivamente a 50 mm e 100 mm. Todas as amostras foram pre-
obtidos do programa de qualidade da cal hidratada para a construção civil, TESIS (Tecnologia de paradas utilizando-se os parâmetros obtidos a partir do ensaio de compactação. Sempre ao final da
Sistemas em Engenharia LTDA). preparação de cada amostra, a mesma foi submetida a pesagem e da porção excedente ao utilizado
para a confecção da corpo de prova, foi retirada uma pequena porção para a verificação da umidade
Metodologia de moldagem. Com o objetivo de uniformizar a confecção dos corpos de prova, foram estabeleci-
Determinação do teor ótimo de cal dos limites para os parâmetros de compactação como apresentado na Tabela 2.
Figura 11. Valores das deflexões máximas observadas com o uso da Viga Benkelman.
Conclusões
Ao final do estudo podem-se chegar as seguintes conclusões:
• Os resultados das misturas preparadas em laboratório apresentaram valores de resistên-
cia a compressão simples relativamente elevados, alcançando valores superiores a 4000 kPa aos 28
dias de cura;
• É importante ressaltar a importância das diferenças das misturas realizadas em labora-
tório e em campo. Este aspecto fica evidente ao analisarem-se as RCS obtidas para as diferentes
misturas.
Agradecimentos
Figura 10. Comparação da RCS das misturas realizadas em laboratório e em
campo. Os autores gostariam de aproveitar o espaço para agradecer o apoio financeiro concedi-
do pela Prefeitura Municipal de Soledade e aos órgãos de fomento FAPERGS, CNPq (Processo
96 477775/2011-0) e a Universidade de Passo Fundo. 97
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LOVATO, R. S. Estudo do comportamento Brasil em beneficiamento de pedras preciosas, como a ágata, logo, o volume de resíduo gerado é
mecânico de um solo laterítico estabilizado bastante expressivo.
com cal, aplicado à pavimentação. Dissertação: A proposta do trabalho é avaliar o comportamento de concretos confeccionados com
Programa de Pós-Graduação em Engenharia resíduo do beneficiamento de ágata como substitutivo do agregado miúdo. O objetivo deste estudo
Civil. Porto Alegre, BR-RS, 164p., 2004. consistiu em verificar a influência da substituição parcial em volume (10% e 20%) do agregado
miúdo natural por pó de ágata, proveniente da região de Soledade/RS, nas propriedades mecânicas
e de durabilidade de concretos produzidos com cimento CP-V ARI-RS.
Metodologia
A. Materiais
Para a realização desta etapa da pesquisa fez-se o uso do cimento Portland de alta re-
sistência inicial (CP-V ARI-RS). Como agregado, utilizou-se areia quartzosa proveniente do Rio
Jacuí-RS e brita de origem basáltica oriunda de jazida da região. Conforme o fabricante, o cimento
utilizado possui massa específica igual a 3,02 g/cm3, superfície específica Blaine 4960 cm2/g, finu-
ra na peineira de malha # 200 igual a 0,1% e na peneira de malha # 300 igual a 1,11%.
O resíduo utilizado na substituição parcial do agregado miúdo é proveniente da região de Sole-
dade/RS e possui massa específica de 2,52g/cm3. A análise do pó de ágata por DRX evidenciou a
predominância do mineral quartzo (Q) na forma cristalina e, na análise por FRX, foi identificado
sílica (SiO2) em teores de 97,1%, bem como a presença de Al2O3 (1,84%) e Na2O, K2O e CaO
em teores menores que 0,5%.
Os agregados, areia de origem natural e brita de origem basáltica, foram avaliados em
relação a sua distribuição granulométrica, em acordo com NBR NM 248 (ABNT, 2003) e NBR
7211 (ABNT, 2009b). A distribuição granulométrica das areias sem e com a incorporação de pó de
ágata, em teores de substituição de 10% e 20%, em volume, resultou em composições de agregado
98 miúdo com distribuição de tamanho de grãos dentro dos limites utilizáveis e módulo de finura 99
igual a 2,21. A massa específica, determinada em acordo com a NBR NM 52 (ABNT, 2009a), foi
de 2,62 kg/dm3. mente. Para os ensaios de absorção de água por capilaridade, em função da variabilidade do ensaio,
O agregado graúdo utilizado apresentou distribuição de tamanho de grãos na zona gra- o número de corpos de prova estimado foi de dez. O trabalho completo totalizou a execução de
nulométrica d/D 9,5/25, dimensão máxima igual 25mm e módulo de finura igual a 7,11. A massa três misturas (M1-(a/c=0,42), M2-(a/c=0,57) e M3-(a/c=0,77)), contabilizando a moldagem de
específica, determinada em acordo com a norma NBR NM 52 (ABNT, 2009a), foi de 2,98 kg/ 117 corpos de prova (39 por mistura). À denominação dos traços foi acrescida, em função da in-
dm3. corporação do pó de ágata, a identificação R, para os traços de referência, e T1 e T2 para os traços
com 10 e 20% de pó de ágata, respectivamente.
B. Métodos
O programa experimental foi realizado em duas etapas. Na primeira, foi executada a B.2 Ensaios Mecânicos
dosagem dos concretos e foram determinados os traços unitários de referência. Ainda nesta etapa, Os ensaios mecânicos foram realizados após o encerramento do período de cura dos concre-
foram calculados os traços de concreto com a substituição parcial em volume do agregado miúdo tos, aos 28 dias. O ensaio de resistência à compressão axial seguiu as prescrições da NBR 5739 (ABNT,
por pó de ágata e foi executada a moldagem dos traços e a cura dos concretos. A segunda etapa do 2007) e o ensaio de resistência à tração por compressão diametral a NBR 7222 (ABNT, 2011).
programa experimental correspondeu à execução dos ensaios mecânicos (resistência à compressão
axial e resistência à tração por compressão diametral) e de durabilidade (absorção de água por B.3. Ensaios de Durabilidade – Absorção da água por capilaridade
capilaridade). Na sequencia é apresentado, de forma mais detalhada, o programa experimental O ensaio de absorção da água não é necessariamente um ensaio de durabilidade, mas um
executado. indicativo de durabilidade, uma vez que a água é um dos principais agentes de transporte de íons
agressivos para o interior do concreto. A execução do ensaio de absorção de água foi regida pela
B.1. Dosagem, moldagem e amostragem dos concretos norma NBR 9779 (ABNT, 2012).
A dosagem experimental foi realizada de acordo com o procedimento do IPT/EPUSP Em função da variabilidade do ensaio, determinou-se que, neste programa experimental, parte
(HELENE e TERZIAN, 1992). O teor ótimo de argamassa dos concretos determinado experi- das amostras destinadas ao ensaio de absorção de água por capilaridade receberia um selamento na sua
mentalmente foi de 52% para abatimento do tronco de cone de 10 +- 2 cm, parâmetros que foram superficial lateral. A outra parte dos corpos-de-prova seria ensaiada “in natura”. O selamento superficial
mantidos para todos os traços de concreto produzidos. O controle de resistência à compressão dos dos corpos-de-prova teve por meta mensurar se a troca de umidade do corpo-de-prova com o ambiente
concretos foi realizado aos vinte e oito dias. é significativa e também verificar se este procedimento reduz a variabilidade do ensaio. O selamento da
Após o ajuste das curvas de dosagem, foi possível a determinação dos traços dos concre- superfície lateral dos corpos-de-prova foi feito com resina epóxi em toda a lateral do corpo-de-prova,
tos utilizados no projeto experimental. Objetivando obter concretos com características distintas, exceto 5+-1 mm acima de sua face inferior, altura que o nível da água deve permanecer constante. Após
determinaram-se, pela curva de Abrams, três diferentes níveis de resistência à compressão axial o procedimento de selamento da superfície lateral, todas as amostras destinadas ao ensaio de absorção de
(45MPa, 30MPa e 15MPa). A partir das equações matemáticas do Diagrama de Dosagem e con- água foram acondicionadas de forma aleatória em caixas plásticas com tampas. As caixas permaneceram
siderando o teor ótimo de argamassa em 52%, foram calculados os traços unitários (Tabela 1). fechadas durante a execução do ensaio, sendo abertas somente para a pesagem dos corpos-de-prova e
para o ajuste do nível da água. O controle do nível de água foi realizado diariamente. Quando necessá-
rio, a adição de água nas caixas foi feita através de um sistema de mangueiras plásticas acopladas a uma
garrafa PET. Esse sistema permitiu que a água fosse inserida diretamente no fundo da caixa, evitando a
molhagem das superfícies laterais dos corpos-de-prova que não receberam selamento superficial.
Resultados e discussões
Tabela 1 – Traços unitários de referência. Os dados dos ensaios laboratoriais passaram por uma análise ANOVA para verificar a
significância dos fatores independentes (relação a/c, teor de ágata, selamento da superfície lateral
Para cada traço de referência (Tabela 1) foram calculados mais dois traços adicionais, um dos corpos-de-prova) nas variáveis de resposta (resistência à compressão axial, resistência à tração
com substituição do agregado miúdo por 10% de pó de ágata e outro com substituição do agregado por compressão diametral, e absorção de água por sucção capilar). Na sequencia são apresentados
miúdo por 20% de pó de ágata. Em função dos materiais não apresentarem a mesma massa espe- os resultados dos ensaios mecânicos e de durabilidade realizados neste programa experimental.
cífica, a substituição do agregado miúdo por pó de ágata foi realizada em volume. A. Resistência à compressão axial
As moldagens dos traços foram realizadas em uma betoneira de eixo vertical e o adensamento dos Os resultados médios de resistência à compressão axial dos concretos, em MPa, para as
concretos nos moldes foi executado com mesa vibratória. Um dia após a moldagem, os corpos- misturas são apresentados na Tabela 2.
de-prova foram desmoldados e acondicionados em uma sala climatizada, permanecendo em cura
submersa até a idade dos ensaios (28 dias).
A principal preocupação quando se realiza experimentos laboratoriais é obter uma repre-
sentatividade significativa no número de corpos-de-prova que serão ensaiados, a fim de que a varia-
bilidade dos ensaios não influencie de modo significativo os resultados da pesquisa. Determinou-se
100 que seriam ensaiados três e cinco corpos-de-prova ( 10x20cm) por traço para aos ensaios mecâ- 101
nicos de resistência à compressão axial e resistência à tração por compressão diametral, respectiva- Tabela 2: Resultados médios de resistência à compressão axial (MPa)
Conforme os resultados (Tabela 2), constata-se que o aumento da relação água/cimen-
to nos concretos implicou na redução da resistência à compressão axial, como o esperado. Com
relação à utilização do pós de ágata em substituição parcial do agregado miúdo, observou-se que,
para os concretos com relação água/cimento baixa (M1), o incremento do pó de ágata, de 10%
para 20%, promoveu uma redução da resistência à compressão axial em comparação com a mistura
de referência. As variações dos resultados das misturas M1T1 e M1T2 em relação à de referência
(M1R) foram de 5% e de 8%, respectivamente. Entre as misturas M1T1 e M1T2 essa redução foi Tabela 4: Resultados médios de resistência à tração por compressão diametral (MPa)
pequena, de aproximadamente 3%. Para os traços com maiores relações água/cimento (M2 e M3),
o aumento do percentual do pó de ágata nos concretos promoveu um incremento na resistência à Os resultados obtidos (Tabela 4) mostram que, à medida que aumenta a relação
compressão axial. Considerando as misturas M2, o crescimento da resistência dos traços M2T1 e água/cimento, a resistência à tração diminui, como o esperado. Observa-se que a substituição
M2T2 e em relação ao M2R (referência) foram de 9% e 4%, respectivamente. Entre as misturas parcial da areia por pó de ágata trouxe benefícios para a resistência à tração dos concretos,
M2T1 e M2T2 houve uma queda de resistência da ordem de 4%. As misturas M3T1 e M3T2 uma vez que o aumento dos teores proporcionou ganhos de resistência em todas as misturas
apresentaram acréscimos de 21% e 41% em relação à mistura M3R e de 16% entre si. investigadas.
Objetivando um melhor entendimento do comportamento dos concretos em função das Objetivando verificar a real influência das variáveis independentes (relação a/c e
variáveis independentes (relação água/cimento e teor de pó de ágata) foi realizada uma análise teor de pó de ágata) na variável de resposta (resistência à tração por compressão diametral)
ANOVA dos resultados. A Tabela 3 mostra estatisticamente a influência da relação água/cimento foi realizada uma análise ANOVA dos resultados, apresentada na Tabela 5. De acordo com os
e do teor de ágata através da análise de variância dos resultados de resistência à compressão axial. resultados da análise de variância (Tabela 5) é possível observar que a “relação água/cimen-
O valor de “p” inferior a 0,05 indica que a relação entre as variáveis é estatisticamente significativa to (a/c)” e o “teor de pó de ágata” influenciam significativamente nos resultados de tração,
a um nível de confiança de 95%. A análise da Tabela 3 permite verificar que a variável relação água/ uma vez que os valores de “p-nível” obtidos para as duas variáveis foram inferiores a 0,05. A
cimento e a interação dos fatores “relação água/cimento” e “teor de pó de ágata” são significativos, relação água/cimento determina a porosidade da pasta de cimento endurecida em qualquer
isto é, influenciam na variável de resposta (fc). No entanto, a variável “teor pó de ágata”, isolada- estágio de hidratação. A rigor, a resistência do concreto é influenciada pelo volume de todos
mente, não foi significativa (p>0,005), evidenciando que, para este estudo, a utilização de diferentes os vazios: ar aprisionado, poros capilares, poros do gel e ar incorporado, quando presente. Em
teores do resíduo nos concretos não influenciou nos resultados de resistência à compressão axial. outras palavras, a resistência da pasta de cimento depende basicamente da estrutura física
de todos os vazios, conjuntamente, mas não se pode desconsiderar a composição química do
cimento, bem como seu consumo numa mistura de concreto (VIEIRA, 2008).
Metodologia
Os trabalhos de pesquisa de agrominerais são realizados no âmbito da CPRM
com levantamento de dados de estratigrafia, geofísica (cintilometria e kappametria),
geologia estrutural, litoquímica e petrografia, contando com as ferramentas do Sistema
de Informações Geográficas, que facilitam a análise, a gerência e a representação das
informações aportadas, bem como sua integração. Os resultados, quando da conclusão
do projeto, serão apresentados em formato vetorial e raster. Os arquivos digitais poderão
ser manipulados através do Programa ArcExibe 8.0 (visualizador da CPRM, de livre
distribuição) e acessados no site da CPRM através de seu banco de dados institucional,
o GEOBANK.
Os dados de litoquímica referidos neste trabalho são resultantes de análises
para óxidos maiores e elementos traços efetuadas pelos métodos de ICP (Inductive-
ly Coupled Plasma) e ICP-MS (Inductively Coupled Plasma Mass Spectrometry), a
maioria realizada pelo laboratório ACME do Canadá. Foram extraídos de um banco de
dados montado com base em bibliografia relativamente recente (Bergmann et al.2013)
que totaliza 773 amostras, 704 das quais correspondem a rochas de afiliação basáltica,
distribuídas ao longo de toda a extensão da Formação Serra Geral (Fig.1).
Resultados e discussões
Figura 1 - Distribuição das amostras com litoquímica tratada ao longo da Formação Serra Geral no
As rochas básicas, que predominam amplamente ao longo da extensão em área Brasil. Para o Rio Grande do Sul encontram-se discriminados vários fácies entre vulcânicas básicas e
do Grupo Serra Geral têm teores de sílica médios entre 50 e 53% e quantidades rela- ácidas, para os demais estados discrimina-se básicas e ácidas (cores mais claras) Adaptado de Bergmann
tivamente maiores de Mg, Ca e P. Os termos ácidos (dacitos e riolitos), que perfazem et al..2013.
a fração de 2,5% em volume do vulcanismo (Nardy et al., 2008), têm teores médios de
sílica entre 65 e 72% e quantidades geralmente menores de Mg, Ca e P, ao passo que seu Análise dos Dados de Litoquímica
conteúdo de K pode ser até nove vezes superior ao dos basaltos.
A mineralogia essencial dos basaltos comporta plagioclásios cálcicos (labrado- De maneira ampla, os basaltos da Formação Serra Geral apresentam características mui-
rita e andesina) e piroxênios, ambos minerais suscetíveis ao intemperismo e que podem to próprias ao emprego na agricultura na forma de pós de rocha sendo em sua maior parte isentos
liberar óxidos de Mg e Ca. A apatita, mineral do grupo dos fosfatos, ocorre como aces- de quantidades impeditivas de elementos nocivos ou potencialmente nocivos como As, Cd, Cr,Hg
sório (<3%), em agulhas micrométricas ocas e septadas, incluídas nos demais minerais e Pb (Instrução Normativa MAPA 27/2006).
da rocha ou em domínios devitrificados. Estes fatores podem determinar a abertura Quase toda a sílica presente nos basaltos está disponível para liberação no solo, uma vez
dos cristais de apatita, com consequente aumento de sua solubilidade no meio exógeno que se encontra em minerais com plagioclásios e piroxênios, suscetíveis à degradação quando em
(Bergmann et al., 2009). contato com ambiente solo-planta.
Os dacitos e riolitos apresentam conteúdo maior de sílica e dos álcalis K e Na em A soma de bases (CaO+MgO+K2O), com valores médios em torno de 15%, indica
relação aos basaltos, e neles predominam feldspatos potássicos, plagioclásios sódicos percentuais interessantes de macronutrientes como Ca e Mg, com K em menor quantidade. Os
(oligoclásioe andesina), piroxênios e quartzo. As apatitas são também constituintes da teores de Na2O raramente ultrapassam 3%, e não se constituem em restrição para emprego das
120 mineralogia acessória, embora os teores de P2O5 sejam um pouco inferiores, cotejados rochas, nem mesmo em solos sob regime de déficit hídrico. 121
aos dos basaltos. A grande maioria das rochas basálticas, indica razões favoráveis de CaO:MgO sob o
ponto de vista agronômico, sendo considerada a razão ideal de Ca:Mg como de 3 a 4:1 como ade-
quada em solos equilibrados, e micronutrientes como Cu, Mn, Zn, Co, V, Ni apresentam teores que
caracterizam os basaltos do Grupo Serra Geral como muito propícios ao emprego na reminerali-
zação de solos. Os teores de Cu, micronutriente essencial para as plantas e especialmente benéfico
para frutíferas, podem ser maiores que 200ppm, valor que ultrapassa largamente os valores críticos
e suficientes para teores em solos (Van Straaten (2007).
Entre os dacitos fica evidente a importância do óxido de K, em detrimento do Ca e do
Mg. Em boa parte das amostras o conteúdo de K mostra-se superior à soma dos óxidos de Ca e
Mg. Dentre as rochas consideradas, 62% apresentam valores de K2O>4,0, sendo o valor máximo
5,18% de K2O. Um total de 60% das amostras acusa Na2O>3,0, entretanto com valores que não
ultrapassam 3,88%.
Embora com teores de sílica mais altos, os dacitos apresentam parte da mesma na forma
de quartzo, fato que deve ser ponderado pelo risco de adição de um material inerte que pode, a
longo prazo, comprometer a estrutura dos solos, uma vez considerada a aplicação repetida e de
doses elevadas deste tipo de pó de rocha. Porém, considerando a soma de bases como critério para
definição de doses agronômicas, tal risco pode ser minimizado ou mesmo desprezado.
Entre as rochas vulcânicas ácidas, as do tipo Chapecó (Nardy et al., 2008) apresentam os maiores
teores de álcalis e de P2O5, para o último, com valores que com frequência. ultrapassam 5%.
Critérios Petrográficos
A presença de óxidos e elementos em determinada rocha pode ser quantificada pela
litoquímica, mas não corresponde de forma direta aos totais de cátions disponíveis para assimilação
pelas plantas. Isto ocorre por que os minerais que são típicos de cada rocha respondem de maneira
diferente aos agentes do ciclo de intemperismo, e a liberação de elementos e compostos úteis à Figura 2. Rochas basálticas da Folha Três Passos 1:100.000. A - Aumento de 5x, LN. Cavidades dikti-
nutrição vegetal, que vai ocorrer com a abertura dos sistemas cristalinos, depende das condições de taxíticas preenchidas por celadonita, com argilização à celadonita mais desenvolvida sobre plagioclásios.
estabilidade físico-química de cada um deles. Para uma compreensão simplificada deste processo B – Aumento 2,5x. Fenocristal de plagioclásio com bordos corroídos em matriz intergranular a ripas
pode-se usar a regra expressa pelo “Ciclo de Bowen”, que determina que minerais cristalizados a subédricas de bordos e macla difusa LP. C- Domínios intersertais a cristais de plagioclásio e clinopiro-
temperaturas e pressões mais altas são menos estáveis na superfície da crosta terrestre (ambiente xênio com produtos devitrificados de cor salmão.LN 40x. D- Detalhe da parte central de C- Cristal de
exógeno). Assim, a ordem de cristalização dos minerais em uma rocha determina grosso modo sua piroxênio com macla em ampulheta, à direita de produtos de devitrificação de birrefringência baixa. LP
susceptibilidade relativa ao intemperismo. 100 X
Ainda diferentes texturas de cristalização, transformações que podem ocorrer no sistema
rocha após diferenciação das fases minerais e/ou eventos de deformação podem levar a fragilidades O vidro vulcânico é um material sem estrutura cristalina, que se degrada prontamen-
no sistema cristalino, propiciando condições para a abertura dos minerais. Dentre estes fatores des- te quando submetido ao intemperismo, transformando-se em uma mistura de argilominerais e
taca-se nas rochas ígneas o hidrotermalismo. Processos hidrotermais do tipo argilização, albitização zeolitas capaz de incrementar a Capacidade de Trocas Catiônicas (CTC) dos solos, enquanto os
e zeolitização são comumente relatados nos basaltos (Gomes, 1996; Duarte, 2008; Hartmann et al., minerais cristalizados de maneira brusca tendem a ter tamanho menor, e a apresentar um menor
2011 entre outros), e também estão presentes nos dacitos (Fig.2A). Eles podem ser responsáveis grau de ajuste da estrutura cristalina, o que também favorece sua degradação (Figs 2B, C e D).
por modificações na mineralogia primária das rochas e podem provocar a abertura das fases mine- Para basaltos e dacitos a presença de vidro (material não cristalino, muito suscetível ao intem-
rais, facilitando a liberação de nutrientes. Nas análises litoquímicas o grau de alteração hidrotermal perismo) e cavidades diktitaxíticas, preenchidas por filossilicatos, são indicativas de rochas com
pode ser estimado preliminarmente pelos valores de perda ao fogo (LOI, loss by ignition). Generi- maior potencial de liberação de nutrientes. Também nos dois conjuntos de rochas as fases minerais
camente, rochas ígneas com valores de perda ao fogo maiores que 3% foram submetidas à alteração apresentam abertura facilitada em condição exógena. Isto inclui o comportamento anômalo do
hidrotermal ou intempérica. feldspato potássico nos dacitos, com forte indicativo para liberação de K, em função das feições
Todos os processos citados devem ser investigados pela petrografia, técnica pela vítreas peculiares destas rochas, como a textura micrográfica, dada por intercrescimento de quartzo
qual secções delgadas de rochas são examinadas ao microscópio petrográfico permitindo o e feldspato alcalino, além de textura esferulítica própria de feições de devitrificação (Grecco et al.
reconhecimento de minerais, sua textura, o tamanho dos grãos e o estado de sanidade. 2012), fig. 3.
As rochas vulcânicas são caracteristicamente constituídas por grãos muito finos, podem ser Por fim, para que se determine a cominuição necessária para a efetividade de uso de determi-
afaníticas (grãos menores que 1 mm), e conter percentuais variados de material vítreo, pro- nada rocha como remineralizador de solos, é importante o registro das faixas de tamanho de grão de cada
122 priedades decorrentes da cristalização rápida dos magmas na superfície da crosta terrestre. um dos constituintes minerais. Os minerais devem ser quebrados, do contrário as partículas geradas serão 123
agregados de grãos, o que diminui a reatividade química do pó de rocha em solos.
como remineralizadores de solos empobrecidos em nutrientes. De posse das informações petro-
gráficas pode-se determinar a granulometria mais favorável ao intemperismo dos pós de rocha,
averiguar quais minerais têm possibilidade teórica (condições de estabilidade físico-química) de
liberar determinados óxidos e elementos no ciclo exógeno a prazos compatíveis, avaliar a presença
de minerais secundários que indiquem processos hidrotermais e determinar aspectos de textura
que facilitem a quebra dos sistemas cristalinos, interferindo no comportamento teórico de cada
mineral.
O estudo petrográfico detalhado das rochas vulcânicas deve ser complementado com
técnicas e instrumentos como o Microscópio Eletrônico de Varredura (MEV), para investigar
feições de dissolução em faces de minerais, podendo estabelecer correlações entre estes fatores e
o desempenho agronômico de pós de rocha em experimentos de casa de vegetação e de campo,
além de testes em colunas de lixiviação para extração e avaliação de elementos traços e nutrientes
solúveis em água (Bamberg et al. 2011).
Ainda zeolitas e calcita presentes em quantidades apreciáveis em lobos basálticos de
franjas de derrames, zonas amigdaloides e brechas de topos de derrame podem apresentar poten-
cial para condicionamento de solos, desde que não estejam em paragêneses onde a família da sílica
seja expressiva, pois neste caso o uso do material poderia agregar minerais inertes indesejados no
solo (Bergmann 2014).
Conforme preconizam os trabalhos sobre uso de pós de rocha, e as normas que deverão
regulamentar seu uso e comércio, além da caracterização química e petrográfica é imprescindível a
realização de testes de desempenho agronômico.
Referências Bibliográficas
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Diversas pesquisas realizadas nos últimos anos (Bamberg et al., 2012; Grecco et al., 2012; BERGMANN, M., SILVEIRA, C.A.P.,
Ribes et al., 2012; Silveira, 2012; Milech et al., 2013; Bamberg et al., 2013; Grecco et al., 2013) BAMBERG, A.L.; SILVEIRA, C.A.P.; BAMBERG, A.L., MARTINAZZO, R.,
tem indicado que os diferentes pós de rocha podem ser fontes potenciais de nutrientes para as MARTINAZZO, R.; BERGMANN, M.; GRECCO, M. F. Representação de dados li-
plantas, desde que submetidos aos processos de adequação, os quais variam com os tipos de mine- GRECCO, M.F.; POTES, M.L. Desempenho toquímicos em rochas vulcânicas da formação
rais presentes na rocha, sua forma de aplicação e tipo de solo e as culturas onde serão utilizados. agronômico de fontes minerais e orgânicas de Serra Geral da Bacia do Paraná: uma ferramen-
De um modo geral, tais pesquisas permitiram que rejeitos da atividade de mineração passassem a nutrientes para as culturas de milho e trigo. In: ta para investigação do potencial de uso agro-
ser considerados agrominerais, isto é, matérias-primas passíveis de uso agrícola. Ao mesmo tempo, II Congresso Brasileiro de Rochagem, Poços nômico. CONGRESSO BRASILEIRO DE
constatou-se que devido às diferenças na dinâmica de liberação dos elementos que constituem os de Caldas, MG, 2013a. ROCHAGEM, 2, 2013. In: Anais... Poços de
minerais das rochas, há a necessidade de combinar diferentes tipos de agrominerais e fontes orgâ- Caldas, D.F., 2013. 6 p.
nicas visando suprir adequadamente os sistemas de produção agrícolas. BAMBERG, A.L., SILVEIRA, C.A.P., PO-
TES, M.L., PILLON, C.N., LOUZADA, BERGMANN, M. Distribuição e Potencial
Conclusões R.M., CAMPOS, A.A. Dinâmica de liberação de Aproveitamento Econômicodos Basaltos
de nutrientes disponibilizados por diferentes Amigdalóides à Zeolitas do Grupo Serra Geral
A análise dos dados litoquímicos é o primeiro passo ao se considerar o uso dos pós de tipos de rochas em colunas de lixiviação. In: da Bacia do Paraná, p 261-275. Metalogenia e
rocha na agricultura. As rochas vulcânicas do Grupo Serra Geral destacam-se como portadores CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊN- Exploração Mineral no Grupo Serra Geral. /
124 de macro e micronutrientes, e fatores implícitos à sua mineralogia e textura decorrem são fortes CIA DO SOLO, 33, 2011. In: Anais...Uber- Organizadores: Léo Afraneo Hartmann; Sér- 125
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SILVEIRA, C.A.P.; MARTINAZZO, R. Li- de União da Vitória.
beração de nutrientes por fonolitos da Suíte RESUMO: Soledade consolidou-se nos últimos anos como centro estadual de industrialização,
Alcalina Passo da Capela. In: Simpósio Sulbra- MILECH, R.; SCHNEIDER, F.C.; SILVEI- comercialização e exportação de pedras preciosas, atualmente, 180 empresas continuam ativas no
sileiro de Geologia, Porto Alegre, RS, 2013c. RA, C.A.P.; BAMBERG, A.L. Avaliação de setor, estas empresas beneficiam ágata através das atividades de serragem, tingimento, lixamento
GRECCO, M. F., BERGMANN, M., BAM- diferentes doses de granodiorito como fonte e polimento, produzindo diversos artefatos para comercialização. Nesses processos são gerados
BERG, A. L., SILVEIRA, C.A. P., MARTI- de potássio na cultura da amora-preta. In: II resíduos líquidos e sólidos, na etapa de serragem da ágata é gerado um resíduo sólido (lodo oleoso),
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remineralização de solos. Workshop Insumos meio ambiente. Esse resíduo é enquadrado como Classe I - Resíduo Perigoso - conforme a NBR
para Agricultura Sustentável. Resumos Expan- NARDY, A.J.R., MACHADO, F.B., OLI- 10004 (ABNT, 2004) e demanda soluções tanto do ponto de vista de gerenciamento do processo
didos, 6p. Embrapa Clima Temperado Pelotas. VEIRA M.A.F. As rochas vulcânicas mesozói- quanto da manutenção do passivo acumulado. Visando buscar soluções para esta problemática, o
GOMES, M.E.B.,. Mecanismos de resfria- cas ácidas da Bacia do Paraná: litoestratigrafia presente estudo teve por objetivo separar o óleo diesel da parte sólida do resíduo, através da apli-
mento, estruturação e processos pós-magmáti- e considerações geoquímico-estratigráficas. Re- cação de diferentes pressões em um equipamento de compressão. Para o processo de separação do
cos em basaltos da Bacia do Paraná - Região de vista Brasileira de Geociências, v.38,n.1, p.178- resíduo/lodo oleoso, foi utilizado um equipamento de compressão onde o resíduo foi submetido
Frederico Westphalen (RS), Brasil, 1996. Tese 195, 2008. a diferentes pressões (6,4 MPa, 4,2 MPa e 2 MPa), com três diferentes pesos (150 g, 225 g e 300
(Doutorado), Instituto de Geociências, Univer- g). Observou-se que as maiores remoções de massa de óleo diesel ocorreram com a pressão de 6,4
sidade Federal do Rio Grande do Sul Porto RIBES, R.P.; BUSS, R.R.; LAZARI, R.; PO- MPa, sendo que a melhor porcentagem de remoção foi observada na amostra de 300g e pressão
Alegre, 1996. TES, M.L.; BAMBERG, A.L. Efeito de rochas de 6,4 MPa.
moídas sobre a concentração de macronutrien-
HARTMANN, L.A., DUARTE, L.C., MAS- tes na parte áerea de plantas de milho. In: Anais Palavras-chave: ágata, beneficiamento, resíduo sólido.
SONE H.J., MICHELIN, C., ROSENSTEN- do I Workshop Insumos para Agricultura Sus-
GEL, L.M., BERGMANN, M., THEYE, tentável, Pelotas, RS, 2012. ABSTRACT: Soledade established itself in recent years as a state center of industrialization,
T., PERTILLE, J., ARENA, K.R., DUAR- commercialization and export of gems currently 180 companies remain active in the industry,
TE, S.K., PINTO, V.M., BARBOZA, E.G., SILVEIRA, C.A.P. Experiências da Embrapa these companies benefit agate through the sawdust, dyeing, sanding and polishing activities, pro-
ROSA, M.L.C.C., WILDNER,W. Sequential Clima Temperado com agrominerais em di- ducing many artifacts for commercialization. In these processes liquid and solid wastes are gene-
opening and filling of cavities forming vesicles, ferentes sistemas de produção. In: Anais do I rated in step sawdust agate generate a solid residue ( oil sludge) , which is basically comprised of
amygdales and giant amethyst geodes in lavas Workshop Insumos para Agricultura Sustentá- diesel oil ( lubricant used in saw machine) and silica ( powder agate ) , if is not well managed , has
from the southern Pa-rana volcanic province, vel, Pelotas, RS, 2012. a great potential for environmental contamination . This residue is framed as Class I - Hazardous
Brazil and Uruguay. International Geology Re- waste - according to NBR 10004 ( ABNT , 2004) and demand solutions from the point of view of
view, p. 1-14, 2010. VAN STRAATEN, P. Agrogeology: The use of managing the process and maintaining the accrued liability . In order to provide solutions to this
rocks for crops. Ontario Canada: Enviroquest problem , the present study aimed to separate the diesel part of the solid waste , by applying diffe-
JUCHEM, P. Mineralogia, geologia e gênese Ltda 2007. 440p. rent pressures in a compression equipment . For the process of separating the waste / oily sludge ,
126 dos depósitos de ametista da Região do Alto a device where the compression residue was subjected to different pressures ( 6.4 MPa , 4.2 MPa 127
Uruguai, rio Grande do Sul. Tese de doutorado. to 2 MPa ) with three different weights (150 g, 225 g, was used 300 g). It was observed that the
greatest reductions in mass occurred diesel pressure of 6.4 MPa , and the best removal percentage
was observed in the sample of 300 g and a pressure of 6.4 MPa.
Introdução
Soledade é a cidade pólo do APL - Arranjo Produtivo Local de Pedras, Gemas e Jóias
do Rio Grande do Sul. Consolidou-se nos últimos anos como o centro estadual de industriali-
zação, comercialização e exportação de pedras preciosas, sendo reconhecido como “Capital das
Pedras Preciosas” (Lei estadual nº 12.874/07). No município, 180 empresas continuam ativas no
setor e estão associadas à APPESOL (Associação dos Pequenos Pedristas de Soledade) e/ou ao Figura 1:
SINDIPEDRAS (Sindicato das Indústrias de Joalheria, Mineração Lapidação, Beneficiamento e Processo de
Transformação de Pedras Preciosas do Rio Grande do Sul). Estas empresas beneficiam ágata atra- recuperação
vés das atividades de serragem, tingimento, lixamento e polimento, produzindo diversos artefatos do óleo
para comercialização. Nesses processos são gerados resíduos líquidos e sólidos, os quais tem sido excedente
alvo de ações para minimização do impacto ambiental. efetuado
A etapa de corte/serragem da ágata produz um resíduo sólido (lodo oleoso), popular- na amostra.
mente chamado pelos empresários de “barro da serra”. Esse resíduo é composto basicamente por
óleo diesel (lubrificante utilizado na máquina de serra) e sílica (pó da ágata) que, se não forem bem A amostra do lodo oleoso foi pesada em balança de precisão e separada nos seguintes
gerenciados, possuem um grande potencial de contaminação do meio ambiente (Tramontina et al., pesos: 150 g, 225 g e 300 g. Em seguida, foram realizados os ensaios em triplicata em um equipa-
1997). Nesta etapa, destaca-se que há a utilização de um grande volume de óleo para a lubrificação mento automático de compressão onde as amostras de lodo oleoso foram submetidas a diferentes
e refrigeração da máquina de corte/serragem, gerando a produção de vapor de óleo que impregna pressões (6,4 MPa, 4,2 MPa e 2 MPa) (Figura 2).
todo o ambiente de trabalho, outro fato relevante é a produção de ruído significativamente alto na
empresa.
Atualmente, mais de 40 empresas associadas à APPESOL realizam o processo de corte/
serragem de ágata, resultando numa produção mensal de mais de 14.000 kg de lodo oleoso, o pas-
sivo do lodo nas empresas é superior a 51.000 kg (Vilasbôas et al., 2013). Ocorre também a recu-
peração do óleo diesel, para reutilização no processo, no entanto, o óleo não é totalmente removido
do lodo.
O lodo oleoso fica acondicionado em tambores nas empresas, a destinação adequada des-
se resíduo demanda custos, sendo esse o principal motivo da maioria das empresas armazenarem o
resíduo.
Esse resíduo é enquadrado como Classe I - Resíduo Perigoso - conforme a NBR 10004
(ABNT, 2004) e demanda soluções tanto do ponto de vista de gerenciamento do processo quanto
da manutenção do passivo acumulado.
Visando buscar soluções para esta problemática, o presente estudo teve por objetivo se-
parar o óleo diesel da parte sólida do resíduo, através da aplicação de diferentes pressões em um
equipamento de compressão. Figura 2: Fluxograma do experimento.
Metodologia O equipamento utilizado para a compressão utilizado nos ensaios dispõe de um cilindro
composto por filtro (papel TNT) e de um ducto para escoamento do óleo (Figuras 3 e 4). Após a
A amostra do lodo oleoso (resíduo sólido) utilizada neste experimento foi coletada numa prensagem de cada amostra, foi realizada a troca do filtro. Para quantificar a parte líquida separada
empresa situada no município de Soledade-RS. Após a retirada da amostra do lodo oleoso da da sólida, o líquido foi coletado em provetas, mensurado e pesado em uma balança de precisão. Os
máquina de serra a amostra passou por um processo de recuperação do óleo sendo utilizado um ensaios foram realizados no Laboratório de Ensaios Geotécnicos e Geoambientais da Escola de
método empírico onde o lodo oleoso é misturado a água e agitado em uma betoneira por aproxi- Engenharia da UFRGS.
128 madamente 30 min, após a retirada do óleo excedente, o resíduo foi colocado num recipiente limpo Os dados das avaliações, foram submetidos a análise estatística, realizada através do 129
e seco, sendo acondicionado em temperatura ambiente sem exposição ao sol. Programa OriginPro 8, ANOVA e Teste de Tukey a 5% de probabilidade.
Resultados e discussão
Para a determinação da eficiência no processo de separação da parte líquida do resíduo
solido foram consideradas a massa inicial do resíduo antes da compressão e a massa coletada nas
provetas ao final de cada ensaio.
Os valores de massa coletados, expressos em gramas, após a execução dos ensaios são
apresentados na tabela 1.
Com base nos resultados, observou-se que as maiores remoções de massa com óleo
diesel ocorreram com maior pressão que é a de 6,4 MPa, sendo que a maior remoção ocorreu com
300g de amostra e pressão de 6,4 MPa.
Figura 3: Equipamento de
compressão utilizado nos ensaios.
Figura 5: Porcentagem média de remoção da fração líquida em função das diferentes pressões.
Figura 4:
Detalhe do Os resultados demonstram que há uma relação entre a pressão e a massa de óleo remo-
equipamento vida, os dois apresentam uma tendência linear e uma correlação positiva, ou seja, quanto maior a
com o filtro pressão maior a quantidade de massa de óleo removida (Figura 5).
utilizado para Como forma de verificar se há diferenças estatísticas entre as pressões utilizadas e o peso das
a remoção amostras, os resultados foram submetidos a uma análise de variância (ANOVA) com dois critérios
do óleo. de classificação (two way) usando o teste de Tukey como forma de verificar se as médias diferem
130 entre si. 131
De acordo com Callegari-Jacques (2003) para que os resultados da ANOVA sejam vá-
lidos é necessário que os dados apresentem uma distribuição normal. Com base dessa informação Através dos dados apresentados na figura acima, pode-se afirmar que há diferença signi-
foi realizado uma análise de normalidade dos dados através do teste de Shapiro-Wilk. O resultado ficativa entre as médias uma vez que Sig é igual a 1, ou seja, os resultados obtidos com diferentes
é demonstrado na figura 6. pesos e com diferentes pressões diferem entre si estatisticamente (150g ≠ 225g ≠ 300g e 2 MPa
≠ 4,2 MPa ≠ 6,4 MPa). Portanto é possível afirmar que os melhores valores de remoção da fração
líquida ocorreram com uma pressão de 6,4 MPa e uma amostra de 300g.
Diferentes técnicas têm sido usadas em estudos anteriores, para o tratamento de resí-
duos sólidos visando alterar as características dos resíduos, reduzindo o volume e a periculosidade,
com o intuito de incorporar este resíduo em outra atividade industrial.
Com objetivo de reutilizar o óleo diesel no processo de serragem, estudos de Cechin,
Figura 6: Ensaio de normalidade pelo método de Shapiro-Wilk. (2011); Thome et al. (2012), realizaram um sistema adaptado de lavagem de solo (Soil Washing)
com hidróxido de sódio para remoção da carga poluente existente no lodo oleoso, atingiu eficiên-
Os dados possuem uma distribuição normal a uma significância de 0,05 uma vez que o cia de remoção superior a 95% do contaminante numa temperatura de 60 ºC e a molaridade de
valor calculado (0,95268) é maior que o valor tabelado (0,24883). Após a confirmação da norma- hidróxido de sódio de 0,22 mols/L.
lidade dos dados, os mesmos foram submetidos a uma análise ANOVA, os resultados podem ser Uma alternativa para o reuso do resíduo seco é encontrada nos trabalhos de Bruxel
visualizados na figura 7. (2011) e Bruxel et al. (2012) os quais propõem a sua incorporação na massa cerâmica. Isso é
possível dada às características em comuns apresentadas pelo lodo oleoso e pela argila, visto que
ambos possuem em sua composição uma quantidade expressiva de sílica. Nos trabalhos foram
desenvolvidos testes incorporando-se diferentes quantidades de lodo, sendo os corpos de prova
produzidos em escala industrial, o que possibilitou a obtenção de resultados mais confiáveis, sendo
o melhor resultado obtido a partir da incorporação de 5% de lodo a massa cerâmica. O uso de
percentuais superiores poderia comprometer a qualidade, a resistência e a estética do tijolo, além
de gerar um maior desgaste dos equipamentos, elevando o custo de produção, o que resultaria em
uma produção não sustentável do ponto de vista financeiro.
Para Bruxel (2011), a incorporação do resíduo na massa da cerâmica vermelha repre-
senta um destino final ambientalmente correto e que contribui para a inertização de elementos
potencialmente tóxicos. Observa-se também que este procedimento pode gerar retornos finan-
ceiros tanto para as empresas beneficiadoras de gemas, a qual reduz o seu gasto para tratá-lo e
Figura 7: Resultado da análise estatística ANOVA. dar o destino correto, como para a empresa produtora de cerâmica, a qual necessita comprar uma
quantidade inferior de argila utilizada no processo de produção da cerâmica.
Com base dos resultados da análise na figura 7, é possível afirmar que há diferença entre
as variáveis (FactorA = peso das amostras (150g, 225 g e 300g) , FactorB= pressão (2MPa, 4,2 MPa Considerações finais
e 6,4 MPa) uma vez que o valor de F é maior que o valor de P.
De acordo com essa informação foi realizado o teste de Tukey visando identificar quais De um modo geral, o processo de compressão do lodo oleoso para a remoção da fração
as médias que diferem significativamente entre si. Os resultados são demonstrados na figura 8. líquida foi eficiente, obtendo os melhores valores quando utilizado uma amostra com 300g e apli-
cada uma pressão de 6,4 MPa. No entanto devem ser realizados estudos mais detalhados, como
a determinação dos teores de óleo presente na amostra através do método Soxhlet de extração de
óleos e graxas e análise de umidade para determinar o teor residual na amostra.
Agradecimentos
Os autores agradecem a empresa Gonsan Pedras por disponibilizar o resíduo sólido
(lodo oleoso), ao CNPq pela concessão de bolsas de estudo e à Fapergs pelo apoio financeiro para
o desenvolvimento do presente projeto de pesquisa.
Referencias Bibliográficas
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(2) Doutorando, Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil, Universidade Federal do
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Passo Fundo, Passo Fundo, 2011. 2013, p. 58-61. O Brasil é um país privilegiado com a disponibilidade de recursos minerais em seu ter-
ritório, sendo estes de diversidade biológica, hídrica e mineral. O potencial exploratório existente
THOMÉ, A.; CECCHIN, I.; FREITAS, no país tem para a sociedade um sentimento misto de orgulho e preocupação, pois um crescimento
M.da S. Descontaminação de Resíduo Con- desordenado das atividades de extração vem a muito causando discussões nos cunho ambiental.
taminado com Diesel com aplicação de Soil Econômico e social (COSTA, 2007).
Washing Modificado. IN: Mostra de resultados Os impactos referentes à atividade de mineração requerem especial importância devido
de pesquisas aplicadas ao arranjo produtivo de ao alto grau de degradação ambiental que ocorre em maior ou menor intensidade, dependendo das
gemas e joias do Rio Grande do Sul. Porto Ale- técnicas utilizadas na exploração.
gre: IGEO/UFRGS, 2012. Estudos demonstram que o setor mineral brasileiro agrega milhares de pessoas desde
a extração ate o beneficiamento, que tiram desta atividade o meio de sustento para suas famílias.
Estima-se que 95% do total minerado no país seja realizado por pequenas minerações, sendo a
região sul, responsável por 21% deste montante (FOLLE, 2002, FARIA 2002).
O Rio Grande do Sul é o estado brasileiro conhecido internacionalmente por sua rique-
za na produção de ágatas e ametistas. Estes materiais, largamente exportados por vários países do
mundo, são produzidos em grande parte na região do Vale do Taquari e arredores, tendo destaques
as cidades de Ametista do Sul e Soledade.
No município de Soledade, devido a condições socioeconômicas envolvidas na ativida-
de, os processos de beneficiamento ultrapassados e consistem na utilização de uma serra rotativa
para o corte dos geodos, utilizando óleo diesel como lubrificante. Demais óleos são utilizados
com menor frequência por motivos adversos, sendo eles desde preço elevado, ate um desempenho
desfavorável da serra observado através de testes pelos próprios beneficiadores.
O resultado deste processo é uma quantidade significativa de um resíduo composto de
pó de rocha emulsionado em diesel, que detém um aspecto pastoso e é classificado pela legislação
brasileira como um Resíduo Classe I – perigoso (ABNT NBR 10004, 2004), sendo atualmente
submetido a um tratamento precário de retirada de óleo, no que visa gerar uma instabilidade na
ligação entre as partículas de rocha e diesel, proporcionando a liberação de parte do diesel exis-
tente, não obtendo resultado satisfatório, necessitando este ser disposto em um aterro de resíduos
perigosos evitando contaminações.
Diante destas dificuldades no processo de tratamento deste tipo de resíduo e avaliando
134 estudos desenvolvidos por diversos autores (GUEDES, 2010, BHADARI et al., 2000, FENG, 135
2001) propõe-se um trabalho de pesquisa aplicando-se uma tecnologia de remediação, com ob-
jetivo de aperfeiçoar o sistema de tratamento do resíduo, utilizando-se inovações tecnológicas de Foi realizado o ensaio de pH do resíduo com o mesmo método utilizado para medição de pH de solo
tratamento, fazendo uso de um método de impacto físico-químico através de uma solução de em água, a análise apresentou uns valores considerados levemente ácidos, variando de 5,5 a 6.
NaOH aquecida com agitação como uma forma depara afetar a ligação existente entre o diesel e a Os resultados de eficiência de remoção foram diversificados conforme a combinação
partícula de rocha. de variáveis. A análise de óleos e graxas no resíduo in natura, foi realizada em duplicata e com 3
Assim o objetivo do trabalho é propor um sistema adaptado de lavagem de solo (Soil repetições cada. O resíduo apresentou um teor de 39% de diesel, resultado que serviu de base para
Washing) para remoção da carga poluente existente no sólido, gerado a partir do processo produ- o cálculo de eficiência de cada experimento.
tivo de corte das pedras preciosas.
2. Execução dos ensaios laboratoriais
Materiais e métodos
No planejamento experimental, foram aplicadas 3 diferentes concentrações de NaOH:
1. Resíduo estudado 0; 0,175; 0,35 mols/l, sendo estas equivalentes à 0, 7 e 14 g/L do tensoativo. A solução foi feita com
o auxílio de um agitador magnético durante 5 minutos.
O resíduo foi coletado em empresas de beneficiamento de pedras preciosas na cidade de Para a execução do ensaios, promoveu-se a agitação das diferentes soluções de hidróxido
Soledade – RS, sendo estas de pequeno, médio e grande porte, para avaliação de homogeneidade de sódio com o resíduo, em uma relação solução-resíduo de 7:3, sendo a mistura final equivalente
do resíduo perante diferentes processos industriais. a 200 gramas.
Os ensaios de caracterização foram realizados no Laboratório de Geotecnia da Uni- Após a mistura ser totalmente realizada, a mesma foi inserida no agitador magnético
versidade de Passo Fundo (UPF), a determinação do teor de óleo foi realizada no Laboratório de onde foi agitada por períodos de: 10, 15 e 20 minutos em temperaturas controladas de: 50 ºC, 80
Saneamento Ambiental da UPF. ºC e sem aquecimento se mantendo a 20 ºC. Posteriormente, o becker foi deixado em repouso
As amostras foram inicialmente coletadas em um tambor de 50 litros diretamente da para a sedimentação das partículas e flotação do diesel separado, em tempos de: 12, 18 e 24 horas,
máquina de corte. As mesmas foram submetidas a uma homogeneização com o auxílio de uma conforme apresentado no delineamento experimental (Tabela 1). Estabelecido o processo de sedi-
betoneira de construção civil durante um período de 30 minutos e posteriormente armazenado em mentação, promoveu-se a retirada do material sólido sedimentado encaminhando-o para a análise
pequenas amostras de 500 gramas. de óleos e graxas. A Figura 3 apresenta o escopo do ensaio realizado.
O resíduo contaminado passou por uma bateria de testes geotécnicos de classificação, con-
forme as NBRs 6459 (ABNT, 1984), 6508 (ABNT, 1984), 7180 (ABNT, 1984) e 7181(ABNT, 1984)
apresentando na forma in natura um aspecto bastante viscoso conforme mostrado na Figura 1.
Onde:
E: Eficiência de remoção da técnica (%)
Tin: Teor de contaminação in natura do resíduo (%)
Texperimento: teor de contaminação na amostra após o ensaio (%)
Determinado os valores obtidos através do soxhlet, aplicou-se a análise estatística aos
dados, visando avaliar se houve diferença significativa entre eles e elaboração de uma superfície de
resposta a fim de avaliar a melhor combinação.
Resultados e discussões
A Tabela 1 apresenta os valores de eficiência obtidos em todos os tratamentos realizados no experi- Figura 3: Configuração conceitual do experimento
mento de soil washing. A Figura 3 apresenta de maneira visual os resultados expressos na Tabela 1.
Visando pro- que todos possuem em sua combinação o teor de 0,35 mol/L de NaOH, demonstrando novamen-
mover uma melhor análi- te a influência dessa variável no processo de remoção.
se dos resultados obtidos, Analisando os tratamentos com concentração de 0 mol/L de hidróxido de sódio, observa-
adotou-se a divisão em se que na ausência do agente químico responsável pela desestabilização das moléculas de diesel, cabe
grupos das variáveis utili- à variação da temperatura, agitação e sedimentação a extração do poluente. Deste modo, nota-se
zadas, facilitando o enten- que os experimentos T9, T16, T18 e T24, todos com temperatura de 80 °C, obtiveram resultados de
dimento dos efeitos obser- remoção acima de 80%, indicando que a variável temperatura tem influência significativa.
vados. Quando analisado Quando observado os resultados com concentração de tensoativo de 0,35 mol/L, tem-se
os experimentos com tem- que praticamente todos os tratamentos supera a marca de oitenta por cento de remoção, tendo o
peratura constante de 20 T22 se aproximado de cem por cento de eficiência de remoção. Observa-se que este se encontra na
°C, nota-se que ocorreram temperatura de 80°C. Evidenciando mais uma vez que a variável temperatura e concentração de
diferenças consideráveis hidróxido de sódio são as principais variáveis do experimento.
entre as mesmas, sendo Para avaliação de perspectiva, foi realizado também mais seis experimentos de análise com-
que os experimentos T6, plementar avaliando a concentração de NaOH e a temperatura utilizada. Foi suposto nesta avaliação
T10 e T23 apresentaram complementar um tempo de sedimentação de 24 horas e um tempo de agitação de 15 minutos. Devido
os melhores resultados de a experimentos anteriores, utilizou-se nesta análise, concentrações de 0,2 e 0,25mol/L nas temperaturas
eficiência, superando va- de 20, 50 e 80 graus Celsius, obtendo desta forma uma curva de resposta em função temperatura para as
lores de 80% de remoção. duas molaridades. A Figura 4 apresenta os resultados obtidos nas duas molaridades propostas.
Cabe ressaltar que tais ex-
perimentos possuem em
sua composição a concen-
tração de hidróxido de só- Tabela 1: Resultados de eficiência de remoção obtidos
dio de 0,35 mol/L. Deste
modo, considerando que tais experimentos possuem valores diferentes de sedimentação e agitação, o
fator intrínseco para estes valores de remoção são associados a concentração de hidróxido de sódio.
Analisando as linhas destacadas na Tabela 1 e visualizadas na Figura 3, é possível avaliar
os resultados obtidos no pronto central do experimento. Tais resultados proporcionam a obtenção
do erro experimental que será adotado para o todas as variáveis do ensaio. Observa-se uma elevada
semelhança entre os resultados com um desvio padrão entre blocos quase que imperceptível, de-
monstrando desta forma validade no experimento realizado. O valor médio de remoção no ponto
central foi 92,29%, com um desvio padrão de 1,32%.
Analisando as amostras com temperatura constante de 80 °C, é possível perceber uma
maior similaridade entre os experimentos. Este resultado se deve a forte influência da temperatura
138 no processo de remoção, tendo em vista a forte influência que esta promove na viscosidade de diesel 139
presente na emulsão. Cabe destacar os resultados obtidos nos tratamentos T4, T14 e T22, sendo Figura 4: Gráfico de correlação ente aquecimento e NaOH
Analisado a Figura 4, observa-se que a tendência das duas molaridades realmente convergem horas e um tempo de agitação de 15 minutos. Avaliando os resultados obtidos através da interpo-
em um resultado similar, sendo que a partir da temperatura de 50⁰C as duas curvas se sobrepõem, sendo lação matemática de resultados, tem-se que a temperatura apresenta uma inclinação acentuada até
desta forma, aparentemente iguais. Nota-se que com a concentração de 0,2mol/L, obteve-se maior ren- os 60 °C, reduzindo sua influência a partir desde ponto. A inclinação no eixo da concentração do
dimento na temperatura de 20⁰C, apontando que existe um limite na influência do hidróxido de sódio hidróxido de sódio apresenta-se constante por todo o experimento, sendo que conforma a análise
como tensoativo, limite este observado durante as análises no decorrer do experimento. visual, valor em torno de 0,3 mol/L proporcionavam a não recuperação do óleo diesel, não sendo
Tendo em vista que uma das intenções do trabalho é a recuperação do diesel para pos- portanto interessante. Desta maneira, tem-se que, interpolando a superfície de resposta gerada, a
terior reutilização do mesmo no processo de corte dos geodos, faz-se necessária a apresentação de molaridade ideal para a execução dos ensaios se encontra entre 0,2 e 0,25 mol/L, sendo que nesta
algumas observações sobre a metodologia e as reações observadas nos ensaios. molaridade a partir de 55°C atinge-se valores superiores a 90% de eficiência. A Figura 7 apresenta
No decorrer dos ensaios, observou-se que as diferentes concentrações de hidróxido de sódio aplicado a superfície de resposta correspondente a interação entre a temperatura e o tempo de agitação.
nas diferentes combinações do experimento acabavam por desencadear resultados visuais que implicam em sua Para elaboração da Figura 6, adotou-se um tempo de sedimentação de 24 horas e uma concen-
aplicação em escala industrial, visando o reuso do óleo diesel. A Figura 5 apresenta o resultado visual obtido com tração de hidróxido de sódio de 0,22 mol/L, concentração essa adotada após a interpretação da
a concentração de 0,25 (E) e 0,35 mol/L (D) de hidróxido de sódio em temperatura de 80°C. Figura 5, o qual percebe-se indícios de ser a molaridade ideal para a remoção do contaminante.
Observa-se na Figura 5 a existência de uma boa separação de fases concentração de 0,25 A Figura 6 apresenta a superfície de resposta Figura 7: Superfície de resposta temperatura vs
mol/L, existindo uma separação visível entre sólido, líquido e óleo, ficando passível a sua separação obtida para a variação da temperatura e da agitação
para reutilização no processo, e recolhimento do sólido para disposição final. A parte líquida inter- concentração de hidróxido de sódio.
mediária ainda não foi classificada, mas apresenta um pH próximo a 13, considerado altamente bá-
sico, mas devido a concentração de 30% de resíduo, sua geração não será tão alta em nível industrial, Analisando a Figura 7, observa-se que novamente a temperatura apresenta a maior in-
podendo ser este pH diluído no restante do efluente tratado na estação de tratamento de efluentes fluência na eficiência de remoção, ficando os valores de ótimo entre 50 e 80 °C. Quanto a variável
nas empresas, ou ainda servir como regulador de pH para efluentes ácidos. agitação, tem-se que sua influência é baixa no experimento, tendo alguma interferência na tempe-
Entretanto, observa-se que na concentração de 0,35 mol/L, a boa separação de fases ratura de 20°C. Entretanto, vale ressaltar que sua utilização é essencial para desencadear a reação
acaba não ocorrendo. Desta forma, embora os resultados laboratoriais de extração de óleo no resí- entre a solução e o resíduo nas diferentes molaridades e temperaturas. A Figura 8 apresenta a
duo sólido acabem apresentando bons resultados de eficiência, a aplicação prática deste acaba não superfície de resposta referente a interação da variável agitação e sedimentação.
sendo viável, pois a fase flotada não poderá ser reutilizada para lubrificação no processo de corte dos Para elaboração da superfície, adotou-se um tempo de agitação de 15 minutos e uma
geodos, inviabilizando sua reutilização. concentração de hidróxido de sódio de 0,22 mol/L. A partir desta superfície de resposta é possível
De posse destes resultados é possível comprovar as conclusões obtidas da análise expe- confirmar a pouca interação destas duas variáveis no processo de remoção do contaminante. Entre-
rimental e formular a combinação mais adequada para aplicação prática através do estudo de uma tanto, tendo em vista a utilização de dos valores de temperatura e concentração de hidróxido de sódio
curva de resposta obtida através da análise estatística dos dados adquiridos. considerados “ideais” para a remoção, o resultado obtido apresentou-se quase inteiramente em 100%
Observando os resultados colhidos, pode-se confirmar as suposições geradas a partir dos de eficiência de acordo com os cálculos estatísticos, confirmando as suposições anteriores.
dados crus sobre as variáveis de real influência no experimento. De acordo com a análise estatística,
a temperatura teve a maior influência no ensaio, atingindo um efeito de 0,51 e um fator de erro p Conclusão
de 0. O hidróxido de sódio também como esperado, teve um efeito de 0,23 e um fator de erro p de
0, ficando como segunda variável de maior influência no experimento. A variável agitação, em seu De acordo com os resultados obtidos, pode-se concluir que a influência da temperatura e
140 modo linear, acabou sendo não significativo para o experimento, atingindo um valor p de 0,43. do hidróxido de sódio são de fundamental importância, sendo a temperatura responsável pela redu- 141
Para elaboração da superfície de resposta, adotou-se um tempo de sedimentação de 24 ção da viscosidade existente na mistura e o hidróxido de sódio tendo como função a ação tensoativa
na sorção entre o coloide de rocha e o óleo
contaminante em questão, facilitando assim
Tratamento de efluentes de corantes por
a liberação deste ao meio.
Avaliando as análises visuais obtidas a nível
processo de ozonização
experimental e posteriormente confirmadas Clóvia Marozzin Mistura* (clovia@upf.br), Delton Luiz Gobbi*
pelo teste estatístico, pode-se inferir que a *Curso de Química Bacharel, Instituto de Ciências Exatas e Geociências, Universidade de Passo
temperatura tem uma influência não line- Fundo, UPF.
ar no experimento, possuindo uma elevada
variação entre a temperatura de 20ºC e a de Introdução
50ºC, mas estacionando seu crescimento até
a temperatura de 80ºC, encontrando desta O Brasil em 2010 importou cerca de 160 mil toneladas de corantes e pigmentos, e neste
maneira que a temperatura ideal é de 60ºC. mesmo período exportou cerca de 70 mil toneladas. Este segmento da indústria representa uma
Bem como na temperatura, ob- importância significativa para a economia do país. Entretanto, de dimensão igual ou superior é
servou-se que a concentração de hidróxido o impacto que este segmento representa para o meio ambiente. As indústrias de cosméticos, de
de sódio possui suas particularidades, sen- couro, de papel, têxteis, mineração, coloração de gemas, entre outras, utilizam grande quanti-
do que sua eficiência de remoção apresenta dade de corantes consumindo água limpa, nos processos de produção, retornando ao ambiente
uma característica linear, mas tendo como Figura 8: Superfície de resposta da agitação vs sedi- como efluente [1]. Estes efluentes são caracterizados por apresentar altas cargas de poluentes,
um dos objetivos do trabalho a reutilização mentação originadas pelo descarte da solução residual dos banhos de tingimento. Estima-se que cerca de
do óleo contido no resíduo, sua concentra- 15% da produção mundial de corantes seja perdida para o meio ambiente, durante a síntese, pro-
ção molar deve levar em consideração as avaliações visuais de comportamento do experimento. cessamento ou aplicação desses corantes. A contaminação por esses compostos provoca efeitos
Quando cruzadas as hipóteses visuais e a análise estatística proposta pelas superfícies de resposta, danosos à biota, causando sérios problemas ambientais [2-4].
pode-se concluir que a concentração ideal de hidróxido de sódio para a remoção do contaminante A ágata, um bem gemológico, é encontrado na região do Planalto Médio do Rio Gran-
é de 0,22 mol/L (8,8 g/L). de do Sul, e é um dos principais estados exportadores de ágata bruta. Nesta região, as gemas são
trabalhadas para a confecção de objetos de arte e adornos, entre os quais, chapas finas e grossas,
Referências Bibliográficas encostos de livros, cinzeiros, relógios, pirâmides, artigos para cozinha, lembranças e outros. Os
diferentes graus de porosidade da ágata possibilita a impregnação dos agentes responsáveis pela
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS Tese (Pós-Graduação em Engenharia de Produção); coloração artificial [2].
TÉCNICAS. NBR 6459: Solo: Determinação do Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto
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TÉCNICAS. NBR 6508: Grãos de solo que passam Brasil. Secretaria Técnica do Fundo Sensorial Mine- Atualmente existem várias maneiras para colorir as ágatas. Métodos clássicos foram
na peneira de 4,8 mm: Determinação da massa espe- ral, Relatório Técnico 4, 2002. desenvolvidos pelos alemães no século XIX e aplicados no Rio Grande do Sul, desde início do
cífica. Rio de Janeiro, 1984. FENG, D.; LORENZEN, L.; ALDRICH C.A.; século XX. As ágatas são imersas em uma solução que contém íons metálicos ou açúcar, que após
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS MARI P.W. Ex situ diesel contaminated soil washing impregnarem os poros da pedra, são submetidas a uma reação química, em um composto colo-
TÉCNICAS. NBR 7180: Solo: Determinação do with mechanical methods. Minerals Engineering, rido e insolúvel. A Tabela 1 apresenta um resumo das cores e técnicas clássicas, utilizadas para o
limite de plasticidade. Rio de Janeiro, 1984. Vol. 14, 9p. 2001. tingimento das ágatas [2].
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trica.Rio de Janeiro, 1984. J.F.C.L.; KOPPE, J.C.; BAGATINI, S.A. Cenário
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e Redução de Perdas nos Processos Produtivos;2007; 2010. Tabela 1: Técnicas de tingimento de ágatas por processos clássicos.
Recentemente, o tingimento das ágatas está sendo realizado com corantes orgânicos. As tecnologias convencionais são pouco efetivas para descoloração de efluentes têxteis
O processo de tingimento consiste basicamente na imersão das ágatas em soluções alcoólicas de contendo corantes sintéticos, tornando-se necessário o emprego de métodos mais eficazes para o
corante, por um período de tempo suficiente, para permitir a penetração dos corantes nos poros das seu tratamento. Assim, a utilização de Processos Oxidativos Avançados (POA) pode se configurar
pedras, de acordo com a Tabela 2: como alternativa promissora, podendo transformar os corante sem substâncias biodegradáveis e
remover a cor desses efluentes.
Recentemente, pesquisadores vêm investigando a aplicação de Processos Oxidativos
Avançados como: Fenton, Foto-Fenton [32-35], O3/H2O2, O3/UV, H2O2/UV, e Ozonização, no
tratamento de efluentes industriais contendo matéria orgânica recalcitrante, difícil de ser tratada
por processos convencionais [23-25].
A ozonização é bem sucedida em tratamentos combinados (Ozônio/Biológico e Ozô-
nio/Carvão Ativado), pois o ozônio é um poderoso agente oxidante comparado a outros agentes
conhecidos, como o peróxido de hidrogênio ou o cloro [20].