Explorar E-books
Categorias
Explorar Audiolivros
Categorias
Explorar Revistas
Categorias
Explorar Documentos
Categorias
Prefácio
Figura 5. Correlação de
derrames no distrito mi-
neiro de Entre Rios, Santa
Catarina. Os derrames de
basalto 4 e 5 são minerali-
zados a geodos de ametista.
Extraído de Hartmann et
al. (2014b).
Figura 2. (a) Geodo de ametista, com fratura alimentadora dos fluidos que geraram o geodo situada na base
8 do geodo; Mina do Museu, Ametista do Sul. (b) Gráfico temperatura versus pressão de água, com indicação 9
do campo em que foram formados os geodos de ametista em ambiente hidrotermal.
anomalias gama-espectrométricas nos sílica gossans, os guias prospectivos dos depósitos hidroter-
mais. A maioria dos morros presentes no Grupo Serra Geral contém sílica gossans (Fig. 6) no topo
dos depósitos hidrotermais de ametista (Pertille et al., 2013; Baggio et al., 2014c) e também cobre
nativo (Baggio et al., 2014a). A presença de banhados ricos em argila sobre os sílica gossans apresenta
fósseis microscópicos que representam a evolução da vida nos últimos 10.000 anos (Gadens-Marcon
et al., 2014).
Além dos depósitos de ametista, ágata e ocorrência de cobre nativo, a deposição de zeólitas
na zona amigdaloidal dos derrames basálticos (Bergmann, 2014) representa uma nova abordagem
de aproveitamento na agricultura (Fig. 7) assim como a rochagem dos rejeitos da exploração dos
depósitos de ametista. A exploração dos depósitos hidrotermais do Grupo Serra Geral geram riqueza
em várias regiões (Hartmann & Silva, 2010) e suas características geológicas amplamente estudadas
servem como modelo para a prospecção de novos depósitos em outras áreas da província vulcânica
(Hartmann et al., 2014c).
Conclusões
A unicidade da evolução do Grupo Serra Geral dentre as províncias basálticas continentais
foi o clima árido de seu ambiente e a sua posição acima do grande aquífero Guarani. O ambiente geo-
lógico gerador de gemas e minérios foi descrito de maneira abrangente, incluindo desde a geração dos
magmas no manto, sua ascensão no manto e crosta e efusão na superfície. Muitos processos geológi-
Figura 6. Presença de sílica gossan (indicado por flechas) com contorno hexagonal em topo de coxi- cos ocorreram nesse ambiente, incluindo a geração de cobre nativo e também de geodos de ametista e
lha no pampa de Quaraí, Rio Grande do Sul. A presença de mata nativa abaixo do gossan sugere ágata em hidrotermalismo de baixa temperatura. O calor do esfriamento dos sills gerou a quebra de
a presença de uma fratura horizontal, característica das mineralizações de geodos de ametista em querogênio nas camadas sedimentares, com liberação de metano e sua oxidação em derrames espessos
outros distritos. Extraído de Hartmann et al. (2014c). de basalto. Esse basalto refundiu e gerou paralavas, com possibilidade de depósitos de ouro, EGP e
rubi. Basaltos amigdaloidais podem ser utilizados para a fertilização de solos. Sílica gossans marcam
a superfície acima de jazidas hidrotermais e registram na lama a evolução da vida e da atmosfera nos
últimos 10.000 anos, inclusive a diminuição da umidade em tempos recentes.
Agradecimentos
O presente estudo foi realizado no âmbito do arranjo produtivo de gemas e joias do Rio
Grande do Sul, com o apoio financeiro de vários projetos, inclusive um projeto de excelência PRO-
NEX-FAPERGS/CNPq sobre minerais estratégicos e um projeto CNPq-Vale de exploração mineral
no Grupo Serra Geral, além de dois projetos de Edital Universal/CNPq coordenados por Léo Hart-
mann. Os estudos apresentados também receberam apoio do Serviço Geológico do Brasil (CPRM),
SUREG-Porto Alegre, e do Departamento Nacional de Produção Mineral (Superintendência de
Campo Grande, Mato Grosso do Sul).
Referências bibliográficas
Arena, K.R., Hartmann, L.A., Baggio, S.B. Duarte, S.K., Antunes, L.M. 2014a. Sílica gos-
2014. Geologia e mineralização de cobre nati- sans em mineralização de cobre nativo, ouro
vo, ouro e prata de Realeza, Paraná, Brasil. In: e prata no Grupo Serra Geral. In: Hartmann,
Hartmann, L.A. & Baggio, S.B. (Orgs.) Meta- L.A. & Baggio, S.B. (Orgs.) Metalogenia e ex-
logenia e exploração mineral no Grupo Serra ploração mineral no Grupo Serra Geral. Gráfica
Geral. Gráfica da UFRGS, Instituto de Geoci- da UFRGS, Instituto de Geociências, páginas
ências, páginas 55-74. 111-134.
10 Figura 7. Zeolitas heulandita e mordenita (fibrosa) em amígdalas de basalto, lavra Bairro Fátima, 11
Santa Cruz do Sul, Rio Grande do Sul. Foto de Bergmann (2014). Baggio, S.B., Hartmann, L.A., Arena, K.R., Baggio, S.B., Hartmann, L.A., Wildner, W.
2014b. Descrição e origem das paralavas da Gadens-Marcon, G.T., Guerra-Sommer, M., de geodos de ametista no Município de Quaraí, Pertille, J., Hartmann, L.A., Duarte, S.K., Are-
província vulcânica Paraná. In: Hartmann, L.A. Mendonça-Filho, J.G., Hartmann, L.A. 2014. Rio Grande do Sul. In: Hartmann, L.A. & Ba- na, K., Rosa, M.L.C.C., Barboza, E.G. 2013.
& Baggio, S.B. (Orgs.) Metalogenia e explo- Registro de 10.000 anos de evolução climática ggio, S.B. (Orgs.) Metalogenia e exploração mi- Gossan characterization in the Quaraí and Los
ração mineral no Grupo Serra Geral. Gráfica em sedimentos provenientes de alagados asso- neral no Grupo Serra Geral. Gráfica da UFR- Catalanes amethyst geode districts (Brazil and
da UFRGS, Instituto de Geociências, páginas ciados a sílica gossans nos garimpos de Ametis- GS, Instituto de Geociências, páginas 135-148. Uruguay), Paraná volcanic province, using rock
173-202. ta do Sul, no Sul do Brasil. In: Hartmann, L.A. geochemistry and gamma-spectrometry. Journal
& Baggio, S.B. (Orgs.) Metalogenia e explo- Hartmann, L.A., Silva, A.O. 2011. Visita téc- of Geochemical Exploration 124, 127-139.
Baggio, S.B., Pertille, J., Antunes, L.M., Petry, ração mineral no Grupo Serra Geral. Gráfica nica – Geologia e mineração nos garimpos de
T.S., Hartmann, L.A. 2014c. Sílica gossans em da UFRGS, Instituto de Geociências, páginas Ametista do Sul, Rio Grande do Sul, Brasil. Pinto, V.M., Hartmann, L.A., Santos, J.O.S.,
mineralização de geodos de ametista e ágata no 247-260. Gráfica da UFRGS, Instituto de Geociências, McNaughton, N.J., Wildner, W. 2011. Zircon
Grupo Serra Geral. In: Hartmann, L.A. & Ba- 10 páginas. U–Pb geochronology from the Paraná bimodal
ggio, S.B. (Orgs.) Metalogenia e exploração mi- Hartmann, L.A. 2008. Geodos com ametista volcanic province support a brief eruptive cycle
neral no Grupo Serra Geral. Gráfica da UFR- no tempo dos dinossauros. Gráfica da UFRGS, Hartmann, L.A., Silva, J.T. 2010. Tecnologias at ~135 Ma. Chemical Geology 281, 93–102.
GS, Instituto de Geociências, páginas 89-110. Instituto de Geociências, 60 páginas. para o setor de gemas, joias e mineração. Gráfica
da UFRGS, IGeo, 319. Pinto, V.M., Hartmann, L.A. 2014. A mine-
Bergmann, M. 2014. Distribuição e potencial Hartmann, L.A. 2014. Introdução à história Juchem, P.L. 2014. Mineralizações de ametista ralização de cobre nativo de Vista Alegre, Rio
de aproveitamento econômico dos basaltos natural do Grupo Serra Geral. In: Hartmann, em riodacitos do Grupo Serra Geral. In: Hart- Grande do Sul, Brasil. In: Hartmann, L.A. &
amigdalóides a zeolitas do Grupo Serra Geral L.A. & Baggio, S.B. (Orgs.) Metalogenia e mann, L.A. & Baggio, S.B. (Orgs.) Metalogenia Baggio, S.B. (Orgs.) Metalogenia e explora-
da Bacia do Paraná no Rio Grande do Sul, Bra- exploração mineral no Grupo Serra Geral. e exploração mineral no Grupo Serra Geral. ção mineral no Grupo Serra Geral. Gráfica da
sil. In: Hartmann, L.A. & Baggio, S.B. (Orgs.) Gráfica da UFRGS, Instituto de Geociências, Gráfica da UFRGS, Instituto de Geociências, UFRGS, Instituto de Geociências, páginas 75-
Metalogenia e exploração mineral no Grupo páginas 17-20. páginas 41-54. 88.
Serra Geral. Gráfica da UFRGS, Instituto de Rosenstengel, L.M., Hartmann, L.A. 2012. Ge-
Geociências, páginas 261-276. Hartmann, L.A., Baggio, S.B. 2014. Metaloge- Mariani, P., Braitenberg, C., Ussami, N. 2013. ochemical stratigraphy of lavas and fault-block
nia e exploração mineral no Grupo Serra Geral. Explaining the thick crust in Paraná basin, Bra- structures in the Ametista do Sul geode mining
Brückmann, M., Hartmann, L.A., Tassinari, Gráfica da UFRGS, Instituto de Geociências, zil, with satellite GOCE-gravity observations. district, Paraná volcanic province, southern Bra-
C.C.G., Sato, K., Baggio, S.B. 2014. A dura- 560 páginas; em português e inglês. Journal of South American Earth Sciences 45, zil. Ore Geology Reviews 48, 332-348.
ção do magmatismo no Grupo Serra Geral, 209-223.
província vulcânica Paraná. In: Hartmann, L.A. Hartmann, L.A., Brückmann, M., Baggio, S.B.
& Baggio, S.B. (Orgs.) Metalogenia e explo- 2014a. A ausência de extinção de espécies du-
ração mineral no Grupo Serra Geral. Gráfica rante a efusão do Grupo Serra Geral. In: Hart-
da UFRGS, Instituto de Geociências, páginas mann, L.A. & Baggio, S.B. (Orgs.) Metaloge-
233-246. nia e exploração mineral no Grupo Serra Geral.
Gráfica da UFRGS, Instituto de Geociências,
Duarte, L.C., Hartmann, L.A., Medeiros, páginas 165-172.
J.T.N., Juchem, P.L. 2014. Origem epigené-
tica dos geodos de ametista e ágata do Grupo Hartmann, L.A., Duarte, S.K., Arena, K.R.,
Serra Geral. In: Hartmann, L.A. & Baggio, S.B. Pertille, J., Rosenstengel, L.M., Antunes, L.M.,
(Orgs.) Metalogenia e exploração mineral no Baggio, S.B. 2014b. Correlação de derrames no
Grupo Serra Geral. Gráfica da UFRGS, Insti- Grupo Serra Geral com uso de estratigrafia,
tuto de Geociências, páginas 21-40. geoquímica e gama-espectrometria. In: Hart-
mann, L.A. & Baggio, S.B. (Orgs.) Metaloge-
Duarte, S.K., Hartmann, L.A. 2014. Evolução nia e exploração mineral no Grupo Serra Geral.
dos injetitos de areia do Complexo Novo Ham- Gráfica da UFRGS, Instituto de Geociências,
burgo, província vulcânica Paraná. In: Hart- páginas 149-164.
mann, L.A. & Baggio, S.B. (Orgs.) Metaloge-
nia e exploração mineral no Grupo Serra Geral. Hartmann, L.A., Pertille, J., Duarte, S.K., Are-
Gráfica da UFRGS, Instituto de Geociências, na, K.R., Baggio, S.B. 2014c. Descrição de cri-
12 páginas 203-232. térios geológicos e indicação de áreas preferen- 13
ciais para a investigação da presença de jazidas
Evolução da vida e da atmosfera durante o dos sedimentos provenientes do primeiro tipo descrito por Hartmann (2008), o qual não consegue
sustentar a rica vegetação nativa da região de Ametista do Sul por permanecer longo tempo saturado
Holoceno em alagados de altitude associados em água nas épocas chuvosas, formando banhados efêmeros. O segundo tipo, por sua vez, é recoberto
por banhados perenes e não foi amostrado.
à sílica gossan no Distrito Mineiro de
Ametista do Sul
Gabrielli Teresa Gadens-Marcon1,2,4, Margot Guerra-Sommer2, João Graciano Mendonça-Filho3
& Léo Afraneo Hartmann2
1
Unidade Litoral Norte, Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS)
2
Instituto de Geociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
3
Instituto de Geociências, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFGRS)
4
e-mail: gabigadens@yahoo.com.br
Introdução
É sabido que o clima do Holoceno, estimado em 11.500 anos antes do presente (AP) até o
Recente, sustentou o crescimento e desenvolvimento da sociedade moderna. Isto porque o Holoceno
afigura-se como o período interglacial quente mais estável de todos os demais períodos anteriores do
ciclo glacial do Quaternário. Portanto, não há dúvida de que as condições uniformes desse período
promoveram o rápido crescimento da agricultura e da civilização que se seguiu ao final da última
idade do gelo (PRESS et al., 2006). FIGURA 1 – a1) Mapa com a localização de Ametista do Sul; a2) Legendas do Mapa; b) Modelo de
Pesquisas revelam que vastas regiões da Terra experimentaram mudanças quase síncronas um morro mineralizado (vista lateral) contendo os alagados associados à gossan (na superfície apical) e os
das temperaturas glaciais para interglaciais durante curtos intervalos de tempo e que a circulação geodos de ametista (internamente) no Distrito Mineiro de Ametista do Sul (adaptado de HARTMANN et
atmosférica pode se reorganizar de modo muito rápido, invertendo o sistema do clima de um estado al., 2010)
para outro num intervalo menor que o tempo de vida de uma pessoa (PRESS et al., 2006). Isso
aumenta a expectativa de que as mudanças climáticas globais em curso, induzidas ou não pela ação A presença desses pequenos banhados naturais associados a sílica gossan em Ametista do
humana, possam envolver inversões abruptas para um novo e desconhecido estado climático, para o Sul oferecem uma oportunidade ímpar de investigação, pois fornecem dados inéditos sobre o Ho-
qual nossa civilização está mal preparada. loceno da Região do Alto Uruguai no Estado do Rio Grande do Sul. A caracterização quantitativa
Os resultados das pesquisas realizadas em Ametista do Sul representam uma tentativa iné- e qualitativa da matéria orgânica sedimentar proveniente dessas áreas úmidas do planalto noroeste
dita de correlação entre as mudanças climáticas de escala global que ocorreram durante o Holoceno, do RS contribui para a identificação de processos naturais e antrópicos que atuaram na evolução dos
especialmente os “eventos Bond” (BOND et al., 1997, 2001), com os dados paleoclimáticos obtidos ambientes estudados, bem como de paleoambientes afins do passado geológico, oferecendo subsídios
para a região do Alto Uruguai. Os “eventos Bond” tiveram um impacto significativo sobre o clima importantes ao estabelecimento de modelos comparativos.
global (KOBASHI et al., 2007; THOMAS et al., 2007) e têm sido utilizados para correlacionar as A datação radiocarbônica realizada desde a base dos testemunhos, aliada ao estudo da su-
alterações na intensidade da circulação termohalina atlântica com as flutuações na temperatura da cessão ecológica das áreas alagadas associadas à sílica gossan permitiram conhecer temporalmente os
superfície do mar e com anomalias de precipitação registradas na América do Sul (CRUZ et al., fatores que condicionaram a evolução ambiental da área subsequente à gênese do geodos. O contexto
2005; STRÍKES et al., 2011; SALLUM et al.,2012) e em outros continentes. de ambiente isolado e sujeito predominantemente ao regime hidrológico pluvial tornou esse tipo de
O município de Ametista do Sul está localizado na porção noroeste do planalto sul-rio-grandense, depósito sedimentar altamente sensível à precipitação e permitiu estimar as variações pluviométricas
região do Alto Uruguai (Figura 1, a). Essa região, por sua vez, está localizada no sul do Brasil, pró- desde o Holoceno inferior até o Recente para aquela região.
xima à divisa entre os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, sendo constituída por rochas A matéria orgânica preservada em depósitos provenientes de ambientes estritamente con-
basálticas da Formação Serra Geral e mundialmente conhecida por suas riquezas minerais, tais como tinentais constitui excelente arquivo de mudanças nas condições deposicionais, ambientais, ecológicas
os geodos contendo ametista. e climáticas sob as quais esses depósitos se originaram, e diversas ferramentas de investigação costu-
De acordo com um modelo proposto por Hartmann (2008), Duarte et al. (2009), Hart- mam ser utilizadas para acessar tais informações.
mann et al. (2010) e Pertille et al. (2013), estruturas denominadas sílica gossan seriam o registro da O presente trabalho utilizou a análise de palinofácies e de geoquímica orgânica em sedi-
passagem de fluídos hidrotermais sob alta pressão através de fraturas no basalto. A ação desses fluidos mentos continentais que nunca estiveram sob influência marinha. Os dados gerados foram comple-
teria formado os geodos de ametista dentro dos morros e resultado na presença de banhados logo mentados por análise sedimentológica e datação radiocarbônica a fim promover o refinamento dos
14 acima das jazidas (Figura 1, b). Há dois tipos principais de sílica gossan na região de Ametista do resultados. A integração de tais métodos de investigação permitiu tecer inferências paleoambientais, 15
Sul, ambos com jazidas de ametista abaixo. No presente estudo, as análises concentraram-se na coleta paleoecológicas e paleoclimáticas inéditas para os sedimentos holocênicos provenientes do planalto
noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, baseadas em dados de alta resolução e confiabilidade. nos trabalhos de Tyson (1995), Mendonça-Filho (1999) e Mendonça-Filho et al. (2010, 2011). A
A análise de palinofácies compreende a caracterização qualitativa e quantitativa da matéria orgânica análise palinofaciológica convencional reconhece três grupos principais de MOP: Grupo Fitoclasto,
particulada contida nos sedimentos e nas rochas sedimentares (TYSON, 1995), onde cada partícula Grupo Palinomorfo e Grupo Produto Amorfo (= MOA) (Figura 2).
orgânica individual comporta-se como uma partícula sedimentar. Por isso, as análises palinofacioló- O equipamento utilizado para a determinação de COT (Carbono Orgânico total) é o
gicas baseiam-se na abundância relativa de tais partículas (MENEZES et al., 2008), uma vez que, analisador SC 144DR da LECO, que quantifica, simultaneamente, o conteúdo de carbono e enxofre
de acordo com Tissot & Welte (1984), a matéria orgânica representa a menor porção da fração sedi- através de um detector de infravermelho.
mentar e deriva direta ou indiretamente da parte orgânica dos organismos. A análise de palinofácies A análise granulométrica foi embasada na técnica de peneiramento e pipetagem com inter-
costuma ser correlacionada com outros métodos de investigação, especialmente com as análises geo- valos de classe de 1 e ¼ de (phi) respectivamente, da escala de Wentworth (1922). Ao final dessa
químicas de quantificação do carbono orgânico total (COT), que fornecem parâmetros importantes mesma rotina obtém-se a classificação das amostras segundo o diagrama de Shepard (1954).
na determinação do conteúdo orgânico presente em sedimentos e rochas sedimentares. A datação radiocarbônica utilizou a técnica radiométrica AMS (Accelerator Mass Spec-
Na expectativa de que esta investigação ultrapasse os limites acadêmicos e contribua de trometry) e foi realizada pelo Beta Analytic Radiocarbon Dating Laboratory (Miami, Florida, EU).
alguma forma para o desenvolvimento regional, aspira-se que a divulgação dos resultados obtidos
permita a elaboração de modelos de predição ambiental que possam servir ao monitoramento dos Resultados e discussão
ecossistemas locais continuamente impactados pelas atividades humanas, contribuindo assim com o
planejamento ambiental sustentável de médio e longo prazo para a região do Alto Uruguai. As análises palinofaciológicas realizadas no testemunhos T1 - Mina do Museu e T2 -
Mina Modelo, revelaram uma ampla dominância do Grupo Fitoclasto, tanto de partículas lenhosas
Metodologia como não lenhosas (Figura 3). O Grupo Palinomorfo foi o segundo em dominância e abrangeu
esporomorfos terrestres e algálicos, esses últimos de origem exclusivamente dulciaquícola (Figura 4).
No presente estudo foram selecionados dois banhados efêmeros, que correspondem ao pri- O Grupo Produto Amorfo, por sua vez, foi pouco expressivo e derivou, em grande parte, de tecidos
meiro tipo de sílica gossan descrito por Hartmann (2008). Esses banhados são circundados por vege- vegetais em estado avançado de degradação (Figura 3).
tação nativa e permanecem saturados em água durante os períodos chuvosos, mas secam em épocas de
estiagem prolongada. Ambos os corpos d’água estão localizados no topo dos morros e logo abaixo deles
existem duas minas de extração de Ametista, denominadas Mina do Museu e Mina Modelo.
Os pontos de coleta foram selecionados inicialmente com o auxílio de mapas gerados por
satélite (e.g. Google Earth) e com base no isolamento em relação à vegetação arbórea nativa circun-
dante. A entrevista com moradores locais foi imprescindível para a confirmação da natureza espontâ-
nea da vegetação circundante e das áreas de clareira selecionadas (correspondentes à sílica gossan). As
expedições de campo contaram com o apoio da Cooperativa de Garimpeiros do Médio Alto Uruguai
(COGAMAI) e da Prefeitura Municipal de Ametista do Sul. Para a coleta dos testemunhos de
sondagem foram utilizados tubos de PVC de 7 cm de diâmetro e de 1,5 a 2 metros de comprimento.
Os testemunhos de sondagem foram identificados como T1 - Mina do Museu e T2 - Mina Modelo,
de acordo com o nome po-
pularmente dado às minas de
extração de ametista localiza-
das logo abaixo do lugar onde
os mesmos foram extraídos.
Após a coleta, os testemunhos
de sondagem foram embala-
dos e transportados até o De-
partamento de Paleontologia FIGURA 3 – Grupo Amorfo e Grupo Fitoclasto. A, B, C e D: Produto Amorfo, sobre luz branca (A e C) e
e estratigrafia da Universidade sob luz fluorescente (B e D); E, F, G e H: Cutículas, sobre luz branca (E e G) e sob luz fluorescente (F e H);
Federal do Rio Grande do Sul I e J: Membrana, sobre luz branca (I) e sob luz fluorescente ( J); K e L: fitoclastos não opacos, estruturado
(UFRGS). perfurado (L); M: fitoclasto opaco.
O processamento
químico das amostras, a con- A análise de palinofácies foi particularmente útil nas interpretações de eventos de precipi-
fecção das lâminas organo- tação e de sucessão vegetacional para os alagados de altitude de Ametista do Sul. A alta percentagem
palinológicas e a contagem e FIGURA 2 – Classificação geral da matéria orgânica particulada de elementos algálicos no registro sedimentar desses corpos d’água e a expressiva variação observada
16 classificação da matéria orgâ- (baseada em Tyson, 1995; Mendonça-Filho, 1999 e Mendonça-Filho em suas freqüências ao longo dos testemunhos foram decisivas para as interpretações de cunho pa- 17
nica particulada embasaram-se et al., 2010, 2011) leoambiental, paleoclimático e paleoecológico estabelecidas nesse estudo.
Os dados palinofaciológicos, inferidos através da observação dos esporos e grãos de polen dos alagados teria sido consequência, portanto, de tais eventos. No início de sua sedimentação esses
revelaram que a diversidade e a abundância da vegetação em Ametista do Sul aumentaram em dire- banhados não eram intermitentes, pois havia umidade suficiente para que permanecessem saturados
ção ao Recente, possivelmente em virtude do processo de sucessão ecológica que se desencadeou no de água.
topo dos morros desde o início do Holoceno. Em ambos os alagados, a pluviosidade permaneceu relativamente alta até aproximadamen-
Entre os elementos algálicos, de maneira geral, Botryoccocus predominou amplamente te 7000 anos AP. A partir daí começaram a ocorrer alterações no padrão de umidade que foram se
nos intervalos basais, tendendo a decrescer progressivamente em direção ao topo em ambos os teste- intensificando progressivamente até o Recente (Figura 5) e resultando nos banhados efêmeros que
munhos (T1 e T2), bem como o grupo “outras algas”, assim identificado em virtude da sua ocorrência integram atualmente a paisagem local.
esporádica e percentualmente baixa em todas as amostras. O gênero incertae sedis, Pseudoschizaea, O T1 - Mina do Museu, por ser mais raso, teve um ciclo mais curto (7963 anos AP), en-
por sua vez, demonstrou comportamento ligeiramente diferente das demais algas, atingindo altas fre- quanto o T2 - Mina Modelo, por ser um pouco mais profundo, teve um ciclo mais longo (9542 anos
quências nas mesmas amostras que os esporos de pteridófitas. Em virtude disso, a estimativa do nível AP). Em virtude disso, a principal diferença entre o registro desses dois banhados está nas camadas
de água do alagado foi construída com base na freqüência de Botryococcus e “outras algas” (Figura do topo, pois, enquanto o T2 - Mina Modelo registra a continuidade dos eventos de precipitação
5). para o Recente, embora menos intensos e mais desregulados em relação ao passado, o T1 - Mina do
Museu registra o estabelecimento de uma fase crescente e contínua de grande estiagem em direção ao
Recente.
Os resultados obtidos demonstraram que os alagados de altitude de Ametista do Sul atu-
aram como um tanque de captação de água meteórica e por isso forneceram dados confiáveis sobre
eventos de aumento e diminuição da precipitação, revelando-se excelentes registros da pluviosidade
pretérita, à semelhança de espeleotemas e outros dados proxy de alta resolução.
Figura 3: A ) fotomicrografia dos agregados criptocristalinos de quartzo (QC) e dos agregados fibrosos
orientados (CA)(LP, 25X). B) detalhe dos agregados fibrosos de calcedônia (LP, 50X). (modif. de Michelin
et al., 2013).
Os valores para o Fe2O3 e para o Al2O3 de uma forma geral nas amostras analisadas
Figura 4: A) Fragmento de geodo mostrando as áreas analisadas; B) fotomicrografia ao MEV destacando a podem ser considerados como relativamente elevados quando comparados com os outros óxidos
transição entre a ágata (AG) e o quartzo macrocristalino (QM) (aumento de 170X); observar a diferença (Tab. 1). Merino et al. (1995) reportaram que a Si+4 pode ser substituída em diferentes graus e em
textural marcante entre as fases; C) resultado da análise ao EDS para o quartzo macrocristalino. D) resul- diferentes sítios da ágata por elementos tais como o Al+3 e o Fe+3 nas fibras que estão se desenvol-
tado da análise ao EDS para a ágata. (AG=ágata e QM=quartzo macrocristalino). (modif. de Michelin et vendo. Consequentemente há um déficit na carga, e os íons monovalentes como o K+1 e o Na+1
al., 2013). podem entrar na estrutura para compensar o balanço de carga. As amostras do DMSJ mostram que
aos maiores teores relativos de Al2O3 também são associados os valores mais elevados de K2O e
Os resultados químicos obtidos para as amostras de ágata do DMSJ encontram-se na Na2O, como por exemplo, a amostra 16 (ver Tab. 1).
tabela 1. A ágata do DMSJ é um polimorfo de sílica microcristalino com até 98% de SiO2 e o Alguns autores (Götze et al. 2001) propõem que o teor de Al2O3 é um indicador da
restante de sua composição corresponde a elementos traços e terras raras (Michelin et al.,2013). O temperatura de formação da ágata embora outros autores (Moxon, 2002; Lee, 2008) não tenham
teor de SiO2 varia de 92,52 a 97,95 (% peso), valores que de uma maneira geral são coerentes com o observado esta associação. No caso das ágatas do DMSJ, somente a amostra 16 (Tab. 1) que apre-
apresentado na literatura (Frondel, 1962; Paralı et al., 2011 ). senta o maior teor de Al2O3 e a menor temperatura de cristalização (1,05%peso e 23OC, respec-
Os valores de LOI (perda ao fogo) obtidos variam de 0,4 a 4,9 % peso. Amostras de ága- tivamente) poderia indicar algum tipo de associação. Em relação ao Fe2O3, pode-se fazer uma re-
ta de procedências e idades distintas também apresentam variação considerável nos teores de LOI lação com o pigmento da ágata. Diferentes teores deste óxido apresentam variações nas tonalidades
(Frondel, 1962; Hatipoğlu et al., 2011; Paralı et al., 2011). Além disso, as amostras de ágata dos de ágata (branco, diversos tons de cinza e azul escuro). Percebe-se que quanto mais escura for a cor
diferentes geodos do DMSJ de uma maneira geral mostram variações significativas nos conteúdos da ágata, maior será a concentração de ferro. A amostra 16 (Tab. 1) tem cor branca, leitosa e o teor
de Al, Fe, Cu, Ni e Ba, entre outros elementos. em Fe é relativamente baixo (0,91 % peso). Já a mostra 29, com maior teor em Fe (3,44 % peso),
Ao observar a correlação entre os teores de SiO2 e o LOI (Tab. 1) percebe-se que as ágatas com tem cor azul escura, caracterizando a chamada ágata Umbu do DMSJ.
menor teor em SiO2 apresentam não só os maiores valores para LOI, mas também as maiores Em função das diferenças composicionais e texturais marcantes apresentadas pelas amos-
26 concentrações de impurezas sob a forma de elementos maiores e traços conforme sugerido por tras analisadas, foram realizadas determinações de temperatura com base na assinatura isotópica do 27
Constantina & Moxon (2010) e verificado nos resultados da tabela 1 (ver amostras 16, 3A e 3C). oxigênio ( 18O) para as diferentes fases de preenchimento (ágata e quartzo macrocristalino). Os
valores variam de 24,0 a 30,51 ‰. Com base neste valor, a temperatura de cristalização da ágata Frondel, C.1962. The system of mineralogy Merino, E., Wang, Y. & Deloule, E. 1995.
do DMSJ varia de 23º a 65º C. A temperatura de 23º C é muito baixa, superficial, porém valores of Dana, J. D. 7th. ed. New York: John Wiley, Genesis of agates in flood basalts: twisting of
similares foram obtidos Götze et al. (2001). Estes autores também utilizaram isótopos de oxigênio 334p. chalcedony fibers and trace - elements geo-
para o cálculo da temperatura e analisaram exemplares de ágata da Namíbia coletadas em ambien- chemistry. American Journal of Science, 295:
te vulcânico análogo ao DMSJ. Götze, J., Tichomirowa, M., Fuchs, H., Pilot, J. 1156-1176.
Ao observar os valores obtidos para o intervalo de temperaturas entre 23º e 65º C, & Sharp, Z. D. 2001b. Geochemistry of Aga-
verifica-se uma correlação interessante, pois, aos maiores valores de temperatura correspondem as tes: A Trace Element and Stable Isotope Study: Michelin, C.R.L; Mizusaki, A.M.P; Ferrei-
amostras com maior teor de SiO2 e menor valor de LOI. Também há uma relação com os valores Chemical Geology, 175: 523-541. ra, V.; Brum, T.M.M; Hartmann, L.A. 2013.
para o óxido de ferro (0,82 a 3,44% peso); maiores teores de Fe2O3 estão associadas às maiores Ágata associada ao magmatismo do Cretáceo
temperaturas de cristalização. Além disso, mudanças na coloração da ágata também são observa- Hatipoğlu, M., David, Ajò & Kırıkoğlu, M.S. da Bacia do Paraná, sul do Brasil. Pesquisas em
das, ou seja, nas amostras de coloração azul escura, os teores de Fe2O3 são mais elevados, conforme 2011. Cathodoluminescence (CL) features of Geociências. 40 (2): 129 – 139.
anteriormente citado. the Anatolian agates, hydrothermally deposited
Com o objetivo de comparar as temperaturas de cristalização da ágata e da fase de in different volcanic hosts from Turkey. Journal Moxon,T. 2002. Agate: a study of ageing. Euro-
quartzo macrocristalino, foram realizadas análises de isótopos estáveis de O em três amostras of Luminescence, 131: 1131-1139 pean Journal Minerology. 14: 1109 – 1118.
desta última fase. A composição isotópica do quartzo macrocristalino varia de +24,00 a +22,25 ‰. Paralı, L., Garcia Guinea, J., Kibar, R., Cetin, A.
Calculando a temperatura com base neste parâmetro, obtiveram-se temperaturas de 50 e 51º C, Heemann R. 2005. Modelagem estrutural e tri- & Can, N. 2011. Luminescence behaviour and
compatíveis com o intervalo obtido para as amostras de ágata (23º a 65o C). dimensional para a prospecção e avaliação dos Raman characterization of dendritic agate in
A amostra 16, além de ter baixa temperatura de cristalização (23º C) e relativamente alto teor de depósitos de ágata do distrito mineiro de Salto the Dereyalak village (Eskişehir), Turkey. Jour-
Al2O3 (Tab. 1), apresenta concentrações mais elevadas de Ba, Rb, Sr, CaO e K2O. Estes altos do Jacuí (RS). 150 f. Tese (doutorado) - Univer- nal of Luminescence, 131(11): 2317-2324
teores confirmam a presença de carbonatos associados, conforme observado não só macroscopica- sidade Federal do Rio Grande do Sul. Escola
mente como também ao microscópio eletrônico de varredura. de Engenharia. UFRGS, Programa de Pós- Santos, E.L.; Maciel, L.C. e Filho, J.A.Z. 1998.
Graduação em Engenharia Minas, Metalúrgica Distritos Mineiros do Estado do Rio Grande
Conclusões e de Materiais, Porto Alegre, RS. do Sul. DNPM. 1º Distrito/ Programa Nacio-
nal de Distritos Mineiros. 35p.
O principal portador da mineralização de ágata, em termos de volume de geodos extra- Heemann, R. 1997. Geologia, controles e guias
ídos, é um derrame de basalto vesicular, alterado, sotoposto a este derrame observa-se um derrame prospectivos para depósitos de ágata na região Strieder, A.J., Heemann, R. 2006. Structural
de composição dacítica onde eventualmente ocorrem alguns geodos. do Salto do Jacuí. Dissertação (Mestrado em constraints on Paraná basalt volcanism and
No DMSJ, a ágata é o polimorfo da silica dominante nos geodos, mas secundariamente engenharia), Programa de Pós - Graduação em their implications on agate geode mineraliza-
observa-se opala, quartzo microcristalino, quartzo macrocristalino e calcedônia. engenharia de Minas, Metalurgia e dos Mate- tion (Salto do Jacuí, RS, Brazil). Pesquisas em
As amostras analisadas no DMSJ podem ser caracterizadas por diferenças na cristalinidade, com- riais. Universidade Federal do Rio Grande do Geociências 33: 37-50.
posições químicas e temperatura de cristalização, o que indica que, mesmo se tratando de ágatas Sul, Porto Alegre, 1997.
provenientes de uma mesma região, ocorrem variações no seu processo de cristalização. Estas Valley J.W., Kitchen N, Kohn M.J., Niendorf
variações refletem-se nas diferentes formas de preenchimentos dos geodos, além de estruturas e Hurlbut Jr., C. S. & Switzer G.S. 1980. Ge- C.R. & Spicuzza M.J. 1995. UWG-2, a garnet
colorações que são apresentadas pela ágata do DMSJ. mologia. Barcelona, Editora Omega, S.A. 251p standard for oxygen isotope ratios: strategies for
Flörke et al., 1982 high precision and accuracy with laser heating.
Agradecimentos Geochimica et Cosmochimica Acta, 59: 5223-
Lee, D. R., 2008. Characterisation of silica mi- 5231.
A primeira autora agradece ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e nerals in a banded agate: implications for agate
Tecnológico (CNPq) pela bolsa de doutorado concedida durante a realização desta pesquisa. genesis and growth mechanisms. Disponível em:
http://www.geos.ed.ac.uk/homes/50789516/
Referências Bibliográficas agate.pdf. Acessado em: 21 ago. 2011
Constantina, C. & Moxon, T. 2010. Agates das fases silicosas dos geodos mineralizados a
from Gurasada, southern Apuseni Mountains ametista (Região do Alto Uruguai, RS, Brasil).
Romenia: an XRD and termogravimetric study. Porto Alegre, 159p. Tese de Doutorado, Pro-
Carpathian Journal of Earth and Environmen- grama de Pós-graduação em Geociências, Ins-
tal Sciences, 5 (02): 89-99. tituto de Geociências, Universidade Federal do
28 Rio Grande do Sul. 29
Fischer, A.C. 2004. Petrografia e geoquímica
Microtomografia Computadorizada de materiais. Tal técnica fornece um mapa preciso da atenuação de raios-X em uma amostra, indepen-
dente da existência de uma subestrutura de diferentes fases bem definidas (Gasperi et al. 2004).
Raios-X: Definições e Aplicações De acordo com Calvert & Veevers (1962) e Bouma (1964), o princípio físico de fun-
cionamento da técnica consiste em medir as variações de densidade do material, utilizando um
Carlos Edmundo de Abreu e Lima Ipar1 conjunto de projeções bidimensionais de um objeto para reconstruir sua estrutura tridimensional
Jaqueline Fernanda Lando1 através de um algoritmo matemático. Como os raios-X passam através do objeto que é escaneado,
Juliano Tonezer da Silva1 o sinal é atenuado por espalhamento e absorção em um detector. A equação básica para atenuação
1
Centro Tecnológico de Pedras, Gemas e Joias do Rio Grande do Sul, Universidade de Passo Fundo. de um feixe monoenergético por um material homogêneo é dada pela lei de Lambert-Beer, repre-
E-mail: ctpedras@upf.br. sentada na equação 1:
I=I0 e-μx (1)
Introdução
Onde I0 e I representam a intensidade de raios-X incidentes e transmitidos, respectiva-
O Centro Tecnológico de Pedras, Gemas e Joias do Rio Grande do Sul (CTPGJRS), mente, µ é o coeficiente de atenuação linear para o material que está sendo escaneado, e x é a espes-
em parceria com a Universidade de Passo Fundo e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, sura da amostra que o feixe irá percorrer no material. Como a maioria dos objetos escaneados são
está desenvolvendo o projeto Implantação do Núcleo de Competência em Análise, Identificação compostos por um número diferente de materiais, o resultado final da atenuação pode ser expresso
e Certificação de Minerais, financiado pela Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia. Este conforme a equação 2:
projeto tem como objetivo principal instalar um Laboratório de Análise e Identificação e minerais
junto ao CT Pedras, sendo que serão adquiridos diversos equipamentos para este fim. Dentre eles, (2)
destaca-se um Microtomógrafo de Raios-X que pode ser visualizado na Figura 1.
Interferências
Geet et al. (2000) e Geet & Swennen (2001) explicam que mesmo com o aperfeiço-
amento dos equipamentos, a técnica não está livre de interferência. Um problema que afeta a
capacidade de um tomógrafo de representar exatamente o material analisado é o ruído.
A semelhança nos coeficientes de atenuação dos materiais dificulta a diferenciação entre
determinadas partes da amostra. No processamento computacional do valor do pixel pode ocorrer
um erro na forma de variação estatística e esta variação limita a resolução da densidade final. (Geet
et al. 2000 e Geet & Swennen; 2001).
Outros erros de objetos podem ser gerados na imagem devido a fatores diversos. Os
erros de objetos em listas e anéis normalmente são originados por problemas nos detectores. Caso
os detectores não sejam equivalentes ou inter-calibrados com precisão, por exemplo, a projeção
posterior para cada anel de dados seria diferente, produzindo anéis múltiplos (Geet et al. 2000 e Figura 4 – Estruturas morfológicas de pérolas. Fonte: Revista Gems e Geology(edição verão/2010).
Geet & Swennen, 2001).
32 O mau alinhamento do tubo e do detector causa erro de posicionamento dos valores Na Figura 4 podem ser observadas na parte superior do quadro as pérolas cultivadas de 33
calculados, o que também pode gerar erros nos objetos, como o borramento das bordas ou listas. A água doce sem núcleo, na parte central, pérolas cultivadas de água salgada com núcleo, e na parte
inferior, pérolas naturais e pérolas cultivadas Keshi sem núcleo (H.A.Hanni, 2010). para análise e caracterização de materiais . As análises foram feitas utilizando o equipamento µ-CT
Neste sentido, o estudo demonstrou que a microtomografia é uma poderosa técnica para 1074, da Skyscan. Uma análise típica leva em média 35 minutos para obtenção das imagens tomo-
visualização interna da estrutura da pérola, fornecendo assim evidencias diagnósticas para diferen- gráficas e outros 35 minutos para a reconstrução de seções transversais.
ciar as naturais das cultivadas. A vantagem desde método está principalmente na visão de terceira
dimensão de alta resolução quando comparado com as radiografias tradicionais, que fornecem Considerações Finais
imagens condensadas bidimensionais.
Em outro trabalho efetuado por Beline et al. (2011), teve como objetivo aplicar no Brasil Este capítulo apresentou uma revisão da literatura sobre a técnica de µ-CT, que se mos-
a técnica de µ-CT na caracterização anatômica de madeiras e seus produtos, através da análise tra uma excelente tecnologia para obter imagens em 3D de objetos. Os trabalhos encontrados na
da estrutura anatômica microscópica do lenho de folhosa (Amburana cearensis, cerejeira) e de literatura indicam que, para diversos materiais, a técnica de µ-CT torna-se muito útil para avaliar
conífera (Pinus sp., pinus). Para o estudo foram selecionadas amostras de madeira de Cerejeira e propriedades estruturais qualitativas e quantitativas, com a vantagem se ser um ensaio não destru-
Pinus, coletadas na Xiloteca do Departamento de Ciências Florestais da USP, Piracicaba, SP. Das tivo.
amostras de madeira das duas espécies, foram cortados corpos de prova cilíndricos de aproximada- Também, foi possível compreender que os parâmetros aplicados na aquisição dos dados
mente Ø20mm x 20 mm (diâmetro x altura) (Figura 6 - A). Para a obtenção das imagens tomo- na amostra podem interferir incisivamente na geração ou eliminação de artefatos captados pelo
gráficas da madeira foi utilizado um Microtomógrafo de Raios X, marca SkyScan, modelo 1172, equipamento. Portanto, é necessário conhecimento suficiente da técnica e do equipamento para
do Laboratório de Técnicas Nucleares da Embrapa Instrumentação Agropecuária/CNPDIA, em obtenção de boas imagens nas diferentes amostras.
São Carlos, SP. O equipamento de µ-CT que está sendo adquirido pelo CTPGJRS, possui um grande
potencial de utilização em diversas áreas do conhecimento, sendo que se espera através de testes e
pesquisas a serem efetuadas comprovar a sua utilizada para análises e identificação de minerais.
Agradecimentos
À Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado do Rio Grande do Sul e à
Universidade de Passo Fundo, pelos recursos financeiros destinados a execução deste projeto, de
acordo com o convênio SCIT 31/2012, Processo: 430-2500/12-2, no âmbito do edital 001/2012,
do programa de apoio aos polos tecnológicos.
Referências Bibliográficas
BOUMA A.H. Notes on X-ray Interpreta- Determinação Computacional da Permeabi-
A B tion of Marine sediments. Marine geology,
2:278-309. 1964.
lidade de Rochas Reservatório. In: Congresso
Nacional de Engenharia Mecânica, 3, Anais.
2002
VINÍCIUS .R .D .CASTRO. Microtomogra-
Figura 6 – A: Corpo de prova de madeira de Pinus sp. utilizado na obtenção de imagens da estrutura fia de Raios X (microCT) Aplicada na Carac- GEET M.V., SWENNEN R., Wevers M..
anatômica por µ-CT; B: Imagem da seção transversal da estrutura anatômica da madeira, por µ-CT
terização Anatômica da Madeira de Folhosa e Quantitative analysis of reservoir rocks by
e indicação das linhas de referência para a projeção dos planos longitudinais. Fonte: (CASTRO.V.R
de Conífera.Floresta e ambiente.2011. microfocus X-ray computerized tomography.
2011).
Sedimentary Geology.2000.
CALVERT S.E. & VEEVERS J.J. Minor
Os principais resultados encontrados por Beline et al. (2011), foram, as imagens da es- structures of unconsolidated marine sediments GEET M.V. & SWENNEN R.Quantitative
trutura anatômica do plano transversal e longitudinais radial e tangencial da madeira de Cerejeira revealed by X-radiography. Sedimentology. 3D-fracture analysis by means of microfocus
e Pinus obtidas através da análise por µ-CT, sendo que estas possibilitam realizar a sua caracteri- 1962 X-ray computer tomography (μCT): an exam-
zação macro e microscópica. A movimentação das linhas de referência perpendiculares entre si, ao ple from coal. Geophysical Research Letters.
longo da altura da amostra de madeira, permite a reconstrução da disposição e do alinhamento dos FELDKAMP, DAVIS, E KRESS . O algorit- 2001.
seus elementos anatômicos em 2D e 3D. mo de Feldkamp, ( J. Opt. Soe. Sou. A 1,
A aplicação da µ-CT possibilitou a obtenção de imagens da estrutura anatômica macro 612-619 (1984). KETCHAM, R.A. Three-dimensional grain
e microscópica do lenho de Amburana cearensis e de Pinus sp., permitindo a sua caracterização, fabric measurements using high-resolution X-
34 descrição e comparação com a da literatura especializada. GASPERI H.C., FERNANDES C.P., PHI- ray computed tomography. Journal of Structu- 35
O trabalho efetuado por Mazali et al. (2003), foi sobre a µ-CT como grande potencial LIPPI P.C., RODRIGUES C.R. O. 2004. ral Geology.2005.
KETCHAM, R.A. & ITURRINO, G.J. Non-
destructive high-resolution visualization and
MICHAEL KRZEMNICKI e H.A HANNI.
Microtomografia computadorizada distingue
Aplicações do novo laboratório de
measurement of anisotropic effective porosi-
ty in complex lithologies using high-resolu-
pérolas naturais das com núcleo e sem núcleo.
Revista gems e geology.2010.
gemologia do Centro Tecnológico de
tion X-ray computed tomography. Journal of
Hydrology.2004.
KETCHAM, R.A. Three-dimensional grain
fabric measurements using high-resolution X-
Pedras, Gemas e Joias do Rio Grande do Sul
ray computed tomography. Journal of Structu- Pedro Luiz Juchem1, Carlos Edmundo de Abreu e Lima Ipar2
ral Geology.2005.
MEES F., SWENNEN R., GEET M.V., JA- 1
Laboratório de Gemologia – Instituto de Geociências, UFRGS e Pós-graduação em
COBS P. Aplications of x-ray computed to- SARKAR, P.S.; SINHA, A.; KASHYAP, Y.; Design (Tecnologia) – PGDesign/UFRGS – labogem@ufrgs.br
mography in geosciences. London, Geological MORE, M.R.; GODWAL, B.K. Develop- 2
Centro Tecnológico de Pedras, Gemas e Joias do RS – UPF – ipar@upf.br
Society Special Publications.2003. ment and characterization of a 3D cone beam
tomography system. Nuclear Instruments and Introdução
LANDIS, E.N.; NAGI, E.N.; KEANE, D.T. Methods in Physics Research.2009.
Microstructure and fracture in three dimen- O Brasil é conhecido por abrigar uma das maiores e mais importantes Províncias Ge-
sions.2005. UGO LEANDRO BELINI. Microtomografia mológicas do planeta. Nosso país se destaca pela qualidade, variedade e dimensões dos minerais
de Raios X (microCT) Aplicada na Caracteri- gemológicos produzidos e também pela extensão territorial das áreas de ocorrência, pois quase
LIMA I., ASSIS J.T., LOPES R.T.Three-di- zação Anatômica da Madeira de Folhosa e de todos os estados produzem algum tipo de gema (Svisero & Franco, 1991). O Brasil é também um
mensional conic beam X-ray microtomography Conífera.Floresta e ambiente.2011. dos maiores fornecedores de gemas de cor para o mercado intenacional, respondendo por cerca 1/3
in bone quality. Spectrochimica acta part B, do volume de gemas produzidas no planeta e desse volume, cerca de 80% é exportado, tanto em
64:1173-1179. 2009. SKYSCAN. Disponível em: < http://www.skys- bruto como lapidado (IBGM, 2008). Nesse cenário, o Rio Grande do Sul aparece como segundo
can.be/home.htm>. Acesso em 16/12/2013. maior produtor de gemas do país, ficando atrás somente de Minas Gerais, se destacando pela ex-
MAZALI. Microtomografia de raios-X, gran- pressiva produção de ágata e de ametista ( Juchem et al., 2009).
de potencial análise e caracterização de mate- SHIMADZU . Disponível em: < http://www. A região do COREDE (Conselho Regional de Desenvolvimento) do Alto da Serra
riais.Sociedade Brasileira de Química.2003. shimadzu.com.br/ >. Acesso em 16/12/2013. do Botucaraí está localizada no norte do Rio Grande do Sul e é resultante do agrupamento de
dezesseis municípios: Alto Alegre, Barros Cassal, Campos Borges, Espumoso, Fontoura Xavier,
Gramado Xavier, Ibirapuitã, Itapuca, Jacuizinho, Lagoão, Mormaço, Nicolau Vergueiro, São José
do Herval, Soledade, Tio Hugo e Victor Graeff. Nessa região, vários municípios produzem ágata,
ametista, ônix, cornalina e opala ( Juchem et al., 2009 ) e o município de Soledade consolidou-
se como um grande centro estadual de beneficiamento, comercialização e exportação de pedras
preciosas. Estima-se que existam em Soledade mais de 180 empresas de micro e pequeno porte
ativas no setor de gemas, destacando-se também que cerca de 35 a 38% do PIB do município
provém da comercialização de gemas. Esse desenvolvimento econômico na área de gemas, levou
esse município a abrigar importantes instituições ligadas a esse setor econômico, como a sede do
SINDIPEDRAS (Sindicato das Indústrias de Joalherias, Mineração, Lapidação, Beneficiamento,
Transformação de Pedras Preciosas do Rio Grande do Sul), uma Agência de Aperfeiçoamento
Profissional do SENAI-RS (onde são ministrados cursos de lapidação e de joalheria) e a sede do
Centro Tecnológico de Pedras, Gemas e Joias do Rio Grande do Sul (CTPGJRS). Esse Centro
está ligado à Universidade de Passo Fundo (UPF) e atua em parceria com a Universidade Federal
do Rio Grande do Sul (UFRGS), com o apoio do Ministério da Ciência e Tecnologia e do Mu-
nicípio de Soledade. No CTPGJRS são realizadas diversas pesquisas para melhorar a qualidade
produtiva do setor de gemas de Soledade e dos municípios da região do Alto da Serra do Botuca-
raí, porém com benefícios que se estendem por todos os municípios produtores de gemas do RS.
Um dos gargalos identificado para o desenvolvimento do Setor de Pedras, Gemas e Joias
da região encontra-se na identificação e certificação de gemas e metais preciosos, o que só pode ser
executado por testes e avaliações feitas por pessoal qualificado e com equipamentos adequados. No
RS, a única instituição capacitada para este tipo de análise e identificação é a Universidade Federal
36 do Rio Grande do Sul (UFRGS), através do seu Laboratório de Gemologia (LABOGEM) e 37
departamentos auxiliares do Instituto de Geociências ( Juchem et al., 2010). Contudo, a logísti-
ca entre Soledade e Porto Alegre acabam dificultando o acesso da comunidade em geral a esses volume por ele ocupado. É uma propriedade característica de cada material, pois está relacionada
procedimentos e análises. Assim, o CTPGJRS passou a desenvolver um projeto de implantação com o arranjo dos átomos que o compõe (Webster, 1983). Uma técnica muito utilizada para medir
de um Núcleo de Competência em Análise, Identificação e Certificação de Minerais da Região a densidade em gemologia é a balança hidrostática, onde é obtido o peso da gema no ar e quando
do Alto da Serra do Botucaraí. Através da aquisição de equipamentos de alta tecnologia e treina- mergulhada em água destilada (Fig. 1). A densidade (d) é obtida aplicando-se a fórmula: d =
mento de pessoal qualificado, esse Núcleo de Análises objetiva auxiliar o setor produtivo na correta Mar/V, onde Mar é o peso da gema no ar e o volume V é a diferença entre os dois pesos (Mar -
identificação dos materiais gemológicos utilizados na indústria e comércio, aumentando assim o Mag), onde Mag é o peso da gema imersa em água destilada.
valor agregado aos seus produtos, assim como o desenvolvimento de novas pesquisas e aplicações O CTPGJRS possui uma balança analítica eletrônica marca BEL MARK, série N, com
tecnológicas que possam contribuir com o desenvolvimento da região. Nesse sentido, está sendo precisão de 0,1mg e que pode ser transformada em uma balança hidrostática para obter medidas
instalado atualmente um Laboratório de Gemologia, com equipamentos básicos para a identifica- de densidade em materiais gemológicos.
ção e certificação de gemas.
Esse Laboratório de Gemologia certamente será um marco no desenvolvimento do setor
de gemas da região, pois permitirá a correta identificação e classificação dos materiais gemológicos
que circulam na indústria e no comércio de Soledade e municípios vizinhos. Com o grande desen-
volvimento da indústria de beneficiamento e do comércio de gemas que ocorreu em Soledade nas
últimas décadas, houve também um acréscimo expressivo no aporte de materiais vindos de outros Figura 1 – Esquema
locais do Brasil, bem como de outros países. Isso fez com que as lojas de Soledade, tanto as de de uma balança
pequeno como as de grande porte, passassem a oferecer aos consumidores materiais gemológicos hidrostática,
extremamente diversos. Esses materiais, tanto bruto como lapidados, ou inclusive já transformados mostrando como
em joias, são trazidos na maioria das vezes por fornecedores comerciais que não tem conhecimen- uma gema é pesada
tos técnicos sobre o que estão comercializando, e na maioria das vezes sequer sabem a procedência dentro de um recipiente
dos mesmos. No entanto, muitos desses materiais não são gemas naturais, mas gemas sintéticos ou com água destilada.
imitações feitas de vidro, plástico ou resinas, sem que no entanto os lojistas tenham conhecimento Extraído de Schumann
disso. Com o funcionamento do Laboratório de Gemologia no CTPGJRS, os comerciantes po- (2006).
derão conhecer e certificar seus produtos, oferecendo assim à comunidade, turistas e importadores,
gemas e joias diferenciadas, pois saberão se estão comercializando gemas naturais ou produtos
sintéticos.
2. Polariscópio
O Laboratório de Gemologia
O polariscópio (Fig. 2a) é um equipamento utilizado para determinar se uma gema é
Quando um mineral é lapidado, muitas de suas propriedades diagnósticas são destruídas ópticamente isótropa ou anisótropa (Read, 1978). A luz branca passa por um polarizador (um
ou mascaradas, dificultando e, na maioria das vezes, impedindo a sua identificação. Uma gema polímero que faz com que a energia que compõe essa luz vibre somente em uma direção); ao
lapidada não pode ser submetida a nenhum tipo de análise destrutiva (como dureza, testes quími- encontrar outro polarizador (analisador), cujo plano de polarização está a 90º do primeiro, é total-
cos) porque qualquer dano causado pode diminuir sensivelmente o valor desses materiais. O valor mente barrada. Assim, olhando-se através dos dois polarizadores perpendiculares, se observa um
comercial que é agregado a uma gema lapidada, por si só já justifica a não realização de qualquer
teste que possa danificar a pedra e assim afetar seu valor. Além disso, é comum que as gemas
sejam acompanhadas de valor afetivo, o que torna ainda mais trágica a possibilidade de danificar
esses materiais com algum teste analítico. Por isso, a identificação de gemas lapidados consiste em
determinar as propriedades físicas e ópticas desses materiais utilizando técnicas analíticas não des-
trutivas, algumas relativamente simples e outras mais sofisticadas, mas todas envolvendo uma série
de equipamentos específicos e ainda pouco conhecidos do público em geral.
Apresentamos a seguir os principais equipamentos adquiridos para o Laboratório de
Gemologia do CTPGJRS e os princípios físicos básicos de seu funcionamento e que são utilizados
para a realização de exames de rotina em gemas lapidadas.
1. Peso e densidade Figura 2. Como funciona um polariscópio. a) polarizador e analisador com planos de polarização (setas)
A unidade de medida de peso utilizada para gemas é o quilate (carat, em inglês; símbolo perpendiculares entre si; b) observação através de dois polarizadores com planos de polarização a 90º e
= ct), que corresponde a 200 mg (1ct=200mg). O quilate pode ser dividido em 100 pontos, para se c) a um ângulo diferente de 90º; d) comportamento de uma gema anisótropa e de uma gema isótropa ao
38 referir no comércio ao peso de gemas muito pequenas. polariscópio; a gema anisótropa repete a posição de extinção a cada 90º, enquanto que a gema isótropa 39
A densidade é uma medida que expressa a razão entre a massa (peso) de um material e o fica sempre extinta.
campo totalmente escuro (Fig. 2b). Se os dois polarizadores não estão perpendiculares, parte da luz 4. Refratômetro - medidas de índices de refração
consegue atravessar (Fig. 2c).
Se entre o polarizador e o analisador for colocada uma gema anisótropa (ex. esmeralda, Quando um feixe de luz que se propaga no ar atinge uma superfície que separa dois
ametista), a luz proveniente do polarizador ao atravessar o cristal se desdobra em dois raios de luz meios transparentes com densidades diferentes, por exemplo, ar e água (Fig. 4a), ou ar e uma gema,
polarizados e perpendiculares entre si, permitindo que parte da luz atravesse o analisador. Girando- parte dessa luz é refletida e parte dela penetra no outro meio onde é transmitida com uma velo-
se essa gema, a cada 90º haverá uma posição em que não haverá nenhuma passagem de luz e o cidade diferente da inicial. Essa variação de velocidade provoca um desvio na trajetória do feixe
mineral fica escuro (extinto). Essa situação se repete portanto, quatro vezes em um giro de 360º de luz que é chamado de refração, e pode ser visto ao mergulharmos um objeto em um copo com
da gema (Fig. 2c). Se entre os dois polarizadores for colocada uma gema isótropa (ex. diamante, água (Fig. 4a). O quanto a luz desvia de sua trajetória é medido pelo índice de refração, que é uma
granada, vidro), a luz proveniente do polarizador ao atravessar o cristal se mantém sempre pola- propriedade constante para cada espécie mineral, sendo por isso uma das principais características
rizada na mesma direção e, ao chegar no analisador é barrada. Girando-se essa gema de 360º, ela diagnósticas utilizadas na identificação de gemas lapidadas (Webster, 1983; Schumann, 2006). O
permanecerá sempre escura (extinta), sem passagem de luz (Fig. 2d). índice de refração das gemas é medido com o refratômetro gemológico (Fig. 4b), cujos resultados
são utilizados também para determinar outras propriedades importantes relacionadas à luz, como
3. Dicroscópio - cor e pleocroísmo o caráter e sinal óptico e a birrefringência.
A cor é uma das características mais importantes das gemas, pois está ligada diretamente Figura 4. Refratômetro
à sua beleza e define as variedades gemológicas da maioria dos minerais. Quando a luz incide em gemológico. a) refração da luz
uma gema, parte é refletida, parte é transmitida através da pedra e outra parte é absorvida (Read, observada através do desvio
1978). A cor de uma gema corresponde ao somatório dos comprimentos de onda (cores) que não da imagem de um pincel mer-
foram absorvidos. Se nenhum comprimento de onda é absorvido, ela é incolor; se toda a luz é ab- gulhado em água; b) refratô-
sorvida, ela é preta; e se todos os comprimentos de onda são refletidos com a mesma intensidade, a metro KRÜSS do CTPGJRS,
pedra é branca. indicando em
Certos minerais coloridos apresentam uma absorção seletiva de cores, de acordo com a 1) plataforma com uma base de
direção em que a luz se propaga, exibindo assim cores ou tonalidades de cor diferentes conforme a vidro ao centro onde é colocada
direção em que são observados (Fig. 3a). Essa propriedade é denominada de pleocroísmo e geral- a gema para medir os índices
mente não é possível de ser observada a olho nu, porque o nosso cérebro soma os comprimentos de refração; 2) ocular para
de onda transmitidos e os interpreta como uma cor só. O pleocroísmo pode ser identificado nas 5. Filtros de absorção de cor visualizar a escala de medidas
gemas através do dicroscópio, constituído de um pequeno cilindro, onde em uma extremidade absorção seletiva da luz; de índices de refração.
estão colocados lado a lado dois polarizadores com planos de polarização da luz perpendiculares
entre si, e no outro extremo uma lente (Fig. 3b). Ao se observar uma gema pleocróica através deste Os filtros de absorção cor são utilizados como um método auxiliar na identificação de
aparelho, obtém-se lado a lado as diferentes cores que são transmitidas em cada uma das direções algumas gemas e consistem em películas de vidro ou resinas, que tem a propriedade de absorver
preferenciais dessa gema, pois cada um dos polaróides só deixa passar uma cor, correspondente à determinados compri¬mentos de onda da luz, isto é, determinadas cores. O exame por meio dos
luz cuja energia vibra na mesma direção daquele polaróide (Fig. 3c); filtros (Fig. 5) se baseia na observação da diferença entre a cor que apresenta uma gema quando
observada a olho nu e a sua cor residual quando vista através do filtro (Read, 1978). Isso pode ser
utilizado para diferenciar a esmeralda natural da sintética, de vidro verde e de turmalina verde; e a
água-marinha de suas imitações comuns, como vidro sintético, espinélio sintético e topázio azul.
Figura 3. Pleocroísmo e dicroscópio. a) Um mineral indicando as direções (setas) em que pode transmitir
diferentes cores; b) um dicroscópio e seu esquema de funcionamento, mostrando no detalhe os polaróides Figura 5 – Alguns tipos de filtros de absorção de cor. a) Filtro de Chelsea; b) Filtro de Göttinger para
com planos de polarização perpendiculares entre si; c) exemplo de variação de cor (pleocroísmo) observado esmeralda (1) e para água-marinha (2) e gemas que em geral são examinadas com os filtros: 3 – esme-
40 com o dicroscópio em uma gema lapidada. ralda natural; 4 – esmeralda sintética; 5 – vidro sintético verde; 6 – água-marinha; 7 - vidro sintético 41
azul; 8 – espinélio sintético azul.
6. Lâmpada ultravioleta - Fluorescência
A fluorescência é o fenômeno de emissão de luz por um mineral, quando este é irra-
diado com luz ultravioleta. O fenômeno ocorre devido à presença de determinados elementos
químicos na estrutura cristalina dos minerais que reagem a esse tipo de radiação, emitindo luz
(Hurlbut&Kammerling, 1991) Alguns minerais gemológicos não são fluorescentes e outros podem
ou não ser fluorescentes. Assim, a fluorescência pode auxiliar na identificação de certas gemas, mas
deve ser utilizada com cautela, pois geralmente não serve isoladamente como uma prova definitiva,
já que pequenas variações na composição química podem mudar os efeitos de fluorescência dos
minerais.
Figura 6 – Luz ultravioleta. a) equipamento KRÜSS adquirido pelo CTPGJRS, constituído por uma Além do microscópio gemológico, foi adquirido também uma lupa gemológica bino-
câmara metálico onde estão inseridas lâmpadas que emitem luz ultravioleta e uma base de fundo preto cular marca KRÜSS. Nesse equipamento, a gema a ser examinada pode ser seja fixa à base com
onde são colocadas as gemas pra serem analisadas. b) lote de cristais brutos de diamante exibindo diferen- uma pinça especial que permite que a pedra seja rotacionada em diferentes ângulos, o que facilita
tes intensidades de fluorescência em tons de azul e verde amarelado. a análise detalhada da qualidade da sua lapidação, como proporções, simetria, linhas de polimento
e defeitos como piques e arranhões. Na lupa, é possível também fazer uma análise preliminar das
7. Microscópio gemológico de imersão inclusões que existem na gema, o que auxilia no reconhecimento de sínteses e imitações. Acom-
panha esse conjunto uma câmara fotográfica que pode ser acoplada a ambos os equipamentos
A análise microscópica de gemas tem como objetivo a identificação e descrição de suas (lupa binocular e microscópio gemológico), permitindo a obtenção de fotomicrografias digitais
inclusões, que são todas as irregularidades físicas e ópticas que podem existir no interior das pedras. das características estudadas nas gemas. Essas fotografias podem servir de registro e comprovação
As inclusões podem ser sólidas (minerais ou substâncias sólidas não cristalizadas), inclusões fluidas das propriedades das pedras, em documentos de certificação da gemas. Além disso, as fotografias
(cavidades com resíduos do fluido que originou o mineral), fraturas, linhas de crescimento dos também podem ser utilizadas em trabalhos de pesquisa que serão desenvolvidos no Laboratório
minerais, clivagem, etc. (Fig. 7). A identificação das inclusões é o método mais utilizado e ainda o de Gemologia e publicados em revistas de divulgação científica.
mais seguro para determinar se uma gema é natural ou sintética, uma vez que as demais proprie- Além desses equipamentos básicos, o CTPGJRS tem acesso para utilização do Micros-
dades físicas e ópticas desses materiais podem ser semelhantes (Webster, 1983). No microscópio cópio Eletrônico de Varredura marca SHIMADZU, modelo Vega 3, instalado no Parque Científi-
gemológico (Fig. 8), as gemas são examinadas imersas em líquidos especiais, com índice de refração co e Tecnológico do Planalto Médio, em Passo Fundo. Esse microscópio, que permite ampliações
semelhante ao da pedra. Tal procedimento tem como objetivo impedir (ou dificultar ao máximo) a de um objeto em até 1 (um) milhão de vezes é uma ferramenta importante na caracterização de
reflexão da luz na superfície da pedra, permitindo uma melhor observação do interior da mesma, a materiais gemológicos, além de permitir estudos da qualidade de soldagem de estruturas metáli-
fim de facilitar a identificação e descrição de suas características internas. cas utilizadas em joalheria. Na análise de gemas, é possível obter-se informações sobre a textura
e a topografia da amostra, identificar inclusões sólidas e, acomplando-se um espectrômetro para
detectar os raios X produzidos pela amostra quando excitada com o feixe eletrônico, é possível
realizar análises dos elementos químicos presentes na amostra.
Além disso, o Núcleo de Competência em Análise, Identificação e Certificação de Mi-
nerais da Região do Alto da Serra do Botucaraí está adquirindo um Microtomógrafo de Raios-X
marca SHIMADZU, modelo InspeXio SMX-90CT, que permite a criação de seções transversais
de um objeto em 3 dimensões, visualizando detalhes da sua estrutura. É um equipamento impor-
tante que tem inúmeras aplicações na área de geologia e de mineralogia e que poderá ser utilizado,
Figura 7. Inclusões em gemas vistas ao microscópio gemológico. a)inclusão fluida trifásica (cavidade irre- por exemplo, para estudar com mais detalhe a micro porosidade da ágata e assim entender melhor
gular preenchida com líquido, dois cristais e duas bolhas de ar) em esmeralda colombiana; b)ametista do as reações e a circulação dos líquidos corantes durante os processos de tingimento dessa gema.
42 RS com zonação de crescimento marcada por variação de cor e por agregados de cristais pretos de goethita; Destaca-se que este será o primeiro equipamento desse tipo que será instalado no RS, sendo que 43
c)linhas curvas de crescimento em uma safira sintética. Modificado de Juchem et al.(2010). o mais próximo está em Curitiba, no Instituto de Geociências da Universidade Federal do Paraná
(UFPR), que já foi utilizado em algumas pesquisas desenvolvidas pelo CTPGJRS e pelo Curso de
Pós-Graduação em Design da UFRGS.
Análise multi-técnicas de opala do
Referências Bibliográficas
Rio Grande do Sul
Ruth Hinrichs1,2*, Daniel da Rosa Madruga 1,2
HURLBUT Jr, C., KAMMERLING, READ, P.G. 1978 Gemological Instruments; Marcos A.Z. Vasconcellos2,3, Ana Paula L. Bertol2,3, Eduardo Blando2,3
R.C.1991 Gemology; Ed. John Wiley&Sons. Newnes-Butterworths, London, 1978. Tania Mara Martini de Brum1,4, Pedro Luiz Juchem1,4
IBGM - INSTITUTO BRASILEIRO DE 1
Instituto de Geociências, UFRGS, Porto Alegre, RS, Brasil
GEMAS E METAIS PRECIOSOS. 2008 O SCHUMANN, W. 2006 Gemas do mundo. 9ª 2
Laboratório de Microanálise, Instituto de Física, UFRGS, P. Alegre, RS, Brasil
Setor de Gemas e Joias no Brasil. Brasília: Ins- ed. Editora Disal, São Paulo 312 pg. 3
Pós Graduação em Física, UFRGS, Porto Alegre, RS, Brasil
tituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos 4
Laboratório de Gemologia, Departamento de Mineralogia e Petrologia
(IBGM). SVISERO, D.P.; FRANCO, R. R. 1991 A * ruth.hinrichs@ufrgs.br
Província Gemológica Brasileira. In: Princi-
JUCHEM, P. .L., BRUM, T. M. M., FIS- pais Depósitos Minerais do Brasil, Volume Introdução
CHER, A. C., LICCARDO, A., CHODUR, IV - Parte A - Gemas e Rochas Ornamentais.
N. L. 2009 Potencial Gemológico Da Região DNPM. p. 9-16 Junto com os depósitos de ágata e ametista das rochas vulcânicas do Grupo Serra Geral
Sul Do Brasil. In: I Seminário sobre Design e no Rio Grande do Sul ocorrem também depósitos de opala com interesse econômico na região
Gemologia de Pedras, Gemas e Joias do Rio WEBSTER, R., 1983 Gems. Butter Worths, central do RS. Embora esse mineral seja ainda pouco conhecido no mercado de gemas do País,
Grande do Sul. Anais. Art. 22. Soledade, RS. England. 1003 p. nos últimos anos passou a ser explorado de forma mais sistemática, representando uma nova fonte
de renda para os garimpeiros e comerciantes locais. A opala tem sido extraída esporadicamente na
JUCHEM, P. L., BRUM, T. M. RIPOLL, V. região entre os municípios de Soledade e Salto do Jacuí. As amostras deste estudo são provenientes
2010 O Laboratório de Gemologia da Uni- dos municípios de Salto do Jacuí e Fortaleza dos Valos, indicados no mapa da figura 1.
versidade Federal do Rio Grande do Sul. In:
HARTMANN, L. A.; SILVA, J. T. Tecnologias
para o setor de Gemas e Joias. Porto Alegre,
Editora da UFRGS, p 133-147.
44 45
Figura 1 - Localização de proveniência das amostras de opala deste estudo
A opala frequentemente está associada a depósitos de ágata em geodos e em fraturas nas A opala foi considerada inicialmente como uma substância amorfa, mas com o avanço
rochas vulcânicas, ou cimentando brechas, ou depositada ao longo de estruturas de fluxo dessas das técnicas de caracterização, principalmente pela a difração de raios X (DRX) foi possível mos-
rochas. Na figura 2 estão exemplificados os modos de ocorrência da opala do RS. trar que a estrutura da opala varia desde amorfo, até -cristobalita quase perfeita. Jones & Segnit
[2] classificaram e nomearam três fases de sílica hidratada de baixa temperatura: opala amorfa
(opala-A); -cristobalita com empilhamento acentuado de -tridimita (opala-CT); e -cristoba-
lita ordenada com empilhamento mais restrito de -tridimita (opala-C). A opala do RS é do tipo
microcristalina, com uma variação significativa no grau de cristalinidade, sendo identificadas opala
do tipo cristobalita (opala-C) e do tipo cristobalita-tridimita (opala-CT).
Este trabalho apresenta resultados da caracterização composicional e cristalográfica de
amostras de opala do RS, dos tipos C e CT. Foram utilizadas apenas técnicas analíticas compatí-
veis com a preciosidade das amostras e nenhum preparo adicional (moagem ou metalização) foi
necessário, preservando as gemas em todas as análises.
Metodologia
Amostras brutas de opala foram embutidas em resina, desbastadas e polidas apenas na
superfície exposta, com acabamento equivalente às facetas lapidadas de uma gema. Na figura 4 es-
tão mostradas as amostras analisadas neste trabalho: na figura 4a a opala-C, translúcida e azulada,
e na figura 4b a opala-CT, transparente e com tonalidade amarelo ouro.
Figura 2 - a) opala amarela associada à ágata preenchendo um geodo, b) opala branca leitosa em fraturas
da rocha hospedeira; c) opala preta e amarelo alaranjada (no detalhe) cimentando uma brecha; d) opala
branca leitosa depositada em feições de fluxo da rocha vulcânica. Modificado de [1].
Figura 4 - Fotografias com iluminação natural de a) opala-C do Salto do Jacuí (RS); b) opala-CT de
Fortaleza dos Valos (RS). Modificado de [3].
Para análise das fases minerais foram utilizadas duas técnicas: i) difração de raios X
(DRX), na geometria de Seemann-Bohlin, em que a incidência dos raios X é mantida em um
ângulo rasante e o detector é movimentado por um ângulo . Os difratogramas foram
obtidos em um equipamento da marca Shimadzu (modelo XRD6000) com tubo de cobre (40 kV
e 35 mA), utilizando ângulo de incidência de 1º e com varredura em 2 de 15 a 45 º, com passo de
0,02º; ii) espectroscopia micro-Raman, realizada com um equipamento montado no Laboratório
de Microanálise do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (IF-UFR-
GS). O espectrômetro consiste de um laser de He-Ne (Coherent), focalizado por um microcópio
Figura 3 - Petrografia de veios de opala em calcedônia: a) lâmina delgada em luz natural; óptico (Zeiss), filtrado por um filtro notch (Iridian), dispersado por um monocromador (Acton
46 b) idem em luz polarizada, exibindo o caráter isótropo da opala e a calcedônia constituída por Research) e detectado por uma câmera CCD refrigerada com nitrogênio líquido (Princeton). Os 47
esferulitos de quartzo microcristalino fibroso. Modificado de [1]. espectros de baixo deslocamento foram identificados por comparação com os espectros do reposi-
tário de dados mineralógicos e informações espectroscópicas da Sociedade Americana de Minera- As análises por espectroscopia micro-Raman, apesar de abrangerem apenas alguns mi-
logia (Minsocam), denominado RRUFF [4]. crômetros quadrados, foram compatíveis com a difração de raios X, que analisa a superfície de
Para a análise dos elementos maiores foi utilizado um espectrômetro de raios X por dis- toda a gema (~1 cm2). Na amostra de opala-C foi detectado apenas cristobalita, enquanto que na
persão em energia (EDS marca Thermo Noran) acoplado a um microscópio eletrônico de varredura amostra opala-CT foram encontradas as fases cristobalita e tridimita em todos os pontos analisa-
(MEV) capaz de operar com a amostra em baixo vácuo ( Jeol JIB 4500 dual beam), para possibilitar dos, como também está descrito na literatura [5]. Os resultados estão exemplificados na figura 6a,
a análise sem metalizar a superfície da gema isolante. Esta análise foi realizada no Laboratório de onde os espectros Raman das respectivas amostras estão comparados com padrões de cristobalita
Conformação Nanométrica do IF-UFRGS. Para a análise qualitativa de elementos-traço foi utili- e tridimita obtidos do repositário RRUFF [4].
zada um EDS (marca e2V Sirius) acoplado à linha de emissão de raios X induzidos por partículas Além das fases minerais a espectroscopia Raman permite determinar a presença de água
(PIXE) do implantador Tandetron (HV) do Laboratório de Implantação Iônica do IF- UFRGS, no interior das amostras de opala. A molécula de água apresenta apenas uma tênue banda vibra-
equipado com um detetor EDS do tipo Si-Li, com um filtro de Mylar® para evitar os picos de cional na região entre 3000 e 3600 cm-1. Os espectros obtidos são ruidosos apesar do longo tempo
soma provocados pelo excesso de raios X característicos do silício da opala. de aquisição (900 s), porém distingue-se que a opala-CT tem um teor de água mais alto que a
Os resultados de dureza foram obtidos com o ultra-microdurômetro (Shimadzu DUH211) do opala-C, como pode ser constatado pela intensidade maior da banda da hidroxila no espectro
Laboratório de Microanálise do IF- UFRGS, utilizando o método dinâmico de medida com um Raman da opala-CT mostrado na figura 6b.
indentador to tipo Berkovich, e o ciclo de carga até 100 mN.
Resultados
Na figura 5 estão mostrados os difratogramas com incidência rasante obtidas da superfí-
cie polida de uma opala-C e de uma opala-CT, mostrando que as fases de cristobalita (*) e tridimita
(!) podem ser reconhecidos no padrão de difração da opala-CT, enquanto que a opala-C apresenta
apenas os picos relacionados com a cristobalita.
Figura 6 - Espectros micro-Raman das amostras de opala: a) região de baixo deslocamento Raman,
comparando a opala-C (linha vermelha), a opala-CT (linha azul) e os padrões de cristobalita (cinza
escuro) e tridimita (cinza claro) do RRUFF; b) região de alto deslocamento Raman, onde se encontram
as vibrações da hidroxila (3000-3600 cm-1).
A análise elementar por espectrometria de raios X característicos foi realizada por feixe
de elétrons e por feixe de íons, porque as duas técnicas são complementares em seus resultados. Os
espectros obtidos no MEV (elétrons) com um EDS com janela ultra-fina, permitiram a análise dos
elementos maiores, inclusive os elementos leves (carbono, oxigênio, alumínio, silício). Os espectros
obtidos no PIXE (íons) foram coletados com um EDS de janela de berílio e um filtro adicional,
de forma que o espectro só permite analisar elementos a partir do número atômico 17. Os espec-
tros EDS/MEV e PIXE das duas amostras de opala foram agrupados na figura 7 para permitir
a observação da complementaridade das técnicas. As duas análises foram realizadas com o feixe
desfocado, analisando uma região de aproximadamente 3 mm de diâmetro.
Os espectros EDS da opala-C estão mostrados na figura 7a (linha bordô) e da opla-CT
na figura 7b (linha azul marinho). A presença de alumínio é constatada nos espectros das duas
amostras de opala e a quantificação mostrou teores em torno de 0,75(±0,12) % de Al2O3. Percebe-
se uma mínima alteração no espectro da opala-C na região do potássio (K-K ), porém a análise
com feixe de elétrons tem o background muito alto nesta região e a técnica não tem sensibilidade
para traços. A presença de carbono em ambos os espectros EDS é atribuída à contaminação com
48 Figura 5 - Difratogramas de amostras polidas de opala-C (linha vermelha) e de opala-CT (linha vapores orgânicos provenientes da bomba de vácuo, tendo em vista que esta análise foi realizada 49
azul), com indicação das posições dos picos de difração de cristobalita (*) e tridimita(!). em baixo vácuo.
O espectro obtido com PIXE da opala-C está mostrado na figura 7a (linha vermelha) e Os resultados obtidos no microdurômetro mostram que a opala-C apresenta dureza
o da opala-CT na figura 7b (linha azul). Nos dois espectros o retângulo hachurado mostra a região maior que a opala-CT. Os ciclos de carga e descarga das duas amostras de opala e de uma amostra
afetada pelo filtro de Mylar®, que absorve completamente os raios X característicos de alumínio e padrão estão mostrados na figura 9a. Uma imagem de alta magnificação da indentação de 100 mN
reduz o sinal de silício. Na região acima de 2,5 keV, porém, o PIXE mostra a sua sensibilidade para mostra que a mesma tem dimensão de aproximadamente 3 micrômetros (figura 9b). O esquema
traços, evidenciando os raios X característicos de potássio e cálcio, cujos teores são de aproximada- do indentador Berkovich mostra a simetria trigonal da ponteira de indentação, polida em um
mente 0,05% de acordo com a literatura [5]. diamante com qualidade gema (figura 9c).
Figura 7 - Espectros EDS obtidos no MEV e no PIXE das amostras de opala: a) opala-C (EDS linha
bordô, PIXE linha vermelha); b) opala-CT (EDS linha azul marinho, PIXE linha azul), mostrando
as posições dos picos de raios X característicos dos elementos carbono, oxigênio, alumínio, silício, potássio,
cálcio e ferro. Figura 9 - a) Ciclos de carga e descarga representativos para sílica fundida e amostras de opala; b)
micrografia de uma indentação em opala, com carga de 100 mN; c) esquema do indentador Berkovich.
A análise de inclusões com feixe de elétrons focalizado mostra que os teores de alumínio Adaptado de [7].
não estão uniformemente distribuídos, mas se encontram preferencialmente em micro-regiões,
como pode ser visto na figura 8, que mostra a micrografia de elétrons retro-espalhados (figura 8a) Os valores de microdureza estão mostrados na tabela 1, junto com o valor de um padrão
e os espectros de raios X característicos obtidos dentro e fora de uma inclusão na opala-CT (figura de sílica fundida, cuja dureza está de acordo com o valor fornecido pelo fabricante. Os valores de
8b). Enquanto o espectro do ponto 1, localizado dentro da inclusão, mostra um pico significativo de dureza Mohs calculados de acordo com Broz [8] a partir dos valores de micro-dureza dinâmica
alumínio, este elemento não aparece no espectro do ponto 2, fora da inclusão. Quando o espectro medidos na opala são de 4,5-5,0, um pouco abaixo dos valores de dureza encontrados na literatura
da inclusão é mostrado em escala logarítmica (figura 8c), percebe-se a presença de baixos teores de especializada (5,5-6,0) [9].
titânio e ferro.
2. GRAVAÇÃO A LASER
3. METODOLOGIA
A pedreira onde foi
coletada a amostra de arenito
estudada encontra-se no Dis-
trito de Lomba Grande, muni-
cípio de Novo Hamburgo, RS.
Segundo informações prestadas
pelo Geólogo Enio Godinho,
responsável técnico pela lavra, a
pedreira está localizada nas co-
ordenadas -29°44’10’’ (Latitude)
e -50°57’55’’ (Longitude) a uma
altitude de aproximadamente
130 m (Figura 4).
Essa pedreira produz
arenito de qualidade relativa- Figura 5 – Arquivos gerados no Corel Draw X5® para qualificação da interação laser/material em
mente superior àquele das de- traços com diferentes velocidades para arquivos do tipo .plt (teste A), formas arredondadas de diferentes
mais lavras da região (a rocha é dimensões para arquivo do tipo .plt (teste B) e para diferentes tons de cinza para arquivos do tipo .jpg
mais compacta), em função do (teste C).
efeito térmico provocado pelo
contato do arenito com lavas ba- Figura 4 - Mapa do RS com a localização da pedreira onde foi Com os testes concluídos, iniciou-se a etapa de análise dos resultados. Com o intuito de
sálticas da Formação Serra Geral coletada a amostra de arenito (ponto em vermelho). se fazer conhecer as particularidades e o comportamento específico do arenito, frente à aplicação
que derramaram sobre a Forma- da tecnologia de gravação a laser, foram realizadas análises visuais e táteis.
ção Botucatu, o que provocou
uma maior cimentação dessas rochas sedimentares. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para a realização dos testes de gravação a laser foi utilizado o equipamento Mira 3007,
da empresa Automatisa Sistemas Ltda®, pertencente ao Laboratório de Design e Seleção de Ma- A interação entre a gravação a laser e o material mostra que há contraste suficiente entre
teriais (LdSM)/UFRGS, onde o meio ativo para a geração da radiação é gasoso, do tipo CO2. A a textura gerada pelo laser e a rocha, produzindo a fixação da imagem no arenito. Para o teste A,
movimentação do feixe se dá por sistema galvanométrico e a área de trabalho da máquina possuiu elegeu-se o traço feito na velocidade 0,07m/min como o mais legível. A partir disso, realizou-se
uma limitação devido ao tipo de lente acoplada. Neste trabalho foi utilizada a lente de 30cm x 30cm o teste B, novamente com a velocidade 0,07m/min, resultando em uma gravação satisfatória das
(300cm²) e potência de 30W. formas arredondadas. Partiu-se então para o teste C, novamente utilizando-se a velocidade ante-
56 Foram realizados três testes, a partir da criação de desenhos com formas retas, no pro- riormente escolhida. Para uma diferenciação perceptível na graduação de cores, deve-se utilizar a 57
grama CorelDRAW X5®, a fim de testar-se diferentes graus de detalhamento. No teste A, traços saturação 100% preto e 40% de cinza (Figura 6).
Na gravação realizada, com esse desenho e com o parâmetro escolhido, velocidade de
0,07m/min, tanto para o arquivo com extensão .plt, quanto para .jpg, pode-se observar que não se
obteve um resultado visualmente bem definido. Por isso, optou-se por gravar o mesmo desenho
com as quatro velocidades testadas no teste A, com o objetivo de buscar-se um resultado estético
superior ao do primeiro teste final (Figura 8).
Tabela 1: Amostras de ágata com linhas gravadas, espaçadas entre si, dispostas em ordem decrescente de
Figura 4 - Testes de gravação a laser de espaçamento entre linhas: (A) linhas com 1,5 milímetro de espaçamento, com unidade de medida em milímetros (mm).
espaçamento, com a representação gráfica do desenho gravado, à direita e (B) linhas com espaçamento de
0,1 mm, com a respectiva representação gráfica do espaçamento entre as mesmas. O processo criativo no desenvolvimento de desenhos futuros para a utilização do pro-
cesso de gravação a laser em ágata deverá conter os espaçamentos entre as linhas mostradas nas
Entre a simplicidade e a complexidade das formas desenvolvidas para a aplicação do descrições da Tabela 1. A média do distanciamento adicional da linha a ser traçada deverá ser
processo de gravação a laser, analisou-se qual o melhor desenho e parâmetro a ser aplicado. Após levada em consideração, evitando, assim, a presença de proximidade entre as fraturas de expansão
as delimitações dos métodos desenvolvidos para a aplicação deste processo, parte-se para a etapa de térmica. Para os espaçamentos de 1,5; 1,2; 0,15 e 0,1 mm o distanciamento extra que deverá ser
caracterização por microscopia eletrônica de varredura – MEV, e padronização desta tecnologia no adicionado será de 0,1 mm. Já os com distanciamento de 0,9; 0,6; 0,3 e 0,2 mm o espaçamento
material gemológico. delimitado na análise é de 0,2 mm.
Com as análises e delimitações dos melhores parâmetros de traçados para a utilização do
Resultados e Discussões processo de gravação a laser na ágata, partiu-se para o desenvolvimento de desenhos para a aplica-
bilidade da gravação na produção de uma peça joalheira. Para o processo de criação no desenvolvi-
As imagens eletrônicas obtidas por MEV, das linhas gravadas com espaçamentos, possi- mento destes desenhos aplicou-se os ensinamentos que autores na atualidade transmitem em suas
bilitam identificar e delimitar a zona de influência da interação do feixe laser na ágata. Os espaça- bibliografias (BACK, 1983; BAXTER, 2000; BOMFIM, 1995; LÖBACH 2001; OSTROWER,
mentos entre as linhas foram analisados em pontos diferentes do segmento de cada linha, a fim de 1977), acompanhando a velocidade e exigências do mercado. O designer vem, ao longo dos anos,
obter-se uma quantificação da variação, tanto da espessura da linha, como do espaçamento entre apresentando um papel fundamental no processo de criação de produtos. A atividade de desenvol-
segmentos de reta vizinhos (Figura 5). vimento de um novo produto não é tarefa simples, requerendo pesquisa, planejamento cuidadoso
e uma visão global, abrangendo conhecimentos de mercado, processos de fabricação, de arte e de
Figura 5 – Análise representativa de gravação de linhas espaçadas: (A) amostra de ágata gravada com
espaçamento entre linhas de 1,5 mm; (B) e (C) imagens representativas de microscopia eletrônica de var-
redura da amostra (A) identificando as medidas das espessuras das linhas.
Todos os resultados podem ser visualizados na Tabela 1, que contem: número da amostra
64 gravada a laser; espaçamento criado no software de desenho vetorial bidimensional entre as linhas 65
gravadas; medida da distância entre as linhas observadas por MEV (sem fraturas); medida da dis- Figura 6 - Ambientação com imagens do material gemológico ágata (ZENZ, 2005; SGARBI, 2000).
estilo. Para auxiliar a criação dos desenhos a serem gravados a laser, foram selecionadas algumas gravação a laser, aliando-se aos materiais gemológicos no desenvolvimento de produtos com me-
imagens relacionadas ao contexto do material gemológico para a construção de uma ambientação lhor qualidade e diferencial são um dos fatores que esta pesquisa buscou alcançar. A padronização
através de imagens visuais (Figura 6). A escolha do tema destas imagens é para referenciar a beleza e a caracterização deste processo visam a auxiliar as indústrias e os profissionais da área de design
do próprio material, na qual a inspiração, a ágata e a utilização da tecnologia unem-se para o de- no que tange à fabricação de produtos inovadores e com maior valor agregado.
senvolvimento de um pingente. As formas gráficas criadas no software de desenho vetorial bidimensional para a aplica-
Com a interpretação do sentido das imagens da ambientação, através da rápida visualiza- bilidade do processo de gravação a laser foram fielmente reproduzidas nas superfícies dos materiais
ção e compreensão de significados, é produzida mentalmente uma nova composição gráfica. Deste gemológicos, quando aplicadas a estas os parâmetros definidos nesta pesquisa. O espaçamento en-
ponto, parte-se para a criação de desenhos rápidos e para a geração de ideias. Para a criação, foram tre linhas gravadas a laser é fator limitante para a criação, pois define o distanciamento ideal entre
levadas em consideração todas as análises e resultados satisfatórios dos testes feitos anteriormente os traços para que não ocorra interferência entre as linhas e sobreposição das mesmas. O estudo da
(Figura 7A). Para a fabricação do pingente, foi utilizada, juntamente com a ágata, uma base de interação entre laser e materiais é ainda um vasto campo a ser explorado. Esta pesquisa disponibi-
prata (Ag 925) e um colar em couro. Para estas criações, as amostras de ágata foram selecionadas liza resultados inovadores em relação à gravação por laser do tipo CO2 em ágata, disponibilizando
com o intuito de descartar peças com a presença de quartzo macrocristalino, que não tem bom a padronização dos parâmetros ideais para o equipamento e para o desenvolvimento e criação de
resultado de gravação para esta tecnologia. Na Figura 7B e C visualizam-se a peça finalizada com produtos.
a padronização do processo de gravação a laser na ágata, exemplificando os detalhes do desenho
gravado. Agradecimentos
Esta pesquisa teve apoio financeiro do MCT/CNPq – Universal – 014/2008, intitulado:
Tecnologia de gravação e corte a laser, como ferramenta de inovação para o design de gemas e
joias. Este trabalho foi realizado com o apoio da CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior e desenvolveu-se no Laboratório de Design e Seleção de Materiais
- LdSM, que localiza-se na Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
onde foram utilizados os equipamentos de gravação a laser e microscopia eletrônica de varredura
– MEV.
Referências Bibliográficas
Bagnato, V. S. (2008). Laser e suas aplicações Cidade, M. K.; Silveira, F. L.; Duarte, L. C.
em Ciência e Tecnologia. São Paulo: Editora (2012). Gravação a Laser e Corte por Jato d’
Livraria da Física. Água em Ágata para Design de Produtos. In:
Léo Afraneo Hartmann; Juliano Tonezer da
Baxter, M. (2000). Projeto de Produto: guia Silva. (Org.). Mostra de resultados de pesqui-
Figura 7 – Joia criada: (A) desenho criado seguindo a padronização adequada para a utilização de gra- prático para o projeto de novos produtos. São sas aplicadas ao arranjo produtivo de gemas e
vação a laser em arquivo do tipo PLT com espaçamentos e distanciamentos extras, em milímetros; (B) Paulo: Edgard Blucher. joias do Rio Grande do Sul. 1ed. Porto Alegre:
pingente em ágata gravado a laser; e (C) detalhe da gravação.VVV Instituto de Geociências.
Back, N. (1983). Metodologia de Projetos de
Considerações Finais Produtos Industriais. Rio de Janeiro: Ed. Gua- Deer, W. A.; Howie, R. A.; Zussman, J. (1981).
nabara Dois. Minerais constituintes das rochas – uma in-
A tecnologia é a ferramenta facilitadora e inovadora para materializar produtos com ele- trodução. Lisboa: Fundação Calouste Gul-
vado nível de precisão, detalhamento e auxiliar nos processos de fabricação. Apesar da valorização e Bomfim, G. A. (1995). Metodologia para o de- benkian.
disponibilidade do material gemológico no Rio Grande do Sul, o baixo desenvolvimento tecnoló- senvolvimento de projetos. João Pessoa: Edito-
gico aplicado e a carência de design são observados nos produtos desenvolvidos pelas indústrias do ra Universitária / UFPB. Duarte, L. C., Kindlein Junior, W., Silva, F.P.,
estado. Apesar de toda riqueza mineral, o beneficiamento é muito pouco elaborado e pouco inova- Stürmer, P.G.S., Tessmann, C.S., Silveira, F. L.,
dor, pois as possibilidades são limitadas do ponto de vista tecnológico dentro de cada empresa. Para Cidade, M. K. Caracterização e Padronização Cidade, M. K., Gomes, L. E. (2010 b). Técnicas
o desenvolvimento dos produtos em ágata, design e tecnologia são utilizados eventualmente para do Processo de Gravação a Laser em Ága- inovadoras e materiais naturais em joalheria no
a agregação de valor, resultando em uma produtividade baixa e pouco qualificada. As indústrias ta Aplicado ao Design de Joias. 2012, 172fls. Laboratório de Design e Seleção de Materiais
carecem introduzir produtos inovadores e qualificados para atender ao mercado comprador e estar Dissertação (Mestrado em Design), Programa In: Tecnologias para o setor de gemas, joias e
à frente no cenário mundial. de Pós-Graduação em Design, Universidade mineração. Porto Alegre: IGEO/UFRGS.
66 Os processos a laser têm evoluído progressivamente com o passar dos anos, substituindo Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 67
ou adequando-se aos métodos convencionais utilizados nos processos de produção de produtos. A 2012. Duarte, L. C.; Rocha, T. L. A. C.; Roldo, L.;
Kindlein Jr.W.; Cidade, M.K.; Pedrotti Júnior,
S.L. (2010 c). Design de produto para a ága-
Ostrower, F. (1977). Criatividade e processos
de criação. Petrópolis, RJ: Editora Vozes.
Design de superfície de gemas: simulação
ta: aplicação de microcápsulas fluorescentes em
superfícies gravadas a laser. Design & Tecnolo-
Schumann, W. (2006). Gemas do Mundo. Rio
de Janeiro: Editora ao Livro Técnico.
do quartzo rutilado através da metalização
gia, v. 1, p. 114-118.
Sgarbi, Vittorio. Arte di Dio. Edizioni Grafi-
de ouro em estêncil
Frondel, C. (1962). The system of mineralogy. che Francesco Ghezzi STM S.r.l.: Província di Felipe Foerstnow Szczepaniak1, Lauren da Cunha Duarte1,2, Pedro Luiz Juchem1,2,3
New York: John Wiley and Sons, Inc. Milano, 2000. 1
Pós-graduação em Design (Tecnologia) – PGDesign/UFRGS – foerspak@gmail.com, Lauren.
Hecht, J.; Teresi, D. (1998). Laser: light of a duarte@ufrgs.br, labogem@ufrgs.br.
million uses. New York: Dover Publications. Strieder, A. J.; Heemann, R. (2006). Structural 2
Laboratório de Design e Seleção de Materiais – LdSM/UFRGS.
Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Precio- constraints on Paraná Basalt Volcanism and 3
Laboratório de Gemologia – LABOGEM/UFRGS
sos (IBGM). (2005). Manual Técnico de Ge- their implications on agate Geode mineraliza-
mas. Brasília: Ministério do Desenvolvimento, tion (Salto do jacuí, RS, Brazil). Pesquisas em
Indústria e Comércio (MDIC). Departamento Geociências. Introdução
Nacional de Produção Mineral (DNPM).
Thompson, R. (2011). The manufacturing Gui- O ato de ornar ou utilizar superfícies remonta à Pré-história, tendo em vista os grafismos
Juchem, P. L.; Strieder, A. J.; Hartmann, L. A.; des: Prototyping and Low-volume Production. encontrados nas cavernas. Com o passar do tempo, o uso de elementos visuais, com intenção à
Brum, T. M. M.; Pulz, G. M.; Duarte, L. C. United Kingdom: Thames & Hudson. repetição, possibilitou ao homem a consciência da criação de ritmos visuais, os quais deram origem
(2007). Geologia e mineralogia das gemas do à decoração (MANZINI, 1993). Posteriormente, o interesse pela ornamentação aliado às tecno-
rio grande do sul. In: Roberto Lannuzzi, José Zenz, Johann. Agates. Haltern: Bode Verlang, logias de cada época fez crescer inúmeras possibilidades de aplicação desta arte. Arts and Crafts,
Carlos Frantz. (Org.). 50 Anos de Geologia. Germany, 2005. Art Nouveau e Art Deco, são exemplos de movimentos, na história da Arte, os quais impactaram
Porto Alegre: Editora Comunicação e Identi- o desenvolvimento da ornamentação de superfícies. Logo, embora haja momentos (tendência da
dade. Zhou, B. H.; Mahdavian, S. M. (2004). Ex- moda) de repulsa à ornamentação, o ser humano sempre retorna a tal prática.
perimental and theoretical analyses of cutting De modo geral, o projeto de texturas para aplicação em distintas superfícies é denomi-
Löbach, B. (2001). Design Industrial: bases nonmetallic materials by low power CO2-laser; nado design de superfície, e tais texturas podem ser táteis ou visuais (RÜTHSCHILLING, 2006).
para a configuração dos produtos industriais. Journal of Materials Processing Technology, O termo design de superfície foi incorporado no Brasil na década de 80 por Renata Rubim e o
São Paulo: Edgard Blucher. 146: 188–192. entendimento desta prática vem sendo aprimorado (RUBIN, 2004).
Moura, M. (2005). Design, Arte e Tecnologia. Atualmente pode-se citar inúmeros exemplos de objetos planos ou tridimensionais, assim como
São Paulo: Edições Rosari. artefatos materiais e virtuais que recebem design de superfície, dentre eles interfaces digitais, em-
balagens, tecidos, papéis, tecelagem, cerâmicas, edificações, corpo humano, joias, acessórios, uten-
sílios, adornos, etc. De acordo com Rüthschilling (2008), o design de superfície complementa
outras especialidades do design, como por exemplo, o design de louças e de moda. Entretanto,
segundo essa autora, esta abordagem ampla se refere ao Brasil, pois a origem americana do design
de superfície remete ao design têxtil.
Para decorar superfícies, os designers seguem alguns princípios na construção de tex-
turas ou padrões gráficos: conceito de módulo, sistema de repetição, linguagem visual e compo-
sição, pois geralmente os elementos visuais se repetem harmonicamente ao longo da superfície
(RÜTHSCHILLING, 2008). O módulo é a unidade que possui os elementos visuais básicos e ao
ser repetido (colocado lado a lado), configura uma padronagem; por exemplo, um ladrilho pode
ser um módulo e o conjunto de ladrilhos postos lado a lado forma um padrão visual e conforme
estes objetos são reorganizados, novas padronagens podem surgir. Assim, dentre diversas técnicas
desenvolvidas para replicação de desenhos, pode-se citar o estêncil o qual é utilizado para aplicar
desenhos em superfícies a partir de um suporte bidimensional vazado, isto é, uma matriz vazada,
uma vez que na parte perfurada a tinta entra em contato com o objeto a ser pintado (iDicionário
Aulete). Esta técnica é comumente empregada na geração de graffiti em muros, sendo uma ati-
vidade artística, mas pode ser aplicada em inúmeras superfícies. Além disso, essa matriz possui a
característica de permitir a aplicação diversas vezes do mesmo desenho em diversos locais.
68 A tradição da ornamentação de gemas ou uso de gemas “naturalmente decoradas” é lon- 69
gínqua, tendo em vista exemplares encontrados na região do Iraque com 5.000 anos a.C (IBGM,
2009). As primeiras gemas esculpidas artesanalmente surgem com motivos simbólicos, a partir ral, dentre os quais pode-se citar métodos de irradiação, tingimento, tratamento térmico, difusão,
das ferramentas disponíveis da época, como por exemplo, os intaglios (talhe em baixo relevo), que fosqueamento, gravação a laser, usinagem e lapidação.
promoviam grafismos nas gemas, tanto na parte superior de uma gema opaca a translúcida, como Segundo Schumann (2006), inclusões nos materiais gemológicos são comuns e elas po-
a ágata cornalina, quanto na parte inferior de uma gema transparente, como a ametista (IBGM, dem ser um corpo estranho ou uma espécie de irregularidade na rede interna da gema, geradas
2009). Logo, essa técnica de design de superfície beneficia a gema, de modo que é criada uma iden- por distintos motivos. Estes efeitos podem surgir ao mesmo tempo em que o mineral é formado
tidade visual a partir da organização de elementos visuais. ou podem ser anteriores à sua formação, ou surgirem depois da sua cristalização através da pe-
Assim, ressalta-se a importância do design de superfície nos materiais gemológicos, po- netração de líquidos em fraturas. Assim, não somente materiais sólidos contidos em um mineral
rém esta temática é conhecida por tratamento ou beneficiamento de gemas, em específico, trata- são inclusões, mas líquidos e gases também são considerados inclusões, bem como zoneamento
mento de superfície de gemas (IBGM, 2009). Deste modo, segundo o IBGM (2009), a expressão de cor. O conjunto de inclusões pode desvalorizar, bem como valorizar uma gema, conforme sua
tratamento de superfície significa o processo de preparação, acabamento ou recobrimento de su- estética e a aplicação dada a ela, além de auxiliar na identificação de minerais-gema, diferenciar
perfícies de gemas, com a finalidade de combater a corrosão, modificar propriedades mecânicas e gemas naturais das sintéticas e sugerir a proveniência desses materiais. No quartzo são encontrados
destacar a estética. Para desvincular estas atividades “não estéticas” é utilizado, neste trabalho, o diversos tipos de inclusões, dentre elas os minerais goethita e rutilo (Figura 1), bem como ouro,
termo design de superfície de gemas, não sendo utilizada a expressão “melhoramento de gemas” por pirita, turmalina, dentre inúmeras outras. As agulhas de rutilo, também encontradas no coríndon
ser inadequada, pois a ideia de melhorar é relativa. (e.g.safira e rubi), são formadas dentro do mineral quando ele esfria (SCHUMANN, 2006). O
Sendo assim, o atual design de superfície de gemas consiste na ornamentação do material quartzo rutilado, como se denomina o quartzo com inclusões de rutilo, ao contrário da maioria das
gemológico através de distintas tecnologias e sua finalidade é valorizar o material, desenvolvido em outras inclusões, é muito apreciado pela sua beleza. Embora o rutilo, em alguns casos, se assemelhe
laboratório ou extraído na natureza, transformando-o em algo belo para apreciação e utilização ao ouro, pela sua cor e seu brilho metálico, trata-se de outro mineral de fórmula química TiO2.
humana. De modo geral, as possibilidades de manipulação da superfície das gemas são: adicionar
grafismos ou texturas visuais, alterar a cor, gerar texturas táteis ou relevos, ressaltar texturas naturais
(zoneamentos de cor, manchas, inclusões...), dentre outras possíveis; já as possibilidades tecnoló-
gicas de manipulação da superfície das gemas são: gravação a laser, usinagem, lapidação, fosquea-
mento, ultra-som, etc. Os estudos de Pichler et al. (2013) com gravação a laser em serpentinito e
de Cidade (2012) com gravação a laser em ágata, além do colar com citrino com texturas de fruta
criado por Baldassare Peixoto e Rosângela Mattana (IBGM, 2009) e das gravuras em ônix (glíp-
tica) expostas em Schumann (2006), são exemplos contemporâneos de possibilidades de trabalhar
o design de superfície em distintas gemas, e assim, manter a tradição de valorizar os materiais da
natureza.
A natureza oferece abundância de minerais para serem explorados como gemas e há
uma forte demanda por estes materiais ao redor do mundo. O Brasil, por exemplo, é reconhecido
internacionalmente por abrigar uma das principais províncias gemológicas do planeta, resultando
em uma diversidade de gemas de excelente qualidade. Avalia-se que o país seja responsável pela
produção de cerca de um terço do volume das gemas de cor, excluindo o rubi e a safira (IBGM, s/d;
MACIEL, FERNANDES, 2004). Deste modo, para fortalecer a economia brasileira, as gemas de-
vem ser beneficiadas e convertidas em produtos ainda na região de origem, principalmente quando
o objetivo é a exportação, fortalecendo a identidade de território. Mas infelizmente, muitas vezes Figura 1: À esquerda, quartzo com inclusões de cristais aciculares radiados de goethita e à direita, quartzo
ocorre o contrário, pois o Brasil importa com alto valor agregado produtos cuja matéria-prima é com inclusões aciculares de rutilo (quartzo rutilado).
sua e que foram beneficiados no exterior. Isso precisa ser revertido, a fim de fortalecer a economia
das áreas produtoras de materiais gemológicos. O ouro é um dos metais mais valiosos e a atividade garimpeira desse metal no Brasil
O Brasil é um grande exportador de materiais gemológicos, e dentre eles se destaca o remonta o século XVIII (NEVES, ATENCIO, 2013). O beneficiamento com ouro valoriza qual-
quartzo. De acordo com Frondel (1962), quartzo é a denominação dada aos minerais de com- quer material, recebendo o status de joia, pois este metal não enferruja, é durável, maleável, não
posição química SiO2; trata-se de um material inorgânico, de ocorrência natural, com estrutura se desvaloriza, possui alta densidade atômica; além de representar luxo, poder, beleza e vaidade
cristalina específica. O quartzo tem uma série de variedades, como citrino, cristal-de-rocha, aventu- (HELLER, 2012). A camada de ouro quando muito fina é transparente, como por exemplo as fi-
rina, prasiolita, ametista, quartzo esfumaçado, olho-de-tigre, olho-de-falcão, quartzo olho-de-gato, nas camadas deste metal colocadas nos capacetes dos astronautas e nas janelas dos pilotos de avião,
quartzo róseo, etc. (SCHUMANN, 2006). Entretanto, quando se menciona quartzo, lembra-se para a proteção das nocivas radiações solares.
mais do quartzo incolor, variedade cristal-de-rocha, e por isso, nesta pesquisa, optou-se por deno- Objetiva-se nesta pesquisa valorizar um cabochão de quartzo incolor, utilizando técnica
minar o quartzo incolor somente como quartzo. Segundo Anderson (1984), o quartzo é encontrado de metalização com ouro, de modo que o efeito óptico obtido simule o efeito do quartzo rutilado.
em grande quantidade na crosta terrestre, e por isso é um dos minerais mais comuns. Sua versão Este modelo foi desenvolvido para este estudo, porém a técnica não está restrita a este grafis-
70 incolor pode ser confundida com vidro e outras gemas incolores, por isso não é tão valorizado no mo, podendo ser adaptados inúmeros efeitos gráficos que podem ser aplicados em outras gemas. 71
mercado de gemas e joias. No entanto, há inúmeras possibilidades de beneficiamento deste mine- A experiência foi realizada em três partes: observação e desenho do rutilo em software; corte e
aplicação do estêncil na gema; e metalização do material. Em sequência, a superfície do cabochão Com relação aos três vetores expostos (Figura 3), a proposta (a) foi desenhada a partir
foi analisada com microscopia eletrônica de varredura (MEV) para verificar a qualidade visual do da vetorização “automática” de fotografias de inclusões de rutilo; no entanto, a imagem resultan-
desenho resultante. te é complexa e possui elementos muito finos para o corte a laser. Assim, passou-se para outro
método na proposta (b), desenhando-se um módulo constituído de um retângulo de 1mm por
Métodos 30mm, o qual foi replicado vinte e cinco vezes. Estes módulos foram rotacionados em diferentes
ângulos e dispostos em diversas posições (repetição aleatória), de modo que se sobrepusessem e se
Para o procedimento experimental, primeiro observaram-se gemas naturais de quartzo assemelhassem às desejadas inclusões. Entretanto, o desenho continua complexo e com módicos
rutilado, a fim de perceber a estética deste tipo de inclusão. A seguir, estudou-se a possibilidade de espaços entre os retângulos, dificultando a técnica de corte. Na proposta (c), os mesmos retângulos,
simular tal efeito com o uso de ouro, em um cabochão de quartzo sem inclusões aparentes, com di- em quantidade menor (quatorze), foram rotacionados em diferentes ângulos e posicionados es-
mensões de 15x10x25mm (LxAxP), com 32,2ct. Este cabochão tem formato oval, com base plana e paçadamente. Logo, os retângulos foram “soldados” e salvos como somente contornos, isto é, sem
possui um entalhe, constituído de um desnivelamento na parte inferior, supostamente para encaixe preenchimento da forma, sendo que apenas as linhas perimetrais do desenho foram guardadas.
em anel (Figura 2). Posteriormente foi utilizado o equipamento de corte e gravação a laser Mira® (Automa-
tisa Laser Draw) do Laboratório de Design e Seleção de Materiais (LdSM/UFRGS) – utilizando
a lente de 10cm x 10cm e potência de 60w, 100% da potência do equipamento – para a confecção
do estêncil. Neste equipamento foi recortado um papel-adesivo (duplo), comumente utilizado para
rotular CD, com velocidade limitante 500m/min e velocidade desejada 21m/min. Este estêncil
segue o formato do cabochão, porém é maior que a gema e nele foi desenhada uma borda extra
para facilitar sua manipulação, pois logo após o corte o estêncil vazado se torna frágil (Figura 4).
Figura 2: Quartzo lapidado em cabochão com formato oval, frente e verso (15x10x25mm).
Figura 4: Estênceis de papel adesivo (duplo) cortado a laser, à esquerda; e à direita, já vazado e pronto
para o uso, sobre fundo preto.
Por fim, foram obtidas imagens de microscopia eletrônica de varredura (MEV), em equi-
pamento da marca Hitachi®, modelo TM 3000, com potência de 15Kv, do LdSM/UFRGS, para
verificar a superfície resultante do cabochão. Foram obtidas imagens do tipo BSE (backscaterred
electron) com magnificação da ordem de 40x e de 4000x.
Resultados e Discussões
O equipamento de corte a laser possibilitou a reprodução, com grande precisão, do dese-
nho vetorizado, com o tempo de corte do estêncil de 1s500ms, segundo o software do equipamento.
A dupla camada de adesivo permitiu maior resistência e maior espessura para a deposição de emul-
são acrílica, uma vez que quanto mais espessa for a deposição da emulsão, mais fácil é a sua retirada.
Deste modo, sugere-se ainda o uso do adesivo vinílico, inclusive o de recorte em plotter que cola Figura 8: Imagens do tipo BSE obtidas no microscópio eletrônico de varredura, onde em a) tem-se o
pelo lado oposto. contraste entre a porção metalizada (cinza claro) e o quartzo (cinza escuro), além da visualização de
O resultado da metalização com ouro foi satisfatório, porém o equipamento de metaliza- arranhões promovidos pela pinça (seta) e em b) detalhe da interface entre a metalização e o quartzo, onde
ção não é o mais indicado, haja vista que o pó depositado sai com facilidade ao toque. Entretanto ocorreu o arranque da camada de ouro quando da retirada do estêncil (seta).
este problema pode ser solucionado com um tratamento de superfície, impermeabilizando o ma-
terial ou utilizando equipamentos para metalização que são utilizados comumente na indústria de Conclusões
gemas. Considera-se o tempo de 30 segundos de deposição do ouro satisfatório, sendo neste caso
o tempo mínimo para se obter um efeito perceptível, pois a camada resultante de ouro foi fina e O beneficiamento de gemas pelo design de superfície cria nova identidade ao objeto e
74 transparente. Ressalta-se que antes da retirada da máscara de emulsão, o contraste entre o efeito consequentemente agrega maior valor ao produto. Embora o rutilo não seja uma inclusão de ouro, 75
fosco da emulsão e o dourado da metalização foi avaliado, ou seja, pode-se deixar a máscara de mesmo sendo semelhante, o uso do ouro cumpre a função decorativa e compensa a artificialidade
da técnica proposta, por ser um metal nobre.
A técnica de estêncil mostrou-se versátil para aplicação no quartzo, pois o experimento
Design e Tecnologia: estudo de viabilidade
realizado mostrou-se promissor, e assim, com o auxílio do corte a laser, inúmeros e complexos
desenhos podem ser gerados rapidamente de modo preciso. O uso do papel adesivo e da emulsão
da reutilização de rejeitos de Quartzo Rosa
acrílica deve ser melhorado, assim como o tempo de metalização, pois com o aumento da espessura
da camada de ouro, a transparência diminuirá e consequentemente aumentará o contraste e o bri-
com uso de corte por jato d’agua
lho metálico. Marina Wilm; Rafael Cardoso Bisinella; Rosimeri Pichler; Wilson Kindlein Júnior;
Por fim, sugerem-se estudos da deposição do ouro em diferentes gemas e com diferentes Pedro Luiz Juchem; Lauren da Cunha Duarte.
grafismos.
Programa de Pós-graduação em Design - UFRGS
Agradecimentos marinawilm2@gmail.com; rafaelcb18@gmail.com; rosi.pichler@gmail.com;
kindlein@portoweb.com.br; labogem@ufrgs.br; lauren.duarte@ufrgs.br
Os autores agradecem os laboratórios LdSM (Laboratório de Design e Seleção de Ma-
teriais) e LAMEF (Laboratório de Metalurgia Física) da Universidade Federal do Rio Grande Introdução
do Sul – UFRGS pela disponibilização de equipamentos e ajuda prestada; e à CAPES pela bolsa
de mestrado concedida ao primeiro autor da pesquisa. Ao CNPq pela Bolsa de Produtividade em Com o crescimento da preocupação com relação ao fim dos recursos naturais e todas
Pesquisa, da segunda autora. as questões ambientais e sociais relacionados ao consumo exacerbado, como o volume de lixo
gerado na sociedade, impulsionou a busca por soluções que minimizem esses impactos, como por
Referências Bibliográficas exemplo, a reincorporação de materiais provenientes do descarte de produtos pelo consumidor ou
rejeitados ainda no processo de fabricação, a um novo ciclo de manufatura. Assim, a necessidade de
ANDERSON, Basil William. A identificação <http://aulete.uol.com.br/est%C3%AAncil>. se propor soluções que viabilizem, tanto ambiental, como social e economicamente essa reincorpo-
das gemas. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, Acesso em: 23 mar. 2014. ração ao ciclo produtivo, é de suma importância. O design, segundo Krucken (2009), configura-se
1984. MACIEL, Aline; FERNANDES, Rosane. como facilitador e como recurso para a construção de estratégias que promovam a inovação tanto
CIDADE, Mariana Kuhl. Caracterização e Gemas e Jóias brasileiras têm potencial para em escala nacional, como regional.
padronização do processo de gravação a laser se expandir, 2004. Disponível em: <http:// Neste âmbito, da promoção de potencialidades de um território, Krucken (2009) destaca
em ágata aplicado ao design de joias. Disser- desenvolvimento.gov.br/sitio/interna/noticia. os principais processos que o design pode propor para facilitar e dar suporte a essas inovações.
tação (Mestrado). Universidade Federal do Rio php?area=2¬icia=5960>. Acesso em: 21 fev. Dentre eles, destaca-se a utilização sustentável dos recursos disponíveis no local, levando em con-
Grande do Sul. Escola de Engenharia. Faculda- 2014. sideração as características culturais e as competências inerentes ao território no desenvolvimento
de de Arquitetura. Programa de Pós-Graduação MANZINI, Ezio. A matéria da invenção. Lis- de produtos com diferencial e valor agregado (KRUCKEN, 2009).
em Design. Porto Alegre, BR-RS, 2012. boa: Centro Português de Design, 1993. Desta forma, o presente artigo tem como objetivo avaliar a viabilidade de reaproveita-
FRONDEL, Clifford. The System of Minera- NEVES, Paulo César Pereira das; ATENCIO, mento dos rejeitos de quartzo rosa, provenientes do processo produtivo de porta velas, no estado
logy of James Dwight Dana and Edward Salis- Daniel. Enciclopédia dos minerais do Brasil. do Rio Grande do Sul. O setor de Gemas e Joias no estado é considerado um dos cinco principais
bury Dana. v. 3, Silica Minerals, 7th ed., New Canoas: Ed. ULBRA, 2013. aglomerados do setor no país, sendo o principal polo localizado em Soledade, onde se estima a
York and London: John Wiley & Sons, 1962. PICHER, Rosimeri et al. Aproveitamento existência de mais de 180 empresas de diferentes portes instaladas atuando no setor de Gemas e
HELLER, Eva. A psicologia das cores: como gemológico de serpentinito do Rio Grande Joias (APL PEDRAS, GEMAS E JOIAS, 2013). Porém, apesar de sua importância econômica,
as cores afetam a emoção e a razão. Barcelona: do Sul, com aplicação da tecnologia laser. In: o setor enfrenta inúmeros problemas quanto à inovação, tanto no beneficiamento dos materiais,
Gustavo Gili, 2012. HARTMANN, Léo Afraneo; SILVA, Juliano quanto na falta de investimento também em maquinários modernos, e quanto aos rejeitos gerados
IBGM, Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Tonezer da (org.). Mostra de pesquisas, produ- no processo de extração e beneficiamento das gemas. “Nesse sentido, a participação do designer
Preciosos. Manual de lapidação diferenciada de tos e tecnologias aplicadas ao arranjo produtivo no aproveitamento desses rejeitos, no desenvolvimento de novos tipos de lapidação e na criação de
gemas. Adriano Mol (org). Brasília: Athalaia de gemas e joias do Rio Grande do Sul. Porto objetos diferenciados, é de fundamental importância para o setor” ( JUCHEM et al, 2009).
Ed., 2009. Alegre: IGEO/UFRGS, 2013. p.16-19. Para isso, fez-se necessário conhecer o processo produtivo do qual se origina o rejeito, e após essa
IBGM, Instituto Brasileiro de Gemas e Metais RUBIM, Renata. Desenhando a superfície. São etapa análises microscópicas indicaram que esse material é composto por um agregado microcris-
Preciosos. O setor em grandes números 2012, Paulo: Edições Rosari, 2004. talino de quartzo. Posteriormente, partiu-se para os testes de comportamento do material, frente
s/d. Disponível em: <http://www.ibgm.com.br/ RÜTHSCHILLING, Evelise Anicet. Design às tecnologias disponíveis na cidade. Nesse artigo são focados o fatiamento, a perfuração, o corte
site/admin/_upload/estatistica/arquivo/671- de superfície. Porto Alegre: Ed. Da UFRGS, por jato d’água abrasivo e o polimento. Por fim, com base nos parâmetros e resultados obtidos,
OSetoremGrandesNumeros2012_Completo. 2008. testou-se a aplicação final de uma pré-forma complexa, podendo assim apresentar as possibilidades
pdf>. Acesso em: 20 fev. 2014. SCHUMANN, Walter. Gemas do mundo. 9ª de diferenciação futuras ao material.
76 IDICIONÁRIO Aulete. Disponível em: ed. São Paulo: Disal, 2006. Na cidade de Soledade, localizada na região do Alto da Serra do Botucaraí no estado 77
do Rio Grande do Sul, uma empresa forneceu os rejeitos de quartzo rosa para esta pesquisa. Tal
empresa atua na cidade desde 1989 na lapidação de pedras, sendo suas principais matérias-primas:
o Cristal de Rocha, a Ametista, o Quartzo Rosa, a Sodalita, o Quartzo Verde, a Ágata, entre outras.
Dentre os produtos oferecidos pela empresa, destaca-se para este trabalho a confecção do porta ve-
las em quartzo rosa, disponibilizado no estado bruto, rolado ou polido (APL PEDRAS, GEMAS
E JOIAS, 2013; BAGATINI PEDRAS, 2013). A confecção do produto inicia com o corte de
uma das extremidades do quartzo na serra diamantada circular, fazendo-se assim a base do porta
velas. Em seguida, a peça é perfurada com a serra copo diamantada com circunferência de 36mm,
executando uma perfuração cilíndrica. Posteriormente, a peça é encaminhada para empresas tercei-
rizadas que realizam o acabamento nas peças que serão comercializadas polidas e deste processo,
tem-se a geração do rejeito, resultante do corte com a serra copo para perfuração do produto. O
rejeito possui espessura de 36 milímetros de diâmetro e sua altura varia entre 6 e 12 centímetros,
de acordo com o corte realizado no geodo. A empresa mantém os rejeitos estocados nos fundos da Figura 2 – a: serra diamantada fatiando o cilindro de Quartzo; b: equipamento Lapidart multiuso.
empresa, formando ‘montanhas’ do material (Figura 1, letra b).
tou que ocorressem trincas nos cantos, salientando que para o procedimento é necessário manter
a pedra lubrificada com água. Os cortes foram realizados em quatro diferentes espessuras (0,5 cm;
1,0 cm; 1,5 cm e 2,0 cm) buscando avaliar a qualidade estética da peça cortada e a ocorrência ou
não de fraturas. Para a realização de todos os testes foram cortadas duas amostras de cada espessura
do cilindro.
2. Teste de perfuração
A fábrica especializada em perfuração de gemas (onde foi realizada a perfuração) utiliza
furadeiras de bancada com brocas diamantadas para diâmetros de 0,2cm a 1,5cm e uma máquina
Figura 1 – a: produto porta velas bruto; b e c: estoques de rejeitos cilíndricos de ultrassom para diâmetros de 0,1cm. A amostra de 0,5cm foi perfurada em diâmetro bastante
de quartzo rosa oriundos da produção de porta velas. utilizado em acessórios de joalheria (0,2cm de diâmetro) e um cilindro de 6cm de altura foi perfu-
rado em furo passante com diâmetro igual a 1,2cm fim de testar a qualidade e resistência da peça
O material quartzo rosa comercializado bruto é vendido pelo preço de R$ 6,00 o quilo. com relação à fraturas após a perfuração.
Se o material passa por algum processo de beneficiamento, como o polimento, o preço de venda é
acrescido de R$ 2,00 a R$ 3,00 o quilo. Por mês a empresa comercializa em média 1.000 unidades 3. Teste de polimento da fatia
do produto porta velas, gerando uma grande quantidade de sobra do processo. Os cilindros, prove-
nientes da perfuração do quartzo para obtenção do produto porta velas, são raramente comerciali- Foram polidas duas amostras de cada espessura (totalizando oito amostras) no equipa-
zados, e quando ocorre a venda, estes são vendido por R$ 2,00 o quilo. mento do fabricante BQZ (Figura 3). A máquina é composta por lixa e polimento a feltro de lã
com uso de abrasivo tripoli; tal teste realizou-se no Centro Tecnológico de Pedras, Gemas e Joias
Metodologia do Rio Grande do Sul (Figura 3b). O lixamento é realizado de forma manual por um operador,
iniciando com gramatura grossa de 80 grãos/pol2, e finalizando com gramaturas de 200 a 400
1. Teste de fatiamento grãos/pol2. Depois, para dar o brilho, a gema é posicionada contra um feltro de lã com aplicação
de uma pasta de pó abrasivo tripoli e água.
Realizou-se um teste de corte em fatias do cilindro na Sede do SENAI em Soledade.
A máquina utilizada possui uma serra diamantada de 600mm de diâmetro, com lubrificação à
biodiesel. O cilindro foi preso em uma morsa e o corte foi calibrado em uma espessura de 5mm e
realizado no tempo estimado de corte de 6 a 10 minutos. Tal teste resultou em um corte irregular,
devido ao tamanho da serra (Figura 2a) que oscilava muito na direção perpendicular ao seu eixo.
Um novo teste de fatiamento foi realizado no Centro Tecnológico de Pedras, Gemas e
Joias do Rio Grande do Sul, utilizando um equipamento Multi-machine Lapidart de fabricação
brasileira, cujas especificações técnicas são: 1755rpm, 60Hz Hp e 0,25 Cv (Figura 2b). Equipado
com serra e rebolo diamantado, utiliza a força produzida pelo motor e lubrificação à base de água. O
procedimento de corte iniciou-se com a marcação do cilindro com uma fita adesiva, para delimitar
78 o corte da serra. A gema é levada até a serra sendo girada manualmente, retirando primeiramente as Figura 3 – a: equipamento com lixa e polimento a feltro de lã com abrasivo tripoli do fabricante BQZ; 79
laterais, de modo que o miolo seja cortado no final. Tal procedimento foi mais satisfatório pois evi- b: detalhe do lixamento e polimento no feltro de lã.
As fatias foram polidas a fim de obter melhor acabamento da pré-forma, a ser obtida na próxima
etapa de corte por jato d´água. O tempo estimado de polimento das fatias é de 10 a 15 minutos
por fatia.
Figura 5 – a: amostra com 0,5 cm; b: amostra com 1,0 cm; c: amostra com 1,5 cm; d: amostra com 2,0 cm.
Figura 4 – a: máquina de corte por jato d’água abrasivo; b: detalhe de corte executado no cilindro.
As amostras foram testadas com base na execução de forma complexa, e avaliadas base-
ando-se na presença ou não de fraturas e na qualidade das peças após o corte. O tempo de corte das
formas nas fatias foi em média de 2 minutos.
Resultados e discussões
1. Teste de fatiamento
Com relação à etapa de fatiamento foram testados três métodos diferentes a fim de obter
o melhor resultado. O teste realizado na máquina equipada com serra diamantada de 600mm não
foi satisfatório uma vez que a serra, por ser muito grande (ideal para fatiar grandes geodos), vibra Quadro 1 – classificação das amostras quanto a qualidade estética e presença de fraturas durante o processo
e oscila ao redor do seu eixo conferindo um corte impreciso, facilmente perceptível em pequenas de fatiamento.
peças. O segundo teste realizou-se no equipamento GA-JETSCREAM II JETTEK WATER
JET, no CT Pedras e também não apresentou boa precisão. Isso ocorre devido ao corte à jato d’ Como pode ser observado na figura 5 e, de acordo com o quadro 1, todas as amostras
água abrasivo iniciar e terminar com diferentes diâmetros devido à dispersão do fluxo de líquido do mantiveram a sua qualidade estética após o fatiamento e nenhuma fraturou durante o processo
jato. realizado no equipamento Lapidart, podendo ser encaminhadas a próxima etapa que é o polimen-
Por fim, foi realizado fatiamento no equipamento multiuso da Lapidart. Primeiramente, to.
uma fita foi adicionada ao cilindro a fim de servir de referencia para o corte da serra, realizado
quando o operador pressiona o mineral contra a serra diamantada. Devido à fragilidade do Quartzo 2. Teste de polimento da fatia
e sua facilidade de sofrer fratura conchoidal, o cilindro teve que ser serrado primeiramente pelas
80 laterais e girado até que o último corte fosse feito no miolo do cilindro, evitando trincas e rebarbas No teste de polimento na máquina da Lapidart, a principal dificuldade foi polir cantos 81
que possam facilitar o fraturamento do material. vivos e há a impossibilidade de realizar esse procedimento em peças vazadas. Por isso, o contorno
interno das amostras cortadas à jato d’ água abrasivo não foi polido. ficasse imperceptível e mantendo seu relevo interno proporcional.
Os cilindros utilizados para os testes foram comprados já polidos, no entanto, após o Justamente por se tratar de um corte resfriado, nenhuma das chapas quebrou ou trincou
seu fatiamento as faces precisaram ser lixadas e polidas novamente, o que levou em média, 10 a 15 durante o processo de corte, que durou em média 1min50s, e a qualidade estética foi mantida,
minutos por fatia. Todo o processo deve ser realizado com o resfriamento das amostras, visto que como mostra o quadro 2 abaixo e a figura 8:
facilmente elas podem fraturar, o que acabou de ocorrer com uma das amostras (com 1,5 cm de
espessura) que ao ser lixada acabou trincando, conforme ilustra a figura 6.
Figura 6 – a: amostra de 1,5 cm de espessura fraturada após lixamento; b: amostras foscas e c: amostras
polidas.
3. Teste de perfuração
O teste de perfuração foi realizado em uma empresa que não disponibilizou mais infor-
mações a cerca desse processo. No entanto, é possível afirmar que a amostra mais fina (0,5cm) foi Quadro 2 – classificação das amostras quanto a qualidade estética e presença de fraturas durante o processo
perfurada sem que a qualidade estética da peça fosse prejudicada (ver figura 7) ou a peça fraturasse, de corte à jato d’ água abrasivo.
visto que a perfuração é realizada em etapas a fim de permitir o melhor resfriamento da peça.
Pode-se concluir então, que peças mais espessas provavelmente não sofreriam fraturas,
visto que a espessura delas é fundamental para uma perfuração mais segura, o que pode ser ob-
servado na figura 7, mostrando um cilindro com 6cm de altura que resistiu a um furo passante de
diâmetro 1,2cm.
Figura 8 – a: amostras cortadas por processo de corte à jato d’ água abrasivo e b: amostras cortadas por
processo de corte à jato d’ água abrasivo parte negativa (amostra vazada) e positiva (mapa).
Figura 7 – à esquerda: cilindro com 6cm de altura com furo passante de diâmetro 1,2cm e à direita: amos-
tra de espessura 0,5cm com furo de 0,2cm de diâmetro. Conclusões
4. Teste de corte à jato d’ água abrasivo Por meio desta pesquisa houve a reincorporação de um novo ciclo de manufatura do
material Quartzo Rosa, rejeito oriundo da etapa final de produção industrial de uma empresa
82 O teste de corte à jato d’ água com abrasivo realizou-se sem maiores dificuldades visto beneficiadora de minerais. Com isso, é possível propor soluções estratégicas de inovação, uma vez 83
que as amostras eram relativamente finas, fazendo com que o efeito de dispersão do jato d’ água que grande parte desse rejeito permanece descartado e sem utilização comercial.
O beneficia