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A DOUTRINA ADVENTISTA DO SANTUÁRIO:

PATRIMÔNIO OU RISCO?
por Raymond F. Cottrell
Raymond Forest Cottrell, D. Div. (1912–2003). Pastor, missionário, professor, escritor e teólogo de renome nos meios
adventistas, foi editor associado do Comentário Bíblico Adventista (SDABC) na década de 1950 e co-fundador do Instituto
de Pesquisa Bíblica (BRI) da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia. Ele é neto de Roswell Cottrell seguidor de
Guilherme Miller. Durante as longas décadas de seu privilegiado envolvimento com a liderança administrativa e teológica
da IASD em sua sede administrativa nos Estados Unidos, Cottrell acompanhou de perto os bastidores das maiores
controvérsias teológicas pelas quais a igreja passou no século 20. Neste artigo, aborda do ponto de vista histórico e
exegético a interpretação adventista de Daniel 8:14 que deu origem à doutrina do santuário e a problemática que ainda a
persegue hoje. O presente material foi apresentado pela primeira vez no segundo simpósio da JIF (2–4/11/2001) e
novamente na reunião anual da Associação de Fóruns Adventistas de San Diego, CA (09/02/2002).
ll l

“Encontrei problemas com a interpretação tradicional de Daniel 8:14 pela primeira vez na
primavera de 1955 durante o processo de edição de comentários sobre o livro de Daniel para o
volume 4 do Comentário Bíblico Adventista (SDABC). Como uma obra destinada a atender aos
mais exigentes padrões acadêmicos, pretendíamos que nosso comentário refletisse o
significado obviamente pretendido pelos autores bíblicos. Como um comentário adventista,
ele também deveria refletir, da forma mais precisa possível, o que os adventistas acreditam e
ensinam. Mas em Daniel 8 e 9 descobrimos que era irremediavelmente impossível cumprir
esses dois requisitos.” R. F. Cottrell
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A
interpretação tradicional de Daniel 8:14 com seu história e metodologia da doutrina do santuário, examinando-
santuário e juízo investigativo, que deu origem ao a com base no princípio Sola Scriptura, reconhecer princípios
Adventismo do Sétimo Dia e explica sua existência básicos de exegese, bem como explorar procedimentos para
como uma entidade distinta dentro da cristandade, prevenir que a igreja repitas as experiências traumáticas do
tem sido objeto de mais críticas e debates, tanto por passado.
adventistas quanto por não-adventistas, do que todas as outras Na medida do possível, este artigo evita a terminologia
facetas do seu sistema de crenças combinadas. Ela também tem hermenêutica técnica, incluindo a transliteração das palavras
sido a que mais tem custado a igreja adventista em termos de hebraicas usadas por estudiosos. A transliteração usada destina-
disciplina eclesiástica por questões doutrinárias, apostasia, e se a permitir que pessoas não familiarizadas com o hebraico
desvio de tempo, atenção e recursos da missão. bíblico se aproximem da vocalização original. [Salvo indicação,
Tem sido repetidamente demonstrado que um ministro as citações bíblicas citadas são da Almeida Revista e Atualizada,
ordenado pode acreditar que Cristo é um ser criado (e não ARA].
Deus no sentido pleno da palavra), ou que uma pessoa pode
ganhar a salvação observando fielmente os Dez Mandamentos, ORIGEM E HISTÓRIA DA DOUTRINA DO SANTUÁRIO
ou que Gênesis 1 não é um relato literal da criação há meros
seis mil anos––sem passar por disciplina ou perder suas
1. Formação da Doutrina do Santuário
credenciais ministeriais. Mas também tem sido o caso que um
Os pioneiros adventistas do Sétimo Dia herdaram sua
ministro ordenado não pode questionar a autenticidade da
identificação do ano de 1844 como o fim dos 2.300 “dias”
interpretação tradicional de Daniel 8:14––nem em
preditos na versão King James (KJV) de Daniel 8:14 por
pensamento––sem que suas credenciais ministeriais sejam
Guilherme Miller. Anteriormente um cético confesso, Miller
revogadas. Como observado abaixo, em vários casos, nem meio
se converteu em 1816 e se tornou um pregador batista leigo.
século de serviço à igreja tem sido suficiente para atenuar as
Ele dedicou seus primeiros dois anos como cristão recém-
consequências. Por essa razão, é apropriado rever a origem,
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converso ao estudo diligente da Bíblia, que eventualmente Cristo havia concluído Seu ministério no lugar santo e entrado
culminou em Daniel 8:14 e à conclusão de que ele profetizou no Seu ministério sacerdotal no lugar santíssimo, começando
a segunda vinda de Cristo “por volta do ano de 1843”. ali o “juízo investigativo”.
De acordo com a Enciclopédia Adventista do Sétimo Dia, Por vários anos, o “pequeno rebanho” de pioneiros
Miller “declarou repetidamente que suas interpretações Adventistas do Sétimo Dia “espalhados pelo mundo”
proféticas não eram novas”, mas insistiu que chegou às suas acreditaram que a fase do juízo investigativo do ministério de
conclusões exclusivamente através de seu próprio estudo da Cristo seria muito breve (não mais de cinco anos, no máximo7)
Bíblia e uma concordância. No volume 4 do livro Prophetic e que, após isso, Ele retornaria imediatamente. A eventual
Faith of Our Fathers, LeRoy Edwin Froom observa que Miller adesão de novos membros ao “pequeno rebanho” provou ser
não foi de modo algum o “originador” da idéia de que os 2.300 uma evidência convincente de que a porta da graça em
“dias” eram anos proféticos terminando por volta de 1843, e realidade permaneceu aberta, e no início de 1850 eles
que é “um simples fato histórico que a origem da interpretação abandonaram o aspecto de “porta fechada” do santuário no
dos 2.300 anos como terminando naquela época, e sua ampla celestial (como interpretaram Daniel 8:14).
circulação, é anterior e independente de William Miller.”¹ Essa é a interpretação adventista tradicional de Daniel
Através de que processo Miller e aquele formidável grupo 8:14, o santuário, e o juízo investigativo, que foi depois
de estudantes bíblicos e pioneiros adventistas chegaram a comumente referida como “a doutrina do santuário”
1843/44 como o fim dos 2.300 “dias” de Daniel 8:14? estabelecida na declaração das crenças adventista, mais
Baseando-se na tradução KJV da Bíblia (1611, a única versão recentemente como a crença 24 das 27 Crenças Fundamentais
inglesa então disponível), eles: (1) identificaram o “santuário” adotadas na sessão de 1980 da Conferência Geral em Nova
como a igreja na terra; (2) aceitaram a interpretação da KJV de Orleans.
erev boqer (literalmente, “tarde e manhã”) como “dias”; (3)
adotaram o princípio “dia-ano” na profecia bíblica e assim 2. Ellen G. White e a Doutrina do Santuário
interpretaram os 2.300 “dias” como anos proféticos; (4) Sempre que perguntas são levantadas a respeito da
interpretaram as setenta “semanas” de Daniel 9:24–27 como o interpretação tradicional de Daniel 8:14, dela, o argumento
primeiro segmento destes 2.300 anos; (5) identificaram a decisivo em defesa dela têm sido declarações de Ellen White.
cessação do sacrifício e oferta como a última metade da Como a suposta “intérprete infalível” das Escrituras, seu apoio
septuagésima das setenta “semanas” (v. 27) como referindo-se sempre resolveu a questão. Por exemplo, em 1888, quarenta e
à crucifixão de Jesus;2 (6) começando com a data da crucifixão quatro anos depois do grande desapontamento de 22 de
e retrocedendo, eles identificaram o decreto do rei persa outubro de 1844, ela escreveu: “A passagem que, mais que
Artaxerxes Longimano em seu sétimo ano (Esdras 7) como todas as outras, havia sido tanto a base como a coluna central
sendo o decreto profetizado em Daniel 9:25, assim localizando da fé do advento, foi: “Até dois mil e trezentos dias e o
o início dos 2.300 anos em 457 a.C.; (7) com 457 a.C. como santuário será purificado.”8 Ela dedicou um capítulo inteiro de
ponto de partida chegaram em “por volta do ano 1843”; (8) O Grande Conflito à defesa da doutrina do santuário. Dezoito
adotaram a interpretação da KJV de nitsdaq (literalmente, anos mais tarde, em 1906, ela escreveu: “A correta
“restaurar”) como “purificar”; e (9) concluíram que a compreensão da ministração no santuário celestial é o
purificação do santuário de Daniel 8:14 significava a fundamento de nossa fé.”10
purificação da igreja na terra (e a própria terra) por fogo na Para compreender estas duas declarações no seu contexto
segunda vinda de Cristo. histórico, é importante recordar que Ellen White, e muitos
Quando o Grande Desapontamento de 22 de outubro de outros haviam experimentado o grande desapontamento de 22
1844 provou conclusivamente que a identificação de Miller do de outubro de 1844. Suas declarações sobre isso são precisas
“santuário” em Daniel 8:14 como sendo a igreja na terra e a do ponto de vista histórico. A experiência ainda era vívida em
natureza de sua purificação a segunda vinda de Cristo3 estavam sua própria mente e nas mentes de muitos outros. Em ambas
erradas, os adventistas pioneiros reidentificaram o “santuário” as declarações, Ellen White está simplesmente declarando um
do versículo 14 como sendo o santuário celestial do livro de fato histórico; ela não está interpretando a Bíblia. Em 1895 ela
Hebreus,4 e sua purificação como o equivalente celestial da escreveu: “Em relação à infalibilidade, nunca a reivindiquei; só
purificação do santuário terrestre no Dia da Expiação.5 Deus é infalível.”11 “A Bíblia é a única regra da fé e doutrina...
Mantendo, porém, a suposta validade de 22 de outubro Só a Bíblia ... é o fundamento de nossa fé. ... Só a Bíblia deve
de 1844 como o cumprimento de Daniel 8:14 e que isso ser o nosso guia. As Escrituras Sagradas devem ser aceitas como
implicava o rápido retorno de Senhor, os pioneiros adventistas uma revelação autoritária e infalível da vontade [de Deus]. ...
concluíram que a porta da graça realmente havia se fechado Devemos receber a palavra de Deus como autoridade
naquele dia fatídico, e que apenas aqueles que naquela época suprema”.12 Numerosas outras declarações poderiam ser
esperaram seu retorno eram dignos da vida eterna. Eles se citadas.13 É importante lembrar que ela nunca se considerou
referiam a isso como “a porta fechada” como na parábola das uma exegeta da Bíblia. Em numerosas ocasiões, quando lhe
Dez Virgens.6 Eles logo associaram a teoria da “porta fechada” pediram uma interpretação autoritária e infalível de uma
à idéia de que o santuário de Daniel 8:14 era o santuário no passagem bíblica, ela se recusou, e disse-lhes que fossem eles
céu, do livro de Hebreus, que a “porta fechada” era a “porta” mesmos à Bíblia para obter uma resposta.
entre o lugar santo e o santíssimo, que em 22 de outubro

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Também é vital lembrar que nas cerca de 47.00014 citações algum administrador de igreja ou professor respeitado que
das Escrituras por parte de Ellen White ela faz uso da Bíblia de ousou chamar a atenção de outros líderes para falhas na
duas maneiras distintas: (1) cita a Bíblia ao narrar a história interpretação tradicional de Daniel 8:14 perdeu suas
bíblica em seu próprio contexto; e (2) aplica os princípios credenciais ministeriais, foi desligado da obra forçosamente ou
bíblicos em seu conselho à igreja de hoje––fora de seu contexto simplesmente deixou a igreja. Com uma ou duas possíveis
original. Uma ilustração clara deste duplo uso da Bíblia é sua exceções, nenhum deles havia questionado abertamente a
série de comentários sobre Gálatas 3:24: “De maneira que a lei autenticidade bíblica da doutrina do santuário, mas foram
nos serviu de aio para nos conduzir a Cristo…” (1) Em 1856 demitidos simplesmente por sequer cogitar suas dúvidas
ela identificou essa lei como o antigo sistema de lei cerimonial, compartilhá-las com outros líderes da igreja! Ora, não se
e não os Dez Mandamentos.15 (2) Em 1883 ela novamente tratam de novatos mas sim administradores experientes ou
identificou essa “lei” como “as cerimônias obsoletas do professores de teologia; pelo menos três deles serviram à igreja
judaísmo”.16 (3) Em 1896 ela escreveu: “Nesta Escritura, o fielmente por mais de meio século cada um.
Espírito Santo através do apóstolo está falando especialmente O primeiro líder a questionar a doutrina do santuário foi
da lei moral”.17 (4) Em 1900 ela escreveu: “Me perguntam Dudley M. Canright em 1887. É certo que ele poderia ter sido
sobre a lei em Gálatas. ... Eu respondo: ambos o código mais diplomático e paciente, mas por mais de vinte anos ele
cerimonial e o código moral dos Dez Mandamentos”.18 (5) Em serviu à igreja como ministro, evangelista, administrador e
1911 ela novamente identificou a lei em Gálatas como membro do Comitê Executivo da Conferência Geral, e ganhou
exclusivamente “as cerimônias obsoletas do Judaísmo”. o direito a uma audiência para expôr seus pontos de vista. Mas
Nessas reversões (lei cerimonial exclusivamente, os Dez os irmãos ou não lhe deram ouvido simplesmente não
Mandamentos exclusivamente, ambos a lei cerimonial e os Dez entenderam seu questionamento––talvez ambos. Ele deixou a
Mandamentos, lei cerimonial exclusivamente) ela estava se igreja voluntariamente e tornou-se seu tão feroz oponente
contradizendo ou mudou de idéia repetidamente? Nem uma como havia sido seu defensor.
nem outra! Uma leitura cuidadosa de cada afirmação no seu Canright publicou o livro Seventh-day Adventism
próprio contexto torna evidente que: (1) quando ela identifica Renounced (O Adventismo do Sétimo Dia Renunciado) para
a lei em Gálatas como a lei cerimonial ela está comentando alertar as pessoas sobre os erros do adventismo (o livro foi
sobre Gálatas no seu próprio contexto histórico; e (2) quando traduzido em dezenas de línguas e ainda é usado para alertar as
ela aplica o princípio envolvido ao nosso tempo ela o faz fora pessoas contra o adventismo). Um adventista honesto e
do seu contexto bíblico. O princípio envolvido nos dias de sofisticado ao ler o livro hoje teria que admitir que grande parte
Paulo e nos nossos é idêntico: os Gálatas não podiam ser salvos de seu ataque contra a doutrina do santuário teve—e ainda
por uma observância rigorosa das leis cerimoniais; nem nós tem— fundamento.20
podemos ser salvos por uma observância rigorosa dos Dez Como Canright, Albion F. Ballenger serviu fielmente a igreja
Mandamentos! As duas definições contraditórias da lei em por muitos anos, e em 1905 tornou-se diretor da Missão
Gálatas são válidas e precisas! Um exame das milhares de Irlandesa. Orador e escritor capaz e um estudante diligente das
citações ou alusões bíblicas de Ellen White, torna evidente que Escrituras, assim como Canright, Ballenger nunca havia
suas declarações históricas a respeito de Daniel 8:14 são mencionado em público seus pontos de vista sobre o santuário.
historicamente precisas com respeito à experiência de 1844 e Um comitê de vinte e cinco membros da Conferência Geral
não pretendem negar o significado da passagem em seu foi escolhido para ouvi-lo relatar seus pontos de vista contrário
momento primário. sobre o ministério de Cristo no santuário celestial. Ele
Podemos pensar na explicação do santuário celestial do reconheceu a possibilidade de que poderia estar errado, e
grande desapontamento como um dispositivo de proteção, implorou para que alguém indicasse na Bíblia em que ponto
uma muleta espiritual que permitiu ao “pequeno rebanho” de estava errado, mas ninguém o fez. A igreja retirou suas
pioneiros adventistas “espalhados pelo mundo” sobreviver ao credenciais ministeriais e o desligou simplesmente pelo que ele
grande desapontamento de 22 de outubro de 1844 e não acreditava, não por qualquer coisa que ele tivesse dito ou feito.
perder a fé na iminente volta de Jesus. Essa explicação foi a Vinte e cinco anos mais tarde, W. W. Prescott (membro das
melhor que puderam dar, dado o método texto-prova em que, comissões ad hoc da Conferência Geral nomeado para se reunir
por necessidade, se baseavam. Com o método histórico que com os dissidentes) comentou numa carta a W. A. Spicer,
hoje temos à nossa disposição, já não precisamos dessa muleta então presidente da Conferência Geral: “Esperei todos estes
“texto-prova” e faríamos bem em colocá-la na prateleira. É anos para que alguém desse uma resposta adequada a
contraproducente em nosso testemunho do evangelho eterno Ballenger, Fletcher e outros em suas posições sobre o santuário,
de hoje, tanto para adventistas biblicamente letrados quanto a mas essa resposta nunca veio”. Ballenger explicou suas opiniões
não-adventistas. no livro Cast Out for the Cross of Christ. “Ninguém”—
lamentou—que não a tenha experimentado pode perceber a
3. Seis Líderes da Igreja que Questionaram a Doutrina do angústia da alma que assola aquele que, no estudo da Palavra,
Santuário encontra uma verdade que não se harmoniza com aquilo em
Por cerca de quarenta anos a doutrina do santuário não que acreditou e ensinou ser vital para a salvação”.21
levantou suspeitas ou protestos explícitos. Mas, em média, a Após vinte anos como ministro ordenado, missionário e
aproximadamente cada quinze ou vinte anos desde 1887, professor de teologia na universidade adventista de Avondale

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na Austrália, em 1930, William W. Fletcher decidiu renunciar ao A experiência de R. A. Greive foi única, pois, como
ministério e cortar sua relação com a igreja, sob pressão presidente da Conferência de Queensland na Austrália, nunca
administrativa, apenas por causa das suas opiniões a respeito havia questionado a doutrina do santuário. Sua preocupação
de erros na interpretação tradicional de Daniel 8:14. Dois anos era encorajar a experiência de justificação pela fé, como
depois, publicou Reasons for My Faith (Razões da Minha Fé), apresentada nos livros de Romanos e Hebreus, em relação à
expondo suas opiniões sobre o santuário e o ministério perfeição de Jesus Cristo. Os líderes da igreja na Divisão, no
sacerdotal de Cristo no céu. Uma leitura objetiva da Bíblia e entanto, acusaram-no de estar em conflito com o conceito de
do seu livro leva à conclusão de que o entendimento de um juízo investigativo como a purificação do santuário de
Fletcher sobre a doutrina era superior ao de seus críticos.22 Daniel 8:14 e Hebreus 9. Se, como Paulo escreveu em
Louis R. Conradi serviu fielmente a Igreja durante cinquenta Romanos 8:1, “agora não há nenhuma condenação para os que
e dois anos, a maior parte do tempo como vice-presidente da estão em Cristo Jesus”, “Como um registro desses pecados
Conferência Geral para a Divisão da Europa Central. Era pode ser preservado e revisado durante o curso de um juízo
estudante ávido da Bíblia e da história, bem como um investigativo?” perguntou Greive. Ele também mostrou que,
administrador capaz, e prolífico escritor. Era muito respeitado de acordo com Hebreus 7:27 e 9:6–12, Cristo completou Seu
pelos seus colegas administradores. Por mais de trinta anos ministério equivalente ao lugar santo na cruz e entrou no Seu
cresceram na sua mente questões a respeito da interpretação ministério equivalente ao lugar santíssimo quando subiu ao
tradicional de Daniel 8:14, que ele compartilhou pela primeira céu, e não dezoito séculos depois. Em seu julgamento, Greive
vez com alguns líderes da igreja em 1928 em uma audiência concordou em ir até onde sua “consciência iluminada”
formal perante um comitê ad hoc de trinta e três membros permitiria, a fim de estar em harmonia com seus irmãos, mas
nomeados pela Conferência Geral e que finalmente levou à para eles isso não foi suficiente. Em 1956, suas credenciais
perda de suas credenciais e sua separação voluntária da igreja foram removidas e ele saiu da igreja.24
em 1931. Depois disso, uniu-se aos Batistas do Sétimo Dia, Pense no tempo, atenção e custo perdidos em disciplinar
que lhe reinstituíram as credenciais, deram-lhe permissão para esses seis administradores e estudiosos da Bíblia, listados
pregar as crenças adventistas e fizeram dele o seu representante acima, e que nos distraíram da missão! Pense também na
oficial na Europa. Até a sua morte, ele expressou confiança na angústia e sofrimento que estes seis experimentaram. Pense,
integridade fundamental do Adventismo, apesar dos erros na também, no dano que alguns deles causaram à igreja!
doutrina do santuário.23
William W. Prescott foi um homem versátil que, durante uma 4. Outras Vítimas da Doutrina do Santuário
vida de mais de meio século em serviço à igreja (1885–1937) Como um avião entrando inesperadamente em uma
se distinguiu como escritor, editor, educador, administrador e região de turbulência, em 1945 o Dr. Desmond Ford começou a
téologo. Como Conradi, seu estudo da Bíblia levou a um encontrar problemas exegéticos na interpretação adventista
reconhecimento de graves falhas na doutrina do santuário, às tradicional de Daniel 8:14, do santuário e do juízo
quais, no entanto, nunca a expressou publicamente. Ele investigativo. Ele se propôs a colocar todas as peças díspares
manteve plena confiança na credibilidade básica da mensagem juntas em um padrão coerente que resolveria os problemas,
do Adventismo. Seu único “erro” foi em 1934, quando que seria fiel a princípios confiáveis da exegese, e que
compartilhou seus pontos de vista com alguns dos “irmãos” da permitissem que ele continuasse adventista tendo total
Conferência Geral os quais se voltaram contra ele. Ao confiança na integridade da igreja ao evangelho. Nos dez ou
contrário de Conradi, porém, ele permaneceu na igreja, nunca quinze anos seguintes, Ford descobriu que alguns de seus
perdeu suas credenciais ministeriais, mas retornou a contemporâneos e outros antes dele haviam lutado com os
Washington, D.C., onde se relacionou com seus críticos e mesmos problemas. Em seu documento definitivo de 991
participou ativamente de várias atividades da Conferência páginas, Daniel 8:14, the Day of Atonement, and the
Geral. Investigative Judgment (Daniel 8:14, o Dia da Expiação e o
Depois de muitos anos de serviço à igreja, Harold E. Snide Juízo Investigativo) preparado para as reuniões de Glacier
era professor de Bíblia no Southern Junior College (agora View em 1980, ele nomeia doze líderes adventistas com quem
Southern Adventist University). Adventista de terceira geração havia discutido os problemas, pessoalmente ou por
e estudante diligente das profecias, encontrou problemas com correspondência. Ford dedicou seu mestrado e uma de suas
a interpretação tradicional de Daniel, especialmente em teses de doutorado ao assunto. Seus comentários publicados
relação ao ministério de Cristo, conforme estabelecido no livro sobre os livros de Daniel e o Apocalipse totalizam mais de duas
de Hebreus. Ele foi até os líderes em Washington com os mil páginas. Ele provavelmente dedicou mais estudos
problemas que o incomodavam, mas não encontrou ajuda. O acadêmicos ao assunto e escreveu mais sobre ele do que
conflito entre a interpretação tradicional de Daniel 8:14 e a qualquer outra pessoa na história.
Bíblia provou ser uma experiência traumática que Durante seu longo mandato como diretor do
eventualmente, por volta de 1945, levou-o abandonar o departamento de teologia no Avondale College na Austrália,
adventismo. Sua esposa, no entanto, permaneceu adventista, e ele treinou cerca de metade dos ministros na Austrália. Na sala
foi morar com seus pais em Takoma Park, MD, onde a de aula e por exemplo pessoal, inspirou milhares de jovens para
conheci. Cristo. Ele foi sempre procurado como orador, e milhares
passaram a ter uma compreensão e apreciação mais claras do

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evangelho como resultado do seu testemunho. Seu tema vítimas está repetindo suas experiências traumáticas. Se o
sempre foi—e ainda é—a salvação pela fé em Jesus Cristo. passado é algum indicativo para o futuro, tais experiências se
Ford nunca discutiu em público os aspectos controversos repetirão indefinidamente, até que a igreja enfrente os fatos
da doutrina do santuário—isto é, até 27 de outubro de 1979, objetivamente, e lide com eles de forma realista e responsável,
quando, como professor de intercâmbio no Pacific Union em harmonia com o princípio Sola Scriptura. Diz-se que mais
College (PUC), membros da faculdade o convidaram a de 150 ministros ordenados, principalmente na Austrália,
discutir suas opiniões sobre a questão do santuário em um perderam suas credenciais ministeriais após o caso Ford.
fórum uma tarde de sábado. Trinta e quatro anos de silêncio Centenas de pessoas leigas, principalmente nos Estados
sobre o assunto certamente refletem louvável discrição pastoral Unidos, deixaram a igreja e formaram efervescentes
e acadêmica. A apresentação no PUC “foi positiva sobre o “fraternidades” como resultado.
papel providencial dos Adventistas e de Ellen White”. No Dale Ratzlaff foi pastor da igreja de Watsonville na Associação
entanto, três ministros aposentados presentes detectaram o que da Califórnia Central e professor de Bíblia na Monterey Bay
consideraram ser heresia e relataram sua própria versão da Academy quando, em 1981, foi abruptamente demitido pela
palestra ao presidente da comissão do colégio. Associação por expressar uma convicção compartilhada pela
Em vista do fato de que Ford ainda era um funcionário da maioria dos cerca de quarenta teólogos presentes em Glacier
do Avondale na Austrália e deveria retornar no final do ano View, que a administração havia julgado mal e maltratado
letivo de 1979–1980, o presidente logicamente encaminhou o Desmond Ford no ano anterior. Os anciãos da igreja de
assunto para a Conferência Geral. Em agosto de 1980, 115 Watsonville convidaram o Dr. Fred Veltman do Pacific Union
administradores líderes e teólogos de todo o mundo (a um College e a mim para nos encontrarmos com a igreja no sábado
custo estimado de um quarto de milhão de dólares) foram seguinte, no qual nos esforçamos para apaziguar os ânimos.
convocados para um rancho localizado em Glacier View, Ratzlaff deixou a igreja adventista e vagou (tanto
Colorado, para servir como o Comitê de Revisão do geográfica quanto ideologicamente) por alguns anos, após o
Santuário.25 Eles foram especificamente instruídos a não que embarcou no que ele chama de Ministério Certeza da
avaliar as crenças de Ford com respeito a Daniel 8:14, o Vida, primeiro em Sedona e agora em Glendale, Arizona, com
santuário e o juízo investigativo pela própria Bíblia, mas o objetivo de alertar adventistas e outros contra a igreja.
conforme estabelecido na declaração das 27 Crenças Primeiro veio uma polêmica de 350 páginas contra o Sábado,
Fundamentais, as quais a igreja já havia determinado como e em 2001 o livro Cultic Doctrine of Seventh-day Adventists (A
normativas. Várias semanas depois, a Divisão Australasiana Doutrina Sectária dos Adventistas do Sétimo Dia) que ele
retirou as suas credenciais ministeriais. descreve como “um apelo à liderança da IASD”. Seu alvo neste
Os procedimentos em Glacier View consistiram numa segundo livro é a tradicional interpretação adventista de
reafirmação da interpretação adventista tradicional de Daniel Daniel 8:14, a doutrina do santuário e o juízo investigativo.
8:14. Mas Ford não teve oportunidade de apresentar as razões Em 1999 ele começou a publicar a “Proclamation”, uma
para a sua interpretação “apotelesmática” da mesma, que revista bimestral dedicada a alertar adventistas e outros contra
previa que a interpretação adventista tradicional é apenas um o Adventismo. Aqui no oeste dos EUA, a cruzada de Dale está
dos vários cumprimentos da profecia, e não seu cumprimento tendo pelo menos uma medida de sucesso. Ele também é
primário. Novamente—como sempre—a igreja negligenciou editor do livro de Dr. Jerry Gladson: A Theologian’s Journey
examinar as razões para a dissidência da interpretação From Seventh-day Adventism to Mainstream Christianity (A
tradicional de Daniel 8:14 e meramente reafirmou-a em tons Trajetória de um Teólogo: Do Adventismo ao Cristianismo,
estentóricos. De fato, a “declaração de consenso” votada no 2001).27
final daquela semana em Glacier View concordou tacitamente O Dr. Jerry Gladson teve a infelicidade de servir como
com Ford em seis dos dez principais pontos sobre exegese. professor do Southern Adventist College. Se ele estivesse
Mais tarde, cerca de quarenta eruditos bíblicos assinaram um ensinando em qualquer uma das outras oito universidades
documento conhecido como a Afirmação de Atlanta, adventistas na América do Norte, ele provavelmente ainda
criticando perante Neal Wilson a forma como a igreja havia seria um ministro e professor adventista. O colégio Southern
tratado Ford em Glacier View. opera como uma agência do obscurantismo do “cinturão
Em sua “aposentadoria” involuntária Ford continuou a bíblico” do sul americano. Além disso, a escola ainda é em
proclamar o evangelho, em um ministério que ele chamou de grande medida, dependente da generosidade de ultra-
Good News Unlimited (Boas Novas Ilimitadas). Ao contrário fundamentalistas que insistem que a faculdade seja
de Canright, Ballenger e outros antes dele que haviam partido administrada sob princípios ultra-fundamentalistas.
para vinganças contra a igreja, Ford permaneceu Adventista do Novamente o alvo era a doutrina tradicional do santuário e a
Sétimo Dia e manteve sua carta na igreja até recentemente acusação era simplemente o que Gladson pensava sobre o
(2001).26 assunto, não pelo que tivesse ensinado em suas aulas.
Ford, agora aposentado em sua terra natal, Queensland, O então diretor do Seminário Teológico da Andrews, o Dr.
Austrália, é o único sobrevivente de numerosos encontros Gerhard F. Hasel, ex-aluno e professor do Southern e a
traumáticos com a interpretação tradicional de Daniel 8:14. impiedosa personificação do obscurantismo adventista,
Poderíamos desejar que tais encontros com a doutrina do desempenhou papel ativo no linchamento público do Dr.
santuário fossem coisas do passado. Mas uma nova geração de Gladson, papel esse no qual Hasel já se tinha distinguido no

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Seminário. O diretor do departamento de religião do colégio, santuário. Este é um dos pontos sobre os quais haverá um
responsável pelo derradeiro golpe de misericórdia, tinha a afastamento da fé”.31
mente tão fechada e era tão impiedoso quanto Torquemada, Quando, em meados da década de 1950, Walter Martin e
papel no qual ele já havia se distinguido como diretor do Donald Grey Barnhouse exploraram os ensinamentos adventistas
Instituto de Pesquisas Bíblicas da Conferência Geral. Que em profundidade com pessoas nomeadas pela Conferência
chances tinha o Dr. Gladson de uma avaliação e julgamento Geral, concluíram que, com duas exceções, estamos em
justos das acusações contra ele? Finalmente, o presidente do harmonia com o evangelho: (1) a nossa doutrina do santuário,
conselho da faculdade distinguiu-se como feroz obscurantista, e (2) o papel que atribuímos a Ellen White como intérprete
o instrumento escolhido da extrema-direita adventista. infalível das Escrituras––em contradição com as suas próprias
Jerry Gladson não foi demitido nem suas credenciais declarações explícitas em contrário. A primeira, concluíram
ministeriais foram retiradas. Ele permaneceu como ministro eles, viola o princípio Sola Scriptura da Reforma.32 Sobre isso,
ordenado até que elas expirassem e não fossem renovadas. Em Barnhouse escreveu:
vez disso, foi criado um clima de caça-às-bruxas no qual sua
saída provou ser o menor dos dois males. Não houve audiência A doutrina [do santuário] é, para mim, o fenômeno psicológico de
formal. Ninguém tentou entender suas razões para pensar autopreservação mais colossal da história religiosa. [...]
como ele pensava, ou sequer se importou. Os fariseus estavam Pessoalmente, não acreditamos que haja sequer a suspeita de um
versículo nas Escrituras que sustente uma posição tão peculiar, e
no controle, e assim foi. Uma situação anômala de fato!27 também acreditamos que qualquer esforço para estabelecê-la é
Janet Brown tornou-se Adventista do Sétimo Dia em 1985. obsoleto, raso e inútil. [É] sem importância e beira à
Como leiga, ela era uma ávida estudante da Bíblia e, como tal, ingenuidade.33
“começou a perceber mais e mais problemas e inconsistências
entre os ensinamentos da IASD e a Bíblia”. Por um tempo ela Essa é precisamente a reação de estudiosos bíblicos não-
ignorou essas “rachaduras na armadura do Adventismo”, mas adventistas à doutrina adventista do santuário.34
quando “as evidências realmente começaram a se acumular”
ela sentiu que não podia mais “permanecer honesta” consigo 6. Meu Encontro Pessoal com a Doutrina do Santuário
mesma e continuar como adventista. Para ela, o juízo Eu encontrei problemas com a interpretação tradicional
investigativo se assemelha ao purgatório católico, na medida de Daniel 8:14, profissionalmente, pela primeira vez, na
em que mantém as pessoas em suspense quanto à sua posição primavera de 1955 durante o processo de edição do
diante de Deus e “não faz sentido biblicamente”. Em 1995, ela comentário de Daniel para o volume 4 do Comentário Bíblico
deixou a Igreja Adventista e opera um site dedicado a opor-se Adventista (SDABC). Como uma obra destinada a atender aos
a ela.28 mais exigentes padrões acadêmicos, pretendíamos que nosso
Don W. Silver de Ashland, Kentucky, é outra pessoa leiga comentário refletisse o significado obviamente pretendido
que deixou o Adventismo recentemente, principalmente por pelos escritores da Bíblia. Como um comentário adventista, ele
causa da doutrina do santuário, à qual se opõe veementemente. também deveria refletir, da forma mais precisa possível, o que
Evidentemente bem educado, ele fala com fervor e lógica os adventistas acreditam e ensinam. Mas em Daniel 8 e 9
impecável. Sua esposa, assim como ele, ensina na Universidade descobrimos que era irremediavelmente impossível cumprir
Marshall e continua sendo fiel adventista e líder na igreja esses dois requisitos.35
adventista local (suas filhas o seguiram no agnosticismo).29 Em 1958, a Review and Herald Publishing Association
Outros exemplos contemporâneas de oposição à doutrina precisou de novas placas de impressão para o clássico Bible
do santuário e subsequente apostasia poderiam ser citados. Readings, e decidiu-se revisá-lo a fim de concordar com o
Conheço pessoalmente outros empregados da igreja que foram Comentário. Voltando novamente ao livro de Daniel, decidi
demitidos pela mesma razão, leigos que deixaram a igreja e tentar mais uma vez encontrar uma maneira de ser
famílias que foram separadas como resultado. O problema do absolutamente fiel a Daniel e à interpretação adventista
santuário ainda está conosco e continua a impactar a vida dos tradicional de 8:14, mas novamente achei impossível.
Adventistas do Sétimo Dia sinceros. Formulei então seis perguntas sobre o texto hebraico da
passagem e seu contexto e as submeti a cada professor de
5. Reação Não-Adventista à Doutrina do Santuário hebraico e a cada diretor do departamento de religião de todas
Foi a doutrina do santuário baseada em Daniel 8:14 que as nossas faculdades norte-americanas––todos amigos pessoais
nos fez Adventistas do Sétimo Dia e que permanece, hoje, a meus. Sem exceção, eles responderam que não há base
pedra fundamental de nosso distinto sistema de crenças e linguística ou contextual para a interpretação adventista
missão. Ellen White escreveu: “A Escritura que, acima de todas tradicional de Daniel 8:14.36
as outras, foi o fundamento e pilar central de nossa fé foi a Quando os resultados desse questionário foram levados à
declaração: ‘Até dois mil e trezentos dias; então o santuário será atenção do presidente da Conferência Geral, foi nomeado um
purificado’”30 e: “A correta compreensão do ministério no comitê super-secreto chamado Problemas do Livro de Daniel,
santuário celestial é o fundamento de nossa fé”. “Nenhum do qual eu era membro. Nos reunimos intermitentemente
traço deve ser removido daquilo que o Senhor estabeleceu. O durante cinco anos (1961–1966), e consideramos 48 trabalhos
inimigo trará falsas teorias, tais como a doutrina de que não há relativos a Daniel 8 e 9 e, na primavera de 1966, adiamos as

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6
reuniões sine die (indefinidamente), incapazes de chegar a um nosso grande Sumo Sacerdote no céu, perpetuamente.49 Tendo
consenso.37 feito esse sacrifício, Cristo entrou no Lugar Santíssimo—“o
A experiência que eu tive com Daniel e o Comentário próprio céu”— para aparecer na presença de Deus em nosso
Bíblico Adventista mencionada acima me levou a um estudo favor.50 Ele nos convida a vir ousadamente a Ele, pela fé, para
abrangente, sem pressa (nas horas vagas) e aprofundado de encontrar misericórdia e graça em nosso momento de
necessidade.51 Ele aparecerá em breve, uma segunda vez, “aos
Daniel 7 a 12, que continuou sem interrupção por dezessete
que aguardam para salvação”52.
anos (1955–1972), em busca de uma solução conclusiva para
o problema do santuário. Meu objetivo era estar totalmente
EXAMINANDO A DOUTRINA PELO PRINCÍPIO SOLA SCRIPTURA
preparado com informações bíblicas, objetivas e definitivas na
próxima vez que a questão surgisse durante o curso do meu
ministério. Entre outras coisas memorizei, em hebraico, todas 7. “Manejando Bem a Palavra da Verdade”53
as partes relevantes de Daniel 8 a 12 para lembrar e comparar As idéias quase infinitamente diversas e muitas vezes
instantaneamente (60 versículos), conduzi estudos linguísticos contraditórias atribuídas à Bíblia sugerem a importância de
exaustivos38 de mais de 150 palavras hebraicas relevantes que identificar princípios com base nos quais possamos ter
Daniel usa, através do Antigo Testamento, estudei a gramática confiança na validade das nossas conclusões sobre a vida e a
e sintaxe hebraica em detalhes, fiz uma análise minuciosa de realidade que o divino Autor e os escritores inspirados
dados contextuais,39 comparei traduções antigas do grego e do quiseram transmitir com as suas palavras.
latim de Daniel,40 investiguei livros apócrifos e passagens Lemos e estudamos a Bíblia com o objetivo de aprender
relevantes do Novo Testamento,41 traçei a interpretação quem somos, como e porque viemos parar aqui, como
judaica e cristã de Daniel dos tempos antigos aos tempos devemos nos relacionar com a vida e aproveitar ao máximo
modernos,42 e fiz um estudo exaustivo da formação, suas oportunidades, para onde vamos e como melhor chegar
desenvolvimento e experiência adventista subsequente com a lá. Isto constitui o que podemos chamar de nossa “visão de
doutrina tradicional do santuário.43 Eventualmente, mundo”, nosso conceito do que é a vida no planeta terra.
incorporei os resultados desta investigação em um manuscrito Nossa busca por essa informação é como uma viagem cujo
de 1.100 páginas, que mais tarde reduzi a 725 páginas, mas caminho não conhecemos. Ao planejar tal jornada, devemos
decidi não publicar até um momento apropriado. primeiro saber onde estamos, onde queremos estar no final da
jornada, e a melhor maneira de chegar lá. Nosso planejamento
deve levar em consideração os fatos da geografia e das viagens
As considerações acima demonstram conclusivamente que
como elas realmente são e não como gostaríamos ou
nossa interpretação tradicional de Daniel 8:14, o santuário e o imaginamos que sejam. Em outras palavras, temos de ser
juízo investigativo, conforme estabelecido na crença 24 das objetivos quanto à realidade, aos fatos geográficos da viagem
Crenças Fundamentais, não reflete com precisão o ensinamento tal como realmente são. Ser subjetivos em nosso planejamento
das Escrituras com respeito ao ministério de Cristo em nosso pode eventualmente mostra-se desastroso. O mesmo acontece
favor desde Seu retorno ao céu.44 com a leitura e o estudo da Bíblia: objetividade é essencial. Ser
subjetivo em nosso estudo e pensamento inevitavelmente
Assim sendo, é apropriado: (1) notar onde a crença 24 é impõe nossas opiniões pessoais, não iluminadas, sobre a Bíblia
defeituosa;45 (2) revisar a crença de modo a refletir o ensino e nos deixa cegos e surdos ao que Deus está tentando nos dizer
bíblico sobre este aspecto de Seu ministério com precisão; e (3) através dela. Como resultado, assumimos que nossas opiniões
sugerir um processo destinado a proteger a igreja de pessoais constituem a voz de Deus!
experiências traumáticas no futuro.46 Na Bíblia, mesmo uma criança ou uma pessoa semi-
Alguns dos conceitos associados ao juízo investigativo são, analfabeta pode encontrar o caminho da salvação e segui-lo até
de fato, bíblicos, mas a Bíblia em nenhum lugar os associa a aos portões celestiais. Mas para um estudo aprofundado de
um juízo investigativo; não há qualquer base para ele de acordo algumas porções da mesma, aqueles que não estão
com o princípio Sola Scriptura.47 familiarizados com hebraico e grego antigos devem fazer uso
Ao ascender ao céu, Jesus assegurou aos Seus discípulos: de material de referência relevante preparado por pessoas
“E eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos confiáveis que estejam familiarizadas com essas línguas. Certos
séculos” (Mat 28:20). O livro aos Hebreus é nossa principal fatores são essenciais para todos que estão realizando um
fonte de informação sobre Seu ministério no céu desde aquele estudo aprofundado da Bíblia. O seguinte é um breve resumo
tempo. Eu sugiro que o seguinte resumo de Seu ministério dos fatores essenciais para tal estudo.
como apresentado em Hebreus forneça uma base apropriada Objetividade é a qualidade mental que aspira avaliar idéias
para um artigo 23 revisado das Crenças Fundamentais, caso tal e tirar conclusões relacionadas a sua realidade intrínseca, sem
declaração eventualmente seja desejada. O autor de Hebreus depender de pressupostos subjetivos não-testados. A
compara o ministério de Cristo no céu em nosso favor com o objetividade é essencial para determinar o significado
papel do sumo sacerdote no antigo ritual do santuário: pretendido da Bíblia.
Pressupostos subjetivos e não testados sobre a natureza e
Na cruz, Jesus ofereceu-se como um único sacrifício que expiou ensino da Bíblia quase inevitavelmente levam a conclusões
pelos pecados daqueles que se aproximam de Deus por meio erradas. Todos, consciente ou inconscientemente, vêm à Bíblia
Dele.48 Aquele único sacrifício O qualificou para servir como com um conjunto de pressuposições que controlam a avaliação
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dos dados considerados e, por conseguinte, impactam as Deus.56 Deus revelou tudo isso a eles para que pudessem
conclusões sobre a Bíblia. Assim, a importância dos cooperar inteligentemente com Seu propósito para a raça
pressupostos é crucial para determinar a validade das humana. Essa revelação, transmitida ao longo dos séculos da
conclusões. Os pressupostos devem sempre permanecer antiguidade, forneceu ao Israel antigo instrução que os
abertos à revisão, assim que evidências mais claras e objetivas o qualificaria individual e coletivamente como uma nação para
exijam. O objetivo é eliminar todos os fatores subjetivos do representar plenamente o valor supremo e a conveniência de
processo de raciocínio, a fim de harmonizá-lo com a realidade cooperar com Seu propósito eterno. Vislumbrava o clímax da
objetiva. história dat e a restauração completa da soberania divina sobre
É possível testar o pressuposto de que a Bíblia é, como toda a terra no final dos tempos do Antigo Testamento. O
afirma ser, a revelação única da vontade e propósito infinitos Novo Testamento assume a validade desta perspectiva do
de Deus para a raça humana? Sim. A evidência objetiva para Antigo Testamento da história da salvação como atingindo um
isso consiste em: (1) a avalição da Bíblia sobre o estado ético- clímax na vida, ministério, crucifixão, ressurreição e Sua
moral-espiritual humano; (2) seu remédio perfeito para as promessa de voltar em breve—ainda no final dos tempos do
imperfeições desse estado natural; (3) a demonstração de que Novo Testamento.57
esse remédio transformou incontáveis milhões de seres Esta perspectiva bíblica da história da salvação estava
humanos por mais de dois mil anos; e que (4) se os princípios implícita nas Escrituras e nas mentes das pessoas daquela
bíblicos fossem universalmente aceitos e praticados, época. Também deve estar em nossas mentes quando lemos a
eliminariam automaticamente toda guerra, todo crime e toda Bíblia. Assim, a perspectiva da história da salvação do tempo
manipulação egoísta de outros seres humanos—e em que uma passagem foi escrita deve ser levada em
transformariam este mundo em um pequeno céu na terra! Se consideração a fim de determinar seu significado pretendido.
concedida tal oportunidade, a experiência humana confirmaria O texto original das Escrituras, nas línguas em que foi
tais conclusões sem sombra de dúvida. Isso autentica os escrito, é a autoridade final e suprema sobre o que ela diz.58
princípios bíblicos como sendo de origem mais que humana, Boas traduções modernas como a Nova Versão Padrão
e valida o pressuposto acima como objetivo e confiável. Revisada (NRSV59), e a Nova Versão Internacional (NVI), 59 e
O Antigo Testamento foi escrito entre vinte e quatro e são tão precisas e confiáveis quanto qualquer tradução
trinta e sete séculos atrás, principalmente em hebraico antigo disponível hoje. A KJV, com seu gradioso e imponente estilo
e em um mundo mais do que um pouco diferente e estranho literário, tem tido uma profunda influência na língua inglesa e
para nós. O Novo Testamento foi escrito em grego há uns encantado os leitores por quase quatro séculos, mas às vezes
dezenove séculos. O Antigo Testamento registra a história dos não reflete com precisão o texto original.60 Isso ocorre porque
hebreus como povo da aliança e instrumento escolhido do a KJV foi baseada em manuscritos tardios que tinham
propósito divino para eles e para a raça humana nos tempos acumulado numerosos erros de escribas e mudanças editoriais
antigos, contém instrução destinada a qualificá-los para serem ao longo de vários séculos desde que os autógrafos originais se
representantes vivos e testemunhas do verdadeiro Deus, e sua perderam. Desde que um manuscrito antigo conhecido como
resposta individual e corporativa a essa instrução.54 A língua Sinaítico foi descoberto em 1844, milhares de manuscritos
hebraica tinha um vocabulário limitado que refletia a cultura e antigos––em muitos casos séculos mais próximos dos
visão de mundo primitiva: sua escrita consistia apenas em originais––foram encontrados e nos fornecem, hoje,
consoantes e a gramática e a sintaxe diferem das nossas hoje. informações muito mais precisas sobre o que realmente
A Bíblia foi assim historicamente condicionada,55 ou seja, continham os autógrafos originais.61 Além disso, as línguas
adaptada e especificamente dirigida às necessidades, bíblicas bem como a história e cultura da antiguidade são
compreensão e papel no concerto de seus destinatários no melhor compreendidas hoje do que o eram em 1611, quando
momento em que foi escrita, e às suas circunstâncias e a KJV se tornou disponível. Estudos linguísticos—a maneira
percepção do propósito divino, sendo tais princípios pela qual as palavras hebraicas e gregas ocorrem na Bíblia e seu
fundamentais e de valor e aplicabilidade universal. Ela foi significado conforme definido pelo contexto, em cada caso—
escrita em sua linguagem e em formas de pensamento com as são essenciais para determinar seu significado.
quais eles estavam familiarizados, e reflete a perspectiva da O contexto literário de uma passagem é essencial para uma
história da salvação de seu tempo. Esse registro, entretanto, determinação exata de seu significado. Isto inclui seu contexto
“foi escrito para nossa instrução” também. Assim, precisamos imediato, em particular, mas também seu contexto estendido
condicionar nossas mentes ao seu tempo, circunstâncias e em todo o documento do qual faz parte. O hebraico antigo,
perspectiva da história da salvação, a fim de compreender no qual a maior parte do Antigo Testamento foi escrito,62 já
plenamente e apreciar a sua mensagem para o nosso tempo. O estava se tornado uma língua morta quando Esdras leu “o livro
estudo profundo e a apreciação da Bíblia requerem que as da lei de Moisés” (a Torá, ou Pentateuco) em público por volta
circunstâncias históricas nas quais uma passagem foi escrita de 450 a.C., tanto é que Esdras precisou interpretá-lo para os
sejam levadas em consideração. judeus de seu tempo.63
A perspectiva da história da salvação do Antigo Várias características do hebraico antigo foram
Testamento vislumbrava o Israel antigo como o povo da responsáveis por isso. (1) Por um lado, o hebraico tinha um
aliança divina, o instrumento escolhido para cumprir o vocabulário muito limitado, no qual muitas palavras eram
propósito divino de restaurar harmonia entre humanidade e usadas para expressar uma grande variedade de significados.

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8
(Por exemplo, a KJV traduz dez palavras hebraicas comuns por indicando o resultado final de uma escolha acertada ou
uma média de oitenta e quatro expressões em inglês cada, e equivocada. Por essa razão, a profecia bíblica, mesmo a
uma delas por 164 palavras e expressões em inglês!64). (2) A apocalíptica, é sempre condicional, e seu elemento tempo é
escrita hebraica antiga consistia apenas de consoantes, e o leitor sempre flexível, a fim de proporcionar o livre exercício da
tinha que fornecer as vogais que ele achasse corretas, e em escolha humana.69 É uma previsão do que pode ser, não do que
alguns casos poderia fornecer um conjunto de vogais diferentes necessariamente será.
daquelas que o escritor pretendera.65 As vogais que agora Assim, as setenta semanas de anos de Daniel 9:24–27
aparecem nas Bíblias hebraicas foram adicionadas às suas proporcionaram aos exilados hebreus na Babilônia um
consoantes pelos Masoretas, estudiosos judeus, muitos séculos vislumbre do futuro que os aguardava, sujeito à sua
depois do hebraico ter se tornado uma língua morta, de acordo cooperação.70
com o que eles pensavam ter sido o significado pretendido. Por
esta razão, é fútil correlacionar duas passagens do Antigo 7.1. Três Métodos de Estudo da Bíblia
Testamento com base na mesma palavra em inglês localizada A interpretação adventista tradicional de Daniel 8:14 foi
em uma concordância—como Guilherme Miller fez ao formulada com base no que é comumente conhecido como o
desenvolver a doutrina do santuário! método texto-prova de estudo e interpretação, que ajunta
O método analogia das Escrituras—o uso de uma passagem passagens bíblicas em termos do que um leitor moderno pensa
bíblica para esclarecer outra—deve ser usado com cautela.66 O ser a sua importância. Este método tem as seguintes
contexto de ambas as passagens deve primeiro ser levado em características: (1) é altamente subjetivo; (2) compreende a
conta para determinar se elas podem ou não ser usadas juntas. Bíblia a partir das perspectivas culturais e históricas do leitor
moderno; (3) aceita uma tradução da Bíblia como normativa;
Em resumo, o estudo aprofundado da Bíblia requer a consideração (4) torna os pressupostos pessoais e grupais do leitor como
dos pressupostos de cada leitor, as circunstâncias históricas às quais sendo normativos para avaliar a informação; e então (5) tira
uma passagem foi endereçada e a que circunstâncias deveria ser conclusões. Este método não requer treinamento ou
aplicada, sua perspectiva da história da salvação, seu sentido conforme experiência especial, e é seguido pela maioria dos leitores leigos
determinado pela língua original, seu contexto literário e o uso da Bíblia. Desde o início a maioria dos adventistas tem seguido
cauteloso de outras passagens bíblicas para amplificá-la. este método, mas nenhum estudioso bíblico respeitável o segue
hoje. Quando Daniel 8:14 é estudado pelo método histórico,
Os Adventistas do Sétimo Dia hoje afirmam o princípio sérias falhas na interpretação tradicional tornam-se aparentes
Sola Scriptura da Reforma em princípio, mas, às vezes, porque o método histórico: (1) aspira a ser o mais objetivo
involuntariamente o comprometem na prática, notavelmente possível; (2) se esforça para entender a Bíblia como os vários
afirmando a interpretação tradicional de Daniel 8:14. O escritores pretendiam que seus escritos fossem entendidos e
Adventismo do Sétimo Dia surgiu como uma entidade única como sua audiência de leitura original teria entendido a partir
dentro da comunidade cristã em 23 de outubro de 1844 como de sua perspectiva cultural, histórica e da história da salvação;
resultado de uma compreensão particular de Daniel 8:14 e do (3) considera palavras, formas literárias e declarações de acordo
Grande Desapontamento que seguiu à sua desilusão no dia com seu significado na língua original como normativas; (4) se
anterior.67 Esse entendimento, que foi subseqüentemente esforça para avaliar dados objetivamente; e (5) baseia suas
modificado em alguns detalhes e tornou-se a interpretação conclusões no peso da evidência. Este método requer ou
tradicional adventista, tem, desde então, sido considerado a treinamento especializado nas línguas bíblicas e na história e
pedra angular da auto-identidade do adventismo, da ambiente da antiguidade, ou dependência em ferramentas de
compreensão da Bíblia, da teologia e do sentido da missão.68 estudo preparados por pessoas com tal treinamento. Desde
Em Jeremias 18:7–10 o profeta resume a natureza e o cerca de 1940, a maioria dos eruditos bíblicos adventistas tem
propósito da profecia preditiva da seguinte forma: seguido este método.
Desde cerca de 1970 um híbrido destes dois métodos
7
No momento em que eu falar acerca de uma nação ou de um conhecido como o método histórico-gramático tem alcançado
reino para o arrancar, derribar e destruir, 8se a tal nação se popularidade limitada entre estudiosos adventistas e leigos
converter da maldade contra a qual eu falei, também eu me
bem como maior apoio por parte de administradores.71 Por
arrependerei do mal que pensava fazer-lhe. 9E, no momento em
que eu falar acerca de uma nação ou de um reino, para o edificar quê? Porque tal método consiste em procedimentos utilizados
e plantar, 10se ele fizer o que é mau perante mim e não der ouvidos pelo método histórico mas que estão sob o controle de
à minha voz, então, me arrependerei do bem que houvera dito lhe pressupostos e princípios do texto-prova. Isso lhe permite
faria. fornecer um aparente apoio acadêmico para as conclusões
tradicionais. É um método altamente subjetivo, aspira
Conseqüentemente, a profecia preditiva é sempre dominar e eventualmente controlar todo o estudo teológico
condicional à resposta do povo a quem ela é dirigida. Sua adventista oficial, e tem mais ou menos controlado a política
função não é demonstrar o conhecimento divino, nem doutrinária da Conferência Geral nos últimos trinta anos.
necessariamente predeterminar o curso dos acontecimentos, Imitemos a sinceridade e diligência dos nossos
pois se o fizesse, privaria as pessoas do poder de escolha. Seu antepassados espirituais no seu estudo da Palavra de Deus. Não
propósito é capacitá-los a fazer escolhas sábias no presente, temos nenhuma razão válida para criticá-los por causa das

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falhas que encontramos na sua compreensão da Bíblia.72 A explicação de Gabriel dessa “palavra” nos versículos 25–
Recordemos que eles fizeram o melhor que sabiam ao estudar 27 esboçou muito brevemente o futuro do povo da aliança de
a Bíblia pelo método do texto-prova que era geralmente aceito Deus durante as setenta semanas de anos, e seu clímax na
naquela época.73 Eles não tinham acesso aos manuscritos opressão implacável do “príncipe que há de vir” durante a
bíblicos antigos mais precisos que temos hoje, nem ao nosso septuagésima das setenta “semanas”, que ele já havia predito
conhecimento de hebraico e grego ou à história dos tempos no capítulo 8:9–13 e explicado nos versículos 19–25.78
antigos. Ao tomarmos nota das falhas na interpretação Como já observado, Daniel 9:23–25 começa as setenta
tradicional de Daniel 8:14, podemos ser gratos por sua semanas de anos no momento em que a “palavra” foi emitida
dedicação, construir sobre a fundação que deixaram e ser fiéis no céu, em 537 a.C. Da mesma forma, a identificação
em nosso tempo como eles foram no seu.74 contextual do “ele” do versículo 27 identifica eventos da
história que marcam seu encerramento na septuagésima das
8. Explicando Daniel 8:14 Corretamente setenta “semanas”. É universalmente aceito que o antecedente
O primeiro imperativo para se compreender as profecias de imediato de um pronome pessoal identifica a pessoa a quem se
Daniel no sentido que a Inspiração as pretendeu é uma refere, a menos que o contexto não especifique claramente o
mentalidade objetiva, despojada de todo pressuposto pessoal contrário. Conseqüentemente, o versículo 26 identifica o
subjetivo moderno quanto ao seu significado. antecedente imediato do pronome “ele” (v. 27) que faz “uma
O segundo imperativo é identificar as circunstâncias firme aliança com muitos” na septuagésima das setenta
“semanas” e que “faz cessar o sacrifício e a oferta de manjares”
apresentadas em Daniel 1 a 6 e 9:1–23, que fornecem o pano
durante metade da última “semana”, como o mau “príncipe
de fundo histórico dentro do qual a Inspiração estabeleceu suas
que há de vir”, não o “príncipe ungido” dos versículos 25–26!
cinco passagens proféticas, e como pretendeu que Daniel e seus
Daniel 11:23 confirma o fato de que o seu pseudônimo, o
leitores as compreendessem. Assim, a fim de entender essas
último rei do norte, realmente faz tal aliança com o povo que
passagens como a Inspiração pretendia que fossem
estava em “aliança” com ele. Seu destino (v. 27), “até que a
compreendidas, devemos fazê-lo com essa perspectiva histórica
destruição determinada, se derrame sobre ele”, é equivalente
em nossas mentes: a mesma perspectiva da história da salvação
ao fim do “chifre pequeno” que “será quebrado sem esforço de
que Daniel e seus leitores tinham. Qualquer interpretação que
mãos humanas” (8:25), e ao fim do rei do norte que “chegará
ignore ou mesmo desafie essa perspectiva histórica bem como
ao seu fim, e não haverá quem o socorra” (11:45).79
a perspectiva da história da salvação deles é automaticamente
O capítulo 9:24–27 fornece assim uma explicação exata e
suspeita e impõe uma interpretação estranha, não-inspirada
muito mais completa da pergunta e resposta de Dan 8:13–14
sobre essas profecias.
sobre os eventos entre o tempo de Daniel e “o tempo
Os primeiros seis capítulos do livro de Daniel narram o
determinado do fim” em “dias mui distantes”, quando “a visão
exílio de Daniel e seus compatriotas na Babilônia “no terceiro
da tarde e da manhã” deveria ser cumprida.80 Não é isso
ano do reinado de Jeoiaquim, rei de Judá”, datado entre 606–
exatamente o que Gabriel explicou em 9:24–27?81
605 a.C., e suas experiências durante os setenta anos de exílio
Essa é a perspectiva de Daniel sobre a história da salvação.
preditos por Jeremias (29:1–14). De acordo com Daniel 9:1,
A fim de entender os capítulos 8 e 9 como a Inspiração
no “primeiro ano de Dario” (que é datado de 537–536 a.C.
pretendeu que fossem entendidos, devemos nos imaginar nas
pela contagem inclusiva judaica), Daniel esteve no exílio por
circunstâncias históricas de Daniel e lê-los a partir de sua
exatamente setenta anos. Mas ainda não havia nenhuma
perspectiva da história da salvação, a fim de formar uma
evidência visível de que a libertação do exílio estava iminente.
compreensão exata do que foi revelado a ele.
Consequentemente, Daniel orou fervorosamente pelo fim do
exílio e para a restauração (Dan 9:4–19).
Enquanto Daniel ainda orava, o anjo Gabriel reapareceu75 8.1. A Perspectiva de Daniel Sobre a História da Salvação
e disse: “agora, saí para fazer-te entender o sentido. No A perspectiva de Daniel sobre a história da salvação é uma
princípio das tuas súplicas, saiu [obviamente no céu], a ordem combinação das visões dos capítulos 2 e 7, cada um com sua
[lit. “palavra”], e eu vim, para to declarar, porque és mui explicação, e o capítulo 8 com sua explicação tripla nos
amado; considera, pois, a coisa e entende a visão” (Dan 9:22– capítulos 8, 9 e 11–12. Ela consiste de uma série de reinos
23). Gabriel então repete essa “palavra” literalmente (versículo universais82 seguidos por um período de desintegração e
24), como ele havia prometido, e passa a explicá-la nos fragmentação83 que Gabriel disse a Daniel seria um “tempos
versículos 25 a 27. angustiosos” (9:25).84
É de crucial importância notar que Gabriel identifica No “tempo determinado do fim” = “dias mui distantes”—
explicitamente a “palavra” que “saiu para restaurar e edificar após sessenta e nove das “setenta semanas de anos”85—haveria
Jerusalém” no início das setenta semanas de anos como “a um “tempo de angústia” sem precedentes para o povo de Deus
palavra” que “saiu”—no céu—enquanto Daniel estava no qual eles seriam “pisoteados”, seu poder seria quebrado,86
orando.76 Essa “palavra” era obviamente aquela que só o sua terra e cidade devastadas,87 sua lealdade e fidelidade a Deus
próprio Deus (e não um monarca terrestre) poderia ter testadas,88 o concerto com Ele e seu sistema de adoração
emitido!77 Com a autoridade de não menos do que o anjo abolido,89 e um sistema idólatra de adoração imposto sobre
Gabriel, as “setenta semanas” de anos começaram em 537 a.C., eles.90 Como resultado desta tentativa de obliterar o
e não oitenta anos depois em 457 a.C.!

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10
conhecimento e a adoração do Deus verdadeiro, muitos judeus Erro #1. A palavra hebraica para “dias”, yamim, não está
apostatariam e fariam um “pacto” com o seu opressor.91 no texto hebraico de 8:14, que lê simplesmente erev boqer,
A duração deste tempo de angústia para o povo de Deus é “tarde manhã”. “Dias” é interpretação, não tradução. Quando
dada variadamente como: (1) “um tempo, dois tempos e Daniel quis dizer “dias” ele escreveu “dias”, yamim.100 Onde
metade de um tempo” = três anos e meio;92 (2) a última metade quer que as palavras erev e boqer ocorrem num contexto de
da septuagésima semana das setenta “semanas” = também três santuário (como em 8:14), sem exceção, elas se referem à
anos e meio;93 e (3) o tempo durante o qual 2.300 sacrifícios adoração sacrificial da tarde e da manhã ou a algum outro
vespertinos e matutinos seriam normalmente oferecidos. Ou aspecto do santuário e seus rituais. Estes sacrifícios diários eram
seja, 1.150 dias literais = três anos, dois meses e 10 dias94 oferecidos tamid, “continuamente”, no final de cada tarde,
dentro dos três anos e meia de “angústia”.95 No final deste antes do pôr-do-sol e no início de cada manhã, depois do
tempo de angústia, o Ancião de Dias se sentaria em juízo e “o nascer do sol. Veja, por exemplo, Êxodo 29:38–42 e Números
fim determinado” seria “derramado sobre o desolador”, que 28:3–6. Erev às vezes precede boqer em vista do fato de que
“chegará ao seu fim, e não haverá quem o socorra” e seria pelo costume hebraico, o dia começava ao pôr-do-sol, com erev
quebrado “sem esforço de mãos humanas”.”96 se referindo especificamente à luz minguante do dia associada
Simultaneamente, o santuário seria “restaurado ao seu estado ao pôr-do-sol e boqer à luz crescente do dia associada ao nascer
legítimo”, o Ancião de Dias vindicaria Seu povo fiel e do sol––não às porções escuras e claras de um dia de 24 horas.
concederia a ele um “reino eterno”, Miguel se levantaria para A interpretação tradicional considera erev boqer, “tarde e
libertá-los, os justos mortos seriam ressuscitados para a vida manhã” como um termo composto que significa um dia de 24
eterna, os “sábios”, incluindo Daniel, entrariam na sua horas. Mas em Daniel 8:26, haerev we’haboqer, “a tarde e a
recompensa eterna e brilhariam “como as estrelas, sempre e manhã”, são entidades distintas, como o artigo definido
eternamente”.97 hebraico “ha” exige. A pergunta do versículo 13, e assim a
As profecias de Daniel localizam este tempo de angústia: resposta do versículo 14, ambos focam no santuário e no
(1) durante o “tempo, dois tempos e metade de um tempo” tempo durante o qual o “sacrifício diário” (tamid) foi suspenso.
(7:25); (2) no “fim” ou perto do “fim” do “reinado” da era Assim, erev boqer no versículo 14 deve ser entendido em um
grega dos quatro chifres do capítulo 8:8, 21–23; (3) durante a contexto cúltico do santuário, especificamente com ao
última metade do septuagésima semana (9:24–27); e (4) sacrifício contínuo (tamid).
durante o reinado do último rei do norte (11:20–45). Note também que a pergunta de Daniel 8:13, para o qual
Obviamente, a perspectiva de Daniel sobre a história da o versículo 14 é a resposta inspirada, pergunta por quanto
salvação era muito diferente da nossa––a começar com a tempo o tamid, o “sacrifício diário” já mencionado no
separação de dois mil anos! Mas pela palavra certa do seu anjo versículo 11, seria “pisoteado”. No lugar de tamid no versículo
intérprete, aquela foi a perspectiva a partir da qual ele e o anjo 13, entretanto, o versículo 14 utilizada a expressão erev boqer,
Gabriel viram o futuro. Esse é o formato idêntico estabelecido chamando assim a atenção para o fato de que os dois são
no Antigo Testamento.35 Ignorá-lo ou negá-lo é uma grande termos sinônimos para a mesma coisa: o sacrifício diário da
violação do princípio Sola Scriptura, e termina por dizer que tarde e da manhã. De fato, ambos os termos ocorrem juntos
nem Daniel nem Gabriel sabiam do que estavam falando! É nas passagens acima com respeito aos dois cultos diários de
uma parte importante do estudo sério da Bíblia lê-la a partir adoração. (Em 8:11 e 14 a versão NRSV corretamente
de suas próprias perspectivas históricas bem como da história adiciona “oferta queimada” ao termo “contínuo” tamid pelo
da salvação a fim de entender e apreciar sua mensagem para fato de se referir às ofertas queimadas diárias, ou regulares.)
nós em nosso tempo! A palavra tamid, “continuamente”, “regularmente” ocorre
A perspectiva de Daniel sobre a história da salvação–– 104 vezes no Antigo Testamento, 51 vezes em conexão com o
idêntica à do Antigo Testamento como um todo––invalida ritual do santuário e 53 em outros contextos. Mais da metade
explicitamente o conceito historicista da profecia preditiva.98 das 51 ocorrências relacionadas ao santuário têm a ver com o
“sacrifício diário” (32 das 51 vezes); e 19 vezes com o pão da
8.2. Quatro Erros de Tradução da KJV que Confundiram os proposição, o candelabro, a oferta de cereais e outros aspectos
Pioneiros Adventistas do santuário e seu ritual.
Quatro erros substanciais de tradução na KJV de Daniel
8:14 e 9:25–26––os quais William Miller e os pioneiros Erro #2. A palavra hebraica nitsdaq nunca significa
adventistas obviamente desconheciam––confundiram-nos “purificar”, como a KJV a traduz. Nitsdaq é a forma passiva do
sem querer.99 Daniel 8:14 diz na KJV diz: “Até dois mil e verbo tsadaq, “estar justficado,” e significa ser “restaurado” ou
trezentos dias; então o santuário será purificado”. Aqui e no como o NRSV lê: “ser restaurado ao seu estado legítimo” [Cf.
capítulo 9, a KJV reflete incorretamente o texto hebraico de NVI, “reconsagrado”]. Se Daniel tivesse significado
Daniel em quatro pontos específicos. No texto hebraico “purificado” ele teria usado a palavra taher, que significa
original e na versão NRSV lê-se: “Por duas mil e trezentas “limpo” e sempre se refere à limpeza ritual em contraste com
tardes e manhãs; então o santuário será restaurado ao seu tsadaq, que sempre conota o direito moral.101
estado legítimo.” [Cf. NVI: “Ele me disse: “Isso tudo levará Daniel 8:14 está preocupado com o significado da
duas mil e trezentas tardes e manhãs; então o santuário será adoração através de sacrifícios, e não se estes eram oferecidos
reconsagrado”]. corretamente. Os sacrifícios reafirmavam a lealdade contínua

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de Israel a Deus e o seu compromisso para com a sua relação mais tarde também protestantes, basearam sua identificação do
de aliança com Ele, no início e novamente no fim de cada dia. papado como o anticristo da profecia bíblica nele. Em seguida,
A KJV baseou sua interpretação de nitsdaq como “purificado” os católicos romanos abandonaram o princípio do dia por um
na Vulgata Latina, que lê “mundabitur”, e na Septuaginta, que ano, enquanto os protestantes o mantiveram como prova de
lê katharisthesetai, ambas denotando limpeza ritual, que Roma era “Babilônia”. Basta notar, aqui, que não há
provavelmente refletindo a limpeza ritual do templo após sua nenhuma base bíblica para tal “princípio”.103
profanação por Antíoco IV Epifanes em 167 a.C., conforme
registrado em 1 Macabeus 4:36–54.102 8.3. O Contexto Imediato de Daniel 8:14
A visão do capítulo 8:1–12, a pergunta do versículo 13, e
Erro #3. O “Messias, o Príncipe” (9:25) e “Messias” (v. 26) a explicação dos versículos 15 a 27 constituem o contexto
da KJV constituem uma interpretação do texto hebraico, não imediato do versículo 14. De fato, o próprio capítulo 8
tradução. O texto hebraico lê “um ungido, um príncipe” ou identifica todos os quatro elementos essenciais do versículo 14:
“um príncipe ungido” (9:25) e “um ungido” (v. 26). Ao fazer (1) seu santuário; (2) a razão pela qual precisava ser “restaurado
isso, a KJV comete um duplo erro: (1) torna o hebraico ao seu estado legítimo”; (3) quanto tempo até que ele fosse
indefinido (“um”) como definitivo (“o”), e (2) arbitrariamente purificado ou restaurado; e (4) quando essa purificação ou
identifica o príncipe ungido como Jesus Cristo. Este duplo restauração ocorreria.
erro levou os pioneiros adventistas automaticamente a outro De acordo com os versículos 9–12, o enigmático “chifre
erro ainda mais grosseiro no versículo 27 como vemos abaixo. pequeno” invade a “terra formosa” e subverte o santuário ali
Certamente, a palavra inglesa “messiah” translitera com localizado––obviamente o santuário, ou templo, em
precisão a palabra “messias” do grego, que por sua vez Jerusalém. O próprio versículo 14 especifica que o período de
translitera “mashiach” em hebraico; a palavra inglesa “Christ” tempo durante o qual o santuário permaneceria “pisoteado” e
traduz com precisão a palavra “messias”. Mas os tradutores da seu “sacrifício diário” suspenso como o período equivalente a
KJV não tinham nenhuma razão legítima para tornar o 2.300 “sacrifícios diários”. Com duas dessas ofertas por dia,
hebraico indefinido como definitivo e identificar o príncipe temos 1.150 dias literais de vinte e quatro horas, ou três anos,
ungido de Daniel 9:25 e 26 com Jesus Cristo. dois meses e dez dias. Quando isso ocorreria? Os versículos 21–
25 especificam que tudo isso, incluindo a purificação ou
Erro #4. Quando a KJV apresenta “sete semanas e sessenta restauração do santuário “ao seu estado legítimo”, ocorreria
e duas semanas” (9:25), implicando um total de sessenta e logo após o término da era grega dos quatro chifres
nove “semanas” entre “o decreto real para restaurar e para (helenística) da profecia.
reedificar Jerusalém” e a vinda do seu “Messias, o Ungido”, O versículo 13––que contém a pergunta respondida no
representa erroneamente a sintaxe hebraica de Daniel 9:25. A versículo 14––identifica as “tardes e manhãs” como um termo
sintaxe hebraica requer que o período inicial de sete semanas equivalente ao “sacrifício diário”.104 A natureza da purificação
seja o tempo entre a “saída do mandamento para restaurar e ou restauração do santuário é explicada no contexto imediato
construir Jerusalém” e o surgimento do “príncipe ungido”, e do resto do livro de Daniel, que também identifica outros
que as “sessenta e duas semanas” representem a duração dos eventos que acompanham ou seguem sua purificação ou
“tempos angustiosos” durante os quais a “rua” e o “muro” são restauração.
construídos antes do maligno “príncipe que virá” (Dan 9:26). Os versículos 11 e 12 do capítulo 8 atribuem o
A NRSV traduz a sintaxe hebraica do versículo 25 pisoteamento do santuário mencionado nos versículos 11–13
corretamente: “[...] haverá sete semanas; e por sessenta e duas ao enigmático “chifre pequeno” (v. 8), que os versículos 21–
semanas [Jerusalém] será reconstruída...” O versículo 26 23 identificam como o “rei de feroz catadura” que surge no
confirma o fato de que as sete semanas e as sessenta e duas “fim” da era dos quatro chifres (gregos) da visão. Assim, o
semanas são dois períodos de tempo distintos, não um período contexto identifica explicitamente a restauração do santuário
de tempo contínuo. A sintaxe hebraica de todo o Antigo no versículo 14 como a remoção do dano causado pelo “chifre
Testamento confirma essa conclusão. pequeno”. O pisoteamento do santuário incluiu,
especificamente, a remoção do “sacrifício diário” que foi
Aqueles que formularam a interpretação adventista substituído pela “abominação assoladora”.105
tradicional de Daniel 8:14 foram confundidos por esses quatro A resposta do versículo 14 substitui a expressão “tardes e
erros da KJV. Se eles estivessem usando diretamente o texto manhãs” pela pergunta do versículo 13 sobre a remoção do
hebraico de Daniel, ou uma tradução exata em inglês, eles “sacrifício diário”, identificando-os assim como termos
jamais teriam cogitado a interpretação adventista tradicional. equivalentes. Com dois desses sacrifícios a cada dia, o tempo
Seu outro erro foi a adoção da interpretação de um suposto durante o qual 2.300 sacrifícios noturnos e matinais seriam
princípio dia-a-ano da profecia bíblica. Esse pseudo-princípio, normalmente oferecidos seria um período de 1.150 dias
inerente à interpretação historicista da profecia bíblica, foi literais, ou quase três anos e meio literais. O versículo 26
inventado no século IX pelo erudito judeu Nahawendi como identifica o tempo na história em que isso aconteceria como o
um dispositivo para tornar as profecias de Daniel relevantes “tempo determinado do fim ... dias mui distantes”, “no fim”
para o seu tempo. Estudiosos católicos posteriormente o do “reinado” dos quatro chifres gregos (helenísticos) do
adotaram e usaram-no até que outros estudiosos católicos, e bode.106

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O contexto imediato do versículo 14—e o capítulo 8 em Com considerável apoio mesmo entre supostos estudiosos,
si—identifica todos os elementos essenciais do versículo, mas a interpretação tradicional adventista identifica o pronome
deixa inexplicada a restauração do santuário “ao seu estado “ele” que forma “uma firme aliança com muitos” judeus
legítimo” porque Daniel ficou doente.107 Como veremos, renegados durante a septuagésima das setenta semanas e quem
eventos associados a essa restauração são revelados em outro faz “cessar o sacrifício e a oferta de manjares” na “metade da
lugar em Daniel. No entanto, a interpretação adventista semana” como o “Messias o Príncipe” (KJV, vv. 25–26)
tradicional remove Daniel 8:14 completamente do seu significando Cristo.120 Mas o antecedente imediato do
contexto imediato (onde Gabriel e Daniel o colocaram) em pronome “ele” (v. 27) é o maligno “príncipe que há de vir” (v.
óbvia violação do princípio Sola Scriptura. O contexto 26) não o “Ungido, o Príncipe” de 9:25! Somente com base na
imediato (Dan 7, 9; 10–12) esclarece ainda mais essas errônea identificação desse “Messias o Príncipe” pela KJV (v.
questões. 25) como sendo Cristo e o mesmo “ele” do verso 27, é que a
interpretação adventista tradicional pode contar
8.4. Daniel 9 Como Contexto Imediato de Dan 8:14 regressivamente desde Cristo até chegar ao decreto de
A interpretação adventista tradicional de Daniel 8:14 vê Artaxerxes Longimano em 457 a.C. como sendo o início das
um relacionamento entre os capítulos 8 e 9, mas em três setenta “semanas” de anos (e assim também dos 2.300 “anos”).
pontos vitais interpreta erroneamente a contribuição Além disso, o hebraico ein lo do versículo 26 (KJV “mas não
contextual que o capítulo 9 faz para uma compreensão precisa para si mesmo”; NRSV “não terá nada”) na verdade significa
de 8:14. Este relacionamento válido é evidente com base nos que o príncipe cortado não teria um “sucessor”. Sendo assim,
seguintes pontos: (1) o fato de Gabriel não ter sido capaz de fazer com que “ele” ou seu sucessor reapareça novamente no
completar sua missão de explicar a visão do capítulo 8;108 (2) versículo 27 contradiz o versículo 26!
quando ele reaparece em 9:21–25 ele convoca Daniel para Identificar “ele” de Daniel 9:27 como o maligno “príncipe
“entender” aquela visão [do capítulo 8]; e (3) sua fala em 9:24– que há de vir” do verso 26, contudo, faz do versículo 27 um
27 fornece a informação necessária para complementar sua paralelo exato à carreira do “chifre pequeno” no capítulo 8,
explicação abortada em 8:19–27. que também remove o “sacrifício diário” e em seu lugar
A interpretação tradicional assume que as 70 “semanas” de estabelece a “transgressão assoladora”.121 Lembre–se que o anjo
anos de 9:24 constituem as primeiras 490 das 2.300 erev boqer Gabriel especificamente apresenta a seção de Dan 9:25–27
(“tardes manhãs”) formados por anos literais durante os quais como uma explicação contínua da profecia do capítulo 8. Para
o santuário está desolado. Mas de acordo com 9:24–26 o completar o paralelo, ele agora122 diz a Daniel que “a destruição
santuário é restaurado e em pleno funcionamento durante as que está determinada se derrame sobre o desolador”, como ele
primeiras 69 das 70 “semanas”! Como o mesmo santuário tinha dito anteriormente (no capítulo 8) e que “o rei de feroz
pode ser restaurado e em pleno funcionamentodurante o catadura” seria “quebrado, mas sem esforço de mãos
mesmo tempo em que está “pisoteado” (8:13–14)?109 Esse humanas.”123
paradoxo insolúvel, inerente e indispensável à interpretação Este entendimento contextual de Dan 9:27 localiza de
tradicional, constitui uma contradição! forma conclusiva as 2.300 “tardes e manhãs” de 8:14––
A segunda anomalia contextual mas essencial à entendidas como o número de sacrifícios diários que
interpretação adventista tradicional é sua identificação do normalmente seriam oferecidos, dois por dia, ao longo de
termo hebraico davar, “palavra” (KJV “ordem”), que saiu para 1.150 dias e que ocorrem dentro dos 1.260 dias (ou três anos
restaurar e construir Jerusalém, como o decreto de Artaxerxes e meio) da última metade da sétima “semana” do capítulo 9—
Longimano em 457 a.C.110 Mas seu decreto não diz nada sobre como o “tempo determinado do fim”. Este “fim” coincide com
a reconstrução de Jerusalém ou do templo,111 que já havia sido a “última parte” da era dos quatro chifres gregos124 quando o
reconstruídos e estavam em funcionamento por 59 anos!112 “chifre pequeno” (8:9–13, 23–27) aparece no momento
Imediatamente antes do reaparecimento de Gabriel em 9:20– profético o qual, na perspectiva de Daniel, estava em “dias mui
27, Daniel estava pedindo em oração para Deus restaurar Seu distantes”.”125
santuário agora desolado em Jerusalém.113 Neste ponto na
oração de Daniel, Gabriel interrompe para anunciar que um 9. Falhas na Doutrina do Santuário
davar, “palavra”114 (ou “ordem”, KJV) já havia saído–– Não pode haver dúvidas quanto à sinceridade, diligência e
obviamente no céu––em resposta à sua oração, e que ele integridade daqueles que formularam a interpretação
(Gabriel) tinha vindo agora para “declará-la” a Daniel. Ele adventista tradicional de Daniel 8:14. É também óbvio que
imediatamente repete aquela “palavra”115 e a explica.116 eles estavam seguindo os princípios errôneos do método
Contextualmente, a “palavra” que “saiu [motsa] para restaurar hermenêutico “texto-prova”: (1) em quatro casos importantes,
e reconstruir Jerusalém”117 é a própria “palavra” que “saiu” adotaram erros de tradução em que a KJV deturpa o original
(yatsa) em resposta à oração de Daniel,118 e é citada hebraico; (2) ignoraram completamente o contexto literário de
textualmente no versículo 24! Gabriel assegura a Daniel que o Daniel 8:14; (3) também ignoraram o contexto histórico
próprio Deus já tinha respondido à sua fervorosa oração! especificado pelos primeiros seis capítulos bem como Dan 9:1–
Obviamente então essa “palavra”119 ou “ordem” só poderia ter 19––dentro do qual suas várias seções proféticas foram dados
sido emitida peo próprio Deus, não um monarca terrestre! e aos quais eles aplicaram especificamente; (4) não levaram em
conta a perspectiva da história da salvação especificada pelo

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livro (e todo o Antigo Testamento) na qual Daniel 8:14 ocorre não foram proféticos dos anos em que Deus condenou os
e a cuja perspectiva Daniel o aplica.126 Como exposto na seção israelitas a vaguear no deserto. Aqueles anos foram, ao
anterior deste artigo, o princípio Sola Scriptura e o método contrário, judiciais, sentenciando os viajantes incrédulos por
histórico requerem que estes fatores sejam levados em conta. sua falta de fé na promessa de Deus de lhes dar a terra de
Hoje em dia, qualquer um que cometa erros exegéticos Canaã. Os 390 “dias” de Ezequiel 4:6 durante os quais Deus
como esses não é levado a sério como estudante da Bíblia. Se ordenou ao profeta que se deitasse de um lado e depois do
os pioneiros de nossa mensagem estivessem seguindo os outro, representavam o mesmo tanto de anos da apostasia
princípios do método histórico, eles nunca teriam chegado às passada. Esses “dias” não foram em nenhum sentido proféticos
conclusões que chegaram––e nunca experimentariam o dos anos de apostasia que estavam já no passado.
amargo desapontamento em 22 de outubro de 1844. Imitemos Sob o título “O Ministério de Cristo no Santuário
sua sinceridade, seriedade e devoção à Palavra de Deus, e Celestial”, o artigo 24 das Crenças Fundamentais diz o
sejamos fiéis ao melhor que sabemos hoje, como eles eram em seguinte (a parte em negrito reflete exatamente a Bíblia e é
seu tempo! relevante, a interpretação problemática está sem negrito):
Em comparação com os requisitos exegéticos estabelecidos
nas duas seções precedentes (7 e 8), a interpretação adventista Há um santuário no Céu, o verdadeiro tabernáculo que o Senhor
tradicional de Daniel 8:14 ignora: erigiu, não seres humanos. Nele Cristo ministra em nosso favor,
tornando acessíveis aos crentes os benefícios de seu sacrifício
(1) o contexto histórico fornecido em Dan 1–6 e 9:4–19,
expiatório oferecido uma vez por todas na cruz. Em sua
dentro do qual a Inspiração os colocou— o momento histórico ascensão, Ele foi empossado como nosso grande sumo
em que os setenta anos de exílio preditos por Jeremias sacerdote e começou seu ministério intercessório, que foi
chegariam ao fim, iniciando a era da restauração; tipificado pela obra do sumo sacerdote no lugar santo do
(2) a perspectiva da história da salvação do tempo de santuário terrestre. Em 1844, no fim do período profético dos
2.300 dias, Ele iniciou a segunda e última etapa de seu ministério
Daniel, e da Bíblia inteira;131
expiatório, que foi tipificado pela obra do sumo sacerdote no lugar
(3) o texto hebraico de Dan 8:14 e 9:25–26 em quatro santíssimo do santuário terrestre. É uma obra de juízo investigativo,
pontos principais, identificados na seção 8 acima;103 a qual faz parte da eliminação final de todo pecado, prefigurada pela
(4) o contexto imediato de Dan 8:14 no próprio capítulo purificação do antigo santuário hebraico, no Dia da Expiação. Nesse
8, que identifica explicitamente que: (a) o santuário serviço típico, o santuário era purificado com o sangue de sacrifícios
de animais, mas as coisas celestiais são purificadas com o perfeito
mencionado no versículo 14 é o localizado na “terra formosa”,
sacrifício do sangue de Jesus. O juízo investigativo revela aos seres
i.e., a Judéia (9–11); (b) a desolação do santuário é causada celestiais quem dentre os mortos dorme em Cristo, sendo, portanto,
pelo “chifre pequeno” (v. 11–13); e (c) quando essa desolação nele, considerado digno de ter parte na primeira ressurreição.
ocorreria, isto é, no final da era grega (vv. 21–23). Assim, a Também torna manifesto quem, dentre os vivos, permanece em
referência ao santuário celestial do livro de Hebreus é Cristo, guardando os mandamentos de Deus e a fé de Jesus,
estando, portanto, nele, preparado para a trasladação a seu reino
irrelevante;
eterno. Este julgamento vindica a justiça de Deus em salvar os que
(5) o fato de que Daniel 9:24–26 mostra um santuário já creem em Jesus. Declara que os que permaneceram leais a Deus
restaurado e em plena operação durante o mesmo tempo em receberão o reino. A terminação do ministério de Cristo assinalará o
que Daniel 8:13–14 o tem desolado e fora de operação. Esta fim do tempo da graça para os seres humanos, antes do segundo
contradição, inerente e essencial à interpretação tradicional de advento.
Daniel 8:14 requer que as setenta “semanas de anos” sejam
consideradas o primeiro segmento dos 2.300 “dias”, o que A primeira parte da declaração acima reflete com precisão
torna a interpretação intrinsicamente contraditória. a descrição do ministério de Cristo em nosso favor desde Seu
A idéia de um dia por um ano aplicada à profecia bíblica retorno ao céu há quase dois mil anos. A última parte não tem
aparece primeiro no século IX, na tentativa do erudito judeu nenhuma base nas Escrituras. Para estar em harmonia com o
princípio Sola Scriptura, ela deve ser eliminada do resumo das
caraíta Nahawendi de relacionar o cumprimento das profecias
Crenças Fundamentais Adventistas e substituída por uma
de Daniel com eventos de sua época. A confiança moderna no
amplificação do ministério de Cristo, conforme estabelecido
“princípio” dia-a-ano de interpretação da profecia bíblica
no livro de Hebreus.
originou-se com: (1) a equivocada interpretação KJV da
O frágil cordão umbilical é essencial à vida antes do
expressão hebraica erev boqer (“tardes e manhãs”) em Dan 8:14
nascimento, mas totalmente irrelevante depois disso. Será que
como “dias”, quando na verdade erev boqer é o equivalente
a doutrina tradicional do santuário não seria uma espécie de
contextual ao “sacrifício diário” (v. 13), para o qual o versículo
cordão umbilical espiritual que Deus permitiu como meio de
14 é a resposta inspirada, e com (2) o esforço de correlacionar
reviver a expectativa do advento, mas que deveria ser cortado
esses supostos “dias” com as “setenta semanas” de Dan 9:24. A
uma vez que tivesse servido ao seu propósito? “Porque, à hora
expressão “setenta semanas” é simplesmente o uso do sistema
em que não cuidais, o Filho do Homem virá” (Mat 24:44);
de jubileus de expressar 490 anos como 10 jubileus, cada
“Vai alta a noite, e vem chegando o dia… revistamo-nos das
jubileu consistindo de 49 anos literais. Não há absolutamente
armas da luz” (Rom 13:12). “Havendo, pois, de perecer todas
nenhuma base bíblica para citar Daniel 9 como evidência para
estas coisas, que pessoas vos convém ser em santo trato, e
a idéia do dia-a-ano.
piedade (2 Ped 3:11). Não poderia ser que Deus tenha
Deve-se notar que os “dias” de Números 14:34 durante os
ignorado esse defeito no entendimento de Dan 8:14 e honrado
quais representantes das doze tribos espiaram a terra de Canaã
sua sinceridade, tendo em vista o fato de que a experiência
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traumática de 22 de outubro de 1844 teve o efeito de reviver a Por outro lado, o método histórico começa com uma
expectativa do advento que Jesus há muito instou aos Seus atenção objetiva às declarações proféticas da Bíblia em termos
seguidores: “Vigiai, porque não sabeis em que dia vem o vosso de sua importância conforme determinada pelas circunstâncias
Senhor” (Mat 24:42)?128 históricas e pela perspectiva da história da salvação no contexto
A causa básica do amargo desapontamento foi o em que foram dadas e ao qual se aplicam. Este princípio não é
desconhecimento do fato de que, quando fora anunciada, a adotado como um pressuposto subjetivo, mas na base objetiva
predição do futuro pelo profeta Daniel se aplicava da evidência Sola Scriptura, como ilustrado nas seções 7 e 8
especificamente aos cativos judeus na Babilônia, antecipando acima referente à perspectiva histórica e de história da salvação
o retorno à sua terra natal, e ao plano divino para eles, encontradas em Daniel. Ambas são inerentes ao livro de
culminando no estabelecimento do Seu reino naquele passado Daniel e bastante óbvios quando lidos objetivamente.
distante. Isto se torna óbvio quando as circunstâncias históricas A seção 8 acima examina as seções históricas do livro de
do tempo de Daniel e sua perspectiva da história da salvação— Daniel e sua perspectiva sobre a história da salvação para
explícitas no próprio livro—são levadas em consideração. O entender a importância de suas seções proféticas. A perspectiva
pressuposto de que Daniel 8:14 predisse eventos de nosso da história da salvação de Daniel é idêntica à do Antigo
tempo foi a causa básica do erro de 1844 e do desapontamento. Testamento como um todo, como demonstra meu artigo “The
E constantes desapontamentos serão inevitáveis até que este Role of Israel in Old Testament Prophecy (O Papel de Israel
erro seja reconhecido e corrigido, e o princípio historicista em na Profecia do Antigo Testamento)129 no volume 4 do
que se baseia seja abandonado. Comentário Bíblico Adventista. O capítulo 4 de meu
manuscrito inédito The Eschatology of Daniel intitulado “The
10. A Doutrina do Santuário e o Princípio Sola Scriptura Old Testament Perspective of Salvation History” (A
A doutrina adventista tradicional do santuário é baseada Perspectiva da História da Salvação no Antigo Testamento)
no princípio historicista de interpretação profética. Os que fornece ampla evidência bíblica para a conclusão de que ela
seguem esse método automaticamente acham a doutrina antecipava o clímax da história humana no final dos tempos
impecável. Por outro lado, aqueles que seguem o princípio do Antigo Testamento, ou logo depois. Jesus e os escritores do
Novo Testamento reiteram unanimemente esta perspectiva da
histórico, o vêem como repleto de falhas. Como resultado,
história da salvação presente no Antigo Testamento e
diferenças de opinião com relação à doutrina do santuário
antecipam Seu retorno prometido ainda nos tempos do Novo
podem ser resolvidas apenas testando objetivamente os
Testamento.
pressupostos e a metodologia em que ela se baseia valendo-se
Em resumo, no início de Seu ministério público Jesus
do princípio Sola Scriptura. Os dois métodos são tão
anunciou como o tema de Sua missão: “O tempo se cumpriu,
mutuamente exclusivos e irreconciliáveis como o dia e a noite,
e o reino de Deus chegou, arrependam-se a acreditem nas boas
e uma escolha entre eles é decisiva para o estudo das profecias.
novas.” O que se cumpriu? No Antigo Testamento, apenas as
[Nota do editor: O leitor não deve confundir o método historicista
com o método histórico. Em outras palabra, segundo Cottrell, o
profecias temporais de Daniel identificam o “tempo” ao qual
método historicista tende a superimpor uma planilha pré-concebida Jesus aqui se refere. Assim, pela autoridade do próprio Jesus, o
de cumprimentos escatológicos à profecia bíblica enquanto o método cumprimento do “tempo” especificado por Daniel estava
histórico busca entender o contexto histórico que deu origem ao texto próximo quando Jesus apareceu cumprindo as profecias do
bíblico]. Antigo Testamento sobre a Sua primeira vinda. Em Seu
O historicismo é baseado no pressuposto não comprovado sermão na sinagoga de Nazaré, Jesus declarou a respeito da
de que a perspectiva da história da salvação do leitor moderno profecia messiânica de Isaías 61:1–3: “Hoje e cumpriu a
é inerente à profecia bíblica e está em plena harmonia com o Escritura que acabais de ouvir” (Luc 4:21). Em sua resposta à
princípio Sola Scriptura. De acordo com o princípio pergunta dos discípulos sobre a destruição do templo, o “sinal”
historicista, o leitor moderno da Bíblia deve entender suas do Seu retorno prometido e “o fim dos tempos” foi: “Quando,
declarações a respeito do fim da história humana––e eventos pois, virdes o abominável da desolação de que falou o profeta
associados––em termos de nossa perspectiva moderna da Daniel… sabei que está próximo, às portas. Em verdade vos
história da salvação, com um cumprimento ininterrupto e digo que não passará esta geração sem que tudo isto aconteça
contínuo da profecia bíblica ao longo dos dois mil anos dos [inclusive especificamente a Sua vinda nas nuvens do céu para
tempos bíblicos. A doutrina do santuário e seus defensores ajuntar os Seus eleitos]” (Mat 24:15, 33–34).130
sempre tomaram esse princípio como correto e nunca testaram Que Jesus pretendia que Suas observações sobre a profecia
objetivamente sua suposta validade, ou seja, pela própria de Daniel se cumpririam na própria geração de Seus discípulos
Bíblia. é evidente a partir de: (1) seu uso dos pronomes “vós” (doze
Isso foi verdade nas reuniões de Glacier View em agosto de vezes) ao longo de Seu discurso evidencia que a geração aqui é
1980 bem como nas deliberações do Comitê de Daniel e a dos discípulos; e (2) seu uso repetido de expressões como “o
Apocalipse (Daniel and Revelation Committee – DARCOM) fim dos tempos”; a “vinda do Senhor se aproxima”, “ja é a
nomeados pela Conferência Geral e seu relatório oficial de sete última hora”, “é chegada a hora”, “coisas que em breve devem
volumes, que pressupõe a validade inerente do historicismo, acontecer”, “o tempo está próximo”, “pouco tempo lhe resta”,
mas nunca tenta testá-lo ou defendê-lo objetivamente pelo “o juiz está às portas”, “já é a hora”, “estes últimos dias” e tantas
princípio Sola Scriptura. outras (quase quarenta menções) ao referir-se à volta de

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Jesus.131 João, o Revelador, diz especificamente que tudo no interpretação tradicional de Dan 8:14, à doutrina do santuário
Apocalipse deve acontecer “em breve”, e Jesus garante-lhe e ao juízo investigativo. Pelo menos na maioria dos casos este
quatro vezes “Venho sem demora”, e a última das quais, obscurantismo tem sido inadvertido e não-intencional, mas
“Certamente, venho sem demora”.132 seu efeito tem sido o mesmo como se tivesse sido intencional.
Não há a menor sugestão em qualquer lugar no Antigo ou Está mais que na hora de a igreja abandonar os clichês
no Novo Testamento de que a volta de Jesus seria adiada tradicionais com os quais tem respondido a questionamentos
indefinidamente além dos tempos bíblicos. A evidência bíblica sobre a doutrina do santuário. É tempo de enfrentar e lidar de
é explicitamente no sentido contrário. A própria Bíblia forma justa e objetiva com todas as evidências.
desconhece a interpretação historicista de suas profecias; esse
conceito lhes é imposto gratuitamente. Se Gabriel e Daniel 11.1. Uma Janela de Esperança em Meados do Século XX
estivessem aqui hoje, inevitavelmente tornariam o veredito da Os doze anos de R. R. Figuhr como presidente da
Sola Scriptura contra o historicismo e em favor de uma Conferência Geral em meados do século XX (1954–1966)
compreensão histórica da profecia bíblica, incluindo o livro de proporcionaram à igreja uma era de abertura e sábia liderança
Daniel, e insistiriam nas perspectivas da história e da história na qual administradores e estudiosos trabalharam juntos
da salvação bíblicas! harmoniosa e eficazmente na resolução de questões bíblicas e
O princípio historicista pelo qual os adventistas têm doutrinárias. Ao longo dos quinze anos precedentes, a igreja
compreendido e interpretado a profecia bíblica tem, desde o tinha desenvolvido uma comunidade de especialistas
início, imposto sobre esta nossa perspectiva moderna não- responsáveis, cuja experiência profissional Figuhr respeitava e
inspirada da história da salvação, e assim tem sido uma na qual confiava, os quais, por sua vez, respeitavam e
violação involuntária do princípio Sola Scriptura. Em apreciavam sua sábia liderança. Um relacionamento de
contraste, o princípio histórico honra a própria perspectiva da trabalho aberto, feliz e gratificante se desenvolveu entre eles e
Bíblia sobre a história da salvação, dentro da qual suas foi bom para a igreja.
mensagens proféticas foram dadas e a cuja perspectiva deve ser Outro aspecto importante dessa era de boa vontade e
aplicada. Assim, o princípio histórico honra de forma cooperação em meados do século foi o espírito de consenso e
consistente o princípio Sola Scriptura. Não esqueçamos que a harmonia entre os estudiosos da igreja, no qual o amargo
interpretação historicista da profecia bíblica tem sido e faccionalismo doutrinário133 das primeiras décadas do século
continua a ser responsável pela perda de muitos líderes havia desaparecido. Dois fatores foram responsáveis por esse
dedicados e pela apostasia de incontáveis centenas de clima positivo; o primeiro fator foi a formação do Biblical
Adventistas do Sétimo Dia, que de outra forma poderiam
Research Fellowship (Associação de Pesquisa Bíblica), uma
ainda estar conosco. Além disso, tem desviado considerável
organização profissional pioneira de estudiosos da Bíblia, e o
tempo, atenção e recursos da igreja de sua missão.
Certamente é hora dos líderes responsáveis da igreja segundo, o Comentário Bíblico Adventista (SDABC).
despertarem para a situação e fazerem algo a respeito. O Em sua reunião em Takoma Park em 1940, professores de
relatório obscurantista de 5 volumes (1600 pp.) do Comitê de Bíblia universitários norte-americanos autorizaram a formação
Daniel e Apocalipse aceita e aplica consistentemente o de uma organização profissional na qual poderiam trabalhar
princípio historicista à profecia bíblica–– oficialmente para a juntos em questões de exegese e doutrina, compartilhar os
igreja. Queremos que o século XXI veja o cumprimento da resultados de seus estudos e se beneficiar da crítica construtiva
promessa do retorno de Cristo, ou preferimos repetir nosso mútua.134 Essa organização tornou-se uma realidade três anos
patético passado historicista indefinidamente para o futuro, e depois—1943—na formação da Biblical Research Fellowship
assim perder a confiança de adventistas e não-adventistas? (BRF)134 da qual o Dr. L. L. Caviness foi presidente e eu
secretário durante sua breve existência de aproximadamente
dez anos. Éramos professores juntos no departamento de
UM ANTÍDOTO AO OBSCURANTISMO DOUTRINÁRIO
religião do Pacific Union College.
Eventualmente, os membros da BRF subiram para 250 e,
11. O Obscurantismo e a Doutrina do Santuário com uma exceção, incluíram todos os professores bíblicos de
O dicionário Webster define “obscurantismo” como nível universitário ao redor do mundo. Muitos outros,
“depreciação ou oposição à iluminação ou à disseminação do incluindo dezessete pessoas da Conferência Geral, eram
conhecimento, especialmente em política ... de tornar algo membros contribuintes. Durante esses dez anos, mais de 90
deliberadamente obscuro ou reter o conhecimento do público trabalhos formais foram considerados e compartilhados com
em geral.” Aqui, a palavra “obscurantismo” é usada no sentido os membros.135 Na reunião de 1950 no Pacific Union College,
específico de tomar decisões e/ou declarações presumivelmente as respostas a um questionário encontraram completa
autoritárias em relação à doutrina do santuário com base em concordância em todas as maiores (e controversas) questões
opiniões preconcebidas e não testadas e/ou sem primeiro pesar exegéticas e doutrinárias dos últimos cinqüenta anos!136
todas as evidências disponíveis com base em princípios sólidos Naquela reunião de 1950, a BRF fez um relatório de suas
de exegese, baseando conclusões exclusivamente no peso da operações, um voto formal de apreço pela BRF foi tomado, e
evidência. todos se uniram para cantar a “Doxologia”.
O obscurantismo tem caracterizado a resposta oficial da Em 1951, em nome da BRF, eu propus à Conferência
igreja a cada questionamento levantado com respeito à Geral que se estabelecesse um comitê permanente para
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substituir a BRF.137 O Concílio de Outono de 1952 aceitou e métodos. Percebendo, eventualmente, que os dois últimos
minha proposta e estabeleceu o Biblical Research Committee dos três estavam simplesmente implementando a política e os
(Comitê de Pesquisa Bíblica, BRC) da Conferência Geral. Em objetivos do presidente Pierson, passei muitas horas em várias
seguida, o Dr. Caviness, presente como delegado, entregou ocasiões conversando com ele, sendo a última duas ou três
formalmente as operações do BRF à BRC. Simultaneamente, horas num vôo fretado que retornava da Sessão da Conferência
fui transferido do Pacific Union College para a Review and Geral de Viena em 1975.
Herald Publishing Association para editar o Comentário Estas conversas foram sempre positivas, em tom de “amigo
Bíblico Adventista, e fui nomeado membro fundador da BRC. da corte” nas quais eu sempre lidava com princípios e nunca
Depois de vários anos, a fim de manter um nível ainda mais mencionei nomes. Em uma dessas conversas, o Pastor Pierson
elevado de continuidade e serviço eficaz à igreja, propus que a me disse em segredo que um dos outros dois “arquitetos”
comissão se tornasse um instituto.138 Isto foi votado em 1975, estava divulgando (entre funcionários da Conferência Geral)
e a BRC se tornou o Instituto de Pesquisa Bíblica (BRI), que comentários acusatórios imprecisos a respeito de alguns
permanece até hoje. teólogos adventistas que ele considerava renegados teológicos.
O segundo fator unificador foi a produção do Comentário Em nossa correspondência após a aposentadoria de Pierson,
Bíblico Adventista (SDABC) de sete volumes (1952–1957) no em 1979, ambos expressamos apreço pela amizade um do
qual participou uma equipa de aproximadamente cinquenta outro. Em sua última carta, pouco tempo antes de sua morte,
escritores e editores.139 Antes da publicação, cada volume foi ele escreveu: “Ao longo dos anos em que servimos juntos em
lido e criticado por dez líderes da igreja em todo o mundo Washington, sempre o considerei um amigo. Embora possa ter
(com remuneração).140 Algumas seções críticas foram lidas e havido áreas de opiniões divergentes, tive um sentimento
criticadas por 125 desses leitores. Todas as críticas foram caloroso por você pessoalmente.” Em minha última carta a ele,
cuidadosamente avaliadas e, quando consideradas apropriadas, expressei o mesmo sentimento.
aceitas. Robert H. Pierson era uma pessoa agradável, um
Mas durante o final da década de 1960, essa breve era de adventista dedicado, um cavalheiro em todos os sentidos, mas
abertura, boa vontade, progresso e cooperação entre também uma pessoa com objetivos claros e determinação
administradores e eruditos bíblicos começou a erodir-se resoluta para alcançá-los. Um dos principais objetivos de sua
imperceptivelmente e deu origem à mente fechada, polarizada, administração como presidente da Conferência Geral foi
obscurantista em estilo de “caça-às-bruxas” teológica que substituir a parceria entre administradores e teólogos que se
continua até hoje. A fim de compreender esta mudança sutil desenvolveu durante a administração de Figuhr por um
no clima adventista ao longo dos últimos trinta anos, vamos rigoroso controle administrativo dos processos teológicos e
notar primeiro os três arquitetos primariamente responsáveis doutrinários da igreja.
pelo obscurantismo. Todos os três eram fundamentalistas do Durante seus treze anos como presidente da Conferência
“cinturão bíblico” do sul dos EUA. Vamos também notar Geral (1966–1979), Pierson reverteu completamente a
várias evidências específicas de obscurantismo. política de seu antecessor, R. R. Figuhr, com respeito aos
estudos bíblicos, doutrina e cooperação com sua comunidade
11.2. Os Arquitetos do Obscurantismo de estudiosos da Bíblia. Seu objetivo sincero e resoluto era
O papel desta seção sobre o obscurantismo na igreja nas restaurar a situação que tinha prevalecido quando tinha
últimas 3 décadas [2002] é explicar como o atual clima de formado no Southern Junior College em 1933 (e durante seu
obscurantismo invadiu e capturou subrepticiamente a igreja. tempo como missionário na Índia, Caribe e na África do Sul,
onde serviu até ser eleito presidente da Conferência Geral
Apenas uma pessoa que serviu a igreja durante a era precedente
de abertura e respeito mútuo entre administradores e trinta anos mais tarde). Para todos os efeitos, em 1936, os
estudiosos da Bíblia a nível de Conferência Geral está em administradores da igreja tinham estado no controle exclusivo
posição de apreciar a profunda mudança que revolucionou a da teologia e da doutrina da igreja. Naquela época não havia
teologia adventista, a hermenêutica bíblica e a abordagem especialistas bíblicos. Qualquer um que estudasse línguas
bíblicas, arqueologia, história antiga e cronologia em
doutrinária durante a década do obscurantismo (1969–1980).
Os três principais arquitetos do obscurantismo universidades “de fora” era automaticamente considerado
introduzidos brevemente abaixo eram todos indivíduos persona non grata por todos os colégios adventistas.141
obviamente sinceros e dedicados que conscienciosamente Assim, Pierson desconfiava dos teólogos adventistas e
decidiu excluí-los das deliberações bíblicas e doutrinárias da
acreditavam que o fim justificava os meios. Por exemplo,
igreja. Em conversas privadas e em comitês da Conferência
nunca estiveram dispostos a entrar em diálogo aberto e
responsável com aqueles que não compartilhavam sua Geral, ele repetidamente afirmou que era sua política que
perspectiva, mas dois dos três sempre, consistentemente, somente administradores––e sem consultar teólogos––
colocavam punhais nas costas daqueles que suspeitavam de não deveriam decidir questões exegéticas para a igreja. Seu
partilhar o seu ponto de vista. Em conversa pessoal, o primeiro passo para implementar esta política ocorreu no
presidente da Conferência Geral me admitiu isso. Concílio da Primavera da Conferência Geral em 1969, que
removeu especialistas bíblicos, em massa, do Comitê de
Pelo contrário, tive o privilégio de conversar pessoalmente
com cada um dos “arquitetos do obscurantismo” mencionados Pesquisa Bíblica––decisão essa que nunca chegou a ser
abaixo e pude, em primeira mão, compreender seus objetivos implementada devido a veementes protestos por parte dos

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professores do Seminário Teológico da Andrews University.142 onde ele estaria em posição de doutrinar a próxima geração de
Destemido, mais tarde naquele ano, Pierson alcançou seu pastores e teólogos com sua hermenêutica obscurantista.
objetivo ao adicionar numerosos administradores e outros não- A tentativa de Hyde de nomear a Hasel reitor do
colaboradores ao Comitê de Pesquisa Bíblica, e nomear um Seminário Teológico na primavera de 1974 foi abortada pelos
vice-presidente da Conferência Geral para supervisioná-lo o membros superiores da faculdade por causa da interferência de
Comitê de Pesquisa Bíblica (agora Instituto) e o escritório de Hasel nos procedimentos estabelecidos do Seminário, sua
estudos bíblicos da Conferência Geral (BRI).143 conivência com Hyde e a Conferência Geral para controlar a
Também na primavera de 1969, Pierson convidou um administração do Seminário, e devido ao que os membros
professor de sua alma mater, o Southern Adventist College superiores da faculdade chamaram de seu “dogmatismo
(agora Universidade), para presidir o Comitê de Pesquisa intolerável”.147 Hasel, no entanto, tornou-se reitor em 1980,
Bíblica —Gordon M. Hyde—cuja formação era na área de mas foi removido sete anos depois por plágio e por tentar
comunicação—o qual compartilhava a perspectiva teológica desmembrar o Seminário da Universidade Andrews.
fundamentalista de Pierson. Hyde protestou que não tinha Durante seu mandato como reitor do seminário, Hasel fez
treino em teologia, mas Pierson explicou que iria funcionar com que vários professores mais experientes se sentissem
como um administrador e não como um estudioso da Bíblia.144 indesejados e os pôs no “freezer”. Os doutores Sakae Kubo,
Com esse entendimento Hyde aceitou o convite, e quando, Ivan Blazen, Fritz Guy e Larry Geraty foram imediatamente
durante seus primeiros anos na Conferência Geral, quando se convidados a servir em outras instituições adventistas de
esperava que ele pudesse responder a uma questão teológica, ensino superior, três deles como diretores de universidades.
ele explicava que não era teólogo. Em seu lugar, Hasel logo nomeou estudantes do Seminário
Ocasionalmente, Hyde podia ser desonesto e fazia que ele havia formado, e que aceitavam seu método
manobras políticas para alcançar seus objetivos. Por exemplo, hermenêutico. Ele e Gordon Hyde, posteriormente, forçaram
durante a semana de reuniões do Comitê Sobre o Movimento dois outros membros do corpo docente de religião––Lorenzo
Carismático nomeado pela Conferência Geral (Camp Cumby- Grant e Edwin Zackrison––a deixar o Southern Adventist
Gay, Geórgia, Jan 1973), Hyde anunciou que cada orador College aproximadamente na mesma época de Jerry Gladson,
deveria limitar seus comentários a trinta minutos, mas o que levou o diretor do colégio a renunciar em protesto. Hasel
concedeu a G. Hasel duas horas. Em outra ocasião, Hyde nunca abordava seus alvos diretamente (em conformidade com
convidou Hasel para uma importante audiência de um certo Mat 18:15), mas enfiava punhais em suas costas,
subcomitê teológico (para a qual o Comitê de Pesquisa Bíblica denunciando-os aos administradores (que aceitavam sua
não o havia designado), e forneceu a cópias de materiais a palavra sem verificá-la).
serem apresentados somente ao subcomitê com Hasel. Os Durante a década de 1969 a 1979 este triunvirato—
membros participantes se opuseram a essa falsa aprovação da Pierson, Hyde, e Hasel—conspirou efetivamente para ganhar
parte de Hyde, e, como resultado, o subcomitê nunca se controle dos estudos bíblicos, teológicos e doutrinários
reuniu.145 adventistas, em harmonia com sua perspectiva
Quando, no final dos meus quarenta e sete anos de serviço fundamentalista e obscurantista.148 O papel de Hasel era
à igreja, Hyde recusou repetidamente pedidos de reconciliação controlar os estudos bíblicos e teológicos, Hyde concebia
cara a cara, escrevi-lhe uma carta de nove páginas “à procura procedimentos pelos quais implementar a perspectiva
de reconciliação”, na qual mencionei os problemas que tinham hermenêutica e teológica de Hasel, enquanto Pierson os
surgido entre nós e fiz um último apelo para que restabelecesse protegia. Eu apresentei um documento de trinta e um
o relacionamento amigável que tínhamos tido quando ele incidentes específicos nesta conspiração destinada a
chegou à Conferência Geral. Mas ele nunca respondeu e foi implementar a política de Pierson, em meu artigo “Architects
intransigente contra qualquer reconciliação. of Crisis: A Decade of Obscurantism (1969-1979) (Arquitetos
O principal projeto de Hyde para promover Hasel como da Crise: Uma Década de Obscurantismo (1969–1979).
teólogo-mor da igreja foi a série de três conferências bíblicas Este resumo explica a origem do clima obscurantista na
norte-americanas, a primeira das quais se realizou no Southern igreja nos últimos trinta anos e a sua falta de vontade de lidar
Adventist College, a segunda na Andrews University e a objetivamente com as numerosas anomalias exegéticas na
terceira no Pacific Union College. Ele concedeu a Hasel o interpretação adventista tradicional de Daniel 8:14, do
tópico principal––hermenêutica bíblica––e o incluiu em todos santuário e juízo investigativo.
os painéis de discussão. Os membros mais experientes do
corpo docente do Seminário Teológico (Andrews) foram 11.3. Resultados da Década do Obscurantismo
contornados completamente ou atribuídos papéis No final da década do obscurantismo (1969–1979), o
relativamente menores.146 objetivo dos seus três arquitetos estava firmemente
Sem a devida experiência no estudo da Bíblia e teologia, estabelecido. Pierson, com problemas de saúde, aposentou-se
Hyde escolheu a Hasel––seu ex-colega de faculdade que estava um ano antes. Substituído como diretor do BRI, Gordon
na Andrews desde 1967 e cuja perspectiva ultra-conservadora Hyde transferiu-se para o Southern Adventist College para ser
ele compartilhava––como mentor e conselheiro pessoal em reitor do Seminário. Gerhard Hasel tornou-se decano do
assuntos teológicos. O objetivo de Hyde era elevar Hasel a Seminário na Andrews por sete anos (1980–1987), após os
principal teólogo e reitor do Seminário Teológico da Andrews, quais a Conferência Geral o rebaixou, principalmente por

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causa de sua tentativa de separá-lo da Universidade incapacidade de muitos, se não da maioria, dos participantes
Andrews.149 Esse evento inesperado precipitou a fundação da da histórica Conferência Bíblica de 1919 de resolver as questões
Adventista Theological Society (ATS)––Sociedade Teológica doutrinárias que se propuseram a abordar. Administradores
Adventista––no ano seguinte, planejada especificamente para adventistas não-treinados em princípios de exegese bíblica têm,
perpetuar os objetivos da década obscurantista em vista da quase sem exceção, funcionado como a autoridade máxima em
perda de influência de Hasel como reitor do Seminário.150 assuntos de doutrina.
Tendo em conta o fato de Hyde ter sido reitor do Durante meados do século XX (aproximadamente 1940 a
departamento de religião no Southern College e Gerhard 1969) quando, pela primeira vez, estudiosos bíblicos
Hasel reitor do Seminário da Andrews, que ambos tinham sido adventistas começaram a praticar métodos objetivos de estudo
professores no Southern antes de 1969, e que Robert Pierson bíblico e os administradores da igreja, apreciando o valor de
havia se formado no Southern (1933), não foi por acaso que a sua perícia, começaram a aceitá-los como parceiros genuínos
Sociedade Teológica Adventista (ATS) foi fundada no no trato de assuntos doutrinários, o obscurantismo bíblico e
Southern por representantes de ambas as instituições e que o doutrinário gradualmente desapareceu. Depois de 1969,
Southern se tornou a sua primeira sede até mais tarde mudar entretanto, o obscurantismo por parte dos novos
para a Universidade de Andrews. Assim, a ATS tem uma base administradores da igreja, deu à década seguinte (1969–1979)
sólida no fundamentalismo adventista do “cinturão bíblico” o infeliz apelido de “década do obscurantismo”. Por exemplo,
Americano, que determina a sua orientação hermenêutica e durante as sessões do Comitê de Pesquisa Bíblica (agora
teológica.150 Instituto) Gerhard Hasel afirmou repetidamente que era um
Os desenvolvimentos a nível da Conferência Geral desde erro até mesmo tentar ser objetivo. Na sessão plenária de do
a década do obscurantismo (1969–1979) estão também Comitê de Revisão do Santuário em Glacier View (10 de
intimamente relacionados com estes fatos. Entre estes agosto de 1980), Hasel demonstrou isso ao declarar
desenvolvimentos estão os seguintes: (1) obscurantismo no enfaticamente: “A única intenção de Deus em Daniel 8:14 era
controle das reuniões em Glacier View;151 (2) obscurantismo apontar para 1844!” Esta declaração foi recebida por um coral
em relação a Walter Rea;152 (3) obscurantismo nas reuniões de de “Améns!”
Consultas I e II;153 (4) obscurantismo no Comitê de Daniel e O obscurantismo também foi evidente por parte dos
Apocalipse e seu relatório de 7 volumes;154 (5) obscurantismo líderes encarregados do estudo do Grupo 2 em Glacier View
no relatório Métodos de Estudo Bíblico;155 (6) obscurantismo na segunda-feira de manhã. Doze dos dezesseis discursos no
no Instituto de Pesquisa Bíblica (BRI), e, portanto, no grupo naquela manhã favoreceram o ponto de vista de
controle da política doutrinária da Conferência Geral;156 (7) o Desmond Ford, mas quando o presidente do grupo––um vice-
obscurantismo na forma como vários membros dissidentes do presidente da Conferência Geral––resumiu a opinião do grupo
corpo docente do Seminário e do Southern têm sido para seu relatório à sessão plenária naquela tarde, ele relatou a
tratados;157 (8) o obscurantismo que motiva os atuais comitês minoria de quatro discursos como a visão da maioria––um
da Conferência Geral (através do IMBTE, International Board exemplo óbvio de obscurantismo. Depois de um dos discursos
for Ministerial and Theological Education) e da North a favor de Desmond Ford, o outro vice-presidente presente
American Divison na formulação de uma política de tolerância respondeu: “Nunca poderíamos aceitar isso!” Na sessão
zero em relação à dissidência da política doutrinária oficial. plenária daquela tarde, onze dos quinze discursos dos
O triunvirato obscurantista provou ser eminentemente estudiosos da Bíblia também favoreceram a posição de
bem sucedido! Desmond Ford sobre o mesmo tema, mas novamente a
administração tomou o consenso como negativo. Do começo
11.4. A Natureza e a Razão de Ser do Obscurantismo ao fim, o obscurantismo estava no comando de Glacier View.
Doutrinário O obscurantismo caracteriza os tediosos relatórios do
O obscurantismo é a relutância em examinar Comitê de Daniel e Apocalipse que esteve ativo durante a
objetivamente os fatos e a tentativa de coagir outros a aceitar década de 1980. O obscurantismo é também o princípio
seus subjetivos pressupostos. A ilustração clássica do orientador da Sociedade Teológica Adventista, legítima
obscurantismo é a viagem do presidente da Sociedade da Terra herdeira do legado hermenêutico de Gerhard Hasel.
Plana, Simon Voliva, ao redor do mundo em 1929. Quando O obscurantismo continua vivo ao nível da Conferência
voltou, explicou aos membros da sociedade que sua viagem Geral. Em 15 de novembro de 2000, enviei outro documento
tinha provado “conclusivamente” que a terra é plana por que importante sobre Dan 8:14 a cerca de oitenta estudiosos da
ele viajou em círculo ao redor de sua superfície plana! Bíblia e administradores, incluindo o presidente da
O obscurantismo é o resultado de um estado de espírito Conferência Geral. Sua resposta foi cortês, mas ele
subjetivo em que pressupostos não-comprovados têm encaminhou o documento ao Instituto de Pesquisa Bíblica
precedência sobre o peso da evidência contrária. Ele ocorre (BRI) com o comentário de que sua resposta seria também a
quando uma pessoa presume avaliar assuntos que estão além dele. Em janeiro de 2001 ele me enviou uma cópia da resposta
dos limites da sua formação e competência pessoal. Quase sem evasiva do BRI, que relatou que eles já tinham considerado e
exceção, essa foi a situação com uma maioria decidida de resolvido todas as anomalias bíblicas na doutrina do santuário
líderes adventistas com respeito a questões doutrinárias por tradicional para a qual meu artigo tinha chamado a atenção––
quase um século depois de 1844. Ele também explica a o que eu sabia não ser verdade. Evidentemente, o

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obscurantismo ainda está no comando do BRI e da Geral, quer por acadêmicos bíblicos em exercício nos colégios
Conferência Geral. da América do Norte. E todos eles compartilhavam da
Em que consiste o obscurantismo oficial com respeito à perspectiva hermenêutica de Hasel, tal como todos os outros
doutrina do santuário? Ao longo do século XX––incluindo membros da comissão, exceto três! Como refletido nos livros
Glacier View (1980) e o relatório do Comitê de Daniel e da série DARCOM, as conclusões às quais o comitê chegou
Apocalipse––a Conferência Geral sempre enfrentou falhas na em relação à doutrina do santuário estavam determinadas antes
doutrina do santuário com argumentos cada vez mais mesmo que ele se reunisse!
elaborados e evasivas, mas sempre em seu favor. Mas nunca Como exposto no prefácio ao volume 1 da série
prestou atenção às falhas em si! DARCOM, sua interpretação é baseada no princípio
Já em 1934, W. W. Prescott chamou a atenção para este historicista da interpretação profética, cujo método os
problema numa carta que escreveu a W. A. Spicer, presidente “Adventistas do Sétimo Dia estão virtualmente sozinhos como
da Conferência Geral: “Esperei todos estes anos para que expoentes”. O historicismo interpreta a profecia preditiva da
alguém desse uma resposta adequada a Ballenger, Fletcher e Bíblia como um contínuo ininterrupto de cumprimento desde
outros em suas posições sobre o santuário, mas essa resposta os tempos bíblicos até o presente. Ao fazer isso, ela rejeita a
nunca veio”.160 Tendo sido membro dos comitês da perspectiva bíblica da história da salvação, que antecipa
Conferência Geral que se reuniram com Ballenger, Fletcher e explicitamente o clímax da história da terra, a promessa de
Conradi, Prescott percebeu que as respostas oficiais da retorno de Cristo e o estabelecimento do domínio eterno de
Conferência Geral, tanto orais quanto publicadas, ofereciam Deus na terra no final dos tempos bíblicos.161 A reafirmação
razões para acreditar na doutrina do santuário, mas deixavam do historicismo da série DARCOM é o ponto crucial da
as falhas completamente sem resposta! O mesmo foi verdade questão à qual este artigo é dirigido. Ele é a última
com respeito ao Desmond Ford e a série DARCOM. O demonstração, “acadêmica”, do obscurantismo perene que
obscurantismo ainda caracteriza as respostas da Conferência tem caracterizado a reafirmação da doutrina do santuário pelo
Geral e do Instituto de Pesquisa Bíblica (BRI) a Adventismo por mais de um século. Não é o objetivo deste
questionamentos sobreas falhas exegéticas na doutrina do artigo revisar os cinco volumes de Daniel do DARCOM em
santuário. detalhes, mas sim avaliar a credibilidade de sua interpretação
historicista em termos de fidelidade ao princípio Sola Scriptura
12. O Comitê de Daniel e Apocalipse (DARCOM) e a princípios de exegese geralmente reconhecidos,
Eventualmente, percebendo que Glacier View não tinha particularmente a crucial importância do contexto. A maioria
resolvido a questão do santuário, a Conferência Geral nomeou das 1.600 páginas da série DARCOM é dedicada a análises
o Comitê de Daniel e Apocalipse (DARCOM) e atribuiu-lhe a tarefa acadêmicas do texto de Daniel que somente um erudito bíblico
de compilar o que pretendia ser a prova definitiva da treinado seria capaz de avaliar. Outros leitores provavelmente
interpretação tradicional de Daniel 8:14, o santuário e o juízo dependeriam de seus próprios pressupostos com respeito à
investigativo. A comissão funcionou durante a década dos anos doutrina do santuário para aceitar ou rejeitar as conclusões que
80 sob os auspícios do Instituto de Pesquisa Bíblica da os respectivos autores extraem da evidência apresentada. 1.519
Conferência Geral (BRI) e publicou o seu relatório em sete das 1.600 páginas consistem em artigos de apenas 18 autores.
volumes sob o título Série do Comitê de Daniel e Apocalipse Um autor contribuiu 418 páginas (28%), outro 176 páginas
(DARCOM). (12%) e um terceiro 111 páginas (9%), num total de 705
Os cinco volumes da série DARCOM dedicados a Daniel páginas. Os outros 15 autores contribuíram com uma média
defendem o que é agora considerada a resposta oficial da igreja de 54 páginas cada um, cinco deles com apenas 12 páginas ou
a todas as questões relativas à doutrina do santuário. menos.
Inconscientemente, porém, a série DARCOM representa a A forma desorganizada como a série DARCOM lida com
academia adventista sob a mão de ferro do obscurantismo. Não a doutrina do santuário reflete a forma desorganizada como o
aborda nenhuma das anomalias contextuais para as quais a seu comitê deve ter funcionado. Espera-se que uma comissão
seção 8 acima––“Explicando Corretamente Daniel 8:14”–– integre as contribuições dos seus membros num consenso que
chama a atenção! represente a comissão. Por exemplo, uma tradução da Bíblia
Seria de se esperar que um comitê tão importante como o conduzida por um grupo de tradutores é considerada muito
DARCOM fosse composto primariamente de teólogos mais precisa e confiável do a de um único indivíduo, por mais
adventistas treinados, experientes, conhecidos e confiáveis. qualificado que seja. O consenso do grupo tende a eliminar as
Mas não foi! Eles foram intencionalmente excluídos! A idiossincrasias individuais, por mais “acadêmicas” que sejam.
composição, ou filiação, do comitê tem a marca inconfundível A série DARCOM não oferece tal consenso ou síntese. Os
de Gerhard Hasel como o único que poderia ter selecionado dezoito autores devem ser elogiados pelo seu conhecimento da
seus membros. Por quê? Na época, no auge de sua carreira, ele literatura, tanto antiga quanto recente, relevante para as
era reitor do Seminário Teológico da Andrews, e profecias de Daniel, pela sua especialização em hebraico antigo
aproximadamente metade dos dezoito membros do e línguas cognatas, e pelo seu trabalho obviamente diligente de
DARCOM tinham sido alunos no Seminário durante seus encapsular tudo isso para os leitores modernos. Por outro lado,
quinze anos ou mais como membro do corpo docente. De seus trabalhos são defeituosos por causa de seu uso subjetivo
outra forma, eram desconhecidos, quer pela Conferência da informação em defesa de uma interpretação das profecias

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de Daniel que, de fato, contradiz o que Daniel pretendia o mesmo que aconteceu a Igreja Luterana––o Sínodo de
transmitir em seu contexto.158 Quase sem exceção, os autores Missouri em dezembro de 1976: uma cisão.
da série DARCOM assumem tacitamente a validade do
princípio historicista como seu pressuposto fundamental e 13. Um Remédio Permanente Para o Obscurantismo
depois, raciocinando em círculo, oferecem o que escrevem Doutrinário
como prova desse pressuposto! Em quatro pontos principais,
A igreja necessita urgentemente de um consenso de todos
eles assumem a precisão da tradução da KJV onde ela estudiosos bíblicos qualificados, a fim de determinar com a
representa erroneamente o texto hebraico. Eles ignoram o maior precisão possível todos os assuntos de exegese bíblica em
contexto histórico no qual Daniel localiza suas visões e ao qual harmonia com o princípio Sola Scriptura, preliminar à
ele as aplica, e sua complexa perspectiva da história da salvação. formulação de declarações doutrinárias em parceria com os
Em pelo menos sete importantes casos, ignoram ou administradores da igreja. Tal consenso só pode ser alcançado
contradizem as declarações explícitas de Daniel em seu por uma organização que providencie aos seus membros uma
contexto. E no ano de nosso Senhor 2002, o Instituto de oportunidade de conferirem juntos, independentemente de
Pesquisa Bíblica (BRI), com a aprovação total da Conferência qualquer influência ou preocupação que não seja a fidelidade
Geral, afirma que a série DARCOM é a prova final e ao Sola Scriptura e lealdade à igreja.
conclusiva do entendimento tradicional de Daniel 8:14, o
(1) Esta organização serviria como uma agência financiada
santuário e o juízo investigativo! Esse é um caso clássico de e dedicada a cooperar com a Conferência Geral, com o
reductio ad absurdum (redução ao absurdo) e o derradeiro objetivo específico de proporcionar aos administradores da
exercício de obscurantismo fazendo-se passar pelo mais alto Conferência Geral um consenso da sua comunidade de
nível de erudição que os adventistas têm para oferecer!158 estudiosos sobre assuntos bíblicos e doutrinários e atuaria da
Em outra notável anomalia, os vários capítulos que tratam
seguinte maneira:
das supostas analogias entre o santuário de Daniel 8:14 e os
(2) Participaria com a Conferência Geral na definição da
santuários nos livros de Levítico e Hebreus é baseado na sua relação de trabalho;
suposição de que o santuário em Daniel é o santuário celestial,
(3) Escolheria o seu nome (por exemplo, “Conselho de
enquanto que, como observado na seção 8 acima, o contexto Estudiosos sobre Exegese Bíblica”);
o identifica explicitamente com o templo em Jerusalém. Estas (4) Definiria seus requisitos de membresia;
duas analogias só são válidas se o contexto de Daniel as
(5) Selecionaria seus oficiais e especificaria seus termos de
permitir. Mas ele não apóia, ponto final! Assim, os vários serviço;
capítulos dedicados ao santuário em Levítico e Hebreus são
(6) Elegeria um comitê executivo e uma equipe
irrelevantes para a exegese de Daniel 8:14! permanente;
As prolongadas e prolixas análises literárias quiásticas de (7) Definiria seus procedimentos operacionais,
passagens de Daniel no volume 1 da série DARCOM e em
estabeleceria sua própria agenda;
outros lugares por William Shea, às vezes em contradição (8) Receberia e responderia às solicitações da Conferência
explícita do contexto, pode parecer impressionante para leigos, Geral;
mas torna-se entediante além da medida e simplesmente
(9) Selecionaria tópicos próprios para consideração;
contraproducente. A série DARCOM teria sido muito (10) Definiria seus princípios de exegese;
melhorada sem as suas 418 páginas de comentários! Muitas das (11) Informaria apenas à administração da Conferência
176 páginas de Hasel consistem em análises detalhadas de Geral e não divulgaria suas conclusões além dos círculos
interpretações não-adventistas de Daniel que não são de
acadêmicos;
nenhum valor ou relevância para qualquer adventista que (12) Seus relatórios à administração refletiriam tanto o
estude o livro de Daniel. Em muitos aspectos, a série consenso majoritário quanto o grau de dissidência minoritária,
DARCOM é uma testemunha muda da forma descoordenada se houver;
como o comitê DARCOM evidentemente funcionou, mas o (13) Conduziria a maior parte de seus negócios via e-mail;
Instituto de Pesquisa Bíblica (BRI) nos informa que resolveu,
(14) Manteria uma convocação anual na qual todos os
de uma vez por todas, todas as questões sobre a interpretação membros seriam convidados a participar, com suas
tradicional de Daniel 8:14, o santuário e o juízo investigativo! organizações empregadoras financiando viagens e
Atualmente, está em curso outro projeto da Conferência acomodações;
Geral que parece destinado a solidificar o objectivo Pierson-
(15) Reunir-se-ia normalmente à porta fechada, mas
Hyde-Hasel de transformar a Igreja Adventista do Sétimo Dia
poderia, a seu critério, convidar observadores não acadêmicos;
de uma comunidade aberta à orientação contínua do Espírito (16) Seu estágio formativo poderia ser limitado a eruditos
Santo no “conhecimento do nosso Senhor e Salvador Jesus bíblicos norte-americanos, mas eventualmente deveria incluir
Cristo”162 a uma igreja fechada, obscurantista e todos os eruditos bíblicos adventistas qualificados do mundo
fundamentalista que eles imaginavam—o IBMTE (Conselho inteiro.
Internacional de Formação Ministerial e Teológica) com os Tal organização seria de inestimável valor para a igreja.
seus subconselhos nas várias divisões. Este projeto já está
Ajudaria a igreja a ser uma testemunha fiel do princípio Sola
provando ser divisivo, e tem a possibilidade de repetir na IASD Scriptura em todos os aspectos do seu testemunho em prol do

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evangelho eterno, e a evitar o obscurantismo e as incessantes força” e “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Este é o
controvérsias doutrinárias do século passado. nosso verdadeiro teste como igreja e como membros
individuais. Em outras palavras, os princípios do evangelho se
14. A Autenticidade do Adventismo aplicam a todos os aspectos de nosso ser individual e
A presente análise e revisão da interpretação adventista corporativo––nosso amor e a dedicação de todo o nosso ser
tradicional de Daniel 8:14, o santuário, e o juízo investigativo individual e corporativo, a Deus––e em nosso relacionamento
tem o objetivo de ser construtiva e corretiva, não crítica, uns com os outros e com todos os outros seres humanos. O
acusatória, ou punitiva. Espero sinceramente que seja recebido amor agape de Deus é uma preocupação altruísta e cuidado
com o mesmo espírito, e que sejam tomadas medidas com o bem-estar e a felicidade dos outros. Esse deve ser o ideal
apropriadas para poupar a igreja e seus membros de uma e a prática da igreja com respeito a cada ser humano em todos
repetição dos episódios traumáticos do passado pelos quais esta os lugares, na teoria, mas mais importante ainda, na prática
doutrina pseudo-bíblica, o historicismo e o obscurantismo têm (Mat 25:40–45).
sido responsáveis. Seremos admitidos na eternidade com base no tipo de
Por duas razões, o adventismo do sétimo dia continua pessoas que somos, individualmente, e não no que acreditamos
sendo um testemunho autêntico e confiável do evangelho sobre Daniel 8:14 ou qualquer outra passagem das Escrituras.
eterno, apesar de suas imperfeições todo-humanas, como a Uma pessoa pode acreditar na interpretação tradicional de
interpretação tradicional de Daniel 8:14, a doutrina do Daniel 8:14, e se tudo o mais em sua vida estiver em harmonia
santuário e o juízo investigativo: (1) Sua ênfase única na com o evangelho, ela não encontrará problemas às portas da
influência do evangelho de Jesus Cristo em todos os aspectos eternidade. E se uma pessoa acredita sinceramente que isso não
da personalidade humana: mental, físico, bem como espiritual é importante, mas tudo o mais em sua vida está em harmonia
e social—uma preocupação prática pelo bem-estar e felicidade com o evangelho, ela não encontrará nenhum problema nos
de todos os seres humanos; e (2) seu testemunho enfático do portões da eternidade. Mas se nos tornamos abusivos em nossa
prometido e iminente retorno de Jesus para transformar este discussão sobre o assunto, ambos chegaremos aos portões da
pequeno mundo em um lugar de justiça e paz eternas. eternidade apenas para encontrá-los trancados.
Em vista do fato de que os Adventistas do Sétimo Dia têm Que a nossa atitude como igreja seja moderada por este
confiado na autenticidade da experiência de 1844 e na fato, mas ao mesmo tempo que a igreja, corporativamente,
credibilidade básica da interpretação tradicional de Daniel esteja em plena harmonia com o princípio Sola Scriptura em
8:14, e em vista da evidência acima de que essa interpretação sua interpretação e testemunho sobre Daniel 8:14. Em termos
não é sustentável quando testada pelo princípio Sola Scriptura deste princípio, o seu testemunho do evangelho no santuário é
(que a igreja afirma mas compromete em sua interpretação de grosseiramente defeituoso e afasta a confiança e o respeito de
Daniel 8:14), a pergunta inevitavelmente surge: “Que base há pessoas entendidas biblicamente, tanto adventistas como não-
para concluir que o Adventismo é uma testemunha autêntica adventistas. Estejamos dispostos a reconhecer e remover esse
do evangelho eterno de Jesus Cristo? Essa é uma pergunta obstáculo à aceitação da nossa mensagem ao mundo de que
inevitável! Jesus voltará em breve.
A resposta pragmática a essa pergunta está na medida em Nos anos imediatamente posteriores a 22 de outubro de
que a igreja reflete os ensinamentos de Jesus Cristo e cumpre a 1844, a doutrina tradicional do santuário foi um marco
grande comissão. Se ela o faz ou não de forma distintiva não é importante para estabilizar a fé dos adventistas após o Grande
da nossa conta ou preocupação. Preocupar-se com essa questão Desapontamento de 1844. Hoje ela é um grande risco, um
viola Sua instrução específica registrada em Mar 9:38–41. dissuasor da fé, confiança e salvação de estudiosos adventistas
Alguém estava expulsando demônios em nome de Jesus e os e não-adventistas. Foi verdade presente depois do Grande
discípulos tentaram detê-lo, porque ele não os estava seguindo. Desapontamento de 22 de outubro de 1844 mas deixou de sê–
“Mas Jesus respondeu: Não lho proibais; porque ninguém há lo no ano de nosso Senhor 2002. Tenho dito! ¢
que faça milagre em meu nome e, logo a seguir, possa falar mal
de mim. Pois quem não é contra nós é por nós.” Em outra
ocasião, Pedro, apontando para João, perguntou a Jesus: “E
quanto a este? Na sua resposta, Jesus perguntou a Pedro: “Que
te importa? ... segue-me” (João 21:21–22). Não é da nossa
conta como adventistas questionar a credibilidade ou
integridade de outras testemunhas autênticas de Jesus Cristo.
Vamos concentrar nossa atenção na credibilidade de nosso
testemunho do evangelho eterno e banir de nossas mentes
qualquer questão de favoritismo e sectarismo. Em Atos 10:35
Pedro diz: “Em qualquer nação [e comunidade religiosa]
aquele que o teme e faz o que é justo lhe é aceitável.” O resumo Tradução: Ítalo e Carla Oliveira Araújo, André Reis, Ph.D.
do evangelho de Jesus está registrado em Mar 12:29–31: Edição, Revisão e Formatação: André Reis, Ph.D.
“Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de
toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua _______________________________________________

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NOTAS adventistas da América do Norte e alguns outros proficientes em hebraico,
A maioria dos meus artigos citados nas seguintes notas estão arquivados na todos meus amigos pessoais.
Sala do Patrimônio da Biblioteca Del E.Webb no campus da Universidade 26. Ford ainda é membro da igreja do Pacific Union College [2002].
de Loma Linda. A Associação de Fóruns Adventistas está atualmente 27. The Cultic Doctrine of Seventh-day Adventists de Dale Ratzlaff de 1996
planejando um website e solicitou uma lista de todos os meus principais (384 pp.), se concentra na doutrina adventista tradicional do santuário. A
artigos. Theologian’s Journey from Seventh-day Adventism to Mainstream Christianity
de Jerry Gladson (A Trajetória de Um Teólogo: Do Adventismo do Sétimo
1. Le Roy Edwin Froom, Prophetic Faith of our Fathers, 4:403. Dia ao Cristianismo Tradicional) é um relato da perseguição da liderança
2. Cf. Mat 27:51 obscurantista como resultado da doutrina tradicional do santuário.
3. 1 Ped 3:7–12. 28. Janet Brown email: janet.e.brown@intel.com.
4. Heb 8: 2. 29. A Sra. Donald W. Silver é filha do Dr. e Mrs. Robert H.Brown.
5. Lev 16. 30. O Grande Conflito, 409.
6. Mat 25:1–13. 31. Evangelismo, 221, 224.
7. Cf. Primeiros Escritos, 58 32. Meu artigo “Questions on Doctrine: A Historical-Critical
8. O Grande Conflito, 409 Evaluation” (Questões Sobre Doutrina: Uma Avaliação Crítico-Histórica),
9. O Grande Conflito, 409–422. é uma revisão detalhada das dezoito entrevistas de Martin-Barnhouse com o
10. Evangelismo, 221 pessoal da Associação Geral em 1955 e 1956. Meu artigo de 10 páginas
11. Carta 10, 1895. “Questions on Doctrine: Footnotes to History” (Questões Sobre Doutrina:
12. Fundamentos da Educação Cristã, 112, 126. Mensagens Escolhidas, Rodapés da História) relata uma série de momentos hilários durante as
1:21; 2:85; Conselhos aos Escritores e Editores, 145; Testemunhos para a Igreja, entrevistas de Martin-Barnhouse.
vol. 5:663, 691; 6:402; O Grande Conflito, p. 7; O Colportor Evangelista, 125 33. Donald G. Barnhouse, ed., Eternity 7:67 (setembro de 1956), 6–7,
13. Mensagens Escolhidas 1:37, 164; 3:33. 43–45.
14. Índice dos Escritos de E. G. White, pp. 21–176. 34. Meu artigo “An Evaluation of Certain Aspects of the Martin Articles”
15. Carta a E. J. Waggoner e A. T. Jones (Carta 37, 2/18/1887). J. H. (Avaliação de Aspectos dos Artigos de Martin, 16 pp.) cita e resume
Waggoner, The Law of God, an Examination of the Testimony of Both comentários na imprensa cristã evangélica contemporânea (1956) sobre as
Testaments (Rochester, NY, 1854), 70, 108. Em 1856, James e Ellen White entrevistas de Martin e Barnhouse. Este documento foi preparado a pedido
e outros se encontraram por dois dias em Battle Creek, Michigan, e do comitê editorial do livro Questions on Doctrine.
decidiram que Waggoner estava errado em identificar a lei em Gálatas como 35. Meu artigo “The Role of Israel in Old Testament Prophecy” (O papel
os Dez Mandamentos. James White retirou o livro de circulação. de Israel na Profecia do Antigo Testamento) no volume 4 do Comentário
16. Esboços da Vida de Paulo 188–192. Bíblico Adventista (SDABC) (pp. 25–38) classifica e resume cerca de cinco
17. Mensagens Escolhidas, 1:234. mil passagens do Antigo Testamento sobre o concerto de Deus com Israel,
18. Mensagens Escolhidas, 1:233. incluindo a perspectiva vétero testamentária da história da salvação, que
19. Atos dos Apóstolos, 383–388. culminou com a vinda do Messias e o estabelecimento de Seu reino de justiça
20. D. M. Canright, Seventh-day Adventism Renounced (O Adventismo do logo após o encerramento dos tempos do Antigo Testamento. Essas cinco
Sétimo Dia Renunciado), 118–126. Para ler uma discussão mais detalhada, mil passagens foram acumuladas quando ensinei a classe do Antigo
veja o meu livro The Eschatology of Daniel, capítulo 20, “Daniel in the Critics Testamento por vários anos no Pacific Union College durante as décadas de
Den” (Daniel na Cova dos Críticos). 1940 e 1950. A sentença entre parênteses na página 38, “Esta regra não se
21. Albion F. Ballenger, Cast Out for the Cross of Christ (Expulso Pela Cruz aplica àquelas partes do livro de Daniel que o profeta foi ordenado a calar e
de Cristo) Introdução, i–iv, 1, 4, 11, 82, 106–112.Veja a nota 20. selar, ou a outras passagens cujo aplicação a Inspiração pode ter limitado
22. W. W. Fletcher, The Reasons for My Faith, 6, 17, 23, 86, 107, 115– exclusivamente ao nosso próprio tempo”, foi adicionada por F. D. Nichol
138, 142–170, 220. Ver especialmente pp. 111–112, onde ele cita uma carta durante o processo editorial. Ele pessoalmente concordou com tudo no
para Ellen White . artigo e não fez alterações nele, mas temia pela recepção adversa do
23. Veja o capítulo 20, “Daniel in the Critics Den” em meu livro The Comentário Bíblico Adventista, sem essa observação.
Eschatology of Daniel, onde cito extensivamente de documentos originais 36. Veja nota 26.
preservados nos Arquivos da Conferência Geral. 37. Meu conjunto de artigos considerados pela comissão está nos arquivos
24. Para informações detalhadas sobre R. A. Greive veja o documento de da Conferência Geral.
Desmond Ford para Glacier View, Daniel 8:14, the Day of Atonement, and 38. Meu estudo de 150 palavras importantes nas porções aramaica e
the Investigative Judgment (Daniel 8:14, o Dia da Expiação e o Julgamento hebraica de Daniel preenche 108 páginas datilografadas.
Investigativo”, edição impressa pp. 55–61). 39. Minha correlação das profecias de Daniel 7, 8, 9 e 11–12 preenche 14
25. Para um resumo dos destaques das 991 páginas de Desmond Ford páginas datilografadas.
Daniel 8:14, the Day of Atonement, and the Investigative Judgment veja meu 40. Por conveniência, escrevi (em colunas paralelas) passagens-chave das
artigo “Dr. Desmond Ford’s Position on the Sanctuary” (A Posição do Dr. profecias de Daniel em hebraico, grego (ambos LXX e Theodotion), a KJV,
Desmond Ford Sobre o Santuário). Para ler uma descrição muito detalhada e a Revised Standard Version.
de procedimentos na reunião Glacier View do Comitê de Revisão do 41. Especialmente nos primeiros quatro capítulos de 1 Macabeus, onde
Santuário, de 10 a 15 de agosto de 1980, veja meu relatório “The Sanctuary encontrei vinte e quatro pontos de identidade específica entre o chifre de
Review Committee and Its New Consensus” (O Comitê de Revisão do Daniel e a trajetória de Antíoco IV Epifânio. Concluí, porém, que Cristo
Santuário e Seu Novo Consenso) em Spectrum, 11:2 (novembro de 1980), designou o cumprimento das profecias de Daniel aos tempos do Novo
Testamento e que os escritores do Novo Testamento quase quarenta vezes
2–26. O artigo baseia-se em minhas anotações completas em taquigrafia de
antecipam o retorno prometido de Jesus em sua geração. O capítulo 4 “The
todos os discursos e em todos os trabalhos do Grupo 2, do qual eu era
Old Testament Perspective of Salvation History” (A Perspectiva do Antigo
membro, e nas sessões plenárias da tarde e da noite. Meu artigo não
Testamento da História da Salvação) e o capítulo 12 “The New Testament
publicado de 20 páginas “Dinâmicas de Grupo em Glacier View” explica de
Perspective of Salvation History” (A Perspectiva do Novo Testamento da
que tratou Glacier View. O meu artigo não publicado, “Pós mortem de História da Salvação) em meu manuscrito não-publicado, The Eschatology of
Glacier View”, resume minha reação aos eventos em Glacier View. Meu Daniel, define tudo isso em detalhes. Veja a nota 131.
artigo “A Hermeneutic for Daniel 8:14,” foi distribuído como documento 42. O capítulo 13 do meu manuscrito do livro The Eschatology of Daniel,
oficial em Glacier View. Meu relatório de uma pesquisa de estudiosos da “Interpretação Judaica de Daniel”, traça a interpretação judaica em alguns
Bíblia adventistas sobre Daniel 8:14 e Hebreus 9 resume as respostas a 125 detalhes desde a antiguidade até os tempos modernos. Para isso eu me baseei
perguntas. A pesquisa foi enviada para uma lista de todos os estudiosos da principalmente nas Antiguidades dos Judeus e Guerras dos Judeus de Josefo, A
Bíblia na América do Norte (ativos e não-ativos) fornecidos pelo History of Messianic Speculation in Israel (Abba Hillel Silver), e The Messianic
Departamento de Educação da Conferência Geral, e para vários países Idea in Israel (Klausner).
estrangeiros. Este relatório inclui, também, uma lista de respostas a uma
pesquisa de 1958. Enviei a 27 professores de hebraico em faculdades

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43. O capítulo 14 de The Eschatology of Daniel, “A Doutrina do Santuário desobedecessem (vv. 15–68). O argumento de que Daniel 8 e 9 são
e o Julgamento Investigativo”, traça o desenvolvimento da interpretação “apocalípticos” (e, portanto, supostamente imunes ao princípio do
adventista tradicional de Daniel 8:14 em detalhes consideráveis. condicionalismo) ignora o fato de que, contextualmente, eles se aplicam
44. O capítulo 17 de The Eschatology of Daniel, “O Santuário Celestial na especificamente ao povo hebreu e estão sujeitos às condições especificadas.
Epístola aos Hebreus”, explora seu comentário sobre o ministério de Cristo em Jeremias 18:7–10.
no santuário celestial em detalhes consideráveis. 70. Veja nota 69.
45. Veja a seção 9, “Falhas na Doutrina do Santuário”. 71. Veja meu artigo “The Adventist Theological Society and Its Biblical
46. Veja a seção 14, “Um Remédio Permanente para o Obscurantismo”. Hermeneutic” (A Sociedade Teológica Adventista e Sua Hermenêutica
47. Veja nota 44. Bíblica).
48. Heb 7:27; 10:11–12. 72. Ao ler um dos livros de William Miller, descobri que seu mal uso
49. Heb 2:17–18; 4:14–15; 6:19–20; 7:24–28. incessante de princípios de exegese universalmente aceitos é uma experiência
50. Heb 7:25; 9:12 e 24. profundamente perturbadora.
51. Heb 2:17–18; 4:14–16. 73. Para ver as características do método do texto-prova, veja a seção 7.
52. Heb 9:28; 10:37. 74. Para uma lista de mudanças que a igreja já fez na doutrina do
53. 2 Tim 2:15. A hermenêutica bíblica tem sido o foco de meu estudo Santuário, ver Daniel 8:14, the Day of Atonement, and the Investigative
por mais de cinquenta anos, sendo o capítulo “Principles of Biblical Judgment de Desmond Ford, p. 88 (edição impressa).
Interpretation” em Problems in Bible Translation (79–127; 1953) um dos 75. Dan 9:23 cf.8:16.
meus primeiros trabalhos publicados nesta área. Entre meus muitos 76. Dan 9:21–23.
trabalhos sobre este assunto tem sido “Hermeneutics: What Difference Does 77. Dan 9:24.
It Make?” (Hermenêutica: Que diferença faz?”), “Ellen G.White and the 78. Dan 7:24–25.
Bible”, “The Role of Biblical Hermeneutics in Preserving Unity in the 79. Dan 11:45.
Church”, e muitos outros. 80. Dan 8:17, 26.
54. Veja a nota 35. 81. Dan 9:22–25.
55. O artigo “Historical Conditioning in the Bible and the Writings of 82. Dan 2:37–40; 7:3–7; 8:3–8; 11:2–3.
Ellen G. White” (Condicionamento Histórico na Bíblia e os Escritos de 83. Dan 2:41–43; 7:7–8, 17, 23; 8:8–9; 11:4–5, 25–29, 40–43.
Ellen G. White”, 92 pp.) foi escrito por solicitação para o Comitê de 84. Dan 9:25.
Pesquisa Bíblica (BRC). 85. Dan 2:44; 7:28; 8:17, 19, 26; 9:24, 27; 11:35, 40.
56. Veja a nota 35. 86. Dan 7:21, 25; 8:10, 13, 24–25; 9:26; 12:1, 2, 7.
57. Veja o capítulo 12 em The Eschatology of Daniel, “The New Testament 87. Dan 8:9; 9:36; 11:22, 24, 41.
Perspective of Salvation History” (A Perspectiva do Novo Testamento Sobre 88. Dan 8:11, 25; 11:36
a História da Salvação). Aproximadamente quarenta vezes os escritores do 89. Dan 7:25; 8:11–12; 9:26–27; 11:31; 12:11
Novo Testamento antecipam o retorno de Cristo dentro de sua geração. Ver 90. Dan 8:13; 9:27; 11:31
nota 131. 91. Dan 8:12–13; 9:27; 11:22
58. Me baseei na terceira edição da Biblia Hebraica de Rudolf Kittel e dois 92. Dan 7:25; 12:7
dicionários de hebraico: VeterisTestamenti Libros (Koehler, Baumgartner) e 93. Dan 7:25; 9:27; 12:7
Theological Dictionary of the Old Testament (Botterweck, Ringgren Fabry) 94. Dan 8:14.
onze volumes dos quais estão agora disponíveis em inglês. 95. Dan 9:27; 12:1, 7.
59. Salvo indicação em contrário, usei a Revised Standard Version da 96. Dan 7:22, 26; 8:25; 9:27; 11:45; 12:11
Bíblia, mas freqüentemente me referi a outras traduções. 97. Dan 7:22, 27; 8:14; 12:1–3, 13–14.
60. Dois problemas limitam o valor da versão KJV para o estudo sério: 98. Veja a nota 35.
(1) baseou-se em manuscritos tardios (Textus Receptus) que acumularam 99. Enumerado abaixo.
um grande número de erros de escribas; e (2) várias centenas de palavras 100. Dan 1:12; 8:26–27; 10:13–14; 11:20; 12:11–12.
inglesas transmitem um significado diferente hoje do que em 1611. Ronald 101. Como em Levítico 16.
Bridges e Luther A. Weigle’s Bible Word Book explicam várias centenas de 102. Uma comparação da carreira de Antíoco IV Epifânio, conforme
palavras inglesas na KJV que hoje são obsoletas ou arcaicas. apresentada em 1 Macabeus 1 a 4 com o chifre pequeno de Daniel, resulta
61. Notas de rodapé na Biblia Hebraica listam numerosas e úteis versões em 24 pontos de correspondência inegável. Isso levou antigos eruditos
variantes nas versões antigas e traduções. judeus a identificá-lo como o cumprimento das predições de Daniel. No
62. Meu conhecimento de aramaico é limitado. entanto, as declarações de Cristo em Mar 1:15, Mat 24 (etc.) e cerca de
63. Nee 8:7–8. quarenta vezes pelos escritores do Novo Testamento localizam o
64. Analytical Concordance to the Bible (Young). cumprimento das profecias de Daniel no final dos tempos do Novo
65. No hebraico antigo de Gênesis 1:1, a palavra para “criado” era escrita Testamento. Ver referências citadas nas notas 130 e 131.
br’ (somente consoantes). Os massoretas forneciam as vogais para fazer com 103. O conceito profético do “dia-ano” foi originalmente formulado pelo
que se leia bara’, “criou”. Da mesma forma, poderiam ter também fornecido erudito judeu caraíta Nahawendi no século IX, em um esforço para
vogais para torná-lo ler bore’, que teria significado “Quando Deus começou identificar eventos de seu tempo como o cumprimento das profecias de
a criar ...”, tornando verso 1 uma cláusula dependente, com verso 2 a Daniel. A idéia de que esse “princípio” estava operando com respeito às
declaração principal. setenta “semanas” de anos de Daniel 9, ignora o fato de que era, na verdade,
66. Veja a seção 7 sobre analogia nas Escrituras. O santuário celestial do uma aplicação do antigo sistema jubilar de datação judaica, não o suposto
livro de Hebreus não é uma cópia válida do santuário de Daniel 8:14 porque “princípio” dia-ano. O antigo livro judaico Livro dos Jubileu usa esse sistema
os versículos 9 a 13 o identificam como o santuário localizado no “terra de datações de tempos para datar eventos na história judaica. Veja o capítulo
formosa” (tsebi), Judéia. O capítulo 11:16, 41 confirma essa identificação, e 15, “Interpretação Judaica de Daniel”, em The Eschatology of Daniel, para
em 11:45 tsebi o “formoso” monte sagrado em Jerusalém é onde o templo ver um número de exemplos relevantes do Livro dos Jubileus. Veja também
estava localizado. Além disso, o contexto (8:11–13) identifica Abba Hillel Silver, A History of Messianic Speculation in Israel, pp. 52–55,
especificamente a raciocínio o santuário precisa de “purificação” ou 208; Le Roy Edwin Froom, Prophetic Faith of Our Fathers,1:713; 2:196.
restauração por causa de seu pisoteio pelo chifre pequeno (cf. 11:31). 104. Cf. verse 11.
67. O nome “Adventistas do Sétimo Dia” foi escolhido em 1860 e a 105. Vv. 11–12.
Conferência Geral foi organizada em 1863. 106. Vv. 3, 21–23.
68. Veja a seção 2, “Ellen G. White e a Doutrina do Santuário”. Eu 107. Vv. 2–6, 27.
explorei o senso de missão do adventismo em meu artigo “Adventism in the 108. Dan 8:16, 26–27.
Twentieth Century”, 6–9. 109. Dan 9:24–27.
69. No discurso de despedida de Moisés a Israel antes de sua entrada na 110. Dan 9:25.
terra prometida (Deut 28), ele expôs as coisas boas que lhes aconteceriam se 111. Esdras 7:21–27.
obedecessem às instruções de Deus (versículos 1–14) e os infortúnios se 112. Esdras 6:13–15.

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113. Dan 9:3–19. 147. Em conversa pessoal com W. G. C. Murdoch, Siegfried H. Horn e
114. Dan 9:7–19. E. E. Heppenstall, meus amigos pessoais de longa data.
115. Dan 9:24 148. Veja a nota 45.
116. Dan 9:25–27. 149. Conversa com um amigo meu pessoal de longa data, então no círculo
117. Dan 9:25. interno da liderança da ATS. Ele me confidenciou o fato de que a ATS foi
118. Dan 9:23. organizada especificamente como resultado da perda de influência de Hasel
119. Dan 9:24. quando rebaixado do reitor do Seminário Teológico.
120. Dan 11:23. 150. Meu artigo, “The Adventist Theological Society and Its Biblical
121. Dan 8:11–13; cf. 9:27. Hermeneutic” (A Sociedade Teológica Adventista e Sua Hermenêutica
122. Dan 9:27. Bíblica), avalia a história e os objetivos da ATS. A seção sobre hermenêutica
123. Dan 8:23–25. da ATS é baseada em entrevistas pessoais e publicações oficiais da ATS.
124. Dan 8:20, 23. 151. Veja nota 25.
125. Verso 26. 152. Ver pp. 49–50 do meu artigo “Adventism in the Twentieth
126. Veja nota 35. Century” (O Adventismo no Século XX).
127. Mat 24:44; Rom 13:12; 2 Ped 3:11–12. 153. Sobre a Consulta I, veja Warren C. Trenchard, “In the Shadow of
128. Mat 24:42. the Sanctuary” (Na Sombra do Santuário), Spectrum 11:2 (1980), pp. 26–
129. Veja nota 35. 29; sobre a Consulta II, veja Alden Thompson, “Theological Consultation
130. Mat 24:1–31 30–34. II”, Spectrum 12:2 (1981), pp. 40–52.
131. 1 Ped 1:20; 4:17, 27; 2 Ped 3:11–14; João 21:21–23; 1 João 2:18; 154. Volume 1: Estudos Selecionados sobre Interpretação Profética, 174 pp.;
Apoc 1:1, 3; 3:11; 12:12; 22:6–7, 10, 12, 20; Tia 5:7–9: Rom 13:11–12; 1 volume 2: Simpósio sobre Daniel, 557 pp.; volume 3: Doutrina do Santuário,
Cor 1:7–8; 7:29; 10:11; Fil 3:20; 4:5; 1 Tess 3:13; 4:15–17; Heb 1:2; 9:26– 238 pp.; volume 4: Questões no livro de Hebreus, 237 pp.; volume 5: 70
28; 10:37. Semanas, Levítico, Natureza da Profecia, 394 pp.
132. Apoc 1:1, 3; 3:11; 22:6–7, 12, 20. 155. Meu artigo “The Annual Council Statement on Methods of Bible
133. Veja meu artigo de 82 páginas, “Adventism in the Twentieth Study” (A Declaração Anual do Conselho sobre Métodos de Estudo da
Century”, 34–54. Bíblia”) observa o fato de que após o comitê ter divulgado seu relatório, o
134. Veja [R. Allan Anderson] “Atas do Conselho de Professores de BRI inseriu um preâmbulo reiterando os princípios hermenêuticos da ATS.
Bíblia, Colégios Adventistas do Sétimo Dia, Washington, DC, de 30 de Como resultado, alguns membros do comitê me disseram que eles se
julho a 25 de agosto de 1940,” p. 32 e [L. H. Hartin] “Relatório do Conselho recusaram a assinar seus nomes em aprovação do documento. A ATS exige
de Professores da Bíblia, Angwin, Califórnia, 23–31 de julho de 1950, p. 74 que os membros afirmem sua aceitação.
(nos arquivos da Conferência Geral). 156. A correspondência pessoal tanto com os antigos quanto com os
135. Meu arquivo completo de documentos da BRF está na Sala do novos diretores da BRI (2002) e com o presidente da Conferência Geral
Patrimônio da Biblioteca James White Memorial da Andrews University torna evidente que eles estão firmemente comprometidos com a política
(durante os primeiros dois anos de nossas reuniões mensais na tarde de hermenêutica da ATS.
sábado na PUC, algumas apresentações eram apenas orais, sem documentos 157. Por exemplo os Drs. Fritz Guy, Larry Geraty, Sakae Kubo e Ivan
formais). Blazen (no Seminário); e os Drs. Lorenzo Grant, Edwin Zackrison e Jerry
136. Veja nota 135 para a reunião de 1950. Gladson (na Universidade Southern).
137. “Let Us Have an Associate Secretary for Bible Research in the 158. Veja a seção 8, “Interpretação correta de Daniel 8:14”.
Ministerial Association.” Enviei esta proposta para Le Roy Froom, fundador 159. Mat 25:40.
da Associação Ministerial e meu amigo pessoal por 28 anos; R. Allan 160. A carta de W. W. Prescott está arquivada nos arquivos da
Anderson, atual diretor da Associação Ministerial e W. E. Read. Conferência Geral.
138. “A Draft Proposal for a Seventh-day Adventist Institute of Biblical 161. Veja a nota 35.
Studies” (Uma proposta preliminar para um Instituto Adventista do Sétimo 162. 2 Ped 3:18.
Dia de Estudos Bíblicos, 14 pp.) Anexado a este documento estava “Twenty-
five Years of Cooperative Research-type Bible Study” (Vinte e Cinco anos __________________________________________
de Estudo Bíblico Colaborativo em Estilo Pesquisa), no qual revisei os
eventos dos anos de 1940 a 1966. O apêndice tinha a intenção de fornecer-
lhe informações sobre o que havia acontecido nos estudos bíblicos
adventistas durante sua ausência prolongada.
139. Raymond F. Cottrell, “The Untold Story of the Bible Commentary”
(A História Não Contada do Comentário Bíblico), Spectrum 16:3 (agosto de
1985), pp. 34–51. O Comentário não identificou os autores por causa de
numerosas mudanças editoriais feitas em algumas contribuições. Meu artigo
lista todos os contribuintes.
140. Veja pág. 10 de qualquer volume do Comentário.
141. Entre os primeiros “professores da Bíblia” adventistas––como
estudiosos da Bíblia eram então chamados––a freqüentar as universidades
“externas” estavam: R. E. L. Oasby, E .C. Banks, S. H. Horn, W. G. C.
Murdoch, E. R.Thiele, L. H. Wood e A. G. Maxwell. Eles matavam aulas
de teologia e se concentravam em matérias como linguas bíblicas, a história
da antiguidade, a arqueologia e a cronologia.
142. “Atas da Reunião da Primavera do Conselho Geral de 4 de abril de
1969”.
143. No outono de 1968, R. H. Pierson convidou W. J. Hackett para
atuar como vice-presidente da Conferência Geral. Eles haviam feito amizade
durante uma viagem of Instituto de Geociências em 1968. Hackett
confidenciou-me que um de seus principais objetivos era “limpar as
faculdades de teologia” nas universidades de Loma Linda e Andrews.
144. Um amigo pessoal meu e colega na faculdade de religião do Southern
Adventist College, compartilhou essa informação comigo.
145. Veja meu artigo “Architects of Crisis: A Decade of Obscurantism”
(Arquitetos da Crise: Uma Década do Obscurantismo, 40 pp.).
146. Por exemplo, W. G. C. Murdoch, S. H. Horn, E. E. Heppenstall.

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