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Revista de Arquelogia romana

A Igreja de S. Gião
(Nazaré)
Ano I - nº 1 - Abril 2012

OS SEGREDOS SUBAQUÁTICOS
DE CALLIPUS

Fundeadouro da Berlenga e o
seu potencial arqueológico

O Projecto IPSIIS
Índice
Editorial pág. 4
Notícias  pág. 6
Igreja de S. Gião da Fundeadouro da Berlenga
Nazaré e o seu potencial arqueológico  pág. 16
Todos os investigadores que
até à data estudaram S.Gião da VISITE - Museu Arqueológico do Carmo  pág. 23
Destaque

Nazaré classificam esta igreja como

Índice
Cortiçais
sendo de origem visigótica.
Terão sido levados a isso pela ex- História de um naufrágio romano em Peniche  pág. 24
istência da parede que divide o cru- Transportando vinho pelo Mosela.
zeiro da nave central da igreja,
constituído por uma porta e duas O “barco do vinho” de Neumagen.  pág. 28
janelas com arcos ultrapassados, O Projecto IPSIIS  pág. 32
iconóstase.
Por Adriano Monteiro, Engº. Uma Villa romana no Rossio da Pederneira?  pág. 36
pág. 42 A igreja de São Gião da Nazaré pág. 42
Foto-reportagem  pág. 50
Mosaico de Cós – “Os relatos de J.L.Vasconcelos”  pág. 56

Fundeadouro da Berlenga e o O Acampamento romano


seu potencial arqueológico de Alto dos Cacos (Almeirim)  pág. 60
Por Alexandre Monteiro
pág.16 Uma peça um Museu – Museu Dr. Joaquim Manso pág. 63
Os Segredos Subaquáticos de Callipus (Sado) pág. 64
“LUDI CEREALES” – Os ovos da pascoa  pág. 70
O Projecto IPSIIS O Desenho e a Ilustração na Arqueologia  pág. 74
Por José de Sousa
O mosaico Romano pág. 81
pág.32
Sabia que... «As mulheres em Roma…»  pág. 86
Lendas e Estórias  pág. 93
OS SEGREDOS SUBAQUÁTICOS DE CALLIPUS Roteiro Arqueológico Romano
Por: Sónia Bombico
pág.64 do Concelho de Cascais  pág. 94
pág. 2 pág. 3
palestra no local sobre essa importante
Proteger e gerir a mudança Villa Romana pelos arqueólogos respon-
Ficha Técnica
Direcção:
sáveis na sua escavação, Professor Dou- Director: Raúl Losada
tor José d’Encarnação e o Mestre Arqueól-
E
Dir. Científica e Redactorial: Filomena Barata

Editorial
m Abril comemora-se o Dia Internac- ogo Guilherme Cardoso. Dir. de Imagem e de Arte: Miguel Rosenstok
ional dos Monumentos e Sítios, este ano Em Maio, esperamos, com a adesão ao
Dia dos Museus, poder também contribuir Contactos:
sob o lema “proteger e gerir a mudança”,
para a divulgação do Património Móvel ro- geral: portugal.romano@gmail.com
um tema proposto pelo ICOMOS (Con- publicidade: info@portugalromano.com
selho Internacional dos Monumentos e mano.
Sítios) a que o (extinto) IGESPAR se as- Colaboradores externos neste número:
socia, tendo como parceiras muitas enti- Em todos os projectos existe um objectivo, Alexandre Monteiro; Maria Duran Kremer;
dades públicas e privadas. o nosso são as pessoas, portugueses, Guilherme Cardoso; José de Sousa;
do Turismo de Portugal: hoje, mais que
Do nosso ponto de vista, o tema selec- espanhóis, brasileiros, ingleses, um sem Adriano Monteiro; Carlos Fidalgo
ontem, é a grande solução para a nossa Sónia Bombico; Duarte Fernandes Pinto;
cionado adequa-se na perfeição a este número de pessoas que nos acompan-
economia familiar e nacional.
projecto «Portugal Romano» e à missão ham, que partilham e recebem informação César Figueiredo; João Pimenta.
que diariamente tentamos levar a cabo, sobre o nosso património romano e que
No sentido de PROTEGER o nosso Estatuto editorial
em prol do legado romano em Portugal. connosco querem colaborar nesta tarefa
património, o projecto «Portugal Romano. 1. A PortugalRomano.com é uma publicação bimensal, po-
Os dias que correm em Portugal são de conhecer e conservar uma herança co- dendo vir a tornar-se mensal, que aborda várias temáticas
com» vai desenvolver algumas iniciativas
difíceis, com resultados nefastos para o mum. relacionadas com a Arqueologia e a História, com especial
durante o mês de Abril, sendo esta a nos- ênfase para a ocupação romana do actual território por-
nosso património arqueológico que tem Hoje quero saudar um de vós e, com este
sa forma de comemorar a data Mundial tuguês. Os princípios que aqui se descrevem também se
sido, em muitos casos, um alvo fácil para acto simbólico, fazer saudação e agra- aplicam ao site ou a qualquer outra extensão de marca Por-
dedicada aos Monumentos e sítios.
atentados à sua integridade. Será a altura decimento a todos, pela presença desde tugalRomano.com .
Destaco a iniciativa a realizar na Cidade 2. A PortugalRomano.com respeita os direitos e deveres
de GERIR A MUDANÇA, “desenterrar” a primeira hora, pela colaboração, pelo in- constitucionais da Liberdade de Expressão e de Informação.
Romana de Miróbriga, Santiago do Cacém,
novamente este potencial de riqueza ar- centivo e apoio. Obrigado Teresa Teresa 3. A PortugalRomano.com rege-se por critérios jornalísticos
onde será apresentado novamente o pro- e científicos de Rigor e Isenção, respeitando todas as opin-
queológica e direccionar esforços para o Monteverde Plantier Saraiva!
jecto e excerto do documentário que nos iões ou crenças.
seu enraizamento no turismo cultural, em Espero que este Número 1 da Revista 4. Os jornalistas da PortugalRomano.com comprometem-
encontramos a elaborar sobre este sítio
franca expansão na Europa. «Portugal Romano.com» seja do vosso se a respeitar escrupulosamente o código deontológico de
arqueológico, em parceria com a Liga de jornalistas e princípios éticos dos especialistas da área da
Os Municípios e entidades governamen- agrado, pois tem sido para esta equipa um História e Arqueologia.
Amigos de Miróbriga.
tais devem e podem ajudar nesta mudan- enorme prazer poder concebê-la e levar 5. Todos os textos e imagens veiculados pela PortugalRo-
Iremos também realizar um passeio ar- mano.com em qualquer suporte são de autoria reconhecida.
ça. Não é altura para nos escondermos, é por diante a sua elaboração com o con-
queológico em Olisipo, “A Lisboa Roma- 6. A PortugalRomano.com distingue, criteriosamente, as
hora de agir, criar e promover. tributo de arqueólogos e de investigadores notícias do conteúdo opinativo, reservando-se o direito de
na”, porque o conhecimento dos locais e a
A nossa história continua por contar em a quem aproveito também para saudar e ordenar, interp- retar e relacionar os factos e acontecimen-
sua divulgação são o caminho para a sua tos.
muitos recantos de Portugal. A divulgação agradecer. 7. A PortugalRomano.com compromete-se a respeitar o
protecção e valorização.
deste sítios pode ser uma nova fonte de A partilha de conhecimento e divulgação sigilo das suas fontes de informação, quando solicitado,
Para finalizar o mês de Abril teremos não admitindo, em nenhuma circunstância, a quebra desse
riqueza para as forças vivas dos Municí- é mais um passo para Proteger e gerir a
ainda uma acção de voluntariado na Villa princípio.
pios e uma importante ajuda para ajudar mudança! 8. A PortugalRomano.com cumpre a Lei de Imprensa e as
Romana de Freiria em parceria com o Mu- orientações definidas neste Estatuto Editorial e pela sua Di-
todos os Portugueses a ultrapassar a Cri- nicípio de Cascais, que terá como objec- reção.
se, pois permite sedimentar integridades tivo colaborar na sua limpeza e corte de 9. A PortugalRomano.com, na sua revista, tem um Director,
culturais e encontrar novos recursos. Raúl Losada uma Direcção Científica e Redactorial e uma Direcção de
vegetação. Imagem e de Arte, podendo vir a sentir-se a necessidade de
“Faça férias cá dentro” dizia o slogan Esta iniciativa será completada com uma vir a ser criado futuramente um Conselho editorial.

pág. 4 pág. 5
Apresentação Encontrharte Descobertas ossadas “Foram encontrados 52 fragmentos de cor-
pos, que serão da época romana”, confir-
Os primeiros Encontros de História da Arte da romanas mou ao CM Macário Correia, presidente da

junto a Faro
Antiguidade, Encontrharte, pretendem reunir Câmara Municipal de Faro, acrescentando
um conjunto de estudiosos especializados em que está a ser feito um levantamento de
diferentes áreas de investigação (pintura, es-
cultura, arquitectura, mosaico, cerâmica grega,
tudo, no local, por uma equipa de técnicos
entre outros) da História da Arte da Antiguidade D esde finais de Dezembro que estão a de arqueologia da Estradas de Portugal.
Clássica e Tardia em Portugal e em Espanha. ser desenterradas ossadas, que se sus-
É sua ambição, igualmente, dar a conhecer peitam ser da época romana, na zona da
o potencial metodológico da História da Arte
Ribeira da Lavadeira, em frente à Pista Na área, foram descobertas várias campas
Notícias

através da sua articulação com áreas disciplin-


ares distintas como a Arqueologia, a História, a de Atletismo de Faro. Foram descobertas com ossadas humanas e a maioria delas
Filososofia, a Literatura, a Geologia. Artísticos da Lusitânia organizado em três quando estavam a ser realizadas escav- já foram abertas e os corpos foram trans-
O Encontrharte conta com o vigor da investi- sessões que tratarão Abordagens e Metodo- ações para a construção da Variante Norte. portados para análise. Suspeita--se que
gação científica na área da História da Arte logias, Espaços, Materiais e Formas e, final- os corpos descobertos datem da altura em
mente, Iconografias.
da Antiguidade Clássica e Tardia em Portugal, que os romanos estiveram em Faro, quan-
herdeira dos trabalhos dos Professores Bairrão A inspiração para a investigação em História da
Arte será sempre a importância inteligível do do a cidade se denominava Ossónoba, no
Oleiro e Justino Maciel, renovando-se numa período entre os séculos III a. C. e V d. C.
geração de jovens investigadores. olhar, numa aprendizagem constante da leitura
O tema deste 1º Encontrharte é Horizontes e compreensão da linguagem da obra da Arte. Foram ainda desenterrados vários artefac-
tos.

Enquanto estiverem a decorrer as escav-


“A Mulher Romana” no Museu ações, o que, ao que tudo indica, deverá
demorar mais um mês, as obras da Vari-
Municipal de Vila Pouca de Aguiar ante Norte de Faro à Estrada Nacional 125
não vão poder avançar na zona. Macário
“A Mulher Romana nas moedas do Museu de Vila Real” Correia reconhece o impedimento das
é o tema da exposição actualmente patente no Museu Mu- obras, mas lembra que aquela não é a
nicipal de Vila Pouca de Aguiar até o próximo dia 4 de Maio.
única razão para que haja atrasos na con-
Trata-se de mais uma oportunidade para apreciar a importân- strução da Variante.
cia das mulheres ao longo da história do Império Romano “Há vários troços, que não têm nada a ver
- mães, esposas, filhas, amantes, mais ou menos sérias, com aquele local, que já poderiam ter sido
ardilosas, astutas, inteligentes... mulheres. Representadas construídos e ainda não o foram. O mo-
nas moedas do Museu de Arqueologia e Numismática de
Vila Real, em nome próprio ou como divindades. As obras estão paradas desde essa altura tivo por ainda não terem sido construídos
e só deverão arrancar quando estiver feito prende-se com razões financeiras, e não
O espólio composto por 18 painéis e moedas insere-se na todo o levantamento arqueológico, daqui a por essas escavações arqueológicas”,
itinerância do Museu de Arqueologia e Numismática de mais um mês. referiu o autarca farense.
Vila Real e pode ser vista de 3ª a 6ªfeira, 14H00 às 17H30,
Sábado e Domingo, 15H00 às 17H30. Fonte: Correio da Manhã (foto:Tiago Griff)
Mais informações: Tel: 259403133 / 961537588
E-mail: geral@vitaguiar

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al Arqueologia, Dr. Luís Raposo, na justificação
Inscrição do Cabeço das geral da exposição, “(...) a pretendida eternidade Reabertura do núcleo Campo Arqueológico de Mértola
Fráguas no Museu Nacional da civilização latina (Roma aeterna) será nesta museológico Casa Romana Cursos Livres 2012 - Técnicas de Registo
exposição confrontada com as fortes continui-
de Arqueologia dades locais, que remontam à Pré-história e se do Museu de Mértola em Arqueologia
manifestam até à actualidade na cultural popular
portuguesa. Para o 1º Semestre de 2012, o Campo
Neste quadro, a Lusitânia emergirá como uma Arqueológico de Mértola realiza quatro
eternidade por si própria (Lusitania aeterna), in-
corporando valores indígenas e autóctones, de
Cursos Livres, relacionados com as Téc-
tal forma que as crenças do presente podem ser nicas de Registo em Arqueologia. Este
iluminadas por estas raízes profundas, de tão tipo de cursos livres inserem-se no plano
longa duração (...)”. formativo desta instituição, tendo como
objectivo formar e diversificar o conheci-
Fonte: Museu da Guarda
Foto: Correio da Guarda mento intrínseco à matéria da Arqueologia
e Património. Os destinatários destes cur-
sos de livre configuração são sobretudo
estudantes de Arqueologia e profissionais
No âmbito da iniciativa da Câmara Mu- da área da Arqueologia e Património que
nicipal de Mértola “Lembrar Serrão Mar- sentem a necessidade de aprofundar con-
O molde da inscrição do Cabeço das Fráguas, Dia Internacional tins”, reabre no dia 27 de março, às 17h30, hecimentos em áreas pouco desenvolvi-
pertencente ao Museu da Guarda e executado dos Monumentos o núcleo museológico Casa Romana. das na sua formação profissional ou até
pelo Instituto Arqueológico Alemão, integra, ac- mesmo académica. Os cursos livres, se-
tualmente, a exposição temporária “Religiões da e Sítios Neste núcleo museológico, inaugurado há gundo a temática, poderão ter a duração
Lusitânia. Loquuntur saxa” do Museu Nacional
24 anos, procedeu-se a uma remodelação de um a três dias, com horário total de
de Arqueologia. 18 de Abril
Recorde-se que este molde foi apresentado pela total da exposição permanente que conta sete horas diárias, com sessões teóricas
primeira vez na exposição temporária “Porcom, com a introdução de novos objetos repre- e práticas, segundo a programação desti-
Oilam, Taurom |Cabeço das Fráguas, o santuário sentativos das intervenções arqueológicas nada a cada curso.
no seu contexto” realizada a 30 de Maio de 2010. Do Património Mundial ao Património Local: realizadas em Mértola nos últimos anos, e
proteger e gerir a mudança Desenho de Materiais Arqueológicos - por
Trata-se de uma cópia, à escala natural, do texto com a alteração de conteúdos e do design
Vários locais Guida Casella -
epigrafado numa rocha, localizada no santuário
gráfico dos suportes informativos. 30 e 31 de Março de 2012
do Cabeço das Fráguas, no ponto mais elevado
de um recinto fortificado, ao qual se terão deslo- Tendo por base a proposta do ICOMOS (Con- A remodelação deste núcleo museológico Ilustração para Interpretação e Divulgação
cado as populações das terras em redor para selho Internacional dos Monumentos e Sítios) foi possível graças ao Projeto Rede Ur- de Património - por Guida Casella -
para 2012, o IGESPAR convida todas as enti- bana para o Património, financiado pelo
celebrar os seus ritos, desde o século VIII a.C ao
dades, públicas e privadas, a associarem-se à
20 e 21 de Abril de 2012
final do século I d.C. Programa Inalentejo, e à colaboração do Fotografia básica para arqueologia: estru-
O texto descreve um sacrifício de tipo suovetau- celebração deste dia, subordinado ao tema Do
Património Mundial ao Património Local – prote- Campo Arqueológico de Mértola no que turas e peças – por Rossana Torres –
rilia dedicado a várias divindades indígenas. Ao
ger e gerir a mudança. respeita à atualização de conteúdos e 18 e 19 Maio de 2012
apresentar um texto religioso de língua indígena
em alfabeto latino, esta inscrição é também um conservação e restauro de objetos. Sistemas de Informação Geográfica em
importante testemunho da romanização dos cul- À semelhança das edições anteriores o IGES- Arqueologia – Dados e Métodos – por An-
PAR apresentará uma programação geral das in Site Câmara Municipal de Mértola
tos indígenas, daí o seu perfeito enquadramento,
actividades que vierem a ter lugar, procedendo à
dré Mano -7, 8 e 9 Junho de 2012
na exposição temporária do Museu Nacional de
Arqueologia. respectiva divulgação.
Mais informações em: http://www.camertola.pt/article/cur-
Tal como escreve o Director do Museu Nacion- sos-livres-2012-tecnicas-de-registo-em-arqueologia

pág. 8 pág. 9
Valorização do “Teatro romano de Bracara Augusta”
Museu de Arqueologia D. Diogo de Sousa
De 30 de Março a 22 de Abril de 2012

Objecto de Intervenção: Vestígios do Teatro Ro-


Atravessaram meia Europa.
E xposição das Propostas de Valorização das mano de Bracara Augusta, edifício do inicio do Travaram batalhas intermináveis.
ruínas arqueológicas do “Teatro romano de Bra- século II d.C., localizado no Alto da Cividade, em
cara Augusta” realizadas no âmbito do Curso Braga. Dominaram durante quatro séculos.
CEAPA-FAUP (Metodologias de Projecto – Se-
mestre 1) sob a regência do Prof. Pedro Alarcão. Programa da Intervenção: Pretende-se o estudo
e desenvolvimento de uma solução que garanta
Exposição e Apresentação das propostas de val-
orização das ruínas arqueológicas do “Teatro ro-
a conservação dos vestígios arqueológicos, a
sua fruição pública, o aumento dos seus níveis
Porquê?
mano de Bracara Augusta” de inteligibilidade e, procurando dar resposta à
Carta de Verona e à Declaração de Segesta, per- Julgamos ter a resposta.
Tema – Conservação, reconstituição ou reabili- mita dotar o espaço de condições mínimas para
tação do património arqueológico acolher espectáculos de pequena dimensão.

Entendido numa vertente arqueológica, este A proposta, que deverá integrar as construções
Produtos tradicionais portugueses.
património, fragmento de uma arquitectura do
Directamente do produtor para si.
de apoio à visita das Termas Romanas (Posto de
passado, como a ruína, denuncia, simultanea- Atendimento, Sanitários para público e Cobertu-
mente, uma presença e uma ausência. A sua ex- ra), da autoria do Arq. Sérgio Borges, deverá
igência de inteligibilidade é, antes de mais, um ter em conta a resposta aos seguintes requisi-
convite à reconstrução, que será proposto aos tos: acessos e vedação, percursos de visita, dis- Praceta Fernando Valle, 2º
estudantes através do desenho, tal como foi uti- positivo para exposição de vestígios do teatro, 1750-489 Lisboa
lizado na origem, como instrumento de concep- espaço para espectáculos (com lotação mínima comercial@aroundfield.pt
ção, mas no sentido inverso, da ruína ao edifício, de 500 espectadores, bastidores com sanitário e www.aroundfield.pt
ou à cidade. balneário e sanitários para público). www.villaportucale.com
T: (+351) 210 992 871
pág. 10 M: (+351) 919 853 537 pág. 11
Direção regional de Cultura do Placa Votiva de Salacia
Algarve promove «Festa do Livro» Revista
“Epigrafia romana recentemente publica-
da e descoberta em Outubro de 2011 por
Justino Pedro na área do Forum de Sala-
cia (actual Alcácer do Sal), referente a um
Liberto Quinto Pórcio (ou Pompeu).
“Atendendo ao facto de Salacia ter sido
Imperatoria, uma designação atribuída
por Sexto Pompeu, filho do Quinto, dito
«o Magno», seria aliciante pensar que PO
(do O temos apenas a metade) pudesse
desdobrar-se em POMPEI. 1

A direção regional de Cultura do Algarve


promove, entre os dias 1 e 22 de abril, a
«Festa do Livro», com o objetivo de po-
tenciar a difusão de conhecimento nesta
área, através da realização de grandes

Tempos Diferentes requerem


descontos em publicações de referência.
A iniciativa irá decorrer nas lojas da For-
taleza de Sagres (Vila do Bispo) e Villa Ro-
mana de Milreu, onde todos os visitantes
poderão usufruir de grandes descontos
em publicações técnicas e científicas liga-
soluções diferentes
das ao património, mas também a outros
universos culturais.
Esta é uma excelente oportunidade não DEDICA/VIT // [Q(uintus] · PORCI (vel Revista Portugalromano.com, soluções de publicidade à sua medida.
só para estudantes, como para todos os POMPEI)]VS
interessados em áreas como história, ar- (hedera) Q(uinti) · PO[RCI vel MPEI] / [LIB
queologia, arquitetura e fotografia, que (ertus)] ·
poderão adquirir livros a partir de 1 euro. [H]EMERO[S] Mais informações:
A iniciativa associa-se à comemoração do
Dia Internacional dos Monumentos e Sí- «Dedicou Quinto Pórcio (ou Pompeu) portugal.romano@gmail.com
tios, que pretende sensibilizar os cidadãos Hémero, liberto de info@portugalromano.com
para a diversidade e vulnerabilidade do Quinto Pórcio (ou Pompeu).»
património, bem como para o esforço en-
(1) excerto em http://www.uc.pt/fluc/iarq/pdfs/Pdfs_FE/
volvido na sua protecção. FE_93_2012 - por José d’Encarnação e Marisol Ferreira.

pág. 12 pág. 13
uma iniciativa

«Na Antiga Roma e nesta precisa época do ano, ofereciam-se

LUDI CEREALES a Ceres – a principal deusa que tutelava o «renascimento» da


Natureza por ocasião do despertar da Primavera – ovos, símbolo
de fecundidade, de fertilidade e do próprio mundo, que a deusa
Divulgação

tinha de novo enriquecido com a germinação dos cereais.» Hoje,


Vem decorar ovos para Ceres! a nossa Páscoa retoma e recupera essa tradição, que remonta há
25 séculos!

Assim, no final desta actividade, todos vão compreender que


muitos dos costumes actuais têm a sua origem nos festivais
pagãos da Antiguidade Greco-Romana, e como esta velha prática
passou a fazer parte de uma das mais importantes celebrações
do Ano Cristão.

Decorar ovos para Ceres será, pois, a actividade proposta!

Público-alvo: dos 5 aos 12 anos

Sábado, dia 14 de Abril, pelas 14.30


estamos á vossa espera Acesso: 4 euros mediante inscrição prévia no museu

MORADA
Museu Arqueológico de São Miguel de Odrinhas
Av. Prof. Dr. D. Fernando de Almeida, São Miguel de Odrinhas,
São João das Lampas, Sintra

TLF (+351) 219 609 520

Divulgação e educação
divulgacao-masmo@sintraquorum.pt

pág. 14 pág. 15
FUNDEADOURO DA BERLENGA E O
SEU POTENCIAL ARQUEOLÓGICO
A pesar dos mitos sobre a perigosi-
dade da navegação para além do Estreito
(Peniche) de Gibraltar, está implícita nos testemun-
hos dos geógrafos e historiadores da An-
por: Alexandre Monteiro tiguidade a evidência de uma navegação
foto: Duarte Fernandes Pinto de rotina ao longo da costa atlântica da
A Terceira Dimensão - Fotografia Aérea
Península Ibérica tanto mais que as exce-
lentes qualidades náuticas dos navios de
tradição mediterrânica da época romana
– designadamente dos próprios navios de
carga de grande tonelagem – permitiam-
lhes remontar ao vento, bolinando em
condições que os levavam a navegar, vin-
dos do Mediterrâneo, para além do cabo
de São Vicente.

Presença Romana no mar das Berlengas

Testemunho irrefutável da presença ro-


mana, o mar das Berlengas apresenta
actualmente o maior conjunto, conhecido
de ânforas provenientes de meio marítimo
português – facto que tem, aliás, um com-
plemento imediato nos achados de cepos
de âncora em chumbo. Com efeito, entre
1984 e 1988 foram recuperadas cerca de
uma dúzia de ânforas romanas, a sud-
este do Carreiro do Mosteiro e a cerca de
23 metros de profundidade. Destas duas
eram do tipo Dressel 1 bem como algu-
mas Lusitanas – tipos 2 e 4 – compreen-
didas entre a primeira metade do século
I e os finais do século II; e deste até aos
finais do século V, respectivamente.

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Em todo o caso, o tipo Haltern 70 – datáv- e salvadores dos náufragos, símbolo por do Pessegueiro – em que escavações e cronológica (República, Alto e Baixo
el de um período compreendido entre os excelência da navegação tranquila. arqueológicas mostraram uma ocupação Império) que sugerem uma ocupação, se
meados do século I a.C. e os meados do romana compreendida entre os séculos I não continuada no tempo, pelo menos
século seguinte – surge como o mais bem O mais antigo cepo de âncora e IV d.C. – é de supor que um território frequente. A presença de material de
representado, correspondendo a cerca de conhecido de toda a Antiguidade deste tipo, a uma distância confortável da construção, nomeadamente tegulae,
50% das ânforas registadas. costa e rica em recursos naturais, tenha poderá indiciar a existência de estruturas
Curiosamente, um dos grandes cepos re- atraído pescadores que se estabeleceram construídas no local, em cota mais ele-
Complementarmente aos achados de ân- cuperados na Berlenga possuía ainda al- na ilha de uma forma mais ou menos per- vada, preservadas ou não.
foras, foi localizada uma vintena de cepos guns fragmentos da alma de madeira, o
de âncora em chumbo – habitualmente que permitiu determinar por radiocarbono
atribuídos à época romana quando, na o período da sua manufactura. A sua da-
realidade, se considera hoje que a sua tação – compreendida entre os finais do
utilização se terá generalizado a partir do século V e o início do século IV a.C. – faz
século IV a.C. – a maioria dos quais recu- com que este cepo pré-romano seja o
peradas de uma zona, ao largo, definida mais antigo cepo de âncora conhecido de

Mergulhador Nuno Tiago em registo subaquático nos Cortiçais (costa sul de Peniche). (Foto de Leonel Silva)
Cepos Romanos do Museu de Peniche
pela área compreendida entre o Carreiro manente, à semelhança do que ocorre Já no que respeita a achados subaquáti-
do Mosteiro, a Fortaleza, o Melreu e a en- toda a Antiguidade podendo mesmo fazer hoje em dia. Com efeito, na escavação cos – para além das bocas de fogo assinal-
seada de Flandres. Alguns destes cepos recuar a data em que se pensava ter ocor- arqueológica conduzida no passado pelas adas junto à fortaleza e a um esplêndido
apresentam motivos decorativos, nome- rido a generalização do uso de cepos em arqueólogas Jacinta Bugalhão e Sandra berço em bronze de tipologia manuelina,
adamente ossinhos em relevo em duas chumbo no Mediterrâneo. Lourenço, do antigo Instituto Português recuperado em 1982 e a 25 metros de
faces alternadas dos braços – alinhados de Arqueologia, foram encontrados, não profundidade por uma equipa do Museu
no lance da sorte representam o talus, o O potencial arqueológico só vestígios do Mosteiro, como também do Mar de Cascais – destacam-se os
jogo mais popular da Antiguidade, com do arquipélago – e algo surpreendentemente – mate- vestígios da Antiguidade, nomeadamente
um significado augural e auspicioso – e riais arqueológicos romanos, em quanti- ânforas e cepos.
golfinhos – protectores dos navegantes À semelhança do que ocorre com a ilha dade, qualidade e diversidade tipológica Não é possível estabelecer com seguran-

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ça as razões das perdas dos cepos des- quentada por mergulhadores amadores – ados neste artigo. Estamos em crer que o século XX, ocorreram tantos naufrágios,
cobertos nas Berlengas, tanto mais que a facto naturalmente propício a uma maior potencial arqueológico desta ilhas é imen- por força maior ocorreriam muitos mais
maioria dos fundos onde os achados se frequência de descobertas – isso não im- so. Para tal contribuem as boas condições nos séculos antecedentes – e o relativo
verificaram não é de molde a justificar, pede que seja colocada a hipótese de se de preservação dos fundos arenosos, a desconhecimento dos fundos em volta.
aparentemente, perdas por prisão ou re- estar em presença de vestígios de naufrá- relativa profundidade, a navegabilidade Quem sabe que surpresas nos reservará
tenção. Naturalmente, nestas condições, gios. Tal hipótese poderá ser corroborada perigosa destas paragens – se em pleno o próximo mergulho nas Berlengas?
a hipóteses de provirem de naufrágios pelo facto de existir, percentualmente,
parece aliciante, mas até à data nenhuma uma grande concentração de ânforas do
evidência arqueológica permite ainda fun- tipo Haltern 70 a indiciar um naufrágio da-
damentar esta hipótese. tável de cerca do século I a.C. e até por

Moeda romana

Sestertius 32mm emissão


de Roma em 131 d.C.

Anverso:
HADRIANVS AVGVSTVS,

Renverso:
Embarcação com cinco re-
madores a navegar através
das ondas,
FELICITATI / AVG em duas
linhas em cima, COS III P P
em baixo, S - C à esquerda
e à direita.

Quanto às ânforas – que, enquanto carga terem existido cepos muito próximos uns
de barcos nos permitem aferir cronolo- dos outros, nas proximidades dos quais
gias por associação entre vários tipos e foram achados fragmentos de cerâmica. foto: Vista aérea de Peniche - Autor: Duarte Fernandes Pinto - A Terceira Dimensão - Fotografia Aérea
variantes de ânforas ou com outros ma-
teriais datáveis, assim como rotas de trá- Mas, mais uma vez, esta hipótese perde Bibliografia
fico marítimo – estão muito longe de ter consistência pela até não verificação da ALVES, F. et al (1989) Os cepos de âncora em chumbo descobertos em águas portuguesas – contribuição
a importância de que à primeira vista se existência de madeirame e pela dispersão para uma reflexão sobre a navegação ao longo da costa atlântica da Península Ibérica na Antiguidade. In O
poderia pensar. Com efeito, trata-se de dos achados, o que parece apontar para Arqueólogo Português, série IV. Vol. 6/7.
ALVES, F. (1994) Os dois cepos de âncora em chumbo pré-romanos da ilha Berlenga. Relatório. Lisboa: Centro
materiais de associação duvidosa e até que as Berlengas tenham sido, antes Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática
mesmo de localização imprecisa, numa como agora, uma concorrida zona de abri- BANDEIRA, L. (1984) “Berço Manuelino” recuperado ao largo das Berlengas. In Série Arqueológica, vol. 1,
disposição consistente com existência de go, de escala e de espera de condições Museu do Mar. Cascais: Câmara Municipal de Cascais.
BUGALHÃO, J. & LOURENÇO, S. (2001) Ilha da Berlenga, Bairro dos Pescadores: relatório dos trabalhos ar-
um fundeadouro milenar. de navegação propícias, para além de, queológicos. Relatório interno. Lisboa: Instituto Português de Arqueologia
como é óbvio, haver ainda uma zona de DIOGO, A. (1999) Ânforas provenientes de achados marítimos na costa portuguesa. In Revista Portuguesa de
Por outro lado, se esta relativamente “el- ancoradouro no apoio ao povoado insular. Arqueologia, 2:1. Lisboa: Instituto Português de Arqueologia.
evada” taxa de localização de ânforas e FERREIRO LOPEZ, M. (1988) La campaña militar de Cesar en el año 61. In MENAUT, G. ed., Actas del 1º
Congreso Peninsular de Historia Antigua. Santiago de Compostela: Universidad de Santiago de Compostela.
cepos de chumbo é justificável por a Ber- O que não quer dizer que não existam SANTOS, J. (1994) As Berlengas e os Piratas. Lisboa: Academia de Marinha
lenga ser uma das áreas do país mais fre- mais naufrágios, para além dos referenci- TRINDADE, J. (1985) Memórias Históricas. Lisboa: INCM/Câmara Municipal de Óbidos.

pág. 20 pág. 21
Visite

MUseu Arqueológico do Carmo

Informações

Divulgação
Morada:
Calçada do Carmo 40
1200 Lisboa

GPS:
38.712886, -9.140979

Mapa no Google:
http://g.co/maps/bxx7t

Site:
www.museuarqueologicodocarmo.pt/p_museu.html

Horário:
De Segunda a Sábado das 10h00 ás
18h00 (Outubro a Maio)

De Segunda a Sábado das 10h00 ás


19h00 (Junho a Setembro)

Teatro Romano de Olisipo (Lisboa)


foto: Raul Losada

pág. 22 pág. 23
O início da nossa história remonta à
Primavera de 2004, quando Luís Santos
Jorge, caçador submarino, avistou alguns
fragmentos cerâmicos por entre o fundo
rochoso dos Cortiçais (costa sul de Pen-
iche). No final do mesmo ano, foram re-
alizadas missões subaquáticas de veri-
ficação do local sob a responsabilidade
do arqueólogo Jean-Yves Blot, convidado
pela DANS (Divisão de Arqueologia Náu-
tica e Subaquática) e com a participação
de alguns mergulhadores do GEPS
(Grupo de Estudos e Pesquisas Sub-
aquáticas), do Clube Naval de Peniche e
do próprio achador. O material cerâmico
recolhido nessas primeiras missões foi
caracterizado por A. M. Dias Diogo como
fragmentos de ânforas romanas de tipo
Haltern 70 provenientes da província ro-
mana da Bética (actual Andaluzia).

Cortiçais - História de um naufrágio O apoio da Câmara Municipal de Pen-


iche, a colaboração do GEPS, de alunos

romano em Peniche de Arqueologia da Universidade de Coim-


bra, de Mário Jorge Almeida (Museu Na-
cional de Arqueologia) e de um conjunto
de mergulhadores entusiastas da arqueo-
logia subaquática permitiu a progressão
dos trabalhos por mais dois anos.
Limpeza de fragmentos de ânforas com sugadora
foto: Gonçalo de Carvalho

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O sítio surge em perfeita relação com
um conjunto de outros vestígios já docu-
mentados para a região, entre os quais
os fornos romanos do Murraçal da Ajuda,
produtores de ânforas, e os vestígios ar-
queológicos da ocupação romana da ilha
Berlenga e utilização do seu fundead-
ouro.

A recuperação de materiais romanos em


alguns contextos do Tejo, do Arade e na
costa algarvia, tem permitido caracterizá- Chegada ao Cais das Gaivotas após um dia de trabalho
los como presumíveis locais de naufrágio. foto: Jen-Yves Blot
No entanto, as sondagens arqueológicas
efectuadas no sítio dos Cortiçais transfor-
maram-no no primeiro caso confirmado
de um naufrágio de época romana em
águas portuguesas.

Enquanto aguardamos que novas cam-


panhas tenham lugar, o mar de Peniche
continuará a guardar os segredos de um
dia de infortúnio para os marinheiros ro-
manos.
Arqueólogas Sónia Bombico e Carla Maricato em processo de escavação Processo de inventariação de fragmentos cerâmicos.
foto: Gonçalo de Carvalho foto: Jean-Yves Blot

Desta forma, o sítio foi alvo de duas cam- a.C. e 15 d.C.


panhas subaquáticas de sondagem e es- Mas o que faria uma embarcação romana,
cavação, realizadas no Verão de 2005 e com uma carga maioritária de vinho da
2006, respectivamente. Na sequência dos Bética, nas águas ao largo de Peniche?
trabalhos submarinos foram, ainda, reali- A localização do naufrágio dos Cortiçais
zadas outras duas campanhas de trata- é evidência clara da utilização de uma
mento de material, realizadas no período rota atlântica de circum-navegação da
invernal. Península Ibérica com destino às provín-
cias setentrionais da Britannia e ao limes
Para além das ânforas vinárias foram germânico, abastecedora das populações
identificados fragmentos de cerâmica de romanizadas e dos exércitos aí acantona- Ilha da Berlenga
foto: Duarte Fernandes Pinto
paredes finas e terra sigillata itálica, en- dos. A Terceira Dimensão - Fotografia Aérea
quadrável no período cronológico entre 15
pág. 26 pág. 27
Transportando vinho pelo Mosela.
O “barco do vinho” de Neumagen.
Introdução
Texto e fotos: Maria de Jesus DURAN KREMER
Instituto de História de Arte - FCSH/UNL
O viajante que, numa bela tarde de
Verão, partindo de Trier, desce o rio Mo-
sela até Koblência - onde vai encontrar
o Reno - atravessa certamente uma das
mais belas paisagens da Alemanha. Ser-
penteando por entre íngremes encos-
tas cobertas de vinhas por quilómetros
sem fim, plantadas num chão xistoso que
armazena o calor do Sol durante o tempo
suficiente para as uvas amadurecerem e
poderem ser vindimadas lá para o Outono,
o rio Mosela foi, no passado ( e ainda o
é, em parte), o caminho preferido para o
transporte de mercadorias. Rodeado de
montanhas em parte inóspitas, o vale do
Rio Mosela continua a ser, ainda hoje,
ponto de referência e de eleição para o
povoamento desta região.

Diz a lenda que, quase 2000 anos a.C.


Trebeta, o filho mais velho do rei assírio Ni-
nus, expulso da pátria por Semiramis, sua
madastra, veio fixar-se no vale do Mosela,
chamando à sua nova pátria “Treberis”.
Entre 58 e 50 a.C. coube a Júlio César
conquistar a Gália e fixar no rio Reno a
fronteira leste do Império Romano, domi-
nando assim igualmente a tribo celta dos

pág. 28 pág. 29
treverii. Mas, em 16 a.C. e sob Augusto, e 4 portas – das quais a porta Norte se
fundou-se junto a um templo pagão a que mantém intacta ainda hoje – Trier desen-
é hoje a cidade mais antiga da Alemanha volveu uma indústria florescente de teci-
- a augusta treverorum do romanos, Trier. dos, olaria, cultura e fabrico de vinho. As
convulsões da História, que reservaram
a esta cidade momentos de apogeu e de
destruição, não conseguiram apagar pelo
menos esta última actividade: Trier é,
ainda hoje, a capital do vinho do Mosela,
produto conhecido e apreciado em todo o
Mundo.

No entanto, a produção e exportação de


vinho, em época romana, concentrou-se
num outro ponto do Mosela: em Neum- estes barcos constituíam por assim dizer mano. Construído em Trier e reproduz-
agen, a 34 km de Trier. Foi aqui que, o “remate” superior dos mausoléus. indo o “barco do vinho de Neumagen”,
para além de uma das mais importantes mas restituindo-lhe as suas medidas origi-
praças-fortes romanas, surgiu o maior O exemplo mais conhecido desse tipo de nais (18 m de comprido, 22 remadores), o
centro vitivinícola de todo o vale. Dali par- decoração funerária é o chamado “barco stella noviomagi percorre desde então o
tiam os barcos que, rio abaixo rio acima, de vinho de Neumagen” (Neumagener Mosela, transportando todos aqueles que
asseguravam o abastecimento de cidades, Weinschiff). Encontrado igualmente nos preferem reviver a viagem feita pelos seus
aldeias e acampamentos. fundamentos de noviomagus, esta repre- antepassados há mais de 2000 anos. Com
sentação de um barco romano, datada por uma diferença: hoje, o stella noviomagi é
A riqueza que se desenvolveu com base volta de 200 d.C., não pode deixar de ser movido a motor....
na produção e comércio de vinho ficou es- interpretada como aquilo que sempre quis
pelhada para sempre nos mausoléus ro- ser: uma alegoria à riqueza do proprietário
manos de Neumagen, chegados até nós do mausoléu. Uma simbologia expressa
graças à sua posterior utilização nos fun- também pelas próprias proporções do Bibliografia escolhida
damentos de uma praça-forte tardo-roma- navio: relativamente pequeno, apresenta Auermann (S.), 2004, „Leben der Römer und Ger-
na – noviomagus – erigida em princípios manen. Geschichte, Alltag, Kunst und Kultur, Glaube
22 remos para 6 remadores, de cada lado, und Tod“, Reinhard Wez Vermittler, Mannheim, pág.
do séc. IV d.C. Depositados no Museu os quais, por sua vez, dispõem de pouco 18 – 22.
do Estado Federado da Renânia-Palati- espaço de manobra entre o convés do Binsfeld (W.), Cüppers (H.), Gilles (K.J.), Goethert-
nado (Rheinischen Landesmuseum), em barco e a carga do mesmo. No centro, 4 Polaschek (K), Schwinden (L), 1987, „2000 Weinkul-
Trier, permitem-nos admirar ainda hoje tur an Mosel-Saar-Ruwer“, Rheinischen Landesmu-
barris bem alinhados, seguros à frente por seum, Trier.
numerosos exemplares de mausoléus mais dois membros da tripulação, atrás o Bockius (R.), 2007, “Schifffahrt und Schiffbau in der
A cidade cedo se transformou num centro decorados com motivos ligados tanto à timoneiro que segura o leme. Antike”, Archäologie in Deutschland, Sonderheft
económico muito importante, chegando a produção de vinho quanto ao seu trans- 2007, Stuttgart.
contar com 60.000 habitantes. Residên- porte por barco – geralmente em barris, Thiele (K), 7.4.2007, „Wo Römer Reben pflanzten“,
A 30 de Setembro de 2007, porém, o rio
cia do praeses da provincia belgica, rode- nalguns casos em ânforas. Esculpidos, tal Mittelrheinische Zeitung.
Mosela foi de novo descido, pela primeira
ada de muralhas com 4 torres de defesa como os mausoléus, em blocos de arenito, vez desde há séculos, por um barco ro-

pág. 30 pág. 31
O Projecto IPSIIS
por: José de Sousa
fotos: projecto IPSIIS

cerâmicos, e objectos metálicos, que foram


sendo recolhidos por numerosos populares,
tendo-se generalizado a utilização de detec-
tores de metais nessa pesquisa.

No Ano de 2000, foi dado início a um projec-


to totalmente inédito no quadro da arqueolo-
gia portuguesa, consistindo numa tentativa
de dar uma resposta adequada aos desa-
fios de tentar salvar o maior número desses
artefactos que têm vindo a ser arrojados e
dispersos, e de tentar aproveitar as siner-
ciclicamente desgastadas pelas tempesta-

D
gias resultantes da generalização do uso
des invernais e a formação de depósitos de
de detectores de metais, prática usual em
esde 1970, têm sido efectuadas dragados que originaram um rentável negó-
tais zonas desde há duas décadas, mas in-
sucessivas dragagens nos estuários do rio cio de exploração e venda de areias; por
terdita pelo Decreto-lei nº 121/99 de 20 de
Arade e da ria de Alvor, para o desassorea- fim, uma parte significativa, foi transportada
Agosto.
mento do canal de navegação e da bacia de em batelão, e despejada no mar a várias
rotação. milhas da costa.
Como tal, foi celebrado um acordo de co-
As areias das dragagens tiveram como
laboração, entre o Centro Nacional de Ar-
destino a alimentação artificial de algumas Foi nessas areias, que apareceram milhares
queologia Náutica e Subaquática, e um
praias dos municípios de Portimão e Lagoa, de artefactos, na sua maioria fragmentos
grupo de cidadãos que desde os anos 80 se
pág. 32 pág. 33
ao CNANS, dos quais constam, a descrição
e identificação do objecto, a sua foto, o
Etiqueta para anilhar asa de ânfora, em
chumbo: achador, a data e circunstancias do achado,
e a localização onde foi recolhido, em car-
Etiqueta rectangular, apresentando como tografia georreferenciada.
logótipo, um tridente.
Este artefacto destinava-se a anilhar a asa
de uma ânfora, identificando a oficina que Apesar de se tratar de arrojados e, como
fabricava o produto transportado. tal, de artefactos de que se ignora o re-
Cronologia: Período Romano, Baixo Império spectivo contexto arqueológico, o seu po-
Dimensões 115mm x 41mm tencial informativo residual, nomeadamente
Em exposição no Museu de Portimão dos pontos de vista histórico-arqueológico,
Estatueta Votiva, em bronze: tipológico e comparativo, resta incólume;
muitas das peças são inéditas, e podem
dedicavam à prospecção com detectores de (D.-L. n.º 164/97, de 27 de Junho e D. L. n.º A figura de um touro é uma peça fundida em bronze, pelo
agora tornar-se referências importantes na
processo da cera-perdida;
metais nas áreas anteriormente referidas. 270/99, de 15 de Julho), que é assumido no bibliografia da especialidade.
Cronologia: II Idade do Ferro - Dimensões 128mm x 69mm
Todos os participantes no projecto assi- quadro do Plano de Actividades do CNANS Em exposição no Museu de Portimão
nam um compromisso de honra, em que se – e não no Plano Nacional de Trabalhos O acervo resultante destes anos de pesquisa
comprometem a cumprir rigorosa e integral- Arqueológicos – enquanto não dispuser de encontra-se depositado no Museu de Por-
mente todos os pressupostos do acordo de enquadramento arqueológico autónomo. timão, estando as peças mais importantes
colaboração celebrado com o CNANS. segundo os critérios dos responsáveis pela
Foram estabelecidas normas, passando musealização, patentes na exposição per-
Trata-se de um projecto de trabalhos ar- pela delimitação das zonas a prospectar, manente do museu.
queológicos, portanto enquadrável no âm- pela declaração dos achados efectuada Parte desse espólio foi publicada nas Actas
bito da legislação aplicável a este domínio através de relatórios periódicos enviados do 2º Encontro de Arqueologia do Algarve,
(Projecto IPSIIS - Alberto Machado e José
de Sousa), Revista Xelb, n.º 5, Outubro de
2003, e nas Actas do Seminário, Os Mu-
seus e o Património Náutico e Subaquático,
Exposição permanente no Museu de Portimão Portimão, (Projecto IPSIIS Fragmentos de
História nas Praias do Arade - José de Sou-
sa e Paulo Viegas), Outubro de 2004.
Ao longo dos anos, foi cedida informação
solicitada por diversos estudiosos nacionais
e estrangeiros para estudo e colaboração
em trabalhos de investigação.

O nome do Projecto e o logótipo foram ba-


seados no reverso de uma moeda de Ip-
ses, povoado pré-romano, situado na área
Lâmina em cobre, com nervura central, e decorações geomé-
tricas em ambas as faces; apresenta-se quebrada e com a ponta geográfica do Município de Portimão (Vila
amassada, sinais de ritualização. Velha, em Alvor).
Cronologia: I Idade do Ferro - Dimensões 69mm x 24mm
Em exposição no Museu de Portimão

pág. 34 pág. 35
é mencionado por vários investigadores que o terreno possui uma suave inclinação

Uma villa romana no como tendo sido uma villae romana.


Manuel Vieira Natividade refere que, orde-
para nascente e uma zona com uma cota
mais constante a poente. Trata-se de um

Rossio da Pederneira?
nando os lugares onde descobrimos vestí- terreno onde existe ou persiste uma activi-
gios romanos e os que nos foram indicados dade agrícola de pouca relevância para o
por bibliografia estranha, verificamos a sua tecido económico da Pederneira, contudo,
valiosa quantidade. E é assim que regis- proliferam os pequenos talhões onde em
por: Carlos Fidalgo
tamos: na Pederneira, mosaicos, moedas, família, e para a família, se pratica a agri-
vasos de barro e de mármore. (4) cultura.
João Pedro Bernardes refere também so- Embora a descrição do espaço por parte de
bre o local acima mencionado que, na ver- João Pedro Bernardes se encontre de acor-
dade, se as villae, como S. Gião, já fora do com o existente no espaço físico hoje
do nosso território (5), ou do Rossio da conhecido por Rossio da Pederneira, deixa
Pederneira (…), ambas nas margens da de coincidir com o mesmo quando o autor
antiga lagoa da Pederneira, estão implan- refere que as villae de Martim Gil e Nossa
tadas em solos sem qualquer capacidade Senhora das Necessidades (…) estariam
agrícola, só poderão radicar as suas activi- em relação directa com o Lis, ao passo que
dades económicas na exploração dos re- as do Rossio da Pederneira, Mina e Póvoa
cursos marinhos. (5) A villa do Rossio da de Cós se situariam nas margens da antiga
Pederneira, pelo rico espólio que apresen- lagoa da Pederneira. (9)
ta, poderá ter tido funções de villeggiatura. Não nos parece que o Rossio da Pedernei-
Porém, pouco se sabe desta estação e ra, durante a presença romana, alguma vez
nem mesmo lográmos identificar a sua ex- tenha estado junto às margens da extinta
acta localização. (6) lagoa, uma vez que o mesmo se encontra
A villa primitivamente estendia-se muito à cota 85 acima do nível médio do mar e a
para o sul, e a egreja de então dedicada a mais de 2 kms a Norte da antiga entrada
Santo André, ficava retirada do circuito das na lagoa.
Vista do Rossio da Pederneira - Nazaré actuaes habitações no local chamado mod- Defende-se, assim, a existência de um po-
por: Miguel Rosenstok ernamente Rocio. (7) voado junto à lagoa mas numa época mais
Este facto acaba por condicionar qualquer tardia que a romana.

A presença romana na periferia da


Laguna da Pederneira encontra-se at-
abordagem sobre a caracterização da ocu-
pação, durante o período romano, na per-
As dúvidas sobre a localização do Rossio
da Pederneira parecem dissipar-se à me-
Esta villa é uma das mais antigas da Ex-
tremadura, como nos afirmam, sem receio
iferia da extinta laguna, tornando - a, desta dida que vamos cruzando as fontes bibli- de contestação fundada, notáveis escrip-
estada pela estação arqueológica de Par- ográficas com as indicações orais e as visi- tores: d’entre estes o illustre antistite D.
reitas(1) e pelos trabalhos de arqueologia forma, mais conjectural do que factual.
É neste âmbito que se considera pertinente tas ao campo. Frei Fortunato de S. Boaventura, cujo es-
levados a cabo no local de São Gião por Sobre a localização do antigo Rossio da pírito investigador e minucioso nos asseg-
Eduíno Borges Garcia(2) e, mais recente- abordar, ainda que de uma forma conjec-
tural mas sustentada, o Rossio da Peder- Pederneira, Bernardes refere que o mesmo ura com razões sobejas a sua antiguidade,
mente, pelo professor Luís Fontes(3). Toda fica num planalto e vertente virada a nas- a ponto de não estar ainda averiguada a
a restante informação advém de achados neira e a possível ocupação durante a pre-
sença romana nesta zona. cente formado por dunas e areias de du- data da sua fundação, com quanto alguns
fortuitos, que não tiveram origem em tra- nas. (…) Solos arenosos, de fraca aptidão auctores a remontem ao século IX. (10)
balhos de arqueologia, e de alguns registos Localizado a sudeste da localidade da Ped-
erneira, Freguesia e Concelho da Nazaré, agrícola, ocupados por casas e hortas. (8) Para esta problemática, contribui também
bibliográficos. Nas várias visitas ao local pode verificar-se a tentativa de localização do local do Ros-
pág. 36 pág. 37
sio da Pederneira a menção a uma igreja pinheiro, eucalipto e variado tipo de vege- tual. factores a investigar.
dedicada a São Pedro da Pederneira que, tação infestante. Também não é de descurar que esse mes- O Rossio da Pederneira, a confirmar-se a
segundo os registos documentais, é uma Nesse sentido, defende-se a localização mo local, Rossio da Pederneira, tenha sido sua ocupação romana, poderá ter concorri-
das que se gaba de ter mais remota anti- do Rossio da Pederneira nesse local, pelas erigido, total ou parcialmente, sobre pos- do com Parreitas, devido à altitude a que se
guidade, pois afirmam alguns antiquários razões evocadas anteriormente. síveis estruturas pré-existentes, neste caso encontravam, para uma função estratégica
que já em 1195 ela tinha igreja paroquial e Os achados arqueológicos levam a supor romanas ou mesmo anteriores uma vez de defesa na entrada da laguna. A partir da
já em 1224 funcionava, com beneficiados, a existência de um local onde a presença que o local, elevado, acaba por agregar Pederneira se controlaria todo o movimen-
todos pertencentes, até 1834, ao padroado romana se poderá ter feito sentir, contudo todas as premissas para o estabelecimen- to ao largo da costa e de Parreitas deve-
do rico Mosteiro de Alcobaça. (11) a aferição da sua real existência apenas ria controlar-se o movimento no interior da
lagoa assim como toda a área terrestre a
Norte, Nascente e Sul da sua implantação.
O facto é que este local contribuiu com uma
maior quantidade de achados arqueológi-
cos do período romano do que São Gião.

Ortofotomapa: Possível limite do local


conhecido como “Rossio da Pederneira”.

Parreitas (A) - Zona onde, segundo palavras do agricultor,


Por: Carlos Fidalgo foram encontrados muitos objectos de cerâmica Vista de Parreitas desde o Rossio da Pederneira.
antiga, entretanto desaparecidos. Por: Carlos Fidalgo
Como sabemos, a laguna situava-se a sul
da Pederneira, na base sul da encosta do poderá/deverá acontecer no âmbito de al- to de povoados em épocas anteriores ao
mesmo nome. As únicas casas que en- guma operação urbanística prevista para período romano. Contudo, e apesar do que ficou expos-
contrámos nesse percurso entre a várzea aquela zona e com o, indispensável e pre- Não caberá neste pequeno artigo fazer to, a ocupação romana na Pederneira
e o local do Rossio da Pederneira foram visto por lei, trabalho de arqueologia pre- qualquer tipo de conjectura, mas analisar continuará vinculada a relatos e alguns
quatro pequenas casas em ruínas que, no ventiva. os factos que se nos deparam e sustentar vestígios da época romana até se dar a
nosso entender, possuem uma localização Apesar da suspeita da existência de uma as nossas opiniões com factos concretos. conhecer através de alguma estrutura que
que deverá estar ligada à migração que a estação romana naquele local, cremos que Os factos concretos são os achados arque- se encontre no subsolo dos terrenos que
população da Pederneira encetou após o o topónimo “Rossio da Pederneira”, mais ológicos provenientes do Rossio da Ped- compõem, actualmente, o lugar do Rossio
assoreamento da lagoa, séculos XIII a XVI. recente, deverá ter aparecido após a ocu- erneira que se encontram depositados no da Pederneira.
Nesse mesmo percurso não se vislumbram pação daquele espaço numa fase de tran- Museu Dr. Joaquim Manso.
quaisquer terrenos com actividade agrí- sição entre o primitivo aglomerado urbano O tempo que terá durado essa ocupação e
cola, apenas sistemas dunares pejados de que deveria situar-se junto à lagoa e o ac- a sua cronologia nos tempos históricos são
pág. 38 pág. 39
Museu Dr. Joaquim Manso Legenda do Artigo
Concelho: Nazaré. (1) - BARBOSA. (2008)
Distrito: Leiria. (2) - GARCIA. ALMEIDA. (1966:339 a 350)
(3) - FONTES. MACHADO. (2010)
Categoria: Escultura. (4) - NATIVIDADE. (1960:100)
(5) - O Rossio da Pederneira encontrava-se localizado no alto da Serra da Pederneira, junto à actual
Denominação: Máscara - aplique. localidade da Pederneira. A sua vertente piscatória, na época romana, não deveria ser muito activa,
permitindo-nos colocar em causa tal actividade, pela distância que existe do local, até à extinta lagoa
Dimensões: Altura: 7.00 cms; Largura: da Pederneira, considerando-se para o Rossio da Pederneira, a confirmar-se a existência de uma vil-
4.00cms; Altura da face: 5.00cms. lae romana, um papel mais defensivo do que económico. Contudo, considera-se que a actividade agrí-
cola deveria existir nos terrenos localizados a Nascente, Norte e Sul. A poente existiria, assim como
Época: Romano. existe, a arriba que dá para a actual praia da Nazaré que permitia a visualização de toda a costa desde
o promontório da Nazaré até São Martinho do Porto, antiga entrada da lagoa de Alfeizerão.
Datação: Não estudada. (6) - BERNARDES. (2007:83)
Função/Uso: Máscara de adorno? (7) - COSTA (1943:1213).
(8) - BERNARDES. (2007:181)
Proveniência: Rossio da Pederneira.
(9) - BERNARDES. (2007:84)
(10) - COSTA. (1906:194)
Descrição da peça: «Máscara de barro coado
(11) - COELHO (1924:09).
bem cozido, feita à mão, representando uma
anciã. Esta máscara - aplique, é uma min-
iatura das máscaras de teatro trágico da Anti-
guidade. Servia como aplique porque tem no
topo posterior do cabelo um furo de suspend-
er. Teria sido pintada de branco. Os olhos são
dois furos.» [1]
Bibliografia
Estado de Conservação: Razoável.
BARBOSA, Pedro Gomes, (2008) – «A estação arqueológica de Parreitas (Bárrio, Alcobaça)». A região
Historial: Foi achado nas terras do Rossio de Alcobaça na época Romana. A estação arqueológica de Parreitas (Bárrio), Alcobaça, pp. 14 a 19.
da Pederneira, em trabalhos de lavoura, em BERNARDES, João Pedro, (2007) – A Ocupação Romana na Região de Leiria, Faro, Centro de Es-
1941, juntamente com vasilhame de cerâmica tudos de Património, Departamento de história, Arqueologia e Património, Faculdade de Ciências
que foi completamente destruído. [1] Humanas e Sociais da Universidade do Algarve.
Encontram-se actualmente na exposição per- COELHO, Laranjo, (1924) – A Pederneira. Apontamentos para a História dos seus mareantes, pes-
manente de Arqueologia no referido museu e cadores, calafates e das suas construções navais no séc. XV a XVII, Lisboa, Impressa Nacional de
identificada com o Nº25 da mesma exposição. Lisboa.
Fonte documental: COSTA, Américo, (1943) – Diccionário Chorographico de Portugal Continental e Insular, Volume VIII,
Azurara, Vila do Conde, Typographia Privativa do Diccionário Chorográphico.
[1] - Ficha de inventário do Museu Dr. Joaquim FIDALGO, Carlos. (2010). O Povoamento na área da lagoa da Pederneira (Da ocupação Romana até
Manso, pp. 01 a 05. ao século XII), Dissertação de Mestrado em Estudos do Património, Lisboa, Vol. II, p. 18.
FONTES, Luís Fernando de Oliveira, (2005) – PNTA/2000 – Estudo Arqueológico de São Gião da Naz-
* in FIDALGO, Carlos. (2010). O Povoamento aré, Trabalhos de Sondagem, 08/08/2005 a 12/08/2005, IPA, Processo: S-00179, Relatório Aprovado.
na área da lagoa da Pederneira (Da ocupação GARCIA, Eduíno Borges ALMEIDA, Fernando de, (1966) – «S. Gião: Descoberta e Estudo Arqueológi-
Romana até ao século XII), Dissertação de co de um Templo Cristão -Visigótico na Região da Nazaré», Lisboa, Separata da revista Arqueologia
Mestrado em Estudos do Património, Lisboa, e História, 8ª Serie, Vol. XII, pp. 339 a 350.
Vol. II, p. 18. NATIVIDADE, Manuel Vieira, (1960) – Mosteiro e Coutos de Alcobaça, Alcobaça, Tipografia Alcoba-
cense, Lda.
pág. 40 pág. 41
Igreja de S. Gião da Nazaré
por: Adriano Monteiro, Eng.º

A
Tema de capa

primeira descrição desta igreja


deve-se a Fr. Bernardo de Brito, que na
Parte Primeira da Monarquia Lusitana
escreve o seguinte: «E como no anno
de nouenta & quatro [1594] me mãdaffe
o Reuerendo Padre Frey Frãnfisco de
fancta Clara, dom Abbade de Alcobaça,
& Géral da noffa ordem, ver as antigui-
dades, & letreiros que auia nefta capella,
de quatro que achey em modo de fe po-
derem ler, foy hum nas coftas da Igreija
em hũa pédra comprida, & bem laurada,
que como coufa defe ftimada jazia entre
hũns fyluados, & tirando fielmente as le-
tras diante de algũa gente, que hia em
minha cõpanhia, vi q dezião deftemodo.
NEP.T SACR
H. SACEL. D.D. IVN. BRUT.
COS. OB. BEL. F. GESTVM. AD
VORS. EBVROBRIC. ET MONT.
AVXILIARES. SERVAT. Q. MIL.
Cuja fignificação he a feguinte. Dom con-
fagrado a Neptuno. Efta capella dedicou
Decio Iunio Bruto fendo Couful, pella fel-
licidade com que acabou a guerra con-
tra os moradores de Eburobricio, & os
montanhefes que lhe vierão em focorro,
Arcos de volta inteira suportados por colunas monoliticas
foto: Miguel Rosenstok
& também por refpeito de lhe ferem goar-

pág. 42 pág. 43
dados fem perigo feus foldados neftes vl- porta desse castelo; estando Julião aus- duas estátuas a Neptuno, uma das quais Gião.
timos fins da terra. ente, expuseram à mulher a sua aventu- de bronze1. Podíamos supor que Gião é uma abrevi-
BRITO. (1597:244v a 245) ra, que procuravam um homem assim e Mas quem foi e onde viveu São Julião? ação popular de Julião. Mas também se-
O problema que se coloca é que Fr. Ber- assim, e esta, descobrindo que eram os Não será uma identidade inventada para ria a primeira vez (salvo erro) que o povo
nardo de Brito é algumas vezes acusado pais do marido, deu-lhes guarida e ofer- justificar um culto religioso relacionado abrevia o nome dum santo tornando-o
de forjar documentos para asseverar as eceu-lhes a própria cama onde eles logo com os naufrágios para converter uma muito diferente. O mais provável é que
suas afirmações. adormeceram enquanto ela foi à igreja Divindade pagã? Até foi a vocação duma Gião fosse o nome primitivo que os letra-
Neste caso das lápides de S. Gião qual rezar. Chegou Julião e vendo um homem versão do santo: «converter os sítios dos, talvez a partir da pronúncia Xuião ou
seria o seu interesse em dar a conhecer na sua cama e, supondo, com a sua pagãos em templos de Cristo». (Que me Xulião, converteram em Julião, inventando
lembre, é a única vez que se menciona depois lendas piedosas em conformidade
um santo edicado (indicado) exclusiva- com a ideia de viajantes fugitivos, azares
mente para esta tarefa à qual Jesus Cristo da vida e cultos marítimos, a condizer com
foi alheio). os ditos populares ou estruturas antigas
Note-se que os dois primeiros Julião do existentes nesses locais». SANTO (2004:
calendário católico, tidos como da costa 302 a 303)
Sírio-Fenícia (que serão um único), se Como constatamos o culto a Julião já vem
comemoram em Fevereiro, com um inter- dos Fenícios e na costa portuguesa ou
valo de uma semana que coincidia com e nos rios navegáveis encontramos muito
que era a época da reabertura da nave- este topónimo. Damos como exemplo: S.
gação (como o São Brás, da Nazaré). Julião – Talabriga, junto a Aveiro, na ribei-
Podemos dizer que, entre nós, onde havia ra de Vouga onde agora há hum lugarinho
Fig. 1. Anforeta Luso Romana* e Mosaico Ulisses e as sereias. **
um culto romano a Neptuno passou ha- que fe chama Cacia na parte onde estã a
as lápides referidas tanto mais que se trat- mulher, pegou na espada e matou os dois. ver um São Gião-Julião: na Nazaré com igreja de fam Julião de que não ha mais
ava de um Deus gentio? Regressada a mulher da igreja, informou- uma inscrição-dedicatória a Neptuno, se- que efta memoria.2
Mas abordemos a igreja pelo próprio nome o de que eram os seus próprios pais. gundo Frei Agostinho e, em Setúbal, com São várias as referências a São Julião
São Gião/Julião. Desgostoso, abandonou tudo, partiu com duas estátuas a Neptuno. Ora, Neptuno no litoral português, a exemplo, em Tor-
Existem vários Santos e origens de S. a mulher para longe e fez-se barqueiro e instalou-se por sua vez onde existiam cul- res Vedras existiu a igreja a S. Julião 3,
Gião. Observemos esta lenda de S. Julião, hospedeiro, dedicando a sua vida a ajudar tos anteriores de marinheiros, neste caso na Serra de S. Gião e Quinta de S. Gião
ainda que o culto a São Julião e Victória pessoas a atravessar um rio e a albergá- fenícios ou púnicos. Os grandes senhores d’Entre as Vinhas4, na Atouguia da Baleia
se considerem de origem Fenícia. las. Não se diz a época que tem o local do mar haviam sido os fenícios de Tiro, no convento das freiras agostinhas, que
Julião era um jovem nobre que saiu para onde isso se passou. Síon, Cesareia-Antioquia (na Síria-Fení- segundo a tradição, foi templo romano
caçar e perseguiu um veado que, quis Será este o São Julião do Litoral portu- cia) e, depois, Cartago. dedicado a Neptuno.5
Deus, voltando-se para trás falou ao caça- guês, por ter sido um fugitivo e vagabundo Quanto aos nossos locais marítimos com As divindades Julião e Vitórias andam as-
dor: Porque é que me persegues desta desesperado (como o eram muitos em- capelas dedicadas a São Gião-Julião, sociadas a portos da nossa costa.
maneira? Matarás o teu pai e a tua mãe!. barcadiços) e que depois se converteu em notamos que o povo persiste em dizer Na nossa região temos Paredes da Vitória,
Aterrorizado, fugiu de casa em segredo e nadador-salvador? A igreja de São Julião Gião, quando os eclesiásticos reverteram N. S. da Vitória – Famalicão, Vitória próxi-
pôs-se a correr mundo até que um rei lhe de Setúbal, construída sobre o que outrora para Julião. mo da Póvoa de Cós.
ofereceu um castelo e o casou com uma foi um pântano do Sado comporta vários A paróquia lisboeta (outrora sobre os Próximo de Évora de Alcobaça, foi encon-
viúva rica. Os pais puseram-se a procurar painéis de azulejos sobre um outro São pântanos do Tejo) é oficialmente de São trada a anforeta e que deveria servir para
o filho e ao fim de muitos anos bateram à Julião. Foram encontradas em Setúbal Julião, mas no passado era dita de São iluminação dos barcos. 6

pág. 44 pág. 45
Além das questões anteriormente levanta-
das devemos relevar a hipotética existên-
cia duma tribuna referida por Schlunk so-
bre a porta de entrada, opinião com a qual
não concordamos.
Uma tribuna apoiada nos cachorros ex-
istentes rebaixava em 20 cm a verga da
porta já de si baixa, o que poderia inviabi-
lizar a entrada na nave central.
Considerando que a iconóstase da igreja
de São Gião da Nazaré é posterior à ig-
reja porque não admitir ser obra do Decio
Bruno Bruto conforme refere Bernardo de
Brito, como vimos no início deste artigo?
Fig. 2. Deusa Vitória. (NATIVIDADE:1960)

“parede que divide o cruzeiro da nave central da igreja, constituído por


uma porta e duas janelas com arcos ultrapassados, iconóstase.”
foto: Miguel Rosenstok

Num planalto do Carvalhal próximo de Baseamos a nossa opinião nas peças de


Chiqueda, foi encontrado uma estatu- arte que são nitidamente peças de recu-
eta delicadíssima da Vitória, a tentadora peração. A própria parede não liga es-
deusa da mitologia romana que a figura truturalmente com a do corpo da igreja,
representa.7 em particular com a nave central, assim
como a existência da torre que se eleva
Todos os investigadores que até à data ainda integralmente no cruzeiro que, na
estudaram S. Gião da Nazaré classificam nossa opinião, acaba por ser semelhante
esta igreja como sendo de origem visigóti- à Placídia Gala em Ravena. 9
ca. 8
Figuras. 3, 4. Reconstituição de igreja de São Gião segundo Adriano Monteiro

Terão sido levados a isso pela existência Na torre ainda se podem observar a jane-
da parede que divide o cruzeiro da nave la virada a Nascente, a verga da janela
central da igreja, constituído por uma por- do lado Norte, e o vão de uma terceira do
ta e duas janelas com arcos ultrapassa- lado Poente. Apenas na parede do lado
dos, iconóstase.7 Sul não se vêem vestígios mas a sime-
Contudo, esta parede, quanto a nós, é tria da torre garante – nos ter havido mais
posterior à própria igreja. uma janela.
pág. 46 pág. 47
Bibliografia:
BRITO, Fr. Bernardo de. (1597). Monarchia Lvsytana, Parte Primeira, Impreffa no in-
figne mofteiro de Alcobaça por mandado do R.mo Padre Geral Frey Francisco de S.
clara com licença & priuilegio Real, pp. 244v a 245.
SANTO, Moisés do Espirito. (2004). Cinco mil anos de cultura a Oeste de Moisés do
Espírito Santo, , Assírio & Alvim, Lisboa.

Figura 5 - Comparação com as igrejas de Gala Placidia,


Ravena, e São Frutuoso de Montélios, Braga.

Figuras:
1 – * Anforeta Luso-Romana, In MOSTEIRO E COUTOS DE ALCOBAÇA Alguns capítulos extraídos
dos manuscritos inéditos do autor e publicados no centenário do seu nascimento, de Manuel Vieira
Natividade, Impresso na tip. Alcobacense, L.da Alcobaça, Estampa VIII, Alcobaça, 1960.
** Mosaico Ulisses e as sereias Época romana. Santa Vitória do Ameixial, Estremoz, Évora, In Portugal
a Formação de um País, Comissariado de Portugal para a Exposição Universal de Sevilha, Lisboa,
1992, p. 50.
2 – Vitória, encontrado no vale do Carvalhal, Aljubarrota, in Grutas de Alcobaça Material para o estudo
do homem, por Manuel Vieira Natividade, Imprensa Moderna Porto, p. 15 e Est. XXII, 228-229, Porto,
1901.
3, 4 e 5 – Mausoleo de Gala Placidia, in Ravena in Ravena Los mosaicos, los monumentso, medio am-
biente, Guia Historico – Artistica. P. 14, Ed. Cartolibreria Salbaroli, Ravena, Itália. Igreja de S. Frutuoso,
Montélios, Braga, Colecção A. Monteiro

Legenda
(1) – Segundo o Dicionário Geográfico do Padre Luis Cardoso, citado por Marques, Luis, Religiosidade
Popular em Torno da Serra da Arrábida, tese de Doutoramneto, FCSH-UNI, 2001, em vias de publi-
cação.
(2) – LEÃO, Duarte Nunez de. (1785). Descrição do Reino de Portugal, Lisboa, p. 28.
(3) – LEAL, Pinho.(1837). Diccionario de Portugal Antigo e Moderno, Torres Vedras, Lisboa, Livraria
Editora de Mattos Moreira & Companhia, p. 662.
(4) – In Boletim da Estremadura, n.os 61/62, p. 273, 1964.
(5) – LEAL, Pinho.(1837). Diccionario de Portugal Antigo e Moderno, Atouguia da Baleia, Lisboa,
Livraria Editora de Mattos Moreira & Companhia, p. 254.
(6) – Conforme figura Nº1.
(7) – Conforme figura Nº2. A Iconóstase
(8) – Entre outros, Eduíno Borges Garcia, Fernando Almeida e Schlunk. foto: Miguel Rosenstok
(9) – Conforme figuras N(os) 3, 4 e 5.
pág. 48 pág. 49
Foto-Reportagem

pág.
50
Igreja de S. Gião da Nazaré
por: Miguel Rosenstok

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51
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pág. 54 pág. 55
Do que li nesse officio, e do que me con-

O mosaico de cós
Descrição de José Leite de Vasconcelos na pu-
blicação “O Arqueólogo Português” tou o empregado do Museu que foi a Al-
cobaça, vim a saber que no campo de

“Os relatos de J.L.Vasconcelos”


Pedrógão, junto da aldeia da Póvoa, fre-
guesia de Cós, concelho de Alcobaça, ha-
«No dia 24 de Abril de 1902 recebi o se-
via apparecido um mosaico romano digno
guinte telegramma do Sr. Vieira Nativida-
por: Raúl Losada
de conservação e estudo.
de, de Alcobaça:
Depois de ter escrito ao Sr. Administrador
« Venha já. Mosaico romano risco perder-
do concelho e ao Sr. Vieira Natividade,
se. Urgente*. »
agradecendo-lhes as suas communica-

foto de Joaquim Elias Jorge

foto de Joaquim Elias Jorge

Enviei a Alcobaça, na tarde d* esse mes- çoes, e dizendo-lhes o mais que julguei
mo dia, um empregado do Museu, para se a propósito, parti eu próprio para Alco-
informar do que se passava, e tomar as baça em 29 de Abril, levando em minha
E m 1902, foram feitas descobertas ar-
queológicas relevantes, nomeadamente
Este mosaico foi encontrado por acaso providencias que fosse possível tomar. companhia o Sr. Júlio Garcia, conductor
de obras publicas em serviço no Museu
em Abril de 1902, a cerca de 80 cm de
uma Villa romana, no lugar do Pedrógão e profundidade, aquando da plantação de Ethnologico. No mesmo dia, de tarde, fui,
onde foi encontrado um mosaico datável uma vinha na propriedade de Joaquim No dia 25 chegou-me um officio do Sr. Ad- com os Srs. Natividade e Garcia, ao local
de finais do século II e inícios do século Neto Pires, em Póvoa, lugar de Pedrógão, ministrador do concelho de Alcobaça, so- do apparecimento do mosaico.
III d.C.. freguesia de Cós, concelho de Alcobaça. bre o mesmo assunto.
pág. 56 pág. 57
Este occupa uma área de uns 100 metros A par deste mosaico presenciaram-se ves-
quadrados, e acha-se a uns 0,80 abaixo tígios de materiais de construção romanos, parcerias Portugalromano.com
do solo actual. Não está ainda todo des- alicerces, fragmentos de ferro e restos de
coberto. O mosaico é polychromico : tem um forno.
ao centro, inclusa num circulo, como em
um medalhão, uma cabeça humana ou di-
vina, com coroa radiada, e em volta muitas Descrevia assim J.L. de Vasconcelos o lo-
figuras, como animaes, um vaso de flores, Associação dos Arqueólogos Portugueses
cal do achado:
etc., e também desenhos geométricos 4 . www.arqueologos.pt/p_aap.html
«É possivel que de uma excavação realiza-
Alem do seu valor geral como docu- da nas vizinhanças do mosaico, por occa-

Parcerias
mento artístico, o mosaico tem, em par- sião da construcção do projectado edifício,
ticular, muito merecimento histórico e resulte o descobrimento de outras antigui-
archeologico, ji porque se relaciona com dades. Pelo campo se encontram agora, Turismo do Alentejo - E.R.T.
outras antiguidades romanas, algumas á superfície do chão, restos de imbrices, www.visitalentejo.pt
da mesma espécie, apparecidas por toda fragmentos de opus Signinum, etc. Os ob-
aquella região (Alcobaça 8 , Porto de Mós jectos importantes, por ventura lá desco-
3 , Leiria 4 ), já porque são muito poucos bertos no futuro, poderiam ficar reunidos
os mosaicos que, em troços grandes como dentro da casa, ao pé do mosaico.»
este, e de mais a mais com figuras, exis-
tem em Portugal.(…)»
Infelizmente nada mais ficou conservado
da Villa Romana… Liga dos Amigos do Sítio Arqueológico de Miróbriga
O prior do Valado, srº Poças Júnior, pas- «Muito fora para desejar que num país, www.ligadeamigosmirobriga.blogspot.com
sou esta informação a Manuel Vieira Na- como Portugal, onde tantos vestígios das
tividade, que tentou adquirir este mosaico artes romanas se acham indubitavelmente
paro o futuro Museu de Alcobaça. enterrados no chão, se olhasse com igual
Contudo, este acabou por ser comprado desvelo para os restos da antiguidade, e
pelo Drº José Leite de Vasconcelos para o se fizessem as necessárias diligencias Associação de Amigos de Tongobriga
Museu Etnológico. para se estudar a sua historia, e segurar www.amigosdetongobriga.blogspot.com
a sua boa conservação; mas infelizmente,
por effeito da ignorância provinciana, taes
relíquias, quando por acaso se tem encon-
O mosaico foi levantado nos fins de Junho trado, hão sido descuidosamente destruí-
de 1902, sob orientação de José Carva-
lhais, preparador do Museu Etnológico,
das, para se satisfazer a algum fim imme- Museu Dr. Joaquim Manso
diato». www.mdjm-nazare.blogspot.com/
tendo sido transportado para esse mesmo
Museu apenas o painel central e alguns
fragmentos. Em: «O mosaico romano de Alcobaça», in O Arqueólogo
Português, volume VII. Lisboa: Imprensa Nacional, 1902,
Actualmente faz parte do acervo do Museu pág. 146 – 149 Museu Arqueológico de S. Miguel de Odrinhas
Nacional de Arqueologia em Lisboa. www.museuarqueologicodeodrinhas.pt
pág. 58 pág. 59
romana e pré-romana da região: mesmo ta e dos recentes trabalhos de prospecção,

O Acampamento romano de Alto em frente do outro lado do Rio Tejo situa-


se em posição de sobranceria a cidade de
levam a destacar a relevância que o sítio
apresenta em época romana republicana.

dos Cacos - Almeirim.


Santarém antiga urbe de Scallabis, alguns É a esta fase que se reporta a maior
quilómetros mais à direita mas em perfeito parte dos materiais, recolhidos durante as
contacto visual ergue-se o povoado fortifi- destruições de 1981, elevando-se estes a
por: João Pimenta
cado dos Chões de Alpompé, na mesma várias centenas de artefactos dos mais di-
Implantado nas imediações da Vala de margem a cerca de 2 km situa-se o antigo versos tipos.
A estação arqueológica do Alto do
Cacos (Almeirim) implanta-se sobre uma
Alpiarça e do Rio Tejo, as características
topográficas do sítio favorecem a implan-
povoado do Cabeço da Bruxa e a 3 km o
oppidum do Alto do Castelo – Alpiarça.
Os estudos em curso, em torno da colecção
de metais, do conjunto numismático, dos
área arenosa que constitui um extenso ter- tação humana, possuindo uma plataforma A descoberta do sítio ocorreu no início dos artefactos líticos e das cerâmicas impor-
Um Livro

raço plistocénico sobre a margem esquer- relativamente plana de orientação NE-SE, anos oitenta do século XX, no decorrer tadas, nomeadamente: a cerâmica cam-
da do paul de Vale de Peixes, com uma dispondo de excelente visibilidade e apre- da realização de profundos trabalhos de paniense; lucernas; paredes finas e ânforas
altitude média de 14m. sentando apesar da sua escassa altura
Enquadra-se administrativamente na uma posição francamente dominadora
Freguesia e concelho de Almeirim, situan- sobre a zona envolvente, constituída por
do-se a cerca de 1,5 km a Este do centro baixas aluvionares alagadiças.
histórico da Cidade. A sua localização permite um contacto
visual directo com espaços de ocupação

Fotografia aérea da zona do acampamento romano do Alto dos Fotografia do Alto dos Cacos com a Alcáçova de Santarém ao
Cacos - Google Earth. fundo.

modelação do terreno para a preparação levam-nos a sublinhar a homogeneidade


para actividades agrícolas. do espólio. Apesar de estes carecerem de
Apesar de diversas diligências, então efec- quaisquer coordenadas estratigráficas, o
tuadas, o sítio não foi alvo de quaisquer tra- conjunto é bastante coerente, reportando-
balhos arqueológicos caindo praticamente se a uma fase de ocupação centrada no
no esquecimento até aos dias de hoje. século I a.C.
O projecto de investigação em torno desta É nesta fase que o antigo povoado pré-ro-
estação decorre do estudo do numeroso mano de Alto dos Cacos sofre uma brusca
espólio então recolhido e que se encon- e profunda transformação, sendo desman-
tra à guarda da Associação de Defesa do telado, e sobre ele instalado um acampa-
Património Histórico e Cultural do Concelho mento romano de traçado regular que em
de Almeirim. muito excede a dimensão do antigo oppi-
dum indígena.
Os dados aferidos, a partir do estudo dos Esta interpretação algo temerária assen-
Capa e contracapa do Livro. materiais recolhidos no início dos anos oiten- ta em três traves mestres, que julgamos
pág. 60 pág. 61
sólidas. Primeiro nos dados arqueológicos, mento militar, correlacionado com os confli-
que permitem verificar a existência de uma tos entre os partidários de César e Pompeio Uma peça, um Museu

A dama Romana
impressionante ocupação de época tardo- na Ulterior.
republicana. Segundo nos artefactos béli- O livro “O Acampamento Romano do Alto
cos, presentes nas colecções depositadas dos Cacos Almeirim” pretende divulgar
na A.D.P.H.C.C.A. que atestam uma coesa esta invulgar estação arqueológica que jul- Museu Dr. Joaquim Manso
e maciça presença de cariz militar em Alto gamos um caso impar para o estudo da ro-
dos Cacos. Por último os dados da foto- manização do Vale do Tejo.

Uma peça, um museu


grafia aérea, que permitem vislumbrar, em A publicação do Livro teve o apoio da Asso-

A peça que selecionamos para


esta revista, trata-se de uma esta-
tueta, representando um busto de
dama romana.
Segundo a Ficha de Inventário, a
peça (Número de Inventário ME-
AJM 4 Our.), que hoje faz parte do
acervo da Instituição, foi encontrada
no Bico do Frei António, Valado dos
Frandes, Nazaré, tendo sido adquiri-
da a um particular, Tito Lívio Calixto,
em 1945, e foi incorporada no Mu-
seu Dr. Joaquim Manso, onde se en-
contra em exposição, em 1980.
Trata-se de uma estatueta de pe-
quenas dimensões: Altura: 6.20 cm;
Apresentação pública do livro. Largura: 3.00 cm; Espessura: 2.00
foto: Guilherme Cardoso. cms., atribuída ao Período Tardo
consonância com o que se vê no terreno, a ciação de Defesa do Património Histórico e Romano.
existência de uma antiga estrutura subrec- Cultural do Concelho de Almeirim e do Pe- Representa, pois, e seguindo a
tangular regular de cantos arredondados, louro da Cultura da Câmara Municipal de descrição do Museu um «Busto de
rodeada de fossos e possivelmente com Almeirim. dama romana, tardio, em prata, com
muralhas de talude em terra. Para aquisição do Livro, os pedidos deverão túnica apanhada nos ombros e colar
Ainda que a informação disponível, careça ser endereçados à direcção da Associação de contas à volta do pescoço; cabelo
de confirmação estratigráfica, julgamos de D. do P. Histórico e C. do C. de Almeirim, apanhado em “bando”; brincos de
defensável avançar-se com a proposta de Apartado n.º 29, 2081-901 Almeirim. Ou arrecada em argola; feições gastas,
estarmos perante uma ocupação de índole então para o email – euricohenriques@ mostrando rosto sereno; olhos bem
militar bem datada de inícios da segunda gmail.com. Sendo o valor unitário de 10€, marcados; queixo redondo».
metade do século I a.C. (50 a 40 a.C.). Po- acrescido de dois euros para despesas de A dama Romana - Museu Dr. Joaquim Manso
deremos assim, estar perante um acampa- envio pelo correio. foto: Miguel Rosenstok

pág. 62 pág. 63
do complexo portuário formado por todos por Lucius. Vinha carregado com tecidos
Os segredos subaquáticos de Callipus os pequenos portos e embarcadouros
do Sado. (BLOT, M. L, 2003) O conceito
de Roma, azeite da Bética e vinho itálico,
envasados em ânforas. Lucius não teve
texto e fotos por: Sónia Bombico
de complexo portuário, aplicável à costa dificuldade em redistribuir a mercadoria,
portuguesa em época romana, foi pela a sua rede de intermediários era vasta
primeira vez defendido por Vasco Man- e havia consumidores muito abastados
tas e posteriormente, explorado nas pub- na cidade. O navio deveria regressar a
licações de Maria Luísa Blot. Segundo Gades o mais rapidamente possível. Lu-
estes autores, o papel dos pequenos por- cius sabia que nos negócios tempo era
dinheiro e, assim, apresou o embarque
das ânforas piscícolas sadinas. Algumas
horas depois, acostou ao navio uma barca
vinda de Tróia que trazia duas centenas
de ânforas, estava completa a carga des-
tinada à exportação.”
Em ambas as margens do Sado estão
documentados vestígios da ocupação ro-
mana, maioritariamente relacionados com
as actividades marítimas e de exploração
dos recursos marinhos. Pequenos portos,
situados em áreas periféricas nas mar-
Rio Sado visto da margem esquerda (Tróia). Vestígios do complexo industrial gens do curso interior do Sado, serviam
produtor de preparados de peixe de Tróia.
as unidades produtoras de manufacturas
um romance histórico, cuja acção se de- tos, sobretudo os que faziam parte de um para exportação, principalmente os produ-
N
“ aquela manhã Lucius havia já percor-
rido toda a zona industrial de Caetobriga
senrolasse na época romana. A História e
a Arqueologia dizem-nos que a realidade
mesmo acidente geográfico amplo, como
um estuário ou uma ria, era desdobrado
tos piscícolas de que são testemunho as
cetariae, tanques para a salga de peixe.
(Setúbal). Tinha acertado negócio com o não terá sido muito diferente da ficção re- pelo facto de funcionarem enquanto parte
proprietário da unidade de produção de latada. integrante de um complexo portuário. No
preparados de peixe, depois de ter confir- O estuário do Sado conheceu uma forma caso do estuário do Sado, estes peque-
mado a chegada da encomenda de ânfo- antiga mais vasta, com um leito mais ex- nos portos funcionavam em regime de
ras para o envase do garum. Decorriam os tenso, cuja navegabilidade permitiu am- complementaridade e interdependência,
Idus de Quintilis do ano 43 d.C., há muito plas actividades náuticas durante toda a proporcionando o encaminhamento da
que o Mare Clausum havia terminado. O Antiguidade. Para montante, o Sado era produção local para os portos escoadores
navio que esperava, vindo da Bética, tar- navegável até ao interior do Alentejo, até de maior amplitude de Caetobriga e Sa-
dava. Contemplando o imenso Callipus Porto de Rei. Alcácer do Sal (Salacia) terá lacia, cidades com funções exportadoras.
(rio Sado), Lucius pensava para consigo detido funções de terminus portuário flu- É, talvez altura, de ilustrar este funcion-
se o navio havia já alcançado a baía de vial, com navegação directa até ao litoral. amento recorrendo à nossa ficção ro-
Sinus (Sines).” Por seu turno, Caetobriga (Setúbal) terá manceada.
assumido o papel de terminus oceânico, “Cinco dias depois, aportou finalmente no Cetariae do Creiro - Portinho da Arrábida.
O parágrafo anterior poderia pertencer a conjuntamente com Tróia. Caetobriga era porto de Caetobriga o navio aguardado
o ponto de escoamento das produções
pág. 64 pág. 65
Era, igualmente e maioritariamente, nas tende-se dos inícios do século I d.C. aos “revolução” nas formas anfóricas produzi- alentejanas romanizadas. Tróia, um dos
zonas periféricas que se situavam as finais do século II d.C. A segunda inicia- das e uma expansão dos centros produ- mais importantes centros fabris conservei-
olarias produtoras do vasilhame destina- se em finais do século II e inícios do III, tores de conservas. ros de salga de peixe do Império Romano
do ao envase dos preparados de peixe, as época em que se verifica uma verdadeira Os produtos produzidos, provenientes dos Ocidental, cujas ruínas se estendem por
ânforas. Contentores por excelência para vários enclaves portuários identificados, cerca de 2kms ao longo das margens do
o transporte marítimo, as ânforas trans- circulavam no amplo estuário do Sado, no Sado, terá correspondido ao pólo produtor
portavam vinho, azeite e todo o género qual apenas a cidade de Setúbal manteve mais importante de todo o complexo por-
de salgas e preparados de peixe, de entre funções portuárias até aos nossos dias. tuário. Apresentados os principais centros
os quais o famoso garum, tão apreciado Da fase romana de Setúbal conhecem-se produtores e portuários, podemos concluir
entre os romanos. Foram identificadas vestígios que nos permitem reconhecer que os materiais identificados nos con-
olarias produtoras de ânforas na área da uma ocupação contínua desde o século textos arqueológicos permitem integrar
desembocadura do Sado (Zambujalinho, II a.C. ao V. Estes vestígios indicam-nos o complexo portuário do Sado nas redes
Comenda e Quinta da Alegria), bem como que a malha urbana se apresentava di- comerciais imperiais, que coligavam o
no subsolo da cidade de Setúbal, no Lar- vidida por áreas de especialização fun- Atlântico ao Mar Mediterrâneo.
go da Misericórdia. No entanto, os fornos cional. A habitacional, a comercial e a Mas a verdadeira chave do conhecimento
romanos estão igualmente presentes no industrial, onde se situavam as olarias e histórico parece manter-se oculta no fun-
baixo curso do Sado, na zona de Alcácer as cetariae. (SILVA, C. T., 1990) As escav- do do estuário. Os vestígios arqueológicos
do Sal, onde se conhecem os formos do ações arqueológicas, no centro urbano de subaquáticos apresentam-se como fontes
Pinheiro, Abul, Vale de Cepa, Barrosinha, Setúbal, revelaram a presença de mate- essenciais para o estudo da actividade
Monte da Enchurrasqueira e Bugio. O es- riais cerâmicos de importação, de entre os económica na Antiguidade. Ganha espe-
tudo dos centros oleiros da Lusitânia tem quais terra sigillata (cerâmica fina) e ânfo- cial relevo o naufrágio pelo seu valor en-
apontado a produção sadina como a mais ras vinárias itálicas e oleárias do Norte de quanto acontecimento pontual que encerra
antiga no território nacional, situando o África. (COELHO-SOARES, A. e SILVA, em si um espectro cronológico muito res-
início da laboração de alguns fornos para C. T., 1978) trito. Isto significa que os materiais associ-
os princípios do século I d.C., à semelhan- Vestígios idênticos foram recuperados das ados à perda do navio, nomeadamente a
ça das produções dos fornos de Peniche. escavações do núcleo urbano de Alcácer sua carga comercial, correspondem a um
(FABIÃO, C. 2004) Conhecem-se tanques do Sal, correspondentes à vivência da an- período relativamente curto, que se situa
de salga de peixe nos sítios do Creiro, tiga Salacia Urbs Imperatoria, referida por entre o carregamento da embarcação e a
Rasca e Comenda, junto às praias da Ar- Plínio no século I d.C. Ânforas importadas perda da mesma. Um naufrágio é, assim,
rábida. Foram, também, identificadas e da Bética e peças de terra sigillata itálica uma fonte directa para o estudo da econo-
escavadas cetariae em Tróia e no subsolo e hispânica, provenientes da zona contí- mia romana. Mas a maioria dos vestígios
da cidade de Setúbal, na Travessa de Frei gua ao castelo e da parte baixa da vila, romanos inventariados nas águas do es-
Gaspar (edifício do posto de turismo de pressupõem uma ocupação que não se tuário do Sado não constituem naufrágios
Setúbal). restringe à zona elevada, mas também à comprovados. Veremos que, ainda assim,
A generalidade destes centros produ- margem fluvial. A vocação portuária desta detêm uma importância substancial para
tores regista, à semelhança do que ac- cidade parece relacionar-se não só com a o conhecimento histórico da presença ro-
ontece nas restantes regiões produtoras exportação dos produtos piscícolas regio- mana na província da Lusitânia.
da Lusitânia (Estuário do Tejo, Algarve, nais, mas também com a sua vocação en- Desde a década de 70 do século XX que
Costa Alentejana e Peniche), duas fas- quanto porto de escoamento dos produtos se vêem registando materiais cerâmicos
es distintas de produção. A primeira es- Representação de ânfora com ilustração de envase de peixe agrícolas provenientes das explorações ao largo do complexo industrial de Tróia.
salgado. (Musée d’ Histoire de Marseille)

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O sítio conhecido como “fundão de Tróia”, ancoradouros são efectivamente os locais achados subaquáticos isolados de ânfo-
Referências Bibliográficas:
a uma profundidade na ordem dos 20 a com maior registo de vestígios arqueológi- ras que se relacionam com os contextos
25m, é talvez o mais emblemático da pre- cos subaquáticos, que não se resumem produtivos dos centros oleiros do Sado BLOT, M. L. (2003) – Os portos na origem dos
sença de vestígios arqueológicos sub- aos materiais anfóricos mas que incluem interior. Junto às imediações das olarias, centros urbanos: contributo para a arqueolo-
aquáticos no estuário. As características em alguns casos elementos de âncoras. localizadas nas margens do rio, têm vindo gia das cidades marítimas e flúvio-marítimas
dos materiais recuperados, de entre os Ao largo do Cabo Espichel, acidente ge- a ser identificados desde os anos 80 do em Portugal, Lisboa, IPA, Trabalhos de Ar-
quais fragmentos de terra sigillata e mate- ográfico que marca a entrado no estuário século XX inúmeros exemplares de ânfo- queologia 28, IPA.
rial anfórico, sugerem um local de rejeição ras de produção local das duas fases de CARDOSO, G. (1978) – Ânforas romanas do
de vasilhame. A maioria dos materiais aí produção. Museu do Mar (Cascais). Conímbriga, 17,
recuperados encontram-se depositados Os dados da arqueologia subaquática e Coimbra, p.63-78.
no Museu do Mar de Cascais e foram as escavações nos complexos industri- COELHO-SOARES, A. e SILVA, C. T. (1978) –
objecto de publicação por Guilherme ais, localizados nas margens do Sado, “Ânforas da área urbana de Setúbal”, Setúbal
Arqueológica, Junta Distrital 4, p.171-201.
Cardoso, em 1978. Outras peças foram ainda que incipientes, principalmente no
FABIÃO, C. (2004) – “Centros oleiros da Lusi-
recolhidas, a partir de 1973, por mergul- que concerne aos vestígios subaquáticos,
tania. Balanço dos conhecimentos e perspec-
hadores amadores do Centro Português têm-se revelado de extrema importân- tivas de investigação”, Actas del Congresso
de Actividades Subaquáticas com o apoio cia para o estudo da navegação atlântica Internacional Figlinae Baeticae. Talleres al-
do então Museu Nacional de Arqueologia romana. Os dados recolhidos permitem fareros y producciones cerámicas en la Béti-
Mosaico do Fórum das Corporações de Ostia Antiga,
e Etnologia. De entre esse material regis- representando o transbordo directo das mercadorias de um
inferir um funcionamento do complexo ca romana (ss. II a.C. – VII d.C.), Universidad
tam-se ânforas de várias proveniências e navio para uma caudicaria (barca). portuário sadino em tudo similar ao regis- de Cádiz-2003, B.A.R, int. Ser., 1266, Oxford,
datáveis desde o século I a.C. ao IV d.C. tado e apontado para as restantes regiões p. 379-410.
São fragmentos de ânforas de vinho itáli- do Sado, surge-nos um grande fundead- do litoral atlântico nacional, de entre as FABIÃO, C. (2005) – “Caminhos do Atlântico
cas, gálicas e béticas, ânforas de azeite ouro de época antiga. Foram inventaria- quais o estuário do Tejo é o exemplo mais Romano: Evidências e Perplexidades”, in
e salgas de peixe importadas da Bética e dos, nos fundos da zona contígua à costa significativo. A instalação e exploração Fernández Ochoa, C. y García Díaz, P. (Eds.),
do Norte de África, e ânforas piscícolas de de Sesimbra, cerca de 40 exemplares de económica das zonas litorais do território III Colóquio Internacional de Arqueología en
produção local. A diversificação tipológi- cepos de âncora em chumbo típicos da português parecem corresponder à “políti- Gijón. Unidad y diversidad en el Arco Atlán-
tico en época romana. Gijón-2005, 83-85.
ca das ânforas e a seu amplo espectro época romana. Alguns dos quais foram re- ca atlântica” de Roma, iniciada por Augus-
FONSECA, Cristóvão (2003) - A Terra Sig-
cronológico é perfeitamente relacionável cuperados, encontrando-se depositados to. O reconhecimento das potencialidades
illata do Fundeadouro de Tróia. Trabalho de
com o período de ocupação e laboração nos acervos do Museu do Mar de Cascais económicas oferecidas pela zona Atlân- Seminário do curso de História, variante Ar-
do povoado industrial de Tróia, que se es- e Sesimbra. tica é complementado com uma estra- queologia, da Faculdade de Letras da Univer-
tendeu até ao século V. Um outro sítio subaquático, local conheci- tégica de apropriação e controle dos ter- sidade de Lisboa.
É frequente a existência de materiais do por Caldeira, na foz do Sado, forneceu ritórios metalíferos do norte. (FABIÃO, C., MANTAS, V. (2000) - Portos Marítimos Ro-
cerâmicos com ampla cronologia nos lo- materiais anfóricos importados idênti- 2005 e MANTAS, V., 2002-2003) É neste manos, Lisboa, Academia da Marinha.
cais de fundeadouro. É fácil imaginar a cos aos registados no “fundão de Tróia”. âmbito que deveremos entender o desen- MANTAS, Vasco Gil (2002-2003) – “O Atlân-
perda de alguns elementos da carga du- A sua cronologia abarca o período com- volvimento da produção de preparados tico e o Império Romano” Revista Portuguesa
rante as actividades de transbordo entre preendido entre o século I e o século III, piscícolas na faixa atlântica Lusitana, ben- de História. 36, 2, pp. 445-468
embarcações. Para além disso são igual- o que corresponde a uma boa parte do eficiária das rotas de retorno em direcção SILVA, C. T. (1990) – “Arqueologia de Setúbal.
mente lançadas borda fora algumas ânfo- período de plena laboração do complexo ao Mediterrâneo, para além do qual exis- Para o conhecimento das origens da cidade”,
ras vazias, após o consumo do seu con- industrial de Tróia. O interior do curso tia um outro Mare Nostrum. Setúbal na História, Setúbal, LASA, p.107-
122.
teúdo pelos tripulantes da embarcação, fluvial, junto à área sob dependência da
ancorada no porto. Os fundeadouros e cidade de Salacia, assinala igualmente

pág. 68 pág. 69
Alguns historiadores sugerem também a Persas, Romanos, Judeus e Arménios o

“LUDI CEREALES” - Os ovos da pascoa por: Filomena Barata


que muitos dos símbolos ligados à Pás-
coa, designadamente os ovos coloridos e
hábito de tocar presentes de ovos colori-
dos.
de chocolate, bem como o coelhinho, são O Cristianismo acabou por absorver esta
reminiscências da Festa da Primavera em tradição através da Páscoa e, também por
honra de Eostre, a deusa da fertilidade, isso mesmo, o ovo aparece aqui ligado à
do Renascimento, da Ressurreição, da ideia de renovação periódica da natureza.

C eres, o nome romano da deusa grega


Demeter, era a deusa “Mãe-Terra”, pro-
Luz crescente da Primavera, na mitolo-
gia anglo-saxã, cujo nome parece signifi-
Remete assim ao mesmo mito da criação
cíclica, mantendo-se a crença de que
car “Deusa da Aurora”, festividades essas comer ovos no Domingo de Páscoa traz
tetora da Fertilidade, da agricultura, das
Efeméride

que foram assimiladas a Pessach. saúde e sorte durante todo o resto do ano,
sementes, dos cereais, dos grãos e seus Pessach, (do hebraico, ou seja, pas- funcionando como algo de apotropaico
derivados, a exemplo do pão. Era filha sagem) também conhecida como Páscoa contra as enfermidades.
de Saturno e de Cibele, amante e irmã Judaica, associa-se, segundo o Êxodo, à Ainda na mitologia Grega aceitava-se que
de Júpiter, irmã ainda Juno, Vesta, Nep- libertação do povo de Israel do Egipto. era através da partição desse ovo cósmi-
tuno e de Plutão, mãe de Proserpina. O De acordo com a tradição do Tora, a co que se criou ou se diferenciou a noite
seu próprio nome, cuja etimologia se liga primeira celebração de Pessach ocorreu e o dia, o céu e a terra (Urano e Geia), o
ao verbo crescere, indicia os atributos da há 3500 anos, quando Deus enviou as macho e a fêmea. Por sua vez, da união
divindade. Dez Pragas do Egipto. Antes da décima de Urano e Geia nasceram os Titãs.
praga, o Profeta Moisés foi instruído de Platão na sua obra «Banquete» relem-
Era uma divindade muito cultuada em forma a pedir que cada família hebrai- bra o mito do Andrógino, afirmando que
Roma que lhe dedicava, desde o século ca sacrificasse um cordeiro e molhasse o Homem original tinha a forma esférica,
III a.C., um festival chamado Cerealia, os umbrais (mezuzót) das portas com o integrando os dois corpos e os dois sexos.
ou Ludi Cerialis, sendo tão querida entre sangue do cordeiro, para que os seus São estas as suas palavras: «... naquele
Romanos que, na Antiga Roma, nesta filhos não fossem tolhidos pela morte. tempo, o andrógino era um género distinto
época do ano, lhe ofereciam, para além Efectivamente, os Hebreus comeram a e que, tanto pela forma como pelo nome,
dos festivais referidos, ovos e se dizia, carne do cordeiro acompanhada de pão continha os outros dois, ao mesmo tempo
quando se queria referir algo de esplên- de ázimo e, à meia-noite, todos os primo- macho e fêmea».
dido, «apropriado a Ceres». génitos egípcios foram dizimados. Não é, portanto, despiciendo que, por isso
Esta deusa era representada com um Mas regressando à Páscoa de origem mesmo, o mito do Andrógino, ou signo de
cetro, um cesto de flores e frutos e tinha germânica, referimos ainda que, em totalidade inicial, muitas vezes concebido
uma coroa com espigas de trigo, sendo Alemão, ainda hoje se designa a Páscoa como ovo cósmico, represente a plenitude
celebrada por mulheres em rituais secre- Estátua da Deusa Ceres por “Ostern” e em Inglês “Easter”. da unidade fundamental e primordial onde
tos, que são pouco conhecidos. Por essas filiações, há quem relacione a se confundem os opostos, círculo que
Há informações que nos fazem concluir divindade Eostre com a Deusa grega Eos, contém o princípio e o fim.
Os ovos oferecidos a Ceres represen- que a festa de passagem do Inverno também ela deusa do amanhecer e ain- Essa mitologia é comum a muitas Civi-
tam do ponto de vista simbólico, a vida, o para a Primavera era comemorada entre da com a fenícia Astarte ou a babilónica lizações e Culturas, como a egípcia, a
germe, o renascimento, a renovação e a povos europeus desde épocas mesmo Ishtar, pelas similitudes no que respeita fenícia, a grega, a indiana, a chinesa, a
criação, motivo pelo que, desde Épocas muito remotas, designadamente na região aos rituais da fertilidade e às festividades indonésia ou mexicana.
remotas, com eles se presenteavam as do Mediterrâneo, a exemplo da Antiga do Equinócio da Primavera, sendo comum
pessoas. Grécia.
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Fotografia de fresco com representação de ovos, Pompeia (Itália).

Se os ovos, que representam a fecundi- tório nacional, os mosaicos de Milreu com


dade ou a força genésica primordial, por- faixas de óvulos representados; o friso
tanto, a própria ideia da vida, da eterni- decorado com óvulos e lancetas, perten-
dade ou da ressurreição, acabam por cente a uma primeira fase de construção
pertencer, pelos mesmos motivos, no Uni- do teatro de Lisboa; o capitel jónico datáv-
verso Romano, a um dos mais motivos el do século III-IV, proveniente das Termae

Museu regional de Beja


decorativos mais representados, quer de Cassiorum de Olisipo, publicado por Lígia
bens de utilidade doméstica quer em ele- Fernandes, o capitel da Villa de Frielas, o

Capitel de Pax Iulia


mentos decorativos da Arquitectura — os monumental capitel que pertence ao ac-

foto: Raúl Losada


óvulos — ou mesmo em pinturas domés- ervo do Museu de Beja e que é atribuído
ticas, como é o caso dos larários de Pom- a um eventual templo de Pax Iulia, já para
peios ou de Delos. não referir os casos conhecidos de uten-
Apenas a título de exemplo, entre tantos sílios de uso doméstico, a exemplo das
e tantos outros casos, referimos, em terri- lucernas com esse tema.

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O Desenho e a Ilustração na Arqueologia
texto e imagens por: César Figueiredo

Descodificação de Desenho e
Ilustração Arqueológica
Destaque

D esde sempre que a prática do de-


senho fez parte da essência humana.
É comum pensar-se no desenho como
algo inteligível, de forma acabada e em
suporte próprio. Não é de todo comum
julgar o desenho como forma de pen-
samento e de produção de conheci-
mento. “A prática do desenho está inti-
mamente ligada ao desenvolvimento do
conceito de Ideia,” (MARQUES, 2006,
p.62), de um conceito, de uma “visão
mental”, de um desejo que se torna na
necessidade inata de transformar um
pensamento em algo visível, “palpável”
e visual.

“Através do desenho é possível ob-


servar melhor, entender, registar e co-
municar factos e conceitos da ciência”
(SALGADO, 2008/2009, p.78). O desen-
ho arqueológico, bem como em outras
áreas da ilustração científica, continua
a ser preferido em relação à fotografia

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no desenho arqueológico não se podem
representar espécies, não será possível
dividir em categorias “modelo” cada gé-
nero de artefacto.

O desenho e a ilustração arqueológica


são vistas muitas vezes como áreas de
apoio para o estudo ou suporte de trans-
missão de informação para a arqueo-
logia. Na verdade, existem diferenças
bastante significativas entre o conceito
de desenho arqueológico e ilustração
arqueológica. Ambas são desenho
científico mas enquanto que o desen-
ho se reporta à representação técnica
de materiais arqueológicos, tais como
cerâmicas, líticos, vidros, metais entre
outros, a ilustração pode conter a rep-
resentação de materiais mas privilegia
a visualização destes materiais no seu
contexto em que foram usados. Deste
modo, a ilustração passa a ser um cam-
porque, na maioria dos casos, permite um resentar tipos através das características po de acção muito mais alargado que
registo visual superior e capaz de se ad- mais comuns de cada espécie, na arqueo- contempla não só a representação de
equar à necessidades de representação. logia não existem dois artefactos iguais. materiais como se expande à visuali-
A prática do desenho de materiais arque- Torna-se, por isso, impossível “caricaturar” zação do meio destes objectos na anti-
ológicos, tal como em outras áreas do qualquer ruína ou qualquer elemento de guidade. Refiro-me mais concretamente
desenho científico, obedece a inúmeros espólio. A este propósito, Luís Fortunato à recriação dos ambientes históricos e
critérios práticos e de ordem morfológica. Lima refere sobre o desenho na biologia arqueológicos como forma de possibili-
Dentro do desenho científico existem, de o seguinte: “Por exemplo: na Zoologia, os tar um entendimento acerca de uma de-
facto, muitíssimas variantes. No entanto, desenhos de animais representam ape- terminada civilização histórica. Digamos
o desenho de materiais arqueológicos dis- nas as espécies: significa, como na repre- que a ilustração arqueológica privilegia a
tancia-se da maior parte delas, pelo facto sentação de um peixe, apenas figurarem representação da interacção entre pes-
de não representar tipos nem géneros. as características particulares da sua es- soas, materiais, animais, meio geográ-
O desenho na arqueologia é descritivo, pécie, excluindo para isso todos os traços fico, etnografia, paisagem e arquitectura
evidenciando as formas e os traços mar- desviantes do indivíduo particular, trans- na sua vivência activa do passado.
cados pela acção humana. Ao contrário formando-o em indivíduo emblemático”
das ciências naturais que pretendem rep- (LIMA, 2008/2009, p.90). Por isso mesmo,
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O mosaico romano
por: Maria de Jesus DURAN KREMER,
Instituto de História de Arte - FCSH/UNL
Introdução

O mosaico romano é, sem dúvida, uma


das expressões artísticas que melhor so-
breviveram à passagem do tempo e à
acção do Homem. Hoje, a mais de vinte
séculos de distância, os diferentes mo-
saicos encontrados um pouco por toda a
parte constituem uma preciosa fonte de
informação sobre o quotidiano, os usos e
costumes, a evolução económico-social
das diferentes sociedades que constituiam
o Império Romano. De Leste a Oeste do
Mediterrâneo, do Norte de África aos con-
fins da Bretanha, das colunas de Hércules
Bibliografia ao Finisterra, os mosaicos testemunham
ADAM, Jean-Pierre - La Construction Romaine: Materiaux
et Techniques. Paris: Grands Manuels Picard, 1984.
MACIEL, M. Justino - Vitrúvio: Tratado de Arquitectura. Lis- da presença romana intimamente ligada
boa: IST Press, 2006.
BERNARDES, Paulo José Correia - Arqueologia Urbana e MARQUES, Jorge S. - As imagens do desenho: percepção à terra em que se fixara, e onde deixou
Ambientes Virtuais: Um Sistema para BracaraAugusta. Tese espacial e representação; trabalho de síntese: integrado a sua marca indelével, de geração para
de Mestrado. Institudo de Ciências Sociais, Universidade do na prova de aptidão pedagógica e capacidade cientifica,
Minho, Braga, 2002. FBAUP; Edição policopiada, Porto, 2006.
geração.
CONNOLLY, Peter; DODGE, Hazel - The Ancient City: Life MARTINS, Manuela - Urbanismo e Arquitectura em Bracara O mosaico, porém, não é uma “invenção” Fig. 5-Casa del Fauno, Pompeia.
in Classical Athens & Rome. Oxford: Oxford University
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in Actas do Congresso Internacional “Simulacra Romae.
COULON, Gérard; GOLVIN, Jean-Claude - Voyage en Roma i les Capitals provincials de l’Occident”. Tarragona, mosaico teria mesmo a sua origem não
Gaule Romaine. Arles: Éditions Errance, 2006. 2004, pp. 149- 175. no revestimento e decoração de pavimen-
EDWARDS, Betty - Desenhando com o Lado Direito do Cé- PIMPAUD, Alban-Brice - Les Applications de L’Infographie
rebro. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002. 3D a L’Archeologie; Mémoire de maîtrise d’histoire de l’art
tos da Grécia antiga mas sim, à partida,
GOLVIN, Jean-Claude - Ancient Cities: Brought to Life. Lud- et d’archéologie dirigé par Mme A.-M. GUIMIER SORBETS, no revestimento e reforço de paredes e
low: Thalamus Publishing, 2007.
GOLVIN, Jean-Claude; LONTCHO, Frédéric - Rome An-
Université Paris-X- Nanterre, Année 1998-1999. colunas na Mesopotâmia. Ainda que,
“Pompei - Une Cité Reconstituée”, Les Cahiers de Science
tique Retrouvée. Éditions Errance, 2008. & Vie, no 87, Juin 2005. neste caso, seja difícil falar de “mosaico”
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até nós exemplos datados de 4000 a.C. e
Yale: Yale University Press - New Haven & London, Third fluências”, no 13+14. Guimarães, 2008/2009, pp. 73-87. que testemunham da utilização de “pre-
Printing 2009.
LIMA, Luís Carlos Fortunato - O Desenho como Substituto
STEINER, Mélanie - Approaches to Archaeological Illus- gos” de barro, de cerca de 6 a 15 cm de
tration: A Handbook. York: Council for British Archaeology,
do Objecto: Descrição Científica nas Imagens do Desenho 2005. comprimento, cujas cabeças haviam sido
e Materiais Arqueológicos. Tese de mestrado. Facultade de pintadas de vermelho, branco ou preto, de
Belas Artes da Universidade do Porto, 2007. Fig. 1 - Templo de Uruk (Iraque).

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forma a formarem motivos decorativos a composição às características da sala e, mo pavimento. Cedo porém a tessera se
(Fig. 1). Espetados numa massa argilosa certamente, também aos desejos do pro- tornou no material de eleição para a ex-
ainda fresca, não só decoravam as colu- prietário da mesma. É no século IV a.C. ecução das composições musivas. Per-
nas com diferentes motivos geométricos que vemos surgir composições tão belas mitindo recorrer a uma maior gama de
como reforçavam ao mesmo tempo as como a “caça ao leão”, em Pella (Fig. 3), materiais e cores, a uma maior perfeição
próprias fachadas. Com o decorrer dos ou o mosaico floral de Sykion. É também na expressão artística através do recurso
anos, esta técnica evoluiu: os motivos ge- nesta época que aparecem os primeiros a diferentes tamanhos e formas para as
ométricos deram lugar a representações mosaicos geométricos mais elaborados mesmas, o uso de tesselas abriu as por-
muito simples de pessoas, animais e plan- cobrindo toda a superfície a decorar numa tas a conceitos de decoração mais com-
tas, introduzindo pela primeira vez mate- sintaxe argumental resultante de um pro- plexos tanto no que respeita à policromia
riais mais preciosos como o ónyx e o lápis grama iconográfico – decorativo, onde o quanto ao programa iconográfico que o
lazuli, usados juntamente com terracota mosaico geométrico não constitui pano de mandatário da obra quer ver realizado.
e conchas. fundo para composições figurativas mas Alexandria , Pergamon, Delos são pontos
Numa fase seguinte, a técnica da utili- constitui, por si só, o tema principal da de referência no aperfeiçoamento da arte
zação de pequenas bolas de cerâmica ou Fig. 3 - Pormenor do mosaico da decoração (Fig.4). musiva, tendo chegado até nós mosaicos
de chapinhas de calcário, madre-pérola e “caça ao leão”, Pella.
grés permitiu avançar para outro tipo de conhecemos hoje, teve origem nos pavi-
mentos de calhau rolado das cultura
minóica, em Creta, micénica, na Grécia
e hetita, na Ásia Menor: os seixos eram
misturados com o reboco que iria cobrir o
pavimento da sala a decorar, sem porém
individualizar qualquer motivo aparente. A
destruição destas culturas pelas invasões
dóricas e frígias por volta de 1.200 a.C.
constituiu um ponto de viragem na arte do
Fig. 2 - Pequeno “mosaico” de Ur (Iraque). mosaico: em Gordion, na Turquia, foram
descobertos os primeiros pavimentos de
decoração, mais cuidado, espelhando ce- calhaus rolados a preto e branco numa
nas do dia-a-dia, e usado sobretudo em composição de motivos geométricos. Da-
pequenos objectos de luxo de uso pes- tados do séc. 8 a.C., estes pavimentos
soal, provavelmente reservados à classe decoravam certamente as casas de famíl-
nobre (Fig.2). Através dos séculos, este ias abastadas daquela cidade.
tipo de decoração espalha-se um pouco É bem mais tarde, já sob o domínio de Al-
por todo o Mediterrâneo Oriental, sem exandre que o mosaico se vai transformar
que por isso assuma o papel autónomo numa arte em si: ainda que continuando a Fig. 4 - Pella
de decoração de grandes superfícies que recorrer a calhaus rolados colocados sobre A pouco e pouco, o calhau rolado vê-se de rara beleza, testemunhos do mosaico
viria a ser o seu da Grécia clássica em di- uma camada de argila, os artistas gregos substituido por pequenos cubos de pedra helenístico no seu auge.
ante. consideraram pela primeira vez a super- talhados pelo Homem, coexistindo am- Nos séculos II e I a.C. o mosaico torna-se
O mosaico pavimental, tal como o fície a decorar como um todo, adaptando bos os materiais, por vezes, num mes- o elemento decorativo per excelence so-

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bretudo das salas mais representativas de escolhidos para as composições quanto ao aqui se pode assistir a uma interpretação ou paredes a que se destinava.
uma casa. Os melhores exemplos chega- estilo e aos motivos usados para as mes- muito própria desses mesmos temas, dan- Muitos outros temas podemos encontrar
dos até nós vêm sem dúvida de Pompeia, mas foi sem dúvida a Africa proconsularis do origem por vezes a composições ex- ainda hoje nos mosaicos romanos de Por-
preservados pela lava e pelas cinzas do (a actual Tunísia), onde se encontra a maior traordinárias no seu simbolismo e expres- tugal. De entre eles, os mosaicos geométri-
Vesúvio. De ali nos chegaram mosaicos de colecção de mosaicos romanos ainda ex- sividade. É o caso da representação das cos ocupam um lugar de relevo, não só pelo
uma beleza requintada, comummente con- istentes. Cidades como Cartago, El Djem, estações do ano: encontramo-las em Con- elevado número de solos que ornamentam
siderados como cópias de quadros ou de Sousse, Thuburbo Majus, Oudna, Hadru- imbriga, na Casa dos Repuxos, no Rabaçal como também pelos programas iconográ-
mosaicos alexandrinos (Fig. 5). mete, pólos de uma economia florescente, e S. Vitória do Ameixial, numa represen- ficos escolhidos, e que merecem um trata-
De Itália, o mosaico espalha-se por todo o viram surgir oficinas de mosaicistas que, de tação “clássica” sob a forma de bustos. Mas mento mais aprofundado.
Império, assumindo características muito acordo com a vontade dos grandes propri- encontramo-las também em Pisões (Fot.
6), numa composição muito expressiva da Bibliografia
ligação do proprietário da villa à terra e à ac- Alexander (M.A.), Ben Abed (A.), Besrour (S.), Mansour
tividade agrícola. A inserção da cabeça da (B.), Soren (D.), 1980, „Thuburbo Majus“ Vol. I,II,III. Cor-
pus des Mosaïques de Tunisie. Tunis, 1980
Medusa, com as suas qualidades apotro- Bairrão Oleiro (J.M.), 1992, “Conimbriga. Casa dos re-
peicas, nesse pavimento, dá uma relevân- puxos”. Corpus dos Mosaicos Romanos de Portugal,
cia ainda maior ao significado da renovação Vol. I, Conimbriga.
Bertelli (C), 1996, Die Mosaïken von der Antike bis zur
eterna da vida expresso pelas estações do Gegenwart, Augsburg
ano. Blanchard-Lemée (M.), Ennaïfer (M.), Slim (H. e L.),
Um outro pavimento, este em Villa Cardilio, 1995, Sols de l’Afrique Romaine , Paris.
Torres Novas, testemunha de uma interpre- Dunbabin (K.M.D.), 1978, The mosaics of Roman North
Africa. Studies in Iconography and Patronage, Vol. I, II,
tação mais complexa desta mesma temáti- Oxford.
ca. Executado certamente por uma oficina Dunbabin (K.M.D.), 1999, Mosaics of the Greek and Ro-
Fig. 7 - Villa cardilio, Sala G (Torres Novas). ©Foto da autora. Fig. 8 - Milreu, podium.© Foto T. Hauschild “regional”, é expressão de um simbolismo man World, Cambridge.
Duran Kremer (M.J.), 1997, «Algumas considerações so-
profundo reforçado pela inscrição que o
bre a iconografia das estações do ano: a “villa” romana
próprias de região para região. Enquanto etários fundiários que lhes encomendavam acompanha (Fot. 7). de Pisões», Homenaxe a Ramón Lorenzo, Vol. II, Vigo,
que, em Itália, do último século da Repúbli- a decoração dos solos das suas casas, ex- No entanto, o mosaico não foi apenas uti- pag. 445 – 454.
ca em diante se desenvolvem, paralela- ecutavam não apenas cenas mitológicas lizado para o revestimento e decoração de Duran Kremer (M.J.), 1997, «Contribuição para o estudo
de alguns mosaicos romanos da Gallaecia e da Lusi-
mente aos pavimentos polícromos, outros como, e sobretudo, cenas representando solos: os mosaicos parietais, ainda que ten- tania», Actas do V Congreso Internacional de Estudios
decorados com mosaico bicolor - preto e o dia a dia desses proprietários: cenas de ham chegado até nós em menor número, Galegos, Trier 1999, pag. 509 – 519.
branco - nas diferentes províncias do Im- caça, a ceifa do trigo ou a vindima, jogos foram igualmente utilizados para revestir Duran Kremer (M.J.), 1999, «Die Mosaïken der villa car-
dilio (Torres Novas, Portugal)». Ihre Einordnung in die
pério a arte musiva assume características de circo. A representação do Tempo e das paredes e tectos, sobretudo de templos.
musivische Landschaft der Hispania im allgemeinen und
muito próprias a cada uma delas, espelhan- estações do ano, símbolo de renovação e Milreu, no Algarve, é um extraordinário ex- der Lusitania im besonderen, Trier.
do na maior parte dos casos a prioridade eternidade, não podia deixar de ocupar um emplo da beleza e da perfeição que alguns Duran Kremer (M.J.), 2008, «Mosaicos geométricos de
dada pelos mandatários das obras aos difer- lugar de relevo no programa iconográfico de desses mosaicos podiam atingir (Fot. 8). De villa cardilio. Algumas considerações», O mosaico na
Antiguidade Tardia, Revista de História da Arte N. 6, IHA,
entes aspectos da sua vida quotidiana: te- uma região sobretudo agrícola, tanto sob a uma execução cuidada (veja-se, por exem- FCSH, Lisboa, pag. 60 – 77.
mas mitológicos, cenas da vida quotidiana, forma de figuras de corpo inteiro ou bustos, plo, a perfeição e o pormenor na execução Ferdi (S.), 2005, “Corpus des Mosaïques de Cherchel »,
composições geométricas mais ou menos ou recorrendo apenas aos atributos carac- das escamas de alguns peixes), estes mo- Études d’Antiquités Africaines, Paris.
complexas enriquecem a panóplia de temas terísticos de cada estação. saicos são expressão de um programa Fradier (G), 1994, Mosaiques romaines de Tunisie, Tunis
Hauschild (T), 2008, « A arquitectura e os mosaicos do
que as oficinas de mosaicistas – locais ou A influência africana está fortemente pre- iconográfico muito cuidado, no âmbito do « Edifício de Culto” ou “Aula” da villa romana de Milreu”,
itinerantes – executam com maior ou menor sente nos mosaicos romanos encontrados qual a temática prioritária escolhida – a O mosaico na Antiguidade Tardia, Revista de História da
perfeição. em Portugal, tanto no que respeita aos pro- água, a vida marinha – foi adaptada à sin- Arte N. 6, IHA, FCSH, Lisboa, pag. 17- 31.
Pessoa (M.) 2005, Arte sempre nova nos mosaicos ro-
Uma das regiões que mais influenciou a gramas iconográficos escolhidos quanto taxe ornamental de cada uma das divisões manos das Estações do Ano em Portugal, Rabaçal.
arte musiva tanto no que respeita aos temas à sua execução final. No entanto, também
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As mulheres em Roma... S abia que Roma é ancestralmente
Por concessão do marido ela assumia o
governo da casa (cura) e passava a ter di-
uma sociedade patriarcal. À cabeça de reito às chaves do cofre-forte. A mulher é,
Texto: Filomena Barata cada grupo estava um pater familias que por excelência a materfamilia ou matrona.
exercia o seu poder até à morte, podendo Tomava também conta dos escravos, om-
decidir da vida ou morte dos seus filhos. É nipresentes em casa, e participava das
«Feio é o campo sem erva e o só ele que pode participar na vida política, refeições com o marido, como se pode
nas assembleias, no Senado, nas magis- verificar no Banquete, saía (usando a “sto-
arbusto sem folhas e a cabeça
Sabia que...

traturas, e no âmbito familiar, era o homem la matronalis”), tinha acesso aos tribunais
sem cabelo» que presidia e assumia juridicamente a e participava nos espectáculos públicos,
Ovídio in «Arte de Amar» função predominante, ou seja, para todos sendo, por isso, criticada por Juvenal e
os efeitos, comandava a casa. pelo cristão Tertuliano, pois assumia uma
presença pública não se cingindo às ac-
«Há quem, à luz que alumia tividades domésticas ou aos tempos livres
entre bordados.
os longos serões de inverno,
abique archotes com um ferro Roma não é, contudo, um mundo estanque
e imutável e a condição da mulher vai-
acerado, enquanto a esposa, se alterando ao longo do tempo. Com o
que suaviza com o canto o seu crescimento de Roma, a mulher foi grad-

Retratos Romanos do Museo Arqueológico Nacional, Madrid (Espanha)


ualmente adquirindo autonomia, podendo
labor, passeia no tear o pente inclusivamente participar da herança dos
Brincos romanos de Miróbriga encontrados junto do «Templo
de som harmonioso, ou coze ao de Vénus» bens paternos, sendo sabido que, a partir
do século II a.C., é notório um processo
lume o doce mosto, e escuma Pelo casamento, coniunctio maris et femi- de emancipação social e jurídica que se
com um ramo o líquido que nae, ou seja «a união de um homem e manifesta quer no casamento, no divórcio,
uma mulher» a mulher passava a depend- nas heranças e na própria manutenção do
ferve no tacho». er da família do marido, ficando submeti- seu nome de família.
(Virgílio, As Geórgicas: 290-295) da a um poder familiar semelhante ao que
tinha em casa antes do matrimónio, pois o Se bem que a generalidade das meninas
esposo podia também decidir da sua vida. romanas recebesse apenas uma instrução
Estátua sentada de Lívia

A vida política cingia-se ao universo mas- básica, pois a sua função primordial era
Dedico este artigo a Maria de Jesus culino. prepararem-se para ser esposas e mães,
Foto: Raul Losada

Kremer, minha colega e amiga, e a houve muitos exemplos de mulheres que


Teresa Monteverde Plantier Saraiva, Quando casada, era, de facto “senhora da exerceram influentes profissões e que di-
companheira assídua do «Portugal casa”, a domina, não sendo, contudo, re- rigiram negócios lucrativos. Há também
Romano» clusa nos aposentos das mulheres, Geni- inúmeros casos de mulheres versadas em
Filomena Barata ceu, como acontecia na Grécia Antiga. Literatura.

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Até determinada altura, o elemento bási- O rosto era embelezado e os cabelos trat- de Roma. Évora: Museu de Évora, 2010, gonhar-se da sua pátria, de não terem
co do vestuário, seja feminino ou mascu- ados e penteados de diferentes formas, p. 48), sendo os penteados de Época Im- nascido na Germância ou na Gália. Tro-
lino, foi, até determinada altura, a toga, ao também dependendo das épocas e re- perial caracterizados por uma enorme cam, assim, a Pátria pela cabeleira. Coisa
ponto de Virgílio na Eneida(I, 282) chamar spectivas modas, se bem que em público exuberância, sobretudo a partir da Dinas- ruim, coisa péssima a si mesmas pressa-
aos Romanos «os senhores do mundo, o tivessem o costume de cobrir a cabeça. tia julio-claudiana e que atinge o auge na giam com a sua cabeça da cor do fogo».
povo da toga». época falviana e no reinado de Trajano
que, de algum modo, contrastando com
No entanto, o vestuário foi-se sofisticando a contenção verificada na Época de Au-
e, já durante a República, só os jovens e gusto que se filia na tradição helenística.
as cortesãs usam toga. As matronas uti- «Partindo dos simples arranjos da primei-
lizavam sobre a stola (túnica ou vestido ra metade do século I a.C., chegamos, em
comprido cingindo nas ancas) a palla meados desse mesmo século, às modas
de origem helenística que são muito con-
tidas, devido ao regresso à tradição que
Figura feminina vestida. Séculos I - II. São Miguel da Mota. Terena.

marca a época de Augusto. Esta moder-


ação mantém-se na época julio-claudina

Representação de Agripina, proveniente


das Ruínas de Milreu, Museu de Faro.
até à chegada de Nero e é a partir desse
momento que se inicia um vertiginoso de-
senvolvimento dos penteados, que alcan-
ça a sua máxima expressão em finais do
século I, na época flaviana e no reinado
de Trajano» (Bruno Ruiz-Nicoli in Rostos
de Roma. Évora: Museu de Évora, 2010,
Museu Nacional de Arqueologia.

Retrato de Lívia, mulher do imperador Augusto».


pp. 61-62).
Criptopórtico de Aeminium, Museu Nacional Machado de Castro.
Segundo o autor latino do século II d.C.
«Um diadema, parcialmente oculto por Luciano «as mulheres dedicam a maior
véu, indica que se trata de um membro da parte dos seus esforços à trança dos seus
família imperial que não é possível iden- cabelos» Amores, 38-41. Os caracóis, por usa vez, obtinham-se
tificar com segurança, embora apresente com o recurso ao calamistrum, um instru-
semelhanças com o retrato de Lívia, mul- As mulheres também recorriam a mento metálico que se aquecia ao lume
(grande mantilha pregueada sem cos- her do imperador Augusto». Criptopórtico colorações, sendo comum o uso da henna de forma a obter os efeitos desejados.
turas que, ao contrário da toga, cobria os de Aeminium, Museu Nacional Machado importada do Oriente e socorriam-se de Usavam também os cabelos presos em
dois ombros, servindo também para cobrir de Castro. extensões ou perucas para os casos de carrapitos, ”tótós” ou tranças, sendo céle-
a cabeça). Um vestido inferior com man- insuficiência de cabelos. bres as de Faustina, a Maior, casada em
gas era usado sob a stola. “Em Roma, o cabelo e o seu arranjo eram 126 com o futuro imperador Antonino Pio
considerados um elemento fundamental Assim nos diz o moralista Tertuliano no de que existem várias representações.
As mulheres de condição mais elevada do atractivo de uma mulher, assim como seu «A Moda Feminina/Os Espectáculos»:
usavam tecidos ricos bordados e importa- um sinal da sua idade, posição social e fun- «Vejo que algumas de vós que pintam os O século III assiste à moda do cabelo us-
dos das várias partes do império. ção pública”, (Bruno Ruiz-Nicoli in Rostos cabelos com açafrão chegam a enver- ado com “o risco ao meio” caindo para os

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lados em ondas fortemente modeladas e Eram usados múltiplos adereços, desde tos ligeiramente inclinada para a direita.
apanhado depois numa série de tranças anéis, muitas vezes com pedras, colares Poderá tratar-se de uma Ménade ou de Este símbolo, que representa a feminili-
que ascendem até à parte superior do e pingentes, brincos, pulseiras, bracetes e Cassandra? (segundo G. Cravinho, op.cit/ dade, foi adoptado para definir o género
crânio. diademas, camafeus valendo a pena, em Matriznet)». feminino. (Ver «Alcácer, Terra de Deusas,
Portugal, entre tantos outros, conhecer o Esmeralda Gomes, Marisol Aires Ferreira
Para prender os cabelos usavam alfinetes, acervo do Museu de Conímbriga. e António Rafael Carvalho, 2008, Câmara
os acus crinalis, a exemplo de um alfinete Municipal de Alcácer do Sal).
de cabelo em osso, proveniente das Ruí- A propósito dos cuidados femininos, diz-
nas de Tróia, cujo topo é «rematado por nos ainda no século II Tertuliano «De fac-
um busto feminino, com toucado e cabelo to, embora não se deva acusar a beleza –
bem definido e com face singelamente a qual é a graça do corpo, o acabamento
da modelação divina, um agradável vesti-
mento da alma – ela haverá, no entanto,
que ser temida, nem que seja por causa
dos ultrajes e das violências daqueles que
andam atrás dela» (p: 57).

Camafeu com busto feminino em relevo, século I d.C.


Proveniente das Ruínas da Cidade Romana de Ammaia - Museu
Nacional de Arqueologia.

Cabeça de Ninfa, Século II. Proveniência desconhecida. MNA.


As mulheres não dispensavam os espel-
hos para os seus cuidados de embeleza-
Os camafeus também estiveram muito mento nem prenestinas, ou seja, os cofres
em voga em Roma, referindo um exem- em bronze que continham os acessórios
plar publicado no «Portugal Romano», de embelezamento feminino, nem os seus
proveniente da cidade de Ammaia (São perfumes e unguentos. Defende-se mes-
Salvador da Aramenha) , depositado no mo que Vénus, essa deusa do amor e da
Retrato Agripina Minor Museu Nacional de Arqueologia. beleza, que na mitologia romana substitui Colares em ouro. Colecção de Ourivesaria. MNA.
Museu Arqueológico Nacional, Madrid
a Grega Afrodite tem como seu símbolo ♀
talhada e túnica estilizada por meio de Trata-se de um «Camafeu com busto fem- (um círculo com uma pequena cruz equi-
linhas incisas oblíquas». inino em relevo, século I d.C. Artigo elaborado a partir de:
lateral) que parece ser a representação www.portugalromano.com/2011/04/filomena-
(Informação obtida no Museu Nacional de gráfica ou símbolo abstracto do espelho barata-as-mulheres-em-roma
Arqueologia, a cujo acervo pertence). De cornalina de cor de salmão escuro de Vénus.
e de forma oval. O busto apresenta-se
em posição frontal e cabeça a três quar-

pág. 90 pág. 91
Lenda popular de Salácia
(Alcácer do Sal)
N
“ a verdade, ao que parece, Alcácer do
Sal foi fundada pelos lusitanos no ano Vlll
de César, isto é trinta anos antes de Cristo,

Lendas e Estórias
atribuindo-a a uma lenda que reza o seguinte:
Bugud, califa africano, invadiu a Lusitânia,
pondo as povoações a ferro e fogo.

Havia na região de Alcácer, um tempo dedi-


cado à deusa Salácia (um dos nomes da deu-
sa Diana), que foi profanado pelos africanos.
Quando estes se faziam ao mar, porém, um
grande temporal destruiu as embarcações,
perecendo no naufrágio a maioria dos
invasores, e perdendo-se as riquezas rouba-
das.

Os lusitanos viram no acontecimento um mi-


lagre da Deusa, e fundaram uma vila a que
deram o nome de Salácia. Há também uma
corrente de opinião para quem o nome de
Salácia se referia, não à Deusa, mas à abun-
dância de sal existente na região.”
(Narrada pelo Dr. Rocha Martins em 1935)

Mosaico «Triunfo Indiano de Baco» proveniente de Torre de Segundo esta mesma lenda, Salácia era uma
Palma, Monforte, Séculos III-IV. MNA
ninfa, prometida em casamento ao grande
rei dos mares, Neptuno. Antes do acto se
concretizar Salácia revoltou-se e escondeu-
se no fundo do oceano. Neptuno mandou
Foto: Moeda Romana de Salácia todas as criaturas marinhas do mundo em
sua busca. Foi bem-sucedido um golfinho
Anv. - Cabeça de Neptuno à direita, atrás o tridente que encontrou a ninfa, entregando-a para
Rev. - Entre dois golfinhos à direita, o topónimo abre- casamento ao grande rei. Salácia é assim,
viado IMP-SAL, orla pontuada. segundo a lenda, a rainha dos oceanos.

pág. 92 pág. 93
Introdução

Roteiro Arqueológico Romano Trata-se de um primeiro esboço de roteiro ar-


do Concelho de Cascais queológico dedicado à Ocupação Romana do
Município de Cascais, tendo sido seleccionados
os mais notáveis vestígios visitáveis no Concelho.
texto: Raúl Losada Recorremos ao trabalho desenvolvido pelo Pro-
fessor José d’Encarnação e Mestre Arqueólogo
Guilherme Cardoso, que, ao longo dos últimos
duração: 5 horas anos, estudaram, através de escavações arque-
distancia: aprox. 35km ológicas, valorizaram e editaram várias impor-
Roteiro

tantes publicações sobre este importante legado.


Através da Carta Arqueológica de Cascais, da au-
toria de Guilherme Cardoso, viajámos no tempo e
fomos em busca dos vestígios romanos. Segundo
este arqueólogo, a região que agora corresponde
ao Município de Cascais foi profundamente ocu-
pada e explorada no período romano.
A proximidade da Cidade Romana de Olisipo e
do seu porto beneficiaram toda a região, possibil-
itando o incremento do comércio com o resto do
Império.
As datações mais antigas de ocupação romana
do Concelho apontam para o século I a.C. , contu-
do os vestígios mais abundantes são dos séculos
seguintes, em especial do Baixo Império.
Os romanos desenvolveram a agricultura local,
cultivando a vinha, a oliveira e o trigo. Na Villa
Romana de Freiria comprovou-se pelos vestígios
encontrados a existência de um lagar e um celei-
ro de grandes dimensões.
A produção de tecidos em linho, e possivelmente
lã e respectiva tintura, está comprovada em
Casais Velhos e no Bom Sucesso. Exploraram-se
também pedreiras de mármore em Porto Covo e
São Domingos de Rana, de calcário em Freiria
e de grés em toda a área de entre Abuxarda e
Bicesse.
A pesca encontra-se documentada como activi-
dade secundária no Alto da Cidreira e no centro
da Vila de Cascais, não sendo significativos os
dados ainda conhecidos que possam apontar a
existência de uma indústria conserveira no litoral
do Concelho.
pág. 94 pág. 95
(pátio interior) e impluvium circundado de moinho, tendo-se ainda encontrado um la-
Villa Romana de Freiria “espelhos de água” e o envolvente corre- jeado a circundá-lo; uma vasta camada de
dor provido de colunas, de que se encon- telhas, eventualmente pertencente a uma
Local: Rua de Freiria, Outeiro da Polima, São Domingos de Rana traram diversas bases no seu local primi- passagem coberta que estabeleceria a li-
GPS: 38.72050370024602 ; -9.322827458381652 tivo, bem como alguns capitéis, para além gação entre a Villa fructuaria, composta
de determinados pavimentos, incluindo do Celeiro e o Lagar, e a área residencial,
o de um provável triclinium, cobertos de constituída pela Domus e pelo complexo
mosaicos polícromos de motivos geomé- termal; um Lagar para obtenção de azeite,
tricos e paredes decoradas com estuques como parece testemunhar um peso de
pintados. sarilho semelhante aos usados nestas
Tal como é comum acontecer, a estrutura estruturas; o Forno de cozer pão, depois
arquitectónica inicial da casa foi alvo de de ter sido destituído da sua função inicial
algumas remodelações pontuais, fruto do após o século IV d.C..
decorrer dos tempos e das novas necessi- A pars rustica seria abastecida de água
dades quotidianas que se impunham. Pela proveniente de um tanque-represa, com
análise dos fragmentos cerâmicos recolhi- base revestida a opus signinum, erguido
dos até ao momento, foi possível identifi- junto à ribeira que corre nas proximidades.
car duas dessas fases construtivas, ocor-
Foi o arqueólogo Virgílio Correia Pinto da considerar-se um dos exemplos mais ridas entre os séculos I e VI dC. Uma necrópole na margem oposta estava
Fonseca (1888-1944) quem, em 1912, de- completos deste tipo de residência na As Termas da Villa, de que foram identi- associada à Villa Romana, sendo con-
pois de ter encontrado uma sepultura ro- Península Ibérica que se destaca por dois ficados o hipocausto e dois tanques, de stituída pelo ustrinum (local de cremação
mana junto a uma pedreira e numa tenta- motivos: água fria e quente, revestidos a opus sign- dos corpos) e por mais de duas dezenas
tiva de localizar uma necrópole, reportou Pela monumentalidade e beleza do celei- inum de enterramentos com urnas de inciner-
em primeira mão a existência de vestígios ro que só tem paralelo noutro exemplar ação de inumação, estas últimas sem
de ocupação romana nesta zona do con- da Península Ibérica, na Villa Romana de A pars fructuaria da Villa encontra-se qualquer espólio, sendo, no entanto, de
celho de Cascais. Monroy, perto de Cáceres; bem estudada e era constituída por um destacar a presença de uma lucerna dec-
Houve, contudo, que esperar pelo ano de Pela existência de um quadrante solar, celeiro, localizado a sudeste, ao qual orada com a figura da deusa Diana numa
1980 para que a Villa de arquitectura civil que é uma das raras peças do género estaria associada a parte inferior de um das sepulturas de cremação.
romana construída no século II d.C. fosse achadas no território nacional.
encontrada e estudada sistematicamente
pelos arqueólogos Guilherme Cardoso e Um dos primeiros proprietários da Villa
José d´Encarnação, permitindo, entre out- Romana foi certamente T(itus) Curiatius
ros aspectos, confirmar uma permanência Rufinus, pois foi achada uma ara com in-
humana no local desde o Calcolítico. scrição deste dedicada à divindade pré-
Na área envolvente encontraram-se vestí- romana Tribunnis.
gios cerâmicos do período Neolítico o que Nas várias campanhas arqueológicas,
documenta que, em Freiria, os Romanos conduzidas pelos arqueólogos Guilherme
vieram instalar-se num local já anterior- Cardoso e José d´Encarnação, foram
mente ocupado, durante milénios, pelas descobertos:
Estrutura do celeiro
populações que os antecederam. A Domus que revelou uma estrutura foto: Miguel Rosenstok
Trata-se de uma Villa Romana, podendo bastante delicada, com átrio, Peristilo
pág. 96 pág. 97
à sua construção inicial, tal como foram
Epigrafia Romana de reconhecidos elementos atribuídos a perío-
Villa Romana do Alto da Cidreira dos de ocupação humana anteriores à es-
Rufo e Fundana trutura romana.
Local: Rua da Cidreira, Cascais
Local: Igreja Matriz de Alcabideche GPS: 38.72153747530683 ; -9.423442482948303 Quanto à pars rústica é de assinalar os
Largo de São Vicente, Alcabideche tanques de que havia relatos dos princí-
GPS: 38.7302507258494 ; pios do século XX, localizados na encosta
meridional (Bom Sucesso), tanques es-
-9.40804123878479
ses que, pelas descrições deixadas, se
poderiam referir a um complexo industrial,
possivelmente de tinturaria com duas
pequenas tinas de cerca de 1 metro de pro-
fundidade. Um grande reservatório alimen-
tava todo o complexo, afigurando-se com-
parável ao dos Casais Velhos, pelo que
uma função idêntica não será, porventura,
hipótese a menosprezar.

Do espólio exumado, destaque-se os uten-


Embutida na parede norte exterior da Ig- sílios ligados à tecelagem: uma tabuinha de
reja Matriz de Alcabideche, encontra-se tecelagem, um separador de tear decorado
uma cupa funerária romana, de mármore geometricamente e diversos fragmentos
róseo de São Domingos de Rana. de agulhas. E, pelo seu carácter singular,
referimos ainda a mini máscara de terra-
Foi o conhecido geólogo Francisco de Paula Como sucede com as demais Villae ro- cota (22 x 24 mm.), representando um ne-
Segundo o Guilherme Cardoso e José
Oliveira, dos Serviços Geológicos, quem, em manas, também a do “Alto da Cidreira” foi gro, que actualmente se encontra exposta
d’Encarnação, que a identificaram em dotada de um complexo termal, com as
finais dos anos noventa do século XIX, refe- na mostra de arqueologia do Município no
Setembro de 1985, durante as obras de respectivas condutas de água e hipocausto, Museu dos Condes de Castro Guimarães,
riu, pela primeira vez, a existência da Villa
restauro do templo, trata-se de mais um infelizmente bastante descaracterizado pela em Cascais.
romana do Alto do Cidreira”, classificada em
testemunho da gens Iulia, adscrita pela tri- contínua circulação de pessoas e veículos Relativamente perto da Villa é de salientar
1992 como “Imóvel de Interesse Público”.
bo Galéria ao município de Lisboa, antiga Foi, no entanto, necessário esperar pelo fi- no sítio arqueológico. a presença de uma necrópole tardo-roma-
Olisipo. nal da década de setenta do século XX para Foi também encontrado um tanque semicir- no/visigótica com sepulturas delimitadas
que o sítio arqueológico fosse sistematica- cular pertencente ao frigidarium, bem como por esteios de calcário. Algumas contin-
O texto epigráfico refere dois defuntos, mente investigado pelos arqueólogos Guil- o praefurnium, destinado ao aquecimento ham mais do que um esqueleto e jóias,
pelo que será um monumento mandado herme Cardoso e José d’Encarnação. do ar que circulava sob o pavimento e da pequenas vasilhas e numa delas recolheu-
fazer pela filha para o Pai e para si própria, Provavelmente edificada durante o século I própria água dos tanques. se uma espada muito oxidada.
ainda em vida d. C., a Domus desta Villa tinha dois andares Actualmente o sítio arqueológico esconde-
«Aqui jaz Gaio Julio Rufo, da tribo Gale- e possuía alguns compartimentos pavimen- Foi identificado a Sudoeste da villa um se por entre uma densa vegetação. No
ria, de vinte cinco anos, e aqui jaz Julia tados com mosaicos polícromos, como se aqueduto subterrâneo, a necrópole e algu- lado norte da vigia militar encontram-se
Fundana, filha de Gaio.» pode concluir pelas tesselae exumadas no mas estruturas romanas e silos medievais, pequenos fragmentos de cerâmica da
Esta epigrafia é datada do século I d.C. local. a assegurar, no fundo, a reutilização do es- Idade do Bronze e do Ferro, a sul encontra
paço ao longo dos séculos subsequentes a necrópole.
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tiga, já que os Fenícios utilizavam o corante ralhado, são ainda de salientar, segundo o
Estação Lusitana-Romana dos Casais Velhos de púrpura (que era extraído de seu interior)
como fonte de comercialização.
arqueólogo Guilherme Cardoso, os vestígios
das muralhas e as necrópoles de inumação.
Local: Rua de São Rafael, Areia, Cascais
A existência de um edifício no complexo da A villa possuía três locais distintos de enterra-
villa identificado como sendo uma Tinturaria. mento tardo-romano, dois a sul e um a poen-
GPS: 38.725563614577226 ; -9.463434219360351
As tinas serviriam para o tecido ser mergul- te com sepulturas do tipo “caixa”, delimitadas
hado na solução do corante e em seguida por esteios afeiçoados em calcário, e com os
posto ao sol para que a cor aparecesse, esta corpos depositados em decúbito dorsal, vol-
descoberta torna o local único na península tados para Nascente.
ibérica. Nestes locais foram encontradas moedas da-
táveis de entre os anos 205 e 405 da nora era
A pars urbana desta Villa era constituída pelo (do tempos dos imperadores Teodósio, Con-
característico complexo termal composto do stâncio II, Constante, Constantino e Arcádio),
frigidarium (para o banho frio), de uma sala o que sugere uma ocupação mais intensa do
tépida de transição e do praefurnium, desti- local exactamente nos finais do Império Ro-
nado ao aquecimento do ar que circulava sob mano do Ocidente. De enorme importância,
o pavimento e da própria água dos tanques é ainda uma moeda encontrada numa sep-
de configuração semicircular. Além disso, foi ultura, que mantém ainda o seu invólucro de
identificado um tanque de grandes dimen- tecido de linho, peça raríssima e do maior in-
sões, possivelmente o natatio, tradicional- teresse histórico.
mente rasgado a céu aberto. O espólio resultante das intervenções de D.
Este era servido por um Aqueduto, de que António de Castelo Branco e Octávio Reinal-
restam os vestígios da estrutura que trans- do da Veiga Ferreira, encontra-se na reserva
portava a água do nascente do Alto do Selão arqueológica do Município de Cascais e do
até à villa de Casais Velhos, numa distância qual se destaca: Algumas jóias, como uns
de 700 m. brincos de bronze, uma agulha de bronze,
Para além destes vestígios de construção Cerâmicas das quais, uma bilha com dec-
romana e de outros restos ainda indetermi- oração no bojo, e uma Lucerna.
Complexo de tinturaria
nados que afloram dentro do circuito amu-

ocupação do local.
Povoado romano com complexo indus-
trial possuidor de características únicas na É provável que o povoado tivesse como ac-
Península Ibérica e integrando uma fábrica tividade principal a preparação da púrpura.
de preparação de púrpura. Esta afirmação é corroborada com a existên-
Descoberto em 1945 por Afonso do Paço e cia de compartimentos com tinas ou cubas
Fausto de Figueiredo com a ajuda de alguns com encaixe para tampas herméticas, que se
trabalhadores do Município que iniciaram adequavam ao propósito, bem como e desc-
curtas escavações em redor da área desc- oberta numa lixeira do povoado, de abun-
oberta. dantes conchas de múrex, molusco marinho
Dado a pequena área escavada pode-se afir- de onde provem a púrpura, este molusco
mar a sua ocupação no século II d.C., mas era de grande valia económica na Idade An-
mantêm-se em aberto uma datação final de
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